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Título original: In this life Copyright © 2018 Cora Brent Copyright da tradução © 2021 por Cherish Books Ltda Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito das editoras. Publicado mediante acordo com a autora. Tradução: Hellen Dominique Preparação de Texto: Elimar Souza Revisão: Alessandra Telles Diagramação: AJ Ventura Capa: Gisele Souza Marketing e Comunicação: Elimar Souza Brent, Cora Uma vida Imperfeita/ Cora Brent; tradução de Hellen Dominique. Rio de Janeiro: Cherish Books, 2021. Tradução de: ASIN 1. Ficção americana I. Dominique, Hellen. II. Título. Todos os direitos reservados, no Brasil, por Cherish Books Rua Auristela, nº244 - Santa Cruz E-mail: cherishbooksbr@gmail.com mailto:cherishbooksbr@gmail.com SUMÁRIO Capa Nota Sinopse 1. Capítulo Um 2. Capítulo Dois 3. Capítulo Três 4. Capítulo Quatro 5. Capítulo Cinco 6. Capítulo Seis 7. Kathleen Doyle 8. Capítulo Sete 9. Capítulo Oito 10. Capítulo Nove 11. Capítulo Dez 12. Capítulo Onze 13. Capítulo Doze 14. Capítulo Treze 15. Capítulo Catorze 16. Capítulo Quinze 17. Capítulo Dezesseis 18. Capítulo Dezessete 19. Capítulo Dezoito 20. Capítulo Nove 21. Capítulo Vinte 22. Capítulo Vinte E Um 23. Capítulo Vinte E Dois 24. Capítulo Vinte E Três 25. Capítulo Vinte E Quatro 26. Capítulo Vinte E Cinco 27. Capítulo Vinte E Seis 28. Capítulo Vinte E Sete Epílogo Agradecimentos NOTA Por favor, respeite o trabalho da autora. Nenhuma parte deste romance pode ser reproduzida ou copiada sem permissão. Esse romance é licenciado apenas para o seu aproveitamento pessoal. Este romance é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é puramente coincidência. Qualquer similaridade a eventos ou situações é também coincidência. A editora e autora reconhecem o status e propriedade de todas as marcas e locais mencionados neste livro. Marcas e locais não são patrocinados ou apoiados pelas proprietárias. S INOPSE KATHLEEN Palavras que descrevem Nash Ryan: Solitário. Imprevisível. Perversamente gostoso. Imperdoável. Provavelmente não o tipo de homem que alguém deveria confiar um bebê. Definitivamente não o tipo de homem que alguma mulher deveria confiar seu coração. Quando Nash voltou para a cidade para cuidar de seu irmãozinho, eu pensei que eu soubesse exatamente quem ele era. Não seria a primeira vez que eu estava errada. Eu também achei que tivesse acabado de dar meu coração até que ele demonstrou outra coisa. Mas nós não temos chance, porque tudo está pronto para ser desvendado. E os segredos que eu mantive serão nossa ruína. NASH Esta não era a primeira vez que eu conhecia a tragédia. Talvez fosse porque eu sempre escolhi estar sozinho. Mas minha vida de solidão termina agora porque uma terrível mudança de acontecimentos me transformou no guardião legal do meu irmão de 4 meses. De repente eu tenho uma criança para criar e um negócio de família para salvar. Não há tempo para mais nada. Foi por isso que Kathleen Doyle e eu fizemos esse acordo. Antes uma garota nerd magra que costumava me seguir por aí, ela agora é uma mãe solteira com o cabelo em chamas, um corpo de matar e muitas responsabilidades. Nós dissemos um ao outro que seria só sexo. Nós dissemos um ao outro que não existiriam laços e nem expectativas. Nós mentimos. E as consequências vão custar caro. Mas eu não vou renunciar a essa família sem lutar. Porque nesta vida nós podemos ter apenas uma chance de ter tudo. 1 O C A P Í T U L O U M NASH celular começou a tocar no meu bolso de trás no exato momento que eu empurrei a chave na fechadura. Eu o ignorei e abri a porta do meu apartamento. A volta para casa de Portland tinha sido longa e minha adrenalina finalmente tinha passado. Agora o sangue seco tinha endurecido por cima da pele quebrada dos nós dos meus dedos. O corte ardeu quando minha animada cachorra pastor alemão lambeu a ferida com um gemido simpático. Enquanto isso, meu celular emitia mais um pedido de atenção e, depois, ficou silencioso. ― Calma, garota. ― Eu disse, me defendendo dela e indo em direção à pia da cozinha. Eu estremeci e flexionei minha mão debaixo da corrente de água fria. Peguei o antisséptico no armário à minha esquerda. Torci a garrafa com meus dentes e despejei-o sobre o ferimento nos dedos, sibilando um palavrão como um desgraçado quando a ferida latejou. O inchaço provavelmente continuaria por alguns dias e seria um saco quando cicatrizasse. E, ainda assim, não lamentei nada. Alguns arranhões rasos eram um preço aceitável a ser pago para ensinar uma lição a um babaca abusivo. Eu me lembrava, sorrindo, do gemido de dor do cara quando meu punho se conectou ao maxilar dele. Não, eu não me arrependi nada essa noite. Eu ainda estava no processo de lidar com minha mão ferida quando ouvi meu celular vibrar com um alerta de mensagem de voz. Meu olhar parou no relógio digital do microondas. Era duas e meia. Não há razão para uma ligação a essa hora. Eu vivia sozinho, não tinha namorada, e mal dizia duas palavras a qualquer um dos meus vizinhos. O único motivo que me fez dirigir a Portland essa noite foi porque um velho colega de faculdade tinha uma escala de seis horas na cidade e decidi então que até um filho da puta antissocial como eu poderia pôr os pés num bar vez ou outra. Depois que eu levei meu amigo ao aeroporto, eu voltei para o bar onde estávamos. Eu tinha um motivo, que a maioria das pessoas não aprovaria. Eu queria ver se o filho-da-puta que fez a garota chorar estava por perto. E ele estava. Ele era um idiota desleixado que continuou bebendo licor mesmo quando não estava aguentando mais. Quando ele saiu cambaleando, eu o segui. Ele parou para mijar numa esquina escura do estacionamento e não teve tempo de guardar o pau antes que eu batesse nele. Ele provavelmente atribuiu isso a um assalto do dia a dia até quando eu cheguei perto o suficiente para sentir o fôlego e o fedor do medo dele e sibilei: ― Nunca mais machuque uma mulher, porra! Ele entenderia o que essas palavras significam. Ele lembraria o jeito que torceu o braço da garota por trás dela e sussurrou alguma coisa enquanto a cara dela se torcia de dor, antes que ela se virasse para sacudir o punho dele. Pelo menos ela teve reação de acabar com ele e o filho-da-puta deve ter pensado que era o fim. Nem imaginou o tipo de cara que estava assistindo, do outro lado do bar. Depois que eu bati o babaca covarde contra a parede pela última vez com força, eu desapareci, despreocupado com os policiais. Não tinha testemunha em vista. Além disso, eu tinha estacionado a duas quadras de distância e puxei o boné de beisebol bem baixo para nenhuma câmera de rua pegar meu rosto. Eu não tinha planejado isso, não tinha saído essa noite com a intenção de pegar um imbecil se valendo da testosterona para cima de uma mulher só porque ele poderia. Eu nunca planejei essas merdas. Mas quando eu os encontrava, eu reagia. Eu tinha que reagir. Porque eu conhecia a terrível verdade. Muitas vezes nessa vida a justiça não acontecia a tempo de salvar quem mais precisava. Era o pensamento que me mantinha acordado à noite: se eu não interferisse, ninguém mais o faria. Roxie empurrou seu prato de comida e reclamou de novo, então eu dei água e um punhado de biscoito para ela, que mastigou feliz enquanto eu abria a porta do pátio feita de vidro deslizante e olhava a praia. Eu poderia ouvir as ondas do norte do Pacifico se lançando contra as pedras na escuridão. Mais cedo, o tempo estava calmo, mas agora o vento estava intenso, o ar de maio mais frio que o normal. Tudo sobre o meio ambiente me agradava: o frio, a falta de pôr do sol, as tempestades que saem do oceano friorento e golpeiam o litoral. Eu tenho morado neste apartamento há dois anos e eu tinha tudo de que precisava. Meu trabalho poderia ser feito de casa e minha renda era razoável. Isso pode parecer uma vida medíocre para algumas pessoas, mas honestamente eu não me sentia nem um poucosolitário. Eu não sentia falta de pessoas, na verdade. Inferno! Eu sempre poderia falar com minha cachorra se eu ficasse desesperado. Essa noite meu amigo balançou a cabeça tomando seu coquetel de uísque e Coca Cola e implorou para saber se eu estava tendo alguma diversão nesses dias. Eu sabia o que ele queria dizer e mudei de assunto porque não gosto de me explicar e porque ele não era aquele tipo amigo, de qualquer maneira. Se eu quisesse encontrar alguém bonita para me fazer companhia, eu sabia onde encontrar. Tinha uma faculdade movimentada a menos de 30 quilômetros de distância. Eu não fazia isso, não procurava uma cena no bar à procura de garotas animadas da faculdade porque eu não era mais o babaca fodedor casual que já fui um dia. Minha solitude tinha se enraizado muito. Nada e ninguém poderia tão cedo mudar minha mente sobre esse exílio autoimposto. Como se opondo aos meus pensamentos sobre solidão e exílio, o celular no meu bolso de trás tocou novamente. Eu fechei a porta do pátio de vidro deslizante e o peguei. O número na tela era desconhecido. Um número do Arizona. ― Alô? ― Eu disse, num primeiro instinto de bolhas desconfortáveis no intestino. ― Nash? ― engasgou uma voz. Era um choro. ― Nash, é a Jane. Jane. Tecnicamente a tia Jane. A irmã mais nova do meu pai deslizou pela vida numa névoa artística calma enquanto se envolvia no guarda-roupa do Steve Nicks. Nós mantivemos contato por e- mail, mas eu não me lembraria da última vez que falei com ela. Pode ter sido na última vez em que estive lá em Hawk Valley. Há quatro anos. Não, cinco anos. E agora, por alguma razão, Jane caçou o número do meu celular para me ligar no meio da noite. E ela estava chorando… ― O que aconteceu? ― eu perguntei e uma sensação de medo surgiu assim que eu lembrei de uma coisa que me esforcei para esquecer esses dias, que há pessoas no mundo com quem eu me importava. Entre soluços e palavras travadas, ela me contou tudo. Eu ouvi, mas não compreendi, não completamente. Eu deveria ter percebido que as piores coisas do mundo acontecem quando você não as vê chegando. O destino era o filho- da-puta mais cruel e eu deveria ter permanecido pronto para qualquer soco. Eu não estava pronto para essa angústia no primeiro momento que o merda chamado ‘destino’ dizimou a minha vida. Eu também não estava pronto agora. Puta que pariu! Eu nunca estaria pronto. 2 A C A P Í T U L O D O I S KATHLEEN ameaça sempre estava nas estações secas. Algum campista burro pode jogar um cigarro no mato espesso ou ignorar os avisos de fogueira para fazer uns cachorros- quentes porque sempre tem algum idiota que acha que as regras não se aplicam a ele. E, simples assim, dez mil hectares de pinheiros ponderosa virariam fumaça. As montanhas são pontilhadas com cidades pitorescas e cabanas por todos os lados e tinha muito em jogo quando o alarme tocou. As equipes de fogo entrariam em ação rapidamente para evacuar as áreas ameaçadas e elas trabalhariam incansavelmente até conter o perigo. Algumas vezes não era suficiente. Algumas vezes a combinação de vento e chamas frustrariam os melhores esforços que os homens poderiam fazer. ― Kat? A voz na porta da cozinha era estridente. Três batidas na madeira se seguiram. ― Kat, sou eu! Minhas juntas endurecidas reclamaram quando eu me desvencilhei da cadeira de madeira que eu me afundei quando o céu ainda estava escuro. Eu tentei atravessar o quarto antes que a minha mãe batesse na porta de novo e acordasse todo mundo. Ela não era famosa pela sua paciência. ― Por favor, silêncio. ― Eu sibilei quando eu rachei a porta. Minha mãe piscou para mim no meio da luz do amanhecer. ― Você está horrível. ― Ela me informou. A lista de qualidades dela nunca tinha incluído tato. ― Desculpa, eu não priorizei minha rotina de beleza essa manhã. ― Eu abri mais a porta para que ela pudesse passar. Ela trouxe o cheiro azedo de fumaça com ela, mas isso não poderia ajudar. Quando teve um incêndio nas montanhas próximas, a névoa e o fedor inevitavelmente flutuaram para Hawk Valley. Minha mãe foi direto para a garrafa de café, suspirou quando a encontrou vazia e com muito barulho começou a encher a garrafa na torneira. ― Há novos caminhões e equipes de incêndio em toda parte. ― Ela disse num tom que implicava que a presença deles estava arruinando o dia dela. ― Eu nem poderia pegar meu café nesta manhã. A linha estava a dez minutos do Ed. ― Que droga. ― Eu resmunguei, pensando em todas as pessoas que amariam que uns dez minutos de espera por um café fossem o maior de seus problemas essa manhã. ― Sim, foi mesmo. ― Ela disse, sem entender meu sarcasmo. A máquina de café apitou quando aquecido. Eu esfreguei meus olhos, começando a sentir os efeitos físicos dos horrores da última noite. Mentalmente eu não poderia ainda, não poderia absorver direito os tormentos emocionais que viriam. Não há fim no horizonte. Seriam muitas lágrimas e funerais e, no momento certo, a pura desesperança se acalmaria, mas não haveria fim. Só uma nova e triste realidade. E uma criança órfã. ― Kathleen, você está bem? ― Minha mãe parecia preocupada agora. Ela realmente não era uma sem coração. É que às vezes o medidor de sensibilidade dela emperrava. Peguei uma lágrima na minha bochecha. ― Não acredito que isso tudo é real. ― Eu disse. Ela assentiu e, pela primeira vez, uma expressão de dor passou pelo seu rosto. Heather era sua sobrinha, de qualquer forma. E ela era minha prima. ― Eu sei. ― Eu disse. ― Eu nunca pensei que eu veria o dia em que eu seria um pouco grata pelo câncer ter levado minha irmã tão nova. Mas eu tenho que dizer que eu estou feliz que ela não viveu para ver a morte de sua única filha. Eu estiquei a mão para pegar a caneca de cerâmica do armário acima da pia. Meus dedos passaram pela excêntrica coleção de xícaras em tons pastéis e se fecharam ao redor de uma caneca de lembrança que anunciavam uma fileira de extravagantes pinheiros verdes abaixo das palavras “Felicidade de Hawk Valley” numa caligrafia vermelha. Existiam dúzias como essa, vendidas na loja da Avenida Garner que pertence a minha prima Heather e administrada com o marido dela, Chris. Ela mesma as desenhou. Depois que eu servi uma xícara de café para minha mãe, eu enchi uma para mim mesma. Nós duas bebemos nosso café preto, uma das poucas coisas que tínhamos em comum. Nós bebemos nossas xícaras num silêncio triste enquanto eu pensava sobre como o mundo parecia diferente de doze horas atrás. Os ventos tinham ficado muito fortes na última noite, despertaram por alguma colisão meteorológica que provavelmente teria feito sentido para mim nos meus dias acadêmicos. Minha única preocupação era que o barulho manteria Emma e o bebê acordados. Felizmente minha filha de três anos e meio não tinha herdado meus péssimos hábitos de sono, mas o bebê era outra história. Ele tinha quatro meses de idade e era a primeira noite longe dos seus pais. Ele fez um rebuliço como o vento que batia nas paredes de fora e assobiava através das pequenas rachaduras que encontrou. Eu o balancei por uma hora inteira até que ele se acalmasse, mas eu não me importei. Era bom sentir o peso quente de uma criança de novo. Agora que a Emma passou pela primeira infância, ela frequentemente se recusava a ser abraçada. Quando a Heather me perguntou se eu cuidaria do bebê Colin por uma noite para que ela e Chris pudessem aproveitar um aniversário romântico na cabana deles no alto das montanhas, eu nem hesitei em aceitar. Ela quase mudou de ideia e o levou, mas Chris riu, chamou-a de mamãe coruja e os dois saíram para a viagem de aniversário sozinhos. Colin tinha finalmente dormido quando eu o ajeitei no berço portável no quarto da Emma e foi quando eu ouvi a primeira sirene. Poderia ser qualquer coisa. Um acidente de carro. Um cabo de força cortado. Eu não me debrucei sobre eles. Como eu estava de saída do quarto, Colin soltou o choro afiado e eu permaneci na entrada por um momento para ver se ele estava acordando, mas ele simplesmente caiu no sono mais uma vez. Horasdepois, eu fui acordada por uma ligação histérica da irmã do Chris, Jane. Ela era a namorada de muito tempo do chefe do corpo de bombeiros local, então ela ouviu as notícias antes. O incêndio tinha se movido rápida e impiedosamente, engolindo hectares inteiros meros momentos antes de de repente irromper uma chuva com fúria, não extinguindo completamente, mas dando às equipes a chance de lutar de volta. Os primeiros socorristas na cena tinham a péssima tarefa de checar meia dúzia de cabines que foram engolidas pelo fogo. Somente uma estava ocupada. Ainda seria necessária uma identificação formal dos corpos, mas todo mundo sabia que aquela cabine pertencia à família Ryan por gerações. E Jane confirmou às autoridades que o irmão dela e sua esposa tinham dirigido até lá ontem à noite. Agora eu não poderia parar de pensar sobre o solitário e agudo choro de Colin. Eu me questionava se aquele foi o momento que seus pais se viram cercados pelo fogo. E me perguntava se um dos mistérios trágicos do universo tinham acontecido, se aquela criança de alguma força saberia o que tinha acontecido há quilômetros lá nas montanhas. ― Mamãe? ― Emma entrou na cozinha como um anjo sonolento na camisola azul pálido. ― Oi, amorzinho. ― Eu disse, estendendo a mão para ela. Ela permaneceu onde estava, olhando para mim solenemente. Ela era grande o bastante para guardar memórias da última noite, de ser acordada pelo som dos adultos soluçando. ― Você está chorando. ― Ela disse. ― Venha aqui, minha garotinha linda. ― Minha mãe disse e se agachou com os braços abertos. Emma me olhou de relance e foi para a avó. Emma se permitiu ser levantada no colo da minha mãe. Bocejou e disse: ― Colin está fazendo barulho. ― Ele acordou? ― Perguntei. Ela assentiu. ― É, ele está fazendo barulhos. Eu tinha pensado que ouviria se ele chorasse. Abaixei minha xícara de café. ― Vou ver. Tinha sons ininterruptos vindo do berço do Colin, mas no segundo em que ele me viu, irrompeu em um lamento profundo. Eu o segurei enquanto dizia palavras calmantes e controlava a vontade de chorar para o meu coração não se quebrar em um milhão de pedaços por conta do quanto esse bebê tinha perdido. ― Alguém tem uma fralda fedorenta. ― Eu disse com um falso entusiasmo e eu fiz cócegas nele depois de colocá-lo no tapete de trocar. Ele sorriu para mim. Quando eu voltei à cozinha, encontrei minha mãe alimentando a Emma com um prato de biscoitos de chocolate, mas descobri que essa manhã eu poderia me abster de discutir sobre as vantagens de um café da manhã saudável. Peguei uma mamadeira da geladeira, uma que tinha sido preparada pela Heather e coloquei na cadeira com o bebê. Ele se agarrou ansiosamente a ela e me olhou com aqueles olhos azuis arregalados que me lembravam de outra pessoa. Heather tinha olhos castanhos. Seus olhos azuis vieram da família de Chris e parecia que Colin continuaria com eles. ― Você vai conseguir fazer isso por quanto tempo? ― Minha mãe perguntou. ― Fazer o que? ― Tomar conta desse bebê. Você já se exige demais entre seu trabalho, escola e cuidar da sua filha. Cerrei meus dentes. ― Está se oferecendo para ajudar? Ela evitou a questão. ― Os pais do Chris estão mortos, assim como a mãe da Heather. O pai dele está vivo, mas, confie em mim, ele certamente não vai contribuir. E não pense na confusão que é a irmã do Chris. Jane não consegue nem cuidar de si mesma. Emma estava nos observando com os olhos arregalados assim que mastigou todos seus biscoitos, por isso eu não retruquei que essa não era hora de difamar pessoas que estavam devastadas. ― Eu só estou pensando em você. ― Minha mãe fungou porque não respondi. ― Então me ajude passando meu celular. ― Eu disse. ― Está bem ali no balcão. Em algum momento enquanto eu cochilava na cadeira da cozinha, Jane me mandou uma mensagem. Eu levantei minhas sobrancelhas com a mensagem embora as novidades não fossem surpreendentes. Claro que ele viria. Chris tinha sido seu pai e, embora eu soubesse que eles não tinham uma boa relação, imaginei que as notícias tivessem sido um choque terrível. ― Nash está a caminho. ― Eu disse. ― Quem? ― Minha mãe perguntou. Suspirei. ― Nash Ryan. Filho do Chris. Lembra dele, certo? ― Ela franziu o rosto. ― Sim, vagamente. ― Ele está vindo de Oregon. Jane acha que ele estará aqui essa noite. Ela deu de ombros. ― Eu também não contaria com a ajude dele se é o que você está pensando. Na verdade, eu estava pensando em Colin. Eu estava pensando em como ele tinha um irmão que nunca conheceu e como esse irmão era agora o parente vivo mais próximo. Colin acenou seu pequeno punho no ar assim que terminou sua mamadeira e eu o apoiei no meu ombro para arrotar. Eu não tinha ideia do que esperar da volta do Nash Ryan. Já tinha um pouco desde quando o nome dele provocava todo tipo de sentimentos imprevisíveis dentro de mim. Por alguns confusos anos na adolescência, eu pensava que estava apaixonada por ele, antes de entender que amor não significa seguir cada passo de um cara enquanto consumida por uma cobiça obsessiva. Isso não era nada, apenas uma paixão patética que eu mal pensava. Eu só esperava que, pelo bem do menininho em meus braços, Nash tivesse interesse nele. Colin precisaria de todo amor que ele pudesse dar. Mais do que tudo, eu esperava que Nash tivesse se tornado um homem melhor do que os rumores diziam. 3 O C A P Í T U L O T R Ê S NASH crepúsculo estava aparecendo de novo no momento em que eu cruzei a fronteira do Arizona. Roxie segurava a cabeça e olhava para a janela enquanto voávamos pela paisagem lunar do deserto de Mohave. ― Acho que merecemos uma pausa. ― Eu disse, pulando na areia quase dois quilômetros abaixo da estrada. Minha cachorra era muito bem treinada, mas eu a mantive na coleira. A lua cheia estava começando a nascer no horizonte e as cores do céu combinavam tanto com a imensidão do deserto que parecia uma cena saída de um filme do Star Wars. Quando eu era criança, estive nesse caminho com meu pai. Estávamos indo ao Lago Havasu. Eu poderia lembrar de estar fascinado pelos espaços sem árvores, cheio de areia e aflição, tão diferente do verde de Hawk Valley, tão diferente do estuque urbano de cactos de Phoenix. Parecia impossível que ainda era o mesmo estado. Isso é o que as pessoas imaginam quando pensam no Arizona, esse deserto desolado. Mas não era tudo assim. Roxie se lambuzou na água que dei a ela quando voltamos ao caminhão. Eu engoli uma garrafa de água e olhei as estrelas que estavam começando a aparecer. Meu pai era muito ligado à astronomia. Ele fez algumas aulas na faculdade local, mas abandonou os estudos depois que eu nasci e ele sabia que teria que trabalhar para sempre numa pequena loja da família em Hawk Valley, onde uma graduação de astronomia era tão útil quanto mamilos em um homem. Mas ele nunca perdeu o amor pelo céu, sempre ia a um grande observatório em Flagstaff. ― Lá vai uma coisa sobre as estrelas, Nash. Independente de poder vê-las ou não, elas sempre estarão lá. Não há muitos fatos como esse no mundo. Eu alisei a garrafa de água vazia e a joguei no porta-luvas para que Roxie não pudesse mastigar. Depois da ligação de Jane, tive um ataque de fúria, arrumei as coisas apressadamente para pegar a estrada. Isso me mantinha longe de pensamentos. A última coisa que eu queria fazer era pensar demais. Dirigir fazia sentido porque eu não tinha nenhum outro lugar para levar Roxie e nenhum voo direto para o pequeno aeroporto regional há 60 quilômetros de Hawk Valley. Se eu voasse, eu teria que ir a Portland, esperar por um voo em direção a Phoenix e depois alugar um carro para duas horas de viagem até a cidade. Ou eu poderia fazer um sacrifício e dirigir, evitando todo esse aborrecimento. Sobre alugar algum quarto ou acomodação, eu descobriria quando chegasse lá. Não sabia quantos dias ficaria. Eu ficaria lá pelo menos até os funerais e até que eu soubesse sobre os cuidados do bebê. Já na estrada descobri que não havia como escapar dos meus pensamentos, não importava quanto eu me esforçasse.Os quilômetros de estrada vazios me deram muito tempo para pensar. E muitas memórias para relembrar. A última vez que falei com meu pai foi há 4 meses, no dia em que meu irmão Colin nasceu. Nós não conversávamos há muito tempo e também não tínhamos conversado desde então. Ele mandava fotos regularmente; fotos do bebê, fotos da Heather e do bebê, fotos deles três juntos como uma família perfeita e feliz. Talvez ele tivesse achado que todas essas fotos me motivariam a fazer uma viagem até aqui e conhecer meu irmãozinho. Eu pensei nisso. Mas Chris Ryan e eu éramos como óleo e água. Acreditava que, ficando longe, estava fazendo um favor à família dele. Eu sabia como as coisas mudariam se eu fizesse uma viagem até Hawk Valley. Meu pai e eu inevitavelmente entraríamos em alguma briga estúpida ou continuaríamos nos velhos padrões competitivos. Heather ficaria desconfortável no meio da discussão, ainda que meu pai e eu já tivéssemos problemas antes dela chegar. E, de qualquer forma, o bebê era muito novo para conhecer a merda que eu era. Por isso, invés de visitar e arrumar problemas, eu enviei à criança 500 dólares junto com um cartão piegas sobre felicidade, bênçãos e mais bobagens. De qualquer maneira, eu tinha certeza que eu não tinha nada a oferecer a um irmão nessa altura. Nós estávamos separados por 25 anos de muito choro alto. Eu via homens da minha idade se tornando pais, por toda parte. Meu próprio pai tinha um filho no jardim de infância quando tinha a minha idade. Ele e minha mãe eram praticamente crianças quando se conheceram numa festa em Phoenix e meu pai começou a ir até lá todo final de semana só para vê-la. Tenho certeza que eles não me planejaram. Legalmente eles não podiam nem pedir uma bebida quando eu nasci. Eles também não tinham ficado juntos por muito tempo. Eu não me lembrava de Chris Ryan como um pai afetuoso. Ele podia ser bem severo. Algumas vezes ele disse coisas que descobri que seriam difíceis de perdoar. É verdade que ele amadureceu nos últimos anos, mas a distância entre nós era muito grande. Eu sabia que ele tinha visto Colin como a segunda chance dele, a chance de recomeçar e cuidar de uma criança do jeito certo. E eu não queria interferir nisso. Em algum lugar no fundo da minha mente, eu achava que chegaria o dia em que teríamos outra chance. Talvez algum dia eu e ele poderíamos sentar na varanda da frente de sua velha casa com um par de cervejas e conversar como pais e filhos sempre fazem. Algum dia. Essa pílula de realidade era muito amarga para engolir agora. Eu não conseguiria digerir ainda. A escuridão diminuiu quando eu finalmente deixei os limites de Hawk Valley. O lugar parecia o mesmo desde a última vez que o vi. Hawk Valley era uma cidade parada no tempo, mantendo um tipo esquisito de charme enquanto tentava manter os pequenos negócios acima da água. Os reais ciclos do crescimento e da recessão econômica de Phoenix não tinham chegado tão longe e os compradores de casas de férias tendiam a passar pela cidade e escolher as cabines nas montanhas. Tinha uma pequena faculdade na periferia da cidade, mas em geral Hawk Valley era mais um lugar de passagem que dependia dos turistas dos arredores gastarem seus trocados nas lojas de lembranças na Avenida Garder ou optarem por um almoço rápido nas cafeterias locais. As pessoas que viviam lá apenas adquiriam e mantinham guardado o que tinham. Um acordo de guarda compartilhada significou que eu passaria os verões e férias aqui quando era criança. Depois do verão que completei 14 anos, eu me tornei cidadão permanente. Não foi uma escolha. Foi porque o pior pesadelo possível aconteceu. Mas essa era a última vez que gostaria de pensar nisso. A situação atual já era uma merda terrível o bastante para lidar sem pensar no passado. As notícias estavam por todo lugar na rádio local. O fogo varreu as montanhas de Hawk. Duas vidas perdidas. O fogo estava completamente contido a esta altura. Ainda não havia nenhuma informação sobre como as chamas tinham começado, mas com ventos fortes e condições de seca não precisaria de muito. O céu abrir e o fogo estar sob controle era uma pausa de sorte para as equipes de emergência. Só que isso não aconteceu rápido suficiente para meu pai e sua esposa. Noite passada, Jane estava muito desesperada para dar muitos detalhes. Enquanto eu estava parado no semáforo da Avenida Garner, tentei ligar para ela para avisar que cheguei. Estava preocupado com ela. Minha tia tinha um tipo de espírito muito frágil. Ela provavelmente não estava lidando muito bem com a morte do irmão. ― Alô? ― Jane, é o Nash. Estou na cidade. ― Nash! Ah meu Deus, isso tudo é tão péssimo e eu não consigo dizer como lamento. Jane está dormindo no meu quarto. Ela pediu para eu atender se você ligasse. Eu estava confuso. ― Quem é você? ― Ah, desculpa. Kat Doyle. O jeito prático que a mulher disse seu nome me fez pensar que deveria significar algo para mim. Procurei na minha memória, mas depois de 20 horas na estrada todas as conexões foram bagunçadas. ― Estou indo até a casa do meu pai. ― Eu disse, embora eu não soubesse o que esperar encontrar lá. Minha voz falhou na palavra ‘pai’. Quando eu dizia em voz alta, não podia escapar da verdade de que eu não tinha mais ninguém. Chris Ryan, o cara que me ensinou como pegar uma bola e martelar um prego estava morto. Claro, ele tinha seus defeitos. Como todo mundo. ― Por que você não vem para a minha casa? ― Kat Doyle disse. ― Eu sei que tem muita coisa para ajeitar, mas não precisa fazer tudo hoje. Jane mal descansou, mas ela vai querer conversar com você. E Colin está aqui. Tenho certeza que vai querer vê-lo. Eu digeri essa informação e pedi a Kat Doyle seu endereço. Eu não poderia começar a listar todas as coisas que eu precisava resolver. Jane não tinha condições de lidar com acordos do funeral. Não tinha ninguém do nosso lado da família que pudesse tomar as rédeas e eu sabia que Heather não tinha muita família próxima. Mas tudo isso poderia esperar mais algumas horas. A mulher que falava no telefone da minha tia estava certa. Eu queria ter certeza que meu irmão estava bem. Kat Doyle vivia num duplex entre duas casas onde alguma companhia de mineração tinha construído acomodações para seus empregados uns 80 anos atrás. As minas, que ficavam há 16 quilômetros, tinham sido fechadas desde a administração de Regan e, à primeira vista, a maioria desses restos de casas pareciam projetos primários desses programas idiotas de renovação de casas. A mulher que atendeu a porta tinha um longo cabelo avermelhado que enrolava no meio da cintura, um rosto vagamente familiar e um corpo que nem sua camiseta sem forma e sua calça de pijama de flanela poderiam esconder. Claro que eu me senti um idiota por reparar no corpo dela nessas circunstâncias, mas algumas coisas são difíceis. ― Nash. ― Ela disse e seus olhos verdes estavam cheios de calor e simpatia. ― Kat? ― Perguntei. Ela concordou. ― Você deve se lembrar que eu morava três casas depois da sua. Mas eu era uns anos mais nova. Alguma coisa se conectou. Eu reconectei a garota magra do cabelo vermelho de corte jovial com boné, que sempre usava largas camisetas de bandas de rock clássico. Kathleen Doyle era muito bem conhecida não pelo seu estilo ou pelas escolhas de guarda- roupa, mas porque ela era uma lenda local, um gênio que ganhou todos os prêmios acadêmicos já inventados pelo Distrito de Escolas Unificadas de Hawk Valley e geralmente fazia alguém passar vergonha. Ela também costumava me seguir por todo canto, mesmo que eu nunca a tivesse conhecido. ― Kathleen. ― Eu disse. ― Agora eu lembro de você. Um sorriso satisfeito se acendeu em seus lábios e depois apagou rapidamente. De repente os olhos dela se encheram de lágrimas. ― Heather era minha prima. ― Ela disse. ― Eu sinto muito, Nash. Ainda estamos todos em choque. Do lado de fora da porta de Kathleen, eu poderia sentir o cheiro de fumaça no ar. Estava por toda parte. Nunca mais eu conseguiria acender uma fogueira sem querer vomitar. Roxie colocou a cabeçapara fora da janela da caminhonete e latiu uma vez, apenas para me lembrar que ela ainda estava lá. ― Calma. ― Falei e ela gemeu, mas sentou no banco. ― Você trouxe sua cachorra? ― Kathleen perguntou, parecendo confusa. ― Sim. Vim dirigindo e não sabia quando voltaria para Oregon. Ela pareceu ponderar sobre isso e me lançou um olhar de avaliação que eu não conseguiria interpretar. Estalei meus dedos na direção da caminhonete. ― Roxie, fica. ― Voltei para Kathleen. ― Não se preocupe com ela. Ela foi bem treinada e a janela está aberta. Ela vai ficar bem. A cozinha de Kathleen Doyle parecia sair da cápsula do tempo de 1983. Mas, exceto por algumas louças na pia, tudo estava limpo e em ordem. ― Café? ― Ela ofereceu. ― Não, obrigada. Não sou um fã de cafeína. Ela serviu uma xícara mesmo assim, provavelmente para si mesma. ― Eu sou uma grande fã. ― Ela disse. ― Não sei como conseguiria passar por um dia de outra maneira. ― Ela abaixou a xícara. ― Quer que eu acorde a Jane? Ela está dormindo no meu quarto. Ela tomou um sedativo forte para se acalmar e Kevin Reston, namorado dela, não queria que ela ficasse sozinha já que ele foi cuidar dos assuntos do departamento de incêndio. Kathleen parou para tomar um gole do café. Ela se apoiou no balcão da cozinha, nos seus pés descalços e pijamas, e me observou. De novo eu senti que seus olhos verdes faziam uma rápida avaliação. Eu me apoiei na parede mais próxima e a observei de volta. Agora que eu estava em Hawk Valley, a realidade estava começando a me invadir. Meu pai e sua esposa estavam mortos. Meu irmãozinho estava órfão. Eu ainda não tinha chorado, mas, pelo jeito triste com que essa garota me olhava, ela sabia que eu queria muito. O incêndio tinha sido um ato furioso da natureza, então não tinha quem culpar, mas eu queria gritar e quebrar alguma coisa com minhas mãos. E mesmo que eu não tivesse derramado nenhuma lágrima, eu poderia facilmente me afundar no chão e chorar até o sol nascer de novo. Mas eu não faria nada disso na cozinha da Kathleen Doyle. ― Tem certeza que não quer café? ― Ela perguntou. ― Ou talvez um lanche? Eu poderia preparar algo se estiver com fome. ― Estou bem. ― Eu disse. Na verdade, a exaustão estava me atingindo. Eu não tinha dormido na última noite e depois passei 20 horas na estrada pensando em arrependimentos, perda, a época que meu ratinho de estimação morreu quando eu tinha 5 anos e meu pai fez um caixão com caixa de cigarro para ele, cavando um buraco e realizando um funeral muito sincero no quintal. ― Quer vê-lo? ― Kathleen perguntou. ― Vê-lo? A ideia era aterrorizante. Todo o dia eu afastei a minha mente para não imaginar ecos dos últimos gritos e visões de corpos queimados. Fazia sentido que os restos mortais tenham sido recuperados e trazidos para a cidade. Ver sangue nunca me incomodou, pelo menos não quando era meu. Mas eu sabia que me quebraria olhar o que sobrou do meu pai. ― Ele está dormindo no berço. ― Kathleen disse. ― Mas você pode dar uma olhada. Respirei, aliviado. ― Você está falando do Colin. ― Sim. ― Ela inclinou a cabeça. ― Claro que estou falando do Colin. Kathleen abaixou a xícara e fez sinal para que eu a seguisse. A cozinha era junta com a sala de estar, e depois a pequena entrada dá para dois quartos. Kat me levou para o menor e eu pestanejei, tentando ajustar meus olhos cansados à luz fraca. Tinha uma cama pequena ocupada por uma criança. Eu não fazia ideia da idade, mas percebi que era uma menina. Kathleen tocou o rosto da criança que estava dormindo e depois foi até o pequeno berço no canto. Ele dormia de bruços com os punhos debaixo da cabeça. Não acendemos a luz, mas algo na nossa presença o incomodou, porque ele franziu o rosto e soltou um suspiro alto como se fosse um animal pequeno sentindo dor. Depois seu rosto relaxou e ele respirou normalmente, voltando para o sono tranquilo. Algo intenso e estranho se revirou no meu peito enquanto eu o observava e me vi desejando ter vindo assim que ele nasceu. Meu pai achou que eu deveria. Ele pediu, até ofereceu para pagar a passagem de avião mesmo que eu não precisasse de dinheiro. Eu só precisava deixar uns velhos rancores de lado. E agora que eu finalmente estava aqui, era tarde demais. ― Você pode pegá-lo. ― Kathleen sussurrou. Eu me estiquei para tocar a bochecha do bebê e depois recuei. ― Deixe-o dormir. ― Eu disse. Kathleen colocou o cobertor de algodão em volta do corpo de Colin e eu dei uma última olhada antes de segui-la para fora do quarto. Ela fechou a porta gentilmente e sentou no sofá da sala de estar. Como não tinha outro lugar para sentar, eu fiquei perto dela. ― Ele é um bom bebê. ― Ela disse e eu percebi que os olhos dela estavam marejados de novo. ― Eles o adoravam, Heather e Chris. Heather estava tão feliz por finalmente ser mãe. Eles estavam tentando ter um bebê desde que se casaram, você sabe. Eu tossi uma vez e me mexi. ― Não, eu não sabia. ― Meu pai e eu não conversávamos sobre muitas coisas, isso quando nos falávamos. Por muitas razões. Algumas tinham a ver com Heather. O resto tinha a ver com nós dois. Kathleen suspirou e apoiou a cabeça no sofá. ― Hoje Jane recebeu uma ligação da Funerária do Brach que fica na Rua Hart. Eles estão tomando conta dos preparativos sem qualquer instrução da família. Ela deve ir lá amanhã conversar com eles. ― Eu vou resolver isso. ― Eu disse. Uma dor de cabeça maldita estava surgindo. Apertei o espaço entre as sobrancelhas. ― Quer uma aspirina? ― Sim, por favor. Kathleen voltou com um par de aspirinas e água. Ignorei a água e engoli as pílulas em seco. Ela sentou novamente e apontou para a mão enfaixada. ― O que aconteceu? Eu tinha esquecido do cara no beco. Parecia um incidente que tinha acontecido 3 anos atrás em vez da noite passada. ― Raspei meus dedos no concreto trocando um pneu furado. ― Eu disse. Eu era um mentiroso de merda. Isso não era fácil para mim. Ela não acreditou em mim. Eu notei. Tinha algo na mudança do olhar dela que indicou que ela sabia que eu era um merda. Mas ela era educada o bastante para mudar de assunto. ― Há quanto tempo, Nash? ― Ela perguntou. ― Há quanto tempo desde a última vez que veio? Uns 5 anos? ― Algo assim. ― Eu disse, me perguntando o quanto ela sabia sobre a última briga que tive com meu pai. Foi há 5 anos e, desde então, nossas conversas tinham sido bem cuidadosas. Mas eu me lembro muito bem da última noite. Coisas terríveis foram ditas. ― Vá em frente. Case com ela. Não dou a mínima. Acabou! Brigas como essa podem relaxar ou destruir tudo. Normalmente a última. Eu me perguntava o quanto essa mulher sentada no sofá perto de mim sabia. Afinal, ela era prima da Heather e se Heather confiava em Kathleen para cuidar de seu filho, então ela confiaria em contar seus segredos a Kathleen. Quando nossos olhos se encontraram, vi algo neles me dizendo que ela sabia de tudo. ― Nash, achei que tivesse ouvido sua voz. Levantei os olhos para ver Jane se juntando a nós. Ela estava com os olhos vesgos e o rosto amassado e parecia que ela estava segurando no quadro da sala para ter apoio. Saí de perto do sofá e embalei seu corpo magro assim que ela começou a chorar. Estava tarde e ninguém tinha condições de discutir algo sério, muito menos Jane. Kathleen ofereceu estadia para eu e minha cachorra de 30 quilos no seu pequeno apartamento, no entanto eu recusei. De qualquer maneira, estava feliz em aceitar a oferta de manter Colin aqui por um tempo. Eu tinha decidido encontrar um hotel que aceitasse animais de estimação em algum lugar na rodovia, mas Kathleen providenciou a chave da casa do meu pai e sugeriu que eu ficasse lá. Era óbvio que ela tinha tomado conta das coisas temporariamente, mas eu não estava em posição de discutir. ― Eles finalizaram a obra. ― Ela disse. ― E tem muitos quartos. ― Eu sei. ― Eu disse a ela. Eu vivi nessa casa. Por anos era uma monstruosidade vitoriana que meu avô nunca pensou em restaurar, até que ele entrou para um clube de golfe em Scottdale. Passou a ser um projeto do meu pai, sempre cheiode materiais de construção e quartos inacabados. Parece que ele finalmente terminou o trabalho. Jane não estava atenta o bastante para dirigir, mas ela insistiu em ir para casa, aí ofereci para levá-la. ― Que cachorra linda! ― Ela disse, se apresentando a Roxie, que estava feliz pela atenção de uma pessoa nova que ela arfava no assento entre nós. Jane morava com seu namorado numa cabana charmosa há 3 blocos de distância do centro da cidade. Ela parecia no mundo da lua acariciando Roxie, mas era compreensível. As últimas 24 horas foram um inferno para ela. Jane ainda era criança quando eu nasci e, mesmo que ela estivesse nos seus 30 anos agora, ela ainda tinha a vulnerabilidade de uma garotinha. Espero que a morte de seu único e amado irmão não seja o catalisador do seu limite. Pelo que eu sabia, ela esteve bem nos últimos anos. O namorado da Jane veio me cumprimentar quando a deixei. Kevin Reston ainda estava vestindo o uniforme do Departamento de Incêndio de Hawk Valley e a exaustão desenhada em seu rosto, mas ele sacudiu minha mão e desajeitadamente ofereceu seus pêsames antes de se virar para a minha tia. Eu esperei até fecharem a porta e fiz a única coisa que me restava. Fui para casa. A casa estava escura. Quando eu pisei na varanda da frente, chutei um objeto acidentalmente. Era macio e logo percebi que havia mais. Flores. Por toda a varanda. Eu poderia adivinhar que o cartaz perto da porta. As desajeitadas letras de mão que diziam “Chris e Heather, nós amamos vocês. ” Foi comovente, mas não inesperado. Hawk Valley se orgulhava de ser uma cidade pequena e minha família era bem conhecida aqui. As mortes trágicas de dois alicerces da comunidade deixara todo mundo em sofrimento. Roxie cheirava as flores enquanto eu me atrapalhava com a chave que a Kathleen me deu. As dobradiças rugiram quando eu abri a porta. Imediatamente fui transportado para a minha infância quando respirei o aroma de madeira velha e um mofo que nunca desapareceu. Era o cheiro de anos, vidas e gerações. Mas, por ora, eu só o sentia como o cheiro da tristeza. Procurei o interruptor perto da porta e a primeira coisa que notei foi que o lugar parecia muito diferente do que era há 5 anos. A estrutura ainda era a mesma, mas agora decorado com a mobília antiga e detalhes de bom gosto. A pintura estava mais brilhante, a iluminação foi reforçada e por todo canto tinha fotos que antes estavam cobertas. Eu parei em uma foto dos três: meu pai, Heather e o bebê. Provavelmente foi tirada depois que Colin nasceu. Eu recebi umas fotos dele usando a mesma roupa azul de marinheiro, mas apenas ele nas fotos. Eu nunca recebi essa foto dos três. Roxie passava seu nariz pelo chão discretamente, farejando todo canto. Seu rabo estava para baixo, como se ela soubesse que era um momento triste. Depois de alguns minutos, ela se ajeitou num tapete trançado e eu não conseguia tirar meus olhos do retrato de uma família feliz que tinha sido destruída. O casal sorridente com seu bebezinho não fazia ideia do que o destino tinha guardado. Tinha mais acinzentado no cabelo do meu pai do que eu me lembrava. Linhas mais profundas ao redor dos olhos. E Heather estava linda, seu cabelo cor de mel arrumado num coque. O braço do meu pai estava apoiado no ombro dela de forma protetora e ela segurava com cuidado o filho que nunca teria lembrança deles. Para Colin, Heather e Chris Ryan seriam apenas pessoas em fotos e histórias. Não conseguiria me acostumar à ideia. Nada nessa porra era justo. Depois que minha mãe morreu, eu não conseguia fazer nada além de chorar nos dias seguintes. Dessa vez eu não tinha derramado uma lágrima. Mas agora eu me afundava no chão da casa vazia do meu pai, finalmente desatando a chorar e soluçar até o peito doer. 4 A C A P Í T U L O Q U A T R O KATHLEEN previsão não declarou chuva para hoje, mas os céus se abriram e a multidão começou a se afastar da cerimônia. Tinha muitos rostos desconhecidos, pessoas de fora da cidade. Talvez fossem curiosos e mórbidos. O fogo e a tragédia se espalharam nas notícias: “O casal tinha uma loja de lembranças da pitoresca cidade de Hawk Valley. Eles deixaram para trás um filho ainda criança. Agora é com você, George, para as novidades do trânsito.” Um noticiário de alguma das estações de Phoenix estava rondando o estacionamento. Eu me perguntava se seria a mesma repórter que topou com Nash essa manhã. Ele mandou ela se foder antes que ela terminasse a frase. Enquanto as pessoas que estavam no cemitério começavam a recuar e olhar de relance para o céu ameaçador, Nash permaneceu no lugar com a cabeça inclinada e as mãos grandes dos lados. O pastor terminou a cerimônia e tocou Nash no ombro antes de seguir a multidão. Ele pareceu dizer algo, mas eu estava tão longe e parecia não ser importante de qualquer forma. Nash o ignorou. Meu salto esquerdo vacilou no chão escorregadio enquanto eu ia até Nash. Evitei olhar os dois caixões cobertos de flores. Não queria pensar no que havia dentro. Nash não olhou quando me aproximei e eu não pude olhar seu rosto. ― Nash. ― Eu disse enquanto a chuva se intensificava. ― Você está bem? Agora ele olhou. Um trovão alto marcou o momento. A expressão nos seus olhos azuis era tão angustiada que eu tentei consolá-lo. Mas Nash não era o tipo de homem que apoiaria a cabeça no ombro de alguém para chorar. ― Acabou. ― Ele disse e pareceu surpreso. Eu me questionava se ele tinha ouvido o culto ou se estava muito perdido em pensamentos. Esse não seria o primeiro funeral que ele passaria, não era a primeira vez que alguém que ele amava morria de forma tão brutal. ― Sim. ― Eu disse. ― Acabou. Era verdade. Pelo menos essa parte tinha acabado. As autoridades tinham recuperado os corpos rapidamente e o funeral pôde acontecer apenas 4 dias depois do incêndio. Muitas pessoas na cidade tinham oferecido ajuda, mas Nash insistiu em resolver tudo ele mesmo. Talvez ele gostasse de ter a cabeça ocupada. Talvez por isso ele estava tão ocupado passando tempo com o Colin. Faltava pessoas felizes para preencher o vazio e cuidar do bebê, cedo ou tarde, seria uma decisão difícil. Eu sabia o que Heather e Chris iriam querer. Minha prima me contou sobre a visita a Steve Brown há uns meses. O advogado provavelmente estava esperando o funeral para compartilhar o testamento. As pessoas se perguntavam e sussurravam entre elas. “E o bebê? O que vai acontecer com ele? ” E eu permaneci em silêncio porque eu não tinha o direito de fofocar, especialmente quando Nash ainda não tinha sido informado sobre o papel que seu pai pretendia dar a ele. De repente o olhar de Nash assumiu um significado mais profundo. Sim, o funeral tinha acabado. Mas agora ele tinha que descobrir o que viria. Nash andou ao meu lado em silêncio enquanto passávamos pelo mar de figuras de preto a caminho do estacionamento. Mesmo com a chuva constante, nós não ligamos. Segurei minha bolsa acima da cabeça como um guarda-chuva inapropriado, com o estrondo do trovão. Nash não pareceu notar que estava ficando encharcado. Nós nos esbarramos algumas vezes desde que ele voltou à cidade, mas nunca tínhamos ficado sozinhos juntos nem tivemos uma conversa pessoal. A energia entre nós não era exatamente esquisita, mas também não era confortável. Pelo que eu sabia do Nash, ele não foi embora pelo bem das boas maneiras. ― Seu carro? ― Ele disse, apontando para a estrutura velha do Ford que estava a um passo da morte súbita. ― Sim. ― Eu destranquei a porta do motorista. ― Vejo você na casa da Nancy? ― Perguntei a ele. Nancy Reston, frequentemente chamada de Santa Nancy, tinha sido prefeita de Hawk Valley por duas décadas e saiu no último outono, porque amava crianças e queria abrir uma creche. Ela tinha se voluntariado para realizar um encontro na sua casa depois do funeral para que a família não precisasse se preocupar com isso. A própria Nancy perdeu o funeral porque está cuidando do Colin e da Emma. Nash não respondeu e estava com o olhar perdido, então eu pensei que ele não tivesse escutado a pergunta.