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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO W B A 03 03 _v 1. 1 2 Arthur Ribeiro Torrecilhas Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Henrique Salustiano Silva Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Torrecilhas, Arthur Ribeiro T689i Introdução à engenharia de segurança do trabalho/ Arthur Ribeiro Torrecilhas, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 22 p. ISBN 978-65-87806-02-0 1. Segurança no trabalho. 2. Trabalho seguro I. Torrecilhas, Arthur Ribeiro. II.Título. CDD 620.86 ____________________________________________________________________________________________ Jorge Eduardo de Almeida CRB: 8/8753 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Conceitos introdutórios da segurança do trabalho __________________ 05 Competência do Engenheiro de segurança do trabalho ____________ 20 INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO 5 Conceitos introdutórios da segurança do trabalho Autoria: Arthur Ribeiro Torrecilhas Leitura crítica: Joubert R. S. Júnior Objetivos Com o objetivo de expor os principais conceitos sobre a higiene ocupacional, capacitando o aluno a desenvolver suas atividades como um engenheiro de segurança do trabalho, este material tem como objetivos: • Apresentar os conceitos básicos sobre a saúde e segurança do trabalho. • Expor os fatores históricos que contribuíram para o desenvolvimento da qualidade de vida e da segurança no ambiente de trabalho. • Aprimorar o conhecimento do aluno sobre os temas relacionados à higiene ocupacional. • Conscientizar a importância da segurança no ambiente laboral para empresas e trabalhadores. 6 1. Introdução a higiene do trabalho Atualmente, quando observamos um ambiente de trabalho conseguimos identificar e compreender uma pequena parcela de riscos que colocam a saúde, a segurança e a qualidade de vida das equipes de trabalhadores em risco. Muitos destes riscos, por sua vez, apenas temos conhecimento pois há muitos anos afetaram milhares de trabalhadores, que não tinham o conhecimento necessário para determinar se um ambiente é seguro ou não. Entretanto, ainda hoje, existem riscos que muitas equipes de trabalho desconhecem, como: riscos biológicos, químicos, vibrações e exposição a outros agentes que proporcionam malefícios à saúde dos colaboradores. Nesse sentido, por mais que saibamos que um ambiente com excesso de poeiras e minerais como a sílica, por exemplo, pode provocar problemas na saúde das equipes de trabalho expostas a ele, há fatores que determinam outros riscos que não são do conhecimento comum de leigos, e valores quantitativos que determinam se o ambiente é desfavorável ou não à qualidade de vida do trabalhador. Mas para que você possa adentrar neste assunto, primeiramente precisamos entender o conceito histórico da segurança do trabalho, entender como eram as condições de antigamente, as ferramentas e as metodologias de trabalho, os fatores sociais e econômicos, entre outros conceitos que abordaremos a seguir. 1.1 As condições de trabalho da antiguidade e os relatos dos primeiros cuidados com a saúde do trabalhador No ambiente de trabalho coexiste com os colaboradores uma série de riscos que os colocam em situações de degradação da qualidade de vida e da saúde ocupacional. Nessas condições, a higiene ocupacional busca 7 melhorar este cenário, seja por meio da eliminação ou da mitigação dos riscos. Se retomarmos as metodologias de trabalho da antiguidade, poderemos notar a ausência de muitos dos utensílios de trabalho que utilizamos atualmente, consequentemente, o homem estava menos exposto aos riscos inerentes em suas atividades. Vamos entender melhor essa afirmação? Atualmente há uma série de atividades laborais que mantém nossa sociedade em pleno funcionamento, entretanto, na antiguidade, nos primórdios da humanidade, o trabalho do homem era proteger sua moradia, família, além de caçar o alimento para sustento de seu bando. Essas atividades “laborais” da época contavam com uma série de ferramentas e metodologias de trabalho, como: as lanças para caça, facas feitas de pedras para corte e remoção do couro das caças. Na Figura 1 podemos observar essas ferramentas. Figura 1 – Ferramenta pré-histórica de caça e trabalho Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Stone_and_bone_tools,_pottery,_Copper_ Age,_Museum_of_Kladno,_176032.jpg. Acesso em: 8 maio 2020. 8 Como podemos observar, a Figura 1 mostra fragmentos de pedras lascadas, moldadas para que tivessem capacidade de perfurar e cortar certos alimentos. Se imaginarmos os possíveis acidentes que poderiam ocorrer com o uso dessas ferramentas, podemos citar cortes com o processo de fabricação das ferramentas e possíveis acidentes ao manuseá-las. Ao longo dos séculos, com a evolução humana foram surgindo novas ferramentas de trabalho. Então, com advento da agricultura, o ser humano passa a utilizar a força animal em seu trabalho, desenvolvendo novas ferramentas de trabalho e, consequentemente, novos riscos ocupacionais, conforme demonstrado na Figura 2. Figura 2 – Ferramenta pré-histórica de caça e trabalho Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Workers_building_a_palace_find_a_marble_ ox_head.png. Acesso em: 8 maio 2020. Como podemos observar na Figura 2, o homem passou a desenvolver seu trabalho e sustento de uma simples ferramenta moldada em rocha para foices, pás, inchadas e, até mesmo, sistemas tracionados por animais. Observando esse cenário fica nítido o acréscimo de situações 9 que podem provocar um acidente de trabalho por causa dos riscos ambientais. Até então, as condições de trabalho eram voltadas para eficiência das ferramentas