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Curso Técnico em Mecânica Materiais e Ensaios Armando de Queiroz Monteiro Neto Presidente da Confederação Nacional da Indústria José Manuel de Aguiar Martins Diretor do Departamento Nacional do SENAI Regina Maria de Fátima Torres Diretora de Operações do Departamento Nacional do SENAI Alcantaro Corrêa Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina Sérgio Roberto Arruda Diretor Regional do SENAI/SC Antônio José Carradore Diretor de Educação e Tecnologia do SENAI/SC Marco Antônio Dociatti Diretor de Desenvolvimento Organizacional do SENAI/SC Confederação Nacional das Indústrias Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Curso Técnico em Mecânica Materiais e Ensaios Fernando Darci Pitt Florianópolis/SC 2010 É proibida a reprodução total ou parcial deste material por qualquer meio ou sistema sem o prévio consentimento do editor. Material em conformidade com a nova ortografia da língua portuguesa. Equipe técnica que participou da elaboração desta obra Coordenação de Educação a Distância Beth Schirmer Revisão Ortográfica e Normatização Contextual Serviços Editoriais Coordenação Projetos EaD Maristela de Lourdes Alves Design educacional, Ilustração, Projeto Gráfico Editorial, Diagramação Equipe de Recursos Didáticos SENAI/SC em Florianópolis Autor Fernando Darci Pitt SENAI/SC — Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Rodovia Admar Gonzaga, 2.765 – Itacorubi – Florianópolis/SC CEP: 88034-001 Fone: (48) 0800 48 12 12 www.sc.senai.br Ficha catalográfica elaborada por Luciana Effting CRB14/937 - Biblioteca do SENAI/SC Florianópolis P688m Pitt, Fernando Darci Materiais e ensaios / Fernando Darci Pitt. – Florianópolis : SENAI/SC, 2010. 87 p. : il. color ; 28 cm. Inclui bibliografias. 1. Materiais. 2. Materiais – Testes. 3. Mecânica. 4. Metalografia. I. SENAI. Departamento Regional de Santa Catarina. II. Título. CDU 620.1 Prefácio Você faz parte da maior instituição de educação profissional do estado. Uma rede de Educação e Tecnologia, formada por 35 unidades conecta- das e estrategicamente instaladas em todas as regiões de Santa Catarina. No SENAI, o conhecimento a mais é realidade. A proximidade com as necessidades da indústria, a infraestrutura de primeira linha e as aulas teóricas, e realmente práticas, são a essência de um modelo de Educação por Competências que possibilita ao aluno adquirir conhecimentos, de- senvolver habilidade e garantir seu espaço no mercado de trabalho. Com acesso livre a uma eficiente estrutura laboratorial, com o que existe de mais moderno no mundo da tecnologia, você está construindo o seu futuro profissional em uma instituição que, desde 1954, se preocupa em oferecer um modelo de educação atual e de qualidade. Estruturado com o objetivo de atualizar constantemente os métodos de ensino-aprendizagem da instituição, o Programa Educação em Movi- mento promove a discussão, a revisão e o aprimoramento dos processos de educação do SENAI. Buscando manter o alinhamento com as neces- sidades do mercado, ampliar as possibilidades do processo educacional, oferecer recursos didáticos de excelência e consolidar o modelo de Edu- cação por Competências, em todos os seus cursos. É nesse contexto que este livro foi produzido e chega às suas mãos. Todos os materiais didáticos do SENAI Santa Catarina são produções colaborativas dos professores mais qualificados e experientes, e contam com ambiente virtual, mini-aulas e apresentações, muitas com anima- ções, tornando a aula mais interativa e atraente. Mais de 1,6 milhões de alunos já escolheram o SENAI. Você faz parte deste universo. Seja bem-vindo e aproveite por completo a Indústria do Conhecimento. Sumário Conteúdo Formativo 9 Apresentação 11 13 Unidade de estudo 1 Estrutura Química Seção 1 - Classificação dos materiais Seção 2 - Ligações químicas Seção 3 - Estruturas crista- linas Seção 4 - Defeitos cristalinos 23 Unidade de estudo 2 Propriedades dos Materiais Seção 1 - Propriedades físicas Seção 2 - Propriedades químicas Seção 3 - Propriedades mecânicas 13 14 16 19 29 Unidade de estudo 3 Materiais Metálicos Ferrosos Seção 1 - Siderurgia Seção 2 - Ligas metálicas Seção 3 - Microconstituintes do aço Seção 4 - Aço-liga Seção 5 - Aço ferramenta Seção 6 - Aços inoxidáveis Seção 7 - Ferros fundidos 43 Unidade de estudo 4 Materiais Metálicos Não Ferrosos Seção 1 - Os tipos de mate- riais metálicos não ferrosos 47 Unidade de estudo 5 Metalografia Seção 1 - Introdução Seção 2 - Microscopia Seção 3 - Preparação das amostras Seção 4 - Preparação dos reagentes 53 Unidade de estudo 6 Processamentos Térmicos Seção 1 - Introdução Seção 2 - Fatores de controle nos tratamentos térmicos Seção 3 - Diagrama transfor- mação-tempo-temperatura (TTT) Seção 4 - Tratamentos tér- micos Seção 5 - Tratamentos ter- moquímicos 63 Unidade de estudo 7 Ensaios Seção 1 - Introdução Seção 2 - Ensaios de oficina Seção 3 - Ensaios não destru- tivos Seção 4 - Ensaios destrutivos Finalizando 81 Referências 83 Anexos 85 23 25 25 29 30 32 34 35 36 38 43 53 53 54 57 61 47 47 48 50 63 64 64 66 8 CURSOS TÉCNICOS SENAI Conteúdo Formativo 9MATERIAIS E ENSAIOS Carga horária da dedicação Carga horária: 45 horas Competências Avaliar as características e propriedades dos materiais em componentes mecâni- cos utilizando técnicas de ensaios. Conhecimentos ▪ Tratamentos térmicos. ▪ Metalografia. ▪ Ensaios mecânicos (destrutivos e não destrutivos). Habilidades ▪ Ler e interpretar desenhos técnicos. ▪ Identificar, selecionar e utilizar equipamentos e ferramentas de ensaios. ▪ Ler, interpretar e aplicar manuais, catálogos e tabelas técnicas. ▪ Aplicar normas técnicas de saúde, segurança e meio ambiente. ▪ Identificar materiais. ▪ Aplicar ensaios mecânicos. ▪ Especificar processos de transformação dos materiais. ▪ Estabelecer critérios de análise para as causas dos diferentes tipos de fraturas. ▪ Interpretar as estruturas metalográficas e analisar as mudanças que ocorrem por meio dos tratamentos térmicos. ▪ Preparar e analisar as amostras metalográficas dentro dos padrões técnicos. ▪ Aplicar ensaios destrutivos e/ou não destrutivos de acordo com a necessidade. ▪ Especificar o tratamento térmico adequado de acordo com a aplicação. 10 CURSOS TÉCNICOS SENAI Atitudes ▪ Assiduidade. ▪ Proatividade. ▪ Relacionamento interpessoal. ▪ Trabalho em equipe. ▪ Cumprimento de prazos. ▪ Zelo com os equipamentos. ▪ Adoção de normas técnicas, de saúde e segurança do trabalho. ▪ Responsabilidade ambiental. Apresentação MATERIAIS E ENSAIOS Prezado aluno, em sua vida profissional certamente você necessitará es- pecificar materiais para projetos mecânicos novos ou projetos voltados para manutenção e reforma. E ao seu dispor existirão milhares de op- ções de materiais metálicos, poliméricos, cerâmicos e compósitos. E qual selecionar? Para que este atenda a função que se propõe, deverá apresen- tar características físico-químicas e propriedades mecânicas adequadas, além de custo condizente. Os materiais envolvem os povos desde o início dos tempos. Seu desen- volvimento e o controle de suas propriedades além de oferecerem con- forto à humanidade, também proporcionam um maior desenvolvimento às nações. Na antiguidade o desenvolvimento de novos materiais e ligas foi tão marcante que deu nome às eras: idade da pedra, idade do bronze e do ferro. Neste livro você irá encontrar as principais classificações dos materiais, seus conceitos e propriedades e aprenderá os procedimentos para a realização de análises metalográficas sobre tratamentos térmicos, bem como os conceitos dos ensaios aplicados aos materiais. Bom estudo! Fernando Darci Pitt Fernando Darci Pitt é engenhei- ro de materiais pela Universi- dadeEstadual de Ponta Grossa (UEPG), especialista em Gestão Empresarial pela Fundação Ge- túlio Vargas (FGV) e mestrando em Engenharia Química pela Universidade Regional de Blu- menau (FURB). Possui experiên- cia na área de processamento, desenvolvimento de materiais e de aditivos na indústria de transformação de polímeros por injeção. Atua como professor no SENAI/SC desde 2004 em cursos técnicos e de tecnologia (gradu- ação), ministrando disciplinas correlatas à Engenharia e Ciên- cia dos Materiais. 11 Unidade de estudo 1 Seções de estudo Seção 1 – Classificação dos materiais Seção 2 – Ligações químicas Seção 3 – Estruturas cristalinas Seção 4 – Defeitos cristalinos 13MATERIAIS E ENSAIOS SEÇÃO 1 Classificação dos materiais Todos os materiais existentes no universo são classificados de acor- do com suas características físico- químicas e sua estrutura atômica em materiais metálicos, polimé- ricos, cerâmicos ou compósitos. Também é possível encontrar classificações mais específicas em função de suas aplicações como a dos semicondutores e biomate- riais. Materiais metálicos: são mate- riais obtidos pelas combinações de elementos químicos metálicos, possuindo um número grande de elétrons não localizados que po- dem se movimentar livremente de um átomo a outro, o que lhe con- fere certas propriedades intrínse- cas a esta classe de materiais. São excelentes condutores de calor e eletricidade, opacos, normalmen- te de elevada resistência mecânica e geralmente com alto ponto de fusão. A ligação química predo- minante é a metálica. Exemplos: alumínio (Al), ferro (Fe), cobre (Cu), etc. Figura 1 - Material Metálico: Ouro Fonte: NDT (2009). Estrutura Química Materiais cerâmicos: são mate- riais de estrutura tipicamente cris- talina cujas composições são entre elementos metálicos e não metáli- cos, geralmente formando óxidos, nitretos ou carbetos (Al2O3, Si3N4, WC, etc.). São excelentes isolantes térmicos e elétricos resistentes a altas temperaturas e ao desgaste, porém frágeis. Dependendo do método de fabricação, podem variar de cerâmicas densas a po- rosas. A ligação química predomi- nante é a iônica e em alguns casos pode existir a covalente. Classificam-se em cerâmicas es- truturais, refratárias, vidros, abra- sivos, cimentos, materiais avan- çados, dentre outros. Exemplos: tijolos refratários, vidros, pisos de revestimento, selos mecânicos. Materiais poliméricos: comu- mente conhecidos como plásticos e borrachas. São compostos orgâ- nicos de cadeia longa de origem natural ou sintética baseados nos hidrocarbonetos (carbono (C), hidrogênio (H), nitrogênio (N), dentre outros), geralmente oriun- dos do petróleo, gás natural, ou materiais naturais. Suas principais características são baixa densida- de, resistência à corrosão, isolante elétrico e pouco resistente ao ca- lor extremo. Dividem-se basica- mente em dois grandes grupos, os termoplásticos e os termorrí- gidos. Cerâmicos: A palavra deriva do grego “keramos” que sig- nifica olaria. Poliméricos: A palavra polí- mero deriva do grego (poli + mero) que significa “muitas partes”. 