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SOLUÇÃO DE CONFLITOS JURÍDICOS Eduardo Zaffari Revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna Bacharel em Direito Especialista em Direito Ambiental Nacional e Internacional e em Direito Público Mestre em Direito Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin — CRB 10/2147 Z17s Zaffari, Eduardo Kucker. Solução de conflitos jurídicos / Eduardo Kucker Zaffari, Martha Luciana Scholze ; [revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 166 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-522-6 1. Direito. I. Scholze, Martha Luciana. II.Título. CDU 34 Solucoes de Conflitos Juridicos_BOOK.indb 2 15/08/2018 10:35:32 Técnicas negociais utilizadas em mediação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar a importância do emprego das técnicas de mediação. Definir o que é escuta ativa, rapport, parafraseamento, caucus e brainstorming. Identificar casos práticos utilizando as técnicas de mediação. Introdução A mediação foi introduzida no ordenamento jurídico brasileiro como um importante instrumento de pacificação social e um meio alternativo ao Poder Judiciário para resolução de conflitos pela autocomposição. Nesse sentido, a mediação se constitui em técnica negocial e, ao mesmo tempo, emprega técnicas negociais em seu desenvolvimento. O mediador judicial ou extrajudicial pode desenvolver habilidades espe- cíficas para auxiliar no reestabelecimento da comunicação e na realização da autocomposição. Técnicas como a escuta ativa, o rapport, o parafrase- amento, o caucus e o brainstorming são fundamentais para a mediação. O princípio da confidencialidade impede que as mediações tenham seu conteúdo divulgado. Entretanto, ocasionalmente, são divulgados casos práticos em que a mediação resolveu conflitos de forma célere, restaurando o diálogo entre os conflitantes. Tais casos são exemplos que comprovam a eficácia da mediação, sua rapidez e adequação à solução de conflitos. Neste capítulo, você vai estudar a mediação e a importância do em- prego das técnicas negociais para a resolução de conflitos. Você tam- bém vai explorar as técnicas de escuta ativa, rapport, parafraseamento, caucus e brainstorming. Por fim, você vai verificar exemplos de casos que empregaram a mediação com sucesso em detrimento das soluções do Poder Judiciário. Importância do emprego das técnicas de mediação A mediação é reconhecida como um dos mais relevantes meios alternativos de resolução de confl itos (MARCs), também conhecidos como ADRs, da expressão norte-americana alternative dispute resolutions. Ela tem servido como importante instrumento da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos confl itos de interesses no âmbito do Poder Judiciário brasileiro. Introduzida pela Resolução nº. 125, de 29 de novembro de 2010, do Conse- lho Nacional de Justiça (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2010), a mediação ganhou regulamentação especial na Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 2015 (BRASIL, 2015a), o marco legal da mediação, e na Lei nº. 13.105, de 16 de março de 2015, o Código de Processo Civil (CPC) (BRASIL, 2015b). A insatisfação dos jurisdicionados com o Judiciário, decorrente de sua crise devido à lentidão, aos altos custos, à massificação e à falta de recursos materiais e humanos, levou ao incremento dos meios alternativos. A solução judicial nem sempre é cumprida a partir dos meios judiciais tradicionais, o que demonstra que, sem a participação daquele que deve cumprir a obrigação na construção da solução, menores são as probabilidades de eficiência. Ou seja, por meio da desjudicialização, como já se vem admitindo para situações que antes ficavam sob o “monopólio” do Poder Judiciário — como o inventário e o divórcio extrajudiciais —, os conflitos podem ser solvidos de forma célere, pela via negocial. Os conflitos resolvidos pela via consensual tendem a ter maior efetividade, devido ao cumprimento espontâneo das partes que se com- prometem voluntariamente, reestabelecendo-se