e na produção de alimentos, ou seja, não era dada a devida atenção à qualidade de vida dos trabalhadores. Caso um trabalhador se acidentasse, era necessário que outro atuasse em seu lugar, caso o acidentado ficasse incapacitado de retornar para suas atividades, ele tornava-se dependente de familiares ou da sociedade. As doenças e acidentes do trabalho são antigos. Ao longo do desenvolvimento da humanidade, distintas condições de trabalho têm provocado morte, doenças e incapacidade aos trabalhadores, enquanto que as medidas para sanar as condições de risco não eram devidamente tomadas, tendo sua devida importância, relativamente, apenas nos tempos atuais. Nesse sentido, devido à falta de preocupação com as equipes de trabalho na época, não eram documentados ou relatados os acidentes de trabalho, portanto, há uma insuficiência de dados paraformação de uma ciência trabalhista (MATTOS; MÁSCULO, 2019). Mattos e Másculo (2019) relatam que, no Egito, por volta de 2360 a.C., foi encontrado um documento nomeado de Papiro Seler II, que relaciona o ambiente de trabalho e os riscos inerentes a ele, e o Papiro Anastasi V, de 1800 a.C., que descreve os problemas relacionados à insalubridade, periculosidade e penosidade das profissões dos trabalhadores. Nem mesmo as sociedades gregas e romanas valorizavam os estudos das condições de trabalho, sendo que os únicos documentos que relatam algo relacionado aos cuidados da saúde dos trabalhadores e seu ambiente laboral é o documento escrito por Hipócrates (na Grécia, em 460-375 a.C.), em sua obra intitulada de Ares, Águas e Lugares, que descreve a intoxicação saturnina (intoxicação por chumbo) em um mineiro (SCARPIM et al., 2010 apud SILVA; PASCHOARELLI, 2010). 10 Plínio (77 d.C.), por meio de sua obra História Naturallis, relata a exposição de um grupo de trabalhadores ao chumbo, mercúrio e poeiras, apresentando os efeitos prejudiciais para a respiração dos mineiros. Plínio, ainda, sugere o que seria o primeiro relato de uso de um EPI (Equipamento de Proteção Individual), o uso de bexiga de carneiro como máscaras para filtrar e evitar a inalação de poeiras e fumos (SCARPIM et al., 2010 apud SILVA; PASCHOARELLI, 2010; MATTOS; MÁSCULO, 2019). Com o surgimento de muitos enfermos, por causa das condições de risco inerente aos seus trabalhos, algumas sociedades se viram obrigadas a desenvolver medidas que cuidassem deles, até mesmo, para evitar situações de desordem social. Assim, surgiram as primeiras cooperativas de trabalho, com o intuito de proteger seus integrantes de determinados riscos e condições de trabalho. Na Grécia, elas eram denominadas de erans, na Roma chamavam-se Collegia. Posteriormente, irmandades cristãs, por meio das ordens hospitalares, passam a colaborar com essas cooperativas (BARSANO; BARBOSA, 2018). Com o passar dos anos, estudos que relacionavam os trabalhadores com seus ambientes de trabalho passaram a ser mais frequentes, proporcionando um grande avanço para a qualidade de vida dos trabalhadores. Em 1473, Ulrich Ellenborg reconhece a toxicidade dos vapores de determinados metais, descrevendo os sintomas por envenenamento ocupacional, como no caso do monóxido de carbono, chumbo, mercúrio e ácido nítrico. Além disso, seus relatos apresentam medidas de prevenção, determinando ações para que sejam prevenidas tais contaminações (MATTOS; MÁSCULO, 2019). Em 1556, foi publicada a obra do inglês George Bauer intitulada de De Re Metallica, em que são apresentados estudos sobre os problemas condizentes do trabalho envolvendo a extração e fundição de prata e 11 ouro. Ainda, são apresentados relatos e discussões sobre acidentes de trabalho, possíveis doenças entre uma mesma classe de trabalhadores (mineiros) e as possíveis medidas de mitigação. Uma das sugestões para redução destes riscos é a implantação de um sistema de ventilação. De acordo com Nogueira (1984), a doença estudada ficou conhecida como “asma dos mineiros”. Esse documento descreve, possivelmente, a primeira definição da doença silicose, que afeta o pulmão dos trabalhadores que inalam poeiras e minerais em sua jornada de trabalho. A presença deste risco químico no ambiente laboral poderia ser reduzida, ou até mesmo evitado, caso a disseminação do conhecimento sobre as doenças ocupacionais fosse abrangente. No entanto, por essas razões e pela deficiência de meios de detecção, além do pouco conhecimento da medicina na época, essa doença não ficou claramente descrita nos documentos de Bauer. Segundo Mattos e Másculo (2019), em 1567, Aureolus Theophrastus Bembastus von Hohenheim escreveu a Obra dos Ofícios e doenças da montanha, onde apresenta a relação entre ambiente de trabalho e doença desenvolvida, também notificando a presença do chumbo e mercúrio. Em 1700, por sua vez, Bernardino Ramazzini, médico italiano, conhecido como “pai da segurança do trabalho”, publicou sua obra denominada de Morbis Artificum Diatriba, traduzida como Doenças dos artífices. De acordo com Silva (2015), nesta obra foram relacionadas não apenas doenças de mineiros e a contaminação por mercúrio e chumbo, mas, também, uma série de outras profissões e suas respectivas enfermidades, como também as precauções e agentes causadores de grande parte das doenças estudadas por Ramazzini. Então, por meio de pesquisadores passou a ser desenvolvida uma preocupação na relação doença x trabalho. Além disso, desenvolveu-se 12 metodologias de pesquisa que auxiliam a vinculação das doenças com os trabalhos executados, por exemplo, Ramazzini, em suas entrevistas com os trabalhadores, questionava sobre sua ocupação, sintomas, condições do ambiente de trabalho, metodologia de execução das atividades, entre outros aspectos que