― Vai ter comida. ― Eu disse, sentindo que eu precisava completar o silêncio com palavras. Mesmo que estúpidas. ― Nancy contratou um bufê. Foi legal da parte dela. Nash não disse nada. Ele poderia ser uma estátua. A mandíbula quadrada, uma escultura absurdamente linda do lado do capô do meu carro. Eu limpei minha garganta. ― Eu queria perguntar o que você quer fazer essa noite. Nancy pegou Colin noite passada, mas eu ainda não sei se ela vai ficar duas noites seguidas. Posso cuidar dele essa noite se você quiser… Minha voz falhou porque eu finalmente percebi o que ele estava encarando. Daqui as Montanhas de Hawk eram apenas sombras irregulares. O cheiro de fumaça tinha desaparecido e de longe não havia nenhuma pista sobre o tipo de desastre que tinha acontecido lá. Você teria que olhar mais de perto para ver as cicatrizes deixadas pelo fogo. A dor me inundou. Tinha sido uma companhia constante ultimamente, mas agora o sofrimento se tornou devastador. Heather era nove anos mais velha do que eu, então nós não éramos tão próximas. Na minha humilde opinião, minha alegre e loira prima era um tanto vaidosa e superficial. Mas quando eu voltei para Hawk Valley há quatro anos como uma estudante grávida que largou tudo, tinha acabado de sair de um relacionamento tóxico e não sabia de nada, Heather colou em mim e se tornou minha maior campeã. Ela me ajudou a encontrar emprego. Ela estava lá no hospital segurando minha mão quando Emma nasceu. E quando ela viu o tão esperado positivo no teste de gravidez da farmácia, foi para mim que ela ligou para contar a novidade. As lágrimas que eu tentei segurar durante todo o funeral agora ameaçavam me engolir. De repente braços me envolveram, braços fortes me levantaram da queda e me apertaram contra seu peito largo. Envolvi meus braços em volta de seus ombros e inspirei o aroma amadeirado de sua loção pós-barba. Nash não disse nada quando me segurava e estava tudo bem. Durou pouco e naquele momento éramos apenas duas pessoas angustiadas e agarradas uma na outra no estacionamento de um cemitério enquanto a chuva fria caía. Eu não me lembraria da última vez que eu tinha sido segurada por alguém e eu ficaria agarrada nele por mais tempo com muito prazer. Mas Nash recuou. ― Te vejo mais tarde. ― Ele disse antes de se dirigir à caminhonete. Eu não tinha uma ideia clara se ele apareceria na Nancy ou se ele preferiria que eu cuidasse de Colin essa noite. De qualquer forma, eu não queria insistir por respostas, então suspirei e entrei no meu carro. Me livrei do blazer molhado, aliviada que a blusa de baixo estava quase completamente seca, antes de fazer uma visita rápida a casa de Nancy Reston. A casa ficava na parte mais velha da cidade, apenas duas ruas de onde Nash e eu crescemos. Anos atrás minha mãe vendeu sua casa antiga que ficava nessa vizinhança e se mudou para um novo condomínio do outro lado da cidade. Como um grande apreciador do estilo vitoriano, Chris Ryan tinha passado anos restaurando sua casa, e eu poderia presumir que a casa pertencia a Nash agora. Bom, Nash e Colin. Nancy tinha convidado apenas os amigos e a família de Chris e Heather, então não havia um número grande de pessoas para lidar. A antiga prefeita de cabelos prateados me cumprimentou na porta com um abraço caloroso e providenciou uma toalha rosa bordada para meu cabelo úmido. Eu ainda estava parada na entrada, secando meu cabelo bagunçado, quando o pequeno furacão que era a minha filha me encontrou. ― Oi, amorzinho. ― Eu disse, tentando pegar a garota risonha nos braços. Emma não era uma criança que gostava de colo. Ela se revirou. ― Olha o que a vovó me deu. ― Ela anunciou, segurando uma nota de cinco dólares triunfantemente. A última vez que minha mãe deu dinheiro a Emma, minha filha decorou a cara do Abraham Lincoln com giz de cera vermelho e embrulhou a nota numa bola de barro. A lição que deveria ter sido aprendida era evitar dar dinheiro a uma menina de três anos de idade, mas às vezes minha mãe era uma aprendiz lenta. ― E onde está o vovô? ― Perguntei a ela. Emma apontou. ― Ali. ― Ela franziu o rosto e meu coração saltou porque ela parecia exatamente como seu pai. Eu deveria ter me acostumado com a semelhança, mas, por alguma razão, isso ainda me pegava desprevenida. Emma resistiu quando a peguei pela mão, mas eu não poderia deixá-la solta em uma casa com todos os tipos de problemas. Nancy tinha as mãos ocupadas cumprimentando os convidados que chegavam. Minha mãe fez um aceno de onde estava, perto da janela, ao lado do tio Ben, o membro vivo mais velho da família. As mãos magras e o rosto dele pareceram confusos quando minha mãe falou algo em seu ouvido entre as mordidas da torta de limão. Emma parou de tentar tirar minha mão quando eu a levei até a mesa de comidas e enchi seu prato de fruta. Emma amava morangos do jeito que crianças amam barras de chocolate. Jane sentou no pequeno sofá com o Colin cochilando em seus braços. A postura dela era meio dura e ela mantinha os olhos no bebê. Jane não se voluntariou para segurar o sobrinho e nunca se ofereceu para tomar conta dele. Primeiro eu achei que Jane tinha medo da criança, mas observando-a nos últimos dias eu não acreditava mais nisso. Jane não estava com medo do bebê. Ela estava com medo dela mesma, talvez da sua habilidade de segurá- lo apropriadamente. Heather uma vez a descreveu como ‘terrivelmente frágil’ e essa era uma descrição perfeita. Eu sabia dos rumores sobre sua história. Os términos. Ela aparentemente tinha se mantido estável por um tempo, mas desde o incêndio ela parecia estar mais reservada. Heather e Chris tinham tomado a decisão por uma razão. Jane nunca teria jeito para cuidar de Colin. Eu coloquei Emma com seu prato de morangos numa cadeira perto, que ficou muito à vontade perto de Jane. ― Quer que eu segure ele? Sua reação de alívio foi imediata. ― Sim, obrigada. Colin acordou quando veio para os meus braços. ― Oi, homenzinho. ― Eu disse e ele sorriu. Eu o coloquei numa posição mais ereta, imaginando se já era hora da mamadeira, mas por um momento ele parecia feliz por colocar a cabeça no meu ombro e eu tentei pegar meu pesado cordão turquesa. ― Ele te ama. ― Jane disse, meio melancólica. Eu não falei que Colin era um bebê e não sabia como amar alguém. Bebês precisavam de coisas. Conforto, comida, troca de fralda, afeto. Eles ainda não tinham nada para oferecer em troca. Kevin Reston apareceu com um cardigã pesado. Ele delicadamente cobriu os ombros de Jane. ― Você está bem, querida? ― Ele perguntou com uma ternura que fez meu coração parar um pouco. Jane não tinha tido sorte em muitos aspectos da sua vida, mas ela tinha sido sortuda o bastante para encontrar o amor. Muitos de nós procuraremos para sempre e só encontraremos algumas imitações baratas. ― Estou bem. ― Jane disse, mas qualquer um que olhasse para ela duvidaria. Havia círculos escuros embaixo de seus olhos e seu corpo parecia mais fraco do que nunca. Eu duvidava se ela estava dormindo realmente. Ou comendo. ― Mamãe? ― Emma chamou. ― Podemos ir para casa agora? ― Ainda não, amor. ― Eu quero cuidar do Bruno. ― Ele ficou preso no quarto de trás. ― Kevin disse, se referindo à esperta mãe da raça terrier. Ele sorriu para Emma. ― Senão ele estaria pulando em todo mundo e roubando toda a comida. Emma considerou e depois mudou de tática. ― Eu queria ir no quintal. ― Está chovendo, Ems. ― Eu disse a ela. Ela cruzou os braços e pareceu infeliz. Os dias depois do incêndio têm sido confusos para ela. Kevin limpou a garganta. ― Na verdade, eu estava lá fora e a chuva parecia diminuir. ― Ele piscou para Emma. ― O que você diz? E se a gente resgatar Bruno e levá-lo para correr pelo quintal? ― Kevin me olhou de relance. ― Se estiver tudo bem com a sua mãe. ― Mais do que tudo bem. ― Eu disse. ― Obrigada, Kevin. Kevin tentou levar Jane para acompanhá-los até o quintal, mas ela sacudiu a cabeça e enrolou o suéter mais ainda pelo corpo. Depois que a Emma saltou, ao lado do chefe de bombeiros de Hawk Valley, Jane esticou a cabeçaao redor. ― Onde está Nash? Eu ia admitir que não tinha certeza se ele viria quando a campainha tocou. Nash entrou parecendo ligeiramente menos encharcado do que no cemitério. Eu precisava admitir, ele combinava com o estilo desarrumado. ― Aqui está ele. ― Jane disse e um sorriso tímido se abriu em seus lábios. Nash se esquivou da tentativa da Nancy de secá-lo e depois ficou estranhamente parado na porta do salão, analisando a reunião silenciosa. Seu olhar parou em Colin, que ainda estava bem aninhado no meu ombro esquerdo. Eu desejei que tivesse uma janela na cabeça de Nash Ryan para ver o que ele estava pensando. ― E Steve Brown está aqui. ― Jane percebeu e havia surpresa em sua voz. O advogado era o tipo de cara que se mantinha nos cantos de qualquer sala e era fácil de perdê-lo de vista. ― Me pergunto o motivo. ― Steve e Chris eram bons amigos. ― Eu disse gentilmente, pensando se ela já deveria saber da verdade. ― Eles estudaram juntos. Steve Brown se aproximou de Nash. Ele tinha a aparência típica de um advogado: ligeiramente careca, acima do peso e muito sério. Ele tem trabalhado no andar de cima de um prédio de tijolos na Avenida Gardner desde que eu me lembrava e solenemente mantido os segredos legais de muitos dos moradores mais antigos de Hawk Valley. ― Oh. ― Jane suspirou. ― Certo. Esqueci. Mesmo com os murmúrios suaves de Steve, captei as palavras ‘amanhã’ e ‘meu escritório’. Nash parecia irritado. ― Vamos conversar agora. ― Ele disse, um pouco mais alto que o necessário. Steve obviamente não gostou da ideia, mas suspirou e acompanhou Nash para fora do cômodo, provavelmente para um lugar privado. ― E agora? ― Jane questionou. ― Não tenho certeza. ― Disse eu. Claro que não era verdade. Eu sabia exatamente por que o advogado e amigo de Chris se sentiu obrigado a encurralar Nash apenas uma hora depois do funeral de seu pai. Não havia apenas a questão da loja, da casa e das posses. Essas coisas podiam esperar. Mas a criança não. Colin balbuciou perto do meu ouvido e eu acariciei suas costas pequenas, sentindo uma emoção maternal intensa. Ele não era meu filho, mas eu o amava. Eu lutaria para protegê-lo. Na minha cabeça, comecei a catalogar tudo que sabia sobre Nash Ryan. Solitário. Imprevisível. Desapegado. Perversamente gostoso. Imperdoável. Não parecia uma boa receita para um pai. A relação entre Nash e Chris sempre foi tumultuada. Ainda assim, Chris escolheu acreditar no melhor do primogênito. Depois de tudo que ouvi sobre Nash Ryan, Chris e Heather deviam ter suas razões para acharem que ele seria o melhor guardião. Minha opinião ainda pairava no ar. Até agora, Nash não tinha passado confiança em relação a Colin. Jane optou por dar uma olhada no quintal, depois de tudo. Colin começou a se agitar depois de alguns minutos, então decidi preparar uma mamadeira para ele. Felizmente Nancy tinha uma pronta na geladeira. Havia uma cadeira de balanço aconchegante na cozinha, então eu sentei e deixei Colin à vontade com a mamadeira. A janela na minha frente tinha uma bela vista do quintal. Emma parecia viver o melhor momento de sua vida, correndo pelo gramado da Nancy com o cão terrier atrás, o rabo fofo balançando animadamente. Jane também estava lá agora e Kevin colocou um braço protetor ao seu redor enquanto eu observava. Emma jogou uma pequena bola vermelha no ar e depois gritou com alegria quando o cachorro pulou e a pegou. Sorri. Era bom sorrir depois de tantos dias tristes seguidos. Uma sombra na porta me fez virar a cabeça e parei de sorrir. Nash estava lá, aparentemente chocado e mais do que um pouco pálido. Ele observava Colin, que estava mamando feliz e inconsciente dos olhares. ― Você quer segurar ele? ― Perguntei. Esperava que Nash se recusasse. Eu estava certa. ― Agora não. ― Ele disse. ― Então quando? ― Minha pergunta foi afiada. Não era a intenção. Mas eu não vi Nash segurar o bebê uma única vez. Ele respondeu minha pergunta com outra: ― Onde está a Jane? Apontei para a janela. ― Lá fora. Nash abaixou a cabeça e se direcionou para a porta dos fundos. ― Ele te contou, né? ― Eu deixei escapar. ― Steve te contou sobre o testamento. Nash me encarou. ― Você sabia? ― Sim. ― Tentei ler sua expressão. ― Aonde você está indo? Mas Nash já tinha provado que ele não responderia as perguntas que não quisesse. Talvez ele ainda não soubesse as respostas. Ele saiu da cozinha e eu observei pela janela enquanto ele falava com o tio. Ele passou a mão pelo cabelo escuro e olhou de relance para a janela. Nossos olhos se encontraram e um desconforto passou pela minha coluna. Eu me perguntava, e temia, qual teria sido a reação de Nash quando soube que tinha sido nomeado o guardião do seu irmão mais novo. Pela expressão em seu rosto, ele não parecia estar digerindo bem a notícia. 5 ― E C A P Í T U L O C I N C O NASH u? ― Não pude acreditar. ― Você só pode estar me zoando, porra. Steve Brown, advogado e amigo de longa data do meu pai, levantou uma sobrancelha, mas discretamente confirmou que não, ele não tinha o costume de brincar por ali sobre acordos de guarda de criança. Meu pai e Heather tinham mesmo me nomeado o único guardião do meu irmão de quatro meses. ― Você também é o testamentário das posses. ― Steve explicou. ― Os maiores bens são a casa e a loja, metade deles será de Colin, mas você estará autorizado a tomar as decisões financeiras. Nash? Eu o deixei para trás balbuciando sobre responsabilidades e outras merdas sozinho e procurei um dos meus parentes para me explicar algumas coisas. ― Você parece triste. ― Jane disse no quintal da casa de Nancy Reston depois de eu contar um resumo da conversa com Steve Brown. Kevin Reston manteve seu braço ao redor da minha tia e me lançou um olhar cauteloso. Eu não poderia culpá-lo. Ele se lembrava de mim como um adolescente idiota que eu era quando ele se voluntariou para ajudar o time de futebol do colégio de Hawk Valley. ― Fui pego de surpresa. ― Eu disse, percebendo que não estávamos sozinhos no quintal. Um cachorro e uma garotinha estavam pisando nas flores de Nancy. Já tinha visto a garotinha algumas vezes por perto nos últimos dias para reconhecê-la como a filha da Kathleen. Tentei organizar meus pensamentos. ― É muita coisa para digerir. Tinha que ser o eufemismo do século. O relacionamento com meu pai era uma droga. Sempre presumi que ele não me olhava com muito respeito. Ele mesmo me falou tantas vezes. Então por que raios ele me nomearia o guardião de Colin? Tinha que ter outras opções. Não meus avós. Eles estavam mortos há anos. A mãe de Heather se foi. Câncer ou algo assim. Seu pai malandro ainda estava vivo, mas ouvi que ele estava morando em Idaho e resmungou “vadia estúpida” quando viu no jornal que sua única filha estava morta. Ele nem tinha vindo ao funeral. E não Jane. Ela teria sido a escolha óbvia. Se ela fosse estável. Minha tia era uma boa pessoa, mas quando eu estava no ensino médio ela passou nua pelo restaurante Chicken Delight próximo de Boland gritando “Parem a carnificina! Salvem os frangos!”. Jane não era uma cuidadora. Jane era uma pessoa que precisava de cuidados. Eu ainda não entendia como eu fui parar no topo da lista. Chris e Heather Ryan viveram em Hawk Valley durante a vida toda. Eles não podiam andar até a caixa de correio sem tropeçar em meia dúzia de amigos. Pelo menos alguns deles tinham emprego fixo e instintos paternos. Kathleen, por exemplo. Quando a encontrei na cozinha alguns minutos atrás, ela parecia estar em uma propaganda sobre maternidade, o tipo de mulher que apareceria em um comercial de cenourinhas orgânicas, ou algo do tipo. ― Você vai ter que ficar na cidade agora. ― Jane disse e percebi que a ideia a fazia feliz. Ela tomou como certo que eu me lançaria na chance de abandonar minha vida antiga e virar um pai momentâneo. Porra. Passei a mão pelo meu cabelo úmido e tentei pensar. Eu nunca tinha trocado uma merda de fralda. Levantei os olhos e vi que Kathleen Doyle estava me observando pela janela da cozinha. Nos braços dela, meu irmãozinhocontinuava feliz sugando a mamadeira. Ele não sabia que era órfão. Ele não sabia que a infância feliz e tranquila que seus pais imaginaram para ele se foi. Eu era uma pessoa egoísta. Alguns podem me achar perigoso. Mas meu coração não era frio o suficiente para não sentir nada por aquele ser humano minúsculo que agora era minha responsabilidade. Meu pai e Heather sabiam o tipo de homem que eu era. Se eles deixaram Colin sob meus cuidados, era porque eles não tinham uma opção melhor. E, de qualquer forma, eles deviam pensar que isso nunca aconteceria. Eu tinha sido escolhido por precaução. ― Nash? ― Jane chamou porque eu virei bruscamente e voltei para a porta da cozinha. Colin tinha terminado a mamadeira e Kathleen estava dando palmadinhas nas costas dele. Ela observou assustada quando eu entrei no cômodo de novo. Eu não tinha certeza do que ela pensava sobre mim, mas eu também não ligava muito. Eu tinha apenas uma prioridade agora e não era ela. ― Posso segurá-lo agora? ― Perguntei. Uma sobrancelha levantou de surpresa e ela olhou de relance para Colin como se ela quisesse ouvir o que ele tinha a dizer sobre isso. Depois ela concordou e levantou facilmente da cadeira barulhenta. ― Claro. ― Ela disse, dando três passos graciosos. Eu me estiquei, mas ela recuou e me deu um cobertor. ― Você ainda está molhado da chuva, então cubra o peito. E espera, coloque seus braços perto do corpo. Você está segurando um bebê, não pegando uma bola. Kathleen Doyle certamente gostava de dar ordens, mas eu estava disposto a aceitar uma ajudinha. Se ela achava que eu não sabia o que estava fazendo, ela estava certa. Mas eu aprenderia. Eu aprenderia tudo que precisasse. Colin choramingou de protesto quando foi tirado do conforto dos calorosos braços de Kathleen para o meu colo estranho. Pensei que ele fosse mais pesado. Ele olhou para mim e um franzido surgiu na testa, como se ele se questionasse o motivo de estar no colo de um estranho com a barba por fazer. O cabelo na cabeça era pequeno e loiro, como o de sua mãe. De repente tive a lembrança de Heather jogando o seu para trás e rindo de alguma coisa. Foi algo que eu disse, mas eu não conseguia lembrar o que. Eu não era um cara engraçado. Se bebês eram capazes de duvidar, definitivamente era dúvida nos olhos dele. Ele não pegou aqueles olhos de Heather. Eles eram azuis claros, como os de meu pai. Como os meus. A boca dele se franziu de repente e eu pensei que ele choraria. ― Está tudo bem. ― Eu disse. ― Sou eu. Seu irmão. Tentei tocar sua bochecha, mas ele pegou meu dedo, enrolando sua mão com mais força do que eu podia esperar. ― Não se preocupe, Colin. ― Eu disse com uma confiança que eu não sentia. ― Não vou a lugar nenhum. Era verdade. Eu realmente não iria a lugar nenhum. Eu não poderia levá-lo ao meu apartamento minúsculo de um quarto ao lado do oceano. A vida que eu tinha era solitária e às vezes ótima e acabou. Os pais de Colin queriam que ele crescesse aqui e não havia mais ninguém para fazer esse trabalho. Minha vida tinha sido irrevogavelmente alterada e eu sentia a necessidade de contar a alguém. Levantei o olhar e vi Kathleen Doyle me observando. ― Eu vou ficar aqui. ― Falei para ela, caso ela ousasse discutir comigo. Ela não fez isso. 6 A C A P Í T U L O S E I S NASH lguma coisa gelada tocou minha orelha direita. Eu poderia ter dormido se não fosse pela enxurrada de latidos estridentes. Quando tentei me virar, Roxie pulou no meu peito. ― Dá um tempo. ― Eu murmurei, sabendo que tinha que ser muito cedo porque eu ainda estava morto de cansaço. Roxie me bateu com sua pata. “Woof.” A cachorra não era a única fazendo barulho. O lamento tristonho de um bebê alcançou meus ouvidos e, por um instante, fiquei confuso sobre o motivo de ter som de choro de bebê ecoando pelo meu apartamento. Depois eu lembrei que não eram apenas sons. As orelhas da cachorra se abaixaram e ela gemeu olhando para a porta aberta do quarto antes de pular da cama. ― Estou acordado. ― Resmunguei, pisquei forte para clarear um pouco a mente. Eu estava no meu antigo quarto, o quarto na casa do meu pai que não foi tocado pelo projeto de renovação. Carros de esporte e mulheres seminuas ainda decoravam as paredes, congelados no tempo como um adolescente. O quarto era o mesmo de quando eu morava aqui. Todo o restante tinha sido mudado. Roxie latiu novamente. A tradução era outra, “Faz aquela criança parar de chorar” ou “Por que você está aí coçando o pinto ao invés de cuidar do bebê? ” ― Estou indo. ― Eu gemi, com um bocejo abafado. O quarto de Colin era no outro lado do segundo andar, bem ao lado de onde tinha sido o quarto de seus pais. E até agora eu tinha evitado olhar lá. Mesmo a visão da porta fechada já fazia eu me sentir mal. Eu esperava que eles tivessem morrido dormindo, a fumaça do fogo rápido ultrapassando-os antes que eles tivessem a chance de reagir. Mas eu soube que não foi o caso. Meu pai e sua esposa tinham sido encontrados perto da picape. Antes de perceber o incêndio, meu pai deve ter segurado Heather e corrido até o veículo, torcendo para escapar. Nesse momento, eles devem ter percebido que já era tarde demais. As mãos deles ainda estavam juntas quando o resgate os encontrou. Parei na porta do quarto de Colin. Quando eu morava aqui, o pequeno quarto com papel de parede cinza era usado para armazenar o estoque da loja do meu pai na Avenida Gardner. Agora era uma explosão de cores com animais pintados nas paredes em meio a cenas felizes cheias de balões, sóis sorridentes e arco-íris. Um ursinho de pelúcia me observava da cadeira de balanço do canto e um tigre de pelúcia dormia no pé do berço, onde estava meu irmão que deu uma pausa para respirar antes de cair em pratos de novo. Roxie cutucou minha mão como se estivesse tentando me empurrar para frente. Eu me aproximei do berço lentamente para não assustar o bebê. Ele não me conhecia ainda. Apenas dois dias se passaram desde o enterro dos seus pais. ― Ei, camarada. ― Eu disse, na tentativa de soar relaxante e autoconfiante. Em vez disso, minha voz arranhou na garganta seca e pareceu mais um rosnado. Colin parou de chorar, abriu seus olhos para me encarar por alguns batimentos e depois e depois entrou em erupção de novo, chutando as pernas e mexendo seus punhos pequenos com uma impressionante fúria de quatro meses de idade. Roxie fez um barulho simpático na entrada da porta. Suspirei e escavei minhas mãos debaixo do corpo do bebê que estava se contorcendo enquanto tentava esmagar uma pontada de desconforto. Não havia muito que pudesse me assustar e eu tinha o hábito de me jogar nos desafios. Algumas vezes eu procurei os piores. Mas toda vez que eu pegava Colin, tinha essa nova e indesejada sensação de medo tentando me empurrar para a frente, e aguçada pelo pensamento mais hostil. Eu não tinha que estar aqui. Colin ainda estava se contorcendo e percebi que eu provavelmente deveria olhar a fralda. Claro, estava pesada e cheia. Eu o coloquei no trocador, tentando descobrir o jeito de colocar a nova fralda, quando ele soltou um granido seguido de jato de mijo que me acertou no peito. ― Boa mira. ― Eu murmurei, tentando manter a fralda presa no corpo dele antes de limpar meu peito com um punhado de lenços de bebê. Uma vez que ele já estava com uma fralda limpa, Colin concordou em voltar para o seu macacão confortável. De algum jeito eu fiz isso errado porque ouvi um estalo no fecho da frente que não tinha funcionado e fez toda a roupa ficar torta. Mas cara! A criança estava limpa e tinha parado de chorar, então isso não era grande coisa. Eu o carreguei até a cozinha para pegar uma das últimas mamadeiras que Kat Doyle tinha preparado. Ela havia me dado duas latas de leite em pó e muitas instruções exatas que eu logo esqueci, porque era muita coisa para colocar na minha cabeça em tão pouco tempo. Nada demais. Eu só adicionaria preparação de mamadeiras para a longa lista de coisas que eu precisava descobrir. Colin começou a mamar energeticamente na segurança do meu braço direitoenquanto eu tentava usar a máquina de café. Normalmente eu evitava cafeína, mas essa parecia ser uma boa manhã para abrir uma exceção. Fiquei surpreso em ver a hora no relógio acima do fogão: 8:50. Minha noção de tempo estava uma droga. Achei que era mais cedo. A máquina de café espirrou um único jato de líquido na caneca que dizia “Felicidade de Hawk Valley”. Deveria ter uma dúzia igual a essa no armário. Não me importei com creme ou açúcar, engolindo o calor tão rápido quanto minha boca aguentava. Ao mesmo tempo, Colin terminou sua mamadeira e começou a choradeira. Achei que ele ainda estivesse com fome, então ofereci outra mamadeira. Ele pareceu feliz com isso. A batida na porta da cozinha quase me fez largar a caneca de ‘Felicidade de Hawk Valley’. Roxie pulou. Ela observou a sombra do lado de fora, latiu uma vez e logo começou a sacudir o rabo. ― Você esqueceu que é um cão de guarda? ― Perguntei, colocando para o lado a cortina amarela que cobria o painel de vidro. Do lado de fora, Kathleen Doyle acenou para mim e eu não sabia se gemia com aborrecimento ou se abria a porta grato. Na maior parte do tempo, Kathleen era boa. Não mais a nerd magra que costumava me seguir por aí, ela cresceu cuidando da própria filha e ela obviamente estava de luto pela morte da prima. Além disso, ela adorava Colin e parecia saber tudo sobre bebês, então ela seria incrivelmente útil. Mas ela também poderia ser desgastante. Kathleen tinha muita energia e competência e, naquele momento, lidar com ela seria como um pé no saco. Ainda assim, abri a porta porque ela não merecia ver meu lado babaca. ― Bom dia. ― Ela disse radiante, preparando para passar pela soleira da porta antes que eu a convidasse. Ela estava com a filha, uma garotinha com tranças castanhas e biquinho no rosto. Ela não se parecia com a Kathleen. Provavelmente se parecia com o pai, quem quer que fosse. Eu não era tão rude para perguntar. Colin respondeu ao som da voz da Kathleen, esquecendo a mamadeira e tentando se lançar na sua direção. Kathleen balbuciou e o arrancou dos meus braços sem pedir. Roxie estava encantada com as visitas inesperadas, balançando o rabo contra o fogão e lambendo o rosto da menina. ― Eu gosto desse cachorro. ― A menina disse, dando risinhos. ― Emma. ― Sua mãe alertou. ― Cuidado com cachorros que você não conhece. Emma fez careta para sua mãe. ― Mas ele gosta de mim. ― Ela. ― Corrigi, abrindo um meio sorriso. ― O nome dela é Roxie. ― Viu, mamãe? É ela. Ela é legal. ― Ainda precisa ter cuidado. Me virei para Kathleen. ― Olha, tudo bem. Roxie não machucaria nem uma mosca. Kathleen não estava me ouvindo. Ela estava muito ocupada com Colin. ― Está com fome, anjo? Quer mais ba-ba? Ba-ba??? Kathleen tirou a mamadeira de mim e colocou de volta na boca de Colin. Ela cantarolou e o balançou para frente e para trás. Eu precisava admitir, a criança não parecia se incomodar com toda essa atenção. Ele começou a observá-la com uma admiração infantil e pegou uma mecha do seu cabelo vermelho cacheado, balançando na mão. ― Ele tem tudo que precisa? ― Ela perguntou e finalmente me olhou. O que ela encontrou a fez piscar, franzir seus lindos lábios vermelhos e voltar seu olhar para o bebê. Eu ainda estava meio nu, usando nada além de cueca samba- canção, mas eu não iria correr para o andar de cima para procurar algo melhor. Kathleen apareceu sem avisar. Então se ela queria fechar a cara, corar e fingir que estava tentando não encarar, boa sorte. Tomei mais um gole de café. ― Ele está bem. ― Disse, claramente incomodado por ela questionar se eu estava cuidando de Colin. Ela verificou a roupa entortada e com fecho quebrado. ― Sério? ― Claro. Temos nos divertido juntos, convidei algumas stripppers noite passada, cheiramos cola e festejamos até o sol nascer. ― Mamãe, o que é uma stripper? ― Emma perguntou. Kathleen estava aborrecida. ― Uma coisa que não vamos falar agora. ― Por que? ― Culpa minha, Emma. ― Eu disse, abaixando minha caneca. ― Eu disse uma palavra ruim. Desculpa. A menina parou de brincar com Roxie e se aproximou de mim. ― Quem é você? ― Querida, esse é Nash Ryan. ― Kathleen disse. ― Você o conheceu. Ele é o irmão de Colin. A menininha estava duvidosa. ― Ele não parece um irmão, parece um pai. Kathleen tentou de novo. ― Ele é o filho mais velho do tio Chris, lembra? ― Ah, é. ― Emma disse e sua expressão mudou. De algum jeito a tragédia deve ter sido contada a ela. Mas não se sabia o quanto uma criancinha realmente entendia da morte. Ela provavelmente não estava nem no jardim de infância ainda. Eu já era um adolescente quando me deparei com uma tragédia de verdade pela primeira vez e, ainda assim, fui pego de surpresa pela perenidade da situação. Mas aí Roxie lambeu o rosto de Emma de novo. Emma riu e o momento sombrio passou. Kathleen limpou a garganta. ― Ei, Nash, posso te perguntar uma coisa? Eu bocejei. ― E aí? Quer café? ― Não, obrigada. ― Ela apontou para uma mamadeira vazia no balcão. ― Você já deu uma para o Colin? ― Sim. ― Eu murmurei. ― Ele acordou e parecia com muita fome. ― Então essa é a segunda? ― A menos que as regras de aritmética tenham mudado. ― Você o colocou para arrotar? ― Não. Não pareceu que ele precisava. Kathleen exalou um pouco alto demais e fez uma careta. Senti que dei a resposta errada. ‘Ainda havia um pouco de líquido na mamadeira, mas Kathleen a retirou da boca de Colin e o passou de volta para mim. ― Tudo bem, amor. ― Ela disse numa voz doce cantada quando Colin grunhiu em protesto. ― Teu irmão vai te colocar para arrotar. Kathleen amava segurar Colin, então eu imaginei que teria que ter um motivo para ela me entregá-lo tão abruptamente. Eu não tive tempo para pensar nisso, porque durante a tentativa de pegá-lo, a parte de trás da minha mão acidentalmente esbarrou no firme seio esquerdo da Kathleen. Meu pinto abandonado ameaçou acordar e, de repente, eu me arrependi de estar ali usando apenas uma mera samba-canção. Pense em outra coisa, qualquer coisa! Hambúrguer. Merda de cachorro. ― Ah, espera aí. ― Eu disse, chegando perto da pia enquanto Kathleen continuou segurando o bebê. ― Tenho que lavar minhas mãos. Isso era ridículo. Eu não era um adolescente babando excitado depois de apalpar os primeiros peitos. Só porque eu não tocava em um há tempos não significava que eu ia perder o controle. ― Nash? ― Kathleen disse, soando irritada. Beisebol. Atropelamento. Secador. Qualquer coisa menos tetas. QUALQUER COISA MENOS SEIOS!!! ― Só um momento. ― Esguichei sabonete nas mãos e lutei para controlar meus impulsos com pensamentos livres de sexo que nada tinham a ver com o rápido toque não intencional no peito de Kathleen. Eu precisava sair bem dessa, mas tinha certeza que essa garota não ia se oferecer para transar. De qualquer forma, havia outras prioridades além de sexo. Pelos próximos vinte segundos, eu me tornei o trabalhador que mais lavava a mão no estado de Arizona. Eu não enxaguei as mãos até ter certeza de que meu pau tinha se acalmado e não iria saltar do meu calção. ― De boa agora. ― Eu disse, sacudindo a água das minhas mãos e virando para encarar Kathleen. Ele me lançou um olhar divertido e prendeu o meu irmão nos meus braços. Colin continuou se contorcendo até que eu tentei dar palmadinhas nas suas costas. Percebi que Emma estava no chão com Roxie. Ela estava acariciando a cachorra e sussurrando alguma coisa enquanto Roxie olhava para ela com uma fascinação extasiada. Kathleen se mexeu para se apoiar na parede, observando-me com os braços cruzados como se estivesse esperando alguma coisa acontecer. Poucos segundos depois, descobri que aquela ‘alguma coisa’ era quando balançou a cabeça, abriu a boca e cuspiu um vômito branco e pegajoso de bebê por todo meu ombro direito. ― Merda! ― Eca! ― Emma gritou. Roxie latiu. Colin começou a chorar. ― Ah… está tudo bem, meu bem. ― Kathleen disse e, por um estranho segundo nessa confusão toda, achei que ela estivesse falando comigo. Ela não estava. Mais uma vez ela agarrou o Colin enquanto murmurava num tomde voz doce e meloso que me dava vontade de revirar os olhos ou vomitar. Kathleen carregou o bebê choroso para o andar de cima, deixando-me coberto de vômito enquanto sua filha ficava de boca aberta me olhando. ― Você precisa limpar isso. ― Emma me informou e depois retomou a brincadeira com Roxie. ― Obrigada, eu vou. ― Eu murmurei. Peguei um punhado de toalhas de papel para absorver a maior parte da sujeira, mas não consegui me livrar da viscosidade. Além disso, agora eu cheirava a leite azedo. Nunca tinha passado pela minha cabeça que eu acabaria virando uma lona para xixi e golfo na mesma manhã. Ao mesmo tempo, eu podia ouvir a Kathleen lá em cima. Ela estava cantando alguma música infantil sobre coelhinhos na floresta e o Colin tinha parado de chorar. Joguei as grossas toalhas de papel no lixo. Mais do que nunca eu queria ter uns minutos para espairecer no vapor de um banho quente. ― Ouça, ― Eu disse a Emma. ― você vai ficar bem aqui por alguns minutos? A menina me olhou, piscou seus grandes olhos castanhos e deixou a cabeça baixa no azulejo da cozinha ao lado das patas da Roxie. Roxie deu uma fungada no cabelo dela e lambeu seu rosto. Eu percebi que isso significava que tudo bem, então corri as escadas acima. Quando eu espiei o quarto de Colin, Kathleen estava de costas para mim enquanto o limpava no trocador. A saia azul colorida que ela usava era larga e longa e não podia esconder que ela tinha uma bela bunda. Eu poderia ser um pedaço de merda por fazer isso, mas eu fiquei parado tempo suficiente para dar uma boa olhada nessa vista antes de recuar, depois pegar uma muda de roupas de uma das minhas malas e ir ao banheiro principal. Os tubos velhos soltaram um ruído quando eu liguei o chuveiro, mas a água estava maravilhosamente quente. Eu me senti muito melhor depois dos trinta segundos debaixo do jato, mas eu ainda estava agitado de tal forma que a água não poderia resolver. Na última semana, minha vida tinha sido só tristeza e planejamentos dos enterros e ansiedade e arrependimento. Eu precisava de alguma outra coisa. Um descanso, alguma coisa breve e sórdida para redirecionar meus pensamentos. Meu pau se contraiu e endureceu quando minha mão se fechou ao redor. Com tudo que estava acontecendo na casa naquele momento, não era exatamente uma boa hora para bater uma pensando na bunda coberta de flores e nos seus peitos duros. Eu fiz assim mesmo. Ninguém precisava saber. Pelo tempo que saí do chuveiro e vesti minhas roupas, Kathleen levou Colin para baixo. Eu a encontrei na cozinha, despejando um cereal rosa que parecia horrível numa tigela. Felizmente Colin parecia muito bem instalado na sua cadeirinha e posicionado no meio da larga mesa da cozinha. Ele estava limpo, vestindo uma roupa diferente, e as mechas do cabelo claro dele pareciam combinar. Ele estava contente esmagando os brinquedos coloridos que estavam pendurados na cadeirinha. Emma sentou numa cadeira para crianças grandes e a cabeça da Roxie estava no seu colo. Parece que minha cachorra encontrou uma nova mestra. ― Espero que esteja tudo bem com isso. ― Kathleen disse, pegando uma colher de uma gaveta próxima e colocando a tigela de cereal na frente da sua filha. ― Heather cuidava tanto de Emma que ela costumava ter suas comidas preferidas sempre. Eu dei de ombros. ― Por mim tudo bem. Kathleen me olhou de cima a baixo. Eu não sabia o que ela estava olhando. Eu não estava mais quase pelado, então não havia nada para ver. Eu vesti jeans e uma camiseta verde com letras tão desbotadas que tinha esquecido o que diziam. Mas, no caso de a inteligência lendária da Kathleen incluir poderes físicos, peguei uma garrafa de produto de limpeza e comecei a borrifar na bancada para que ela não pudesse adivinhar que eu tinha batido uma pensando numa foda imaginária da qual ela tinha feito parte. ― Parece que a tua mão já sarou. ― Ela disse, apontando. Olhei para as costas da minha mão. Ainda tinha um hematoma e casca na pele, mas não tinha mais necessidade de usar a atadura. Entretanto, lembrei que a Kathleen não era nenhuma tola e eu precisava escolher minhas palavras cuidadosamente. ― É. ― Eu disse, mantendo meu tom uniforme. ― Vou ter mais cuidado no futuro. ― Nash, você pode ser honesto comigo se isso não estiver funcionando. Eu parei de borrifar e olhei para ela. ― O que não está funcionando? Ela olhou de relance para Colin e pareceu triste. ― Você não parece pronto para isso. Você nunca esperou ser o guardião, né? Abaixei o produto de limpeza um pouco forte demais. O barulho foi meio alto. A cabeça da Roxie apareceu e ela me olhou assustada. Kathleen cruzou os braços de novo. Emma continuou comendo seu cereal. Eu apoiei minhas palmas das mãos na bancada e tentei manter minha raiva longe da voz. ― Não importa o que eu esperava. Heather e Chris não esperavam morrer. É assim que as coisas são. E apesar do que você parece pensar de mim, eu não vou largar as minhas responsabilidades. Ela levantou uma sobrancelha. ― Eu não estava insinuando isso. Você realmente parece estar com dificuldade. ― Kathleen, dá um tempo. Há dois dias, eu enterrei meu pai e sua esposa e descobri que eu vou criar uma criança pelos próximos dezoito anos. Ainda estou tentando entrar nessa. Minha vida virou de cabeça para baixo. Ela soltou um pequeno zunido, um som de desgosto. ― Não é sobre você se punir, Nash. É sobre o que é melhor para o Colin. ― E você não acha que eu sou capaz de fazer o que é melhor para ele. Não era uma pergunta. Ela estava sendo muito clara. Kathleen inclinou a cabeça. ― Você acha que é capaz de fazer o que é melhor para Colin? Minha temperatura estava subindo. Talvez tivesse alguma coisa a ver com a sua atitude imperial. Talvez tivesse alguma coisa a ver com o fato de que ela estava invadindo os meus piores medos. A verdade era que eu realmente não estava certo se eu tinha o que Colin precisava. Eu não sabia se eu era capaz de ser um bom pai, ou até mesmo um pai satisfatório. Ou talvez eu só estivesse ressentido do fato de que Kathleen parecia sexy como um pecado mesmo quando me deixava louco. ― O melhor para o Colin ― Eu disse numa voz firme. ― seria se seus pais nunca tivessem morrido. Kathleen fez uma careta. ― Lógico. Mas essa não é a realidade. ― Não, não é a realidade. A realidade é que Heather e Chris estão mortos. A realidade é que eles me escolheram como o guardião para o filho deles, que também é meu irmão. ― Eu exalei e reduzi minha voz. ― Então é isso que eu vou fazer. Ser o guardião dele. Ela não pareceu convencida. ― Simples assim? Você não tem um trabalho em Oregon? ― Eu sou um designer de sites autônomo. Posso fazer de qualquer lugar. ― Mas você pode apenas se mudar sem dar satisfação? ― Claro. ― Deve ter outras coisas para considerar. ― Tipo o que, Kathleen? ― Bem, você não tem uma vida, Nash? Eu estava de saco cheio das perguntas dela. ― Você não tem uma vida, Kathleen? Ela vacilou. ― Eu tenho uma vida. ― Ela disse calmamente e estendeu a mão para tocar a cabeça da filha. Emma olhou de relance para mim e depois continuou comendo seu cereal. Tinha a sensação de tê-la magoado. Não era a intenção. Eu valorizava tudo que a Kathleen tinha feito. Eu estava feliz por ela ter cuidado do Colin. E eu não sabia qual era sua situação pessoal. Kathleen Doyle cresceu brilhantemente, uma daquelas pessoas que devem viajar e conquistar o mundo. Mas aqui estava ela, de volta à cidade natal, morando em um duplex com uma criancinha e sem nenhum anel no dedo. ― Na verdade, eu não tinha muito uma vida. ― Eu disse e Kathleen olhou surpresa. ― Não mesmo. Eu morava sozinho. Não saía muito. Eu só existia. Então não estou perdendo nada. Era tudo verdade... Ainda não era a completa verdade. Eu não me sentia obrigado a explicar cada pensamento meu para a Kathleen. Ela não precisava saber que algo ainda queimava dentro de mim, algo que foi inflamado no dia que minha mãe foi assassinada por um homem em que ela confiava. Algo que me obrigava a andar pelas sombras e fazer pequenas doses de justiça quando eu encontravachance. Kathleen me parece ser do tipo que nunca aceitaria violência, mesmo quando necessária. Se eu tivesse que admitir a história verdadeira por trás do ferimento nos dedos, ela não entenderia. Ela poderia decidir causar problema. Eu andei em volta da bancada e me aproximei da mesa. Apertei um porco rosa esponjoso que está pendurado na cadeirinha do Colin. Fez um chiado agudo. Ele chutou as pernas e sorriu. Eu sorri de volta. ― Estou nessa a longo prazo. ― Eu disse numa voz suave, falando mais para o meu irmão do que para a Kathleen. ― Sinto muito. ― Ela disse. ― Eu não quis... ― Não sinta. ― Eu disse bruscamente. ― Vamos deixar para lá. Ela assentiu. ― Tudo bem. Por alguns segundos, não havia nenhum barulho além da Emma mastigando. Decidi que precisava de outra xícara de café, então enchi a caneca novamente. ― Você parecia estar indo para o trabalho. ― Eu disse. Eu não fazia ideia do que Kathleen Doyle fazia da vida, eu particularmente nem me importava, mas a conversa precisava de um novo caminho. ― Ah, o trabalho. ― Disse ela, puxando uma cadeira da cozinha e sentando. ― Tem mais uma coisa que eu queria conversar com você. E eu vou querer uma xícara de café se ainda estiver valendo. Eu enchi mais uma caneca da Felicidade de Hawk Valley e dei a ela. Ela sorriu quando viu, mas eu não entendi porquê. Eu a observei jogar seus grandes cachos vermelhos por cima do ombro e levar a caneca aos lábios grandes e sensuais. ― É sobre trabalho? ― Eu perguntei para manter minha mente nos tópicos de classificação livre. ― É. Eu queria falar da loja, para saber o que tinha em mente. Já está fechada por uma semana, o que obviamente é compreensível. Mas eu estava pensando se você pensou em um cronograma para a reabertura. Eu não tinha pensado nada para a loja do meu pai na Avenida Gardner. O lugar tinha passado por um monte de transformações ao passar dos anos. Quando meu avô comprou o prédio, era um bar falido. Ele reformou e abriu um café chamado Ryan’s Place. Foi mantendo por uns anos, mas depois meu pai tomou posse quando eu era bebê. Administrar um restaurante com pouco lucro era complicado e Chris Ryan tinha outras ideias. Ele pensou que Hawk Valley estava à beira de renascer e que a Avenida Gardner se tornaria algum tipo de meca artesanal, atraindo turistas e compradores de arte como os lugares em Sedona e Scottsdale. Por isso, Ryan's Place se tornou Galeria das Montanhas de Hawk. Foi um erro de cálculo. Uma mísera galeria não era o bastante para atrair os colecionadores para a área. Então mais uma vez houve uma mudança e a Presentes de Hawk Valley nasceu. Era uma loja comum de lembranças onde se poderia comprar todos os tipos de porcaria brega com seu novo logo gravado em letra dourada, mas tinha uma parte importante nos fundos, onde os artistas locais vendiam suas obras por consignação. Pelo menos era como as coisas estavam na última vez em que estive aqui. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo na loja atualmente. Kathleen esperava minha resposta. ― Eu vou pensar. ― Eu disse, mesmo que a loja não fosse minha lista de preocupações. ― Eu posso te encontrar lá essa tarde. ― Ela ofereceu, olhando seu relógio. ― Eu tenho que deixar a Emma na pré-escola e depois vou conhecer um casal de clientes, mas eu posso por volta das duas. Não entendia por que a Kathleen se preocuparia tanto com a loja. Parecia ser mais do que simplesmente se manter ocupada. ― Talvez outro dia. ― Eu disse, olhando de relance para Colin na cadeirinha. Ele ainda estava encantado com o porco balançando. Kathleen não estava satisfeita. ― Nash, tem algumas coisas que realmente precisam ser discutidas sobre a loja. ― Tudo bem, não hoje. ― Eu tinha outras coisas para descobrir, como a educação de crianças. E meu próprio trabalho me aguardava. Tinha meia dúzia de projetos não finalizados no meu laptop e provavelmente um limite da simpatia dos clientes. Kathleen franziu a testa. ― Você também tem dois empregados para levar em consideração, sabe. Não, essa ideia nunca me ocorreu. ― E você é um deles? ― Perguntei a ela. Isso explicaria o motivo da insistência dela, mesmo que eu achasse que Kathleen e seu supercérebro pudessem fazer muito mais do que trabalhar numa loja de presentes de uma cidade pequena. Ela sacudiu a cabeça. ― Não. Bom, mais ou menos. Quer dizer, eu não era uma das empregadas a quem estava me referindo. Mas tenho feito as contas nos últimos três anos, então posso dizer tudo que precisa saber sobre a situação financeira da loja. ― Você é contadora? Ela sacudiu a cabeça. ― Mais perto de contabilista. Eu opero independentemente e alguns pequenos negócios de Hawk Valley são meus clientes. ― Um sorriso triste tocou seus lábios. ― Tenho que agradecer a Heather por isso. Ela convenceu seu pai a me contratar quando eu não tinha graduação nem experiência e depois me recomendou pela cidade. Kathleen procurou dentro de uma bolsa marrom pequena, arrancou um cartão de negócios e me entregou. 