Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
W BA 01 97 _V 2. 0 ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 2 Eugenio Roballo Montoto São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Gisele Zanardi Polizel Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Montoto, Eugenio Roballo M798a Análise das demonstrações contábeis / Eugenio Roballo Montoto. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 45 p. ISBN 978-65-5356-012-3 1. Análise das demonstrações contábeis. 2. Contabilidade gerencial. 3. Índices de liquidez. I. Título. CDD 657 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 8 010289 © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Conceitos, ajustes e nomenclaturas __________________________ 05 Índices de liquidez, rotação, rentabilidade e endividamento _ 19 Grau de alavancagem financeira e operacional e indicadores EBIT, EBITDA, NOPAT e EVA __________________________________ 35 Análise e necessidade do capital de giro e a dinâmica financeira das empresas utilizando o modelo Fleuriet __________________ 49 ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS 5 Conceitos, ajustes e nomenclaturas Autoria: Eugenio Montoto Leitura crítica: Gisele Zanardi Polizel Objetivos • Contextualizar a disciplina no cenário normativo brasileiro e internacional. • Descrever os ajustes necessários antes da realização das análises. • Apresentar os conceitos básicos relacionados. • Definir os índices de liquidez. 6 1. Histórico A análise das demonstrações contábeis e financeiras é comumente designada como análise de balanços. Foi o sistema bancário americano, no final do século XIX, que deu origem à exigência de informações assinadas pelos responsáveis pelas empresas, para que créditos fossem concedidos. “A Análise de Balanços tornou-se praticamente obrigatória em 1915 nos Estados Unidos” (MATARAZZO, 2010). Segundo o professor Matarazzo (2010), o pai desta disciplina é Alexander Wall. Ele apresentou, em 1919, um modelo de análise das demonstrações, utilizando índices e comparando o ativo circulante e passivo circulante. Esses indicadores são, até hoje, os mais usados para a comparação de situações financeiras de liquidez. Também de acordo com o professor Matarazzo (2010), a obra de James H. Biss afirmava que os ramos de atividades apresentavam coeficientes característicos. A Dun & Bradstreet passou a divulgar esses índices setoriais e, na década de 1930, a Dupont sugeriu um índice de rentabilidade que estudaremos nesta disciplina. Foi nessa época que se estabeleceram as bases da análise das demonstrações financeiras ou análise de balanços. No Brasil, a análise de balanços só começou sua difusão a partir dos anos 1970, e ganhou força especial quando a Serasa passou a divulgar balanços de bancos comerciais. Figura 1 – Evolução da disciplina Fonte: elaborada pelo autor. 7 2. Introdução O objetivo da contabilidade é produzir dados para que os mais diversos usuários da informação contábil possam tomar decisões sobre a entidade em questão. No item 1.2 da Estrutura Conceitual (CPC 00), está claramente expresso que o objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informações para tomada de decisões sobre determinada entidade. No item 2, a norma exemplifica as principais decisões que os usuários tomam em relação às entidades. Item 1.2 O objetivo do relatório financeiro para fins gerais é fornecer informações financeiras sobre a entidade que reporta que sejam úteis para investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, na tomada de decisões referente à oferta de recursos à entidade. Item 2. Essas decisões envolvem decisões sobre: (a) comprar, vender ou manter instrumento de patrimônio e de dívida; (b) conceder ou liquidar empréstimos ou outras formas de crédito; ou (c) exercer direitos de votar ou de outro modo influenciar os atos da administração que afetam o uso dos recursos econômicos da entidade. (BRASIL, 2019, [s.p.]) A análise de balanços ou das demonstrações contábeis só pode ser iniciada após a contabilidade registrar os fatos e elaborar as demonstrações de determinado exercício. A partir das demonstrações, o analista calcula os mais diversos índices e indicadores, realiza comparações com dados da entidade de outros exercícios ou com dados de outras empresas, analisa o conjunto dos índices e indicadores e toma as decisões a partir dessas análises e conclusões. 8 Figura 2 – A dinâmica da análise Fonte: elaborada pelo autor. A Estrutura Conceitual (CPC 00) define, em seu item 1.5, que entre os usuários das informações contábeis existem os prioritários, porque dependem exclusivamente das demonstrações para tomarem suas decisões sobre a entidade: Item 1.5 Muitos investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, não podem exigir que as entidades que reportam forneçam informações diretamente a eles, devendo-se basear em relatórios financeiros para fins gerais para muitas das informações financeiras de que necessitam. Consequentemente, eles são os principais usuários aos quais se destinam relatórios financeiros para fins gerais. (BRASIL, 2019, [s.p.]) O item 1.5 do CPC 00 se referiu aos investidores minoritários, às instituições financeiras (mutuantes) e aos fornecedores em geral. Esses são usuários externos da informação contábil. 9 Figura 3 – Usuários prioritários Fonte: elaborada pelo autor. Governos, agências reguladoras, secretarias de fazenda e os próprios sócios controladores e gestores não dependem das demonstrações para ter as informações que necessitam da entidade. 3. Conceitos Esta área da contabilidade (análise de balanços) é considerada uma das quatro técnicas de que a contabilidade se utiliza para registrar os fatos e cumprir suas funções. As outras três técnicas são a escrituração, a elaboração das demonstrações e a auditoria. Tabela 1 – Técnicas contábeis Técnicas Contábeis Escrituração Elaboração das demonstrações Auditoria Análise das demonstrações Fonte: elaborada pelo autor. 10 A análise de balanços não possui normas nem legislação específica. Todos os conceitos e ajustes que apresentaremos fazem parte das práticas geralmente aceitas nesta área de conhecimento. 3.1 Representação gráfica do patrimônio Ao analisarmos a situação econômico-financeira do patrimônio, ele pode ser representado da seguinte forma: a. Estado gráfico na abertura da empresa. Neste momento, a entidade não possui passivo. A equação do patrimônio pode ser expressa da seguinte forma: A (ativo) = PL (patrimônio líquido). A = PL Ativo PL (SL) • Situação líquida plena (SL pleno)= patrimônio líquido. • Inexistência de dívidas. • Propriedade pleno do ativo. b. Estado gráfico situação superavitária. Este estado gráfico é o mais comum, também designado como estado de solvência. O ativo (A) é igual ao passivo (P) + patrimônio líquido (SL ou PL). A = P + PL 11 Ativo Passivo PL (SL) • SL (PL) positivo. • Existência de riqueza (ativo). • A empresa é solvente, tem ativo suficiente para liquidar o passivo. c. Estado gráfico situação de pré-insolvência. Esta situação gráfica do patrimônio apresenta o último instante de solvência de uma entidade. Com mais um centavo de prejuízo, a empresa passará à insolvência. Neste estado, a empresa ainda possui ativos suficientes para honrar seu passivo. A empresa sai do estado b para o estado c porque acumula prejuízos sucessivos. A = P Ativo Passivo • Situação líquida nula (SL ou PL nulo). • Inexistência de riqueza própria. • Pré-insolvente. d. Estado gráfico situação de passivo a descoberto. Esta situação gráfica do patrimônio ocorre quando o passivo é maior do que o ativo. Neste caso, representamos graficamente o PL no lado esquerdo. 