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A construção do Sistema Único do Saúde (SUS) SST Guedes, F. L.; Pereira, L. Q. A construção do Sistema Único de Saúde (SUS) / Fabia- na de Lima Guedes; Loren Queli Pereira - Ano: 2021 nº de p. : 9 Copyright © 2021. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. A construção do Sistema Único do Saúde (SUS) 3 Apresentação Neste momento, trataremos como foco principal a construção do Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, falaremos sobre o contexto de sua construção, os direcionamentos que vieram pelas Conferências de Saúde e como se dá a organização do sistema. Veremos como o contexto histórico e social foi importante e culminou na criação da política de saúde. Ademais, estudaremos os princípios do SUS que se alicerçam sob o tripé da universalidade, equidade e integralidade. Veremos também sobre os níveis de atuação que o sistema se propõe a atuar, conhecidos como níveis de atenção: primária, secundária e terciária. Fique atento, e vamos rumo a uma jornada para melhor compreender sobre o processo de construção do SUS. Política Pública e construção do SUS Para abordarmos como a temática saúde se fez presente historicamente na agenda política do Brasil, é preciso rememorarmos que o País passou por longos períodos em que a população não tinha direitos preservados, entre estes o acesso à saúde pública. Isso ocorreu, pois o passado escravocrata e colonialista deixou marcas em nossa estrutura política. Os resultados dessas escolhas foram anos focados em uma agenda política focada em debates sobre escoamento de produtos internos para alimentar o mercado mundial, em detrimento da preocupação com demandas sociais. O Brasil passou por diversas construções de Constituição, sendo que apenas a atual – de 1988, nomeada de “Constituição Cidadã”, define que saúde é dever do Estado e direito do cidadão. A construção dos artigos da Constituição que são voltados para a saúde pública e que inauguram o Sistema único de Saúde (SUS) é fruto de articulações que ocorreram nos anos que antecederam a Assembleia Nacional Constituinte de 1987- 1988. O artigo Reforma sanitária e a criação do Sistema Único de Saúde: notas sobre contextos e autores, de Carlos Paiva e Luiz Teixeira (2014), apresenta-nos o período da Ditadura Militar (1964-1985), e mesmo diante de um contexto em que era proibida 4 reuniões de cunho político, em 1975 ocorre a 5ª Conferência Nacional de Saúde, propondo em seu relatório final a criação de um sistema de saúde que seja público e de âmbito nacional (BRASIL, 1975). Em 1986, ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, considerada um grande evento, pois contou com intensa mobilização social. O slogan do evento foi “Saúde e democracia”, por reconhecer que essas bandeiras andam juntas. Atenção O relatório final da 8ª Conferência Nacional de Saúde reforçou a necessidade de criar um sistema público de saúde e, ainda que fosse de âmbito nacional, com fortalecimento dos municípios, para que a participação local definisse quais são as prioridades. Cada cidade tem suas particularidades e elas precisam ser respeitadas. É nesse relatório que aparecerá pela primeira vez nos anais do País a defesa das terapias alternativas, pois, ao tocar nesse ponto, o relatório defende que os usuários precisam ter acesso a uma diversidade de terapêuticas e poder de escolha de acordo com sua preferência (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 1986). Acontece que nesse período histórico o mundo estava entrando em contato com uma diversidade de terapêuticas propostas em outros locais. Podemos dizer que, a partir dos anos 1950, o mundo se tornou globalizado, pois a circulação de pessoas, produtos e símbolos ganharam outro patamar com as viagens aéreas, além disso começamos a nos familiarizar com culturas até então exóticas e distantes. A China e a Índia se tornaram países visitados por europeus e estadunidenses, o que impulsionou os movimentos contraculturais das décadas de 1960 e 1970. Atenção 5 Esse contato direto com países, até então desconhecidos, trouxe mudanças de comportamento, que vão de vestimentas a terapias. De acordo com a Constituição da Organização Mundial da Saúde, escrita em 1946, o conceito de saúde é: “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade” (OMS, 