7 K A T H L E E N D O Y L E T CONTABILISTA Servindo pequenos negócios por toda Hawk Valley. Me deixe cuidar das suas necessidades! ive que me controlar para não bufar na última linha. Eu poderia ir para o inferno por pensar nisto, mas eu seria feliz em escolher alguns jeitos para ela ‘cuidar’ das minhas necessidades. ― Você está rindo? ― Kathleen perguntou. Eu empurrei o cartão de negócios para dentro do meu bolso de trás. ― Não. Só limpei minha garganta. Ela brincou com um longo cacho vermelho e me olhou. ― Então duas horas está bom para você? Eu tinha a sensação de que ela iria me importunar até que eu concordasse. Além disso, eu deveria dar uma olhada na loja e considerar as opções. Meu pai deve ter deixado algumas decisões administrativas para mim e a loja era algo que eu teria que lidar mais cedo ou mais tarde. ― Vou fazer acontecer. ― Disse. ― Só preciso resolver o caos da minha vida social. Kathleen sorriu, um sorriso de verdade, não um melancólico. Ela pode ser mandona e ocasionalmente condescendente, mas essa garota poderia competir com o sol. Ela era linda. Emma ficou emburrada quando a mãe disse a ela que era a hora de ir embora. ― Eu quero ficar com a Roxie. ― Hora da escola, amor. Lembra, é um dia especial. A aula vai ter um novo peixinho-dourado. Emma cruzou seus braços e foi aí que eu vi a semelhança com sua mãe. ― Mas eu quero ficar aqui. ― Ei! ― Eu disse e a criança me olhou como se tivesse esquecido que eu existia. ― Você pode voltar e ver Roxie a qualquer momento. Verdade, Emma. E era mesmo. Eu seria um idiota de sangue frio se não fosse por uma garotinha que amou minha cachorra. Emma sorriu. Ela beijou a cachorra no topo da cabeça e segurou a mão estendida da Kathleen, que sussurrou “Obrigada”, e eu assenti. ― A propósito… ― Kathleen disse antes de fechar a porta da cozinha atrás dela ― aquela mini van estacionada em frente à minha casa era da Heather. Já tem uma cadeira no banco de trás e as chaves devem estar no gancho ao lado da porta da frente. ― Tá bom. ― Se levar Colin a qualquer lugar, você vai precisar amarrá-lo no banco do carro. Sério mesmo? Eu não era nenhum especialista em bebê, mas, pelo amor de Deus, pelo menos isso eu sabia. ― Obrigada, Kathleen. ― Eu disse, um pouco sarcasticamente. Ela não percebeu. ― Te vejo às duas? ― Estarei lá. Ela abriu outro sorriso radiante e acenou para o Colin. ― Tchau, menininho lindo. ― Disse ela com uma voz que parecia que ela tinha sugado um gás hélio. Assim que a porta se fechou, o cômodo pareceu terrivelmente vazio. Roxie choramingou e me deu um olhar canino confuso, provavelmente se questionando o que eu fiz para a sua nova melhor amiga ir embora. ― Esqueci de te dar comida essa manhã, né? ― Perguntei. O saco de comida de cachorro que arremessei no caminhão antes de sairmos de Oregon tinha quase acabado. Eu despejei o resto em um prato e o coloquei no chão. Roxie mergulhou direto e meu próprio estômago rosnou. Tinha um saco de caçarolas na geladeira, tudo trazido pelos vizinhos bem-intencionados, mas nada pareciabom agora. Eu precisava fazer compras hoje. Eu precisava fazer muitas coisas. Colin chutava as pernas e acenava os braços, acertando o porco de pelúcia rosa no caminho. ― Bom menino, ― Eu disse, tentando soar meio animado meio Kathleen e falhando. ― o que deveríamos fazer primeiro? A criança fez uma careta estranha, ficou vermelho brilhante e soltou um som inconfundível: merda molhada atingindo a fralda. ― Culpa minha ter perguntado. ― Disse eu. Meu irmão sorriu para mim. 8 E C A P Í T U L O S E T E KATHLEEN star aqui parece estranho, quase invasivo. Nunca estive na loja quando vazia. Chris tinha me dado o código de alarme e uma chave bem antes de Colin nascer. Ele disse que era só por precaução, apenas caso algo acontecesse quando ele estivesse ocupado no hospital. Ele confiava em seus empregados e um deles tinha estado com ele por mais de uma década, mas ele queria outro reforço. Alguém mais próximo, alguém de confiança. “Alguém que fosse da família.” Uma vez que estive aqui foi apenas há mais de uma semana quando eu deixei os relatórios financeiros do mês e entreguei as folhas de pagamentos. Chris saiu do pequeno estoque e me cumprimentou com um sorriso. Ele me agradeceu por concordar em cuidar do bebê para que ele e Heather pudessem aproveitar uma noite na cabana da montanha, comemorando o aniversário de casamento. Senti um arrepio mesmo que o lugar estivesse longe de estar frio. As prateleiras de estoque e as amostras claras projetavam um tipo de sensação apocalíptica na luz fraca, então encontrei um interruptor e coloquei luzes suficientes para apagar as sombras da tarde. O inventário era eclético, tudo desde de lembranças chamativas à beira da estrada até boa arte feita à mão. Depois de alguns minutos, verifiquei meu relógio de novo. Nash estava atrasado. Eu me perguntava se ele apareceria. Parte de mim esperava que ele não fosse. A loja realmente exigia algumas decisões administrativas imediatas. Eu não tinha inventado. Mas lidar com Nash Ryan pode não ser uma tarefa fácil. Ele ainda irradiava desafio, os anos tinham feito pouco para diminuir a rebeldia natural que me fascinava. Isso era outra coisa. A paixão da adolescência não tinha se apagado completamente. Essa manhã eu me senti atrapalhada e nervosa com o seu olhar. Era um sentimento que eu não gostava, que eu não buscava. Não era tudo em relação a Nash. Eu estava pensando nos meus próprios erros, de notar tarde demais que um homem que me fazia ficar desconfortável era a escolha errada. Assim como Nash, ele sabia muito bem como ficava bem parado na cozinha usando samba-canção, um monumento arrancado da virilidade, silenciosamente me desafiando a dar uma conferida. Eu não poderia ajudar, mas obedeci. Além do mais, eu tinha a sensação de que ele estava ciente disso. Suspirei na loja vazia. Como sempre, eu estava analisando demais. Muito provavelmente Nash não estava tentando chamar atenção de ninguém, muito menos eu. Ele estava cansado e se esforçando para dar conta das responsabilidades dele. Fui eu quem invadi sua cozinha essa manhã sem avisar. Eu tinha levado Emma para a escola e feito uma anotação mental para ligar para Nash hoje mais tarde quando desviei para a parte mais antiga de Hawk Valley. Eu não conseguia parar de pensar no Colin. Eu precisava ter certeza que estava tudo bem depois de ter sido colocado sob os cuidados de um homem que obviamente era burro sobre como cuidar de um bebê. Um homem que sempre desprezou o próprio pai e nunca tinha mostrado o menor interesse na existência de Colin. Não é justo, Kat. Eu bati meus dedos nas barras de metal da estante de cartões postais. Talvez não fosse justo. Heather confiava em mim, então eu sabia que o relacionamento entre Chris e Nash tinha sido tenso e complicado. Mas eu estava disposta a abrir mão da justiça quando tinha a ver com os direitos de Colin. Se Nash se provasse um guardião incompetente, eu estava preparada para intervir. O sino me tirou dos devaneios e Nash entrou pela porta de vidro, com a cadeirinha na mão. ― Ele está dormindo. ― Nash sussurrou e procurou um lugar para ajeitar o bebê. Eu acenei e o direcionei até o escritório de Chris nos fundos. Gentilmente Nash colocou a cadeirinha de carro no meio da mesa velha do pai dele. Ele parou e olhou ao redor por um instante e eu me perguntei o que ele estava relembrando. Ele deve ter estado nesse lugar milhares de vezes enquanto crescia. Mas quando ele se virou para me seguir, seu rosto estava impassível. ― O passeio de carro o colocou para dormir? ― Perguntei quando estávamos longe do alcance dos ouvidos. Nash concordou e se inclinou sobre o balcão do caixa. Ele passou os olhos pela loja, mas não pareceu especialmente interessado em nada que viu. ― Heather costumava levá-lo para dar uma volta no quarteirão várias e várias vezes para acalmá-lo para dormir. ― Eu disse. Nash arranhou seu queixo. Limpei minha garganta. ― Imagino que tem muito tempo desde que viu a loja. Ele apontou para a parede distante. ― Costumava ter fileiras de camisetas bem ali. ― Vendiam mal. A loja ainda tem algumas, mas essas são de melhor qualidade. ― Tem Hawk Valley escrito nelas? ― A maioria. Ele zombou. ― Não sei quem quer comprar esse lixo exceto pelas pessoas que já moram em Hawk Valley. Discuti com ele. ― Você ficaria surpreso. Temos tido um tráfego maior de turistas aqui nos últimos anos. O conselho municipal votou para financiar uma campanha para mudar o slogan da cidade para “Conheça Hawk Valley: Portão das Montanhas Hawk”. A população da região de Phoenix continua crescendo e as pessoas estão sempre procurando fugas de finais de semana para algum lugar ligeiramente mais frio. Nash sorriu. ― Você soa como um folheto de viagem. ― E daí? Eu acho que Hawk Valley é uma cidade ótima. Ele levantou uma sobrancelha. ― Então foi por isso que continuou aqui? Não, não era por isso. Eu sempre sonhei com o futuro em uma cidade grande. As coisas simplesmente não funcionaram desse jeito. Ainda assim, eu me sentia na defensiva e mal humorada que Nash estava criticando minha cidade natal. Havia lugares muito piores para estar. ― Eu gosto de pensar que posso apreciar o que está na minha frente. ― Eu disse. ― Em vez de sempre procurar outra coisa. Imediatamente Nash gargalhou. ― Shhh. ― Alertei. ― Você vai acordar o Colin. ― Não sei o que eu disse que o divertiu, e perguntei: ― Por que você me acha tão engraçada? Nash me olhou. ― Não acho, Kathleen. ― É a segunda vez que ri de mim hoje. Ele franziu a testa. ― Quando foi a primeira? ― Quando eu te dei meu cartão. ‘― Eu não me lembro de rir. ― Pela sua expressão era óbvio que você estava segurando. Ele soltou um suspiro um pouco detestável. ― Droga, você sempre foi vidente? ― Corta essa. ― Não, sério, você poderia ganhar dinheiro com esse talento. ― Seu nível de sarcasmo deixa muito a desejar. ― Você poderia pagar um pequeno casebre na Avenida Gardner, com cortinas de miçangas penduradas na porta de entrada e cobrar vinte pratas por pessoa enquanto encara uma bola de vidro e finge ver algo interessante. ― Nash! ― Kathleen. ― Ele disse, zombando da minha voz frustrada. ― Você é exaustivo. ― Eu disse cansadamente. ― E você fica facilmente frustrada. ― Ele disse e bocejou. Eu respirei fundo, tentando manter meu temperamento e falhando. ― Olha, sou muito ocupada. Sou dona de um negócio, mãe e estudante. Mas tenho feito o possível para te ajudar e não gosto de ser vista como uma piada. ― Silêncio. ― Nash colocou o dedo nos lábios e olhou de relance para a porta do escritório. ― Agora quem quer acordar o bebê? Agora Nash não estava rindo, mas ele claramente estava se divertindo. Eu me impressionei com o quão pouco eu o conhecia realmente. Ele tinha sido um mistério mesmo para sua família. Heather admitiu que tinha esperanças que ele amadurecesse e aceitasse as tentativas de reconciliação do Chris. Mas isso nunca aconteceu porque evidentemente Nash ainda era um babaca teimoso. Eu não deveria me surpreender. O garoto que foi embora com um caminhão do tamanhode um chip no ombro nunca evoluiu. Só ficou maior. Mais forte. Mais apresentável. Aparentemente Nash percebeu que passou do limite. Ele assentiu e sua expressão se tornou quase arrependida. ― Eu não acho que você é uma piada, Kathleen. De jeito nenhum. Desculpa se passei essa impressão. Eu não tinha certeza se era verdade, mas eu estava disposta a dar a ele o benefício da dúvida. ― Desculpas aceitas. Agora você pode me chamar de Kat. ― Vou ficar com Kathleen. ― À vontade. Nash olhou ao redor novamente. ― Então o que estou fazendo aqui? Era uma questão profunda… ― Eu sei que não é o acordo, mas Colin precisa de você e.. ― Na loja, Kathleen. O que é tão urgente para eu estar aqui hoje? Precisei ir até o balcão onde deixei meu laptop. Nash me observou há menos de dois passos de distância. Abri rapidamente e examinei a data que já tinha decorado. ― O rendimento líquido ainda está no vermelho esse ano. As vendas foram afetadas no inverno quando tinha muita construção na Avenida Gardner. Existe um problema temporário no fluxo de caixa. Acontece de vez em quando e Chris normalmente emprestaria o dinheiro de seus fundos pessoais para a loja, mas as renovações que ele e Heather fizeram na casa custaram mais do que o esperado. Ele não tinha muito para dar. Para aumentar o problema, tem o fato do banco ter mudado as condições de crédito dele. Tem suficiente para pagar os serviços e a folha de pagamento, mas não para encomendar novos produtos da época e, com o verão chegando, que é uma época muito agitada, é necessário resolver o problema. Além disso, cada dia que a loja fica fechada é um dia sem vendas. Nash olhou para a porta. ― Não parece ter ninguém batendo na porta. Meus olhos se estreitaram. ― O grande aviso que diz FECHADO pode ter alguma coisa a ver com isso. ― Então, a loja está falindo? ― Eu não disse isso. ― Você não falou nada muito agradável. ― Você precisa reabrir, Nash. Precisa resolver o problema do crédito e encomendar novos produtos antes que o verão chegue. Ele suspirou. ― Pelo amor de Deus, eu não sei nada sobre administrar uma loja de lembrancinhas. Não, eu operei uma caixa registradora de má vontade durante o verão quando era adolescente. Eu nunca soube nem me importei sobre como o lugar funcionava. Eu fechei meu computador portátil. ― Bem, está na hora de se importar, Nash. Ele não concordou. Novamente ele olhou de relance para o cômodo quando Colin dormia. ― Talvez seja a hora de deixar para lá. ― Ele disse suavemente. Minha boca se abriu. ― Você não pode fazer isso. Ele me lançou um olhar estranho. ― É uma loja de lembranças, não o tesouro nacional. O mundo vai ficar bem sem mais canecas feias de cerâmica. Meus punhos fecharam. ― Era o negócio do seu pai. Ele iria querer que continuasse. ― É, ele provavelmente iria querer sobreviver também. Mas como você me lembrou mais cedo, não é a realidade que estamos lidando agora. ― Nash. ― Eu disse bruscamente, depois mordi as próximas palavras. Minha mãe sempre tinha me avisado que autoritarismo não era uma qualidade agradável. Na verdade, nas palavras dela: “Não seja tão carrasca!”, mas o sentimento era o mesmo. Eu não poderia obrigar Nash a ver as coisas do meu jeito. Ele estava lidando com muita coisa também. ― É importante. ― Eu disse, calmamente. Ele levantou uma sobrancelha e esperou educadamente que eu continuasse. ― A loja. ― Eu continuei. ― É difícil para os pequenos negócios se manterem hoje em dia. Sua família coordenou esse lugar de um jeito ou de outro por quarenta anos. Significa muito para as pessoas aqui e vai significar muito mais para eles agora que teu pai se foi. ― Analisei a parede onde os quadros dos artistas da região estavam pendurados com uma expectativa silenciosa, esperando por um comprador. ― Todo mundo quer uma razão para ser otimista. ― Um final feliz. ― Nash disse, mas ele não soava sarcástico agora. Apenas triste. ― Eu não acho que seja possível nesse caso. ― Talvez não um final feliz. Mas um menos trágico. Seria doloroso ver a loja fechar. Eu não digo isso só porque seria uma loja vazia na Avenida Gardner. Cada pintura que você vê naquela parede vem de um artista, incluindo sua tia Jane. Provavelmente não existe nenhum armário de cozinha na cidade que não tenha uma daquelas xícaras “Felicidade de Hawk Valley” que a Heather desenhou. Seu pai patrocina um pequeno time local todo ano. Esses dois empregados são uma mulher idosa que tem um marido com deficiência e trabalha aqui por mais de dez anos, e uma estudante universitária que quer ser professora. Tem muitas pessoas, incluindo eu, que estarão felizes em te ajudar a manter a loja aberta se você der apenas uma chance. ― Isso foi pesado. ― Nash disse quando eu finalmente parei de falar. ― Vai pensar sobre isso? Seus olhos pousaram em uma pintura de uma paisagem maravilhosa que representava o pico mais alto das Montanhas de Hawk. Eu sabia que tinha sido pintada pela sua tia e me perguntei se ele reconhecia o estilo dela. ― Vou pensar sobre isso. ― Ele concordou. Eu sorri. ― Ótimo. Nash acenou com a cabeça na minha direção. ― Então, qual é a tua? ― A minha? ― Você usa muitos chapéus. Você é contadora, mãe, você salva lojas de cidade pequena e, julgando pela tua interação com Colin, você também tem talento como encantadora de bebês. E eu ouvi que você mencionou que é estudante também? ― Aulas à distância, mas sim. Nash me estudou. ― Tem alguma coisa que você não sabe, Kathleen Doyle? ― Relacionamentos. UGH!!! Nash riu. ― Anotado. Eu estava me encolhendo internamente. ― Isso pareceu patético. Ele deu de ombros. ― Um pouco. Eu revirei os olhos. ― Eu juro que não estou pedindo para ter pena. Eu só quis dizer que eu não tenho tempo nem tendência a lidar com relacionamentos. ― Você não é a única. ― Talvez algum dia minha perspectiva mude, mas por agora estou melhor sozinha. Nash pareceu interessado. ― Má experiência? Um arrepio percorreu meu corpo. ― Sim. ― Você é sincera. ― Ele disse, assentindo. ― Eu gosto disso. Não. Eu sou o oposto de sincera. ― Ele deve ser o pai da Emma? ― Nash adivinhou. O pai da Emma não era um bom assunto. Algum dia haveria um ajuste de contas pelas coisas que eu já fiz, as mentiras que contei. Mas não aconteceria hoje e, de qualquer forma, nada disso era da conta de Nash Ryan. ― Eu não vejo o pai da Emma desde quando estava grávida. ― Eu disse. Pelo menos essa parte era verdade tecnicamente. Fiz uma cena checando meu relógio. ― Por falar da Emma, eu tenho que ir buscá-la. Um choro repentino sinalizou que Colin havia acordado. Meu primeiro instinto era sair dali para pegá-lo, mas Nash foi mais rápido. Colin ainda estava chorando quando Nash voltou com a cadeirinha. ― Calma, menino. ― Ele disse. Ele colocou a cadeira do bebê no chão e se debruçou, se atrapalhando com os prendedores do cinto. Esperei alguns segundos, depois me curvei para ajudar. Em três segundos, Colin estava nos meus braços. ― Ele provavelmente está molhado. ― Eu disse, batendo no seu traseiro. ― Onde está a bolsa de fraldas? Nash piscou. ― Ah… ― Você não trouxe nenhuma fralda? ― Não. ― Não? ― Não. Não achei que ficaríamos muito tempo fora. ― Não, você sempre precisa trazer uma bolsa de fraldas. Eu te dei uma lotada de fraldas limpas, lembra? Ele estava irritado agora. ― Eu esqueci, ok? Não estou acostumado a carregar tantos acessórios. ― Bem, você precisa se acostumar. Bebês precisam de muitas coisas. ― Kathleen. ― Ele disse de um jeito cansado e eu pensei que ele ia dizer algo grosseiro, mas ele exalou alto e deu um passo na direção oposta enquanto desviava o olhar. Colin ainda estava gritando. Eu o balancei nos meus braços um pouco para distraí-lo. ― Você dirigiu aqui na mini van, certo? ― Perguntei. Ele me lançou um olhar. ― Existe alguma coisa em relação a isso? ― Sim. Heather geralmente deixava algumas fraldas no porta- luvas. ― É uma boa ideia. A irritação estava conseguindo o melhor de mim. ― Você pode, por favor, pegar uma? Nash estava me olhando ainda mais irritado por um segundo, mas ele saiu sem dizer nenhumapalavra. Ele voltou pouco depois com uma fralda nova. Ele a balançou na frente do meu rosto e eu a peguei. ― Você quer que eu troque? ― Perguntei. ― Tem alguma forma de parar você? ― Ele resmungou. Ignorei a pergunta e carreguei o bebê agitado para o escritório onde eu o deitei carinhosamente sobre a superfície da antiga mesa de seu pai e rapidamente troquei a fralda. Depois que terminei, percebi que não estava molhada afinal de contas. Nash estava inclinado contra o balcão com os braços cruzados quando eu voltei. Ele observou em silêncio enquanto eu tirava meus cabelos dos punhos gordinhos de Colin e carinhosamente o instalou de novo na cadeira do carro. ― Ele está com fome provavelmente. ― Eu disse. ― Provavelmente. ― Nash assentiu e pegou a cadeirinha de mim. ― Eu posso te encontrar amanhã no mesmo horário. Teremos muito para conversar se houver chance de você continuar mantendo a loja. Quero te mostrar as finanças. E como seu pai costumava cobrir o caixa, você vai precisar contratar outro empregado a menos que você planeje estar sempre por aqui. ― Pare. ― Nash balançou a cabeça e, por um momento, ele pareceu extraordinariamente cansado. ― Chega por agora, ok? Eu estava fazendo de novo. Sendo intrometida, autoritária, exigente. Carrasca. Engoli em seco. ― Ok, Nash. Vou parar. Ele parou na porta e olhou para mim por uns instantes. Eu não sabia o que ele viu quando olhou para mim. A moradora espertinha que achou que ia ganhar o mundo na marra e agora lutava para equilibrar a vida como uma mãe solo numa cidade pequena de onde ela jurou que fugiria. ― Vou entrar em contato. ― Nash disse e depois se foi. Peguei um pequeno objeto do balcão e segurei na palma da minha mão. Era uma cópia da chave da loja. Tinha esquecido de entregar a ele. 9 M C A P Í T U L O O I T O NASH eus olhos estavam começando a embaçar de cansaço e era apenas dez da noite. A noite anterior tinha sido agitada, com Colin se recusando a dormir por mais de uma hora por vez. Ele estava comendo bem e enchendo as fraldas de acordo com a minha pesquisa na internet sobre os hábitos dos bebês, não tinha motivo para alarme. Verifiquei as gengivas dele porque li em algum lugar que, às vezes, os bebês podem começar a ter dentes mais cedo, mas as gengivas dele pareciam rosa e nem levemente inchadas. Kathleen provavelmente teria estalado seus dedos e saberia instantaneamente qual era o problema, mas chamar a Kathleen significaria ter que conversar com ela. Conversar com a Kathleen significava levar uma bronca por esquecer sacos de fralda e os modos inadequados de dar mamadeira. Depois do nosso encontro irritante na loja outro dia, eu achei que precisávamos de espaço. Jane e Kevin nos visitaram de tarde e eu fiquei feliz em entregar o Colin para eles por alguns minutos para que eu pudesse ter o luxo de tomar um banho por dez minutos. Porém, assim que minha tia e seu namorado foram embora, eu estava sozinho de novo, desgastando o chão de madeira dura carregando o Colin pra lá e pra cá e tudo de novo, porque ele começava a chorar toda vez que eu o soltava. Eu não sabia o quanto um bebê típico chorava, mas parecia que esse bebê estava chorando pelo tempo recorde. Finalmente ele dormiu depois de uma hora que o sol se pôs e eu estaria muito feliz em seguir seu exemplo se eu não tivesse um monte de trabalho para fazer. Por isso, em vez de pôr o sono em dia, eu estava na mesa da cozinha, esfregando meus olhos e ajustando a página virtual de um grupo de churrascaria de Portland para quem eu já realizei uns projetos anteriormente. Roxie roncava debaixo da mesa, mas saltou quando coloquei meus pés. Eu mal tinha reduzido minha lista de tarefas, mas o resto teria que esperar. Estiquei minhas pontas dos dedos até o teto e ouvi minhas juntas darem um estalo. Houve muitas noites que eu fiquei sentado na cozinha por horas porque meu pai tinha uma regra sobre comer a comida toda antes de sair da mesa. Eu não gostava de visitar meu pai. Minha mãe sempre satisfez meus hábitos alimentares exigentes, preparando refeições especiais que se encaixassem nos meus gostos. Era bem diferente quando eu vinha para Hawk Valley. Chris Ryan ficava perplexo com uma criança de oito anos que não comia carne vermelha e não tinha nenhum interesse em pescar no lago da cabana da montanha. Em uma dessas viagens, eu joguei minha vara no chão e disse a ele que deveríamos deixar os peixes sozinhos porque eles estavam melhor lá. Ele lançou um olhar frio na minha direção e me avisou para pegar a vara e começar a pescar como uma criança normal ou eu poderia descer da droga da montanha. “O teu problema é que tua mãe mima você. Aquela garota nunca teve noção nenhuma.” Eu sempre soube que meus pais não gostavam um do outro. Deve ter sido difícil tentar criar uma criança com uma pessoa que você não consegue ficar. Entretanto, diretamente a mim, minha mãe nunca disse uma palavra ruim sobre Chris Ryan. Eu nunca contei a ela que ele não retribuía o favor. Foi a última vez que eu e meu pai fomos pescar juntos. Em um ato de rebeldia, eu peguei a vara de pesca e fiquei quieto até pegar o dobro de peixe que ele pegou. E quando ele virou de costas para mim, eu despejei a caixa de gelo cheia de peixe morto na água lamacenta do lago. Ele não falou comigo pelo resto do dia. A cachorra soltou um gemido leve e eu fui arrancado das memórias antigas. ― Precisa sair? ― Perguntei e ela abanou o rabo. Ela estava bem na minha frente no momento que eu fui para a porta de trás. Eu a observei pular na escuridão e me perguntei o que meu pai pensaria de uma cachorra morando na casa dele. Ele sempre foi fortemente contra animais de estimação, especialmente os que pensavam mais de meio quilo, permitindo apenas pequenos roedores que ficam presos e com experiências de vida limitadas. Além desse, o único momento que eu tive cachorro foi na casa da minha mãe em Phoenix. O nome dele era Capitão e ele era da raça border collie e seguia todos os meus passos quando eu estava em casa. Ele foi morto na mesma noite que ela. Roxie respondeu ao meu assobio baixo e correu de volta para dentro. Eu dei uma recompensa com uma palmadinha na cabeça. ― Boa menina. A cachorra balançou seu rabo e acidentalmente derrubou um vaso azul feito de porcelana que estava empoeirado numa mesa baixa. Eu o observei cair no chão áspero e quebrar em muitos pedaços, estremecendo com o barulho e esperando pelo inevitável choro vindo do andar de cima. Quando veio, o som era estridente e penetrante, até mesmo para ele. Eu entrei em ação, pegando três escadas por vez para chegar até o quarto do Colin. Ele continuou gritando quando o peguei, gritou mais alto quando eu o mantive perto, arqueou as costas e gritou igual uma alma penada quando olhei sua fralda. Nada o confortava. A fralda dele estava seca. Ele não queria uma mamadeira. Ele não queria ser segurado. Eu já tinha tentado colocá- lo na cadeirinha do carro e dar uma volta no quarteirão, mas isso não o acalmou de nenhum jeito, então eu desisti e o trouxe de volta para casa. ― Qual o problema com meu parceiro favorito? ― Eu disse, tentando soar todo bonzinho ridículo como a Kathleen fazia quando falava com ele, no entanto ele só chorou ainda mais. Tentei balançá-lo na cadeira da sala de estar, mas ele também não queria. O choro dele era incansável, estridente. Parecia cheio de dor e me destruía como nenhum som fazia antes. Mantive o corpinho do meu irmão perto e pressionei meus lábios na sua testa. Quente. Muito quente. Entrei em pânico instantaneamente. Ele estava doente. Era por isso que ele tinha chorado tanto, por isso ele não poderia ser confortado. Eu deveria saber. Eu deveria ter pensado nisso. Um pai teria percebido mais cedo. ― Está tudo bem, Colin. Você vai ficar bem. ― Minha voz era artificial, alta e esperançosa. Eu o embalei com um braço e peguei meu computador portátil com o outro. Pesquisei pelas palavras ‘febre de bebê’. Pesquisei as palavras ‘bebê doente’. Pesquisei pelas palavras ‘bebê doente chorando com febre’. Os resultados eramtão variados que tinham pouco valor. Ele poderia estar resfriado ou ter meningite. Eu não sabia se ele tinha tomado alguma vacina. Eu não sabia quem era a médica dele. À certa altura, Kathleen tinha mencionado essa informação, mas foi em um daqueles momentos que eu estava cansado de ouvi-la falar e a desliguei. Ela também tinha me dado seu número de telefone, mas eu não tinha adicionado à minha lista de contatos. Minha única opção era subir e vasculhar minhas roupas para achar o cartão de negócios dela que guardei no bolso outro dia. Felizmente o número dela estava no verso. Ela respondeu no segundo toque. ― Ele está doente. ― Eu deixei escapar um momento depois de ela falar alô. Se Kathleen estava dormindo quando eu liguei, ela estava acordada e alerta agora. ― Sim. ― Ele está com febre. ― Quão alta? Eu passeava pelo chão com o celular na minha orelha e meu irmão chorando nos meus braços. ― Eu não sei. Ele parece quente e ele tem chorado muito desde a noite passada e eu pensava que estava tudo bem quando ele finalmente caiu no sonho, mas ele começava a chorar de novo e, quando eu toquei a cabeça dele, notei como ele estava quente. Eu tagarelei várias palavras confusas, mas a Kathleen entendeu. ― Está bem, ouça. A primeira coisa que você precisa fazer é dar a ele uma dose de ibuprofeno para abaixar a febre. Procure na bolsa dele no quarto. Lá deve ter uma garrafa com conta-gotas que vai te ajudar a colocar a quantidade certa diretamente na boca dele. Agora deixa eu te perguntar, ele está comendo? Eu fui até o quarto do Colin e já estava procurando na bolsa. ― Sim, ele está comendo. ― Fazendo xixi? Cocô? ― Os dois. ― Ele parece indiferente? Apático? Deixei o bebê choroso no trocador. ― Ele soa indiferente? Eu tirei a roupinha dele e o examinei: ― Não. O remédio estava na minha mão. Procurei a dosagem na garrafa e não perdi tempo para encher o conta-gotas antes de depositar o conteúdo na boca do Colin. Ele franziu a boca e ficou em silêncio por um momento, depois voltou ao choro. ― Devo levá-lo ao hospital? ― Eu perguntei. ― General Hawk fechou dois anos atrás, então o hospital mais próximo fica há quarenta minutos daqui. Tem uma nova unidade de atendimento de emergência que acabou de abrir na Estrada Cottonwood, à direita da I-95. Eles provavelmente não estarão ocupados. Eu vou encontrar vocês lá. Eu estava pensando em falar para Kathleen que ela não precisava fazer isso. Já era tarde e ela própria tinha uma criança para cuidar. Mas eu estava aliviado que ela iria. Kathleen com seu jeito de assumir o controle, atitude de sabe-tudo era exatamente o que o Colin precisava agora. ― Obrigado. ― Eu disse e novamente fechei a roupinha de Colin. Dessa vez eu não esqueci de trazer uma bolsa com fraldas quando deixei a casa. O atendimento de emergência ficava há dez minutos dirigindo e lá havia apenas dois pacientes na sala de espera. Eu tinha quase acabado de preencher a prancheta cheia de papéis quando Kathleen chegou com pressa. Eu poderia admitir que eu estava muito feliz em vê-la. ― Como ele está? ― Ela sentiu na cadeira amarela de plástico bem ao meu lado e alcançou o Colin, tirando a fivela que o prendia na cadeira do carro. ― Muito mais calmo agora. ― Eu disse. Colin caiu no sono no caminho e ficou daquele jeito mesmo quando eu o trouxe para dentro do prédio iluminado. A cabeça dele estava mais fria também. ― Coitado do meu bebê. ― Kathleen murmurou, beijando o rosto dele e balançando-o nos braços. Era difícil se livrar do nó na garganta quando eu a observava segurar meu irmãozinho. Ela realmente amava aquela criança. Ela o amava um bocado tanto quanto eu. ― Deixei a Emma na minha mãe. ― Kathleen disse, ainda olhando para o Colin. ― Ela pode ficar com ela durante a noite. Kathleen mantinha uma aparência ótima mesmo a essa hora da noite debaixo das luzes ruins da sala do atendimento de emergência. Ela vestia uma blusa com decote em V e uma saia folgada que ia até seus tornozelos. Seus cachos “vermelho selvagem” se espalharam pelos seus ombros e ela não usava maquiagem. Ela não precisava de nenhuma. E eu poderia ter certeza, mas, olhando desse ângulo, eu achava que ela não estava usando sutiã. Eu sou um imbecil de merda. Essa garota sai no meio da noite para me ajudar numa crise e tudo que eu consigo fazer é dar uma conferida seus peitos dela. Parei de observar a Kathleen e voltei para o tédio da minha papelada. ― Desculpa se te acordei. ― Você não me acordou. Eu tinha um trabalho para escrever. Perto da linha que dizia “Alergias”, eu escrevi na pergunta errada. ― É verdade. Você mencionou que está tendo aulas à distância. O que você está estudando? ― Contabilidade. Gostaria de tirar minha licença algum dia. ― Isso é bom. ― Na verdade, não. Mas é uma boa carreira que paga as minhas contas. Eu a estudei de novo. Colin dormia no seu ombro agora enquanto ela esfregava suas costas carinhosamente. ― O que você queria fazer no lugar? Um sorriso triste apareceu em seus lábios. ― Demorou um pouco para encontrar meu nicho, mas eu era professora de filosofia. ― Impressionante. ― Eu queria ser professora universitária. Ter um pós-doutorado para que eu pudesse ter umas palavras chiques no meu nome, talvez ensinar no exterior por um tempo. Aqueles planos pareciam mais com a Kathleen Doyle que era vista como o prodígio da cidade, a garota que avançou várias matérias, ignorando toda a proximidade com a aparência de uma criança com peito achatado. ― E ainda assim você se tornou uma contadora em Hawk Valley. ― Eu disse e imediatamente desejei que não o tivesse feito. Eu estava pensando alto, me questionando sobre a bifurcação na estrada da vida da Kathleen Doyle. ― Emma. ― Ela disse, explicando, e seu sorriso não estava mais triste. Eu devia ter adivinhado. Kathleen era alguns anos mais nova do que eu, provavelmente vinte e três. Ela se formou mais cedo, melhor aluna da minha turma, entrou de cabeça na faculdade com sonhos grandes e voltou para casa depois que engravidou de um cara de quem ela obviamente não queria falar. Meus próprios pais eram novos e tolos quando eu vim ao mundo, então eu sabia tudo sobre como a chegada de uma criança poderia mudar uma trajetória de vida. “Você faz alguma ideia do quanto eu poderia ter feito se você não tivesse nascido?” Meu pai estava um pouco bêbado quando ele disse isso e nós tivemos mais uma das nossas brigas abomináveis. Provavelmente eu tinha quinze anos na época. Chris Ryan não pedia muito desculpas, mas no dia seguinte ele se desculpou por dizer aquelas palavras. Ele parou na porta do meu quarto, com as mãos cruzadas no peito, os olhos no chão, e assim disse que sentia muito. Ele tinha ficado bravo. Ele tinha bebido muitas cervejas. Ele não quis dizer o que disse. Eu acreditei nele. Ele queria me dizer alguma coisa também, algum conhecimento sobre perdão. Entretanto, eu teimosamente encarei minha tarefa de casa e não disse nada. ― Colin Ryan? A enfermeira de uniforme roxo estava parada esperando. Kathleen carregou o Colin enquanto eu a segui com a cadeirinha do carro e a bolsa com fraldas. ― Você só precisa deixar os braços da mamãe por um instante. ― A enfermeira disse quando estava na hora de colocar Colin na balança. ― Seis quilos e meio. ― Isso é bom? ― Eu perguntei, parecendo tão ansioso quanto me sentia. A enfermeira me deu um sorriso indulgente. Ela parecia nova, muito nova mesmo. Ela provavelmente começou a trabalhar recentemente. ― Está bem. Vocês dois devem ser pais de primeira viagem? ― Não. ― Disse a Kathleen, e deixou por isso mesmo. A enfermeira prometeu que a médica seria aqui em breve e nos deixou sozinhos. Colin estava começando a chorar, então Kathleen começou a andar pelo cômodo para acalmá-lo. ― Quer que eu o pegue? ― Eu perguntei. Ela começou a dizer que não, mas depois o entregou a mim. ― Se você quiser. Eu estava me acostumando com a sensação de ter seu corpo pequeno contra meu peito. Segurá-lo agora parecia natural. ― Você vai se sentir melhor logo logo. ― Eu disse na sua orelha pequena. Quandolevantei o olhar, encontrei os olhos da Kathleen. Seus olhos eram marcantes, uma luz verde que eu nunca tinha visto em ninguém antes. A médica não nos fez esperar muito. Eu não lembrava dela, mas ela sabia quem eu era. Ela morava na cidade. Ela esteve em algum grupo de caridade ou algo assim com a Heather. ― Infecção nos ouvidos. ― Ela anunciou alguns minutos depois de examinar o Colin. ― Isso explicaria a febre e o choro. Fora isso, ele parece perfeito, por isso eu vou escrever uma receita e vocês podem levar esse garotinho para casa. ― Obrigada, dr. Crawford. ― Kathleen disse. ― De nada. ― disse a doutora Crawford. Ela rabiscou algumas coisas num pedaço de papel e depois olhou diretamente para mim. ― De novo, sinto muito pela sua perda. Ainda não consigo acreditar. ― Seus olhos se moveram para Colin e sua expressão era visivelmente triste. ― Por favor, me avise se houver alguma coisa que eu possa fazer. Era o mesmo sentimento que dezenas de pessoas sentiam em relação a mim desde a noite que cheguei em Hawk Valley. Um inútil e bem intencionado tipo de sentimento e oração, para dizer o mínimo. Eu queria que houvesse algo que eles pudessem fazer. ― Eu agradeço. ― Eu disse à médica antes dela sair do cômodo. Kathleen sabia onde ficava a farmácia vinte e quatro horas e insistiu em ela mesma levar a prescrição. ― Apenas leve esse menininho lindo para casa. ― Ela disse. ― Não vai custar fazer isso e podemos dar a primeira dose imediatamente. Ela sorriu. ― Emma teve algumas infecções de ouvido. Elas melhoraram rapidamente depois que os antibióticos entraram em ação. ― Sério, Kathleen. ― Eu disse e Colin deixou sair um suspiro sonolento no meu ombro. ― Eu te devo uma. Ela esticou a mão e tocou a cabeça do Colin, suas pontas dos dedos roçaram meu ombro no processo. ― De jeito nenhum. Eu sempre estarei aqui para o Colin. E para você. ― Sou sortudo por ter você. ― Eu disse, sem me dar conta do possível duplo sentido das palavras até ouvi-las em voz alta. Kathleen corou e desviou o olhar. Eu estava feliz por poder levar o Colin para casa e esperá-la aparecer com o medicamento. Era bom esse sentimento de cooperação pelo bem de uma criança com quem nós dois nos importamos. E era bom ter uma amiga. Eu não mantinha muitos por perto e isso nunca me incomodou. Ultimamente, no entanto, eu estava começando a sentir falta. E sim, eu pensava na Kathleen como uma amiga. Uma amiga com um corpo pecaminoso, cabelo sexy e um sorriso deslumbrante. Uma amiga que era gentil e generosa, mesmo sendo um pouco mandona. Uma amiga que fazia meu pau ficar duro se eu a olhasse por mais tempo. Eu gostava da Kathleen. Eu a respeitava. E não conseguiria parar de querer transar com ela mesmo se eu quisesse. 1 0 D C A P Í T U L O N O V E Kathleen epois do encontro na loja terminar de forma desconfortável, usei cada parte da minha força de vontade para não ligar para o Nash ou aparecer na casa pelos dias que se seguiram. Quando ele disse “Entro em contato”, eu não tinha certeza se ele estava irritado com minha insistência em relação à loja ou se ele só precisava de espaço para entender as coisas sozinho. Eu ficaria feliz em mover montanhas pelo Colin, mas meu papel era limitado porque eu não era sua guardiã. Nash era o guardião. Eu não esperava ouvir o pânico em sua voz numa ligação desesperada, depois das dez da noite, enquanto Colin gritava ao fundo. Nash não soava como um cara que ficava apreensivo com facilidade. Ele não pediria ajuda para ele mesmo. Mas ele procuraria, pelo bem do Colin. Assim que sentamos juntos na sala de espera do atendimento de emergência, comecei a entender que Nash não era o personagem estoico que ele parecia ser. Cuidar do Colin não era uma obrigação para ele. Parecia mais como amor. E, pela primeira vez, eu concordei que Chris e Heather tinham colocado seu menininho exatamente nas mãos certas. ― Você precisa de conta-gotas para o remédio? ― O farmacêutico perguntou enquanto embalava a medicação do Colin. ― Sim, por favor. ― Eu disse. Já passava da meia-noite no momento que eu estava no caminho para a casa de Nash. Depois que eu cheguei à casa vitoriana de cem anos de idade que deve ter testemunhado muito drama e tragédia por décadas, eu permaneci ao lado do carro por um momento e apenas olhei a casa antiga. A iluminação dos postes lançava um brilho pálido no detalhado acabamento do topo da casa de teto triangular. Eu sempre amaria esse lugar. Enquanto crescia no final da rua, era fascinada pela casa charmosa que parecia um pão de gengibre. Depois que a Heather casou com Chris Ryan e se mudou para cá, eu provavelmente devo ter vindo visitar umas centenas de vezes. Parte de mim ainda não poderia acreditar que eles não estavam mais imersos nas duas vidas felizes e paradisíacas bem do outro lado da porta da frente vermelha. A porta abriu e Nash apareceu. Ele deve ter reparado no meu carro. Anos atrás eu estava ciente dos rumores sobre ele, sobre Heather. Na época, eu supus que eles não eram verdade. Mesmo depois que Heather renunciou à sua alta posição no escritório da escola de nível médio, eu me recusei a acreditar que tinha algo impróprio na sua escolha. Todo mundo sabia que Nash andava por aí com uma variedade de garotas, mas de jeito nenhum minha prima linda e arrogante se envolveria com um adolescente. Nem mesmo um que estivesse à beira da masculinidade e sexualmente transformado como Nash Ryan. Por fim, eu descobri de outro jeito, neste momento, entretanto, eu não estava em choque. Depois eu soube tudo sobre os erros. E segredos. Nash carregava Colin em seus braços e estendeu uma mão em cumprimento, provavelmente se perguntando por que diabos eu estava parada ao lado do meio-fio. Retirei o papel branco da sacola da farmácia e me direcionei até eles no escuro. Colin não gostou de ser acordado para tomar o seu remédio. Depois de colocarmos a primeira dose na garganta dele, eu dei uma boa olhada no Nash e prestei atenção no cansaço presente em seu rosto. Ele não discutiu comigo quando eu disse que levaria Colin para o quarto e o balançaria até que ele dormisse de novo. Nash ficou no andar de baixo enquanto eu trouxe Colin para o quarto e sentei na cadeira de balanço que minha mãe deu a Heather como um presente de chá de bebê. Cantei suavemente a letra de “You are my sunshine” assim como eu cantava para Emma todas as noites na hora de dormir. E desejei com todo meu coração que a mãe dele estivesse aqui balançando-o para dormir em vez de mim. A testa do Colin estava fria e sua respiração, mesmo quando o coloquei no berço e ligou um som de máquina, francamente transmitia um ruído claro. ― Eu amo você, anjo. ― Eu sussurrei antes de deixar o quarto porque toda criança no mundo deveria ouvir essas palavras sempre que possível, independente delas conseguirem entender ou não. Eu encontrei Nash sentado no sofá da sala de estar, encarando a tela vazia da televisão. A cachorra dele, Roxie, tinha dormido em um canto. Ela levantou a cabeça quando desci as escadas, depois se acalmou com um suspiro ― Como ele está? ― Nash perguntou. ― Dormindo. ― Eu me afundei em um canto vazio no sofá de couro. O olhar de Nash cintilou sobre mim e eu percebi que eu tinha sentado terrivelmente perto dele. No entanto, eu não me afastei. Nem ele. Tinha uma mancha pequena na manga esquerda da camiseta dela. Eu apontei para ela. ― Eu acho que você foi atingido por alguma gorfada de novo. Ele olhou para baixo, deu de ombros e tirou a camiseta, expondo seus braços tatuados e o peito torneado. Ele levantou uma sobrancelha para mim. ― Melhor? Com certeza! Eu limpei minha garganta e desgrudei meus olhos das montanhas de músculos abdominais e peitorais dele. Não foi fácil. ― Você precisa descansar um pouco. ― Eu disse. ― Ele provavelmente vai dormir por enquanto e eu vou ficar por perto caso ele acorde. Nash me encarou. ― Não está cansada? É quase uma da manhã. Eu sorri e o cutuquei. ― Eu sou uma coruja. ― E era verdade. Minha agenda ocupada frequentemente exigia que eu ficasse acordadaaté tarde e funcionasse com pouco sono. Ele bocejou. ― Você provavelmente tem um milhão de coisas para fazer de manhã. ― Não. É domingo. E Emma está bem na casa da minha mãe. Ele se inclinou para trás no sofá com um suspiro e me deu outro longo e penetrante olhar fixo. ― Eu não sei como te agradecer, Kathleen. ― De nada. ― É sério. Obrigado por estar aqui pelo Colin. Obrigado por aparecer essa noite apesar de eu ser um babaca. ― Você não é um babaca. Ele pensou sobre isso. ― Eu sou um babaca às vezes. ― Às vezes. ― Eu admiti. Ele sorriu. Ele deveria fazer isso mais vezes. O sorriso de Nash tinha uma dose de magia contida. Depois o sorriso dele se apagou. ― Eu deveria saber. ― Ele disse e tinha uma emoção crua e real na sua voz. ― Nash, você não tinha como saber que o Colin tinha uma infecção no ouvido. Ele balançou a cabeça. ― Não. Eu quis dizer que eu deveria saber que às vezes coisas assim podem acontecer, que o tempo neste planeta nunca é uma garantia, que você pode perder pessoas a qualquer momento. Eu dobrei minhas mãos no meu colo. ― É impossível prever o futuro. ― É verdade. ― Ele disse e agora havia um tom pesado na voz dele. ― Eu não posso prever o futuro. Mas eu já sabia que nessa vida não há nenhuma certeza de um final feliz. Eu descobri isto quando minha mãe foi assassinada pelo homem que ela amava. Eu não sabia o que dizer. Mais de uma década atrás, o assassinato da mãe do Nash era uma grande notícia aqui apesar de ter acontecido em Phoenix. Assassinatos seguidos de suicídios ainda eram raros o suficiente para serem chocantes. A história era feia, dolorida até para pensar nela. A mãe de Nash foi atingida na cabeça quando dormia. Seu assassino era o homem com quem ela tinha se casado apenas dois meses antes. Depois de atirar na esposa, o cara atirou no cachorro da família. Depois atirou nele mesmo. Nash teve sorte de estar aqui, visitando seu pai no verão. Senão ele provavelmente teria sido morto também. Ou talvez ele visse a situação de outra maneira. Talvez ele pensasse que se ele estivesse lá, ele teria sido capaz de impedir o horror do acontecimento. Qualquer que fosse o caso, os ecos desse evento devem tê-lo atormentado. Até a jovem garota que já o admirava de longe tinha percebido como ele mudou depois da morte da mãe. Ele falou menos e lutou mais. Ele sempre foi popular e, de alguma forma, sempre esteve distante de todo mundo. E depois ele pareceu assombrado também. De algum jeito, ele ainda parecia. ― Eu sinto muito. ― Eu disse porque eu lamentava mesmo. Não havia nada que eu pudesse fazer para aliviar seu sofrimento. Nash fez uma careta e encarou as mãos. ― Eu poderia tê-los visitado, Kathleen. Eu poderia ter ligado mais. Eu poderia ter feito as coisas darem certo entre eu e meu pai, especialmente porque eu estava ciente de como ele queria que isso acontecesse. Meus olhos se encheram de lágrimas. ― Nash. A cabeça dele ainda estava baixa. ― Eu não sou um bom exemplo de porra nenhuma. Por que raios eles me escolheram? Eu não sabia qual era a resposta. Eu poderia tentar adivinhar apenas, com base no que eu sabia da minha prima e seu marido. E no que eu tinha aprendido com Nash até agora. ― Porque seu pai tinha muita fé em você. Porque ele sabia que você enfrentaria o desafio, que você amaria e protegeria aquele menininho. Nash, teu pai e Heather não duvidaram de você. ― Eu toquei o ombro dele. ― Eu não teria duvidado de você. Ele não olhou para cima. ― Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, Kathleen. ― Eu sei o suficiente. Agora ele levantou a cabeça. Nossos olhos se encontraram. Os olhos dele não estavam mais cheios de exaustão. Estavam repletos de dor. E quando eu movi minha mão do seu ombro para seu rosto, eles ficaram cheios de outra coisa. O maxilar dele se enrijeceu debaixo das pontas dos meus dedos, eriçado com a barba por fazer. Em outra época, eu fantasiava sobre estar perto assim do Nash Ryan. Eu sonhava com o dia que ele olharia para mim como estava me olhando agora. Com um desejo desinibido. Eu sabia o que aconteceria em seguida. Não tinha nada a ver com o passado. Nem com o futuro. Nem com as circunstâncias de partir o coração que nos trouxeram até este momento em particular. Era só sobre aqui e agora. E aqui e agora nós queríamos a mesma coisa. Eu movi minha mão para baixo e comprovei isso. ― Kat. ― Ele gemeu assim que minha mão se fechou ao redor dele por cima do tecido do short de ginástica. Ele estava duro, grosso, perfeito. Eu o acariciei ousadamente e ele gemeu de novo, dessa vez com um palavrão. Eu não tinha estado com ninguém há um tempo e uma necessidade primitiva acumulada no meu ventre desceu para o meio das minhas pernas. Nash colocou minha mão para dentro do elástico do short e eu toquei forte, a carne quente. Eu quase tinha esquecido como era a sensação de satisfação, como era empoderador trazer um homem forte para a beira do êxtase. Comecei a deslizar para os meus joelhos, pretendendo colocá-lo na minha boca. Mas ele me impediu. ― Se livra disso. ― Ele exigiu, arrancando minha blusa. Eu obedeci, puxando minha blusa para cima e depois passando pela minha cabeça calmamente. Na pressa de sair rápido, acabei esquecendo o sutiã. Eu me livrei da minha saia longa, depois prendi meus polegares na minha calcinha úmida e a rolei para baixo. Como eu ajoelhei no chão na frente dele, Nash me encarou por um momento tão longo que eu comecei a me sentir autoconsciente. Ele me agarrou sem aviso, as mãos dele se prenderam atrás do meu pescoço e me puxaram para um beijo que era feroz e eletrizante. Era disto que eu sentia falta, como era se sentir dominada por um beijo. Eu mal me senti sendo puxada e, de repente, eu estava no colo dele. Minhas mãos caminharam pelos músculos fortes do peito dele, mas não muito. Eu era impaciente assim como ele, talvez mais, cavalgando, movendo-me contra a sensação da sua pele numa busca desesperada por alívio. Ele empurrou o short para baixo e me olhou nos olhos. ― Tem certeza que quer isso? Eu não conseguia falar. Só assenti. Nash me surpreendeu quando ele veio gentil, entrando dentro de mim com calma, como se ele achasse que eu me quebraria se ele fosse muito bruto. Minha pele se esticou e tremeu quando eu o levei por toda minha entrada e eu quase não aguentando. Envolvi meus braços nos seus ombros e o cavalguei num ritmo furioso até ele pegar meus quadris e decidir assumir o controle. E eu deixei. Eu deixei que ele me movesse na velocidade que ele queria e me aproveitei do frenesi dos nossos corpos colidindo. Não demorou muito para que eu gozasse e puta merda eu gozei muito. O orgasmo foi uma avalanche e tudo que eu pude fazer foi ser temporariamente enterrada por ele, abafando o impulso de gritar como os tremores me naufragaram nas ondas. Os braços do Nash me mantinham longe de colapsar em uma poça quando outros abalos continuaram crescendo e diminuindo. ― Porra, perto demais. ― Ele finalmente arfou e saiu de dentro de mim. Indistintamente eu percebi porquê, entendi que ele estava certo em se afastar. Nós tínhamos sido absurdamente imprudentes, nem usamos uma camisinha. Mais alguns segundos e poderíamos ter tido um problema. Mas nós não terminamos ainda. Eu fechei meus dedos em redor do pau grosso e insatisfeito dele e o acariciei o comprimento sólido, provocando a ponta até ele estremeceu, gemeu meu nome de novo e gozou na minha mão. Nós dois estávamos suados e ofegantes como maratonistas de corrida pesada. Eu deslizei para fora do seu colo e em direção ao sofá, tentando recuperar o fôlego e descobrir o que deveria fazer em seguida. Nash se recuperou primeiro, pegando a camiseta dele do chão e cuidadosamente retirando o gozo da minha mão. Ele me observou enquanto eu reunia minhas roupas e as segurava no meu peito numa pilha amarrotada. ― Eu deveria deixar você dormir. ― Eu disse. Nash esfregou as costas das suas mãos no meu braço. Meu arrepio foi involuntário. ― Não estou cansado. ― Ele disse. ― Mesmo depois disso tudo? Ele achou minha pergunta engraçada. ― Especialmente depoisdisso tudo. Eu engoli. ― Acho que eu devo ir. ― Não, você não deve. Coloquei de volta minha calcinha porque eu estava começando a me sentir ridícula sentando no sofá com a bunda pelada. Nash, por outro lado, não pareceu ter problema com isso. Ele parecia tão relaxado como nunca. ― O que eu deveria fazer então? ― Eu perguntei, adicionando um tom divertido à minha voz. ― Nada. ― Ele deslizou para o chão, abriu minhas pernas e empurrou minha calcinha para o lado antes de me transformar em uma exploração da língua dele e assim eu perdi o fôlego e arquei minhas costas. ― Não faça porra nenhuma agora. ― Ele ordenou em um sussurro brusco e a sensação da mandíbula se eriçando contra o interior das minhas coxas sensíveis era quase tão perversamente deliciosa quanto a língua dele. Então eu segui as ordens. Eu não faria porra nenhuma. 