12 A + PL = P → A = P–PL Ativo Passivo PL (SL) • Situação líquida negativa (SL ou PL negativo). • Insolvente. • Pré-falimentar. • A riqueza líquida é negativa. e. Estado gráfico último estágio de um processo de encerramento. Esta situação gráfica do patrimônio ocorre quando uma empresa não possui nenhum ativo. Neste caso, a empresa já realizou todos os seus ativos e restam apenas dívidas. PL = P PL Passivo • Inexistência de ativos (riqueza). • Restam apenas dívidas. 3.2 Ciclo operacional (CO) A definição de ciclo operacional é um importante conceito no contexto da análise das demonstrações. Ciclo operacional é um tempo medido em dias, e representa a soma do tempo médio de rotação dos estoques 13 (T1 – ciclo econômico) com o tempo de recebimento de clientes (T2 – rotação do contas a receber). Então, CO = T1 + T2. Figura 4 – Ciclo operacional compra-recebimento Fonte: elaborada pelo autor. O ciclo operacional também pode ser medido somando o tempo médio de pagamento aos fornecedores (T3) com o ciclo de caixa (T4 – ciclo financeiro). Figura 5 – Ciclo operacional pagamento fornecedor CO = T1 + T2 = T3 + T4 Fonte: elaborada pelo autor. 14 3.3 Tipos de análises A análise de balanços é realizada através de índices (quocientes) e indicadores. A análise por índices pode ser feita sob a ótica vertical ou horizontal, enquanto os indicadores são valores expressos em moeda. 3.3.1 Análise por quocientes A análise por quocientes pode ser realizada com índices compostos de forma vertical ou horizontal. Em uma análise horizontal, os índices são compostos por valores de dois períodos distintos. Por sua vez, na análise vertical, o índice é composto por valores do mesmo exercício. Figura 6 – Análise horizontal e vertical Fonte: elaborada pelo autor. Tabela 2 – Exemplo de análise vertical e horizontal das contas do ativo Grupos Vertical 2019 Horizontal Vertical 2020 Horizontal AC 50% 1.000 100% 40% 2.000 200% Caixa 5% 100 100% 4% 200 200% Banco 10% 200 100% 6% 300 150% Estoques 35% 700 100% 30% 1.500 214% ANC 50% 1.000 100% 60% 3.000 300% Imobilizado 30% 600 100% 36% 1.800 300% Intangível 20% 400 100% 25% 1.200 300% TOTAL 100% 2.000 100% 100% 5.000 250% Fonte: elaborada pelo autor. 15 No exemplo anterior, perceba que, comparando a importância do caixa em relação ao total do ativo, o caixa representa 5% no exercício de 2019 (análise vertical). Analisando a evolução do caixa entre os anos 2019 e 2020, encontramos uma evolução de $ 100 para 200%, e isso representa uma evolução em 100% (análise horizontal). 3.3.2 Análise por indicadores Na análise por indicadores, calcularemos, por exemplo, a diferença entre os valores do ativo circulante e do passivo circulante. Supondo que o ativo circulante de uma empresa, em determinado exercício, fosse de R$ 20.000 e o passivo circulante fosse de R$ 7.000, o valor do capital circulante líquido seria de: CCL = AC – PC = R$ 20.000 – R$ 7.000 = R$ 13.000 O CCL positivo, no valor de R$ 13.000, indica que a empresa tem um potencial de honrar seus pagamentos de curto prazo no valor de R$ 13.000. Dizemos potencial porque na composição do ativo circulante existem valores, como estoques, que não são disponibilidades. Figura 7 – Principais indicadores Fonte: elaborada pelo autor. 16 4. Nomenclaturas e ajustes Para a realização dos cálculos dos índices e indicadores, o analista deve considerar os seguintes grupamentos e nomenclaturas: 4.1 Balanço patrimonial • Caixa, banco e caixa equivalente devem ser somados e passam a ser apresentados como disponibilidades. Caixa equivalente são aplicações de liquidez imediata (≤ 90 dias). • Apresentar pelos totais ativo circulante (AC), ativo realizável a longo prazo (ARLP), ativo não circulante investimento, ativo não circulante imobilizado, ativo não circulante intangível, ativo não circulante diferido, passivo circulante (PC), passivo não circulante (PNC) e patrimônio líquido (PL). • Duplicatas descontadas devem ser apresentadas no passivo circulante ou não circulante, dependendo do prazo. • Ativos permanentes classificados no ativo circulante (ativo não circulante disponível para venda) devem ser reclassificados no ARLP. • Ativo diferido e despesas antecipadas podem ser apresentados diminuindo o PL. • Imobilizado em andamento deve ser retirado do cálculo para rentabilidade do ativo. • O capital deve ser apresentado como líquido de capital a realizar, e ações em tesouraria são somadas às reservas. 4.2 Demonstração do resultado • Iniciar por vendas líquidas. 17 • As participações de empregados e diretores devem ser consideradas como despesas com pessoal. • Juros sobre capital próprio (JCP) não devem ser considerados como despesa. • As despesas operacionais são apresentadas somente pelos seus grupos representativos. • Observação: nada obsta que a análise comece pela receita bruta. 4.3 Principais nomenclaturas do ativo No ativo (patrimônio bruto) estão aplicados os recursos obtidos dos sócios e de terceiros. Figura 8 – Nomenclaturas no ativo Fonte: elaborada pelo autor. 4.4 Principais nomenclaturas do passivo e PL Do lado direito do balanço temos o passivo, que representa a origem dos capitais de terceiros e a origem dos capitais próprios (patrimônio líquido). 18 Figura 9 – Nomenclaturas no passivo e PL Fonte: elaborada pelo autor. Referências Bibliográficas BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Norma Brasileira de Contabilidade, NBC TG Estrutura Conceitual, de 21 de novembro de 2019. Dá nova redação à NBC TG ESTRUTURA CONCEITUAL, que dispõe sobre a estrutura conceitual para relatório financeiro. Brasília: D.O.U., 2019. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/ web/dou/-/norma-brasileira-de-contabilidade-nbc-tg-estrutura-conceitual-de-21-de- novembro-de-2019-233564287. Acesso em: 19 nov. 2021. MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MONTOTO, E. Contabilidade geral e avançada. São Paulo: JUSPODIVM, 2021. https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/norma-brasileira-de-contabilidade-nbc-tg-estrutura-conceitual-de-21-de-novembro-de-2019-233564287 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/norma-brasileira-de-contabilidade-nbc-tg-estrutura-conceitual-de-21-de-novembro-de-2019-233564287 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/norma-brasileira-de-contabilidade-nbc-tg-estrutura-conceitual-de-21-de-novembro-de-2019-233564287 19 Índices de liquidez, rotação, rentabilidade e endividamento Autoria: Eugenio Montoto Leitura crítica: Gisele Zanardi Polizel Objetivos • Definir e exemplificar os principais índices de liquidez. • Definir e exemplificar os principais índices de rotação. • Definir e exemplificar os principais índices de rentabilidade. • Definir e exemplificar os principaisíndices de endividamento. 20 1. Introdução Índices são razões (frações) que comparam dois valores (números reais) de um mesmo exercício ou de exercícios distintos. Esses valores podem ser de uma mesma empresa ou de empresas diferentes. Índice= a b O denominador b precisa ser diferente de zero; caso contrário, o valor será indeterminado. O índice pode ser expresso na forma unitária ou percentual, pois essas duas formas são equivalentes. 