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Indaial – 2023 Secundária Prof.ª Mariana da Rocha Marins Prof.ª Silvana Januario Jorge Prof.ª Talita Cristiane Sutter 1a Edição Saúde coletiva e aSSiStência de enfermagem na atenção Primária e Elaboração: Prof.ª Mariana da Rocha Marins Prof.ª Silvana Januario Jorge Prof.ª Talita Cristiane Sutter Copyright © UNIASSELVI 2023 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. MARINS, Mariana. Saúde Coletiva e Assistência de Enfermagem na Atenção Primária e Secundária. Mariana da Rocha Marins; Silvana Januario Jorge; Talita Cristiane Sutter. Indaial - SC: Arqué, 2023. 234p. ISBN 978-65-5646-585-2 ISBN Digital 978-65-5646-580-7 “Graduação - EaD”. 1. Saúde Coletiva 2. Assistência de Enfermagem 3. Brasil CDD 610.7 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 A assistência de enfermagem segue os princípios do Sistema Único de Saúde, buscando o atendimento universal e integral à população, ou seja, o enfermeiro que atua na saúde coletiva deverá compreender os aspectos da rede de saúde, que englobam a Atenção Primária, a Atenção Secundária e a Atenção Terciária. É interessante apontar que, nesse livro didático, iremos nos aprofundar na Atenção Primária e na Atenção Secundária. Para isso, na Unidade 1, abordaremos os aspectos gerais da enfermagem e da saúde coletiva, apresentando a sua organização e funcionamento, bem como as características e atribuições. Tomaremos como base os princípios e as diretrizes da Atenção Básica, a infraestrutura e o funcionamento das equipes de Atenção Básica e a Estratégia de Saúde da Família. Ademais, estudaremos a importância do sistema de referência e contrarreferência, levando em consideração a operacionalização da rede de Atenção à Saúde, a integralidade do cuidado e o funcionamento do sistema. Por fim, ainda na Unidade 1, falaremos sobre a assistência na média e na alta complexidade de saúde, considerando suas definições, suas relações e os seus componentes. Já na Unidade 2, abordaremos os principais conceitos relacionados à assistência de enfermagem na Atenção Primária à Saúde. Começaremos discutindo os aspectos conceituais da Atenção Primária à Saúde, que se referem às principais condições de saúde atendidas nessa área, bem como à prevenção e à promoção da saúde. Além disso, abordaremos a importância da humanização, acesso e acolhimento no cuidado à saúde dos pacientes. Em seguida, discutiremos os aspectos conceituais da Atenção Secundária à Saúde, com ênfase nas principais condições de saúde atendidas nesse nível de atenção, como as infecções sexualmente transmissíveis e os aspectos gerais sobre urgência e emergência. Por fim, abordaremos a vigilância em saúde, incluindo os determinantes, riscos e danos à saúde da população adscrita, a notificação compulsória na Atenção Primária e Secundária à Saúde e as condições sensíveis à Atenção Primária à Saúde. Na Unidade 3, vamos falar sobre a assistência de enfermagem na atenção secun- dária à saúde, destacando o papel do enfermeiro nessa área. Na primeira parte, abordare- mos o papel do enfermeiro na atenção primária à saúde, suas atribuições e principais pro- cedimentos realizados nessa área. Também destacaremos o cuidado em enfermagem na visita domiciliar e o programa nacional de imunização. Na segunda parte, falaremos sobre as atribuições do enfermeiro na atenção secundária à saúde, seus principais procedimen- tos e o apoio diagnóstico e terapêutico que oferece nessa área, bem como discutiremos os procedimentos de enfermagem no contexto de urgência e emergência. Por fim, discutire- mos a importância do trabalho multiprofissional e interdisciplinar em saúde, destacando a equipe multiprofissional, a interdisciplinaridade e o papel do enfermeiro na equipe. Bons estudos! Prof.ª Mariana da Rocha Marins Prof.ª Silvana Januario Jorge Prof.ª Talita Cristiane Sutter APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. 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SUMÁRIO UNIDADE 1 - ENFERMAGEM E SAÚDE COLETIVA: ASPECTOS GERAIS.............................. 1 TÓPICO 1 - ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA ATENÇÃO BÁSICA: CARACTERÍSTICAS E ATRIBUIÇÕES .................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA ATENÇÃO BÁSICA ...........................................................3 2.1 HISTÓRIA DO SISTEMA DE SAÚDE DO BRASIL ..............................................................................4 2.2 A POLÍTICA NACIONAL DEATENÇÃO BÁSICA ................................................................................7 2.2.1 Princípios e Diretrizes ..................................................................................................................7 3 INFRAESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E EQUIPES DE ATENÇÃO BÁSICA ....................9 3.1 INFRAESTRUTURA E AMBIÊNCIA ...................................................................................................... 9 3.2 FUNCIONAMENTO DAS EQUIPES DE ATENÇÃO BÁSICA .......................................................... 10 3.3 TIPOS DE EQUIPES ..............................................................................................................................12 3.3.1 Equipes de Atenção Básica para Populações Específicas ............................................. 15 4 ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA .............................................................................. 17 4.1 HISTÓRIA DA ESF NO BRASIL ........................................................................................................... 18 4.2 CARACTERÍSTICAS DA ESF.............................................................................................................. 18 4.3 COMPOSIÇÃO E ATRIBUIÇÕES DAS ESF.......................................................................................20 4.4 DESAFIOS DA ESF ..............................................................................................................................22 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 24 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 25 TÓPICO 2 - SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA NA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE ..........................................................................................27 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................27 2 OPERACIONALIZAÇÃO DA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE ..............................................27 2.1 ELEMENTOS CONSTRUTIVOS E ATRIBUTOS DA RAS .................................................................29 2.2 CARACTERÍSTICAS DA RAS ............................................................................................................30 2.2.1 Relações Horizontais .................................................................................................................31 2.2.2 Atenção Primária/básica como Coordenadora do Cuidado ..........................................32 2.2.3 Planejamento e Organização das Ações Segundo a Necessidade da População ...32 2.2.4 Atenção Contínua e Integral ..................................................................................................33 2.2.5 Atendimento Multiprofissional/interdisciplinar .................................................................34 2.2.6 Responsabilidade com os Compromissos e Metas, Considerando Questões Sanitárias e Econômicas ........................................................................................................34 2.3 DIRETRIZES E ESTRATÉGIAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DA RAS .............................................35 3 INTEGRALIDADE DO CUIDADO ....................................................................................... 35 3.1 INTEGRALIDADE COMO TRAÇO DE BOA MEDICINA ....................................................................36 3.2 INTEGRALIDADE COMO MODO DE ORGANIZAR AS PRÁTICAS ............................................... 37 3.3 INTEGRALIDADE COMO RESPOSTAS GOVERNAMENTAIS A PROBLEMAS ESPECÍFICOS DE SAÚDE ............................................................................................................................................ 37 3.4 A IMPORTÂNCIA DA ESF NA INTEGRALIDADE DO CUIDADO ...................................................39 4 FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA ............. 40 4.1 IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DOS DADOS NO SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA ......................................................................................................................42 4.1.1 Cartão Nacional do SUS (CNS) ................................................................................................43 4.1.2 Prontuário Clínico ......................................................................................................................44 4.1.3 Sistemas de Regulação ...........................................................................................................44 4.1.4 Sistema de Transporte em Saúde .........................................................................................45 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................47 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 48 TÓPICO 3 - ASSISTÊNCIA NA MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE EM SAÚDE ...................... 51 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 51 2 DEFINIÇÕES E NECESSIDADES NA MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE ............................ 51 2.1 NECESSIDADES NA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE DE MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE ...........53 3 RELAÇÃO ENTRE A ASSISTÊNCIA NA MÉDIA E NA ALTA COMPLEXIDADE.................. 56 4 COMPONENTES DA MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE ..................................................... 58 4.1 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO CARDIOVASCULAR ............................................................58 4.2 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE AUDITIVA ...........................................................59 4.3 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO AO PORTADOR DE DOENÇA RENAL ..............................59 4.4 POLÍTICA NACIONAL DE PROCEDIMENTOS ELETIVOS DE MÉDIA COMPLEXIDADE ..........60 4.5 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ONCOLÓGICA .......................................................................61 4.6 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA ......................61 4.7 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL .......................................................................................62 4.8 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO DE ALTA COMPLEXIDADE EM TRAUMATO- ORTOPEDIA ..........................................................................................................................................63 4.9 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS ..................................................................64 4.10 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO AO PORTADOR DE DOENÇA NEUROLÓGICA .............64 4.11 POLÍTICA NACIONAL PARA HOSPITAIS DE PEQUENO PORTE ................................................65 4.12 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA ................................................................65 4.13 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER ................................66 4.14 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM ..................................66 4.15 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL ................................................................................... 67 4.16 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL GENÉTICA CLÍNICA ......................................68 4.17 POLÍTICA NACIONAL DE OFTALMOLOGIA....................................................................................69 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................70 RESUMO DO TÓPICO 3 ......................................................................................................... 77 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................78 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................80 UNIDADE 2 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ....... 89 TÓPICO 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ...................... 91 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 91 2 PRINCIPAIS CONDIÇÕES DE SAÚDE NA APS ................................................................. 93 2.1 CONDIÇÕES DE SAÚDE ......................................................................................................................95 2.2 CONDIÇÕES DE SAÚDE AGUDAS ..................................................................................................96 2.2.1 Cuidado das condições agudas ............................................................................................. 97 2.2.2 Modelo de classificação de risco .......................................................................................... 97 2.3 CONDIÇÕES DE SAÚDE CRÔNICAS................................................................................................99 2.3.1 Cuidado das condições crônicas ........................................................................................100 2.3.2 Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MAAC) ......................................................101 3 PREVENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE .........................................................................103 3.1 PROMOÇÃO DA SAÚDE ....................................................................................................................104 3.2 PREVENÇÃO DE DOENÇAS ............................................................................................................105 4 HUMANIZAÇÃO, ACESSO E ACOLHIMENTO NA APS ...................................................107 4.1 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO ....................................................................................108 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................111 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 112 TÓPICO 2 - ASPECTOS CONCEITUAIS DA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE ............... 115 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 115 2 ASPECTOS CONCEITUAIS NA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE ............................... 115 3 INFECÇÕES, SEXUALMENTE, TRANSMISSÍVEIS .......................................................... 118 3.1 HIV (IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA) .............................................................................................120 3.2 SÍFILIS ..................................................................................................................................................121 3.3 HPV (PAPILOMAVÍRUS HUMANO) .................................................................................................121 3.4 VÍRUS HERPES SIMPLES ................................................................................................................ 122 3.5 TRICOMONÍASE ................................................................................................................................. 123 4 ASPECTOS GERAIS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA ....................................................124 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................128 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................129 TÓPICO 3 - VIGILÂNCIA EM SAÚDE .................................................................................. 131 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 131 2 DETERMINANTES, RISCOS E DANOS À SAÚDE DA POPULAÇÃO ADSCRITA .............. 131 3 NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA NO SUS .........................................................................135 4 CONDIÇÕES SENSÍVEIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ........................................... 137 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 140 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................148 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................149 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 151 UNIDADE 3 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE 159 TÓPICO 1 — PAPEL DO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS) ............ 161 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 161 2 ATRIBUIÇÕES DO ENFERMEIRO NA APS .......................................................................162 2.1 ATRIBUIÇÕES DOS ENFERMEIROS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA FRENTE A ALGUMAS POLÍTICAS NACIONAIS DE SAÚDE. ..............................................................................................164 2.1.1 Outros programas da APS ...................................................................................................... 172 2.2 PRINCIPAIS PROCEDIMENTOS NA APS ....................................................................................... 175 2.2.1 Procedimentos pertinentes aos enfermeiros da APS .....................................................177 2.3 CUIDADO DE ENFERMAGEM EM VISITA DOMICILIAR (VD) .....................................................185 2.3.1 Modalidades da Atenção Domiciliar (AD) ...........................................................................186 2.3.2 Competências do enfermeiro em uma VD ....................................................................... 187 3 PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO - PNI ............................................................188 3.1 PNI E PAPEL DA ENFERMAGEM .....................................................................................................190 3.1.1 Enfermeiro frente a desafios do programa de imunização ............................................191 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................192 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................193 TÓPICO 2 - ATRIBUIÇÕES DO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE ..... 197 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 197 2 PRINCIPAIS PROCEDIMENTOS NA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE .......................198 2.1 APOIOS DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICO NA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE ..............200 2.1.1 Atuação do enfermeiro para apoios diagnóstico e terapêutico ...................................201 2.1.2 Desafios estressores dos profissionais de enfermagem nos níveis da atenção secundária................................................................................................................................ 202 3 PROCEDIMENTOS DE ENFERMAGEM NOS CONTEXTOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA ................................................................................................................. 202 RESUMO DO TÓPICO 2 ...................................................................................................... 204 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 205 TÓPICO 3 - TRABALHOS MULTIPROFISSIONAL E INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE ..... 207 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 207 2 EQUIPEMULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE ................................................................... 208 2.1 INTERDISCIPLINARIDADE EM SAÚDE ........................................................................................208 3 PAPEL DO ENFERMEIRO EM EQUIPE MULTIPROFISSIONAL E INTERDISCIPLINAR ... 211 3.1 Serviço de Atenção Domiciliar - SAD ...........................................................................................211 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................213 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 220 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................221 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 224 1 UNIDADE 1 - ENFERMAGEM E SAÚDE COLETIVA: ASPECTOS GERAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os princípios e as diretrizes da Atenção Básica; • descrever a infraestrutura e o funcionamento das equipes de Atenção Básica; • apresentar a Estratégia de Saúde da Família; • compreender a Rede de Atenção à Saúde (RAS) e o funcionamento do sistema de referência e contrarreferência que estabelecem o princípio de integralidade; • diferenciar as definições, as necessidades, as relações e os componentes da média e da alta complexidade. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA ATENÇÃO BÁSICA: CARACTERÍSTICAS E ATRIBUIÇÕES TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA NA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – ASSISTÊNCIA NA MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE EM SAÚDE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA ATENÇÃO BÁSICA: CARACTERÍSTICAS E ATRIBUIÇÕES 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 1, inicialmente, abordaremos a organi- zação e o funcionamento da Atenção Básica, ou seja, suas características e atribuições. Você sabe o que é Atenção Básica? Esse termo é utilizado pela PNAB 2017 para definir o conjunto de ações individuais, coletivas e familiares que são ofertadas à população com intuito de garantir a prevenção, a promoção, a proteção, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos, os cuidados paliativos e a vigilância em saúde. Cabe destacar que esse cuidado é ofertado de maneira multidisciplinar e tem o objetivo de ser porta de entrada da população no Sistema Único de Saúde (SUS) e coor- denar as ações de saúde a fim de garantir a integralidade do serviço, tendo um território definido como responsabilidade sanitária. Nessa lógica, traremos algumas informações relevantes sobre a Atenção Básica para que compreenda seus princípios e diretrizes, ou seja a base da existência e os rumos que esse serviço deve seguir. Também serão relatados a infraestrutura e o funcionamento das equipes que atuam nesse contexto. Por fim, iremos ressaltar a importância da Estratégia Saúde da Família (ESF), um dos modelos assistenciais da Atenção Básica e estratégia prioritária para sua consolidação e expansão no país. A ESF visa reorganizar a Atenção Básica utilizando como ponto central do cuidado a construção de vínculo e a corresponsabilização entre a população e os profissionais de saúde. TÓPICO 1 -UNIDADE 1 2 PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA ATENÇÃO BÁSICA Para entendermos a importância dos princípios e das diretrizes da Atenção Básica, vamos fazer uma breve reflexão acerca da história do sistema de saúde do Brasil e sua evolução, uma história de luta dos profissionais de saúde e da população por maiores conquistas sociais e direitos à saúde. 4 2.1 HISTÓRIA DO SISTEMA DE SAÚDE DO BRASIL No século XXVIII, a população brasileira possuía uma baixa expectativa de vida e muitas pessoas adoeciam em virtude de doenças parasitárias e infecciosas. Nesse período não existia um sistema de saúde universal, que garantisse o direito à saúde para toda a população. Além disso, o país foi assolado por diversas epidemias, tais como epidemias de varíola, de febre amarela, de cólera, de febre tifóide, de sarampo, de tuberculose e outras. Nesse período, a grande maioria da população não possuía acesso a médicos privados e eram atendidos por benzedeiras e as irmãs de caridade das Santas Casas de Misericórdia (BERTOLLI FILHO, 2011; CORDOBA, 2013; ROUQUAYROL, 2018) É interessante destacar, que com o início do regime republicano, houve o cres- cimento do movimento sanitarista que auxiliou a prevenção e o combate de doenças. As pesquisas relacionadas à vacinação tiveram grande avanço nesse período e a apli- cação da vacina contra a varíola, embora não tenha sido recebida de bom grado pela população, foi uma ação importante para auxiliar sua futura erradicação. Outra ação que tinha o objetivo de auxiliar a saúde pública foi a Reforma Pereira Passos, ocorrida no Rio de Janeiro, desencadeando a proibição e destruição dos cortiços, que deram espaço para a Avenida Rio Branco e acreditando que o ambiente “arejado” reduziria a proliferação das doenças por meio de um movimento higienista (BERTOLLI FILHO, 2011; CORDOBA, 2013; ROUQUAYROL, 2018). Nessa perspectiva, a população, insatisfeita com as medidas que estavam sendo tomadas, e infelizes com os seus direitos à saúde e trabalhistas, realizaram algumas greves pelo país em 1917 e 1919. Cabe destacar que os grevistas não possuíam direito a férias, jornada de trabalho definida ou aposentadoria. No ano de 1923 foi aprovada a Lei Elói Chaves, que representou um marco inicial da Previdência Social no Brasil, instituindo as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP) (PAIM, 2008). Entre os anos de 1937 e 1945, a Previdência Social foi estendida às diversas categorias do operariado urbano, substituindo as CAP pelos IAP (Institutos de Aposen- tadoria e Pensões) organizados por categorias profissionais, para que os trabalhadores tivessem acesso à saúde e à aposentadoria. Alguns exemplos foram o Instituto de Apo- sentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), dos Comerciários (IAPC) e o dos Bancários (IAPB). Apesar dessa medida, pessoas que não trabalhassem não teriam direito a esses benefícios. Em 1930 foi criado por Getúlio Vargas o Ministério do Trabalho e em 1934, com a Constituição, foi concedida garantias aos operários como a assistência médica, a licença remunerada à gestante trabalhadora, a jornada de trabalho de 8 horas e salário mínimo. Nesse mesmo ano foi estabelecida a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e em 1953, foi criado o Ministério da Saúde (ROUQUAYROL, 2018; BRASIL, 2022e). É interessante refletir, que nesse período as ações de saúde eram realizadas de maneira individualizada, médico centrada e com grandes investimentos nos hospitais e medicações. No geral, era comum identificar profissionais que atuavam por meio de 5 especialidades. O Ministério da Saúde, criado para potencializar as ações de saúde pública, enfrentou diversas correntes. Alguns médicos especialistas defendem que existissem programas verticais para doenças, ou seja, a criação de sanatórios para tuberculosos, hospícios para loucos, dentre outros. Outros defendiam que existissem centros de saúde a fim de estabelecerem melhores vínculos entre os profissionais de saúde e a população, ou mais, a criação de um sistema de saúde pública para toda a população brasileira. Nos anos de 1960 tentou-se unir as práticas de cura e de prevenção, racionalizando os gastos com atenção curativa e hospitalar, oferecendo a medicina comunitáriacomo opção de baixo custo (VIEIRA; PAIM; SCHRAIBER, 2014). Após o fim do governo de Getúlio Vargas, durante o regime militar, houve a unificação dos IAP, criando o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), gerindo todas as aposentadorias, pensões e assistências médicas do Brasil e englobando os trabalhadores com carteira assinada, que recebiam assistência médica de hospitais e ambulatórios. Dessa maneira, todos os trabalhadores passaram a ter direitos iguais. Por meio do INPS, a iniciativa privada criou hospitais particulares a fim de ampliar em larga escala os leitos para atendimento aos trabalhadores inscritos na previdência social (ROUQUAYROL, 2018; BRASIL, 2022e). Em 1977 o INPS foi dividido, por meio da criação do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) e do Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS). O INAMPS passou a ser responsável pela assistência médica, enquanto o IAPAS ficou responsável pela gestão financeira e o INPS permaneceu, apenas, com a responsabilidade de concessão de benefícios. Cabe destacar, que com o INAMPS ainda não se havia responsabilização total por todos os gastos de saúde do trabalhador, pois a saúde não era considerada um direito e sim um problema individual. Nessa lógica, todos os gastos com a saúde eram divididos entre o INAMPS e o trabalhador (ROUQUAYROL, 2018). No final dos anos 1980 houve um declínio do INAMPS devido a pressões populares para que houvesse uma reforma sanitária no país. O país encontrava-se em uma crise econômica, pois as arrecadações não cobriam os gastos públicos com a saúde, além disso, diversos escândalos foram denunciados com relação aos prestadores de serviço. A VIII Conferência Nacional de Saúde, de 1986, foi outro motivador para essa mudança, pois estabeleceu importantes discussões acerca do projeto democrático de reforma sanitária, considerando a universalização do acesso, a equidade, a integralidade da atenção, a descentralização, a regionalização, a hierarquização e a participação da comunidade, que foram considerados, posteriormente, como princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) (BERTOLLI FILHO, 2011). Em 1987, foram criados os sistemas unificados e descentralizados de saúde (SUDS), precursor do SUS, estabelecido por meio da nova Constituição Federal, pro- mulgada a 3 de outubro de 1988 e regulamentado pela Lei nº 8.080 e 8.142 de 1990, chamadas de Leis Orgânicas da Saúde (PIMENTA, 1993). 6 A Constituição Federal de 1988 define em seu Artigo 196 que “saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988). Além dis- so, para a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde refere-se a um completo bem- -estar físico, mental e social. Ou seja, o conceito de saúde não está associado somente à ausência de uma doença como era compreendido anteriormente (OMS, 1946). Por essa razão, a fim de atingir esse completo estado de bem-estar, existem fatores determinantes e condicionantes, descritos na Lei nº 8.080/1990 e na Lei nº 12.864/2013 como, por exemplo, alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. Portanto, a partir desse momento a saúde passou a ser responsabilidade do estado, tendo como um dos pontos principais o princípio da universalidade Starfield (2002, p. 19), diz que todo os sistemas de saúde têm 2 objetivos: 1. Melhorar a saúde da população por meio de recursos mais avançados, seja ele de conhecimento ou materiais. 2. Trazer equidade no acesso a grupos da população e no alcance da saúde. No Brasil, com a regulamentação do SUS, e a definição dos seus princípios – universalidade, equidade, integralidade – e diretrizes – regionalização, hierarquização, descentralização e participação popular –, o acesso à saúde passou a ser direito de todos e dever do estado, independente do indivíduo ter carteira de trabalho assinada ou não. Ademais, passou a trazer direitos igualitários para toda a população por meio do conceito de justiça social e em toda a rede de saúde. Nessa lógica, o SUS garante direitos iguais, embora priorize o indivíduo que tem maior necessidade de saúde. Para organizar esse sistema, sua organização passa a ser descentralizada trazendo maior autonomia aos municípios e regionalizadas/hierarquizadas, garantindo sua organização por níveis de atenção – atenção primária, atenção secundária e atenção terciária – com a participação popular nos conselhos de saúde (BRASIL, 1990). Como os recursos dos países são limitados, para garantir a equidade da saúde é interessante que haja um incentivo ao modelo de Atenção Primária à Saúde (APS), pois trata-se de um modelo mais barato e baseado em ações preventivas e de promoção à saúde. Nessa lógica, o investimento no setor primário é indispensável para a garantia da universalidade, da equidade e da integralidade. Sendo assim, a APS tem sido um modelo adotado por diversos países para estabelecer um maior acesso ao sistema de saúde e combater o modelo tradicional de saúde baseado em ações curativas, individuais e hospitalares (STARFIELD, 2002). 7 Nesse livro didático, adotaremos os termos Atenção Básica e Atenção Primária à Saúde como sinônimos. NOTA 2.2 A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA Até a década de 1990, os serviços de APS eram realizados pelos centros de saúde ou postos de saúde tradicionais. Em 1994, o Ministério da saúde implementou o Programa Saúde da Família (PSF), inspirado no Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), a fim de reorganizar a atenção básica (CORDOBA, 2013). Em 2006 foi aprovada a Portaria nº 648/GM de 28 de março de 2006, que aprovou a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para o PSF e o PACS (BRASIL, 2017a). 2.2.1 Princípios e Diretrizes A Atenção Básica é um conjunto de ações de saúde, que considera tanto o âm- bito individual como o coletivo que são ofertadas à população, com intuito de garantir a prevenção, a promoção, a proteção, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redu- ção de danos, os cuidados paliativos e a vigilância em saúde. Essas ações são ofereci- das à população por meio de uma porta de entrada, ou seja, se você precisa iniciar um acompanhamento de saúde, o primeiro local que irá procurar pelo SUS é uma Unidade de Atenção Básica (BRASIL, 2006b, p. 10). Essas unidades serão responsáveis pelo seu acolhimento e pela sua coordenação do cuidado. (STARFIELD, 2002). Nessa lógica, caso seja necessário o acompanhamento especializado ou o atendimento hospitalar, essa unidade irá encaminhar o usuário para atendimento (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2016). Agora que você entende um pouco melhor o que é Atenção Básica e a impor- tância desse modelo de atenção, vamos detalhar a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), criada em 2006 e baseada nos seguintes princípios: a universalidade, a equidade e a integralidade. Além desses princípios, a Atenção Básica possui as seguintes diretrizes: a regionalização/ hierarquização, a territorialização e a adscrição; a população adscrita; o cuidado centrado na pessoa; a resolutividade; a longitudinalidade do cuidado; a coor- denação do cuidado; a ordenação da rede; e participação da população (BRASIL, 2017a). Os princípios da Atenção Básica seguem os mesmos preceitos do SUS, dessa maneira possuem as mesmas definições norteadoras. A universalidade refere-se ao direito de todos a saúde; a integralidade, que refere-se ao atendimento de todas as necessidades da população, por meio da promoção da saúde, a prevenção de doenças, 8 o tratamento e a reabilitação; e a equidade, que traz a compreensão de igualdade, por meio de uma justiça social,ou seja, da diminuição da desigualdade – tratar desigualmente os desiguais – a fim de investir mais nos indivíduos que mais necessitam (BRASIL, 1990). Já as diretrizes da Atenção Básica levam em consideração a sua organização com: • Regionalização/ hierarquização: Existência de uma Rede de Atenção à Saúde (RAS) composta por um território específico onde são encontrados os e equipamentos de saúde de diversos níveis de atenção organizados de acordo com a sua complexidade em uma região, projetadas de acordo com a necessidade epidemiológica da população (BRASIL, 2017b). • Territorialização e adscrição: Refere-se à relação da população com determinado território, sendo assim, a divisão do território em uma unidade de atenção básica é realizada de acordo com as características sociais, epidemiológicas e geográficas a fim de desenvolverem ações de planejamento em saúde destinadas à vigilância em saúde, promoção, prevenção e recuperação (BRASIL, 2017b). • População adscrita: Cada unidade de Atenção Básica possui um território específico, ou seja, realiza o acompanhamento de uma determinada região e população de acordo com o seu georreferenciamento. Em unidades que possuem mais de uma equipe, essa lógica também existirá, tendo o território total da unidade dividido por equipes de atendimento. (BRASIL, 2017b). • Cuidado centrado na pessoa: O atendimento do indivíduo pela Atenção Básica deverá ser realizado considerando as particularidades do indivíduo e não somente o seu agravo. Nesse contexto, deve-se considerar a história de vida da pessoa, seus hábitos, sua cultura, sua religião, seus aspectos emocionais, mentais, sociais e financeiros (BRASIL, 2017b). • Resolutividade: O atendimento a pessoa deve ser resolutivo, buscando resolver a queixa do indivíduo o mais rápido possível e com o menor custo. O profissional que atua na atenção básica deve saber reconhecer os riscos, as necessidades e as de- mandas da população utilizando diversas tecnologias em saúde, por meio da clínica ampliada. Sabe-se que as equipes de Saúde da Família, por exemplo, estão capa- citadas para resolver 85% dos problemas de saúde da população (BRASIL, 2008b). • Longitudinalidade do cuidado: Refere-se ao vínculo estabelecido entre a população e a unidade de saúde. Essa característica difere a Atenção Básica de outros níveis de atenção à saúde (BRASIL, 2017b). • Coordenação do cuidado: Gerir o fluxo do paciente na Rede de Atenção à Saúde. Caso o paciente necessite ir para outro ponto de atenção ele será encaminhado pela Atenção Básica. Para isso, existem sistemas de informações que estabelecem essa diretriz, como o SISREG, que é responsável por uma fila invisível de pacientes que são encaminhados para realização de exames ou consultas especializadas. (BRASIL, 2017b). • Ordenação da rede: Conhecer as necessidades de saúde da população adscrita, ou seja, sobre sua responsabilidade (BRASIL, 2017b). 9 • Participação da população: Refere-se à participação da comunidade no planejamento de saúde individual e coletiva, inclusive nos conselhos e conferências de saúde para controle social. (BRASIL, 2017b). Essas são características do SUS e da RAS, adotadas pela Atenção Básica para sua organização. A seguir veremos sua estrutura e funcionamento das equipes. 3 INFRAESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E EQUIPES DE ATENÇÃO BÁSICA A Atenção Básica é composta por alguns modelos de unidades e seus funcionamentos diferem entre si em alguns pontos, embora o objetivo seja sempre o mesmo e possuam características que devam ser adotadas por todos os modelos, sejam eles de infraestrutura ou funcionamento. 3.1 INFRAESTRUTURA E AMBIÊNCIA A infraestrutura de uma unidade básica de saúde deve levar em consideração a necessidade da população, a quantidade de pessoas que residem no território adscrito, o número de profissionais que atuam no local e os seus fluxos dentro da unidade (BRASIL, 2008b). Também é importante que esses espaços possuam ambiência necessária, conforme estabelecido na Política Nacional de Humanização, a fim de garantir um conforto no acolhimento do usuário (BRASIL, 2010b). A iluminação, a temperatura do local e os ruídos são exemplos de componentes que devem ser adequados para um melhor conforto. Outro ponto importante é a identificação dos serviços existentes na unidade, bem como a escala dos profissionais de saúde, os horários de funcionamento da unidade (BRASIL, 2008b). A Unidade de Atenção Básica deverá garantir além de uma estrutura adequada, equipamentos adequados e em funcionamento, recursos humanos capacitados e em quantidade satisfatória, e materiais e insumos suficientes (BRASIL, 2008b). Segundo a Política Nacional de Humanização (PNH), a ambiência é a criação de espaços acolhedores e confortáveis para a população que gerem mudanças no ambiente de trabalho por meio dos encontros. Para utilizá-la é necessário construir espaços que estejam de acordo com a necessidade dos usuários e dos profissionais que lá atuam. NOTA 10 Conforme o Manual de Estrutura Física das Unidades Básicas de Saúde, é interessante que o ambiente de recepção das Unidades Básicas de Saúde não possua grades, a fim de estabelecer uma boa comunicação entre os pacientes e os profissionais de saúde. Essa recomendação serve para que não haja intimidação do usuário e que estimule a construção de vínculo. Sugere-se que os locais sejam sinalizados, para facilitar o fluxo de pacientes na unidade e possuam acessibilidade e adaptações para pessoas com necessidades especiais, como piso antiderrapante, banheiros adaptados com barras, presença de rampas e corrimões, balcão e bebedouro mais baixo para pessoas cadeirantes e outros. É importante pontuar que as adaptações serão realizadas de acordo com a realidade de cada unidade de saúde (BRASIL, 2008b). Com relação ao piso, às paredes e aos materiais de acabamento, recomenda-se que esses sejam de materiais laváveis e não utilizem materiais porosos ou com textura, exceto em setores exclusivamente administrativos (BRASIL, 2008b). Além das questões citadas, existem dois pontos inegociáveis na estrutura das Unidades Básicas de Saúde: 1. Que elas sejam construídas de acordo com as regras sanitárias vigentes. 2. Que estejam cadastradas no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (SCNES) (BRASIL, 2017b). O CNES coleta diversas informações sobre os estabelecimentos de saúde, bem como: o endereço/localização, o gestor responsável, o tipo de serviço prestado, a caracterização do serviço, os equipamentos existentes no local, a existência de serviços especializados, a instalação física do local, os profissionais que atuam no local e as equipes existentes (CNES, 2021). Para acessar informações sobre os cadastros de estabelecimentos de saúde, acesse: https://cnes.datasus.gov.br. DICA 3.2 FUNCIONAMENTO DAS EQUIPES DE ATENÇÃO BÁSICA O funcionamento das equipes de Atenção Básica deve respeitar a carga horária de 40 horas semanais, por no mínimo cinco dias na semana. É possível que algumas unidades atuem de maneira ampliada, ou seja, cumprindo a carga horária de 60 horas semanais, com uma equipe mínima. Esse tipo de pactuação é definido por meio da secretaria municipal de saúde e o Ministério da Saúde, de acordo com a característica da população que acessa o serviço (BRASIL, 2017b). https://cnes.datasus.gov.br/ 11 O Programa Saúde na Hora, por exemplo, lançado por meio da Portaria nº 397/ GM/MS, de 16 de março de 2020, viabiliza o custeio de municípios para a implantação de horário estendido. Atualmente o Programa Saúde na Hora possui os seguintes formatos: Unidade de Saúde da Família (USF) com 60 horas semanais, Unidade de Saúde da Família (USF) com 60 horas semanais e com Saúde Bucal, Unidade de Saúde da Família (USF) com 75 horas semanais e com Saúde Bucal e Unidade de Saúde da Família (USF) ou Unidade Básica de Saúde (UBS) com 60 horas semanais (BRASIL, 2020a). Para que haja coordenação do cuidado, conforme as diretrizesda Atenção Básica, recomenda-se: • Que as equipes de Atenção Básica (eAB) ou as equipes de Saúde da Família (eSF) possuam entre 2000 a 3500 pessoas cadastradas no seu território, a fim de garantir todos os princípios e diretrizes sem ônus à população. Embora possa haver um arranjo diferenciado de acordo com a característica do território, tanto para menos quanto para mais pessoas cadastradas, considerando a vulnerabilidade do território e outros fatores. • Que as unidades de atenção básica possuam quatro equipes para que atinjam seu potencial de resolutividade. • Que o cálculo de equipes por município deve considerar o total da população, dividido por 2000 pessoas. • Em municípios com menos de 2000 habitantes, uma equipe deverá ser responsável por toda a população (BRASIL, 2017b). O escopo de serviços de saúde oferecidos pelas UBS deverá estar visível para que a população adscrita possa saber todos os recursos que aquela unidade possui. (BRASIL, 2008b). Ainda com relação ao escopo, a PNAB definiu que existem dois tipos de recursos que podem ser oferecidos para a população, os procedimentos de padrão essenciais, ou seja, os básicos, que possuem grande impacto na saúde da população (por exemplo, as relacionadas ao acompanhamento do pré-natal, à saúde da criança e às ações de enfrentamento da tuberculose); e os de padrões ampliados, considerados como estratégicos, e na maioria das vezes necessitam de treinamento qualificado da equipe (por exemplo, a inserção de DIU e as práticas integrativas e complementares). Todas as UBS devem garantir oferta dos serviços essenciais de saúde e espera-se que também sejam incluídos os serviços ampliados, embora não haja obrigatoriedade da sua oferta (BRASIL, 2017b). É válido analisar que à medida que a unidade oferece mais recursos à população e possua equipamentos necessários, bem como profissionais qualificados e disponibilidade de materiais, o serviço torna-se mais resolutivo. Por isso, é de interesse da gestão municipal o investimento na Atenção Básica, para que haja maior eficiência no atendimento da população, evitando superlotação dos serviços secundários ou terciários, ou a maior eficiência de transferência de pacientes para a RAS quando necessário (STARFIELD, 2002; OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021). 