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Unidade 1 Iniciação científica Pensamento Científico Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ THALYTA MABEL NOBRE BARBOSA AUTORIA André de Faria Thomáz Olá. Meu nome é André de Faria Thomáz. Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas (2006), pós-graduando em Docência Superior pela Universidade Gama Filho (2009), pós-graduado em MBA Executivo em Administração de Empresas (2009-2012), mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica (2011) e doutor em Administração Prática nas Funções de Contador pela mesma instituição (2018). Também sou professor universitário, conteudista e curador. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir a minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Thalyta Mabel Nobre Barbosa Olá. Meu nome é Thalyta Mabel. Sou graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestre em Serviço Social, tendo como objeto de estudo o Serviço Social na Previdência Social, pela mesma instituição. Possuo experiência como docente nas áreas de Serviço Social e Metodologia Científica na graduação e na pós-graduação de instituições públicas e privadas. Atuo como autora, designer educacional e consultora educacional na elaboração, gestão e implementação de materiais didáticos para a EaD. Fui convidada mais uma vez pela Editora Telesapiens a integrar o seu elenco de autores independentes e estou muito feliz em poder ajudar você a conhecer o mundo maravilhoso da pesquisa científica e contribuir para o seu aprendizado nesta fase. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Ciência e os tipos de conhecimento .................................................. 10 O homem e o conhecimento ................................................................................................ 10 1.2 Tipos de conhecimento ..................................................................................................... 14 Conceito de ciência ...................................................................................................................... 17 Ciência e seus métodos ..........................................................................20 Ciência e vida acadêmica ....................................................................................................... 20 Ciência e método científico .................................................................................................... 21 Método e técnica ........................................................................................................22 Classificação dos métodos ..................................................................................24 Método experimental ...........................................................................25 Método observacional .........................................................................25 Método comparativo .............................................................................26 Método estatístico ..................................................................................26 Método etnográfico ...............................................................................27 Métodos indutivo e dedutivo ..........................................................28 A importância da pesquisa científica .................................................30 Significado da pesquisa científica ..................................................................................... 30 O avanço da pesquisa científica ...........................................................................................32 Ciência como prática social ...................................................................................................34 Desafios da ciência e a ética na produção científica ................... 41 Desafios da ciência ....................................................................................................................... 41 Produção científica e ética ......................................................................................................45 Graduação no Brasil .................................................................................................. 46 Pós-graduação no Brasil ...................................................................................... 