14 CURSOS TÉCNICOS SENAI Materiais naturais: podem ser classificados originalmente como um material pertencente às três primeiras classes (metal, cerâmica ou polímero), de acordo com suas características. Exemplos: mine- rais (cerâmica), madeira, látex e peles (polímeros naturais). DICA Leia mais sobre as classes de materiais acessando o site: <http://www.mspc.eng.br/ ciemat/cmat110.shtml>. SEÇÃO 2 Ligações químicas Embora existam pouco mais de cem diferentes elementos quími- cos no universo, milhares de ma- teriais são criados pela combina- ção desses por meio de ligações químicas e arranjos atômicos. A estrutura atômica afeta as pro- priedades primárias: química, fí- sica, térmica, elétrica, magnética e óptica. Enquanto que as pro- priedades mecânicas do material são afetadas pela microestrutura e macroestrutura do material. Átomos O primeiro conceito sobre áto- mos foi proposto por Leucipo e Demócritos por volta do século V antes de Cristo. Naquele momen- to, postularam que a matéria não era infinitamente divisível, e sim composta por partículas minús- culas que a constituíam. A ligação química predominante é a covalente. Exemplos: nylon (PA), polietilenos (PE), poli (te- reftalato de etileno) (PET). Materiais compósitos: são obti- dos pela combinação de dois ou mais materiais distintos criando um novo material, cujas proprie- dades são superiores aos de ori- gem. As fases presentes são classi- ficadas em matriz e reforço, e este pode estar na forma de partículas ou fibras, dispersas ou uniformes. O reforço é o responsável por impedir e/ou minimizar o meca- nismo de deformação. Esta classe de materiais está entre as de maior pesquisa na atualidade visto que conseguem agregar características de mais de um material em um produto final. A ligação entre a matriz e o reforço pode ser quí- mica e/ou física. Exemplos: nylon (matriz) com fibra de vidro (refor- ço), materiais esportivos de alumí- nio (matriz) com fibra de carbono (reforço), concreto (matriz) com agregados (reforço). Materiais semicondutores: ma- teriais que apresentam proprie- dades elétricas intermediárias en- tre os condutores e os isolantes, propriedades estas que são extre- mamente sensíveis à presença de outros elementos, os quais podem ser incorporados propositalmen- te. Exemplos: componentes ele- trônicos, resistores, capacitores. Biomateriais: também designa- dos de materiais biocompatíveis, possuem a propriedade de serem compatíveis com os tecidos do corpo humano. Não são rejeita- dos pelos organismos vivos nem liberam substâncias tóxicas nesses organismos. Exemplos: platina (Pt) e titânio (Ti) utilizados em próteses humanas. Átomo: A palavra átomo surge do grego a = não / tomo = divisível. 15MATERIAIS E ENSAIOS Também propunham que todas as características dos materiais, como gosto, cor, transparência, dentre outras, eram devido às for- mas dessas partículas. Por exem- plo, o átomo que proporciona a cor branca era plano o que não gerava sombras, já o de cor escura era irregular, o que proporcionava sombras e cores escuras. Embora esta teoria hoje esteja completa- mente ultrapassada, para a épo- ca foi de grande valia, pois criou respostas físicas para aconteci- mentos que até então eram tidos como sobrenaturais ou por von- tade dos deuses. Na Idade Média, a química pas- sou a ser amplamente pesquisada pelos alquimistas que buscavam o elixir da vida eterna e também da transmutação de materiais em ouro (transformar um material em outro). Mas foi somente em 1802 que o químico e físico bri- tânico John Dalton apresentou o que hoje se considera a primeira teoria atômica da era moderna. Diferentemente da teoria de De- mócritos, Dalton imaginou o áto- mo com sendo uma esfera com massa e propriedade característica de cada elemento, e que as trans- formações químicas poderiam ser explicadas em função dos rear- ranjos desses átomos. Definiu o elemento químico como sendo átomos que possuem a mesma massa, tamanho e forma. Nos últimos dois séculos outros modelos atômicos foram apre- sentados, porém aqueles que mais se destacaram foram os de Thomson, Ruthenford e de Niels Bohr. Este último conhecido como modelo planetário, apresen- tando o átomo como sendo uma partícula em cujo núcleo se encontram os nêutrons e prótons (carga positiva), ao redor dos quais orbitam os elétrons (carga negativa). Figura 2 - Modelo Atômico de Niels Bohr elétrons prótons núcleo nêutrons Com o avanço da ciência e o desenvolvimento de equipamentos de pesquisa mais modernos e potentes, novos conceitos e complementos aos modelos atômicos surgem a cada dia, além da descoberta de novas subpartículas. Ligações químicas primárias Átomos somente são estáveis se a sua camada de valência estiver com- pleta, o que geralmente se dá com 8 elétrons (regra do octeto),e para que isso ocorra pode haver compartilhamento ou transferência eletrô- nica, formando assim as ligações primárias que podem ser metálicas, iônicas ou covalentes. Já a interação que ocorre entre as moléculas é classificada como ligações secundárias, sendo as principais a de Van der Walls e pontes de hidro- gênio. ▪ Ligações metálicas Uma característica das ligações existentes entre materiais metálicos é que os elétrons presentes não ficam presos a somente um átomo, mas sim podem se movimentar livremente no cristal, característica esta respon- sável pela condutibilidade termoelétrica. 16 CURSOS TÉCNICOS SENAI ▪ Ligações iônicas As ligações iônicas ocorrem entre átomos com cargas diferentes, os cátions e os ânions, metais e não metais. Os átomos metálicos pos- suem normalmente 1, 2 ou 3 elé- trons na sua camada de valência, enquanto que os não metais pos- suem 5, 6 ou 7 elétrons na camada de valência. Formam-se sais, óxi- dos, nitretos, etc. Ao perder elétrons, a carga elé- trica do átomo se torna positiva, e ao ganhar, torna-se negativa, e pela diferença eletrônica os áto- mos se atraem. Como não há a presença de elé- trons livres que possam se movi- mentar livremente no material, as principais características são de isolamento elétrico, dureza e bai- xa deformação. ▪ Ligações covalentes A ligação predominante entre ele- mentos não metálicos, como nos hidrocarbonetos, é a covalente, na qual ocorre o compartilhamento do mesmo elétron por dois áto- mos. Os materiais podem ser sólidos, líquidos ou gases à temperatura ambiente, dependendo do núme- ro de átomos da molécula. Exemplo de materiais que pos- suem ligações covalentes são os polímeros. Figura 3 - Exemplo de Materiais Polímeros Fonte: NDT (2009). SEÇÃO 3 Estruturas cristalinas A ordenação atômica varia de ma- terial para material de acordo com as ligações envolvidas e os proces- sos de fabricação, e se divide em dois grupos: ▪ amorfos – são materiais que não possuem ordenação espa- cial a longa distância no nível atômico e são conseguidos pelo resfriamento de materiais derreti- dos, exemplo: vidro. São algumas vezes designados como líquidos super-resfriados; ▪ cristalinos – são materiais que apresentam ordenação especial regular com ordenação a longas distâncias no nível atômico. Figura 4 - (a) Estrutura Cristalina, (b) Material Amorfo Fonte: Callister (2002, p. 39). Os materiais metálicos e a maioria das cerâmicas terão seus átomos arranjados de forma ordenada, formando uma estrutura cristali- na definida e previsível. Essa or- denação pode ser de 14 formas diferentes, conforme você pode acompanhar a seguir. Estrutura cristalina A estrutura cristalina pode ser convenientemente representada por pequenos grupos de átomos que descrevem o arranjamento atômico tridimensional do cris- tal chamados de células unitárias. Na natureza é possível encontrar 14 tipos diferentes de células uni- tárias, também designadas como rede de Bravais. A estrutura de- pende da temperatura e afeta, dentre outros fatores, a densida- de, dureza e rigidez do material. Uma célula unitária indica o pa- drão repetitivo que pequenos gru- pos de átomos assumem duran- te a solidificação. Nos metais, a ocorrência principal é das células cúbicas de corpo centrado (CCC), cúbica de face centrada (CFC) e hexagonal compacta (HC). 