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ASSOCIATIVISMO E 
COOPERATIVISMO
Prof. Me. ANDRÉ LUIZ DELGADO CORRADINI
1
Reitor
Márcio Mesquita Serva
Vice-reitora
Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva
Pró-Reitor Acadêmico
Prof. José Roberto Marques de Castro
Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária
Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva
Pró-reitor Administrativo
Marco Antonio Teixeira
Direção do Núcleo de Educação a Distância
Paulo Pardo
Coordenadora Pedagógica do Curso
Ana Lívia Cazane
Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico
B42 Design
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos 
que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A 
violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Universidade de Marília 
Avenida Hygino Muzzy Filho, 1001 
CEP 17.525–902- Marília-SP
Imagens, ícones e capa: ©envato, ©pexels, ©pixabay, ©Twenty20 e ©wikimedia
G915b Sobrenome, Nome autor
 Titulo Disciplina [livro eletrônico] / Nome completo autor. - 
Marília: Unimar, 2020.
 PDF (XXX p.) : il. color.
 ISBN XXX-XX-XXXXX-XX-X
 1. palavra 2. palavra 3. palavra 4. palavra 5. palavra 6. 
palavra 7. palavra 8. palavra I. Título.
 CDD – 610.6952017
2
005 Aula 01:
017 Aula 02:
024 Aula 03:
036 Aula 04:
047 Aula 05:
057 Aula 06:
065 Aula 07:
073 Aula 08:
082 Aula 09:
093 Aula 10:
102 Aula 11:
111 Aula 12:
120 Aula 13:
127 Aula 14:
136 Aula 15:
145 Aula 16:
Conceitos e Definições 
Associativismo Rural 
Fundamentos para uma Parceria Eficiente 
Dificuldades do Associativismo 
Os Destaques das Ações Coletivas 
Modalidade de Associativismo 
Grupos Formais e Grupos Informais 
Cooperativismo Rural 
Principais Diferenças entre Cooperativismo e 
Associativismo
Organização Cooperativista 
Planejamentos em Cooperativas 
Gestão Estratégica em Cooperativas 
Cooperativismo e Negócio Rural 
Perspectivas para Cooperativas Rurais Brasileiras 
Casos de Sucesso no Cooperativismo Brasileiro 
Associativismo e Cooperativismo no Cenário 
Brasileiro
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4
01
Conceitos e Definições
5
Introdução
No mercado de trabalho, onde somos colocados à prova todos os dias, a gente vale o
quanto sabe. Engana-se quem pensa que é só no campo prático que se aprende o
necessário, que a teoria não ajuda em nada. Mas como colocar em prática aquilo que
não entendemos o que é e como funciona? Pois é, antes da prática vem a teoria.
A prática sem teoria é deficitária. Precisamos conhecer sobre aquilo que faz parte da
nossa atividade profissional. Por isso, esta aula será destinada a refletir sobre os
conceitos e as definições que dizem respeito a muitas atividades proporcionadas pelo
curso que você escolheu.
Agronegócio
O agronegócio respondeu por 21,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2019
(CEPEA, 2020, s/p). Ou seja, de cada R$ 10,00 da riqueza produzida naquele ano, R$
2,00 vieram do agronegócio. E o setor emprega praticamente um em cada três
trabalhadores do país. Não é pouca coisa. Por isso, que tal entender o que significa
agronegócio e o que ele engloba?
O termo deriva do inglês agribusiness, criado em 1957, pelos economistas John Davis e
Ray Goldberg (MENDONÇA, 2015), e consiste na integração da agricultura a setores da
indústria, começando pelos fornecedores de insumos usados na produção agrícola,
passando pelo processamento da produção até chegar à distribuição (RUFINO, 1999).
A Fundação de Economia e Estatística, vinculada ao governo do Estado do Rio Grande
do Sul, pontua a diferença entre agropecuária e agronegócio:
Enquanto a agropecuária está centrada nas atividades realizadas no
âmbito da propriedade rural, o conceito de agronegócio — de base
empresarial ou familiar — engloba toda a cadeia produtiva: antes da
porteira, dentro da porteira e depois da porteira da propriedade
rural (FEE, 2015).
6
Figura 1 - O que é agronegócio?
Fonte: FEE – Produção: FEE (NPM – CIC).
Assim, agronegócio é um conceito que engloba toda a cadeia produtiva, descrito na
Figura 1 em três fases:
1. antes da porteira, produção e fornecimento de insumos, máquinas e
equipamentos e serviços especializados;
2. dentro da porteira, preparo e manejo de solos, tratos culturais, irrigação,
colheita e criação animal;
3. depois da porteira, transporte, armazenagem, industrialização, distribuição e
comercialização (FEE, 2015).
7
Está evidente que o agronegócio é um campo da economia que promove a interação
dos três setores: primário (agricultura), secundário (industrialização das matérias-
primas, vacinas, fornecedores diversos, etc.) e terciário (transporte, serviços de
crédito, serviços veterinários, comercialização dos produtos, etc.).
Associativismo
A vida em sociedade é cheia de desafios. Nos bairros, por exemplo, têm vizinhos
chatos, violência, buracos na rua, iluminação pública deficitária. Sozinho seria difícil
resolver esses problemas todos. Por isso, os vizinhos se juntam para criar as
associações de moradores, para ter mais poder de negociação com as instâncias
públicas de poder. Esse é o espírito, se juntar para superar as dificuldades ou obter
benefícios mútuos.
“Associativismo é qualquer iniciativa formal ou informal que reúne um grupo de
organizações ou pessoas com o objetivo de superar dificuldades e gerar benefícios
econômicos, sociais, científicos, culturais ou políticos” (ROMEU, 2002). Desse modo,
“revela a crença de que juntos é possível encontrar soluções melhores para os
desafios e conflitos que a vida em sociedade apresenta” (SALOMON, 2009 apud CNI,
2013, p. 9).
Em sentido amplo, o associativismo reporta-se à livre organização de
pessoas, sem fins lucrativos, com o intuito de buscar o
preenchimento de necessidades coletivas ou o cumprimento de
objetivos comuns, por meio da cooperação. Um significado mais
específico do termo associativismo refere-se à prática social da
criação de associações, como entidades jurídicas, formais ou
informais, reunindo pessoas físicas ou organizações para a
representação e a defesa de interesses dos associados (SALOMON,
2009 apud CNI, 2013).
A essência do associativismo está na cooperação movida por interesses coletivos,
embora ninguém precise abrir mão da individualidade e da autonomia, o que o
converte numa “forma de realização de objetivos comuns e, ao mesmo tempo, de
aprendizagem de atitudes compatíveis com os ideais de uma sociedade mais
sustentável” (CNI, 2013).
8
Acesse o link: Disponível aqui
Algumas associações de bairro estão investindo em tecnologia e formas
criativas para atrair os moradores e continuar fiscalizando o poder público e
melhorar a qualidade devida. Outras até criaram cartão fidelidade para
valorizar o comércio local. Leia a reportagem da Folha de S. Paulo.
Cooperativismo
As coisas não andavam bem para os trabalhadores ingleses no século XIX. As
condições de trabalho eram péssimas, com baixos salários e jornadas diárias de 16
horas. A Revolução Industrial piorou a situação, com demissões em massa devido à
mecanização da produção até então artesanal. Foi neste cenário de crise que surgiu
uma ideia inovadora na cidade de Rochdale, em 1844, no interior da Inglaterra.
Sem dinheiro para comprar o básico, 27 homens e uma mulher, a maioria tecelões, se
uniram para montar o seu próprio armazém. A ideia era comprar alimentos em
grande quantidade obtendo, assim, preços melhores, e dividir de forma igual entre
todos. Nascia a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale (Rochdale Society of
Equitable Pioneers), movimento alternativo e de oposição ao capitalismo que viria a se
chamar cooperativismo (SALES, 2010, p. 25).
A prática do cooperativismo é um contraponto entre os extremos do
capitalismo e do socialismo, cria uma forma de emancipação e
resgate da cidadania social e econômica dos que naquele tempo
eram explorados, alienados da produção em série, e hoje àqueles
que são deixados pelo caminho em nome de uma economia
globalizada e neoliberal (SALES, 2010, p. 33-34).
9
https://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/morar/2017/12/1941820-associacoes-de-bairro-se-modernizam-com-aplicativo-e-cartao-fidelidade.shtml
Daí a Organização das Cooperativas Brasileiras defender a ideia de que o
cooperativismo não se resume a um modelo de negócios, é também uma filosofia de
vida para transformar o mundo num lugar mais justo e com melhores oportunidades
para todos. “O cooperativismo substitui a relação emprego-salário pela relação
trabalho-renda. Em uma cooperativa, o que tem mais valor são as pessoas e quem
dita as regras é o grupo” (OCB, s/d).
O cooperativismo é uma forma de somar capacidade dentro de um
mundo de concorrência. É uma forma de preservar a força
econômica e de vida dos indivíduos de um mesmo padrão e tipo, com
objetivos comuns e com as mesmas dificuldades. A cooperativa quase
sempre surge em momentos de dificuldades e da consciência de
fragilidade do homem dentro do mundo em que atua (SALES, 2010, p.
24).
O mundo aprendeu com os tecelões ingleses de Rochdale, que a partir de uma
proposta simples demonstraram que as pessoas, quando se juntam, são capazes de
produzir mais do que produziriam individualmente. Segue a lógica do “todos
constroem e ganham juntos” (OCB, s/d). O cooperativismo é hoje uma importante
força motora da economia global.