48 7 UNIDADE 04 UNIDADE 01 Pensamento Científico 8 INTRODUÇÃO Você sabia que, em um contexto marcado por rápidas mudanças conceituais, teóricas e tecnológicas, o estudante de graduação deve ser capaz de produzir conhecimento relevante? Atualmente, as complexidades da nossa sociedade, as quais são refletidas no cotidiano acadêmico, demandam por profissionais que estejam capacitados a ler, compreender, questionar e a intervir nesse contexto. Nesse sentido, o instrumento mais adequado para isso são os projetos de pesquisa ou projetos de intervenção. Ao ingressar na universidade, você passa a conhecer o mundo da ciência. Aos poucos, você deixa de ser um mero receptor desse conhecimento e se torna um produtor dele, por meio da pesquisa científica. No entanto, ao realizar a pesquisa científica, é necessário que você se aproprie de algumas definições e seja instrumentalizado para tal. Diante dessa afirmação, nesta unidade, estudaremos juntos: o significado do conhecimento; os tipos de conhecimento; a importância da ciência e do conhecimento científico; os métodos científicos; e a ética na pesquisa. Por ser uma obra pensada e desenvolvida para a educação a distância, ela possibilitará uma experiência singular de imersão individualizada em um conteúdo rico em possibilidades de aprendizagem. Portanto, ao longo desta unidade letiva, você mergulhará neste universo! Bons estudos! Pensamento Científico 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliá-lo no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Conceituar ciência e identificar os tipos de conhecimento. 2. Caracterizar a ciência e identificar os métodos científicos existentes. 3. Identificar a importância da pesquisa científica. 4. Conhecer os desafios da ciência e os aspetos importantes da ética na produção científica. Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Pensamento Científico 10 Ciência e os tipos de conhecimento INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de conceituar ciênciae de identificar os tipos de conhecimento. Isso será fundamental para a ampliação da sua compreensão a respeito do caminho percorrido diariamente por cientistas e pesquisadores em sua constante busca pelo conhecimento. Motivado para desenvolver essas competências? Vamos lá. Avante! O homem e o conhecimento Você já parou para analisar com que velocidade a tecnologia nos tem surpreendido? Há pouco tempo, a internet não existia e os aparelhos de TV eram monocromáticos. A comunicação por telefone era privilégio das classes sociais mais abastadas e grande parte das tecnologias que utilizamos diariamente não havia sido inventada. Além da intensa comunicação, hoje, dependemos cada vez mais do desenvolvimento de novos medicamentos, de novas técnicas de produção de alimentos, de novos meios para reverter os danos causados ao meio ambiente, além de outras explicações e soluções para os problemas que enfrentamos. Nesse contexto, a ciência assume papel de destaque na construção da sociedade e no aperfeiçoamento individual dos seres humanos. Por meio da atividade científica, o conhecimento é produzido em diversos locais e pode ser compartilhado, testado e reformulado, pois é resultado do trabalho de cientistas espalhados ao redor do mundo. Entretanto, quais foram os motivos que levaram a humanidade a realizar investigações? O que seria conhecimento? Pensamento Científico 11 Figura 1 – Conceito do conhecimento Fonte: Freepik Ao longo deste capítulo, responderemos a esses questionamentos. Vejamos, a seguir, a relação do homem com o conhecimento. Ao analisar a trajetória da humanidade, podemos perceber que o homem sempre foi ávido por conhecimento desde o seu nascimento. Exemplos disso são a descoberta do fogo, a impressão do pensamento nos desenhos rupestres, as explicações dos fenômenos que cercam a vida e a morte, os mitos, a filosofia, a criação e artefatos para a caça e a alimentação, bem como o avanço da intelectualidade, com a criação da roda e os pensamentos dos filósofos greco-romanos, que têm sido instrumentos poderosos de conhecimento até hoje. Todavia, apenas nos séculos XVI e XVII que a ciência ganhou status: verdade é aquilo que se pode ser comprovado. Hoje, o método científico é considerado o saber mais eficaz, o qual se encontra inserido no contexto do advento da ciência moderna. A ciência é uma forma de conhecimento. Contudo, o que seria conhecimento? Pensamento Científico 12 Você aprendeu até aqui que o homem sempre foi ávido por conhecimento e que, para adquiri-lo, ele realizava investigações. Também já se sabe que a ciência é uma forma de conhecimento e que ela está presente em seu cotidiano. Ainda sobre a relação do científico com a história da humanidade, Fachin (2003) apresenta uma reflexão sobre essa temática. A autora discorre que, desde a Antiguidade, já havia uma atenção para o científico, embora não existissem, naquela época, métodos e observações dos acontecimentos. Apenas após a advinda dos cientistas modernos que houve avanços nos métodos de pesquisa, nas técnicas e na ordenação nas coletas