1 1 Q C A P Í T U L O D E Z NASH uando eu acordei, meu primeiro pensamento foi o Colin. Fiquei tenso por um momento e relaxei quando lembrei que Colin estava bem agora. Eu não ouvia nenhum choro, então ele deve estar dormindo ainda. Os antibióticos já estavam trabalhando com a mágica da medicina. Meu segundo pensamento foi que eu me sentia bem. Realmente muito bem. Restaurado, e com a mente clara. Depois, eu olhei para meu lado e não me senti mais tão bem. Kathleen estava encolhida na beira da cama. Se ela rolasse dois centímetros, ela sairia na hora. Seus cabelos cacheados cobriam seu rosto, mas sua respiração era profunda e ela não se mexeu quando eu me desenrolei do emaranhado de cobertas. Eu tive que puxar o lençol com força no processo e a vista da pele macia e nua dela estava me estimulando de formas que eu não queria ser estimulado nesse momento. Eu cavei um par de shorts de ginástica limpos de uma das minhas malas porque eu ainda não tinha desfeito. A decoração do quarto não tinha sido modificada, mas a cômoda velha no canto do quarto estava cheia de artes e suplementos para artesanatos que devem ter pertencido a Heather. Eu não poderia me lembrar do meu pai tendo muito motivo para usar glitter e fio. Em algum momento, eu precisaria fazer alguma coisa sobre o fato de que os guarda- roupas e armários de toda a casa estavam cheios de pertences pessoais do meu pai e da sua esposa. No entanto, eu não poderia pensar nisso ainda. A ideia de mexer nos itens abandonados dos mortos ainda doía demais para isso. Kathleen deixou sair um sussurro de leve e depois começou a rolar na cama, o que poderia ter feito com que caísse no chão polido de madeira dura. Eu me aproximei para formar uma colher com minhas mãos sob ela e rolá-la de volta em segurança. Ela ainda não tinha acordado. Eu fiquei parado ali por mais alguns segundos encarando-a. Porra, como ela era sexy. O que não significava que eu estava orgulhoso de mim mesmo por ter penetrado aquele corpo gostoso uma dúzia de jeitos diferentes na última noite. Eu não tinha pensado. Kathleen não parecia para mim como o tipo de garota que se joga na cama. Ela podia esperar coisas. Coisas essas que eu não teria disponível para dar a ela agora. Provavelmente nem agora nem nunca. Eu saí do quarto e fechei a porta silenciosamente atrás de mim. O dilema Kathleen teria que esperar até mais tarde. Entretanto eu poderia mesmo admitir que ter transado tanto ontem tinha feito maravilhas para o meu humor. No quarto do bebê no fim do corredor, Colin estava acordado e sacudindo seus braços pequenos ao seu redor, tentando pegar o macaco de pelúcia móvel do berço. Eu entendi isso como um bom sinal de que ele não estava mais gritando de dor e quando eu coloquei a palma da minha mão na testa dele, eu fiquei aliviado que ela estava fria. ― Vamos, bebê. ― Eu disse e, na verdade, ele me deu um pequeno sorriso quando eu o tirei do berço. Não pela primeira vez, eu me questionava sobre o que estaria se passando no cérebro de bebê dele. Havia alguma parte dele que entendia como a vida dele tinha sido virada de cabeça para baixo? Eu esperava que não. Colin se retorcia quando eu estava trocando a fralda e resistiu ao ser colocado de volta à roupinha, então eu o levei lá para baixo usando apenas a fralda. O sol estava brilhando lá fora e a casa estava quente. O verão estava quase aqui. Roxie estava esperando ao final das escadas, com o rabo abanando. Eu a deixei sair pela porta dos fundos e ela imediatamente mergulhou em direção a um grupo de passarinhos que estavam bicando a grama. Ontem à noite eu tinha medido fórmula de leite em pó para bebês e feito um par de mamadeiras para guardar na geladeira. Colin bebeu uma com urgência e depois emitiu um arroto considerável quando eu o segurei ereto para isso. ― Bom menino. ― Eu disse. Eu percebi que eu estava elogiando outro ser humano pelo feito rotineiro de arrotar. Mas esse pensamento não me incomodou nem um pouco. Essa manhã Colin estava mais disposto a engolir seu remédio e ele parecia completamente alegre quando o coloquei na sua cadeirinha de descanso. Ele imediatamente fez um esforço para segurar os objetos coloridos que se balançavam no balcão de brinquedos da cadeirinha, mas só foi bem sucedido em bater seus braços pelos lados. Eu sacudi o porco bobo de brinquedo que ele gostava tanto e o jeito que ele bateu nele com tanto entusiasmo me fez sorrir. Eu estava pegando o jeito dessa coisa de bebês. ― Bom dia. ― Disse uma voz e eu me virei para ver a Kathleen parada na porta. Ela estava completamente vestida nas roupas da última noite. Isso foi uma certa decepção, mas eu não poderia esperar realmente que ela desfilasse nua pela minha casa. Na verdade, isso não era uma boa ideia por um monte de razões. A vista, no entanto, seria extremamente épica. ― Bom dia. ― Eu respondi, mantendo minha voz neutra e fiquei feliz que ela não se atirou em relação aos meus braços. Na verdade, ela parecia um pouco desconfortável, cruzando os braços na frente do peito, ela se apoiava contra a parede enquanto falhava em me olhar no rosto. Kathleen se iluminou quando seus olhos se apoiaram em Colin. ― Oi, raio de sol. ― Ela disse, aproximando-se até ele e desatando as amarras da cadeirinha que eu tinha acabado de amarrar. ― Como está o meu menino hoje? ― Ela o abraçou e beijou o rosto dele e fez um monte de sons sem noção que encantava o bebê. ― Eu já dei a ele a segunda dose. ― Eu disse. ― Eu acho que ele está se sentindo melhor. Kathleen assentiu e depois continuou com a besteira de nhe- nhe-nhe-ba-ba. Eu queria saber a coisa certa a dizer na manhã depois de ter fodido a minha nova amiga e meio que queria não ter feito. Eu liguei a máquina de café. ― Você quer uma xícara? ― Então você se tornou um fã de cafeína, afinal. ― Kathleen disse numa voz provocadora e quando ela olhou para mim, ela sorriu. Eu relaxei um pouco. Talvez isso não tenha ficado tão estranho, afinal de contas. ― É, eu descobri propriedades interessantes nela. ― Eu removi duas canecas idênticas de Felicidade de Hawk Valley do armário da cozinha. Elas pareciam estar se multiplicando. ― Então você gosta de creme ou açúcar? ― Nenhum dos dois. ― Disse a Kathleen. ― Mas eu tenho que ir. Minha mãe ama a Emma, mas a paciência dela com uma menina precoce de três anos e meio tem um limite de apenas doze horas. Kathleen cuidadosamente colocou o Colin de volta na sua cadeirinha enquanto eu procurava na minha mente um jeito de terminar essa conversa de forma diplomática. “Meu pau agradece.” Não. Definitivamente nada diplomático. "Volte a qualquer hora.” Soa sarcástico igual uma droga. Kathleen terminou de brincar com o Colin e limpou a garganta dela. ― Nash, eu espero que a noite de ontem não arruíne nada. Ouvir a voz dela me fez relembrar o grito agudo e ofegante distinto que ela fez toda vez que sentia um orgasmo chegar. Mas eu mantive a expressão impassível. ― De jeito nenhum. Ela ficou com uma expressão ansiosa. ― Você acha mesmo? ― Sim. Você é ótima. A última noite foi… ótima. ― Foi. ― Ela concordou. ― E não foi a melhor ideia. ― Provavelmente não. Ela levantou o queixo e igualou o olhar dele para mim. ― Então você sabe,isso não é algo que eu faça regularmente. ― Nem eu. Sua sobrancelha levantada dizia que ela não acreditava em mim, mas ela obviamente não iria querer começar uma discussão. Por outro lado, eu meio que sentia que começar um iria colocar a verdade para fora. ― Você não parece convencida. ― Isso não é da minha conta. ― Claro que não é. ― Então eu não vou perguntar. ― Mas eu acho que você deveria. Kathleen suspirou. Ela cruzou seus braços de novo. Ela fazia muito isso. ― Você quer que eu pergunte se você é o tipo de homem que come qualquer coisa com peitos? Isso estava ficando divertido. ― Sim. Ela estava corando. ― Então você é? ― Eu sou o que? ― Um pegador. Eu completei as canecas com café e dei a ela uma, mesmo que ela tenha dito que ela não queria nenhuma. Ela tinha que descruzar os braços quando eu passei a caneca para ela e eu percebi que o fato de eu estar tomando meu tempo para responder sua pergunta estava causando arrepios. Eu meio que gostava de causar arrepios nela. ― A última garota com quem eu estive foi a que eu namorei por cinco meses ano passado. ― Eu disse. ― Eu não saio por aí fodendo garotas por mais nem menos. Eu não sou um pegador, Kat. Ela digeriu a informação. Ela parecia confusa; ― Por que você pensaria ao contrário? ― Eu pressionei, me perguntando o tipo de fofoca que estava circulando por aí sobre mim em Hawk Valley desde que saí. Kathleen colocou seu café na mesa e lá estava ela e os braços de novo, cruzando-os sobre o peito e escondendo a forma firme e generosa dos seios. Mas não antes de eu conseguir observar que seus mamilos estavam duros. A observação foi interessante. ― Eu acho que eu não deveria ter sido tão presunçosa. ― Ela disse. ― É só que eu lembro como você era no ensino médio. ― Como eu era? Ela estava pensativa. ― Sem compromisso, eu suponho. Você era atacado por uma garota diferente toda semana e nenhuma delas parecia ser importante para você por muito tempo. Eu nunca ouvi você se referir a cada uma delas como sua namorada. ― Você deve ter prestado muita atenção. ― Eu disse. Agora eu estava implicando com ela. Eu sabia que ela tinha uma queda enorme por mim quando ela era toda magra, sem graça e sem curvas. Toda vez que eu procurava, eu via o pequeno rosto pálido dela espiando em uma esquina e depois ela desviava como se ela achasse que eu não tinha percebido. Kat corou. ― Eu sempre fui muito observadora. ― Uma boa qualidade em uma perseguidora. Seus lábios se contraíram. ― Eu não perseguia você. ― Eu acho que nós estivéssemos sendo honestos. Ela deixou sair uma respiração exasperada. ― Bem, talvez eu fosse um pouco mais intrigada por você do que eu deveria ter sido. ― E por que não? Eu sou um cara intrigante. Kathleen entortou a cabeça e me estudou. ― Você era um destruidor de coração. Eu achei que você ainda fosse. As pessoas geralmente não mudam. E de qualquer forma, é só olhar para você. Eu parei para pensar sobre isso. ― Eu não entendi. ― Sim, você entendeu. ― Me divirta, Kat. ― Você está mais sexy e mais misterioso do que nunca. E você sabe disso. ― Talvez. Ela revirou os olhos. ― Ah, por favor! É óbvio que você tem uma aparência absurdamente boa e você não parece ter nada além de desprezo por conceitos adultos como relacionamentos e amor. Eu não estou dizendo que estava certa sobre você, mas essa é a razão que me fez ter certas suposições. Eu estava incomodado. Kathleen obviamente tinha alguma bagagem, dado o que ela disse antes sobre ser ruim em relacionamentos, mas eu não sabia por que ela achou que eu via amor com desprezo. Amor era ótimo provavelmente ou as pessoas não estariam se esforçando para parecer boas e merecedoras para encontrá-lo. Só porque eu nunca conheci o sentimento em primeira mão não significava que eu me escondia nas sombras lançando um olhar malvado para casais felizes. ― Então você supõe que todos os caras solteiros que não quebram o espelho são mulherengos convictos? Ela sustentou o meu olhar. ― Não. Eu só achei que você fosse. Eu bufei. ― Você queria honestidade. ― Ela me lembrou. ― Eu queria. E pelo interesse na honestidade revelada, só vamos dizer que eu aprendi com os meus erros. Ela ficou em silêncio por um momento. Ela teve que perceber do que eu estava falando. ― Eu acho que é tudo o que podemos fazer. ― Kathleen disse calmamente. ― Aprender com os nossos erros e tentar ser versões melhores de nós mesmos do que nós éramos. Isso era o tipo de coisa estranha e introspectiva para dizer. Ela rodou um pedaço de cabelo e pareceu preocupada, perdida em seus próprios pensamentos de repente. Eu entendi que seja lá o que estivesse passando pela sua cabeça bem agora provavelmente não tinha nada a ver comigo. Eu bebi meu café e observei o Colin perseguindo seu tão importante porco rosa, inconsciente de qualquer outra coisa que estava acontecendo naquele cômodo. ― A propósito, ― Eu disse, de repente chegando a uma decisão. ― Eu vou dar uma chance à loja. Os olhos de Kathleen estalaram no meu rosto. ― Você vai? Eu concordei e ela sorriu para mim de uma maneira muito positiva. De fato, ela parecia tão feliz que você poderia achar que eu tinha prometido a ela fazer um cruzeiro para as Bahamas. ― Nash, isso é ótimo! Isso vai significar tanto para a comunidade. E você pode contar com a minha ajuda. Eu me sentia meio deselegante por aceitar ainda mais ajuda da Kathleen, mas eu estava feliz que ela tinha oferecido. ― Então, o que eu preciso fazer primeiro? ― Eu perguntei. Imediatamente, ela se tornou profissional e começou a fazer uma lista contando nos dedos. ― Bem, para começar, você precisa reabrir as portas o mais rápido possível. Eu vou ligar para Betty e Hayden, seus empregados, e organizar uma estratégia. Nós conversamos sobre contratar outro caixa para completar os espaços, não é? Sim, eu acho que conversamos. Eu vou colocar alguns anúncios em sites de trabalhos e eu posso tomar conta das entrevistas, se você quiser. Ou você pode fazer isso. Apenas me deixe saber. Ah, e você precisa encomendar mais inventário para estoque. Eu recomendo uma visita ao Primeiro Banco de Valley, lá que estão suas contas. Você vai precisar estender as linhas de crédito da loja e se encontrar com seu gerente de conta pode ajudar. ― Uma coisa de cada vez. ― Eu levantei uma mão. Meu cérebro não poderia manter todas essas tarefas que ela citou. ― Vamos começar com o problema no fluxo de caixa. Eu tenho dinheiro. Eu posso arranjar para ter pronto para uso no meu banco hoje. E Steve Brown tinha mencionado alguma coisa sobre fundos de seguro de vida, então eu provavelmente posso pegar um pouco desse dinheiro depois de guardar o máximo possível para o Colin. ― Isso é bom. ― Kathleen balançava sua cabeça com vontade. ― Isso vai funcionar, Nash. Eu sei que vai. ― Depois eu vou pegar emprestado um pouco do seu otimismo, e concordar. Colin reforçou o momento esmagando o porco e gritando. Kathleen olhou para o relógio acima do fogão. ― Eu realmente preciso ir. ― Tudo bem. Eu deixo. ― Você pode me ligar depois se você quiser falar em mais detalhes sobre um plano de ação para a loja. ― Vou te ligar. Ela se debruçou e beijou o Colin. ― Adeus, menino lindo. Feliz que você está se sentindo melhor. ― A bolsa dela estava na mesa da cozinha. Ela deve ter deixado bem ali na noite passada antes de se distrair com diversões orgásticas. Ela colocou a bolsa no ombro e foi embora. ― Eu falo com você depois, Nash. ― Até depois, Kat. Ela tinha a mão parada na porta e, de repente, se girou. ― O que fez você mudar de ideia? ― Sobre a loja? Eu não sei, eu acho que algumas das coisas que você disse fizeram sentido. ― Fico feliz de ouvir, mas era sobre outra coisa. O que fez você mudar de ideia sobre me chamar de Kat? ― Você disse que seus amigos todos te chamam de Kat. ― Eu levantei uma sobrancelha. ― Não é verdade? Ela sorriu. ― Sim, é verdade. Quando a Kathleen saiu, havia um vazio instantâneo na cozinha. Até mesmo o Colin parou de sacudir suas pernas ao redor e ficou sentado com uma expressão pensativa. ― Apenas eu e vocêde novo, criança. ― Eu disse e eu poderia jurar que ele levantou uma sobrancelha acusativa. ― Sem julgamento, irmãozinho. ― Eu avisei e o tirei da cadeirinha. 1 2 E C A P Í T U L O O N Z E KATHLEEN ra terça-feira de manhã quando eu esbarrei com Jane Ryan vestindo um vestido boêmio em cores de pavão e fazendo cara feia para uma pilha de tomates daqueles não-híbridos especiais, na Mercearia Windom na Avenida Gardner. — Kat! — A careta da Jane sumiu e ela pareceu encantada por me ver. Ela tinha os clássicos cabelos pretos e grossos da família Ryan e profundos olhos azuis, como seu irmão e seu sobrinho. Mas nos lugares do cabelo do Chris que tinha começado a aparecer mechas cinzas, o dela ainda estava brilhante e uniforme. — Oi, Jane. — Eu a abracei. Quando eu era criança, Jane cuidou de mim algumas vezes quando minha mãe começou a namorar seu futuro terceiro marido (mais tarde viraria seu terceiro ex-marido). A carreira de Jane como babá terminou no dia em que encontramos um cachorrinho perdido no parque. Jane embrulhou a criatura relutante na sua jaqueta numa tentativa equivocada de resgate. Quando nós voltamos para o meu quintal da frente, a raivosa bola de fúria saltou da sua jaqueta e prendeu os dentes no meu braço esquerdo. Eu gritei. Jane gritou ainda mais alto. Um dos meus vizinhos ouviu o barulho e pulou a cerca para vir até nós. Depois que o vizinho afastou o “cachorrinho”, o cachorrinho correu e ele perguntou por que raios nós estávamos brincando com um coiote. Jane hiperventilou e eu precisei tomar uma série de vacinas contra a raiva. Minha mãe não estava feliz. — Nash me contou o que aconteceu. — Ela disse e eu deixei cair as duas caixas de cereal que eu estava segurando. Eu abaixei para pegá-las de volta e recompor a postura porque eu tinha certeza que meu rosto estava ficando vermelho como aquele tomate na mão da Jane. Eu não tinha pensado em Nash como um linguarudo infeliz que contaria para sua própria tia suas aventuras sexuais, mas eu já estive errada sobre as pessoas antes. — Estou tão feliz que Colin está bem. — Jane continuou. — Kevin e eu estávamos fora de casa na noite passada. Obrigada por tudo que você fez por ele. E por Nash. Eu sei que meu sobrinho não é sempre o cara mais fácil de se entender. Eu estou muito grata que você estava lá. Eu respirei mais fácil. Nash tinha contado a ela apenas sobre a viagem no meio da noite para a emergência. Não a festa depois. — Fiquei feliz por ter ido. — Eu disse, quase mordendo as minhas palavras porque elas eram verdadeiras em mais do que um jeito só. Jane me estudou. — Você está linda hoje. Toquei meu cabelo. — É legal da sua parte dizer isso. — Radiante. — Jane concordou. — O que? — Você está radiante. Tem essa aura de serenidade satisfeita rondando você. — Novo produto de pele. — Eu disse, esperando que isso colocaria um fim nessa conversa particularmente ameaçadora. Não funcionou. — Não. — Jane franziu a testa para mim do mesmo jeito que ela olhou feio para aqueles tomates inadequados. — Não é isso. Tem um brilho que vem de dentro. Eu era ruim em manter a cara de paisagem. Jane ainda estava me examinando como se minha testa estivesse tatuada com letras que ela poderia ler. E elas diziam: Eu transei com Nash Ryan. E eu gostei disso. — A loja está reabrindo essa semana. — Eu disse como se isso explicasse tudo. Jane piscou. — Que loja? Honestamente, eu amava Jane mas, às vezes, a mulher era idiota. — A loja do Chris. Presentes de Hawk Valley. Instantaneamente desejei que eu não tivesse trazido à tona o nome do seu irmão morto. A expressão de Jane mudou. — Certo. — Ela disse calmamente. — Era a loja do meu pai. Ele costumava manter um pote de moedas e varas de doces no balcão. Eu abracei as caixas do cereal favorito da Emma contra o meu peito. — A reabertura é sexta de manhã. — Eu disse. — Eu tenho certeza de que Nash amaria se você desse uma passada lá. Jane se animou. — Você vai estar lá? — Sim. Por pouco tempo, de qualquer forma. Eu tenho ajudado Nash a resolver todos os detalhes. Ele vai falar com alguns dos artistas locais que fazem trabalho para vender se eles têm algo novo. Você tem pintado? — Na verdade, não. — O olhar de Jane vagou pela porta de vidro. — Eu costumava sempre olhar para as montanhas para me inspirar. Eu não consigo mais fazer isso. Eu olhei para onde Jane estava olhando. A cordilheira das Montanhas de Hawk tinha sido um cenário amigável para qualquer um que vivia aqui. Acho que eu não estava sozinha em suprimir um tremor toda vez que eu olhava para ela agora. Eu não poderia ficar e conversar com a Jane por muito tempo. Eu tinha passado aqui apenas para escolher o cereal de Emma antes do meu encontro programado com Nash. Avenida Gardner era uma longa e estreita faixa que levava ao centro da cidade. Presentes de Hawk Valley ocupava um espaço bem do outro lado da avenida, mas eu escolhi andar, inalando a promessa doce do início do verão. Tinha um novo aviso na porta da loja, bem em cima do que dizia ‘FECHADO’. As letras em negrito diziam “Presentes de Hawk Valley vai reabrir sexta-feira, 8 de junho. Obrigada pelo seu apoio. ” Nash deve ter colocado aquela placa ali. Ele estava apoiado contra o balcão de saída, cotovelos descansando na madeira lustrada de um jeito que sugeria que ele tinha esperado por alguns minutos. Eu não estava atrasada. Nash só estava tentando provar que ele estava no controle das coisas. — Onde está Colin? — Eu perguntei quando uma parte básica de mim mostrou um sobressalto involuntário. Eu tinha falado com Nash algumas vezes desde que nos separamos na manhã seguinte, mas essa foi a primeira vez que nós estávamos no mesmo cômodo juntos desde que eu saí da sua cozinha dois dias atrás me sentindo fabulosa e vagamente ofendida. Se eu parecia mesmo radiante como Jane insistiu em dizer, então eu tinha que agradecer o Nash, embora eu preferisse lamber o asfalto da Avenida Gardner a admitir isso a ele. — Nancy está cuidando dele. — Nash disse. Seus olhos passavam por mim com uma precisão lenta. Sua camisa polo azul estava um pouco acima do seu traje usual e seu cabelo preto estava cuidadosamente arrumado em vez de despenteado e selvagem. Eu poderia sentir o cheiro da sua loção pós-barba daqui. O perfume de masculinidade picante que tinha sido projetado para fazer ovários estremecerem. — Isso é o café da manhã? — Ele perguntou, apontando para as caixas que eu estava esmagando acidentalmente. — Não. — Eu as coloquei numa prateleira próxima que estava meio vazia. — Quando tem a ver com comida, é um desafio para Emma. Às vezes essa é a única coisa que ela concorda em comer e eu saí correndo essa manhã. Espere um momento. — Eu pensei em alguma coisa. — Como você entrou aqui? Eu esqueci de te dar a chave. Ele deu de ombros. — Eu encontrei outra. — Onde? — O cofre do meu pai. — Como você conseguiu entrar no cofre? — Ele deixou a combinação com Steve Brown como parte das instruções do testamento. — Você viu Steve Brown de novo? — Quantas perguntas você vai fazer essa manhã, Kat? — Eu não sei. Quantas você deseja responder? Nash se moveu do balcão e deu um passo na minha direção. Ele estava me encarando de novo. Ele estava me olhando de um jeito que me fazia esquecer coisas como decência e senso comum e o fato de que eu era uma mãe solo que não deveria correr riscos. A verdade era que eu estava pronta para esfregar um na mão dele se ele estendesse. — Você está linda hoje. — Ele disse em um tom rouco que me segurou mais do que as palavras dele. Eu alisei o balanço da minha saia com comprimento até os joelhos. — Eu tenho usado essa roupa por anos. — É bonita. — Nash. — Eu engoli. — Achei que nós tivéssemos concordado que isso não aconteceria de novo. — Você não gosta de elogios, Kat? Ele estava a três passos de distância, me observando com um interesse intenso. Ele sabia o que estava na minha mente. Ele sabia que eu o queria e ele estava me fazendo admitir isso. — Eu gosto de elogios. — Eu sussurrei. Nash estava satisfeito. — Do que mais você gosta? —Eu acho que você descobriu uma ou duas coisas. Ele concordou. — Ou mais. Minha boca se contraiu. — Sabe, eu não vim aqui para um encontro. — Que coincidência! Eu também não. Eu respirei calmamente. Eu tinha que lembrar os meus motivos para concluir que eu não deveria ter transado com Nash Ryan. — Acho que a gente precisa criar umas regras básicas. Motivo 1: Eu não tinha tempo nem disposição para estar envolvida com ninguém agora. — Acho que sim. — Nash disse. — A gente realmente não precisava falar sobre isso na manhã seguinte. Nash chegou ainda mais perto. Sua camisa polo de filhinho de papai estava em desacordo com a tinta passando por cima dos seus braços fortes, que ele cruzou no seu peito largo enquanto me observava. — Vamos falar sobre isso agora. Motivo 2: Nós somos amigos. Eu acho. Eu forcei meu rosto a parecer sério. — Ok, Nash. Você gosta de sinceridade, então eu vou dar a você. Eu faria qualquer coisa por Colin e eu realmente me importo com você também. Mas, nesse momento, eu não tenho um espaço na minha vida para um relacionamento. Ele sorriu. — Eu não pedi por um, Kat. Motivo 3: Isso poderia terminar mal e impactar Colin. E Emma. E eu. — Justo. — Eu suspirei. — Eu realmente valorizo sua amizade e a outra noite foi incrível. Mas minha prioridade é a Emma. — E a minha prioridade é o Colin. — Então a gente está na minha situação. Ele se fechou. — Sim, estamos. — Então não há nada mais a dizer. Nash estava a centímetros de distância. Ele tocou o botão de cima da minha blusa, empurrando a ponta do dedo para a dobra do caseado. — Não, não há nada a dizer. Eu prendi a respiração. Ele tinha que ter ouvido. — O que nós vamos fazer, Nash? Ele pegou o botão, torcendo até que ele saiu. — O que você quiser, Kat. Motivo 4: Nenhum dos motivos anteriores importavam droga nenhuma. — Você sabe o que eu quero. — Eu admiti e esfreguei minha mão contra o seu peito, descobrindo a sensação dos músculos sob o tecido. — Sem aborrecimentos, sem complicações. Ele desabotoou outro botão da minha blusa, dessa vez sem arrancá-lo. — Eu posso dar isso a você. Não sou um fã de aborrecimentos e nem de complicações. Minha mão passeava com calma, parando no cinto. — Isso é só sobre duas pessoas que sabem como fazer a outra se sentir bem. Eu acho que nós dois precisamos disso agora. Nash moveu minha mão para baixo e eu podia sentir quão duro ele estava. — Eu acho que você está certa. — Ele sussurrou. — Não tem nada de errado com isso. — De jeito nenhum. Eu mantive minha mão onde estava enquanto ele fez o pequeno esforço de abrir o resto dos meus botões. Depois eu parei e me livrei da blusa. Nash me observou e deu um assobio baixo. — Eu já mencionei que você é totalmente maravilhosa? — Depois ele sorriu de um jeito que ameaçava derreter meu coração se eu tivesse alguma intenção de permitir que meu coração se derretesse. Eu puxei seu cinto, apreciando o jeito como ele me observava, aproveitando quão atrevida eu me sentia. — Eu quero ver você também. — Eu disse. Depois eu suspirei e me virei. — Espere, a porta está aberta? Ele tinha as mãos em mim, abrindo meu sutiã e me empurrando em direção ao balcão até eu me chocar contra ele. — Provavelmente. — Ele rosnou e agora ele estava atrás de mim, empurrando minha saia e minha calcinha para baixo. Meus seios derraparam do meu sutiã que estava aberto e rapidamente encontraram o caminho até as mãos de Nash antes que eles fossem esmagados contra o balcão quando ele me curvou. Minhas pernas pareciam uma geleia, ameaçando a colapsar debaixo de mim quando Nash abaixou a calça e provocou minha bunda com seu pau. Isso era ridículo, francamente pervertido. Eu estava presa no balcão de uma droga de loja de lembranças em plena luz do dia e eu não podia pensar em nada que me faria sentir mais fantástica. Eu me atirei contra ele e ele disse “Porra!” e colocou meu cabelo para o lado, chupando meu pescoço enquanto suas mãos focavam em abrir uma camisinha. Enquanto isso eu pulsava tanto que uma brisa leve sobre o meu clitóris provavelmente me levaria ao esquecimento. Eu precisava tanto gozar que eu estava quase abaixando a minha mão e resolvendo a questão eu mesma. Mas isso não era necessário. Nash afastou minhas pernas uma da outra, encontrou o ângulo certo e se moveu com profundidade. Ele estava seguindo por instinto o caminho que já conhecia quando ia devagar e quando batia sem desculpas. Ele estava me ensinando que nem todos os orgasmos são feitos do mesmo jeito. Os espasmos poderosos que eu experimentei com ele tinham pouco em comum com as ondas doces de prazer que eu conhecia antes. Não me questionava o motivo de eu não ter força de vontade onde Nash estava interessado. O ritmo de seus empurrões ficou mais rápido, frenético, e nossos corpos pulsavam juntos em pecado e suor. Eu o senti gozar com um gemido e um tremor e um sorriso de vitória se estendeu no meu rosto. Eu ainda estava lá quando nos separamos e começamos a encontrar nossas roupas. — Você parece divertida. — Ele comentou, deslizando sua cueca primeiro. Eu prendi meu sutiã. — Eu gosto de ter o poder de levar o incrível Nash Ryan ao limite. Ele me olhou. — Eu não sabia que eu era incrível. — Minha vagina acha que é. Ele riu. — Você acaba comigo, Kat. — Por que? Nash puxou sua camisa sobre a cabeça. — Você é todas as coisas em uma. Direita e safada e cuidadosa e imprudente. Isso me resumiu melhor do que ele sabia. — Vou deixar você tentar adivinhar, Nash. — Não estou reclamando. É uma combinação gostosa. Eu coloquei minha saia e observei ele fechar o zíper da calça. Ele me pegou olhando e sua expressão mudou. — Tem certeza que está tudo certo com você? Sério, eu aprecio tudo que você tem feito. Eu gosto de você e eu odiaria pensar que eu estou te bagunçando ou estragando de algum jeito. Eu coloquei minha blusa. O botão de cima se foi, puxado pelos dedos de Nash e atirado em algum lugar fora de vista. Mas eu abotoei os outros e coloquei minha blusa para dentro da saia. — De longe eu estou certa de que a única coisa que está bagunçada é o meu cabelo. Eu fiz uma cena arrumando e colocando meus cachos rebeldes no lugar. Nash terminou de ajeitar as roupas em ordem e se apoiou contra o balcão exatamente na mesma posição que ele estava quando eu cheguei aqui. — Você ainda quer ter essa reunião? — Claro. — Eu peguei a bolsa que servia como uma carteira e um porta-laptop e abri o computador portátil na bancada ao lado dele. — Vamos dar uma olhada nos relatórios sobre inventários e partir daí. 1 3 A C A P Í T U L O D O Z E Nash reabertura da loja foi muito melhor do que eu imaginei. Metade das pessoas da cidade apareceu e todo mundo que colocou o pé no lugar comprou alguma coisa, mesmo que fosse um pacote de balas. Kat estava certa sobre o apoio dos moradores. Fiquei preso lá durante todo o dia, sacudindo as mãos e cumprimentando as pessoas que chegavam com suas famílias para me deixarem saber o quanto elas estavam felizes que essa loja estava de volta aos negócios. Até mesmo pessoas que estudaram comigo no ensino médio apareceram, incluindo algumas paixonites que me xingaram na época por uma razão ou outra. Mas todas elas tinham conhecido meu pai e, se as memórias que me envolviam eram menos do que maravilhosas, elas não estavam mais guardando rancores. Normalmente, eu não era bem o tipo de pessoa carismática, simpática ou muito agradável, mas parecia bom fazer parte disso, parte de uma coisa positiva. Algumas pessoas perguntaram ansiosamente “Como está o bebê? Como está Colin?” e eu assegurei a elas que o bebê estava bem, que ele não estava aqui porque, depois de ter estado doente recentemente, eu não achei que seria prudente deixá-lo exposto a tantas pessoas. Elas concordaram com aprovação ao ouvir a resposta e eu senti como se tivesse feito a coisa certa. O tempo todo meus olhos se mantiveram procurando Kathleen entre as pessoas que chegavam. Ela já tinha mencionado que ela estaria em reuniões e sei-lá-o-que durante o dia, mas eu procurei por ela do mesmo jeito. Mesmo quefosse um momento muito inconveniente para ficar duro, eu ficava sempre que ela entrava no cômodo. Eu realmente pretendia que nossa primeira noite picante fosse de uma vez só, um lapso de julgamento instigado por uma montanha-russa emocional na qual eu entraria mais tarde. Contudo, trabalhando meus demônios internos com a ajuda do corpo sexy da Kat, me trouxe um senso de calma. Eu só esperava que ela estivesse mesmo falando a verdade quando ela disse que ela não estava procurando por nada mais do que amigos com benefícios. Com todas as obrigações, eu estava fazendo malabarismos e sabia que isso era tudo que eu poderia oferecer a ela. Kathleen não apareceu, mas Kevin Reston fez uma aparição. Desde que eu cheguei de volta à cidade, ele estava sempre amigável o suficiente, talvez pelo carinho de Jane, talvez pelo do meu pai, mas eu tinha a impressão de que ele não sabia o que pensar de mim. Eu entendia. Depois de alguns cortes, ele costumava se voluntariar para ajudar a treinar o time de futebol americano e uma vez ele parou uma briga entre mim e Travis Hanson, o zagueiro da escola. Kevin ganhou um olho roxo e um nariz quebrado pelos seus próprios esforços. — Você acabou de perder a Jane. — Eu disse a ele. — Ela estava aqui há pouco tempo. Ele assentiu. — Eu sei. Nós nos encontramos para tomar café no fim da rua. — Ela te mandou aparecer? Ele sorriu. — Sim. — Bem, eu fico feliz que veio. Kevin limpou a garganta. — Você sabe, eu também estava pensando que nós poderíamos sair e beber uma cerveja essa noite. Seu pai e eu costumávamos ir ao Sheen na primeira sexta de todo mês. Eu não bebi muito esses dias. Mas eu sabia que Kevin tinha sido amigo do meu pai por muitos anos e sentia essa perda agudamente. Além disso, eu estava certo que esse convite tinha sido estendido para fazer Jane feliz e qualquer um que tente tanto assim deixar minha gentil tia feliz merecia chegar num meio-termo. — Eu tenho que encontrar uma babá para o Colin. — Eu disse. — Ele está com a sua mãe hoje. Kevin acenou com a mão. — E você sabe que ela amaria ficar com ele por mais algumas horas. Não tem nada que minha mãe prefira fazer em vez de cuidar de bebês. Era verdade que Nancy Reston tinha insistido várias e várias vezes que qualquer hora que eu precisasse de uma babá, eu poderia mantê-la no topo da lista. Aceitar favores de pessoas gentis ainda era algo novo para mim. — Tudo bem. — Eu vou ligar para ela e se ela estiver ok em cuidar dele, você terá uma cerveja, cara. Kevin puxou um sorriso. — Encontro você no Sheen por volta das oito. — Beleza. — Eu roubei uma caneca de “Felicidade de Hawk Valley” de uma prateleira próxima. — E tenha uma dessas em casa. Kevin aceitou a caneca de cerâmica. — Obrigada. Nunca pude ter muitas. Nancy Reston na verdade pareceu encantada quando eu liguei para perguntar se ela poderia continuar com Colin até por volta das nove da noite. Ela me disse para tomar o tempo que eu quisesse. Terminei a ligação sentindo um pouco de culpa. Explorar Nancy e Kathlen e qualquer pessoa mais que oferecesse ajuda não era uma solução permanente. Eu teria de fazer um plano de creche se eu realmente fosse administrar a loja do jeito que meu pai fazia. Eu também estava julgando ser impossível lidar com duas carreiras, além de criar uma criança. Eu já tinha falado com meus clientes que eu não aceitaria mais novos trabalhos. — Você precisa investir mais horas na loja. Algum dia o lugar vai ser seu, Nash. — Ah, foda-se a loja. Eu prefiro cortar a minha mão direita a ficar por aqui e parecer um morador de Hawk Valley. Memórias são coisas engraçadas. Elas podem hibernar profundamente por uma década e depois te bater como um soco nas entranhas, uma longa e esquecida informação que, por flashes através da sua mente, sai de algum lugar e te deixa imaginando se isso foi real. — Com licença. — Disse uma voz. Pertencia a uma mulher pequena de cabelo prateado que estava coberta com um xale sedoso que parecia caro. — Quem pode me ajudar com a compra daquela pintura ali? Ela apontou para uma aquarela do nascer-do-sol das Montanhas de Hawk. Uma das pinturas da Jane. — Eu posso ajudá-la. — Eu disse. A loja fechou às sete, mas eu fiquei por ali para agradecer aos funcionários e cuidar de umas tarefas. Finalmente às quinze para as oito, eu fechei as portas e desci a rua em direção ao Sheen. Era o mesmo mal iluminado, pequeno e desagradável bar que eu me lembrava ter ido um milhão de vezes quando eu era um garoto. Porque era sexta à noite, estava bem lotado com um bando de pessoas assistindo o jogo de beisebol na tela acima da cabeça do garçom no bar. Outras jogavam um jogo de cartas. O jogo parecia uma má ideia pela densidade de humanos dentro do lugar. Kevin acenou para mim de uma mesa. Ele estava encarando com outra pessoa. Filho da puta. Travis Hanson, o zagueiro da escola do ensino médio e o todo- tempo-babaca não tinha cruzado a minha mente em anos e hoje ele estava ocupando todos os tipos de espaço na minha cabeça. Ele estava ocupando o lugar ao lado de Kevin. Colei um sorriso no meu rosto e peguei a cadeira que restou. De volta ao dia que Travis tinha sido um idiota que gostava de machucar pessoas menores do que ele, mas talvez ele tivesse mudado. Às vezes isso acontecia. — Nash. — Ele disse, seu punho bateu no meu, como se nós fossemos melhores amigos em vez de antigos arqui-inimigos. — Ei, Travis. O que está pegando? Tinha uma presunção desprezível no seu rosto. Ele abriu os braços. — Sou o dono do lugar agora. — Não brinca. — É. Meu pai me deu o dinheiro ano passado quando o velho Sheen se retirou e se mudou para Tucson. Eu o assediei para me dar uma merda de um acordo também. — Travis estalou seus dedos carnudos e uma morena em uma saia jeans curta passou lentamente do lado. — Ei, doçura, você se lembra do Nash Ryan, certo? — Ele disse enquanto descansava a mão na bunda da garota. “Doçura” não parecia se importar com a atenção. Ela concordou. — Eu me lembro de você, Nash. — Você era veterano quando eu era caloura. — Certo. — Eu disse. Eu não poderia me lembrar de ter posto os olhos nessa garota na vida. Travis bufou. — Como se ele monitorasse isso. Nash nunca se importou se elas eram muito novas ou muito velhas. O garoto chegava, essa é a merda da verdade. O comentário foi de um mau gosto inacreditável. Foi mais do que uma indireta para mim. Era uma referência velada a antigos rumores. Eu nunca tinha confirmado nada mas isso não importava numa cidade pequena. Kevin lançou um olhar cheio de desculpas. — Sinto muito pelo que aconteceu com a sua família. — A garçonete disse. — Minha mãe conhecia Heather então ela estava no funeral. Ela ainda estava chorando quando chegou em casa, disse que a Terra tinha perdido um anjo quando Heather foi levada. Levada. Isso fazia a situação soar ligeiramente esperançosa, como se houvesse possibilidade da Heather retornar. Mas Heather não voltaria de jeito nenhum. Ela morreu numa montanha com o homem que a amava. Por um longo período, eu fiquei furioso com eles dois. Mas agora era possível relembrar coisas nas quais eu não tinha pensado há muito tempo, por exemplo como a Heather costumava pagar contas de almoço inadimplentes para crianças durante a sua breve carreira trabalhando no escritório de frente com o colégio. E a época que ela comprou flores para uma colega de classe que estava desesperada depois do seu cachorro ter sido atropelado por um carro. — Obrigado. — Eu disse. — Ela faz falta. A garçonete ofereceu um sorriso gentil. — Então, o que eu posso fazer por você? — Qualquer coisa que você tiver na torneira está ótimo. Eu não planejava beber mais do que alguns goles de qualquer forma. Eu estava cansado, eu queria pegar Colin e a cena do bar nunca foi minha escolha de ponto de encontro. Travis claramente olhava para as costas da garçonete enquanto ela andava. — Essa é minha. — Ele disse orgulhosamente, como se ele estivesse falando de um carro. — Bom para você. — Eu disse com sarcasmo. Ele deu um sorriso falso. — E deixa eu te falar,tem uma boceta apertada ali que acompanha uma bela bunda. Eu não queria ouvir isso. Fitei o olho de Kevin. Ele pareceu desconfortável. No entanto, Travis não tinha terminado de falar. — Mas ela gosta de falar demais e alto, então eu tenho que manter essa garota na linha. — Ele arrotou. Meu desgosto por esse garoto instantaneamente mudou do leve para severo. — Cuidado para ninguém decidir manter você na linha. — Eu disse calmamente. Travis olhou para mim, as camadas de dentro do seu crânio burro evidentemente tentando decidir se eu estava ou não brincando. — Isso não seria bom. — Ele disse. — Achei que você já tivesse aprendido essa lição antes, Ryan. Minha mão se enrolou em um punho sob a mesa. — Pelo que eu lembro, você sangrou muito naquele dia, Hanson. Kevin tossiu. — Com certeza eu sangrei muito mais do que qualquer um de vocês. — Ele disse, naturalmente bem-humorado. — Meu nariz ficou torto desde então. — Desculpa por isso. — Eu disse, mantendo meus olhos no Travis, que encarava de volta com o olhar vazio de um homem que perdeu uns parafusos. — Está ok. — Kevin disse. — Minha esposa diz que me deixa jovial. A garçonete voltou e colocou minha cerveja em cima da mesa. — Obrigado, doçura. — Travis disse, dando a ela outra sensação detestável. Eu estava cansado desse cara, cansado de estar aqui. Se eu ficasse por perto por muito mais tempo, eu arrumaria problema. Felizmente, o barman apareceu e silenciosamente disse alguma coisa para o Travis sobre o fornecimento de uísque. Travis franziu a testa. — Todo mundo é inútil. — Ele resmungou, saindo da cadeira. — Vou ter que resolver isso. — Leve o tempo que quiser. — Eu disse e Travis fixou seu olhar em mim. Ele obviamente estava considerando a ideia de me mandar sair da merda do bar dele. Eu não ficaria triste se ele fizesse isso. Mas ele só me deu um sorriso frio e disse: — Bom ver você, Nash. — Seu tom implicava o contrário. — Que imbecil. — Eu disse quando ele tinha saído. Kevin riu. — Ele não é mole não. — Não posso acreditar que Sheen vendeu o bar para esse cara. — É. — Kevin fez uma careta. — Ouça, desculpa por ter te arrastado para cá. Eu esqueci que antigas rixas podem ser duras. Kevin não estava tentando ser profundo. Ele só estava falando sobre o fato de Travis e eu ainda desprezarmos um ao outro. Mas eu estava pensando no meu pai. Nunca nos demos bem. Nós éramos mistérios desagradáveis para o outro e depois da morte da minha mãe, o sentimento apenas inflamou. Com Travis fora do caminho, Kevin e eu éramos capazes de ter uma conversa agradável. Ele sabia muito sobre o que eu tinha feito desde a minha saída de Hawk Valley e eu só poderia adivinhar que essa informação veio do meu pai. Eu me peguei imaginando o que meu pai pensaria se ele me visse aqui no seu velho território, bebendo uma cerveja com seu amigo e discretamente checando meu relógio porque eu queria estar a caminho de pegar meu irmãozinho. Quando se aproximou das nove da noite, eu levantei e coloquei umas notas na mesa. — Você tem que ir? — Kevin perguntou. — Acredito que sim. Colin é daqueles que levantam cedo. Ele estendeu a mão. — Ei, obrigado por ter ficado um pouco. — Obrigado por ter me chamado. Ele sorriu. De volta a quando ele ajudou a treinar o time de futebol e eu era uma defesa com uma atitude de merda, Kevon Reston tinha parecido velho e tão interessante quanto uma parede sem pintura. Eu estava errado. Kevin realmente era um cara maneiro. Eu estava feliz que ele e Jane se encontraram. Enquanto eu saía da mesa, parecia que Kevin ficaria por mais um tempo e cuidaria da cerveja que estava na sua mão. — Chefe, — Alguém berrou perto do alvo do jogo de dardos. — por que você não vem aqui e mostra para gente como se faz? Kevin pegou a cerveja dele e levantou acima da cabeça. — A caminho. Antes de sair, eu peguei um desvio para o lavabo masculino. Eu mal toquei na minha cerveja, mas minha bexiga está cheia da garrafa de água que bebi antes de chegar aqui. Eu estava lavando minhas mãos na pia quando eu pensei ter ouvido um grito. Eu desliguei a torneira e escutei. Isso, inconfundível sob a música do bar e a grosseria das vozes dos clientes, era o som da voz de um homem gritando com fúria. Estava vindo do outro lado da parede e eu pude pegar umas palavras. — Porra, te falei (murmúrio) a merda do pagamento (murmúrio). A voz da resposta era mais baixa, mais aguda. Uma mulher. — Desculpa. Achei que tivesse levado. — Era seu trabalho, porra! — Desculpe! — Puta. Teve um som de uma batida seguida de um choro agudo e eu tinha ouvido o suficiente. Saí rapidamente do banheiro e pela porta mais perto, onde eu encontrei a garçonete de antes soluçando com as mãos no rosto enquanto Travis Hanson pairava sobre ela com a cara vermelha e as veias do pescoço salientes. Embora eu soubesse que era o Travis, por um turvo segundo de raiva cega, eu não o enxerguei. Eu vi o homem que eu sempre via nos meus pesadelos, o homem que não ficava satisfeito em livrar o mundo da sua própria vida, então ele tinha que pegar mais. Eu vi o marido da minha mãe. Eu não pensei. Eu me lancei. O rosto de Travis teve tempo de registrar um olhar de surpresa antes de eu agarrá-lo pela garganta e o jogar na parede próxima forte o bastante para rachar a superfície. — Que porra — Ele gaguejou e a garota gritou. Eu estava pronto para fazer mais, para socar até sangrar, mas de repente existiam braços na minha cintura, me empurrando para trás enquanto vozes exclamavam no fundo. — Nash, pare com isso! — Kevin berrou e aquilo me fez parar de tentar me livrar. Enquanto isso, Travis tinha se recuperado da colisão contra a parede e estava pronto para atacar. A garçonete corajosamente se colocou no meio, lançando olhares horríveis na minha direção e de volta para Travis. — Por favor, parem. — Ela disse e ela não estava falando com o namorado. Ela estava falando com nós dois. Kevin não tinha desistido de mim ainda. — Você acalma essa merda. Eu era maior, mais forte e poderia facilmente sacudi-lo, mas não o fiz. Eu concordei e Kevin relaxou o apertão. — O que foi isso? — Kevin perguntou em uma voz imponente, uma voz que costumava usar para ter suas perguntas respondidas. Eu olhei para trás de mim e vi alguns rostos curiosos olhando da porta. Kevin também percebeu e os espantou. Travis olhou. — Minha funcionária gritou. Eu fui um pouco duro com ela, só isso. E depois esse palhaço veio me atacando como se ele estivesse em uma fúria de esteroides e começou a destruir o lugar. — Você ainda é um saco de merda mentiroso, Hanson. — Eu cuspi. — Chega! — Kevin se virou para a garota e sua voz ficou mais gentil. — O que realmente aconteceu, Alyssa? Alyssa tocou a bochecha avermelhada, mais perto do lugar que Travis bateu. Ela evitou meu olhar e encarou o Travis. — Eu esqueci de fazer um pedido de um uísque. — Ela disse. Ela engoliu. — Travis estava certo por ficar bravo e às vezes ele grita. — Isso é tudo? — Kevin cutucou. — É sim. — Ele te bateu. — Eu disse. Ela balançou negativamente a cabeça mas ainda não olhava para mim diretamente. — Não. — O único agindo como um psicótico aqui era você. — Travis rosnou. — Agora dá o fora daqui antes que eu decida ser imperdoável e revidar. Os olhos de Alyssa encontraram os meus e depois mudaram rapidamente. Ela podia estar assustada. Ou ela poderia ter o mau hábito de inventar desculpas para um cara que a enganava como se ele se importasse. De qualquer forma eu não poderia ficar bravo por ela mentir. Kevin estalou os dedos e saiu do lugar. — Vamos, Nash. — Seu tom indicava que não havia espaço para uma discussão. Travis sorriu amarelo. Alyssa olhou para o chão. Eu ia desistir e seguir Kevin para fora quando eu mudei de ideia e me aproximei de Alyssa. — É isso o que ele faz. — Eu disse num tom baixo. — O tipo dele não para. — Sai fora, porra! — Travis berrou. Eu teria ficado feliz em bater nele de novo se Kevin não tivesse voltado e me empurrado fisicamente em direção à porta, saindo do corredor escuro e para fora pela porta de trás que levoua uma viela atrás do Sheen. — Beleza. — Eu resmunguei, me livrando do apertão. — Que porra foi aquela, Nash? Revisitando velhas rivalidades? Eu olhei para ele. — Ele bateu naquela garota. — Não foi o que ela disse. — Mas essa é a verdade. — Você viu isso acontecer? — Não. — Eu admiti. — Mas com certeza soou como ele atacando muito forte. Kevin exalou fazendo barulho. — Então é isso que você faz ainda? Se move primeiro, pensa depois? — Eu não podia não fazer nada, Kevin. — Não, você nunca pode. Eu comecei a andar na direção da rua onde eu estacionei. — Nash! Eu continuei andando. — Eu tenho que ir buscar o Colin. — Eu não acho que seja uma boa ideia agora. Eu girei. — Você está me zoando? Você inventa desculpas para Travis, o Idiota mas decidiu que eu sou perigoso? Kevin levantou uma mão. — Eu acho que você deveria ir para casa e se acalmar. — Estou calmo. Ele olhou para baixo. — Seus punhos estão cerrados. Eu olhei para baixo. E daí se eles estavam fechados? Eu os relaxei. Kevin suspirou. — Nash, está tarde e você não está num bom estado de espírito. Por que você não deixa o bebê com a minha mãe essa noite e começa de novo amanhã. Eu parei. Colin já tinha ido dormir. Talvez fosse melhor para ele que ficasse lá essa noite em vez de prejudicar seu sono. — Ok. — Eu disse, preferindo atender a isso. — Bom. — Kevin concordou. — Eu vou enviar uma mensagem para minha mãe para ela saber. — Obrigado. Kevin me olhou firme silenciosamente na escuridão. Um carro esportivo passou rapidamente pela Avenida Gardner e algum adolescente gritou para fora da janela. — Que merda te levou de volta a isso, aliás? — Ele queria saber. — Eu pensei que você tivesse crescido um pouco. Eu não tinha resposta para isso. As palavras teriam doído menos se elas tivessem vindo de um homem que eu pouco respeitava. Eu o deixei parado lá, encontrei minha camionete e deixei o pequeno mundo do centro da cidade de Hawk Valley para trás. Eu dirigi por todo o caminho até minha casa antes de perceber que eu estava muito tenso para entrar em uma casa vazia e encarar minhas bolas a noite inteira. Em vez de desligar o motor, eu me distanciei do freio. O duplex onde Kathleen morava não era muito longe. Eu apaguei os faróis quando eu ainda estava há algumas casas de distância e estacionei a camionete no parque. Tinha uma luz no cômodo da frente da casa de Kathleen. O relógio estava parado às dez da noite, não era um momento adequado para bater na porta de alguém, muito menos numa onde uma criança pequena vivia. Mas eu lembrava da Kathleen dizer que ela era uma coruja, então eu peguei meu celular e ia enviar uma mensagem a ela quando eu vi uma movimentação por trás da cortina da cozinha. Eu guardei o celular e pulei para fora da camionete, me aproximando da porta e sentindo uma sensação de déja vu. O primeiro e único momento em que eu estive na casa da Kathleen foi na noite que eu cheguei à Hawk Valley, quando eu ainda estava entorpecido por uma nova e terrível perda. Eu bati levemente na porta para o caso da filha dela estar dormindo. No segundo que fiz isso, eu percebi que aparecer à essa hora da noite podia ser entendido do jeito errado. Eu não tinha vindo aqui tarde da noite para convidar para uma noite de loucuras. Eu só queria conversar com alguém. Mas de repente a porta se abriu e lá estava Kathleen me encarando com surpresa. Não, eu não queria conversar com alguém. Eu queria conversar com ela. — Nash. — Ela olhou para as minhas mãos vazias. — Está tudo bem? Onde está Colin? — Ele está bem. — Eu disse. — Ele está com a Nancy. Kathleen deu um passo para trás. — Entre. — Ela estava vestindo uma blusa cinza leve que ela provavelmente usava para dormir e ia até metade de seus joelhos. Eu me perguntei se ela estava usando alguma coisa por baixo. Pelo jeito como as suas curvas macias estavam contornadas debaixo do tecido, eu duvidava disso. — Desculpe por aparecer tão tarde. — Eu disse, dando uma olhada no pequeno mas confortável ambiente. — Eu gosto da sua casa. Ela fechou a porta. — Você já esteve aqui antes. — Eu sei. Kat olhou ao redor e fez uma careta. — Eu vou me mudar em breve. O dono acabou de me informar que ele pretende vender a propriedade até o final do verão. Eu coloquei minhas mãos nos meus bolsos. — Isso é muito ruim. — Nash, — Ela disse. — o que está errado? Havia muitas coisas erradas. E eu não poderia atirar todas elas em cima da pessoa que podia ser a melhor amiga que eu tinha agora. Eu parei no meio da sala e encarei um pequeno quadro da pintura de uma íngreme estrada montanhosa que estava vazia. Era bem o estilo da Jane e com certeza havia sua assinatura característica no canto do quadro. — Eu espero que eu não tenha acordado Emma. — Eu disse. — Você não acordou. — Kathleen confirmou e sentou no sofá com as pernas dobradas debaixo dela. — Sinto muito por eu não ter conseguido ir à reabertura da loja hoje. — Ela esfregou os olhos. — Tudo estava uma loucura. Eu tinha um grande projeto oportuno, três compromissos com clientes e eu tive que pegar Emma mais cedo na escola porque ela teve uma dor de estômago. — Ela está melhor? — Ela está bem. Eu a levei à pediatra só para ter certeza. — Kathleen me estudou, provavelmente porque eu estava estranhamente parado no meio da sua sala de estar às dez da noite. — Sente-se. Eu me plantei na borda do sofá. Deitar minha cabeça no colo da Kathleen era tentador. Ela esperava que eu dissesse alguma coisa. Em algum lugar da casa, um relógio marcava os segundos que passavam. — Eu bati em uma pessoa. — Eu disse. Seus olhos arregalaram. — Em quem? — Travis Hanson. Ela fez uma careta como se o som do nome doesse seus ouvidos. — Por que? — Isso não importa. Ele mereceu, mas esse não é o ponto. Eu lidei mal com a situação. Eu tenho lidado mal com as coisas há um tempo. — Eu parei e pensei sobre o que eu queria dizer. — Eu nunca contei isso a ninguém, mas tinha sinais, Kat. Coisas que eu deveria ter melhorado. — O que você quer dizer? — Eu quero dizer que às vezes ela me levava para a escola e eu percebia hematomas nos braços dela. Ou quando ela me pegava tarde em algum lugar e seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar. Ela sempre me dizia que não era nada. Ela inventava histórias sobre ter assistido um filme triste ou ter se machucado em algum equipamento de ginástica na academia. Eu deveria ter feito alguma coisa. Mas eu não fiz nada. — Ah. — Kathleen tocou meu ombro. — Você está falando da sua mãe. Eu soltei uma respiração profunda e permiti que as memórias me inundassem de volta. — Ela começou a ver Paul apenas alguns meses antes de eles se casarem. Eu me lembrava de pensar que tinha alguma coisa errada com o cara, mas eu não juntei os pedaços, não pensei que alguém ouviria, de qualquer forma. Eu era um adolescente rabugento com uma atitude de merda, então claro que eu não gostava do novo marido da minha mãe. Eu estava tão acostumado a ser o centro das atenções dela. Sempre fomos só nós dois. Claro que eu passei alguns verões e férias com meu pai, mas nós nunca tínhamos sido muito próximos. Kathleen não disse nada. Ela apenas manteve sua mão onde estava no meu ombro, um gesto gentil para me lembrar que ela estava ali, que ela se importava. — Chris Ryan não era um homem que via muito valor em sentar e conversar sobre sentimentos, mas, no começo, antes disso acontecer, ele tentou fazer eu me abrir. Ele disse que a raiva poderia me comer vivo se eu deixasse. Ele estava certo. Eu nunca permiti que ninguém chegasse muito perto. Você lembra como eu era, o quanto eu costumava brigar na escola no ensino médio. Eu ainda estou lutando, Kat. Eu nunca parei. Eu levantei o olhar para encontrá-la me encarando com olhos preocupados que se arrastaram para as minhas mãos. Eu sabia o que ela estava pensando. Na noite que eu cheguei na cidade, os nós dos meus dedos ainda estavam feridos e crus por distribuir minha própria marca de justiceiro vingativo. Mas eu não estava pronto para contar a ela sobre isso. Eu já tinha contado a ela mais do que eu