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AULA 3 - Neurose e Psicose

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Aula 2: Psicopatologia Descritiva X Psicopatologia Psicanalítica. O diagnóstico estrutural: Neurose e Psicose.
Bibliografia:
A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose.
FREUD, S. (1924) Neurose e Psicose. In: Edição Standard das Obras Completas. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 1965.
___________ (1924) A perda da realidade na neurose e na psicose. In: Edição Standard das Obras Completas. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 1965.
NEUROSE E PSICOSE (1924) 
“Num trabalho que publiquei recentemente, O Eu e o Id, ofereci uma divisão do aparelho psíquico que nos permite descrever uma série de relações de forma clara e compreensível. Em outros pontos, no que toca ao papel e à origem do Super-eu, por exemplo, resto bastantes coisas obscuras e não resolvidas. É lícito esperar que o que foi ali colocado se revele útil e proveitoso também para outras coisas, ainda que seja apenas para ver de uma nova maneira o já conhecido, classificá-lo diferentemente ou expô-lo de modo mais convincente. Tal aplicação poderia também significar um vantajoso retorno da teoria cinzenta para averdejante experiência”.
“Na obra mencionada caracterizei os múltiplos laços de dependência do Eu, sua posição intermediária entre o mundo exterior e o Id, e o seu empenho em fazer a vontade de todos os seus senhores ao mesmo tempo. Relacionada a um curso de pensamento vindo de outra parte, que dizia respeito à origem e prevenção das psicoses, ocorreu-me uma fórmula simples, que trata da diferença genética mais importante, talvez, que há entre neurose e psicose: a neurose seria o resultado de um conflito entre o Eu e seu Id, enquanto a psicose seria o análogo desfecho de uma tal perturbação nos laços entre o Eu e o mundo exterior”.
As neuroses de transferência, conforme todas as nossas análises, surgem pelo fato de o Eu não querer aceitar e promover a efetivação motora de um impulso instintual poderoso no Id, ou de contestar o objeto a que ele visa. O Eu se utiliza, nesse caso, do mecanismo de defesa chamado repressão. O reprimido cria representações substitutivas que forçam uma conciliação com o Eu; este, por sua vez, combate esses derivados, gerando assim um quadro de neurose de transferência. A serviço do Super-eu e da realidade, o Eu entrou em conflito como Id, e assim ocorre em todas as neuroses de transferência.
Por outro lado, será igualmente fácil, a partir do que até agora conhecemos sobre o mecanismo das psicoses, dar exemplos que apontam para um distúrbio na relação entre o Eu e o mundo exterior. No que Meynert chama de “amência” — uma confusão alucinatória aguda, talvez a mais extrema e impressionante forma de psicose —, o mundo exterior não é percebido de modo algum ou sua percepção não tem nenhum efeito. Pois normalmente o mundo exterior domina o Eu por duas vias: primeiro, pelas percepções atuais que sempre podem se renovar; depois, pelo acervo mnemônico de percepções anteriores, que, como “mundo interior”, constituem patrimônio e elemento do Eu. 
Na amência, não só é excluído o acolhimento de novas percepções, mas também é retirado o significado (investimento/catexia) do mundo interior, que até então representava o mundo exterior, como sua cópia; autonomamente o Eu cria um novo mundo exterior e interior, e não há dúvida quanto a dois fatos: de que esse novo mundo é edificado conforme os impulsos de desejo do Id, e de que o motivo dessa ruptura com o mundo exterior é uma difícil, aparentemente intolerável frustração do desejo por parte da realidade. Não podemos ignorar o íntimo parentesco entre essa psicose e o sonho normal. Mas a precondição para o sonho é o estado do sono, caracterizado, entre outras coisas, pelo total afastamento da percepção e do mundo externo.
Quanto a outras formas de psicose, as esquizofrenias, sabe-se que tendem a resultar no embotamento afetivo, isto é, na perda de todo interesse no mundo exterior. Sobre a gênese das formações delirantes, algumas análises nos ensinaram que o delírio é como um remendo colocado onde originalmente surgira uma fissura na relação do Eu com o mundo exterior. 
Comum à irrupção de uma psiconeurose ou psicose é sempre a frustração, a não realização A etiologia de um daqueles desejos infantis nunca sujeitados, tão profundamente enraizados em nossa organização filogeneticamente determinada. Tal frustração é, no fundo, sempre externa; em casos individuais pode vir daquela instância interior (no Super-eu) que se encarregou de representar as exigências da realidade. O efeito patógeno depende de que o Eu, nessa tensão conflituosa, continue fiel à sua dependência do mundo externo e procure amordaçar o Id, ou se deixe sobrepujar pelo Id e separar da realidade. Esta situação aparentemente simples, porém, é complicada pela existência do Super-eu, que, por um nexo ainda não esclarecido, reúne influências que vêm tanto do Id como do mundo externo, sendo como que um modelo ideal daquilo visado por todo o esforço do Eu, a conciliação de suas múltiplas dependências.
