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GESTÃO DA 
SUSTENTABILIDADE 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Aline Maria Biagi 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Abordaremos aqui a questão da sustentabilidade e desenvolvimento 
sustentável já como um conceito consolidado e vamos discutir sobre as medidas 
propostas para que seja colocado em prática pelos diversos atores. O tema se 
internacionalizou e fez com que muitas nações entrassem em acordos para a 
manutenção do ambiente natural. Assim, trataremos da Rio+20 e alguns 
desdobramentos dessa conferência, tanto por um viés político de acordos 
internacionais quanto por um caráter de gestão voltado a uma sustentabilidade 
empresarial. 
CONTEXTUALIZANDO 
Na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento 
(Rio-92), o conceito de desenvolvimento sustentável se consolidou. Porém, 
ainda estava muito vaga a forma como se alcançaria esse objetivo. Com o 
amadurecimento das discussões, muitos outros acordos e tratados foram 
assinados e deram forma a metas para que a sustentabilidade se efetivasse. 
Vamos conhecer alguns deles a partir de agora. 
TEMA 1 – CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS NO BRASIL: ECO 92 E RIO+20 
Dando continuidade às convenções da década de 1970 e 1980, a 
Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) 
aconteceu no Rio de Janeiro em 1992. O objetivo foi estabelecer uma parceria 
mundial pela criação de novos níveis de cooperação entre os Estados e os 
setores-chave das sociedades a partir de acordos internacionais que respeitem 
os interesses de todos e protejam a integridade do meio ambiente (ONU, 1992; 
Malheiros; Coutinho; Philippi Jr., 2012). 
Nessa conferência, a comunidade internacional se envolveu no debate 
ambiental, e ao fim dos debates 182 governos se comprometeram formalmente 
com a mudança de padrões de desenvolvimento. Dentre os documentos 
elaborados estão os 27 princípios que compõem a “Declaração do Rio sobre 
Meio Ambiente e Desenvolvimento” e adoção da “Agenda 21”, que constitui o 
Programa de Ação para o Desenvolvimento Sustentável Global (Dias, 2015). 
Um dos compromissos firmados na Rio-92 foi que cada país definisse a 
própria agenda. Nesse sentido, o Brasil, por meio da Comissão de Políticas de 
 
 
3 
Desenvolvimento Sustentável (CPDS), internalizou a Agenda 21 Nacional, com 
vistas à elaboração de políticas públicas nos diferentes níveis de governo, cuja 
ação é considerada fundamental para a construção da sustentabilidade no país. 
A Agenda 21 Global surgiu com a intenção de voltar a atenção aos 
problemas ambientais do momento e preparar o mundo para os desafios do 
próximo século. Trouxe um compromisso político direcionado ao 
desenvolvimento e à cooperação ambiental, com foco em estabelecer 
estratégias, planos, políticas e processos nacionais, o desenvolvimento pelos 
governos, o apoio de organizações internacionais, regionais e sub-regionais, da 
participação pública e de ONGs (CNUMAD, 1992). O documento é composto de 
quatro seções: (1) As dimensões sociais e econômicas; (2) A conservação e 
gestão dos recursos para o desenvolvimento; (3) Fortalecimento do papel dos 
grupos principais; e (4) Meios de implementação (CNUMAD, 1992). 
Um dos fundamentos da Agenda 21 Global é que ela se converta em 
muitos planos nacionais, representando a individualidade de cada território; 
dessa forma, milhares de cidades do mundo criaram a sua Agenda 21 Local. E 
justamente pelo fato de a Agenda 21 valorizar a participação e cooperação das 
autoridades locais – pois possibilita maior pertencimento e engajamento de 
diferentes atores na temática –, incentivou-se que as autoridades implementem 
em cada país “uma Agenda 21 local tendo como base de ação a construção, 
operacionalização e manutenção da infraestrutura econômica, social e ambiental 
local, estabelecendo políticas ambientais locais e prestando assistência na 
implementação de políticas ambientais nacionais” (Dias, 2015, p. 52). 
A Agenda 21 Nacional brasileira, elaborada pela Comissão de Políticas 
de Desenvolvimento Sustentável (CPDS) e da Agenda 21 Nacional, foi 
coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e, na ocasião, composta por dez 
membros, com paridade entre a sociedade civil e o governo. Foi dividida em seis 
temas centrais: i) agricultura sustentável; ii) cidades sustentáveis; iii) 
infraestrutura e integração regional; iv) gestão dos recursos naturais; v) redução 
das desigualdades sociais; e vi) ciência e tecnologia para o desenvolvimento 
sustentável (CPDS, 2000). Outro documento iniciado na Rio-92 (e concluído em 
2003) foi a Declaração da Carta da Terra. 
Depois da Rio-92, outras conferências foram realizadas visando à 
renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, à 
 