12 Todo o escopo de serviços oferecidos na unidade deve estar fixado em local visível para a população, além disso, outras informações que deverão ser visíveis aos usuários são, o mapa de abrangência do território, a identificação do horário de atendimento da unidade, a identificação dos funcionários de cada equipe e do gerente da unidade, bem como suas escalas de atendimento. Essas informações geralmente são fixadas no acolhimento da unidade, local onde ocorre o primeiro contato do paciente com os usuários com escuta qualificada e acolhimento do paciente, mesmo que não resida na área de abrangência – quando isso ocorrer o paciente será atendido e posteriormente direcionado para sua unidade de referência – visto que existem serviços que são ofertados a toda a população, independente do território, alguns exemplos são a vacinação e o acolhimento à demandas urgentes com avaliação da classificação de risco. Após escutá-lo de forma ativa o profissional irá direcioná-lo ao serviço necessário e articular ações com outros serviços, se necessário. 3.3 TIPOS DE EQUIPES Como já explicamos, as Unidades de Atenção Básica possuem diversas particularidades. Essas diferenças existem devido à heterogeneidade do território brasileiro, então, embora haja um incentivo para que as unidades possuam eSF, estratégia prioritária de reorganização da AB, nem sempre é possível garantir essa característica. Existem municípios rurais, áreas que possuem dificuldade de acesso, tanto para pacientes quanto para profissionais de saúde, por isso, admite-se equipes com menos profissionais em outras modalidades. Os tipos de equipes reconhecidas pela PNAB são: equipes de Saúde da Família (eSF), equipes da Atenção Básica (eAB), equipe de Saúde Bucal (eSB), Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) e Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde (EACS) (BRASIL, 2017b). As eSF, por exemplo, citadas como prioritárias, e consideradas como estratégias de expansão, de qualificação e de consolidação da Atenção Básica, deverão ser compostas, por no mínimo, os seguintes profissionais e especificações: Quadro 1 – Composição da eSF Profissional Carga Horária Observação 1 médico 40 horas semanais, vinculados a apenas uma equipe Preferencialmente especialista em medicina de família e comunidade 1 enfermeiro 40 horas semanais, vinculados a apenas uma equipe Preferencialmente especialista em saúde da família 1 auxiliar e/ou técnico de enfermagem; 40 horas semanais, vinculados a apenas uma equipe - 13 Fonte: adaptado de Brasil (2017b) Agente Comunitário de Saúde (ACS) 40 horas semanais, vinculados a apenas uma equipe O número será estabelecido de acordo com o número da população do território, além de critérios epidemiológicos e socioeconômicos. Sugere- se que em situações de vulnerabilidade do território cada ACS seja responsável por no máximo 750 pessoas. Convém salientar que outras categorias podem fazer parte da equipe, tais como, o Agente de Combate às Endemias (ACE), o cirurgião-dentista (preferencialmente espe- cialista em saúde da família) e o auxiliar ou o técnico em saúde bucal (BRASIL, 2017b). As eAB também seguem a estrutura de equipe das eSF, embora admitam que possa haver até 3 profissionais de cada categoria, desde que a carga mínima de cada um deles seja 10 horas e somados atinjam 40 horas semanais. Sendo assim, a eAB é formada por: • Médicos (preferencialmente especialista em medicina de família e comunidade). • Enfermeiro (preferencialmente especialista em saúde da família). • Auxiliares de enfermagem e/ou técnicos de enfermagem (BRASIL, 2017b). As equipes de Saúde Bucal (eSB), como o próprio nome diz, englobam as ca- tegorias de saúde bucal, ou seja, são compostas por uma equipe que atua na Atenção Básica (eSF ou eAB) junto a um cirurgião dentista e um técnico ou auxiliar de saúde bucal, estando responsável pela população do território adscrito a essa equipe. (BRASIL, 2017b). Dessa maneira, a eSB tem a obrigatoriedade de estar vinculada ao SCNES de uma Unida- de Básica de Saúde (UBS), ou a uma Unidade Odontológica Móvel (BRASIL, 2020b). As eSB podem ser divididas em duas modalidades: • Modalidade I: composta por cirurgião dentista e auxiliar em saúde bucal (ASB) ou técnico em saúde bucal (TSB). • Modalidade II: composta por cirurgião dentista, 1 técnico em saúde bucal (TSB) e 1 auxiliar em saúde bucal (ASB) ou 2 técnicos em saúde bucal (TSB) (BRASIL, 2017b). A modalidade de equipe Nasf-AB, que assim como a eSB, deverá ser integrada a uma eSF ou eAB. O Nasf-AB é uma modalidade composta por diversas categorias profissionais que irão atuar de forma interdisciplinar para a integralidade da assistência do usuário. Os profissionais que podem compor a equipe Nasf-AB são: assistente social; educador físico; farmacêutico; fisioterapeuta; fonoaudiólogo; terapeuta ocupacional; 14 psicólogo; nutricionista; médico especialista (acupunturista, ginecologista/obstetra, homeopata, pediatra, geriatra, do trabalho, clínica médica), veterinário, sanitarista ou arte educador. Essa escolha será realizada pelo gestor de acordo com a particularidade do território (BRASIL, 2017b). A existência dessa modalidade de equipe permite que a unidade de saúde possa ampliar o acesso aos usuários a especialistas, bem como realizar um Projeto Terapêutico Singular (PTS) em conjunto com diversas categorias profissionais sem a necessidade de encaminhar o usuário para outro ponto de atenção. Dessa forma, o vínculo entre o usuário e a unidade permanece firme e garante maior adesão ao acompanhamento, além de maior proximidade do quadro individual ou familiar (BRASIL, 2017b). O ProjetoTerapêutico Singular (PTS) refere-se a um conjunto de propostas e condutas elaborado de maneira coletiva e articulada por profissionais interdisciplinares, por usuários e seus familiares, para estabelecer melhorias a um determinado problema encontrado em uma família. O PTS tem grande vantagem quando tem como ferramenta a equipe Nasf- AB, que realiza o apoio matricial das eSF ou eAB. INTERESSANTE A atuação da equipe Nasf-AB se dá por solicitação da eSF/e-AB, ou seja, quando o médico ou o enfermeiro identifica uma demanda no território que seja necessário avaliação pelo profissional, deverá solicitar um matriciamento, uma interconsulta ou uma consulta individualizada realizada por esse profissional ao usuário (BRASIL, 2017b). Compete ao profissional que atua na equipe Nasf-AB a participação de reuniões e planejamentos com a equipe a qual estão vinculados; realizar discussão de casos, realizar atendimento individualizado, realizar interconsultas, construir em conjunto com as equipes o PTS, realizar ações de educação permanente, realizar ações de prevenção e promoção à saúde, realizar atividades coletivas, realizar ações territoriais e intersetoriais, dentre outros. Dessa maneira, todas as ações realizadas deverão ter como objetivo contribuir para a integralidade do cuidado (BRASIL, 2017b). Por fim, a última modalidade descrita na PNAB como tipo de equipe de Atenção Básica é a Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde (EACS), conhecida anteriormente por Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), que deverá ser reorganizada gradualmente como eSF. Essa modalidade permite que a equipe seja composta por Agentes Comunitários de Saúde (ACS), supervisionados por um enfermeiro. O número de ACS será definido de acordo com o número de habitantes, questões epidemiológicas e sociais do território, considerando no máximo 750 pessoas cadastradas para cada ACS. Todos os profissionais deverão estar cadastrados no CNES de uma UBS, que será a referência dessa equipe, e cumprir a carga horária de 40 horas semanais. 15 As atividades desenvolvidas pela EACS são referentes às atribuições dos ACS, dessa maneira, deverão realizar o cadastramento e o monitoramento da população, bem como o registro dos dados nos sistemas de informações vigentes, sempre considerando a prioridade do território e suas vulnerabilidades. (BRASIL, 2017b). 3.3.1 Equipes de Atenção Básica para Populações Específicas Acabamos de ver todos os modelos de equipes de Atenção Básica, entretanto, existem alguns modelos de equipes adicionais que atuam em territórios específicos e possuem suas particularidades. Espera-se que esses modelos sejam transitórios, até que toda a população do território brasileiro seja acompanhada por eSF. Essas equipes são: as equipes de Saúde da Família Ribeirinha (eSFR), as equipes de Saúde da Família Fluviais (eSFF), as equipes de Consultório na Rua (eCR) e as equipes de Atenção Básica Prisional (eABP) (BRASIL, 2017b). As equipes de saúde da família que atuam em território ribeirinho podem adotar dois modelos de organização: as equipes de Saúde da Família Ribeirinha (eSFR) ou as equipes de Saúde da Família Fluviais (eSFF) (BRASIL, 2017b). As eSFR desenvolvem a maior parte de suas atividades em Unidades Básicas de Saúde, localizadas em áreas em que estão acrescentadas e que possuem acesso por rio, por isso, é necessário que haja embarcações para realizar o deslocamento das comunidades no território, recebendo incentivo de até quatro embarcações e quatro unidades satélites para apoio das equipes (BRASIL, 2017b). Já as eSFF desempenham o seu papel em Unidades Básicas de Saúde Fluviais. Ademais, a composição mínima dessas equipes é de: • 01 médico (preferencialmente especialista em medicina de família e comunidade). • 01 enfermeiro (preferencialmente especialista em saúde da família). • 01 auxiliar ou técnico de enfermagem (podendo possuir no máximo 11 profissionais dessa categoria). Além das categorias destacadas, outros profissionais podem compor a equipe, tais como os cirurgiões dentistas, os auxiliares ou técnicos de saúde bucal, microscopistas – em regiões endêmicas, podendo chegar até no máximo 12 profissionais dessa categoria – até 2 profissionais de nível superior (enfermeiro ou Nasf-AB) e os ACS. Inclusive, cabe pontuar que o número máximo de ACS nas equipes é de 24. Todos os profissionais deverão cumprir uma carga horária de 8 horas por dia, durante 16 dias do mês, dos quais 14 dias serão para atendimento à população e 2 dias para atividades de educação permanente, planejamento e serviços administrativos (BRASIL, 2017b). As equipe de Consultório na Rua (eCR) tem objetivo de oferecer acesso à saúde para a população em situação de rua e atuam de maneira itinerante, além de realizarem ações em conjunto com outras eSF ou eAB do território, visto que a população em 16 situação de rua deambula por diversos territórios, dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), da Rede de Urgência/Emergência e de outros recursos disponíveis na RAS do município, atuando com carga horária mínima de 30 horas semanais, embora o funcionamento deva ser adequando conforme a demanda (BRASIL, 2011c). Segundo a Portaria a nº 1029 de maio de 2014 e a Portaria de Consolidação das normas sobre as políticas nacionais de saúde do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2014d), a composição dessas equipes poderá seguir três modalidades: • Modalidade I: equipe formada por no mínimo quatro profissionais, dos quais dois deles devem ser compostos por: enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, cirur- gião dentista ou terapeutas ocupacionais. Os outros dois deverão ser enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, cirurgião dentista, terapeutas ocupacionais, agen- tes sociais, técnico ou auxiliar de enfermagem, técnico ou auxiliar de saúde bucal ou educador físico. • Modalidade II: equipe formada por no mínimo seis profissionais, dos quais três deles devem ser compostos por: enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, cirurgião dentista ou terapeutas ocupacionais. Os outros três deverão ser enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, cirurgião dentista, terapeutas ocupacionais, agentes sociais, técnico ou auxiliar de enfermagem, técnico ou auxiliar de saúde bucal ou educador físico. • Modalidade III: equipe formada pela Modalidade II adicionado de um médico. Por último, vamos citar as Equipes de Atenção Básica Prisional (eABP), que têm a finalidade de oferecer o serviço de atenção básica aos privados de liberdade em um sistema prisional. Essas equipes são compostas de maneira multiprofissional, de acordo com a sua modalidade. As eABP podem ser das seguintes modalidades: Equipe de Atenção Básica Prisional Tipo I (EABP-I), Equipe de Atenção Básica Prisional Tipo I com Saúde Mental (EABP-I com Saúde Mental), Equipe de Atenção Básica Prisional Tipo II (EABP-II), Equipe de Atenção Básica Prisional Tipo II com Saúde Mental (EABP-II com Saúde Mental) e Equipe de Atenção Básica Prisional Tipo III (EABP-III). Veja a seguir as particularidades entre elas, conforme a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (BRASIL, 2014e). Segundo a Portaria nº 482. de 1º de abril de 2014 (BRASIL, 2014e; 2017). essas equipes devem ser compostas da seguinte maneira: • Equipe de Atenção Básica Prisional Tipo I (EABP-I): composta por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem ou auxiliar de enfermagem, um cirurgião dentista e um técnico de saúde bucal ou auxiliar de saúde bucal. Devem cumprir carga horária de 6 horas semanais e realizar o acompanhamento de até 100 pessoas privadas de liberdade. • Equipe de Atenção Básica Prisional Tipo I com Saúde Mental (EABP-I com Saúde Mental): composta pelos profissionais da equipe mínima da EABP-I acrescido de uma equipe de saúde mental, composta por 3 profissionais, dentre eles, 17 1 psiquiatra ou médico com experiência em Saúde Mental e 2 outros profissionais (podendoser terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo, assistente social, farmacêutico ou enfermeiro). Devem cumprir carga horária de 6 horas semanais e realizar o acompanhamento de até 100 pessoas privadas de liberdade. • Equipe de Atenção Básica Prisional Tipo II (EABP-II): composta por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem ou auxiliar de enfermagem, um cirurgião dentista e um técnico de saúde bucal ou auxiliar de saúde bucal, um psicólogo, um assistente social e um profissional de nível superior (um psicólogo, um assistente social e um profissional de nível superior (podendo ser terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo, assistente social, farmacêutico, nutricionista ou enfermeiro). Essa modalidade de equipe deverá cumprir a carga horária de 20 horas semanais (com carga horária distribuída entre os profissionais pelo gestor e não podendo ser menor de 10 horas semanais) e atender de 101 a 150 pessoas privadas de liberdade. • Equipe de Atenção Básica Prisional Tipo II com Saúde Mental (EABP-II com Saúde Mental): composta pelos profissionais da equipe mínima da EABP-II acrescido de uma equipe de saúde mental, composta por 3 profissionais, dentre eles, 1 psiquiatra ou médico com experiência em Saúde Mental e 2 outros profissionais (podendo ser terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo, assistente social, farmacêutico ou enfermeiro). Essa modalidade de equipe deverá cumprir a carga horária de 20 horas semanais (com carga horária distribuída entre os profissionais pelo gestor e não podendo ser menor de 10 horas semanais) e atender de 101 a 150 pessoas privadas de liberdade. • Equipe de Atenção Básica Prisional Tipo III (EABP-III): composta pelos mesmos profissionais da EABP-II com Saúde Mental. Essa modalidade de equipe deverá cumprir a carga horária de 30 horas semanais (com carga horária distribuída entre os profissionais pelo gestor e não podendo ser menor de 10 horas semanais) e atender entre 501 a 1200 pessoas privadas de liberdade. 4 ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA Agora que já falamos um pouco sobre a história do sistema de saúde do Brasil, das diretrizes da Atenção Básica e da infraestrutura, funcionamento e equipes, vamos nos ater especificamente a Estratégia de Saúde da Família, modelo de reestruturação e consolidação da Atenção Básica à Saúde. A Estratégia Saúde da Família (ESF), conhecida anteriormente como Programa Saúde da Família (PSF), criado pelo Ministério da Saúde em 1994, possui diversas vanta- gens sobre o modelo tradicional dos postos de saúde, pois estabelece um número es- pecífico de pacientes para cada equipe, facilitando o acesso do usuário à equipe de saú- de e como consequência à resolução da sua queixa (CORDOBA, 2013; BRASIL, 2017b). 18 4.1 HISTÓRIA DA ESF NO BRASIL A ESF teve início em 1991, com a reformulação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) por apoio do Fundo das Nações Unidas da Infância (UNICEF) e verificação do êxito de alguns países, como Canadá e Cuba com o investimento na Atenção Primária à Saúde (APS). O PACS estava recebendo muita visibilidade devido ao sucesso na redução da mortalidade infantil nos locais implantados e dessa maneira, em 1994, o Ministério da Saúde teve maior interesse em investir nesse modelo de atenção (CAMPOS, 2009). Cabe destacar que em 1997, por meio da Portaria GM/MS nº 1886, foram instituídas as normas e diretrizes do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e do Programa Saúde da Família (PSF), que afirmou os dois programas como modelos de consolidação do SUS com a reorientação da assistência ambulatorial e domiciliar e estimulou sua expansão. Por essa razão, muitos autores consideram que a ESF possui caráter substitutivo, pois substituiu as práticas tradicionais curativistas e com foco na doença para um modelo que visa a promoção da saúde (BRASIL, 2017b). O PACS foi um programa criado nas regiões Norte e Nordeste, regulamentado em 1997, com o objetivo de combater a mortalidade materna e infantil das regiões mais necessitadas do país. Posteriormente, foi expandido para outras regiões carentes. DICA 4.2 CARACTERÍSTICAS DA ESF A ESF segue os princípios e diretrizes da Atenção Básica, citadas anteriormente. Nessa lógica, sua regulamentação possibilitou a criação de vínculo com a população. Essa vantagem é fácil de compreender no contexto da saúde da família, visto que agora, espera-se que cada médico e enfermeiro passe a ser responsável por no máximo 3500 pessoas (BRASIL, 2017). Sendo assim, o número de pacientes sob responsabilidade da equipe facilita o vínculo, a responsabilização e a resolutividade da assistência. Todas as pessoas que residem no território adscrito à unidade de saúde deverão ser cadastradas por uma equipe de saúde da família para realizar o seu acompanhamento. Os profissionais responsáveis por realizar o cadastramento e mantê-lo atualizado são os Agente Comunitário de Saúde (ACS). Essa categoria profissional foi uma inovação para o modelo tradicional de atendimento à atenção básica, pois ele não possuía profissionais dessa categoria. A vantagem é que os ACS devem, preferencialmente, pertencer ao 19 Embora o ACS tenha como pré-requisito residir na área de abrangência da unidade, de acordo com a Lei nº 11.595/2018 foi estabelecido duas exceções para essa condição. São elas: • Se o território de abrangência tiver risco para a integridade física do ACS e/ou de seus familiares devido a ameaças da comunidade a qual atua. • Caso o ACS adquira casa própria em outro território, poderá permanecer na equipe de sua atuação ou ser remanejado para a nova área de residência. IMPORTANTE território da unidade e realizar a maior parte das suas atividades na rua. Dessa forma, os ACS fazem as visitas domiciliares para todas as famílias cadastradas na sua área de atuação (microárea) (BRASIL, 2017b). As visitas domiciliares são recursos para cadastramento e monitoramento da população. Por exemplo, uma família que possui quatro pessoas, das quais, uma está gestante, duas são crianças e a outra possui diagnóstico e realiza acompanhamento para hipertensão, deverá realizar a visita dessa família focada nas características encontradas, bem como no perfil epidemiológico conhecido. O atendimento é focado tanto no indivíduo, quanto na família, em todos os ciclos de vida, buscando estabelecer ações de promoção à saúde no território (TEIXEIRA, 2019). A ESF é considerada como porta de entrada, pois é por meio dela que as pesso- as chegam ao serviço de saúde, ou seja, é o primeiro contato da população com o SUS (CAMPOS, 2009). O serviço de vacinação é um bom exemplo sobre isso, pois a pessoa acessa o serviço para receber uma vacina e a partir de então pode ser cadastrada e re- alizar outros atendimentos no local. Caso a equipe identifique uma criança que foi até a unidade para se vacinar e não está cadastrada é necessário compreender se são novos moradores, a fim de receberem a visita do seu agente comunitário para cadastramento e seguimento do acompanhamento. Alguns recursos que poderão ser abordados após esse contato é o agendamento da criança para acompanhamento pelo médico e pelo enfermeiro da equipe por meio da puericultura (conforme agendamento recomendado pelo Ministério da Saúde) e oferta do planejamento reprodutivo para a mãe. Cabe destacar a importância do cuidado centrado na família, compreendendo a individualidade de cada um no seu contexto familiar. Essa atenção é importante, juntamente ao estabelecimento do vínculo com a família, pois esses dois conceitos promovem maior humanização do cuidado. Quando um profissional realiza o atendimento de um paciente na ESF ele deve compreender os aspectos emocionais, psicológicos e sociais que interferem na realidade dele. Por isso, não basta conhecer apenas um indivíduo, é necessário saber o seu contexto familiar, seu contexto de trabalho, suas condições de vida e suas vulnerabilidades. 20 Para facilitar a abordagem familiar a ESFutiliza alguns instrumentos, como o genograma e o ecomapa. Segundo Nascimento, Rocha e Hayes (2005, p. 281-283), o genograma, por exemplo, descreve a estrutura familiar do indivíduo com pelo menos três gerações. Ele descreve os membros da família que residem no mesmo ambiente, seus nomes, o ano de nascimento e/ou óbito, as datas de casamento e/ou divórcio, as doenças ou problemas prevalentes e as relações familiares. Já o ecomapa é um instrumento complementar ao genograma e considera as relações que ocorrem com a família fora de sua residência, ou seja, vizinhos, amigos, trabalho, serviços da comunidade e grupos sociais. 4.3 COMPOSIÇÃO E ATRIBUIÇÕES DAS ESF Segundo a Portaria nº 2436, de 21 de setembro de 2017, cada ESF pode ser composta de uma ou mais eSF e o número de equipes irá variar de acordo com o número de pessoas que residem na região. Como vimos, também, cada eSF deve ser composta por, 1 Médico (preferencialmente especialista em medicina de família e co- munidade); 1 Enfermeiro (preferencialmente especialista em saúde da família); 1 Auxi- liar e/ou técnico de enfermagem; Agente Comunitário de Saúde (ACS) e cumprirem a carga horária de 40 horas semanais. Associado à eSF pode ser acrescentado uma eSB ou uma equipe Nasf-AB (BRASIL, 2017a). Todos esses profissionais possuem atribuições, algumas delas são: • Conhecer o seu território de referência, ou seja, o espaço físico, as ferramentas ins- titucionais, as características culturais, sociais e epidemiológicas da região, inclusi- ve as vulnerabilidades, participando do processo de territorialização e mapeamento. • Realizar o registro das ações desenvolvidas em prontuário próprio do paciente. • Alimentar e garantir a qualidade dos registros dos sistemas de informação vigentes. • Realizar busca ativa e notificar doenças e agravos de notificação compulsória. • Participar do acolhimento do usuário, de maneira humanizada e acolhedora, com escuta ativa. • Identificar os diagnósticos de saúde da população sob sua responsabilidade, ou seja, os problemas de saúde. • Promover parcerias com as instituições do território, organizações formais e organizações informais em prol da comunidade. • Prestar assistência integral à população. • Prezar pela promoção da saúde, realizando ações com esse objetivo. • Realizar atividades em grupo, de acordo com a demanda da população. • Estimular a participação da comunidade no seu cuidado e autonomia à saúde, inclusive nos Conselhos de Saúde. • Participar dos Conselhos de Saúde. • Valorizar o vínculo com as famílias cadastradas no seu território. • Participar das reuniões de equipe. 21 • Realizar visita domiciliar e/ou atendimento domiciliar conforme sua categoria profissional, incluindo Instituições de Longa Permanência (ILP), abrigos, entre outros tipos de moradia existentes no território. • Atuar, conforme a sua categoria profissional, no atendimento às infecções sexual- mente transmissíveis (IST’s) e outras doenças infecciosas (meningite, catapora, gripe e outras), aos ciclos de vida (criança, adolescente, mulher, homem, gestante e idosos), às condições crônicas prevalentes (hipertensão, diabetes, tuberculose, hanseníase) e outras condições conforme carteira de serviços e metas/indicadores vigentes. • Realizar ações interdisciplinares. • Acompanhar e registrar o Bolsa Família (BRASIL, 2017a). Além das atribuições que pertencem a todos os profissionais que atuam na ESF, existem atribuições específicas a cada categoria profissional descritas na PNAB. Os enfermeiros, por exemplo, deverão: • Executar o atendimento a todos os ciclos de vida, bem como às condições crônicas existentes em seu território e outras condições de saúde conforme sua competência. • Realizar atendimento e procedimentos regulamentados no exercício da sua profissão dentro e fora da unidade quando necessário, como no domicílio, em escolas e outros. • Solicitar exames complementares, prescrever medicações conforme protocolos. • Realizar/Supervisionar o acolhimento com escuta qualificada. • Supervisionar as ações dos ACS e dos técnicos e/ou auxiliares de enfermagem. • Promover ações de educação permanente aos ACS e aos técnicos e/ou auxiliares de enfermagem. • Organizar as rotinas de trabalho da ESF (BRASIL, 2017a). O técnico de enfermagem tem como suas atribuições: • Realizar os procedimentos de enfermagem que estão como escopo da unidade, como curativos, administração de medicamentos, vacinas, coleta de material para exames e outros. • Realizar procedimentos regulamentados no exercício da sua profissão fora da unidade quando solicitado ou necessário, como no domicílio, em escolas e outros (BRASIL, 2017). Os ACS têm como responsabilidade as seguintes atribuições: • Realizar o mapeamento da área por meio da territorialização. • Realizar o cadastramento dos usuários e a manutenção dos cadastros. • Realizar o acompanhamento de todas as famílias sob sua responsabilidade. • Identificar situações de risco no território para realizar intervenções junto a equipe por meio de discussões de casos. • Desenvolver ações que gerem integração entre a comunidade e a equipe de saúde. 22 • Conhecer o funcionamento da unidade para orientar a população da maneira correta. • Informar ao paciente sobre o dia e horário agendado de consultas e exames (BRASIL, 2017a). O médico possui as seguintes atribuições: • Realizar o atendimento do paciente e das famílias sob sua responsabilidade por meio de consultas clínicas, pequenos procedimentos cirúrgicos, atividades em grupo e fora da unidade quando necessário, como no domicílio, em escolas e outros. • Realizar encaminhamento do paciente para outros pontos de atenção, seja para realização de exames ou de atendimento com profissional especializado, sempre que necessário; • Realizar estratificação de risco dos pacientes sobre sua responsabilidade com condições crônicas pré-existentes (BRASIL, 2017a). 4.4 DESAFIOS DA ESF Segundo Arantes, Shimizu e Merchán-Hamann (2016), a ESF possui alguns desafios para sua expansão, devido à variedade de condições que encontramos no território brasileiro. O investimento dos municípios, embora seja fiscalizado, será diferente em cada um deles, devido à diferença de arrecadação dos municípios e estados brasileiros. Dessa maneira, existem unidades de saúde com estruturas deficientes e que não se enquadram ao modelo sugerido pelo Ministério da Saúde. O Manual de Estrutura Física das Unidades Básicas de Saúde (BRASIL, 2008b) recomenda, por exemplo, que as unidades de Saúde da Família possuam: • ambientes administrativos (como recepção, sala de espera, sala de prontuário, administração e gerência, sala de reuniões, sala dos ACS, almoxarifado e farmácia). • ambientes para atendimento clínico (consultórios, sala de procedimentos, sala de vacina, sala para coleta de materiais para análise clínica, sala de nebulização e sala de curativo). • ambientes para atendimento odontológico (consultório odontológico, escovário, área para compressor e bomba), quando possuir eSB. • ambientes de apoio (sanitário, banheiro para funcionário, copa/cozinha, área de serviço e depósito de material de limpeza, central de material de esterilização, sala de utilidades, depósito de lixo, abrigo de resíduos sólidos/expurgo). Além dos ambientes, o manual também recomenda os mobiliários que devem existir em cada local, com as especificidades (BRASIL, 2008b). Outro desafio refere-se à ausência de profissionais para atuar em regiões mais isoladas do país, como as regiões rurais, áridas ou as regiões do Norte do país (ARANTES; SHIMIZU; MERCHÁN-HAMANN; 2016). O Programa Mais Médicos (PMM) é uma estratégia 23 de fortalecimento das ESF, pois realiza a contratação emergencial de médicos pelo país, expandiu o número de vagas para os cursos de medicina e de residência médica em medicina de família e comunidade, e a implantou um novo currículo na formação médica, com a finalidade de incentivar ações preventivas, de promoção à saúdee desenvolver um atendimento médico mais humanizado (BRASIL, 2013b). Os fortalecimentos das estruturas gerenciais nos municípios também são desafiadores, embora a PNAB 2017 tenha contribuído com essa questão, pois recomendou a inclusão do gerente de Atenção Básica em todas as unidades de AB, a fim de contribuir para a qualificação da equipe e melhoria do processo de trabalho (BRASIL, 2017a). Por fim, mesmo que outros desafios possam surgir, a ESF tem sido a maior ferramenta do Ministério da Saúde para ampliação da Atenção Básica e fortalecimento das ações de promoção à saúde (ARANTES; SHIMIZU; MERCHÁN-HAMANN; 2016). 24 Neste tópico, você aprendeu: • A história do sistema de saúde do Brasil, levando em consideração o foco na Atenção Básica à Saúde e o seu ápice, com a Política Nacional de Atenção Básica. • Quais os princípios e as diretrizes da Atenção Básica. • Como deve ser a infraestrutura de uma Unidade de Atenção Básica. • Como ocorre o funcionamento das equipes de Atenção Básica. • Quais os tipos de equipes de Atenção Básica, inclusive as equipes para populações específicas, tais como as ribeirinhas, pessoas em situação de rua ou as pessoas privadas de liberdade. • A importância da Estratégia Saúde da Família (ESF) como modelo de reestruturação e fortalecimento das ações de Atenção Básica, sua história, características, composição e atribuições dos profissionais da equipe e os desafios atuais. RESUMO DO TÓPICO 1 25 AUTOATIVIDADE 1 Em 2006 foi aprovada a Portaria nº 648/GM de 28 de março de 2006, que aprovou a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para o PSF e o PACS. Com base nas diretrizes de Atenção Básica estabelecidas na Política Nacional de Atenção Básica (2017a), assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Participação da comunidade; territorialização, longitudinalidade; resolutividade e coordenação do cuidado. b) ( ) Equidade; regionalização/hierarquização; territorialização; população adscrita e ordenação de rede. c) ( ) Participação da comunidade; equidade; universalidade; regionalização/ hierarquização e territorialização. d) ( ) Universalidade; equidade; integralidade; regionalização/hierarquização e participação da comunidade. 2 A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB foi criada em 2006 e é baseada nos seguintes princípios: a universalidade, a equidade e a integralidade. Sobre a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), analise as afirmativas a seguir: I- Tem a Saúde da Família como estratégia de expansão e consolidação da Atenção Básica no país. II- A Atenção Básica e a Atenção Terciária devem ser as portas de entrada do SUS, por meio das UBS e das emergências dos hospitais e das internações. III- A equipe mínima de uma equipe de Saúde da Família é composta por um médico, preferencialmente especialista em medicina da família e comunidade; um enfermeiro, preferencialmente especialista em saúde da família; um auxiliar ou técnico de enfermagem e quatro Agentes Comunitários de Saúde. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença I está correta. 3 Os princípios da Atenção Básica seguem os mesmos preceitos do SUS, dessa maneira, possuem as mesmas definições norteadoras. Segundo a PNAB (2017), sobre a atribuição específica do enfermeiro que atua na Atenção Básica, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 26 ( ) Realizar e/ou supervisionar acolhimento com escuta qualificada e classificação de risco, de acordo com protocolos estabelecidos. ( ) Supervisionar as ações do técnico/auxiliar de enfermagem e ACS; ( ) Encaminhar, quando necessário, usuários a outros pontos de atenção, respeitando fluxos locais, mantendo sob sua responsabilidade o acompanhamento do plano terapêutico prescrito. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – V. b) ( ) V – V – F. c) ( ) V – F – V. d) ( ) F – V – F. 4 A Estratégia Saúde da Família (ESF) vem sendo um grande avanço para as políticas públicas de saúde no Brasil, desde a sua criação. A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) estabeleceu a ESF como modelo de organização, consolidação e expansão da Atenção Básica. Disserte sobre a importância da longitudinalidade do cuidado para ofortalecimento das ações da ESF. 5 No Brasil, com a regulamentação do SUS, e a definição dos seus princípios – universalidade, equidade, integralidade – e diretrizes – regionalização, hierarquização, descentralização e participação popular –, o acesso à saúde passou a ser direito de todos e dever do estado, independente do indivíduo ter carteira de trabalho assinada ou não. Considerando o princípio de integralidade e a diretriz da Atenção Básica de resolutividade, disserte sobre a importância da equipe Nasf-AB. 27 SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA NA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 2, abordaremos o Sistema de Referência e Contrarreferência na Rede de Atenção à Saúde. Para introduzir esse tema, iniciaremos falando um pouco sobre a operacionalização da Rede de Atenção à Saúde, suas características e relação com a Atenção Primária à Saúde (APS), considerando suas diretrizes e atributos para o cuidado integral na RAS e ordenação do Sistema de Referência e Contrarreferência. As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são os fluxos de atendimento dos serviços de saúde de diferentes densidades tecnológicas, sejam elas da atenção primária, da atenção secundária e/ou da atenção terciária, que juntas formam uma rede de atendimento à população e garante a integralidade da assistência. Como vimos no Tema de Aprendizado 1, sobre a organização da Atenção Básica/Primária, podemos compreendê-la como uma porta de entrada ao sistema de saúde. Dessa maneira, ao abordar as RAS, vamos partir do princípio, que é uma Unidade de Atenção Básica, a qual é responsável pelo direcionamento do paciente pela rede. Por isso, também traremos uma reflexão sobre a importância da integralidade da assistência, que é um dos princípios do SUS, referente ao atendimento integral do paciente, ou seja, de todas as suas necessidades, seja ela de baixa ou alta complexidade. Por fim, falaremos sobre o funcionamento do sistema de referência e contrar- referência, responsável pelo encaminhamento do paciente pelos pontos de atenção, trazendo informações e comunicação entre o profissional solicitante e o prestador de serviço especializado. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 2 OPERACIONALIZAÇÃO DA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE Em 30 de dezembro de 2010 foi publicada a Portaria nº 4.279, que estabeleceu as diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde (RAS) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). A relevância dessa portaria é reduzir a fragmentação existente no serviço de saúde e qualificar a gestão do cuidado, facilitando a integralidade do serviço e a comunicação entre eles para que o paciente seja beneficiado de acordo com a sua demanda (BRASIL, 2010a). 28 De acordo com Mendes (2011, p. 57), existem diversas diferenças entre o modelo de rede fragmentado e a RAS. Enquanto a forma de organização do sistema fragmentado é por meio de uma hierarquia, a RAS é organizada por uma poliarquia; a coordenação da atenção fragmentada e a comunicação entre os componentes é inexistente, já na RAS a coordenação é feita pela APS e a comunicação é feita por sistemas logísticos eficazes. O foco de ambos também é diferente, enquanto a rede fragmentada focava nas deman- das agudas da população, de maneira reativa e episódica (com o paciente recebendo a prescrição pelo médico), a RAS considera condições agudas e crônicas por meio de um funcionamento proativo e contínuo, baseado em plano de cuidados de cada pessoa. Cabe apontar que o plano de cuidados é realizado conjuntamente por umaequipe multiprofissional e pela pessoa, ou seja, o paciente é corresponsável por sua saúde) com busca ativa e o paciente pelos profissionais (GELINSKI, 2011; BRASIL, 2017b). Outra diferença entre ambos é que a rede fragmentada dava ênfase em ações curativistas e sem estratificação de risco, enquanto a RAS prioriza as ações preventivas e de promoção à saúde sem desconsiderar a necessidade da integralidade da assistência e com avaliação de risco de cada indivíduo para estratificar a sua assistência. Além dessas diferenças, outras podem ser identificadas (MENDES, 2011; OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2016). Para deixar mais claro, vamos considerar um paciente que chegue em uma USB para atendimento agendado e que seja identificado pelo médico da equipe, durante o atendimento, que esse paciente apresentou infecção urinária recorrente durante o último ano (mesmo com tratamento adequado) e que não há causas anatômicas urológicas ou ginecológicas associadas avaliadas por meio de ultrassonografia de vias urinárias e exame clínico. Sendo assim, percebeu-se que havia necessidade de encaminhá-lo ao nefrologista, a fim de ouvir a avaliação do especialista. Para que esse fluxo ocorra é necessário a existência de uma RAS, que irá indicar os serviços de saúde do território a qual o paciente poderá ser direcionado. Sendo assim, o paciente não deixará de ser atendido pela USB, embora receba o acompanhamento concomitante da rede secundária a fim de pesquisar a causa da infecção urinária recorrente. Se não existisse a RAS as pessoas que tivessem qualquer demanda de saúde não saberiam qual serviço procurar e, geralmente, isso causa o sucateamento dos serviços hos- pitalares, devido a sua complexidade. É comum que os pacientes pensem que a rede ter- ciária é mais eficaz que outras redes, pois possui mais aparelhos, instrumentos e especia- listas. Entretanto, se os hospitais estiverem cheios de pessoas que possuem demandas de simples resolução na Atenção Primária (UBS) não terão acesso às pessoas que realmente necessitam do serviço especializado e de alta complexidade (MENDES, 2011; IBGE, 2010). Você consegue entender que a RAS estabelece uma relação entre a rede pri- mária, a rede secundária e a rede terciária? Essa sistematização da relação entre as três redes de atenção à saúde refere-se à RAS e a sua efetivação promove um atendimento à saúde mais eficaz e integral à população, pois considera a necessidade do indivíduo em todos os níveis de atenção e mantém a AB como coordenadora dessa rede. 29 2.1 ELEMENTOS CONSTRUTIVOS E ATRIBUTOS DA RAS Para explicar um pouco mais sobre a RAS, Oliveira, Silva e Souza (2021, p. 32) dividem elas em três elementos: a população, a estrutura operacional e o modelo de atenção à saúde. A população refere-se ao objetivo de resolutividade, ou seja, o sujeito ao qual todo o serviço e rede está centrado a fim de identificar os problemas e propor soluções. É interessante relembrar, que nas eSF a população é adscrita a um território, definida pelas suas características geográficas, sociais e epidemiológicas por meio da territoriali- zação. Posteriormente, toda a população deve ser cadastrada em uma equipe e microá- rea, sendo acompanhada por um ACS, que estará mais próximo à família para identificar problemas relatados e/ou observados (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021). O segundo elemento é a estrutura operacional, que está associada aos pontos de atenção das redes e pelas ligações materiais e imateriais que os integram. De acordo com Mendes (2011), a estrutura operacional possui cinco elementos, são eles, os centros de comunicação; os pontos de atenção à saúde secundários e terciários; os sistemas de apoio; os sistemas logísticos e sistemas de governança. Em resumo, conforme Mendes (2011), os cinco elementos representam o seguinte: 1. Centro de comunicação: Atenção Primária à Saúde. 2. Pontos de atenção à saúde secundários e terciários: Serviços de atendimento especializado. 3. Sistemas de apoio: Locais que realizam serviços comuns a todos os pontos de aten- ção relacionados a diagnóstico, à terapêutica, à assistência farmacêutica e aos ser- viços de sistemas de informação à saúde. Alguns exemplos são: locais que realizam diagnóstico de imagem, medicina nuclear, patologia clínica, endoscopias, farmácia de alto custo e os sistemas de informação em saúde, tais como o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), o Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC), dentre outros. 4. Sistemas logísticos: Referem-se, geralmente, a sistemas de informações em saúde que são integrados a diversos níveis de atenção. Alguns exemplos são a identificação do usuário por meio do Cartão Nacional do SUS (CNS), do prontuário clínico, do Sistema de Regulação (SISREG) ou solicitação de ambulância. 5. Sistemas de governança: São os responsáveis pela coordenação e organização da rede, alguns exemplos são as Comissões Intergestores Tripartite e Bipartite, no e as Comissões Intergestores Regionais. Por fim, o terceiro elemento da RAS é o modelo de atenção à saúde, que como já vimos, está baseado na resolução de demandas agudas e crônicas de maneira proativa e contínua, baseada em plano de cuidados de cada pessoa com a APS como 30 coordenadora do cuidado (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021). Ademais, é cabível destacar que existem redes de atenção à saúde temáticas, são elas: a Rede de Atenção à Saúde Materno Infantil: Rede Cegonha; a Rede de Atenção de Urgências e Emergências (RUE); a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas; a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência e a Rede de Atenção Psicossocial (BRASIL, 2011d). Já as diretrizes para Organização da Rede de Atenção à Saúde do SUS consideram catorze atributos da rede. São eles: • a população e o território; • a existência de diversos estabelecimentos de saúde focados na prevenção, promoção da saúde, o tratamento, a reabilitação e outros serviços individuais e coletivos; • a Atenção Primária à Saúde como porta de entrada, contendo uma equipe multidisciplinar e coordenadora do cuidado; • a existência de serviços especializados em locais adequados; • a atenção à saúde individual, coletiva e familiar, considerando a diversidade da comunidade, ou seja, livre de preconceitos; • um sistema de governança único; • a participação da comunidade; • uma gestão integrada, tanto dos sistemas de apoio administrativos, clínicos e logísticos; • existência de recursos humanos suficientes e capacitados; • a integração dos sistemas de informação em saúde; • o financiamento tripartite; • a ação intersetorial com abordagem dos determinantes de saúde; • a gestão baseada em resultados. 