10
Economia Solidária
Ao criarem a primeira cooperativa moderna, em oposição ao capitalismo industrial, os
tecelões ingleses de Rochdale também inauguraram a economia solidária em
resposta à pobreza e ao desemprego gerados pela mecanização dos meios de
produção. As cooperativas eram a tentativa de recuperar trabalho e autonomia a
partir dos valores de igualdade e democracia do movimento operário (SINGER, 2002).
Nesse contexto, a economia criativa cresceu no lastro das transformações no mundo
do trabalho, a partir da década 1970, com a crise de modelos de produção que
resultaram em exclusão do mercado formal de trabalho, além da crise do Estado de
Bem-Estar Social e a ascensão do projeto neoliberal que aumenta a exclusão social,
que agrava o ciclo da pobreza e enfraquece os mecanismos de proteção social
(AZAMBUJA, 2009).
Assim, as iniciativas de Economia Solidária atingem aqueles que
estão excluídos ou em vias de exclusão do mercado formal de
trabalho e, também, pessoas historicamente excluídas pertencentes
às classes populares, que buscam alternativas para geração de renda
(AZAMBUJA, 2009, p. 283).
Como o autor expõe, essas iniciativas assumem formas as mais variadas, a exemplo
de cooperativas que atuam em vários setores da economia, pequenas empresas
familiares ou comunitárias, bancos populares, clubes comunitários de troca, entre
outras atividades econômicas que não seguem a lógica capitalista (AZAMBUJA, 2009).
A empresa solidária antagoniza a empresa capitalista, porque nega a separação entre
o trabalho e a posse dos meios de produção. Nesta, o poder de mando está nas mãos
do capitalista, que financia o negócio, controla os meios de produção e tem como
único fim obter o maior lucro possível sobre o capital investido, enquanto o capital da
empresa solidária pertence aos que nela trabalham (SINGER, 2002).
Ao contrário da economia capitalista, a economia solidária só acontece se houver
igualdade entre aqueles que se associam para produzir, comerciar, consumir ou
poupar (SINGER, 2002). De modo que a receita de sucesso é a cooperação entre iguais
11
(associados) em vez de um contrato entre desiguais (patrões e empregados). Sobre
isso, o autor observa:
Na cooperativa de produção, protótipo de empresa solidária, todos
os sócios têm a mesma parcela do capital e, por decorrência, o
mesmo direito de voto em todas as decisões. [...] Ninguém manda em
ninguém. E não há competição entre os sócios: se a cooperativa
progredir, acumular capital, todos ganham por igual. Se ela for mal,
acumular dívidas, todos participam por igual nos prejuízos e nos
esforços para saldar os débitos assumidos (SINGER, 2002, p. 9-10).
A empresa solidária não dá lucro, porque sua finalidade básica não é essa. Mas não é
só isso que a distingue. Também há diferenças na distribuição do excedente de
receita no fim do ano, chamado de sobra, empresa solidária e de lucro na empresa
capitalista. Nesta, a decisão cabe à assembleia de acionistas, em geral poucas
pessoas, enquanto na primeira são os sócios que decidem sobre a destinação das
sobras (SINGER, 2002).
O capitalismo divide a sociedade basicamente em duas classes: a dos que
possuem bens e capital e a dos que (por não dispor de capital) vendem sua
força de trabalho à primeira. O resultado é competição e desigualdade. Já a
economia solidária preconiza a propriedade coletiva ou associada do capital.
12
Autogestão e Heterogestão
Existem duas formas clássicas, e antagônicas, de gerir um negócio. Numa delas,
poucos mandam e muitos obedecem; na outra, prevalece a ausência de relações de
subordinação nos processos de produção e na divisão de trabalho. Uma busca
expandir-se visando à maximização do lucro a um número reduzido de pessoas, a
outra procura se apropriar dos meios de produção e redistribuir a riqueza para o
conjunto dos trabalhadores.
A heterogestão é forma de organização da produção e do trabalho
onde o lucro é apropriado pelos capitalistas individuais ou por
sociedades anônimas. A perspectiva é a maximização dos ganhos
obtidos por processos de extração de mais-valia absoluta, mais-valia
relativa ou combinação entre estas duas formas de apropriação
(VENTURA NETO, 2010, p. 12).
Como diz o autor, historicamente, esse modo de organização da produção de
riquezas cria desigualdades e injustiça social, pois os resultados não são distribuídos
de forma proporcional à classe trabalhadora, reduzida a uma força de trabalho, é
13
destinado só o necessário para sua subsistência. Já a autogestão se baseia num
sistema em que não há patrão e todos os envolvidos decidem de forma democrática
tudo o que for relacionado à empresa e à produção.
A autogestão é outro processo de organização da produção e do
trabalho, no entanto, sob esta perspectiva de gestão solidária, as
sobras são distribuídas pelo conjunto dos trabalhadores por meio de
processo de compartilhamento das decisões do que produzir, como
produzir e a forma de repartição dos dividendos, de modo que possa
haver equidade social (TAUILE, 2005 apud VENTURA NETO, 2010, p.
12).
As cooperativas são a mais clara representação da economia solidária, focadas na
autogestão. Isso não significa dizer, no entanto, que não se possam encontrar indícios
de heterogestão em organizações autogestárias. Não reconhecer isso pode “ofuscar a
compreensão de como autogestão e heterogestão se inter-relacionam em
empreendimentos da economia solidária”(BAPTISTA, 2012, p. 19).
14
Heterogestão ao contrário de Autogestão é caracterizada por uma
administração hierárquica, isto é, formada por vários níveis de autoridades.
Já a autogestão implica em reduzir esses níveis hierárquicos na organização,
para que as relações sejam horizontais.
Apesar de o termo autogestão ser considerado como uma alternativa nova
ao sistema capitalista, já foi discutida e experimentada há muito tempo.
De acordo com Guillerm e Bourdet (1976), Pierre-Joseph Proudhon (1809-
1865) pode ser considerado o “pai” da autogestão. Proudhon foi filósofo,
político e economista francês e um dos principais teóricos do anarquismo.
Fez críticas à sociedade capitalista e propôs uma sociedade autogerida.
Defendeu a criação de associações operárias de produção, em que as
empresas deveriam ser autogeridas e de propriedade coletiva dos
trabalhadores.
Nesta linha de pensamento, para Vieira (2006, p. 5) o conceito de autogestão
é:
um modelo de organização em forma de empreendimento
coletivo onde os colaboradores interagem nas atividades
produtivas, serviços e administração com o poder de
decisão sobre questões relativas ao negócio e ao
relacionamento social das pessoas diretamente envolvidas.
Esse tipo de gestão pode ser considerado uma das diretrizes da Economia
Solidária, na qual os grupos são organizados a partir da premissa das
cooperativas que visa à solidariedade, à igualdade, à justiça e à autogestão.
15
Caro aluno, com base no exposto nesta aula, espero que você tenha compreendido os
conceitos e as definições aqui aplicados ao assunto Associativismo e Cooperativismo.
Espero você na próxima aula.
Bons estudos!
16
02
Associativismo Rural
17
Introdução
O político e pensador francês Alexis de Tocqueville foi o primeiro a tratar do
fortalecimento da democracia a partir do associativismo como organização autônoma
da sociedade civil, na obra “A democracia na América”, publicada em 1835. “A América
é o país do mundo em que se tirou maior partido da associação e em que se aplicou
esse poderoso meio de ação a uma diversidade maior de objetos” (TOCQUEVILLE,
2005, p. 219).
Uma das maneiras de impedir que o regime democrático liberal se
degenere é a união dos indivíduos que individualmente são fracos
para a realização de ações coletivas, por meio do associativismo, ou,
como Tocqueville denomina, da arte da associação (GANANÇA, 2006,
p. 6 – grifo nosso).
Este é apenas um dos aspectos do associativismo, que não se esgota em uma
atividade, apenas. Cabe um mundo de possibilidades dentro das definições dos
dicionários, que falam de combinação, junção, união, agrupamento de pessoas para
um fim ou interesse comum. Sobre essa diversidade de atuação falaremos na aula 9,
o que nos interessa agora são as associações criadas no espaço rural.
“O associativismo rural consiste em uma atividade organizacional coletiva que tem
como finalidade conquistar benefícios comuns para os sujeitos que a compõe, sem
nenhum fim lucrativo” (LISBOA; ALCANTARA, 2019, p. 23). Então, esse modelo de
organização social não pode ser reduzido apenas a atividades econômicas, embora
isso seja um erro bastante comum nas tentativas de defini-lo.
As práticas organizacionais coletivas no campo se constituem como
importante vetor no que diz respeito à percepção e busca de direitos.
Assim, pode-se afirmar que essa prática associativa é fruto da
constante luta social no espaço rural por melhores condições de vida,
por um reconhecimento que proporcione certa integração no cenário
social, econômico e cultural (LISBOA; ALCANTARA, 2019, p. 23).
18
No Brasil, as associações rurais estão mais presentes nos municípios com predomínio
de pequenas propriedades privadas e são compostas de agricultores familiares,
buscando a autonomia dos produtores e a sua inserção no mercado econômico. Elas
funcionam como uma estratégia de sobrevivência, diante da falta de incentivos para a
produção e das adversidades climáticas, como sempre acontece na Região Nordeste.  
Sabourin (2009) identifica a existência, no Brasil, das três formas clássicas de
organização profissional agrícola: o sindicato, a cooperativa e a associação de
produtores. Segundo o autor, a associação é o modelo de organização de agricultores
que mais se desenvolveu a partir da década de 1990. Isso se deve à conjunção de três
fatores:
a necessidade de as comunidades de poder contar com representações
jurídicas;      
a atuação de atores externos, tais como a Igreja, as ONGs, os serviços de
extensão rural e os projetos públicos;
a existência de apoios ou financiamentos reservados para projetos associativos
ou comunitários (SABOURIN, 2009, p. 97).