1.1 Significado do símbolo percentual ou porcentual (%) Em matemática, o símbolo % não é um operador matemático. Esse símbolo representa um número: % = 1 ou 0,01 100 Portanto, dizer em matemática que desejamos ganhar o mesmo que outra pessoa ganha é igual afirmar que queremos receber 100% ou uma vez o que a outra pessoa recebe. Por sua vez, dizer que desejamos ganhar o dobro do que a outra pessoa ganha é igual afirmar que queremos receber 200% ou duas vezes o que a outra pessoa recebe. Aumentar um número em 20% (forma percentual) ou 0,2 (forma unitária) é o mesmo que multiplicar esse número por 1,2, isso porque, neste caso, aumentaremos os 100% do número original com mais 20% do mesmo número, o que resulta em ter 120% desse número. Substituindo o símbolo pelo número que ele representa, teremos: 21 120% (forma percentual) = 120 . 1 = 1,2 (forma unitária) 100 Diminuir um número em 20% é o mesmo que multiplicar esse número por 0,8, isso porque, neste caso, diminuiremos os 100% do número com menos 20% do mesmo número, o que resulta em ter 80% desse número. Substituindo o símbolo pelo número que ele representa, teremos: 80 . 1 = 0,8 100 Aumentar um número em 300% é o mesmo que multiplicar esse número por 4 (quatro vezes), isso porque, neste caso, somaremos a esse número (100%) 300% desse mesmo número. Portanto, teremos 100% + 300%, isto é, 400% desse mesmo número. 400% = 400 . 1 = 4 100 1.2 Exemplo de utilização de índices em comparações Vamos imaginar que mamãe venda perfumes e, em determinada reunião com suas amigas, vendeu 10 perfumes pelo valor de R$ 120. Esses perfumes custam R$ 70 cada no distribuidor que mamãe representa. Para realizar essas vendas, mamãe incorreu em despesas com o salão do condomínio, no valor de R$ 200, salgadinhos, no valor de R$ 100, e um garçom, no valor de R$ 80. Quadro 1 – Resultado da mamãe Contas Valor (R$) Receita de vendas 10 x R$ 120 R$ 1.200 (-) Custos 10 x R$ 70 (R$ 700) Lucro bruto R$ 500 22 (-) Despesas (R$ 380) Condomínio R$ 200 Salgadinhos R$ 100 Garçom R$ 80 Lucro líquido R$ 120 Fonte: elaborado pelo autor. O lucro bruto comparado com as vendas resulta em: Índice = 500 = 0,41 ou 41% 1.200 Os custos comparados com as vendas resultam em: Índice = 700 = 0,58 ou 58% 1.200 O resultado líquido comparado com as vendas resulta em: Índice = 120 = 0,1 ou 10% 1.200 Existem índices clássicos que são conhecidos e utilizados pelas empresas, mas um analista pode realizar qualquer comparação que achar importante para destacar uma informação que possa ser útil para os leitores da informação contábil. 1.3 Balanço patrimonial e demonstração de resultado A seguir, vamos apresentar um balanço patrimonial (BP) e uma demonstração do resultado (DRE), que utilizaremos como referência para o cálculo de todos os índices deste tema. 23 Quadro 2 – Balanço patrimonial Contas 2019 (R$) 2020 (R$) Contas 2019 (R$) 2020 (R$) Total AC 10.000 30.000 Total do PC 7.000 28.000 Caixa 100 500 Fornecedores 2.500 8.000 Banco 500 1.500 Empréstimos 2.000 7.000 Aplicações de curto prazo 1.400 2.000 Contas a pagar 200 3.000 Contas a receber 5.000 17.000 Tributos a pagar 1.500 6.000 Estoques 3.000 9.000 Salários a pagar 800 4.000 Total ANC 90.000 110.000 Total do PNC 33.000 32.000 ARLP 12.000 25.000 Empréstimos 13.000 10.000 Investimentos 6.000 7.000 Financiamentos 20.000 22.000 Imobilizado 58.000 50.000 Patrimônio líquido 60.000 80.000 Intangível 14.000 28.000 Capital 50.000 50.000 Reservas de lucros 10.000 30.000 Total ativo 100.000 140.000 Total do passivo + PL 100.000 140.000 Fonte: elaborado pelo autor. Quadro 3 – Demonstração do resultado Contas 2020 (R$) Receita líquida de vendas 200.000 (-) CMV (79.000) Lucro bruto 121.000 (-) Despesas (92.929) Pessoal – 30.000 Depreciação – 8.000 Outras – 54.929 Resultado financeiro (500) Despesas financeiras – 2.300 Receitas financeiras – 1.800 24 Outras receitas (GEP) Ganho de equivalência patrimonial 1.000 Resultado antes do IR/CSLL 28.571 (-) IR/CSLL (30%) (8.571) Resultado líquido 20.000 Fonte: elaborada pelo autor. 2. Índices de liquidez O significado de liquidez está associado à capacidade de transformar um investimento ou aplicação em um ativo em dinheiro, e pode também ser relacionado à capacidade da empresa de honrar seus compromissos. Indicadores de liquidez clássicos são conhecidos por tentar evidenciar a capacidade da empresa de honrar seus compromissos sob diversos prismas. 2.1 Liquidez imediata (LI) Esse indicador compara as disponibilidades da empresa (caixa + banco + aplicações financeiras de curto prazo, isto é, menores do que 90 dias) com as dívidas de curto prazo totalizadas no passivo circulante. LI = Disponibilidades Passivo Circulante Utilizando os dados do exemplo do Item 1.3, temos a LI em 2020: LI = 4.000 = 0,1428 ou 14,28% 28.000 25 Analisando o índice de liquidez imediata: essa empresa só possui recursos líquidos em dinheiro para pagar 14,3% das suas dívidas de curto prazo em 2020. 2.2 Liquidez seca (LS) Para calcular esse indicador devemos excluir do ativo circulante valores que a empresa tem mais dificuldades de transformar em dinheiro. Por exemplo: estoque, despesas antecipadas, ativos não circulantes disponíveis para venda e outras contas similares. A fórmula clássica deste índice é: LS = AC - Estoques Passivo Circulante Utilizando os dados do exemplo do Item 1.3, temos a LS em 2020: LS = 30.000 - 9.000 = 0,7 ou 70% 30.000 Analisando o índice de liquidez seca: essa empresa só possui ativos mais líquidos no ativo circulante para pagar 70% das suas dívidas de curto prazo em 2020. 2.3 Liquidez comum ou corrente (LC) Para calcular esse indicador devemos considerar todo o ativo circulante e compará-lo com o passivo circulante. Esse é o indicador de liquidez mais conhecido e popular, de modo que é o utilizado com maior frequência pelas revistas especializadas quando comparam a capacidade financeira de empresas. A fórmula clássica deste índice é: LC = Ativo Circulante Passivo Circulante 26 Utilizando os dados do exemplo do Item 1.3, temos a LC em 2020: LC = 30.000 = 1,07 ou 107% 28.000 Analisando o índice de liquidez corrente: essa empresa só possui ativos circulantes para pagar 1,07 vezes as suas dívidas de curto prazo em 2020. 2.3.1 A falácia dos índices de liquidez Exceto pelo índice de liquidez imediata, nenhum outro índice de liquidez deveria ser designado como tal. Liquidez tem a ver com capacidade de pagar. O índice de liquidez corrente considera todos os itens do ativo circulante para comparar com as dívidas de curto prazo. Estoques e outras contas do ativo circulante, como despesas antecipadas, ativos não circulantes disponíveis para venda, ativos especiais e outros valores são de imprevisível e até difícil conversão em dinheiro, portanto considerar todo o ativo circulante e comparar esse valor com o passivo circulante é algo que ultrapassa os limites do aceitável, o que torna esse popular índice uma falácia sobre a capacidade financeira de uma empresa. 2.4 Liquidez geral (LG) Para calcular esse indicador, devemos considerar todo o ativo circulante somado ao ARLP e comparar essa soma com a soma do passivo circulante com o passivo não circulante. A fórmula clássica deste índice é: LG = Ativo Circulante + ARLP Passivo Circulante + Passivo Não circulante Utilizando os dados do exemplo do Item 1.3, temos a LG de 2020: 27 LG = 30.000 + 25.000 = 55.000 = 0,916 ou 91,6% 28.000 + 32.000 60.000 Analisando o índicede liquidez geral: essa empresa só possui ativos circulantes e ARLP para pagar 91,6% das suas dívidas (curto prazo e longo prazo). 2.5 Solvência geral (SG) Esse é o indicador mais amplo de liquidez. Ele considera todo o valor do ativo em comparação com o passivo da empresa. SG = Ativo Passivo Circulante + Passivo Não circulante Utilizando os dados do exemplo do Item 1.3, temos a SG de 2020: SG = 140.000 = 140.000 = 2,33 ou 233% 28.000 + 32.000 60.000 Analisando o índice de solvência geral: essa empresa possui ativos suficientes para pagar 2,33 vezes as suas dívidas (curto prazo e longo prazo). 