2.2 CARACTERÍSTICAS DA RAS Muitos países vêm chegando ao consenso de que organizar os sistemas de saúde em rede são excelentes soluções para a garantia da atenção integral, efetiva e eficaz à toda a população (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021). A integralidade da assistência sempre foi um tema discutido no Brasil, desde a criação do SUS, mas o Pacto pela Saúde trouxe nova ênfase para essa discussão, pois elaborou um conjunto de reformas e pactuações entre as três esferas do governo (federal, estadual e municipal) para trazer maior eficiência ao SUS (PINHEIRO, 2009). Ele é dividido em três dimensões: o pacto pela vida, o pacto em defesa do SUS e o pacto de gestão. Logo após a criação do Pacto pela Saúde, foi elaborada a PNAB e a Política Nacional de Promoção à Saúde (PNPS), que tem a proposta de responder às demandas da população por meio de ações de vigilância e promoção à saúde, efetivando a APS como eixo estruturante da RAS no SUS. A seguir, veremos as características da RAS mais detalhadas (MENDES, 2011). 31 2.2.1 Relações Horizontais Por meio das RAS, os pontos de atenção à saúde – sejam eles UBS, hospitais, unidades de pronto atendimento ou serviços especializados – possuem a mesma importância e juntos cumprem o seu papelpara garantir a integralidade da assistência (BRASIL, 2010a). Essa lógica não considera um sistema de saúde piramidal e sim totalmente integrado, pois o usuário pode iniciar o atendimento na atenção primária, ser encaminhado diretamente para a atenção terciária e, após a alta, ser direcionado para a atenção secundária e primária. Esse modelo irá garantir que a necessidade do usuário seja atendida, considerando toda a lógica de organização dos serviços do SUS, ou seja, a descentralização, a hierarquização e a regionalização (MENDES, 2011). Figura 1 – Mudança do modelo piramidal e hierárquico para o modelo em rede, com a atenção primária como coordenadora do cuidado Fonte: adaptado de Mendes (2011) Segundo a portaria nº 4.279, de 2010, a construção da RAS possui duas maneiras de articulação da rede: a articulação horizontal e a articulação vertical. A vertical consiste na “articulação de diversas organizações ou unidades de produção de saúde responsáveis por ações e serviços de natureza diferenciada, sendo complementar (agregando resolutividade e qualidade neste processo)”; e a horizontal na articulação de unidades e da mesma natureza (ou especialidade). Sua função é otimizar a escala de atividades, e garantir ampliação da cobertura, bem como eficiência econômica na provisão de ações e serviços de saúde através de ganhos de escala (redução dos custos médios totais em relação ao volume produzido) e escopo (aumento do rol de ações da unidade). NOTA 32 2.2.2 Atenção Primária/básica como Coordenadora do Cuidado Como já sabemos, a ordenadora do cuidado da RAS é a atenção primária, pois geralmente são os profissionais que atuam nesses serviços que avaliam o quadro do indivíduo a fim de classificarem sua necessidade e risco sendo a principal porta de entrada do SUS. A PNAB afirma que “a Atenção Básica será a principal porta de entrada e centro de comunicação da RAS, coordenadora do cuidado e ordenadora das ações e serviços disponibilizados na rede” (BRASIL, 2017b). Podemos citar o seguinte exemplo para compreender a diferença na avaliação: se uma gestante chega até sua equipe de saúde da família e é identificado hipertensão sem lesão em órgão alvo, essa mulher deverá ser encaminhada para acompanhamento concomitante em pré-natal de alto risco. Já no caso de receber uma gestante com hipertensão grave, eclâmpsia ou sinais premonitórios em gestantes hipertensas, a mulher deverá ser encaminhada para uma emergência obstétrica por meio da solicitação de uma ambulância/vaga zero (BRASIL, 2022c). Consegue compreender que, embora ambas as situações estejam relacionadas ao aumento de pressão da gestante, os dois exemplos possuem uma classificação de risco gestacional diferentes? No primeiro caso trata-se de um risco amarelo, ou seja, um alerta que os profissionais devem ter e, de maneira complementar, solicitar a avaliação de um profissional da rede secundária. No segundo caso há identificação de risco de vida para a mulher ou o feto e, por isso, como risco vermelho o monitoramento deverá ser con- tínuo, por isso ela é encaminhada para uma maternidade de referência na rede terciária. 2.2.3 Planejamento e Organização das Ações Segundo a Necessidade da População Talvez você já tenha refletido sobre o motivo de existirem programas específicos para alguns ciclos de vida ou condições de saúde. Esse desenho existe, pois, para planejar as melhorias de saúde pública de uma população é necessário compreender o seu perfil e diagnóstico de saúde, além disso, considerar os determinantes de saúde. Nesse caso, os programas nacionais são baseados em identificações de problemas de saúde nacionais (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021). De acordo com a Lei nº 12.864/2013, os fatores determinantes e condicionantes de saúde são: “a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais para a saúde” (BRASIL, 2013b). 33 Nesse sentido, considerando que você atue em uma equipe de saúde da família deverá identificar os problemas de saúde mais frequentes, por meio de um diagnóstico situacional. Esses problemas podem estar relacionados a questões epidemiológicas com incidência de casos de doenças infecto parasitárias, desnutrição e outros problemas sociais; bem como de quadros de doenças crônicas, como a hipertensão, a diabetes e o câncer ou até mesmo situações de vulnerabilidade, tais como violência urbana e consumo excessivo de álcool e drogas. Todos os problemas não podem ser resolvidos por meio de um sistema de saúde fragmentado, ou seja, que não haja relação entre as redes de atenção (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021). 2.2.4 Atenção Contínua e Integral A atenção contínua e integral refere-se ao princípio de integralidade, que consi- dera o indivíduo como um todo e busca resolutividade em todas as demandas. Para que isso ocorra, é necessário a existência de ações integradas, pensando na prevenção, na promoção da saúde, no tratamento de doenças/agravos, na reabilitação e articulação de uma rede de saúde. Todos os níveis de assistência devem ter esse objetivo ao aco- lher um usuário, por isso o atendimento é contínuo e integral (BRASIL, 2010b). Como vimos no tema de aprendizagem 1, a atenção primária busca resolver 85% dos casos que chegam a ela e os demais 15% serão direcionados a outro ponto de aten- ção, garantindo a resolução do quadro, a atenção contínua e integral (STARFIELD, 2002). A RAS possui como fundamento o processo de substituição, que está relacionado ao reagrupamento contínuo de recursos entre os serviços de saúde e dentro deles. Esse fundamento tem como objetivo prestar a atenção certa, no lugar certo, com o custo certo e no tempo certo. Um exemplo para esse fundamento é a mudança de local de atendimento de um usuário que sofre um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e necessite de atendimento domiciliar, sendo assim, ele deixa de ter seus agendamentos na unidade de saúde para ser avaliado em residência até que haja mudança do quadro. Dessa forma, por meio da substituição o indivíduo permanece com atendimento integral e contínuo. DICA 34 2.2.5 Atendimento Multiprofissional/interdisciplinar Como o atendimento na RAS busca a integralidade da assistência, é indispen- sável que ocorra de maneira multiprofissional e interdisciplinar, ou seja, que garanta a assistência em todas as necessidades de saúde do indivíduo. A diversidade de profis- sionais tem maior facilidade na construção de um plano de cuidado, considerando todas as queixas do paciente (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021; MENDES, 2011; BRASIL, 2010). Embora a existência de diversos profissionais seja essencial para o cuidado, cabe destacar que esse cuidado deve conversar, ou seja, não é um cuidado de diversos profis- sionais de saúde de maneira fragmentada e sim considerando a importância da comuni- cação entre os saberes para que haja maior benefício à assistência. A elaboração do plano terapêutico, que já comentamos, é um exemplo de interdisciplinaridade (BRASIL, 2017b). 2.2.6 Responsabilidade com os Compromissos e Metas, Considerando Questões Sanitárias e Econômicas As equipes de saúde da família seguem as metas e indicadores estabelecidos pelo Ministério da Saúde e, por isso, realizam suas atividades pensando nos casos individuais e nos casos coletivos, ou seja, as metas estabelecidas em questões sanitárias (MENDES, 2011). Alguns exemplos são: aumento do encerramento por cura dos casos de tuberculose; o número de consultas de pré-natal; o aumento de cobertura vacinal; o aumento do aleitamento materno exclusivo até seis meses da criança, dentre outros (BRASIL, 2022d). Todos os serviços serão realizados com qualidade e eficiência, levando em consideração um cuidado integral e humanizado (BRASIL, 2017b). Além das metas sanitárias, existem as questões organizacionais e gerenciais que influenciam economicamente os serviços públicos (MENDES, 2011). Aregionalização e a hierarquização, por exemplo, são diretrizes do SUS que apoiam esse processo, pois a longo prazo, o investimento na atenção primária faz com que haja menos gasto público e mais resolutividade da assistência, visto que os serviços de maior densidade tecnológica serão utilizados apenas quando há necessidade e não mais para resolução de situações mais simples – economia de escala (MENDES, 2011). Assim, todos os serviços, sejam de atenção primária, secundária ou terciária, consideram a melhoria coletiva da assistência e o menor gasto público. Por isso, os recursos materiais, humanos, financeiros e tecnológicos devem ser coordenados para que não haja prejuízo, tanto pela escassez, quanto pelo excesso (MENDES, 2011). Importa salientar, que as diretrizes de regionalização e hierarquização são responsáveis pela organização dos serviços de saúde, segundo suas complexidades, nas regiões considerando o perfil da população ali residente. Por isso, falar de organização dos serviços é considerar suas localizações geográficas e acesso dos usuários ao serviço, ou seja, construir um hospital em uma região descentralizada e sem acesso à 35 transporte público não garante efetividade da assistência, pois haverá gastos na sua construção e monitoramento e pouca utilidade para a população. Nesse sentido, é preciso que os serviços de saúde sejam de fácil acesso, de qualidade e em quantidade suficiente (MENDES, 2011). 2.3 DIRETRIZES E ESTRATÉGIAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DA RAS A RAS, embora regulamentada, possui diversos desafios para sua implementação e continuidade. Sua política é relativamente nova, e o modelo fragmentado ainda é forte no país, o que dificulta a efetivação dos serviços em rede. Por essa razão, para que haja uma implementação da RAS é necessário: 1. Fortalecer a APS, pois ela é a responsável pela coordenação e organização do cuidado. 2. Fortalecer o processo de governança da RAS, como exemplo os Comitês Gestores Regionais (CGR). 3. Fortalecer a integração da assistência em saúde com as ações de vigilância, por meio do planejamento e do gerenciamento de risco de agravos e doenças. 4. Fortalecer a política de gestão do trabalho e da educação na saúde na RAS. 5. Implementar o Sistema de Planejamento da RAS. 6. Desenvolver os Sistemas Logísticos e de Apoio da RAS. 7. Garantir o financiamento do Sistema na perspectiva da RAS (BRASIL, 2010a). 3 INTEGRALIDADE DO CUIDADO Você percebeu que quando falamos de RAS é indispensável o conhecimento acerca da integralidade? Caso não recorde, a integralidade é um princípio doutrinário do SUS, caracterizado por “um conjunto de serviços executados pela equipe de saúde que atendam às necessidades da população adscrita nos campos do cuidado, da promoção e manutenção da saúde, da prevenção de doenças e agravos, da cura, da reabilitação, redução de danos e dos cuidados paliativos” (BRASIL, 2017). A palavra integralidade é definida como a qualidade do que é integral; a reunião de todas as partes que formam um todo. Considerando essa definição e aplicando à saúde, podemos concluir que para que se obtenha a totalidade da assistência são necessárias diversas partes, que podem ser as redes de atenção (primária, secundária e terciária), os diversos profissionais de saúde ou os tipos de assistência, preventiva, de promoção à saúde, de manutenção da saúde ou reabilitação. Diversos autores descrevem suas interpretações sobre o termo. Pinheiro (2009), por exemplo, diz que integralidade é a ação social que resulta da interação democrática entre diversos atores e suas práticas por meio da oferta dos serviços de saúde em 36 diferentes níveis de atenção. Esse entendimento traz a reflexão sobre a estratégia da integralidade que irá promover ações coletivas em defesa da vida. Por essa razão, a integralidade foi defendida como um eixo prioritário de políticas públicas e do SUS. Essa ideia de interação social entre profissionais de saúde e usuários é embasada pela relação de oferta e demanda, considerando os aspectos objetivos e subjetivos. A fim de nos aprofundarmos nesse princípio, que é extremamente amplo, vamos apresentar uma teoria que considera três sentidos acerca do termo: a integralidade como traço da boa medicina, a integralidade como modo de organizar as práticas e a integralidade como respostas governamentais a problemas específicos de saúde (MATTOS, 2009). 3.1 INTEGRALIDADE COMO TRAÇO DE BOA MEDICINA O sentido da integralidade como traço de boa medicina está relacionado à crítica do modelo biológico e fragmentado do atendimento médico. Essa ideia teve início nos Estados Unidos, por meio de uma crítica de médicos que aderiram ao movimento integral, questionando o atendimento que era realizado de maneira fragmentada, ou seja, que reforçava o atendimento por especialidade médica e doenças, deixando de considerar as questões psicológicas e sociais. Nessa perspectiva, para a medicina integral, a integralidade era considerada uma característica desejável aos médicos, ou seja, um traço de boa medicina, pois por meio dela era possível identificar questões mais amplas da saúde do indivíduo ao considerar a escuta e a observação de outros determinantes de saúde (PINHEIRO 2009; MATTOS, 2009). Essa compreensão da integralidade como traço de boa medicina é de grande relevância para a humanização do cuidado. Podemos considerar, por exemplo, um caso de uma paciente que comparece regularmente a unidade de saúde com picos hipertensivos. Em um primeiro olhar você pode considerar o problema dela apenas como um quadro de hipertensão mal controlado, embora seja essencial aprofundar o cuidado em saúde e ouvi-la. Com o olhar e a escuta apurados a paciente poderá relatar diversas situações que geram preocupação em sua vida, como, por exemplo, a ausência de uma renda familiar, a violência doméstica e o envolvimento dos filhos com álcool e drogas. Todas essas questões subjetivas podem influenciar emocionalmente a paciente, contribuindo para o aumento da pressão arterial, mesmo que ela faça uso regular das medicações prescritas. Consegue perceber a importância desse fator para o cuidado? Ademais, as eSF possuem uma vantagem nesse cuidado em decorrência dos ACS, que possuem uma relação com o território e as famílias com maior vínculo e conhecimento. IMPORTANTE 37 3.2 INTEGRALIDADE COMO MODO DE ORGANIZAR AS PRÁTICAS Como já vimos, a história da saúde pública no país passou por diversas fases. O Ministério da Saúde e o Ministério da Previdência Social eram responsáveis pela saúde da população, embora de maneiras diferentes. O Ministério da Previdência Social considerava as demandas por atendimento médico, buscando atendê-las por meio das práticas curativistas e centrada nos serviços hospitalares. O Ministério da Saúde estava mais relacionado às questões preventivas, ou de saúde pública, que não eram necessariamente demandadas pela população e concentradas nos centros de saúde. Um exemplo das ações preventivas eram as campanhas de vacinação e as medidas higienistas (BRASIL, 2022c; CAMPOS, 2009). Cabe destacar que esse modelo fragmentado de assistência fazia com que a população tivesse que buscar atendimento em locais diferentes para cada tipo de atendimento. Caso uma mulher estivesse em acompanhamento para tuberculose e apresentasse um quadro de litíase renal, ela realizava o tratamento de tuberculose em um local, o seu planejamento reprodutivo em outro e o atendimento da sua queixa em outro ponto de atenção. Além disso, não existia atendimento à demanda espontânea nos centros de saúde. A mudança desse modelo trouxe integração dos serviços em um mesmo ponto de atenção, bem como o acolhimento dos indivíduos por meio de consultas programadas e em demanda espontânea (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021). Sendo assim, a integralidade como modo de organizar as práticas refere-se a garantia dos atendimentos do usuário, tanto de acordo com as suas demandas, quanto com relação às ações de saúdepública que consideram as questões epidemiológicas. Outrossim, os serviços devem considerar os atendimentos agendados e de demanda espontânea, garantindo que sejam avaliadas todas as questões que influenciam a saúde do indivíduo por meio de uma organização contínua do processo de trabalho nos serviços de saúde, por meio da ampliação da compreensão e da resolução das necessidades individuais e coletivas (MATTOS, 2009). 3.3 INTEGRALIDADE COMO RESPOSTAS GOVERNAMENTAIS A PROBLEMAS ESPECÍFICOS DE SAÚDE Por último, o sentido de integralidade como respostas governamentais a problemas específicos de saúde está relacionado aos programas/políticas de saúde. A primeira consideração acerca desse ponto refere-se às políticas de saúde da mulher, que, inicialmente, eram vistas apenas como um aparelho reprodutor (PINHEIRO, 2009). Se você observar a trajetória do Programa de Atenção Integral de Saúde da Mulher (PAISM), verá que as primeiras pautas estavam relacionadas à saúde materno infantil, ou seja, ao pré-natal. Em 2004, foi elaborada a Política Nacional de Atenção Integral 38 à Saúde da Mulher – PNAISM –, baseada no PAISM, embora considerasse questões relacionadas à integralidade da mulher, ou seja, a política passa a vê-la por meio de todas as suas necessidades (BRASIL, 2016). Para isso, os objetivos específicos da política buscaram abranger diversas in- terfaces da mulher, são eles: o cuidado clínico e ginecológico para todas as mulheres, incluindo as portadoras de infecções sexualmente transmissíveis e HIV; inclusive a pre- venção e o controle dessas infecções; o incentivo ao planejamento reprodutivo tanto de homens, quanto de mulheres; o atendimento integral obstétrico e neonatal, incluindo a assistência ao abortamento; o cuidado com a mulher (incluindo adolescentes) em situ- ação de violência doméstica ou sexual; a prevenção de doenças crônicas como câncer em mulheres, bem como sua estratificação; o cuidado com relação à saúde mental da mulher, considerando como foco as questões de gêneros; a atenção para os cuidados com a mulher no climatério; o atendimento da mulher idosa; e/ou negra; e/ou indígena; e/ou que trabalha no campo e na cidade; e/ou privada de liberdade (BRASIL, 2016). No próximo Tema de Aprendizagem falaremos um pouco sobre as questões da média e alta complexidade da PAISM. ESTUDOS FUTUROS Consegue enxergar a diferença de compreensão acerca do cuidado com a mulher? Antes a mulher era vista como um órgão reprodutor e hoje é vista de maneira integral, considerando diversas particularidades das mulheres brasileiras. Outros exemplos da integralidade como resposta a problemas específicos de saúde foram a criação da Política Integral da População Negra, da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, dentre outros. Dessa maneira, a integralidade garante, também, o direito à cidadania, que atualmente é compreendida como uma condição de igualdade civil e política (BRASIL, 2011c). A criação da Constituição Federal e a regulamentação do SUS, muitas mudanças jurídicas e sociais começaram a acontecer no país, incluindo o direito de todos sob o acesso à saúde – universalidade – que possibilitou o aparecimento de diversas experiências centradas na integralidade do cuidado e o respeito às demandas de toda a população, a cidadania do cuidado. (BRASIL, 1988). 39 3.4 A IMPORTÂNCIA DA ESF NA INTEGRALIDADE DO CUIDADO Como já sabemos, os princípios da Atenção Primária à Saúde (APS) e do SUS são os mesmos, por isso, vamos analisar a importância da ESF – estratégia prioritária de reorganização e fortalecimento da APS – para garantir a integralidade do cuidado. Como, também, vimos, existem diversos fatores que podem influenciar a inte- gralidade do cuidado, nessa parte do livro didático vamos relembrar algumas diretrizes da APS, que por meio da efetivação da ESF garantem a integralidade. Vamos discutir sobre as seguintes diretrizes da APS e sua relação com a integralidade: regionalização/ hierarquização; o cuidado centrado na pessoa; a resolutividade; a longitudinalidade do cuidado; a coordenação do cuidado; ordenação da rede e participação da população (BRASIL, 2011c). A hierarquização e regionalização estão relacionadas a maneira que as RAS se organizam e a existência dos equipamentos de saúde, ou seja, da sua estrutura operacional. Quando um gestor pensa nos equipamentos de saúde que deve oferecer a população ele precisa compreender o seu diagnóstico de saúde. As necessidades ou problemas da população, bem como as características político sociais e epidemiológicas são as norteadoras dos equipamentos. Nessa organização devem considerar a existência da rede primária, secundária e terciária. É comum que o investimento na APS seja maior, devido a necessidade desse recurso estar mais próximo a população e garantir maior resolutividade com menor gasto público a longo prazo. Comparando, então, essas diretrizes com o princípio da integralidade observamos que eles garantem a integralidade do cuidado ao promoverem o acesso da população a serviços de diferentes complexidades (BRASIL, 2017b). A lógica do cuidado centrado na pessoa é outra diretriz que conversa com o princípio da integralidade, pois quando o profissional realiza o acolhimento do indivíduo e a escuta qualificada da demanda do indivíduo consegue perceber as questões objetivas e subjetivas, direcionando o cuidado por meio da prevenção, da promoção da saúde, do tratamento e/ou da reabilitação. Nesses espaços de oferta e demanda são construídas as relações de vínculo – longitudinalidade do cuidado. Essa ideia se assemelha a de Pinheiro (2009), que afirma que a integralidade é a construção coletiva, que ganha forma e expressão no espaço de encontro dos diferentes sujeitos implicados na produção do cuidado em saúde. Essa ideia de construção coletiva também pode ser vista na diretriz de participação da população, pois nas conferências e conselhos de saúde há planejamento de saúde individual e coletiva. Nesses espaços podem ser elaboradas propostas que reforcem ainda mais a integralidade da assistência (BRASIL, 1990; 2017). http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/cuisau.html 40 A ESF é, portanto, um ambiente de construção de vínculo e de saberes que coordena o cuidado do indivíduo. Quando a longitudinalidade é respeitada há maior compreensão sobre o diagnóstico de saúde da população e é possível planejar ações de promoção à saúde de acordo com a necessidade da população. Além disso, considerando as ações individuais, quando você ouve o paciente e constrói um vínculo garante a responsabilização, coordena o cuidado por meio do direcionamento do indivíduo aos pontos de atenção que necessita e garante a integralidade da assistência e a resolutividade (BRASIL, 2017b). Veremos a seguir o funcionamento do sistema de referência e contrarreferência, que é a maneira que o usuário é direcionado aos diversos pontos de atenção e complexidade da saúde. É indispensável apontar, que segundo a uma APS de qualidade, como parte integrante da RAS estrutura-se segundo sete atributos: o primeiro contato, a longitudinalidade, a integralidade, a coordenação, a centralidade na família, a abordagem familiar e a orientação comunitária. Ademais, ela deve cumprir três funções: a resolutividade, a organização e a responsabilização (BRASIL, 2010b). 4 FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA Você acabou e conhecer os aspectos da RAS, que, segundo a Portaria nº 4.279 de 2010, reafirmou a responsabilidade do SUS com a integralidade, propondo estratégias para sua implantação e “arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado” (BRASIL, 2011a, p. 4). Para a operacionalização da RAS, é necessária a existência de um sistema de referência e contrarreferência,que serve como a comunicação entre os diversos pontos de atenção. Já parou para pensar como era o atendimento especializado do paciente antes da criação da RAS e do sistema de referência e contrarreferência? Antes deles não existia um fluxo estabelecido para atendimento dos usuários, que eram obrigados a acordar de madrugada para tentar um agendamento com algum especialista. Essa ideia de o paciente encontrar-se perdido no acesso ao sistema de saúde e a ausência de humanização estão relacionadas ao sistema fragmentado, sem a APS como coordenadora do cuidado e da existência da RAS. A criação desse fluxo, sistematizou a fila de espera e o retorno do usuário para a unidade de APS (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021; MATTOS, 2011). Cabe destacar que o sistema de referência e contrarreferência faz parte do sistema logístico, compreendido pelos sistemas de informação integrados em diversos níveis de atenção. Embora possua grande importância da RAS ainda apresenta desafios para sua efetivação e algumas vezes não estabelece o cuidado em rede como deveria. 41 Essa crítica está relacionada à formação dos profissionais de saúde, que ainda possuem uma visão fragmentada e biológica, com pouca construção de saúde por meio da interdisciplinaridade. Por isso, a mudança do currículo de saúde e a educação permanente dos profissionais que atuam no SUS é essencial para fortalecimento da integralidade do cuidado, da RAS e do sistema de referência e contrarreferência (MENDES, 2011). Com relação aos desafios, Mendes (2011, p. 106) afirma que: Os especialistas, no modelo de RAS, cumprem, em geral, o papel de interconsultor e de suporte para as ações da equipe de APS. As evidências demonstram que a atuação dos especialistas só agrega valor para as pessoas quando eles conhecem pessoalmente e trabalham conjuntamente com os generalistas. O modelo tradicional da referência e contrarreferência não é efetivo. Alguns casos, poucos no total, identificados nas diretrizes clínicas – em geral casos de maiores riscos – devem ficar sob os cuidados definitivos da equipe da atenção especializada. Atualmente, com a APS como porta de entrada, o usuário chega ao serviço e apresenta suas queixas. A partir da análise das queixas do usuário, o profissional irá se responsabilizar sobre o indivíduo e buscar a resolutividade da sua demanda. Sabe-se que 80 a 90% das demandas são resolvidas na APS, mas existem alguns casos que há necessidade de encaminhar o indivíduo para outro ponto de atenção para resolver o seu problema (STARFIELD, 2002). Alguns exames complementares, consultas especializadas, procedimentos e intervenções, como biópsias e cirurgias, necessitam de encaminhamento para serem efetivados. Espera-se, portanto, que haja comunicação entre os profissionais que atuam nas diferentes redes e as guias de referência e contrarreferência cumprem esse papel comunicador (MENDES, 2011). É interessante apontar que, embora, os profissionais da APS estabeleçam vínculo com o usuário e as unidades possuam o prontuário individual do paciente, esse prontuário não possui integração com outros pontos de atenção (GONÇALVES et al., 2013). Existem propostas no Ministério da Saúde para a elaboração de um prontuário eletrônico único, que facilitaria a compreensão do especialista acerca da saúde do paciente ao qual ele recebe. Entretanto, enquanto esse serviço não estiver implantado, as guias de referência e contrarreferência devem ser utilizadas para contribuir com o maior entendimento possível acerca da saúde do indivíduo. O profissional da APS que encaminhar o paciente para outro ponto de atenção deve registrar o quadro de maneira completa, com todos os dados necessários (MENDES, 2011). 42 É imprescindível destacar que um serviço de regulação estruturado e organizado evita os encaminhamentos desnecessários e direcionamentos equivocados, reduzindo o desperdício e aumentando a efetividade das redes (RIO DE JANEIRO, 2020, p. 1). ATENÇÃO 4.1 IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DOS DADOS NO SISTEMA DE REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA Quando um paciente é encaminhado para outro ponto de atenção por meio do sistema de referência e contrarreferência, ele leva em mãos um documento chamado de guia de referência e contrarreferência. Esse documento deverá conter os dados completos do paciente, como o nome completo, o nome da mãe, o cartão nacional do SUS, o endereço completo, a data de nascimento, a idade e outros documentos; além disso, deve constar o motivo do encaminhamento, considerando as condições clínicas atuais do paciente, os resultados de exames (com datas), o exame físico, as queixas do usuário e há quanto tempo ela persiste, os riscos (TORRALBO; JULIANI, 2016; OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021). Alguns dados importantes são os escores relevantes para o caso, como cálculo de risco cardiovascular pelo escore de risco global, taxa de filtração glomerular, mini exame do estado mental, entre outros; os medicamentos em uso ou utilizados que foram ineficazes ao tratamento, ou que apresentaram efeitos adversos; os exames solicitados que ainda não foram realizados ou não possuem resultados; condições crônicas de saúde associadas ou não ao quadro; além do objetivo do encaminhamento e qual resposta deseja alcançar (TORRALBO; JULIANI, 2016). Essas informações auxiliam a compreensão de quem recebe o usuário acerca do quadro do indivíduo. Também é possível informar questões subjetivas e de vulnera- bilidade social do paciente, bem como a existência ou não de uma rede de apoio. Cabe mencionar que os encaminhamentos curtos e sem muitos detalhes sobre a condição do paciente dificultam o entendimento do profissional que irá recebê-lo e faz com que as consultas sejam mais longas que o necessário, podem limitar o atendimento ou prejudi- car o usuário, devido à sobrecarga do especialista, da rede e frustrando o médico solici- tante que poderá ficar sem a resposta a sua solicitação (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021). De igual relevância, a contrarreferência deve ser preenchida pelo especialista que recebe o usuário no serviço especializado respondendo a solicitação do médico da APS por meio de hipóteses diagnósticas ou diagnósticos confirmados; de exames complementares que foram solicitados; de medicações que foram prescritas e outras condutas realizadas (SILVA et al., 2018). 43 Para que o sistema de referência e contrarreferência tenha melhor eficácia, algumas ferramentas do sistema logístico podem ser utilizadas, são elas: o cartão nacional do SUS; o prontuário clínico; os Sistemas de Regulação; e o Sistema de transporte em Saúde. Vamos apresentar cada um deles a seguir (MENDES, 2011). 4.1.1 Cartão Nacional do SUS (CNS) O cartão nacional do SUS (CNS) é um documento de identificação do usuário no SUS e contém informações como: nome completo, data de nascimento, nome da mãe/pai, CPF, RG, outras certidões (por exemplo, certidão de nascimento e certidão de casamento) endereço, telefone e e-mail. Essas informações precisam estar atualizadas e o mais completas possíveis para serem utilizadas no registro de referência e contrarreferência para identificar o usuário. O CNS é utilizado por diversos sistemas de informações e sua sistematização garante que se encontre o histórico de atendimentos do paciente. Alguns sistemas de informação que permitem a evidência do histórico do paciente são o prontuário eletrônico e o sistema de regulação (SISREG) (BRASIL, 2011b). A Portaria nº 940, de 28 de abril de 2011 regulamentou o Sistema Cartão Nacional de Saúde (Sistema Cartão) e definiu os seus objetivos como: I. identificar o usuário das ações e serviços de saúde; II. possibilitar o cadastramento dos usuários das ações e serviços de saúde, com validade nacional e base de vinculação territorial fundada no domicílio residencial do seu titular; III. garantir a segurança tecnológica da base de dados, respeitando-se o direito constitucional à intimidade, à vida privada, à integralidade das informações e à confidencialidade;IV. fundamentar a vinculação do usuário ao registro eletrônico de saúde para o SUS; e V. possibilitar o acesso do usuário do SUS aos seus dados (BRASIL, 2011b). A utilização do CNS possui as seguintes vantagens para o SUS e a RAS: agilidade na identificação do paciente, do seu prontuário, do registro de atendimento e no agendamento de consultas e exames; dispensação de medicamentos e vinculação dos profissionais, usuário, estabelecimento de saúde e atendimento (BRASIL, 2022a). É importante informar que a ausência do CNS, o seu desconhecimento pelo usuário ou a indisponibilidade do sistema para realizar o cadastramento do usuário na base de dados não deve ser uma barreira para o atendimento do usuário, pois o cadastramento ou identificação pode ser realizado posteriormente ao atendimento. IMPORTANTE 44 4.1.2 Prontuário Clínico O prontuário clínico do paciente é o local que deve ser registrado todo o atendimento prestado pelos profissionais de saúde, as queixas do paciente e suas questões subjetivas. A resolução CFM 1.638/2002 define o prontuário como “documento único constituído de um conjunto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre os membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo” (CFM, 2002, p. 1). O COFEN afirma que esse documento só será considerado legal se for datado e assinado pelo profissional que realizou a assistência e que sua utilização é indispensável para a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE). Ademais, deverá ser regis- trado no prontuário: como o paciente chegou, suas condições gerais, as orientações realizadas durante o atendimento, o exame físico, os cuidados realizados e as intercor- rências. Cabe destacar, que quando o prontuário for de papel não é permitido rasurar ou registrar a lápis, bem como realizar o registro de maneira ilegível (COFEN, 2016). Os prontuários clínicos podem ser em versão de papel ou eletrônica, embora a versão de papel apresenta algumas desvantagens, tais como: não ser acessível à distân- cia; só poder estar em um único lugar a cada tempo; pesquisa lenta; é sempre acumula- tivo, não é possível observar série histórica, ou seja o resumo dos registros; os sistemas administrativos como faturamento e agendamento requerem esforço manual de inte- gração; surgimento de vários prontuários em vários pontos de atenção à saúde para a mesma pessoa usuária, implicando problemas logísticos no manuseio dos prontuários; e informação nem sempre armazenada de forma consistente e uniforme. Já a versão infor- matizada tem diversas vantagens, pois torna-se menos custosa, com maior disponibilida- de para registro dos profissionais, maior vantagem na comunicação com outros sistemas de informações, facilitam a busca de informações e o planejamento de saúde por meio da extração de consolidados e relatórios. Por isso, sugere-se a utilização da versão eletrônica do prontuário, a fim de facilitar a comunicação entre a RAS (MENDES, 2011). 4.1.3 Sistemas de Regulação Os Sistemas de Regulação são mecanismos informatizados que sistematizam o sistema de referência e contrarreferência. Eles interferem na oferta dos serviços e auxiliam a demanda por serviços de saúde, garantindo a organização do acesso dos usuários na rede especializada de acordo com a classificação de risco e da qualificação dos encaminhamentos (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021). 45 Existem diversos sistemas com esse objetivo, alguns deles são os sistemas de regulação de internações hospitalares de urgência e emergência, os sistemas de regulação de internações eletivas e os sistemas de regulação de consultas e exames especializados. Em geral, a regulação desses sistemas ocorre na APS, devido a sua característica de coordenação e ordenação do cuidado nas RAS (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021; MENDES, 2011). O Sistema de Regulação (SISREG) é um exemplo de sistema de informação com essa finalidade e possui três módulos. Ele foi criado em 2001 pela Secretaria de Atenção à Saúde junto ao DATASUS e possibilita a distribuição das vagas disponíveis de maneira equânime, regionalizada e hierarquizada (CONASS, 2016). Seu módulo I, referente ao módulo ambulatorial, permite que os profissionais que atuam na APS solicitem consultas e exames especializados, que devem ser preenchidos com as informações contidas na guia de referência e contrarreferência – com a maior riqueza de detalhes possível, inclusive a classificação de risco do usuário –, a fim de garantir que o profissional que irá regular/agendar a consulta compreenda a necessidade do agendamento (CONASS, 2016). O módulo II consiste na regulação dos leitos hospitalares dos hospitais públicos e é por meio dele que são reservados os leitos hospitalares, tanto os de urgência quanto os eletivos. Dessa maneira, ocorre um controle do fluxo de pacientes internados, que é garantido por meio da emissão das Autorizações de Internação Hospitalar (AIH). Por fim, o módulo III refere-se à autorização dos procedimentos de alta complexidade (APAC) (CONASS, 2016). A Autorizações de Internação Hospitalar (AIH) é a ferramenta de obtenção de dados do Sistema de Informação Hospitalar (SIH). É por meio dela que o SIH armazena os dados referentes a internações hospitalares no SUS. NOTA 4.1.4 Sistema de Transporte em Saúde Segundo Mendes (2011, p. 149), “os sistemas de transportes em saúde têm como objetivo estruturar os fluxos e contrafluxos de pessoas e de produtos nas RAS. Esses sistemas devem transportar as pessoas usuárias em busca de atenção à saúde, mas, também, garantir o movimento adequado de material biológico, dos resíduos dos serviços de saúde e das equipes de saúde”. 46 Os transportes de pessoas possuem dois módulos: o de urgência e emergência, e o módulo do transporte eletivo. Você consegue pensar em algum sistema de transporte em saúde? O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) é um deles, e tem como objetivo chegar o mais rápido possível à vítima após a ocorrência de uma situação de urgência ou emergência em via pública, em residências ou locais de trabalho (BRASIL, 2023b). Nos casos de sistemas de transportes eletivos, serão disponibilizados à população de acordo com a característica do território e da RAS. Em alguns casos, em que há facilidade de locomoção do usuário, o município pode disponibilizar vale transporte ao invés de um transporte propriamente dito. É comum que esse recurso seja disponibilizado para pessoas acamadas, com dificuldade de locomoção ou em realização de procedimentos específicos, como hemodiálise. Nesses casos, geralmente trata-se de micro-ônibus, vans e outros meios de transportes coletivos (MENDES, 2011). No transporte de materiais podem ser incluídos os exames clínicos coletados, os imunobiológicos e os resíduos (lixo infectado). É necessário informar que o transporte desses materiais deve ser realizado conforme normas de controle de qualidade, evitando que haja prejuízo do material ou risco biológico, inclusive, com registro adequado da quantidade solicitada e transportada. Esse detalhe é importante para garantir a qualidade e a sistematização desses materiais na RAS (MENDES, 2011; ANVISA, 2018; 2021). 47 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • O que é, como funciona e as características da Rede de Atenção à Saúde (RAS). • A importância do princípio da integralidade para a RAS e os diferentes sentidos que o termo possui. • A relação da ESF com a integralidade, levando em consideração as diretrizes da APS. • Como funciona o sistema de referência e contrarreferência e quais as suas ferramentas. 48 AUTOATIVIDADE 1 As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são definidas pelo Ministério da Saúde como: “arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas,que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado” (BRASIL, 2010). Com base na Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A RAS é dividida em três elementos: a população, o território e os profissionais de saúde. b) ( ) A RAS é dividida em três elementos: a população, a estrutura operacional e o modelo de atenção à saúde. c) ( ) A RAS é dividida em três elementos: a atenção primária, a atenção secundária e a atenção terciária. d) ( ) A RAS é dividida em três elementos: universalidade, equidade e integralidade. 2 A Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010, estabelece as diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Sobre o exposto, analise as sentenças a seguir: I- A Atenção Primária possui um papel fundamental como coordenadora e ordenadora da RAS, sendo considerada como centro de comunicação. II- O CNS, o SISREG e o SAMU são considerados sistemas de apoio da RAS. III- O objetivo da RAS é promover a integração sistêmica, de ações e serviços de saúde com provisão de atenção contínua, integral, de qualidade, responsável e humanizada, bem como incrementar o desempenho do Sistema, em termos de acesso, equidade, eficácia clínica e sanitária; e eficiência econômica. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a sentença I está correta. b) ( ) As sentenças I e II estão corretas. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) As sentenças II e III estão corretas. 3 Segundo a Portaria nº 4.279. de 30 de dezembro de 2010, uma Atenção Primária de qualidade possui sete atributos. Considerando esses sete atributos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Integralidade. ( ) Abordagem familiar. ( ) Resolutividade. 49 ( ) Primeiro contato. ( ) Responsabilização. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – F – V – F. b) ( ) V – V – F – V – V. c) ( ) V – F – V – F – V. d) ( ) V – V – F – V – F. 4 A Atenção Primária à Saúde (APS) possui um papel fundamental para a Rede de Atenção à Saúde (RAS). Sendo assim, disserte sobre essa afirmativa, destacando os sete atributos de uma APS de qualidade. 5 Para a operacionalização da RAS, é necessária a existência de um sistema de referência e contrarreferência que serve como a comunicação entre os diversos pontos de atenção. Considerando o Sistema de Referência e Contrarreferência, disserte sobre a importância da qualidade dos dados. 