17MATERIAIS E ENSAIOS ▪ Cúbico de face centrado (CFC) A célula unitária de face centrada possuiu 1/8 de átomo em cada vértice, mas ½ de átomo em cada face, totalizando 4 átomos por célula. Possui fator de empacota- mento de 0,74. Figura 7 - Estrutura Cristalina Cúbica de Face Centrada Fonte: Callister (2002, p. 22). a a a a a c c a b b c a β β b c a aaa c a aa de corpo centrado de face centrada ortor- rômbico monoclínico triclínico de face centrada de corpo centrado cúbico tetragonal romboédrico hexagonal Figura 5 - Rede de Bravais ▪ Cúbico de corpo centrado (CCC) A célula unitária cúbica de corpo centrado possuiu 1/8 de átomo em cada vértice e uma central, o que totaliza dois átomos por célu- la e o seu fator de empacotamen- to é de 0,68. Figura 6 - Estrutura Cristalina Cúbica de Corpo Centrado Fonte: Callister (2002, p. 23). ▪ Hexagonal compacta (HC) Neste tipo de estrutura os átomos se acomodam durante a solidifica- ção na forma de um hexágono. As faces superior e inferior possuem 6 átomos que formam um hexá- gono com um átomo central, en- tre elas um outro plano é compos- to por 3 átomos adicionais. Possui fator de empacotamento de 0,74. a c Figura 8 - Estrutura Cristalina Hexagonal Compacta. Fonte: Callister (2002, p. 24). A seguir, a Tabela 1 evidencia a es- trutura cristalina de alguns metais. Com algumas bolinhas de isopor e palitos tente montar estas estru- turas. Vamos, experimente! Tabela 1 - Estrutura Cristalina de alguns Metais Estrutura Metal CCC Ba, Cr, Cs, Fe α, Fe δ, K, Li, Mo, Na, Nb, Rb, Ta, Tiβ, V, W CFC Ag, Al, Au, Ca, Cu, Fe γ, Ni, Pb, Pt, Rh HC Be, Cd, Mg, Os, Re, Ru, Ti α, Zn 18 CURSOS TÉCNICOS SENAI Solidificação O fenômeno físico de solidifica- ção é responsável pela passagem de um material do estado líquido para o estado sólido. Em materiais cristalinos, inicia-se por um ponto simples de nucleação a partir do qual o cristal cresce. Em ciência dos materiais um cristal normal- mente é denominado de grão. Geralmente materiais sólidos são policristalinos, ou seja, apresen- tam muitos grãos, pois muitos pontos de nucleação surgem du- rante o resfriamento do material. Já materiais monocristalinos, que possuem apenas um cristal em toda sua estrutura, são consegui- dos apenas por processos de fa- bricação com cuidadoso controle, possuem alto valor agregado e são utilizados para a fabricação de componentes eletrônicos de alta tecnologia. Embora fisicamente os cristais tendam a crescer igualmente em todas as direções, isso pratica- mente não ocorre uma vez que encontram barreiras pelo cami- nho, como outro grão que se de- senvolve ao lado ou à lateral do próprio molde, e o tamanho final dependerá do número de pontos de nucleação surgidos. DICA Veja animações do crescimento de cristais na internet: <http://www.youtube.com/user/LMDMCETEC A interface entre dois grãos é denominada de contorno de grão, que por sua vez é a interface entre dois cristais com direções cristalográficas diferentes. O cristal cresce pelo incremento de átomos ao cristal. A imagem a seguir evidencia a formação de contornos de grão. Analise-a! Figura 9 - Fases da Solidificação de um Material: (A) Nucleação, (B) Crescimento do Cristal, (C) Formação dos Contornos de Grão e (D) Microestrutura Destacando os Contornos de Grão Fonte: Callister (2002, p. 35). 19MATERIAIS E ENSAIOS SEÇÃO 4 Defeitos cristalinos Por mais controlado que seja o processo de fabricação, não exis- te um cristal com todos os áto- mos em suas posições perfeitas. Todos os cristais possuem algum tipo de defeito, estes por sua vez contribuem com as propriedades mecânicas dos materiais, como os metais. O controle desses “defei- tos” proporciona propriedades diferenciadas aos materiais. A simples adição de um elemento de liga, como o carbono (C) no ferro (Fe) para a produção do aço, gera defeitos pontuais, pois esses átomos se posicionarão entre os átomos da matriz original, ou até mesmo substituindo estes em sua estrutura original. A deformação plástica do material ocorre devido à movimentação de defeitos lineares, como as discordâncias, já a rigidez é alcançada pelo ancoramento das discordâncias em defeitos pontuais que existem na mi- croestrutura, tais como átomos intersticiais intencionalmente introduzi- dos no material, como o carbono (C) no aço. Acompanhe agora os principais defeitos. ▪ Defeitos pontuais São átomos faltantes ou ocupando posições irregulares na estrutura cris- talina do material. Incluem vacâncias, átomos ou impurezas intersticiais e substitucionais. Vacânciassão espaços criados na estrutura cristalina pela ausência de um ou mais átomos na rede cristalina. Já defeitos intersticiais são átomos que ocupam posições entre os átomos da estrutura cristalina. Normalmente são de tamanhos menores e afetam de forma significativa a rigidez do material, uma vez que servem como obstáculos para a movimentação dos defeitos planares. Defeitos pontuais causados por átomos substitucionais ocorrem quando estes átomos estão ocupando posições referentes a outros átomos. São os responsáveis pela formação de ligas metálicas isomórficas, e para que isso ocorra algumas condições devem ser atendidas. A regra de Home-Rothery apresenta os fatores que influenciam para a ocorrência de soluções sólidas substitucionais, que são: raios atômicos com diferenças inferiores a 15%, mesma estrutura cristalográfica, eletro- negatividades próximas e mesma valência. 20 CURSOS TÉCNICOS SENAI Vacância Vacância Posição intersticial antes da difusão Posição intersticial depois da difusão Figura 10 - Defeitos Pontuais: (A) Vacância, (B) Intertício Fonte: Callister (2002, p. 65). ▪ Defeitos lineares Defeitos lineares são comumente chamados de discordâncias e ocorrem quando falta uma “linha” inteira na estrutura cristalina, gerando distor- ções na rede. As distorções na rede são criadas e movidas pela ação de tensões exter- nas, e são as responsáveis pela deformação plástica do material. Figura 11 - Defeito Linear Fonte: Callister (2002, p. 51). ▪ Defeitos planares Outro defeito comum nas estru- turas cristalinas é o defeito planar, o qual ocorre quando a sequência atômica sofre distúrbios, gerando um novo sequenciamento ao lon- go da estrutura cristalográfica. Ainda, outro tipo de defeito planar é o gerado na interface entre dois cristais, conhecido como contor- no de grão. Essa região é muito mais reativa do que o restante do cristal e, consequentemente, mais facilmente atacável por ácidos e, assim, facilmente revelável nas análises cristalográficas. 21MATERIAIS E ENSAIOS Relembrando Nesta unidade você transi- tou por conceitos e termos importantes, como: classifi- cação dos materiais, átomos, ligações químicas, células unitárias, solidificação e de- feitos. Você aprendeu que os materiais são classificados de acordo com os elementos químicos presentes e suas li- gações. As principais classes são: metálica, polimérica, ce- râmica e compósitos. Apren- deu que os átomos podem assumir estruturas definidas e ordenadas, é o caso da estrutura cristalina, ou não seguirem ordem nenhuma, é o caso dos materiais amor- fos. Você também conheceu como ocorre a solidificação de um material cristalino e os defeitos que estarão pre- sentes nos cristais. Bastan- te, não? Mas não pense que acabou! Estamos apenas co- meçando... vamos juntos! ▪ Defeitos volumétricos É um defeito que se apresenta em escalas maiores, podendo ser inclusive visível a olho nu, e ocorre devido ao rearranjo dos átomos do material quando em estado fundido para uma estrutura cristalina rígida. Este defeito é conhecido como contrações ou vazios internos. Pode afe- tar grandemente a resistência do produto final dependendo de seu design. Unidade de estudo 2 Seções de estudo Seção 1 – Propriedades físicas Seção 2 – Propriedades químicas Seção 3 – Propriedades mecânicas 23MATERIAIS E ENSAIOS SEÇÃO 1 Propriedades físicas As principais propriedades dos materiais, como cor, densidade, dureza, resistência à corrosão, dentre outras, podem ser classifi- cadas como propriedades físicas ou químicas em função das mu- danças sofridas no seu estado da matéria, superfície, composição, etc. Já em relação à resposta de um material a um esforço aplicado, as propriedades físicas envolvidas são classificadas como proprieda- des mecânicas. Quando um material recebe a aplicação de uma tensão, como resposta ele irá se deformar. Se o esforço for de baixa intensida- de, ao ser retirado o produto re- tornará à sua forma original, pois sofre somente o que se chama de deformação elástica. Já se o es- forço for de magnitude suficiente para gerar o escorregamento de planos cristalinos do material, fa- zendo com que as discordâncias se movimentem do interior do grão em direção ao seu contor- no, mesmo após a retirada desse esforço o material continuará de- formado, pois sofreu uma defor- mação plástica. Você conhecerá as características desses dois ti- pos de deformação mais à frente. Aguarde! Propriedades dos Materiais As propriedades físicas dos ma- teriais são aquelas que podem ser observadas diretamente no mate- rial, como densidade, cor, dureza, dentre outras. Algumas das pro- priedades físicas mais importantes estão listadas abaixo. Temperaturas de transformação de fases São as temperaturas nas quais os materiais mudam de fase, como por exemplo, do sólido para o líquido e posteriormente para o vapor, e vice-versa. A pressão ambiente influencia diretamente a temperatura de mudança de fase. A temperatura de solidificação/ fusão é a temperatura na qual o material passa do estado líquido para o sólido, ou do sólido para o líquido. Já o ponto de ebulição é aquele cujo líquido se transforma em vapor, e o de condensação, o vapor se torna líquido. DICA O exemplo mais comum de transformação de fases é a formação de gelo no freezer (solidificação) ou seu des- gelo (fusão). Já a ebulição pode ser observada ao fer- ver essa mesma água. Baixa intensidade: Relativo a cada material. 