deveria.Eu me levantei, sentindo uma necessidade súbita de dar o fora daqui, ficar longe da análise de Kathleen antes que ela visse mais do que eu queria que ela percebesse. Ela agarrou meu braço, me puxando de volta para o sofá. Eu cedi, recuperando meu lugar e depois diz a coisa que eu mais queria, a coisa que eu nunca fiz com ninguém. Eu descansei minha cabeça no seu corpo macio e deixei que ela me confortasse. “Eu pensei que você tivesse crescido um pouco.” Eu não poderia parar de ouvir as palavras de Kevin. Ele estava certo e eu precisava melhorar. Eu tinha um garotinho para criar e proteger. Era o momento de perceber que em algumas coisas eu não tinha crescido. Em algumas coisas, eu ainda era aquele garoto de catorze anos atormentado pela culpa e pelo sofrimento porque, na minha cabeça, eu tinha falhado. Eu tinha falhado em defender a pessoa que significava o mundo para mim. Eu não poderia viver com esse tipo de fracasso de novo. 1 4 A C A P Í T U L O T R E Z E Kathleen ntes de eu encontrar Nash na porta da frente, a minha paranoia tinha conseguido o melhor de mim. Eu me sentia nervosa, ao menos doente, atormentada pelo pensamento consistente de que eu estava sendo vigiada, apesar de as cortinas estarem fechadas e de o único som no apartamento ser o tic-toc de um relógio velho. Emma ficou chorando quando eu a peguei mais cedo na escola. Como qualquer mãe, as lágrimas da minha filha eram como cortes de faca direto no meu coração. Mas hoje tinha alguma coisa a mais no jeito que ela estava amassando seu rostinho durante o choro que me fez sentir ainda mais ansiosa do que o normal. Ela parecia muito com o pai quando ela chorava. Eu a levei à pediatra, embora não houvesse nenhum mistério médico. Uma das crianças tinha levado rosquinhas para comemorar o aniversário e Emma tinha comido mais do que a sua parte. Ela acabou vomitando por toda a mesa repleta de lápis de cera, mas ela já estava se sentindo melhor desde que chegamos em casa. Eu dei a ela uma água tônica e torrada comum e nós assistimos episódios dos seus desenhos preferidos. Horas seguintes, depois que ela caiu no sono, a sensação incômoda não me deixava e eu sabia que isso não tinha nada a ver com o incidente estomacal da Emma. Essa manhã eu quase deletei um e-mail recebido na minha conta de trabalho de um endereço que não reconheci. Achei que fosse spam, mas senti vontade de abrir. Kat, Tem muito tempo. E eu preciso conversar com você. Harrison O medo pode surgir na corrente sanguínea em um instante. Meu estômago revirou e meu coração começou a acelerar. Eu encarei o e-mail e depois o deletei. O escritor não tinha nenhum direito sobre mim e ele sabia disso. Nós tínhamos terminado mesmo antes de eu fazer qualquer coisa que pudesse soar imperdoável, se eu contasse toda a história. Só havia duas pessoas no mundo que sabiam e uma delas estava morta. A outra me odiava. O sentimento era mútuo. Mas não era apenas a sombra de preocupação que estava me roendo enquanto eu percorria os cômodos silenciosos da minha casa. Também havia um fantasma. Anos atrás, ele tinha feito amizade comigo, me consolado e me assegurado de que eu merecia mais do que um cara que traía e me tratava como sujeira. Ele fez tudo isso mesmo estando desmoronando sob o peso de seus próprios demônios. Enquanto a Emma crescia, ela parecia mais e mais como o seu pai. Às vezes quando eu via o rosto da minha filha, era como se ele estivesse implorando para ser reconhecido. Eu nunca tinha confirmado e nem falado seu nome desde o dia de seu funeral. Eu tenho contado a mesma mentira desde que voltei à cidade de Hawk Valley. Minha mãe não sabia. Eu não tinha contado nem mesmo a Heather. Eu estava ciente de que as maiores mentiras possuíam uma grande parcela da sua vida. Eu estava ciente de que algum dia Emma perguntaria sobre seu pai. E depois eu não seria capaz de mentir por mais tempo. Eu estava andando pela sala de estar, perdida nos meus próprios pensamentos confusos, quando uma leve batida me assustou. Com alguma cautela, eu olhei através do olho mágico e depois soltei o ar com alívio quando reconheci a pessoa do outro lado da porta. Ele era o único adulto que eu não me importaria de lidar agora. Tinha algo de errado com ele hoje. Eu percebi isso imediatamente e era gratificante que não tinha nada a ver com Colin. Mas eu não estava preparada para as coisas que ele disse, para o jeito como ele permitiu que eu o recolhesse nos meus braços e o segurasse. Nash Ryan não era um homem que compartilhava seus sentimentos avidamente. A história que ele me contou sobre sua mãe era de partir o coração. Carregar o fardo daquela culpa imensa por tanto tempo o destruiu em algum nível, o tinha levado a prosseguir com uma vida isolada na qual ele ainda estava lutando em muitas batalhas que só existiam na sua mente. Nash tinha revelado a mim o lado mais vulnerável de si mesmo e eu não sabia o motivo, mas eu ainda tinha a sensação de que ele estava se contendo. Eu perdi toda a noção do tempo enquanto ficávamos no sofá com os braços ao redor um do outro. Mas o som de pequenos passos se arrastando pelo cômodo desfez o abraço. — Mamãe? — Disse Emma, coçando seus olhos com o pato de pelúcia chamado Sr. Ford balançando em uma mão. Nash já tinha se movido para o outro lado do sofá. Eu alisei minha roupa de dormir para baixo e gentilmente me dirigi à minha filha. — O que há de errado, amor? Sua barriga ainda dói? — Não. — Emma se colocou entre eu e Nash no sofá. Ela chutou seus pequenos pés descalços e franziu a testa. — Eu tive um sonho. — Um sonho ruim? Emma sacudiu a cabeça e eu tirei uma mecha do seu cabelo castanho do rosto. — No meu sonho, eu tinha um cachorro. — Um cachorro? — Eu toquei a cabeça da minha filha e sorri. Emma tinha uma obsessão por ter um cachorro desde que conheceu a Roxie. — Isso parece um sonho bom. — Foi mesmo. — Ela disse e bocejou. Nash estava observando a Emma em silêncio, mas eu vi que ele estava entretido. Emma o notou de repente. — Por que você está aqui? — Emma. — Eu disse, limpando minha garganta para ganhar tempo. Eu nunca trouxe homens para conhecer Emma, o que geralmente não era um problema porque meus encontros tendiam a acontecer duas vezes ao ano. — Nash só passou para dizer oi. — É por isso que você estava abraçando ele? Nash pegou o meu olhar. — Eu estava triste. — Ele disse a Emma. — Sua mãe estava sendo legal, tentando fazer eu me sentir melhor. — Você está? — Estou o que? Ela suspirou e cruzou os braços, um gesto que ela pegou de mim. — Você está se sentindo melhor? Ele estava tentando não rir. — Sim. Eu me sinto muito melhor. — Por que você não trouxe a Roxie? — Está tarde. Ela estava cansada. — Ei. — Eu cerquei meu braço ao redor dos seus ombrinhos. — Falando em cansaço, você não está cansada, pequena miss? — Não. — Disse Emma, mas ela bocejou de novo. Ela franziu o nariz e espiou o Nash. — Você deveria ter trazido a Roxie. Ela poderia dormir na minha cama. Nash sorriu. — Roxie teria gostado disso. Emma assentiu. — Eu sinto falta dela. — Acho que ela sente sua falta também. — Mamãe, posso vê-la agora? — Ela olhou para mim com uma expressão de súplica que era difícil resistir. — Agora não, Em. Você precisa descansar. — Vamos fazer assim, — Nash disse, inclinando-se para a frente como se ele fosse contar um segredo. — Você pode ir vê-la a qualquer momento. — Amanhã? — Emma disse, esperançosa. — Uh.. — Nash disse, olhando de relance para mim. — Por mim tudo bem se estiver ok para a sua mãe. — Você vai trabalhar na loja amanhã? — Eu perguntei a ele. — Não. Eu posso revisar os pedidos das mercadorias em casa enquanto cuido de Colin. Eu promovi Betty a subgerente e o cara novo que você encontrou nos anúncios vai trabalhar para cobrir os espaços no meio período. Isso me lembrou de uma coisa. — Aliás, obrigada por contratar Todd. — Eu disse. — Ele é o filho de uma amiga da minha mãe. As pessoas nem sempre dão uma chance a ele porque elas acham que ele é lerdo. Mas ele trabalha pesado e ele vai fazer um bom trabalhopara você. — Tenho certeza que ele vai. — Que horas? — Emma falou alto. Quando nós olhamos confusos, ela deixou sair um dos suspiros que diziam “não acredito que vocês, adultos, são tão tontos” e abraçou seu pato de pelúcia. — Que horas eu posso ver a Roxie? Nash arreganhou um sorriso. — Vamos ver. — O que isso significa? — Urso-Emma. — Eu disse, empurrando-a para fora do sofá. — Vamos falar sobre isso amanhã, ok? Nesse momento você precisa voltar para a cama. Emma resistiu por alguns segundos, mas depois ela pulou do sofá e começou a andar de volta para o seu quarto. — Volto em um minuto. — Eu disse a Nash. Eu segui Emma de volta ao seu quarto e coloquei as cobertas ao seu redor enquanto ela bocejava e fechava os olhos. — Bons sonhos, rostinho de anjo. — Eu disse, beijando o topo da sua testa. — Com cachorros. — Ela disse em um sussurro e, segundos depois, suas pálpebras começaram a se fechar. Ela não costumava acordar no meio da noite e eu estava confiante que ela continuaria dormindo agora. Minha garotinha não me viu enviar um beijo a ela da porta do quarto antes que eu fechasse a porta atrás de mim, mas eu gostei de pensar que ela poderia, de alguma forma, sentir o amor mesmo que estivesse sonhando. Nash ainda estava sentado no sofá exatamente onde eu o deixei. Eu não tinha certeza de que ele estaria. Seus olhos vagaram pelo meu corpo com uma ousadia tão calorosa que meus mamilos formigaram. E eu não sabia que era possível ter uma reação dessa com um olhar de dois segundos. — Eu deveria ir. — Ele disse, levantando. Eu me inclinei contra a parede. — Você não precisa. Ele parou, depois espiou na direção do quarto da Emma e se dirigiu à porta. — Por que você não me envia uma mensagem amanhã quando você e Emma estiverem prontas para sair? — Farei isso. Nash virou e me encarou. — Obrigada, Kat. Eu não queria que ele fosse embora. Mas as palavras estavam na minha língua. — Não tem nada para agradecer, Nash. Ele ainda estava me encarando. Sua mão estava na maçaneta e, de repente, ele sorriu. — Sabe, eu estava pensando numa coisa mais cedo. Uma coisa que pode parecer um pouco patética. — Tenho certeza que não é patética. — Você poderia discordar se você soubesse o que era. — Tente. — Eu estava pensando esses dias que você deve ser minha melhor amiga. A declaração poderia ser uma homenagem fofa. Ou poderia ser uma coisa extremamente sexy para ouvir em certas circunstâncias. Essa deve ser uma das certas circunstâncias. — E você deve ser o meu. — Eu disse. Nossos olhos se prenderam. Nash hesitou, depois assentiu como se ele estivesse chegado a uma decisão relutante. — Boa noite. — Ele disse e saiu abruptamente. Agora era a minha vez de suspirar. Eu não tinha direito de me sentir desapontada. Talvez Nash achasse que a atmosfera da noite tivesse ficado muito íntima e nós tivéssemos borrado a linha além do prazer físico, além da proximidade de uma amizade relativamente nova. Eu fui confirmar se a porta estava trancada, verificando o olho mágico como sempre. O vidro distorcido me mostrou que Nash não tinha saído. Ele estava de pé no olhar forte da luz da varanda, as costas curvadas como se ele estivesse analisando a rua. Ele não se moveu quando eu abri a porta e me juntei a ele do lado de fora, fechando a porta atrás de mim silenciosamente. Tinha um frio no ar, o restante de uma brisa gelada que às vezes descia das montanhas e permanecia por um tempo antes de ir para a umidade do verão. Eu fiquei de frente para ele descalça e levantei meus braços, enrolando-os ao redor dos seus ombros largos. Eu nunca tinha ficado pequena como uma criança. Na vida adulta, eu não era tão pequena e delicada. Muitos homens eram menores do que eu. E toda vez que eu estava com Nash, eu ficava fascinada pelo tamanho dele. Ele tinha mais de um metro e noventa, com camadas de músculos, e era inebriante quando ele enrolava meu corpo com seus braços poderosos. O jeito que ele estava fazendo agora, rodeando minha cintura, me puxando contra o seu corpo, me forçando a suprimir um gemido quando minha camisola subiu e eu o senti através da minha calcinha. — Me beija. — Eu sussurrei. Primeiro Nash me tirou do olhar da luz da varanda. Eu senti que minhas costas fizeram contato com a parede bem ao lado da janela da cozinha e sua boca se chocou contra a minha com uma vontade faminta. Eu sabia que essa área era escura, que nós não seríamos vistos. Meu vizinho mais próximo morava do outro lado do prédio. A rua estava quieta. Não havia ninguém para testemunhar o jeito como eu instigava suas mãos a continuarem explorando por baixo da minha camisola fina. Ninguém poderia ver como eu esfregava meu corpo sensível com um ritmo sem vergonha na direção dele, que poderia me levar ao limite se eu continuasse. Minha calcinha estava úmida quando ele a retirou dos meus quadris e soltou seu cinto. Eu faria isso. Eu não tinha nenhuma vontade de me afastar. Abri minhas pernas para ele ansiosamente bem aqui do lado desse prédio como uma lunática louca por sexo. Eu o queria muito. Mas depois eu estava com as minhas pernas em volta da sua cintura, sacudindo contra ele como um animal selvagem no cio no vento frio da noite e descaradamente se favorecendo da fricção das roupas, da pressão das suas mãos que amassavam minha carne e da sensação tentadora do seu pau duro que ainda estava dentro da cueca box. — A oferta ainda está de pé? — Ele me desafiou quando eu ainda estava tentando recuperar o fôlego. — Que oferta? — Você disse que eu não precisava ir. Eu dei beijos suaves no seu maxilar. — Ainda está de pé. — Você quer que eu fique? — Sim. — Sim o que? — Sim, eu quero que você fique. Nash tinha mais bom senso do que eu. Ele não trepou comigo aqui em um canto da rua. Ele me levou para a minha cama, retirou toda a roupa e passeou a sua boca por todos os lugares até eu sacudir, estremecer e ser atingida por outro orgasmo poderoso. Eu ainda estava me contorcendo no auge da intensidade e tentando ficar quieta quando ele colocou uma camisinha, levantou meus quadris e se empurrou para dentro de mim. Eu já tinha aprendido uma coisa importante sobre ele. Nash nunca transava exatamente do mesmo jeito duas vezes. Ele já tinha sido lento e gentil antes, outras vezes provocador, e agora estava assim, o jeito como ele se chocava contra mim com uma paixão feroz. Eu amava isso. Eu amava tê-lo dentro de mim, se perdendo, ofegante quando gozava. Depois disso, ele beijou meus seios, rolou sua língua pela minha barriga e levantou a colcha até meu corpo nu antes de me enrolar em seus braços. — Você vai passar a noite? — Eu perguntei, pestanejando com a pergunta. Eu não queria que ele ouvisse o quanto eu queria que a resposta fosse sim. — Eu adoraria. — Ele disse e beijou minha testa. — Mas eu vou sair mais cedo, antes da Emma acordar. Agora durma, linda Kat. No entanto, eu não dormi de imediato. Ele caiu num longo sono calmo antes de mim. Eu estava muito ocupada encarando o teto escuro e tentando resolver os pensamentos que estavam em conflito na minha cabeça. Eu não estava mais pensando em fantasmas e inimigos do passado. Eu estava pensando em algo ainda mais prático. Quando Nash e eu começamos a caminhar nessa direção, eu jurei para mim mesma que meu coração não estava disposto para amarras. Mas, de repente, de alguma forma, ele tinha ficado perigosamente perto de se capturar. Ele só não sabia. Eu me questionava se eu deveria contar a ele. 1 5 — T C A P Í T U L O C A T O R Z E Nash alvez eu precise de um favor. — Eu disse, fechando o zíper. Kat me lançou um olhar de zombaria. — Acredito que acabei de engolir seu mais recente favor. Eu ri. Ela sempre conseguia me surpreender. Kathleen Doyle era uma mistura perfeita de humor e beleza. — Eu quis dizer um favor que não envolve pele e orgasmos. — Isso não parece divertido. — Pode não ser. E se sinta livre para dizer não. Ela abotoou sua blusa. Era uma pena. A vista era muito melhor quando estava desabotoada. — Estou intrigada. — Eu vou precisar ir de volta a Oregon e limpar meuapartamento. A maior parte daquela merda pode ser levada num caixote mais próximo para caridade, mas tem algumas coisas que merecem ser mantidas. — E você quer minha ajuda para carregar o caminhão de mudança? Eu revirei os olhos. — Não. Estou planejando ir de avião, fazer uma limpeza e um empacotamento bem rápido antes de dirigir de volta eu mesmo num caminhão de mudança alugado. Deve me tomar menos que quarenta horas, mas não é bem uma viagem apropriada para uma criança. — Então, você está pedindo para que eu cuide do Colin. — Sim, se você puder ficar com ele só por duas noites, isso seria ótimo. Eu já estou aceitando muito a ajuda da Nancy quando o assunto é cuidar de bebê. Eu não queria pedir a ela para continuar com ele de um dia para o outro também. Kathleen terminou de se vestir e colocou as mãos nos quadris, me observando com um olhar perplexo. — Nash, eu achei que você soubesse que você não tinha que perguntar. Eu estou sempre disposta a ajudar com Colin. — E Roxie. — Eu admiti. Ela levantou uma sobrancelha. — Sua cachorra? — Seria mais fácil e mais rápido se eu pudesse deixá-la aqui. Ela é bem treinada. Só a alimente, ande com ela e dê a ela um espaço para dormir no corredor. — Emma iria amar isso. — Kat disse, sorrindo. — O problema é que o proprietário não permite animais de estimação. Eu sei que eu vou me mudar em breve de qualquer forma, mas ele é meio imbecil e se ele encontrar algum sinal de cabelo de cachorro, ele vai me dar uma surra com uma taxa de limpeza de animais. A solução era simples. — Fique na minha casa por uns dias então. Quando Kat não aceitou instantaneamente a opção, eu percebi que ela poderia estar pensando que eu sou um grande idiota ditador. Tome conta do bebê. Cuide da minha cachorra. Fique na minha casa. Não é como se você tivesse sua própria vida, certo? Certo??? Kathleen tinha sim sua própria vida e mais responsabilidades do que eu poderia ter noção. Eu desejei nunca ter trazido esse assunto. — Olha. — Eu disse. — Tudo bem. Eu deveria ter adivinhado que isso era impossível. Talvez a Jane poss- — Não. — Ela me interrompeu, balançando a cabeça. — Não é nenhum incômodo. — Sua expressão dizia alguma coisa um pouco diferente. Eu sentei no limite da cadeira no escritório que tinha sido do meu pai e do meu avô antes disso tudo. Esse verão Kat e eu tínhamos desenvolvido uma rotina regular. Duas vezes na semana nós nos encontrávamos para um encontro na loja antes de abrir, e fazer algum trabalho sujo antes de discutir questões financeiras. Quando ela tinha tempo, eu a levava para almoçar. Ela e Emma iam à minha casa várias vezes por semana, Kat para ver Colin e Emma para ver Roxie. E nós conversávamos e trocávamos mensagens constantemente, sobre tudo desde a nova habilidade de sentar do Colin até diversas notícias locais. Exceto por Colin, Kat tinha se tornado a pessoa mais importante na minha vida. Só que eu não poderia negar que eu realmente amava transar com ela. Essa manhã eu tinha levado tempo tirando suas roupas e provocando, enquanto me sentia triunfante sobre como foi fácil fazê- la gozar na minha mão. Depois, ela ficou de joelhos e me sugou como uma campeã, com minhas mãos emaranhadas nos seus cachos grossos, empurrando meu pau entre seus lábios para marcar o ritmo. Como agora que o clima tinha ficado sério, então eu precisaria esquecer por alguns minutos como sua boca era macia. — Você não parece feliz. — Eu disse. — Esqueça, deixa comigo. Eu realmente não deveria ter pedido para largar tudo e vir tomar conta da minha vida. Ela sacudiu a mão. — Nash, pare. Eu sempre fico feliz em passar um tempo com Colin e você sabe que Emma vai ficar em êxtase em ter uma cachorra por alguns dias. Eu a estudei. Kat não era do tipo inquietante. Essa era uma das coisas que eu admirava nela. As pessoas sabiam em que lugar se situavam em relação a ela. Se tivesse alguma coisa rolando, ela não ficaria quieta sobre isso por muito tempo. — Então, o que há de errado? — Eu perguntei gentilmente, chamando-a para mim e levantando seu queixo para que eu pudesse ver seus olhos preocupados. — Eu só estava pensando na última vez que eu fiquei um tempo na casa. — Ela suspirou e descansou sua cabeça no meu ombro antes de continuar. — Eu estava entre apartamentos e Emma ainda era um bebê. Eu tinha duas semanas até minha nova locação começar e a ideia de ficar com a minha mãe era suficiente para induzir uma úlcera. Então, Heather insistiu que eu ficasse com ela e Chris. Ela cozinhou as refeições para mim, não permitiu que eu levantasse um dedo para ajudar com as tarefas domésticas e cuidou da Emma para que eu pudesse ter um descanso necessário. — Ela levantou a cabeça e agora ela sorriu. — Eu dormi no seu antigo quarto. Eu acho que você não sabia disso. — Eu não sabia. Seu sorriso se foi. — Sinto falta dela. — Eu sei que você sente. — Eu disse. Eu dei um beijo rápido nos seus lábios e me movi até a cadeira. Kathleen me observou enquanto eu sentava e começava a examinar um relatório de inventário. — Nós nunca conversamos sobre ela. Não de verdade. — Quem? — Eu sabia quem era. Eu só não queria ter aquela conversa particular agora. Nem nunca. — Heather. Eu apertei a senha do computador mais forte do que eu precisava e cerrei os olhos para a tela. — Você está perguntando se todas as fofocas são verdade? — Não. Eu já sei o que é verdade e o que não é. Meus olhos viraram para ela bruscamente. — Ela te contou? — Como eu suspeitava. Mas não significava que eu queria falar sobre isso. — Sim, ela me contou. Eu exalei de forma barulhenta. — Foi há muito tempo. As coisas ficaram feias. — Triângulos amorosos geralmente ficam. Eu bufei. — Triângulo amoroso. Faz parecer como a merda de uma telenovela. — Depois eu parei, imaginando qual teria sido o lado da história da Heather. — Heather e eu ficamos mais próximos do que nós deveríamos ter ficado. Eu tinha dezoito e já não era nenhum anjo, mas nada aconteceu de verdade. Eu gostava de estar com ela. Muito. E eu pensei que poderia confiar nela. Depois eu descobri que eu não podia. Kathleen se encolheu. — Heather realmente se sentiu terrível em relação ao que aconteceu. Ela se importava com você, mas ela estava num momento ruim da vida naquela época, tinha sofrido muito por um término péssimo de relacionamento. Ela fez algumas escolhas horríveis, mas ela estava muito vulnerável e era muito nova. — Ela tinha vinte e cinco anos. — Eu ressaltei. — Mais nova do que você é agora. Kat concordou mas pareceu incomodada. — E ela sempre se culpou pelo desentendimento entre você e seu pai. — Ela não ajudou. Mas meu pai e eu não precisávamos de nenhuma ajuda no que dizia respeito a agarrar a garganta um do outro. — Eu fiz uma careta, lembrando de ocasiões quando palavras de fúria voaram entre nós como facas atiradas sem o menor cuidado. Meu pai não era culpado por tudo isso. Eu disse coisas que eu desejava não ter dito e descobri que era impossível pegá-las de volta. — Nós dois tínhamos ficado sentados num barril de pólvora por muito tempo. — Eu admiti. — Nós só estávamos esperando por alguém que acendesse o fósforo. — Heather nunca quis ser esse alguém. — Tenho certeza que ela não quis. — O sarcasmo na minha voz não tinha sido planejado. Kat ficou na defensiva. — É verdade, Nash. Quando Heather percebeu a magnitude do que ela tinha feito e como ela estava entre você e seu pai, ela se afastou de vocês dois, até foi embora e arrumou um emprego em Flagstaff por um tempo. Você já tinha ido para a faculdade e ela se sentia como se muita gente aqui ainda estivesse falando sobre ela. Mas depois que a mãe dela ficou doente, então ela voltou. Chris foi um amigo para ela enquanto ela segurava a mão da mãe, que estava morrendo. Ela não pretendia se apaixonar por ele. E eu tenho certeza que ele também não pretendia se apaixonar por ela. Seu rosto estava sério. Ela queria que eu dissesse que estava tudo bem, que eu tinha perdoado Heather e Chris completamente. O gosto da traição, porém, é amargo. E permanece. Kathleen não entenderiaisso porque ela estava mais perto da perfeição do que qualquer um que eu já tinha conhecido. — Você sabe o que eu admiro em você, Kat? — Eu perguntei, de repente. Ela balançou a cabeça. — O que? — Você acha que todo mundo é honroso igual você é. Ela olhou para baixo e mordeu o lábio. Talvez ela tenha achado que o comentário era zombaria. Eu não queria dizer nesse sentido. As pessoas em todos os lugares deveriam aspirar ser como a Kathleen Doyle, cheia de honestidade e esperança, melhor do que corroído com culpa e cinismo como eu. O celular de Kathleen virou e ela reagiu indo pegar sua bolsa. Uma sombra passou pelo seu rosto quando ela encarou a tela e ela enfiou o aparelho de volta na bolsa sem responder. — Você está bem? — Eu perguntei porque, de repente, ela estava assustadoramente pálida. — Ok. — Ela pegou uma presilha de elástico da minha mesa e usou para amarrar o cabelo. — Então, a conversa foi para outro rumo, mas você está pensando em fazer a viagem que dia? — Esse final de semana se estiver tudo bem para você. — Funciona bem. — Nesse caso, eu vou sexta-feira à tarde e estarei de volta domingo pela manhã. Betty pode tomar conta da loja nesse meio tempo. Kat olhou seu relógio. — Falando na loja, você precisa abrir as portas em vinte minutos. Eu me inclinei para trás na minha cadeira grossa e almofadada e alcancei sua mão. — Vinte minutos é tempo suficiente. — Para que? Eu abri o zíper e tirei meu pau. — Para isso. Ela achou graça. — Achei que eu já tinha cuidado disso. Eu passei minha mão para cima e para baixo pelo músculo duro, porque eu sabia que ela gostava de observar eu me masturbando e ter seus olhos em mim me deixava ainda mais duro. — Cuide disso de novo agora. Dessa vez numa posição diferente. Primeiro Kat tirou a saia e abaixou sua calcinha. Ela não era a única que gostava de observar as coisas. Eu gemi quando ela inseriu dois dedos dentro de si. Isso era tão ridiculamente sexy. — Qual posição você tinha em mente? — Ela perguntou docemente e eu vi a forma como suas bochechas estavam coradas, ouvi como sua respiração acelerou. Ela estava tão entregue, nem um pouco orgulhosa ou adequada. Eu não perdi tempo ao localizar uma camisinha na minha carteira e colocar no lugar. — Tire essa blusa de novo, agora mesmo. Sutiã também. — Cheio de demandas. — Ela murmurou mas obedeceu com um sorriso. — E agora? — Agora eu vou chupar seus peitos enquanto você cavalga em mim. Kat estava gloriosamente nua quando ela montou em mim. A cadeira rangeu debaixo do nosso peso junto, mas aguentaria. Eu peguei uma mão cheia do seu cabelo, beijando-a intensamente, e com a outra eu segurei meu pau. Ela estava tão, tão pronta que quase me matou aguentar até ela chegar no clímax colocando seus peitos na minha boca bem do jeito que eu queria. — Ai, Deus. — Ela gemeu, ainda cavalgando no ritmo. — Você é tão bom. Eu provoquei seu mamilo. — Quão bom? — Incrível. — Ela sussurrou, os quadris ainda se empinando enquanto ela terminava o seu momento. — Você nunca foi fodida tão bem assim por ninguém antes de mim, né? — Sim. — Diga. — Nash. — Diga! — Não tem ninguém que foda melhor do que você. Eu cedi e me permiti gozar enquanto pedia para ela me montar bem mais forte até o final. A cadeira finalmente sucumbiu a todo esse abuso e a parte de trás se soltou, derrubando a gente para o chão. — Merda. Você está bem? — Eu perguntei, mas ela riu. — Nós quebramos a cadeira. — Ela deu uma risadinha. — Quebramos. — Eu joguei um pedaço destruído na mesa. — Nós quebramos a porra toda. Ela ainda estava rindo quando recolhia as roupas. Eu reparei na hora e percebi que agora faltavam só três minutos para a loja abrir. Normalmente Betty já estaria aqui agora, arrumando vigorosamente qualquer coisa que parecesse um pouco torta nas prateleiras, mas por sorte ela tinha uma consulta com médico essa manhã. Kathleen mais uma vez terminou de abotoar a blusa e lamentei que ela precisava ficar desse jeito. — Eu preciso ir. — Ela disse. Eu passei minha camiseta pela cabeça. — Dia ocupado? — Moderadamente. Eu mantive meus olhos nela. Observar Kat rapidamente se tornou meu passatempo favorito. — Venha aqui. — Nash, — Ela alertou. — não tem mais tempo para uma terceira vez. — Então me dá um beijo. Ela sorriu e me permitiu puxá-la para perto. Ela gostava de ser beijada devagar e profundamente e eu poderia senti-la derretendo nos meus braços. Às vezes eu aproveitava esses momentos doces mais do que os pervertidos. — Eu queria não precisar ir. — Ela sussurrou com seus braços ainda ao redor dos meus ombros. Depois ela afastou a cabeça, como se estivesse envergonhada pelas palavras que escaparam da sua boca. Eu peguei uma mecha do seu cabelo longo, da qual a tira de elástico tinha escapado. — Vou pegar Colin por volta das cinco. Eu vou comprar umas pizzas no caminho para casa. Por que você e Emma não aparecem para o jantar? Quero dizer, a menos que você tenha muito trabalho para fazer. O convite a alegrou. Eu podia dizer pelo jeito como seus olhos se iluminaram por um breve segundo, embora ela parecesse determinada a não mostrar. — Eu não acho que vou ter muito trabalho. Então, estaremos lá. — Bom. — Eu apertei sua bunda. Ela tinha uma bunda linda. Eu podia estar sentado pensando em quantas estúpidas canecas de café do tipo Felicidade de Hawk Valley eu precisava encomendar que, quando eu lembrasse da bunda da Kat do nada, eu ficaria tão duro que minhas bolas doeriam. Contudo, a essa altura, eu realmente precisava abrir a loja e Kat precisava mesmo ir à reunião com o cliente. Eu me afastei dela com certa relutância. Parecia que toda vez que eu a abraçava eu me sentia ainda mais desse jeito, que eu não queria deixá-la ir. — Eu te vejo mais tarde. — Ela disse, alegremente, e eu fiquei mesmo feliz por tê-la convidado para essa noite. Nós não fazíamos coisas como planejar saídas e encontros. Nós não falávamos sobre o futuro ou nos referíamos a nós mesmos como um casal. E parte de mim estava começando a questionar se nós estávamos fazendo tudo isso errado. — Você quer sua pizza de qual sabor? — Eu perguntei. — Abacaxi. — Você está brincando. — Por que eu estaria brincando sobre abacaxi? Não tem nada de engraçado nisso. — Exceto pelo fato que isso não tem nada a ver com pizza. — Eu não sabia que você era fresco com comida. Eu sorri e estufei meu peito. — Acontece que há mais coisa sobre mim do que só o meu talento de te foder melhor do que qualquer um. Ela revirou os olhos e abriu a porta do escritório. — Eu não deveria ter te dito isso. — Mas você me disse. E você vai me dizer de novo. Ela corou. — Tanto faz. Eu ainda estava sorrindo muito depois de ela ter fechado a porta. 1 6 N C A P Í T U L O Q U I N Z E Kathleen ash estava se preparando para sair para a sua curta mas necessária viagem a Oregon. Desde o momento que eu apareci na sua casa, ele continuou dando instruções como uma nova mamãe nervosa, mas eu não liguei. Na verdade, isso era mais adorável. — Tem três mamadeiras para ele na geladeira. E tem muitas fraldas no berçário, mas, no caso de você precisar de mais, tem um estoque no armário principal. E eu já acabei de lavar as roupas dele, então tem um monte daquelas roupinhas confortáveis no quarto dele. Ah, e se ele ficar com muitos gases, a garrafa do conta-gotas está no armário do banheiro de cima. — Entendido. — Eu disse, tentando não sorrir. Nash tinha ido tão longe em pouco tempo. Era difícil acreditar que só se passaram dois meses desde a manhã que eu o vi ser coberto de vômito de bebê bem aqui na cozinha depois de ter alimentado Colin mais do que deveria. Da sua cadeirinha, Colin balbuciava e tentava agarrar os brinquedos que estavam pendurados acima da sua cabeça. Seus dedos gorduchos se agarraram frisado porco rosa e ele emitiu um grito agudo de triunfo. Nash fez cócegas no pé do bebê e pareceu ansioso. — Vou sentir sua falta, criança. Eu apertei com meu dedo a bochecha macia de Colin e ele me deu um sorriso largo babado. — Eu prometo que vou cuidar muito bem dele. — Eu seique vai. — Nash passou uma mão pelo cabelo dele. — Não há ninguém no planeta com quem eu prefira deixá-lo. É só que vai ser o maior período de tempo que eu já estive longe dele, então meu estômago está embaralhando de preocupação. — Ele deixou sair uma risada rouca. — Olha só… Eu pareço um jumento nervoso. — Não. — Eu argumentei, dando cotoveladas nas suas costelas. — Você soa como um pai. Ele olhou para mim e seus olhos ficaram sérios. — Obrigada, Kat. — De nada. A expressão séria saiu do seu rosto e foi substituída por alguma coisa enquanto seus olhos passavam sobre mim. O tempo tinha ficado muito quente essa semana e eu vestia uma regata vermelha e short, meu cabelo estava solto e esvoaçante. — Eu gosto da ideia de você dormir na minha cama. — Ele disse suavemente porque Emma estava no cômodo ao lado. — Eu gosto da ideia de dormir na sua cama também. Nash estendeu a mão e tirou meu cabelo do meu ombro esquerdo, os dedos dele pincelando toda a minha pele. Era incrível como o mais breve toque dele podia produzir um poderoso tremor de desejo. Ele escorregou um dedo por debaixo da alça da minha regata e a sua voz ficou rouca. — Eu vou ficar pensando em você lá. Na minha cama. Fazendo coisas consigo mesma e querendo estar lá para fazê-las por você. — Que tipo de coisas? — Eu sussurrei, sentindo como se eu fosse desmaiar. A química física que existia entre nós era magnética, irresistível. E crescia mais forte a cada dia. — Mamãe! — Emma gritou e Nash se afastou de mim um breve segundo antes de ela entrar correndo pela cozinha com Roxie nos seus pés. — Qual é o problema, querida? Emma fez seu lábio inferior sobressair e seus olhos se encheram de lágrimas. — Eu esqueci o Sr. Ford. — Ela lamentou. Roxie lambeu a mão dela e soltou um gemido simpático. — Quem é o Sr. Ford? — Nash queria saber. — É o pato de pelúcia que minha mãe deu a ela na páscoa. — Eu disse. — Você precisa pegá-lo. — Emma disse, assentindo com sua própria solução. — Ou ele vai ficar triste. Eu peguei minha bolsa. — Tudo bem se eu deixá-la aqui enquanto eu volto para casa? — Claro. — Nash disse. Ele tirou o Colin da cadeirinha. — Ei, Miss Emma, vamos levar Roxie para o quintal para que ela possa te mostrar como ela pega um disco voador. — Um o que? — Um disco voador. — O que é isso? Eu sorri. — Eu já volto. Nash já estava saindo do cômodo. — Leve o tempo que precisar. A ida de volta para a minha casa levou apenas alguns minutos. Emma tinha deixado o Sr. Ford sentado na mesa da cozinha. Seus olhos bordados me encaravam tranquilamente enquanto eu o pegava. Eu estava fechando a porta da frente quando uma sombra me assustou, derrubando minhas chaves. — Tinha um homem. — Disse a senhora Sofia Fetucci. Ela tinha oitenta e sete anos, a viúva de um campeão antigo de boxe nacional e ela raramente saía da sua casa que ficava no outro lado do duplex. Semana passada eu esbarrei com a filha dela, que me confidenciou que estava mudando sua mãe para uma unidade de casa de repouso em Scottsdale, mais perto de onde ela morava. — Você está bem, Sofia? — Eu perguntei, inclinando para pegar minhas chaves. A pequena mulher idosa me encarou, seus escondidos olhos azuis estavam cobertos com uma camada leitosa de cataratas. Eu não tinha certeza do quanto ela podia ver a essa altura. — Tinha um homem aqui. — Ela insistiu e todo o incidente estava começando a parecer meio assustador. Eu me questionava se ela estava falando de Nash, mas, pelo que eu sabia, ele não tinha estado aqui hoje. — Ele estava na sua janela. — Ela disse, apontando um dedo ossudo para a janela da cozinha. — Quando? — Eu perguntei, olhando ao redor e me sentindo mais desconfortável do que nunca antes. Às vezes Sofia parecia estar perdida nas suas próximas nuvens, mas eu nunca soube que ela tinha alucinações. — Eu não sei. — Ela disse. — Mas você viu um homem olhando pela minha janela mais cedo? — Eu perguntei, só por esclarecimento. Ela concordou. — Sim. — Como ele parecia? Ela franziu o rosto. — Alto. — Ela disse. — Talvez. — Você lembra de mais alguma coisa? — Não. Ele pode não ser alto. Bem, isso reduziu as chances. Eu não saberia nem o que contar à polícia. “Minha vizinha idosa meio cega pode ter visto um homem indescritível, possivelmente alto, perto da janela da minha cozinha em algum momento do dia.” — Você viu para onde ele foi? — Eu perguntei. Eu não tinha muita certeza de que o homem era real, mas isso não impediu que o cabelo da minha nuca se arrepiasse. — Não. — Ela suspirou e eu vi a sua mão trêmula. Ela parecia chateada e instável, então eu ofereci o meu braço para ela ter estabilidade e depois andei com ela até sua casa. A filha da Sofia tinha contratado uma empregada, um serviço de entrega de comida e também uma enfermeira para cuidar da sua mãe várias vezes na semana, mas agora não tinha ninguém na sua pequena e arrumada casa. Seus cômodos eram um espelho da minha casa, exceto pela mobília que estava coberta com mantas de crochê e havia imagens de gatos em bordados de ponto de cruz por todas as paredes. Quando eu estava certa de que Sofia tinha tudo de que precisava, eu saí, fazendo uma anotação mental de que iria encontrar o contato de sua filha para informações e compartilhar o momento esquisito. Eu parei atrás das rodas do meu carro me sentindo incomodada, nervosa. Sofia provavelmente tinha visto um advogado ou talvez um dos missionários que frequentemente cobriam a vizinhança procurando por pessoas para espalharem sua religião. E as cataratas que ela tinha eram tão ruins que eu não estava certa de que sua versão dos acontecimentos era correta. No entanto, ainda assim, as chamas da minha ansiedade foram suficientemente alimentadas e eu continuei encarando o espelho do retrovisor. Por alguns blocos, eu pensei que estava sendo seguida por um carro prata. Ele se manteve há uns bons vinte metros atrás de mim e, quando eu avistei a rua de Nash, o veículo virou na direção oposta. O carro de Nash para o aeroporto já estava parado no meio-fio quando eu voltei. Tinha um pequeno aeroporto municipal há sessenta quilômetros, onde ele pegaria o avião para Phoenix e depois de lá, um voo para Portland. Eu tinha oferecido uma carona a ele, mas ele recusou categoricamente. — Colin está cochilando lá em cima no berço. — Ele disse. — Eu vou dar um beijo de despedida por você. Nash mostrou um sorriso largo. — Eu vou chegar a Portland essa tarde. — Ele disse, jogando uma pequena bolsa de viagem no carro que esperava. — Depois eu vou pegar o caminhão, dirigir pela costa, empacotar tudo, talvez tirar algumas horas para dormir e estarei no caminho de volta o mais rápido que eu puder. — Não se preocupe com o Colin. — Eu disse a ele, segurando o Sr. Ford e ainda me sentindo um pouco ansiosa em relação ao mistério do Homem na Janela. — Entre Emma, eu e Roxie, ele será muito bem cuidado. Emma de repente apareceu na porta da frente e correu até mim, pedindo pelo Sr. Ford e abraçando o brinquedo numa reunião extasiante. Nash parou antes de deslizar para o banco de trás do carro. Seu rosto procurou o meu. — Me liga a qualquer hora, Kat. — Faça o mesmo. Nós nos encaramos e ele começou a dar um passo em minha direção. Eu me perguntei se ele planejava me dar um beijo de despedida. Eu queria que ele desse. Apesar do fato de nós sermos somente bons amigos que davam orgasmos inacreditáveis um ao outro, eu queria que ele me desse um beijo suave antes de partir. Mas Nash olhou para Emma, que estava dançando pelo jardim da frente com seu pato de pelúcia, e voltou. Ele piscou para mim antes de entrar no carro. Eu observei o carro desaparecer e, por algum motivo, me senti triste. Ou talvez isso não fosse tristeza. Talvez era porque eu precisava de Nash Ryan mais do que eu pretendia. Eu segurei a mão de Emma e voltei para a casa, onde Roxie aguardava com seu rabo abanando. Emma a apresentou ao Sr. Ford e não gostou muito quando a cachorra tentou mastigar o pequeno bico dele. Depois de olhar Colin, que ainda estava dormindo profundamente enquanto o berço móvelgirava de forma lenta acima da sua cabeça, eu voltei para baixo, para a cozinha, lavei um punhado de louças na pia e chequei o que havia na geladeira. Nash tinha insistido para que eu fizesse o que eu encontrasse e eu me perguntei se Emma e eu iríamos comer queijo velho ou pão velho no jantar. Eu realmente não iria embarcar numa aventura de mercado a menos que fosse necessário. Mas, surpreendentemente, a geladeira de Nash estava bem abastecida. Eu verifiquei as embalagens e planejei fazer uma salada e espaguete para nós, consumidoras de comida sólida, enquanto Colin ficaria contente o bastante com seu leite e pêssegos em conserva. Emma estava falando animadamente no cômodo ao lado. Eu escutei por um momento e não consegui descobrir o que ela estava falando, então fui até lá ver. Eu encontrei uma casual festa de chá em progresso. Emma estava deitada de barriga no chão enquanto Roxie estava abaixada perto dela e Sr. Ford encarava o sofá serenamente. Enquanto eu observava, o pato de pelúcia caiu de cara no chão embora Emma tivesse sido rápida em se esticar para pegá-lo. — Sente, Sr. Ford. — Ela o repreendeu. — Você não gosta do seu chá? Foi quando eu percebi que o “chá” estava sendo servido na porcelana antiga adquirida cuidadosamente pela Heather. — Emma, onde você pegou isso? — Eu exclamei, abaixando ao chão e arrancando uma xícara de cem anos de idade do focinho curioso da Roxie. — Isso não é brinquedo. Minha filha foi para uma posição sentada e apontou enquanto eu começava a juntar as peças. — Eu posso brincar com isso. — Ela argumentou. — Não, querida, eu te disse que primeiro tem que pedir antes de pegar alguma coisa daqui e começar a brincar. Essa não é a nossa casa. O que aconteceu com seus livros de colorir? — Heather disse que eu podia brincar com isso! Eu mordi meu lábio. — Emma, você sabe que a Heather não pode ter te dito isso. — Ela disse! Ela me mostrou onde eles estavam, na coisa marrom. — Emma apontou para o armário de antiguidades no canto do cômodo. — E ela disse que eu podia brincar com esse chá a qualquer momento e eu prometi que seria cuidadosa. Eu parei de pegar as peças do jogo de chá. — Quando a Heather te disse isso? — Eu perguntei, calmamente. Emma era uma criança imaginativa. Ela podia ter criado todo o cenário. Mas o desconforto que tive mais cedo voltou e eu me perguntei se tinha a ver com alguma coisa meio sobrenatural. Emma franziu seu rosto do mesmo jeito que Sofia Fetucci tinha feito. — Eu não sei. Eu engoli. — Não foi hoje, não é? Ela olhou para mim como se eu tivesse feito a pergunta mais ridícula de todas. — Não. Foi no dia que eu vim aqui e fizemos corações vermelhos. — Dia dos namorados? — Eu perguntei e Emma deu de ombros. Eu suspirei, entendendo agora o que ela quis dizer. Dia dos namorados tinha sido num sábado e um novo cliente, que fazia mobília personalizada e vivia nas montanhas, implorou por uma ajuda de emergência porque sua ex-esposa tinha sabotado seus arquivos. Heather se ofereceu para cuidar de Emma e continuar com ela pela noite se eu estivesse muito cansada para buscá-la. Eu aceitei muito agradecida, embora eu me sentisse um pouco culpada porque minha prima tinha tido o bebê apenas três semanas antes. Heather tinha arrumado uma variedade de papéis craft na mesa da cozinha e prometeu a Emma que elas teriam um dia especial. Ela estava segurando Colin quando eu olhei para trás e a vi acenando para mim da janela da cozinha. Eu acenei de volta e depois encarei a viagem para as montanhas numa manhã de frio amargo. — Onde eles estão? — Emma perguntou num tom de voz baixo e eu vi que ela estava encarando uma foto de Chris e Heather no dia do seu casamento. Eu pensei que eu já tivesse chorado todas as minhas lágrimas, mas não, eu ainda tinha mais. Eu tentei enxugá-las para que Emma não pudesse ver e ficar triste. — Eles foram embora, amor. Emma considerou a resposta. Heather e Chris tinham sido importantes para ela também. Felizmente ela manteria algumas memórias deles e seria capaz de contar para Colin algum dia. — Eu queria que eles não tivessem ido. — Ela disse e seu lábio inferior tremeu. Abaixei as xícaras de chá e abri meus braços para ela. Eu afaguei seu cabelo, macio e escuro, lembrando de uma vez que eu acariciei cabelos semelhantes ao seus desse mesmo jeito, enquanto um homem com quem eu me importava chorava no meu colo e implorava para que eu dissesse a ele que sua agonia terminaria. Emma nunca o conheceria. Mas eu me lembrava dele toda vez que minha filha me olhava com os olhos solenes que ele tinha. O humor triste de Emma não durou muito. Roxie rapidamente foi beijar seu rosto e ela começou a dar risinhos. Colin acordou da sua soneca e eu sentei no quintal com ele no colo enquanto Emma brincava na grama com Roxie. A cachorra de Nash sempre me impressionou. Apesar do seu tamanho, ela era surpreendentemente gentil e ficava encantada com qualquer atenção que Emma estivesse disposta a dar a ela. A tarde passou rapidamente sem nenhuma sombra de problemas. Era raro que eu tivesse um dia completo de folga mas, enquanto estava sentada do lado de fora, ouvindo a risada da minha filha e os gritinhos de felicidade do Colin, eu decidi dar uma pausa em qualquer trabalho que me esperasse no meu computador móvel. Ainda estaria lá amanhã. Depois de um jantar antecipado e banhos rápidos, nós sentamos na sala de estar para assistir A Bela e a Fera. Colin cochilou no meu ombro e Emma deixou sair um bocejo sonolento enquanto descansava a cabeça contra o meu braço. Pensei em como esse momento foi fofo. A única coisa que o faria mais perfeito seria se Nash estivesse aqui para compartilhá-lo Agora que eu estava pensando em Nash, eu olhei a hora e pensei que ele devia estar em Oregon, provavelmente no caminho para o litoral da cidade onde ele costumava morar. Espiei meu celular que estava na mesinha há um metro da minha esquerda e procurei por ele ao mesmo tempo que tentava não perturbar o bebê. Nash merecia ver essa cena calma e feliz caso ele estivesse preocupado com Colin. Eu tiraria uma foto rápida e enviaria a ele. Dois segundos depois de ter enviado a foto para Nash, recebi uma ligação. Não era o Nash. — Onde você está? — Minha mãe exigiu saber. — Estou olhando Colin por um fim de semana, então eu e Emma estamos na casa do Nash. Eu te disse isso outro dia. — E onde o personagem Nash foi? Eu suspirei. — Ele teve que ir a Oregon e pegar o resto das coisas dele. Mãe, eu já te disse isso também. Ela fez mais alguns comentários passivo-agressivos que eu escolhi ignorar e depois enigmaticamente disse que ela precisava conversar comigo sobre alguma coisa. — Isso pode esperar? — Eu perguntei, mudando Colin de lado porque meu ombro estava ficando dormente. — Ok. — Ela bufou. — Eu vou conversar com você amanhã. Dê um beijo da vovó para a minha menininha. — Boa noite, mãe. — Eu disse, quase nada curiosa sobre que tipo de assunto terrível ela precisava discutir. Minha mãe parecia bem, mas ela tinha talento para drama. Talvez ela estivesse brigando de novo com o pessoal da biblioteca pública por causa de taxas atrasadas. Eu tinha planejado ir dormir mais cedo dessa vez em vez de trabalhar até tarde. Mas depois que Emma e Colin estavam aninhados na cama, eu descobri que eu não estava nem um pouco cansada, então vaguei pela casa. A casa antiga passava uma sensação diferente depois do pôr- do-sol. O chão de madeira rangia por causa do meu peso e todo canto estava espesso com sombras. Construções antigas possuíam um certo tipo de tristeza como se carregasse o peso de todas as experiências humanas vividas entre suas paredes silenciosas. Eu parei de frente com uma porta fechada. Nash sempre a mantinha fechada. Eu imaginei que, quando eu a abrisse, eu encontraria o quarto exatamente na mesma condição que tinha ficado desde quando os antigos moradores dormiam ali. Eu estava certa. Todo lugar que eu olhava tinha sinais de uma vida interrompida. Uma sandália rosa feminina abandonada perto do guarda-roupa. Uma garrafa de água pela metadena mesa de cabeceira. E fotos, tantas fotos. Fotos deles dois, e mais fotos ainda do Colin como se eles tivessem ficado ansiosos para aproveitar todo momento do curto e doloroso tempo que foram uma família. Sentia minha garganta grossa com as lágrimas não derramadas. Eu entendi o porquê de Nash evitar esse quarto, o porquê que ele não tinha dado um passo através de nenhuma dessas coisas. Eu recuei e fechei a porta com um suspiro e fui para o primeiro andar. A cachorra de Nash já estava enrolada na sua cama confortável no canto. Ela levantou a cabeça quando eu apareci e depois abaixou quando viu que eu estava sozinha. Meu celular ainda estava na mesinha e, quando eu olhei para ele, eu vi que Nash tinha mandado uma mensagem enquanto eu estava perambulando pelos cômodos lá em cima. Tudo empacotado na camionete. Vou dormir por umas horas, depois vou pegar a estrada. Aproximadamente vinte horas dirigindo. Obrigado pela foto. As palavras eram informativas e nada sentimentais. De alguma forma isso me incomodou. Eu não deveria esperar mais e eu fiquei irritada comigo mesma por sentir alguma frustração. Nash e eu tínhamos um acordo claro. Não havia nenhuma exigência exceto amizade mútua, respeito e sexo alucinante. — Nada complicado em relação a isso. — Eu murmurei, optando por não responder a mensagem já que ele mencionou que planejava tirar umas horas de sono. Eu notei que era quinze para as nove. Supondo que ele dormiria por três ou quatro horas e partisse uma da manhã, ele estaria aqui por volta dessa hora amanhã se ele dirigisse direto. Um rosnado baixo sinistro emitido do nada arrepiou minha espinha. Roxie tinha fugido do seu canto de dormir e agora estava rondando debaixo da janela da sala de estar, mostrando os dentes, o cabelo visivelmente arrepiado. Apesar da afirmação do Nash de que o pastor-alemão era um bom cão de guarda, eu nunca tinha visto essa reação dela antes. — Você ouviu alguma coisa, garota? — Eu sussurrei, desligando a lâmpada da mesa antes de me aproximar da janela. Eu puxei os ilhós das cortinas para o lado e não vi nada além do brilho amarelado da lâmpada formada e velha da rua brilhando no meu carro, que estacionei perto do meio-fio. As luzes da varanda da casa cruzavam a rua, porém não vi ninguém lá nem ninguém passando pela rua. Uma rajada de vento agitou os galhos altos da árvore anciã no jardim da frente, mas não havia nenhuma outra movimentação. — Deve ter sido um gato. — Eu assegurei à cachorra, acariciando sua cabeça. Roxie olhou para mim com dúvida. Eu chequei duas vezes o trinco da porta da frente enquanto Roxie andava de um lado para o outro. Outro rugido saiu da sua garganta e ela saltou em direção à cozinha. Eu a encontrei encarando a porta lateral e o barulho aumentou de um rugido para um latido afiado. “Tinha um homem...” Minha garganta estava seca e eu estava segurando meu celular na minha mão, preparada para ligar 190. O alerta de Sofia Fetucci mais cedo continuava tocando na minha cabeça. O latido da Roxie diminuiu e ela deixou sair um último rosnado leve antes de sentar nos quadris e me olhar como se dissesse “Eu juro que tinha alguma coisa lá fora”. Custou muito da minha coragem me aproximar da porta e empurrar a cortina para o lado para espiar pelo painel de vidro. Não tinha nada lá fora. Roxie cutucou minha mão com seu nariz molhado. — Boa garota. — Eu a elogiei, coçando a parte de trás de suas orelhas. Eu observei por mais alguns minutos, mas não vi nem ouvi nada que fosse alarmante. A sensibilidade da cachorra era muito mais apurada e havia probabilidade de ela ter sentido alguma criatura da noite passar. Um coiote, ou talvez um bando de morcegos. Roxie bocejou e eu verifiquei a tranca da porta da cozinha antes de recuar. Eu ofereci à cachorra um biscoito da caixa que Nash mantinha na despensa e ela mastigou feliz. Não havia barulho vindo de cima, então aparentemente a breve explosão de Roxie não tinha acordado Colin nem Emma. Todas as portas e janelas foram verificadas mais de uma vez. Roxie voltou para a sua cama e me observou com olhos sonolentos. Eu acariciei sua cabeça mais uma vez antes de ir para o segundo andar. Tudo estava silencioso exceto pelo som suave do berço móvel do Colin. Ambas crianças pareciam estar dormindo. Um cansaço súbito me venceu e eu invadi minha mochila da noite, me trocando rapidamente e escovando meus dentes. O quarto do Nash estava arrumado, a cama foi feita com capricho. Ele finalmente parou de viver de suas malas e colocou as roupas no guarda-roupa e na cômoda. Eu escorreguei para os lençóis frios, inalando o apimentado e familiar perfume da loção de barbear do Nash que se agarrava aos lençóis. Era como inalar o cheiro do próprio sexo e minha mão viajou para o meio das minhas pernas enquanto eu pensava nele, desejando que ele estivesse aqui fazendo as coisas que eu estava fazendo em mim mesma. O sono veio rapidamente depois disso, embora meus sonhos fossem uma colagem misteriosa de eventos passados que fizeram eu me sentir perturbada pela manhã. 