 
4 
definição de novos prazos, à avaliação do progresso e das lacunas, até então, 
além da inclusão de novos temas. Vamos citar aqui a Rio+10 e a Rio+20. 
A primeira delas, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável 
(Rio+10), foi realizada em 2002 em Johanesburgo, África do Sul. Ela reconheceu 
a necessidade de aumentar o desenvolvimento em todos os níveis, integrando 
aspectos econômicos, sociais e ambientais, uma vez que a interligação destes, 
e o uso e desenvolvimento de tecnologias voltadas a esse fim, é um modo de se 
alcançar o desenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões 
(Malheiros; Coutinho; Philippi Jr., 2012; ONU, 2002; ONU, 2012). 
A segunda delas, Rio+20, foi a Conferência das Nações Unidas sobre 
Desenvolvimento Sustentável (CNUDS), realizada no Rio de Janeiro em 2012, 
20 anos depois da Rio-92. Ali foram privilegiados dois temas: “(a) uma economia 
verde no contexto do desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza; 
e (b) o quadro institucional para desenvolvimento sustentável” (Dias, 2015, p. 
112). 
A Rio+20 gerou o documento final “O futuro que queremos”, que foi 
dividido em seis capítulos: (1) Nossa visão comum; (2) Renovação dos 
compromissos políticos; (3) Economia verde; (4) Estrutura institucional; (5) 
Estrutura de ação; e (6) Meios de implementação. Ele reafirmou compromissos 
de conferências anteriores. Outro resultado desse evento foi a proposição de um 
grupo de trabalho voltado a elaborar os “Objetivos do Desenvolvimento 
Sustentável que teriam como meta o ano de 2030 e passariam a vigorar a partir 
de 2015, em substituição aos ODM” (Dias, 2015, p. 112). 
TEMA 2 – PACTO GLOBAL 
O Pacto Global é uma iniciativa lançada em 2000 por Kofi Annan, então 
secretário-geral das Nações Unidas. Com base em informações coletadas pelo 
Pacto Global – Rede Brasil, trata-se de uma chamada para que empresas 
alinhem suas estratégias e operações aos dez princípios universais nas áreas 
de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção e desenvolvam 
ações que contribuam para o enfrentamento dos desafios da sociedade. 
Esses princípios são derivados de documentos como: Declaração 
Universal dos Direitos Humanos; Declaração da Organização Internacional do 
Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho; Declaração do 
Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; e Convenção das Nações Unidas 
 