3. Índices de rotação Os índices de rotação são considerados dinâmicos porque envolvem uma conta patrimonial e uma conta do resultado. 28 3.1 Índice de rotação dos estoques (GE) Esse índice também é designado como giro dos estoques. Com ele, podemos calcular o prazo médio de rotação dos estoques. A rotação do estoque é um número adimensional que é medido pela razão entre o CMV e o estoque médio. O estoque médio é calculado da seguinte forma: (estoque inicial + estoque final)/2. GE = 79.000 . Utilizando os dados do exemplo, teremos: 6.000 GE = CMV = 13,2 vezes Estoque Médio Se o estoque girou 13,2 vezes no período, para calcularmos o prazo médio de rotação dos estoques (PMRE) basta dividirmos os 360 dias de um ano calendário pelo GE. PMRE = 360 dias = 27,3 dias. Desta forma, concluímos que essa empresa gira completamente o estoque em menos de 30 dias. 13,2 vezes 3.2 Índice de rotação do contas a pagar aos fornecedores (GF) Esse índice também é designado como giro do pagamento das compras. Com ele podemos calcular o prazo médio de rotação dos fornecedores (PMRF). A rotação do fornecedor é um número adimensional que é medido pela razão entre as compras a prazo e o valor médio da conta fornecedor. A média da conta fornecedor é calculada da seguinte forma: (fornecedor inicial + fornecedor final)/2. 29 GE = Compras a prazo . Utilizando os dados do exemplo, teremos:Média do fornecedor As compras em 2020 podem ser obtidas por: CMV = Ei + Compras – Ef. Então: 79.000 = 3.000 + Compras – 9.000 → Compras = 85.000. O valor médio dos fornecedores é: (2.500 + 8.000)/2 = 5.250. GE = 85.000 = 16,2 vezes 5.250 Se a dívida com os fornecedores girou 16,2 vezes no período, para calcularmos o prazo médio de rotação do pagamento aos fornecedores (PMRF) basta dividirmos os 360 dias de um ano calendário pelo GE. PMRF = 360 dias = 22,22 dias. Desta forma, concluímos que essa empresa paga suas dívidas com os fornecedores a cada 22 dias. 16,2 vezes 3.3 Índice de rotação do contas a receber (GCR) Esse índice também é designado como giro do contas a receber. Com ele podemos calcular o prazo médio de rotação do contas a receber (PMCR). A rotação do contas a receber é um número adimensional que é medido pela razão entre as vendas a prazo e o valor médio do contas a receber. A média do contas a receber é calculada da seguinte forma: (contas a receber inicial + contas a receber final)/2. 30 GCR = Vendas a prazo . Utilizando os dados do exemplo, teremos: Média do contas a receber O valor médio do contas a receber é: (5.000 + 17.000)/2 = 11.000. GCR = 200.000 = 18,2 vezes 11.000 Se o valor a receber de clientes girou 18,2 vezes no período, para calcularmos o prazo médio de rotação do contas a receber (PMCR) basta dividirmos os 360 dias de um ano calendário pelo GCR. PMCR = 360 dias = 19,78 dias. Desta forma, concluímos que essa empresa recebe dos clientes a cada 19,78 dias. 18,2 vezes 3.4 Índice de rotação dos investimentos (GA) Esse índice compara o volume de vendas líquidas de uma empresa com a dimensão do ativo. Imagine-se entre as seguintes situações: investir R$ 50.000 para montar uma loja de reparos de celular ou R$ 500.000 para instalar um restaurante. A loja de reparos tem expectativa de faturamento de R$ 30.000, com lucro líquido de R$ 9.000 mensais e PL de 20.000. O restaurante, por sua vez, tem expectativa de faturamento de R$ 100.000, com lucro nominal de R$ 10.000 e PL de R$ 200.000. Que investimento você faria? O giro do ativo (GA) = Vendas líquidas Ativo 31 No caso da loja de reparos de celular, teremos GA = 30.000 = 0,6 ou 60%. 50.000 No caso do restaurante, teremos GA = 100.000 = 0,2 ou 20%. 500.000 Perceba que, levando em conta os exemplos, a loja de reparos parece ser um investimento muito melhor, pois em menos de dois anos o faturamento já superará o investimento. 3.5 Índice de rotação do patrimônio líquido (RPL) Esse índice compara o volume de vendas líquidas de uma empresa com o seu patrimônio líquido. O giro do PL (GPL) = Vendas líquidas PL No caso da loja de reparos de celular, teremos GPL = 30.000 = 1,5 ou 150%. 20.000 No caso do restaurante, teremos GA = 100.000 = 0,5 ou 50%. 200.000 Perceba que, levando em conta os exemplos do Item 3.4, a loja de reparos parece ser um investimento muito melhor, pois já no primeiro exercício o faturamento ultrapassará o valor do PL em 50%. 32 4. Índices de rentabilidade Rentabilidade é normalmente um valor muito menor do que a unidade. Índices de rentabilidade, normalmente, giram na casa dos 5%, 10% ou 20%, mas podem assumir valores maiores. Os índices de rentabilidade comparam determinada linha de lucro com a receita ou os investimentos, ou mesmo com o patrimônio líquido. 4.1 Margem bruta (MB) Esse índice mede o quanto o lucro ou prejuízo bruto representa em relação à receita líquida. Adotando-se os valores do exemplo do Item 1.3, o valor da margem bruta é: MB = LUCRO BRUTO = 121.000 = 0,605 ou 60,5%VENDAS LÍQUIDAS 200.000 4.2 Margem líquida Esse índice mede o quanto o lucro ou o prejuízo líquido representa em relação à receita líquida. Adotando-se os valores do exemplo do Item 1.3, o valor da margem líquida é: ML = LUCRO LÍQUIDO = 20.000 = 0,10 ou 10%VENDAS LÍQUIDAS 200.000 33 4.3 Retorno sobre os investimentos (ROI) Esse índice, também conhecido como return on investiment, é o mais conhecido e comentado índice de rentabilidade. Ele compara o lucro líquido com o ativo. Adotando-se os valores do exemplo do Item 1.3, o valor do retorno sobre ativos é: ROI = LUCRO LÍQUIDO = 20.000 = 0,1428 ou 14,28% ATIVO 140.000 Esse índice nos permite dimensionar em quanto tempo, do ponto de vista econômico, o empreendimento terá condições de recuperar o valor investido, isto é, aplicado no ativo. 4.4 Retorno sobre o PL (ROE) Esse índice, mais conhecido como ROE, compara o lucro líquido com o PL. É muito utilizado por quem compra uma empresa, pois normalmente tem-se o PL como referência de valor da empresa. Adotando-se os valores do exemplo do Item 1.3, o valor do retorno sobre o PL (ROE) é: ROE = LUCRO LÍQUIDO = 20.000 = 0,25 ou 25,00% PL 80.000 Com este lucro, o investidor recuperará, do ponto de vista econômico, o valor investido em uma aquisição valorada pelo PL contábil. 34 5. Índices de endividamento Os índices de endividamento apresentam a relação do passivo com o capital próprio (PL) ou com o ativo, além de outras relações com as obrigações. 5.1 Endividamento geral (EG) Esse índice compara o valor do passivo total (PC + PNC) com o ativo. EG = PC + PNC = 28.000 + 32.000 = 42,86%. ATIVO 140.000 Isso significa que o ativo é suficiente para cobrir as dívidas. 5.2 Composição do endividamento (CE) Esse índice determina a importância das dívidas de curto prazo em relação às dívidas totais: CE = PC = 28.000 = 0,466 ou 46,67%. PC + PNC 28.000 + 32.000 Isso significa que as dívidas de curto prazo representam menos da metade do passivo. 5.3 Garantia dos capitais de terceiros (GCT) Quem garante o capital de terceiros é o capital próprio: GCT = PL = 80.000 = 1,33 ou 133%. PC + PNC 28.000 + 32.000 35 Isso significa que o PL é maior do que as dívidas. Referências Bibliográficas MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. MATARAZZO, D. C. Análisefinanceira de balanços. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MONTOTO, E. Contabilidade geral e avançada. São Paulo: JUSPODIVM, 2021. 