24 CURSOS TÉCNICOS SENAI Densidade É a relação da massa por unidade de volume: ρ = m V Massa específica É a relação da densidade do ma- terial em estudo com a densidade da água a 4°C. Nesta temperatura a água tem uma densidade de 1 g/ cm3. Condutividade especí- fica É uma propriedade intrínseca do material que se refere à capacida- de deste conduzir calor através de sua estrutura cristalina em direção à região de menor temperatura. Expansão térmica Quando um material é aquecido, ele recebe energia na forma de ca- lor, fazendo com que as ligações químicas entre os átomos vibrem com maior intensidade e com isso a sua distância interatômica au- mente. Essa expansão pode ser tanto linear e superficial quanto volumétrica. Industrialmente, cer- tos acoplamentos são feitos uti- lizando esta propriedade. Temos como exemplo a junção de uma engrenagem com um eixo: aque- ce-se essa engrenagem fazendo-a dilatar, e em seguida procede-se a união de ambos, ao resfriar o dis- positivo a engrenagem volta a se contrair e, desta forma, unindo-se fortemente ao eixo. DICA Você já observou que existem “folgas” nas pontes, trilhos de trem e calçadas? Sabe por quê? Para compensar a dilatação desses ma- teriais quando submetidos a altas temperaturas. Condutividade e resistividade elétrica Indica a capacidade dos elétrons se moverem através dos átomos uni- dos por ligações metálicas. A condutividade indica a capacidade de o material conduzir eletricidade, enquanto a resistividade é a medida da resistência oferecida nesta condução. Permeabilidade magnética É a facilidade com a qual um material pode ser magnetizado. Transparência Indica qual é a capacidade de um material conduzir ondas luminosas através dele, pode ser classificado como opaco (nenhuma luz passa por ele), translúcido (pouca luz passa por ele) ou transparente (consegue-se ver do outro lado com nitidez). Figura 12 - Material Transparente, Translúcido e Opaco Fonte: Callister (2002, p. 3). 25MATERIAIS E ENSAIOS SEÇÃO 2 Propriedades químicas Oxidação Indica a capacidade de o mate- rial se deteriorar pela formação de óxidos através da interação do material com o meio, como por exemplo, a oxidação do ferro, na qual o elemento ferro (Fe) reage com o oxigênio (O) do meio for- mando o óxido de ferro, ou seja, a ferrugem. Corrosão Corrosão pode ser definida como sendo a deterioração do mate- rial que reage com o meio, sen- do literalmente consumido neste processo, o que ocasionauma diminuição de sua resistência às tensões a que for submetido. A corrosão normalmente não é expressa em valores quantitativos, e sim em qualitativos, os quais in- dicam qual é o grau de resistência à corrosão do material em deter- minado meio, como por exemplo, o cobre (Cu) que possui boa re- sistência à corrosão em ambientes marítimos. A corrosão é um processo eletro- químico e envolve dois processos químicos distintos: a oxidação e a redução. O primeiro consiste na retirada de elétrons do átomo, enquanto o segundo na adição de elétrons. DICA Observe à sua volta os produtos ferrosos que estão no ambiente sem proteção de tinta ou verniz, e veja que sobre a superfície deles exis- tirá uma pequena camada de ferrugem, ou seja, do óxido de ferro formado durante a oxidação desse metal. SEÇÃO 3 Propriedades mecânicas As propriedades mecânicas são aquelas que envolvem a reação de um corpo como resposta a uma tensão aplicada, também apre- sentam as escalas de aplicação do produto, vida útil esperada e características de processamen- to permitidas. Servem ainda para classificar os materiais metálicos em materiais dúcteis ou frágeis. Tensão Tensão é a terminologia utilizada para expressar a carga aplicada sobre uma seção transversal em termos de força. Essa tensão é distribuída de forma uniforme no interior do material. Deformação Deformação (elongação) é a res- posta do material a uma tensão aplicada sobre o mesmo. Quando submetidos a um esforço, os áto- mos alojados na estrutura crista- lina tendem a se deslocar de suas posições primitivas no espaço. Quando esse esforço acontecer dentro da zona elástica e cessar, os átomos retornarão para suas posições originais. Porém, se tive- rem sido deslocados para outros sítios, não mais retornarão, defor- mando plasticamente o material. Elongação: é a relação entre a va- riação dimensional do material em função de uma carga aplicada e seu tamanho inicial. Deformação elástica Quando um material é submetido a um esforço que cause deforma- ção na forma final do produto de- nomina-se que o material sofreu uma deformação elástica. Esta deformação se dá de ma- neira microestrutural na estrutu- ra cristalina do material, gerando tensões nessa estrutura, porém sem causar a movimentação das discordâncias através do cristal (grão). Figura 13 - Deformação Causada pela Aplicação de Uma Força F sobre A Seção Transversal de Área A0 Fonte: Callister (2002, p. 80). 26 CURSOS TÉCNICOS SENAI Deformação plástica Já quando aplicadas tensões for- tes o suficiente para deformar permanentemente o material, diz- se que esse material sofreu uma deformação plástica. Deformações plásticas são de- correntes da movimentação das discordâncias lineares no interior do cristal até a região do contor- no de grão. Ao mesmo tempo em que defeitos pontuais intersticiais podem aumentar a resistência do material à deformação, como por exemplo a adição de carbono (C) no aço, certas características dos materiais podem ser alteradas pe- las deformações plásticas nos ma- teriais. Um exemplo deste proces- so é o encruamento, que gera uma distorção nos cristais e proporcio- na uma maior rigidez no material. Exemplos de conformação mecâ- nica com o propósito de melhorar a qualidade do metal são: extru- são, trefilação e laminação a frio. DICA Aplicando um esforço sobre um elástico, este irá se de- formar e retornar à sua po- sição original após o esforço ser retirado, pois sofreu so- mente deformação elástica. Já uma goma de mascar, por exemplo, não retorna- ria mais ao seu tamanho ini- cial, pois sofre deformação plástica. Tenacidade A tenacidade indica a capacidade de um material absorver energia quando sujeito à deformação até se romper. Esta propriedade é de extrema importância, principal- mente em produtos que estejam sujeitos a esforços de impacto e choque. Um aço 1020 apresenta maior tenacidade do que um ferro fundido cinzento, por exemplo. Dureza Na metalurgia considera-se como sendo a resistência de um material à deformação permanente pela aplicação de uma carga localiza- da, normalmente por meio de um identador de carboneto ou dia- mante. Já na mineralogia conside- ra-se como sendo a resistência ao risco de um mineral, dureza esta dada em função da escala Mohs de que vai de 1 para o talco a 10 para o diamante. DICA A dureza de um produto po- derá ser alterada em função de tratamentos térmicos ou termoquímicos. Ductibilidade Propriedade definida de forma qualitativa que indica a capacidade de deformação (estiramento) de um material sob esforço até seu rompimento, normalmente asso- ciada à formação de filamento, ou seja, quanto mais dúctil for um material, maior será a capacida- de desse material ser deformado plasticamente por meio dos pro- cessos de conformação mecânica como: trefilação, laminação, etc. Materiais que exibem alta ducti- bilidade são o ouro (Au), o cobre (Cu), o alumínio (Al), dentre ou- tros. DICA Você sabia que é possível dar um “nó” no ferro? Em sua próxima aula de labo- ratório tente fazer isso uti- lizando um aço 1020 redon- do de ¼. Aqueça a região a ser dobrada acima dos 1100 °C e faça o nó. Maleabilidade É uma propriedade muito seme- lhante à ductibilidade, porém en- quanto esta indica a capacidade de um material ser deformado para a formação de filamentos, a male- abilidade se refere à capacidade de um material ser laminado. Um material de uso cotidiano que exi- be alta maleabilidade é o alumínio (Al), com o qual é possível formar o papel alumínio. O ouro (Au) é o material que exibe maior capaci- dade de ser laminado. 27MATERIAIS E ENSAIOS Fragilidade A fragilidade é uma propriedade com características opostas à ductibi- lidade, ou seja, quanto maior a fragilidade de um material, maior será a chance dele quebrar quando submetido a um esforço externo sem apresentar deformações plásticas. Como exemplo de materiais frágeis pode-se destacar vidros e cerâmicas em geral, ferro fundido cinzento, aço ferramenta de elevada dureza, dentre outros. A velocidade da aplicação de um esforço, bem como a temperatura do material têm influência direta sobre esta propriedade. Quanto maior a velocidade (energia) de impacto, maior será a possibilidade de um mate- rial exibir uma fratura frágil (tijolo colocado sobre uma mesa de vidro x tijolo lançado sobre uma mesa de vidro). Já a diminuição das temperatu- ras limita a mobilidade das ligações químicas, o que acaba por enrijecer o material e, consequentemente, torná-lo mais frágil. Figura 14 - Nó de Ferro Fonte: Panoramio (2009). Resiliência É a máxima energia que um material pode absorver durante a aplicação de um esforço dentro de sua zona elástica e liberá-la quando descarre- gado. Relembrando Nesta unidade de ensino você conheceu as princi- pais propriedades físicas, químicas e mecânicas dos materiais e seus conceitos. O conceito de propriedade mecânica aprendido nesta unidade lhe acompanhará ao longo de toda sua vida profissional no setor metal mecânico. Por isso, é impres- cindível uma aprendizagem significativa em torno desse conceito. Se você ainda esti- ver com dúvida sobre alguma propriedade, é hora de voltar e estudar um pouco mais. Pesquise mais sobre as pro- priedades mecânicas na lite- ratura especializada. Vamos! Concentre-se em sua apren- dizagem! Unidade de estudo 3 Seções de estudo Seção 1 – Siderurgia Seção 2 – Ligas metálicas Seção 3 – Microconstituintes do aço Seção 4 – Aço-liga Seção 5 – Aço ferramenta Seção 6 – Aços inoxidáveis Seção 7 – Ferros fundidos 29MATERIAIS E ENSAIOS SEÇÃO 1 Siderurgia Há milênios o homem utiliza metais para a fabricação de seus utensílios e armas. Inicialmen- te empregava metais nobres por serem facilmente encontrados na sua forma nativa na natureza, como o ouro (Au) e o cobre (Cu), e em seguida passou a utilizar também ligas, como o bronze – Cobre (Cu) mais estanho (Sn). O conjunto