forneciam parâmetros para a criação de um nexo causal (SILVA, 2015). Por mais que fossem realizados estudos divulgando a necessidade de maiores cuidados com as equipes de trabalho, nada era feito para que o cenário fosse alterado. De um lado, temos a necessidade dos trabalhadores de receber seu pró-labore mantendo o sustento das famílias, se sujeitando às condições insalubres de trabalho por necessidade, e por outro lado, temos os empregadores que não enxergam motivos para se preocupar, entendendo que as medidas de redução dos riscos são, além de ineficientes, inviáveis aos negócios. Em meados de 1740, o governo dinamarquês, observando a importância do controle dos acidentes de trabalho, criou o primeiro programa de realização de exames médicos públicos, por meio do sistema nacional de saúde. Posteriormente esta medida foi adotada por outros países da Europa. Avançando alguns anos, em 1775, na Inglaterra, o pesquisador e médico Percival Pott correlaciona o câncer ocupacional com os limpadores de chaminés, em que a fuligem era a principal causadora do câncer escrotal. Depois de treze anos de pesquisa, em 1788, foi desenvolvida e aplicada a primeira lei de proteção aos limpadores de chaminé (MATTOS; MÁSCULO, 2019; AGUIAR JUNIOR; VASCONCELLOS, 2017). No fim do século XVIII, com a Revolução Industrial e a chegada das maquinas à vapor, as condições de trabalho tornaram-se extremamente degradadas, ocasionando inúmeros acidentes laborais, tendo trabalhadores afastados de suas atividades por incapacidade laboral, 13 decorrente da perda de membros ou, até mesmo, insuficiência das condições básicas de trabalho. A grande maioria dos acidentes ocorriam por falta de proteção dos maquinários, jornadas prolongadas e péssimas condições de higiene no ambiente industrial (MINAYO-GOMEZ; THEDIM-COSTA, 1997; SILVA, 2015). Se imaginarmos um grande número de profissionais afastados e incapacitados de exercer suas funções, deformados pelas péssimas condições de trabalho da época, não fica difícil de ver uma cidade com grandes problemas sociais, famílias desamparadas, condições de saneamento ruins, doenças se propagando por conta das condições sanitárias e falta de sustento da população carente. Esses fatores passaram a abrir os olhos tanto da população quanto do governo, que se depara com uma situação que pode prejudicar não só os trabalhadores, mas também a economia de um Estado. Nessas condições, começaram a surgir greves dos trabalhadores, onde a população passou a exigir seus direitos, exigindo que políticos e legisladores introduzissem novas medidas legais que possibilitassem a melhoria da qualidade de vida nos ambientes de trabalho (SILVA, 2015; NOGUEIRA; MARIN, 2013). Dessa maneira, com base no cenário que se formava, o parlamento britânico criou uma comissão de inquérito sob a direção de Sir Robert Peel, investigando abusos cometidos pelas industrias com seus trabalhadores. Até que em 1802 foi aprovada a primeira lei de proteção aos trabalhadores, denominada de Lei da Preservação da Saúde e da Moral dos Aprendizes e de OutrosEmpregados, que ficou popularmente conhecida como lei dos Aprendizes. Nas novas condições exigidas por esta lei, era determinado que a jornada diária não poderia passar de 12 horas de trabalho, ficando proibido o trabalho noturno; os empregadores deveriam realizar a lavagem das paredes das fábricas 14 ao menos duas vezes ao ano; além de propor meios de ventilação nos ambientes laborais (MATTOS; MÁSCULO, 2019). Com o surgimento da lei dos Aprendizes, outras legislações foram surgindo, entretanto, a falta de fiscalização comprovava que as legislações não eram efetivamente cumpridas, sendo apenas uma maneira de acalmar os ânimos da população enfurecida. Desse modo, multas não eram aplicadas e as fábricas não realizavam as diretrizes legislativas. Em 1832, John Marshall, proprietário de grandes indústrias na época, demonstrou-se preocupado com as condições de trabalho de seus funcionários, fato que levou ele a contratar um médico para fiscalizar o ambiente de trabalho de suas fábricas ao menos duas vezes por semana. De acordo com Nogueira (1984), estas ações, em 1833, resultaram na promulgação da Factory Act, mais conhecida como Lei das Fábricas, considerada a primeira legislação trabalhista realmente eficaz à proteção dos trabalhadores. Portanto, aqui, podemos observar o surgimento de conceitos como o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), ou seja, é a noção de que os cuidados com os funcionários podem proporcionar à fábrica melhoria no rendimento da produção, aspectos e fatores voltados para parâmetros ergonômicos, que cabem a outro momento de discussão, não menos importante. A Lei das Fábricas proibia o trabalho noturno para menores de 18 anos, obrigava as fábricas a educar jovens menores de 12 anos por meio da construção de escolas, decretou a idade mínima de 9 anos para iniciar- se as atividades laborais, entre outras especificações que asseguravam a melhoria da qualidade de vida aos trabalhadores e familiares. Dessa forma, as indústrias passam a reconhecer a importância e necessidade de proteção dos trabalhadores, no entanto, com a chegada 15 da Segunda Revolução Industrial (eletricidade e motor a explosão), percebe-se o surgimento de novas ferramentas e, consequentemente, novos riscos de trabalho potencializando os acidentes de trabalho. A noção de uma legislação protetora da classe de trabalhadores ficou marcada nos contextos históricos, assim, mesmo com o surgimento de novas tecnologias e campos de atuação de trabalho, as legislações foram sendo adaptadas ou desenvolvidas até os dias de hoje, e, aos poucos, as exigências voluntárias passaram a se tornar obrigatórias. A disseminação desses pensamentos também ocorreu para outros países, de início para a Europa e, posteriormente, para outros continentes. Conforme o levantamento realizado por Mattos e Másculo (2019), observa-se que essa disseminação de pensamento ocorre em 1877, na Suíça, que promulgou a primeira lei de proteção aos trabalhadores, sendo obrigatória a inspeção das condições do trabalho. Outros países foram incorporando as legislações trabalhistas em suas diretrizes judiciais, como a Dinamarca em 1873, França em 1874, Alemanha em 1878 (em 1897, a Alemanha aprovou a primeira lei de acidente e doenças trabalhistas), Áustria em 1887, Bélgica e Holanda em 1888, Suécia em 1889, Portugal em 1895 e 1897, Rússia em 1918. 