Não foi por acaso que esse crescimento se intensificou nos anos 1990, quando se
discutia mais fortemente o enfrentamento da questão agrária no país. Nesse
contexto, mais do que uma forma de organização com vistas a melhorar a produção e
a comercialização, o associativismo acabou se convertendo em uma ação política.
Não se pode ignorar, também, que as associações constituem um dos
mecanismos pelos quais os produtores familiares buscam respostas
para as demandas no seu cotidiano e, em maior ou menor grau,
questionam a ordem dominante (BESERRA, 2011, p. 42).
Para usar uma expressão que está na moda, o associativismo é um meio de
empoderamento do homem do campo. Isso porque “o trabalho associativo e a ação
organizada da população podem levar o agricultor familiar a sair da passividade e
escapar da tradicional dominação” (BESERRA, 2011, p. 43). Desse modo, numa
sociedade desigual e marcada pelo conflito, o associativismo significa a oportunidade
de inclusão desses novos atores à sociedade.
19
Com o princípio da descentralização institucionalizado na 
Constituição Federal de 1988 abre-se um espaço à participação da 
população através de diferentes mecanismos, nos quais se incluem 
as associações de pequenos produtores rurais (BESERRA, 2011, p. 43-
44).
Como salienta a autora (Beserra, 2011), a união de pequenos produtores em torno de
uma associação e sua consequente valorização pelos entes estatais é uma alternativa
ao combate à pobreza no campo. Esse reconhecimento pode ser medido, inclusive,
por meio do aparato jurídico em favor dos agricultores, o que foi construído ao longo
das últimas décadas.
O associativismo ganhou tamanha importância no Brasil que foi parar na lei maior do
país. O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 assegura a plena liberdade de
associação. E não para aí. O artigo 174 da Carta Magna garante apoio e estímulo ao
cooperativismo e outras formas de associativismo.
Ao construírem o texto constitucional depois de mais de duas décadas de uma
ditadura que reprimiu as liberdades individuais e a livre manifestação, os legisladores
procuraram assegurar esses direitos em cláusula pétrea da nossa lei maior. O
disposto no artigo 174 é o reconhecimento de que a participação do cidadão em
associações é uma das formas mais diretas e eficazes de decidir sobre as questões
que lhe dizem respeito.
Considerando o dispositivo constitucional, o Estado não faz mais do que a sua
obrigação ao incentivar o associativismo e outras formas de organização social. Não
se trata de favor, portanto. A Constituição assegura os direitos, mas são as leis que
irão estipular em quais termos eles deverão ser cumpridos. Para fazer cumprir esses
direitos, temos dois importantes dispositivos do Executivo federal.
A Portaria n.º 129, de 4 de julho de 2019, estabelece o programa de governo “Brasil
Mais Cooperativo”, instituindo uma política de governo ao reconhecer a necessidade
de oferecer condições de organização da agricultura familiar, do associativismo e do
cooperativismo rural, considerando sua importância para o agronegócio brasileiro.
Já o Decreto n.º 10.253, de 20 de fevereiro de 2020, ao reorganizar os cargos do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, manteve o apoio ao
associativismo e ao cooperativismo já previsto em legislações anteriores, desde o
início da década de 1990.
20
Acesse o link: Disponível aquiO vídeo a seguir mostra um caso de sucesso de uma Associação de
mulheres empreendedoras da região de Buriti.
Assista, vale a pena.
Terceiro Setor
A primeira associação criada no Brasil teve inspiração na experiência de Portugal. Foi
em 15 de julho de 1811, quando o governador da Capitania da Bahia, dom Marcos de
Noronha e Brito teve a ideia de instalar na praça de Salvador, uma instituição
semelhante às existentes em Lisboa e Porto, as duas maiores cidades portuguesas
(PORTO FILHO, 2011).  
Com a Associação Comercial da Bahia surgia no Brasil o embrião do que um século e
meio depois viria a se chamar terceiro setor. O primeiro setor é constituído pelo
Estado (os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), o segundo é formado pelos
entes privados com fins lucrativos (o mercado) e o terceiro setor são as organizações
privadas sem fins lucrativos prestadoras de serviços públicos, chamadas de ONGs
(organizações não governamentais).  
No Brasil, as associações são consideradas pessoas jurídicas de direito privado,
segundo o artigo 44 do Código Civil (BRASIL, 2002). Apenas fundações e associações
representam o terceiro setor, embora no momento da constituição do negócio as
21
https://www.youtube.com/watch?v=cuBAbZMqvEE
personalidades jurídicas incluem ainda cooperativa de trabalho, organizações
religiosas, partidos políticos e sociedades (atividade comercial ou empresarial com
fins lucrativos).
Fonte: Disponível aqui
As associações ocupam o vazio deixado pelo Estado na atenção às questões
sociais, e então, temos o princípio jurídico-filosófico da subsidiariedade. Isso
acontece quando o Estado se posiciona de forma subsidiária à sociedade e
atua apenas quando ela não tiver condições de atender às suas demandas
por conta própria.
22
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/giria-e-jargao-a-lingua-mudaconforme-situacao.htm
Da secura à riqueza, um caso de sucesso.
Sabe o clichê “terra arrasada”? Ele bem caberia ao semiárido nordestino, a
zona mais seca do país, dada a escassez que castiga a região desde sempre.
Mas tem gente se juntando para mudar isso. Um pedaço importante do
semiárido baiano tem feito bonito na produção agrícola do MATOPIBA,
acrônimo resultante das siglas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e
Bahia.
A porção baiana desta nova fronteira agrícola inclui nove municípios, entre
eles Barreiras e seus 155 mil habitantes (IBGE, 2019). Um dos catalisadores
do sucesso que vem do campo é a Associação de Agricultores e Irrigantes da
Bahia (Aiba) que saltou de 16 associados na sua fundação, em 1990, para
1.300 nas três décadas seguintes. Passou a congregar 95% da força
produtiva da região, com 2,25 milhões de hectares plantados.
A Aiba é uma das organizadoras da Bahia Farm Show, feira anual de
negócios e tecnologia agrícola realizada na cidade de Luís Eduardo
Magalhães. Na edição 2019, a feira atingiu a marca de R$ 1,9 bilhão em
volume de negócios, assumindo a segunda posição de vendas por visitantes
no país em eventos de agronegócio.
Caro aluno,   nesta aula começamos a construção de um conhecimento mais
específico sobre o associativismo rural.
Espero que você tenha compreendido os conteúdos aqui trabalhados.
Bons estudos!
23
03
Fundamentos para 
uma Parceria Eficiente
24
Introdução
Os modelos de negócios estão mudando, assim como a forma de interagir com o
consumidor. Os aplicativos de entrega, por exemplo, dão uma ideia das
transformações no mercado de trabalho e no mundo corporativo. Para funcionar, o
serviço de entrega via aplicativo precisa firmar parceria com uma rede de
fornecedores. Se o iFood, o Rappi ou o Uber Eats não fizerem isso, a pizza não chega
em sua casa.
São os novos tempos e as novas formas de parcerias em um mundo mais
competitivo. Nesse contexto, são muitos os motivos para estabelecer alianças entre
empresas ou outros tipos de organizações. Essas parcerias visam a otimizar custos,
expandir as atividades, agregar valor às marcas ou para ir além e gerar um novo
negócio.
As alianças podem se tornar uma importante arma competitiva, por meio da
cooperação entre organizações empresariais ou não. A vantagem inicial é que ela
pode ser firmada de forma rápida e com pouco investimento financeiro. O princípio
de uma parceria é que cada parte irá oferecer o que tem de melhor, em complemento
à outra. Assim, os pontos fortes de uma compensam os pontos fracos da outra.
O sucesso de uma parceria vai depender das bases com que será feita, devendo ser
bom para os dois lados. Antes mesmo de ficarem atentas aos movimentos do
mercado (algo essencial), as partes precisam ser transparentes sobre os seus
objetivos e a sua cultura de trabalho.
Para qualquer tipo de parceria, a sinergia entre as partes envolvidas
é de extrema importância para o sucesso da aliança. Divergências de
gestão, diferenças de cultura, dificuldade de entendimento entre os
executivos de ambos os lados são comuns. Por isso, levantar estas
dificuldades antes da consolidação é fundamental não apenas para
a sobrevivência, mas também para o efetivo sucesso da aliança
(FLAMIA, 2001, p. 12).
Desenvolver a confiança mútua é um problema das parcerias, em especial quando se
trata de compartilhar tecnologia, que pode ser a razão do sucesso de uma empresa
em seu segmento de mercado (FLAMIA, 2001). Significa abrir mão da exclusividade
25
desta tecnologia, mas, como pontua o autor, compartilhar o conhecimento é essencial
em uma aliança estratégica, seja qual for.
“Conhecer e desenvolver confiança e espírito de companheirismo é muito importante
não somente para o sucesso da parceria, mas para a manutenção da vida das
empresas” (FLAMIA, 2001, p. 28). Portanto, antes de ir adiante “é muito importante
que as empresas conheçam seus possíveis parceiros, seu histórico de negociação, sua
reputação, seus reais objetivos, suas forças e fraquezas e, principalmente,
desenvolver confiança mútua” (FLAMIA, 2001, p. 28).
As alianças podem ocorrer entre empresas de um mesmo setor, mas que competem
em mercados diferentes, ou entre empresas de segmentos distintos cujos serviços
são complementares. Neste último caso, tem a ver com os aplicativos de entrega que
acabamos de ver. Eles não fazem parte da linha de produção, mas fazem a
distribuição.