a comunicação e as relações dos conflitantes a um custo muitas vezes menor. Até mesmo o surgimento das formas alternativas de solução de conflitos se deu fora dos tribunais, como explica Tartuce (2018, p. 160). Diante da in- satisfação dos jurisdicionados, as lides comerciais passaram a ser negociadas diretamente entre os envolvidos, propagando-se para outras áreas de impasse, como nos conflitos sindicais (convenções coletivas, acordos sindicais). A partir dos anos 1970, os norte-americanos institucionalizaram diferentes formas para a resolução dos conflitos e, em Conferência realizada em 1976, o professor emérito da Escola de Harvard Frank Sanders sugeriu que os tribunais america- nos tivessem “várias portas”, o que levou essa forma alternativa de resolução de conflitos a ser designada também de justiça multiportas. Técnicas negociais utilizadas em mediação2 O CPC de 2015 (BRASIL 2015b, documento on-line) estabelece, entre as suas normas fundamentais, que o Estado promoverá a solução consensual dos conflitos: Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defenso- res públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. No entanto, mesmo sendo a solução dos conflitos pela via privada muito mais antiga e tendo estado muito mais tempo nas mãos privadas, a solução pela via negocial é considerada alternativa à jurisdicional, considerando-se a justiça estatal como padrão. Mesmo quando a solução se dá em meio a procedimento judicial, considera-se que a solução por qualquer dos meios preconizados na Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses será alternativa. Um dos pontos fundamentais na mediação, reconhecido em todos os ins- trumentos que tratam sobre esse importante meio de solução de conflitos, é a autonomia de vontade daqueles que participam. A autodeterminação traz à mediação uma maior probabilidade de eficiência e um protagonismo aos conflitantes, responsabilizando-os pelo conflito, pela solução e pelo outro. Há uma valorização do princípio da dignidade da pessoa humana, na medida em que são as próprias partes interessadas que têm o poder de decidir sobre o seu destino, sem a interferência estatal. O marco legal da mediação, Lei nº. 13.140/2015 (BRASIL, 2015a), prescreve como princípio informador a autonomia de vontade das partes, nos termos de seu art. 2º: “A mediação será orientada pelos seguintes princípios: [...] V — autonomia da vontade das partes;”. 3Técnicas negociais utilizadas em mediação O mediador, terceiro imparcial que serve de canal para que as partes pos- sam retomar o diálogo, tem a responsabilidade de empregar todas as técnicas possíveis para que as partes possam construir uma solução para o litígio que mais lhes convenha. Nas palavras de Tartuce (2018, p. 257): As atividades de falar, escutar, questionar e responder devem ser apropriada- mente praticadas pelo terceiro imparcial para promover o diálogo, identificar os interesses envolvidos na relação interpessoal e colaborar para a retomada de conversações produtivas. O § 3º do art. 166 do CPC prescreve expressamente a aplicação de técnicas negociais para a criação de um ambiente favorável à autocomposição. O uso de técnicas negociais no procedimento de mediação, além de recomendável, não compromete a imparcialidade do mediador, o qual as usa para o reesta- belecimento do diálogo. É importante salientar que, na mediação, as técnicas negociais não são utilizadas exclusivamente pelo mediador, mas igualmente pelas partes envolvidas, as quais, mesmo sem treinamento adequado, poderão fazeruso delas a partir da orientação do mediador. A mediação, propriamente dita, é uma técnica de autocomposição do conflito, mas, conforme preceitua Bacellar (2017, p. 122), “a mediação, como um método consensual, não é intuitiva e só funciona se trabalhada com téc- nica. Inclusive, antes ainda de ter início o processo formal, deve haver um planejamento do ambiente”. Assim, antes de iniciado o processo de mediação, o mediador deverá orientar os conflitantes sobre a possibilidade de sessões