de técnicasque a hu- manidade desenvolveu ao longo dos milênios para a extração e ma- nipulação dos metais e suas ligas é chamado de metalurgia. E um dos campos específicos desta, que se dedica à fabricação e ao trata- mento dos aços, é a siderurgia. O início da exploração e utilização do ferro (Fe) se deu somente por volta de 1200 a.C. Minério É um composto mineral extraído da natureza com quantidades sig- nificantes do elemento metálico. Por exemplo, o ferro (Fe) pode ser obtido dos seguintes minerais: he- matita (Fe2O3), magnetita (Fe3O4), limonita (FeO[OH]), pirita (FeS2), dentre outros. Materiais Metálicos Ferrosos Após a mineração, que pode ser a céu aberto ou subterrânea, o minério de ferro é preparado e enviado para as siderúrgicas para a redução do óxido de ferro em ferro-gusa. Ferro-gusa: é o ferro resultante da redução do minério de ferro em altos fornos utilizando o coque (carvão) como combustível e carburante e o calcário como fundente. Seu percentual de carbono (C) é em média de 4 a 5%, além de outros elementos. Figura 15 - Minério de Ferro Fonte: Industry Player (2009). Alto-forno (redução) A redução do minério de ferro em ferro-gusa se dá no alto-for- no, usando como combustível o coque (carvão mineral ou vegetal) e como fundente o calcário. O minério de ferro é triturado até a granulometria especificada no processo, e então carregado no alto-forno juntamente com os fundentes e o coque. O fundente normalmente é o cal- cário e tem por objetivo a sepa- ração das impurezas do processo que sairão na forma de escória. Já o coque é obtido a partir de carvão vegetal ou mineral aque- cido a temperaturas superiores a 1000 °C em câmaras herméticas. O resultado final será um mate- rial rico em carbono. Atua como combustível e agente carburante no processo. Esquema de operação de um alto forno C o q u e M in é ri o d e f e rr o C a lc á ri o Tran sp o rtad o r Saída de escóriaS a íd a d e f e rr o g u sa In je çã o d e a r Alimentador 1200°C 1650°C 500°C Figura 16 - Alto-Forno Fonte: MSPC Informações Técnicas (2009). 30 CURSOS TÉCNICOS SENAI Aciaria A aciaria é o setor da siderúrgica responsável pela purificação do ferro-gusa para obtenção do aço. É nesta etapa que ocorre também o refino do aço e a adição de ele- mentos de ligas. O material alimentado é o gusa líquido ou sólido e a sucata, e o produto final é o aço. Ocorre a redução do carbono, que geral- mente é de 4-5% para níveis mui- to baixos, podendo ser inferior a 0,1%. A maior parte desse aço é solidificada em lingotamento con- tínuo ou convencional na forma de tarugos ou blocos. Figura 17 - Lingotamento Contínuo Fonte: STEEL Production (Processes & Products) (2009). Laminação Os blocos produzidos na aciaria são laminados na forma de chapas ou perfis, melhorando as proprie- dades do aço, além de dar forma ao material. Figura 18 - Laminação Fonte: STEEL Production (Processes & Products) (2009). SEÇÃO 2 Ligas metálicas Somente alguns poucos materiais são utilizados na sua forma pura, a grande maioria dos materiais metálicos utilizados na indústria se encontra na forma de liga. Uma liga é o resultado da incor- poração de outros elementos ao material base com o propósito de lhe conferir propriedades diferen- ciadas, como por exemplo, uma melhor resistência à corrosão e a altas temperaturas de trabalho ou simplesmente para aumentar sua resistência mecânica. Historicamente, os primeiros ma- teriais metálicos utilizados pelo homem eram feitos de liga de co- bre (Cu), como o bronze: liga de cobre (Cu) e estanho (Sn). Exemplos de ligas utilizadas em produtos industriais: ▪ aço ao carbono comum – ferro (Fe) e carbono (C); ▪ aço inoxidável – ferro (Fe), carbono (C), cromo (Cr) e níquel (Ni); ▪ bronze – cobre (Cu) e esta- nho (Sn); ▪ ferro fundido – ferro (Fe) e carbono (C); e ▪ latão – cobre (Cu) e zinco (Zn). As propriedades finais das ligas são alcançadas pela manipulação dos elementos presentes e suas proporções, bem como pelos tratamentos a que essas ligas são submetidas ainda na forma de lin- gotes ou já dos produtos acaba- dos. Como exemplo, pode-se des- tacar a incorporação de carbono (C) no aço, elevando a dureza do aço pela adição do carbono. A adição de um segundo elemento na matriz metálica poderá gerar no- vas estruturas: uma solução sólida ou a formação de uma segunda fase. O diagrama a seguir apresenta a classificação das ligas metálicas em função dos elementos envol- vidos, mais especificamente, as ligas metálicas ferrosas. Solução sólida Ocorre quando outros elementos de liga são dissolvidos na estrutu- ra cristalina sem que seja gerada uma nova fase. Poderão ocupar posições intersticiais ou simples- mente substituir os átomos da es- trutura cristalina. De uma forma ou outra, a dife- rença do tamanho atômico dos átomos envolvidos gerará tensões internas na estrutura cristalina de compressão ou tração nas regi- ões ocupadas pelo soluto. Como consequência, o deslizamento dos planos cristalinos e a movimenta- ção das discordâncias necessitarão de maior energia. Por exemplo, a adição de 30% de níquel em cobre aumenta a sua resistência de tra- ção de 172 para 379 MPa. Soluto: elemento que será dissolvido, exemplo: o açúcar do xarope. Solvente: meio em que o so- luto será dissolvido. Solvente universal: água. 31MATERIAIS E ENSAIOS Diagrama 1 - Classificação das Ligas Ferrosas Fonte: Callister (2002, p. 248). 32 CURSOS TÉCNICOS SENAI Segunda fase Quando se adiciona elementos que não são solúveis, ou que têm solubilidade incompleta na ma- triz, haverá a formação de uma segunda fase resultante da preci- pitação desse soluto. Como resul- tado, a resistência, a ductibilidade, a rigidez e a resistência à corrosão sofrerão alterações, tanto para mais quanto para menos, de acor- do com os elementos envolvidos e a forma com que eles se preci- pitam. O ferro fundido é um exemplo da formação de uma segunda fase oriunda da precipitação do ele- mento carbono (C) (soluto com solubilidade parcial) no ferro (Fe) (solvente). Através de processos de fundição e adição de outros elementos, a grafita poderá se precipitar na forma de nódulos, lamelas, dentre outras formas. SEÇÃO 3 Microconstituintes do aço Ao analisar a microestrutura do aço em função do percentual de carbono e condições de resfria- mento, será possível observar di- ferentes microestruturas, as quais por sua vez também apresentaram características mecânicas particu- lares. Essas microestruturas são chamadas de microconstituintes. Os microconstituintes podem ser identificados no diagrama de equilíbrio ferro – carbono (Fe- C) e são dependentes do teor de carbono e de outros elementos de liga, além da temperatura. Dentre os mais importantes, podem-se destacar ferrita, cementida, perli- ta, austenita e martensita. Figura 19 - Diagrama de Equilíbrio Ferro – Carbono (Fe-C) Fonte: Callister (2002, p. 253). Ferrita O ferro α (ferrita) apresenta uma estrutura cristalina cúbica de cor- po centrado (CCC), baixa dureza, baixa resistência mecânica, grande ductibilidade e é ferromagnético. A solubilidade máxima de carbo- no (C) é de 0,008% à temperatura ambiente, e pode ser também de- signado ferro puro. Em ligas comerciais o percentual de carbono (C) será maior do que 0,008% e assim além da ferrita é possível que a microestrutura apresente outros microconstituin- tes. Figura 20 - Micrografia de uma Estru- tura Ferrítica (Ferro Α) Fonte: Callister (2002, p. 190). Cementita A saturação do carbono (C) na ferrita ou na austenita forma a cementita, ou carboneto de ferro (Fe3C), que é uma fase metaestá- vel e contém 6,67% de carbono. Ao contrário da ferrita e austenita, exibe grande dureza e fragilidade, e é a responsável pelo aumento de resistência nos aços. Figura 21 - Micrografia de um Aço com 1,4% de Carbono. A Cementida é a parte ao redor dos Grãosde Perlita Fonte: Callister (2002, p. 194). 33MATERIAIS E ENSAIOS Perlita A perlita em si não é uma fase, e sim a combinação de duas fases, ferrita e cementita. Estas se for- mam de forma intercalada com uma proporção de aproximada- mente 88,5% e 11,5%, respectiva- mente. Microconstituinte muito comum na maioria dos aços, contribui sig- nificativamente para o aumento da resistência destes. Sua forma- ção ocorre a partir do resfriamen- to lento do ferro Υ(austenita) pela difusão controlada do carbono (C) para os limites dos grãos de austenita. Um aço ao carbono comum com 0,76% de carbono (SAE 1077) é designado como sendo um aço eutetóide e exibirá somente per- lita em toda sua microestrutu- ra. Aços com percentual menor de carbono (C) são classificados como hipoeutetóides e aços com mais de 0,76% de carbono (C) são os aços hipereutetóides. Figura 22 - Micrografia de uma Estrutura Perlítica Fonte: Callister (2002, p. 191). Austenita Acima de 727 °C o ferro α (ferri- ta) sofre uma transformação po- limórfica e passa a se arranjar em uma estrutura cristalina cúbica de face centrada (CFC), passando a ser designado como ferro Υ (aus- tenita). Essa é uma solução sólida na qual todo o carbono presente (até o máximo de 2,11% a 1147 °C) está dissolvido na estrutura cristalina do ferro (Fe), apresenta boa te- nacidade, resistência mecânica e é não magnética. Processos de tratamento térmi- co como têmpera requerem que o aço seja austenitizado para en- tão ser submetido a um gradiente de resfriamento. Nesse processo ocorrerá a transformação de ferro α em ferro Υ e em seguida este em outro microconstituinte, como a martensita. A transformação de fase de α → Υ e Υ → α é acompanhada de mu- danças no volume do material, uma vez que o fator de empaco- tamento das duas estruturas é li- geiramente diferente. A alteração volumétrica pode ser responsável pela criação de tensões internas em peças tratadas termicamente. Figura 23 - Micrografia de uma Estrutura Austenítica Fonte: Callister (2002, p. 190). Reação eutetóide: a rea- ção eutetóide ocorre em aços ao carbono comum a uma temperatura de 727 °C e 0,76% de carbono. Nessa re- ação toda a austenita (ferro Υ) é transformada em perlita (fer- rita mais cementita em lamelas alternadas). 