1 7 D C A P Í T U L O D E Z E S S E I S Nash ois meses. Esse era o tanto de tempo que tinha passado desde que eu finalmente peguei no volante pretendendo dirigir em linha reta por vários estados até chegar a Hawk Valley. De volta até lá, eu só sabia que a tragédia tinha me encontrado pela segunda vez na minha vida. Eu não sabia que, uma vez em Hawk Valley, seria impossível sair. A van de três metros que eu aluguei era mais larga do que eu acabei precisando. Não tinha muita coisa que eu queria levar comigo. A maior parte da mobília era desnecessária, visto que eu não sentia que havia lugar para ela na casa do meu pai. Casa do meu pai. Quando eu era criança, dizer que eu estava indo para “a casa do meu pai” resultaria frequentemente em um gemido e uma reclamação. Eu preferia o pequeno apartamento da minha mãe em Phoenix à grandiosa casa antiga em estilo vitoriano com a vista das montanhas. Meu pai nunca foi abusivo. Só eternamente irritado. E abertamente aliviado quando chegava a hora de me levar de volta à minha mãe. Deve ter sido um choque para ele sair da paternidade de meio-período para o responsável de um adolescente problemático vinte e quatro horas por dia. Às vezes, agora mesmo antes de eu cochilar, eu despertava em um solavanco e sentava rapidamente, certo que alguém estava balançando meu ombro na escuridão. Nunca tinha ninguém lá porque era apenas uma memória. Naquela noite, a noite em que o mundo despedaçou, meu pai tinha me acordado rapidamente depois das duas da manhã e a coisa mais impressionante era que ele estava chorando. “Nash. Acorde, filho. Alguma coisa aconteceu. ” Os momentos seguintes tinham sido bloqueados pela minha mente. Eu me lembro de ver coisas quebradas ao redor da casa e escutar que eu era responsável porque, depois de eu ouvir que minha mãe tinha sido assassinada pelo seu marido, eu comecei a gritar e correr pela casa destruindo tudo que eu podia ter nas minhas mãos até meu pai decidir me conter fisicamente. Naquele momento, eu tinha que ir ao hospital para costurar a mão que eu tinha cortado em uma colisão com o vidro da janela. Chris Ryan não sabia o que fazer comigo. Nosso tempo juntos sempre tinha sido menos do que dois meses por ano. Agora, de repente, ele era um pai em tempo integral de uma criança incrivelmente brava. No começo, ele tentou. Ele me arrastou a um terapeuta. Ele me encorajou a fazer amigos, a praticar esportes. Eu descobri que gostava de esportes, que bater em caras grandes no campo de futebol ou correr em volta de uma quadra de basquete ajudaria a tornar a minha agressividade em alguma coisa que não envolvesse sangue. Mas amigos eram um enigma para mim. Um monte de gente queria a minha companhia e parecia que quanto menos eu cooperava, mais me procuravam. Especialmente as garotas. Eu não podia me orgulhar do jeito que eu tratava as garotas na época. Eu era um estúpido. No entanto, isso não significava que eu estava disposto a aceitar críticas de um homem que tinha chutado a minhaprópria mãe para o meio-fio e depois se divertido com uma porta giratória de namoradas desde que eu podia andar. Chris Ryan podia grunhir sobre meu mau comportamento o quanto quisesse. Eu não dava a mínima. Quando eu tinha dezesseis anos, ele invadiu meu quarto depois de ter uma conversa furiosa no telefone com um vereador da cidade. A filha adolescente do homem tinha ficado chorando no seu quarto por três dias porque eu disse a ela que eu estava entediado com ela e também havia transado com a sua melhor amiga. — Que droga, garoto. — Meu pai rugiu, batendo a porta tão forte que deixou um amassado na parede. — Quem foi o imbecil que te disse que era ok tratar as mulheres como objetos descartáveis? — Tal pai, tal filho. — Eu respondi, friamente. Seus olhos se estreitaram. — Você não pode passar a vida agindo como um pedaço de merda egoísta. — Por que não? Sempre funcionou para você. Nós nos encaramos. Meu punho se fechou. Se ele viesse até mim, eu estava preparado para bater nele. Eu não queria fazer isso. Mas eu iria. De qualquer forma, meu pai não era um homem violento. Ele era arrogante, cabeça dura, rude e teimoso, mas violento não. Outra diferença fundamental entre nós. — Vá atrás do seu próprio jantar. — Ele disse de um jeito cansado e saiu da minha frente. — Estou saindo. No meu último ano no colégio, eu tinha planos. Eles não envolviam continuar em Hawk Valley e lutar para vender lembrancinhas de merda. Eu tinha boas notas e era um atleta decente. Uma pequena faculdade em Oregon tinha me dado uma bolsa de estudos. Como a minha carreira do ensino médio desenhou um fim, eu estava esperando a minha vez, consciente que meu pai estava desapontado e aliviado que eu estava deixando Hawk Valley para trás. Eu só precisava ficar longe de brigas nesse meio tempo. Enquanto isso, a frente do escritório da escola do ensino médio ganhou uma nova empregada bonita quando Heather Molloy começou a sentar na mesa da recepção. Todos os garotos falavam merda sobre o que eles fariam com aquela vagina loira se eles ficassem próximos, mas Heather não estava mesmo no meu radar. Eu tinha opções suficientes para fazer malabarismos e ela era mais velha, no meio dos seus vinte anos. Mas era bom como ela sempre sorria quando ela me via chegar. — Ah não, o que você fez dessa vez, Nash? — Nada que eu me arrependa. Ela riu. — O que nós vamos fazer com você? Depois veio uma manhã numa primavera antecipada quando eu testemunhei o presidente da turma neurótico e engravatado empurrar sua namorada com tanta força contra o armário que ela chorou. Eu não podia aceitar isso. Eu bati no cara, quebrando o nariz dele. Era para ser a minha gota d’água. Mas aconteceu de Heather Molloy estar andando por perto e dizer que as circunstâncias estavam incitando minha explosão. Então me foi dada uma suspensão temporária por defender uma colega de turma. Agradecer alguém por qualquer coisa nunca foi fácil para mim, mas eu agradeci a Heather. Em hesitantes e desajeitadas palavras, eu disse a ela o quanto eu apreciava a sua intervenção. Heather sorriu para mim e tocou minha mão. E foi assim que começou. Nós nos encontramos no Parque Estadual de Hawk Valley, oito quilômetros fora da cidade. Não era um lugar muito popular entre os moradores. Se as pessoas quisessem ir caminhar, pescar ou fazer passeios turísticos, elas dirigiam para as montanhas, não para um piquenique em uma colina sombreada perto de um riacho parado. Tecnicamente nós não estávamos quebrando nenhuma lei, mas a situação não significaria coisas boas para Heather se fôssemos vistos juntos. No começo, nós só conversávamos. Eu sabia que a maioria das garotas me via como um tipo de tragédia ferida ambulante, alguma coisa que elas aspiravam consertar. Heather, no entanto, nunca me forçou a responder perguntas. Provavelmente foi por isso que eu decidi me abrir para ela. Pela primeira vez desde o assassinato da minha mãe, eu senti como se eu pudesse respirar, como se eu pudesse relaxar. E quando cruzei a linha e beijei Heather, ela não me desencorajou. Ela me beijou de volta. Mas não importava quantas vezes nós ficamos ali nos braços um do outro até depois do entardecer, ela nunca deixava as coisas irem muito longe. — Nash, isso não deveria estar acontecendo. Eu não estava acostumado a ser rejeitado e estava começando a ficar frustrado. Eu corri um dedo pelo seu braço e senti um triunfo pelo jeito como ela estremeceu ao meu toque. — Isso não é ilegal, amor. Eu tenho dezoito anos e termino a escola em um mês. Ela estava respirando pesado, sua resistência estava desmoronando enquanto meus dedos entravam debaixo da sua camiseta, explorando sua pele macia. — Isso não parece certo. Eu encostei suas costas no cobertor e a cobri com meu corpo. — Eu quero você, Heather. Sei que você me quer também. Ela fechou seus olhos. — Talvez. Nós não fizemos sexo. Nós ficávamos por perto e nunca avançávamos. Então, um dia, eu caminhei até a loja para trabalhar um turno atrás da caixa registradora. Eu odiava a loja, mas eu precisava de um pagamento em meio período e meu pai insistiu que eu não poderia procurar em nenhum outro lugar. Ele estava lá. E ela também. Eu os vi atrás do vidro, ficando mais perto um do outro e conversando intensamente e isso era estranho. Meu pai era uns treze anos mais velho do que a Heather. Hawk Valley era uma cidade pequena mas eu nunca nem pensei que eles se conhecessem. Heather jogou a cabeça para trás em uma risada e eu me perguntei sobre que merda eles estavam conversando para ser tão engraçado. A única coisa que eles poderiam ter em comum era eu e eu não tinha dito uma palavra para ele sobre ela. — Nash! — Heather parou de sorrir e pareceu assustada em me ver. — Eu só parei para dizer oi. Eu não venho aqui há tanto tempo. Eu olhei ao redor da loja. — Não tem muito para ver. — Certo. — Ela colocou o cabelo loiro atrás de um ombro e olhou para baixo. — Eu tenho que ir. Tchau, Nash. Foi bom conversar com você, Chris. — Bom ver você, Heather. — Meu pai respondeu e eu vi o jeito como seus olhos se demoraram na bunda dela enquanto ela andava para a porta. Isso me fez querer vomitar. — Sobre o que foi isso? — Eu reclamei. Ele estava assobiando. — O que? — Se você precisa de uma nova conquista, não procure na Heather. Meu pai estava entretido. O idiota nem olhava para mim. — Parece que alguém tem uma crush. — Você é um cuzão. — Deixa disso, filho. Ela está fora do seu alcance. — E você é uma década mais velho do que ela. Às vezes ele gostava de me tirar do sério. Essa foi uma dessas vezes. Talvez ele pensasse nisso como um troco por todas as vezes que eu o tirei do sério. Chris Ryan sorria para mim com desdém como se eu não fosse nada mais do que uma criancinha perseguindo a garota que ele gostava com as mãos cheias de esperança. — Você não pode competir comigo, menininho. Nem tente. — Vai pro inferno. Eu saí de lá com o som da risada dele ecoando atrás de mim. Heather começou a inventar desculpas sobre por que ela não poderia me encontrar. A formatura aconteceu, então eu tinha outras coisas em mente, de qualquer forma. Além disso, o que eu deveria fazer, colocá-la na minha mala de outono e fazê-la comigo para Oregon? Ainda assim, eu passava na frente do escritório mais vezes do que eu precisava só pela chance de receber um sorriso dela e sentia meu coração relaxar toda vez que isso acontecia. Meu pai e eu não estávamos conversando muito, entretanto essa tinha sido a situação por tanto tempo que eu não estava incomodado. Nós só estávamos tentando passar pelos próximos meses e deixar esse experimento para trás. Algum dia as coisas podiam ser diferentes entre nós. Só não conseguiríamos viver juntos debaixo do mesmo teto. No Dia de Folga dos Veteranos, eu fiz planos de ir até as montanhas passar a noite com vários dos meus colegas de classe. Meu pai não me deu sua bênção nem as chaves da cabana da família. Ele só me disse para deixar o lugar sem danos, se possível. Havia um monte de garotas gostosas por lá e eu tentei ficar interessado nelas.Mas nem mesmo quando Amelia Horton começou a me chupar enquanto eu me inclinava para trás em um pinheiro e fumava um cigarro, eu não conseguia seguir em frente. Eu não queria transar com uma garota aleatória. Eu só queria Heather. Não havia amor e casamento na minha mente, mas eu sentia uma conexão com ela que eu não tinha encontrado com as garotas da minha idade. Isso tinha que significar alguma coisa. Eu deixei a última aula para fazer sei lá o que eles queriam e dirigi de volta para Hawk Valley depois da meia noite. Mas Heather não respondeu quando eu liguei e não havia luzes acesas no seu apartamento. A ideia de voltar para a festa era deprimente. Eu achei que eu estaria melhor indo para casa para me jogar na minha própria casa e me masturbar com minhas fantasias. Eu abri e fechei a porta da frente com cuidado, não querendo mesmo ter nenhuma interação com meu pai. Ele podia estar fora bebendo até adormecer partes do seu fígado ou ele podia estar roncando lá em cima. De qualquer forma, eu só queria ficar sozinho. Eu não ouvi nenhum barulho até eu estar quase no topo da escada. Era um gemido, um som de uma mulher sentindo dor. Ou o oposto de dor… Eles tinham deixado a luz acesa e não tinham se preocupado em fechar a porta. Ela estava deitada de costas na cama, camiseta e sutiã estavam empurrados para baixo, então seus seios arrebitados estavam descobertos, assim como o restante do corpo dela. Suas pernas estavam arreganhadas e seu corpo, arqueado, subindo e descendo com o ritmo da língua do meu pai na sua boceta. — Ah, meu deus, Chris! Ai! Ele estava sem camiseta e de joelhos, seu rosto estava enterrado entre as pernas dela enquanto Heather gemia seu nome e agarrava os lençóis da cama enquanto ele a fazia gozar. Eu estava paralisado, encarando a mulher que eu queria, a mulher em quem eu tinha confiado, tendo sua boceta lambida pelo último homem no planeta que eu poderia suportar ver com ela. Eles não me ouviram. Eles não me viram. Eles não sabiam que alguma coisa estava errada até que eu peguei uma antiga garrafa de cristal que pertenceu aos meus avós e joguei contra a parede mais distante, destruindo-a em um milhão de pedaços impossíveis de serem colados. — Nash! Heather não estava mais gemendo de prazer. Ela estava arfando com horror, tentando cobrir seu corpo como se isso fizesse alguma diferença de merda. Eu não podia olhar para ela. Eu não queria machucá-la. Eu só queria nunca mais ver seu rosto. — Sai daqui! Ela chorava. — Nash, eu sinto muito. — SAI DAQUI, PORRA! Meu pai se levantou. Ele estava pálido, os olhos arregalados. Ele engoliu, tocou a chorosa Heather no braço e concordou. — Por favor, vá, Heather. Ficamos de frente um para o outro, pai e filho, ouvindo o som da Heather descendo as escadas e fugindo pela porta da frente. Meu pai engoliu, seu rosto em uma máscara de remorso. — Filho, eu sinto muito. Nós não planejamos isso. Eu engasguei uma risada rouca. — Uma batalha de choros dos filhos-da-puta mentirosos por toda parte. — Não, eu juro. — Você sabia. — Eu acusei. Ele abaixou a cabeça. E ele não negou. — Ela te contou. — Eu sussurrei. — Ou você adivinhou. Mas a questão é você sabia sobre eu e ela e você foi atrás dela de qualquer jeito. Ele lamentava tudo. Eu podia dizer pela expressão nos seus olhos. Eu só não ligava. — Eu não tinha intenção de fazer isso. — Ele disse. — Entendi. Sua boca só caiu na boceta dela. — Desculpa! Porra, eu bebi muito essa noite. — Mentira. O que foi isso, algum tipo de disputa doente para provar que você é o macho alfa número um por aqui? Ele pareceu atingido. — Nash, me diga o que eu posso fazer. Estou muito envergonhado. Vou fazer qualquer coisa para consertar isso com você. — Nunca mais a veja. Ele concordou ansiosamente. — Sim. Feito. Eu nunca mais vou vê-la. Eu virei para sair do quarto, mas eu tinha mais uma coisa para dizer a ele. — A propósito, pai, eu odeio você. Enquanto minha mente ficou preocupada com o passado, eu tinha cruzado a linha do estado e a escuridão se foi. Eu tive que colocar óculos de sol no meu rosto para combater o brilho da estrada. Meu estômago estava rosnando, por isso eu parei em uma lanchonete à beira da estrada para tomar algum café da manhã. O café me fez pensar na Kat e no seu afeto por nada cafeinado. Minhas pernas queriam se esticar por mais um minuto antes de se fecharem no banco do motorista, então eu fiquei perto da caminhonete. Eu peguei meu celular e olhei de novo a foto que Kat tinha me mandado na noite passada. Ela colocou as lentes da câmera em si mesma e capturou uma imagem serena de Colin dormindo em um ombro enquanto Emma descansava no outro. Kat tinha um pequeno sorriso em seu rosto, aquele cabelo imenso e selvagem dela se espalhando para além da foto. Sua beleza era mais do que sensual. Eu não poderia pensar em nenhuma outra mulher que poderia ser comparada à Kathleen Doyle. Com relutância, eu coloquei o celular no bolso, desejando que não fosse tão cedo para ligar ou mandar mensagem. Eu ligaria para ela na próxima vez que eu parasse, apesar de que eu gostaria de ouvir sua voz bem agora para afastar a escuridão inquietante que tinha consumido meus pensamentos durante a viagem. Não eram apenas velhos pensamentos dolorosos que estavam me incomodando. “A propósito, pai, eu odeio você.” Eu estava certo de que tinha dito várias outras coisas para ele depois dessa frase devastadora. Eu lembro de outras conversas, de outras palavras que foram ditas. Mas, por algum motivo, desde o seu funeral, as últimas palavras que eu tinha dito a ele naquela noite tão distante foram as que tinham ficado mais altas na minha cabeça. 1 8 O C A P Í T U L O D E Z E S S E T E Kathleen dia estava se preparando para ser uma amostra perfeita do verão. Com Colin balbuciando na sua cadeira alta na cozinha, Emma tagarelando com Roxie na sala de estar e a brilhante luz do sol passando através da janela, parecia impossível que eu ficaria preocupada. Então, a batida aguda na porta ao lado me fez pular. Eu relaxei quando vi que a sombra do lado de fora da porta era a forma da minha mãe. Geralmente eu tentava consumir pelo menos um copo e meio de cafeína antes de lidar com as inevitáveis críticas da minha mãe, mas o café teria que esperar. — Eu não estava te esperando, mãe. — Eu disse com toda animação que eu consegui reunir. Ela me encarou através dos seus enormes óculos de sol. Eles adicionavam uma aparência de inseto ao seu rosto. — Eu te disse noite passada que eu precisava falar com você, Kat. Eu suspirei. — Tudo bem. Ela estava entrando na casa quando ela franziu a testa de repente. — O que é aquilo? — É a porta da cozinha. E eu estou segurando para ficar aberta. Então, por favor, entre antes das moscas. — Não. — Ela tocou a porta bem abaixo do painel retangular de vidro para me mostrar algo que eu não tinha visto antes. Quando eu vi o que era, meu sangue congelou. — Eu quis dizer isso. Era um pequeno milagre que meus dedos não balançaram quando eu arranquei da porta o objeto que tinha sido fixado ali com um quadrado de fita azul. Não era nada, só um pedaço de papel. Ainda assim, isso me abalou nas profundidades da minha alma. A foto tinha sido impressa em um papel comum de computador e eu fui confrontada pelo meu próprio sorriso com dezoito anos de idade, cercada de dois caras incrivelmente bonitos. Eu me lembrava exatamente de quando ela foi tirada, em uma festa bem depois de uma vitória de jogo do time da cidade. Minha vida parecia como um conto de fadas naquela época: um patinho feio de uma cidade pequena vai para a universidade de uma grande cidade e atrai o interesse de um dos deuses do futebol. Ele era um rei naquele mundo, ele e o seu irmão, ambos jogadores de um time campeão de futebol americano. Ele poderia ter qualquer outra garota que ele quisesse e eu estava admirada. No começo, pelo menos. Devido aos meus sucessos acadêmicos anteriores, eu tinha apenas dezesseis anos quando eu entrei na faculdade. Depois de dois anos de estudos constantes, eu finalmente tireia cabeça dos meus livros e me perguntei o que eu estava perdendo. No começo de um novo semestre, eu me permiti ser arrastada para a minha primeira festa de faculdade onde eu me mantive nos bastidores e tomei um gole de uma cerveja quente até que uma coisa inesperada aconteceu. — Sai do canto, ratinha. Você está comigo agora. Ele era gostoso, engraçado e excitante. Eu nunca tinha tido um namorado de verdade e lá estava eu, dezoito anos e aclamada pelo ouro dourado dos esportes, que tinha vinte e um anos. Ele e seu irmão tinham apenas um ano de diferença, igualmente lindos e talentosos. Eles eram a realeza. Em todos os lugares que nós íamos, as outras garotas me examinavam com uma inveja levemente disfarçada, questionando que raios eu tinha que elas não tinham. E eu adorava isso. Pior, eu achei que eu o amava. Eu achei isso mesmo quando ele insistiu em mudar o jeito como eu me vestia, como eu falava. Eu achei isso mesmo quando ele insistiu que eu tinha que passar menos tempo nos meus estudos e riu quando eu fiquei desesperada com as minhas notas caindo. Eu achei tanto isso mesmo quando eu soube que ele não era fiel. No ano em que ficamos juntos, ele nunca foi fiel e, quando eu supus o contrário, eu só brinquei comigo mesma. O que eu fiz em seguida foi tipo uma vingança. Isso não me ocorreu naquela época. Eu pensei que estava ajudando uma amiga. Mas depois eu me questionei se tinha ali uma motivação mais feia por trás da superfície. — Kathleen? — Minha mãe estava parada na cozinha agora e ela estava com uma expressão rara de preocupação no rosto. — Não é uma foto do... — Vovó! — Emma tinha sido atraída para longe dos seus desenhos pelo som da voz da sua avó e entrou correndo na cozinha, colidindo com as pernas da minha mãe. — Oi, meu doce de menina. — Minha mãe alisou seu cabelo e estendeu um pequeno saco de papel. — Olha o que sua avó trouxe para o seu café da manhã. — Um bolinho de chocolate! — Emma gritou quando olhou para o saco. Normalmente eu teria ficado irritada, mas minha cabeça ainda estava girando. Eu enrolei o pedaço de papel no meu punho. — Ems, — Eu disse, surpresa que minha voz parecia tão calma. — aqui tem um prato. Você pode comer lá na sala de estar e assistir desenhos com a Roxie. Emma não questionou que estranha mudança de acontecimentos me levou a encorajá-la a comer na frente da televisão. Ela saiu correndo para a sala. Minha mãe estava encarando Colin enquanto ele chutava as suas pernas na cadeira alta e brincava com um mordedor. — A cada dia ele parece mais com a mãe. — Ela disse, de um jeito triste. — Eu sei. — Eu disse, afundando na cadeira mais próxima. A foto ainda estava amassada na minha mão, mas a imagem estava gravada na minha mente. Ela retratava um momento em que tudo parecia perfeito, antes de eu saber da traição e isso me atingir, antes de um dos irmãos do meu lado cair em um espiral profundo que não poderia ser parado, antes de eu cometer um erro descuidado que alteraria minha vida irrevogavelmente e que me deu a melhor coisa que poderia acontecer comigo. Emma riu no cômodo ao lado. E eu tinha consciência de que minha mãe estava falando, falando alguma coisa que ela queria que eu prestasse atenção, mas eu estava com dificuldade de me concentrar nas suas palavras. — Kathleen Margaret, — Ela disse com certa perspicácia. — você ao menos se importa com o que eu estou te contando? — Mãe. — Eu levantei. — Eu não estou me sentindo muito bem. Eu vou te ligar depois, ok? — Você está me expulsando? — Ela bufou. — Não. Mas eu estou distraída, então temo que eu não esteja sendo uma companhia satisfatória para uma conversa agora. Ela exalou com infelicidade. — Quando você vai começar a conversar como todo mundo? Essa era uma reclamação velha, uma que minha mãe tem usado desde que eu tinha seis anos e a informei sobre ela precisar “parar de projetar suas próprias inseguranças nos outros”. Então eu repeti a mesma resposta que eu tenho dado a ela há anos. — Eu não sabia que era um crime ser esperta. — Kat, sente agora. Eu estou falando com você sobre uma coisa séria. A bola de papel pesou ainda mais na minha mão. Enquanto eu sentava, eu a joguei no chão discretamente debaixo da mesa para que minha mãe não fosse lembrada da existência disso. Eu definitivamente não poderia lidar com um interrogatório agora. Até onde minha mãe sabia, o pai de Emma era um traidor emocionalmente abusivo e Emma estava melhor com ele fora da sua vida. Isso me deu um motivo para optar por não solicitar a pensão-alimentícia. Isso também me deu uma desculpa para esconder a verdade. Meu próprio pai tinha ido embora quando eu tinha dois anos e, exceto ocasionalmente quando ele enviava um cheque aleatório, eu não ouvi muito sobre ele enquanto crescia. — Posso fazer outra xícara de café já que nós vamos entrar em assuntos sérios? — Eu perguntei. — Kat, eu não ligo. Beba todo café da cidade se isso fizer você prestar atenção por cinco minutos. Eu suspirei e fui para o canto perto da pia para repor minha caneca da Felicidade de Hawk Valley. Minha mãe me atacou assim que eu sentei. — Então, você não quer saber os detalhes? Emma apareceu com o rosto cheio de cobertura de chocolate do bolinho, pegou sua xícara de plástica favorita e aceitou um beijo da sua vó na bochecha antes de voltar para a sala. Esperei até que ela estivesse fora de alcance para perguntar. — Que detalhes? — Sobre o registro dele. Eu estreitei os olhos. — De quem? — Nash. Abruptamente Colin estava nervoso para sentar na sua cadeira alta. Ou talvez ele não gostasse de ouvir fofoca sobre seu irmão. Ele deixou sair um gemido. — Do que você está falando? — Eu perguntei, não realmente querendo saber. Colin me recompensou com um sorriso babado enquanto eu afastava a bandeja, abria o cinto de segurança e o levantava. — Uma acusação de agressão na faculdade e outra ano passado. Na primeira vez, a denúncia foi retirada, mas, na segunda vez, ele recebeu uma sei lá do que chamam quando você tem uma advertência e não precisa ir para a prisão. Eu franzi a testa. — Condicional? Ela encolheu os ombros. — Acho que sim. Nash se meteu em um monte de enrascadas no ensino médio. Eu me lembrava claramente disso. Sempre havia rumores que ele estava à beira da expulsão ainda que, de alguma forma, ele arrumasse um jeito para sair fora sem consequências duradouras. Eu só presumia que ele havia deixado no passado a sua tendência a atacar. Sem dúvidas eu nunca tinha testemunhado aquele tipo de agressão vindo dele. — Eu bati em alguém. Não, o que quer que tenha acontecido naquele tumulto não contava de verdade. Travis Hanson tinha uma necessidade perpétua de receber uma boa surra e eu estava certa de que ele tinha merecido qualquer que tivesse sido a reação de Nash. E também tinha a questão dos dedos, o jeito como eles pareciam machucados e cortados na noite em que ele veio para cidade e ele me deu alguma desculpa nada a ver sobre machucá-los durante uma troca de pneu. Ainda assim, Nash nunca tinha mencionado qualquer problema legal lá em Oregon. Por outro lado, havia um monte de coisas que eu não tinha mencionado a ele, portanto isso era totalmente possível. Ele não teria nenhuma razão para mencionar seus pequenos problemas com a lei. Eu nunca perguntei. — Como você conseguiu essa informação? — Eu quis saber. Ela parecia presunçosa. — Retta da igreja tem um filho que é detetive particular em Phoenix. O nome dele é Freddie e ele pode descobrir qualquer coisa sobre qualquer pessoa. A ideia era preocupante. Meu novo objetivo na vida era nunca me tornar um dos projetos de Freddie. — De qualquer forma, por que você estava investigando Nash? — Eu perguntei, sacudindo Colin no meu colo enquanto ele mastigava um mordedor. Ela me lançou um olhar astuto. — Sou sua mãe, Kathleen. Você realmente acha que eu não sei o que está acontecendo aqui? — Você pode esclarecer para mim então? Sua boca se franziu. — Você está envolvida com ele. Você foi instigada a cuidar de tudo. Do negócio dele, da casa dele e até daquele bebê. Eu não queriagritar. Emma ouviria. Eu mantive minha voz baixa mas insistente. — Colin é filho da Heather. Ele tem nossa carne e sangue, ele é seu sobrinho-neto. Ele não é só “aquele bebê”, então não se refira a ele dessa forma. Ela cedeu e desviou o olhar. — Não, claro que não. Você sabe que eu me importo com o que acontece com Colin. É por isso que eu estou tão preocupada em entregá-lo a um homem como Nash Ryan. — Essa era uma escolha de Heather e Chris. — Eu disse, categoricamente. — Foi o que eles decidiram. — Mas... — Sabe, — Eu disse. — você pode aparecer mais para ajudar em vez de desenterrar sujeira nos bastidores. Se você fizesse isso, veria que Nash cuida muito bem de Colin. O que é ainda mais essencial é que ele ama Colin com todo seu coração. Uma sobrancelha arqueou. — Eu percebi que você não negou que está se relacionando com ele. Minha voz era fria. — O que você quer ouvir, mãe? Você quer me ouvir admitir que a gente faz sexo bombástico? Ok, eu admito. Ela se avermelhou de constrangimento. — Não seja vulgar, Kathleen. — Então não se meta em assuntos sobre os quais você não quer conversar. Ela inclinou a cabeça e pareceu um pouco ferida. — Só estou me metendo porque eu me importo. Eu me importo com você, com Emma e com Colin também. Emma voltou com Roxie ao lado. A cachorra recorreu à minha mãe com o rabo abanando, porém minha mãe a ignorou, então ela virou para mim para receber um tapinha na cabeça. — Vocês estão brigando? — Emma perguntou. — Não, querida. — Eu disse. — Por que você acha isso? — Você parece brava. — Eu não estou brava. — Ninguém está brava. — Minha mãe insistiu e segurou a cabeça dela. — Agora venha dar um beijo na vovó antes que eu vá embora. Emma ainda tinha chocolate no rosto e ela acabou manchando a bochecha da minha mãe. Minha mãe soprou um beijo para Colin antes de sair. Para mim, ela tinha apenas algumas severas palavras de aviso. — Lembre-se do que eu te contei, Kat. Eu virei minha cabeça e fingi olhar para alguma coisa fascinante fora da janela até que ela fosse. — Eu e Roxie estamos entediadas. — Emma anunciou. Eu peguei um guardanapo e limpei o chocolate do seu rosto. Ela resistiu, enrugando seu nariz e balançando a cabeça. — A gente pode ir para o quintal? — Ela perguntou. Eu sacudi a cabeça. — Não, querida, só vamos brincar dentro de casa hoje. — Por que? — Está quente lá fora. Isso não era uma mentira. Mas também não era uma verdade completa. Alguém tinha ficado me observando, provavelmente me seguindo, até me encontrar aqui na casa do Nash. Eu sabia quem era, a mesma pessoa que ligou e mandou e-mail pelo menos uma dúzia de vezes esse verão. Eu tinha deletado cada mensagem e e- mail, às vezes antes de ouvir ou ler. Ele não tinha nenhum lugar na minha vida, nenhum lugar na vida da Emma. No entanto, as coisas tinham se intensificado e eu precisava de alguém para confiar. Talvez Steve Brown. Alguém que pudesse me dizer objetivamente quais opções legais eu tinha caso fosse minha vez de ser confrontada pelas minhas próprias mentiras. — O que a gente deveria fazer em casa durante o dia inteiro? — Emma fez biquinho. Eu levantei e puxei Colin para meu quadril. — Quando eu era uma menininha, eu costumava construir fortalezas. Nós podemos fazer isso. — O que é uma fortaleza? — É como um pequeno clube e nós vamos construir um bem na sala com algumas cadeiras e cobertores. Emma estava intrigada. — Você pode me mostrar? Eu sorri. — Claro. Vinte minutos depois, todos nós estávamos relaxando na fortaleza improvisada na sala de estar. Emma e eu estávamos deitadas de costas e encarando o cobertor amarelo que serviu de telhado enquanto Colin gostava de ficar de barriga para baixo entre nós duas. Roxie sentou protegendo a entrada, nossa vigilante fiel. — Eu gosto de estar aqui. — Emma sussurrou. — Eu também. — Eu sussurrei de volta. Meu celular tocou. Eu tenho deixado ele por perto, apenas no caso de eu precisar ligar 190 às pressas, embora eu tenha muita certeza de que Roxie ficaria furiosa se alguém tentasse mesmo entrar na casa. Eu senti uma corrente de alívio quando eu vi que a ligação era de Nash. — Como está sendo fazer a viagem dirigindo? — Longa. Maçante. Como está o meu garoto? Eu olhei para o Colin. — Ele está bem. Está tentando se levantar. — Diga a ele que estou com saudades. — Vou dizer. Houve uma longa pausa. — Também estou com saudades de você, Kat. Meus olhos se fecharam e um breve segundo de alegria me inundou. Era exatamente isso que eu queria ouvir dele. Alguma dica de que havia mais para nós do que um acordo prático. Meu coração queria que eu respondesse, queria que eu dissesse para ele o quanto eu sentia falta dele também. Eu queria tanto sentir seus braços ao meu redor, ouvir o conforto da batida do seu coração enquanto eu descansava minha bochecha no seu peito depois de termos aproveitado o corpo um do outro. Meus olhos abriram. Eu não podia dizer isso. Não agora. Dizê-lo me deixaria exposta a um possível nível de dor que eu seria capaz de suportar. Porque Nash não sabia nada da história mais importante que eu tinha para contar e de como eu estava escondendo isso por tanto isso, mentindo por tanto tempo. Eu não tinha certeza de como fazer alguma coisa de um jeito diferente. Ele não entenderia. Nash tinha pouca paciência ou perdão para qualquer tipo de falsidade. Nash assumiu que eu era honesta e honrável porque eu nunca dei a ele nenhum motivo para acreditar no contrário. Não, com certeza ele não entenderia. Eu estava sozinha nessa. — Acho que eu te vejo mais tarde essa noite. — Eu disse. Eu pensei ter ouvido um suspiro de irritação do outro lado. — Acho que sim. — Dirija com segurança. — Tchau, Kat. Emma se endireitou na pequena estrutura que nós inventamos e me encarou. — Mamãe, você está chorando? Eu esfreguei meus olhos. — Não, Ems. Não tem motivo nenhum para a mamãe chorar. 1 9 A C A P Í T U L O D E Z O I T O Nash viagem foi monótona, os quilômetros e paisagens fundindo- se um no outro. Eu tenho dirigido por mais horas do que eu me importava em pensar e agora eu estava em algum lugar em Nevada, em um segmento amarronzado e seco do estado. O cenário me lembrava Phoenix, o lugar onde eu nasci e para onde não voltei durante uma década. Uma saída para parada de descanso acenou e minha bexiga exigiu um alívio, então eu saí da estrada e em direção a um edifício que tinha banheiros e máquinas automáticas. Um caminhoneiro que tinha acabado de usar as instalações me cumprimentou com um rápido aceno de cabeça. Eu fiz o que precisava fazer, tentei pegar um refrigerante na máquina automática que estava quebrada, depois parei para tomá-lo na paisagem árida. A viagem longa estava brincando de caos com os meus pensamentos. Quando eu não estava remoendo memórias ruins, eu estava incomodado com minha ligação com a Kat mais cedo. Tinha um sinal na sua voz, como se tivesse alguma coisa errada. Ela parecia triste, distraída. Eu a conhecia bem o bastante para detectar a diferença. Geralmente Kat estava cheia de palavras e questões, mas, dessa vez, ela ficou quieta, não respondeu nem quando eu disse que sentia sua falta. Eu não tinha dito isso com a intenção de pressioná-la. Eu disse isso porque ela tem ficado tanto na minha mente, quase tanto quanto Colin, e eu achei que ela ficaria feliz de ouvir. Talvez eu estivesse errado. Talvez ela quisesse me manter distante depois de tudo. Eu terminei minha pausa e subi de volta à caminhonete. O sol estava começando a se abaixar no céu. Eu tinha começado essa jornada há catorze horas e essa seria a última parte da viagem. Eu estava fazendo um tempo excelente e esperava estar de volta a Hawk Valley antes das onze da noite. Um bocejo lutou para sair. Não foi uma das minhas ideias mais inteligentes encarar essa viagem exaustiva com três horas de sono. A última vez que eu fiz o percurso, eu não tinha dormido, mas porque eu estava correndo em choque e adrenalina. Agora eu só estava cansado e querendo ir para casa. Casa. É engraçado como eu tinha resistido pensar em Hawk Valleycomo casa durante os anos em que vivi lá. Pensava em Hawk Valley como a cidade do meu pai, a casa do meu pai. Eu convenci a mim mesmo que eu não pertencia a aquele lugar excêntrico que parecia parado no tempo nas encostas das montanhas. Eu pertencia a ele agora. Eu só queria voltar para lá e dar um beijo de boa noite no Colin. Eu queria segurar Kat e tentar descobrir onde sua cabeça estava. Eu sabia onde a minha estava. De alguma forma, essa viagem tinha deixado isso claro. Não havia nada de casual no que nós tínhamos, não para mim. Eu não queria que ela fosse minha amiga e parceira de foda. Eu queria que ela fosse minha. Assim que peguei novamente à estrada, meus pensamentos se desviaram a uma direção menos agradável. Durante essa viagem, eu pensei muito em assuntos amargos. As coisas que aconteceram entre meu pai e eu. E Heather. A conclusão confusa que tomou uma tragédia grega de qualidade. Mas isso não acabou com Heather correndo para fora da casa e minhas palavras brutas para o meu pai. Depois daquela noite, ele estava tão arrependido que era quase comovente. Ele comprou todas as minhas comidas favoritas, ficou em casa todas as noites na esperança de que eu dissesse mais do que duas frases para ele, abriu sua carteira para comprar mais porcarias do que eu realmente precisava para trazer para a faculdade. A trégua entre nós era tensa, mas pelo menos ela existia. Ele me abraçou no dia que eu fui para a faculdade e o deixei. Heather tinha se demitido do trabalho. Eu não a via por perto e também não me importava. Nós não costumávamos ser tão invisíveis quanto pensávamos ao dar uns amassos na manta no parque, porque alguém tinha visto. Os rumores chegaram em mim e eu me recusei a confirmar ou negar. Na verdade, eu me recusei a participar de qualquer conversa que incluía o nome dela. Heather era mais do que só uma garota com quem eu tinha me metido. Ela podia acabar significando alguma coisa para mim. Ou talvez não. Talvez eu só tivesse transado com ela e a colocado de lado para perseguir alguma coisa melhor milhares de quilômetros de distância. De qualquer maneira, minha memória mais significativa dela agora era que ela parecia uma mentirosa pelada na cama do meu pai. Eu não podia perdoá-la por colocar isso na minha cabeça. Ela me deixou algumas mensagens de voz com vários tipos de “blá blá blá nunca quis te magoar” até que eu bloqueasse seu número. No dia da formatura, eu pensei ter pego um vislumbre do seu cabelo loiro no meio da multidão mas, quando eu olhei de novo, ela tinha ido embora. Quando eu estava em Oregon, eu não pensei muito nela. Eu tinha muitas coisas para me manter ocupado. Não faltavam garotas por perto e, às vezes, eu conhecia uma que eu meio que gostava. No entanto, eu comecei a ser cuidadoso com os sentimentos das garotas. Eu finalmente soube como dói ser descartado e eu não queria causar isso em ninguém. Eu experimentei ter alguns relacionamentos e descobri que eu não era bom nisso. Elas me acusavam de ser fechado, desapegado, indisposto a me permitir, incapaz de deixar alguém entrar. Elas disseram que eu era um filho- da-puta frio igual pedra que não tinha nada para dar. Eu não discuti. E ainda me recusei a falar sobre o fogo de fúria que queimava dentro de mim, como isso me levava a procurar violência embora eu a desprezasse. Eu nunca provocaria dor só para infernizar. Mas o sinal de alguém sendo maltratado, principalmente uma mulher, explodia em mim uma reação em cadeia que terminava nos meus punhos. Havia terapia. Havia grupos de apoio. O tribunal ordenou a administração da raiva. Mas isso foi uma perda de tempo, porque não havia mistério por trás das minhas ações. Toda explosão que tinha sido precedida na minha cabeça estava ligada ao assassinato da minha mãe. Olhando pelo lado positivo, assim que eu me mudei para Oregon, minha relação com meu pai tomou um rumo melhor. Era fácil se dar bem com uma pessoa que você dificilmente via e falava talvez duas vezes no mês. No outono do meu terceiro ano de faculdade, meu pai me perguntou se eu iria para casa para o Natal. Eu não tinha ido no ano anterior, preferindo ficar na faculdade. A verdade é que os feriados me irritavam demais, todos esses enfeites falsos e sorrisos forçados. Contudo, meu pai parecia sério e, durante o ano passado, eu só visitei Hawk Valley por um total de três dias no verão. Ele pareceu satisfeito quando eu disse que estaria lá. “— Tem uma coisa que eu quero te contar pessoalmente, Nash. Uma coisa que eu espero que esteja ok para você.” As palavras dele eram estranhas, mas eu não me debrucei sobre elas. Talvez ele estivesse jogando a toalha e fechando a loja. Até onde eu sabia, seria sobre tempo. Em qualquer caso, eu estava determinado a me entender com ele. Eu poderia fazer isso por alguns dias horríveis. — Você está fazendo o que? — Eu não conseguia acreditar no que eu acabei de ouvir. Ele estava nervoso, continuou olhando para as mãos. Mas ele encontrou meu olhar quando confirmou a notícia. — Vou me casar com Heather Molloy. Meu cérebro lutou por uma reação, mas nenhuma palavra veio, por isso Chris Ryan viu nisso um convite para continuar falando. — Ela se mudou de volta para cá seis meses atrás para cuidar da mãe dela. Nós viramos amigos. Depois, virou algo mais. Nash, isso não tem nada a ver com os erros do passado. Nós dois ainda nos sentimos péssimos sobre isso. Só que o que temos agora, as pessoas que somos agora, isso é diferente. Eu espero que você consiga entender. — Eu entendo que tem alguma coisa realmente muito errada com vocês dois. É isso que eu entendo. — Nash, por favor. — Por favor o que? — Ela se importa com você. Ela quer ser sua amiga. Eu achei isso engraçado. — Ah, Jesus, essa é boa. — Ela queria estar aqui para falar com você. Mas eu achei que isso precisava ser entre a gente. Eu andei pela sala de estar, enojado. — De todas as mulheres por aí, é essa que você escolhe. Ele insistiu, lembrando do seu motivo. — Eu a amo. — Que se foda. Você não ama ninguém. Ele pareceu magoado. — Isso não é verdade. Eu amo você. Eu amo você desde o dia que você nasceu. Eu parei o passo. — É claro que você escolheu um momento especial para dizer isso pela primeira vez. — Achei que você soubesse. — Ele passou a mão no cabelo. Ele tinha feito seu quadragésimo aniversário esse ano, mas seu cabelo ainda era preto e espesso, como o meu. — Eu nunca fui bom em dizer isso. Eu deveria ter sido melhor em fazer você se sentir amado. Eu deveria ser mais como a sua mãe. Eu me virei para ele, praticamente rosnando. — Não ouse falar sobre ela, porra! — Nós deveríamos ter falado mais sobre ela. Foi um erro meu. — Você sempre odiou minha mãe. Meu pai estava abalado. — Não, filho. Eu nunca odiei sua mãe, nunca. Sua mãe me deu muito. Ela me deu você. — É. E eu descobri que era por isso que você a odiava mais. Eu não via meu pai chorar desde a noite que ele me acordou para me contar que a pessoa que eu mais amava estava morta. Uma lágrima deslizou sobre a sua bochecha agora. — Não. — Ele repetiu, com a voz rouca. — Eu a amava por isso. Nós nunca nos demos bem, mas eu sempre a amei pela simples razão de que você era parte dela. Eu não queria que ele dissesse aquelas coisas. Não quando eu estava inclinado a ficar furioso. — Você tem que parar, Nash. — Ele disse. — Você tem que parar de culpar a si mesmo, por se sentir culpado em relação a uma coisa que você nunca poderia ter impedido. Você precisa parar o jeito como você ofende, achando que você pode consertar todas as coisas erradas no mundo. Você não foi feito para violência e isso toma uma parte de você toda vez. Isso vai te destruir se você deixar e, meu filho, meu lindo filho, você é muito melhor do que finge ser. Um dia você vai acordar e entender isso. Eu não queria ouvir. — Palavras estranhas de um homem que se esforçou tanto para me colocar para baixo. Ele se encolheu. — Eu nem sempre fui o melhor pai. Eu disse e fiz coisas que eu não deveria. Eu mereci isso completamente. Mas estou te pedindo que me perdoe. Eu peguei amochila que tinha deixado na porta assim que entrei aqui há pouco tempo. — Eu não quero ouvir isso. Vá em frente. Case com ela. Isso não importa para mim. Acabou. — Espere! — Ele se levantou e cobriu a distância entre nós. Minha mão já estava na porta. — Eu quero que você fique. — Ele engasgou. — Eu quero tanto que a gente recomece. Mas eu não vou te impedir de ir se você precisar. Só estou te pedindo, não, estou implorando, por favor, não corte todo o contato. Por favor, Nash. Em vez de responder seu apelo, eu bati a porta na cara dele. Até dois meses atrás, essa emotiva noite de Natal foi a última vez que pisei em Hawk Valley. Felizmente algumas das palavras do meu pai tinham se aprofundado. Levei alguns meses para esfriar a cabeça, mas por fim eu peguei o celular e liguei para ele. Eu não iria ao casamento ou visitaria nem o receberia para uma visita, mas eu fiz o que ele pediu. Eu mantive contato. Quando Colin nasceu, eu fiquei extremamente tentado a visitá-lo. Eu sempre esperei e desejei um irmão quando era criança e agora eu tinha um. Meu pai enviava fotos toda semana e eu me peguei olhando para elas com muita frequência, me perguntando quando eu conheceria meu irmão, o que ele acharia de mim. Eu nunca teria imaginado, nem nos meus piores momentos de medo, que isso aconteceria do jeito que aconteceu. No entanto, isso foi o acaso fodendo a natureza das coisas nessa vida. Acontecem coisas que nós possivelmente não poderíamos planejar. E o destino pode dar um golpe cruel e imprevisível, não importa o que nós pretendemos, não importa o que nós queremos, não importa quanto tempo a mais nós desejamos. 