 
5 
Contra a Corrupção. As organizações que integram o Pacto Global se 
comprometem a seguir esses dez princípios (Quadro 1) em sua rotina. 
Quadro 1 – Os dez princípios que compõem o Pacto Global 
Direitos 
humanos 
1 As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de 
direitos humanos reconhecidos internacionalmente 
2 Assegurar-se de sua não participação em violações 
desses direitos 
Trabalho 
3 As empresas devem apoiar a liberdade de associação e 
o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva 
4 A eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou 
compulsório 
5 A abolição efetiva do trabalho infantil 
6 Eliminar a discriminação no emprego 
Meio ambiente 
7 As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva 
aos desafiosambientais 
8 Desenvolver iniciativas para promover maior 
responsabilidade ambiental 
9 Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias 
ambientalmente amigáveis 
Anticorrupção 10 As empresas devem combater a corrupção em todas as 
suas formas, inclusive extorsão e propina 
Fonte: elaborado com base em Pacto Global – Rede Brasil, [s.d.]. 
Atualmente, o Pacto Global é considerado a maior iniciativa de 
sustentabilidade corporativa do mundo, “com mais de 16 mil participantes, entre 
empresas e organizações, distribuídos em 70 redes locais, que abrangem 160 
países” (Pacto Global – Rede Brasil, [s.d.]). Vale destacar que não se trata de 
instrumento regulatório, código de conduta obrigatório ou mesmo um fórum para 
policiar as políticas e práticas gerenciais, mas sim uma iniciativa voluntária que 
proporciona diretrizes visando à promoção do crescimento sustentável e da 
cidadania por meio de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras. 
No Brasil, o Pacto Global da ONU teve início em 2003 e é a terceira maior 
rede local do globo, contando com 1,5 mil membros. Os mais de 40 projetos 
conduzidos em território nacional se inserem nos temas: água e saneamento; 
alimentos e agricultura; energia e clima; direitos humanos e trabalho; 
anticorrupção; e engajamento e comunicação. Tais projetos são desenvolvidos 
por meio das Plataformas de Ação (Ação pela Água, Ação pelo Agro Sustentável, 
Ação pelos Direitos Humanos, Ação pelo Clima, Ação contra a Corrupção, Ação 
 
 
6 
pelos ODS e Ação para Comunicar e Engajar) e dos programas internacionais. 
Essas iniciativas contam com o envolvimento de centenas de empresas, assim 
como agências da ONU e agências governamentais. 
O Pacto Global constitui importante medida para se alcançar o 
desenvolvimento sustentável, e quem o integra assume o compromisso de 
contribuir para que se atinjam os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 
(ODS). 
A seguir, vamos discutir alguns dos principais compromissos entre nações 
voltados à melhoria da questão ambiental, social e econômica no planeta. 
TEMA 3 – ACORDO DE PARIS 
As mudanças climáticas fazem parte de uma problemática ambiental que 
coloca a humanidade diante da questão das fronteiras planetárias, que afeta as 
interações tanto entre os sistemas naturais quanto dos seres humanos. Trata-se 
de problemas complexos com causalidades múltiplas e difusas, o que dificulta 
uma atribuição de responsabilidade (por exemplo, poluidor-pagador), e suas 
consequências não se limitam a fronteiras nacionais (Souza; Corazza, 2017). 
Na busca por uma mitigação dessa problemática ambiental, as Nações 
Unidas apontam que medidas devem ser tomadas conjuntamente pelos países. 
Isso se institucionalizou com a Convenção-Quadro das Nações Unidas para as 
Mudanças Climáticas (UNFCCC – sigla em inglês para United Nations 
Framework Convention for Climate Change), proposta na Rio-92 (Souza; 
Corazza, 2017). 
Nessa perspectiva, e com o objetivo de combater as mudanças climáticas, 
a UNFCCC promoveu diversas rodadas internacionais de negociações nas quais 
os Estados nacionais eram chamados de “partes” e “deveriam se comprometer 
com ações voltadas às finalidades de mitigação e de adaptação, além de 
negociar os meios tecnológicos e financeiros para o seu alcance” (Souza; 
Corazza, 2017, p. 54). 
Essas negociações fizeram com que delegados dos Estados nacionais se 
reunissem nas Conferências das Partes (COPs) que, desde 1995, ocorrem 
periodicamente e buscam acordos em relação a definições de metas globais, o 
que fazer e como fazer para alcançar esse objetivo, quando e com quais 
recursos (Souza; Corazza, 2017). 
 