1.2 A higiene do trabalho no continente americano e na atualidade (século XX) Os Estados Unidos, Brasil e outros países do continente americano apenas aderiram às leis trabalhistas no século XX. Em 1902, nos Estados Unidos foi promulgada certa lei que indenizava o trabalhador em casos de acidente de trabalho, isso só foi possível devido às pesquisas médicas da higienista Alice Hamilton, que, em 1900, pesquisou várias ocupações e sua influência no ambiente de trabalho, além dos prejuízos aos trabalhadores e à economia local. 16 No início do século XX, diversas conferências, reuniões e congressos foram realizados para discutir sobre a saúde e qualidade de vida dos trabalhadores, possibilitando a propagação da cultura da segurança do trabalho, rompendo a resistência da classe empregadora que buscava redução de custos com mão de obra e indenizações. Com o passar dos anos, no continente americano e no restante do mundo, passou a ser obrigatório a presença dos cuidados médicos aos trabalhadores, independentemente dos riscos ambientais presentes em suas atividades e no local de trabalho. Em 1922, a Universidade de Harvard oferta vagas para o curso de graduação de Higiene Industrial. Em 1938, houve a criação da ACGIH (National Conference of Governmental Industrial Hygienists), seguida de outras associações voltadas à saúde e segurança do trabalhador, como a AIHA (American Industrial Hygiene Association) e a ASA (American Standards Association, atual ANSI). Em 1939, a ACGIH inovou as pesquisas com os estudos das concentrações de agentes químicos nos ambientes laborais com o estudo das MACs (Concentrações Máximas Permitidas). Em 1954, a medicina do trabalho passa a ser reconhecida com uma especialização médica, e em 1970 surgiu a promulgação da OSHA (Occupational Safety and Health Act). Nesse meio tempo, em 1919, na Europa, é concretizada a criação da Organização Internacional do Trabalho, mais conhecida como OIT. O Brasil, juntamente com os demais países da América Latina, teve sua revolução industrial em 1930, com a presença dos fatos marcantes da consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. Em 1966, por sua vez, foi criada a Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho – FUNDACENTRO. No Brasil, em 1972, surgiu a obrigatoriedade dos Serviços Médico e de Higiene e Segurança do Trabalho nas empresas com cem ou mais empregados (MATTOS; MÁSCULO, 2019). 17 Em 1974, o Brasil recebe o título de campeão mundial de acidentes de trabalho, percebendo a grande necessidade de implantação e melhoria das condições de trabalho, foram elaboradas as primeiras Normas Regulamentadoras – NRs (1978). De 1990 em diante, o Brasil adotou normativas que buscam melhorar e promover a segurança dos trabalhadores, como a ISO (International Organization for Standardization, ou Organização Internacional para Padronização, em português) 9000, ISO 14000, BS (British Standards, ou Padronizações Britânicas, em português) 8800 e OSHAS (Occupational Health and Safety Assessment Series, cuja a tradução é Série de Avaliação de Segurança e Saúde Ocupacional) 18000. Por sua vez, essas normativas estão em constante evolução, conforme são desenvolvidas novas atividades, descobertos novos riscos no ambiente de trabalho. No entanto, atualmente, por mais que o trabalhador seja amparado de normas e de legislações, ainda é comum se encontrar empresas que negligenciam as necessidades básicas de cuidados com suas equipes de trabalho. Esse fato, muitas vezes, ocorre pela falta de conhecimento das legislações e normas técnicas, e outras por causa de negligências. Entretanto, como apresentamos anteriormente, os direitos trabalhistas são relativamente novos para nós, ora, se considerarmos o período em que o homem exerce suas atividades laborais como empregado, temos apenas dois séculos em que as leis trabalhistas são aplicadas. Portanto, estamos no início da construção de legislações e culturas mais fortes. Atualmente, algumas empresas passam a entender o valor que um ambiente de trabalho exerce em seus funcionários. Os ambientes que provocam incapacidades em seus colaboradores possuem baixo rendimento de produção, perda de estoques, além dos gastos com problemas trabalhistas e multas governamentais. 18 Por outro lado, empresas que aplicam as normas, principalmente aquelas voltadas à ergonomia cognitiva e organizacional, registram elevado potencial de produção, tanto intelectual quanto braçal, redução nos estoques, melhor qualidade no acabamento final de seus produtos e redução significativanas despesas trabalhistas e governamentais. Logo, podemos dizer que as normativas não são benéficas apenas para os trabalhadores, mas também para a sociedade e para aqueles que empregam. O trabalho do profissional da segurança do trabalho não é apenas apontar e corrigir os erros de uma empresa, mas reduzir os gastos do empregador, bem como implantar uma cultura organizacional que demonstre tanto para os empregados quanto para aquele que emprega, a importância da higiene ocupacional como um todo. Referências Bibliográficas AGUIAR JUNIOR, V. S. de; VASCONCELLOS, L. C. F. de. A importância histórica e social da infância para a construção do direito à saúde no trabalho. Saúde e Sociedade, [s.l.], v. 26, n. 1, p. 271-285, mar. 