50 51 TÓPICO 3 - ASSISTÊNCIA NA MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE EM SAÚDE 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 3, abordaremos a assistência de média e alta complexidade em saúde, que fazem parte da Rede de Atenção à Saúde (RAS) junto à Atenção Primária à Saúde (APS). Vimos que a APS é coordenadora do cuidado e, por isso, é por meio dela que o paciente pode percorrer os fluxos de atendimento de média e alta complexidade existentes no SUS. Primeiramente, iremos definir ambos os conceitos e apresentar as necessidades em alta e média complexidade, ou seja, por que encaminhar o usuário para a rede espe- cializada. Já sabemos que a APS é resolutiva em 80 a 90% dos casos acolhidos, sendo assim, os demais pacientes que procuram atendimento com algumas questões específi- cas deverão ser avaliados por um profissional especialista, na rede secundária ou terciária. Nessa lógica, após compreender as necessidades de alta e média complexi- dade, vamos relacionar ambas com a APS e, por fim, apresentar os componentes da média e alta complexidade. Alguns exemplos, são: a Política Nacional de Atenção às Urgências e Emergências na Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE); a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher; a Política Nacional de Atenção Cardiovascular e outros. UNIDADE 1 2 DEFINIÇÕES E NECESSIDADES NA MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE Segundo a Portaria nº 373 de 27 de fev. de 2002, a média complexidade (MC) compreende um conjunto de ações e serviços ambulatoriais e hospitalares que visam atender os principais problemas de saúde da população, cuja prática clínica demande a disponibilidade de profissionais especializados e a utilização de recursos tecnológicos de apoio diagnóstico e terapêutico, que não justifique a sua oferta em todos os municípios do país (BRASIL, 2002). Já a alta complexidade é um conjunto de procedimentos que, no contexto do SUS, envolve alta tecnologia e alto custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços qualificados, integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde (atenção básica e de média complexidade) (BRASIL, 2009b). Como você pode observar, tanto a média como a alta complexidade precisam de maior investimento tecnológico, por isso, para compreender a necessidade da utilização de 52 cada recurso, a APS – coordenadora do cuidado – deve avaliar criticamente a necessidade do paciente, analisando se a resolução do quadro pode ser efetivada na APS. De acordo com a Relação dos Procedimentos de Média Complexidade do SUS, esses são alguns exemplos de procedimentos realizados na média complexidade: amniocentese, biópsias, punções, ultrassonografias, colonoscopias, endoscopias, laparoscopia, histeroscopia, broncoscopia, traqueoscopia, cirurgias ambulatoriais especializadas, consulta de profissional especializado, terapias especializadas, próteses e órteses, anestesia, dentre outros (BRASIL, 2022b). Com relação à alta complexidade, encontrados no Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIA-SUS), podemos citar os seguintes exemplos: assistência ao paciente portador de doença renal crônica (por meio dos procedimentos de diálise); assistência ao paciente oncológico; cirurgia cardiovascular; cirurgia vascular; cirurgia cardiovascular pediátrica; procedimentos da cardiologia intervencionista; procedimentos endovasculares extracardíacos; laboratório de eletrofisiologia; assistência em traumato-ortopedia, procedimentos de neurocirurgia; assistência em otologia; cirurgia de implante coclear; cirurgia das vias aéreas superiores e da região cervical; cirurgia da calota craniana, da face e do sistema estomatognático; procedimentos em fissuras labiopalatais; reabilitação protética e funcional das doenças da calota craniana, da face e do sistema estomatognático; procedimentos para a avaliação e tratamento dos transtornos respiratórios do sono; assistência aos pacientes portadores de queimaduras; assistência aos pacientes portadores de obesidade (cirurgia bariátrica); cirurgia reprodutiva; genética clínica; terapia nutricional; distrofia muscular progressiva; osteogênese imperfeita; fibrose cística e reprodução assistida (BRASIL, 2009b). Portanto, após ler os exemplos citados provavelmente você percebeu que os procedimentos de média e alta complexidade, geralmente, não são encontrados na APS. Por essa razão é necessário realizar o encaminhamento dos usuários sempre que for necessário realizar um desses procedimentos. Cabe destacar que, conforme vimos no Tema de Aprendizagem 2, as guias de referência e contrarreferência devem ser preenchidas com a maior quantidade de informações possíveis, justificando a necessidade de encaminhar o usuário para a rede especializada e não transformando a rede especializada em porta de entrada ou ordenadora do cuidado com o usuário (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021). A Secretaria de Atenção Primária à Saúde deixa claro a divisão da rede especializada entre média e alta complexidade, na qual a média complexidade é composta por serviços especializados encontrados em hospitais e ambulatórios e envolve atendimento direcionado para áreas como pediatria, ortopedia, cardiologia, oncologia, neurologia, psiquiatria, ginecologia, oftalmologia entre outras especialidades médicas e Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24h). As policlínicas, os hospitais e os centros de atendimento com equipamentos para examesmais avançados, citados anteriormente com a Relação dos Procedimentos de Média Complexidade do SUS. A alta 53 complexidade é composta por hospitais gerais de grande porte, bem como os hospitais universitários, as Santas Casas e as unidades de ensino e pesquisa. Em geral, esses locais possuem tecnologias mais avançadas e estruturas de alta complexidade, com leitos de UTI e centros cirúrgicos, serviços de oncologia, cardiovascular, transplantes e partos de alto risco (BRASIL, 2022). 2.1 NECESSIDADES NA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE DE MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE Compreender as necessidades na assistência em saúde de média e alta complexidade é saber que essas questões estão, geralmente, relacionadas a macropolítica e não devem ser analisadas de maneira isolada. Todas as necessidades devem ser vistas como maneiras de planejar melhorias para a saúde pública, por isso, o primeiro passo para levantar as necessidades da assistência na rede especializada é propor um diagnóstico situacional de saúde. Quando você sabe os principais problemas da sua região pode avaliar as necessidades da média e da alta complexidade e definir as prioridades para o planejamento em saúde (CONASS, 2007). Cabe pontuar que o planejamento é inerente ao processo de trabalho de todos os profissionais de saúde. O enfermeiro, principalmente, já inicia sua carreira como líder de uma equipe e precisa planejar o processo de trabalho e compreender as demandas e diagnósticos do território. A hierarquização e a regionalização, por exemplo, diretrizes do SUS, dependem do conhecimento acerca do diagnóstico de saúde da população para organizarem os serviços na RAS. Ou seja, a organização da APS, da média e da alta com- plexidade serão estabelecidas de acordo com a demanda da população (CONASS, 2007). As demandas da população demonstram as suas condições e, por geralmente, estarem relacionadas aos determinantes sociais de saúde (DSS) influenciam com a saúde da população. Para lembrar, os DSS são: “a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais para a saúde” (BRASIL, 2013). De acordo com Tancredi, Barros e Ferreira (1998), essas informações devem expressar as diferentes características que evidenciam as condições de vida dessa população, sejam culturais, sociais, econômicas e epidemiológicas, e que são responsáveis pela geração de suas demandas de saúde. Existem diversos métodos de planejamento em saúde. Um dos métodos utilizados é o de Planejamento Estratégico Situacional (PSE), elaborado por Matus (1993), que divide-se em quatro momentos: o explicativo, o normativo, o estratégico e o tático-operacional. O momento explicativo refere-se à identificação dos problemas, a discussão acerca das causas e a definição das suas prioridades; o normativo trata da definição dos objetivos e das estratégias para resolução dos problemas; o momento 54 estratégico trata da elaboração das ferramentas que viabilizem que as estratégias sejam elaboradas; e o momento tático-operacional é a execução do plano propriamente dito, bem como seu monitoramento e avaliação (BUSATO, 2017). Nessa lógica, após identificação dos problemas de saúde, o enfermeiro poderá analisar suas causas e determinar a prioridade de melhorias e resoluções para esses problemas. Posteriormente, o enfermeiro junto a equipe multiprofissional define objetivos e estratégias para estabelecer as melhorias para a população, que serão seguidos pela elaboração das ferramentas que viabilizem o plano. Ou seja, após definir os problemas, os objetivos e as estratégias o profissional deverá analisar se essa estratégia é viável e quais os recursos que precisará para atingi-lo – seja ele um recurso material, humano, dentre outros – e só depois desse passo poderá colocar o plano em prática. Lembrando que o plano deverá ser monitorado e reavaliado regularmente, pois caso seja necessário são criadas novas propostas de melhorias. Agora é sua vez! Pense em algum problema identificado na área da sua residência ou da região de onde trabalha e defina os quatro passos do PES para testar sua compreensão acerca dessa temática. Em geral, a maioria dos problemas são mais fáceis de serem identificados no território quando você atua em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) – seja ela uma ESF ou não – ou em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), pois recebem o paciente em demandas espontâneas. Nesses locais, os profissionais atuantes podem verificar um paciente que chega frequentemente no serviço com uma queixa específica e que não conseguiu entrada na rede especializada para tratamento, por exemplo (MENDES, 2011). Se você atua ou já atuou em alguma dessas unidades talvez tenha percebido a queixa de pacientes que não conseguem realizar algum exame específico ou alguma consulta especializada. Isso acontece pois, embora haja um sistema de referência e contrarreferência, pode ocorrer de alguma área estar fragilizada no território e apresentar deficiência em leitos ou vagas de atendimento ou não possuir um prestador de serviço. Quando isso acontece, é indispensável apontar para uma instância superior a fim de auxiliar no planejamento de melhorias para a região e reduzir as queixas, demandas e necessidades da população com relação à média e a alta complexidade. Você consegue pensar em outra maneira para identificação de necessidades da população na rede especializada? Essa é comum a diversos setores e não só a área da saúde: as ouvidorias. É por meio delas que os gestores podem identificar as angústias da população, como, as filas de espera e a demanda reprimida. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), fez o levantamento de quatro situações que de- mandam soluções de um gestor: “a inexistência de determinados procedimentos de saúde em uma região; a insuficiência dos serviços de saúde existentes; a capacidade existente é adequada (física e humana), mas com insuficiência de recursos financeiros para custeio; e a oferta de serviços superior às necessi- 55 dades” (BRASIL, 2011a, p. 27-29). Todas essas circunstâncias geram necessidades para a população e precisam ser avaliadas pelos gestores, para elaboração de estratégias e melhorias para que sejam cumpridos os princípios do SUS (CONASS, 2007). No primeiro caso, considerando a ausência do serviço na rede pública e privada, o gestor deverá avaliar a necessidade e a capacidade da região para comportar o investimento. Caso veja a necessidade de criar um serviço específico, ele deverá ser apontado no Plano Diretor de Regionalização (PDR). Nas situações em que não há demanda suficiente que justifique o gasto, ou que o município não possua recursos para gerenciar o serviço, o paciente pode ser direcionado para outro município por meio da Programação Pactuada Integrada (PPI) e do pacto intergestores. Quando o serviço existe, mas é ofertado de maneira insuficiente – segunda situação –, geralmente deve ser avaliado no PDR. Essa situação é comum, devido ao crescimento do SUS e ao aumento da demanda de usuários que passaram a ser atendidos no serviço público (BRASIL, 2002; CONASS, 2007). O PDR é o instrumento de gestão, estabelecido pela NOAS 01 para orde- nar o processo de regionalização da assistência em cada estado e no Dis- trito Federal, considerando primeiramente as prioridades de intervenção por meio da identificação das necessidades de saúde da população com objetivo de garantir acesso dos cidadãos a todos os níveis de atenção. Sendo assim, ele é responsável por organizar os territórios estaduais em regiões/microrregiões e módulos assistenciais em conformidade com a diretriz de hierarquização, estabelecendo fluxos de referência e contrar- referência intermunicipais, para garantir a integralidade da assistência e o acesso da população de acordo com suas demandas (BRASIL, 2002). NOTA O terceiro caso está relacionado à capacidade existente e adequada(física e humana), mas com insuficiência de recursos financeiros para custeio e trata-se de uma situação bem comum em grandes centros urbanos, pois já possuíam os recursos, mesmo com uma baixa demanda e após apresentarem um aumento dessa demanda passam a ter dificuldade de crescimento. Nessa circunstância, é necessário investimento financeiro, que deve ser negociado politicamente e o planejamento pautado na necessidade da população. Por último, a oferta de serviços superior às necessidades é identificada em locais que não realizaram um bom planejamento em saúde e construíram serviços em excesso, além de sua demanda. Essa situação pode gerar prejuízo por investir em setores de alta complexidade e deixar a desejar na resolutividade da assistência, pois os pacientes que podem ser tratados na APS são tratados nas redes hospitalares e gerando desperdício de recursos públicos (CONASS, 2007). 56 3 RELAÇÃO ENTRE A ASSISTÊNCIA NA MÉDIA E NA ALTA COMPLEXIDADE É provável que você já tenha compreendido a relação entre a assistência na média e na alta complexidade. No geral, ambas compõem a rede especializada em saúde – que compõe serviços de maior complexidade e que necessitam de um maior investimento financeiro que a APS – e recebem pacientes vindos das Unidades Básicas de Saúde (UBS), com exceção das Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24 horas), que também acolhem usuários para atendimento de demandas espontâneas. Então, para compreender essa relação é necessário avaliar a relação da rede especializada (média e alta complexidade) com a APS (CONASS, 2007). Agora observe na região em que você mora quantos serviços de APS, de média e de alta complexidade existem. É comum que existam menos hospitais, pois espera-se que a APS acolha os usuários e possa garantir a resolutividade da demanda do indivíduo, sem a necessidade de uma internação. Outro ponto interessante é que a APS tem compromisso com a prevenção e a promoção à saúde, a fim de evitar o adoecimento ou a estratificação das condições crônicas de saúde (CONASS, 2007). Esse cuidado, multiprofissional, que é esperado das eSF desencadeia uma maior qualidade de vida para a população e um número reduzido de internações hospitalares, como consequência, um menor gasto público. Um APS forte oferece melhores resultados, eficiência, menores custos e maior qualidade de atendimento em comparação com outros modelos. Segundo Rouquayrol (2018, p. 270): O fortalecimento dos sistemas de atenção à saúde para a abordagem de DCNT inclui o fortalecimento da atenção primária, articulando os demais níveis de atenção e as redes de serviços. Compreende-se a importância da atenção primária em saúde na realização de ações de promoção, vigilância em saúde, prevenção e assistência, com ênfase no acompanhamento longitudinal. Entretanto, a assistência aos portadores de DCNT pode ser realizada em qualquer outro nível do sistema (urgência, unidades especializadas e hospital, incluindo o domicílio). Para a garantia da integralidade da assistência, todos os níveis do sistema deveriam ser integrados e articulados. DCNT significa Doenças Crônicas Não Transmissíveis. Alguns exemplos são: a hipertensão, a diabetes, o câncer, a doença pulmonar obstrutiva crônica, a asma, dentre outras. NOTA 57 Nesse sentido, embora o SUS estabeleça a APS como coordenadora do serviço, a RAS deve funcionar à medida que tanto as unidades básicas e saúde, quanto a média e a alta complexidade estejam em pleno funcionamento de acordo com a demanda da população, ou seja, não há uma ordem de importância entre a atenção primária, secundária e terciária. Sendo assim, a relação entre a média e a alta complexidade depende de uma rede organizada e estruturada conforme os princípios estabelecidos por ela e com incentivo às ações de prevenção e promoção à saúde, evitando maiores gastos com tratamentos e reabilitações (BRASIL, 2010). Considere a seguinte situação: você é enfermeiro em uma eSF e conhece o diagnóstico populacional do seu território. Para realizar o planejamento em saúde da população sobre sua responsabilidade, você identifica que há um número acentuado de pessoas com diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2. Como estratégia para melhoria do cuidado desses pacientes, você resolve realizar as seguintes estratégias: • Construir um grupo para pacientes que convivem com diabetes (incluindo, então, os familiares de pessoas com diabetes). • Estratificar o risco dos pacientes que possuem essa condição crônica conforme as principais causas de complicações: nefropatia diabética, retinopatia diabética e neuropatia diabética. • Criar um plano de cuidado para os indivíduos com maior gravidade a fim de editar complicações. • Realizar atividades de promoção à saúde no território para incentivar hábitos saudáveis e a redução da incidência do diabetes. As estratégias vão reduzir a internação de pacientes com quadro de hiperglice- mia e de complicações relacionadas à diabetes. Espera-se que as estratégias reduzam as internações de pacientes com quadro de hiperglicemia e as complicações relaciona- das à diabetes – por exemplo, as amputações – por meio de exames de glicemia dentro das metas estabelecidas. Apesar das estratégias apresentadas, caso o indivíduo apresente complicações a RAS deve estar estruturada para acolher o paciente (CONASS, 2007). Nesse sentido, um paciente que apresente nefropatia diabética precisará ser encaminhado ao neurologista por meio do sistema de referência e contrarreferência. Além disso, um paciente que é acolhido na eSF ou na UPA com um quadro de necrose em hálux será direcionado para rede hospitalar para avaliação de possível amputação. Essa ideia justifica a importância da rede, do pleno funcionamento da APS, da média e da alta complexidade, bem como da integralidade. 58 4 COMPONENTES DA MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE Agora que já entendemos a lógica da RAS e a funcionalidade da APS e da rede especializada vamos apresentar os componentes da média e da alta complexidade, que estão relacionadas às Políticas Nacionais de Saúde e podem estar relacionadas a: • tipos de problemas de saúdes (exemplos: doenças cardiovasculares, câncer, doença renal, dentre outros); • tipo de serviço (exemplos: urgência/emergência, traumato-ortopedia, dentre outros); • áreas de atenção (exemplos: saúde bucal, saúde do portador de deficiência, dentre outros); • segmentos populacionais (exemplos: mulher, criança, idoso, dentre outros) (CONASS, 2007). Confira a coleção “Para Entender a Gestão do SUS”, com os seguintes componentes (CONASS, 2007): 1. Política Nacional de Atenção Cardiovascular. 2. Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. 3. Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Renal. 4. Política Nacional de Procedimentos Eletivos de Média Complexidade. 5. Política Nacional de Atenção Oncológica. 6. Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência. 7. Política Nacional de Saúde Bucal. 8. Política Nacional de Atenção de Alta Complexidade em Traumato-Ortopedia. 9. Política Nacional de Atenção às Urgências. 10. Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Neurológica. 11. Política Nacional para Hospitais de Pequeno Porte. 12. Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. 13. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. 14. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. 15. Política Nacional de Saúde Mental. 16. Política Nacional de Atenção Integral Genética Clínica. 17. Política Nacional de Oftalmologia. 4.1 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO CARDIOVASCULAR A Política Nacional de Atenção Cardiovascular envolve as três esferas do governo, além disso, se inicia por meio da coordenação do cuidado da APS e atinge a alta complexidade, por meio da Portaria GM/MS n. 1.169/2004, que instituiu a Política Nacional de Atenção Cardiovascular de Alta Complexidade. Essa política tem os seguintes objetivos: 59 • Organizar a linha de cuidado com a participação de todos os níveis de atenção,ou seja, da unidade básica de saúde, do ambulatório, de emergências ou hospitais. • Construir redes regionalizadas e hierarquizadas a fim de garantir a integralidade da assistência. • Aumentar a cobertura das pessoas em condição cônica cardiovascular. • Criar maneiras de avaliar, controlar, regular e monitorar os serviços de atendimento cardiovascular. • Criar uma câmara técnica para acompanhar essa política. 4.2 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE AUDITIVA Você sabia que existe uma política específica para a saúde auditiva? Ela foi elaborada considerando a Política Nacional da Pessoa Portadora de Deficiência (Portaria GM/MS nº 1.060/2002), por meio da Portaria GM/MS nº 2.073/2004. Segundo ela, a portaria é dividida pelos seguintes componentes: I. “atenção básica: realizar ações de caráter individual ou coletivo, voltadas para a promoção da saúde auditiva, da prevenção e da identificação precoce dos problemas auditivos, bem como ações informativas, educativas e de orientação familiar; II. média complexidade: realizar triagem e monitoramento da au- dição, da atenção diagnóstica e da terapêutica especializada, ga- rantidas a partir do processo de referência e contrarreferência do paciente portador de deficiência auditiva, excluindo o diagnóstico e a protetização de crianças até três anos de idade, pacientes com afecções associadas (neurológicas, psicológicas, síndromes ge- néticas, cegueira, visão subnormal) e perdas auditivas unilaterais, ações, para cujo desempenho neste nível de atenção será criado o Serviço de Atenção à Saúde Auditiva na Média Complexidade; e III. alta complexidade: realizar atenção diagnóstica e terapêutica especializada, garantidas a partir do processo de referência e contrarreferência do paciente portador de deficiência auditiva, ações, para cujo desempenho neste nível de atenção será criado o Serviço de Atenção à Saúde Auditiva na Alta Complexidade (BRASIL, 2004a). 4.3 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO AO PORTADOR DE DOENÇA RENAL A Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Renal foi elaborada pela Portaria GM/MS nº 1168, de 15 de junho de 2004, que divide a política nos seguintes componentes: I. “atenção básica: realizar ações de caráter individual ou coletivo, voltadas para a promoção da saúde e prevenção dos danos, bem como as ações clínicas para o controle da hipertensão arterial, do diabetes mellitus e das doenças do rim que possam ser realizadas neste nível. Tais ações terão lugar na rede de serviços básicos de saúde (Unidades Básicas de Saúde e Equipes da Saúde da 60 Família). De acordo com a necessidade local, o gestor poderá instituir uma equipe de referência da atenção básica com a função de tutoria e, ou referência assistencial à rede de serviços básicos de saúde, cuja regulamentação será definida em portaria da Secretaria de Atenção à Saúde; II. média complexidade: realizar atenção diagnóstica e terapêutica especializada garantida a partir do processo de referência e contrarreferência do portador de hipertensão arterial, de diabetes mellitus e de doenças renais. Essas ações devem ser organizadas segundo o Plano Diretor de Regionalização (PDR) de cada unidade federada e os princípios e diretrizes de universalidade, equidade, regionalização, hierarquização e integralidade da atenção à saúde. Para desempenhar as ações neste nível de atenção, o gestor poderá instituir um Centro de Referência especializado em hipertensão e diabetes, cuja regulamentação será definida em portaria da Secretaria de Atenção à Saúde; III. alta complexidade: garantir o acesso e assegurar a qualidade do processo de diálise visando alcançar impacto positivo na sobrevida, na morbidade e na qualidade de vida e garantir equidade na entrada em lista de espera para transplante renal. A assistência na alta complexidade se dará por meio dos Serviços de Nefrologia e dos Centros de Referência em Nefrologia, cuja regulamentação será definida em portaria da Secretaria de Atenção à Saúde” (BRASIL, 2004b). 4.4 POLÍTICA NACIONAL DE PROCEDIMENTOS ELETIVOS DE MÉDIA COMPLEXIDADE Essa política foi instituída por meio da Portaria nº 486, de 31 de março de 2005. Posteriormente, diversas portarias foram criadas a fim de definir os procedimentos cirúrgicos prioritários no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS. A Portaria vigente é a nº 1.388, de 9 de junho de 2022, que define os procedimentos cirúrgicos prioritários no âmbito do Sistema Único de Saúde, estabelece recurso do Bloco de Manutenção das Ações e Serviços Públicos de Saúde – Grupo de Atenção Especializada – a ser incorporado ao limite financeiro de Média e Alta Complexidade – MAC – dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, altera e exclui atributos e inclui procedimento na Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Prótese e Materiais Especiais do SUS. Ela define como: procedimentos cirúrgicos prioritários no âmbito do SUS aqueles estabelecidos conjuntamente pelas esferas de gestão do Sistema como de grande demanda reprimida e causas de filas de espera significativas, compondo, portanto, gargalos ao provimento do cuidado no tempo oportuno e constituindo, dessa forma, objeto de implementação de estratégias efetivas com o potencial de aprimorar acesso e qualidade assistencial (BRASIL, 2022b). 61 Para saber mais acerca da Política Nacional De Procedimentos Eletivos De Média Complexidade, acesse: Portaria nº 486, de 31 de março de 2005 e Portaria GM/MS nº 1.388, de 9 de junho de 2022 DICA 4.5 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ONCOLÓGICA A Política Nacional de Atenção Oncológica, instituída pela Portaria GM/MS n. 2439/2005, foi revogada pela Portaria nº 874, de 16 de maio de 2013. Essa portaria organiza a política em cinco componentes: atenção básica; atenção especializada; atenção domiciliar; sistemas de apoio; regulação; sistemas logísticos e governança. Com relação à rede especializada, que abrange média e alta complexidade, a portaria diz que essa composição da política é dividida em atenção ambulatorial, hospitalar e rede de urgência e emergência, conforme a disposição a seguir: 1. Atenção Ambulatorial: composto por conjunto de serviços que caracterizam o segundo nível de atenção, qual seja de média complexidade, e que realizam o atendimento especializado, exames para diagnóstico do câncer, apoio terapêutico e o tratamento de lesões precursoras; 2. Atenção Hospitalar: composto pelos hospitais habilitados como UNACON e CACON e pelos Hospitais Gerais com Cirurgia Oncológica, onde são oferecidos os tratamentos especializados de alta complexidade e densidade tecnológica para as pessoas com câncer, os quais devem ser estruturados considerando-se os dados epidemiológicos, as lógicas de escala, de escopo e de acesso, respeitando-se a conformação das redes regionalizadas de atenção à saúde; 3. Rede de Urgência e Emergência: responsável por prestar cui- dado às pessoas com câncer nas suas agudizações e, sempre que necessário, encaminhá-los para a UNACON ou o CACON respon- sável por seu cuidado, ou ainda, para o hospital geral de referên- cia, sendo que os usuários que buscarem um serviço de urgência e emergência e, no momento do atendimento, forem diagnostica- dos com suspeita de câncer devem ter assegurados encaminha- mento e, se necessário, transferência para uma UNACON ou um CACON, ou um hospital geral de referência (BRASIL, 2013a). 4.6 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA A Política Nacional De Saúde Da Pessoa Portadora De Deficiência foi instituída pela Portaria MS/GM nº 1.060, de 5 de junho de 2002. As pessoas com deficiência têm direito ao encaminhamento para serviços mais complexos; a receber assistência específica nas unidades especializadas de média e alta complexidade, para reabilitação https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2005/prt0486_31_03_2005.html#:~:text=Institui a Pol%C3%ADtica Nacional de,Complexidade e d%C3%A1 outras provid%C3%AAncias.&text=Considerando a Portaria n%C2%BA627,Art. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2022/prt1388_10_06_2022.html#:~:text=Os procedimentos cir%C3%BArgicos priorit%C3%A1rios no %C3%A2mbito do SUS s%C3%A3o aqueles,constituindo%2C dessa forma%2C objeto de https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2022/prt1388_10_06_2022.html#:~:text=Os procedimentos cir%C3%BArgicos priorit%C3%A1rios no %C3%A2mbito do SUS s%C3%A3o aqueles,constituindo%2C dessa forma%2C objeto de 62 física, auditiva, visual e intelectual; como também às ajudas técnicas, órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção de que necessitem, complementando o trabalho de reabilitação e as terapias (BRASIL, 2010b). Com relação à rede especializada, a portaria define as particularidades da rede secundária e terciária da seguinte maneira: • Atenção secundária: Tratamento em reabilitação para os casos referendados, mediante atuação de profissional especializado para tal e utilização de tecnologia apropriada (tais como fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, avaliação e acompanhamento do uso de órteses e próteses, entre outros). • Atenção terciária (ambulatorial e hospitalar): Atendimento aos ca- sos de reabilitação cujo momento da instalação da incapacidade, o seu tipo e grau justifiquem uma intervenção mais frequente e inten- sa, requerendo, portanto, tecnologia de alta complexidade e recursos humanos mais especializados. Será importante que os serviços nes- se nível tenham caráter docente e assistencial, vinculado aos centros universitários ou formadores de recursos humanos (BRASIL, 2011a). 4.7 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL A Política Nacional de Saúde Bucal, Brasil Sorridente, é organizada da seguinte maneira: Figura 2 – Política nacional de saúde bucal Fonte: https://aps.saude.gov.br/ape/brasilsorridente. Acesso em: 19 abr. 2023. A atenção especializada dessa política é composta por: Centros de Especialidades Odontológicas (CEO), Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias e Assistência Hospitalar; regulamentada pela Portaria nº 599 de 23 de março de 2006. https://aps.saude.gov.br/ape/brasilsorridente 63 4.8 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO DE ALTA COMPLEXIDADE EM TRAUMATO-ORTOPEDIA Essa política foi instituída por meio da Portaria GM/MS nº 221/2005, que informa que a Rede de Atenção de Alta Complexidade em Traumato-Ortopedia divide-se em: Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Tráumato-Ortopedia; e Centros de Referência de Alta Complexidade em Traumato-Ortopedia. Essas unidades deverão: I. oferecer condições técnicas, instalações físicas, equipamentos e recursos humanos adequados à prestação de assistência espe- cializada a doentes de afecções do sistema músculo-esquelético; II. desenvolver articulação e integração com o sistema local e regional de atenção à Saúde; e III. respeitar os critérios determinados pela Política Nacional de Humanização do SUS (BRASIL, 2005b). Vale ainda destacar o § 1° da Portaria nº 90, de 27 de março de 2009: “§ 1° Entende-se por Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Traumatologia e Ortopedia o hospital geral ou especializado que possua condições técnicas, instalações fí- sicas, equipamentos e recursos humanos capazes de prestar assistência em traumatologia e ortopedia. § 2º Entende-se por Centro de Referência em Traumatologia e Ortopedia de Alta Com- plexidade o hospital geral ou especializado em Traumatologia e Ortopedia, devidamente credenciado e habilitado como Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Trauma- tologia e Ortopedia, que exerça o papel auxiliar, de caráter técnico, ao gestor do SUS na Po- lítica de Atenção em Traumatologia e Ortopedia e possua também os seguintes atributos: I- Ser hospital de ensino, certificado pelo Ministério da Saúde e Ministério da Educação, de acordo com a Portaria Interministerial MEC/MS nº. 2.400, de 02 de outubro de 2007; e oferecer Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia ou Educação Continuada voltada às necessidades do SUS nas diferentes áreas da assistência em traumatologia e ortopedia; II- Ter estrutura de pesquisa e ensino organizada, com programas e protocolos clínicos, técnicos e operacionais estabelecidos; III- Subsidiar os Gestores Locais do SUS nas ações de regulação, controle, ava- liação e auditoria na atenção em Traumatologia e Ortopedia, inclusive em estudos de qualidade e de custo-efetividade; e IV- Participar do desenvolvimento e capacitação profissional em parceria com o gestor local do SUS. Art. 2º As Unidades de Assistência e os Centros de Referência em Traumatolo- gia e Ortopedia podem prestar atendimento nos serviços descritos a seguir: a- Serviço de Traumatologia e Ortopedia. b- Serviço de Traumatologia e Ortopedia Pediátrica (até 21 anos de idade). c- Serviço de Traumatologia e Ortopedia de Urgência” (BRASIL, 2009b). NOTA 64 4.9 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS A Política Nacional de Atenção às urgências passou por portarias precursoras até ser realmente instituída, por meio da Portaria GM/MS nº 1863/2003, que organiza as redes de atenção integral às urgências, com os seguintes componentes: Pré- Hospitalar Fixo, Pré-Hospitalar Móvel, Hospitalar e Pós Hospitalar, definidas pelos seguintes serviços: • Pré-Hospitalar Fixo: unidades básicas de saúde e unidades de saúde da família, equipes de agentes comunitários de saúde, ambulatórios especializados, serviços de diagnóstico e terapias, e Unidades Não-Hospitalares de Atendimento às Urgências, conforme Portaria GM/MS nº 2.048, de 5 de novembro de 2002; • Pré-Hospitalar Móvel: Samu – Serviço de Atendimento Móvel de Urgências e os serviços associados de salvamento e resgate, sob regulação médica de urgências e com número único nacional para urgências médicas - 192; • Hospitalar: portas hospitalares de atenção às urgências das unidades hospitalares gerais de tipo I e II e das unidades hospitalares de referência tipo I, II e III, bem como toda a gama de leitos de internação, passando pelos leitos gerais e especializados de retaguarda, de longa permanência e os de terapia semi-intensiva e intensiva, mesmo que esses leitos estejam situados em unidades hospitalares que atuem sem porta aberta às urgências; • Pós-Hospitalar: modalidades de Atenção Domiciliar, Hospitais- Dia e Projetos de Reabilitação Integral com componente de reabilitação de base comunitária (BRASIL, 2006b). Para saber mais acerca da Política Nacional de Atenção às urgências, aces- se: https://bit.ly/3N9nuSx DICA 4.10 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO AO PORTADOR DE DOENÇA NEUROLÓGICA A Política Nacional De Atenção ao Portador de Doença Neurológica foi instituído pela Portaria GM/MS nº 1.161/2005, contendo como componente de média complexidade as ações de atenção diagnóstica e terapêutica especializada, organizadas segundo o Plano Diretor de regionalização (PDr); e a alta complexidade os procedimentos neurológicos, neurointervencionistas e neurocirúrgicos, assistidas por unidades de assistência de alta complexidade em neurocirurgia e de centros de referência de alta complexidade em neurologia (BRASIL, 2011a). 65 Para saber mais acerca da Política Nacional De Atenção ao Portador de Doença Neurológica, acesse: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ gm/2005/prt1161_07_07_2005.html Para saber mais acerca da Política Nacional para Hospitais de Peque- no Porte, acesse: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2004/ prt1044_01_06_2004.html DICA DICA 4.11 POLÍTICA NACIONAL PARA HOSPITAIS DE PEQUENO PORTE A Política Nacional para Hospitais de Pequeno Porte foi instituída pela Portaria GM/MS nº 1.044/2004 e compõe os hospitais que possuem de cinco a trinta leitos, da rede pública ou privada sem fins lucrativos, estar localizado em municípios ou microrregiões com até 30.000 habitantes e que possuem cobertura da ESF acima de 70% (BRASIL, 2004c). 4.12 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA Talvez você já tenha ouvido falar de muitas portarias que envolvem a saúde do idoso, referente às pessoas com mais de60 anos, garantindo a integralidade da sua assistência. No entanto, a atual Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa foi aprovada por meio da Portaria GM/MS nº 2.528/2006, que tem como objetivo a elaboração de uma linha de cuidado com foco no usuário, baseado em seus direitos, necessidades, preferências e habilidades; criando fluxos e acessibilidade em todos os níveis de atenção e infraestrutura adequada, bem como insumos e profissionais qualificados para atuação na rede (BRASIL, 2006c). Embora a política abranja toda a rede, vamos citar as características na média e alta complexidade, que são: Reestruturação e implementação das redes estaduais de atenção à saúde da pessoa idosa, visando à integração efetiva com a atenção primária e os demais níveis de atenção, garantindo a integralidade https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2005/prt1161_07_07_2005.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2005/prt1161_07_07_2005.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2004/prt1044_01_06_2004.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2004/prt1044_01_06_2004.html 66 da atenção, por meio do estabelecimento de fluxos de referência e contrarreferência; implementação, de forma efetiva, de modalidades de atendimento que correspondam às necessidades da população idosa, com abordagem multiprofissional e interdisciplinar, sempre que possível; e contemplação de fluxos de retaguarda para a rede hospitalar e demais especialidades, disponíveis no Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2011a, p. 116-117). 4.13 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER Como já falamos em outro momento, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) teve uma trajetória até ser elaborada. Anteriormente, ela não contava com muitos pontos que hoje possui, pois era relacionada somente à saúde reprodutiva das mulheres. A rede possui componentes de Atenção Básica e da rede especializada. Nesse caso, os componentes de média e alta complexidade do PAISM, são: • Sistemas Estaduais De Referência Hospitalar no Atendimento da Gestante de Alto Risco, composta por Unidades de Referência Secundária e Unidades de Referência Terciária. • Planejamento familiar/reprodutivo. • Humanização no pré-natal e nascimento. • Fluxo de credenciamento (BRASIL, 2016). Para saber um pouco mais acerca da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – PAISM –, acesse: https://bit.ly/44a1wFc DICA 4.14 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem foi instituída por meio da Portaria GM/MS nº 1944/ 2009 e assim como a PAISM leva em consideração a integralidade da assistência, ou seja, o atendimento da APS, na média e na alta complexidade. Os objetivos dessa política são: 67 Para saber um pouco mais acerca da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, acesse: https://bit.ly/3NbA8AE DICA I. Promover a mudança de paradigmas no que concerne à percepção da população masculina em relação ao cuidado com a sua saúde e a saúde de sua família; II captar precocemente a população masculina nas atividades de prevenção primária relativa às doenças cardiovasculares e cânceres, entre outros agravos recorrentes; III. organizar, implantar, qualificar e humanizar, em todo o território brasileiro, a atenção integral à saúde do homem; IV. fortalecer a assistência básica no cuidado com o homem, facilitando e garantindo o acesso e a qualidade da atenção necessária ao enfrentamento dos fatores de risco das doenças e dos agravos à saúde; V. capacitar e qualificar os profissionais da rede básica para o correto atendimento à saúde do homem; VI. implantar e implementar a atenção à saúde sexual e reprodutiva dos homens, incluindo as ações de planejamento e assistência às disfunções sexuais e reprodutivas, com enfoque na infertilidade; VII. ampliar e qualificar a atenção ao planejamento reprodutivo masculino; VII. estimular a participação e a inclusão do homem nas ações de planejamento de sua vida sexual e reprodutiva, enfocando as ações educativas, inclusive no que toca à paternidade; IX. garantir a oferta da contracepção cirúrgica voluntária masculina nos termos da legislação específica; X. promover a prevenção e o controle das doenças sexualmente transmissíveis e da infecção pelo HIV; XI. garantir o acesso aos serviços especializados de atenção secundária e terciária; XII. promover a atenção integral à saúde do homem nas populações indígenas, negras, quilombolas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, trabalhadores rurais, homens com deficiência, em situação de risco, e em situação carcerária, entre outros; XIII. estimular a articulação das ações governamentais com as da sociedade civil organizada, a fim de possibilitar o protagonismo social na enunciação das reais condições de saúde da população masculina, inclusive no tocante à ampla divulgação das medidas preventivas; XIV. ampliar o acesso às informações sobre as medidas preventivas contra os agravos e as enfermidades que atingem a população masculina; XV. incluir o enfoque de gênero, orientação sexual, identidade de gênero e condição étnico-racial nas ações socioeducativas; XVI. estimular, na população masculina, o cuidado com sua própria saúde, visando à realização de exames preventivos regulares e à adoção de hábitos saudáveis; e XVII. aperfeiçoar os sistemas de informação de maneira a possibilitar um melhor monitoramento que permita tomadas de decisão (BRASIL, 2009c). 