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68 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II Unidade II 5 DIAGRAMA DE FASES DA LIGA FERRO‑CARBONO As ligas mais utilizadas em projetos de engenharia são as ligas ferrosas. Segundo a Wordsteel Association (2015), no ano de 2014, o mundo produziu 1,66 bilhão de toneladas de aço, sendo que seus maiores produtores são China (822,7 milhões de toneladas) e Japão (110,7 milhões de toneladas). No Brasil, a produção de aço em 2016 foi de 694 mil toneladas, faturamento estimado em R$ 4 bilhões e que emprega cerca de 26 mil colaboradores (CBCA, [s.d.]). A produção de aço na siderúrgica segue para diversas outras indústrias, como automobilísticas, aeronáuticas, navais, peças diversas, construção civil e outros ramos, que utilizam o aço como sua principal matéria‑prima. Além do aço, a indústria utiliza também outras ligas classificadas como ferrosas, como as ligas de aço inox, aço ferramenta e ferro fundido. As ligas ferrosas são ligas que apresentam as propriedades mecânicas, elétricas e térmicas que se adequam aos projetos de engenharia, além do seu custo ser mais competitivo que os demais materiais. Atualmente, até os cabos de transmissão de alta tensão são fabricados em aço, pois sua condutividade não fica muito abaixo da condutividade do cobre, por exemplo. Bloco de motores automotivos podem ser fabricados em aço ou em alumínio, sendo que os automóveis populares são fabricados em aço para reduzir o seu custo. O desempenho do aço em relação ao alumínio é muito parecido, com vantagem de apresentar maior resistência térmica e mecânica, precisando de menos manutenção e sendo esta mais fácil quando necessária. As ligas ferrosas são, na maior parte, compostas de ferro e com adição de carbono. O aço é um liga formada pela mistura de ambos os elementos (ferro x carbono). Essa liga contém 0,02% até 2,11% de carbono. Acima de 2,11% e até 6,67%, a liga chama‑se ferro fundido que, na prática, é utilizado até 4%. Nessa liga, por causa da sua elevada dureza, necessita‑se da adição de silício para formação de grafita, o que permitirá que a liga seja utilizada em diversas peças em diversas máquinas. A liga ferro x carbono apresenta um diagrama conforme apresentado na figura a seguir. Esse diagrama é um mapa para que o engenheiro saiba o que irá acontecer com a liga que ele possui se for adicionado mais carbono ou se for reduzida a quantidade de carbono existente na liga. Não é um gráfico que apresenta nenhuma propriedade, mas dá indícios que poderão auxiliá‑lo na escolha da liga mais adequada para o trabalho. 69 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS 1% 400 ºC 600 ºC 800 ºC 1.000 ºC 1.200 ºC 1.400 ºC 1.600 ºC δ+L γ+δ δ 1.534 ºC 1.495 ºC 0,51% 1.148 ºC 910 ºC 1.227 ºC 2,11% 0,77%0,02% 4,30% 727% 6,67% 1.394 ºC 2% 3% 4% 5% 6% 10 0% F e 3 C 7% % de carbono em massa Líquido α+Fe3C γ+Fe3C γ+L α+γ α γ Fe3C+L Figura 60 – Diagrama da liga Ferro carbono Na figura, é observado um limite de 6,67% de carbono, pois é o máximo permitido pela estequiometria, conforme verifica‑se na equação 5.1, e desenvolvido na equação 5.2 e equação 5.3. 3Fe + C → FeC (equação 5.1) 3 * 55,845 + 12 → 179,535 (equação 5.2) 179 535 100 12 6 68 , / % / , % g mol g mol X X → → = (equação 5.3) Verifica‑se também no diagrama a presença de ferrita: é o ferro na estrutura CCC; existe até a temperatura de 910ºC; sua fase magnética ocorre até a temperatura de 768ºC (temperatura de Curie) e permite até 0,02% de carbono na temperatura de 727ºC sem precipitar a fase de cementita (Fe3C). Acima de 727ºC, inicia‑se a formação de austenita, que, em baixos teores de carbono, começa a se formar em 912ºC e pode existir até 1.394ºC. É a fase em que o ferro está organizado na estrutura CFC e é uma fase não magnética. Permite que até 2,11% de carbono fique totalmente dissolvido nela à 1.148ºC sem a precipitação de cementita. Na figura a seguir, é apresentada a diferença microscópica existente entre ferrita e austenita. 70 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II Saiba mais Temperatura de Curie é a temperatura em que o magnetismo do material é induzido. Veja mais em: BAUER, W.; WESTFALL, G. D. Física para universitários: mecânica. São Paulo: Amgh, 2012. Ferrita Austenita Figura 61 – Imagens microscópicas da ferrita e da austenita A cementita é a outra fase que predomina no diagrama. Quimicamente, é o carbeto de ferro que corresponde à ligação metálica entre carbono e ferro. O diagrama ferro x carbono é, na verdade, o diagrama ferro cementita em função da quantidade de carbono que existe na liga. Ela se cristaliza na forma ortorrômbica e é considerada um material cerâmico, apresenta elevada dureza e é muito quebradiça, mas, ao se misturar ao ferro, forma o equilíbrio da liga, dando a dureza que é necessária para o aço. Microscopicamente, ela é visualizada conforme a figura a seguir. Figura 62 – Imagem microscópica da cementita, que são as lamelas na figura. O fundo branco é a ferrita. O conjunto ferrita + cementita = perlita 71 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS No diagrama da liga ferro x carbono, a cementita pode aparecer com a austenita ou com a ferrita. Quando ela está com a austenita (aços hipereutetoides e ferros fundidos), há a formação de uma micrografia chamada de ledeburita. Quando a cementita está com a ferrita, que é a condição mais estudada, é a micrografia chamada de perlita. A liga ferro carbono apresenta o equilíbrio eutético (menor temperatura de fusão – fusão facilitada) em 4,30% de carbono, tendo nessa concentração a menor temperatura de fusão, em 1.148ºC. O equilíbrio eutetoide (menor temperatura de transformação alotrópica) é em 0,77% (0,83% para alguns autores), na temperatura de 727ºC. Nessa condição, a mistura de ferrita com cementita, em aquecimento, transforma‑se instantaneamente em austenita. Acontece também o equilíbrio perfeito da ferrita com a cementita até a temperatura de transformação, em que microscopicamente ambas as fases estão em harmonia, bem distribuídas e organizadas em um único grão chamado de perlita. O grão único de perlita só acontece nesse equilíbrio, nessa concentração de carbono. Em qualquer concentração inferior a 0,77% de carbono, a perlita começa a formar grãos separados, conforme a figura a seguir. Esses aços são os chamados aço hipoeutetoide, ou seja, concentração de carbono abaixo da concentração de equilíbrio eutetoide. Figura 63 – Perlita em um aço hipoeutetoide em ampliação de 100 vezes A figura anterior refere‑se a um aço ABNT1045, que contém 0,45% de carbono. Observa‑se, neste caso, que o grão é rodeado de uma faixa branca chamada de ferrita. Essa mesma ferrita está dentro do grão juntamente com a cementita. Na imagem da figura a seguir, que é uma ampliação da figura anterior, é possível observar melhor os detalhes de como que a cementita está dentro do grão de perlita. Dentro do grão, observa‑se melhor a cementita em forma de lamelas e a ferrita tomando conta da matriz do material. 72 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II Figura 64 Ao realizar a regra da alavanca do aço com 0,45% de carbono, fica mais fácil entender a imagem do ponto de vista quantitativo. Na equação 5.4 é realizada a regra da alavanca para o cálculo da fase ferrita (α) para a figura anterior. Neste cálculo, observa‑se um total de 93,25% de ferrita: α = − − ⋅ =6 67 0 45 6 67 0 100 93 25 , , , , % (equação 5.4) Já na equação 5.5 é calculado o percentual de cementita. Como já temos o percentual de 93,25% de ferrita, o restante (6,75%), neste caso, é cementita. Fe C3 100 93 25 0 45 0 6 67 0 6 75= − = − − =% , % , , , % (equação 5.5) O cálculo da equação5.6 é a quantificação da ferrita que está fora do grão de perlita, aqui chamada de ferrita primária. Neste cálculo, foi obtido o valor de 41,56%. Se subtrairmos o resultado da equação 5.4 com a 5.5 teremos a diferença de 51,69%, que corresponde à quantidade de ferrita existente dentro do grão de perlita. αprim riaá = − − ⋅ =0 77 0 45 0 77 0 00 100 4156 , , , , , % (equação 5.6) Na equação 5.7 é quantificado o percentual de perlita que pode ser calculado pela diferença de 100% da equação 5.6 ou, fazendo a aplicação da regra da alavanca, é obtido o valor de 58,44%. Conclusão é que, em um aço com 0,45% de carbono, quase 60% é perlita, apesar da existência de 93,25% de ferrita. Essa ferrita está em boa parte dentro do grão de perlita. Perlita = − = − − =100 4156 0 45 0 00 0 77 0 00 58 44% , % , , , , , % (equação 5.7) A mesma situação é observada no aço com 0,20% de carbono, também classificado como hipoeutetoide, conforme pode ser visualizado na figura a seguir. Nesta figura, a quantidade de perlita é bem reduzida, e a ferrita predomina em toda a micrografia: 73 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 65 – Imagem microscópica do aço ABNT1020. Ampliação de 100 vezes Ao observar a ampliação desse aço, observa‑se que a distinção de ferrita e perlita dentro do grão é mais difícil, sendo necessária a utilização de lentes de aumento superior a 500 vezes. Figura 66 – Micrografia com ampliação de 500 vezes a imagem do material Ao aplicar a regra da alavanca, de forma semelhante à realizada no aço com 0,45% de carbono, verifica‑se o percentual de ferrita de 97%, conforme a equação 5.8: α = − − ⋅ =6 67 0 20 6 67 0 100 97 00 , , , , % (equação 5.8) A equação 5.9 calcula o percentual de cementita. Como já temos o percentual de 97% de