36 Grau de alavancagem financeira e operacional e indicadores EBIT, EBITDA, NOPAT e EVA Autoria: Eugenio Montoto Leitura crítica: Gisele Zanardi Polizel Objetivos • Definir e exemplificar o grau de alavancagem financeira e operacional. • Definir e exemplificar os indicadores EBIT, EBITDA e NOPAT. • Definir e exemplificar o indicador EVA. 37 1. Introdução Neste tema, estudaremos os efeitos da alavancagem nos resultados das empresas. Basicamente, existem dois tipos de alavancagem: financeira e operacional. A alavancagem financeira evidencia os riscos do endividamento e do custo do endividamento, enquanto a alavancagem operacional evidencia a capacidade ou não da empresa em aumentar seus lucros com o aumento das vendas. Os indicadores de desempenho financeiro (EBIT, EBITDA e NOPAT) evidenciam a diferença entre os resultados econômico e financeiro. Os avançados indicadores de rentabilidade, como EVA e fórmula DUPONT, evidenciam o resultado sob a ótica dos investidores. 1.1 Margem de contribuição, LAJI e LAIR Precisamos ter claros os conceitos de margem de contribuição, lucro antes das despesas financeiras (LAJI) e lucro antes dos tributos (LAIR). A margem de contribuição é a diferença entre a receita líquida e os custos e despesas variáveis. O LAJI é obtido somando-se a margem de contribuição ao resultado financeiro, que é o mesmo que o lucro antes das despesas financeiras e impostos sobre a renda. O LAIR é obtido somando-se ao lucro líquido os tributos sobre a renda, e isso é o mesmo que o resultado antes dos tributos sobre a renda. Quadro 1 – Margem de contribuição e resultado Resultado Receita líquida Custos e despesas variáveis Margem de contribuição 38 Custos e despesas operacionais fixas LAJI (lucro antes dos juros e IR/CSL) Resultado financeiro LAIR (lucro antes do IR/CSL) IR/CSL Lucro líquido (LL) Fonte: elaborado pelo autor. 2. Alavancagem financeira e operacional 2.1 Conceito de alavancagem Uma alavanca, em física, é um instrumento que tem a capacidade de produzir resultados proporcionais ao ponto de apoio, demandando forças menores do que o peso da resistência. Figura 1 – Imagem de alavanca Fonte: https://www.infoescola.com/mecanica/alavancas-simples/. Acesso em: 19 nov. 2021. https://www.infoescola.com/mecanica/alavancas-simples/ 39 Uma força (F) de dimensão muito menor que o peso (P) será capaz de elevar esse peso, e isso será proporcional às distâncias dp e dr. 2.2 Grau de alavancagem operacional (GAO) A alavancagem operacional tem nos custos e despesas fixas (gastos fixos) seu parâmetro base. Os gastos fixos para determinado nível de produção não sofrem alterações em função da variação do volume de produção e/ou vendas. Comparando com a Figura 1, os custos e despesas fixas são o apoio. É a dimensão desses gastos fixos que determinará, por exemplo, qual montante de vendas acarretará aumento dos lucros. Os gastos fixos, como a depreciação de máquinas e equipamentos, não se alteram, nem com o tempo, nem com o volume de produção. Os gastos com salários são alterados por legislações, acordos ou liberalidade. Os gastos com empréstimos se alteram pela variação de índices nacionais ou mesmo de moedas estrangeiras. Perceba que esses gastos são se alteram com o nível de produção. A alavancagem operacional compara as variações nos resultados (LAJIR) com as variações das quantidades (volume de vendas): GAOAlfa = Variação do LAJIR Variação das Vendas As diferenças dessas variações estão relacionadas com os custos e despesas fixas. Empresas com GAO elevado realizam maiores variações do lucro, em comparação com as variações no volume de vendas. Entretanto, apresentam elevado risco, se comparadas com outras empresas de GAO menor, uma vez que seus custos fixos são expressivos. Vamos a um exemplo: 40 As empresas Alfa e Beta possuem os seguintes gastos fixos, variáveis para um mesmo volume de vendas de R$ 100.000: Quadro 2 – Resultado – LAJI referência Resultado ALFA BETA Receita de vendas $ 100.000 100% $ 100.000 100% (-) Gastos variáveis $ 25.000 25% $ 60.000 60% Margem de contribuição $ 75.000 75% $ 40.000 40% (-) Gastos fixos $ 60.000 $ 25.000 Resultado (LAJI) $ 15.000 $ 15.000 Fonte: elaborado pelo autor. O GAO também pode ser medido pela razão entre a margem de contribuição e o LAJI. Essa razão apresenta o potencial de alavancagem para o crescimento dos lucros a partir do crescimento das vendas. Quadro 3 – Cálculo do GAO Resultado ALFA BETA Margem de contribuição $ 75.000 75% $ 40.000 40% Resultado (LAJI) $ 15.000 $ 15.000 GAO 5,00 2,66 Fonte: elaborado pelo autor. Para demonstrar que o GAO pode ser comprovado, vejamos os resultados com uma elevação de 20% nas vendas. Quadro 4 – Resultado LAJI com aumento de 20% Resultado ALFA BETA Receita de vendas $ 120.000 100% $ 120.000 100% (-) Gastos variáveis $ 30.000 25% $ 72.000 60% Margem de contribuição $ 90.000 75% $ 48.000 40% (-) Gastos fixos $ 60.000 $ 25.000 Resultado (LAJI) $ 30.000 $ 23.000 Fonte: elaborado pelo autor. 41 GAOAlfa = Variação do LAJIR = 100% = 5 Variação das Vendas 20% GAOBeta= Variação do LAJIR = 53,33% = 2,66 Variação das Vendas 20% 2.2 Alavancagem financeira Alavancagem financeira é um indicador que está relacionado com a utilização de capital de terceiros e o custo desse capital. Portanto, é um indicador relativo às despesas financeiras. As despesas financeiras são custos não operacionais e fixos, isto é, não se sujeitam ao nível de produção. Dependendo do nível de despesas financeiras, uma redução no LAJI poderá resultar em prejuízo líquido. Capitais de terceiros (empréstimos) podem ter como consequência aumento dos lucros se as despesas financeiras não forem muito caras. O GAF sempre se refere a um determinado nível de produção ou vendas. A fórmula clássica para determinar o GAF é a razão entre a rentabilidade de uma empresa endividada e a potencial rentabilidade dessa empresa sem dívidas. Em resumo, o GAF evidencia se o endividamento é favorável ou não. GAF = LOP PL LOP + DF Ativo Se o GAF é maior do que 1, o endividamento é favorável, uma vez que no denominador temos a rentabilidade sobre o patrimônio líquido de uma empresa que possui passivo. No denominador, adicionamos ao 42 LOP as despesas financeiras, para “idealizar” a empresa sem dívidas. O patrimônio líquido, nesta situação hipotética, será o próprio ativo, uma vez que a empresa não tem dívidas. Em nosso exemplo, uma empresa possui ativos totais de R$ 800.000, passivo de R$ 300.000 e patrimônio líquido de R$ 500.000. Suponhamos que, em determinado exercício, o custo financeiro (DF) sobre seu passivo de R$ 300.000 seja de 25% ao ano na Hipótese 1 e de 15% ao ano na Hipótese 2. Quadro 5 – Resultado Hipótese 1 com DF Demonstração do Resultado – Hipótese 1 Receita 600.000 (-) Custos (150.000) Lucro bruto 450.000 (-) Despesas (330.000) Gerais – 255.000 Financeira – 75.000 (25%) Lucro operacional (LAIR) 120.000 IR/CSL (34%) (40.800) Lucro líquido (LL) 79.200 Fonte: elaborado pelo autor. Caso as dívidas sejam quitadas, o patrimônio líquido passará a ser de R$ 800.000, igual ao ativo, e o resultado será o seguinte: Quadro 6 – Resultado Hipótese 1 sem DF Demonstração do Resultado Receita 600.000 (-) Custos (150.000) Lucro bruto 450.000 (-) Despesas (255.000) 43 Gerais – 255.000 Financeira – 0 Lucro operacional (LAIR) 195.000 (-) IR/CSL – 34% (66.300) Lucro líquido (LL) 128.700 Fonte: elaborado pelo autor. O custo financeiro seria zero. Neste caso, o GAF seria de: GAF= LOP = 120.000 = 0,24 = 0,98PL 500.000 LOP + DF 120.000 + 75.000 0,24375 Ativo 800.000 O numerador é ligeiramente superior ao denominador, indicando GAF desfavorável, isto é, a rentabilidade da empresa sem dívidas é maior, e isso significa que o endividamento é caro. Na Hipótese 2, o custo financeiro(DF) é de 15% sobre o passivo. Quadro 7 – Resultado Hipótese 2 com DF Demonstração do Resultado – Hipótese 2 Receita 600.000 (-) Custos (150.000) Lucro bruto 450.000 (-) Despesas (330.000) Gerais – 285.000 Financeira – 45.000 (15%) Lucro operacional 120.000 IR/CSL (34%) (40.800) Lucro líquido 79.200 Fonte: elaborado pelo autor. 