 
7 
Em 1997, a Conferência das Partes em Quioto foi um marco nessa relação 
entre economia e ambiente natural e demandou maiores estudos sobre a 
temática. Desse encontro resultou o Protocolo de Quioto, que definia a 
necessidade de cortes nas emissões de gases de efeito estufa (GEE). 
Essas negociações se intensificaram, e o relatório elaborado pelo Painel 
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC – sigla em inglês para 
Intergovernmental Panel on Climate Change) e publicado em 2007 confirmava 
cientificamente 
que as ações antrópicas afetam os aumentos das emissões de GEE e 
as suas concentrações na atmosfera, como também influencia nas 
mudanças climáticas do planeta. Além disso, o Relatório afirma que se 
os aumentos da temperatura global ultrapassarem de 1,5 a 2,5, o risco 
de extinção de espécies de vegetais e animais aumentará 
aproximadamente de 20 a 30%. (Souza; Corazza, 2017, p. 55) 
O Protocolo de Quioto corresponde à ideia de atribuições justas de 
responsabilidade e de formas de mitigação e compensação dessas emissões. 
Muitas dificuldades surgiram nas negociações, algumas delas eram: 
a situação particular da Rússia; a não ratificação do Protocolo de Quito 
pelos Estados Unidos; a saída do Canadá das negociações em 2011; 
e os conflitos envolvidos na necessidade de se estabelecerem metas 
obrigatórias de redução de gases de efeito estufa pelos chamados 
países emergentes [...].(Souza; Corazza, 2017, p. 64) 
Em 2009 houve certa desestabilização devido ao não engajamento de 
grandes emissores e a não ratificação do Protocolo por essas partes, além da 
determinação dos EUA em desempenhar um papel em sua discussão, 
questionando a interpretação europeia do regime e apontando para o 
estabelecimento de metas determinadas voluntariamente pelas Partes 
– as NDCs [sigla em inglês para Nationally Determined Contributions]. 
Essa nova abordagem para a ação climática foi consolidada no Acordo 
de Paris. (Souza; Corazza, 2017, p. 69) 
Com foco em um novo acordo, as partes puderam por aproximadamente 
dois anos decidir e apresentar suas NDCs para que em 2015 fossem discutidas 
durante a 21ª Conferência das Partes (COP-21) da UNFCCC. Durante esse 
encontro realizado em Paris, selaram-se as negociações sobre essas novas 
metas e abordagens e se elaborou o documento chamado Acordo de Paris. 
Algumas determinações inseridas incluem: 
• deter o aumento da temperatura global média do planeta abaixo de 2 ºC 
acima dos níveis pré-industriais e empenhar esforços para limitar o 
aumento da temperatura a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais, 
 
 
8 
reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e impactos 
da mudança climática; 
• aumentar a habilidade para adaptação aos impactos adversos das 
mudanças climáticas e estimular a resiliência climática e o 
desenvolvimento com baixas emissões de GEEs, de maneira que não 
ameace a produção de alimentos; 
• tornar os fluxos monetários consistentes com um caminho direcionado à 
redução das emissões de GEEs e ao desenvolvimento resiliente do ponto 
de vista climático (Souza; Corazza, 2017, p. 70). 
Mesmo com as diversas divergências entre as partes sobre o Acordo de 
Paris, o documento pode ser considerado um sucesso político pela formação de 
um regime climático internacional, além do estabelecimento de que em cada 
contribuição nacional os NDCs devem englobar, entre outros, a mitigação das 
mudanças climáticas, a promoção de medidas adaptativas e a geração de 
oportunidades de emprego (Souza; Corazza, 2017). 
O relatório Global Sustainable Investment Review (2020) destaca que, até 
o ano de publicação, 195 partes assinavam o documento e, destas, 189 
ratificavam o acordo, reiterando que este tem agido como força motriz de 
diversas legislações estaduais para limitar as emissões de gases de efeito estufa 
e estabelecer metas líquidas de emissão zero. 
Mesmo que o Acordo de Paris seja um acordo entre nações, investidores, 
proprietários de ativos e gestores de ativos estão cada vez mais interessados 
em alinhar seus portfólios com a meta dele e monitorar e limitar as emissões de 
GEEs ou são obrigados a fazê-lo em alinhamento com as mudanças na 
legislação estadual. 
Além do Acordo de Paris, outra função voltada a estabelecermetas das 
Nações Unidas visando garantir o bem-estar das futuras gerações está 
contemplada nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e nos 
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que vamos abordar a seguir. 
TEMA 4 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO (ODM) 
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) foram elaborados em 
2000 durante encontro na sede das Nações Unidas que reuniu dirigentes de todo 
o globo para consolidar o acordo de combate à extrema pobreza e demais 
 