ferrita, o restante (3%) é cementita. Fe C3 100 97 00 0 20 0 6 67 0 3 00= − = − − =% , % , , , % (equação 5.9) 74 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II O cálculo da equação 5.10 é a quantificação da ferrita fora do grão de perlita, (ferrita primária). Neste cálculo, foi obtido o valor de 74,03%. Se subtrairmos o resultado da equação 5.8 com a 5.10, teremos a diferença de 22,97%, que corresponde à quantidade de ferrita existente dentro do grão de perlita. αprim riaá = − − ⋅ =0 77 0 20 0 77 0 00 100 74 03 , , , , , % (equação 5.10) Na equação 5.11 é quantificado o percentual de perlita, obtendo‑se o valor de 25,97%. Com este valor, conclui‑se que, em um aço com 0,20% de carbono, quase 26% é de perlita, apesar da existência de 97% de ferrita. Perlita = − = − − =100 74 03 0 20 0 00 0 77 0 00 25 97% , % , , , , , % (equação 5.11) No caso de um aço que contém o percentual de carbono superior a 0,77% de carbono, esses aços são chamados de aço hipereutetoide. Como exemplo, a figura a seguir apresenta a micrografia de um aço que contém 1,4% de carbono. Nesta micrografia, verificam‑se as diferenças significativas em relação aos aços hipoeutetoides, por exemplo, o fundo claro agora não é mais ferrita, mas, sim, a cementita, que, neste caso, chama‑se cementita pró‑eutetoide. Esses aços também nunca terão um percentual de perlita igual a 100%. Figura 67 – Micrografia de um aço hipereutetoide contendo 1,4% de carbono A aplicação da regra da alavanca é aplicada na equação 5.12 com o cálculo de ferrita; a equação 5.13 com o cálculo da cementita; a equação 5.14 com o cálculo da cementita pró‑eutetoide e a equação 5.15 para o cálculo da perlita. Com o aumento do percentual de carbono, o esperado é que o percentual de carbono seja reduzido, conforme apresentado na equação 5.12. 75 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS α = − − ⋅ =6 67 140 6 67 0 100 79 01 , , , , % (equação 5.12) A equação 5.13 calcula o percentual de cementita para esse aço. Como já tem o percentual de 79,01% de ferrita, o que restou (20,99%) é cementita. Fe C3 100 79 01 140 0 6 67 0 20 99= − = − − =% , % , , , % (equação 5.13) O cálculo da equação 5.14 é a quantificação da cementita fora do grão de perlita (cementita pró‑eutetoide). Neste cálculo, foi obtido o valor de 10,68%. Se subtrairmos o resultado da equação 5.13 da 5.14, teremos a diferença de 10,31%, que corresponde à quantidade de cementita existente dentro do grão de perlita. Fe C eutet ide3 140 0 77 6 67 0 77 100 10 68Pr , , , , , %ó ó‑ = − − ⋅ = (equação 5.14) Na equação 5.15 é quantificado o percentual de perlita, obtendo‑se o valor de 89,32%. Com esse valor, conclui‑se que, em um aço com 1,40% de carbono, quase 90% é de perlita, apesar da existência de quase 21% de ferrita. Neste caso ainda pode‑se concluir que o percentual de carbono acima da concentração eutetoide terá uma queda menor do percentual da perlita. Perlita = − = − − =100 168 6 67 140 6 67 0 77 89 32% , % , , , , , % (equação 5.15) Quando o percentual de carbono é superior a 2,11%, a liga ferro carbono deixa de se chamar aço e passa a se chamar ferro fundido. Contudo, se apenas existir ferro e carbono com percentual superior a 2,11%, a liga é o ferro fundido branco, que é uma liga com uma dureza muito elevada, muito quebradiça, não existindo uma função específica para ela. Essa liga serve de matéria‑prima base para a produção das demais ligas de ferro fundido, como o ferro fundido cinzento, ferro fundido nodular e ferro fundido maleável, mas, para isso, é necessária a adição de pelo menos 1% de sílicio à liga para que ocorra a precipitação da fase grafita (tradicionalmente conhecida como grafite). 6 TRATAMENTOS TÉRMICOS EM AÇO E DIAGRAMA (TTT) O aço é uma liga que apresenta vantagens até mesmo se houver a necessidade de alterar algumas de suas propriedades mecânicas. É possível aumentar ou até mesmo diminuir a dureza de um aço. O método para que isso seja possível é através dos tratamentos térmicos. Os tratamentos térmicos são realizados nos materiais com o objetivo de alterar as suas propriedades. No caso, alterar as suas propriedades quer dizer aumentar ou diminuir sua dureza, tenacidade, resistência à tração e resistência a impacto. De certa forma, alterar as propriedades mecânicas em alguns materiais pode alterar algumas outras propriedades. Cada caso de material apresenta uma regra e uma metodologia diferenciada para os tratamentos térmicos. 76 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II Este capítulo terá como objetivo apresentar os tratamentos térmicos aplicados a ligas de aço. Não é possível seguir essas regras para aço inox, aço ferramenta ou quaisquer outras ligas ferrosas. As metodologias para esses materiais são diferenciadas. Não se pode temperar um inox 316L como se tempera um aço ABNT 1045, pois a liga de inox apresentará muitas trincas, não sendo mais viável a sua utilização. Da mesma forma, as ligas não ferrosas, tais como alumínio, cobre, titânio etc., não devem seguir essas metodologias, pois essas ligas não apresentam as mesmas condições das ligas de aço. Esses materiais podem sofrer tratamento térmico assim como quaisquer outros, contudo, os objetivos são diferentes e, portanto, as metodologias também. A principal ferramenta para o estudo dos tratamentos térmicos são os diagramas TTT, que são diagramas de Tempo x Temperatura x Transformação. No eixo x do gráfico, o tempo é representado em escala logarítmica; no eixo y, a representação da temperatura é em escala normal. A transformação são as linhas vermelha, verde e o tracejado em azul da figura a seguir. 1 10 Time (s) Te m pe ra tu re (º C) Te m pe ra tu re (º F) 10210–1 200 100 300 400 500 600 700 800 1.400 1.200 1.000 800 600 400 103 104 105 A A A 50% N P B Eutectoid temperature A P A + B + Figura 68 – Diagrama Tempo x Temperatura x Transformação (TTT) para a liga ferrocarbono eutetoide (0,77% de carbono, aço ABNT1080) 77 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS A ideia desse diagrama é representar um resfriamento de um aço para obter as micrografias que podem alterar as propriedades mecânicas dos materiais. No diagrama, a letra A é a austenita, a micrografia inicial para um tratamento térmico. Para qualquer tratamento térmico em aço, é obrigatória a transformação em austenita para que ele seja resfriado e, posteriormente, aconteça a transformação em alguma fase. As fases micrográficas identificadas com a letra P são referentes à perlita; a letra B identifica a bainita e a letra M representa a martensita. A curva de resfriamento em algum momento irá cruzar a linha de transformação de alguma dessas micrografias. A linha vermelha representa o início da transformação; o tracejado azul indica que 50% já estão transformados em uma determinada micrografia. A linha verde representa a transformação total da austenita em alguma das micrografias. A micrografia, após transformada, poderá sofrer um novo tratamento para, posteriormente, ser transformada em outra micrografia. Um exemplo é que uma peça pode passar pelo processo de recozimento para diminuir a sua dureza e, na sequência ser usinada. Após a usinagem, o material poderá ser temperado para aumentar a sua dureza. Esse processo é utilizado para diminuir o desgaste com as pastilhas de usinagem, minimizando o custo do processo. Outro exemplo: em um aço que foi laminado diversas vezes a frio para evitar que fique com trincas, é comum ocorrer um recozimento para que, em seguida, ele possa passar novamente nos rolos de laminação. 6.1 Normalização A normalização é o tratamento térmico normal da siderúrgica, por isso o nome de normalização, pois o objetivo é voltar o material às condições normais após os processos de conformação mecânica ocorridos na siderúrgica. Esse tratamento consiste em aquecer o material até a fase de austenização (acima de 727ºC para aço eutetoide) e resfriar ao ambiente. Quando o aço é resfriado no ambiente, ele demora um pouco para atingir o equilíbrio com a temperatura ambiente. Isso acontece porque depende do coeficiente de capacidade térmica do material, da massa específica e da viscosidade do fluído de resfriamento, que, no caso, é o próprio ar. Na figura a seguir, a linha lilás é o comportamento do resfriamento do aço no ambiente. Percebe‑se que a linha lilás cruza a linha verde antes do pontilhado preto indicado com a letra N, o que significa que a estrutura formada é a perlita. Contudo, como ainda é considerado um resfriamento mais rápido, o grão formado é de perlita fina. A perlita fina apresenta uma dureza um pouco mais elevada que a perlita grossa formada no processo de recozimento. 78 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II 1 10 Time (s) Te m pe ra tu re (º C) Te m pe ra tu re (º F) 10210–1 200 100 300 400 500 600 700 800 1.400 1.200 1.000 800 600 400 103 104 105 A A A 50% N P B Eutectoid temperature A P A + B + M(start) M(50%) M(90%) Figura 69 – Representação do resfriamento da normalização de um aço eutetoide 6.2 Recozimento O recozimento é o tratamento térmico em que o material é levado ao forno até a temperatura de austenização (acima de 727ºC para aço eutetoide); após o equilíbrio térmico, o forno é desligado e a peça continuará dentro do forno. Esse resfriamento pode demorar até 24 horas para atingir a temperatura ambiente, que é de aproximadamente 30ºC. Esse tratamento térmico é o mais adequado para anteceder um processo de usinagem, pois diminui a dureza do material, causando menos desgaste na pastilha de usinagem. Também pode ser utilizado para aliviar tensões de fadiga que as peças estão sofrendo em uma máquina, por exemplo. A figura a seguir apresenta a curva de resfriamento do aço eutetoide para o recozimento. O resfriamento pode durar até 27 horas, que seria o equivalente aos 105 segundos do gráfico. 