conjuntas e individuais, sobre o procedimento a ser adotado e, mais impor- tante, sobre os princípios informadores. Não será necessário informar o uso das técnicas negociais, tampouco quais eventualmente serão usadas, pois isso dependerá da necessidade. Além disso, tal informação poderia transparecer aos mediandos uma ausência de informalidade, contrariando uma das principais diretrizes da mediação, a informalidade. Diferentes tipos de mediação são utilizados, dependendo da prática do mediador, do conflito e da finalidade pretendida, não sendo as mesmas exclu- dentes. Bacellar (2017, p. 108) classifica quatro diferentes tipos de mediação, sendo a primeira a mais utilizada: Mediação da Escola de Harvard. Essa modalidade de mediação é con- siderada a mediação clássica e desenvolve-se em fases bem-defi nidas e estruturadas, com base em princípios que buscam desvelar interesses aco- Técnicas negociais utilizadas em mediação4 bertados por posições. Usa as técnicas negociais desenvolvidas pela Escola de Harvard, buscando a solução por meio de ganhos mútuos. Mediação circular-narrativa. Conhecido também como modelo Sara Cobb. Deve-se buscar uma visão sistêmica, com foco não apenas nas pessoas en- volvidas, mas também em suas historicidades e relações sociais pertinentes, pois o confl ito não se dá de forma isolada relacionando-se com outros fatores nem sempre identifi cáveis de imediato. Mediação transformativa. Conhecido como modelo de Bush e Folger, essa forma de mediação busca transformar a atitude adversarial dos envolvidos em uma postura colaborativa, confi ando na capacidade das partes de identifi car os interesses envolvidos e de decidir pelo reestabelecimento do vínculo para, a partir daí, encontrar uma solução que atenda aos interesses de todos os envolvidos. Mediação avaliadora. Essa modalidade se diferencia das demais porque o mediador, depois de cumpridas todas as etapas da mediação e recolhidas todas as propostas de solução criadas pelos envolvidos, emite sua opinião de solução de confl ito, como forma de viabilizar o acordo. Além de consistirem em diferentes técnicas de mediação, a escuta ativa, o rapport, o parafraseamento, o caucus e o brainstorming serão excelentes ferramentas negociais, as quais poderão ser aprendidas pelo mediador e, depois de conquistadas como habilidades, trarão excelentes resultados à mediação. Estudaremos essas técnicas a seguir. O que é escuta ativa, rapport, parafraseamento, caucus e brainstorming As técnicas negociais que podem ser utilizadas na mediação são habilidades que podem ser aprendidas e praticadas para se obter sucesso no processo de negociação, especialmente para o reestabelecimento da comunicação. Técnicas como a escuta ativa, o rapport, o parafraseamento, o caucus e o brainstorming são muito úteis. A escuta ativa é a técnica pela qual o ouvinte busca compreender e se comunicar com base no sentido e no motivo de mensagens verbais e não verbais para a compreensão de informações ocultas na comunicação. Essa técnica parte da ideia de que todos têm a necessidade de ser ouvidos e considerados pelos demais. A boa comunicação é representada pela necessidade que o outro 5Técnicas negociais utilizadas em mediação tem de se expressar. Deve-se escutar a linguagem dos envolvidos como um todo, para que possam ser identificados os interesses em questão, como afirma Spengler (2017, p. 61), que explica que: [...] através dessa técnica, o mediador garante a quem fala que ela está sendo escutada, demonstra aceitação das emoções, permite que as explore, escla- recendo o que realmente sente e por que, além de fisiologicamente estimular a liberação da tensão, deixando-a expressar-se emocionalmente. Escutar ativamente é, antes de tudo, ouvir sem julgar. Para que se pratique uma escuta ativa, faz-se necessário que aquele que a pratica, seja o mediador, seja qualquer dos conflitantes, siga as seguintes orientações: limite a própria fala, escute mais do que fale; esteja interessado e demonstre esse interesse; sintonize-se no outro, concentre-se