 
9 
problemas da sociedade. Nessa ocasião, 189 nações firmaram o compromisso 
que se denominou Oito Objetivos do Milênio, com metas a serem atingidas até 
2015. Em 2010, tais objetivos foram renovados, com expectativa de progresso 
no cumprimento do que foi estabelecido a partir da participação social e da 
definição de atividades práticas (Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019; Dias, 2015). A 
representação gráfica dos oito objetivos é apresentada na Figura 1. 
Figura 1 – Representação dos oito ODM 
 
Fonte: ODM Brasil, [s.d.]. 
Dias (2015) aponta que os ODM alcançaram discretos progressos. Podem 
ser vistas uma diminuição da pobreza e a melhoria da água potável, porém não 
se atingiram as metas definidas para 2015. Outro tema que avançou foi a 
educação, considerando que vários países já estabelecem o ensino primário 
universal. A saúde obteve êxito na diminuição da mortalidade infantil, freando o 
avanço de pandemias e melhorando a cobertura de campanhas de vacinação. 
O Brasil obteve êxito em algumas dessas metas. Segundo o Relatório 
Nacional de Acompanhamento, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica 
Aplicada (Ipea) em 2014, e dados do site do governo federal – ODM Brasil –, o 
avanço das metas ocorreu graças à participação social e a uma série de políticas 
públicas que trouxeram impactos positivos sobre os ODM. A seguir, vamos 
indicar os oito objetivos e os resultados do país. 
• Objetivo 1 (redução da pobreza – acabar com a fome e a pobreza extrema 
até 2015 à metade do que era em 1990): foi atingido pelo Brasil em 2002, 
e em 2008 atingiu-se um quarto da porcentagem de pobres quando 
comparado a 1990. 
 
 
10 
• Objetivo 2 (atingir o ensino básico universal: educação básica e de 
qualidade para todos): avanços significativos foram observados no que se 
refere a acesso e rendimento escolar de crianças e jovens. Em 2009, 
95,3% de crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos frequentavam o 
ensino fundamental, e no mesmo ano 75% dos jovens que haviam 
atingido a maioridade terminaram o ensino fundamental (ODM BRASIL, 
[s.d.]). 
• Objetivo 3 (igualdade entre os gêneros e a autonomia das mulheres): em 
relação à educação, a meta foi atingida, e meninas e mulheres nesse 
período foram maioria em todos os níveis de ensino. Porém, mesmo com 
melhoras nos indicadores, a desigualdade entre mulheres e homens ainda 
ocorre no mercado de trabalho, nos rendimentos e na política, além dos 
altos números de violência doméstica. 
• Objetivo 4 (reduzir a mortalidade na infância): a taxa de mortalidade 
infantil (menores de 1 ano) por mil nascidos vivos passou de 29,7, em 
2000, para 15,6, em 2010. Vale destacar que foi menor que a meta 
prevista para 2015, que era de 15,7 por mil nascidos vivos. 
• Objetivo 5 (melhorar a saúde materna): o Brasil obteve mais dificuldades 
e, mesmo com avanços, não alcançou a meta de reduzir em três quartos, 
entre 1990 e 2015, a razão da mortalidade materna. 
• Objetivo 6 (combater a Aids, a malária e outras doenças): houve queda 
nos números em relação à epidemia de Aids, ao controle da malária e à 
tuberculose; programas nacionais de controle dessas doenças foram 
necessários. 
• Objetivo 7 (garantir a sustentabilidade ambiental): na busca pela 
qualidade de vida e respeito ao meio ambiente, o país criou em 2004 o 
Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na 
Amazônia Legal, no qual a redução do desmatamento colaborou para se 
diminuir a emissão de gases do efeito estufa. Além disso, a quantidade de 
Unidades de Conservação Ambiental e a homologação de terras 
indígenas contribuem para os números positivos em relação à 
biodiversidade. As metas relativas ao abastecimento de água e ao 
esgotamento sanitário foram atingidas. 
 