34 CURSOS TÉCNICOS SENAI Martensita A martensita é uma fase metaes- tável de ferro (Fe) supersaturado com carbono (C), obtida pelo tra- tamento térmico de têmpera. O aço austenitizado é resfriado rapi- damente sem que dê tempo para que o carbono (C) difunda dessa estrutura na qual está dissolvido e forme o Fe3C. Obrigando, en- tão, que o ferro (Fe) se arranje em uma estrutura tetragonal de corpo centrado (TCC) que retém o car- bono (C). Essa estrutura é a responsável pelo aumento de dureza e rigidez no aço temperado, conferindo ao aço propriedades mecânicas de maior interesse comercial, em que a dureza e resistência são deseja- das. Por ser uma fase metaestável, e estar longe do equilíbrio, não apa- rece no diagrama de equilíbrio da liga ferro carbono (Fe-C). O grau de martensita formada dependerá da quantidade de carbono e ou- tros elementos de liga e também do gradiente de resfriamento ao qual o aço for submetido. Figura 24 - Micrografia de uma Estru- tura Martensítica Fonte: Callister (2002, p. 211). Martensita revenida A martensita obtida pelo trata- mento térmico de têmpera pode ser muito dura e rígida, porém também frágil para muitas aplica- ções. Com o propósito de alcan- çar alta dureza, no entanto com uma certa ductibilidade e tena- cidade, a martensita poderá ser submetida ao tratamento térmico de revenimento. O resultado será uma martensita revenida mais fa- ses de ferro a e cementida. Bainita Exibe uma microestrutura seme- lhante aos aços perlíticos, porém mais refinada (partículas de ferro a e Fe3C menores), o que resulta em um aço mais duro e resistente. SEÇÃO 4 Aço-liga Embora a designação para o aço seja de uma liga ferro (Fe) car- bono (C) com concentrações de carbono variando entre 0,008% e 2,11%, na realidade é uma liga muito mais complexa e leva em sua composição muitos outros elementos de liga que serão res- ponsáveis por suas propriedades. Abaixo de 0,008% de carbono (C) a liga formada é designada de fer- ro doce. Aço baixa liga A terminologia de aços ligados é utilizada para designar a liga de ferro (Fe) e carbono (C) com ou- tros elementos de liga em percen- tuais inferiores a 5%. Aço alta liga Aços alta liga possuem em sua composição pelo menos 5% de elementos de liga, os quais pro- porcionarão características es- peciais ao aço em função de sua quantidade, proporções e trata- mento térmico a que o aço for submetido. Nomenclatura Ao redor do planeta existem mui- tos organismos de normatização que buscam padronizar metodo- logias, processos, nomes, etc. Para as ligas de aço comercial não é diferente, elas são codificadas de acordo com normas desses orga- nismos. Entre as nomenclaturas destacam-se: UNS – Unified Numbering System; ASTM – American Society for Testing and Materials; DIN – Deuts- ches Institut für Normung; JIS – Japanese Industrial Stan- dards; BS – British Standards; SAE – Society of Automotive Engineers; AISI – American Iron and Steel Institute; e ISO – International Organization for Standardization com a ISO/TS 4949:2003: Steel Na- mes Based on Letter Symbols. Um aço SAE 1045, por exemplo, é designado por C45 na DIN, 060A47 na BS e S45C na JIS. O Brasil adota a nomenclatura definida pela AISI/SAE para os aços comerciais que seguem a seguinte classificação genérica: 35MATERIAIS E ENSAIOS Tabela 2 - Classificação Genérica de Aços segundo a Sae Designação SAE Tipo 1xxx Aço carbono 2xxx Aço níquel 3xxx Aço cromo níquel 4xxx Aço molibdênio 5xxx Aço cromo 6xxx Aço ao cromo Vanádio 7xxx Aço tungstênio 8xxx Aço ao cromo níquel vanádio 9xxx Aço ao silício man- ganês xxBxx Aço boro xxLxx Aço chumo FONTE: adaptado de Chiaverini (2002). Os dois primeiros algarismos de- finem a liga e os dois últimos o percentual centesimal de carbono (C). O Aço 1045, por exemplo, é um aço comum com 0,45% de carbono (C), já um aço 4340 é um aço ao cromo-níquel-molibdênio com 0,4% de carbono (C). SEÇÃO 5 Aço ferramenta Os aços utilizados na fabricação de ferramentas de uso industrial requerem propriedades mecânicas específicas, como resistência ao choque, resistência para o traba- lho a quente, capacidade de corte a frio, dentre outras. São produzidos com severas tole- râncias de composições químicas e propriedades físicas. Os princi- pais elementos químicos presen- tes em quantidades relativamente grandes são tungstênio (W), mo- libdênio (Mo), vanádio (V) e cro- mo (Cr). São classificados de acordo com suas propriedades e aplicações. Tabela 3 - Classificação de Aços Ferramenta AISI Definição Exemplo Aplicações comuns W Aço ferramenta temperável em água W2 Matrizes para cunhagem S Aço ferramenta resistente ao choque S1 Estampos, culelaria P Aço ferramenta para moldes para plástico P20 Moldes para injeção de plástico O Aço ferramenta temperável em óleo O1 Ferramentas para dobra de chapas A Aço ferramenta temperável ao ar A2 Ferramentas de corte e repuxo D Aço ferramenta para trabalho a frio D6 Matrizes para conformação a frio de aços H Aço ferramenta para trabalho a quente H13 Matrizes para trabalho a quente de aços M Aços rápido ao molibdênio M2 Ferramentas de corte e usinagem Fonte: CIMM (2009). Aço temperável em água (W) Tem alta resistência ao desgaste e à abrasão e boa tenacidade. Den- tre os aços ferramenta é o que apresenta melhor soldabilidade. Porém pode apresentar trincas e distorções durante o tratamento térmico. Aço resistente ao cho- que (S) Esta classe de aço ferramenta apresenta grande tenacidade e re- sistência ao choque, além de alta dureza. Suas principais aplicações são em ferramentas de corte.Aço ferramenta para a fabricação de moldes para plásticos (P) São aços empregados na fabricação de moldes de injeção de plástico ou de metais leves. Apresentam boa usinabilidade, média temperabilidade, boa capacidade de polibilidade, além de uniformidade de dureza. Aço ferramenta tem- perável ao óleo (O) Esta classe de aços apresenta uma grande temperabilidade, o que permite que sejam temperados ao óleo. Aço ferramenta tem- perável ao ar (A) Tem maior temperabilidade do que os aços temperáveis em água. O meio refrigerante empregado, o ar, é o que gera menor gradiente de resfriamento. Por esse motivo apresenta menos possibilidade de distorções e trincas térmicas. 36 CURSOS TÉCNICOS SENAI Porém sua resistência à abrasão é moderada. Aço ferramenta para trabalho a frio (D) Utilizado para usinagem, confor- mação e processamento de mate- riais à temperatura ambiente ou pouco elevada. As principais ca- racterísticas são a elevada dureza, a resistência à abrasão e a tenaci- dade. Aço ferramenta para trabalho a quente (H) São aços cuja temperatura de apli- cação pode superar os 200 ºC, e nestas condições devem apresen- tar resistência ao desgaste, ao cisa- lhamento e à abrasão, mantendo a alta dureza conseguida por têm- pera, a resistência ao desgaste e sua tenacidade. Ainda possui alta resistência à fadiga térmica. Aço rápido ao molib- dênio (M) ou ao titânio (T) São aços de elevada dureza e re- sistência ao desgaste aliada a uma boa tenacidade. Sua dureza pode chegar a mais de 60 HRC e entre suas principais aplicações estão ferramentas de corte e usinagem. Figura 25 - Ferramentas de Usinagem em Aço Rápido Fonte: Portal da Usinagem (2009). SEÇÃO 6 Aços inoxidáveis Dentre os muitos tipos de aço, uma classe se destaca para traba- lhos em que a elevada resistência a ambientes corrosivos e altas tem- peraturas são necessárias, é a dos aços inoxidáveis. A sua produção envolve a adição de elementos de liga, como o cromo (Cr) (>11%) e eventualmente o níquel (Ni), dentre outros, em quantidades e proporções variadas em função das características mecânicas e fí- sicas que se deseja para aplicações específicas. Para sua nomenclatura normal- mente é utilizada a equivalência dos nomes comerciais com a nor- ma AISI e classificam-se em cin- co grupos de acordo com a mi- croestrutura básica e o tratamento térmico possível. Acompanhe! Austeníticos Os aços inoxidáveis austeníticos são os mais comuns e com carac- terísticas mais nobres. Contêm entre 12% a 30% de cromo (Cr) e entre 7% e 25% de níquel (Ni), dentre outros elementos adicio- nados em menores quantidades como o titânio (Ti) e o nióbio (Nb). São pouco sensíveis à tem- AISI: American Iron and Steel Institute. 37MATERIAIS E ENSAIOS peratura e podem ser endurecidos por têmpera, ou ainda encruados e recozidos. As ligas mais comuns são a 301, 304, 316 L. Ferríticos São ligas menos nobres que con- têm entre 16% e 30% de cromo (Cr), e cujas propriedades mecâ- nicas não são alteradas pelos tra- tamentos térmicos. Suas caracte- rísticas mecânicas são inferiores, porém são mais inoxidáveis do que o primeiro grupo. Uma liga característica é a AISI 430. Martensíticos Possuem elevado teor de carbono, o que lhes confere alta capacidade de endurecebilidade por têmpera. O teor de cromo (Cr) varia entre 12% a 16% e de carbono (C) entre 0,1% a 0,4%. Apresentam menor inoxibilidade do que os ferríticos, porém com qualidades mecâni- cas otimizadas. As ligas 410 e 420 compõem esta classe. Duplex Aços com baixo teor de carbono ligados ao cromo (Cr) e ao níquel (Ni), obtendo uma microestrutura mista de austenita e ferrita. Apre- sentam boa resistência à corrosão aliada à resistência mecânica, além de melhor soldabilidade do que os aços inoxidáveis austeníticos. Endurecíveis por preci- pitação O teor de níquel (Ni) é reduzido, aproximadamente 4%, porém ou- tros elementos como o cobre (Cu) são adicionados com o propósito de promover a precipitação. Sua resistência à corrosão é equivalen- te aos austeníticos e suas proprie- dades mecânicas semelhantes aos martensíticos. Aços inoxidáveis ferríticos, mar- tensíticos e duplex exibem a pro- priedade de serem ferromagnéti- cos, enquanto os demais são ferro não magnéticos, ou seja, não são atraídos por imãs. A característica de resistência à oxidação (inoxidáveis) se dá gra- ças à formação de uma fina pe- lícula de óxido de cromo muito aderente e impermeável ao oxigê- nio (O) e a muitos outros produ- tos químicos corrosivos. Tabela 4 - Classificação dos Aços Inoxidáveis Elementos de liga (principais) Microestrutura Microestrutura Endurecibilidade Exemplos Série AISI 4XX (ao cromo) Martensítica Endurecível AISI 416 / 420 Ferrítica Não endurecível AISI 430 Série AISI 3XX (ao cromo / níquel) Autenítica Não endurecível AISI 302 / 303 / 316 Não endurecível AISI 321 (Ti) / AISI 347 (Nb) - estabilizados Duplex Não endurecíveis AISI 329 Fonte: adaptado de Chiaverini (2002). Inoxidáveis: Resistentes à corrosão. 