O comportamento do Super-eu deve ser levado em consideração, o que não se fez até agora, em todas as formas de doença psíquica. Podemos, no entanto, postular provisoriamente que tem de haverá afecções baseadas num conflito entre Eu e Super-eu. 
A análise nos dá o direito de supor que a melancolia é um exemplo típico desse grupo, e reivindicaríamos para esses distúrbios o nome de “psiconeuroses narcísicas”. E não destoa de nossas impressões que encontremos motivos para separar estados como a melancolia das outras psicoses. Percebemos, então, que pudemos completar nossa simples fórmula genética, sem abandoná-la. A neurose de transferência corresponde ao conflito entre Eu e Id, a neurose narcísica ao conflito entre Eu e Super-eu, a psicose àquele entre eu e mundo exterior. É certo que não podemos logo dizer se realmente adquirimos novos conhecimentos ou se apenas aumentamos o nosso acervo de fórmulas; mas creio que esta possibilidade de aplicação deve nos animar a manter a sugerida divisão do aparelho psíquico em Eu, Super-eu e Id.
A afirmação de que neuroses e psicoses nascem dos conflitos do Eu com suas diferentes instâncias dominantes, isto é, correspondem a um fracasso da função do Eu, que evidentemente procura conciliar todas as diferentes reivindicações, pede uma outra discussão que a complemente. Gostaríamos de saber em que circunstâncias e por quais meios o Eu consegue sair, sem adoecer, de tais conflitos que sempre se acham presentes. Eis um novo âmbito de pesquisa, no qual certamente os mais diversos fatores se apresentarão para serem examinados. Dois deles podem ser imediatamente ressaltados. 
Por fim, há a questão de qual pode ser o mecanismo, análogo à repressão, mediante o qual o Eu se separa do mundo exterior. Acho que isso não pode ser respondido sem novas investigações, mas ele deve ter por conteúdo, como a repressão, uma retirada do investimento lançado pelo Eu.
A perda da realidade na neurose e na psicose
Freud começa o artigo mencionado que para uma neurose o fator decisivo seria a predominância da influência da realidade, enquanto para uma psicose esse fator seria a predominância do id. Na psicose a perda de realidade estaria necessariamente presente, ao passo que na neurose, segundo pareceria, essa perda seria evitada. Isso, porém, não concorda com a observação que todos nós podemos fazer, de que toda a neurose perturba de algum modo a relação do paciente com a realidade.
A contradição existe apenas enquanto mantemos os olhos fixados na situação de começo de neurose, quando o ego, a serviço da realidade, se dispõe à repressão de um impulso instintual. O afrouxamento da relação com a realidade é uma consequência do segundo passo na formação de uma neurose, e não deveria surpreender-nos que um exame detalhado demonstre que a perda da realidade afeta exatamente aquele fragmento de realidade, cujas exigências resultaram na repressão instintual ocorrida.
Incidentalmente a mesma objeção surge de maneira acentuada quando estamos lidando com uma neurose na qual a causa excitante (a “cena traumática”) é conhecida e onde sepode ver como a pessoa interessada volta as costas à experiência, e a transfere à amnésia.
Neste momento, Freud faz alusão de um caso atendido, discutido também na segunda lição. A jovem que enamorava o cunhado, de pé ao lado do leito de morte da irmã, ficou horrorizada de ter o pensamento” agora ele está livre para casar comigo”. Tal cena fora esquecida e assim o processo de regressão que a conduziu a seus sofrimentos histéricos. A neurose a fim de solucionar o conflito, afastando o valor da mudança que ocorrera na realidade, reprimindo a exigência instintual que havia surgido, isto é, o amor pelo cunhado.” A reação psicótica teria sido uma rejeição do fato da morte da irmã”.
Poderíamos esperar que, ao surgir uma psicose, ocorre algo análogo ao processo de uma neurose, embora, é claro, entre distintas instâncias na mente. Assim, poderíamos esperar que, também na psicose, duas etapas pudessem ser discernidas, das quais a primeira arrastaria o ego para longe, dessa vez para longe da realidade, enquanto a segunda tentaria reparar o dano causado e restabelecer as relações do indivíduo com a realidade às expensas do id. Aqui há, igualmente, duas etapas, possuindo a segunda o caráter de reparação.
O segundo passo, tanto na neurose quanto na psicose, é apoiado pelas mesmas tendências. Em ambos os casos, serve ao desejo de poder do id, que não se deixará ditar pela realidade. Tanto a neurose quanto a psicose são, pois, a expressão de uma rebelião por parte do id contra o mundo externo.
Portanto, a diferença inicial assim se expressa no desfecho final: na neurose, um fragmento da realidade é evitado por uma espécie de fuga, ao passo que na psicose, a fuga inicial é sucedida por uma fase ativa de remodelamento; na neurose, a obediência inicial é sucedida por uma tentativa adiada de fuga. Ou ainda, expresso de outro modo: a neurose não repudia a realidade, apenas a ignora; a psicose a repudia e tenta substitui-la.

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