 
11 
• Objetivo 8 (estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento): 
políticas públicas foram implementadas no sentido de aumentar a inclusão 
social, realizando esforços para a eficiência da gestão municipal. 
Mesmo que os ODM não tenham sido atingidos em sua totalidade, “a 
definição de metas possibilitou o direcionamento de recursos das nações para 
questões específicas” (Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019, p. 15). Segundo os 
autores, isso resultou em benefícios práticos e maior aproximação da academia 
à temática, com a elaboração de diversos trabalhos acadêmicos visando “propor 
melhorias reais em algum aspecto dos objetivos ou para mensurar impactos e 
melhorias ocorridos” (Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019, p. 15). 
Entretanto, conforme o fim do prazo para o alcance das metas se 
aproximou, a ONU realizou um processo de consulta em relação “às prioridades 
de pessoas, organizações privadas e públicas e comunidade científica em geral 
no que diz respeito à construção de novos objetivos e desempenho” (Oliveira; 
Cezarino; Liboni, 2019, p. 15-16). Isso levou à reformulação dos objetivos e 
metas no chamado Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – também 
conhecido como Agenda 2030. 
TEMA 5 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) 
Durante a Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento 
Sustentável, ocorrida em 2015, as negociações para a elaboração e definições 
dos novos objetivos e metas foram concluídas, com a denominação Objetivos de 
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Estes passaram a conduzir as políticas 
públicas e as atividades socioparticipativas até 2030 (Oliveira; Cezarino; Liboni, 
2019). 
Os ODS substituíram os ODM, que estavam vigentes até então. Agora 
são 17 objetivos, com 169 indicadores: 
Objetivo 1 – Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em 
todos os lugares. Objetivo 2 – Acabar com a fome, alcançar a 
segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura 
sustentável. Objetivo 3 – Assegurar uma vida saudável e promover o 
bem-estar para todos, em todas as idades. Objetivo 4 – Assegurar a 
educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover 
oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Objetivo 
5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e 
meninas. Objetivo 6 – Assegurar a disponibilidade e gestão 
sustentável da água e saneamento para todos. Objetivo 7 – Assegurar 
o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia 
para todos. Objetivo 8 – Promover o crescimento econômico 
 
 
12 
sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e 
trabalho decente para todos. Objetivo 9 – Construir infraestruturas 
resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e 
fomentar a inovação. Objetivo 10 – Reduzir a desigualdade dentro dos 
países e entre eles. Objetivo 11 – Tornar as cidades e os 
assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e 
sustentáveis. Objetivo 12 – Assegurar padrões de produção e de 
consumo sustentáveis. Objetivo 13 – Tomar medidas urgentes para 
combater a mudança do clima e seus impactos. Objetivo 14 – 
Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos 
recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. Objetivo 15 – 
Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas 
terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a 
desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda 
de biodiversidade. Objetivo 16 – Promover sociedades pacíficas e 
inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso 
à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveise 
inclusivas em todos os níveis. Objetivo 17 – Fortalecer os meios de 
implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento 
sustentável. (Oliveira; Cezarino; Liboni, 2019, p. 16-17, com base em 
Nações Unidas Brasil, [S.d.]). 
Figura 2 – Representação dos 17 ODS 
 