79 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS 1 10 Time (s) Te m pe ra tu re (º C) Te m pe ra tu re (º F) 10210–1 200 100 300 400 500 600 700 800 1.400 1.200 1.000 800 600 400 103 104 105 A A A 50% N P B Eutectoid temperature A P A + B + M(start) M(50%) M(90%) Figura 70 – Representação do resfriamento do recozimento de um aço eutetoide 6.3 Austêmpera O tratamento de austêmpera é o tratamento térmico em que o aço é resfriado até uma temperatura abaixo do tracejado preto do diagrama e acima da linha amarela. A temperatura é mantida por um tempo até o cruzamento da linha verde, em que ocorre a transformação total na bainita, conforme pode ser visualizado na figura a seguir. Esse resfriamento é realizado na prática por meio de chumbo líquido, que se mantém nesse estado entre 300ºC e 600ºC, ou por meio de óleo lubrificante aquecido até essa temperatura. Em decorrência de sua alta insalubridade, esse tratamento é realizado apenas em empresas especializadas ou com uma série de recursos, como exaustores com lavadores de gases. 80 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II 1 10 Time (s) Te m pe ra tu re (º C) Te m pe ra tu re (º F) 10210–1 200 100 300 400 500 600 700 800 1.400 1.200 1.000 800 600 400 103 104 105 A A A 50% N P B Eutectoid temperature A P A + B + M(start) M(50%) M(90%) Figura 71 – Representação do resfriamento da austêmpera de um aço eutetoide. Na linha lilás superior, a formação de bainita superior, e na linha lilás inferior, a formação de bainita inferior Na figura a seguir é representada a micrografia de uma bainita após uma austêmpera. A bainita tem aspecto de “pena de ave”. Figura 72 81 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS 6.4 Têmpera A têmpera é o tratamento térmico mais utilizado na indústria, pois ele aumenta a dureza do material ferroso, principalmente após o processo de usinagem. Esse tratamento consiste em um violento choque térmico no material, tirando‑o do forno e resfriando‑o rapidamente em água ou em outro fluído, como óleo diesel, lubrificante, óleo vegetal etc. Como o resfriamento é rápido, acontece em até cinco segundos para atingir o equilíbrio com o ambiente, sua estrutura formada é a martensita. Como o choque térmico é violento, é possível que ocorram trincas no material. Esse problema pode ser evitado com o uso de fluídos com velocidade de resfriamento menor, como os óleos. Por outro lado, a dureza será menor que o material que foi resfriado brutalmente em água. 1 10 Time (s) Te m pe ra tu re (º C) Te m pe ra tu re (º F) 10210–1 200 100 300 400 500 600 700 800 1.400 1.200 1.000 800 600 400 103 104 105 A A A 50% N P B Eutectoid temperature A P A + B + M(start) M(50%) M(90%) Figura 73 – Representação do resfriamento da têmpera de um aço eutetoide A micrografia martensítica é uma solução supersaturada de carbono no ferro α de aspecto acicular e de reticulado tetragonal. Sua micrografia pode ser identificada na caracterização da figura a seguir. 82 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II Figura 74 – Micrografia da martensita 6.5 Martêmpera (Revenimento) Como a têmpera é um tratamento muito bruto, podendo formar trincas no material, existe a possibilidade de realizar um tratamento que faz um alívio das tensões internas que acontecem no material. Esse tratamento consiste em deixar o material descansar por um tempo (não tem uma regra do quanto). Após o descanso, o material irá para um forno à temperatura menor que a temperatura eutetoide, sendo mantida por um tempo e, posteriormente, resfriadono ambiente, de forma lenta (veja a figura a seguir). 1 10 Time (s) Te m pe ra tu re (º C) Te m pe ra tu re (º F) 10210–1 200 100 300 400 500 600 700 800 1.400 1.200 1.000 800 600 400 103 104 105 A A A 50% N P B Eutectoid temperature A P A + B + M(start) M(50%) M(90%) Figura 75 – Representação do resfriamento da martêmpera de um aço eutetoide 83 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS Não há uma regra para especificar um tempo ou uma temperatura, mas pode‑se dizer que quanto maior a temperatura, menor será o tempo de exposição no forno para o alívio das tensões. Com o alívio das tensões, haverá também uma queda no valor da dureza do material. Dependendo da aplicação, isso poderá ser uma boa opção para as trincas internas no material. 6.6 Coalescimento O coalescimento, que também é chamado de esferoidização, é um tratamento térmico que consiste em um resfriamento escalonado do material, necessitando de um tempo maior e disponibilidade de vários fornos para a realização do resfriamento. Na prática, é muito parecido com o recozimento, a diferença é que, no recozimento a temperatura diminui, enquanto no coalescimento o material deve passar para um outro forno que esteja a aproximadamente 30ºC abaixo da temperatura eutetoide (aproximadamente 700ºC) por diversas horas. 1 10 Time (s) Te m pe ra tu re (º C) Te m pe ra tu re (º F) 10210–1 200 100 300 400 500 600 700 800 1.400 1.200 1.000 800 600 400 103 104 105 A A A 50% N P B Eutectoid temperature A P A + B + M(start) M(50%) M(90%) Figura 76 – Representação do resfriamento da martêmpera de um aço eutetoide Com esse resfriamento, a morfologia da cementita muda de lamelas para glóbulos. Por esse motivo, a microestrutura formada é conhecida como esferoidita (Figura 77). Essa microestrutura também possui matriz de ferrita. O tratamento usual é com aços de alto teor de carbono para facilitar a usinabilidade 84 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II Figura 77 – Micrografia da esferoidita 6.7 Tratamento térmico dos demais materiais Conforme já discutido anteriormente, o tratamento térmico é variado de material para material, não sendo possível aplicar a mesma regra para qualquer material. Como exemplo, um torneiro mecânico sabe que o aço com 0,2% de carbono não pegará têmpera, ou seja, ele não é tratável termicamente, sem aumento de sua dureza. Isso é perceptível no momento da usinagem do material, seja no torno, verificado na formação do cavaco, ou no esmeril, na formação das fagulhas. A justificativa para essa ocorrência é que, para esse tipo de material, apesar de apresentar um diagrama TTT, é impossível formar outra micrografia que não seja a perlita. Como pode ser observado no diagrama TTT da figura a seguir, em que é apresentado um diagrama de um aço doce (baixo carbono), as linhas de transformação se aproximam muito do eixo inicial do diagrama, fazendo com que o resfriamento cruze inicialmente a linha da perlita, formando apenas essa estrutura. 85 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS 1 10 Time (s) Te m pe ra tu re (º C) Te m pe ra tu re (º F) 10210–1 200 100 300 400 500 600 700 800 900 1.400 1.200 1.000 800 600 400 103 104 105 A 50% N P B Eutectoid temperature A P A + B + Figura 78 – Diagrama TTT para uma liga ferrosa com menos de 0,40% de carbono Já na figura a seguir, pode ser apreciado um diagrama TTT para um aço ABNT4340, que contém molibdênio, juntamente com o carbono na liga ferrosa. A linha de transformação apresenta mais fases, pois há menos carbono, permitindo a presença de perlita e ferrita após o resfriamento. Nesse caso, as curvas de resfriamento são semelhantes ao aço eutetoide, mas haverá diferenças no tempo e temperatura em que o material deverá ficar no banho de chumbo. 86 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II 10 102 Time (s) Te m pe ra tu re (º C) Te m pe ra tu re (º F) 1031 200 100 0 300 400 500 600 700 800 1.400 1.200 1.000 800 600 400 400 104 105 106 A A A 50% B M Eutectoid temperature A + F A + F + P F + P A + B M + B M(start) M(50%) M(90%) Figura 79 – Diagrama TTT para a liga ABNT 4340 Em resumo, o tratamento térmico para qualquer material vai variar muito, pois, para cada liga, há um diagrama TTT específico. Sob hipótese alguma, o procedimento prático de tratamento térmico de aços poderá ser aplicado aos materiais, tais como aço inox, alumínio, cobre e outros. Não ocorrerá o que se deseja e ainda poderá provocar tensões internas desnecessárias ao material. 6.8 Tratamentos superficiais e termoquímicos Outra opção de tratamento para endurecimento são os tratamentos superficiais e os tratamentos termoquímicos. Eles têm como objetivo apenas endurecer a superfície do material, muitas vezes até deixando o interior com baixa dureza. Essa é uma estratégia de utilização da peça, que poderá ter a necessidade de resistir ao atrito e, ao mesmo tempo, ter o interior com dureza menor para absorver o impacto, por exemplo, engrenagens, trilhos e rodas de trens. A têmpera superficial é um exemplo de processo realizado com material de alto teor de carbono: coloca‑se o material em fogo e, posteriormente, ele é resfriado em água. Apenas a superfície do material será endurecida nesse processo. Contudo, a profundidade de têmpera será em função da espessura do material e o 87 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS tempo que ele ficou exposto à chama. É um processo em que não é possível realizar a têmpera por espessura determinada. O objetivo é aumentar a dureza para um processo rápido, como uma ferramenta, por exemplo. Para fazer a têmpera em uma profundidade específica, recomenda‑se o processo de têmpera por indução: o processo é realizado através de uma bobina; por meio de indução eletromagnética, ela aquece o material que, em seguida, é resfriado rapidamente. Esse processo também é recomendado para aço de alto teor de carbono. Outra opção de tratamento é adicionar carbono à superfície do material por meio de difusão; esse tratamento é chamado de cementação. A cementação é um tipo de tratamento termoquímico em que o carbono entra em forma de monóxido de carbono no aço e forma cementita, conforme a equação 6.1. 