na pessoa quando ela estiver falando; faça perguntas para esclarecer-se; contenha a ansiedade e não tire conclusões precipitadas; escute ideias, não apenas palavras; desligue-se de suas preocupações; reaja às ideias, e não às pessoas; separe a pessoa do problema e da solução; observe a linguagem não verbal; e peça retorno ( feedback), faça perguntas enquanto fala. Bacellar afirma que estudos realizados na Faculdade de Direito de Harvard comprovaram que a constante reclamação em negociações de que o outro não ouve decorre do fato de que também o reclamante não escuta a pessoa de quem reclama, conforme explica Bacellar (2017, p. 125). As pessoas não ouvem as outras, não por teimosia, mas tão somente porque não se sentem escutadas. Por essa razão, a escuta ativa consiste, muitas vezes, em ficar em silêncio, para que se permita a expressão do outro e a atenção ao que este fala. Rapport, por sua vez, é uma técnica advinda da psicologia, que consiste em criar uma empatia e ligação com a outra pessoa. O mediador, já no início do procedimento, deve criar um rapport para que seja aceito e consiga conduzir a mediação, gozando da confiança dos conflitantes. Cada pessoa terá uma forma de construir um rapport com o outro, mas importa estabelecer um elo de confiança pautado no interesse no outro e no conflito mediado, conforme afirma Spengler Técnicas negociais utilizadas em mediação6 (2017, p. 47). Embora difícil de se definir, posto que representa a construção de um elo subjetivo entre pessoas, Bacellar (2017, p. 180) afirma que: [...] rapport é um relacionamento que se constrói para o bem ou para o mal, de forma positiva ou negativa, respeitosa ou desrespeitosa. Pode representar uma total empatia ou a sua ausência, dependendo como é construído. Trans- parece ser (nossa posição) o grau de qualidade obtido no relacionamento entre as pessoas. Algumas regras auxiliam na construção do rapport, como: o mediador deve se apresentar, dizer quem é e sua qualificação; deve perguntar como as pessoas preferem ser chamadas e dispensar títulos formais, para auxiliar na criação de um bom relacionamento; anunciar, e se comprometer, logo no início do procedimento, com a confidencialidade sobre tudo o que for tratado, para que os conflitantes possam estabelecer com o mediador um vínculo de confiança; não consignar propostas rejeitadas, pois nada auxiliarão e apenas re- lembrarão recusas, passos perdidos, que apenas servirão para quebrar o vínculo de confiança. O modelo aristotélico de comunicação prescrito em Retórica aponta para três elementos da comunicação (ARISTÓTELES, 2005): a pessoa que fala (emissor); o discurso que é falado (mensagem); e a pessoa que ouve (receptor). Todos os modelos desenvolvidos posteriormente apenas o tornaram mais complexo, usando sempre o modelo do filósofo como fundamento. O parafraseamento é uma técnica em que uma pessoa reformula o texto de outra utilizando as próprias palavras, mas mantendo a ideia do outro. Realizado em sua forma autêntica, para que não seja interpretado pelo parafraseado como um deboche ou uma sátira, a paráfrase se constitui em uma importante ferra- menta, que permitirá demonstrar que o receptor da mensagem compreendeu a ideia e que o emissor da ideia está sendo ouvido e compreendido. Isso também 7Técnicas negociais utilizadas em mediação dará um feedback ao emissor,para que ele possa repensar a mensagem, depois de ouvida a ideia de outra forma. Observe que, para que os interlocutores conflitantes não rompam a comu- nicação pela impressão de que um está “roubando a ideia do outro”, e para que o receptor da mensagem não se obrigue imediatamente com a ideia proposta, até ter certeza de que se trata de uma ideia comum, recomenda-se o uso de algumas frases no início de uma paráfrase, como “deixe-me ver se entendi o que você disse”, “se entendi direito, você disse...” ou “ajude-me a entender, você quer dizer que...”