44 Caso as dívidas sejam quitadas, o patrimônio líquido passará a ser de R$ 800.000, igual ao ativo, e o resultado será o seguinte: Quadro 8 – Resultado Hipótese 2 sem DF Demonstração do Resultado Receita 600.000 (-) Custos (150.000) Lucro bruto 450.000 (-) Despesas (285.000) Gerais – 285.000 Financeira – 0 Lucro operacional 165.000 (-) IR/CSL – 34% (56.100) 108.900 Fonte: elaborado pelo autor. GAF= LOP = 120.000 = 0,24 = 1,16PL 500.000 LOP + DF 120.000 + 45.000 0,20625 Ativo 800.000 O numerador é superior ao denominador, indicando GAF favorável, isto é, a rentabilidade da empresa com dívidas é maior, e isso significa que o endividamento é vantajoso. Outra forma de determinar o GAF é através da razão entre a variação do lucro líquido e a variação do LAJI. Quando a remuneração dos acionistas preferenciais é constante, devemos substituir a variação do lucro líquido pela variação do lucro por ação dos acionistas ordinários. 45 2.3 Alavancagem combinada A alavancagem combinada ou composta nada mais é do que o produto da multiplicação do GAO pelo GAF: GAC = GAO x GAF O grau de alavancagem combinada também pode ser obtido pela razão entre a margem de contribuição total e o LAIR: GAF = MCT LAIR 3. EBIT, EBITDA e NOPAT (EBI) Esses indicadores são todos relacionados, por isso centralizaremos nossa atenção no EBITDA, que significa Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation/Depletion and Amortization, em inglês. Sua tradução significa lucro antes dos juros, impostos sobre a renda, depreciações, exaustões e amortizações. O EBITDA não é um índice, mas um indicador numérico. É conhecido internacionalmente como indicador financeiro, embora o resultado evidenciado seja uma porção do lucro que ainda não possui realização financeira. Quando somamos ao resultado líquido os tributos sobre o lucro, as despesas financeiras e as depreciações, estamos calculando a capacidade de geração potencial de caixa de uma empresa. Vamos utilizar uma demonstração de resultado para evidenciar o EBITDA, o EBIT e o NOPAT. 46 Quadro 9 – Demonstração de resultado Receita líquida $ 1.000.000 (-) Custos ($ 350.000) Resultado bruto $ 650.000 (-) Despesas ($ 340.000) Diversas–$ 170.000 Depreciação–$ 50.000 Financeiras–$ 120.000 Resultado operacional $ 310.000 (-) Imposto de renda e CSL – 34% ($ 105.400) Resultado líquido $ 204.600 Fonte: elaborado pelo autor. O resultado líquido do exemplo é R$ 204.600. Adicionando a este resultado o valor da depreciação, as despesas financeiras e os tributos sobre o lucro, temos o EBITDA. Quadro 10 – EBI, EBIT e EBITDA Resultado líquido $ 204.600 (+) Despesas financeiras $ 120.000 NOPAT (EBI) $ 324.600 (+) Imposto de renda e CSL $ 105.400 EBIT $ 430.000 (+) Depreciação $ 50.000 EBITDA $ 480.000 Fonte: elaborado pelo autor. O NOPAT ou EBI é um indicador que demonstra o lucro potencial que uma empresa poderia alcançar se não tivesse despesas financeiras. Muitas empresas possuem resultado positivo, mas seu endividamento 47 o consome. Para um investidor que desejar adquirir essa empresa, bastará que liquide seu passivo, e ela passará a ser lucrativa. O EBIT é um indicador que demonstra o lucro potencial caso a empresa não tenha despesas financeiras e os tributos sejam zero. É claro que tributos nunca são zero, mas podem ser administrados em operações no contexto de um grupo empresarial. Em grupos empresariais, uma empresa pode ter baixíssimo resultado enquanto outras apresentam alta lucratividade, mas todas são importantes para a operação. As operações entre empresas do grupo, quando bem ajustadas, reduzem os tributos totais. O EBITDA demonstra a geração de caixa possível, uma vez que soma ao resultado as despesas financeiras, os tributos sobre o lucro e, por fim, a depreciação. A depreciação realmente é uma despesa que não consome caixa, pois trata-se de uma despesa meramente contábil. É claro que a depreciação é um indicador de necessidade de reinvestimento, e por isso o EBITDA deve ser utilizado de forma crítica e particular. 4. EVA – economic value added ou VEA – valor econômico agregado Para que uma empresa seja atrativa para os investidores, não basta que ela seja lucrativa. Ela tem que gerar lucros que superem o valor que seria obtido pelos investidores se aplicassem seus investimentos no mercado financeiro. O EVA evidencia o lucro que supera o resultado da aplicação dos investimentos a uma taxa esperada pelos sócios. EVA = Lucro Operacional – PL x CMPC Ou 48 EVA = Lucro Operacional – (Investimento = Ativo) x CMPC CMPC é o custo de oportunidade sob a ótica dos acionistas, ou custo do capital próprio. Quadro 11 – Balanço patrimonial Ativo $ 1.000.000 Passivo $ 300.000 Patrimônio líquido $ 700.000 Fonte: elaborado pelo autor. Suponhamos que o ativo de uma empresa seja de $ 1.000.000, o passivo seja de $ 300.000 e o patrimônio líquido seja de $ 700.000. Se os investidores desta empresa desejassem remuneração de 20% sobre o patrimônio líquido, isso representaria 20% sobre $ 700.000, ou seja, $ 140.000. Quadro 12 – Demonstração do resultado Receita líquida $ 1.000.000 (-) Custos ($ 350.000) Resultado bruto $ 650.000 (-) Despesas ($ 340.000) Diversas – $ 170.000 Depreciação – $ 50.000 Financeiras – $ 120.000 Resultado operacional $ 310.000 (-) Imposto de renda e CSL – 34% ($ 105.400) Resultado líquido $ 204.600 Fonte: elaborado pelo autor. 49 Como o lucro líquido desta empresa foi de $ 204.600, o EVA é de $ 204.600–$ 140.000 = $ 64.600, isto é, o lucro líquido superou em $ 64.600 a rentabilidade mínima desejada pelos sócios. Referências Bibliográficas MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MONTOTO, E. Contabilidade geral e avançada. São Paulo: JUSPODIVM, 2021. 50 Análise e necessidade do capital de giro e a dinâmica financeira das empresas utilizando o modelo Fleuriet Autoria: Eugenio Montoto Leitura crítica: Gisele Zanardi Polizel Objetivos • Apresentar o conceito de capital de giro. • Definir e exemplificar o capital circulante líquido (CCL), a necessidade de capital de giro (NCG) e o saldo em tesouraria (ST). • Discutir o modelo Fleuriet (MF), comparando-o com a liquidez corrente (LC). 51 1. Introdução O capital de giro é o recurso necessário para financiar as operações que se caracterizam como sendo o objetivo das empresas. Ele pode ser obtido pelo ingresso de recursos dos sócios (capital), pelo lucro das operações, pela venda de ativos permanentes da empresa, pelo resgate de aplicações ou ainda, com origem no passivo, pela obtenção de crédito dos fornecedores ou através da contratação de um empréstimo. Figura 1 – Fontes de financiamento do capital de giro Fonte: elaborada pelo autor. A forma de conquista do capital de giro que é mais saudável e que garante o crescimento sustentado das empresas é aquela obtida com os seus próprios fornecedores. Portanto, a análise da necessidade do capital de giro está centrada na análise dos ativos circulantes e dos passivos circulantes. A administração do capital de giro de forma sustentável é fundamental para a boa gestão de qualquer negócio. Tanto o ativo circulante como o passivo circulante possuem componentes relacionados com as atividades operacionais e financeiras. Vamos exemplificar as principais contas operacionais e financeiras do circulante no quadro a seguir. 