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/ s0104-12902017159018. Acesso em: 7 jul. 2020. BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Higiene e segurança do trabalho. 2. ed. São Paulo: Érica, 2018. MATTOS, U. A. de O.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier/Abepro, 2019. MINAYO-GOMEZ, C.; THEDIM-COSTA, S. M. da F. A construção do campo da saúde do trabalhador: percurso e dilemas. Cadernos de Saúde Pública, [s.l.], v. 13, n. 2, p. 21-32, 1997. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csp/v13s2/1361.pdf. Acesso em: 7 jul. 2020. NOGUEIRA, D. P. Incorporação da saúde ocupacional à rede primária de saúde. Revista de Saúde Pública, [s.l.], v. 18, n. 6, p. 495-509, dez. 1984. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-89101984000600009. Acesso em: 7 jul. 2020. NOGUEIRA, L. S. M.; MARIN, R. E. A. Segurança e saúde dos trabalhadores na indústria do alumínio no estado do Pará, Brasil. Cuadernos del Cendes, Caracas, v. 30, n. 82, p. 109-134, abr. 2013. Disponível em: http://ve.scielo.org/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1012-25082013000100006. Acesso em: 7 jul. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902017159018 http://dx.doi.org/10.1590/s0104-12902017159018 https://www.scielo.br/pdf/csp/v13s2/1361.pdf https://doi.org/10.1590/S0034-89101984000600009 http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1012-25082013000100006 http://ve.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1012-25082013000100006 19 SCARPIM, A. C.; FERREIRA, C. V.; SILVA, J. C. P. da; PASCHOARELLI, L. C. P. Patissier: fragmentos de uma contribuição à ergonomia. In: SILVA, J. C. P. da; PASCHOARELLI, L. C. (org.). A evolução histórica da ergonomia no mundo e seus pioneiros. São Paulo: Editora UNESP, 2010. p. 27-35. SILVA, A. B. R. B. Acidentes, adoecimento e morte no trabalho como tema de estudo da História. In: OLIVEIRA, T. B. (org). Trabalho e trabalhadores no Nordeste: análises e perspectivas de pesquisas históricas em Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Campina Grande: EDUEPB, 2015, pp. 215-240. 20 Competência do Engenheiro de segurança do trabalho Autoria: Arthur Ribeiro Torrecilhas Leitura crítica: Joubert R. S. Júnior Objetivos No intuito de expor os conceitos que tangem as capacidades e o perfil profissional do engenheiro de segurança do trabalho, este material tem como objetivos: • Apresentar os requisitos do engenheiro de segurança do trabalho no mercado. • Evidenciar, de maneira breve, as principais ferramentas que o profissional é capacitado para elaborar. • Situar o profissional de suas atribuições, competências e objetividade à empresa e empregados. 21 1. O papel do engenheiro de segurança do trabalho Como abordado anteriormente, a segurança dos trabalhadores é um conceito relativamente novo para a humanidade. A preocupação com os funcionários apenas teve sua significância quando a sociedade de trabalhadores se viu em uma situação de dificuldades, portanto, medidas revolucionárias foram tomadas para que uma melhoria na qualidade de vida desses funcionários. Com o passar dos anos, as legislações sofreram uma série de alterações, até o momento em que passou a ser obrigatório que as empresas cuidem da qualidade de vida de suas equipes de trabalho. Lembrando que a grande massa populacional é de trabalhadores e não empregadores, caso a maioria da população não tivesse qualidade de vida e saúde básicas, o governo teria um grande problema de saúde pública, esse é outro fator para que as legislações fossem devidamente cobradas (BARSANO; BARBOSA, 2018). Hoje, as normativas de segurança do trabalho não só protegem os trabalhadores, mas também aqueles que empregam. É neste sentido que o profissional da engenharia de segurança do trabalho deve atuar, buscando proteger não só os funcionários de uma empresa, mas também os seus proprietários. Portanto, o Engenheiro de Segurança deve ter em mente que a falta de qualidade de vida e segurança nas empresas pode trazer ao empregador uma série de problemas, entre eles: • Elevado índice de acidentes e doenças profissionais: em empresas que não desenvolvem os cuidados com a qualidade de vida e saúde de seus colaboradores, a tendência é que haja um crescente do número de acidentes de trabalho ou doenças profissionais. Esse fato pode afastar os trabalhadores por tempo 22 indeterminado de trabalho, consequentemente, reduzindo as equipes de trabalho e perdendo eficiência na produção. • Processos trabalhistas: com o elevado índice de acidentes por falta de cumprimento de normativas, os trabalhadores tendem a recorrer a seus direitos trabalhistas, afundando a empresa em processos e pagamentos de multas indenizatórias. • Pagamento de impostos: com o elevado número de abertura de CATs (Comunicado de Acidente de Trabalho), indicando o aumento de acidentes de trabalho, a empresa passa a ser cobrada por mais impostos, como o FAP (Fator Acidentário de Prevenção). • Insatisfação do consumidor: empresas onde os funcionários estão frequentemente expostos à riscos de acidentes de trabalho, má remuneração, ambientes estressantes e demais aspectos que envolvem a ergonomia cognitiva e organizacional, elas ficam sujeitas a ter seus colaboradores desmotivados para vendas e fechamento de negócios, elaboração de trabalhos bem feitos, acabamento final do produto e demais atividades, gerando a