4.15 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL A Política Nacional de Saúde Mental, é apoiada pela Lei nº 10.216/01, que busca consolidar um modelo de atenção à saúde mental baseado na mudança do modelo de 68 tratamento, ou seja, o indivíduo deixa de realizar o tratamento em isolamento e passa a ter convívio com a família e a comunidade (BRASIL, 2001). A saúde mental foi extremamente marginalizada e no passado as pessoas com sofrimento mental eram encaminhadas para os manicômios para serem isoladas do restante da população. Atualmente vivemos em uma luta antimanicomial, a fim de integrar as pessoas em acompanhamento de sua saúde mental com a comunidade (LUCHMANN; RODRIGUES; 2007). A rede de atendimento está composta pelos Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental, Assistência Hospitalar, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e CAPSad (BRASIL, 2001). Para saber um pouco mais acerca da Política Nacional de Saúde Mental, acesse: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm DICA 4.16 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL GENÉTICA CLÍNICA Você conhece a Política Nacional de Atenção Integral em Genética Clínica? Ela foi instituída por meio da Portaria GM/MS nº 81, de 20 de janeiro de 2009, e tem como objetivos a organização da linha de cuidado de maneira integral; a identificação de determinantes e condicionantes dos principais problemas de saúde relacionados a anomalias congênitas e doenças geneticamente determinadas e a construção de políticas públicas para essa finalidade; definir critérios para o funcionamento, o monitoramento e a avaliação dos serviços relacionados a genética clínica; incentivar pesquisas na área de genética clínica e qualificar os profissionais da assistência por meio da educação permanente e baseado na integralidade e da Política Nacional de Humanização (PNH) A média e alta complexidade são compostas por Unidades de Atenção Especializada e Centros de referência em Genética Clínica, que ficam responsáveis pelo acompanhamento multiprofissional dos casos referenciados pela APS (BRASIL, 2009e). https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm 69 Para saber um pouco mais sobre a Política Nacional de Atenção Integral em Genética Clínica, acesse: https://bit.ly/3NaLbKe. DICA 4.17 POLÍTICA NACIONAL DE OFTALMOLOGIA A Política Nacional De Oftalmologia foi instituída pela Portaria GM/MS nº 957, de 15 de maio de 2008. Considerandoa rede integral, hierarquizada e regionalizada, o com- ponente de atenção especializada em oftalmologia deverá “realizar atenção diagnóstica e terapêutica especializada e promover o acesso do paciente portador de doenças of- talmológicas a procedimentos de média e alta complexidade, em serviços especializa- dos de qualidade, visando alcançar impacto positivo na morbidade e na qualidade de vida dos usuários do SUS, por intermédio da garantia da equidade” (BRASIL, 2008a). Para saber um pouco mais sobre a Política Nacional De Oftalmologia, aces- se: https://bit.ly/3LsysBv. DICA https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2008/prt0957_15_05_2008.html#:~:text=Institui a Pol%C3%ADtica Nacional de,das tr%C3%AAs esferas de gest%C3%A3o. 70 O PAPEL DA ATENÇÃO PRIMÁRIA NA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE NO BRASIL: LIMITES E POSSIBILIDADES NO ENFRENTAMENTO DA COVID-19 Regina Paiva Daumas Gulnar Azevedo e Silva Renato TascaIuri da Costa Leite Patrícia Brasil Dirceu B. Greco Victor Grabois Gastão Wagner de Sousa Campos Em 12 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou como pandemia a doença causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). A infecção (COVID-19), além de ser mais transmissível, tem letalidade estimada em cerca de 14 vezes a da influenza. O alto índice de contágio, com cada indivíduo infectando de 2 a 3 pessoas, em média, causa a expansão da epidemia em progressão geométrica. No Brasil, onde a transmissão comunitária em todo o território nacional foi declarada em 20 de março, mais de 147 mil casos e 10 mil mortes pela COVID-19 haviam sido confirmados até 9 de maio de 2020. Medidas de isolamento de casos e contatos e distanciamento social da população geral têm sido as principais estratégias preconizadas para retardar a expansão da COVID-19 e permitir a adequação dos sistemas de saúde ao rápido aumento da demanda por leitos de internação, especialmente aqueles de terapia intensiva, evitando o colapso da assistência hospitalar. A apresentação inicial da COVID-19 se assemelha a uma gripe, com sintomas de febre, tosse, dor de garganta e coriza. Aproximadamente 80% dos pacientes se recuperam sem complicações, sendo classificados como casos leves ou moderados (sem pneumonia ou com pneumonia viral leve). Os 20% restantes evoluem com dispneia e hipoxemia secundárias à pneumonia viral extensa, e necessitam de internação para oxigenioterapia, além de outras intervenções. Um quarto desses (cerca de 5% do total) evolui para o estado crítico devido à insuficiência respiratória, coagulação intravascular disseminada, choque circulatório ou disfunção orgânica múltipla, requerendo cuidados de terapia intensiva. A letalidade nesse último grupo é superior a 40%. A assistência à COVID-19 precisa dar conta das necessidades dos pacientes nas diferentes fases da infecção e em todo o espectro de gravidade, em uma linha de cuidado que envolve desde o monitoramento de casos leves em isolamento domiciliar, com orientações para o manejo de sintomas e para a identificação precoce de sinais de LEITURA COMPLEMENTAR 71 alerta, até a internação em unidades de terapia intensiva (UTI) e a reabilitação após a alta hospitalar. A minimização dos riscos de infecção dos profissionais de saúde e demais pacientes deve balizar a escolha das melhores estratégias de organização da rede para atender a essas necessidades. Para reduzir a transmissão e limitar a mortalidade pela COVID-19, o poder público deve criar condições para que indivíduos e famílias possam sustentar o distanciamento social enquanto prepara seu sistema de saúde para o enfrentamento da pandemia. No caso do Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) deve se preparar para prover assistência ao crescente número de pacientes com a COVID-19; manter a atenção aos demais agravos agudos e crônicos e garantir a segurança de profissionais de saúde e pacientes durante o cuidado de saúde. Recomendações para a organização da rede de atenção à COVID-19 A capacidade do sistema de saúde de desempenhar plenamente suas funções no contexto da pandemia demanda não apenas expandir o número de leitos hospitalares e de UTI, mas também reorganizar os fluxos na rede de atendimento, redefinir os papéis das diferentes unidades e níveis de atenção e criar novos pontos de acesso ao sistema de saúde, especialmente por via remota. Todas as modalidades de teleatendimento (teleorientação, teleconsulta, telemonitoramento e telerregulação) passam a desempenhar papel central a partir desse momento. Um plano com protocolos a serem seguidos por todos os níveis de atenção, incluindo normas de proteção aos trabalhadores e cuidados para evitar a disseminação do SARS-CoV-2 nas unidades de saúde, é fundamental para articular todas essas ações. A OMS sugere que sejam criadas centrais de teleatendimento 24 horas, treinando os atendentes na utilização de protocolos que permitam distinguir casos leves, moderados e graves, bem como orientar os casos leves quanto às medidas de isolamento domiciliar. Casos graves devem ser encaminhados para hospitais de referência para COVID-19 por ambulâncias exclusivas para este transporte, com profissionais qualificados e adequadamente protegidos, segundo as medidas preconizadas para a prevenção de infecção. Na rede de atenção à COVID-19, são também necessários equipamentos de saúde com leitos de baixa e média complexidades dedicados ao atendimento de casos suspeitos com alto risco de agravamento ou com contraindicação ao isolamento domiciliar, tais como aqueles com comorbidades, os que residem sozinhos e os que apresentam maior comprometimento pela doença, ainda que não estejam graves. A internação nesses locais possibilita fazer intervenções terapêuticas, monitorar sinais de agravamento e providenciar transferência oportuna para leitos de maior complexidade, quando necessário. Essas unidades devem admitir também pacientes que recebam alta de hospitais de referência ainda necessitando de cuidados hospitalares, contribuindo para a liberação dos leitos de alta complexidade para os pacientes críticos. 72 A descrição das necessidades assistenciais dos pacientes com COVID-19 torna evidente que o papel direto da atenção primária à saúde (APS) na assistência aos casos moderados e graves é bastante limitado. Ademais, o atendimento presencial aos pacientes suspeitos de COVID-19 nas unidades básicas de saúde (UBS) deve ser evitado sempre que possível porque, além de ter pouco impacto no curso da doença, implica alto risco de infecção para os profissionais de saúde e demais usuários. O papel da APS durante a pandemia de COVID-19 Se por um lado a APS tem capacidade reduzida para atuar sobre a letalidade dos casos graves, uma APS forte, organizada e com pessoal qualificado e em número adequado pode contribuir para diminuir a incidência da infecção na população adscrita, com impacto direto na diminuição da morbimortalidade. Por meio do trabalho comunitário pode atuar para a redução da disseminação da infecção, acompanhar os casos leves em isolamento domiciliar, apoiar as comunidades durante o distanciamento social, identificar e conduzir situações de vulnerabilidade individual ou coletiva e, principalmente, garantir o acesso a cuidados de saúde e o necessário encaminhamento nas fases mais críticas da epidemia. Dessa forma, a APS pode desempenhar um papel central na mitigação dos efeitos da pandemia, mantendo e aprofundando todos os seus atributos, tais como o acesso ao primeiro contato, a longitudinalidade, a integralidade e a coordenação do cuidado e, em especial, a competência cultural e a orientação familiar e comunitária. Ao retomar a sua vocação para a ação comunitária, a APS pode ampliar a capacidade de resposta local não só para reduzir a disseminação da infecção, como também para amenizar os efeitos sociais e econômicos das medidas de distanciamento social. Por exemplo, por intermédio das mídias sociais e rádios comunitárias, as equipes de saúde da família (EqSF) podem orientara população sobre as formas de contágio e informar sobre os canais de teleatendimento. O trabalho dos agentes comunitários de saúde (ACS) pode ajudar a identificar indivíduos e famílias em situação de maior vulnerabilidade, auxiliar na entrega de alimentos e outros itens essenciais, além de mobilizar os recursos da própria comunidade. Na atenção clínica individual, utilizando modalidades de teleatendimento, profissionais da APS podem orientar os casos suspeitos quanto ao isolamento e reconhecimento dos sinais de alerta; identificar pacientes que não podem ser cuidados no domicílio; monitorar estes casos suspeitos quanto à evolução clínica; realizar videoconsultas para casos mais complexos e solicitar remoção para uma unidade hospitalar ao identificar sinais de agravamento. Todas essas ações resultam em redução da demanda e dos riscos de infecção nas unidades de emergência e permitem a concentração de seus recursos no atendimento aos casos mais graves. Visando a manter o acesso aos cuidados de saúde para outros agravos, o trabalho na APS durante a pandemia deve priorizar ainda: (1) a continuidade de ações preventivas, tais como vacinação; (2) o acompanhamento de pacientes crônicos e grupos prioritários como gestantes e lactentes; e (3) o atendimento a pequenas urgências e às 73 agudizações de doenças crônicas. A supressão dessas atividades por várias semanas pode resultar em elevação da morbimortalidade por outras causas, ampliando os efeitos da pandemia, como relatado nas situações em que se optou por um modelo assistencial centrado apenas na atenção hospitalar. Assim como para os casos suspeitos, o teleatendimento deve ser priorizado como estratégia para o acompanhamento dos portadores de outros agravos que estão estáveis. É possível responder a demandas por medicamentos de uso contínuo ou mesmo por avaliação clínica, que pode, muitas vezes, ser realizada por videoconsulta. O atendimento presencial na UBS seria priorizado para pacientes com queixas agudas não respiratórias e para aqueles com agudização de doenças crônicas, cuja abordagem possa ser feita na APS, com até algumas horas de tratamento e observação clínica, evitando sua ida para unidades hospitalares e de pronto-atendimento, que estarão progressivamente sobrecarregadas. A disponibilização de equipamentos de proteção individual e a atualização das práticas de prevenção e controle de infecção de acordo com as melhores evidências disponíveis, com treinamentos periódicos, dão suporte à manutenção segura das ações assistenciais na UBS e nos domicílios. Além do teleatendimento, a consulta domiciliar por médicos e enfermeiros pode garantir a manutenção da assistência a pacientes de maior complexidade e risco, incluindo ainda aqueles que necessitam de curativos. As visitas domiciliares feitas pelos ACS, no peridomicílio, respeitando o distanciamento social, possibilitam o acompanhamento de pacientes sem telefone e a entrega de medicamentos e de insumos básicos à população, evitando, assim, as visitas desnecessárias à UBS. Mesmo com todo o esforço para expandir o uso das teleconsultas, e ainda que centrais telefônicas para o atendimento a casos suspeitos de COVID-19 sejam priorizadas, uma parcela substancial da população do território continuará acessando as UBS, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e emergências hospitalares. Por esse motivo, os pacientes devem ser rastreados no primeiro ponto de contato com qualquer serviço de saúde e todas as precauções para o controle de infecção devem ser ali implementadas, de acordo com as recomendações vigentes, que incluem atendimento em áreas externas, limitação do contato físico, modificações de fluxo, separação de áreas de atendimento e espera, distanciamento, barreiras físicas, disponibilização e uso racional de equipamentos de proteção individual (EPI), de acordo com a atividade e tipo de contato realizado. Cabe lembrar ainda que, à medida que a epidemia avança, o risco de infecção em unidades de saúde aumenta, mesmo quando se trata de pacientes sem relato de sintomas respiratórios, pois casos de infecção assintomática e apresentações atípicas passam a ser mais numerosos. Isso justifica a expansão do uso de EPI e de medidas de controle de infecção para diversas situações e as áreas de atendimento. Os riscos da transmissão da COVID-19 nos serviços de saúde e os elevados custos da implantação das normas de biossegurança justificam a ampla utilização das ferramentas de teleatendimento e todo o suporte financeiro necessário para implantá- las. Essas estratégias permitem que a restrição e regulação do acesso físico às UBS 74 não representem restrição total de acesso, mas possam ser substituídas por formas mais seguras e custo-efetivas de atenção. Para implantar as mudanças necessárias ao pleno funcionamento da APS no contexto da pandemia, investimentos em estruturas como tendas para atendimento externo, veículos para apoiar a atenção domiciliar, telefones celulares e internet de boa qualidade serão imprescindíveis, assim como o acesso livre à internet para todos os usuários. A criação de polos de atenção à COVID-19, destinados a atender os casos suspeitos, realizar o manejo inicial e facilitar as remoções necessárias, é uma alternativa válida onde seja impossível adequar as UBS para realizar essas atividades de forma segura. Não é possível dispensar, entretanto, a troca efetiva de informações entre esses polos e as UBS, essencial para que estas possam manter a vigilância e a coordenação do cuidado em suas respectivas áreas de abrangência. Somente uma APS forte e conectada aos demais pontos de atenção, com maior atuação comunitária e capacidade de coordenação, será capaz de minimizar os danos causados pela pandemia e evitar a desassistência às condições crônicas e agudizações. Limites da atuação da APS diante das deficiências da rede de atenção à COVID-19 O pleno exercício de atividades inerentes à APS que poderiam reduzir a magnitude e o impacto da pandemia nas populações é ameaçado, contudo, pela deficiência da rede de atenção à COVID-19, notadamente pela insuficiência de leitos para internação e por problemas no fluxo de acesso a esses leitos. Por exemplo, no Município do Rio de Janeiro, onde o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) não realiza o atendimento domiciliar às urgências por COVID-19 e as UBS são responsáveis por acolher os sintomáticos respiratórios e solicitar vagas de internação, casos de COVID-19, especialmente os casos mais graves se acumulam à espera de leitos de internação. Processo semelhante ocorre nas UPAs, outra porta de entrada física para os leitos Covid, que já enfrentam dificuldade crescente em referenciar seus pacientes para leitos especializados. Ainda no mesmo município, a ausência de leitos básicos e intermediários para COVID-19 tem feito com que muitos pacientes regulados para as UPAs retornem às UBS, sempre em piores condições. A impossibilidade de internação de pacientes sem sinais de insuficiência respiratória, mas com alto risco de agravamento ou contraindicação ao isolamento domiciliar, tem retardado a instituição de suporte clínico adequado e causado enorme apreensão nas equipes de saúde, que percebem o risco de pacientes chegarem às UBS em falência respiratória ou irem a óbito no domicílio sem assistência médica. A insuficiência de leitos dedicados a COVID-19, aliada ao fluxo de acesso a estes leitos via UBS e UPAs, tal como ocorre no Município do Rio de Janeiro, tende a comprometer gravemente a capacidade destas unidades assistenciais de prover cuidados de saúde aos pacientes portadores de outras doenças e eleva os riscos de transmissão. O transporte dos pacientes graves do domicílio diretamente para a unidade de referência para tratamento de COVID-19, conforme sugere a OMS, deve ser considerado de extrema prioridade, pois agiliza a chegada ao local que poderá instituir a terapia definitiva e reduz os pontos de contato do paciente com as unidades desaúde e equipes de transporte, muito vulneráveis à infecção pelo SARS-CoV-2. 75 Desafios para o SUS no enfrentamento à pandemia O enfrentamento da pandemia no país pressupõe mudanças substanciais na forma como os cuidados de saúde são prestados e a reorganização de toda a rede assistencial. Para otimizar o uso dos recursos disponíveis, as estruturas de teleatendimento precisam estar conectadas com o atendimento pré-hospitalar (SAMU- COVID) e a regulação de leitos pelo SUS. Protocolos de triagem e classificação dos casos em leves, moderados e graves, com ou sem risco de complicações, devem ser implantados para apoiar tanto as decisões do teleatendimento de emergência quanto a APS. Comunicações completas e consistentes entre todos os componentes do sistema de saúde e para a população são essenciais e devem ser urgentemente estabelecidas para garantir sua efetividade e transparência. Ainda que grandes mudanças nos fluxos e organização da rede de atenção possam parecer difíceis, todas as evidências indicam que fazer mais do mesmo significará maior disseminação da doença e ineficiência na utilização de recursos. A capacidade do sistema de saúde para salvar vidas nesta pandemia dependerá não apenas do número de leitos de UTI e respiradores, mas também da organização da rede de atenção para garantir o acesso oportuno a estes leitos, a manutenção das linhas de cuidado para outros agravos e o atendimento a urgências e emergências das mais diversas naturezas. As soluções específicas para essa organização devem ser adaptadas a cada contexto, respeitando premissas gerais e a capacidade de resposta local, entendendo que o Brasil é um país continental e heterogêneo. Para as grandes metrópoles, onde a doença tem avançado mais rápido, muito pode ser feito com as estruturas já existentes, complementadas por novos aportes e iniciativas. É preciso reconhecer ainda que esse esforço de reorganização será limitado em seus resultados, caso não sejam resolvidas as deficiências de nossas redes de atenção, frágeis e fragmentadas, com uma APS ainda insuficiente – em muitos lugares do Brasil – para enfrentar uma emergência como esta, que depende de serviços efetivos e projetados à comunidade. Apesar da expansão da APS alcançada nas últimas décadas, a ausência de mecanismos para garantir sua sustentabilidade segue ameaçando a continuidade do cuidado em todo o país. A falta de coordenação entre os níveis assistenciais e a inexistência de fluxos sistêmicos na rede de atenção à saúde, já apontadas anteriormente, ficaram ainda mais críticas na pandemia, revelando a importância de se adotar estratégias que possibilitem às equipes de APS a efetiva coordenação do cuidado. A epidemia chegou ao país após o inaceitável estabelecimento do teto de gastos para saúde e educação, que congelou ou diminuiu os recursos para saúde. Ao mesmo tempo, políticas importantes e estruturantes para APS foram atacadas seriamente. Entre essas, destaca-se o Programa Mais Médicos pelo Brasil, criado para promover atendimento médico em lugares remotos e em periferias urbanas, cuja descontinuidade agravou os vazios assistenciais em locais altamente vulneráveis. Em sequência, o novo 76 modelo de financiamento para a atenção básica 25, imposto pelo atual Governo Federal, coloca em risco a universalidade do sistema. A despeito de que novos recursos possam ser alocados para o SUS durante a pandemia, não podemos ignorar o impacto deletério do crônico e histórico subfinanciamento do SUS sobre a saúde da população, que em sua maioria depende exclusivamente deste sistema. Mesmo com suas deficiências, a importância do SUS no enfrentamento da pan- demia tem sido demonstrada de forma inquestionável. O reconhecimento, agora quase unânime, da necessidade de mais recursos para que o sistema faça frente à crise torna este momento especialmente oportuno para reforçar e financiar adequadamente o SUS. Além disso, esta gravíssima emergência sanitária coloca em destaque a posição privile- giada da APS para garantir o acesso a cuidados de saúde e agir sobre os determinantes de saúde frente a um desafio emergente. A priorização da APS, com a expansão da ESF e o fortalecimento de todos os seus atributos, com ênfase nos chamados derivados (competência cultural, orientação familiar e comunitária), são medidas essenciais para conter a propagação na população de uma ameaça como a COVID-19. Fonte: DAUMAS R. P. et al. O papel da atenção primária na rede de atenção à saúde no Brasil: limites e possi- bilidades no enfrentamento da COVID-19. Cadernos de Saúde Pública [online]. v. 36, n. 6 Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csp/2020.v36n6/e00104120/pt/# Acesso em: 12 abr. 2023. https://www.scielosp.org/article/csp/2020.v36n6/e00104120/pt/%23 77 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • Os conceitos de média e alta complexidade. • Como identificar as necessidades na assistência em saúde da média e alta complexidade e alguns exemplos de situações que demandam soluções do gestor. • A relação da APS com a média e a alta complexidade. • Exemplos de componentes da média e da alta complexidade, que estão relacionadas às Políticas Nacionais de Saúde. 78 AUTOATIVIDADE 1 Para identificar as necessidades da média e da alta complexidade, é sugerido que o profissional de saúde realize o diagnóstico situacional do território. Após a identificação dos problemas, é possível elaborar o Planejamento Estratégico Situacional, que possui quatro fases. Sobre essas fases, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Diagnóstica, avaliativa, estratégica e operacional. b) ( ) Explicativa, normativa, estratégica e tática-operacional. c) ( ) Diagnóstica, normativa, estratégica e tática-operacional. d) ( ) Diagnóstica, explicativa, avaliativa e tática. 2 As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são os fluxos de atendimento dos serviços de saúde de diferentes densidades tecnológicas, sejam elas da atenção primária, da atenção secundária e/ou da atenção terciária. Sobre a composição das Redes de Atenção à Saúde (RAS), analise as afirmativas a seguir: I- A média complexidade (MC) compreende um conjunto de ações e serviços ambulatoriais e hospitalares que visam atender os principais problemas de saúde da população, cuja prática clínica demande a disponibilidade de profissionais especializados e a utilização de recursos tecnológicos de apoio diagnóstico e terapêutico, que não justifique a sua oferta em todos os municípios do país. II- A alta complexidade é um conjunto de procedimentos que, no contexto do SUS, envolve alta tecnologia e alto custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços qualificados, integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde. III- A média complexidade é composta por serviços especializados encontrados em hospitais e ambulatórios e envolve atendimento direcionado para áreas como pediatria, ortopedia, cardiologia, oncologia, neurologia, psiquiatria, ginecologia, oftalmologia entre outras especialidades médicas e as Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24h). Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a sentença I está correta. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) Somente a sentença III está correta. d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. 3 A Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Renal foi elaborada pela Por- taria GM/MS nº 1168, de 15 de junho de 2004, que divide a política em componentes. Considerando esses componentes e os seus objetivos, classifique V para as senten- ças verdadeiras e F para as falsas: 79 ( ) Atenção básica: realizar ações somente de caráter individual, voltadas para a promoção da saúde e prevenção dos danos, bem como as ações clínicas para o controle da hipertensão arterial, do diabetes mellitus e das doenças do rim que possam ser realizadas neste nível. ( ) Média complexidade: realizar atenção diagnóstica e terapêutica especializada garantida a partir do processo de referência e contrarreferênciado portador de hipertensão arterial, de diabetes mellitus e de doenças renais. ( ) Alta complexidade: garantir o acesso e assegurar a qualidade do processo de diálise visando alcançar impacto positivo na sobrevida, na morbidade e na qualidade de vida e garantir equidade na entrada em lista de espera para transplante renal. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – V. b) ( ) V – V – V. c) ( ) F – F – V. d) ( ) V – F – F. 4 A assistência de média e alta complexidade possui diversos desafios e características. Sendo assim, disserte sobre essa afirmativa, considerando as necessidades na assistência de média e alta complexidade. 5 Em 2004, foi elaborada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – PNAISM –, baseada no PAISM, embora considerasse questões relacionadas à integralidade da mulher, ou seja, a política passa a vê-la por meio de todas as suas necessidades. Disserte sobre a importância da integralidade para a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM). 80 REFERÊNCIAS ABRAHÃO, A. L. Curso de Aperfeiçoamento em Gerência de Unidades Básicas de Saúde, Gestão da Clínica e do Cuidado. Niterói: CEAD-UFF, 2016. ANVISA. Resolução RDC Nº 504, de 27 de maio de 2021. 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TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – ASPECTOS CONCEITUAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – ASPECTOS CONCEITUAIS DA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – VIGILÂNCIA EM SAÚDE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 90 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 91 TÓPICO 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Apesar das notáveis iniquidades em relação à distribuição de riquezas, os serviços de saúde podem participar para a melhora da saúde, porém, a nível global, os recursos utilizados para tal não se associam a melhores níveis de saúde. Na teoria, é exigido que o sistema de saúde tenha forte orientação referente à APS, ao contemplar, assim, princípios de efetividade e equidade, com foco na saúde das pessoas nos âmbitos social e físico, nos quais vivem e trabalham, não apenas, na enfermidade individual. Entretanto, a pergunta que fica é: “como podemos obter a equidade nas unidades de atenção primária?” A equidade é atingida através da oferta de atenção no nível mais apropriado, com o consentimento de recursos que podem ser utilizados para a redução de desigualdades na saúde entre as diferentes secções mais e menos necessitadas da população (STARFIELD, 2002). A Conferência de Alma-Ata definiu a Atenção Primária à Saúde como “cuidados essenciais baseados em métodos de trabalho e tecnologias de natureza prática, cientificamente, críveis, e, socialmente, aceitáveis, universalmente, acessíveis na comunidade, aos indivíduos e às famílias, com [...] total participação e a um custo suportável para as comunidades e para os países, à medida que se desenvolvem num espírito de autonomia e autodeterminação”. Dessa definição, emergiram, naquele momento, elementos essenciais da APS: a educação em saúde; o saneamento básico; o programa maternal e infantil, incluindo imunização e planejamento familiar; a prevenção de endemias; o tratamento apropriado das doenças e danos mais comuns; a provisão de medicamentos essenciais; a promoção de alimentação saudável e de micronutrientes;e a valorização das práticas complementares. Principalmente, aponta para a saúde como expressão de direito humano (OMS, 1979, p. 14). Trinta anos após a realização da Conferência de Alma-Ata, Halfdan Mahler, Dire- tor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) (1973-1988), concluiu que a APS, ape- nas, seria bem-sucedida se gerasse a participação de indivíduos, famílias e comunidades, porém, essa participação só aconteceria se houvesse o apoio do sistema de saúde. No Brasil, a saúde pública é organizada em três níveis de atenção: primária, secundária e terciária. Esses níveis são compreendidos como Redes de Atenção à Saúde (RAS), sendo que a expressão “hierarquia” não é mais utilizada, mas “poliarquia”, no sentido de trabalho em rede (MENDES, 2011). 92 Os níveis de atenção à saúde se estruturam por arranjos produti- vos conformados segundo as densidades tecnológicas singulares, variando do nível de menor densidade, a Atenção Primária à Saúde (APS); ao de densidade tecnológica intermediária, a Atenção Secun- dária à Saúde; até o de maior densidade tecnológica, a Atenção Ter- ciária à Saúde (MENDES, 2011, p. 78). Com relação a essa proposta de organização do cuidado em rede, nos debates produzidos no âmbito do SUS, vem sendo proposta a organização do cuidado em rede, baseado em horizontalização da gestão e do cuidado, o que pressupõe investimento em novos arranjos de gestão e organização da atenção, bem como uma aposta muito forte numa interlocução mais direta entre os profissionais do “mundo da atenção básica” com os profissionais do “mundo da atenção especializada” (CARMO, 2017, p. 45). Sabemos que a RAS é caracterizada por relações horizontais entre os pontos de atenção, mas qual seria o “centro” de comunicação dessa rede? A resposta é a Atenção Básica (ou primária). A atenção primária é considerada o contato preferencial dos usuários com o sistema de saúde. Deve considerar o sujeito com a singularidade, a complexidade, a integralidade e a inserção sociocultural dele, e buscar a promoção de saúde, a prevenção e o tratamento de doenças e a redução de danos ou sofrimentos que possam comprometer possibilidades de viver de modo saudável. Nesse caso, possui responsabilização pelas atenções contínua e integral, com um cuidado multiprofissional. Em 2004, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) definiu a Atenção Primária como um conjunto de intervenções de saúde nos âmbitos individual e coletivo que envolve: promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, sendo desenvolvidas através do exercício de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios (território processo) bem delimitadas, das quais assumem responsabilidade (BRASIL, 2004, p. 7). Em 1996, a Organização Mundial da Saúde (OMS) organizou um documento, chamado de Carta de Lubliana, que trouxe um conjunto de princípios para a construção da base da APS para serviços de saúde, ou seja, as ações dos serviços devem ser fundamentadas pelos seguintes princípios: • Dirigidos por valores de dignidade humana, equidade, solidariedade e ética profissional. • Direcionados para a proteção e promoção da saúde. • Centrados nas pessoas, permitindo que os cidadãos influenciem os serviços de saúde e assumam a responsabilidade por sua própria saúde. • Focados na qualidade, incluindo relação custo-atividade. • Baseados em financiamento sustentável, para permitir a cobertura universal e o acesso qualitativo e direcionados para a atenção primária (STARFIELD, 2002 p. 19). 93 Conforme o passar dos anos, e observada a necessidade de ajustes para a definição de APS, em 2018, ocorreu a Conferência Mundial sobre Atenção Primária à Saúde em Alma-Ata, para uma cobertura sanitária universal. Ela estabeleceu que a APS deve priorizar a saúde e o bem-estar das pessoas, além, promover, proteger e ofertar serviços de saúde de qualidade, seguros, integrais, acessíveis, disponíveis para todos, e em todos os lugares. A APS é um nível de um sistema de serviço de saúde que oferta a entrada nes- se sistema e fornece atenção ao usuário no decorrer do tempo, a fim de se atentar a ele como um todo, não somente, à enfermidade. Além disso, ela compartilha informações com outros níveis do sistema de saúde, que vão desde responsabilidade pelo acesso, qualidade e custos, prevenção, tratamento e reabilitação e trabalho em equipe, não como um compilado, apenas, de tarefas clínicas, pois o diagnóstico, a prevenção, os exames e o monitoramento clínico devem ser características de todos os níveis de atenção. A APS é uma abordagem que configura a base e determina as atividades dos outros níveis de saúde. Ainda, expõe os principais e mais comuns entraves da comunidade, e, a partir desses dados, oferta serviços de prevenção, tratamento e reabilitação para potencializar a saúde e o bem-estar, e modo a fornecer, aos pacientes, um acesso direto a uma adequada continuidade da atenção, ao longo do tempo, para problemas e serviços preventivos (STARFIELD, 2002). Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 1, abordaremos os aspectos conceituais da APS, e conheceremos as principais condições dela, como prevenção e promoção da saúde, incluindo humanização, acesso e acolhimento. 2 PRINCIPAIS CONDIÇÕES DE SAÚDE NA APS Segue uma síntese dos principais atributos da APS, definidos por Starfield (2002). A partir desses atributos, podemos refletir a respeito das principais condições de saúde a partir das quais a APS atua, além do acontecimento de ações. Quadro 1 – Principais atributos da APS Atributo Descrição Serviço de primeiro contato Porta de entrada do sistema de saúde, procurado regularmente, a cada vez que o paciente precisa de atenção em caso de adoecimen- to, ou de acompanhamento rotineiro de saúde. Para a constituição de um serviço como porta de entrada do sistema de saúde, o pri- meiro requisito é que seja acessível à população, com a eliminação de barreiras financeiras, geográficas, organizacionais e culturais, o que possibilita a utilização, por parte dos usuários, a cada novo epi- sódio. Outro requisito é a exigência de encaminhamento, por profis- sionais da atenção primária, para acesso à atenção especializada. 94 Longitudinalidade A assunção de responsabilidade longitudinal pelo paciente marca presença, com a continuidade da relação profissional/equipe/ unidade de saúde/paciente ao longo da vida, independentemente da ausência ou da presença de alguma doença. Abrangência ou integralidade O reconhecimento, pela equipe de saúde, de um amplo espectro de necessidades é fundamental, considerados os âmbitos orgâni- cos, psíquicos e sociais da saúde, dentro dos limites de atuação do pessoal de saúde. Requer a oferta de serviços preventivos e curati- vos e a garantia de todos os tipos de serviços para as faixas etárias. Coordenação do cuidado A capacidade está em garantir a continuidade da atenção (atenção ininterrupta) no interior da rede de serviços. Para o exercício da coordenação por uma equipe de APS, são necessários tecnologias de gestão clínica, mecanismos adequados de comunicação entre profissionais e registro adequado de informações. Orientação para a comunidade O conhecimento das necessidades de saúde da população adscrita se insere aqui em razão dos contextos econômico e social nos quais vive. Conhecimento da distribuição de problemas de saúde e de recursos disponíveis na comunidade. Participação da comunidade em decisões relacionadas à saúde. Centralidade na família Consideração do contexto e da dinâmica familiar é importante para uma avaliação de resposta a necessidades de cada membro. Conhecimento dos membros e dos problemas de saúde deles. Competência cultural Reconhecimento de diferentes necessidades de grupos popula- cionais é inserido, com características étnicas, raciais e culturais, e entendidas as representações dos processos saúde-enfermidade. Fonte: Starfield(2002), Almeida e Macinko (2006) apud Giovanella e Mendonça (2012, p. 505-506) A APS, no SUS, conta com a Estratégia de Saúde da Família (ESF) nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), um programa criado pelo Governo Federal em 1994, quando, ainda, era chamado de Programa de Saúde da Família (PSF). Essa iniciativa buscou reorganizar a Atenção Básica no Brasil, de modo a expandir, qualificar e consolidar essa área da saúde. Algumas das ênfases/características são citadas por Guedes, Santos e Di Lorenzo (2011): • Garantia de assistência integral aos indivíduos, às famílias e à comunidade mediante uma nova forma de prestação de serviços de saúde. • Inserção da própria comunidade na resolução de problemas e auxílio na assistência a famílias através de ações de Agentes Comunitários de Saúde (ACS). • Família no centro da atenção. Para haver uma melhor compreensão do processo saúde-doença, é considerado o ambiente físico, além de social, das famílias. 95 Figura 1 – Atendimento na atenção primária Fonte: https://bit.ly/41UVma0. Acesso em: 24 abr. 2022. Na APS, os profissionais têm um contato mais próximo com a comunidade, e atuam em outros espaços, não somente, nas UBS, como espaços públicos, com a oferta de visitas domiciliares a famílias. O imperativo da consolidação da ESF foi o cuidado das condições crônicas na Atenção Básica, assim, a seguir, discutiremos a respeito das condições de saúde e das distinções delas (MENDES, 2012). 2.1 CONDIÇÕES DE SAÚDE Podemos afirmar que “as “condições de saúde” são as circunstâncias, na saúde das pessoas, que se apresentam de forma mais ou menos persistente e que exigem respostas sociais reativas ou proativas, eventuais ou contínuas, e fragmentadas ou integradas dos sistemas de atenção à saúde” (MENDES, 2012, p. 31). A categoria condição de saúde é fundamental em serviços porque só se agrega valor para as pessoas, nos sistemas de atenção à saúde, quando se enfrenta uma condição de saúde por meio de um ciclo completo de atendimento (PORTER; TEISBERG, 2007). Mendes (2012) dividiu as condições de saúde em dois grandes grupos: as agudas e as crônicas. Além disso, elas têm comportamentos diferentes perante algumas variáveis, como: início, causa, duração, testes diagnósticos, resultado, papel da pessoa usuária, diagnóstico e prognóstico etc. Cabe ressaltar aqui, principalmente, as variáveis “papel dos profissionais”, “natureza das intervenções”, “conhecimento e ação clínica” e “sistema de atenção à saúde”, pois elas têm propósitos diferentes em cada uma das condições de saúde: • Papel dos profissionais: na condição aguda, os papéis dos profissionais são, apenas, os de selecionar e prescrever o tratamento; na condição crônica, a busca é pela educação em saúde, com pessoas usuárias da APS. 96 • Natureza das intervenções: em uma condição aguda, elas são centradas, somente, no cuidado profissional; já na condição crônica, são direcionadas ao cuidado multiprofissional e ao autocuidado. • Conhecimento e ação clínica: são concentrados no profissional médico em uma condição aguda; e, em contrapartida, na condição crônica, são compartilhados por uma equipe multiprofissional e por usuários. • Sistema de atenção à saúde: é reativo e fragmentado em condições agudas e proativo e integrado em condições crônicas. A divisão entre doenças transmissíveis e doenças crônicas não transmissíveis é uma tipologia utilizada em larga escala pela epidemiologia, que tem sido de utilidade para estudos epidemiológicos. Entretanto, não se encaixa quando o objetivo é referenciar a organização dos sistemas de atenção à saúde, isso porque, ao se pensar na resposta social a problemas de saúde, algumas doenças transmissíveis, devido ao longo período de curso, estão mais próximas do enfrentamento de doenças crônicas, ao invés das doenças transmissíveis de curso rápido, devido ao foco no conceito de doença e à exclusão de outras condições, sendo que estas exigem uma resposta adequada dos citados sistemas de atenção à saúde. Uma nova categorização das condições de saúde tem sido considerada, baseada no conceito de condição de saúde (VON KORFF et al., 1997; LORIG et al., 2006). Posteriormente, foi aceita pela OMS (2003), que as dividiu em condições agudas e crônicas. Essa tipologia é norteada por variáveis-chave do conceito de condição de saúde: a primeira considera o tempo de duração da condição, e, a segunda, a maneira através da qual é enfrentada por profissionais de saúde, pelo sistema de atenção à saúde e pelos usuários (MENDES, 2012). Podemos definir as condições de saúde como as circunstâncias de saúde de pessoas que devem se apresentar mais ou menos persistentes, com a exigência de respostas sociais dos sistemas de atenção à saúde, dos profissionais de saúde e das pessoas usuárias, que podem ser reativas ou proativas, episódicas ou contínuas, e fragmentadas ou integradas. Além disso, considera-se que essas condições vão além do conceito doença, pois certos estados fisiológicos são incorporados, como a gestação e o acompanhamento desde crianças (puericultura), adolescentes (hebicultura) até idosos (senicultura), os quais não são doenças, mas condições que são de responsabilidade dos sistemas de atenção à saúde (MENDES, 2012). Assim, a seguir, compreenderemos o que são consideradas condições agudas e crônicas e o cuidado em cada situação. 2.2 CONDIÇÕES DE SAÚDE AGUDAS As condições agudas, segundo Von Korff et al. (1997) e Singh (2008), apresen- tam um curso curto, com menos de três meses de duração, e possuem tendência a se autolimitar. Mendes (2018), também, define essas condições como aquelas de cur- so curto, que se manifestam de forma pouco previsível e que podem ser controladas 97 de modo reativo e episódico, porém, integrado, com um tempo de resposta oportuno do sistema de atenção à saúde. São exemplos de condições agudas: gripe, influenza, dengue, doenças inflamatórias e infecciosas (como apendicites e amigdalites), causas externas (a exemplo de traumas) e condições gerais e inespecíficas que se manifestam de forma aguda (febre e dor generalizada, no caso) (MENDES, 2012). A condição de saúde aguda, geralmente, inicia-se repentinamente, com causa simples e de fácil diagnóstico, de curta duração e com uma boa resposta a tratamentos específicos, com medicamentos e/ou cirurgias (MENDES, 2012). O ciclo típico engloba se sentir mal repentinamente por um tempo, receber tratamento e melhorar. Entretanto, a atenção a condições agudas ofertadas por profissionais de saúde depende dos conhecimentos e das experiências profissionais deles, principalmente, de médicos, para que, assim, possam diagnosticar e tratar, corretamente, de um usuário, para que ele volte à vida normal com a saúde restabelecida (MENDES, 2011). 2.2.1 Cuidado das condições agudas As respostas dos sistemas de atenção à saúde a condições agudas e a eventos agudos, como agudização de sintomas de uma condição crônica, têm uma lógica de, em menos tempo possível, identificar a gravidade de uma pessoa em situação de urgência, ou emergência, além de definir o ponto de atenção adequado para essa situação, o tempo-resposta do sistema. Isso faz com que seja adotado um modelo que possa classificar os riscos nas redes de atenção a urgências e emergências, com a construção de uma linguagem comum em todo o sistema e a definição do melhor local para uma determinada situação. Essa linguagem se baseia em diretrizes clínicas codificadas em um sistema de classificação de risco (CORDEIRO JÚNIOR, 2008). 2.2.2 Modelo de classificação de risco Cordeiro Júnior (2008) explica que os modelos de triagem, frente a urgências e emergências, apresentam uma grande variação, mas entregam, em comum, a triagem de risco, e utilizam de dois a cinco níveis de gravidade. Os mais avançados e que têm uma concepção sistêmica, utilizados por uma rede de serviço, são: • Australasian Triage Scale (ATS): pioneiro, modelo australiano que utiliza tempo de espera, conforme a gravidade.