38 CURSOS TÉCNICOS SENAI SEÇÃO 7 Ferros fundidos Pelo estudo do diagrama de equi- líbrio Fe-C (Ferro – Carbono) de- fine-se o ferro fundido como uma liga de ferro (Fe) e carbono (C), com o carbono presente entre 2,11 e 6,67%. O terceiro elemen- to é o silício (Si) que se encontra geralmente entre 1 e 3% e é o responsável pela precipitação da grafita. O carbono (C) excedente (grafita) parcialmente “livre” na forma de lamelas, veios ou nódu- los é o responsável pelas proprie- dades do material como a absor- ção à vibração. A palavra “ferro fundido” poderá ser abreviada em algumas literaturas por FºFº. A grafita livre é quem determina as propriedades mecânicas e tam- bém sua nomenclatura. Os ferros fundidos são classificados como ferro fundido cinzento, branco, maleável, nodular e vermicular. Também podem ser classificados de acordo com o percentual de carbono (C). Entre 2,11% e 4,3% é considerado um ferro fundido hipoeutético, com 4,3% de carbo- no (C) é eutético, e acima de 4,3% até 6,67% será hipereutético. Tabela 5 - Composição Típica de Ligas de Ferro Fundido Composição típica (%) Ferro fundido Carbono Silício Manganês Enxofre Fósforo Cinzento 2,5 – 4,0 1,0 – 3,0 0,2 – 1,0 0,02 – 0,25 0,02 – 1,0 Nodular/ dúctil 3,0 – 4,0 1,8 – 2,8 0,1 – 1,0 0,01 – 0,03 0,01 – 0,1 Vermicular/ grafita compactada 2,5 – 4,0 1,0 – 3,0 0,2 – 1,0 0,01 – 0,03 0,01 – 0,1 Maleável 2,0 – 2,9 0,9 – 1,9 0,15 – 1,2 0,02 – 0,2 0,02 – 0,2 Branco 1,8 – 3,6 0,5 – 1,9 0,25 – 0,8 0,06 – 0,2 0,06 – 0,2 Fonte: Chiaverini (2002, p. 495). Maleável Perlítico FºFº Maleável Ferrítico FºFº FºFº Branco Cinzento Perlítico FºFº Cinzento Ferrítico FºFº Dúctil Perlítico FºFº Dúctil Ferrítico FºFº Te m p e ra tu ra Ferros Fundidos Comerciais M /CegResfriamento Fe3C C Rápido P + Fe3C Moderado P + Gf Lento Moderado P + Gn Lento α + Gnα + Gf Rápido P + Gr Lento α + Gr G Fe3C FºFº P α : Cementita : Ferrita : Grafita : Perlita : Ferro Fundido Abreviaturas: ~ ~ ~ ~ ~ ~ Reaquecimento a: ~700 C - 30min° Figura 26 - Microconstituintes Típicos dos Ferros Fundidos Fonte: Callister (2002, p. 255). 39MATERIAIS E ENSAIOS Ferro fundido cinzento O carbono livre (grafita) se en- contra na forma de lamelas, carac- terizando dessa forma uma fratu- ra de coloração cinza-escuro. O restante desse carbono está como carboneto (Fe3C). Apresenta ex- celente absorção a vibrações, por esse motivo é muito utilizado em estruturas de máquinas e equipa- mentos, além de ser fácil de fun- dir e usinar, no entanto, apresenta baixa resistência mecânica e fratu- ra frágil. Figura 27 - Micrografia de um Ferro Fundido Cinzento Ferrítico Fonte: Callister (2002, p. 253). Figura 28 - Comparação entre a Amplitude de Vibração de um Aço e um Ferro Fundido em Função do Tempo Fonte: Callister (2002, p. 255). Ferro fundido branco Praticamente todo o carbono estáretido na forma combinada de carboneto (Fe3C) devido às suas condições de fabricação com me- nos silício. A sua fratura terá uma característica mais clara. É a classe de ferro fundido mais dura. Uma de suas aplicações é em roletes de laminação. Figura 29 - Micrografia de um Ferro Fundido Branco Fonte: Chiaverini (2002, p. 253). 40 CURSOS TÉCNICOS SENAI Ferro fundido maleável O ferro fundido maleável é obti- do por meio do tratamento térmi- co de maleabilização a partir do ferro fundido branco. A grafita se transformará em nódulos. Figura 30 - Micrografia de um Ferro Fundido Maleável Fonte: Chiaverini (2002, p. 253). Ferro fundido nodular Dentre os ferros fundidos é o mais dúctil, propriedade que é obtida pelo tratamento térmico ainda no estado líquido. A grafita esferoidal resultante é a responsá- vel por essa ductibilidade. Figura 31 - Micrografia de um Ferro Fundido Nodular Fonte: Chiaverini (2002, p. 253). Ferro fundido vermicular Também conhecido como com- pacted graphite iron (CGI), foi des- coberto ao acaso durante a fun- dição do ferro fundido nodular e seu uso se dá há mais de 30 anos, porém somente na última década passou a ser empregado em com- ponentes mais complexos como blocos de motores, substituindo o cinzento. Leva em sua composi- ção magnésio (Mg) em uma faixa muito estreita, elemento este que faz com que a grafita livre se for- me como estrias grossas (seme- lhante a vermes), origem do nome vermicular. 41MATERIAIS E ENSAIOS Relembrando Nesta unidade de ensino nos concentramos nas ligas me- tálicas. Você aprendeu sobre siderurgia, as classificações das principais ligas metáli- cas ferrosas e a sua nomen- clatura. Conheceu ainda os microconstituintes principais dessas ligas. Na próxima unidade você aprenderá sobre materiais metálicos não ferrosos. Ain- da há muito pela frente. Con- tinuemos juntos! Destaca-se por apresentar boa resistência mecânica (praticamente o dobro do cinzento), capacidade de amortecimento a vibrações, pouco sensível a choques térmicos, tenacidade e ductibilidade. A grafita que se encontra tanto na forma de veios (ferro fundido cinzento) quanto em nódulos (ferro fundido nodular) é a responsável por essas características mecânicas. Figura 32 - (A) Micrografia de um Ferro Fundido Vermicular, (B) Micrografia da Grafita no CGI Fonte: Mocellin et al. (2004). Unidade de estudo 4 Seções de estudo Seção 1 – Os tipos de materiais metáli- cos não ferrosos 43MATERIAIS E ENSAIOS SEÇÃO 1 Os tipos de materiais metálicos não ferrosos Alumínio (Al) O alumínio (Al) se destaca pela sua elevada condutibilidade tér- mica e elétrica aliada a uma baixa densidade, além de ser o elemento metálico mais abundante na cros- ta terrestre. Do latim aluminium, apresenta uma densidade de 2,700 g/cm3 e um ponto de fusão de 660°C. Sua aparência é de cinza prateado fosco. É um metal bastante resistente à corrosão, dúctil, aceita tratamen- tos térmicos que lhe conferem maior dureza e rigidez, além de formar ligas com propriedades di- ferenciadas com inúmeros outros metais, como cobre (Cu), manga- nês (Mn), magnésio (Mg), dentre outros. A condutibilidade térmica e elétrica, por exemplo, é altamen- te dependente do grau de pureza da liga. A resistência à corrosão se dá em função da formação do óxido de alumínio (Al2O3) em sua superfície. Tais características o habilitam para aplicações na indústria aero- náutica, naval, de transporte, de condutores elétricos, trocadores de calor, da construção civil, utili- dades domésticas e muitas outras. É um dos metais mais reciclados, visto sua facilidade de recolhi- mento e seu preço de revenda, aliados a um consumo energético de até vinte vezes menor do que a sua obtenção a partir do seu mi- nério natural, a bauxita. Materiais Metálicos Não Ferrosos Chumbo (Pb) Do latim plumbum, tem densidade de 11,340 g/cm3 e ponto de fusão de 327 °C. Sua aparência é bran- ca azulada quando cortado, em contato com o ar se oxida ficando cinza. Embora tóxico e pesado, é mui- to utilizado em construção civil, baterias, munição, proteção con- tra raios X, ligas de solda, lastros, gaxetas, tipos de pigmentos, tipo- grafia, etc. As propriedades que o tornam interessante industrial- mente são sua alta maleabilidade, flexibilidade, lubricidade, além da condutibilidade elétrica. Em con- trapartida, seu ponto de fusão, sua resistência mecânica e dureza são baixos. A sua utilização como elemento de proteção contra radiações de raios X e raios gama é devido à sua alta densidade. Finas placas deste material podem substituir paredes de concreto de maior es- pessura aplicadas com o mesmo propósito. Forma ligas com outros metais como antimônio (Sb), estanho (Sn), cobre (Cu), etc. DICA O chumbo é um metal pe- sado que pode provocar graves danos à saúde hu- mana. Pesquise mais sobre a toxicologia do chumbo na internet. Recolhimento: Como latas de bebidas, por exemplo. 