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Coleção 9 – Estacas: modelos de comportamento, nega e repique elástico. 1) Carga de trabalho dessa estaca como elemento estrutural: 350 kN (vide tabela da coleção 8). Portanto, o objetivo do exercício é, como sempre, encontrar a profundidade na qual o solo é capaz de prover a mesma reação de 350 kN, com segurança adequada em relação à ruptura, em princípio por combinação de ponta + atrito lateral, de modo a tirar pleno proveito da seção transversal da estaca escolhida. Aoki-Velloso: z = 14 m (adotado coeficiente de segurança global = 2). Décourt-Quaresma: z = 17 m (adotados os coeficientes de segurança parciais de D-Q: 1,3 para a o atrito lateral, 4,0 para a ponta) Analisando o perfil e considerando que D-Q é usualmente tido como mais adequado a estacas pré-moldadas de concreto, eu ficaria com z = 17 m. 2) Já teria utilizado um processo empírico (somatória de SPT) na análise preliminar, teria encontrado z = 11 m, mas possivelmente não teria aprovado esse comprimento, considerando que SPT cresce bastante a partir de 2 metros mais abaixo. Provavelmente teria pensado que valeria a pena aprofundar um pouco mais para chegar a SPTs bem mais elevados (“economia” de 2 a 3 m de estaca pré-moldada de concreto não compensa o risco de comportamento insatisfatório). No entanto, dispondo de estimativa D-Q, não há motivo para regredir para algo mais empírico. Processos teóricos (baseados em tensões normais — dificilmente determináveis ao longo do fuste e sob a ponta — e parâmetros de resistência) raramente dão resultados confiáveis para os diversos tipos de estacas. Em se tratando de estaca cravada, utilizaria, sim, o ensaio de carregamento dinâmico (vide link no FundMoodle) para confirmar resultados. E, claro, nega para uniformização: diferentes pontos do terreno, diferentes perfis de resistência com profundidade, mas um desejo fundamental: obter mesmo comportamento, o que fatalmente levará a comprimentos diferentes, estabelecidos na cravação, com o controle de uniformidade da nega. 3) Fórmulas dinâmicas: o processo mais antigo de previsão de carga resistente, porém parte de hipótese incorreta de impacto entre dois corpos rígidos; é como se toda a energia do impacto fosse transmitida instantânea e uniformemente a toda a massa da estaca; ignora a deformabilidade da estaca e a propagação de uma onda de tensão nela. Por essa e outras imprecisões e incertezas é que se recomendam coeficientes de segurança tão elevados. Difícil arbitrar. Comparar com ensaio de carregamento dinâmico (vide link no FundMoodle). Hoje em dia, não utilizaria fórmulas dinâmicas para prever força resistente. Mas tentaria entender como cada executor utiliza a fórmula que, na experiência dele, melhor se adapta às previsões de comportamento do seu tipo específico de estaca, cravada com o seu bate-estacas típico. De modo geral, a experiência adquirida por ele permite previsões boas (executores de estacas tipo Franki, por exemplo, utilizam uma adaptação da fórmula de Brix). As duas fórmulas dinâmicas (e a correspondente planilha janbu.xls, disponível no FundMoodle) são apresentadas exatamente para que você se familiarize com o efeito de algumas variáveis sobre a carga resistente prevista. Observe o gráfico da planilha. Lembrando que as fórmulas dinâmicas são derivadas de um equilíbrio de energia, entenda porque Brix tem um comportamento muito diferente de Janbu para negas “fechadas”. 4) Martelo diesel é sempre mais eficiente do que martelo de queda livre, especialmente para estacas de maior diâmetro, pois a freqüência dos impactos é maior, mantendo a estaca em penetração praticamente contínua. Problemas: poluição ambiental (gases de óleo queimado), poluição sonora, mais vibração. Hoje em dia, no Brasil tende a ficar restrito a obras industriais afastadas dos centros urbanos. Já no mundo “desenvolvido” praticamente só se utilizam martelos diesel. Martelo de queda livre: para estacas pré-moldadas de concreto a NBR6122/2010 impõe WH/WP ≥ 0,75 e WH ≥ 20 kN, além de outros requisitos para situações específicas (itens D.3 e D.4). A rigor só a análise dinâmica, considerando a propagação da onda descendente de compressão ao longo do fuste e sua reflexão na ponta da estaca, poderia dar indicações seguras sobre peso do martelo e altura de queda. Em camadas que oferecem pouca resistência à penetração (inclusive no início da cravação) a onda refletida na ponta pode romper o fuste por tração (vide animações nos links do FundMoodle). No final da cravação (nega fechada) a superposição de ondas de compressão descendentes e refletidas também pode provocar a ruptura do fuste, agora por compressão. Esses limites são em geral atendidos de forma empírica, caso a caso. No caso em questão, parece razoável adotar WH = 20 kN e H = 0,5 m, levando a F > 3 com a fórmula de Janbu (verificar em janbu.xls) e nega 1 (1 cm para 10 golpes, ou 0,1 cm por golpe). Não trocar cepo nem coxim durante a cravação, tampouco paralisar a cravação e retomá-la posteriormente, de modo a não obter negas fechadas fictícias (energia gasta em deformação de elementos novos no primeiro caso, “cicatrização” no caso da paralisação). Em princípio, especificaria nega 1. Mas faria uma verificação na obra, cravando uma estaca-teste ao lado de uma sondagem conhecida, utilizada para o projeto, aferindo o valor da nega em função da profundidade prevista em projeto naquele ponto. Finalidade da nega: tentar garantir comportamento uniforme (com comprimentos diferentes!) em diferentes pontos do terreno, os quais podem, em princípio, apresentar diferentes perfis de resistência com profundidade. Há quem efetue o controle utilizando o repique elástico. Sempre desejável ter, em estacas cravadas, os resultados do ensaio de carregamento dinâmico (hoje em dia é o maior diferencial positivo das estacas cravadas). Controlar rigorosamente a altura de queda do martelo, as interrupções de cravação, verticalidade da estaca, etc.. A ABEF (Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia) dispõe de um Manual com especificações de execução e controle de diversos tipos de fundações (consultar link no FundMoodle). Última atualização: segunda, 30 setembro 2013, 10:46