insatisfação do consumidor com o produto final. • Perda/problemas de estoque: em empresas que trabalham com a confecção de produtos por meio de uma matéria-prima, podem sofrer grandes perdas em estoques por conta da falta de cuidados com relação à segurança do trabalho. Logo, temos como exemplo um operador de empilhadeira não capacitado ou imprudente, que acaba por derrubar uma prateleira de peças de porcelanato ou, até mesmo, um trabalhador que não está feliz com as condições de trabalho e por desleixo ou falta de motivações, que acaba por quebrar peças de um estoque ou enviar peças danificadas aos consumidores, como sinal de raiva pela empresa em que trabalha. Nesse sentido, podemos observar que a segurança do trabalho não implica apenas ao trabalhador, mas, também, ao empregador, como 23 qualidade do produto final, atendimento ao cliente, rendimento na produção e conservação dos estoques de uma empresa. Logo, demonstrar a importância de um ambiente saudável, melhores condições de trabalho e responsabilidade aos funcionários, pode proporcionar maiores rendimentos à empresa. Essa é a função de um engenheiro de segurança do trabalho: buscar melhorar o ambiente empresarial tanto para os colaboradores quanto para aqueles que empregam, pois, atualmente, maior produtividade, qualidade de vida e menores custos para a empresa, são elementos diretamente conectados. Outro ponto a ser destacado para os profissionais da área da segurança do trabalho é que, atualmente, há constantes alterações nas legislações trabalhistas e normas técnicas. Logo, é obrigação desses profissionais estarem sempre atualizados quanto à estas alterações, a fim de que a empresa e a saúde dos colaboradores não estejam em condições equivocadas quando comparadas com as novas normativas. Ainda, o profissional deve lembrar-se de que, na grande maioria das vezes, irá coordenar equipesde trabalho quanto a capacitações, treinamentos e orientações das atividades a serem realizadas nos canteiros de obras e nas fábricas. Portanto, o engenheiro de segurança do trabalho precisa ter boa comunicação com os colaboradores e saber gerenciar e coordenar equipes. 1.1 Responsabilidades do profissional e os programas de segurança no trabalho Como engenheiro de segurança do trabalho, sendo contratado como terceirizado ou funcionário de uma empresa, pode surgir a necessidade de elaboração e aplicação de certos programas de prevenção, como: o PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos, que substitui o antigo PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais e o PCMAT – Programa 24 de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria de Construção); emissão e gerenciamento de CATs (Comunicado de Acidente de Trabalho); além de compor o Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), quando necessário. PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) Com relação ao PGR, trata-se de documento estabelecido pela Norma Regulamentadora nº 01, que se refere a um documento que contenha, no mínimo, um inventário dos riscos que o ambiente contempla e um plano de ação para tais riscos, sendo eles físicos, químicos, biológicos e os riscos dispostos na NR-17, que diz respeito aos riscos ergonômicos, sejam eles cognitivos, físicos e organizacionais, conforme podem ser observadas na Figura 1. Figura 1 – PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) Fonte: elaborada pelo autor. 25 SESMT (Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho) Ainda, o engenheiro de segurança do trabalho pode ser contratado para fazer parte do SESMT da empresa. Conforme diretrizes da NR-04 (BRASIL, 2016) apresentamos o quadro a seguir. Quadro 1 – Quadro II Dimensionamento dos SESMT Grau de Risco Nº de empregados Especialistas 50 a 100 101 a 250 251 a 500 501 a 1000 1001 a 2000 2001 a 3500 3501 a 5000 Acima de 5000 para cada gru- po de 4000 ou fração acima 2000** 1 Tec. Seg. Trabalho 1 1 1 2 1 Eng. Seg. Trabalho 1* 1 1* Aux. de Enferm. do Trab. 1 1 1 Enfermeiro do Trabalho 1* Médico do Trabalho 1* 1* 1 1* 2 Tec. Seg. Trabalho 1 1 2 5 1 Eng. Seg. Trabalho 1* 1 1 1* Aux. de Enferm. do Trab. 1 1 1 1 Enfermeiro do Trabalho 1 Médico do Trabalho 1* 1 1 1 3 Tec. Seg. Trabalho 1 2 3 4 6 8 3 Eng. Seg. Trabalho 1* 1 1 2 1 Aux. de Enferm. do Trab. 1 2 1 1 Enfermeiro do Trabalho 1 Médico do Trabalho 1* 1 1 2 1 4 Tec. Seg. Trabalho 1 2 3 4 5 8 10 3 Eng. Seg. Trabalho 1* 1* 1 1 2 3 1 Aux. de Enferm. do Trab. 1 1 2 1 1 Enfermeiro do Trabalho 1 Médico do Trabalho 1* 1* 1 1 2 3 1 (*) Tempo Parcial (mínimo de três horas) (**) O dimensionamento total deverá ser feito levando em consideração o dimensionamento de faixas de 3501 a 5000 mais o dimensionamento do(s) grupo(s) de 4000 ou fração acima de 2000. Obs.: hospitais, ambulatórios, maternidade, casas de saúde e repouso, clínicas e estabelecimentos similares com mais de 500 (quinhentos) empregados deverão contratar um enfermeiro em tempo integral. Fonte: adaptado de Brasil (2016, p. 35). 