44 CURSOS TÉCNICOS SENAI Cobre (Cu) O cobre (Cu) é um dos primei- ros metais utilizados pelo ho- mem. Tem coloração avermelha- da brilhante e possui densidade de 8,950 g/cm3 com um ponto de fusão de 1083 °C. Dentre suas propriedades mecâni- cas, destacam-se a ductibilidade e maleabilidade, o que permite que seja estampado, estirado, confor- mado. Ainda como um excelente condutor térmico e elétrico é am- plamente utilizado em condutores elétricos e trocadores de calor. Em ambientes corrosivos, resiste muito bem à oxidação. Forma ligas com vários metais, dos quais os mais conhecidos são as ligas de cuproníquel (cobre mais níquel), o latão (cobre mais zinco) e o bronze (cobre mais es- tanho). Cromo (Cr) O cromo (Cr) é um metal cinza com característica semelhante ao aço. Sua densidade é de 7,200 g/ cm3 e seu ponto de fusão é de 1907 °C. Além da sua aplicação como ele- mento de liga em aços inoxidáveis e aços resistentes ao calor, por exemplo, também é muito empre- gado por eletrodeposição em aços para melhorar sua resistência à corrosão e oxidação e pigmentos. A alta resistência à corrosão do cromo é devida à formação de uma camada muito fina, aderente e resistente, o óxido de cromo. Estanho (Sn) O estanho (Sn) se caracteriza como um material branco pratea- do com densidade de 7,310 g/cm3 e ponto de fusão de 231 °C. Utilizado pela humanidade a mi- lhares de anos, formando liga com o cobre (Cu): bronze. A con- tribuição para o desenvolvimento humano foi relevante a ponto de nomear uma era, a idade do bron- ze, que ocorreu aproximadamente entre os anos 4000 e 1000 a.C. Possui baixa ductibilidade, porém apresenta boa resistência à oxida- ção em muitos meios, é utiliza- do para recobrir outros metais e assim agir como proteção à cor- rosão. Um exemplo clássico é a “lata”, que é uma folha de flan- dres (aço de baixo teor de carbo- no) revestida com o estanho (Sn), largamente utilizada na indústria alimentícia. Magnésio (Mg) O magnésio (Mg) é um metal de aparência prateada. Sua densidade é de 1,73 g/cm3 e ponto de fusão de 650 °C. Por ser bastante resistente e leve, e apresentar boa resistência à cor- rosão em meios pouco agressivos, é utilizado em aplicações estrutu- rais. Pode-se destacar seu uso na indústria naval, bélica, aeronáuti- ca, automobilística, além de com- ponentes eletroeletrônicos. Seu uso na forma de ligas se dá pre- dominantemente com o alumínio (Al). Cobre: Do latim cuprum. Cromo: Do grego chrôma e do latim chromium. Estanho: Do latim stagnun. Magnésio: Do latim mag- nesium. 45MATERIAIS E ENSAIOS Relembrando Nesta unidade você conhe- ceu um pouco sobre outros materiais metálicos não fer- rosos, aqueles mais utilizados na indústria metal mecânica, e suas principais característi- cas. Na próxima unidade de estudos você estudará a des- crição dos ensaios metalo- gráficos, conhecendo desde os procedimentos para pre- paração das amostras até os reagentes mais aplicados no ataque químico de ligas fer-rosas e de alguns metais não ferrosos. Continue antenado! Níquel (Ni) O níquel (Ni) é um metal branco prateado com densidade de 8,908 g/cm3 e ponto de fusão de 1455 °C. Dentre suas propriedades, pode- se destacar sua resistência à oxida- ção e à corrosão, boa resistência mecânica e característica ferro- magnética. Tais propriedades di- ferenciam as ligas de níquel (Ni) de muitos outros materiais. Seu maior consumo se dá como elemento de liga na fabricação do aço inoxidável, superligas de ní- quel, além de estar presente em algumas ligas de aço-carbono. Titânio (Ti) O titânio (Ti) é um metal de cor branca metálica com densidade de 4,507 g/cm3 e ponto de fusão de 1668 °C. Seu alto módulo de elasticida- de, leveza, resistência mecânica e biocompatibilidade o tornam um material de grande interesse para a fabricação de próteses médicas. Outra propriedade de interesse é a sua alta resistência à corrosão. As principais aplicações se dão na indústria química, naval, nuclear, em pigmentos na forma de dióxi- do de titânio (TiO2), além de par- ticipar como elemento de liga em muitas outras ligas metálicas. Tungstênio (W) O tungstênio (W) é um metal de aparência de branco a cinza, com densidade de 19,250 g/cm3 e maior ponto de fusão de todos os elementos, 3422 °C. Embora muito escasso, é extraído da natureza na forma de óxidos e sais, sua gama de aplicações é muito grande graças às suas carac- terísticas de alta dureza e ponto de fusão. As principais aplicações são em ferramentas de corte como bro- cas e pastilhas, filamentos de lâm- padas, eletrodos não consumíveis em soldas TIG, além de também ser empregado como elemento de liga. Zinco (Zn) O zinco (Zn) é um metal de co- loração branco azulada com den- sidade de 7,140 g/cm3 e ponto de fusão de 419 °C. A formação de um óxido em sua superfície o torna muito resistente à corrosão. Muitas de suas aplica- ções se dão em função dessa pro- priedade como, por exemplo, o processo de galvanização. Também é utilizado como pig- mento, aditivo e elemento de liga. Dentre as ligas formadas, a de maior destaque é a formada com o cobre (Cu), o latão. DICA Pesquise mais sobre a apli- cação do zinco como metal de proteção ao aço. Vamos! Não custa tentar! Níquel: Do alemão kupfer- nickel. Titânio: Do latim titanium. Tungstênio: Do latim wol- framium. Zinco: Do latim zincum. Unidade de estudo 5 Seções de estudo Seção 1 – Introdução Seção 2 – Microscopia Seção 3 – Preparação das amostras Seção 4 – Preparação dos reagentes 47MATERIAIS E ENSAIOS SEÇÃO 1 Introdução A olho nu uma superfície metálica pode parecer sólida e homogênea, porém não é. Ela possui defeitos como vazios e contornos de grão, além de diferentes microconsti- tuintes e precipitados que só se- rão visíveis através do uso de mi- croscópios óticos ou eletrônicos. Empregando-se técnicas de análi- se metalográfica será possível ava- liar as fases presentes, bem como a sua quantificação com o uso de técnicas específicas de análise, e o uso de relações estatísticas tam- bém é possível. O conhecimento das fases pre- sentes, do tamanho e forma dos grãos, da densidade, além de ou- tras características que são possí- veis de serem avaliadas pela aná- lise metalográfica, pode estimar quais serão as propriedades me- cânicas do material naquela con- dição. A observação dessas microestru- turas permite inclusive a identifi- cação de algumas ligas quanto ao percentual de elementos de liga e ao tratamento térmico sofrido. Em relação ao percentual de car- bono, pode-se avaliar, por exem- plo, se um aço é hipo ou hipereu- tetóide. Já uma microestrutura martensítica indica que esse aço foi submetido a um tratamento térmico de têmpera, por exemplo. Metalografia DICA Você provavelmente já utilizou um binóculo para visualizar objetos que estão a longas distâncias. Isso é possível graças à combinação de suas lentes. Um microscópio faz exatamente a mesma coisa, po- rém a análise se resume a curtos espaços de uma superfície que é ampliada várias vezes. SEÇÃO 2 Microscopia O microscópio é o equipamento responsável por ampliar a proje- ção da superfície que será anali- sada. Esse aumento pode ser de poucas dezenas até milhares de vezes. Para as análises das microestrutu- ras dos materiais metálicos, bem como de outras classes de mate- riais, três tipos de microscopia podem ser utilizados: microscopia ótica (MO) com faixa de aumen- to de 1 a 1.500 vezes, microscopia eletrônica de varredura (MEV) com aumento de 10 a 20.000 ve- zes e a microscopia eletrônica de transmissão (MET) com aplica- ção de 500 a 300.000 vezes. A MO apresenta uma resolução na ordem de 3.000 Å, a MEV de 200 Å, enquanto que a MET pode chegar a 50 Å. Um novo tipo de microscopia de pouca aplicação industrial, a microscopia de cam- po iônico (MCI), tem resolução inferior a 1 Å. 1 Å (um Amgstron) corres- ponde a 1.10-10 m, ou seja, 0,0000000001 m. A microscopia ótica é aplica- da para análise de grandes áreas, além de sua utilização ser simples e rápida, é também de baixo cus- to. A microscopia de varredura possibilita a análise com maior profundidade de foco como em superfícies de fratura. Já através da MET, defeitos e fases internas dos materiais podem ser identifi- cados, como discordâncias e pe- quenas inclusões. 48 CURSOS TÉCNICOS SENAI SEÇÃO 3 Preparação das amostras Para que uma análise metalográ- fica seja executada, é necessá- ria uma correta preparação das amostras quanto a sua superfície e reagente de ataque. Corpo de prova O primeiro passo é a retirada da amostra do material a ser analisa- do. Essa separação deve ser por meios abrasivos, como discos de corte altamente refrigerados. O uso de operações mecânicas de usinagem e cisalhamento, por exemplo, pode impor severas alte- rações microestruturais na região a ser analisada devido ao trabalho mecânico a frio. Discos de corte abrasivos finos, além de eliminar o trabalho a frio, ainda deixam uma superfície plana com baixa rugosidade de forma rápida e se- gura. Microscopia ótica O microscópio ótico é o mais simples de todos e também o mais empregado na indústria para as análises metalográficas de me- tais, além dos demais setores de transformação, como a indústria têxtil, de papel e celulose, etc. É composto basicamente por dois conjuntos de lentes, a ocular (pró- ximo ao olho do observador) e a objetiva (perto da amostra). Mi- croscópios modernos podem ain- da estarem equipados com filmes polarizadores, prismas, espelhos, monitores, câmaras de captura, li- gados a computadores equipados com softwares de tratamento de imagens, etc. A multiplicação do aumento da objetiva pela ocular será o aumento total do micros- cópio. A micrografia observada é obtida através da reflexão de um feixe de luz que incide sobre a amostra, a qual por possuir diferentes dire- ções cristalográficas em cada grão os revela ao observador. A refrigeração deve ser suficien- temente alta a fim de evitar que a superfície cortada sofra alterações em sua microestrutura decorren- tes de deformações por trabalho térmico. A determinação da seção de corte será de acordo com as informa- ções que se deseja estudar. Pode ser longitudinal ou transversal. O corte transversal é utilizado para estudar a natureza do material, homogeneidade, segregações, profundidade de tratamentos tér- micos, dentre outros. Já o corte longitudinal permite a avaliação de detalhes de solda, extensão de tratamentos térmicos, além da identificação de trabalhos mecâni- cos, aos quais a amostra foi sub- metida. Embutimento Amostras com dimensões muito pequenas devem ser montadas sob um suporte que possibilite o seu manuseio, além de evitar aci- dentes e preservar a qualidade do corpo de prova. Esse processo conhecido como embutimento pode ser executado utilizando re- sinas plásticas a quente ou a frio. São empregadas as resinas de ba- quelite, epóxi, acrílico ou outra
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