• Canadian Triage Acuity Scale (CTAS): modelo canadense, semelhante ao modelo supracitado, porém, mais complexo. • Emergency Severity Index (ESI): modelo americano que trabalha com, somente, um algoritmo, e que foca, prioritariamente, na necessidade de recursos para atendimento. • Model Andorrà Del Triangle (MAT): modelo de Andorra, baseado em sintomas discriminantes e algoritmos, mas é de uso complexo e oneroso. 98 • Sistema Manchester: operação com algoritmos e determinantes, associados ao tempo de espera e simbolizados por cores, com uso em vários países da Europa. O sistema de classificação de risco Manchester é utilizado em vários países, e, embora tenha sido desenvolvido para os pontos de atenção secundário e terciário, espe- cialmente, hospitalares, é aplicado, também, na APS e em diversos espaços do SUS. Esse sistema apresenta, como característica, uma escala em cinco níveis, baseados em cate- gorias de sintomas, discriminantes-chave e algoritmos clínicos. Com a vantagem de ser executado em um curto espaço de tempo, pode ser aplicado por médicos e enfermeiros e exige fundamentação clínica, o que garante segurança aos usuários e aos profissionais de saúde, além de ser rápido e permitir auditoria (CORDEIRO JUNIOR, 2008). Observe, a seguir, o sistema Manchester, com escalas; urgência, ou emergência; cor; e tempo-alvo de atendimento de um usuário. Quadro 2 – Sistema Manchester de classificação de risco Fonte: Mackway-Jones et al. (2010, p. 26) O sistema Manchester é um protocolo de triagem utilizado, principalmente, em serviços de urgência e emergência, porém, também, marca presença na APS. A classificação de prioridade, definida pelo sistema Manchester, é fun- damental para garantir que os pacientes mais graves sejam atendidos rapidamente e recebam o tratamento adequado. IMPORTANTE A aplicação do sistema Manchester, em unidades de APS, vêm apresentando resultados muito positivos, principalmente, no que tange à diminuição das filas de espera para atendimento, além de estarem sendo bem avaliadas pelos usuários. A lógica está, justamente, na classificação de risco de uma pessoa em situação de urgência, para que, 99 a partir da definição desse risco, sejam estabelecidos um tempo-resposta e um local adequado para a realização do atendimento, seja um hospital, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), ou uma APS (MACKWAY-JONES et al., 2010). 2.3 CONDIÇÕES DE SAÚDE CRÔNICAS As condições crônicas, especialmente, as doenças crônicas, são diferentes das condições agudas, pois elas se iniciam e evoluem lentamente. Geralmente, apresentam múltiplas causas que variam com o tempo, como hereditariedade, estilos de vida, e exposição a fatores ambientais e fisiológicos. Normalmente, não possuem padrões regulares, ou previsíveis. Ao contrário das condições agudas, nas quais, em geral, pode-se esperar uma recuperação adequada, as crônicas ocasionam mais sintomas e a perda da capacidade funcional, sendo que cada sintoma pode levar a outros, assim, gerar um ciclo vicioso, por exemplo, uma condição crônica de tensão muscular que faz um sujeito sentir dor, estresse e ansiedade, com problemas emocionais que levam à depressão, além da fadiga, que realimenta essa condição (LORIG et al., 2006). O Ministério da Saúde (BRASIL, 2013b, p. 5), nas diretrizes para o cuidado de pessoas com doenças crônicas nas RAS e em linhas de cuidado prioritárias, define essas doenças como: As doenças crônicas compõem o conjunto de condições crônicas. Em geral, estão relacionadas a causas múltiplas. São caracterizadas por início gradual, de prognóstico, usualmente, incerto, com longa ou indefinida duração. Apresentam curso clínico que muda ao longo do tempo, com possíveis períodos de agudização, podendo gerar incapacidades. Requerem intervenções com o uso de tecnologias leves, leve-duras e duras, associadas a mudanças de estilo de vida, em um processo de cuidado contínuo que, nem sempre, leva à cura. Em determinados períodos, as condições crônicas podem apresentar eventos agudos, também, percebidos objetiva ou subjetivamente, muitas vezes, causados pelo mau manejo dessas condições, especialmente, na APS. Manifestações de emergências hipertensivas são um bom exemplo. Logo, compreende-se que esses eventos agudos são diferentes de condições agudas, que é comum que ocorram, também, nas crônicas. As condições agudas se manifestam, em geral, por eventos agudos. As crônicas, também, podem se manifestar em momentos episódicos e de forma exuberante, sob a forma de eventos agudos (MENDES, 2012). Um dos problemas contemporâneos centrais da crise dos modelos de atenção à saúde consiste no enfrentamento das condições crô- nicas na mesma lógica das condições agudas, ou seja, por meio de tecnologias destinadas a responder aos momentos agudos dos agra- vos, normalmente, momentos de agudização das condições crôni- 100 cas, autopercebidos pelas pessoas, através da atenção à demanda espontânea, principalmente, em Unidades de Pronto Atendimento ou de internações hospitalares de urgência, ou emergência (BRASIL, 2010, p. 13). As condições crônicas vão muito além das doenças crônicas (diabetes, cardiovasculares, cânceres, respiratórias crônicas etc.) ao englobar, também, as infecciosas persistentes (tuberculose, HIV/AIDS, hanseníase etc.); as condições referentes à maternidade (atenção perinatal, puerpério, de recém-nascidos); as condições para a manutenção da saúde, conforme os ciclos de vida, do início ao fim (puericultura, hebicultura e cunicultura); usuários com distúrbios mentais de longo prazo; deficiências físicas e estruturais contínuas (amputações, deficiências visual, motora etc.); doenças metabólicas e bucais; e enfermidades nas quais há sofrimento, embora não se encaixem nos padrões biomédicos (MENDES, 2012). 2.3.1 Cuidado das condições crônicas O cuidado das atenções crônicas apresenta modelos de avaliação mais complexos, assim, o tempo-resposta, em função dos riscos, deixa de ser a variável- chave. Pessoas portadoras de condições crônicas e a melhoria da saúde necessitam de uma transformação do sistema de atenção à saúde, o qual é fragmentado, reativo e episódico, que responde a demandas de eventos e condições agudas focados na doença, para um sistema que seja integrado, contínuo, proativo e com foco na pessoa e na família dela. Além da promoção e da manutenção da saúde, é exigido o cuidado das condições crônicas na APS, com a definição de papéis e tarefas que assegurem, aos usuários, uma atenção planejada e estruturada por uma equipe multiprofissional, com a inclusão de novas formas de atenção que vão além de uma consulta presencial, como a atenção compartilhada em grupos, a contínua e a distância (MENDES, 2012). Na estrutura da Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas, a Atenção Básica à Saúde (ABS) tem caráter estratégico, por ser o ponto de atenção com maiores capilaridade e potencial para identificar as necessidades de saúde da população e realizar a estratificação de riscos que subsidiará a organização do cuidado em toda a rede. É responsável, também, por realizar ações de promoção e de proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde para a maior parte da população (BRASIL, 2011; apud BRASIL, 2013b, p. 14). Cabe, ainda, ressaltar que outro fator importante para a inclusão de cuidados às condições crônicas, na APS, é a realização de um monitoramento padronizado e regular, para que os usuários sigam sendo atendidos mesmo após deixar a unidade de saúde, por isso, os profissionais devem receber uma educação permanente para se manter atualizados com novas evidências, além de serem envolvidos especialistas que deem suporte às equipes de APS, a fim de ofertar o cuidado para os usuários com condições crônicas de maior risco, ou complexidade (WAGNER, 2002). 101 2.3.2 Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MAAC) O MAAC é uma proposta do pesquisador EugênioVilaça Mendes (2012) para o SUS que incorpora e acrescenta lógicas e elementos de três outros modelos de atenção à saúde: Modelo da Determinação Social da Saúde, Modelo da Atenção Crônica (Chronic Care Model) e Modelo da Pirâmide de Riscos. Figura 2 – MAAC Fonte: Mendes (2007) apud Mendes (2011, p. 246) Conforme o exposto, o MAAC apresenta cinco níveis, os quais foram descritos por Brasil (2013a). O nível 1 do MACC opera com a população total de uma RAS, focada nos determinantes sociais intermediários (macrodeterminantes), nas condições de vida e de trabalho (melhoria habitacional, geração de emprego e renda, acesso ao saneamento básico), no acesso aos serviços essenciais (educação, infraestrutura urbana) e nas redes sociais e comunitárias. Nesse nível, são propostas intervenções para a promoção da saúde para a população total, através de ações intersetoriais (MENDES, 2012). No nível 2 do MACC, opera-se com a utilização de subpopulações estratificadas por fatores de risco, com foco nos determinantes proximais, referentes a comportamentos e estilos de vida, através de intervenções de prevenção das condições de saúde, não somente, de prevenção de doenças, pois é possível prevenir condições de saúde, como a gravidez e a incapacidade funcional de idosos, sempre, voltadas para os usuários. Esses determinantes são considerados fatores de risco modificáveis e potenciados por determinantes sociais intermediários e distais, e, a partir da modificação de fatores de risco comportamentais, como alimentação inadequada, sedentarismo, tabagismo e excesso de peso e de álcool, dá-se a prevenção (MENDES, 2012). 102 Algumas iniciativas do governo, como os programas “Saúde na Escola” e “Academia da Saúde”, têm a finalidade de incentivar ações concretas para determinantes sociais da saúde e prevenção de doenças crônicas. Esses programas são realidade em municípios brasileiros e, portanto, já constituem parte da Rede de Cuidado às Pessoas com Doenças Crônicas (BRASIL, 2022). Até o segundo nível, não há uma condição de saúde estabelecida, nem a manifestação de algum fator de risco biopsicológico, exceto os riscos por idade, ou gênero. Somente, a partir do nível 3 do MACC, é utilizado um fator de risco biopsicológico e/ou uma condição de saúde que seja grave/complexa, que necessite de intervenções distintas. Trabalha-se com subpopulações que já apresentam uma doença crônica estabelecida. Nele, opera-se com subpopulações da população total que apresentam uma condição crônica simples, de baixo ou médio risco, ou uma subpopulação apresenta fatores de risco biopsicológicos (idade, gênero, hereditariedade, hipertensão arterial, dislipidemias, depressão, pré-diabetes etc.). Nesse nível, a atenção à saúde é, fortemente, ancorada em ações de autocuidado apoiado, mas existe, também, a atenção clínica ao indivíduo, de maneira geral, pela Atenção Básica. No nível 4, opera-se com subpopulações com condição crônica de alto ou muito alto risco. Nesse nível, além do autocuidado apoiado, observa-se uma necessidade mais significativa de cuidados profissionais, incluindo uma atenção cooperativa dos generalistas da APS e dos especialistas. O nível 5 se refere às subpopulações que apresentam uma condição de saúde crônica muito complexa e que chegam a consumir a maior parte dos recursos globais de um sistema de atenção à saúde. Nesse nível, as intervenções podem ser realizadas pela tecnologia da gestão de caso, e, em geral, exigem planos de cuidado mais singulares, pois, geralmente, é a parte da população que mais sofre. As necessidades convocam uma tecnologia de gestão clínica específica, com a exigência de uma alta concentração de cuidado profissional, assim, um gestor de caso (enfermeiro, assistente social, pequena equipe de saúde) deve coordenar a atenção recebida pelo usuário em todos os pontos de atenção à saúde e nos sistemas de apoio ao longo do tempo (MENDES, 2007). Assista ao vídeo a seguir, a respeito de como funciona a Rede de Aten- ção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas: https://www.youtube. com/watch?v=od052E9hFcc. DICA https://www.youtube.com/watch?v=od052E9hFcc https://www.youtube.com/watch?v=od052E9hFcc 103 O Ministério da Saúde define educação em saúde como um processo educativo de construção de conhecimentos em saúde que objetiva a apropriação temática pela população. Um conjunto de práticas do setor que contribui para aumentar a autonomia das pessoas para o cuidado e o debate com os profissionais e os gestores, a fim de alcançar uma atenção de saúde de acordo com necessidades (BRASIL, 2012). NOTA O MAAC é uma proposta do pesquisador Eugênio Vilaça Mendes (2012) para o SUS, a qual incorpora e acrescenta lógicas e elementos de três outros modelos de atenção à saúde: Modelo da Determinação Social da Saúde, Modelo da Atenção Crônica e Modelo da Pirâmide de Riscos. Os sistemas de saúde predominantes em todo mundo estão falhando, pois não estão conseguindo acompanhar a tendência de declínio dos problemas agudos e de ascensão das condições crônicas. Quando os problemas de saúde são crônicos, o modelo de atenção às condições agudas não funciona (OMS, 2003). Segundo Brasil (2013a), esse modelo de atenção é referência para os próximos passos de constituição da rede, elencados os pontos de atenção e definidas as atribuições, além da instituição de fluxos e diretrizes clínicas que direcionem a prática dos profissionais nesses pontos. 3 PREVENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE Sabe-se que a APS é a principal porta de entrada para os serviços de saúde. A equipe de ESF é responsável pelo atendimento de pacientes, e tem o dever de desenvolver atividades de promoção da saúde, prevenção de doenças e recuperação. Um dos instrumentos dela, para alcançar esses objetivos, é a educação em saúde (BRASIL, 2017). Essas atividades de prevenção e promoção da saúde são de extrema importância na APS, pois, com elas, o vínculo com usuários é estreitado e os insere como atores principais do próprio cuidado. Entretanto, o conceito de promoção da saúde pode acabar sendo confundido com o de prevenção de complicações, o último com foco nos problemas potenciais do paciente e nos fatores de risco intrínsecos, ou extrínsecos, a um usuário (FREIRE et al., 2016). No que tange à saúde coletiva, é possível compreender que existem aproximações entre os conceitos de promoção de saúde e prevenção de doenças/ riscos, assim como abordagens nas quais esses conceitos se diferenciam, justamente, pelo fato de apresentarem perspectivas epistemológicas divergentes. Nesse cenário, a 104 prevenção de doenças e a promoção da saúde ora são entendidas de forma análoga, trabalhando juntas; ora antagônicas; e, em outros momentos, como complementares (BORGES; JESUS; SCHNEIDER, 2018). Existe uma certa confusão em relação à prevenção de doenças e à promoção da saúde. As duas precisam estar presentes na Atenção Básica, pois estão, diretamente, associadas ao bem-estar do usuário. A promoção e a prevenção da saúde são necessárias para os desenvolvimentos econômico e social sustentados, além de contribuírem para a melhora da qualidade de vida da população, com a aplicação de ações de saúde (CESTARI et al., 2016). Em consonância com o supracitado, a partir do ponto de vista de Westphal (2009), a prevenção de doenças e a promoção da saúde possuem conceitos diferentes. Enquanto a prevenção está vinculada a uma visão biologicista, à identificação de riscos e à atuação a partir deles, ela não considera a gênese e a natureza desses riscos, os mecanismos de atuação e os meios para prevenir a existência deles. Não considera a dimensão histórico-social do processo saúde/doença e as práticas não beneficiam políticas públicas e intersetoriais voltadas para determinantes sociais, econômicos, políticos, educacionais, ambientais e culturais desse processo. Já a promoção da saúde está ligada a uma visão holística, socioambiental, com práticas independentes, assim, voltadas para determinantessociais. 3.1 PROMOÇÃO DA SAÚDE Caponi (2009) explana outra abordagem, na qual a promoção é apresentada ao ser estabelecida uma relação com a prevenção, ou seja, enquanto a promoção está, diretamente, relacionada à saúde, a prevenção visa evitar doenças. Mascarenhas, Melo e Fagundes (2012) citam que a promoção da saúde é uma estratégia fundamental para estimular mudanças, pois resgata o cuidado com relações humanas e práticas de saúde que, unidas às premissas da atenção primária, possibilitam a construção de novas relações sociais. O principal foco da promoção da saúde tem sido o conceito de empoderamento, e, para ser viabilizada essa autonomia, o elemento principal é a educação em saúde (CESTARI et al., 2016; CARNEIRO et al., 2012). Essas ações educativas em saúde podem capacitar indivíduos e grupos para a construção de novos saberes, com a geração de uma prática consciente de comportamentos para prevenção, ou promoção, da saúde (CESTARI et al., 2016). 105 Assista ao vídeo a seguir, que aborda a educação em saúde na APS: https://bit.ly/3oIu0FS Acesso em: 20 mar. 2023. DICA Logo, a educação em saúde atua como um instrumento para a autonomia dos usuários, pois envolve, em práticas, o diálogo e a participação através da relação estabelecida entre profissionais de saúde e usuários. A promoção da saúde impulsiona a participação ativa dos sujeitos, com os objetivos de transformação social e consolidação das diretrizes do SUS (COUTO et al., 2016). A promoção da saúde se trata, justamente, da intervenção em condições de vida da população, com fatores presentes, como a educação, o saneamento básico, a habitação, o meio ambiente, dentre outros determinantes socioambientais, os quais influenciam, diretamente, na geração de saúde e doença (MASCARENHAS; MELO; FAGUNDES, 2012). Ela vem com a finalidade de consolidar a ESF, pois reforça os princípios do SUS, principalmente, no que se refere à integralidade na atenção à saúde e à participação social (HEIDEMANN; WOSNY; BOEHS, 2014). Com isso, observa-se a importância das ações de promoção da saúde, sendo que a presença da população, nessas atividades, é, sempre, um desafio. 3.2 PREVENÇÃO DE DOENÇAS A prevenção está mais focada nos aspectos biológicos, com a identificação de riscos e a atuação a partir deles (MASCARENHAS; MELO; FAGUNDES, 2012). As intervenções preventivas objetivam evitar o surgimento de agravos específicos, promover a cura, limitar os danos e reabilitar o indivíduo (FIGUEIRA et al., 2009). Busca prevenir uma emergência, assim como acontecimentos indesejáveis entre populações consideradas, estatisticamente, em situações de risco (CAPONI, 2009). A partir do conceito de saúde integral, a promoção da saúde compreende a prevenção de doenças. As ações de educação em saúde continuada, realizadas por profissionais de saúde, incentivam e estimulam o desenvolvimento da autonomia do usuário para o autocuidado e precisam ser planejadas coletivamente. O empoderamento, unido à educação em saúde, é uma ferramenta eficaz para prevenir agravos e possibilita discussões e orientações quanto à adoção de novos hábitos de vida (OLIVEIRA et al., 2013; COUTO et al., 2016; CESTARI et al., 2016). 106 Leavell e Clark, em 1965, propuseram um modelo no qual é possível diferenciar a promoção da saúde da prevenção de doenças, considerados os objetivos da promoção e os níveis de prevenção. Nesse modelo, a promoção da saúde é uma ação de prevenção primária (CLARK; LEAVELL, 1965). A prevenção primária corresponde a medidas gerais e educativas, com o objetivo de melhorar a saúde e o bem-estar geral dos usuários para que, assim, possam superar agressões de agentes patogênicos. A usuários, a função de cuidado do ambiente é primordial, para que não haja o desenvolvimento de agentes etiológicos (WESTPHAL, 2009). Segundo a história natural das doenças de Clark e Leavell (1965), as prevenções secundária e terciária têm o objetivo de reduzir os fatores de risco relacionados a agentes patogênicos e ao ambiente, através de medidas educativas, além de supervisionar a adoção, ou o reforço, de comportamentos adequados à saúde e ao enfrentamento de uma doença. A prevenção secundária aponta para dois tipos de população: pessoas sadias, porém, com risco potencial, para que possa identificar doentes sem sintomas antecipadamente; e sujeitos doentes, ou, acidentalmente, diagnosticados, para que sejam orientados ao tratamento, curem-se, e se mantenham, funcionalmente, sadios. A prevenção terciária tem, como objeto, pessoas com sequelas advindas de doenças, ou acidentes, e, como objetivo, a recuperação delas, ou o equilíbrio funcional, através de atividades físicas, fisioterápicas e de saúde mental. Ainda, a partir da perspectiva da história natural da doença, as prevenções primária, secundária e terciária têm, como objetivo em comum, evitar doenças, ou o agravamento delas (WESTPHAL, 2009). Couto et al. (2016) refletem que, a partir do momento em que a Atenção Básica não realiza as ações de educação em saúde, há uma descontinuidade da promoção à saúde e da prevenção de doenças, o que parece contribuir para o aumento da procura por um hospital. Destaca-se, ainda, que a promoção da saúde e a prevenção de doenças devem privilegiar ações que tratam da saúde como um recurso para a vida, não somente, contemplar a abordagem focada na patologia (CARNEIRO et al., 2012). Segundo Oliveira et al. (2013), quando a educação em saúde é concebida a partir de um objetivo inicial, desde que se faça um planejamento adequado e se utilize uma metodologia sistematizada, em sua maioria, obtêm-se bons resultados. Em consonância, Mendonça, Toled e Lopes (2015) afirmam, ainda, que a colaboração e a participação do profissional de saúde, como educador, incentivam e estimulam reflexões e transformações de comportamentos de interesse, que vão desde orientações individuais, ou coletivas, até estratégias de intervenção. 107 Para Alves e Aerts (2011), a linguagem a ser utilizada em atividades educativas precisa ser simples e de fácil compreensão, para que o usuário consiga assimilar as informações a serem repassadas, pois, caso contrário, a falta de entendimento de um assunto abordado pode trazer riscos à saúde. Justamente, nesse momento, a troca de experiências, informações, crenças e valores deve ser valorizada, pois favorece a interação social e viabiliza a saúde do usuário. Cabe ressaltar que é de suma importância que os agentes de promoção da saúde precisam, indispensavelmente, de educação e formação específicas, incluindo desenvolvimento profissional contínuo, para que, assim, mantenha-se a combinação de conhecimentos e habilidades necessária para garantir a qualidade na prática de promoção da saúde (CESTARI et al., 2016). 4 HUMANIZAÇÃO, ACESSO E ACOLHIMENTO NA APS A humanização visa efetivar os princípios do SUS no cotidiano do trabalho em saúde. Tem, como base, a ressignificação do atendimento em saúde para uma perspectiva mais humana, ou seja, a realização de quaisquer ações que consideram o outro como um ser complexo e único, com respeito e compaixão (BRASIL, 2013c). O acesso e o acolhimento perpassam por esse modelo que altera rotinas de trabalho e pode ser descrito como uma aposta ética, estética e política: É uma aposta ética porque envolve a atitude de usuários, gestores e profissionais de saúde comprometidos e corresponsáveis. É estética porque se refere ao processo de produção da saúde e de subjetividades autônomas e protagonistas. E é política porque está associada às organizações social e institucional das práticas de atenção e gestão na rede do SUS (PENSESUS, 2022, p. 1). O conceito de humanização pode ser compreendido a partir de vários olhares: • Princípio de conduta de base humanista e ética. • Movimento contra a violência institucional na área da saúde. • Política pública para a atenção e gestão no SUS. • Metodologia auxiliar para a gestão participativa. • Tecnologia do cuidado na assistênciaà saúde (RIOS, 2009, p. 254). Leia o artigo de Rios (2009) na íntegra para aprofundar os seus estudos de cada um dos pontos citados: https://www.scielo.br/j/rbem/a/LwsQg- gyXBqqf8tW6nLd9N6v/?lang=pt. DICA https://www.scielo.br/j/rbem/a/LwsQggyXBqqf8tW6nLd9N6v/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rbem/a/LwsQggyXBqqf8tW6nLd9N6v/?lang=pt 108 A seguir, será descrita uma política pública que foi firmada para a consolidação dessas ações no SUS. 4.1 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO A Política Nacional de Humanização (PNH) foi criada em 2003, a partir do movimento de humanização que iniciou em hospitais e foi expandido para outros serviços da administração pública direta, principalmente, os da esfera da saúde (MARTINS, 2010 apud NAVARRO; PENA, 2013). A PNH estimula a comunicação entre gestores, trabalhadores e usu- ários para construir processos coletivos de enfrentamento de rela- ções de poder, trabalho e afeto que, muitas vezes, produzem atitudes e práticas desumanizadoras que inibem a autonomia e a correspon- sabilidade dos profissionais de saúde em seu trabalho e dos usuários no cuidado de si. Vinculada à Secretaria de Atenção à Saúde do Mi- nistério da Saúde, a PNH conta com equipes regionais de apoiadores que se articulam às secretarias estaduais e municipais de saúde. A partir dessa articulação, constroem-se, de forma compartilhada, pla- nos de ação para promover e disseminar inovações nos modos de fazer saúde. O HumanizaSUS, como, também, é conhecida a Política Nacional de Humanização, aposta na inclusão de trabalhadores, usu- ários e gestores na produção e gestão do cuidado e dos processos de trabalho (BRASIL, 2013c, p. 3-4). Essa inclusão acontece a partir de diferentes ações: • Rodas de conversa. • Incentivo a redes e movimentos sociais. • Gestão de conflitos gerados pela inclusão de diferenças (BRASIL, 2013c). “Humanizar o SUS requer estratégias que são construídas entre trabalha- dores, usuários e gestores dos serviços de saúde” (BRASIL, 2013c, p. 5). IMPORTANTE O quadro a seguir descreverá as diretrizes da PNH: 109 Quadro 3 – Diretrizes da PNH Fonte: BRASIL (2013c p.7-13) Diretriz Descrição Acolhimento Acolher é reconhecer o que o outro traz como legítima e singular necessidade de saúde. O acolhimento deve comparecer e sustentar a relação entre equipes/serviços e usuários/populações. Com uma escuta qualificada oferecida pelos trabalhadores às necessidades do usuário, é possível garantir o acesso oportuno desses usuários a tecnologias adequadas às suas necessidades, ampliando a efetividade das práticas de saúde. Gestão Participativa e cogestão Cogestão expressa tanto a inclusão de novos sujeitos nos processos de análise e decisão quanto a ampliação das tarefas da gestão - que se transforma também em espaço de realização de análise dos contextos, da política em geral e da saúde em particular, em lugar de formulação e de pactuação de tarefas e de aprendizado coletivo. Ambiência Criar espaços saudáveis, acolhedores e confortáveis, que respeitem a privacidade, propiciem mudanças no processo de trabalho e sejam lugares de encontro entre as pessoas. Clínica Ampliada e Compartilhada A clínica ampliada é uma ferramenta teórica e prática cuja finalidade é contribuir para uma abordagem clínica do adoecimento e do sofrimento, que considere a singularidade do sujeito e a complexidade do processo saúde/doença. Permite o enfrentamento da fragmentação do conhecimento e das ações de saúde e seus respectivos danos e ineficácia. Valorização do Trabalhador É importante dar visibilidade à experiência dos trabalhadores e incluí-los na tomada de decisão, apostando na sua capacidade de analisar, definir e qualificar os processos de trabalho. Defesa dos Direitos dos Usuários Os usuários de saúde possuem direitos garantidos por lei e os serviços de saúde devem incentivar o conhecimento desses direitos e assegurar que eles sejam cumpridos em todas as fases do cuidado, desde a recepção até a alta. Para que essas inovações que a PNH trouxe sejam seguidas, é de suma importância que os serviços de saúde não mantenham a padronização de condutas e o fazer técnico como forma de organização dos serviços, ao invés do acolhimento e da visão de um cuidado integral do ser humano. O desafio inicia na formação dos profissionais, para que entendam como articular eficiência técnica e rigor científico com uma postura ética e que respeite a singularidade de cada um (BARBOSA et al., 2013). 110 Assista ao vídeo do canal Conexão SUS, a respeito da PNH: https://www. youtube.com/watch?v=Oms5l_iduQE. DICA RESUMO DO TÓPICO 1 https://www.youtube.com/watch?v=Oms5l_iduQE https://www.youtube.com/watch?v=Oms5l_iduQE 111 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • A RAS é caracterizada pelas relações horizontais entre os pontos de atenção, sendo que a APS é o centro da comunicação da rede e porta de entrada preferencial para os usuários. • A APS fornece atenção ao usuário no decorrer do tempo, de modo a se atentar a ele como um todo, não somente, à enfermidade. • A APS, no SUS, conta com a ESF nas UBS. • As condições de saúde são divididas em dois grandes grupos: agudas e crônicas. Ambas têm comportamentos diferentes perante algumas variáveis. • O sistema de classificação de risco Manchester é utilizado em vários países, e, embora tenha sido desenvolvido para pontos de atenção secundários e terciários, especialmente, hospitalares, tem sido aplicado, também, na APS e em diversos espaços do SUS. • As ações de prevenção e promoção da saúde são de extrema importância na APS, pois com elas, o vínculo com os usuários é estreitado e os insere como protagonistas no cuidado com a saúde. • A humanização visa efetivar os princípios do SUS no cotidiano do trabalho em saúde. • A PNH é o principal documento no SUS que descreve as ações para a gestão e atenção humanizadas no âmbito do SUS. 112 AUTOATIVIDADE 1 A APS é o centro da RAS, considerada porta de entrada para os outros serviços de saúde. É fundamental para que os princípios de efetividade e equidade sejam alcançados, focados na saúde integral das pessoas. De acordo com as características apresentadas sobre a APS, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Como a APS é o primeiro contato dos usuários com o serviço de saúde, as equipes de ESF foram criadas principalmente para o cuidado das condições de saúde agudas da população. b) ( ) As Unidades Básicas de Saúde possuem tecnologias de média complexidade, a realização de consultas e procedimentos resolvem a maioria dos problemas de saúde da população. c) ( ) As evidências indicam que é fundamental que a RAS opere com relações hierárquicas entre pontos de atenção, dessa forma, o atendimento termina na AP quando o usuário é encaminhado para a atenção especializada. d) ( ) Para obter resultados positivos ao longo do tempo, o cuidado na APS é focado na pessoa e na família. As equipes de ESF mantêm vínculo longitudinal com os usuários, sendo essa uma estratégia potente para o cuidado integral da população. 2 O SUS defende que a atenção à saúde seja oferecida à população nas dimensões de prevenção, promoção e tratamento, dessa forma, integrando o conceito da OMS de que o processo saúde-doença depende de questões biopsicossociais, e não somente da ausência de patologias. Sobre os serviços de prevenção e promoção de saúde, analise as sentenças a seguir: I- A influência da visão biomédica está presente principalmente na prevenção em saúde, porém, é importante que em suas ações, essa abordagem não foque somente na patologia. II- Os modelos de atenção às condições crônicas não contemplam ações de prevenção à saúde, pois tratam de casos já diagnosticados. III- O princípio da integralidade do SUS tem relação com a promoção da saúde, sendo que esta vê o indivíduo como um todo, englobando seus determinantes biológicos, psicológicos e sociais. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças Ie II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 113 3 As equipes de ESF são multidisciplinares e possuem a responsabilidade de desenvolverem atividades de educação em saúde, que ampliem práticas de hábitos saudáveis para a população adstrita. Sobre a educação em saúde, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As práticas de educação em saúde devem ser fundamentadas na educação popular, com linguagem acessível, considerando o conhecimento científico e também o saber prévio da população. ( ) A educação em saúde e educação permanente são sinônimos, já que ambas são propostas político pedagógicas, utilizadas para empoderar os usuários sobre suas condições de saúde. ( ) A educação em saúde possibilita que vínculos sejam fortificados por intermédio da interação entre os profissionais e usuários, um exemplo disso são os grupos de promoção à saúde costumeiramente oferecidos nas Unidades Básicas. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A humanização da saúde iniciou com um movimento nos hospitais e se expandiu para outros pontos dos serviços de saúde. Seu principal objetivo é efetivar os princípios do SUS no cotidiano do trabalho em saúde, sendo considerada fundamental para o cuidado em todos os níveis de atenção. Disserte sobre a relação entre os princípios de integralidade e participação popular do SUS e as características da Política Nacional de Humanização em Saúde. 5 O cuidado às doenças crônicas apresenta modelos de avaliação complexos, onde o tempo-resposta em função dos riscos deixa de ser a variável-chave. A APS é uma parte estratégica nesse caso, já que é o ponto de atenção do sistema com maior capilaridade e potencial para identificar as necessidades de saúde da população. Nesse contexto, disserte sobre as características que podem tornar o atendimento complexo no caso de pessoas portadoras de doenças crônicas, citando, de maneira ampla, possível recursos a serem utilizados na APS para estes problemas. 114 115 ASPECTOS CONCEITUAIS DA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE 1 INTRODUÇÃO A APS, sozinha, não é suficiente para sanar todos os problemas de saúde da população. Ela conta com o apoio e o complemento de serviços de outros níveis de atenção, denominados de “secundário e terciário”, elementos que dividem a Atenção Especializada (AE). No tema de aprendizagem 2, discutiremos a respeito da atenção secundária e de pontos ligados a ela, como atenção às urgências e emergências, que integram as UPAS e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Os profissionais da APS, quando identificam a necessidade, geralmente, encaminham o usuário para a atenção secundária. É importante frisar que, mesmo com o encaminhamento, a pessoa continua assistida pela APS, devido ao atributo de vínculo longitudinal. Podemos citar, também, a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas, formada pelas atenções básica e secundária, cada uma com competências para a organização desse tipo de cuidado. A contrarreferência da atenção secundária, para a APS, é uma prática importante nesses casos. Por fim, acadêmico, trataremos, neste tema, das infecções, sexualmente, transmissíveis, que são causadas por diversos tipos de agentes. Conceituaremos as principais patologias relacionadas, os tratamentos e as formas de prevenção. UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 2 ASPECTOS CONCEITUAIS NA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE No campo da atenção secundária, estão presentes os serviços especializados nos âmbitos hospitalar e ambulatorial. A “densidade tecnológica” utilizada nesse nível de atenção é intermediária (BRASIL, 2010 apud ERDMANN et al., 2013). Os serviços médicos especializados que atendem em áreas específicas, como psiquiatria, ginecologia, cardiologia, dentre outros, com atendimentos de urgência e emergência, de apoios diagnóstico e terapêutico, fazem parte desse nível, comumente, chamado de “média complexidade” (ERDMANN et al., 2013). 116 Os principais grupos de serviço dos apoios diagnóstico e terapêutico são: patologia clínica, anatomopatologia, citopatologia, radiodiagnóstico, exames ultrassonográficos, diagnose, órtese/prótese, terapias especializadas e fisio- terapia (MENDES, 2001 apud SOLLA; CHIORO, 2012). NOTA Os serviços prestados na AS são de menor densidade tecnológica em comparação aos terciários, e tendem a ser mais concentrados espacialmente (MENDES, 2010 apud GONÇALVES, 2014). Nesse caso, eles são “ofertados nas microrregiões sanitárias, compondo o nível de atenção secundária [...]. Os pontos de atenção terciária, por sua alta densidade tecnológica, são ofertados nas macrorregiões sanitárias, compondo o nível de atenção terciária” (GONÇALVES, 2014, p. 112). Com relação à oferta da atenção especializada com a da APS, Solla e Chioro (2012, p. 4) afirmam que, enquanto a rede de serviços de Atenção Básica deve ser, extremamente, capilarizada com unidades de pequeno porte distribuídas o mais próximo possível de onde os usuários vivem e trabalham, tendo, portanto, como sua principal característica, a descentralização, a AE deve ser, preferencialmente, ofertada de forma hierarquizada e regionalizada, garantindo a escala adequada (economia de escala) para assegurar tanto uma boa relação custo/ benefício quanto a qualidade da atenção a ser prestada. Destacamos mais algumas diferenças entre a APS e a AE: Como a quase totalidade do processo de trabalho em saúde pressupõe a interação entre o usuário e o profissional da saúde que irá prestar os cuidados necessários, na rede básica, os serviços “vão” até os usuários. Já na AE, deve-se dar o inverso: os usuários se deslocam até os espaços onde será realizada a produção do cuidado em saúde. Na Atenção Básica, a maior parte das ações e dos procedimentos a serem realizados é destinada à maioria dos usuários durante quase todo o tempo, atuando de forma mais extensiva. Na AE, a população-alvo, a cada momento, é circunscrita a uma parcela da população total, um subconjunto que apresenta, naquele instante, a necessidade de cuidados diferenciados e, muitas vezes, mais intensivos (SOLLA; CHIORO, 2012, p. 5). É esperado que a atenção especializada (secundária e terciária) trabalhe de forma integrada e conectada aos outros pontos da RAS. 117 Esses níveis possuem diferentes densidades tecnológicas entre si para a realização de serviços de saúde. Especificamente, nos pontos de atenção secundária de uma RAS, “durante todo o tempo, são estabelecidas linhas-guia de condução do atendimento, construídas com base em evidências e protocolos clínicos que normalizam, em detalhes, toda a carteira de serviços ofertada” (GONÇALVES, 2014, p. 112). Policlínicas, hospitais e centros de atendimento com equipamentos para exames mais avançados, como ecocardiogramas e endoscopias, também, integram a média complexidade da AE. É onde são tratados, por exemplo, casos de febre alta (acima de 39º C), fraturas e cortes com pouco sangramento, infarto e derrame (atendimento inicial), queda com torção, dor intensa ou fratura, cólicas renais, falta de ar intensa, crises convulsivas, dores no peito, vômito constante, dentre outros (BRASIL, 2022a, p. 1). Valderas et al. (2009) apud Carmo (2017) afirmam que a atenção responsabilizada é responsável por condições que não seriam possíveis de serem atendidas na APS, como médicos especialistas e um maior nível de conhecimento técnico, ou equipamento especializado. Entretanto, enfatizam que há uma certa indefinição de práticas, de fato, desempenhadas pela AE, ao contrário das funções da atenção primária, que estariam bem estabelecidas e, amplamente, aceitas. Com relação a essa discussão, afirma-se que a formulação de propostas e diretrizes do Ministério da Saúde, para a AE, reflete a fragmentação evidenciada pelas proposiçõesde organização do cuidado por patologias, ou seja, o trabalho isolado e fragmentado dos especialistas nesse âmbito. Faz-se um apanhado das políticas publicadas para as atenções primária e especializada, e se reflete que, para a segunda, elas estão muito mais ligadas a estabelecer fluxos e a indicar a responsabilidade de cada ente federado e para os “níveis de atenção”, mas não se abrem para propor dinâmicas efetivas para uma articulação dos serviços e, menos ainda, dos trabalhadores, com o esgotamento em uma enunciação formal. Outra reflexão pertinente à atenção especializada é o acesso dela, considerado um dos maiores problemas do SUS: O acesso à Atenção Especializada (ambulatorial e hospitalar), por sua vez, é um dos maiores problemas do SUS, decorrendo tanto da insuficiente oferta de ações diagnósticas e terapêuticas (dependendo da especialidade e da localização geográfica) quanto dos modos de financiamento, organização e funcionamento da Atenção Secundária (AE) e de outros elementos das RAS, como [...] a qualidade de encaminhamentos e solicitações (de exames, consultas, procedimentos) (SOLLA; REIS, 2008; ROCHA, 2014; TESSER; POLI, 2017 apud MELO et al., 2021). Dessa forma, acadêmico, percebemos que a atenção secundária possui diversos desafios, como de acesso e de necessidade de mudança de organização e formas de trabalho, para que seja associada aos outros pontos da RAS e não isolada entre os profissionais desse nível. Mesmo assim, as práticas e as técnicas assistenciais da atenção secundária, de maior densidade tecnológica, são fundamentais para o cuidado da população brasileira. 118 Para aprofundar os seus conhecimentos a respeito da atenção especializa- da, assista ao vídeo a seguir, do canal oficial do Conselho Nacional de Secre- tarias Municipais de Saúde (CONASEMS): https://www.youtube.com/watch?- v=wiZokX4F9lA. DICA 3 INFECÇÕES, SEXUALMENTE, TRANSMISSÍVEIS As infecções, sexualmente, transmissíveis podem ser causadas por vírus, bac- térias ou outros microrganismos. Como o próprio nome indica, a transmissão ocorre, principalmente, por intermédio do contato sexual (oral, vaginal, anal), quando acontece sem uso de camisinha e com uma pessoa infectada. A transmissão, também, pode ocor- rer durante a gestação, ao passar da mãe para a criança; no parto; ou na amamentação. Mesmo sendo incomum, está apta a acontecer, ainda, pelo contato de mucosas, ou pele não íntegra, que tenha secreções corporais contaminadas. Além de complicações, se não cuidadas adequadamente, essas infecções podem levar à morte (BRASIL, 2023a). Figura 3 – Sexo seguro Fonte: bit.ly/3Lr86zB. Acesso em: 24 abr. 2022. A terminologia infecções, sexualmente, transmissíveis passou a ser ado- tada em substituição à expressão Doenças, Sexualmente, Transmissíveis (DST), porque destaca as possibilidades de uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas (BRASIL, 2023). NOTA https://www.youtube.com/watch?v=wiZokX4F9lA https://www.youtube.com/watch?v=wiZokX4F9lA https://www.freepik.com/free-photo/close-up-man-with-condom-his-pocket_5120211.htm#query=sexo seguro&position=3&from_view=search&track=robertav1_2_sidr 119 Quadro 4 – Agentes patológicos e infecções Fonte: Morris (2020, p. 1) Existem vários tipos de infecções, e elas são causadas por diferentes agentes patológicos. Seguem alguns dos mais conhecidos: Infecções sexualmente transmissíveis bacterianas. Sífilis Gonorreia Cancroide Linfogranuloma venéreo Granuloma inguinal Infecções por clamídia, micoplasma e ureaplasma Infecções sexualmente transmissíveis virais. Verrugas genitais e anorretais Herpes genital Molusco contagioso Infecção pelo HIV Infecções parasitárias que podem ser sexualmente transmissíveis Tricomoníase (causada por protozoários) Escabiose (causada por ácaros) Pediculose pubiana (causada por piolhos) Muitas outras infecções, a princípio não consideradas infecções sexualmente transmissíveis, podem ser transmitidas sexualmente. Salmonelose, shigelose, campilobacteriose, amebíase, candidíase, giardíase, hepatites (A, B e C), infecção pelo vírus da zica, e infecção por citomegalovírus. Os fatores de risco para as infecções incluem: “não utilização de preservativos; relações sexuais com múltiplos parceiros; falta de cuidados de higiene; consulta tardia após surgirem os primeiros sinais ou sintomas” (CHAVES et al., 2020, p. 6). Os sinais e sintomas podem aparecer após o contato sexual; depois de semanas/ meses; ou, até mesmo, anos. Alguns sintomas estão aptos a desaparecer mesmo sem qualquer tratamento, porém, a pessoa permanece com a infecção (ALBUQUERQUE; MARQUES, 2019). Dentre sinais e sintomas que podem indicar uma infecção, destacam-se: • Corrimento vaginal anormal, frequentemente, com mau cheiro; ou corrimento uretral. • Presença de vermelhidão, manchas brancas, bolhas, verrugas ou vesículas nos órgãos genitais ou em volta, como no ânus, ou na boca. • Alteração de textura e/ou de cor nas unhas e/ou na pele ao redor delas. • Prurido intenso. • Dor ou sensação de queimadura ao urinar. • Dores difusas no baixo-ventre. 