. Já o caucus consiste em uma expressão que usualmente se aceita como advinda das reuniões (Conselhos) realizadas pelas tribos norte-americanas. Trata-se da mediação de “sessões privadas/individuais, que consiste em ouvir separadamente uma das partes e depois ouvir a outra, garantindo-se sempre a confidencialidade e a igualdade entre elas”, conforme esclarece Bacellar (2017, p. 127). O art. 19 da Lei da Mediação prescreve ao mediador a possibilidade de reunião com os conflitantes tanto de forma conjunta como de forma individual, momento em que as partes poderão falar com maior desenvoltura. Consta no referido art. que, "No desempenho de sua função, o mediador poderá reunir-se com as partes, em conjunto ou separadamente, bem como solicitar das partes as informações que entender necessárias para facilitar o entendimento entre aquelas”. Tanto o mediador quanto as partes poderão sugerir os encontros individuais, os quais estarão sempre resguardados pela confidencialidade. O que for falado na sessão individual não poderá ser revelado pelo mediador na sessão conjunta, salvo expressa autorização da parte. Segundo a Lei da Mediação, Lei nº. 13.140/2015 (BRASIL, 2015a, documento on-line), nos termos dos §§ 3º e 4º do art. 30, não estão resguardadas pela confidencialidade as seguintes hipóteses: § 3º Não está abrigada pela regra de confidencialidade a informação relativa à ocorrência de crime de ação pública. § 4º A regra da confidencialidade não afasta o dever de as pessoas dis- criminadas no caput prestarem informações à administração tributária após o termo final da mediação, aplicando-se aos seus servidores a obrigação de manterem sigilo das informações compartilhadas nos termos do art. 198 da Lei nº. 5.172, de 25 de outubro de 1966 — Código Tributário Nacional. Técnicas negociais utilizadas em mediação8 Outra importante técnica negocial utilizada na resolução de conflitos é o chamado brainstorming, termo que pode ser traduzido para o português como geração de opções. Essa tempestade de ideias sugere a criação conjunta da maior quantidade de alternativas possíveis para o conflito, estimulando-se a criatividade e valorizando todas as alternativas sugeridas como opções que, ao final, poderão contribuir para a solução final eventualmente adotada. Os conflitantes vão sugerindo novas ideias (relacionadas ao conflito), umas sobre as outras, independentemente de serem a solução final, como em um jogo de criatividade. Essa técnica permite que as partes possam ter ideias a partir das propostas dos demais. Casos práticos utilizando a mediação Um exemplo de aplicação prática da mediação foi a assinatura, pela então vice-governadora do Estado do Ceará, Izolda Cela, em 13 de junho de 2018, do Termo de Cooperação para a implantação de Núcleos de Mediação Escolar em 19 municípios daquele estado. O termo de cooperação, assinado entre o Poder Público, o Ministério Público Estadual, a organização internacional WeWorld e os dezenove municípios tem como objetivo levar o processo de mediação para as escolas, para o tratamento de confl itos entre os alunos. A iniciativa, que já contava com outros vinte e um municípios participantes, leva ao ambiente escolar a preocupação com o tratamento de todas as formas de violência e incentiva o aprendizado e a prática de uma cultura de não violência, com a manutenção dos laços afetivos. Segundo a vice-governadora (TEIXEIRA, 2018, documento-online): Queremos comprometer a todos na melhoria do projeto educacional das crian- ças. Reconhecemos o efeito das práticas de mediação, mediação de conflitos, das práticas ligadas a uma metodologia da construção de uma cultura de paz, e uma educação que contribua para o respeito ao outro. Precisamos reduzir, cada vez mais, os indicadores perversos relacionados à violência e outros tipos de agravos. E, com o que for debatido aqui, temos a certeza que vão contribuir no âmbito da escola e isso é necessário para uma escola melhor. A prática da mediação escolar, que usualmente conta com a participação de professores, educadores, advogados e promotores, permite que os conflitos surgidos nas escolas e as práticas de bullying sejam tratados, diminuindo-se os índices de violência e evasão escolar. 