6 2 2 3 2Fe CO Fe C O+ → + (equação 6.1) Nesse processo, a cementita está somente na superfície do material. Como está sendo adicionado carbono, há a necessidade de que o aço tenha baixo teor de carbono. Além disso, o tratamento exige um resfriamento rápido, que fixa o carbono no aço, impedindo a descarbonetação (perda de carbono) e, simultaneamente, temperando a superfície do material. A última opção é a nitretação, que é outro tratamento termoquímico que também aumentará a dureza superficial do material. Esse processo é a adição de nitrogênio na camada superficial do aço. É recomendado para aço de alto teor de carbono. Saiba mais Para mais informações sobre os processos de tratamentos térmicos e termoquímicos, leia: CHIAVERINI, V. Aços e ferros fundidos: características gerais, tratamentos térmicos, principais tipos. 7.ed. São Paulo: ABM, 2005. CHIAVERINI, V. Tecnologia mecânica. 2. ed. São Paulo: McGraw‑Hill, 1986. CHIAVERINI, V. Tratamento térmico das ligas metálicas. São Paulo: ABM, 2003. 7 CLASSIFICAÇÃO DAS LIGAS FERROSAS Existem diversas ligas ferrosas disponíveis no mercado. Há ligas contendo apenas carbono, que são as mais usuais, e aquelas em que é adicionado algum elemento de liga para obter propriedades específicas. Sabe‑se que o carbono, ao ser adicionado à liga ferrosa, irá aumentar a sua resistência mecânica à traçãoe a sua dureza, deixando o material menos tenaz (alongando menos em deformações como tração) e, assim, dificultando o processo de conformação. 88 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II Entretanto, o carbono não é o único a deter essas alterações nas propriedades mecânicas da liga ferrosa. Com exceção do carbono, o ferro é um elemento que dá preferência para ligar‑se com outros elementos que estão ao seu redor na tabela periódica. Observação O ferro é um elemento que se localiza na coluna 8 da tabela periódica e está organizado na estrutura Cúbica de Corpo Centrado (CCC) na sua organização principal (ferrita) e se recristaliza em Cúbica de Face Centrada (CFC) em temperatura superior a 727ºC (austenita). Dessa forma, ele procurará se misturar com elementos semelhantes a ele, como os elementos que se localizam ao seu lado na tabela periódica e se organizam no mesmo sistema cristalino. 7.1 Aços O aço é o principal material representante das ligas ferrosas. Os aços são os materiais sobre os quais mais existem estudos na área de engenharia, pois suas propriedades são as mais adequadas para quaisquer projetos. Basicamente, o aço é formado por ferro mais carbono, mas podem ter mais elementos ligados à liga. A maioria dos elementos ligados ao ferro irá aumentar a sua resistência mecânica. O cobalto (Co) e o cromo (Cr) são elementos que também aumentam a resistência à tração da liga ferrosa. Ambos os elementos também auxiliam a liga ferrosa a ser resistente ao calor, ao desgaste por abrasão e principalmente à corrosão; o cromo é o principal elemento formador de ligas de aço inox. Entre outros elementos, o níquel aumenta o limite de escoamento do material. Com o limite de escoamento maior, o material também terá mais elasticidade e, consequentemente, sua tenacidade também será maior. O níquel também fará com que o material resista aos meios redutores. Para aumentar a resistência ao calor, os elementos mais indicados para a liga ferrosa são molibidênio, vanádio e, principalmente, tungstênio. Com maior resistência ao calor, o material poderá ser utilizado em máquinas que trabalham em temperaturas elevadas. O tungstênio e o vanádio podem ser utilizados em facas e ferramentas cortantes, pois eles garantem que os gumes das facas permaneçam afiados e cortantes. Cada elemento terá uma função específica na liga ferrosa. Em resumo, a tabela a seguir apresenta o efeito que cada elemento adicionado poderá provocar na liga ferrosa. Por exemplo, o carbono tem um efeito positivo em resistência mecânica, indicando que quanto mais carbono na liga ferrosa, maior será a sua resistência. Por outro lado, o efeito negativo em ductilidade indica que quanto maior a quantidade de carbono na liga ferrosa, menor será sua ductilidade. 89 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS Tabela 10 – Influência dos elementos de liga adicionados à liga de aço: positivo aumenta e negativo diminui sua propriedade Propriedade / Elemento C Mn Si S P Ti Cr Nb Resistência mecânica + + + ‑ + + + + Ductilidade ‑ ‑ 0 ‑ ‑ 0 ‑ ‑ Tenacidade ‑ 0 0 ‑ 0 0 0 + Soldabilidade ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ 0 ‑ 0 Resistência à corrosão ‑ 0 + 0 + + + 0 Desoxidante 0 + + 0 0 0 0 0 Existem diversas possibilidades de misturas ferrosas que podem ser expressas por meio de normas. A designação mais usual é a representação de acordo com a norma SAE (2014). A classificação SAE é a mesma que as normas brasileiras utilizam (ABNT NBR 6006:1994, substituída por NBR NM87:2000). Essa classificação é apresentada na tabela a seguir com a identificação de cada liga em função da sua composição química. Os dois últimos dígitos, apresentados com XX na tabela, representam o percentual de carbono da liga. Tabela 11 – Sistemas SAE, AISI e UNS de classificação dos aços Designação Tipos de aço AISI‑SAE UNS 10XX G10XXX Aços‑carbono comuns 11XX G11XXX Aços de usinagem fácil, com alto S 12XX G12XXX Aços de usinagem fácil, com alto P e S 13XX G13XXX Aços‑Mn com 1,75% de Mn médio 14XX G14XXX Aços‑carbono com 0,10% de Nb 15XX G15XXX Aços‑carbono com teor de Mn de 1,0% a 1,65% (aço‑manganês) 23XX G23XXX Aços com Ni entre 3,25% e 3,75% 25XX G25XXX Aços com Ni entre 4,75% e 5,25% 31XX G31XXX Aços com Ni entre 1,10% e 1,40% e com Cr entre 0,55% e 0,90% 32XX G32XXX Aços com Ni entre 1,50% e 2,00% e com Cr entre 0,90% e 1,25% 33XX G33XXX Aços com Ni entre 3,25% e 3,75% e com Cr entre 1,40% e 1,75% 34XX G34XXX Aços com Ni entre 2,75% e 3,25% e com Cr entre 0,60% e 0,95% 40XX G40XXX Aços‑Mo com 0,25% de Mo médio 41XX G41XXX Aços‑Cr‑Mo com 0,4 a 1,1% de Cr e 0,08 a 0,35% de Mo 43XX G43XXX Aços‑Ni‑Cr‑Mo com 1,65 a 2 de Ni, 0,4 a 0,9% de Cr e 0,2 a 0,3% de Mo 46XX G46XXX Aços‑Ni‑Mo com 0,7 a 2% de Ni e 0,15 a 0,3% de Mo 47XX G47XXX Aços‑Ni‑Cr‑Mo com 1,05% de Ni, 0,45% de Cr e 0,2% de Mo 48XX G48XXX Aços‑Ni‑Mo com 3,25 a 3,75% de Ni e 0,2 a 0,3% de Mo 51XX G51XXX Aços‑Cr com 0,7 a 1,1% de Cr E51100 G51986 Aços‑cromo (forno elétrico) com 1% de Cr E52100 G52986 Aços‑cromo (forno elétrico) com 1,45% de Cr 90 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II 61XX G61XXX Aços‑Cr‑V com 0,6 ou 0,95% de Cr e 0,1 ou 0,15% de V mín. 81XX G81XXX Aços com Ni entre 0,20% e 0,40%, com Cr entre 0,30% e 0,55% e com Mo entre 0,08% e 0,15% 86XX G86XXX Aços‑Ni‑Cr‑Mo com 0,55% de Ni, 0,5% de Cr e 0,2% de Mo 87XX G87XXX Aços‑Ni‑Cr‑Mo com 0,55% de Ni, 0,5% de Cr e 0,25% de Mo 88XX G88XXX Aços‑Ni‑Cr‑Mo com 0,55% de Ni, 0,5% de Cr e 0,3 a 0,4 de Mo 92XX G92XXX Aços‑Si com 1,8% a 2,2% de Si 93XX G93XXX Aços com Ni entre 3,00% e 3,50%, com Cr entre 1,00% e 1,40% e com Mo entre 0,08% e 0,15% 94XX G94XXX Aços com Ni entre 0,30% e 0,60%, com Cr entre 0,30% e 0,50% e com Mo entre 0,08% e 0,15% 97XX G97XXX Aços com Ni entre 0,40% e 0,70%, com Cr entre 0,10% e 0,25% e com Mo entre 0,15% e 0,25% 98XX G98XXX Aços com Ni entre 0,85% e 1,15%, com Cr entre 0,70% e 0,90% e com Mo entre 0,20% e 0,30% 50BXX G50XXX Aços‑Cr com 0,2 a 0,6% de Cr e 0,0005 a 0,003% de boro 51B60 G51601 Aços‑Cr com 0,8% de Cr e 0,0005 a 0,003 de boro 81B45 G81451 Aços‑Ni‑Cr‑Mo com 0,3% de Ni, 0,45% de Cr, 0,12% Mo e 0,0005 a 0,003% de boro 94BXX G94XXX Aços‑Ni‑Cr‑Mo com 0,45% de Ni, 0,4% de Cr, 0,12% Mo e 0,0005 a 0,003% de boro Observação A classificação da ABNT é igual a SAE, ASTM e AISI. A norma DIN (norma alemã) apresenta uma forma diferente de classificar os materiais pela composição química. 7.2 Aços inoxidáveis As ligas de aços inoxidáveis são ligas fabricadas com o objetivo de resistir à oxidação, que é a corrosão tradicionalmente conhecida como ferrugem. A corrosão em aços comuns se caracteriza pela presença de uma camada de óxido permeável. No ambiente corrosivo, a oxidação do material irá continuar até a total desintegração do material. Com a adição de aproximadamente 12% de cromo, haverá formação de uma camada de óxido de ferro e cromo que se transforma em uma película protetora, chamada de camada de passivação. Isso confere o título de aço inoxidável. Em ligas de aços inoxidáveis, o carbono é um elemento limitante, mas alguns outros elementos podem ser diferenciais, além do cromo. O molibdênio, por exemplo, aumenta a resistência da camada de passivação, principalmente em meios como ácido sulfúrico e água do mar, que tendem a formar corrosão por pites. Os elementos titânio, tântalo e nióbio são formadores de carbonetos, minimizando a corrosão intergranular. O nitrogênio, apesar de gasoso, pode formar liga com o aço e aumentar a dureza e melhorar a ductilidade do material, além de estabilizar a austenita em temperatura ambiente. As ligas de aços inoxidáveis têm a classificação pela composição química tratada pelas normas brasileiras (ABNT, 2011). Na tabela a seguir, são apresentados os aços classificados como austeníticos. Esses aços contêm elevadaconcentração de níquel, que amplia a faixa de estabilidade da austenita, por esse motivo essas ligas são chamadas de austeníticos. 