120 • Sensação de dor ou queimadura aquando de relações sexuais. • Febre (ALBUQUERQUE; MARQUES, 2019). Para a prevenção, o “sexo seguro” é indicado, termo que vai além do uso de preservativos, assim, outras medidas de prevenção são importantes, como: • Imunizar para HAV, HBV e HPV. • Conhecer o status sorológico para HIV da (s) parceria (s) sexual (is). • Testar, regularmente, para HIV e outras IST. • Tratar de todas as pessoas que vivem com HIV – PVHIV (Tratamento como prevenção e I=Ia). • Realizar exame preventivo de câncer de colo do útero (colpocitologiaoncótica). • Fazer profilaxia pré-exposição – PrEP, quando indicado. • Conhecer e ter acesso aos métodos de anticoncepção e concepção. • Proceder com profilaxia pós-exposição – PEP, quando indicado. A seguir, descreveremos as principais informações de algumas infecções. 3.1 HIV (IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA) HIV é a sigla, em inglês, para o vírus da imunodeficiência humana. Esse vírus pode levar à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Essa doença causa o enfraquecimento do sistema imunológico, nesse caso, o indivíduo pode manifestar doenças associadas a esse fenômeno (BRASIL, 2016a). A infecção envolve diversas fases, e a duração de cada uma depende da resposta imunológica e da carga viral da pessoa infectada: “os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida” (CHAVES et al., 2020, p. 7). A primeira fase da infecção (infecção aguda) é o período do surgimento de sinais e sintomas que não são específicos da doença, que ocorrem entre a primeira e a terceira semanas após a infecção. A fase seguinte (infecção assintomática) está apta a durar anos, até o apareci- mento de infecções oportunistas (tuberculose, neurotoxoplasmose, neurocriptococose) e algumas neoplasias (linfomas não Hodgkin e sarcoma de Kaposi). A presença desses eventos determina a síndrome da imunodeficiência adquirida – AIDS. O diagnóstico da doença é realizado através de exames ambulatoriais, como coleta de sangue, ou por fluido corporal. Testes rápidos são realizados no SUS gratuitamente. É importante que a pessoa infectada inicie o tratamento logo, assim, os medicamentos antirretrovirais impedem a multiplicação do HIV no organismo e aumentam o tempo e a qualidade de vida da pessoa (CHAVES et al., 2020). 121 3.2 SÍFILIS A sífilis é uma infecção curável, causada pela bactéria Treponema pallidum. Tem diferentes estágios e manifestações clínicas, e os sintomas dependem do estágio, como exemplificará o quadro a seguir: Quadro 5 – Estágios e sintomas da sífilis Fonte: Brasil (2023b, p. 1) Estágio Sintomas Sífilis primária Ferida, geralmente única, no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais da pele), que aparece entre 10 e 90 dias após o contágio.Essa ferida desaparece sozinha, independentemente de tratamento. Sífilis secundária Os sinais e sintomas aparecem entre seis semanas e seis meses do aparecimento e cicatrização da ferida inicial; Podem surgir manchas no corpo, que geralmente não coçam, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés. Pode ocorrer febre, mal-estar, dor de cabeça, ínguas pelo corpo; As manchas desaparecem em algumas semanas, independentemente de tratamento, trazendo a falsa impressão de cura; Sífilis latente (fase assintomática) Não aparecem sinais ou sintomas; É dividida em: latente recente (até um ano de infecção) e latente tardia (mais de um ano de infecção). Sífilis terciária Pode surgir entre 1 e 40 anos após o início da infecção; Costuma apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte. O tratamento depende do estágio da doença, sendo que a penicilina benzatina (Benzetacil) é utilizada em doses diferentes. Em caso de alergia à penicilina, uma opção é a medicação Doxiciclina (PINHEIRO, 2022). 3.3 HPV (PAPILOMAVÍRUS HUMANO) HPV é a sigla, em inglês, para papilomavírus humano, um vírus que infecta pele ou mucosas (orais, genitais ou anais) de homens e de mulheres, com verrugas anogenitais (regiões genitais e do ânus) e câncer, a depender do tipo de vírus. 122 Atualmente, são identificados mais de 200 tipos de HPV, sendo que, deles, aproximadamente, 40 tipos acometem o trato anogenital. NOTA As infecções são, tipicamente, assintomáticas. As verrugas angogenitais; e alterações no exame preventivo de colo de útero, provocadas pela infecção, são pouco frequentes. A resolução do HPV é espontânea e a infecção é mais prevalente em mulheres abaixo dos 30 anos. Entretanto, o cuidado pode perpassar por um tratamento ambulatorial para tratar das lesões. Atualmente, são disponibilizadas vacinas para a prevenção do HPV, uma opção segura e eficaz. 3.4 VÍRUS HERPES SIMPLES O vírus herpes simples causa uma infecção que é, altamente, contagiosa, transmitida pelo contato com ulcerações e, às vezes, em uma área afetada, quando não há ulceração. Os sinais são bolhas, ou ulcerações, na região da boca, ou órgãos genitais. Podem ocorrer febre e mal-estar no caso da primeira infecção (KAYE, 2021). • O herpes simples é um dos diversos tipos de herpes vírus. Há dois tipos de vírus do herpes simples (herpes simplex virus, HSV): • HSV-1, que é a causa comum das ulcerações nos lábios (herpes labial) e das ulcerações na córnea do olho (ceratite por herpes simples). • HSV-2, que é a causa comum do herpes genital. • O vírus infecta, por vezes, outras partes do corpo, incluindo olhos e cérebro. • Geralmente, os médicos reconhecem, com facilidade, as ulcera- ções causadas por herpes, mas, por vezes, é necessária a análise do material de uma ulceração, ou exames de sangue. • Nenhum medicamento pode eliminar o vírus, mas medicamentos antivirais podem ajudar a aliviar os sintomas e ajudar a resolvê-los um pouco mais cedo (KAYE, 2021, p. 1). 123 Figura 4 – Herpes na boca Fonte: https://doutorsantoandre.com.br/odontologia/2020/07/30/herpes-labial/. Acesso em: 24 abr. 2022. Geralmente, na infância, acontece o contato com o vírus, porém, a doença pode não se manifestar nessa época. O vírus passa pela pele, percorre um nervo, e, quando está instalado no organismo, pode ficar inativo, até que seja reativado. Essa reativação ocorre por vários fatores, como exposição à luz solar intensa, fadigas física e mental, estresse emocional, febre, ou outras infecções que reduzem a resistência orgânica. A imunidade auxilia a não permitir que o organismo desenvolva a doença. Algumas pessoas, mesmo em contato com o vírus, nunca apresentam herpes. 3.5 TRICOMONÍASE Essa infecção é causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis, encontrado, mais frequentemente, na genitália feminina, porém, também, pode afetar a uretra. Dentre os sinais e sintomas, podemos destacar: • As mulheres podem ter uma secreção amarela, esverdeada, espumosa, com odor de peixe, apresentando irritação e assadura da área genital. • Os homens não costumam ter sintomas, mas alguns têm uma secreção espumosa do pênis e leve dor, ou desconforto, durante a micção (MORRIS, 2021, p. 1). O diagnóstico requer exames clínicos a partir de uma amostra de secreção, e o tratamento ocorre com a administração de antibióticos. É indicado o tratamento simultâneo dos parceiros sexuais (MORRIS, 2021). Ações educativas de infecções em escolas são importantes para que elas sejam prevenidas. A desinformação é aliada da criação de estigmas. 124 4 ASPECTOS GERAIS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA O termo urgência é relacionado a quadros de saúde nos quais o paciente necessita de atendimento o mais rápido possível. Mesmo quando não há risco de morte, o pronto atendimento pode evitar que a pessoa sofra complicações e auxiliar para que ocorra a melhora dos sintomas mais rapidamente. Já a emergência é caracterizada pelo risco de morte eminente. Nesse caso, deve ser atendido por uma equipe em um local no qual existam recursos médicos para suporte de vida. De acordo com a Portaria nº 354, de 10 de março de 2014, que publica a proposta de Projeto de Resolução Boas Práticas para Organização e Funcionamento de Serviços de Urgência e Emergência, as definições são (BRASIL, 2014): • Emergência: constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem sofrimento intenso ou risco iminente de morte, com a exigência, portanto, de um tratamento médico imediato. • Urgência: ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial à vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata (BRASIL, 2014). Exemplos de atendimentos de urgência: • Dor aguda moderada, ou intensa. • Agitação importante. • Falta de ar. • Vômitos frequentes e incessantes. • Sintomas urinários, ou gastrointestinais, agudos e intensos. • Traumas leves a moderados; ferimentos cortantes; fraturas ou luxações. • Alterações sensoriais, como diminuição súbita de audição, ou visão. • Sangramento vaginal em gestantes. Exemplos de atendimentos de emergência: • Perda súbita de movimento de braços, ou pernas. • Dor no peito, de moderada até alta intensidade - sintoma de infarto. • Traumas graves, com perda de sangue importante. • Traumatismo encefálico, com perda de consciência. • Anafilaxia (reação alérgica grave). • Intoxicação (medicamentos, produtos de limpeza etc.). • Convulsões. • Vítimas de acidentes graves - ataque de animais, afogamento, incêndio, choque elétrico, quedas, agressões, colisão no trânsito, atropelamento etc. • Insuficiência respiratória, ou cardíaca, aguda. https://vidasaudavel.einstein.br/dor-no-peito/ 125 A humanização, em atendimentos de urgência e emergência, é fundamental, assim, “o enfermeiro pode assumir o protagonismo na efetivação da PNH, por meio do gerenciamento de casos, responsabilizando-se pela ordenação, direcionamento e integração de todos os pontos das redes de atenção” (SOUSA et al., 2019, p. 8). Além disso, a atuação do profissional de enfermagem, nesses contextos, é importante, pois realiza o primeiro contato com o paciente e o acompanha até a alta, ou transferência (SILVA; INVENÇÃO, 2018). Para saber mais a respeito da humanização em serviços de urgência e emergência, leia o seguinte artigo: https://www.scielo.br/j/rgenf/a/PX7vJw- FyrRTsVm3jgMk8rRN/?format=pdf&lang=pt. DICA A presença de um líder, na equipe de enfermagem, para atendimentos de urgência e emergência, é descrita por Freire et al. (2019, p. 2034) como necessária “para guiar o trabalho dos liderados no gerenciamento do cuidado ou na otimização dos recursos necessários para uma assistência de qualidade”. Os autores dessa revisão integrativa, ainda, citam o desafio da atuação do profissional em contextos de urgência e emergência: Como desafio, os estudos demonstraram que o enfermeiro deve possuir habilidades para alinhar qualidade do cuidado ao maugerenciamento do sistema de saúde, deficiente em organização, fluxos, superlotação, bem como despreparo do enfermeiro no exercício da liderança (FREIRE et al., 2019, p. 2039). Estresse, esgotamento, pressão emocional e esforços físico e mental são exemplos de situações às quais enfermeiros são expostos em rotinas. Segundo Silva (2019, p. 83), isso ocorre porque há um acúmulo de funções, atividades de assistência e burocráticas. Portanto, é de suma importância que o profissional atuante na área do setor de urgência e emergência se qualifique, e, ainda, que esse setor se torne cada vez mais humanizado e com maior qualidade, pois os ambientes laborais impõem um esforço fora do comum desses profissionais. Em 2011, o Ministério da Saúde reformulou a Política Nacional de Atenção às Urgências (2003), quando publicou a Portaria nº 1.600, que institui a Rede de Atenção às Urgências no SUS (BRASIL, 2011). Segundo o Ministério da Saúde, a Rede de Atenção às Urgências tem, como objetivo, “reordenar a atenção à saúde em situações de urgência e emergência, de forma coordenada, entre os diferentes pontos de atenção que a compõem, de forma a melhor organizar a assistência, definindo fluxos e as referências adequadas” (BRASIL, 2022b, p. 1). A complexidade se dá pela necessidade de atendimento 24 horas a diferentes condições de saúde, agudas ou crônicas agudizadas, de naturezas clínica, cirúrgica, traumatológica etc. https://www.scielo.br/j/rgenf/a/PX7vJwFyrRTsVm3jgMk8rRN/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/rgenf/a/PX7vJwFyrRTsVm3jgMk8rRN/?format=pdf&lang=pt 126 Quadro 6 – Componentes de atenção às urgências e objetivos Componente Objetivo Promoção, Prevenção e Vigilância em Saúde. Tem por objetivo estimular e fomentar o desenvolvimento de ações de saúde e educação permanente voltadas para a vigilância e prevenção das violências e acidentes, das lesões e mortes no trânsito e das doenças crônicas não transmissíveis, além de ações intersetoriais, de participação e mobilização da sociedade visando a promoção da saúde, prevenção de agravos e vigilância à saúde. Atenção Básica. tem por objetivo a ampliação do acesso, fortalecimento do vínculo e responsabilização e o primeiro cuidado às urgências e emergências, em ambiente adequado, até a transferência/encaminhamento a outros pontos de atenção, quando necessário, com a implantação de acolhimento com avaliação de riscos e vulnerabilidades. Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) e suas Centrais de Regulação Médica das Urgências; tem como objetivo chegar precocemente à vítima após ter ocorrido um agravo à sua saúde (de natureza clínica, cirúrgica, traumática, obstétrica, pediátricas, psiquiátricas, entre outras) que possa levar a sofrimento, sequelas ou mesmo à morte, sendo necessário, garantir atendimento e/ou transporte adequado para um serviço de saúde devidamente hierarquizado e integrado ao SUS. Sala de Estabilização. deverá ser ambiente para estabilização de pacientes críticos e/ou graves, com condições de garantir a assistência 24 horas, vinculado a um equipamento de saúde, articulado e conectado aos outros níveis de atenção, para posterior encaminhamento à rede de atenção à saúde pela central de regulação das urgências. Força Nacional do SUS. objetiva aglutinar esforços para garantir a integralidade na assistência em situações de risco ou emergenciais para populações com vulnerabilidades específicas e/ou em regiões de difícil acesso, pautando-se pela equidade na atenção, considerando-se seus riscos. Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24h) e o conjunto de serviços de urgência 24 horas; Está assim constituído: I - a Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24 h) é o estabelecimento de saúde de complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde/Saúde da Família e a Rede Hospitalar, devendo com estas compor uma rede organizada de atenção às urgências; e II - as Unidades de Pronto Atendimento (UPA 24 h) e o con- junto de Serviços de Urgência 24 Horas não hospitalares devem prestar atendimento resolutivo e qualificado aos pa- cientes acometidos por quadros agudos ou agudizados de natureza clínica e prestar primeiro atendimento aos casos de 127 Fonte: Brasil (2011, p. 1) natureza cirúrgica ou de trauma, estabilizando os pacientes e realizando a investigação diagnóstica inicial, definindo, em todos os casos, a necessidade ou não, de encaminhamento a serviços hospitalares de maior complexidade. Hospitalar. será constituído pelas Portas Hospitalares de Urgência, pelas enfermarias de retaguarda, pelos leitos de cuidados intensivos, pelos serviços de diagnóstico por imagem e de laboratório e pelas linhas de cuidados prioritárias. Atenção Domiciliar É compreendido como o conjunto de ações integradas e articuladas de promoção à saúde, prevenção e tratamento de doenças e reabilitação, que ocorrem no domicílio, constituindo-se nova modalidade de atenção à saúde que acontece no território e reorganiza o processo de trabalho das equipes, que realizam o cuidado domiciliar na atenção primária, ambulatorial e hospitalar. Para que essa Rede proporcione uma assistência qualificada a usuários em diferentes situações, é importante que os componentes citados atuem de forma integrada, articulada e sinérgica. É indispensável a implementação da qualificação profissional, da informação, do processo de acolhimento e da regulação de acesso de todos os componentes que a constituem. O estudo de Tofani et al. (2022 p. 774) demonstrou que, nem sempre, é assim. Afirmam que as “conexões frágeis e não regulares entre os serviços ampliam as iniquidades e explicitam a necessidade de articulação entre os componentes em rede”, ou seja, a integração entre os pontos da RAS, também, é um desafio. 128 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • No campo da atenção secundária, estão presentes os serviços especializados nos âmbitos hospitalares e ambulatoriais. • É esperado que a atenção especializada (secundária e terciária) trabalhe de forma integrada e conectada aos outros pontos da RAS. • Os componentes de atenção às urgências incluem: promoção, prevenção e vigilância em saúde; Atenção Básica; SAMU 192 e centrais de regulação médica das urgências; sala de estabilização; nacional do SUS; UPA 24h; conjunto de serviços de urgência 24 horas; hospitalar; e atenção domiciliar. • A humanização, em atendimentos de urgência e emergência, é fundamental, sendo que o enfermeiro pode assumir o protagonismo para a efetivação da PNH. • As infecções, sexualmente, transmissíveis podem ser causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos. • Para a prevenção de infecções, o “sexo seguro” é indicado, termo que vai além do uso de preservativos. Outras medidas de prevenção são importantes também. 129 AUTOATIVIDADE 1 A AS, também chamada de “média complexidade” possui densidade tecnológica intermediária, sendo formada por serviços especializados em nível ambulatorial e hospitalar. A AE (que contempla a atenção secundária e terciária) são responsáveis pelas condições que não seriam possíveis de serem atendidas na APS. Sobre as características da AE, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Os serviços oferecidos na AE tendem a ser mais espalhados espacialmente, dessa forma, todos os municípios devem possuir pontos de atenção secundária e terciária. b) ( ) A AE possui Políticas Públicas de Saúde desenvolvidas pelo Ministério da Saúde que definem dinâmicas efetivas para a articulação entre ela e a APS. c) ( ) Os serviços de Apoio Diagnóstico e Terapêutico, como, por exemplo, a fisioterapia, fazem parte da atenção terciária. d) ( ) O acesso à AE é considerado um dos maiores problemas do SUS, pela insuficiente oferta de ações, seus modos de financiamento, organização, entre outros elementos. 2 Há a necessidade de atendimento 24 horas às diferentes condições de saúde: agudas ou crônicas agudizadas. Em 2011 o Ministério da Saúde reformuloua Política Nacional de Atenção às Urgências instituindo a Rede de Atenção às Urgências no SUS. Com nas características dessa rede de atenção e nos atendimentos de urgência e emergência, analise as sentenças a seguir: I- O enfermeiro pode assumir o protagonismo na efetivação da humanização, por intermédio do gerenciamento de casos, responsabilizando-se pela ordenação, direcionamento e integração de todos os pontos das redes de atenção. II- Emergência se constitui como uma constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem sofrimento intenso ou risco iminente de morte, por exemplo, convulsões e intoxicação. III- O componente Sala de Estabilização deverá ser ambiente para estabilização de pacientes críticos e/ ou graves vinculados a um equipamento de saúde, garantindo observação e assistência de pacientes até 12 horas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 130 3 As IST são causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos, sua transmissão ocorre principalmente por intermédio do contato sexual (oral, vaginal, anal) quando acontece sem uso de camisinha e com uma pessoa infectada. De acordo com as características das IST, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A orientação adequada para pacientes infectados com tricomoníase é a de que o tratamento deve ser feito por ambos parceiros sexuais. ( ) O HPV é um exemplo de doença que pode não ser transmitida dependendo da imunidade da pessoa, sendo que ele auxilia o organismo a não desenvolver e doença. ( ) A terminologia IST passou a ser adotada porque destaca a possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas, sendo necessário exames laboratoriais para o diagnóstico. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A Rede de Atenção às Urgências tem como objetivo reordenar a atenção à saúde em situações de urgência e emergência de forma coordenada entre os diferentes pontos de atenção que a compõe. Ela possui oito componentes de atenção às urgências. Disserte sobre o objetivo da Atenção Básica como componente desta rede, destacando elementos nesse ponto de atenção que podem ser barreiras à humanização dos atendimentos. 5 HIV é a sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana. Este vírus pode levar à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). A infecção envolve diversas fases, a duração de cada uma depende da resposta imunológica e da carga viral da pessoa infectada. Disserte sobre essas fases e a orientação adequada em ações de prevenção e para pacientes já diagnosticados. 131 TÓPICO 3 - VIGILÂNCIA EM SAÚDE 1 INTRODUÇÃO A vigilância em saúde é fundamental para o cuidado da saúde da população. Continuamente, as ações de vigilância coletam, analisam dados e disseminam informações sobre fenômenos relacionados à saúde. Além disso, tem papel importante no planejamento e na prática de ações visando à saúde pública (BRASIL, 2008). No Tema de Aprendizagem 3, abordaremos a vigilância em saúde, suas diferentes áreas e sua relação com a Atenção Básica. Além disso, acadêmico, discutiremos sobre a notificação compulsória no SUS. Ela se caracteriza pela comunicação obrigatória de suspeita ou confirmação de doen- ças, agravo ou evento de saúde pública à autoridade de saúde. Esses dados são impor- tantes porque permitem que as autoridades consigam monitorar uma doença em um determinado território, podendo prever possíveis surtos, ou seja, a notificação compul- sória é necessária para o desenvolvimento de ações de vigilância em saúde. Por fim, discutiremos as condições sensíveis à atenção primária, refletindo sobre os indicadores de internações por essas condições como dispositivos de gestão do cuidado em saúde. UNIDADE 2 2 DETERMINANTES, RISCOS E DANOS À SAÚDE DA POPULAÇÃO ADSCRITA O conceito de vigilância é descrito por Jekel, Katz e Elmore (2005, p. 54) como o processo “que abrange a coleta, a análise, a interpretação e o relato dos dados referen- tes à incidência de mortes, de doenças e de lesões e a prevalência de certas condições, cujo conhecimento é considerado importante para promover a saúde da população”. É a vigilância em saúde que vai identificar uma epidemia, ou surto de doença, além de es- tabelecer prioridades para o controle de doenças, avaliar intervenções em doenças etc. Em 2008 foi instituída a Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS). Esse documento norteia o planejamento das ações de vigilância em saúde no SUS. Entende-se por Vigilância em Saúde o processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise de dados e disseminação de informações sobre eventos relacionados à saúde, visando o planejamento e a implementação de medidas de saúde pública, incluindo a regulação, intervenção e atuação em condicionantes e determinantes da saúde, para a proteção e promoção da saúde da população, prevenção e controle de riscos, agravos e doenças (BRASIL, 2008, p. 2). 132 A PNVS integra os saberes, processos e práticas relacionados à vigilância epi- demiológica, vigilância em saúde ambiental, vigilância em saúde do trabalhador e vigi- lância sanitária (BRASIL, 2008). O Quadro 7, a seguir, descreve cada uma dessas áreas. Quadro 7 – Tipos de vigilância Vigilância epidemiológica Conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual e coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças, transmissíveis e não-transmissíveis, e agravos à saúde. Vigilância em saúde ambiental Conjunto de ações e serviços que propiciam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de promoção à saúde, prevenção e monitoramento dos fatores de riscos relacionados às doenças ou agravos à saúde. Vigilância em saúde do trabalhador e da trabalhadora Conjunto de ações que visa promoção da saúde, prevenção da morbimortalidade e redução de riscos e vulnerabilidades na população trabalhadora, por meio da integração de ações que intervenham nas doenças e agravos e seus determinantes decorrentes dos modelos de desenvolvimento, de processos produtivos e de trabalho. Vigilância sanitária Conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços do interesse da saúde. Abrange a prestação de serviços e o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo e descarte. Fonte: Brasil (2008, p. 4) Um bom exemplo da importância do trabalho da vigilância sanitária (VISA) foi durante a pandemia em decorrência da COVID-19, atuando no controle de riscos e na fiscalização para que se cumpram os decretos do Governo Federal, seguindo os protocolos de segurança. A Política Nacional de Atenção Básica descreve como essencial a integração entre a Vigilância em Saúde e a AB para a população adscrita, buscando: o alcance de resultados que atendam às necessidades de saúde da população, na ótica da integralidade da atenção à saúde e visa estabelecer processos de trabalho que considerem os determinantes, os riscos e danos à saúde, na perspectiva da intra e intersetorialidade (BRASIL, 2017, p. 1). 133 População adscrita: população que está presente no território da UBS, de forma a estimular o desenvolvimento de relações de vínculo e responsa- bilização entre as equipes e a população, garantindo a continuidade dasações de saúde e a longitudinalidade do cuidado e com o objetivo de ser referência para o seu cuidado (BRASIL, 2017). NOTA As condições de saúde da população devem ser conhecidas para que seja possível desenvolver um plano de gestão da clínica, e para uma determinada condição de saúde (BRASIL, 2023c): • A gestão da clínica é um conjunto de tecnologias de microgestão da clínica, destinado a prover uma atenção à saúde de qualidade: centrada nas pessoas; efetiva, estruturada com base em evidências científicas; segura, que não cause danos às pessoas e aos profissionais de saúde; eficiente, provida com os custos ótimos; oportuna, prestada no tempo certo; equitativa, de forma a reduzir as desigualdades injustas; e ofertada de forma humanizada. • Gestão da Condição de Saúde: A gestão da condição de saúde pode ser definida como o processo de gerenciamento de um fator de risco biopsicológico ou de uma determinada condição de saúde já estabelecida, por meio de um conjunto de intervenções gerenciais, educacionais e no cuidado, com o objetivo de alcançar bons resultados clínicos, reduzir os riscos para os profissionais e para as pessoas usuárias e contribuir para a melhoria da eficiência e da qualidade da atenção à saúde (BRASIL, 2023c, p. 3-4). A gestão da condição de saúde é especialmente indicada para o manejo das condições crônicas, que precisam de cuidado longitudinal em diferentes pontos da RAS. A estratificação da população por estratos de risco é realizada para que se identifique os grupos ou estratos de risco que estão relacionados a uma determinada condição de saúde (BRASIL, 2023c). São considerados pelo menos dois aspectos: • Severidade: Gravidade; Fatores de risco; Complicações. • Autocuidado: Conhecimento e crenças sobre a condição de saúde; Atitudes, confiança e motivação frente às mudanças; Importância dada à condição; Presença e força das redes de suporte social e familiar (BRASIL, 2023c, p. 12). A partir dessa divisão, o modelo clínico será diferenciado por estratos de risco, ou seja, pessoas com condições mais simples – pessoas com condições complexas e pessoas com condições altamente complexas serão tratadas por modelos diferentes. Os Determinantes Sociais de Saúde (DSS) são definidos como as condições de vida e de trabalho dos indivíduos, que se relacionam com suas condições de saúde. Entender esses determinantes também é fundamental para planejar e definir as ações dos serviços de saúde. Segundo Buss e Filho (2007, p. 78), para a Comissão Nacional 134 sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), os DSS são “os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população”. Os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) e a situação epidemiológica e ambiental de um território devem orientar a organização do sistema de atenção à saúde. Estas variáveis estão profundamente inter-relacionadas e as políticas públicas de educação, emprego e saneamento, por exemplo, precisam estar articuladas com esse cenário. Para isso, o tripé – Determinantes Sociais da Saúde, Situação de Saúde-Doença e Rede de Atenção à Saúde – constitui a base para se compreender a problemática de saúde de um determinado território (BRASIL, 2017, p. 7). Nesse caso, a análise situacional na saúde abrange essas três dimensões, gerando indicadores que possibilitem a comparação entre esses aspectos de diversos territórios de saúde. Mapear o espaço de vida da população auxilia a: implementação de práticas planejadas de saúde, orientadas pelos problemas e necessidades da comunidade, contribuindo para a execução de ações que busquem a superação das complexas desigualdades existentes, relativas à cobertura, ao acesso e à resolubilidade e à qualidade na atenção à saúde. [...] Um exemplo da importância de se conhecer o território para atuação nos principais problemas de saúde da comunidade é o caso região Amazônica que concentra mais de 99% dos casos de malária do Brasil e a atuação integrada da VS com a AB é fundamental para o controle da doença, proporcionando a assistência ao paciente no diagnóstico e tratamento oportuno (BRASIL, 2018, p. 12-13). Sabemos que a integração entre a vigilância em saúde e a AB é considerada um dos grandes desafios no SUS. Mesmo com várias normativas desenvolvidas para estimular essa integração, essas duas áreas do conhecimento ainda não se integraram como o esperado, principalmente no âmbito das equipes que atuam nas Unidades Básicas de Saúde (BRASIL, 2018). Em diversos municípios, a ausência ou insuficiência desta integração provoca dificuldades na identificação dos elementos que exercem determinação sobre o processo saúde-doença e no efetivo controle das doenças e dos agravos prioritários, tornando distante a possibilidade de colocar em prática o princípio da integralidade da atenção no nível local (BRASIL, 2018, p. 5). Para aprofundar seus estudos neste tema, leia o documento a seguir, que descreve diretrizes para a integração entre AB e a Vigilância em saúde: ht- tps://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/3317.pdf. DICA 135 Podemos refletir a partir dessas informações que a territorialização é o alicerce do trabalho das equipes na AB para a prática da vigilância em saúde. Nesse âmbito, o território é visto a partir da perspectiva dos DSS, como local onde as pessoas vivem, estabelecem relações, trabalham etc. e não somente um espaço geográfico. 3 NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA NO SUS A Portaria nº 204, de 17 de fevereiro de 2016, define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras providências (BRASIL, 2016b). Segundo essa portaria, a notificação compulsória deve ser realizada pelos médicos, profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos de saúde, públicos ou privados. Ela pode ter diferentes periodicidades, conforme o Quadro 8 descreve: Quadro 8 – Tipos de notificações compulsórias Fonte: o autor Tipo de notificação compulsória Descrição Notificação compulsória imediata Notificação compulsória realizada em até 24 (vinte e quatro) horas, a partir do conhecimento da ocorrência de doença, agravo ou evento de saúde pública, pelo meio de comunicação mais rápido disponível. Notificação compulsória semanal Notificação compulsória realizada em até 7 (sete) dias, a partir do conhecimento da ocorrência de doença ou agravo. Notificação compulsória negativa Comunicação semanal realizada pelo responsável pelo estabelecimento de saúde à autoridade de saúde, informando que na semana epidemiológica não foi identificado nenhuma doença, agravo ou evento de saúde pública constante da Lista de Notificação Compulsória. Vigilância sentinela Modelo de vigilância realizada a partir de estabelecimento de saúde estratégico para a vigilância de morbidade, mortalidade ou agentes etiológicos de interesse para a saúde pública, com participação facultativa, segundo norma técnica específica es- tabelecida pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS). O Quadro 9 lista toda doença ou agravo e eventos de saúde pública que estão na lista nacional de notificação compulsória, de acordo com a periodicidade da notificação. Elas devem ser realizadas para o Ministério da Saúde, a gestão de Saúde, Meio ambiente e Segurança e/ou para a Secretaria de Estado da Saúde, a depender de cada situação (BRASIL, 2022c). 136 Quadro 9 – Lista nacional de notificação compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública Tipo de notificação compulsória Doenças, agravos e eventos de saúde pública Notificação compulsória imediata Acidente de trabalho: grave, fatal e em crianças e adolescentes. Acidente por animal peçonhento. Acidente por animal poten- cialmente transmissor da raiva. Botulismo. Cólera. Coqueluche. Dengue– Óbitos. Difteria. Doença Invasiva por "Haemophilus Influenza”. Doença Meningocócica e outras meningites. Doen- ças com suspeita de disseminação intencional: a. Antraz pneu- mônico; b. Tularemia; c. Varíola. Doenças febris hemorrágicas emergentes/reemergentes: a. Arenavírus; b. Ebola; c. Marburgd; Lassa; e. Febre purpúrica brasileira. Doença aguda pelo vírus Zika em gestante. Óbito com suspeita de doença pelo vírus Zika. Evento de Saúde Pública (ESP) que se constitua ameaça à saú- de pública. Eventos adversos graves ou óbitos pós vacinação. Febre Amarela. Febre de Chikungunya em áreas sem transmis- são. Óbito com suspeita de Febre de Chikungunya. Febre do Nilo Ocidental e outras arboviroses de importância em saúde pública. Febre Tifoide. Hantavirose. Influenza humana produzi- da por novo subtipo viral. Leptospirose. Malária na região extra- -amazônica. Poliomielite por poliovírus selvagem. Peste. Raiva humana. Síndrome da Rubéola Congênita. Doenças Exantemáticas: a. Sarampo b. Rubéola. Síndrome da Paralisia Flácida Aguda. Síndrome Respiratória Aguda Grave associada a Coronavírus a. SARS-CoV b. MERS – CoV. Tétano: a. Acidental b. Neonatal. Varicela – caso grave internado ou óbito. Violência sexual e tentativa de suicídio. Notificação compulsória semanal Acidente de trabalho com exposição a material biológico. Dengue – Casos. Doença de Chagas Aguda. Doença de Chagas Crônica. Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ). Doença aguda pelo vírus Zika. Síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika. Esquistossomose. Febre de Chikungunya. Hanseníase. Hepatites virais. HIV/AIDS – Infecção pelo Vírus da Imunodefici- ência Humana ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida In- fecção pelo HIV em gestante, parturiente ou puérpera e Criança exposta ao risco de transmissão vertical do HIV. Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Intoxicação Exógena (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxi- cos e metais pesados). Leishmaniose Tegumentar Americana Leishmaniose Visceral. Malária na região amazônica. Óbito: a. In- fantil b. Materno Sífilis: a. Adquirida; b. Congênita; c. Em gestante. Toxoplasmose gestacional e congênita. Tuberculose. Violência doméstica e/ou outras violências. Fonte: Brasil (2022c) 137 Para saber mais sobre as doenças de notificação compulsória, assista ao vídeo disponível no link a seguir: https://bit.ly/3ApqYZw. DICA O enfermeiro é um dos profissionais que exerce a atividade de notificar certas doenças ou agravo à saúde. É importante que os profissionais compreendam que ao notificarem estão auxiliando no controle, redução e prevenção de muitas doenças. O principal motivo da notificação é fornecer, aos órgãos competentes, informações de doenças/agravos/eventos que são transmissíveis, que apresentam letalidade ou outro tipo de impacto na saúde. A partir disso, podem ser tomadas medidas de promoção, proteção e controle. A realização da notificação é via sistema, por meio do Sistema de Informação de Agravos e Notificações – Sinan. Além das doenças e agravos que constam na lista nacional de doenças de notificação compulsória, os estados e municípios podem incluir outros problemas de saúde considerados importantes na sua região (BRASIL, 2023d). Outro sistema complementar à notificação compulsória é a Rede Nacional de Dados de Saúde, que foi constituída inicialmente no município de Alagoas como teste, porém, com o início da pandemia pela COVID-19 no Brasil, a plataforma expandiu-se para todo o território nacional. De acordo com o Ministério da Saúde: A Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) é a plataforma nacional de interoperabilidade (troca de dados) em saúde. A RNDS, além de ser um projeto estruturante do Conecte SUS, é um programa do Governo Federal voltado para a transformação digital da saúde no Brasil e tem o objetivo de promover a troca de informações entre os pontos da Rede de Atenção à Saúde, permitindo a transição e continuidade do cuidado nos setores públicos e privados (BRASIL, 2023e, s. p.). Nesse caso, a RNDS possibilita o registro e o compartilhamento das informações entre os profissionais de saúde. Os locais com maior incidência de uma doença específica podem ser encontrados na rede. Essa iniciativa, juntamente com a notificação compulsória, foi fundamental para o enfrentamento da COVID-19. 4 CONDIÇÕES SENSÍVEIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE As Condições Sensíveis à Atenção Primária (CSAP) são definidas como: problemas de saúde atendidos por ações típicas do primeiro nível de atenção e cuja evolução, na falta de atenção oportuna e efetiva, pode 138 exigir a hospitalização, como pneumonias bacterianas, complicações da diabete e da hipertensão, asma, entre outros (NEDEL et al., 2010, p. 62). As CSAP estão listadas na Portaria nº 221, de 2008, por grupos de causas de internações e diagnósticos, de acordo com a Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) (BRASIL, 2008). Leia a lista completa no link a seguir: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/sau- delegis/sas/2008/prt0221_17_04_2008.html. NOTA As Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP) são indicadores que se propõem a: mensurar as internações hospitalares que, em teoria, poderiam ser evitadas pelo acesso oportuno a cuidados de saúde de boa qualidade na atenção primária, permitindo refletir tanto a organização dos serviços de saúde como o estado de saúde da população (MALVEZZI, 2019, p. 59). Dessa forma, as taxas de ICSAP podem ser indicadores de monitoramento e avaliação do serviço da atenção primária: Altas taxas de internações por condições sensíveis à atenção primária em uma população, ou subgrupo(s) desta, podem indicar sérios problemas de acesso ao sistema de saúde ou de seu desempenho. Esse excesso de hospitalizações representa um sinal de alerta, que pode acionar mecanismos de análise e busca de explicações para a sua ocorrência. Vários estudos demonstram que altas taxas de internações por condições sensíveis à atenção primária estão associadas a deficiências na cobertura dos serviços e/ou à baixa resolutividade da atenção primária para determinados problemas de saúde (ALFRADIQUE et al., 2009, p. 1337). Nesse caso, as hospitalizações por CSAP são um indicador útil ao SUS (NEDEL et al., 2010). As “taxas de hospitalização, diagnóstico de internação e/ou internações evitáveis têm sido amplamente utilizadas como possíveis medidas de avaliar o desempenho da Atenção Primária à Saúde” (PEREIRA; SILVA; NETO, 2014, p. 333), ou seja, quando a AB não é resolutiva em suas ações, aumenta a demanda por internações hospitalares, o que ocasiona uma carga maior ao sistema de saúde que fica sobrecarregado. Além disso, as internações criam despesas que seriam evitáveis caso a AB fosse resolutiva nessas situações (PEREIRA; SILVA; NETO, 2014). O estudo de Santos et al. (2022) analisou as internações por condições sensíveis à atenção primária segundo características sociodemográficas, Brasil e regiões, de 2010 a 2019, os autores concluíram que: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2008/prt0221_17_04_2008.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2008/prt0221_17_04_2008.html 139 • Houve importante redução das taxas de internação por ICSAP no período analisado por ambos os sexos, faixas etárias e regiões. Entre as causas, as gastroenterites tiveram o maior declínio. Tais resultados refletem melhoras do desempenho da APS, mas também das condições gerais de vida. • E ocorreu redução do ritmo de queda das taxas no período de 2015 a 2019 e, em algumas regiões, até elevação, especialmente na faixa etária de zero a quatro anos. Esses achados podem refletir a crise econômica após 2015, bem como as políticas de austeridade implantadas nesse período (SANTOS et al., 2022). Podemos refletir sobre a importância da AB para a saúde pública, também que a criação de novas abordagens para o enfrentamento do processo saúde-doença de acordo com os princípios doSUS são fundamentais para resolver as demandas de saúde da população que são cada vez mais complexas e multifatoriais. 