2 0 N C A P Í T U L O N O V E Kathleen ash me disse que estaria em casa antes das onze da noite. Depois de colocar as crianças na cama, eu não conseguia ficar quieta então eu embarquei em uma limpeza muito cuidadosa por todo o primeiro andar da casa antiga. Durante todo o dia, meus pensamentos tinham ficado lutando um contra o outro e eu ainda não tinha nenhum plano claro. Steve Brown era um amigo da família e um advogado competente, mas eu hesitava em envolvê-lo. Ou qualquer um. Voltar para Hawk Valley grávida, sozinha e sem uma graduação tinha causado uma onda de fofocas. Eu era Kathleen Doyle depois de tudo, a sabichona certinha que tinha saído daqui com toda intenção de criar uma reputação para si mesma. Em vez disso, eu voltei com nada além de uma história vaga sobre um relacionamento falido que não chegou perto de tocar a verdade. Emma recebeu meu último nome e eu me recusei a colocar o pai na certidão de nascimento. E não estava até eu receber uma cópia no meu e-mail quando a bebê estava com seis semanas e descobrir que minha mãe visitou uma amiga no escritório de registros judiciais de nascimento e mudou minha resposta. O nome Harisson Corbett me encarou de volta nas letras em negrito. “— Pare de gritar, Kat. Eu estou tentando proteger você e Emma. Você pode mudar de ideia algum dia e querer a pensão-alimentícia.” Ela deixou bem claro que eu não poderia ficar brava. Ela não tinha ideia de que a explicação que dei a ela estava com alguns elementos-chave em falta, o maior deles era o verdadeiro nome do pai da Emma. Limpar era terapêutico. Ficar de joelhos e lavar o chão de madeira dura à mão conseguia acalmar o tumulto na minha cabeça. Roxie pareceu ofendida quando eu a coloquei para fora do seu canto para que eu pudesse limpar ali. Ela me observou com os olhos confusos de cachorra e depois se abaixou bufando quando eu coloquei sua cama macia no chão em um lugar diferente, que já estava seco. Na cozinha, eu encontrei o pedaço de papel amassado que tinha me perturbado tanto essa manhã. Estava exatamente onde eu joguei debaixo da mesa. O dia inteiro eu evitei pegá-lo porque eu sabia que eu seria incapaz de resistir a dor de desfazer as dobras e olhar para ele novamente. As três pessoas na foto eram novas. Incrivelmente novas. Elas ainda não tinham sido tocadas por nenhuma coisa terrível e isso era visível nos seus sorrisos arrogantes. — Randall. — Eu sussurrei, tocando seu rosto e desejando que eu tivesse o poder de ultrapassar a teia do tempo e avisar a ele que ele só teria um ano para viver. O jogo do qual ele participou naquela noite foi o último antes do machucado no joelho. Depois disso, vieram as cirurgias e o vício ao medicamento para dor, o desespero e o esforço inútil para recuperar sua vida e, por fim, a overdose fatal. Eu estava quase rasgando o papel em pedaços pequenininhos para que eu não precisasse olhar mais para ele quando eu vi alguma coisa no canto direito. Um número de telefone que foi escrito com capricho. Provavelmente era o mesmo que deixaram nas mensagens de voz não ouvidas e listado no fim dos e-mails descartados. Eu peguei meu aparelho celular e disquei antes que eu tivesse uma chance de reconsiderar. Os três toques duraram uma eternidade e meu coração bateu forte o tempo todo. Ele atendeu no quarto toque. — Kathleen. Que maldita hora você me ligou de volta. Ouvir a voz dele depois de todo esse tempo imediatamente convocou um sentimento que era parecido com ser chutada bem no peito. — Só estou ligando para te mandar ficar longe de mim. — Eu disse, friamente. — Terão consequências legais se você não fizer isso. Ele suspirou. — Não posso fazer isso. Eu te disse que nós precisamos conversar. Eu me esforcei para evitar gritar. Eu não podia acordar as crianças. — Nós não precisamos conversar! Fique longe. Pare de me seguir ou eu vou fazer você ser preso. Ele riu. — Não, você não vai. — O inferno que eu não vou. — Não vamos fazer isso através do telefone, Kat. Eu estou na cidade, no Hotel Hawkian na Avenida Garner. Você não precisa me dizer onde você está. Eu já sei. Me espere aí em dez minutos. Ele terminou a ligação, me deixando parada sozinha na cozinha, perplexa e encarando o celular silencioso como se ele fosse uma cobra venenosa. Eu poderia fazer jus à minha ameaça. Eu poderia chamar a polícia, dizer que ele estava me seguindo, pedir uma medida restritiva. Mas isso se tornaria um espetáculo muito feio. Um carro parou na casa dez minutos depois. Por um momento, eu desejei que eu fosse tirada do meu tumulto interno para vestir alguma coisa mais considerável do que uma camisola longa sem short, mas já era tarde. O momento era agora. A única coisa a fazer era encarar isso de frente. Eu saí na noite de verão para evitar uma batida na porta que faria a Roxie explodir em uma enxurrada de latidos que com certeza acordaria as crianças. Mesmo sob as luzes da rua, eu podia ver que Harrison Corbett ainda estava terrivelmente bonito como na noite que ele me tirou de um canto numa festa lotada e me fez ser dele. Mas a piada estava em mim desde o início. Para ele, eu era só um pedaço de uma coleção. Harrison saiu do lado do motorista e percebeu que eu estava parada na passagem de cimento. — Oi, Kat. — Ele me cumprimentou sem problemas, como se nós fôssemos amigos em vez de inimigos. — Fique aí. — Eu avisei, branding meu celular há três metros como se fosse alguma outra coisa. Como uma espada. Ou um bastão para gado. Alguma coisa que machucaria se tocasse nele. — Se você me der qualquer motivo para ligar para a polícia, eu não vou hesitar. — Ah, por favor! — Ele zombou. — Chega dessa histeria de merda. — Eu não sei o que você quer depois de todo esse tempo. — Eu disse a ele. — Mas você não vai ter. Ele riu. — Você acha que eu faria todo esse esforço por você? — Eu não sei o que pensar. — Eu não quero você, Kathleen. Você não está entre as minhas memórias favoritas. — Igualmente, seu babaca. Ele não se importou com o insulto. Ele olhou para a casa. — De quem é esse lugar? — Não é da sua conta. — Eu sei que não é sua casa. Você tem ignorado todas as minhas ligações e e-mails, então minha única opção era aparecer aqui e resolver com você pessoalmente. Eu estava esperando por você no seu apartamento ontem, mas quando você finalmente apareceu, você não ficou lá e dirigiu para cá em vez disso. Eu me lembrei da sensação horripilanteque eu tive no caminho para cá ontem, que eu estava sendo seguida. Dei um passo para trás. — Ela está aí? — Harrison perguntou e eu fiquei fria. — Quem? — A criança. O nome dela é Emma, certo? — Não fale sobre ela. — Eu sussurrei. — Ela é minha filha. — E o que você vai contar para ela quando chegar o dia dela perguntar sobre o pai? — Cala a boca. Ele avançou. — O que você vai contar para ela, Kathleen? — Cala a boca! Ele estava bem próximo ao meu rosto agora. — O QUE VOCÊ VAI CONTAR PARA ELA? Eu o empurrei, só para afastá-lo. Ele estava muito perto. Se ele estava tentando me intimidar, ele tinha conseguido. Mas Harrison não estava esperando que eu atacasse fisicamente. Ele tentou chegar para o lado, mas perdeu o equilíbrio, agarrando meu braço, talvez no instinto, enquanto ele caía no gramado da frente. Eu caí com ele. Nós caímos na terra em uma pilha de membros e minha camisola enrolou até minha cintura, minhas pernas descobertas deslizando na grama que ainda estava molhada dos regadores automatizados. Nós só estávamos deitados ali talvez por dois segundos, mas foi tempo suficiente para um holofote avassalador materializar de algum lugar e nos congelar ali no gramado onde tínhamos caído. A princípio, eu não poderia dizer de onde a luz estava vindo. Depois a luminosidade foi removida abruptamente e eu pestanejei, vendo a forma de uma caminhonete na rua. — Kat! — Nash rugiu e pareceu que ele tinha se arremessado da caminhonete, saltou sobre a calçada e desembarcou do meu lado no tempo de uma batida de coração. Eu ainda estava muito atordoada para palavras quando ele me pegou pelos meus pés, analisando-me na luz fraca com o pânico escrito em todo o seu rosto. Quando ele estava convencido de que eu não estava sangrando e apenas em um pedaço, seu pânico se metamorfoseou em raiva. Ele se virou para o homem que agora estava parado há três metros. — Isso é ótimo mesmo. — Harrison murmurou. Nash bateu nele. Muito mais forte do que eu. Harrison fez um legítimo som de “ugh!” e tropeçou em direção à calçada. O momento teria sido cômico se não fosse tão aterrorizante. Harrison se endireitou. Uma vez um recebedor em um time universitário de futebol americano, ele ainda contava com uma força. Mas devido aos músculos que se enrolavam aos braços de Nash e o brilho assassino nos seus olhos quando ele encarou Harrison, eu apostaria meu dinheiro nele. — Quem diabos é você? — Nash rosnou. Harrison exalou de forma barulhenta. — Eu não vim aqui para esse tipo de problema. — Você não faz ideia do tipo de problema que você acabou de encontrar, filho da puta. — Nash. — Eu disse, mas ele me ignorou, mantendo-me atrás dele. Harrison riu. — Entendi. Você é o cão de guarda da Kat. — Eu perguntei quem diabos é você. — Nash! — Eu puxei a manga da sua camiseta para fazê-lo olhar para mim. — Esse é Harrison Corbett. Nós, hum, quer dizer, eu o conheci na faculdade. A compreensão apareceu no rosto de Nash. — Ele é o pai da Emma, não é? — Oh, merda. — Harrison jurou. — Você não fica tão longe das suas mentiras, não é, Kathleen? Nash estalou seus dedos. — Você cale a sua boca de merda. Harrison não seria licenciado. — Mas ela é conhecida por desaparecer da cama de um homem, então esteja avisado. — Seu filho da puta! — Eu sibilei. — Sua vadia dissimulada de duas caras. — Ele atirou de volta. Roxie latiu de dentro da casa. Era impressionante que nenhum dos vizinhos tinha escutado toda a barulheira ainda. — Cai fora daqui. — Eu disse. — Cai fora daqui, Harrison, ou eu juro que eu faço mesmo você passar a noite na cadeia. — Pessoalmente, eu preferiria fazer ele passar a noite no hospital. — Nash rosnou. Eu pensei que era um pequeno milagre que os dois não tinham saído nos socos ainda. Mas essa situação já estava pronta para explodir. Eu precisava que eles se afastassem antes de alguma coisa acontecer. — Estou falando sério. — Eu disse e apontei para o meu celular como se eu estivesse pronta para ligar 190. Harrison deixou sair um último suspiro. — Ainda não acabamos. — Ele alertou, depois virou para seu carro esportivo estúpido e saiu. Nash esperou em uma pose tensa até que os faróis de Harrison virassem a esquina antes de se esticar para mim. — Você está bem? — Estou bem. — Que merda foi essa que aconteceu? — Nós estávamos tendo uma briga. — E ele decidiu te derrubar? — Não. Isso foi um acidente. Nash parou, colocou as mãos nos quadris e me estudou com uma expressão que eu não conseguia ler no escuro. — Que merda ele estava fazendo aqui? Quer dizer, você não o vê há anos, certo? — Não, eu não o vejo há anos. Só que ele tem tentado falar comigo há semanas e mais semanas. Ligando, enviando e-mail... Eu o ignorei, então ele decidiu vir para a cidade e me confrontar pessoalmente. — Por que ele queria ver Emma? — Eu duvido disso. — Então, ele queria ver você? — Não, também não acho que seja isso. — Como você sabe? — Porque ele me odeia. — Por que? Eu abaixei minha cabeça. — Eu transei com o irmão dele. — O que? Eu levantei a cabeça e disse numa voz clara. — Eu transei com o irmão dele. Randall, o nome dele. É por isso que Harrison me odeia. Nash não disse nada. Ele só me encarou. Eu ri de repente, consciente de que eu soava como uma maníaca. — Mas isso não é o fim da história. Eu fiquei grávida de Randall. E depois ele morreu. Ele estava lutando contra um vício em medicamentos para dor, tentando ficar limpo. Eu achei que podia ajudá-lo. Mas ninguém poderia ajudá-lo e uma noite ele engoliu tantas pílulas que ele morreu! Eu tive que parar porque eu não consegui respirar direito. Tinha uma dor no meu interior, a memória de um luto angustiante que eu nunca lidei bem. E eu não estava rindo mais. Agora lágrimas rolavam pelas minhas bochechas. — Eu não sabia o que fazer, para onde ir. Então eu esqueci todos os planos que eu tinha feito e voltei para cá porque eu só tinha uma coisa que importava. Emma. Eu nunca contei a verdade para ninguém. Até mesmo a certidão de nascimento da Emma é uma mentira. Eu não sou o que você pensou que eu fosse, Nash. E eu sei que você me acha repugnante agora, que eu sou essa vadia mentirosa e você está certo. — Eu me afundei na grama, ofegante entre soluços. — Você está certo. — Kat. Eu ouvi sua voz mas eu não consegui responder. Eu estava perdida no colapso do meu escudo cuidadosamente construído. Eu estava quebrada. Eu não poderia ser consertada essa noite. — Kathleen. Ele estava bem ali no chão comigo e eu não resisti nem um pouco quando senti seus braços me atraíram para a quentura sólida do seu peito. Eu fiquei ali até eu parar de ofegar entre soluços agonizantes. 2 1 F C A P Í T U L O V I N T E Kathleen icar de bobeira no gramado da frente a noite inteira não era uma opção. Depois de uns dez minutos desmoronando por toda a camiseta do Nash enquanto a grama molhada encharcava minha calcinha, ele me pediu para levantar. — Vamos para dentro. Ele agiu como se estivesse preparado para me carregar, mas eu já estava envergonhada o bastante, então eu me levantei e caminhei pelo gramado da frente enquanto minha camisola molhada grudava nas minhas coxas. Eu abri a porta da frente para encontrar uma cadela da raça pastor-alemão muito perplexa esperando, mas sua confusão foi interrompida para abanar o rabo de alegria quando Nash apareceu atrás de mim e estendeu uma mão em cumprimento. Eu parei na base das escadas. — Eu não ouço as crianças. Elas devem estar dormindo, apesar de tudo. Nash terminou de acariciar a Roxie e me olhou enquanto eu desejava ardentemente ter habilidade de ler mentes. — Vou lá conferir. — Ele disse e assentiu para o meu pijama molhado e manchado de lama. — Por que você não tira um minuto para se limpar? Sua voz não soou fria ou irritada, se bem que a grande Revelação no Gramado da Frente devia tê-lo chocado pelo menos um pouco. Isso ainda me assustava e eu fui a pessoa que revelou. Eu peguei seu conselho e procurei uma muda de roupas enquanto Nash deu uma olhada na Emma e depois visitou o quarto do Colin. O monitor de bebê estavaao lado da cama no quarto de Nash, então eu pude ouvi-lo lá ao mesmo tempo que eu tirava uma regata e um short frouxo da minha mala. — Como está meu garotinho favorito? — Nash disse suavemente. — Senti sua falta, bebê. — Alguns segundos depois, eu ouvi a música do berço móvel e, em seguida, os passos do Nash vindo nessa direção. Ele apareceu na entrada da porta, cruzou seus braços e se apoiou no batente. Ele parecia cansado. E muito bom, embora esse não fosse o bom momento para eu perceber isso. Ele não deve ter feito a barba desde que saiu na outra noite. A barba escura por todo seu queixo o denunciava. — Você sabe quantas noites eu fiquei acordado nesse quarto desejando estar em qualquer outro lugar? — Ele perguntou. Eu sentei na ponta da cama. — Não. — Muitas. E agora eu não consigo me lembrar do porquê. É um bom quarto. Uma boa casa. Uma boa cidade. — Nash esfregou os olhos. — Você quer esperar até amanhã para conversar sobre isso? — Não. Nash me encarou. Eu me perguntei o que ele via agora, se era completamente diferente do que ele viu na última vez que estivemos juntos. Eu levantei. — Eu posso ir dormir no sofá. — Kat. — Ou eu posso acordar Emma e ir para casa. — Pare. — Ele entrou no quarto e fechou a porta. Depois ele virou de costas e passou a camiseta pela cabeça antes de abaixar seu short. Nós estávamos no meio de uma coisa séria, mas eu não pude evitar ficar excitada. Nash colocou as cobertas da cama para baixo, se assentou e deu um tapinha no lençol. — Vem cá. Ele enrolou seu braço ao meu redor imediatamente e eu me aconcheguei próxima a ele. Ele cheirava a sabão e sol e eu suspirei, descansando minha bochecha no seu peito. — Desculpa. — Eu disse, minha voz falhando. — Eu não te contei a história toda porque eu não contei para ninguém. Meu relacionamento com Harrison nunca foi bom. Ele era infiel e controlador e, na época que terminamos, eu o detestei. Mas Randal... Minha voz se perdeu enquanto eu pensava na metade amável dos irmãos Corbett. Randall era um ano mais velho e não tem a marca arrogante do charme do Harrison. Ele era mais quieto, mais sério. Todo mundo achava que ele tinha uma das melhores chances do time de virar profissional. Em seguida, o machucado no joelho depois de um ataque forte o colocou nos bastidores e uma série de cirurgias o deixou incapaz de abandonar o hábito de analgésicos. Eu não tinha nenhum sentimento romântico pelo Randall até então. Meu foco e minha paixão estavam completamente concentradas em Harrison. Mas Randall e eu éramos amigos. Eu me preocupava com ele. Eu estimulei seu irmão a se preocupar com ele, mas Harrison só deixou de lado minhas preocupações com comentários sarcásticos. Quando Harrison e eu terminamos, foi feio. Complicado. Devastador. Estupidamente, eu tinha feito dele o meu mundo sem perguntar para mim mesma se ele merecia essa honra. Minha carreira acadêmica promissora de antes tinha sido seriamente prejudicada. Meu orgulho estava em pedaços. Eu fui até o cara que sempre foi meu amigo e vi de longe que ele estava na pior forma que eu poderia imaginar. Eu queria que ele buscasse ajuda. Eu queria confortá-lo. Eu o segurei e ofereci a ele o meu corpo porque nós precisávamos um do outro, porque eu pensei que isso daria a ele um motivo para ele se desintoxicar, porque eu, de um jeito egoísta, queria sentir alguma coisa que fosse um pouquinho real. E foi bem real. Eu realmente fiz sexo com o irmão do meu ex-namorado. Eu realmente fiquei grávida. Eu realmente acordei numa manhã horrível com a notícia de que Randall Corbett estava morto por causa de uma overdose. E eu realmente corri de volta para Hawk Valley com o rabo entre as pernas para me esconder das consequências. Eu ouvi eu mesma contar isso tudo para Nash. Ele não disse nada. Eu fiquei grata por isso. Tudo que eu realmente precisava era sentir seus braços em volta de mim enquanto eu derramava as palavras que tinham ficado apodrecendo dentro de mim por muito tempo. Ele continuou em silêncio quando eu cheguei ao final. Eu não tinha ideia do que aconteceria em seguida. Se ele quisesse me dizer que estava desapontado, que ele nunca poderia desculpar o tipo de decepção que eu sou capaz de causar, então eu teria que encontrar uma forma de viver com isso. Eu teria que encontrar uma forma de viver sem ele. — Eu não consigo imaginar o que você acha de mim. — Eu disse, sentindo as palavras presas na minha garganta. — Desculpa por não ser o tipo de pessoa que você pensou que eu fosse. Ele meditou sobre isso e depois suspirou. — Me dá algum crédito. Eu não estou te julgando, Kat, se é disso que você tem medo. Tem coisas que acontecem na vida que são complicadas e inesperadas. Se tem alguém que sabe disso, sou eu. Eu tracei os músculos do seu peito. — Sua vida em Oregon era complicada? Ele estava intrigado com a pergunta. — Na verdade, não. Eu morava sozinho ao lado do oceano com a minha cachorra. Por que a pergunta? Percebi que eu deveria contar para ele que alguém estava bisbilhotando seu passado. — Minha mãe conhece algum amigo de uma amiga que é detetive particular. — E? — Ele incentivou. — O cara estava pesquisando sobre você. Descobriu que você estava sob condicional por acusações de agressão. Nash concordou. — Entendi. — Eu não estava te espiando. — Eu sei. — Minha mãe só estava preocupada. E eu nem traria isso à tona, mas eu não quero que exista nenhum segredo entre nós. — E não terá. — Ele pegou minha mão e beijou a palma. — Eu costumava pensar em mim mesmo como algum tipo de justiceiro com estilo próprio, fazendo justiça em pequena escala, agindo para proteger o inocente de alguma violência ainda maior. Eu sorri. — Você parece tipo um super-herói. Ele bufou. — Nada perto disso. Não acontece nada de bom procurando violência, de enterrar sua própria agonia até tirar sangue. Meu pai sabia disso. Ele me entendia melhor do que eu pensava. Ele me disse que eu não fui feito pra viver desse jeito, que isso tiraria um pedaço de mim toda vez. Demorei um longo tempo para entender que ele sabia do que estava falando. — E agora? — Eu perguntei. — Agora eu vou encontrar um jeito melhor de combater Travis Hansons sem recorrer aos meus punhos. Por mim e, especialmente, por Colin. — Nash. — Eu disse gentilmente e ele olhou para mim. — Seus pais ficariam muito orgulhosos de você. Eles dois. Ele sorriu e eu vi o quanto as palavras significaram para ele. No final, nós sempre queremos deixar nossos pais orgulhosos, mesmo que nós não admitamos isso. — E sobre esse Harrison idiota? — Ele perguntou. — Ele deve saber que não é o pai da Emma. — Sim, ele sabe. — Eu estremeci. — Na verdade, lembro que ele ficou de um jeito bem raivoso comigo na última vez que eu o vi. Nash ficou tenso. — É melhor ele não aparecer de novo. Eu suspirei. Não fazia ideia do que Harrison faria em seguida, mas não podia ser bom. — Eu vou conversar com Steve Brown amanhã. Ele deve ter alguma ideia sobre o que fazer. Nash se recusou a mudar de assunto. — Ele está te seguindo, certo? Ele está tramando alguma coisa. Eu acho que você e Emma deveriam ficar aqui até ter resolvido com ele. — Nash, eu não quero exagerar. — Eu vou exagerar por nós dois então. — Ele estava fazendo cara feia e eu podia dizer que ele não toleraria uma discussão. — Você vai ficar aqui. Eu não posso lidar com a ideia de você e Emma sozinhas e desprotegidas pela cidade. Eu sorri. — Se ele aparecer de novo, eu bato na cabeça dele com a minha frigideira. — Estou falando sério, Kat. — Eu também. O idiota é feito de ferro. Pode fazer algum estrago. — Deixa disso. Você vai ficar aqui. Eu cedi. — Tudo bem. Ele apertou seus braços ao meu redor e eu ouvi a batida do seu coração. Ele não tinha me dado nenhuma ideia sobre o que ele achou de toda a bagagem que eu coloquei para fora. — Você não se escondeu. — Ele finalmente disse. Eu me afastei para que pudesse ver seu rosto. — O que? Ele se esticou e empurrou uma mecha do meu cabelo longo para fora do meu rosto. Seus impressionantes olhos azuis estavam suaves. — Vocênão se escondeu, Kat. Você não foi para um lugar desconhecido onde ninguém te conhecia e fingiu ser outra pessoa. Você veio para casa. Você se dedicou à sua filha e a cercou de amor no lugar que você mais conhecia. Isso não é se esconder. Meus olhos se encheram de lágrimas. — Eu nunca descobri o que eu vou contar para ela. Ela é nova agora. Mas algum dia ela vai ter perguntas. Eu tenho medo do que ela vai pensar de mim quando ouvir a resposta. Ele se aproximou mais uma vez e beijou minha testa. — Mas você vai descobrir. Eu vejo como você é com a Emma. Você não se isenta de deixá-la saber o quanto ela é amada. Ela não vai ter nenhuma dúvida sobre isso. Eu me senti tímida quando me estiquei para tocar seus lábios. — Senti sua falta. Ele levantou uma sobrancelha. — Eu me perguntei isso. Meus dedos viajaram pela sua clavícula, correndo pela pele musculosa e dei um beijo ali. — O que mais você se perguntou? — Se você teve alguma diversão sem mim nessa cama... — Não exatamente. Ele mudou as posições abruptamente, agarrando meus quadris e deslizando meu corpo para baixo até que eu estivesse de costas na cama. — Você quer se divertir agora? — Você acabou de dirigir por vinte horas, chegou à casa com uma briga no seu gramado e depois pacientemente me ouviu chorar todo o meu passado vergonhoso por uma hora. Você não está cansado? Nash não hesitou. Ele empurrou a cueca para baixo e colocou minha mão no seu pau. — Isso parece cansado para você? — Ele exigiu. Eu acariciei o comprimento duro dele. — Não. — Então pare de falar e faça alguma coisa. Eu comecei a me remexer para me livrar da calcinha. Nash ficou impaciente e a tirou. — Sem blusa também. — Ele disse de um jeito brusco e praticamente a arrancou de mim. Eu prendi meus joelhos ao redor dele, antecipando aquela noite em que ele foi grosseiro e forte porque ele estava com pressa de chegar lá. Foi bom para mim. Eu estava pronta para aguentar. Eu me preparei para o primeiro impulso invasivo que me faria ofegar, arquear minhas costas e exigir que ele fosse mais fundo. Mas Nash parou. Eu o sentia contra a minha barriga, tão grosso e sólido, e eu me arqueava para senti-lo mais perto, dentro, conectado. — O que há de errado? — Eu perguntei porque ele estava olhando para mim com uma expressão séria que eu não estava acostumada a ver. Nash me beijou em resposta. Sua língua deslizou entre meus lábios e ele me beijou devagar e profundamente. Sua barba de dois dias arranhou minha pele e eu fechei meus olhos, perdendo-me na inebriante sensação de ser beijada do jeito que os heróis beijam nas histórias. Eu ainda estava perdida na sensação dos seus lábios quando seu corpo se mexeu e ele se empurrou para dentro, pegando o que ele queria. Eu estava feliz de dar isso a ele. Nós balançamos juntos na sincronia perfeita. Nunca foi calmo assim entre nós e eu amei isso. Eu gozei com seu corpo em cima de mim, nossas bocas ainda fechadas em uma dança calorosa. Eu acho que eu amo você, Nash Ryan. Nossa pele estava suada e nossas línguas se entrelaçavam quando Nash saiu e terminou em um jorro quente na parte de baixo da minha barriga. — Kathleen. — Ele gemeu quando, por fim, o beijo acabou e ele enterrou o rosto nos meus seios, nós dois acabados. Eu afaguei seu cabelo úmido e beijei no topo da sua cabeça. Parte de mim queria dizer as palavras que estavam passando pela minha cabeça de forma grande e em negrito. Eu não só suspeitava que isso era verdade. Eu sabia. Eu estava totalmente apaixonada por ele. Nash levantou sua cabeça, esticou a mão e desligou o abajur da mesa ao lado da cama. Ele bocejou e se deitou de costas no travesseiro. — Coisa boa que eu te trouxe de volta para a minha cama. — Ele resmungou. — Esse colchãozinho não é tão bom sozinho. Eu encontrei minha calcinha e blusa na escuridão e as coloquei de volta, apenas no caso de eu precisar pular na pressa se as crianças chorarem. Ele me beijou mais uma vez. — Durma um pouco, doce princesa. — Boa noite. — Eu disse, relutantemente rolando para o meu lado. Fechei meus olhos sem dizer a ele o que eu estava pensando. 2 2 K C A P Í T U L O V I N T E E U M Nash at pegou Colin do seu berço de manhã e me deixou dormir. Eu podia ouvi-los lá embaixo: Emma estava tagarelando sobre xícaras de chá, a risada leve de Kat, o grito alto e agudo de Colin. Todos eram sons de felicidade que afugentavam o preço emocional pesado da noite passada. Meu coração estava doendo enquanto a história de Kat saía dela. E pensar que ela tinha mantido isso reprimido por tanto tempo e que ela tinha medo de contar a alguém, medo até de contar para mim, acreditando que eu pensaria menos sobre ela ou algo assim. Ela cometeu erros e eles eram confusos. Mas ela tinha transformado em amor. Isso tinha que contar para alguma coisa. Além disso, eu era louco por ela, com passado complicado e tudo. Eu vesti um par de moletom, fiz uma parada rápida no banheiro central e me dirigi à cozinha. Emma estava sentada à mesa, descalça e com um pijama rosa, rindo enquanto Roxie lambia a superfície da chique xícara de chá que ela estava segurando. Minha cachorra foi a primeira a me notar ali. Ela soltou um latido curto e balançou o rabo, mas não estava com pressa de sair do lado da Emma. Kathleen estava encostada no canto com Colin no seu colo enquanto ela bebia em uma caneca de Felicidade de Hawk Valley. Seu cabelo estava espetado em seis direções diferentes e ela vestia uma das minhas camisetas velhas em vez de uma regata sua. Ela não estava nada menos do que tirar o fôlego. Eu poderia só ficar ali e observá-la o dia inteiro. — Parece que eu sou o último a levantar. — Eu disse. — Ei, você! — Kat abaixou sua caneca e sorriu para mim, o que foi inacreditável. Mas o momento verdadeiramente inacreditável aconteceu quando Colin guiou sua cabeça para o som da minha voz, aumentou seus olhos e tentou se lançar dos braços de Kat para chegar até mim. O sorriso banguela e babado do meu irmão tinha um quilômetro e metro de largura quando eu o peguei do colo da Kat e dei um beijo na sua bochecha gordinha. — O irmãozão está em casa agora. — Eu disse na orelha dele, me perguntando em que momento eu tinha me tornado esse filho da mãe sentimental, que eu estava à beira das lágrimas só com o peso do corpinho de uma criança nos meus braços e a visão do seu enorme sorriso bobo de bebê. — Ah, olha só vocês. — Kat se maravilhou. — Se vocês ouvirem um estouro, foi o som dos meus ovários explodindo espontaneamente. — Antes que outra coisa exploda, posso te convencer a fazer uma xícara de café para mim? Ela me deu a caneca dela. — Pegue essa. Embora eu me sinta culpada por te transformar em um demônio cafeinado. — Obrigada. — Eu aceitei e sentei à mesa de frente com a Emma. A filha da Kat me analisou com curiosidade. — Onde você estava? Colin tentou colocar sua mão dentro da minha caneca com café quando eu a abaixei até a mesa. Eu empurrei a caneca. — Eu tive que ir para Oregon. — Contei a ela. — O que é isso? — É um outro estado. — Por que? — Por que eu tive que ir até lá? — Não. Por que é um estado? — Por que Oregon é um estado? — Sim. — Eu não sei. — Mas você é alto. — É… — Eu procurei por Kathleen para obter ajuda, não muito certo de porquê minha altura significava que eu deveria ser bem informado sobre as especificidades do estado de Oregon. Kat estava rindo, com a mão em forma de concha na boca. Ao mesmo tempo, Emma estava mesmo esperando por uma resposta. — Ei, Emma. — Eu disse, mudando de assunto. — Eu queria agradecer você por cuidar tão bem da Roxie enquanto eu estava fora. Eu posso dizer que você fez um ótimo trabalho. Emma estava satisfeita. — Eu a amo muito. — Eu vejo isso. — Então eu posso ficar com ela? — Ems. — Kathleen finalmente interferiu. — Termine seu cereal, querida. Nós precisamos ir. Você tem pré-escola hoje. — Depois eu posso voltar para cá e ficar com a Roxie? — Não. Eu vou perguntar à vovó se ela pode ficar com você depois de eu te buscar na escola, porque eu preciso me encontrar com alguém importante.— Por que? — Não importa. — Então eu posso ir com você? — Não, amor, é uma reunião séria. Emma franziu o nariz. — Isso parece nojento. — Você pode trazê-la para cá. — Eu disse. — Eu já disse a Betty para não me esperar na loja hoje e eu vou descarregar a van enquanto Colin tira uma soneca. Eu não me importo em ficar de olho nela até você terminar a reunião. Ela pareceu surpresa com a oferta. — Obrigada, seria ótimo. — Ela pausou e tirou uma mecha de cabelo. — Eu vou ver Steve Brown. — Eu imaginei. — Quem é Steve Brown? — Emma perguntou. — Um advogado. — Eu disse a ela. A menininha me deu um sorriso charmoso. — Por que? Kat precisava tomar um banho rápido, então era meu trabalho convencer Emma a terminar seu café da manhã. Quando eu contei a ela que nada fazia Roxie mais feliz do que observar as pessoas comerem, ela concordou como se isso fizesse um perfeito sentido e colocou a colher com o restante do cereal na boca. Eu me senti como se esse fosse um momento triunfante. Kat ficou pronta rapidamente, convenceu Emma a vestir alguma outra roupa que não fosse de dormir e eu levei as duas até o carro, apenas no caso aquele babaca estar por perto. Quando elas tinham ido embora, eu fiz uma ligação para Kevin Reston. Eu não dei detalhes a ele, mas pedi para espalhar a notícia de que era para procurar um idiota com pescoço grosso, cabelo arrumado e um carro esportivo caríssimo. Kevin e eu ainda estávamos meio distantes, embora tivéssemos nos visto um monte de vezes desde aquela noite desagradável no Sheen’s. Às vezes ele acompanhava Jane quando ela parava para ver Colin ou visitava a loja. Mesmo que as coisas estivessem melhores entre nós dois, ele era sempre educado e ele foi educado agora, nem fez um monte de perguntas, só disse “Entendi, Nash” e deixou para lá. Colin era um dorminhoco de muita confiança e ele começou a bocejar por volta das onze. Eu o levei para cima e li uma história sobre animais felizes em uma fazenda, esperando que ele cochilasse para que eu tivesse a oportunidade de ir lá fora e fazer alguma coisa como descarregar a caminhonete que ainda estava esperando no meio-fio. Não levaria muito tempo, mas era impossível completar a tarefa cuidando de um bebê ao mesmo tempo. Assim que ele dormiu, eu o coloquei no berço, vesti uma camiseta e uns sapatos e fui para fora lidar com a caminhonete. O monitor de bebê estava no meu bolso de trás e ligado no último volume para que eu pudesse ouvir Colin caso ele acordasse. Eu peguei as caixas primeiro: roupas e livros e algumas coisas que cozinha que podem ser úteis. Eu decidi colocar tudo na sala de estar por ora porque não tinha um lugar melhor. Casas de cento e vinte anos não tinham garagens. A estrutura da cama e o colchão eram as maiores peças e eu planejava movê-las por último. Eu estava no meu caminho de volta para a caminhonete para pegar as caixas que restavam quando eu percebi que tinha companhia. Ele tinha acabado de sair do seu carro e hesitou quando me viu chegar. Eu parei, frio, e avaliei a situação. Eu podia ler o homem muito bem e ele não parecia ter a atitude de um cara que procurava uma briga. Ele até levantou a mão numa tentativa de acenar. Ainda assim, só porque ele parecia menos com o fuinha egocêntrico do que na noite passada não significava muita coisa. Eu ainda o odiava por andar por aí atrás de Kat, por assustá-la, por feri- la tanto quando ela era nova e confiante. Eu fingi que ele não estava ali e voltei para a caminhonete. Eu não ia partir para cima dele primeiro, mas se ele tentasse qualquer merda, ele se arrependeria. — Posso ajudar? — Harrison parou alguns passos atrás da camionete, olhando para mim com certa cautela, e talvez um pouco de vergonha. — Vai se foder. — Eu realmente tinha esperança de conversar com você, Nash. — Como diabos você sabe meu nome? — Eu ouvi Kat dizer ontem à noite. — Ótimo. Agora você pode se foder. Ele assentiu e colocou as mãos nos bolsos. — Você está irritado. Eu não te culpo de jeito nenhum. — Nah, é o sonho de todo cara chegar em casa e encontrar sua garota sendo agredida no gramado por algum pedaço de merda estúpido com entradas no cabelo. Ele ficou alarmado. — Não, não foi isso que aconteceu. Eu juro por Deus que eu não pretendia fazer ela cair. Eu escorreguei e eu acho que eu bati de frente com ela. Mas foi um acidente. Eu nunca machucaria a Kat intencionalmente. Esse idiota realmente estava me provocando agora. — É o que diz todo homem que já bateu numa mulher. Harrison fez uma careta. — Me dá algum crédito, ok? Eu vim aqui para pedir desculpas. O jeito como a merda aconteceu na noite passada era a última coisa que eu queria. — Então por que inferno você está pedindo desculpa para mim em vez de para ela? — Por que eu acho que eu já assustei bastante a Kathleen. E essa nunca foi minha intenção. Eu pensei que fosse melhor me aproximar de você, talvez você consiga ver que, apesar do meu mau comportamento, eu não sou o cara que pareci ser ontem. Eu também pensei que talvez você poderia dizer a ela que eu só quero conversar. — Eu tenho uma ideia melhor. Você rasteja de volta para o seu carro compensador ao seu pauzinho minúsculo e cai fora daqui. Ele me fez um sorriso triste. — Não posso fazer isso. — Não pode, é? — Eu pulei para fora da caminhonete para que eu pudesse olhar no seu olho. — De qualquer forma, o que você quer dela? — Nada. Mas a criança… — Não é sua. — Eu sei. — Ele respirou fundo. — Eu sei que ela não é minha. Mas ela é minha sobrinha. Eu sei que Kathleen queria nunca me ver de novo e, mesmo que ultimamente eu tenha pensado que eu gostaria de estar lá pela menina, eu teria deixado as duas em paz se não fosse pela minha mãe. Eu cruzei meus braços, esperando que ele continuasse. O rosto de Harrison se contorceu e ele pareceu inacreditavelmente triste. — Minha mãe está morrendo. Câncer colorretal. Está por todo lugar agora e nós acabamos de descobrir que ela não tem muito tempo. Eu não desejaria uma mãe morrendo para ninguém, nem mesmo para um idiota total. — Sinto muito por ouvir isso. — A coisa é que ela nunca soube sobre Randall e Kathleen. Ela não sabia sobre a bebê. E recentemente, eu finalmente contei a ela que ela tem uma neta que ela nunca conheceu. Depois que Randall morreu… — A voz do homem falhou e ele pareceu distante, incapaz de continuar por um momento. Por fim, ele esfregou os olhos e se compôs. — Minha mãe ficou inconsolável. Francamente, eu também. Randall tinha sido meu melhor amigo a minha vida toda e depois ele se foi no momento mais horrível. O pior de tudo é que as pessoas me avisaram que ele tinha um grande problema. Kat me alertou. Eu só não dei ouvidos. Foi uma época sombria e eu achei que nós estávamos melhor sem nenhuma lembrança do meu irmão por perto. A criança teria sido uma lembrança. — Emma. — Eu disse bruscamente. — O nome dela é Emma. — Sim, eu sei que o nome dela é Emma. — Ele disse e eu vi seu rosto se tornar melancólico. — Como ela é? — Esperta e linda. Como a mãe. Ele sorriu. — Fico contente em ouvir isso. — Seu sorriso se foi. — Minha mãe quer tanto ver a Emma. É por isso que procurei Kat. E como eu disse, ela não tem muito tempo para viver. E é por isso que eu tenho sido tão louco. Eu encostei na caminhonete, minha mente tentando processar tudo. Eu estava todo decidido a desprezar esse cara, mas eu me vi vagamente comovido por ele. — Eu não vou ficar do seu lado. — Eu disse. — Mas eu posso contar a Kat o que você disse. É decisão dela a partir daí. E não importa o desfecho, eu espero não descobrir que você está fazendo qualquer coisa para entristecê-la. Ele concordou avidamente. — De novo, eu sinto muito. Eu fiquei ansioso porque Kat não respondeu minhas ligações nem e-mails e todo dia minha mãe pergunta se ela pode ver sua neta. Eu não queria ir para o caminho de advogados e tribunais, mas eu fiz isso muito mal. — Claro que fez. — Eu disse, mas não havia veneno na minha voz. Eu não o odiava. Harrison estava arrependido. — Eu não quis dizer as coisas que eu disse ontem à noite. Kathleenera incrível. E eu nunca fui bom para ela. Ela merecia mais. Mas eu não acho que ela ficou com Randall por maldade. Eu acho que ela se importava com ele e eu sou grato. Fico feliz que ele tinha alguém. Fico feliz que Emma está no mundo. — Tudo bem. — Eu suspirei. — Sabe, tinha um tempo num passado não tão distante que eu meteria a porrada em você, se eu chegasse em casa com aquela cena de ontem, não importando o que você dissesse. Ele levantou uma sobrancelha. — O que mudou? — Estou criando um menininho. Eu quero ser um bom exemplo, ensiná-lo que a cabeça fria deve prevalecer e que ele precisa pensar antes de bater. Harrison assentiu. — É uma lição muito boa para aprender ainda novo. Eu ia dizer mais alguma coisa mas eu não tive a chance porque o carro da Kat parou. Eu podia vê-la através do parabrisa, boquiaberta com o choque de me encontrar ali tagarelando com seu odiado ex. Eu levantei a mão para ela saber que estava tudo bem e ela nos encarou por mais um momento antes de sair do carro. — Que merda você quer agora? — Ela perguntou, seus olhos correndo de um de nós para o outro. — Está tudo bem. — Eu assegurei a ela. — Harrison só veio aqui para pedir desculpas. Tem uma coisa que ele queria conversar com você, mas ele me contou tudo e agora ele pode ir embora. Eu concordei em te contar a história dele e ele concordou em viver com o que você decidir. Harrison me lançou um olhar. Eu respondi com um olhar de alerta. Kat estava visivelmente confusa. A porta do sedã preto da Kat abriu de repente e Emma pulou do carro. — Emma! — Kat exclamou. — O que mamãe te disse sobre desafivelar sua cadeirinha do carro? — Para não fazer. — Emma disse alegremente. — Isso mesmo. — Kat se moveu na frente da sua filha, lançando um olhar cuidadoso para Harrison. Emma espiava a saia da mãe e ria. Harrison estava encarando Emma e parecia que ele podia chorar. Eu não o culparia. Quaisquer que fossem seus defeitos, ele evidentemente amava seu irmão e Emma era a última peça viva daquele irmão. Provavelmente todos os tipos de emoções corriam pela sua cabeça. Eu apostava que eu seria conhecido de alguns deles. Harrison limpou a garganta. — Kathleen, me desculpe. Sobre tudo, não só o que aconteceu na noite de ontem. Se eu nunca mais ouvir sobre você, eu vou entender. Você precisa fazer o que é melhor para Emma. Mas eu realmente espero que você considere entrar em contato comigo depois de ouvir o que Nash tem a dizer. Ele estendeu a mão para mim para um aperto de mãos e eu só hesitei por um segundo antes de aceitar. Harrison me deu um sorriso grato, depois decolou no seu carro. Kat ainda estava atordoada. — Eu nem sei o que dizer sobre isso tudo. Eu fechei a parte de trás da caminhonete. Teria que esperar. Fui até Kathleen e deslizei meu braço pelos seus ombros. — Entre. — Eu disse. — Eu vou explicar para você. 2 3 N C A P Í T U L O V I N T E E D O I S Kathleen ash estava parado na calçada ao longo da Avenida Garner, conversando com um cara corpulento que eu reconheci mas não conseguia lembrar seu nome. Eles apertaram as mãos e se afastaram. O homem sorriu para mim quando ele passou, então eu sorri de volta. — Você fez um amigo novo? — Eu perguntei a Nash enquanto ele segurava a porta aberta para mim. Ele roubou um beijo no caminho e piscou. — Talvez. — Muito sociável esses dias. — Eu comentei. Duas mulheres mais velhas estavam navegando nos corredores da loja. Uma delas cutucou sua companhia e exclamou para a parede de pinturas retratando as Montanhas de Hawk. — Aquele era Ted Foster. — Nash disse. Eu ainda estava encarando as mulheres enquanto elas admiravam as pinturas. — O que? — Ted Foster. O homem que acabou de sair. — Ah, é verdade. Eu tinha esquecido o nome dele. — Ele é um dos treinadores da pequena liga. Ele queria saber se ele podia contar com o nosso apoio para ajudar a patrocinar o time na liga de outono. — O que você disse? Nash sorriu. — Que o time podia contar com a família Ryan assim como eles fizeram por anos. Eu até prometi participar de alguns jogos. Caramba, talvez em alguns anos Colin esteja lá jogando. — Pode ser mais do que alguns anos. — Eu ri. — Considerando que Colin ainda não está nem engatinhando. Betty Carter, funcionária de longa data do Presentes de Hawk Valley, acenou para mim com um sorriso e depois se aproximou das duas clientes para ver se elas precisavam de ajuda. — Que horas você vai sair? — Nash perguntou. — Pelas cinco horas. Eu vou pegar Emma assim que eu ver minha mãe. — Você ainda não falou com ela? — Não. Tudo aconteceu tão rápido. Mas eu preciso contar para ela antes de ir. Apenas três dias atrás, eu cheguei à casa de Nash para encontrá-lo no meio de uma conversa estranhamente amigável com Harrison Corbett. Harrison deixou que Nash explicasse por que ele tinha ficado tão desesperado para falar comigo. A situação não era nada do que eu pensava. Eu sentia que qualquer mágoa e qualquer feiura poderia ter sido evitada se eu tivesse escolhido responder uma das mensagens de Harrison. Eu tive medo e eu permiti que o medo me controlasse. Mas agora que eu sabia, tinha um pequeno tempo precioso para gastar. Lá em Phoenix, uma mulher à beira da morte estava esperando ansiosamente para conhecer sua pequena neta. O próprio Harrison tinha sido muito franco e agradável quando eu liguei para ele depois de falar com Nash. Ele me agradeceu profundamente e ofereceu distância durante a visita caso a sua presença me deixasse desconfortável. Eu disse a ele que não era necessário. Eu não esperava que ele tentasse alguma gracinha na frente da sua mãe moribunda. Essas pessoas eram da família da Emma. Se eles eram pessoas boas que a amariam, então eu não tinha direito de deixá-las longe da sua vida. Por isso, essa noite, minha filha e eu vamos sair de Hawk Valley por um pequeno tempo. Emma estava animada essa manhã quando eu disse a ela que nós iríamos passar a noite fora. Ela nunca foi para Phoenix e perguntou se nós podíamos pegar uma cobra de estimação. O plano era dirigir até lá essa noite, ficar no hotel e amanhã passar o dia com a mãe de Randall. Nós voltaríamos para casa amanhã à noite. Entretanto, antes de sair, eu devia uma explicação à minha mãe. Eu devia a ela toda a história que eu deveria ter contado quatro anos atrás. — Eu queria que você me deixasse ir com vocês para Phoenix. — Nash disse e eu o amava por querer estar lá. Eu o amava por várias coisas. Eu deveria contar para ele. Em breve. Mesmo que ele não me ame de volta, eu não me arrependeria por contar. — Emma e eu vamos ficar bem. — Eu disse. — Você tem suas mãos ocupadas com aquele bebê fofo. Nash checou seu relógio. — Eu disse a Nancy que eu o pegaria mais cedo hoje. Nós estamos planejando uma noite louca para comer purê de banana e assistir a desenhos. — Estou com ciúmes. Eu percebi que uma das mulheres estava comprando uma pintura. A outra carregava uma cesta cheia de lembranças cuidadosamente escolhidas que eu ouvi ela dizer que eram “para os netos”. — Eu vou revisar os recibos de vendas do mês passado. — Eu disse. — Olha como o comércio está mesmo melhorando. — Assim como você disse que melhoraria no verão. — Nash me lembrou. Eu alcancei sua mão. Ainda não tínhamos discutido uma mudança oficial de classificação, mas nós não íamos manter as coisas em sigilo por muito tempo. — Então eu te ligo quando chegar no hotel essa noite? — É melhor. Estarei esperando. Eu o beijei. Era para ser só um selinho, mas Nash não me deixou sair e virou um tipo de beijo que me tirava o fôlego. Quando nós paramos para respirar, Betty e as duas clientes estavam encarando-nos. — Ai, meu Deus… — Uma das mulheres disse e resfriou seu rosto corado com um leque de Hawk Valley. O beijo me deixou meio zonza, mas eu me virei para cambalear até a porta com um sorriso que não queria sair do meu rosto. Uma hora depois eu não estava mais sorrindo. Eu estava sentada na cozinha da minha mãe, torcendo as minhas mãos enquanto eu esperava sua reação às coisas que eu acabei de contar a ela. — Por que?