Há três formas clássicas de parcerias empresariais, conforme descrito por Flamia
(2001, p. 5):
Parcerias acionárias: aliança estratégica, mas com uma participação acionária;
Franquias: empresa-mãe fornece licença de uso de marca e proporciona às
licenciadas o acesso às novas tecnologias e novos produtos;
Joint ventures: alianças entre duas ou mais indústrias com a criação de uma
nova entidade independente, cuja propriedade, responsabilidades, riscos e
lucros são divididos para cada organização participante.
O jornalista Geoffrey James elaborou uma lista de dicas para estabelecer parcerias
melhores com base em uma entrevista com Ed Rigsbee, autor do livro The Art of
Partnering (A arte de fazer parcerias). Confira a lista no Quadro 01:
26
Quadro 01: Dicas para estabelecer boas parcerias
1. Ceda
parte do
controle
Estabelecer parcerias significa que você estará vulnerável aos
fracassos do seu parceiro. Ainda que goste de estar no controle,
terá de compartilhar conhecimento sobre sua limitação e algumas
fraquezas da empresa.
2. Entenda
seus
pontos
fortes e
fracos
Antes de considerar uma parceria, é preciso entender o que você
e sua empresa podem trazer para a negociação e, claro, o que
você precisa que o parceiro traga.
3. Escolha
o parceiro
certo
Procure empresas ou profissionais que tenham fraquezas que
sejam as suas forças e vice-versa. Se você tem ótimos produtos,
mas pouca experiência em vendas, procure um negócio que tenha
produtos medianos, mas uma história de sucesso em vendas.
4. Chegue
a um
consenso
Defina no acordo quem vai fazer o que e quando vai fazê-lo. Se a
parceria é formal, precisa de contrato. Mesmo informal, é
importante um documento com as atividades, expectativas e
responsabilidades de cada parceiro.
5. Adote
um código
de ética
Aregra central aqui é ser o parceiro que você gostaria de ter. A
ética é o que vai segurar essa parceria. E será ainda mais
importante quanto maior for o risco envolvido no negócio.
6. Faça
mais do
que o
acordo
As parcerias de sucesso envolvem confiança. A melhor maneira de
aumentar o nível de confiança é entregar um pouco mais do que
você disse que entregaria.
7. Seja
paciente
Se os problemas começarem a surgir, não se entregue à raiva ou à
frustração. Faça um esforço para ajudar seu parceiro. Evite levar
desavenças para os tribunais. Isso pode custar caro.
8.
Monitore e
A má comunicação leva parcerias ao fracasso. Faça um esforço
para que as duas partes possam monitorar a relação nos níveis
27
Fonte: adaptado de Geoffrey James (in SEBRAE, 2014).
meça micro e macro. Se um desafio aparecer, os dois poderão trabalhar
juntos para ultrapassá-lo.
9.
Comemore
sempre
Dê “combustível emocional” à parceria. Conforme ela progredir,
você e a outra parte precisarão investir tempo e energia para
manter e fortalecer o relacionamento. Celebre a cada conquista
importante da parceria.
Do Fio de Bigode à Legislação
Houve um tempo em que negócios eram firmados “no fio do bigode”. Nem precisava
assinar nada, bastava dizer “está feito” e o negócio estava feito – mas dependendo do
negócio, era preciso fazer os registros legais, claro. Porém, os tempos mudaram, o
volume de transações cresceu e se diversificou e os golpistas viram muitas janelas de
oportunidades.
Fechar um negócio ou uma parceria requer uma relação de confiança entre as partes.
Como o ditado “amigos, amigos, negócios à parte” ainda não perdeu a validade, o
melhor é pôr tudo no papel. Há leis para diferentes tipos de transação, e, no caso
específico da relação entre cooperativas e cooperados, temos a lei 13.288, de 16 de
maio de 2016.
Esta lei estabelece regras para o sistema de integração entre produtores rurais e
indústria, dando aos dois setores segurança para firmar parcerias que aumentem a
confiança mútua e a eficiência da produção agrícola. O dispositivo legal cria um
padrão de contratos que diminui divergências e permite a produtores e indústria
atuarem em parceria, tornando o processo produtivo mais ágil e eficiente.
A oferta de produtos agropecuários muitas vezes envolve disputas
judiciais entre o produtor rural e a indústria, devido à falta de uma
lei que regulamente as relações entre esses agentes. São motivos de
litígios, entre outras coisas, o fornecimento de insumos, dívidas
financeiras, responsabilização em caso de descumprimentos de
prazos ou problemas na atividade (SENADO, 2016, s/p).
28
Nenhum negócio está livre de uma má gestão e dos revezes da economia, por isso os
contratos dão garantia às partes envolvidas. Como a legislação até então estava em
descompasso com a modernização e as transformações das atividades agrícola e
agropecuária no país, a nova lei passou a estabelecer regras, limites e procedimentos
para esses contratos de integração.
A integração é uma relação contratual na qual o produtor rural se
responsabiliza por parte do processo produtivo, como a produção de
frutas ou criação de frango e suínos, e repassa essa produção à
agroindústria para que ela realize a etapa seguinte, de
transformação em produto final. O produtor também pode receber
insumos da indústria, como adubos, rações, medicamentos e
assistência técnica (SENADO, 2016, s/p).
Como determina a lei, os contratos de integração devem estabelecer a participação
econômica de cada parte, suas atribuições, os compromissos e os riscos financeiros,
os deveres sociais, os requisitos ambientais e sanitários, a descrição do sistema de
produção, os padrões de qualidade, bem como as exigências técnicas e legais para a
parceria (SENADO, 2016).
Conforme o texto da lei, no documento da parceria também devem constar as
condições para acesso de empregado do integrador (a indústria) nas áreas de
produção na propriedade rural, assim como do produtor rural nas dependências das
instalações industriais ou comerciais.
A lei estabelece também que todos os equipamentos e máquinas que
sejam disponibilizados pela indústria ao produtor continuarão de
propriedade do fornecedor, a menos que haja dispositivo no contrato
estabelecendo o contrário. Outra regra é que, em caso de
recuperação judicial ou falência do integrador, o produtor rural
integrado poderá pedir a restituição dos bens desenvolvidos até o
valor de seu crédito (SENADO, 2016).
De acordo com a lei, no caso de dano ambiental decorrente das atividades
desenvolvidas no âmbito desta integração, as responsabilidades de recuperação
deverão ser compartilhadas (SENADO, 2016). Contudo, se o dano for causado em
29
razão de alguma prática adotada pelo agricultor em desacordo com as
recomendações do integrador, a empresa estará desobrigada de qualquer ônus, que
caberá apenas ao produtor.
Cada setor das atividades agrossilvipastoris (pecuária, agricultura, silvicultura,
aquicultura, pesca e extrativismo vegetal) deve criar seus próprios fóruns voltados a
definir as diretrizes para acompanhar e desenvolver em sua área as parcerias entre
indústria e produtores. Nos termos da lei, trata-se do Fórum Nacional de Integração
(Foniagro), que deve ter composição paritária e ser composto pelas entidades
representativas de cada uma das partes.
A legislação busca equilibrar as decisões de produtores e indústria. Então, são os
Foniagros que definem os critérios de cálculo do valor de referência para o
pagamento dos produtores integrados. O cálculo será feito pelas Comissões para
Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs), órgãos
também de composição paritária que devem ser estabelecidos em todas as unidades
das empresas integradoras (SENADO, 2016).
Segundo a lei, também cabe às Cadecs “acompanhar o cumprimento das diretrizes
dos contratos, verificar o atendimento de padrões mínimos de qualidade, dirimir
questões e solucionar litígios entre os produtores integrados e a integradora e
formular planos de modernização tecnológica” (SENADO, 2016).
Acesse o link: Disponível aqui
Sem uma planilha de custos fixos e variáveis, pequenos produtores ficam
reféns da agroindústria. Por isso, o Fórum Nacional de Integração
Agroindustrial de Aves e Suínos (FONIAGRO) discutiu em 2018, a
padronização de uma planilha nacional de custos.
30
https://www.agrolink.com.br/noticias/foniagro-discute-padronizar-planilha-de-custos-de-granjas_412525.html
O Arrendamento e a Parceria
Rural
O Brasil possui terra que parece não acabar mais, mas nem todo brasileiro tem um
pedaço de chão para chamar de seu. A distribuição sempre foi desigual. O fim do
tráfico negreiro e a promulgação da Lei de Terras, em 1850, deixaram pobres uma
legião de ex-escravos e imigrantes sem um quinhão de terra para trabalhar. Aí está a
origem dos conflitos agrários no país.
Só em 1964, a questão da reforma agrária ganhou importância jurídica, por meio da
Lei n.º 4.504, conhecida como Estatuto da Terra, que assegura a oportunidade de
acesso à propriedade da terra, condicionada à sua função social, que, entre outras
coisas, busca favorecer o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela
labutam. Direito este previsto também no artigo 186 da Constituição Federal de 1988.
Apesar dos esforços da lei e da Constituição, nem todos os produtores rurais são
donos das propriedades que cultivam. Para aqueles que vivem do que plantam, há
dois tipos de contratos que asseguram o acesso à terra, mesmo que de empréstimo:
o arrendamento rural e parceria agrícola. Nos termos do artigo 1º do Decreto n.º
59.566, de 1966,
O arrendamento e a parceria são contratos agrários que a lei
reconhece, para o fim de posse ou uso temporário da terra, entre o
proprietário, quem detenha a posse ou tenha a livre administração
de um imóvel rural, e aquele que nela exerça qualquer atividade
agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista (BRASIL, 1966).
No artigo 3º, este Decreto apresenta uma definição conceitual mais ampla desta
modalidade de contrato agrário e osseus objetivos, antecipando aspectos que serão
regulamentados nos artigos seguintes:
31
Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se
obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo
de imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, outros
bens, benfeitorias e ou facilidades, com o objetivo de nele ser
exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial,
extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou aluguel, observados
os limites percentuais da Lei (BRASIL, 1966).