Fonte: Brasil UN. 
Saiba mais 
O canal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no 
YouTube criou uma sequência de 17 vídeos abordando sobre cada um dos ODS. 
Essa é uma boa oportunidade de conhecê-los melhor. O material está disponível 
em: <https://www.youtube.com/watch?v=Fev2MHAa-
qo&list=PLAvMMJyHZEaFnbAHb_0limdkGL5Z_HBIi&index=1&t=0s>. Acesso 
em: 17 nov. 2022. 
O acompanhamento e a avaliação do desenvolvimento e a evolução das 
metas de cada ODS e da Agenda 2030 como um todo são fundamentais e têm 
sido feitos de forma sistemática no nível global, regional, nacional. Para tal, o 
 
 
13 
Fórum Político de Alto Nível sobre o Desenvolvimento Sustentável é a instância 
responsável pela supervisão em nível global dos ODS e recebe o suporte da 
Assembleia Geral e do Conselho Econômico e Social da ONU (ODM BRASIL, 
[s.d.]). 
Para que os resultados aconteçam, é necessário um esforço conjunto que 
envolve países, empresas, instituições e sociedade civil, procurando assegurar 
os direitos humanos e enfrentar os maiores desafios de nosso tempo. Nesse 
foco, o “privado tem um papel essencial nesse processo como grande detentor 
do poder econômico, propulsor de inovações e tecnologias influenciador e 
engajador dos mais diversos públicos – governos, fornecedores, colaboradores 
e consumidores” (Pacto Global, [s.d.]). 
Além dos acordos globais que buscam um equilíbrio planetário e um 
desenvolvimento sustentável, legislações e instituições também desempenham 
papel importante, tema que será abordado futuramente. 
TROCANDO IDEIAS 
A partir dos dez princípios que norteiam o Pacto Global, podemos pensar 
algumas medidas efetivas para que as empresas avancem nessas metas. Que 
tal criarmos uma tabela de práticas a impulsionar esse pacto? 
NA PRÁTICA 
A partir dos 17 ODS, vamos visitar o site da ONU Brasil – 
<https://brasil.un.org/pt-br/sdgs> (acesso em: 17 nov. 2022) – e conhecer as 169 
metas. Que tal elaborar o rascunho de um projeto socioambiental que inclua pelo 
menos duas delas? Veja um exemplo: uma formação profissionalizante de 
mulheres em situação de vulnerabilidade (ODS 5 – igualdade de gênero – e ODS 
8 – trabalho decente). Em seguida, podemos conversar com os colegas sobre 
os trabalhos feitos. No site do Pacto Global – <https://pactoglobal.org.br/cases> 
(acesso em: 17 nov. 2022) – você pode conferir alguns casos e se inspirar para 
desenvolver sua ideia. 
FINALIZANDO 
A Rio-92 foi um importante marco em nossa história de união internacional 
para a preservação ambiental e resultou em muitos compromissos e esperança 
 
 
14 
em relação ao futuro. A Agenda 21 foi uma forma de as nações e municípios 
pensarem como a sustentabilidade melhor se encaixava em cada território. 
Ao longo do tempo, essas metas e compromissos se renovaram, e alguns 
problemas se intensificaram. O desenvolvimento econômico demandou medidas 
a serem aplicadas nas corporações para um diálogo diferenciado com a 
realidade empresarial. O agravamento das questões climáticas levou a medidas 
mais específicas para diminuição dos GEEs. Assim, o diálogo e a cooperação 
se tornaram peças-chaves nesse processo. 
Atualmente, os ODS, fruto das primeiras metas e discussões presentes 
nos ODM, são uma grande referência na busca pela sustentabilidade global. Sua 
efetivação com a sociedade é um processo central que implica a parceria entre 
todos os atores envolvidos. 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio ambiente e 
Desenvolvimento. Agenda 21 Global. 1992. Brasília: Ministério do Meio 
Ambiente, 2019. Disponível em: 
<http://www.conexaoambiental.pr.gov.br/sites/conexao-
ambiental/arquivos_restritos/files/documento/2019-
05/agenda_21_global_integra.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2022. 
CPDS – Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 
21 Nacional. Agenda 21 brasileira: bases para discussão. Brasília: Ministério 
do Meio Ambiente; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2000. 
Disponível em: 
<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/8457/mod_resource/content/1/ 
bases_discussao_agenda21.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2022. 
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