140 A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO E O TRABALHO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM Natália Cristina Pereira Bethania Ferreira Goulart Marina Pereira Rezende 1 Introdução Nas últimas décadas, a sociedade brasileira, por meio de algumas ações, tenta consolidar avanços nas políticas públicas de atenção integral em saúde do trabalhador que incluem prevenção de doença e promoção da saúde, envolvendo iniciativas dentro e fora do campo de atuação, buscando impedir os agravos relacionados ao trabalho. No entanto, são grandes os obstáculos à consolidação de programas e ações que, como resultado, poderiam contribuir de forma mais efetiva para o crescimento do índice de qualidade de saúde dos trabalhadores e trazer a melhoria dos indicadores nacionais, que colocam o país em situação precária quando comparado com as demais nações desenvolvidas (LACAZ, 2010). Abordar a saúde do trabalhador das redes de atenção à saúde é um fator deter- minante para o futuro da sociedade visto que, esses profissionais enfrentam diariamen- te a complexidade do processo saúde-doença e a articulação de práticas de prevenção de agravos e promoção à saúde. Essas ações são responsáveis pelo advento da alta carga horária de trabalho e a sobrecarga emocional enfrentada por esses profissionais o que, de certa forma, influencia na qualidade do serviço prestado aos usuários de saúde. O profissional de enfermagem é visto como a maior força de trabalho assistencial den- tro das redes de saúde e está submetido à elevada carga de desgaste físico e psíquico, fatores determinantes para o adoecimento profissional (ROCHA et al., 2015). O processo de trabalho de enfermagem é direcionado a ações do cuidado que visualiza a totalidade do ser humano, compreendendo os problemas de saúde existentes e distinguindo os que podem surgir. Sendo assim, é sucedido o planejamento, implementação de ações e avaliação dos resultados como estratégia para promover a saúde de qualidade (ARAÚJO et al., 2020; PAIXÃO et al., 2021; PEREIRA et al., 2009). Sabe-se que além das funções técnicas e institucionais, o profissional está inserido em um sistema falho, que o leva a um desgaste profundo. As condições de trabalho da equipe de enfermagem, principalmente no âmbito hospitalar, têm sido LEITURA COMPLEMENTAR 141 apontadas como ineficazes. A remuneração inadequada, a acumulação de escalas de serviço, o aumento da jornada de trabalho, a hierarquia presente na equipe de saúde e o desprezo social, entre outros fatores, influenciam nas condições de trabalho da equipe e interferem na qualidade da assistência que é prestada aos usuários (JEREMIA et al., 2020; MEDEIROS et al., 2006; TRECOSSI et al., 2020). Dessa forma, em 2003, foi lançada a Política Nacional de Humanização (PNH) da Atenção e Gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) que tem como movimento de interesse, mudar os modelos de atenção e gestão. É classificada como política pública de saúde, que aborda a humanização como “a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores” (BRASIL, 2008). [...] de forma que, desafia os sujeitos, a experimentar a incorporação de novos métodos para produzir novos modos de cuidar e tratar os usuários de forma humanizada. Há coletivos que sustentam a PNH, a fim de elaborar soluções provisórias para enfrentar os desafios desprendidos no dia a dia do trabalhador do SUS (Martins; Luzio, 2017). A implementação da PNH se faz necessária no sentido de modificar o ambiente de trabalho, através da escuta dos profissionais, da gestão democrática e de implementação da cultura humanista, devendo ser um passo para transformar a teoria em prática do dia a dia profissional, visando valorizar o trabalhador e o elo com a gestão que representa a instituição, refletindo-se na humanização, no trabalho e no resultado ofertado (MICHELAN; SPIRI; 2018). O cuidado humanizado precisa ser realizado na integralidade, pelos profissionais de saúde desde o momento que o usuário entra para o atendimento, fornecendo uma assistência integral e de qualidade. Sendo assim deve-se cuidar do usuário como um todo, desde sua admissão hospitalar ou consulta no serviço de saúde, até alta hospitalar ou conclusão da consulta, usufruindo das competências dos profissionais, buscando sempre o trabalho com uma equipe multidisciplinar em que todos visam a humanização (LIMA et al., 2017). A humanização é o respeito à vida, que engloba aspectos da convivência humana com as questões sociais, educacionais, psicológicas, morais e emocionais. Pressupõe que humanizar é agir com dignidade, benevolência, fraternidade e dedicação (AMARAL; CALEGARI, 2016). No ambiente hospitalar, a humanização ainda se mantém centralizada na figura pessoa-cliente, notabilizando pouca atenção ao cuidado e à humanização do sujeito-trabalhador. A temática em questão é bastante abordada na teoria. Porém, na realidade prática, sofre dificuldade de ser efetivada devido a se tratar de uma mudança de comportamento de um grupo e encontrar obstáculos que façam esses trabalhadores de instituições de saúde aceitarem a proposta de humanização e a mudança da sua postura e caráter pessoal (AMESTOY et al., 2006). 142 Um dos obstáculos encontrados são as condições do ambiente de trabalho que não favorecem a prática, além da exaustiva rotina de trabalho e atividades a serem reali- zadas. É preciso que o profissional reveja a aplicabilidade da humanização e o modo como ela interfere na postura do profissional e do usuário de saúde (MAESTRI et al., 2012). Diante disso, o estudo tem como objetivo identificar o entendimento da equipe de enfermagem sobre a PNHe como se dá o trabalho da equipe de enfermagem em âmbito hospitalar após a implementação da PNH. 2 Metodologia Tratou-se de uma pesquisa descritiva-exploratória. A pesquisa seguiu os critérios apresentados pelo Consolida-te Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ) [...]. O estudo foi realizado com enfermeiros e técnicos de enfermagem da unidade de Pronto Socorro (PSA) e Pronto Socorro Infantil (PSI) em um Hospital de Clínicas de um município do Triângulo Mineiro. [...] foi adotada uma amostragem por saturação teórica, [...] para a coleta de dados foi utilizada uma entrevista semiestruturada. A entrevista foi composta por duas partes: a primeira com perguntas relacionadas aspectos socioeconômicos do entrevistado, e a segunda parte foi composta por perguntas relacionadas à PNH. O roteiro foi submetido à validação aparente e de conteúdo por três doutores na temática e/ou metodologia de pesquisa. Para a coleta de dados, a entrevista foi desenvolvida pela própria pesquisadora face a face e gravadas, em dia e local previamente marcados, em comum acordo entre os participantes e pesquisadora, em ambiente que assegurasse privacidade. Os dados coletados, referentes à caracterização dos entrevistados foram submetidos à análise descritiva. Para abordagem desses dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, modalidade temática (MINAYO, 2013). [...] 3 Resultados Do total de 88 profissionais, sendo aproximadamente, 23 enfermeiros e 65 técnicos de enfermagem que exerciam as atividades laborais no PSA e PSI, à época da coleta de dados, oito participaram do estudo, seguindo a amostragem por saturação dos dados. Vale ressaltar que antes do processo de saturação, foram contatados 22 profissionais que se recusaram a participar do estudo por não conhecerem a PNH, 58 não estavam presentes nas três tentativas realizadas de contato, devido estarem em período de férias, afastamento, troca de setor ou não foram localizados no momento da coleta e/ou não se encaixavam nos critérios de inclusão, possuindo menos de seis meses de trabalho no referido setor. Dos entrevistados, três eram do sexo masculino e cinco do sexo feminino; a idade variouentre 27 e 45 anos; o tempo deformação na área de enfermagem entre três e 15 anos. Quanto à atuação no PSA e PSI o tempo variou entre seis meses e 10 anos. Para as entrevistas, foram abordados os profissionais que se encontravam no plantão no dia da coleta. 143 Com a análise dos dados, os resultados foram organizados em categorias temáticas, sendo elas: Compreensão do conceito de humanização; Caracterização da PNH; Percepção de mudanças na qualidade de vida e de trabalho após implantação da PNH; e, Percepção de aspectos positivos e negativos advindos da implantação da PNH. 3.1 Compreensão do conceito de humanização A humanização sempre vem associada do cuidado. Dessa forma, ao retratar a natureza humana, é aplicado o sentido da humanidade ao qual se inclui a benevolência e compaixão. O ato de humanizar, compõe a prática do cuidar, principalmente na enfermagem, onde o cuidar é o principal instrumento de trabalho. Logo, através da humanização visa-se proporcionar o bem-estar através do amor, da amizade e da possível cura (CORBARI et al., 2009). Essa perspectiva, se faz presente nas falas dos entrevistados. “Então, humanização para mim, é uma forma de tratar com empatia o paciente, de tentar melhorar a resolutividade para o paciente, de uma forma não só carinhosa, mas se colocando mesmo no lugar do paciente”. Enf. 1. “Humanização para mim, seria tratar as pessoas de forma igual, sem preconceito, diferenças, oposições e dentre outros. Seria em outras palavras, fazer o bem, sem olhar a quem”. Téc. Enf. 3. “Pra mim a humanização, ela é definida como acolhimento, respeito, aos princípios do SUS e a valorização das pessoas”. Téc. Enf. 6. 3.2 Caracterização da Política Nacional de Humanização A PNH foi apresentada, para que os princípios do SUS, dentro das práticas de atenção e gestão, fossem utilizados na qualificação da saúde pública no Brasil. Pautada no incentivo de trocas entre toda a equipe de trabalho, incluindo os gestores, trabalhadores e usuários (BRASIL, 2008). Nas transcrições, observa-se que os profissionais descrevem a PNH de forma sucinta e apenas relacionada ao atendimento ao usuário. “O que que eu entendo? É sempre ter um, como é que fala... orientar para os profissionais, tendo um curso sobre como ter um atendimento humanizado para os pacientes. É ter uma orientação geral para todos os profissionais, profissionais de todos os níveis”. Téc. Enf. 1. “A política nacional de humanização, é... Foram as diretrizes, acredito eu né? As diretrizes para aprimorar e implementar um atendimento... para melhorar a qualidade para o paciente”. Enf. 1. 144 “A política nacional de humanização, ela foi constituída com princípio de resguardar os direitos do usuário, quanto a ter um atendimento de qualidade, seguro [...] direito a participação ativa durante o seu atendimento”. Enf. 2. 3.3 Percepção de mudanças na qualidade de vida e de trabalho após implantação da PNH Com a implantação da PNH, busca-se melhorar as condições de trabalho para a equipe, atentando-se em mudar o modelo de gestão centralizado e vertical, o qual impossibilita os profissionais de participar do próprio processo de trabalho, inviabilizando uma gestão participativa e colaborativa e a criação de vínculo. Logo, a partir dessa perspectiva, aspectos como a desvalorização, precarização, excesso de carga horária e pouco investimento em educação permanente, são exemplos do que deve ser reorganizado para a melhora na qualidade de vida e trabalho desses profissionais (BARBOSA et al., 2013). Nas transcrições, os entrevistados revelam alguns pontos que reafirmam essa realidade, mesmo que de maneira superficial. “É... eu acho que sim, porque o paciente fica mais confortável, tem mais confiança na gente, tem um vínculo maior com a gente e a gente pode passar mais segurança para o paciente”. Téc. Enf. 4. “Sim, porque através dessa humanização, nos dá um norte de como se deve prosseguir, até mesmo para gerar melhorias para o ser humano. E quanto ao ambiente de trabalho, isso aumenta o vínculo, porque através do que é repassado, você transmite para as pessoas e isso gera uma grande mudança tanto para mim quanto para quem tá sendo alvo da humanização”. Téc. Enf. 5. “Sim, valorização do trabalho, valorização do usuário, mais empatia entre as equipes”. Téc. Enf. 6. 3.4 Percepção de aspectos positivos e negativos advindos da implantação da PNHA PNH traz consigo mudanças, que validam trabalho das equipes de enfermagem, sendo assim positivas e necessárias. Essas mudanças, apresentam-se como estratégias para amenizar o desgaste da saúde dos trabalhadores, uma vez que eles são submetidos à uma estrutura hierárquica e centralizadora, onde o profissional não é visto na sua individualidade e apenas a demanda do usuário é atendida (AMESTOY et al., 2006). É nesse cenário que entra a importância da gestão e cogestão, propostas na PNH, onde a equipe é integrada, objetivando a valorização das suas atividades laborais e a promoção da humanização no seu processo de trabalho e no cuidado do usuário. No que tange aos usuários, a PNH estabelece a possibilidade da criação de vínculo, onde o usuário participa ativamente do processo do cuidar. Essa perspectiva, se faz presente parcialmente nas falas dos entrevistados. 145 “Negativo não tem, né? Positivo, é que a gente começa a conhecer, [...] a questão do acolhimento humanizado, a questão de atender aos princípios do SUS, as diretrizes, a PNH, entendeu? Que é a questão, da valorização profissional [...] nós estamos bem acolhidos, pela própria gestão, coordenação, RT, entendeu? Então, tudo isso está dentro das diretrizes da PNH e traz valorização, acolhimento, não somente do usuário, mas também do colaborador. Téc. Enf. 2. “Positivo porque, é, essas ações até mesmo te transformam porque moldam a forma correta de como você deve agir com outras pessoas. Negativo é que esse vínculo, a humanização devia ser mais propagada, em questões de ações, porque muitas pessoas além de não saberem das práticas da humanização, elas não cumprem também [...]”. Téc. Enf. 5. “Eu sinceramente não vejo lado negativo de uma política humanizada, [...] muitos anos na assistência, talvez a gente vai ficando um pouco frio e isso é uma coisa que a gente tem que trabalhar na gente mesmo e não deixar isso acontecer, por- que paciente de uma forma ou de outra sempre tem razão, porque ele não tem o conhecimento que eu tenho e ele não tem as ferramentas que eu tenho [...]. Enf. 1. Discussão O ato de humanizar, no âmbito da saúde, está relacionado em suprir a necessidade do outro de forma integral, pautando o cuidado na inclusão das diferenças e interesses do cliente, envolvendo-os no processo de produção de saúde (BRASIL 2013a). A humanização proporciona o vínculo entre profissional e usuário, preservando a autonomia do mesmo, e permitindo a troca de conexões e saberes, favorecendo a manutenção das relações, de uma forma efetiva, ética e solidária (BENEVIDES et al., 2005). Além disso, a humanização enfatiza a subjetividade do trabalhador, ou seja, leva em consideração as especificidades e demandas de cada indivíduo, para que seja possível a sua interação dentro da equipe de trabalho. Com a humanização no ambiente de trabalho é possível obter participação, discussão e administração nas relações profissionais e interpessoais, proporcionando uma melhoria na qualidade de vida e do processo de trabalho (AMESTOY et al., 2006). Através dessa perspectiva, fica evidente que os entrevistados possuem uma visão diminuta sobre o que é a humanização e a importância da sua implantação dentro do setor, pois é a partir dessa humanização que é possível oferecer um atendimento de qualidade, tratando tanto o usuário quanto o profissional, de uma forma holística, levando em consideração todos os aspectos que identificam e formam um indivíduo, ou seja, considera o ser humano na sua forma biopsicossocial. Nas falas é possível notar que são utilizadosadjetivos amplos e frases sucintas, descrevendo a humanização apenas na perspectiva de atenção ao usuário, não referenciando a conexão da humanização com o trabalho e com os integrantes da equipe. 146 A PNH, aponta diretrizes e conceitos fundamentais para sua efetividade, estando entres eles: o acolhimento; a gestão participativa e cogestão; a ambiência; a clínica ampliada e compartilhada; a valorização do trabalhador; e, defesa dos direitos dos usuários (BRASIL, 2013a). Isso converge com as falas, as quais revelam que os entrevistados possuem uma noção básica do que seja a PNH. Entretanto, existe um déficit sobre o conhecimento da política, pois os profissionais entrevistados ao formular as respostas, demonstraram uma compreensão mais superficial e generalizada. A relevância da PNH dentro do atendimento em saúde, no cenário atual, se faz presente e indispensável, dado que as práticas profissionais ainda se pautam em um modelo mecanizado e alienado, não havendo conexão entre os sujeitos como a qualidade de vida do trabalhador está sendo afetada, devido a compartimentalização e isolamento das funções. Logo, exigem-se que sejam realizadas revisões na maneira de como essa prestação de serviço à saúde é ofertada para população e como isso afeta o desempenho do profissional, pois, parte-se da premissa que entender os diferentes aspectos e significados que permeiam a humanização, proporcione uma integralidade do cuidado e no trabalho em equipe. Assim, se fazem concebíveis estratégias ligadas a humanização, levando mudanças tanto para os usuários, quanto para os profissionais, se pautando nos princípios relacionados a integralidade da assistência, a equidade e a participação social do usuário e a valorização do profissional (CASATE et al., 2005; GOULART et al., 2010; MEDEIROS et al., 2016). Diante disso, ao abordar a percepção de mudanças na qualidade de vida e de trabalho após implantação da PNH e a percepção de aspectos positivos e negativos advindos da implantação da PNH, nota-se que as falas são voltadas para a melhoria do atendimento ao cliente, não sendo citadas mudanças relacionadas ao profissional de saúde. Desse modo, percebe-se que para os trabalhadores, a PNH foi feita com o intuito de atender somente os usuários, quando na verdade, ela engloba trabalhadores, usuários e gestores, para que ela seja concretizada deforma positiva e palpável. Além disso, em suas falas as mudanças percebidas, foram positivas, reafirmando que a PNH é essencial para uma mudança benéfica no sistema de saúde. Apesar de não serem citadas mudanças negativas nas falas dos entrevistados, compreende-se a diversidade de termos e definições que são relacionados ao tema, sendo condicionado com as vivências e posições sociais de cada indivíduo, dando espaço para várias interpretações (MEDEIROS et al., 2016). Dessa forma, é necessário que a PNH esteja apta a englobar essa heterogeneidade, proporcionando a ampliação da reflexão, e não se concretizando em uma única definição, possibilitando que ela seja colocada em prática de forma clara e precisa. Conclusão A partir dos resultados, nota-se que os profissionais compreendem apenas alguns aspectos da PNH, não contemplando a política em sua totalidade. Isso leva, a uma defasagem no atendimento ao usuário e na percepção dos direitos que ao 147 trabalhador são oferecidos. Dessa forma, é percebido a necessidade de estratégias que levem o conhecimento em sua totalidade, a esses profissionais, através de cursos de capacitação e atualização. A relevância do estudo em questão, caracteriza-se pelo incentivo à equipe de enfermagem na busca pelo conhecimento da PNH, para que se possa conseguir compreender todos os aspectos abordados pela política. E, assim consiga proporcionar um atendimento eficaz ao usuário, uma integração da equipe e a busca para fazer valer os seus direitos, visando uma melhor qualidade de trabalho. Observa-se uma escassez de estudos acerca desse tema. Logo, sugere-se estudos posteriores relacionados com essa temática, com o objetivo de atualização profissional, proporcionando a oportunidade de aprimoração de conhecimentos, como forma de garantir uma assistência de qualidade. Fonte: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/37585/31279 Acesso em: 30 jul. 2020. 148 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • Vigilância em saúde é o processo que abrange a coleta, a análise, a interpretação e o relato dos dados referentes à incidência de mortes, de doenças e de lesões e a prevalência de certas condições, cujo conhecimento é considerado importante para promover a saúde da população. • A Política Nacional de Atenção Básica descreve como essencial a integração entre a Vigilância em Saúde e a AB para a população adscrita. • A gestão da condição de saúde é especialmente indicada para o manejo das condições crônicas, que precisam de cuidado longitudinal em diferentes pontos da RAS. • A notificação compulsória deve ser realizada pelos médicos, profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos de saúde, públicos ou privados. Ela pode ter diferentes periodicidades. • As hospitalizações por CSAP são um indicador útil ao SUS. 149 AUTOATIVIDADE 1 A vigilância em saúde é essencial para o cuidado da saúde da população, esta área planeja e implementa as medidas de saúde pública. Em 2008 foi instituída a Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS). Sobre as áreas de vigilância presentes na PNVS, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A vigilância em saúde ambiental abrange a prestação de serviços e o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo e descarte. b) ( ) A vigilância epidemiológica proporciona o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual e coletiva. c) ( ) O conjunto de ações e serviços que propiciam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana é chamado de vigilância sanitária. d) ( ) A responsabilidade da promoção da saúde, prevenção da morbimortalidade e redução de riscos e vulnerabilidades na população trabalhadora é da vigilância sanitária. 2 Considera-se gestão da condição de saúde como o processo de gerenciamento de um fator de risco biopsicológico ou de uma determinada condição de saúde já estabelecida, por meio de um conjunto de intervenções. Com base na gestão da condição de saúde, analise as sentenças a seguir: I- A gestão da condição de saúde é especialmente indicada para o manejo das condições crônicas. II- A gestão da condição de saúde tem sido considerada uma mudança radical na abordagem clínica, pois considera os fatores de risco biopsicológicos da população adscrita. III- O objetivo da gestão da condição de saúde é realizar intervenções de caráter gerencial que visem reduzir os riscos para a saúde coletiva. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 150 3 Segundo a Portaria nº 204, a notificação compulsória deve ser realizada pelos médicos, profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos de saúde, públicos ou privados. Ela pode ter diferentes periodicidades, de acordo com elas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Notificação compulsória imediata (NCI): notificação compulsória realizada em até 48 (quarenta e oito) horas, a partir do conhecimento da ocorrência de doença. ( ) Notificação compulsória sentinela: Notificação compulsória realizada em até 7 (sete) dias, a partir do conhecimento da ocorrência de doença ou agravo. ( ) Notificação compulsória negativa: comunicação semanal, informando que na semanaepidemiológica não foi identificado nenhuma doença, agravo ou evento de saúde pública constante da Lista de Notificação Compulsória Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) F – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) são atribuídos às condições em que os indivíduos vivem e trabalham, são conhecimentos essenciais para que se organize o sistema de atenção à saúde. Disserte sobre como mapear o espaço e a situação de vida das pessoas são variáveis que proporcionam orientar a organização do sistema de atenção à saúde, e relacione o conceito de DSS com o conceito de equidade em saúde. 5 As Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP) são indicadores que se propõem a mensurar as internações hospitalares que, em teoria, poderiam ser evitadas. Disserte sobre o que este indicador revela e porque é útil para o SUS. 151 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, C. P. F. O.; MARQUES, M. M. F. P. Doenças sexualmente transmissí- veis. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3NcIpEh. Acesso em: 24 abr. 2022. ALFRADIQUE, M. E. et al. Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP – Brasil). Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 6, p. 1337-1349, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3NcBbA1. Acesso em: 24 abr. 2022. ALVES, G. G.; AERTS, D. 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São Paulo: Fiocruz, 2009. 158 159 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer e entender o papel do enfermeiro nas Atenções Primária e Secundária à Saúde; • conhecer e compreender as principais atividades desempenhadas pelos enfermeiros nas Atenções Primária e Secundária à Saúde; • conhecer e analisar as legislações que regem as atividades desenvolvidas pelo profissional enfermeiro; • estudar a importância dos trabalhos em equipe, multiprofissional e interdisciplinar no meio das Atenções Primária e Secundária à Saúde; • buscar o aprendizado por meio dos materiais extras disponibilizados para consultas e aprimoramento. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – PAPEL DO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS) TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – ATRIBUIÇÕES DO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – TRABALHOS MULTIPROFISSIONAL E INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 160 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 161 TÓPICO 1 — PAPEL DO ENFERMEIRO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS) UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A possui um papel fundamental na entrada do sistema de saúde pública, dessa forma, busca o desenvolvimento de uma atenção integral que impacta na saúde e na autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde da comunidade (MENDES, 2011). Tudo isso só é possível por meio de práticas de cuidado e gestão, democráticas e participativas, por conta do trabalho em equipe. Este trabalho é dirigido às populações de territórios definidos, pelas quais a APS assume a responsabilidade sanitária, considerada a dinâmica do território no qual vivem as pessoas, além de constituir a porta de entrada do usuário na Rede de Atenção à Saúde (RAS) (MENDES, 2011). Dentro da RAS, a APS é a ordenadora do cuidado, responsável por atividades resolutivas, e é, também, a porta de entrada da Estratégia Saúde da Família (ESF), um dos principais modelos de consolidação da rede (OLIVEIRA, 2016). Nesse contexto, o enfermeiro emerge com funções essenciais para o atendimento dos usuários e das necessidades deles. A atuação dele deve estar pautada em uma base científica, a fim de apoiar o cuidado ofertado de forma organizada e racionalizada, conforme as características epidemiológicas de determinado território de abrangência. O trabalho do enfermeiro, na APS, vem se transformando em um instrumento de mudanças das práticas de atenção à saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), pois o foco está na integralidade do cuidado, na intervenção frente aos fatores de risco, na prevenção de doenças e na promoção de saúde e de qualidade de vida da população. Nesta unidade, conheceremos alguns temas relacionados à APS e como o enfermeiro desempenha as funções dele, incluindo os procedimentos realizados nesse ambiente e a legalidade dessas atividades. Esperamos que você aproveite muito e tenha bons estudos! 162 2 ATRIBUIÇÕES DO ENFERMEIRO NA APS Como vimos na introdução da unidade, a APS é o primeiro nível de atenção ao usuário, a porta de entrada de uma RAS, a partir da qual são desenvolvidas ações de âmbitos individual e coletivo, que envolvem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. Uma vez que a ESF muda a ênfase do cuidado médico centrado para um cuidado em equipe, o profissional de enfermagem tem a consolidação de um novo campo de atuação, pois passa para um modelo de condução dos cuidados de saúde dos usuários, da organização do processamento de trabalho e da coordenação da unidade de saúde (BRASIL, 2022). A atuação do enfermeiro, na APS, é um dos fatores responsáveis pelas mudanças nas práticas de atenção à saúde do SUS (BRASIL, 2022), em busca da integralidade do cuidado, que pode ser realizada por meio de instrumentos sistematizados de cuidados individuais ou coletivos; e, ainda, na condução de um macroprojeto, planejamento normativo ou estratégico para os serviços de saúde. A enfermagem, dentro da APS, tem a possibilidade de ampliar a autonomia, por meio de uma prática clínica sustentada pelas perspectivas da integralidade e do cuidado a famílias e comunidades em todo o ciclo de vida, desde que amparada por ações de aprimoramento e aperfeiçoamento constantes (BRASIL, 2022). Para que as atividades dos enfermeiros sejam consolidadas, assim como as das demais profissões envolvidas na APS, foram criadas diversas atribuições, por meio da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), de 2017 (BRASIL, 2017). Conheceremos, a seguir, as atribuições específicas do enfermeiro da APS, conforme a PNAB (BRASIL, 2017): • Realizar atenção à saúde aos indivíduos e às famílias vinculadas às equipes, e, quando indicado, ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações etc.), em todos os ciclos de vida. • Realizar consulta de enfermagem, procedimentos; solicitar exames complementares; e prescrever medicações, conforme protocolos, diretrizes clínicas e terapêuticas, ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, observadas as disposições legais da profissão. • Realizar e/ou supervisionar acolhimento, com escuta qualificada e classificação de risco, de acordo com protocolos estabelecidos. • Realizar estratificação de risco e elaborar plano de cuidados para as pessoas que possuem condições crônicas no território, incluindo os demais membros da equipe. 163 • Realizar atividades em grupo e encaminhar, quando necessário, usuários a outros serviços, conforme fluxo estabelecido pela rede local. • Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas pelos técnicos/auxiliares de enfermagem, agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias com os outros membros da equipe. • Supervisionar as ações do técnico/auxiliar de enfermagem e dos agentes comunitários de saúde. • Implementar e manter atualizados rotinas, protocolos e fluxos relacionados a sua área de competência na UBS. • Exercer outras atribuições, conforme legislação profissional, e que sejam de responsabilidade da sua área de atuação(BRASIL, 2017). No Conselho Regional de Enfermagem (COREN) de Santa Catarina, foram desenvolvidos os Protocolos de Enfermagem da Atenção Básica, que servem de ferramenta para a normatização e a ampliação da clínica do enfermeiro em diferentes pontos da rede pública de atenção à saúde. Os protocolos podem ser acessados pelos enfermeiros após a realização de capacitações específicas, ofertadas pelo próprio COREN/SC, com periodicidade determinada e divulgada pelo Conselho, através do enfermeiro responsável técnico de cada serviço de saúde. As capacitações ocorrem de forma on-line e presencial, e é apresentado cada um dos protocolos, constituídos por seis: Volume 1 - Hipertensão, diabetes e outros fatores associados a doenças cardiovasculares; Volume 2 - Infecções sexualmente transmissíveis e outras doenças transmissíveis de interesse em saúde coletiva (dengue/ tuberculose); Volume 3 - Saúde da mulher - acolhimento às demandas da mulher nos diferentes ciclos de vida; Volume 4 - atenção à demanda espontânea de cuidados no adulto; Volume 5 - atenção à demanda de cuidados na criança; e Volume 6 - cuidado à pessoa com ferida. Em outros estados do país, assim como em Santa Catarina, os Conselhos de Enfermagem possuem autonomia e contam com uma equipe de especialistas em câmaras técnicas, que atuam na propagação de vários documentos que consolidam diversas atividades dentro do serviço de enfermagem. É importante ressaltar que todas as atividades desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem, no âmbito da APS, são resguardadas por vários pressupostos éticos legais. Dentre eles, destacam-se o Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987, que regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que descreve quem são os profissionais de enfermagem e DICA 164 as atribuições deles, mas não faz distinção entre o trabalho do enfermeiro no âmbito da APS e nos demais níveis de atenção à saúde. Assim, leia mais em https://bit.ly/3ogYmyJ e https://bit.ly/3olw1aP. Leia a Resolução do COFEN nº 311/2007, que reformula o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. A legislação é imprescindível para sabermos quem somos, nossos direitos e deveres profissionais: http://www.cofen.gov. br/resoluo-cofen-3112007_4345.html. DICA 2.1 ATRIBUIÇÕES DOS ENFERMEIROS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA FRENTE A ALGUMAS POLÍTICAS NACIONAIS DE SAÚDE. A APS possui um papel fundamental na estrutura do SUS, apoiada em políticas públicas voltadas para o fortalecimento (BRASIL, 2022). Assim, agora, conheceremos algumas das principais políticas públicas nacionais que dão esse suporte para o atendimento dos usuários dentro do campo da APS. São essas políticas que regem todas as atribuições realizadas pelos profissionais que trabalham no SUS, porém, focaremos nas atribuições do profissional enfermeiro. • Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: foi implantada no final do século XX, com o objetivo de promover a melhoria das condições de vida e de saúde das mulheres, de forma a contribuir para a redução da morbimortalidade e ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher em todos os âmbitos da saúde (BRASIL, 2004; SANTANA et al., 2019). Essa Política vem de encontro com a garantia de um compromisso com a saúde da mulher, a fim de garantir os direitos dela e de reduzir danos por causas evitáveis e preveníveis, como nos momentos da gestação e do parto, durante o planejamento familiar, de cuidados ao abortamento inseguro e de combate às violências doméstica e sexual (BRASIL, 2004; FREITAS et al., 2009). Quando falamos do atendimento à saúde da mulher, podemos encontrar grandes desafios enquanto enfermeiros, pois o cuidado é complexo e abrangente. A atuação se dá em todos os ciclos de vida e somos capazes de utilizar uma organização desses desafios, a partir dos seguintes eixos: saúde sexual; saúde reprodutiva; enfrentamento à violência doméstica e violência sexual; e atenção ao câncer de mama e ao de colo do útero (BRASIL, 2013). http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3112007_4345.html http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3112007_4345.html 165 Dentro de cada um dos eixos, existem várias atividades e atribuições que os profissionais realizam. Cada serviço de saúde é regido por protocolos institucionais, ou ministeriais, a fim de organizarem os processos de trabalho (BRASIL, 2013). Elencaremos, a seguir, alguns exemplos de atribuições do enfermeiro dentro de cada um dos eixos citados: • Saúde sexual: a mulher pode procurar um enfermeiro da unidade de saúde para tratar da sexualidade na infância, na adolescência e na fase adulta. • Ciclo menstrual; disfunções sexuais. • Planejamento reprodutivo e controle de natalidade. • Pré-natal e aleitamento materno. • Concepção e infertilidade. • Métodos anticoncepcionais. • Atendimento à mulher em situações de violências doméstica e sexual. Cabe, ao enfermeiro, promover práticas educativas que envolvam as saúdes sexual e reprodutiva em diversos espaços do território de abrangência dele, além de tratar dos demais temas que compõem a Política Nacional, conforme a demanda solicitada, ou percebida como um problema em potencial (BRASIL, 2013). Leia o Caderno de Atenção Básica nº 26, do Ministério da Saúde, que trata da saúde sexual e da saúde reprodutiva da mulher: https://bit.ly/3A95aBm. DICA • Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança: surgiu em 2015 e trouxe, como objetivos: promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno, mediante atenção e cuidados integrais e integrados, da gestação aos nove anos de vida, com especial atenção à primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno desenvolvimento (BRASIL, 2018, s. p.). Assim, a atenção integral à saúde da criança visa à redução dos índices de morbimortalidade na infância, com a incorporação de novas tecnologias, a reorganização do sistema de saúde e o envolvimento de diversos agentes e elementos da sociedade (JENSEN et al., 2018). Estimativas indicam que, até 2030, a mortalidade de crianças menores de cinco anos de idade estará ligada à prematuridade, à pneumonia pós-neonatal e a complicações intraparto (LIU et al., 2018; IPEA, 2019). 166 Nessa perspectiva, nos cenários de atenção primária e de vigilância à saúde da criança, o profissional enfermeiro tem responsabilidades de cuidado e suporte humani- zados à criança e à família dela, de modo a valorizar o bem-estar biopsicossocial delas e identificar e intervir nas necessidades e vulnerabilidades presentes (BRASIL, 2012). O profissional enfermeiro está apto a contemplar a criança, que pode apresentar alguma situação/problema logo após o nascimento, após iniciar alguma nova fase de crescimento, ou, ainda, durante alguma fase da infância (SALLES et al., 2022). Ao tratarmos de crianças, também, podemos dividir os períodos de cuidado ao longo do crescimento, a fim de conseguirmos direcionar o nosso foco ao lidarmos com determinados problemas trazidos pelos familiares (BRASIL, 2012). Dessa maneira, deixaremos, aqui, listados alguns dos temas mais comuns das atividades desempenhadas pelo enfermeiro a essa clientela: • Acompanhar a chegada do recém-nascido na família. • Realizar as primeiras consultas desse recém-nascido. • Acompanhar a amamentação. • Acompanhar o crescimento. • Acompanhar o desenvolvimento neuropsicomotor. • Acompanhar e solicitar exames de rotina, conforme protocolos institucionais. • Monitorar, notificar e orientar a realização de imunizações. • Atuar nas ações do Programa Saúde na Escola (PSE). • Atuar no acompanhamento de uma alimentação saudável. • Realizar ou encaminhar para a suplementação. • Orientar quanto à saúde bucal. • Realizar orientações para a prevenção de acidentes e a proteção em situações de violência (BRASIL, 2012; COREN, 2017). Além de todas as situações citadas, ainda, podemos nosdeparar com as diversas patologias que são inerentes a bebês e a crianças, e que variam por conta da sazonalidade e das idades deles. Acompanhe o Caderno de Atenção Básica nº 33, do Ministério da Saúde, que trata da saúde da criança, do crescimento e do desenvolvimento: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_ desenvolvimento.pdf. DICA https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvimento.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvimento.pdf 167 Outro material muito importante para um aprofundamento é Atenção ao Desenvolvimento Neuropsicomotor Infantil entre Zero a Doze Meses, um conteúdo educativo desenvolvido para a Atenção Básica em Saúde, produzido em 2020, pela UDESC. É ilustrado e com um estilo de leitura “direto ao ponto”: https://sistemabu.udesc.br/pergamumweb/ vinculos/000081/000081bb.pdf. DICA • Política Nacional de Atenção ao Trabalhador: é um conjunto de atividades do campo da saúde coletiva que se destina à promoção e à proteção da saúde dos trabalhadores, além de visar à recuperação e à reabilitação da saúde dos empregados submetidos a riscos e agravos advindos das condições de trabalho. O processo saúde-doença dos trabalhadores possui uma relação direta com trabalho exercido, e não deve ser reduzido a uma relação entre doença e um agente específico, ou multicausal, entre a doença e um grupo de fatores de risco físicos, químicos, biológicos e mecânicos, que podem estar presentes no ambiente de trabalho. A atuação do enfermeiro da APS relacionada à saúde do trabalhador inicia quando o profissional busca conhecer o território, e, assim, sabe como as pessoas daquela região trabalham, quando e de que maneira. Dessa forma, a equipe já pode projetar as principais patologias associadas, ou mais prevalentes, que estão em destaque para os atendimentos em uma determinada unidade de saúde. O enfermeiro, também, pode atuar em diversas palestras e atividades de educação em saúde, e em parceria com as empresas do território, as quais, muitas vezes, possuem demandas específicas a serem apresentadas e debatidas com os colaboradores. Você sabia que foi publicada, em 2012, a Portaria nº 1.823, consolidada, posteriormente, no Anexo XV da Portaria de Consolidação nº 2, de 2017, do Ministério da Saúde, que definiu a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), de acordo com princípios, diretrizes e estratégias a serem observados pelas esferas municipal, estadual, distrital e federal da gestão do SUS, com o objetivo de desenvolver a atenção integral à saúde do trabalhador, com ênfase na vigilância, de modo a visar à promoção e à proteção da saúde dos trabalhadores e à redução da morbimortalidade decorrente de modelos de desenvolvimento e de processos produtivos? Para saber ainda mais, consulte a página https:// bit.ly/40n96sO. DICA https://sistemabu.udesc.br/pergamumweb/vinculos/000081/000081bb.pdf https://sistemabu.udesc.br/pergamumweb/vinculos/000081/000081bb.pdf 168 O Caderno de Atenção Básica nº 41 trata da saúde dos trabalhadores, assim, não deixe de aprimorar os seus conhecimentos através desse material disponível em https://bit.ly/41gVdOg. DICA • Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: ao longo do tempo, o homem vem assumindo os papéis de força, virilidade e invulnerabilidade, assim, afasta-se dos serviços de saúde e assume um comportamento de baixo autocuidado. Consequentemente, aumentam-se os índices de morbimortalidade (NOGUEIRA; ALCÂNTARA, 2014; OLIVEIRA et al., 2015). Diante dessa situação, surgiu, em 2008, a primeira versão da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, com o argumento de que a saúde é um direito social básico e de cidadania de todos os homens brasileiros, e que os agravos do sexo masculino são verdadeiros problemas de saúde pública (BRASIL, 2008). Um dado primordial foi trazido em 2018, com as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), caracterizadas, principalmente, por complicações cardiovasculares, respiratórias crônicas, neoplasias e diabetes mellitus, que foram responsáveis por 55% do total das mortes no Brasil, sendo que os homens apresentaram mais risco de morte do que as mulheres em todos esses grupos. Esse risco foi aumentado entre os homens que faziam uso prejudicial de álcool e tinham uma dieta e um estilo de vida pouco saudáveis, com pressão alta e/ou alto índice de massa corporal. Por conta disso, o Ministério da Saúde tem mantido o cuidado da saúde masculina por meio de campanhas de prevenção e diagnóstico de diversas doenças, além de levar informações de prevenção e promoção de cuidados integrais para esse público. A saúde mental; as infecções, sexualmente, transmissíveis; as doenças crônicas (diabetes, hipertensão etc.); uma alimentação saudável; o combate ao tabagismo e o não consumo de bebidas alcoólicas; além da prática de atividades físicas devem ser pontos de destaque para a população masculina. As atribuições dos enfermeiros e dos demais profissionais da APS podem ser desenvolvidas a partir de cinco eixos temáticos da Política Nacional de Saúde do Homem: • Acesso e acolhimento. • Saúde sexual e saúde reprodutiva. • Paternidade e cuidado. • Doenças prevalentes da população masculina. • Prevenção de violência e acidente. 169 Confira os destaques do site do Ministério da Saúde que tratam da temática: https://bit.ly/3KQ4UvU. Leia o inquérito completo da pesquisa Vigitel 2020 em https://bit. ly/3AbrV7L. DICA DICA Dentro de cada um desses eixos, há situações complexas, e que exigem muito conhecimento teórico, com embasamento científico. Por conta disso, não deixe de buscar e conferir os complementos destacados em seguida. Nosso papel, como enfermeiros, é fundamental, pois interagimos com o homem, de modo a criar vínculos que só vêm a somar para as estratégias de promoção e educação em saúde, incluindo mudanças de comportamento e hábitos saudáveis (BEZERRA; JUNIOR, 2014). • Política Nacional de Atenção da Pessoa Idosa: desde as quedas dos níveis de mortalidade, ocorridas a partir de 1940, e de natalidade, por volta de 1960, foram percebidas mudanças na estrutura da faixa etária da população, de um Brasil, predominantemente, jovem, para um país em processo de envelhecimento (VASCONCELOS; GOMES, 2012). Em 2017, pessoas com 60 anos ou mais representavam 12,51% da população brasileira, e estimativas do IBGE apontam que esse valor chegue a 29% em 2050 (BRASIL, 2017). Assim, foram iniciados os movimentos investigativo e de planejamento, a fim de buscar estratégias para o cuidado com essa população, principalmente, após o conceito de saúde alavancado pela Constituição Federal de 1988. O país avançou, desde então, com a Política Nacional do Idoso (PNI), a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) e o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2006; 2009). Segue uma figura que apresentará um panorama dos instrumentos de proteção à pessoa idosa no ordenamento jurídico brasileiro: 170 Figura 1 – Panorama dos instrumentos de proteção à pessoa idosa no ordenamento jurídico brasileiro Fonte: Romero et al. (2019, p. 139) Acesse o livro eletrônico Brasil 2050 Desafios de uma Nação que Envelhece, e veja, na íntegra, as estratégias nacionais para o envelhecimento da população, através do olhar dos nossos governantes: https://bit. ly/3AbsmPr. DICA As diretrizes nacionais trazem as seguintes questões para serem atingidas na RAS, conforme Brasil (2009): • Promoção de um envelhecimento ativo e saudável. • Atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa. • Estímulos a ações intersetoriais, que visem à integralidade da atenção. • Implantação de serviços de atenção domiciliar. • Acolhimento preferencial em unidades de saúde, respeitado o critério de risco. • Provimento de recursos capazes de assegurar a qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa. O enfermeiro desempenha um papel fundamental no processo