1946). Em 1978, ocorreu a Primeira Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, na qual foi produzida a Declaração de Alma-Ata. Na declaração, esse conceito é apresentado como dever do Estado, enfatizando que a visão biomédica, até então centrada na doença, é limitante (BRASIL, 1978). Os anos que seguem são marcados por eventos internacionais: Ottawa (1986), Adelaide (1988), Sundsvall (1991), Jacarta (1997) e México (1999), traçando objetivos claros sobre a necessidade de o foco dos serviços de saúde ser na atenção primária, isto é, na promoção de saúde. O que estamos ressaltando com essas informações sobre os debates internacionais é que o Brasil estava em consonância com o resto do mundo, e as reivindicações que ocorriam pelos movimentos sociais internos eram influenciadas pelos pensamentos que pairavam nas instâncias maiores, como a OMS. O relatório da 8ª Conferência Nacional de Saúde, por exemplo, promove as diretrizes do SUS. Princípios do SUS Os princípios do SUS se alicerçam sob o tripé universalidade-equidade-integralidade. Cada um será melhor detalhado a seguir: Universalidade: o SUS é uma atenção à saúde de todos os cidadãos brasileiros, sem distinção de raça, clero, classe, gênero, idade ou qualquer outro marcador social. Equidade: igualdade no acesso aos serviços de saúde promovidos pelo SUS. Independentemente do nível de complexidade do problema que levou o cidadão ao sistema, a ele serão apresentadas todas as opções de tratamento disponíveis. 6 Integralidade: reconhecimento de que os usuários do SUS são pessoas que estão inseridas em uma comunidade e que a assistência à saúde promovida pelo sistema precisa ser integrada, isto é, não pode ser dividida em departamentos que não dialogam com o contexto em que o cidadão está inserido (PAIM; SILVA, 2010). Por fim, seguindo as deliberações das Conferências Nacionais de Saúde e promovendo a diversidade terapêutica, em 1999 foram incluídos na tabela de procedimentos do SUS atendimentos médicos de acupuntura e homeopatia, sendo esse o marco inicial de terapias alternativas nos anais da saúde pública brasileira. Organização do SUS e seus níveis de atuação Agora, sistematizaremos brevemente como se dá a organização do SUS. Em primeiro lugar, precisamos entender os níveis de atuação que o sistema se propõe a atuar, conhecidos como níveis de atenção. Atenção primária: responsável pela prevenção de doenças e promoção da saúde. Essa atenção ocorre nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), onde é possível marcar consultas, tomar vacinas, obter medicamentos e tratamentos básicos. Atenção secundária: responsável por intervenção. Essa atenção ocorre nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA), nas quais é possível receber atendimento imediato. Atenção terciária: responsável por atendimentos de alta complexidade, que envolvem tratamentos contínuos, ou risco à vida do cidadão, por exemplo, tratamentos de câncer ou casos cirúrgicos. Os atendimentos terciários podem ocorrer em todos os locais de atendimentos do SUS, a depender do nível de complexidade que o usuário necessite (MINAS GERAIS, [s. d.]). 7 É importante ressaltar que o maior foco de atuação ocorre na atenção primária, no sentido de que, se houver promoção de saúde, haverá menos necessidade de uso na atenção secundária e terciária. Pensando nisso, o SUS desenvolve diversas ações para fortalecer a prevenção. Estratégia Saúde da Família (ESF) e do agente comunitário. A ESF está inserida no setor chamado Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), o qual conta com equipe multiprofissional e que busca consolidar a atenção primária.Reflita A organização do SUS ocorre em setores, isto é, haverá UBS para cada região, a depender do tamanho do município. Essas unidades precisam estudar seus setores e organizar estratégias para promoção de saúde, e o agente comunitário é peça-chave nessa comunicação. Esse cargo é dado a um morador da região com conhecimento interno dos problemas enfrentados pela população e será o responsável por encaminhar os profissionais do SUS para os locais que necessitam ou os moradores aos centros de atendimento. Desse modo, o agente comunitário funciona como um facilitador da linguagem, pois, como participante da comunidade, visita os cidadãos e leva para estes informações sobre o que o SUS pode fazer por eles, numa relação de confiança, por se tratar de uma pessoa inserida no contexto social das casas visitadas. Nessas visitas, os agentes também colhem informações das pessoas e as levam às reuniões do Nasf, com o intuito de criar estratégias mais precisas para cada região, assim como um mapeamento de casos mais complexos que necessitam de maior atenção, gerando qualidade de vida nos bairros. 