52 Quadro 1 – Ativos e passivos circulantes operacionais e financeiros ATIVO PASSIVO Ativo Circulante Financeiro Passivo CirculanteFinanceiro Caixa Empréstimos Banco Financiamentos Instrumentos financeiros Duplicatas descontadas Títulos a receber Dividendos a pagar Ativo Circulante Operacional Passivo Circulante Operacional Contas a receber Fornecedores Estoques Salários a pagar Despesas antecipadas Contas a pagar (despesas) Tributos a recuperar Tributos e encargos a pagar Duplicatas a receber Provisões a pagar Fonte: elaborado pelo autor. O passivo circulante é uma fonte de recursos de terceiros. O ativo circulante representa as contas nas quais estão aplicados os recursos disponíveis ou que poderão ser convertidos em disponibilidades no próximo exercício (curto prazo). As contas do ativo circulante que representam as atividades financeiras (ACF – ativo circulante financeiro) são as disponibilidades (caixa e banco), as aplicações financeiras e os títulos a receber que têm origem na venda de ativos financiados pela empresa a terceiros. As contas do ativo circulante que representam as atividades operacionais (ACO – ativo circulante operacional) são as relacionadas com a atividade principal da empresa. Como exemplos mais relevantes citamos as contas a receber, os estoques, as despesas antecipadas, os tributos a recuperar e as duplicatas a receber. 53 As contas do passivo circulante que representam as atividades financeiras (PCF – passivo circulante financeiro) são os empréstimos, os financiamentos, as duplicatas descontadas e os dividendos a pagar. As contas do passivo circulante que representam as atividades operacionais (PCO – passivo circulante operacional) são as contas relacionadas com a atividade principal da empresa. Como exemplos mais relevantes citamos os fornecedores, os salários a pagar, as contas a pagar (transitam as despesas), os tributos a pagar e as provisões a pagar. Figura 2 – Distinção entre ativos e passivos operacionais e financeiros Fonte: elaborada pelo autor. A diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante é uma diferença clássica, conhecida como capital circulante líquido (CCL) ou capital de giro líquido (CGL). O mais popular índice de avaliação financeira é a liquidez corrente (LC), que é calculada pela razão entre o ativo circulante e o passivo circulante: LC = AC PC No Tópico 3, estudaremos a análise financeira proposta pelo modelo Fleuriet, a qual já foi demonstrada em diversas dissertações e teses como sendo muito mais consistente, porque leva em conta uma análise do capital de giro ampla, considerando não somente o CCL (AC e PC), mas também a necessidade de capital de giro e o saldo em tesouraria. 54 2. Necessidade de capital de giro e saldo em tesouraria O conceito de necessidade de capital de giro está relacionado com a empresa conseguir ou não financiar suas operações com os recursos de terceiros. Quanto mais a empresa conseguir se financiar com os recursos de seus fornecedores, menos recursos próprios ela precisará providenciar. Se uma empresa necessita aplicar mais recursos operacionais em seu ativo circulante do que consegue obter em seu passivo circulante operacional, ela precisa captar capital de giro de alguma forma. A seguir, apresentamos um exemplo de empresa que necessita de capital de giro. Figura 3 – Necessidade de capital de giro Fonte: elaborada pelo autor. No exemplo anterior, a empresa necessita aplicar R$ 15.000, sendo R$ 7.000 em duplicatas a receber e R$ 8.000 em mercadorias. Entretanto, ela só conseguiu obter financiamento de R$ 5.000 de seus fornecedores e terceiros (fornecedor R$ 500, duplicatas a pagar R$ 1.000, salários a pagar R$ 1.000 e tributos a pagar R$ 2.500), por isso essa empresa precisa de recursos (capital de giro). 55 A empresa do exemplo tem aplicações superiores às fontes de recursos, isto é, o ativo circulante operacional (R$ 15.000) é maior do que o passivo circulante operacional (R$ 5.000). Assim, esta empresa necessita de R$ 10.000. Quanto maior o débito com fornecedores, mais a empresa demonstra que consegue obter crédito para financiar suas necessidades de aplicações em estoques e contas, e receber financiando os clientes. Figura 4 – Empresa necessita de capital de giro Fonte: elaborada pelo autor. Sempre que o ativo circulante operacional for superior ao passivo circulante operacional, de acordo coma Figura 4, a empresa necessitará de capital de giro. Figura 5 – Empresa não necessita de capital de giro Fonte: elaborada pelo autor. 56 Sempre que o ativo circulante operacional for igual ao passivo circulante operacional, como representado na Figura 5, a empresa não necessitará de capital de giro. Figura 6 – Empresa tem excesso de capital de giro Fonte: elaborada pelo autor. Sempre que o ativo circulante operacional for menor do que o passivo circulante operacional, como representado na Figura 6, a empresa terá capital de giro em excesso. 2.1 Saldo em tesouraria (ST) O conceito do saldo em tesouraria deriva da diferença entre as aplicações financeiras de curto prazo e as fontes financeiras de curto prazo. É calculado pela diferença entre o ativo circulante financeiro (ACF) e o passivo circulante financeiro (PCF). Essas duas grandezas já foram definidas na Introdução. ST = ACF–PCF 2.2 Relação entre CCL, NCG e ST Como o CCL é a diferença entre o ativo circulante (AC) e o passivo circulante (PC) – para relembrar, observe a Figura 2 –, podemos concluir que: 57 CCL = AC – PC = (ACO + ACF) – (PCO – PCF) CCL = (ACO – PCO) + (ACF – PCF) = NCG + ST CCL = NCG + ST 3. Modelo Fleuriet O modelo Fleuriet tem seis níveis de qualidade de situação financeira, conforme indica o quadro a seguir. Quadro 2 – Classificação financeira modelo Fleuriet Indicador Classificação Sigla 1 Péssima situação financeira PE 2 Situação financeira muito ruim MR 3 Situação financeira arriscada AR 4 Situação financeira insuficiente IN 5 Sólida situação financeira SO 6 Excelente situação financeira EX Fonte: elaborado pelo autor. Os indicadores em níveis de 1 a 6, associados a cada nível de qualidade do modelo Fleuriet, foram adotados na dissertação do autor desta Leitura Digital. Cada um dos níveis de qualidade financeira está associado às grandezas NCG (necessidade de capital de giro), CCL (capital circulante líquido) e ST (saldo em tesouraria). Dependendo do valor das grandezas citadas, elas representam fonte ou aplicação de recursos, de acordo com o quadro a seguir. 58 Quadro 3 – Grandezas do modelo Fleuriet Grandezas do Modelo Fleuriet Positivo Negativo NCG (necessidade de capital de giro) Aplicação Fonte CCL (capital circulante líquido) Fonte Aplicação T (saldo em tesouraria) Aplicação Fonte Fonte: elaborado pelo autor. Os seis níveis de qualidade financeira preconizados pelo modelo Fleuriet podem ser representados por seis tipos de balanços. O quadro a seguir (Figura 7) é um resumo dos seis tipos de balanços que vamos exemplificar em seguida. Para a construção desse quadro, consideraremos o valor do ativo como $ 100 (ACF + ACO + ANC) e NCG variando de (20) a $ 20 em uma escala de $ 5 unidades monetárias. Os valores no centro da tabela referem-se ao ST. Figura 7 – Origem do indicador Fleuriet Tipo 4 (IN) 20 15 10 5 0 10 5 0 (5) Tipo 5 (S.0) 20 40 35 30 25 15 35 30 25 20 15 15 10 5 0 (5) (10) 5 0 (5) (10) (15) 10 Tipo 6 (EX) 30 25 20 0 (5) (10) (15) (20) 5 25 20 15 10 (5) (10) (15) (20) (25) 0 20 15 10 5 (15) (20) (25) (30) (5) Tipo 3 (AR) 15 10 5 0 (10) 10 5 0 (5) (10) (15) (20) (25) (30) (35) Tipo 1 (PE) (25) (30) (35) (40) Tipo 2 (MR) (15) 5 0 (5) (10) 5 10 15 20 (20) 0 (5) (10) (15) (20) (20) (15) (10) (5) 0 NCG CCL Fonte: adaptada de Braga (1991, p. 10). 