26 Conforme os dispositivos presentes na NR-04 (BRASIL, 2016), o SESMT tem como competência: • Aplicar os conhecimentos de engenharia de segurança e medicina do trabalho no ambiente de trabalho, incluindo máquinas e equipamentos, buscando eliminar e/ou reduzir os riscos aos trabalhadores. • Definir os EPIs (Equipamento de Proteção Individual), em conformidade com a NR-06, conforme os riscos encontrados no ambiente de trabalho, caso eles persistirem mesmo tomando todas as medidas cabíveis para sua eliminação e mitigação. • Colaborar quando solicitado nos projetos e na implantação de novas instalações, sejam elas físicas e tecnológicas da empresa. • Ser responsável tecnicamente pela orientação quanto ao cumprimento das NRs aplicáveis nas atividades executadas pela empresa. • Manter boas relações com os integrantes da CIPA, além de apoiá- la, treiná-la e atendê-la quando necessário. • Promover a realização de atividades de conscientização dos colaboradores, educando e orientando quanto aos riscos ocupacionais, doenças de trabalho e acidentes de trabalho, seja por meio de campanhas ou de programas permanentes. • Esclarecer e conscientizar os empregados quanto aos acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, estimulando-os sempre a favor da prevenção e da qualidade de vida das equipes de trabalho. • Analisar e registrar os documentos específicos de todos os acidentes ocorridos na empresa ou no estabelecimento, sejam eles com ou sem vítima, e todos os casos de doença ocupacional, 27 descrevendo a história e as características, mantendo um banco de dados dos sinistros da empresa. • Registrar mensalmente os dados atualizados dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais, bem como a verificação de condições insalubres e perigosas. • Elaborar planos de controle de catástrofes e acidentes, combate a incêndios. Capacitações, orientações e treinamentos O profissional da engenharia de segurança deve promover palestras, capacitações e orientações quanto aos equipamentos de segurança e as medidas de segurança nos ambientes de trabalho. A capacitação dos profissionais pode ser de forma preventiva ou por cumprimento de alguma normativa, como no caso da NR-35, que diz respeito aos trabalhos em altura, onde os funcionários precisam ter, antes de executar suas atividades em ambientes altos e com probabilidade de queda do trabalhador (considera-se alto quando acima de 2 metros de altura e com a presença de risco de queda), treinamento quanto aos riscos e formas de utilização dos EPIs e EPCs (equipamentos de proteção coletiva). Ainda, após as orientações, treinamentos e capacitações, o profissional deve coletar a assinatura dos trabalhadores que receberam o conteúdo, por meio da ficha de capacitação e treinamento. Este documento, por sua vez, certifica que os treinamentos foram ministrados e que os trabalhadores recebem os cuidados necessários para exercerem suas atividades. Desse modo, estes documentos precisam ser guardados nos arquivos da empresa, a fim de serem necessários por uma auditoria interna ou externa, ou em caso de solicitação judicial em um processo trabalhista. 28 CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) A CAT é um formulário que deve ser preenchido em caso de acidentes, sejam eles com lesões ou sem lesões, de trajeto, doença ocupacional ou quando houver morte do colaborador. Nesse sentido, é importante considerar que: • Acidente de trajeto ou de trabalho é aquele que ocorre no exercício da atividade profissional, em que o colaborador está a serviço da empesa ou no deslocamento de sua residência ao trabalho ou do trabalho para sua residência, e que provoque ao trabalhador alguma lesão corporal ou perturbação funcional que possa causar perda ou redução, seja permanente ou temporária, de sua capacidade ao trabalho. • Enquanto a doença ocupacional é aquela produzida ou desenvolvida pelo exercício laboral peculiar a certa atividade. Caso ocorra um acidente ou doença do trabalho, a empresa deve informar a Previdência Social, mesmo não havendo afastamento das vítimas, até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência. Em caso de morte, ela deverá informar imediatamente. Caso a empresa não informe sobre o acidente dentro do prazo legal, ela estará sujeita a multa (CORDEIRO et al., 2005). Banco de dados de acidentes e doenças ocupacionais Cabe ao responsável pela gestão da saúde e segurança do trabalho manter o registro de acidentes e doenças ocupacionais do ambiente laboral, bem como elaborar planos e medidas para eliminação e redução dos riscos causadores de acidentes e doenças nos trabalhadores. Esses registros podem servir como base para o desenvolvimento de medidas e controle de riscos, bem como indicaros locais onde precisam ser tomadas medidas de urgência quanto a qualidade de vida dos trabalhadores. O banco de dados de acidentes e doenças ocupacionais 29 em uma empresa é de extremo valor, muitas empresas não possuem essas informações. Desse modo, esta falta de conhecimento pode prejudicar a empresa, dificultando o processo de melhoria de seus pontos fracos quanto aos sinistros que ocorrem em seus ambientes laborais. FAP (Fator Acidentário de Prevenção) O FAP é um multiplicador que incide sobre o RAT (Riscos Ambientais do Trabalho, antigo SAT – Seguro Acidentário de Trabalho). Para que você entenda melhor, o RAT é uma forma de arrecadação do INSS para custear os benefícios aos acidentados que necessitam de auxílio do governo. Desse modo, o RAT incide sobre a folha de pagamento total da empresa, com os percentuais que dependem de seu ramo de atividade econômica. Entretanto, caso a empresa tenha a implantação de medidas que buscam a redução dos acidentes de trabalho, e estes sejam efetivamente reduzidos, por meio da não emissão ou redução da emissão de CATs, não é justo que ela contribua com uma alíquota alta do RAT. Nesse sentido, o FAP serve como um percentual que busca reduzir ou aumentar essa alíquota com relação à quantidade de acidentes ou doenças de trabalho que a empresa possuí. Nesse caso, a empresa que possuí baixo índice de acidentes de trabalho, terá um FAP que, quando aplicado ao RAT, sofrerá uma redução nos impostos a serem pagos na folha de pagamento dos funcionários da empresa. Por outro lado, caso a empresa tenha elevado número de acidentes, o FAP acaba sendo um fator multiplicador ao SAT, encarecendo a folha de pagamento da empresa (MATOS; HOSTENSKY, 2016). Essa medida funciona como um incentivo fiscal à aplicação da segurança do trabalho nas empresas. 