91 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS Tabela 12 – Composição química dos aços inoxidáveis austeníticos ABNT C Mn Si P S Cr Ni Outros 201 0,15 5,5 ‑7,5 1,00 0,060 0,030 16,00 3,50 N = 0,25 202 0,15 7,5‑10,0 1,00 0,060 0,030 17,0‑19,0 4,00‑6,00 N = 0,25 205 0,12‑0,25 14,0‑15,5 1,00 0,060 0,030 16,5‑18,0 1,0‑1,75 N=0,32‑0,40 301 0,15 2,00 1,00 0,045 0,030 16,0‑18,0 6,0‑8,0 302 0,15 2,00 1,00 0,045 0,030 17,0‑19,0 8,0‑10,0 302 B 0,15 2,00 2,00‑3,00 0,045 0,030 17,0‑19,0 8,00‑10,00 303 0,15 2,00 1,00 0,20 >0,15 17,0‑19,0 5,00‑10,00 Mo‑0,60 (A) 303 Se 0,15 2,00 1,00 0,20 0,060 17,0‑19,0 8,00‑10,00 Se > 0,15 304 0,08 2,00 1,00 0,045 0,030 18,0‑20,0 8,00‑10,50 304 L 0,030 2,00 1,00 0,045 0,030 18,0‑20,0 8,00‑12,00 304 N 0,08 2,00 1,00 0,045 0,030 18,0‑20,0 8,00‑10,50 N=0,10‑0,16 305 0,12 2,00 1,00 0,045 0,030 17,0‑19,0 10,50‑13,00 308 0,08 2,00 1,00 0,045 0,030 19,0‑21,0 10,00‑12,00 309 0,20 2,00 1,00 0,045 0,030 22,0‑24,0 12,00‑15,00 3095 0,08 2,00 1,00 0,045 0,030 22,0‑24,0 12,00‑15,00 310 0,25 2,00 1,50 0,045 0,030 24,0‑26,0 19,00‑22,00 3105 0,08 2,00 1,50 0,045 0,030 24,0‑26,0 19,00‑22,00 314 0,25 2,00 1,50‑3,00 0,045 0,030 23,0‑26,0 19,00‑22,00 316 0,08 2,00 1,00 0,045 0,030 16,0‑18,0 10,00‑14,00 Mo=2,0‑3,0 316 L 0,030 2,00 1,00 0,045 0,030 16,0‑18,0 10,00‑14,00 Mo=2,0‑3,0 316 F 0,08 2,00 1,00 0,20 >0,10 16,0‑18,0 10,00‑14,00 Mo=1,75‑2,5 316 N 0,08 2,00 1,00 0,045 0,030 16,0‑18,0 10,00‑14,00 Mo = 2,0‑3,0N =0,10‑0,16 317 0,08 2,00 1,00 0,045 0,030 18,0‑20,0 11,00‑15,00 Mo=3,0‑4,0 317 L 0,030 2,00 1,00 0,045 0,030 18,0‑20,0 11,00‑15,00 Mo=3,0‑4,0 321 0,08 2,00 1,00 0,045 0,030 17,0‑19,0 9,00‑12,00 Ti > 5 x C 329 0,10 2,00 1,00 0,040 0,030 25,0‑30,0 3,00‑6,0 Mo=1,0‑2,0 330 0,08 2,00 0,75‑1,50 0,040 0,030 17,0‑20,0 34,00‑37,00 347 0,08 2,00 1,00 0,045 0,030 17,0‑19,0 9,00‑13,0 Nb+Ta > 10xC 348 0,08 2,00 1,00 0,045 0,030 17,0‑19,0 9,00‑13,00 Nb+Ta > 10xC Ta<0,10 Co<0,20 384 0,08 2,00 1,00 0,045 0,030 15,0‑17,0 17,00‑19,00 (A) Opcional O níquel tem outro fator positivo que auxilia na formação de óxido de Cr‑Ni (camada passivadora) e que aumenta a resistência à corrosão do material. O níquel é um elemento endurecedor em fase sólida e também aumenta a resistência ao calor. A tabela a seguir apresenta a liga de aço inox martensítica. Nesse caso, o carbono aumenta a resistência da martensita e precipita carbonetos que aumentam a dureza da liga. Por esse motivo que 92 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II as ligas martensíticas podem sofrer têmpera. Essa classificação ocorre conforme as mesmas normas brasileiras (ABNT, 2011). Tabela 13 – Composição química dos aços inoxidáveis martensíticos ABNT C Mn Si P S Cr Ni Outros 403 0,15 1,00 0,50 0,040 0,030 11,50‑13,00 405 0,08 1,00 1,00 0,040 0,030 11,50‑14,50 Al= 0,10‑0,30 410 0,15 1,00 1,00 0,040 0,030 11,50‑13,50 414 0,15 1,00 1,00 0,040 0,030 11,50‑13,50 Ni =1,25‑2,50 416 0,15 1,25 1,00 0,060 >0,15 12,00‑14,00 0,60 (A) 416 Se 0,15 1,25 1,00 0,060 0,060 12,00‑14,00 Se > 0,15 420 (B) > 0,15 1,00 1,00 0,040 0,030 12,00‑14,00 420 F > 0,15 1,25 1,00 0,060 > 0,15 12,00‑14,00 0,60 (A) 422 0,20 ‑0,25 1,00 0,75 0,025 0,025 11,00‑13,00 0,75‑1,25 Ni = 0,50‑1,00 V = 0,15‑0,30 W = 0,75‑1,25 431 0,20 1,00 1,00 0,040 0,030 15,00‑17,00 Ni = 1,25‑2,50 440 A 0,60‑0,75 1,00 1,00 0,040 0,030 16,00‑18,00 0,75 440 B 0,75‑0,95 1,00 1,00 0,040 0,030 16,00‑18,00 0,75 440 C 0,95‑1,20 1,00 1,00 0,040 0,030 16,00‑18,00 0,75 501 > 0,10 1,00 1,00 0,040 0,030 4,00‑6,00 0,40‑0,65 502 0,10 1,00 1,00 0,040 0,030 4,00‑6,00 0,40‑0,65 (A) Opcional (B) O aço tipo ABNT 420 pode ser solicitado objetivando carbono nas faixas O,15/0,35 Lembrete A têmpera em ligas de aço inoxidáveis martensíticos é completamente diferente do processo empregado ao aço eutetoide; haverá um aumento de trincas no interior do material e não ocorrerá o aumento da dureza. A tabela a seguir apresenta a liga de aço inox ferrítico, ou seja, aço inox não temperável, conforme as mesmas normas brasileiras (ABNT, 2011). Os aços inoxidáveis ferríticos são os mais básicos, sendo que seu principal elemento é o cromo. 93 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS Tabela 14 – Composição química dos aços inoxidáveis ferríticos ABNT C Mn Si P S Cr Ni Outros 409 0,08 1,00 1,00 0,045 0,045 10,50‑11,75 Ti>6xC Ti < 0,75 429 0,12 1,00 1,00 0,040 0,030 14,00‑16,00 430 0,12 1,00 1,00 0,040 0,030 16,00‑18,00 430 F 0,12 1,25 1,00 0,060 >0,15 16,00‑18,00 0,60 (A) 430 F Se 0,12 1,25 1,00 0,060 0,060 16,00‑18,00 Se > 0,15 434 0,12 1,00 1,00 0,040 0,030 16,00‑18,00 436 0,12 1,00 1,00 0,040 0,030 16,00‑18,00 0,75‑1,25 Nb+Ta>5xC < 0,70 442 0,20 1,00 1,00 0,040 0,030 13,00‑23,00 0,75‑1,25 446 0,20 1,50 1,00 0,040 0,030 23,00‑27,00 N = 0,25 (A) Opcional A tabela a seguir apresenta algumas das propriedades mecânicas das ligas de aço inox austeníticos mais usuais nos projetos de engenharia. Tabela 15 – Propriedades mecânicas básicas dos aços inoxidáveis austeníticos ABNT Estado Resistência à tração N/mm² Limite de escoamento à 0,2% N/mm² Alongamento em 50,8 mm percentual Dureza Rockwele < 0,38 0,38 < e < 0,76 e > 0,76 201 recozido ¼ duro ½ duro ¾ duro duro 665,0 875,0* 1050,0* 1225,0* 1295,0* 315,0 525,0* 770,0* 945,0* 980,0* 40 20* 9* 3* 3* 40 20* 10* 5* 4* 40 20* 10* 7* 5* B 90 C 25 C 32 C 37 C 41 202 recozido ¼ duro 630,0 875,0* 315,0 525,0* 40 12* ‑ ‑ ‑ ‑ B 90 C 25 301 recozido ¼ duro ½ duro ¾ duro duro 770,0 875,0* 1025,0* 1225,0* 1295,0* 280,0 525,0* 770,0* 945,0* 980,0* 60* 25* 18* 12* 9* ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ B 85 C 25 C 32 C 37 C 41 302 recozido ¼ duro 630,0 875,0* 280,0 525,0* 50 12* ‑ ‑ ‑ ‑ B 85 C 25 302 B recozido 665,0 280,0 55 ‑ B 85 304 recozido 588,0 294,0 55 ‑ B 80 304 L recozido 567,0 273,0 55 ‑ B 79 305 recozido 595,0 266,0 50 ‑ B 80 309 recozido 630,0 315,0 45 ‑ B 85 310 recozido 665,0 315,0 45 ‑ B 85 314 recozido 700,0 350,0 40 ‑ B 85 316 recozido 588,0 294,0 50 ‑ B 79 316 L recozido 567,0 294,0 50 ‑ B 79 317 recozido 630,0 280,0 45 ‑ B 85 94 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II 321 recozido 630,0 245,0 45 ‑ B 80 347 recozido 665,0 280,0 45 ‑ B 85 * Valor mínimo Notas: 1) Fator é o número pelo qual se deve multiplicar a espessura nominal da chapa para se obter o diâmetro do cutelo a ser empregado no ensaio do dobramento (Exemplo: se o fator é igual a 3, o diâmetro do cutelo deverá ser igual a 3 vezes a espessura da chapa a ser ensaiada). 2) Os valores das propriedades mecânicas apresentadas sem asteriscos (*) na tabela acima são médios. 3) As propriedades podem variar consideravelmente em função da composição química, dimensão, estado do aço ensaiado e métodos de tratamentos térmicos ou mecânicos. 4) As propriedades mecânicas dos produtos planos variam em função da relação entre a direção testada e a direção de laminação. Por exemplo: ductilidade (é maior quando o eixo de dobramento for transversal à direção da laminação). A tabela a seguir apresenta algumas das propriedades mecânicas das ligas de aço inox ferrítico. Tabela 16 – Propriedades mecânicas básicas dos aços inox ferríticos ABNT Estado Resistência à tração N/mm² Limite de escoamento à 0,2% N/mm² Alongamento em 50,8 mm percentual Dureza Rockwelle < 0,38 0,38 < e < 0,76 e > 0,76 430 recozido 525,0 350,0 25 ‑ ‑ B 85 446 recozido 560,0 350, 20 ‑ ‑ B 83 502 recozido 490,0 ‑ 30 ‑ ‑ B 75 Notas para as tabelas 15 e 16:1) Fator é o número pelo qual se deve multiplicar a espessura nominal da chapa para obter o diâmetro do cutelo a ser empregado no ensaio do dobramento. Por exemplo: se o fator é igual a 3, o diâmetro do cutelo deverá ser igual a 3 vezes a espessura da chapa a ser ensaiada. 2) Os valores das propriedades mecânicas apresentadas sem asteriscos (*) na tabela são médios. 3) As propriedades podem variar consideravelmente em função da composição química, da dimensão, do estado do aço ensaiado e dos métodos de tratamentos térmicos ou mecânicos. 4) As propriedades mecânicas dos produtos planos variam em função da relação entre a direção testada e a direção de laminação. Por exemplo: ductilidade (é maior quando o eixo de dobramento for transversal à direção da laminação). 7.3 Ferro fundido As ligas de ferro fundido são ligas classificadas somente pelas suas propriedades mecânicas, pois elas possuem mais de 2,11% de carbono. Quando contêm somente ferro e carbono, é o ferro fundido branco, muito quebradiço e de difícil trabalho, sendo usual como matéria‑prima para as demais ligas, como o ferro fundido cinzento, ferro fundido maleável e o ferro fundido nodular. Para isso, a liga deverá ser fundida com pelo menos 1% de silício para que o carbono excedente se cristalize em grafita. Quando o resfriamento é rápido, haverá formação de perlita e cementita, o que caracteriza ainda a liga de ferro fundido branco. Quando é realizado um resfriamento moderado, a grafita cristaliza‑se em forma de lamelas grandes e grãos de perlita (ferro fundido cinzento perlítico). Já no resfriamento rápido, haverá a cristalização da grafita e formação da ferrita (ferro fundido cinzento ferrítico – figura a seguir). A grafita da liga de ferro fundido cinzento deixa a região de ruptura muito acinzentada. Por esse motivo, a liga chama‑se ferro fundido cinzento. 