59 3.1 Estrutura financeira excelente (6) Nesta estrutura, o CCL é maior do que zero, a NCG é negativa, isto é, existem mais fontes de recursos operacionais do que aplicações, e o saldo em tesouraria é positivo. Quadro 4 – Grandezas do modelo Fleuriet na estrutura excelente CCL NCG T > 0 (maior que zero) < 0 (menor que zero) > 0 (maiorque zero) Outras condições: CCL > NCG e T > CCL > NCG Fonte: elaborado pelo autor. Figura 8 – Exemplo de balanço de estrutura excelente – modelo Fleuriet PCF = 10 50 LÍQUIDO PNC + PL = 60 ACF = 30 ACO = 20 ATIVO NÃO CIRCULANTE PCO = 30 PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO Fonte: elaborada pelo autor. A liquidez corrente neste caso é LC = 50 = 1,25. 40 3.2 Estrutura financeira sólida (5) Nesta estrutura, o CCL é maior do que zero, a NCG é positiva, isto é, existem menos fontes de recursos operacionais do que aplicações, e o saldo em tesouraria é positivo. Neste caso, as fontes operacionais não são suficientes para suportar as necessidades operacionais, mas o CCL e o ST são positivos. 60 Quadro 5 – Grandezas do modelo Fleuriet na estrutura sólida CCL NCG T > 0 (maior que zero) > 0 (maior que zero) > 0 (maior que zero) Outras condições: CCL > NCG e T ≤ CCL ≥ NCG Fonte: elaborado pelo autor. Figura 9 – Exemplo de balanço de estrutura sólida – modelo Fleuriet ATIVO 60 PNC + PL = 80 PCF =10 PCO = 10 ACF = 20 ACO = 20 NÃO CIRCULANTE PASSIVO PATRIMÔNIO NÃO CIRCULANTE LÍQUIDO Fonte: elaborada pelo autor. A liquidez corrente neste caso é LC = 50 = 2,5. 20 3.3 Estrutura financeira insuficiente (4) Nesta estrutura, o CCL é maior do que zero, a NCG é positiva, isto é, existem menos fontes de recursos operacionais do que aplicações, e o saldo em tesouraria é negativo. Neste caso, as fontes operacionais não são suficientes para suportar as necessidades operacionais, mas o CCL é positivo, entretanto o ST é negativo. Quadro 6 – Grandezas do modelo Fleuriet na estrutura insuficiente CCL NCG T > 0 (maior que zero) > 0 (maior que zero) < 0 (menor que zero) Outras condições: T < CCL < NCG Fonte: elaborado pelo autor. 61 Figura 10 – Exemplo de balanço de estrutura insuficiente – modelo Fleuriet PCO =10 PASSIVO ATIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO 60 PNC+PL = 70 NÃO CIRCULANTE PCF = 20 ACO = 30 ACF = 10 Fonte: elaborada pelo autor. A liquidez corrente neste caso é LC = 40 = 1,33. 30 3.4 Estrutura financeira arriscada (3) Nesta estrutura, o CCL é menor do que zero, a NCG é negativa, isto é, existem mais fontes de recursos operacionais do que aplicações, e o saldo em tesouraria é positivo. Neste caso, as fontes operacionais são suficientes para suportar as necessidades operacionais, mas o CCL é negativo, entretanto o ST é positivo. Quadro 7 – Grandezas do modelo Fleuriet na estrutura arriscada CCL NCG T < 0 (menor que zero) < 0 (menor que zero) > 0 (maior que zero) Outras condições: T > CCL > NCG Fonte: elaborado pelo autor. 62 Figura 11 – Exemplo de balanço de estrutura arriscada – modelo Fleuriet PCF = 10 ACO = 10 PCO = 30 ATIVO PASSIVO NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO 70 LÍQUIDO PNC + PL = 60 ACF = 20 Fonte: elaborada pelo autor. A liquidez corrente neste caso é LC = 30 = 0,75. 40 3.5 Estrutura financeira muito ruim (2) Nesta estrutura, o CCL é menor do que zero, a NCG é negativa, isto é, existem mais fontes de recursos operacionais do que aplicações, e o saldo em tesouraria é negativo. Neste caso, as fontes operacionais são suficientes para suportar as necessidades operacionais, mas o CCL e o ST são negativos. Quadro 8 – Grandezas do modelo Fleuriet na estrutura muito ruim CCL NCG T < 0 (menor que zero) < 0 (menor que zero) < 0 (menor que zero) Outras condições: T > CCL e T ≤ NCG ou T ≥ NCG Fonte: elaborado pelo autor. 63 Figura 12 – Exemplo de balanço de estrutura muito ruim – modelo Fleuriet ATIVO PASSIVO NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO 70 LÍQUIDO 50 ACF = 20 PCF = 30 ACO = 10 PCO = 20 Fonte: elaborada pelo autor. A liquidez corrente neste caso é LC = 30 = 0,6. 50 3.6 Estrutura financeira péssima (1) Nesta estrutura, o CCL é menor do que zero, a NCG é positiva, isto é, existem menos fontes de recursos operacionais do que aplicações, e o saldo em tesouraria é negativo. Neste caso, as fontes operacionais não são suficientes para suportar as necessidades operacionais, mas o CCL e o ST são negativos. Esta é a combinação mais temerária possível, pois as operações não se financiam e não existem recursos financeiros para suportar as necessidades operacionais. Quadro 9 – Grandezas do modelo Fleuriet na estrutura péssima CCL NCG T < 0 (menor que zero) > 0 (maior que zero) < 0 (menor que zero) Outras condições: CCL < NCG e T < CCL < NCG Fonte: elaborada pelo autor. 64 Figura 13 – Exemplo de balanço de estrutura péssima – modelo Fleuriet ATIVO PASSIVO NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO 70 LÍQUIDO 60 ACF = 10 ACO = 20 PCF = 30 PCO = 10 Fonte: elaborada pelo autor. A liquidez corrente neste caso é LC = 30 = 0,75. 40 A seguir, apresentamos o quadro comparativo entre a liquidez corrente (LC) e os indicadores financeiros do modelo Fleuriet (MF) de cada um dos seis balanços exemplificados. Quadro 10 – Comparativo liquidez corrente e método Fleuriet MF 6 5 4 3 2 1 LC 1,25 2,5 1,33 0,75 0,6 0,75 Fonte: elaborado pelo autor. Perceba que a LC 2,5 (a melhor) está relacionada ao estado sólido do modelo Fleuriet (%), e não ao nível excelente. A LC do estado insuficiente (4) é melhor do que o estado excelente. A liquidez corrente dos piores estados efetivos, segundo o modelo Fleuriet (1, 2 e 3), possui valores iguais ou muito próximos, e não se percebe distinção entre estados piores, ou seja, não são observadas muitas diferenças de um em relação ao outro. O modelo Fleuriet de análise do capital de giro é muito mais preciso porque leva em consideração a natureza das contas que compõem tanto o ativo como o passivo circulante. 65 Referências Bibliográficas BRAGA, R. Análise avançada do capital de giro. Cad. Est., São Paulo, n. 3, set./1991. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cest/a/9bjQVmGSZ3vw8CZMPJD3PqP/?lang= pt. Acesso em: 19 nov. 2021. MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MONTOTO, E. Contabilidade geral e avançada. São Paulo: JUSPODIVM, 2021. MONTOTO, E. Relação entre liquidez corrente e modelo Fleuriet. 2013. Dissertação (Mestrado)–PUC-SP, São Paulo, 2013. https://www.scielo.br/j/cest/a/9bjQVmGSZ3vw8CZMPJD3PqP/?lang=pt https://www.scielo.br/j/cest/a/9bjQVmGSZ3vw8CZMPJD3PqP/?lang=pt 66 BONS ESTUDOS! Sumário Conceitos, ajustes e nomenclaturas Objetivos 1. Histórico 2. Introdução 3. Conceitos 4. Nomenclaturas e ajustes Referências Bibliográficas Índices de liquidez, rotação, rentabilidade e endividamento Objetivos 1. Introdução 2. Índices de liquidez 3. Índices de rotação 4. Índices de rentabilidade 5. Índices de endividamento Referências Bibliográficas Grau de alavancagem financeira e operacional e indicadores EBIT, EBITDA, NOPAT e EVA Objetivos 1. Introdução 2. Alavancagem financeira e operacional 3. EBIT, EBITDA e NOPAT (EBI) 4. EVA - economic value added ou VEA - valor econômico agregado Referências Bibliográficas Análise e necessidade do capital de giro e a dinâmica financeira das empresas utilizando o modelo Fl Objetivos 1. Introdução 2. Necessidade de capital de giro e saldo em tesouraria 3. Modelo Fleuriet Referências Bibliográficas
Compartilhar