Ao resgatar os termos do artigo 96 do Estatuto da Terra, o Decreto 59.566 traz em seu
artigo 4º o detalhamento da outra modalidade de contrato agrário:
Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a
ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso específico de
imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não,
benfeitorias, outros bens e ou facilidades, com o objetivo de nele ser
exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial,
extrativa vegetal ou mista; e ou lhe entrega animais para cria, recria,
invernagem, engorda ou extração de matérias-primas de origem
animal, mediante partilha de riscos do caso fortuito e da força maior
do empreendimento rural, e dos frutos, produtos ou lucros havidos
nas proporções que estipularem, observados os limites percentuais
da lei (BRASIL, 1966).
A diferença entre os contratos de arrendamento e de parceria é que na segunda, o
proprietário da terra assume os riscos inerentes à exploração da atividade e partilha
os frutos ou os lucros na proporção previamente definida, enquanto no primeiro, o
arrendador não assume os riscos, pois recebe uma retribuição fixa pelo
arrendamento das terras.
32
Existem diferentes tipos de arrendamento, como, por exemplo: comercial,
urbano, mercantil ou leasing, royalty e o rural.
Para o nosso conteúdo, vamos entender sobre o arrendamento rural.
Consiste num contrato agrário no qual o arrendatário tem o direito de
desfrutar um bem rural. Esse tipo de transação tem como destino uma
produção rural, seja agrícola, pecuária, agroindústria, agrossilvopastoril
(uma integração entre lavoura, pecuária e floresta), etc. Esse tipo de contrato
segue regras do Estatuto da Terra e do Código Civil Brasileiro.
Parcerias Globais
As parcerias podem se dar nos mais diferentes níveis. Em escala global, países
também firmam acordos bilaterais ou em blocos para fluir seus produtos e serviços
de um lado para o outro, cada qual buscando um superávit na balança comercial. Isto
é, procuram vender mais do que comprar.
Uma parceria econômica entre os países tem como principal vantagem a redução ou
eliminação das tarifas de importação, o que permite a aquisição de produtos a um
preço menor. A circulação de pessoas e mercadorias também é estimulada com a
redução das tarifas alfandegárias.
Mas também há desvantagens. Se de um lado os produtores podem se beneficiar da
redução nas importações de matérias-primas, reduzindo os custos de produção e o
preço dos produtos, de outro, as empresas sem condições de concorrer com as rivais
em outros países do bloco irão à falência.
33
O Brasil integra um desses blocos, o Mercosul, criado em 1991, do qual também
fazem parte a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Já a União Europeia é o bloco
formado por 27 países europeus e é um dos principais modelos de blocos
econômicos. Há, ainda, outros blocos que integram outros países das Américas, da
Ásia, da África.
34
No mundo atual, existe uma infinidade de arranjos econômicos e políticos
que denominamos de Blocos Econômicos.
Para se protegerem da concorrência e das oscilações econômicas, os países
 se organizam em blocos, criando mercados regionais.
Esses blocos econômicos são associações que estabelecem relações
econômicas e políticas entre si.
A formação tem por objetivo impulsionar e estimular a economia no mundo
globalizado.
Ao fazerem parte de blocos econômicos, os países têm a chance de que seus
produtos e serviços alcancem outros lugares, ou seja, uma vantagem
competitiva decorrente dessa cooperação.
Caro aluno, nesta aula foi possível abordar alguns fundamentos para uma parceria
eficiente no contexto de Associativismo e Cooperativismo.
Espero você na próxima aula.
Bons estudos!
35
04
Dificuldades do 
Associativismo
36
Introdução
Agricultores do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, não imaginavam que cairiam
numa arapuca ao buscar no associativismo uma forma de melhorar os ganhos no
cultivo de grãos e na criação de suínos e bovinos. No fim, 5.744 sofreram uma rasteira
da Associação Santa-Cruzense dos Agricultores e Camponeses (Aspac) e do
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Em 2015, a Polícia Federal indiciou 14 pessoas por participação no golpe, que consistia
em desviar recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(Pronaf). Segundo as investigações da PF, trabalhadores rurais eram induzidos pelas
entidades a fazer financiamentos em duas agências do Banco do Brasil e, juntos,
acabaram tendo um prejuízo de R$ 9,9 milhões.
Claro que episódios como este não podem servir de argumento para colocar as
associações sob suspeita. Contudo, se de um lado as ações coletivas significam um
meio de obter benefícios coletivos que resultem em vantagens individuais, de outro
há uma série de dificuldades que precisam ser expostas e corrigidas para não levar os
negócios água abaixo. No campo, esses contratempos têm levado ao encolhimento da
agricultura familiar.
Dois entre três trabalhadores do setor agropecuário brasileiro estão na agricultura
familiar, aponta o Censo Agropecuário de 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). São 10 milhões de agricultores atuando em 4 milhões de pequenas
propriedades, das quais 1 milhão são assentamentos da reforma agrária. Juntas, as
terras da agricultura familiar correspondem a 23% do território agrícola do país.
Segundo o Censo, oito entre dez estabelecimentos agropecuários do país se
enquadram nesta categoria, mas estão sendo engolidos pelo agronegócio. Conforme
o levantamento do IBGE, houve uma perda de 2,2 milhões de postos de trabalho e
uma redução de 9,5% no número de estabelecimentos no intervalo entre uma
pesquisa e outra, de 2006 a 2017. Em sentido contrário, houve ganho de 702 mil
empregos em médios e grandes empreendimentos agrícolas.
São os efeitos das dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores, submetidos
ao mesmo desafio de qualquer negócio: a viabilidade econômica. É nesse momento
que as ações coletivas se tornaram estratégia de inserção dos pequenos produtores
37
no mercado de consumo e distribuição para escoar a sua produção. Assim, o conceito
de governança coletiva chega ao campo.
Citando estudos de vários autores, Tierling e Schmidt (2016) identificam uma
crescente cooperação entre pessoas e organizações na atual dinâmica de mercado,
resultado da globalização e de mudanças políticas, sociais e culturais. Mudanças
marcadas pela revolução tecnológica que permitem o “desenvolvimento de inter-
relações de negócios, que leva à formação de estruturas complexas de governança
coletiva” (TIERLING; SCHMIDT, 2016, p. 4).
Essas cooperações surgem como “fenômeno fundamental das economias modernas
dos negócios agroalimentares” (SAUVÉE, 2002, apud TIERLING; SCHMIDT, p. 4). Essas
relações são essenciais porque o sucesso dos negócios e as futuras operações dessas
organizações dependem da interação com outros atores sociais, tais como empresas,
outras associações, governos ou mesmo indivíduos. A cooperação traz benefícios para
todos os envolvidos.
Ao buscar respostas de por que as pessoas se unem em coletivos se poderiam agir
sozinhas pelos seus interesses? Estudiosos concluem que nesses grupos “os
indivíduos poderiam também se beneficiar dos ganhos coletivos sem empregar
esforços, atuando como free-riders” (“caronas”, indivíduos oportunistas)   (TIERLING;
SCHMIDT, 2016, p. 4). Embora seja movida por interesses individuais, a conclusão é
que os ganhos são maiorescom a cooperação.
A lógica da ação coletiva, preconizada pelo economista norte-americano Mancur
Olson, em 1971, é a obtenção de benefícios coletivos que resultem em vantagens
individuais. Mas há riscos de perdas acarretadas por falhas. “Assim como ocorre com
os benefícios gerados pelo grupo, as falhas são arcadas por todos os indivíduos que
participam da ação coletiva e influenciam a manutenção e existência destas ações”
(TIERLING; SCHMIDT, 2016, p. 5).
A julgar pelas diferenças de caráter e de personalidade de um indivíduo para outro, é
razoável supor que haja conflitos mesmo quando pessoas se unem em busca de
benefícios comuns. As causas desse comportamento conflituoso estão na literatura
clássica da Teoria da Ação Coletiva, como descritos por Olson e outros pesquisadores
depois dele.
38
Simultaneamente à existência de ações coletivas estão as ações de
cooperação, competição, autointeresse, heterogeneidade de
interesses, disposições diferentes entre os indivíduos em cooperar,
ligações diferentes entre os indivíduos, tamanhos de grupos
diferenciados [...] todos estes fatores, quando combinados de formas
diferentes, podem refletir situações positivas ou negativas em relação
ao provimento de benefícios coletivos (TIERLING; SCHMIDT, 2016, p.
5).
Esses fatores contribuem para as falhas coletivas, que nem sempre são ruins porque
dá para aprender com elas. Citados por Tierling e Schmidt (2016, p. 5), os
pesquisadores norte-americanos Kathleen Eisenhardt e Jeffrey Martin avaliam que
“dificilmente os gestores aprendem com o sucesso e com grandes erros, pois estão
envolvidos com os resultados alcançados e os grandes erros bloqueiam o
aprendizado integral das causalidades”.
Desse modo, a conclusão é que o aprendizado se torna mais fácil com as pequenas
falhas por serem percebidas e identificadas com maior facilidade como causa do
problema. “As falhas organizacionais podem também ser vistas como oportunidade
de reconhecimento das potenciais crises e mecanismo de prevenção de problemas
futuros” (TIERLING; SCHMIDT, 2016, p. 5).