95 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS Figura 80 – Microestrutura de um ferro fundido cinzento ferrítico Quando a liga de ferro fundido branco é aquecida em aproximadamente 700ºC por 30 horas, ela pode ser resfriada lentamente, formando ferro fundido maleável ferrítico; também pode ser resfriado rapidamente, formando ferro fundido maleável perlítico. Se a liga de ferro fundido branco é fundida com adição de cério ou magnésio, a grafita irá se cristalizar, mas em forma de nódulos. Assim, este será o chamado ferro fundido nodular (ferro fundido dúctil). Se resfriado rapidamente, formará uma matriz perlítica (ferro fundido nodular perlítico); se for resfriado lentamente, formará uma matriz ferrítica (ferro fundido nodular ferrítico – figura a seguir). Figura 81 – Microestrutura de um ferro fundido nodular ferrítico 7.4 Aço ferramenta As demais ligas ferrosas existentes são ligas de aço ferramenta. As ligas de aço ferramenta são ligas de ferro com carbono juntamente com elementos como vanádio, tungstênio e níquel. Essas ligas são usuais em ferramentas para corte, dobra ou quaisquer outras formas de conformar ou usinar os materiais. Contudo, algumas ferramentas caseiras, como chave de fenda, alicates, chave de grifo e outras, são também fabricadas com esse material. 96 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II Os aços ferramentas são classificados como aço rápidos (desenvolvidos para corte e altas velocidades), aço para trabalho a quente (grupo H, para aguentar pressão, abrasão e calor que estão envolvidos em processos de conformação) e aço ferramenta para trabalhos a frio. Alguns aços ferramentas apresentam propriedades diferentes, como misturas parciais de ligas. A liga de aço damasco é um exemplo desse tipo de aço ferramenta, utilizado para fabricação de facas de corte na culinária, por exemplo. É uma liga formada por mistura de aços pelo processo de caldeamento, em que o aço é aquecido e prensado sob a temperatura elevada. É o tradicional processo visualizado nos filmes, em que os povos medievais utilizavam para fabricar as suas espadas. 8 METAIS E LIGAS NÃO FERROSAS As ligas metálicas não ferrosas são de extrema importância para a engenharia, pois apresentam vantagens em relação ao aço, como menor peso (alumínio), maior condutividade elétrica (cobre), ligas aplicadas a biomateriais pela sua resistividade à corrosão (titânio) e outras propriedades. No geral, a desvantagem dessas ligas é o alto custo. Serão apresentadas aqui algumas características das ligas não ferrosas e suas classificações. 8.1 Alumínio O alumínio é um metal que, no ponto de vista de projeto, forma ligas versáteis que apresentam desempenho econômico. Não contém atividade magnética, não é tóxico e possui uma boa resistência à oxidação. É uma liga dúctil e maleável. As ligas de alumínio de maior resistência têm limites de ruptura na faixa de 70 a 90 kpsi (480 a 620 MPa), que é a tensão próxima à tensão de ruptura de um aço de baixo carbono. Ainda existe a possibilidade de algumas ligas serem endurecidas por tratamento térmico. Lembrete Os tratamentos térmicos de materiais não ferrosos não têm relação com o tratamento térmico de ligas ferrosas. Para cada material deverá ser estudado o melhor tratamento. Na tabela a seguir, é apresentada a classificação da liga de alumínio de acordo com a ABNT (2010). Essa classificação é em função de seus elementos principais adicionados às ligas. 97 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS Tabela 17 – Classificação química das ligas de alumínio Série Elemento(s) de liga principal(is) Outros elementos de liga 1xxx Alumínio puro ‑ 2xxx Cu Mg, Li 3xxx Mn Mg 4xxx Si ‑ 5xxx Mg ‑ 6xxx Mg, Si ‑ 7xxx Zn Cu, Mg, Cr, Zr 8xxx Sn, Li, Fe, Cu, Mg ‑ 9xxx Reservado para uso futuro ‑ A liga da série 1xxx é aplicada às indústrias química e elétrica. Já a liga 2xxx é aplicada a aeronaves graças a sua elevada resistência mecânica. A liga da série 3xxx têm aplicações arquitetônicas e produtos de uso geral. A liga da série 4xxx é aplicada em varetas ou eletrodos de solda e chapas para brasagem. Seu principal elemento de liga é o silício, que, ao se ligar ao alumínio, forma o diagrama que pode ser apreciado na figura a seguir. Atomic percent silicon Weight percent silicon Te m pe ra tu re ºC 0 10 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 SiAl 0 300 500 700 900 660.452 ºC 577+1 ºC 12,6 1.100 1.300 1.414 ºC L 1.500 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Figura 82 – Diagrama da liga alumínio x silício 98 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II A liga da série 5xxx é aplicada em produtos expostos à atmosfera marinha, como cascos de barcos. Seu principal elemento de liga é o magnésio, que, na mistura, formará o diagrama da figura a seguir. A liga da série 6xxx, que é utilizada para produtos extrudados de uso arquitetônico, é formada pela mistura de silício e magnésio na mesma liga, formando um diagrama ternário entre os três elementos. Atomic percent magnesium Weight percent magnesium Te m pe ra tu re ºC 0 10 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 MgAl 0 100 200 300 400 450 ºC 437 ºC Al3Mg3 Al12Mg17 R 500 600 650 ºC660.452 ºC L 700 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Figura 83 – Diagrama da liga alumínio x magnésio A liga da série 7xxx é aplicada a componentes estruturais de aeronaves e outras aplicações que necessitam de elevados requisitos de resistência. Essa liga é a que possui a maior resistência mecânica entre as ligas de alumínio. Seu principal elemento de liga é o zinco, que, na mistura com o alumínio, forma o diagrama da figura a seguir. 99 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS Atomic percent Zinc Weight percent Zinc Te m pe ra tu re ºC 0 10 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 ZnAl 0 100 0 200 300 400 381 ºC 361,5 ºC 277 ºC32.4 77.7 83.1 94 99.3 419,58 ºC 500 600 660.452 ºC L 700 800 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Figura 84 – Diagrama da liga alumínio x zinco Na tabela a seguir, são apresentadas as propriedades mecânicas de algumas das principais ligas em alumínio. Nesta tabela, também há as propriedades em função de seus tratamentos térmicos. Tabela 18 – Propriedades mecânicas de algumas das ligas de alumínio mais usuais Liga ABNT ASTM DIN Têmpera Limite de resistência à tração Mpa (N/mm²) Limite de escoamento Mpa (N/mm²)Mín. Alongamento mínimo “50 mm”(%) Dureza Brinell (HB) 1050 Al 99,5 OH14 55 95 95 130 15 70 22 3 20 26 1100 – O H14 75 110 105 145 25 95 22 3 23 32 1200 Al 99,0 O H14 75 110 105 145 25 95 22 3 23 32 100 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II 1350 E‑Al OH14 55 95 95 130 ‑ ‑ 22 3 20 30 2011 Al Cu Pb Bi T4 T8 275 370 – – 125 275 16 10 – 100 3003 Al Mn Cu O H14 95 140 130 180 35 115 22 3 28 40 3104 Al Mn O H32 H34 150 190 220 200 240 265 60 145 170 15 3 3 45 58 66 3105 Al Mn0,5 Mg0,5 O H14 95 150 145 200 35 125 19 2 28 40 5005 Al Mg1,0 O H14 H19 105 145 157 145 185 – 35 115 137 19 2 – 28 41 – 5052 Al Mg2,5 O H34 170 235 215 285 65 180 17 4 47 68 6060 Al Mg Si0,5 T5 145 – 105 8 60 6061 Al Mg Si Cu T4 T6 180 260 – – 110 240 16 8 65 95 6063 Al Mg Si0,5 T5 145 – 105 8 60 6101 E‑Al Mg Si0,5 T6 200 – 172 8 78 6261 – T6 265 – 225 10 90 6262 – T6 260 – 240 10 90 6351 Al Mg Si1,0 T6 290 – 255 10 95 8011 Al Fe Si O H14/H24 80 120 120 210 50 110 12 4 28 35 Notas: 1) Os valores indicados não implicam garantia formal. 2) Os dados de tensão são expressos na unidade megapascal (Mpa), equivalente a 1N/mm2. Para obter a medida da unidade em kgf/mm2, divide‑se o valor indicado por 9,807. 3) Classificação das têmperas: • O – recozido: aplica‑se a produtos acabados, no estado em que apresentam o menor valor de resistência mecânica. • H – encruada: aplica‑se a produtos de ligas não tratáveis termicamente, ou seja, ligas em que o aumento da resistência mecânica se consegue apenas por deformação plástica a frio (encruamento). • F – como fabricada: aplica‑se aos produtos obtidos através de processos de conformação em que não se emprega qualquer controle especial sobre as condições térmicas ou de encruamento. Não se especificam limites para as propriedades mecânicas. • T – tratada termicamente: aplica‑se aos produtos que sofrem tratamento térmico com ou sem deformação plástica complementar, que produz propriedades físicas estáveis e diferentes das obtidas com “F”, “O” e “H”. 4) Para as ligas com têmpera H114, utilizam‑se os limites especificados na têmpera “O”. 5) Para as ligas com têmpera H154, utilizam‑se os limites especificados na têmpera “H14”. 6) Para materiais laminados, os valores de alongamento correspondem às espessuras de 0,63 m a 1,20 m. 7) Propriedades mecânicas conforme normas da ABNT‑NBR 7823 (laminados) e ABNT‑NBR 7000:2005 (extrudados). 