9Técnicas negociais utilizadas em mediação A Lei nº. 9.870, de 23 de novembro de 1999 (BRASIL, 1999, documento on-line), que trata sobre as anuidades escolares, art. 4º, prevê a possibilidade de mediação entre estabelecimentos de ensino e associações de pais e alunos: Art. 4º A Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, quando necessário, poderá requerer, nos termos da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e no âmbito de suas atribuições, comprovação documental referente a qualquer cláusula contratual, exceto dos estabe- lecimentos de ensino que tenham firmado acordo com alunos, pais de alunos ou associações de pais e alunos, devidamente legalizadas, bem como quando o valor arbitrado for decorrente da decisão do mediador. Outro exemplo de aplicação da mediação foi uma disputa envolvendo duas empresas de transporte em razão do descumprimento de um acordo comercial, que foi notícia no jornal Estadão, em maio de 2018, por ter sido solucionada por meio de um processo de mediação. O acordo que pôs fim ao litígio encerrou um conflito sobre um valor de R$ 23 milhões e foi intermediado por uma câmara privada do Estado de São Paulo (AMORIN, 2018). A solução desse conflito empresarial, inclusive, surpreendeu pela rapidez com que a disputa foi resol- vida: em apenas dois dias, mesmo estando uma das empresas em recuperação judicial. Outra grande vantagem obtida pelas partes foi a confidencialidade prescrita pela mediação ao processo compositivo. As empresas conseguiram compor o conflito em curto espaço de tempo e sem expor dados importantes a concorrentes, enquanto as demandas que tramitam no Poder Judiciário não estão, em regra, resguardadas pelo sigilo. Tartuce (2018, p. 364) traz como exemplo de aplicação bem-sucedida dos processos de mediação um país. Segundo a autora: A França, país de larga tradição no uso da mediação, contou com a adoção da técnica não apenas de forma institucionalizada de distribuição estatal de justiça, mas no âmbito das próprias empresas. Estas passaram a contratar mediadores para tratar de problemas que as envolvessem (especialmente no tocante a questões ambientais e relações de consumo). O município de Santos, interior de São Paulo, é outro exemplo de emprego da mediação em larga escala, já que inaugurou, em junho de 2018, um espaço exclusivo para mediação dentro do prédio da Prefeitura Municipal, destinado à Técnicas negociais utilizadas em mediação10 mediação de casos de perturbação ao sossego, brigas entre vizinhos e queixas de barulhos, dentre outros conflitos mais voltados ao dia a dia dos munícipes. Segundo notícia veiculada no A Tribuna On-line, em 21 de junho de 2018, no ano de 2017 foram realizadas 367 mediações no projeto, das quais 300 terminaram em acordo. No ano de 2018, até a veiculação da notícia, das 189 mediações, 170 terminaram em acordo (SANTOS..., 2018). Os membros do projeto, vinculados à Ouvidoria, Transparência e Controle, foram treinados pela Ordem dos Advogados do Brasil, da Subseção de Santos, no ano de 2017. 1. A mediação é uma importante técnica de autocomposição do litígio. Ela foi introduzida no Brasil por qual razão? a) Porque o PoderJudiciário não tem jurisdição para decidir sobre certas questões. b) Porque a mediação não auxilia no reestabelecimento da comunicação. c) Porque, por meio da mediação, os conflitantes podem reestabelecer a comunicação e se responsabilizar pela solução do conflito, desafogando o Poder Judiciário brasileiro. d) Porque foi introduzido em outros países, e o legislador achou interessante copiar ideias vindas de outros lugares. e) Porque a mediação não se aplica aos casos que poderiam ser decididos pelo Poder Judiciário. 2. O sucesso da mediação exige pessoas capacitadas. O emprego de técnicas é considerado: a) uma obrigatoriedade, pois é previsto em lei. b) inadmissível, pois tornaria a mediação mecânica. c) eticamente não desejável. d) uma prática que nada auxilia os conflitantes. e) recomendável, embora não obrigatório. 