Em sua tese de doutorado, Sílvia Morales de Queiroz Caleman (2010) conclui, após
uma revisão bibliográfica, que as falhas organizacionais ocorrem sob forte influência
de quatro fatores: a) tempo de interação dos agentes, b) assimetria informacional, c)
falta de delineamento dos direitos de propriedade e d) nível de dependência entre os
agentes da transação. Veja o que significa cada um deles:
a) quanto menor o tempo de interação dos agentes, ou quanto menor a
frequência das transações, maior o risco de falhas organizacionais. Isto decorre
da impossibilidade de construção de reputação entre as partes e da
possibilidade de que os benefícios do fim da relação sejam maiores se
comparados aos ganhos potenciais da continuidade da relação.
b) quanto maior a assimetria informacional entre os agentes, maior a
possibilidade de falhas. Isso leva a comportamentos com risco moral, à seleção
adversa e ao oportunismo. A falta de estruturas de incentivos como prêmios e
bonificações e de sistemas de monitoramento contribuem para a ocorrência das
falhas.
39
c) a falta de clareza dos direitos de propriedade e da garantia do seu
cumprimento é determinante para a ocorrência de falhas. A redução nos custos
de mensuração, com mudanças institucionais, padronização ou mesmo pelo
advento de novas tecnologias, contribui para que os direitos de propriedade
sejam mais bem delineados e, assim, mais garantidos.
d) a menor dependência entre os agentes está relacionada à ocorrência das
falhas. Essa dependência decorre tanto do investimento em ativos específicos, à
possibilidade de captura de quase rendas e à necessidade de se criarem
salvaguardas contratuais, como da complementaridade dos recursos
estratégicos (CALEMAN, 2010, p. 46-47).
A autora identifica, ainda, seis tipos de natureza das falhas organizacionais, resultado
de aspectos internos e externos à empresa, associação e outras ações coletivas e que
se refletem de diversas formas no ambiente organizacional (Tierling e Schmidt (2016).
Confira uma síntese dessas falhas no Quadro 2:
40
Quadro 2 – Classificação da Natureza das Falhas Coletivas
Fonte: Tierling e Schmidt, 2016, p. 6, com base em Caleman (2010).
Tipos Formalização
Natureza
estrutural
Falhas se dão na frequência de transações e ativos
envolvidos. Quanto a produtos, nas questões de preço,
custo e escala e na dimensão de rotinas como
previsibilidade, flexibilidade, complementaridade e
variabilidade.
Natureza
cognitiva
Quando há limitação do indivíduo em lidar com incertezas
do ambiente externo para fazer cálculos de probabilidade
de risco e em se comunicar para codificar e decodificar
mensagens e diferentes modelos mentais.
Natureza
comportamental
Ocorre através do comportamento oportunista do indivíduo
ou de suas diferentes atitudes diante do risco.
Natureza
informacional
Ocorre quando há existência de racionalidade limitada e
comportamento oportunista do agente, que está
relacionado à assimetria de informação.
Natureza
institucional
Ocorre quando há fragilidade do ambiente institucional,
decorrente dos direitos de propriedade indefinidos ou não
garantidos.
Natureza
política
Ocorre quando há grupos de interesse ou de influência,
atividades de lobby e a rivalidade entre empresas.
41
A Lei 11.326/2006, ou Lei da Agricultura Familiar, define como
empreendimento familiar rural aquele que detém área de até 4 módulos
fiscais, que use mão de obra da própria família na atividade econômica
desenvolvida, que tenha renda familiar oriunda dessas atividades e cuja
gestão seja feita por alguém da família.
Acesse o link: Disponível aqui
Veja os detalhes do golpe contra o Pronaf que lesou mais de 5,7 mil
pequenos produtores do Vale do Rio Pardo e a relação das 14 pessoas
indiciadas pela Polícia Federal acusadas de serem as mentoras do esquema
fraudulento.
42
http://www.gaz.com.br/conteudos/regional/2019/10/25/156547-quem_sao_os_14_denunciados_pelo_mpf_no_caso_pronaf.html.php
Pontos Fortes do
Associativismo
O consultor de negócios Carlos Roberto Romeu auxiliou na formação de mais de 60
redes setoriais associativistas no Brasil (ROMEU, 2002). Essa atuação direta
possibilitou a ele o acúmulo de conhecimento capaz de identificar os pontos fortes e
os pontos fracos do associativismo. O autor destaca 10 pontos positivos em uma rede
associativista: união, aculturamento, compras conjuntas, marca forte, capacitação,
lucratividade, parcerias, conceitos de loja, patrocínio e competitividade (ROMEU,
2002).
Essa interação leva ao aculturamento do empresário, quando ele assimila os valores
do grupo ao qual se uniu. “Há um ganho significativo na cultura empreendedora da
grande maioria dos empresários que participam de uma rede associativista” (ROMEU,
2002, s/p). Esse envolvimento proporciona a realização de compras conjuntas em
grandes quantidades, o que possibilita maior poder de barganha e acesso a grandes
fornecedores, sem intermediários.
Para o consultor, utilizar uma marca forte na fachada do estabelecimento é um ponto
importante de uma rede associativa, pois a marca associa o negócio à rede, cujo
conceito, quando bem trabalhado na mídia, proporciona bons retornos. Na mesma
linha, a apresentação do estabelecimento proporciona melhoria no conceito de loja
dos associados. As recomendações vão desde uma fachada, um layout apropriado,
até a informatização, passando, ainda, pela uniformização e a aparência pessoal dos
funcionários.
Quando incorporados a uma rede associativa, empresários e funcionários atendem
ao apelo para uma necessária capacitação, “a fim de enfrentar a concorrência
impiedosa das grandes empresas” (ROMEU, 2002, s/p). Segundo o consultor, isso leva
a melhoras significativas na gestão do negócio e, consequentemente, à qualidade no
trabalho e no atendimento aos clientes.
O aumento no faturamento graças aos benefícios proporcionados pela rede, os
resultados com o desenvolvimento de produtos similares e melhores margens de
comercialização aumentam a lucratividade do negócio.Além disso, o empresário de
uma rede associativista torna-se mais competitivo ao comprar bem e barato,
melhorando o mix de produtos, ao entender as necessidades do cliente, treinar a
equipe e organizar o estabelecimento (ROMEU, 2002, s/p).
43
As ações realizadas de forma conjunta com fornecedores e distribuidores possibilitam
a realização de campanhas de promoção, com preços menores do que os
estabelecimentos não associados a uma rede associativa. “A parceria com uma
financeira, com juros e taxas menores, proporciona atratividade aos consumidores
para compras financiadas, ao mesmo tempo em que propicia um custo operacional
menor para a empresa” (ROMEU, 2002, s/p).
Por fim, o consultor de negócios salienta que várias redes desenvolvem boas
parcerias com os fornecedores e com isso obtêm patrocínio para seus eventos,
promoções, fachadas, melhorias no ponto de vendas, entre outras vantagens
(ROMEU, 2002).
Pontos Fracos do
Associativismo
Nem tudo é fácil no associativismo. Há obstáculos no caminho a dificultar o trabalho
em grupo. O consultor de negócios Carlos Roberto Romeu identificou seis desses
percalços: a ansiedade, a falta de qualidade dos associados, a disparidade de
faturamento entre os associados, os recursos financeiros escassos, a falta de
habilidade para decisões em conjunto e as especulações sobre as negociações
(ROMEU, 2002).
Ao longo de seu trabalho de apoio à criação de redes associativistas, ele concluiu que
os empresários costumam ser imediatistas, querem resultados muito rapidamente. “É
necessário um tempo de maturação para a consolidação do grupo. Deter essa
ansiedade é uma tarefa importante para o sucesso da rede” (ROMEU, 2002, s/p).
Segundo constatação do consultor, as redes que privilegiam a quantidade em vez da
qualidade no processo de seleção dos associados irão se ressentir no futuro, pois a
participação destes se revelará muito aquém do esperado. “A mentalidade
individualista, a inadimplência, a resistência às mudanças e o descumprimento das
normas fazem-se presentes nessas redes e contribuem para desmotivar os que estão
se empenhando para o sucesso da união” (ROMEU, 2002, s/p).
A desigualdade de faturamento entre os membros também é um problema para as
associações. Ter grandes, médios e pequenos estabelecimentos na mesma rede
dificulta as ações conjuntas, sobretudo quando há rateio dos custos. “Recomenda-se
44
que o grupo seja formado por empresas que possuam portes parecidos, para que as
ações propostas possam ser assimiladas e realizadas sem prejuízo. É importante que
se tenha em mente que a união deve ser feita para ajudar e não para prejudicar”
(ROMEU, 2002, s/p).
A falta de dinheiro é um percalço bastante comum entre membros de associações.
“Muitos associados ressentem-se da falta de recursos financeiros e, por essa razão,
não conseguem investir em sua loja e acompanhar a evolução do grupo associativista,
causando, consequentemente, um desgaste na imagem da rede” (ROMEU, 2002, s/p).
Também pesa contra as organizações associativas a falta de habilidade de parte dos
membros quanto às decisões em conjunto. “Todos nós elogiamos a democracia,
porém, no dia a dia das empresas, a autocracia impera” (ROMEU, 2002, s/p). Como
observa o consultor, o empresário que aceita participar de um grupo tem de saber
acatar a decisão da maioria e que precisa fundamentar bem as suas ideias para que
sejam aceitas.
O jeitinho brasileiro não cai bem em associações, mas isso acontece. Segundo o
consultor Carlos Roberto Romeu, um dos maiores problemas nas redes constituídas é
o de um associado querer levar vantagem sobre os demais. “Fatos assim acontecem
por sugestão dos próprios vendedores, que procuram aliciar para desestruturar o
grupo” (ROMEU, 2002, s/p). Pode acontecer de, cedo ou tarde, isso chegar ao
conhecimento de todos e é provável que esse associado seja excluído da associação.