8 Fechamento Ao longo desta unidade, você aprendeu sobre como ocorreu o processo de construção do SUS. Vimos que a elaboração dos artigos da Constituição que são voltados para a saúde pública inauguraram o SUS, sendo fruto de articulações que ocorreram nos anos que antecederam a Assembleia Nacional Constituinte de 1987- 1988. Ademais, estudamos que os eventos internacionais Ottawa (1986), Adelaide (1988), Sundsvall (1991), Jacarta (1997) e México (1999) tiveram como objetivo traçar claramente sobre a necessidade de o foco dos serviços de saúde ser na atenção primária, isto é, na promoção de saúde. Observamos também a importância das UBS, Nasf e agentes comunitários de saúde, auxiliando e dando o suporte no primeiro contato do usuário com a atenção básica. 9 Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. 8ª Conferência Nacional de Saúde. Relatório final. Brasília, DF: Ministério da Saúde, mar. 1986. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/8_conferencia_nacional_saude_ relatorio_final.pdf. Acesso em: 28 jul. 2021. ______. ______. ______. Declaração de Alma Ata sobre cuidados primários. Alma- Ata, URSS, set. 1978. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ declaracao_alma_ata.pdf. Acesso em: 28 jul. 2021. ______. ______. V Conferência Nacional de Saúde: Relatório final. Brasília, DF: Conselho Nacional de Saúde, 1975. Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/ biblioteca/Relatorios/relatorio_5.pdf. Acesso em: 28 abr. 2021. MINAS GERAIS (Estado). Secretaria de Estado de Saúde. SUS. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Saúde, ([s. d.]). Disponível em: https://www.saude.mg.gov. br/sus. Acesso em: 28 jul. 2021. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Constituição da Organização Mundial da Saúde. Nova Iorque, jul. 1946. Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp. br/index.php/OMS-Organização-Mundial-da-Saúde/constituicao-da-organizacao- mundial-da-saude-omswho.html. Acesso em: 28 jul. 2021. PAIM, J. S.; SILVA, L. M. V. Universalidade, integralidade, equidade e SUS. Boletim do Instituto de Saúde, São Paulo, v. 12 n. 2, ago. 2010. Disponível em: http://periodicos. ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-18122010000200002&lng= pt&nrm=iso. Acesso em: 28 jul. 2021. PAIVA, C. H. A.; TEIXEIRA, L. A. Reforma sanitária e a criação do Sistema único de Saúde: notas sobre contexto e autores. Hist. Cienc. Saúde-Manguinhos, v. 21, n. 1, jan./mar. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/ rcknG9DN4JKxkbGKD9JDSqy/abstract/?lang=pt Acesso em: 28 jul. 2021. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/8_conferencia_nacional_saude_relatorio_final.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/8_conferencia_nacional_saude_relatorio_final.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_alma_ata.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_alma_ata.pdf https://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_5.pdf https://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_5.pdf https://www.saude.mg.gov.br/sus https://www.saude.mg.gov.br/sus http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organização-Mundial-da-Saúde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organização-Mundial-da-Saúde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organização-Mundial-da-Saúde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-18122010000200002&lng=pt&nrm=iso http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-18122010000200002&lng=pt&nrm=iso http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-18122010000200002&lng=pt&nrm=iso https://www.scielo.br/j/hcsm/a/rcknG9DN4JKxkbGKD9JDSqy/abstract/?lang=pt https://www.scielo.br/j/hcsm/a/rcknG9DN4JKxkbGKD9JDSqy/abstract/?lang=pt
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