3. A escuta ativa é uma técnica negocial. Pode-se dizer dessa técnica que: a) ela é desnecessária, pois é evidente que as pessoas ouvem as outras. b) apenas deve ser utilizada com conflitantes surdos. c) é uma técnica muito útil, que pode ser incorporada no dia a dia de todas as pessoas. d) é utilizada apenas por teóricos da comunicação. e) não deve ser usada, restringindo-se aos casos em que não haja conflito. 4. Dentre as técnicas negociais usualmente utilizadas na mediação, o parafraseamento consiste em: a) repetir o que o outro diz, sem distorcer qualquer palavra. b) demonstrar ao emissor da mensagem que o 11Técnicas negociais utilizadas em mediação receptor compreendeu a mensagem transmitida. c) uma técnica que jamais deve ser utilizada, pois parece uma sátira com o outro. d) uma técnica que apenas atrapalha a comunicação. e) uma técnica ultrapassada, que deve deixar de ser usada na mediação. 5. A "tempestade de ideias", conhecida como brainstorming, é uma técnica negocial que permite: a) que os conflitantes decidam procurar o Poder Judiciário. b) atrapalhar a negociação, em razão da confusão que será gerada. c) que o mediador interrompa o processo de mediação. d) que os conflitantes fiquem apenas com as suas próprias idei as. e) a criação de alternativas ao impasse. AMORIN, J. R. N. Avanços na mediação empresarial. Estadão, São Paulo, 5 mai. 2018. Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/avancos-da- -mediacao-empresarial/>. Acesso em: 20 jul. 2018. ARISTÓTELES. Retórica. Lisboa: Impressão Nacional Casa da Moeda, 2005. BACELLAR, R. P. Mediação e arbitragem. São Paulo: Saraiva, 2017. BRASIL. Lei Federal n°. 9.870, de 23 de novembro de 1999. Dispõe sobre o valor total das anuidades escolares e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 nov. 1999. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9870.htm>. Acesso em: 20 jul. 2018. BRASIL. Lei Federal nº. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 mar. 2015b. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 20 jul. 2018. BRASIL. Lei nº. 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre particu- lares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 jun. 2015a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140. htm>. Acesso em: 20 jul. 2018. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (Brasil). Resolução n°. 125, de 29 de novembro de 2010. Diário da Justiça [do] Conselho Nacional de Justiça, Brasília, DF, n. 219, 1º dez. 2010, p. 1-14. Disponível em: <https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/15958>. Acesso em: 20 jul. 2018. Técnicas negociais utilizadas em mediação12 https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/avancos-da- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9870.htm http://www.planalto.gov/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140. https://juslaboris.tst.jus.br/handle/20.500.12178/15958 SANTOS inaugura sala para mediação de conflitos. A Tribuna On-line, 21 jun. 2018. Disponível em: <http://www.atribuna.com.br/noticias/noticias-detalhe/cidades/santos- -inaugura-sala-para-mediacao-de-conflitos/?cHash=609c74ac553ea120720be3d446a f0e41>. Acesso em: 20 jul. 2018. SPENGLER, F. M. Mediação de conflitos: da teoria à prática. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2017. TARTUCE, F. Mediação nos conflitos civis. Rio de Janeiro: Forense, 2018. TEIXEIRA, M. T. Ceará pacífico: Vice-governadoria e 19 municípios assinam acordo de cooperação para criação de núcleos de meditação escolar. Portal de Integração de Independência e Região, Ceará, 14 jun. 2018. Disponível em: <http://www.ceara.gov. br/2018/06/13/vice-governadoria-e-19-municipios-assinam-acordo-de-cooperacao- -para-criacao-de-nucleos-de-mediacao-escolar/>. Acesso em: 20 jul. 2018. 13Técnicas negociais utilizadas em mediação http://www.atribuna.com.br/noticias/noticias-detalhe/cidades/santos- http://www.ceara.gov/ Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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