— Ela perguntou. Nervosamente, eu tentei fazer uma piada. — Você parece a Emma. As sobrancelhas da minha mãe se juntaram. — Por que você tentou esconder uma coisa tão importante? Eu soltei um suspiro e ordenei minhas memórias para encontrar uma garota assustada que veio para casa quatro anos atrás sem perspectivas e carregando na sua barriga o bebê de um homem morto. — Era ruim o bastante que eu tivesse abandonado a faculdade e estava tendo um bebê aos dezenove anos. O fato de que Randall era o pai só tornou a situação mais difícil de lidar. Eu estava sofrendo e horrivelmente decepcionada comigo mesma. Eu não conseguiria lidar com a decepção dos outros em cima disso, especialmente a sua. — Eu engoli. — Eu fui uma covarde. — Kathleen Margaret. — Minha mãe ergue a voz. — Uma coisa que você nunca foi é covarde. Uma lágrima rolou pela minha bochecha. Parecia que eu não tinha acabado de me livrar de todas elas ainda. Minha mãe me olhou fixamente e eu me perguntei o que ela pensava dessa pessoa chorando na sua cozinha, sua única filha. Apesar do nosso cabelo avermelhado e da nossa afeição por café preto, nós tínhamos pouco em comum. Ela trabalhou muito, por trinta anos, na agência de correios antes de se aposentar na última primavera. Eu nunca a vi ler um livro ou até mesmo pegar um jornal. Ela era muito sociável, com uma longa lista de amigos, sempre ativa em uma variedade de instituições beneficentes. No entanto, como eu, ela entendia um coração partido. Ela aguentou seus próprios tribunais na área do amor com três casamentos falidos e uma sucessão de namorados inadequados. — Desculpe, mamãe. — Eu disse, chamando-a por um nome que eu nunca a chamei desde que eu era uma garotinha não muito mais velha do que Emma. — Me desculpe por não ter te contado a verdade. — Ah, Kat. — Agora seus olhos verdes estavam cheios de água. — Eu te perdoo por qualquer coisa. — Ela saiu da sua cadeira e me pegou nos seus braços. — Você é meu bebê, Kathleen. O amor da minha vida. Você não sabe disso? Chorar nos braços da minha mãe enquanto ela afagava meus cabelos parecia tão infantil e reparador ao mesmo tempo. Eu estava com vinte e três anos e já tinha uma criança minha, mas instantaneamente eu podia me lembrar de ter cinco e me recusar a dormir de novo depois de um pesadelo, a menos que minha mãe ficasse na cama comigo. E ela ficou. Ela cantarolou uma música que eu canto para Emma e Colin hoje em dia e, naquela noite, ela ficou comigo muito depois de eu dormir. Assim que minha choradeira terapêutica acabou, minha mãe questionou meus planos de dirigir até Phoenix. — Você tem certeza que essas pessoas são confiáveis? — Ela perguntou. — Eu não acho que você e Emma deveriam ir sozinhas. Eu posso ir com vocês. — Nash já se ofereceu para ser minha escolta particular. — Eu disse. — Mas não, obrigada. Eu preciso levar Emma sozinha mesmo. — Se você tem certeza… — Ela disse e eu podia dizer que ela estava tentando medir suas palavras e evitar dizer a coisa errada. — Eu tenho certeza. Ela me observou. — Eu vi Nash ontem. Eu estava passando pela loja e tinha tempo que eu não entrava, então dei uma olhada. Ele estava dobrando camisetas. Dobrando incorretamente, eu devo acrescentar. Eu sorri. — Mas aposto que ele parecia ótimo fazendo isso. Ela deu um sorriso afetado. — Eu nunca disse que ele não era agradável aos olhos. — Ele é um cara bom, mãe. Eu juro. Ela concordou. — Tudo bem. Se você diz, então eu tenho certeza de que é verdade. Eu acredito em você, Kathleen. Enquanto eu saía da casa da minha mãe e ia pegar a minha filha, eu sentia que um novo capítulo estava começando na minha vida. Ainda havia um grande tópico para resolver, mas isso teria que esperar. Eu estava nervosa porque eu não sabia qual desfecho teria. No começo, eu prometi a Nash Ryan amizade sem aborrecimentos, sem complicações. Eu não podia manter essa promessa mais. Eu só não sabia se ele queria as mesmas coisas que eu. 2 4 E C A P Í T U L O V I N T E E T R Ê S Nash u me perguntei se trazia Colin comigo ou não. Eu poderia encontrar alguém para cuidar dele por algumas horas. Mas, no final, eu decidi arrumar a bolsa de fraldas e trazê-lo. A jornada de hoje pertencia a ele quanto tanto pertencia a mim. Ele tinha o direito de estar lá. Viagens de carro geralmente embalavam Colin a dormir e, sem dúvida, ele tinha sido nocauteado em menos de dez minutos de viagem. Eu abaixei o volume do rádio e pilotei a mini van pelas estradas sinuosas entrava nas profundezas das montanhas. Anos tinham se passado desde que eu estive aqui mas eu ainda conhecia a rota de cor. Algumas das curvas fechadas eram um pouco angustiantes, mas não havia mais ninguém na estrada. Nós ainda estávamos há alguns quilômetros de distância da cabana quando a vegetação enegrecida começou a aparecer nos dois lados da estrada, uma lembrança de que o que aconteceu aqui não estava num passado tão distante. Tinha algo estranho e nada natural sobre as três árvores gigantescas e carbonizadas que acompanhavam o asfalto. Esse pedaço do mundo tinha sido sempre exuberante e verde e seria algum dia novamente. Levaria um tempo, porém. Eu passei pelo desvio para o pequeno lago onde meu pai e eu tínhamos passado nossas desastrosas excursões para pescar. Eu desejei que isso tivesse dispensado a devastação que se arrastou por aqui na noite de ventos fortes e destino brutal. Aqui e ali eram pistas privadas não pavimentadas, que serpenteavam pela estrada principal e levavam às casas rústicas da montanha. Havia pessoas que viviam aqui o ano inteiro, mas não eram muitas e nenhuma delas estavam na zona onde o fogo varreu com tanta ferocidade. Havia somente uma história trágica daquela noite e eu ia enfrentá-la. Meu estômago se fechou quando eu cheguei à saída. Eu parei no acostamento e paralisei na boca da suja estrada principal que levava para as cabanas de dormitório que tinha sido da minha família por cinquenta anos. Os pinheiros altos que formavam orgulhosamente um corredor no caminho até a cabana eram agora pedaços queimados. Eu me perguntava se isso tinha sido um erro. Eu não estava certo do que eu esperava ganhar vindo aqui. “— Nessas partes, você precisa sempre prestar atenção nos avisos de incêndio, Nash. Leve os Dias Sem Queimada a sério e fuja do Dodge no minuto que você sentir o cheiro de fumaça.” Os incêndios na floresta não eram incomuns nas montanhas. Em média, havia um notável a cada quatro ou cinco anos. Fatalidades eram incomuns. Tipicamente havia um aviso com tempo suficiente para escapar do fogo. Eu voltei para a estrada, incerto do que encontraria no final dela. Kevin Reston tinha dito que a cabana estava irrecuperável, só um lote de troncos queimados. Steve Brown me contou sobre algum seguro no lugar, mas eu só disse a ele para fazer o que ele precisasse fazer e não me incomodasse com isso. O estrago foi pior por aqui. Deve ter sido onde o fogo tinha alcançado o pico antes dos esforços combinados das equipes de incêndio e das nuvens carregadas de chuva colocarem um fim a essa ferocidade. Eu odiava pensar neles dois no meio disso, seus últimos momentos de terror, seus pensamentos agonizantes sobre o bebezinho que eles estavam deixando para trás. Alguém tinha vindo aqui recentemente para prestar suas condolências. Um amigo mais querido. Chris e Heather Ryan tinham tantos amigos. Tinha um arranjo de flores recente no meio de toda a devastação, uma marca de rosa luminoso entre as ruínas. A própria cabana estava irreconhecível. Parecia que alguém tinha feito uma pilha de Lincoln Logs, os queimado em um churrasco e os reorganizado ao acaso na sujeira. A caminhonete do meu pai tinha sido retirada daqui, por isso não havia sinais de onde tinha sido estacionada, mas eu apostaria que ele estacionou na mesma marca de sempre, na pequena clareira do lado oeste da cabana. Foi onde eles foram encontrados, perto da caminhonete. Eu abri as janelas e desliguei o motor. Havia uma quietude absoluta, mas, de alguma forma, era horrível. Eu imaginei que seria horrível, um silêncioduro e cheio de morte. Mas era mais tranquilo do que eu esperava. Agora que nós paramos de nos movimentar, Colin se agitou no banco do carro. Eu pulei para fora e abri a porta para pegá-lo, checando sua fralda como de costume. Meu irmãozinho piscou para a luz do sol acima da cabeça enquanto eu o ajustava no meu quadril e pegava os objetos que eu trouxe comigo. Eu os encontrei no sótão outro dia quando eu estava arrumando algumas porcarias que eu trouxe de Oregon. Primeiro eu pensei que talvez eu pudesse usá-los em algum momento, quando Colin estiver mais velho. Ele podia gostar de aprender como pescar. No entanto, eu decidi que a melhor ideia seria tirar essas varas e comprar novas. Essas varas de pesca tinham feito muito com meu pai e eu. Colin merecia uma para ele mesmo. Eu coloquei as varas no meio da clareira. Uma vara tamanho grande, uma tamanho infantil. Elas pareciam um pouco simples lá, então eu arranquei uma das rosas cor de rosa do arranjo de flores e cuidadosamente coloquei em cima. Eu assumi que quem quer que tivesse colocado as flores lá não se importaria em compartilhar. Colin pronunciou alguns balbucios de consoantes, uma coisa que ele tinha feito tardiamente. Eu estava ciente de quanta responsabilidade eu tinha. Havia muito para contar a ele. Havia algumas partes que eu teria feito de novo se eu pudesse. — Adeus, pai. — Eu murmurei, encarando as varas de pesca que eu tinha colocado lado a lado. Eu ainda me questionava sobre seus motivos, por que Chris e Heather tinham me escolhido para cuidar do Colin se eles não pudessem. “— Porque ele sabia que você encararia o desafio, que você amaria e protegeria aquele menininho. Chris e Heather nunca duvidaram de você.” Foi isso que Kat tinha dito. Eu só não entendia por que isso era verdade. Que diabos eu tinha feito para merecer esse tipo de confiança deles? Eu desejei que tivesse alguém que pudesse responder. Se Kat estivesse aqui, ela provavelmente encontraria algumas palavras para dizer num momento emocional como esse. Kat era boa com as palavras. Ela era boa em tudo que importava. Mas o maior talento de Kathleen Doyle provou ser acordar meu coração de um jeito que ninguém mais tinha feito. Eu pensava nela indo até Phoenix, encarando bravamente seu passado problemático pelo bem da sua filha. Eu estava feliz que ela tinha decidido ir. Eu ficaria ainda mais feliz quando ela voltasse. Tinha coisas que nós precisávamos conversar. — Vamos dar o fora daqui. — Eu disse a Colin e beijei sua bochecha antes de carregá-lo de volta para van. As cicatrizes na areia desapareceriam, mas eu duvidava que eu voltaria a esse lugar particular agora. Isso não significava que eu não voltaria para as montanhas. Apesar do que aconteceu, eu tenho certeza que meu pai iria querer que Colin conhecesse a floresta, tivesse a satisfação de tirar uma truta gorda do lago e apreciar quão brilhosas as estrelas são na selva. Eu poderia mostrar essas coisas para ele. Talvez Kat e Emma quisessem estar conosco. De repente, tinha um plano na minha cabeça. Na verdade, já tinha há um tempo, bem nas margens. Agora todos os pedaços estavam caindo juntos e estava na hora de agir. Um novo começo poderia acontecer. Tudo que eu precisava era de um pouco de ajuda para chegar lá. Eu me sentia de longe mais relaxado na viagem de volta, descendo a montanha. Mesmo que provavelmente tivesse algum tipo de regra contra isso nos livros de bebês, eu levei Colin para uma sorveteria e dividi uma casquinha de baunilha com ele. Ele adorou, praticamente devorou minha mão direita quando eu estava segurando o sorvete. Enquanto nós estávamos sentados à mesa mais perto da janela, vi meu velho inimigo Travis Hanson descendo a calçada. Eu tinha ouvido que ele foi preso semana passada. A história que rodeou a cidade era que uma de suas funcionárias tinha prestado queixas de agressão contra ele. Então parecia que às vezes as rodas da justiça viravam justamente como elas deveriam. Travis deve ter sentido que alguém o observava porque, de repente, ele parou e levantou a cabeça. Nossos olhos se cruzaram e eu acenei para ele do outro lado do vidro. Ele fez uma careta e se afastou. Eu ri para mim mesmo e aproveitei o restante do sorvete de casquinha. Infelizmente nós não podíamos sair e comer sorvete todo dia porque havia muito a ser feito. No estacionamento da sorveteria, eu toquei meus dedos no volante e considerei minhas opções. Pedir ajuda ainda não era uma coisa que me animava. Eu me virei e me direcionei à cabeça do Colin na sua cadeira no banco traseiro do carro. — Vamos fazer isso, homenzinho. Ele arrotou. Eu sorri abertamente. Depois, liguei para minha tia. — Jane. — Eu disse. — Você está livre hoje? Eu estava pensando se eu poderia contar com a sua ajuda com umas coisas em casa. E se Kevin estiver por perto, seria ótimo se você o levasse também. Ah, e eu não tenho o número da mãe da Kathleen, mas se você pudesse ligar para ela e pedir para ela nos encontrar lá em casa, eu agradeceria. Sim, tenho certeza. Antes de dirigir para casa, eu parei na loja e comprei umas caixas de mudança. Eu não sabia quantas eu precisaria, mas eu imaginava que essa pilha fosse um bom começo. Era hora de seguir em frente. Coisas aconteceriam. Eu tinha determinado que agora em diante elas seriam apenas coisas boas. 2 5 — P C A P Í T U L O V I N T E E Q U A T R O Kathleen or que essa árvore parece engraçada? — Emma perguntou. Eu sorri quando percebi que ela estava apontando para um cacto saguaro gigante. Ela nunca tinha visto um desse antes. — É um tipo diferente de árvore. — Eu disse para ela. — É chamada de cacto. Elas só crescem no deserto e, em vez de folhas, elas têm espinhos. — Isso é um deserto? Nós passamos por uma vizinhança residencial repleta de casas beges com tetos ladrilhados. — Sim, querida. Phoenix é parte do deserto. — E minha segunda avó está aqui? — Emma pareceu com dúvida. — Sim. — Um punhado de borboletas no meu estômago tinha virado uma multidão agora que nós estávamos chegando perto. Eu tinha mandado mensagem para Harrison antes de nós saírmos do hotel e deixei que soubesse que estávamos a caminho. Ele disse que eles estavam esperando ansiosamente e me deu a senha da entrada para a comunidade. Eu virei na entrada e puxei o teclado numérico para abrir os portões enquanto sentia uma breve sensação de déjà vu numa pontada. Eu estive aqui algumas vezes antes, quando eu estava com Harrison. A última vez foi um feriado de Ação de Graças quando eu sentei entre Harrison e Randall, rindo do jeito que eles se irritavam de brincadeira como irmãos fazem. Senhora Corbett piscou para mim do outro lado da mesa. Seu marido tinha morrido um ano antes e eu me lembrava de me sentir meio melancólica ao pensar nela vivendo sozinha naquela casa grande e elegante. E lá estava. A casa dos Corbett era uma construção ampla de estilo mediterrâneo que se misturava na vizinhança luxuosa. Eu espiei o mustang prata do Harrison estacionado em frente e senti uma onda de ansiedade. Esperava que eu estivesse fazendo a coisa certa para Emma. Eu achava que era. Eles deviam estar observando pela janela, esperando pela nossa chegada. Eu segurei a mão da Emma enquanto andávamos pelo caminho da frente e víamos a porta abrir. Harrison estava lá, seu braço ao redor dos ombros de uma mulher esbelta, que parecia estar na casa dos vinte anos. A beleza da sua pele escura era complementada pelo vestido azul brilhante que ela usava. Ela olhou bem nos meus olhos com um sorriso acolhedor que não poderia ser falso e eu senti minhas dúvidas desaparecerem. — Olá, Kathleen. — Disse Harrison. — Estamos tão felizes que vocês duas estão aqui. — Seu olhar parou na minha filha e eu podia ver como esse momento era emocionante para ele. Eu nunca pensei muito em como ele devia ter ficado arrasado com a morte do único irmão. Eles tinham sido muito próximos. — Olá, Emma. — Ele disse, sua voz falhando. Emma o encarou, depois ela olhou para mim como se não tivesse certeza se deveria responder aquele homem estranho.A mulher ao lado de Harrison tomou a iniciativa, dando um passo para frente. — Kathleen. — Ela disse. — Estou tão feliz em te conhecer. Sou Delia, noiva do Harrison. Seu sotaque parecia vagamente caribenho e, em vez de um educado aperto de mãos, ela me envelopou em um abraço caloroso. Não me incomodei. Delia se abaixou na altura da Emma. — Oi, Emma. Nós estávamos esperando para te conhecer. Minha filha olhou para ela da cabeça aos pés. — Seu vestido é bonito. Delia riu e a abraçou também. — Obrigada, querida. Delia era encantadora e Emma estava toda sorrisos enquanto pegava a mão da Delia e a seguia para a casa. Harrison ficou para trás, na porta. Ele observou sua noiva passar com a sua sobrinha e depois virou para mim. Um momento esquisito de silêncio se seguiu. — Eu não sei como te agradecer por isso, Kat. — Você já me agradeceu, Harrison. De qualquer forma, estou fazendo isso pela Emma. E pela sua mãe. — Eu parei. — Não tenho certeza sobre você. Ele assentiu e pareceu envergonhado. — Sinto muito. E eu estou certo de que você não quer ouvir isso depois desse tempo, mas você nunca foi só uma garota para mim. Eu fiquei devastado quando eu perdi você embora eu merecesse. E eu sei que eu disse um monte de coisas terríveis. Ele tinha. Harrison descobriu sobre eu e Randall logo antes de seu irmão morrer e ele não aceitou bem as notícias. Eu nunca tive a chance de contar para Randall que eu estava grávida. No entanto, em um momento de fraqueza, eu fui e contei para o Harrison. Na última vez que nos falamos, ele me chamou de puta malvada, entre outras coisas. Ele disse que ele e sua família não teriam nada para fazer comigo, avisou que ele me pagaria se ele precisasse. Eu não dei a chance para ele. Nos meses que se seguiram, houve muitas coisas em que fiquei acordada, sentindo a bebê chutar dentro da minha barriga e me lembrando do ódio nos olhos do homem que uma vez eu pensei que amava. — O que aconteceu entre Randall e eu — Eu disse. — não foi planejado, e nós não estávamos tentando magoar você. Não me entenda mal, eu estava furiosa contigo por me fazer de boba. De fato, eu estava arrasada. Harrison, eu juro que eu não estava procurando vingança com seu irmão quando eu fiquei com ele. Mas eu sei que eu não deveria ter e eu sinto muito sobre isso. — Eu respirei e olhei para a casa onde o pai da Emma tinha crescido. — Eu realmente me importava com Randall. Eu queria ajudá-lo. Não havia ódio nos olhos do Harrison agora. Apenas arrependimento. — Eu posso aceitar isso. — Ele disse. — Se você aceitar minhas desculpas. Eu pensei sobre isso. — Acho que nós dois podemos deixar o passado para trás e seguir em frente agora. Ele sorriu. — Que tal entrarmos para apresentar Emma a sua avó? Eu sorri de volta. — Eu gostaria disso. Dentro da casa, Delia estava ouvindo Emma falar pelos cotovelos. — E ela é tão engraçada. E ela me deixa muito feliz. Roxie é a melhor cachorra no mundo. Delia ouvia com um sorriso educado. — Roxie é o nome da sua cachorra? — É. Agora ela é a cachorra do Nash só, mas ela vai ser minha cachorra. Delia assentiu. — Entendi. Ela parece maravilhosa. — Ela é. Delia olhou para nós enquanto Harrison fechava a porta da frente. A casa estava como eu me lembrava, cara e impecavelmente decorada. Harrison assentiu para sua noiva e ela esticou para pegar a mão dele. — Devemos entrar? — Ela perguntou. — Sim. — Ele disse. — Eu tenho certeza que ela está ouvindo. Emma deslizou sua mão para a minha enquanto seguíamos Harrison e Delia por um longo corredor. Havia um quarto no final e a porta estava aberta. Delia olhou pelo ombro e deu um sorriso de encorajamento. Harrison espionou pela porta. — Mãe? — Ele disse suavemente. — Você está acordada? — Sim. — Respondeu uma voz alta e trêmula. — Elas estão aí? Emma está aqui? Emma recuou de repente e olhou para mim com preocupação. — Está tudo bem. — Eu garanti a ela e a levei para o quarto. A mulher na cama só se parecia vagamente com a elegante mulher de meia-idade que sorriu com indulgência para seus filhos barulhentos à mesa de uma noite de Ação de Graças. Sua cabeça estava coberta por uma echarpe e a cama tamanho king-sized só enfatizou como seu corpo robusto de antes foi devastado pelo câncer. Harrison imediatamente foi até o lado dela quando ela se esforçou para sentar. Havia potes de pílulas e outras parafernálias médicas reunidas em uma mesa pequena e o quarto estava muito aquecido, provavelmente pelo bem da senhora Corbett. Harrison cuidadosamente apoiou sua mãe nos travesseiros macios da cama e seu rosto magro nos observou. A única característica que não mudou foi a cor dos seus olhos castanhos que se iluminaram quando eles pousaram na Emma. — Oi, querida. — Ela disse e estendeu sua irmã, chamando Emma para perto. — Eu sou sua avó e estou tão feliz em te conhecer. Eu fiz o meu melhor para fazer a Emma entender a realidade da situação. Sua avó estava muito doente. Ela pareceria doente e provavelmente não seria capaz de sair da cama. Emma era uma criança sensível, mas ela tinha três anos e meio e era imprevisível às vezes. Eu não tinha certeza de como ela reagiria a toda a emoção no quarto. — Oi. — Emma disse e se aproximou da cama de bom agrado. Emma e sua avó se examinaram de perto por alguns segundos. — Por que é que você está usando um chapéu na cama? — Emma perguntou com curiosidade e a senhora Corbett riu. Eu soltei um suspiro de alívio. Seria tudo bem. Tudo seria bom. Senhora Corbett disse a Emma que tinha uma coisa muito especial para ela e fez sinal para o Harrison levar uma grande sacola rosa de presente. Emma não perdeu tempo nenhuma tirando o papel de seda e puxou um animal de pelúcia adorável que meio que se parecia com uma versão fofa da Roxie. Os olhos de Emma se iluminaram e ela apertou o brinquedo no peito. — Ela é liiiinnnndaaa! — Minha filha disse com uma voz maravilhada e eu pensei que o pobre Sr. Ford pode ter acabado de ser rebaixado. Havia lágrimas nos olhos da senhora Corbett. — Você é linda! Emma olhou para a mulher. — Você está triste? — Não, querida. Não estou triste. Esse é um dia feliz. Eu só me lembrei de como seu pai tinha um cachorro de pelúcia igual a esse. — Ele está aqui? — Emma perguntou. Eu me encolhi. Harrison me olhou com uma expressão preocupada. Eu também tinha tentado explicar sobre o pai da Emma para ela, mas havia muitos temas complicados para uma criança em idade pré-escolar carregar. — Emma. — Eu disse gentilmente, abaixando ao seu lado. — Lembra quando nós falamos sobre seu pai? Sobre como ele se foi? Ela assentiu devagar. — Como tia Heather e tio Chris. — Ela murmurou e eu pensei como era injusto ela já ser exposta a tanta morte quando ela mal entendia o conceito. Ela tinha perdido seu pai. Ela tinha perdido as pessoas que eram praticamente pais substitutos para ela. E em breve ela perderia sua avó que ela tinha acabado de conhecer. Não, isso não era justo. Entretanto, eu tinha esperança também. Eu tinha esperança que ela não esqueceria que a vida é uma coisa frágil, é para ser valorizada incondicionalmente. — Está certo. — Eu disse e a puxei para perto, com cachorro de pelúcia e tudo. Emma foi rápida em se recuperar e começou a quicar seu novo brinquedo na cama. De repente, ela notou Harrison parado no lado mais distante do quarto. — Você mora aqui também? Ele pareceu assustado porque ela estava falando diretamente com ele. — Eu morava. Agora Delia e eu moramos uns 25 quilômetros daqui. — Por que? — Porque quando você cresce, você se muda e encontra sua própria casa. — Por que? Ele sorriu. — É só uma coisa que as pessoas fazem. Emma não gostou da resposta. — Eu não quero me afastar da minha mamãe. Eu ri. — Não se preocupe com isso tão cedo, Ems. — Kathleen. — Senhora Corbett estava se dirigindo a mim com uma voz gentil. Ela estendeu sua mão e eu me estiquei para pegá- la, percebendo quão magra e frágil ela estava. — Sinto muito por eu nunca tê-la trazido para ver você antes. — Eu disse, mas ela sacudiu a cabeça veementemente. — Não. Você está medando um presente inacreditável. Tem havido tantos mal-entendidos. — Ela lançou um olhar afiado para seu filho restante. — Não teremos mais. Eu estou muito grata por você trazer a Emma aqui. E muito agradecida que a filha de Randall tem uma mãe tão maravilhosa. — Ela se virou para Emma e sorriu. — Emma, você quer sentar mais perto de mim? Tem um livro que eu gostaria de ler para você. Delia entendeu isso como um sinal. Ela procurou por um livro infantil desbotado na cômoda e o entregou para a senhora Corbett. Eu peguei um vislumbre do título. Era Te Amo Para Sempre e eu imaginei que devia ter pertencido aos seus filhos quando eles eram pequenos. Emma ajustou a si e o novo brinquedo de pelúcia na cama e preparou-se para ouvir a história. Emma amava livros. Mais do que amava morangos. Talvez não tanto quanto amava cachorros. — Kathleen. — Delia sussurrou e eu vi que ela e Harrison tinham deixado o quarto e estavam parados do lado de fora da porta. Senhora Corbette começou a ler para Emma em uma voz que agora estava surpreendentemente forte e clara. Eu levantei e saí do quarto. Elas já estavam tão absortas na história que nem me viram sair. Delia estava agarrada ao braço de Harrison e eu tive a impressão de que ele estava nervoso. Ela olhou para seu noivo como se o encorajasse a falar, mas quando ele não o fez, ela foi em frente. — Kathleen, nós não queremos que você se sinta pressionada de jeito nenhum. Não há palavras suficientes de agradecimento para expressar nossa gratidão. Ela olhou para Harrison novamente e, dessa vez, ele limpou a garganta. — Nós adoraríamos ver Emma de novo. — Ele disse. — Se tiver tudo bem para você. Ela é minha sobrinha e, quando eu olho para ela, eu me lembro de como eu amava o meu irmão. E o quanto eu sinto a falta dele. Eu olhei para trás de mim, para dentro do quarto onde Emma estava se agarrando em toda palavra que sua avó lia para ela. Eu estava tão acostumada a ter Emma só para mim que era quase estranho compartilhá-la com outra família. Entretanto, eu não deveria me sentir dessa forma. Essa seria a família dela também. — Eu acho que Emma gostaria disso. — Eu disse. Harrison pareceu aliviado. — E se você precisar de alguma ajuda financeira, nós ficaríamos felizes… — Não. — Eu interrompi, arrepiando-me. — Eu não preciso de ajuda financeira. Ele recuou. — Eu não quis dizer desse jeito que saiu. Nós não temos intenção de invadir sua vida e ditar regras. Mas Emma é a garotinha do Randall e eu só queria que você soubesse que nós estamos aqui para ela. — E para você. — Delia acrescentou. — Nós estamos aqui para você também, Kathleen. Espero realmente que nós possamos ser amigas. Eles pareciam tão intensos, tão esperançosos. No outro cômodo, Emma e sua avó caíram na risada. — Eu gostaria de ser sua amiga. — Eu disse a Delia e era verdade. Nós três ficamos fora do quarto por mais um tempo, dando a Emma e sua avó privacidade para conhecerem mais uma a outra. Eu soube que Harrison tinha se tornado um conselheiro financeiro e tive certa dificuldade de imaginar o cara impetuoso do futebol americano, que eu tinha conhecido na faculdade, sentado à uma mesa de reuniões e aconselhando casais sobre planos de aposentadoria. No entanto, as coisas mudam. As pessoas mudam. Delia estava se dedicando ao doutorado em bioquímica e planejava se tornar professora eventualmente. — Esse costumava ser o meu plano. — Eu disse. — Virar professora. Ela estava pensativa. — Você ainda pode. Não é tarde demais. Eu considerei a ideia. — Você está certa. — Eu disse. — Não é tarde demais. Uma enfermeira de casa de repouso chegou pouco antes do almoço para verificar a senhora Corbett. Sua presença era uma lembrança sóbria de que a mulher no outro quarto não tinha muito tempo de vida. Harrison achou que sua mãe estava ficando muito cansada, mas ela protestou e implorou se Emma poderia ficar por mais um tempo. Um acordo foi alcançado quando ela concordou em descansar por uma hora enquanto Delia fazia o almoço. Os adultos aproveitaram frango ao limão com quinoa e Emma comia um sanduíche de queijo grelhado com um pouco de morangos. Emma adorava a mesa com contos da escolinha, e depois que terminei de comer, eu me ausentei por um momento para mandar mensagem para Nash. Ele tinha ficado um pouco apreensivo com essa viagem e eu só queria que ele soubesse que ele não precisava se preocupar com nada. Tudo está bem. Emma conheceu sua avó e ganhou de presente uma substituta sintética da Roxie. Pensando em vocês, meninos. Eu estava quase guardando meu celular de volta na minha bolsa, mas depois decidi mandar mais uma linha. Estou com muita saudade de vocês. Quando nossos papéis foram invertidos recentemente, Nash tinha dito isso para mim. Na época, eu não tinha respondido de volta, embora ele estivesse na minha cabeça constantemente. Eu esperei por uns minutos, mas não tive resposta. Talvez ele não tivesse visto de imediato. Nash nem sempre mantinha seu celular ao lado. A rica gargalhada da Delia veio da sala de jantar, seguida pela risadinha alta da Emma. Eu fiquei onde estava por mais alguns segundos e apenas escutei. Nós passaríamos mais algumas horas aqui e, logo após, pegaríamos a estrada para estarmos de volta a Hawk Valley antes do jantar. Eu já estava pensando em oferecer para trazer Emma aqui de novo em breve. As memórias que Emma estava construindo hoje seriam preciosas para ela. Ela deveria ter a chance de ter mais. Eu tinha decidido outra coisa também. Antes de irmos para casa hoje, eu pararia para ver Nash. Eu precisava contar para ele como eu me sentia em relação a ele. Se ele não sentisse o mesmo, era melhor saber agora, enquanto eu ainda seria capaz de salvar os pedaços do meu coração. Se eu me apaixonasse por ele ainda mais, eu não tinha certeza se conseguiria me recuperar. — Mamãe! — Emma cantou. — Onde você está? — Estou aqui. — Eu disse, sorrindo enquanto retornava para a sala de jantar. 2 6 N C A P Í T U L O V I N T E E C I N C O Nash ós ainda estávamos decidindo as categorias quando a mãe da Kathleen apareceu. — O que é isso tudo? — Eleanor Doyle exigiu saber depois entrou pela porta da frente. Eu acho que foi bem feito para mim por não ter trancado. Ela franziu a testa quando viu todas as caixas no chão da sala de estar. Kevin estava curvado, rabiscando em uma com um marcador preto enquanto Jane estava embrulhando um vaso de cristal no plástico-bolha. — Olá, Eleanor. — Jane disse. — Você está se mudando? — A mãe de Kathleen me perguntou. Eu achei que ela soou um pouco esperançosa. — Não. — Eu respondi. — Nós estamos trabalhando em encaixotar alguns pertences pessoais do Chris e da Heather. Eu percebi que estava na hora e, como Heather era sua sobrinha, eu pensei que poderíamos contar a sua ajuda para decidir o que é melhor. Tudo isso era verdade, mas eu também tinha outro motivo para ligar para a mãe da Kathleen. Eu estava descaradamente tentando me infiltrar nas boas graças dela, porque eu queria impressionar sua filha. — Ei, Eleanor. — Kevin entrou na conversa. Ela olhou na direção dele e assentiu antes de se virar de volta para mim. — As coisas importantes, as coisas sentimentais, serão encaixotadas e armazenadas no sótão. — Eu disse. — Mas eu acredito que a maioria das roupas podem ir para caridade. — Eu pausei. — O que você acha? Eleanor continuou me encarando, depois assentiu lentamente. — Eu acho que Heather aprovaria. E minha igreja vai fazer uma venda de caridade no sábado. Então qualquer coisa que você quiser doar, eu posso levar certamente. Eu sorri. — Obrigado, isso seria ótimo. Eu sabia que nós poderíamos contar com você. — Eu estava exagerando um pouco e Kevin levantou uma sobrancelha para mim como se dissesse que ele detectou uma elevação significativa no meu detector de mentiras, mas Eleanor corou e pareceu satisfeita. Ela se ofereceu para começar no quarto principal e meio que pelas coisas da Heather, o que foi um alívio porque eu ainda me sentia um pouco estranho em estar ali. Eu teria que superar isso. Eu nãopoderia só manter o quarto fechado para sempre e mantê-lo como se fosse algum tipo de santuário gótico. Não seria saudável para Colin, para nenhum de nós. Jane seguiu Eleanor pelas escadas com algumas caixas, deixando Kevin e eu sozinhos na sala de estar. Eu peguei um prato de vidro que estava no suporte de exposição na mesinha. Parecia velho, provavelmente uma antiguidade. — Você quer embrulhar todas as coisas frágeis? — Kevin perguntou. Eu assenti. — A maioria delas. Colin está quase engatinhando. Depois ele estará andando. Então, há muito o que colocar à prova de bebês. — Eu peguei mais plástico-bolha. — Essas coisas ficarão no sótão por ora. — Nash. Eu olhei para cima e encontrei o velho amigo do meu pai com uma expressão aflita. — Eu estava querendo falar com você por um tempo, sobre aquela noite no Sheen. — Não precisa disso. — Sim, precisa. Você estava certo sobre Travis, nenhum mistério aí. Mas eu preciso pedir desculpas pelo que eu falei para você. Eu te disse que achava que você tinha que crescer um pouco, insinuando que você ainda era a mesma criança irresponsável que você sempre foi. Eu rasguei um pedaço de plástico-bolha. — Eu lembro. — Eu estava errado. — Kevin disse categoricamente. — Você tem melhorado as coisas por aqui de um jeito que eu não esperava. E eu vejo a maneira como você é com Colin, como você está tentando. E eu te admiro, Nash. Teu pai sabia o que ele estava fazendo quando ele te encarregou disso. Eu o vi olhar para uma foto do meu pai e Heather no dia do casamento deles. Seus braços estavam ao redor um do outro e seus rostos estavam em êxtase. Queria que eu tivesse ido lá naquele dia. Queria que eu tivesse deixado para trás qualquer raiva que eu estivesse me segurando. Eu perdi tanto tempo. Pelo menos, não havia mais raiva agora. Eu percebi de repente que eu tinha perdoado os dois há muito tempo. Eles se encontraram e se apaixonaram e isso não tinha nada a ver comigo. Eu deveria ter dito isso. Agora era muito tarde. Entretanto, isto não era. Porque havia Colin. Talvez seja por isso que eles me escolheram para ser seu guardião. Talvez esse fosse o jeito do meu pai de dizer que ele sabia que eu não guardaria um rancor, e que ele tinha mais fé em mim do que jamais imaginei. Eles, Chris e Heather, tinham que saber de alguma forma. Eles tinham confiança de que eu entraria no cargo se fosse necessário. Eu nunca desperdiçaria essa fé. — Talvez nós possamos sair para tomar uma bebida algum momento. — Eu disse para Kevin. — Algum outro lugar sem ser o Sheen. Ele sorriu abertamente. — Isso. Eu terminei de embalar o prato antigo. Seria guardado. No entanto, todas as fotos ficariam. Colin seria capaz de ver seus pais e talvez sentir como se eles estivessem olhando para ele de alguma forma. — Você acha que nós temos plástico-bolha suficiente? — Eu perguntei. Kevin olhou ao redor. — Eu posso ir correndo e arrumar mais se for necessário. O monitor de bebê tinha sido deixado no sofá e estalou enquanto Colin acordava no seu berço e começava a balbuciar. Eu sabia que ele provavelmente se divertiria sozinho por alguns minutos antes de pedir por alguma atenção, então eu embalei mais alguns objetos de valor nesse meio tempo. Quando tinham passado cinco minutos e ele uivando para ser pego, eu me perguntei se ele caiu no sono novamente, por isso eu subi as escadas para verificar. Eu podia ver o quarto principal onde Eleanor Doyle estava dobrando roupas com uma eficiência maravilhosa e organizando-as em pilhas na cama. Ela não percebeu quando eu passei e fui direto para o quarto de Colin. Fiquei um pouco surpreso com o que eu encontrei lá. Jane havia pegado Colin e estava balançando-o na cadeira ao lado da janela. Jane raramente pegava o bebê e sempre que fazia ela parecia ansiosa para largá-lo o mais rápido possível. Ela estava mostrando para ele alguma coisa no celular, talvez um desenho. Eu não sabia o quanto Colin queria sair dali, mas ele parecia estar interessado. — Está tudo bem? — Eu perguntei e o rosto do Colin virou para o som da minha voz de imediato. Ele se balançou com agitação no colo da Jane. — Ele acordou. — Jane disse, abaixando o celular. — Eu acabei de chegar para vê-lo. Espero que esteja tudo bem. Eu me apoiei contra a mesa de troca de fralda. — Claro que está tudo bem. Você é a tia dele. Ela pôs a cabeça do Colin na sua mão em forma de concha e olhou para ele pensativamente. — Eu me lembro de você quando você tinha essa idade, Nash. — Ela olhou para mim. — É difícil acreditar agora. Você está mais alto do que seu pai era. Eu apontei para o celular. — O que vocês estavam vendo? — Ah! Eu achei um vídeo que eu fiz no hospital no dia que Colin nasceu, então eu estava mostrando para ele. Aqui. — Ela estendeu o celular para mim. — Você deveria assistir também. O vídeo tinha apenas alguns minutos de duração e eu comecei a assistir pelo início. Eles estavam no hospital, provavelmente algumas horas depois do nascimento do Colin. Heather parecia cansada mas radiante como se ela abraçasse seu novo pacote de alegria. Ela estava admirando fixamente para o bebê quando meu pai apareceu. Ele ajoelhou ao lado da cama, olhando para dentro do cobertor azul que enrolava seu filho recém-nascido e deu um beijo suave na sua esposa. Ela sorriu para ele, depois voltou seu olhar amoroso para o bebê. — Ei, Jane, o que você acha do seu novo sobrinho? — Meu pai perguntou. — Ele é lindo. — Disse a voz da Jane atrás da câmera. — Como o irmão. — Meu pai disse. Ele se encostou contra a parede e cruzou os braços com um sorriso enorme, feliz e rebocado no rosto. — Não consigo acreditar que eu sou pai de novo aos quarenta e cinco. — Velhote. — Heather provocou com uma risada. — Mas você quer saber de uma coisa? — Ele disse. — Eu aprendi a valorizar cada momento, uma coisa que eu não sabia como fazer quando Nash nasceu. — Você ligou para ele? — Heather perguntou. — Você ligou para o Nash? — Eu liguei para ele, disse que ele finalmente ganhou um irmão. Ele pareceu feliz. — Meu pai parecia pensativo, esperançoso. — Estou pensando que ele pode vir nos visitar. Colin fez um som e Heather o acalmou enquanto meu pai encarava os dois. — Dois filhos. — Ele disse, soando um pouco impressionado. — Dois meninos perfeitos que são meu orgulho e alegria. — Depois ele olhou em direção à câmera. — Eu ainda não acredito na minha sorte. — Colin. — Heather cantou o nome como enquanto ela balançava o bebê para trás e para frente. — Colin, sabia que você tem um irmãozão? E ele vai te amar. — Ela beijou o rosto sonolento nas mãos. — Eu prometo que ele vai te amar. Meu pai sentou na beirada da cama e colocou um braço ao redor da sua esposa e do seu filho. A câmera continuou gravando a família por mais trinta segundos, mas eles não pareciam conscientes disso. Chris Ryan não foi perfeito. Ninguém era. No entanto, enquanto eu assistia os últimos poucos segundos do vídeo, eu percebi que podia aprender com seus triunfos. E seus erros. É o melhor que qualquer um de nós pode fazer. “— Eu prometo que ele vai te amar.” E eu amava. Eu amava tanto aquele bebê que doía. Ele cresceria com a dor de perder seus pais antes de conhecê-los. Eu faria qualquer coisa que eu pudesse para ajudá-lo a navegar pelo desconhecido e, às vezes, realidades dolorosas que nos desafiavam nessa vida, porque isso também poderia ser maravilhoso. E amar outras pessoas era o que fazia valer a pena. — Oh, Nash… — Jane disse quando o vídeo terminou e eu estava limpando meus olhos. — Sinto muito. Eu não queria te entristecer. Minha tia parecia angustiada, à beira das lágrimas agora. — Não, está tudo bem. — Eu disse, secando a última das lágrimas repentinas. Eu devolvi o celular para ela. — Obrigada por me mostrar isso. Na verdade, se você puder me enviar, seria ótimo. Colin vai querer ver um dia. — Claro. Colin se deslocou nos braços dela e ela começou a parecer um pouco frustrada, então eu me estiquei para pegá-lo. — É mesmo uma coisa boa o que você está fazendo. — Jane disse e levantou. — Ficar aqui, criá-lonessa casa. Você está dando para ele a vida que Chris e Heather queriam. Eu sabia que você faria. Você é o único que poderia. — Obrigada, Jane. — Eu disse enquanto Colin tentava agarrar minha orelha esquerda. O sorriso da minha tia agora ficou meio diabólico. — Eu sabia que você a amaria também. Eu soube quando eu vi vocês juntos. — Quem? — Perguntei, embora eu soubesse muito bem quem. — Kathleen. Eu não respondi. Eu sacudi Colin e ele gritou com prazer. — Você ama, não ama? — Jane pressionou. — Você a ama. De repente, Eleanor Doyle apareceu na porta. — Tem mais caixas? — Ela perguntou. — Eu vou precisar de pelo menos mais três só para as roupas. — Tem mais algumas lá embaixo. — Eu disse, feliz pela chance de escapar do escrutínio da Jane. — Me siga. Antes de sair do quarto, eu olhei pelo meu ombro e Jane me deu um conhecido sorriso afetado. Havia um jeito fácil de responder a pergunta dela, contudo eu não estava pronto para revelar meus sentimentos pela Kat até que eu realmente conversasse com a Kat primeiro. Eu devia isso a ela e, de qualquer forma, eu podia estar completamente errado. Kat podia estar feliz mantendo as coisas como estavam e eu não queria que todo mundo testemunhasse um golpe mortal no orgulho e no meu coração. Lá embaixo, Kevin já estava fechando algumas caixas com fita adesiva e se ofereceu para começar a colocá-las no sótão. Eleanor e Jane pegaram mais caixas para as roupas e se dirigiram para cima. — Você deve estar com fome. — Eu disse para Colin depois de trocar sua fralda. — Babababa. — Colin respondeu. Eu não sabia se o som tinha algum significado para ele, mas era incrível ouvi-lo tentar. Depois que preparei a mamadeira, eu peguei meu celular na mesa da cozinha. Havia algumas mensagens da Kathleen. Eu estava feliz em saber que tudo tinha ido bem. Ela e Emma tinham ficado muito tempo na minha mente. Sua segunda mensagem me fez sorrir. Assim que ela chegasse à cidade, eu a deixaria encurralada com uma conversa muito importante. Eu só esperava que ela gostasse de ouvir o que eu tinha a dizer. 2 7 H C A P Í T U L O V I N T E E S E I S Kathleen awk Valley provavelmente não parecia muito para pessoas que costumavam ir a lugares mais exóticos. Você tem que dirigir para o norte pela interestadual fora de Phoenix por cento e sessenta quilômetros, depois adentrar a pequena estrada do estado por mais quarenta e oito quilômetros antes de você pegar seu primeiro vislumbre do vale na base das majestosas Montanhas de Hawk. Eu dirigi por um ponto de referência depois do outro, sentindo a doce familiaridade de estar em casa. Havia um pequeno campus da Faculdade de Hawk Valley, depois o velho fórum restaurado, logo antes da avenida principal, Avenida Garner. Eu apertei os olhos enquanto passava pela loja do Nash, imaginando se ele teria ido hoje. Mesmo se ele tiver, grande chance de ele ter saído para ir pegar o Colin. Era por volta das sete da noite, mais tarde do que eu esperava retornar. Emma cochilava no banco de trás com seus braços ao redor da Roxie Jr, como ela batizou o animal de pelúcia da sua avó. Eu não poderia pedir um dia melhor para minha garotinha, mas eu estava aliviada que tinha acabado. No banco ao meu lado, na sacola de compras feita de papel, tinha algumas coisas que a senhora Corbett queria que eu guardasse para Emma. Uma era o livro que elas tinham lido, um dos favoritos de Randall quando ele tinha a idade dela. Também tinha uma caixa cheia de fotos da família Corbett e uma foto de vinte por vinte e cinco centímetros emoldurada do Randall durante seu último ano de ensino médio, apenas alguns anos antes de eu conhecer seu irmão e ele no estado do Arizona. Eu me encontrei imaginando o que Randall diria sobre o dia de hoje, como ele se sentiria sendo pai. Ontem eu solicitei uma mudança na certidão de nascimento de Emma para mostrar o nome verdadeiro do seu pai. Nós dois não terminaríamos juntos, não importava o que houvesse. Apenas não era para ser. Entretanto, talvez o conhecimento da iminente paternidade o teria convencido a procurar a ajuda que ele tanto precisava. Ou talvez não. Em qualquer caso, Randall tinha um coração gentil, por isso eu gostava de pensar que ele teria adorado sua filha se a tivesse conhecido. Era meados do verão e os vestígios da luz do sol permaneciam bem noite adentro. Eu gostava dessa hora do dia, suspensa entre a luz do dia e a escuridão, quando a luz começava a ficar leve e gerava sombras amigáveis. No semáforo na Avenida Garner, eu dei uma olhadinha para trás para espiar a Emma. Nós tínhamos parado para jantar no caminho e ela parecia estar pronta para dormir depois de um dia tão animado. Mas seus olhos estavam abertos agora e ela estava olhando para a janela. — Isso aqui é casa. — Ela disse, soando surpresa e encantada. — Sim, estamos de volta a Hawk Valley. Ela bocejou. — O que a gente vai fazer agora? Eu sabia exatamente o que eu queria fazer agora. — Você gostaria de apresentar Roxie para a Roxie Jr? — Eu perguntei. Seu rosto se iluminou. — Sim! — Bom. É isso que vamos fazer. Eu virei à direita no semáforo, adentrando a vizinhança cheia de antigas casas vitorianas. Houve uma leve pontada de dúvida enquanto eu me aproximava da rua de Nash. Ele não me mandou mensagem de volta hoje e eu não tinha ligado para ele saber que eu passaria aqui. Talvez isso parecesse carente, invasivo. Eu deixei de lado esse pensamento. Eu tinha deixado meu coração fechado para a possibilidade de amar há um bom tempo. Ainda que eu me humilhasse hoje e fosse obrigada a encarar o fato de Nash não se sentir da mesma forma, eu ainda não me arrependeria. Estava na hora de me colocar lá e descobrir o que aconteceria. No entanto, quando eu parei na calçada na frente da casa de Nash, eu olhei duas vezes. — Aquela é a vovó? — Emma perguntou. — É, com certeza parece ser ela. — Eu disse, desligando o motor. Minha mãe estava parada no gramado da frente e segurando Colin enquanto Nash carregava algumas caixas para a mala do Toyota dela. Ela estava rindo. Depois me olhou. Isso foi estranho. Emma não achou. Ela se desafivelou da sua cadeirinha de carro, o que eu já mandei pelo menos setecentas e vinte vezes não fazer, e tentou sair do carro. — Mamãe. — Ela reclamou. — Eu não consigo sair! Eu suspirei e liberei a trava infantil. Emma saltitou pelo gramado da frente da casa de Nash segurando Roxie Jr com uma mão. — Olha o que eu ganhei! Minha outra avó me deu! — Emma segurou o brinquedo como prova. Colin soluçou e olhou para ela com fascínio. Minha mãe pegou o meu olhar enquanto eu caminhava até eles. — Então foi tudo bem? — Ela me perguntou. — Sim. Nós tivemos um dia delicioso, não é, Ems? Emma estava tentando colocar a Roxie Jr. nos braços do Colin. — Eu me diverti. Nash fechou a mala do carro e se dirigiu até nós. Ele estava vestindo jeans desbotados e uma camiseta branca, que definitivamente já tinha visto dias melhores, e ele parecia tão bem que meus joelhos quase cederam. Então ele sorriu para mim e eu tive que me lembrar de respirar. — Você está em casa. — Ele disse. Eu queria correr para ele, pular nos seus braços, enterrar meu rosto no seu pescoço e inalar a quentura da sua pele. — Estou em casa. — Eu disse e nós nos olhamos. Tinha mais calor no nosso olhar mútuo do que continha no planeta Mercúrio. — Bem, — Minha mãe disse. — quem quer pegar esse pequeno cavalheiro? Eu tenho que ir. Isso me lembrou que, em primeiro lugar, eu ainda não entendi por que ela estava aqui. Nash estendeu seus braços para pegar seu irmãozinho. — Obrigado por toda sua ajuda hoje, Eleanor. — Ele disse. — Claro. — Ela disse e deu um beijo na minha bochecha. — Me ligue amanhã, Kat. Eu quero ouvir tudo sobre a visita. — Ela se abaixou para beijar Emma, depois se dirigiu até seu carro e foi embora. Eu virei para o Nash. — O que aconteceu aqui? Nash estava entretido. — Sua mãe e eu ficamos por aqui hoje. Ela é uma senhora muito legal mesmo. — Eu sei que ela é uma senhora legal. — E eu vejo de onde vieram suas habilidades com organização.— Isso não é uma resposta completa para a minha pergunta. — Eu também vejo de onde vieram seus instintos de mandona. — Nash! Ele sorriu e, sem um aviso, colocou uma mão no meu pescoço, puxando-me para um beijo. Nada podia ser tão erótico com nossas crianças olhando, mas o toque dos seus lábios eram o bastante para fazer minha cabeça rodar. Era o suficiente para me calar também, o que provavelmente era o que ele pretendia. — Fizemos um trabalho na casa. — Ele disse. — Você e minha mãe? — E Kevin e Jane. Eu fiquei confusa. — Que tipo de trabalho? — À prova de bebês. Esse garotinho está ficando pronto para se mexer. — Ele estendeu Colin para acima da sua cabeça e o bebê riu com prazer. Nash estava sorrindo quando ele o trouxe de volta. Depois seu sorriso se apagou. — Nós também limpamos o quarto principal. Estava na hora. Mantivemos os itens sentimentais, encaixotamos e guardamos no sótão. Sua mãe levou as caixas cheias de roupas porque ela conhecia uma boa causa que podia usar mais algumas doações. — Entendi. — Eu disse, um pouco surpresa que Nash tinha dado esse passo. Na última vez que eu falei dos pertences do Chris e da Heather, ele me cortou e mudou de assunto. — Onde está Roxie? — Emma quis saber. — Eu quero mostrar a Roxie Jr. para ela. Nash apontou para o cachorro de pelúcia nos seus braços. — Essa é a Roxie Jr.? Emma assentiu. — Eu a amo menos do que a Roxie, mas a amo também. Ele riu. — Roxie ficou no quintal na maior parte do dia, mas eu sei que ela estava esperando você voltar. — Ele estendeu a mão. — Vamos lá. Vamos vê-la. Emma deslizou sua mão pequena por dentro da mão larga do Nash e eles caminharam para o portão de madeira que levava ao quintal. Por um segundo, eu não consegui me mover. Eu só fiquei para trás e os admirei: Nash carregando Colin em um braço enquanto Emma confiantemente permitia que ele a levasse com a outra mão. Eu queria marcar a visão na minha mente para sempre. Nash abriu o portão e olhou pelo ombro. — Você vem? Eu concordei. — Onde mais eu iria? Roxie estava tão feliz que ela chorou e se lançou de pessoa em pessoa à procura de afeto. Emma permitiu que seu rosto fosse lambido e depois correu por toda a grama do quintal enquanto Roxie corria ao redor em círculos. Uma quase tragédia ocorreu quando Roxie agarrou Roxie Jr. pelo pescoço, mas Nash interveio como um relâmpago, retornando o brinquedo a Emma, que estava muito indulgente. — Você não sabe quanto ela ama essa cachorra. — Eu ri quando ele voltou. Ele sentou no sofá almofadado do pátio. — Eu tenho uma ideia. — Ele me olhou de cima para baixo, disparando qualquer outra reação em cadeia no meu corpo. — Sente, Kat. Eu me sentei bem ao lado dele. A luz estava desaparecendo rapidamente agora. Emma era um tornado pequeno e pálido no gramado e Roxie, um redemoinho peludo. — Dia longo. — Eu comentei e esfreguei as costas da minha nuca. Nash balançava Colin em um joelho e chegou mais perto para massagear o lugar para mim. Eu deixei. Ele era muito melhor nisso. — Me conte. — Ele disse. — Mais tarde. — Eu queria conversar sobre outra coisa primeiro. — Por que é que você decidiu fazer isso hoje? Limpar a casa? — Eu te contei. Estava na hora. Eles teriam preferido isso dessa forma. Eles teriam preferido que a vida continuasse. — Chris e Heather? Ele assentiu. Ele estava encarando as sombras do quintal, assistindo minha filha e a cachorra dele. — Além disso, eu preciso abrir espaço. — Para o que? — Novos moradores. — Você vai alugar quarto ou alguma coisa? — Ou alguma coisa. — Não entendi. Ele parou de massagear meu pescoço e se virou para mim com um olhar penetrante. — Nós precisamos conversar. Eu engoli. — Sobre o que? — Eu não estou mais satisfeito com nosso acordo. Eu olhei para baixo, insegura sobre se eu queria ouvir isso ou não. — É sério? — Sim. — Ele me puxou para perto e suavemente pincelou seus lábios sobre os meus, enviando calafrios para cada centímetro do meu corpo. Ninguém mais tinha feito isso comigo. Ninguém mais podia. — Eu quero mais de você, Kat. — Ele disse e enrolou seu braço forte todo ao meu redor. — Eu quero mais de você e eu tenho mais para dar a você. — Você me disse que você não gosta de aborrecimentos. — Eu sussurrei. — Ou complicações. — Você não é nem um nem outro. Eu toquei seu rosto. — O que eu sou? Ele não hesitou. — Minha. Você é minha. Ele acabou de pronunciar as palavras dos meus sonhos. Talvez fosse por isso que eu me encontrei incapaz de falar. Nash estava me observando. — Kat? Eu pisquei. — Eu te amo. — Ele disse. Esse momento é tudo. Ele é tudo. Agora, entretanto, ele estava olhando com um olhar preocupado porque eu fiquei catatônica. — Eu te amo. — Ele repetiu. — Morem comigo. Você e Emma. Você disse que você vai ter que encontrar um novo apartamento em breve. Então more aqui com a gente. Kat, essa casa velha precisa de alguma felicidade. Nós todos precisamos. Colin acenou seus braços no ar. Talvez ele estivesse imitando Emma enquanto ela se exibia no gramado. Talvez ele estivesse tentando dar peso para a conversa. — Nash. — Eu disse e fechei meus olhos. Havia muitos pensamentos correndo pela minha cabeça e eu ainda não tinha palavras. Eu sempre fui ótima com palavras e agora que eu mais precisava delas, elas me abandonaram. Subitamente, eu encontrei as palavras que eu estava procurando. Não era nem um pouco difícil de dizê-las. — Eu também te amo. 2 8 E C A P Í T U L O V I N T E E S E T E Nash la chegou bem na hora. É claro. Kat passou pela porta da Presentes de Hawk Valley com sua bolsa do computador portátil na mão e aqueles cachos desordenados contidos num coque frouxo. Sua longa saia azul- marinho teria parecido modesta em outra mulher, mas na Kat ela destacava a forma da sua bunda incrível e acenava para mim como um convite para aquela deliciosa porta traseira. — Você está pronto para a nossa reunião, senhor Ryan? — Ela perguntou e, do jeito que ela sorriu, eu poderia dizer que ela adivinhou o trajeto dos meus pensamentos. Eu coloquei minha mão ao redor do meu pau e esfreguei apenas o suficiente para ter certeza de que ela entendeu o que eu tinha em mente. — Estou pronto. Kat abaixou sua bolsa, abriu os primeiros dois botões da sua blusa branca, depois libertou o fecho frontal do seu sutiã. Deus a abençoe. E aqueles peitos. Ela me observou enquanto eu caminhava ao redor dela e trancava a porta depois de garantir que o aviso FECHADO ainda estava ali. Nós não abriríamos por mais meia hora e o estudante universitário que ficaria na caixa registradora essa manhã não chegaria até lá. — Não tão descuidado mais. — Ela observou, referindo-se ao fato de que eu nem sempre me incomodava em trancar a porta. Kat abaixou a mão para seu quadril e eu dei uma olhada tentadora em um mamilo. — Eu só não quero nenhuma interrupção. — Eu disse, aproximando-me. Eu estava pronto para colocar minhas mãos nela. Eu corri as palmas das minhas mãos nos seus quadris e ao redor da sua bunda, então eu conseguia me pressionar contra ela. Eu queria que ela sentisse quão duro eu estava. Um pequeno suspiro ofegante que escapou dos seus lábios me contou que ela estava sentindo todos os tipos de calor. Se eu deslizasse minha mão para dentro do cós da saia e continuasse explorando, eu sabia que encontraria uma calcinha úmida e uma carne desejosa. E, veja só, foi exatamente o que eu encontrei. — Porra. — Ela gemeu, lutando contra minha mão, tentando fazer meus dedos irem mais fundo. Eu gostava dela assim: carente e suja. Pronta para me fazer enfiar meu dedo ou fodê-la no meio do corredor cheio de canecas de café e camisetas bregas de Hawk Valley. Só que eu estava no clima de fazer com calma, então eu não fiz nenhum dos dois. Retirei minha mão do meio de suas pernas e, sem dizer nenhuma palavra, eu a direcionei para o escritório. Eu mal tive tempo de fechar a porta antes que Kat tirasse a saia. — Blusa também. — Eu exigi porque sempre exigia isso. Ela finalmente se livrou das suas roupas e sentou no sofá elegante que eu tinha comprado recentemente só