45
No Código Civil e na Lei de Registros Públicos, a figura associativa é
caracterizada como pessoa jurídica de Direito Privado, registrada em
cartórios de registro civil de pessoas jurídicas e é composto pela união de
várias pessoas reunidas sem fins lucrativos. Como figura jurídica, seguem
algumas configurações determinadas pela legislação brasileira. E, em razão
dessa precisão jurídica, é possível delinear de forma estatística essa figura
associativa através de variáveis e informações que são disponíveis no
Cadastro Central de Empresas (Cempre), do IBGE.
Mas podemos perceber que as associações não se restringem a apenas essa
definição, uma vez que o associativismo quase sempre é relativo aos
aspectos econômicos que envolvem diferentes áreas da sociedade.
Caro aluno, nesta aula você pôde entender que nem tudo é fácil quando falamos de
Associativismo e Cooperativismo. Mas existem pontos fortes e relevantes que fazem
deste tipo de associação ter uma união e uma interação capaz de motivar esta rede
colaborativa.
Espero que você tenha compreendido o conteúdo abordado.
Bons estudos!
46
05
Os Destaques das 
Ações Coletivas
47
Introdução
Entre as omissões ou deficiências do Estado e a tendência excludente do mercado, há
um vazio preenchido por arranjos coletivos que buscam sobreviver entre um extremo
e outro. Não à toa, o século XXI é tido como a era das alianças, pois as organizações
dificilmente teriam um bom desempenho econômico sozinho, e precisam de
cooperação (AUSTIN, 2011 apud WENNINGKAMP; SCHMIDT, 2016, p. 414).
Esta cooperação pode se dar num âmbito macro, como joint venture entre gigantes
transnacionais, ou no âmbito local, para se resolver as questões mais emergentes do
dia a dia. Aqui entram os Arranjos Produtivos Locais (APLs), com a união de vários
atores em busca de benefícios comuns.
Em relação aos setores econômicos, Ménard (2004) e Zylbersztajn (2005, 2010)
apontam que o agronegócio, em seus variados Sistemas Agroindustriais (SAGs), tem
sido fortemente permeado pela presença dessas estruturas complexas de
governança sob a forma de redes, supply chain systems, netchains, clusters, arranjos
produtivos locais (APLs), marcas coletivas, parcerias, alianças, sistemas de cadeia de
suprimento, cooperativas, sindicatos, associações e empreendedorismo coletivo.
Arranjos Produtivos Locais
(APLs)
Segundo Cassiolato e Lastres (2003), a formação de arranjos e sistemas produtivos
locais encontra-se geralmente associada à trajetória histórica de construção de
identidades e de formação de vínculos territoriais (regionais e locais), a partir de uma
base social, cultural, política e econômica comum.
Os APLs são mais propícios a desenvolverem-se em ambientes favoráveis à interação,
à cooperação e à confiança entre os atores. A ação de políticas tanto públicas como
privadas pode contribuir para fomentar e estimular tais processos históricos de longo
prazo.
48
Castro (2009) disserta sobre algumas características que são consideradas quando se
fala em APLs, tais como território, especialização produtiva, aprendizagem e inovação,
cooperação e atores locais.
Território: o APL compreende um recorte do espaço geográfico (parte de um
município, um conjunto de municípios, bacias hidrográficas, vales, serras, entre
outros) e é passível de uma integração econômica e social no âmbito local.
Especialização produtiva: além da produção, esta característica leva em
consideração o conhecimento que pessoas e empresas têm sobre a atividade
econômica principal.
Aprendizagem e inovação: acontece quando há um intercâmbio sistemático de
informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas. Interação com outras
empresas, por meio de cursos, feiras.
Cooperação: há cooperação produtiva, que visa à economia de escala, e
cooperação inovativa, que diminui riscos, custo e tempo, dinamizando o
potencial inovativo dos APLs.
Atores locais: são instituições de promoção de financiamento e crédito;
instituições de ensino e pesquisa; centros tecnológicos; associações
empresariais; prestadores de serviços; organizações do terceiro setor; e
governos em todos os âmbitos.
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O termo APL é uma definição brasileirapara alguns dos aglomerados locais
encontrados no país.
Arranjos Produtivos Locais são aglomerações territoriais de agentes
econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de
atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes.
Geralmente, envolvem a participação e a interação de empresas – que
podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de
insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços,
comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de
representação e associação. Incluem também diversas outras instituições
públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos
humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa,
desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento
(CASSIOLATO e LASTRES, 2003, p. 11).
As Redes Agroalimentares
Alternativas
As redes alternativas se diferenciam da lógica política e econômica das grandes redes
de produção e distribuição de alimentos por estarem centradas na produção
sustentável, preço justo, cadeias locais de produção e consumo, relações de confiança
e valorização de produtos singulares. Diversos estudos indicam a substituição
gradativa da quantidade pela qualidade, a reconexão de produtores e consumidores e
o reestabelecimento dos vínculos entre sociedade e natureza (CASSOL, 2013).
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Nesse contexto, as redes agroalimentares são espaços onde atores locais e
instituições envolvidas na produção, processamento, distribuição e consumo de
alimentos estabelecem relações para criar mercados a partir de interações e valores
sociais e culturais dentro de um território delimitado (CASSOL, 2013). Os novos
arranjos associativos no meio rural ganharam evidência devido às mudanças de
percepções sobre os alimentos no campo e na cidade.
Na década de 1990, começaram a se intensificar as discussões sobre as novas
relações de produção e consumo no setor agroalimentar, dado o contexto de
concentração da produção e distribuição nas mãos de grandes corporações. Dessa
concentração derivaram debates sobre problemas ambientais, insegurança alimentar,
alimentos processados industrialmente e com baixo ou nenhum valor nutritivo.
Nos estudos rurais, tais discussões têm como pressupostos o
reconhecimento da capacidade proativa dos próprios atores sociais –
os agricultores – em organizarem-se coletivamente, criando
dispositivos e construindo redes de relações e mercados que lhes
possibilitem novas formas de produção e interação social, que
muitas vezes estão associadas a uma maior autonomia frente aos
processos de reprodução social e econômica destes atores (LONG e
PLOEG, 2011 apud CASSOL, 2013, p. 19).
Novas formas de comercialização e de mercado ganham destaque diante da
necessidade de transição de um modelo produtivista para um modelo pós-
produtivista de agricultura (PLOEG et. al., 2000 apud CASSOL, 2013). Diversos autores
consideram essas transformações “um novo paradigma de desenvolvimento rural e a
criação, operação e evolução destas ‘novas’ ou ‘alternativas’ redes de abastecimento
alimentar são expressões destes novos padrões” (CASSOL, 2013, p. 29).
Há nesses espaços, muito mais do que a mera relação de compra e venda, pois ali
subjaz a valorização das práticas tradicionais de produção e um contato mais direto
entre produtores e consumidores. “Ao interagirem nestes espaços, produtores e
consumidores trocam valores sociais e culturais que conferem significados e sentidos
às suas ações econômicas e valorizam variedades locais de alimentos” (CASSOL, 2013,
p. 21).
51
Você já parou para pensar de onde vem tudo que você consome? Como este
sistema agroalimentar funciona? São perguntas que merecem uma boa
reflexão.
O sistema agroalimentar ou rede agroalimentar vai desde a produção,
transformação, distribuição até o consumo dos alimentos. Nesse sistema
temos as cadeias agroalimentares longas a as cadeias agroalimentares
curtas.
As cadeias longas são caracterizadas pela grande distância entre os
produtores rurais e os consumidores finais. Já as cadeias curtas promovem
uma relação entre os agricultores com os consumidores, e acaba dando
mais visibilidade e fortalecimento das redes agroalimentares alternativas.
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Estudo de caso: a cooperativa que nasceu da luta pela terra
Quem vive em algum lugar da região Sul ou Centro-Oeste do Brasil talvez já
tenha se deparado com um produto da marca Terra Viva nas gôndolas dos
supermercados. As caixas de leite longa vida carregam a história de uma
ação coletiva bem-sucedida, não sem esforço. Tudo jogava contra, a
começar pela conquista à força da terra e a superação de desconfianças e
preconceitos.
No marco da luta pela terra, concomitante ao início da redemocratização do
país e da reforma agrária como prioridade política, a região Oeste de Santa
Catarina registrou uma série de ocupações. Após a primeira, em 1980, na
Fazenda Burro Branco, na cidade de Campo Erê, o Movimento dos Sem-terra
(MST) articulou as Operações Integradas de Ocupações Simultâneas,
reconfigurando a geopolítica local (FERNANDES, 2013).
Destas operações resultaram 14 assentamentos no Oeste catarinense em
1985. Entre esses trabalhadores sem-terra estavam 130 famílias assentadas
em São Miguel do Oeste, em 26 de outubro daquele ano. Eram “italianos,
alemães, caboclos (arrendatários, diaristas, agricultores) e que tinham em
comum o fato de compartilhar a situação de não terem uma propriedade
para produzir seu sustento” (FERNANDES, 2013, p. 70).
Essas famílias criaram a Associação 25 de Maio para buscar melhor preço na
venda dos produtos e na compra dos insumos. Não conseguiram porque
“comprometiam a venda dos produtos antes mesmo de colocá-los à
disposição para comercialização na associação” (FERNANDES, 2013, p. 70).
Então, dada à falta de estrutura física e financeira, as famílias focaram na
produção de leite, mais viável pelas condições das terras.
53
À época, a Cooperativa Alfa pagava R$ 0,10 por litro ao produtor, muito
abaixo do valor cobrado do consumidor. Havia ainda o problema da “cota-
extra”, segundo a pesquisadora Jocilaine Mezomo Fernandes. “O agricultor
precisava manter uma cota de produção de leite durante o ano todo, se essa
cota não fosse atingida os preços eram reduzidos e, consequentemente,
causavam prejuízos aos produtores” (FERNANDES, 2013, p. 72).