101 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS 8.2 Cobre As ligas de cobre são ligas com elevadas condutividades elétrica e térmica, boa resistência à corrosão, sem propriedades magnéticas. Uma das suas ligas é o latão (cobre e zinco), que é utilizado em munições de artilharia leve ou pesada até abajures e joalheria. O latão não é necessariamente formado de cobre e zinco, podem existir outros elementos. O diagrama cobre x zinco pode ser apreciado na figura a seguir. Weight percent Zinc 419.58 ºC Atomic percent Zinc Te m pe ra tu re ºC 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 ZnCu 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1.000 1.100 1.064,87 ºC L 32.5 902 37.5 36.8 56.5 59.6 80.369.8 76.5 73.2 48.9 57.7 70.6 45.5 39.95 88.2 97.25 76.574.1 88.3 98.3 834 ºC 700 ºC 560 ºC 598 ºC 425 ºC 488 ºC454 ºC β γ δ c β‘ 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1000 Figura 85 – Diagrama da liga cobre x zinco Outra liga muito comum e importante é o bronze, que é liga de cobre e estanho (diagrama na figura a seguir), sendo que este último pode ser substituído por silício ou alumínio. O bronze de silício é utilizado, por exemplo, em hélices de navios. O bronze é uma liga nobre e utilizado inclusive como premiação em torneios esportivos. Por esse motivo é um material de custo elevado. 102 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II Weight percent Tin Atomic percent Tin Te m pe ra tu re ºC 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 SnCu 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1.000 1.100 1.200 1.064,87 ºC L 13.5 1.3 11 15.6 27.0 59 32.55 60.9 99.360.3 24.6 52.4 25.5 30.0 58.6 22 ≈350 ºC 227 ºC 231.9681 ºC 186 ºC 520 ºC 586 ºC 796 ºC 755 ºC 676 ºC 640 ºC 582 ºC 415 ºC 189 ºC β γ C c δ η η' 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1000 Figura 86 – Diagrama da liga cobre x estanho Uma outra liga de cobre muito comum é a liga de cobre‑belírio, a mais resistente das ligas de cobre. Seu diagrama pode ser apreciado na figura a seguir. Em alguns casos, as ligas de Cu‑Be apresentam resistência superior a diversas ligas ferrosas, apresentando limite de ruptura que pode atingir até 1.380 MPa, podendo ser utilizada em molas amagnéticas. 103 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS Weight percent Beryllium Atomic percent Beryllium Te m pe ra tu re ºC 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 BeCu 0 500 600 700 800 900 1.000 1.100 1.200 1.300 1.064,87 ºC 1289 ºC 1270 ºC 102030 40 50 60 70 80 1000 L 6.09 8.3 8.4 12 858 10.7 34.5 40.4 57.4 ≈20.3 ≈38.4 ≈1.275ºC≈36 ≈33 ≈47.1 618 900 ºC 1219 ºC 1199 ºC 1109 ºC 933 ºC (αβe) (βBe) δ γβ Figura 87 – Diagrama da liga cobre x berílio 8.3 Níquel O níquel é um metal atualmente muito utilizado para confecção das moedas. Apresenta valor econômico elevado, mas o seu valor varia pouco no mercado, impedindo que uma moeda que está cunhada em determinado valor tenha variações do seu valor real. Em projetos de engenharia, ele é útil na melhoria de resistência mecânica a altas temperaturas, resistência à corrosão e para alterar as propriedades de liga ferrosa. O níquel também é um ótimo condutor elétrico e térmico, além de apresentar propriedades magnéticas. 8.4 Titânio O titânio e suas ligas são materiais mais usuais para próteses ou recomposição óssea de pessoas acidentadas, pois é um material biocompatível, ou seja, não há rejeição do corpo biológico ao material. Sua densidade razoavelmente baixa, girando em torno de 4,5 g/cm³, ajuda muito nesse aspecto, mas também auxilia em diversos outros projetos aplicados a máquinas. Seu ponto de fusão é elevado, girando em torno de 1.668°C, possibilitando o trabalho em temperaturas elevadas. Seu módulo de elasticidade é aproximadamente 107 GPa e sua resistência à tração pode chegar a 1.400 MPa, uma das mais elevadas para os metais. O titânio tem também resistividade química boa, não oxidando com facilidade. 104 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II Entretanto, as suas excelentes propriedades ficam ofuscadas pelo seu elevado custo, tanto de aquisição como de trabalho. Suas propriedades são excelentes com a peça já pronta, como leveza, resistência e durabilidade. No entanto, é um material de difícil usinagem, elevado custo de fundição e de aquisição. Observação O titânio é um metal que se organiza no sistema Hexagonal Compacto (HC) em sua forma principal, mas pode se organizar também no sistema CCC. O zinco é um metal que também se organiza no sistema Hexagonal Compacto (HC), mas não tem outra forma cristalina. 8.5 Zinco O zinco é outro material muitoutilizado na engenharia. Não tem um custo tão elevado quanto alguns materiais, mas também não apresenta tantas vantagens. É um material cuja principal função é servir de metal de sacrifício para estruturas que estão sujeitas à corrosão, principalmente o aço. Saiba mais Metais de sacrifício podem ser estudados em: GENTIL, V. Corrosão. 6. ed. São Paulo: LTC, 2011. O zinco é um metal facilmente maleável entre 100ºC e 150ºC; pode ser laminado em chapas e estirados em fios. Contudo, o zinco tem função maior em processos químicos como agente catalizador e agente redutor de reações ou aditivos, como pigmentos de tintas, borrachas e em pilhas e baterias alcalinas. 8.6 Estanho O estanho é um metal que tem como principal característica ser um material extremamente mole, dúctil e maleável, baixa resistência mecânica e baixo ponto de fusão, mas elevada resistência à corrosão. Sua principal aplicação é na soldagem de componentes eletrônicos, pois a solda em baixa temperatura faz com que o dano na placa de circuito impresso seja menor. Saiba mais Sobre os materiais não ferrosos, pode‑se obter mais informações no livro: BARBOSA, C. Metais não ferrosos e suas ligas. Rio de Janeiro: E‑Papers, 2014. 105 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS Resumo Nesta unidade, conhecemos um pouco sobre as ligas metálicas disponíveis para os engenheiros, em especial as ligas de aço. O aço é formado pela mistura do ferro com o carbono, gerando um diagrama de fases; o carbono se liga com o ferro formando a molécula do carboneto de ferro, tradicionalmente conhecida como cementita. O diagrama da liga ferro‑carbono é limitado em 6,66% de carbono, porque acima desse percentual é apenas cementita pura, não existindo ferro nessa condição. Além da fase cementita, é possível ver a fase ferrita, que, ao se juntar com a cementita, forma a perlita. Outra estrutura possível de ser estudada é a austenita; uma fase alotrópica do ferro organizado na estrutura CFC. O conhecimento do diagrama de fases da liga é importante para selecionar o material com as condições e as especificações que se deseja do material. Contudo, em alguns casos, é possível alterar as propriedades de grãos dos materiais por meio de tratamentos térmicos, que são processos nos quais se aquece o material até a transformação total em austenita e, posteriormente, ocorre o resfriamento. A têmpera é um tratamento térmico cujo objetivo é obter o grão de martensita, um grão que confere maior dureza ao material. Além da martensita, é possível ter o grão de bainita (por austêmpera), perlita (pela normalização) e a esferoidita (por coalescimento). O que muda em cada tratamento é a forma de resfriamento, por exemplo: o resfriamento em água, que é o caso da têmpera, ou o resfriamento superlento dentro do forno, conhecido como normalização, utilizado para formar perlita grossa e minimizar a dureza do material. A mistura de metais em ligas ferrosas é possível por processo de fundição, e cada metal apresentará uma condição específica ao ser adicionado à liga, por exemplo: atribuir maior dureza, maior ductilidade ou até a resistência à corrosão. O mesmo ocorre com os materiais não ferrosos, que podem ser utilizados para diversos projetos em engenharia. Entre os metais não ferrosos, os principais têm o alumínio, que é o mais usual depois das ligas ferrosas pelo seu baixo peso específico, por sua resistividade química e também por sua resistência à tração, que, apesar de baixa, é suficiente para aplicações em diversos projetos. Algumas de suas ligas são inclusive utilizadas como material aeronáutico por apresentar elevada resistência e por ser de extrema leveza. A liga de cobre já tem como seu principal atrativo a alta condutividade elétrica, que pode ser utilizada para condutos elétricos, mas também para 106 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II diversas outras funções e peças. Algumas ligas de cobre podem apresentar elevada resistência mecânica. Assim, verificou‑se também que há diversas outras ligas que podem ser interessantes para o trabalho de engenharia. Exercícios Questão 1. (Enade 2014) No Brasil é comercializada uma cadeira de rodas de alumínio com peso aproximado de 12 kg, que representa cerca da metade do peso de um modelo convencional. Construída em estrutura tubular de uma liga de alumínio aeronáutico, essa cadeira de rodas possui alta resistência mecânica, além de ter custo reduzido. Adaptado de: <http://www.hospitalar.com>. O alumínio aeronáutico possui uma combinação única de propriedades que o torna um material de construção versátil, altamente utilizável e atrativo. Essas características são devidas a quais propriedades? A) Alta resistência mecânica e baixa densidade. B) Baixa plasticidade e alto ponto de fusão. C) Alta dureza a quente e baixa ductilidade. D) Baixa plasticidade e alta soldabilidade. E) Alta dureza e alta densidade. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: o alumínio aeronáutico possui resistência comparável à do aço de baixo carbono e densidade próxima a 75% da densidade do aço. B) Alternativa incorreta. Justificativa: como afirma Dieter e Schmidt (2012), comparado com o aço, o alumínio possui ponto de fusão bem mais baixo e massa específica menor. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a dureza do alumínio é menor que a do aço e, de acordo com Shackelford, o alumínio possui boa ductilidade, mesmo em temperaturas muito baixas. 107 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CIÊNCIA DOS MATERIAIS D) Alternativa incorreta. Justificativa: a plasticidade está associada à ductilidade. Um material que possui boa ductilidade também possui boa plasticidade. E) Alternativa incorreta. Justificativa: a dureza do alumínio é menor que a do aço e sua densidade é cerca de 75% da do aço. Questão 2. (Enade 2005) Considere o diagrama de equilíbrio Fe‑C para teores de carbono até 6,7%, mostrado na figura: 200 0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 Feγ (Austenita) 6,0 6,7 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.394 1.495 J 1.600 1.538 912 1.800 α S(0,77) 2,11 Solidus LiquidusSolidus Ac m C(4,30) Austenita + Cementita E 727º 1148º A1 Figura 88 108 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Unidade II Com relação ao diagrama mostrado e seus constituintes, conclui‑se que: A) A austenita é um carboneto contendo 2,11% de carbono. B) A solução sólida do carbono do ferro é chamada cementita. C) Este é, de fato, um diagrama Fe‑Fe2O3, visto que a extremidade direita do mesmo corresponde a 6,7% de carbono, que representa a solubilidade máxima do carbono no Fe2O3. D) A solubilidade do carbono na austenita é máxima a 1148 °C e corresponde a 4,3% de carbono. E) Este é, de fato, um diagrama Fe‑Fe3C, visto que a extremidade direita do mesmo corresponde a 6,7% de carbono, que é a composição aproximada do carboneto de ferro Fe3C. Resolução desta questão na plataforma. 109 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 661996294570508290. Disponível em: <https://www.thinglink.com/scene/661996294570508290>. Acesso em: 13 nov. 2017. Figura 2 Grupo Unip‑Objetivo Figura 3 BROWN, L. S.; HOLMES, T. Química geral aplicada à engenharia. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. p. 12. Figura 4 Grupo Unip‑Objetivo Figura 5 Grupo Unip‑Objetivo Figura 6 Grupo Unip‑Objetivo Figura 7 Grupo Unip‑Objetivo Figura 8 KLEIN, C.; DUTROW, B. Manual de ciência dos minerais. 23. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. p. 349. Figura 9 Grupo Unip‑Objetivo Figura 10 Grupo Unip‑Objetivo 110 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Figura 11 Grupo Unip‑ObjetivoFigura 12 Grupo Unip‑Objetivo Figura 13 Grupo Unip‑Objetivo Figura 14 Grupo Unip‑Objetivo Figura 15 Grupo Unip‑Objetivo Figura 16 Grupo Unip‑Objetivo Figura 17 Grupo Unip‑Objetivo Figura 18 Grupo Unip‑Objetivo Figura 19 Grupo Unip‑Objetivo Figura 20 Grupo Unip‑Objetivo Figura 21 Grupo Unip‑Objetivo 111 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Figura 22 BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Grupo do laboratório de raio X. Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas: CBPF. Disponível em: <http://www.cbpf.br/GrupPesq/RaioX/ Lab_RX.htm>. Acesso em: 13 nov. 2017. Figura 23 Grupo Unip‑Objetivo Figura 24 BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Grupo do laboratório de raio X. Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas: CBPF. Disponível em: <http://www.cbpf.br/GrupPesq/RaioX/ Lab_RX.htm>. Acesso em: 13 nov. 2017. Figura 25 Grupo Unip‑Objetivo Figura 26 Grupo Unip‑Objetivo Figura 27 Grupo Unip‑Objetivo Figura 28 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 141. Figura 29 Grupo Unip‑Objetivo Figura 30 Grupo Unip‑Objetivo Figura 31 Grupo Unip‑Objetivo 112 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Figura 32 Grupo Unip‑Objetivo Figura 33 Grupo Unip‑Objetivo Figura 34 Grupo Unip‑Objetivo Figura 35 Grupo Unip‑Objetivo Figura 36 Grupo Unip‑Objetivo Figura 37 Grupo Unip‑Objetivo Figura 38 Grupo Unip‑Objetivo Figura 39 Grupo Unip‑Objetivo Figura 40 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 154. Figura 41 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 151. Figura 42 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 151. 113 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Figura 43 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 151. Figura 44 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 153. Figura 45 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 151. Figura 46 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 240. Figura 47 Grupo Unip‑Objetivo Figura 48 ASKELAND, D. R. Ciência e engenharia de materiais. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 296. Figura 49 Grupo Unip‑Objetivo Figura 50 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 255. Figura 51 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 263. Figura 52 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 266. Figura 53 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 272. 114 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Figura 54 Grupo Unip‑Objetivo Figura 55 ASM HANDBOOK. Alloy phase diagrams. ASM International: 1992. p. 38. Figura 56 ASM HANDBOOK. Alloy phase diagrams. ASM International: 1992. p. 39. Figura 57 Grupo Unip‑Objetivo Figura 60 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 273. Figura 61 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 273. Figura 67 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 279. Figura 68 BOYER, H. (Ed.). Atlas of isothermal transformation and cooling transformation diagrams. American Society for Metals, 1977. p. 28. Figura 69 BOYER, H. (Ed.). Atlas of isothermal transformation and cooling transformation diagrams. American Society for Metals, 1977. p. 28. Figura 70 BOYER, H. (Ed.). Atlas of isothermal transformation and cooling transformation diagrams. American Society for Metals, 1977. p. 28. 115 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Figura 71 BOYER, H. (Ed.). Atlas of isothermal transformation and cooling transformation diagrams. American Society for Metals, 1977. p. 28. Figura 73 BOYER, H. (Ed.). Atlas of isothermal transformation and cooling transformation diagrams. American Society for Metals, 1977. p. 28. Figura 75 BOYER, H. (Ed.). Atlas of isothermal transformation and cooling transformation diagrams. American Society for Metals, 1977. p. 28. Figura 76 BOYER, H. (Ed.). Atlas of isothermal transformation and cooling transformation diagrams. American Society for Metals, 1977. p. 28. Figura 77 CALLISTE, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 2013. p. 308. Figura 78 BOYER, H. (Ed.). Atlas of isothermal transformation and cooling transformation diagrams. American Society for Metals, 1977. p. 28. Figura 79 BOYER, H. (Ed.). Atlas of isothermal transformation and cooling transformation diagrams. American Society for Metals, 1977. p. 171. Figura 82 ASM HANDBOOK. Alloy phase diagrams. ASM International: 1992. p. 321. Figura 83 ASM HANDBOOK. Alloy phase diagrams. ASM International: 1992. p. 305. 116 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 Figura 84 ASM HANDBOOK. Alloy phase diagrams. ASM International: 1992. p. 335. Figura 85 ASM HANDBOOK. Alloy phase diagrams. ASM International: 1992. p. 780. Figura 86 ASM HANDBOOK. Alloy phase diagrams. ASM International: 1992. p. 784. Figura 87 ASM HANDBOOK. Alloy phase diagrams. ASM International: 1992. p. 469. REFERÊNCIAS Textuais ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 209: Alumínio e suas ligas – Composição química. Rio de Janeiro, 2010. ___. NBR 5601: Aços inoxidáveis – Classificação por composição química. Rio de Janeiro, 2011. ASKELAND, D. R. Ciência e engenharia de materiais. São Paulo: Cengage Learning, 2008. ASM HANDBOOK. Alloy phase diagrams. ASM International: 1992. BARBOSA, C. Metais não ferrosos e suas ligas. Rio de Janeiro: E‑Papers, 2014. BAUER, W.; WESTFALL, G. D. Física para universitários: mecânica. São Paulo: Amgh, 2012. BOYER, H. (Ed.). Atlas of isothermal transformation and cooling transformation diagrams. American Society for Metals, 1977. BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Grupo do laboratório de raio X. Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas: CBPF. Disponível em: <http://www.cbpf.br/GrupPesq/RaioX/ Lab_RX.htm>. Acesso em: 13 nov. 2017. BROWN, L. S.; HOLMES, T. Química geral aplicada à engenharia. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. p. 12. CALLISTER, W. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. 117 Re vi sã o: A na / Ca rla - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /0 1/ 20 18 CBCA. Construção em aço: estatísticas. Rio de Janeiro, [s.d.]. Disponível em: <http://www. cbca‑acobrasil.org.br/site/fale‑conosco.php>. Acesso em: 17 nov. 2017. CHIAVERINI, V. Aços e ferros fundidos: características gerais, tratamentos térmicos, principais tipos. 7.ed. São Paulo: ABM, 2005. ___. Tecnologia mecânica. 2. ed. São Paulo: McGraw‑Hill, 1986. ___. Tratamento térmico das ligas metálicas. São Paulo: ABM, 2003. COPAERT, H. Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. 4. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2008. GENTIL, V. Corrosão. 6. ed. São Paulo: LTC, 2011. KLEIN, C.; DUTROW, B. Manual de ciência dos minerais. 23. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. MAHAN, L. K. Química: um curso universitário. São Paulo: Edgard Blücher, 2000. PUKASIEWICZ, A. G. M. Aços: tratamentos térmicos. Materiais II, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – Unidade de Ponta Grossa – Coordenação de Mecânica, 2003. Ponta Grossa, 2003. Notas de
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