30 LTCAT (Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho) É de direito do trabalhador saber os riscos e perigos que sua atividade pode proporcionar. Sendo assim, é responsabilidade do empregador identificar estes riscos e adequar o ambiente laboral de forma que não agrida à saúde e às condições laborais de seus funcionários. Para que estes riscos e perigos possam ser identificados, por sua vez, é necessário um estudo do ambiente de trabalho. Este documento é o LTCAT (Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho). O LTCAT é instituído pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e tem como objetivo conceder ou não a aposentadoria especial ao trabalhador que fique exposto à agentes nocivos (químicos, físicos e biológicos). Mas cuidado, o LTCAT não tem como objetivo caracterizar a insalubridade e nem a periculosidade. Logo, o objetivo do LTCAT é de informar se há ou não o direito de aposentadoria especial ao trabalhador. Desse modo, o LTCAT é um documento obrigatório para todas as empresas, independentemente da quantidade de trabalhadores e do segmento da empresa. Se na empresa houver um indicio de que existem suspeitas de atividades que sejam passivas de aposentadoria especial ao trabalhador, o LTCAT deve ser elaborado imediatamente. Laudo de Insalubridade e Laudo de Periculosidade Para caracterização da Insalubridade e Periculosidade é necessário um Laudo de Insalubridade/Periculosidade. Logo, esse é um documento importante tanto para assegurar o pagamento do adicional aos trabalhadores que a ele fazem jus, quanto para evitar um pagamento indevido do benefício. O Laudo de Insalubridade é exigido pelo Ministério do Trabalho e da Previdência, a fim de determinar se há direito ao pagamento de adicional de insalubridade. Já o LTCAT é um documento criado pelo INSS 31 para determinar se alguma atividade na empresa faz jus à aposentadoria especial. O laudo de insalubridade é baseado na NR-15, enquanto que o de periculosidade se baseia na NR-16. Perícias judiciais O profissional da Engenharia de segurança do trabalho também pode atuar como perito judicial, nos casos em que há necessidade de laudos para respostas de dúvidas das partes interessadas do processo judicial. 1.2 Fechamento dos conceitos abordados Em suma, o Engenheiro de segurança do trabalho tem a responsabilidade de zelar pela saúde e pela integridade física e psicológica dos trabalhadores, buscando sempre, primeiramente, eliminar e, caso não seja possível, minimizar os riscos no ambiente laboral. Estas medidas podem ocorrer por meio da elaboração de planos e ações de gerenciamento de riscos e acidentes, com base nas inspeções de segurança, fiscalização de equipes, de equipamentos, de maquinários, de condições de trabalho e de processos de fabricação. Ainda, o profissional tem como foco a orientação dos trabalhadores sobre a metodologia de trabalho correta e segura, utilização de EPIs, conscientização dos riscos de acidentes e capacitação das equipes de trabalho. Na Figura 2 podemos observar todos esses pontos e outros. 32 Figura 2 – Quadro resumo das responsabilidades do Engenheiro de Segurança do Trabalho Fonte: elaborado pelo autor. Por fim, você pode observar a importância do profissional da engenharia de segurança do trabalho, como um coordenador de equipes e gerente de riscos, visando a proteção das equipes de trabalho e da imagem 33 e recursos financeiros da empresa na qual presta seus serviços especializados. Referências Bibliográficas BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Higiene e segurança do trabalho. 2. ed. São Paulo: Érica, 2018. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. Norma Regulamentadora nº 01: disposições gerais e gerenciamento de riscos ocupacionais. Brasília, DF: Ministério do Trabalho e Previdência, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e- previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/ seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr-01.pdf/view. Acesso em 31 ago. 2021. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. Norma Regulamentadora nº 04: serviços especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho. Brasília, DF: Ministério do Trabalho e Previdência, 2016. Disponível em: https://www. gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/search?SearchableText=nr%2004. Acesso em: 31 ago. 2021. CORDEIRO, R. et al. O sistema de vigilância de acidentes do trabalho de Piracicaba, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 1574- 1583, out. 2005. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2005000500031. Acesso em: 7 jul. 2020. MATOS, A. B.; HOSTENSKY, E. L. Fator Acidentário de Prevenção (FAP) e Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP): indicadores para uma intervenção psicossocial. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 28, n. 1, p.145-150, abr. 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1807-03102015v28n1p145. Acesso em: 7 jul. 2020. https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/search?SearchableText=nr%2004 https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/search?SearchableText=nr%2004 https://doi.org/10.1590/S0102-311X2005000500031 https://doi.org/10.1590/1807-03102015v28n1p145 34 Bons estudos! Sumário Conceitos introdutórios da segurança do trabalho Objetivos 1. Introdução a higiene do trabalho Referências Bibliográficas Competência do Engenheiro de segurança do trabalho Objetivos 1. O papel do engenheiro de segurança do trabalho Referências Bibliográficas
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