O MST realizou debates nos assentamentos para integrar as famílias. A
Associação 25 de Maio passou a concentrar a produção de leite dos
assentados. Surge então uma “pequena indústria de beneficiamento de leite
e produção de queijo para vender no mercado local, e concorrer com as
indústrias que já atuavam no mesmo segmento” (FERNANDES, 2013, p. 72).
Oito assentamentos se uniram para fundar a Cooperoeste (Cooperativa
Regional de Comercialização do Extremo Oeste Ltda.). Em seu mestrado,
Fernandes (2013) entrevistou cinco dos 256 fundadores. No início, as
famílias eram discriminadas por serem originárias do movimento sem-terra.
Levou 2 anos para que o Banco do Brasil aprovasse um crédito para
começar a indústria de processamento de leite (FERNANDES, 2013).
Criada em 1996, a Cooperoeste foi a primeira a processar leite tipo C dos
produtos Terra Viva. Esta marca pertence à Cooperativa Central de Reforma
Agrária de Santa Catarina, que congrega 13 associações e cooperativas.
A Cooperoeste paga royalties pelo uso da marca, que tem
como estratégia se fixar no mercado, além disso, essa
marca traz uma história de luta dos movimentos sociais na
qual a Cooperoeste também está integrada. A marca Terra
Viva surgiu como uma necessidade de melhor competir no
mercado com intuito de que todos os produtos oriundos da
reforma agrária tivessem a mesma marca possibilitando a
divulgação e a competição no mercado (FERNANDES, 2013,
p. 73).
Desde 2016, um mix de 18 produtos Terra Viva chega à mesa de mais de 1,7
milhão de pessoas nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil.
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Ações Coletivas que Viram Lei
Imagine milhões de pessoas unidas em torno de uma única causa, cada uma
firmando seu compromissocom nome e CPF no papel para criar uma nova lei. A
Constituição Federal de 1988 inovou ao reconhecer os projetos de lei de iniciativa
popular como instrumento de participação do cidadão na vida pública. Embora o
dispositivo permita a qualquer brasileiro propor mudanças na estrutura sócio-política
do país, até hoje apenas quatro propostas do gênero viraram lei federal.
Foi assim que surgiu a Lei da Ficha Limpa, projeto de iniciativa popular para impedir
que candidatos condenados por órgãos colegiados da Justiça se elegessem a cargos
públicos. A iniciativa partiu do juiz Márlon Reis, mas não teria seguido adiante se não
houvesse uma eficiente ação coletiva. O projeto apresentado à Câmara dos
Deputados tinha 1,6 milhão de assinaturas e, desse modo, surgiu a Lei Complementar
n.º 135/2010.
Na mesma linha, outra lei de combate à corrupção na política foi criada 11 anos antes.
O projeto começou em 1997, com uma campanha de uma comissão da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para coibir o crime de compra de votos com a
cassação do mandato, de vereador a presidente. Trinta e duas entidades se uniram à
causa e o projeto chegou à Câmara Federal com 1,06 milhão de assinaturas, levando à
promulgação da Lei 9.840, em 1999.
Antes ainda, em 1992, o Movimento Popular por Moradia levou à Câmara um projeto
de lei com mais de 1 milhão de assinaturas. A proposta foi aprovada de forma
unânime em todas as comissões da Câmara entre 1997 e 2001, mas só foi sancionada
em 2005, dando origem à Lei 11.124/2005 e criando o Fundo Nacional de Habitação
de Interesse Social. O que se buscou foi o acesso da população de menor renda à
terra no meio urbano.
Também em 1992, um projeto de iniciativa popular obteve 1,3 milhão de assinaturas
para modificar a Lei de Crimes Hediondos (8.072, de 1990), que não tipifica o
homicídio qualificado. A autora de telenovelas Glória Peres lançou a campanha após a
filha, Daniella Perez, de 22 anos, ser brutalmente assassinada pelo colega de novela
Guilherme de Pádua e a esposa dele, Paula Nogueira Thomaz. Em 1994, o projeto foi
sancionado, dando origem à Lei 8.930/1994.
55
Para um projeto de iniciativa popular entrar na pauta de votação, precisa da
assinatura de 1% dos eleitores de todo o país no caso de proposição de uma lei
federal. O mesmo porcentual vale para as leis estaduais, só que restrito ao eleitorado
do estado em que a lei será criada. Já no caso de leis municipais, a proposta necessita
da assinatura de 5% dos eleitores do município.
Acesse o link: Disponível aqui
Políticos corruptos passaram a ter a candidatura impugnada e as penas para
crimes hediondos passaram a ser mais severas graças a leis criadas a partir
da iniciativa popular. No site da Câmara dos Deputados você encontra um
banco de ideias e um modelo para propor um projeto de lei.
Caro aluno, chegamos ao final de mais uma aula e com base no que foi exposto, você
compreendeu as ações coletivas que são destaques quando se fala em Associativismo
e Cooperativismo.
Espero você na próxima aula.
Bons estudos!
56
https://www2.camara.leg.br/participacao/sugira-um-projeto
06
Modalidade de 
Associativismo
57
Introdução
Unir forças e interesses para atingir objetivos comuns está na história da civilização
humana. Os indivíduos procuram a vida em sociedade por conforto, por segurança,
por reconhecimento, e pela necessidade de ampliar sua capacidade de adaptação ao
meio e sobrevivência. A lógica do associativismo, no que diz respeito à origem do
termo, que vem do latim associare, juntar colaboradores ou companheiros, é
justamente o de proporcionar um engrandecimento mútuo entre os integrantes da
associação.
O associativismo, assim, está vinculado às características e interesses comuns.
Podemos estabelecer uma associação entre dois ou mais entes privados, que
apresentam personalidades distintas ou até características distintas de identidade
sociocultural, mas que se agrupam com uma determinada finalidade. Esta postura é
ampla e social. Nos associamos aos colegas de turma, presencial ou virtualmente,
para estabelecermos um grupo de estudo ou associação estudantil com a finalidade
máxima do aprendizado.
Contudo, quando nos deslocamos para o campo formal ou organizativo, ou seja, com
o mínimo de burocracia ou formalidade, adequamos este conceito para reunião de
grupos de indivíduos ou de pessoas jurídicas com interesses comuns. Assim,
conforme destaca Damásio (2004, p. 8), o conceito burocrático de associativismo está
“relacionado à utilização de métodos e técnicas específicas de trabalho capazes de
estimular a confiança, exercitar a ajuda mútua entre os participantes, estimular a
parceria, fortalecer o capital humano, melhorar a qualidade de vida”.
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Dentre os elementos que integram as características de uma prática
associativa podemos destacar a adesão voluntária, uma determinada
autonomia dos integrantes sob o rol de medidas de estatuto, existe uma
integração e responsabilidade compartilhada dos membros da associação
no que diz respeito à gestão (SENAR, 2019, p. 32). Além disso, o patrimônio
da associação é social, com quotas similares entre os sócios ou integrantes.
Frente a isso, há ainda de se destacar os objetivos, que é o de mútuo
benefício, com fomento do acesso à informação entre os membros,
ampliação das forças e dos resultados em suas áreas de atuação, reunião de
integrantes para, a partir do volume e organização, conseguir poder de
barganha, ou ainda, de pressão, como nos casos das associações de
profissionais.
Assim, quando observamos do ponto de vista de intencionalidade, podemos destacar
dentre as propostas do associativismo atuar nos ramos vinculados à ação a terceiros
(SEBRAE, 2020). Neste caso, estamos destacando os tipos de associativismo
filantrópico – que apresentam com função a integração de voluntários e membros
para desenvolvimento de atividades de assistência social, e os de defesa à vida – que
podem ficar nos próprios membros ou em terceiros marginalizados socialmente.
Ainda, do ponto de vista da intencionalidade, podemos destacar os tipos de
associação sem fins lucrativos de interesses de grupos ou representatividade, como
os casos de pais e mestres – intenção de pleitear melhorias no ambiente de ensino,
com grau de integração e agrupamento de interesses ora do grupo de alunos ora do
grupo de docentes e pais – e os de classe – relacionados aos interesses de
determinadas categorias ou classes coesas – como o de representação de interesses
de categorias profissionais, ou ainda, de empresas de determinados ramos. Existem
ainda os formatos de associações culturais e esportistas, com interesses vinculados
ao aprendizado e ao desempenho físico.
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Por fim, podemos categorizar os tipos de associação entre os que desempenham
finalidade de vantagens mútuas produtivas para seus membros, como são os casos
das associações de consumidores – e leia-se consumidores não apenas compradores
de produtos físicos como bens palpáveis, mas também consumidores de serviços e de
atividades governamentais; e os mais comuns no meio rural, que são as associações
de produtores (SEBRAE, 2020), que podem reunir pessoas físicas e artesãos, além de
pessoas jurídicas de pequeno e médio porte com o objetivo de garantir
representatividade produtiva ou política.
Separando pela Organização
Outra forma de categorizarmos as associações é pela forma de organização, que pode
ser formal ou informal, ou ainda, pode ser a partir de entes físicos e jurídicos. Neste
caso, um dos tipos de associativismo se dá por Consórcio e também pelo tipo
Sociedade de Propósitos Específicos.
O primeiro caso é um dos mais conhecidos como forma de união de diferentes
indivíduos com o objetivo de alcançar objetivos específicos como um tipo de
associação de consumidores, como mencionado anteriormente. Geralmente, como
destaca Almeida, os consórcios têm como objetivo o estabelecimento de novos
mercados internos e externos "com a redução de custos, gestão estratégica, maior
capacitação, acesso a créditos e a novas tecnologias" (CASTRO,

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