de dados. Esse será um assunto que discutiremos ao longo desta disciplina. Para Laville e Dionne (1999), há dois modos de aquisição do saber: o espontâneo e o racional. Esses dois tipos de saberes servem para conhecermos o funcionamento das coisas, a fim de melhor controlá-las e realizar melhores previsões. Os saberes espontâneos são: a intuição, a tradição e a autoridade, os quais, muitas vezes, são adquiridos a partir das experiências pessoais e nem sempre se baseiam em dados de experiências racionalizadas. Devido à fragilidade do saber, o homem desenvolveu o desejo de saber mais e de dispor de conhecimentos metodicamente elaborados e mais confiáveis, o que chamamos de saber racional. Para explicar a evolução do saber racional até a chegada, no século XIX, da ciência triunfante, Laville e Dione (1999) explicam que esse saber foi iniciado com os filósofos Platão e Aristóteles, a partir do desenvolvimento da lógica e, em seguida, por intermédio das reflexões filosóficas realizadas no período medieval. Não só, mas também houve a colaboração das superstições e das magias da Renascença, da observação empírica do século XVII, que objetivava o pensamento científico, e, no século XVIII, do desenvolvimento dos princípios da ciência experimental. REFLITA: Você já consegue conceituar “conhecimento” com base nas informações apresentadas até este momento? Pensamento Científico 13 Acreditamos que sim. Portanto, prossigamos. Possivelmente, você tenha conceituado “conhecimento” como o ato de conhecer algo ou a reunião de informações armazenadas na mente humana. EXPLICANDO MELHOR: Com base na resposta, podemos dizer que o homem tem diversos tipos de conhecimento. A mesma pessoa, por exemplo, pode ser um pesquisador da área da criança e do adolescente, conhecedor do Estatuto da Criança e do Adolescente e ser uma pessoa religiosa, conhecedora da bíblia. Você também possui diversos tipos de conhecimento. Já parou para pensar nisso? Consegue identificá-los? Um exemplo simples e que faz parte da sua realidade é este: você está no ensino superior para obter conhecimentos sobre a profissão a qual você escolheu, a fim de que, posteriormente, seja um profissional devidamente qualificado. Quais são os conhecimentos que você vai adquirir ou já adquiriu para atingir o seu objetivo? É bem provável que você já tenha tido acesso às legislações que norteiam o exercício profissional e todo o referencial teórico-metodológico presente nas obras dos autores referencias da sua área. Figura 2 – Exemplo de conhecimento adquirido no ensino superior Fonte: Freepik Pensamento Científico 14 Lakatos e Marconi (2005) explanam que, ao percebermos um objeto, somos capazes de captar certas qualidades ou características dele. Dessa maneira, tomamos consciência de nossas percepções e acumulamos experiências que formam um “estoque” de conhecimento, como na escola, local onde acumulamos conhecimentos produzidos por outras pessoas. Isso significa que o conhecimento nem sempre é adquirido mediante contato direto com um objeto, mas pode ser transmitido pelas mais diversas formas de linguagem, tais como: fotografias, imagens, vídeos, descrições textuais, gráficos, fórmulas, entre outras ferramentas comunicativas de grande utilização para os momentos educacionais. Ao longo do tempo, para facilitar os seus estudos, autores classificaram o conhecimento em tipos, assim como também houve a classificação da ciência. É válido ressaltar que, nas obras que abordam a temática “metodologia científica”, estudiosos usam nomenclaturas diferentes. Desse modo, serão os tipos de conhecimento que estudaremos no tópico seguinte. Tipos de conhecimento O conhecimento é o ato ou o efeito de conhecer algo, de saber, de ter informação e de buscar instrução. É a relação do homem (razão) com determinado objeto/objetivo. O conhecimento é um conceito importante para a Educação, uma vez que nos leva a conhecer disciplinas, conceitos, teorias, princípios etc., que foram internalizados e aprendidos antes. Além disso, é preciso ressaltar que, para falar de conhecimento, precisamos abordar informações, dados e fatos, a fim de que o conhecimento possa ser considerado uma informação útil para alguém. Afinal, o que é conhecimento? Conhecimento é o resultado da relação entre a percepção que temos do mundo, dada por meio de nossos sentidos – visão, audição, tato, olfato, paladar –, e os objetos que conseguimos perceber a nossa volta para, então, abstrairmos ideias ou noções. Fachin (2003) cita alguns tipos de conhecimentos nos quais os homens, por seu intermédio, evoluem e fazem evoluir o seu meio. Entre esses conhecimentos, temos: o filosófico; o teológico ou religioso; empírico (popular ou do senso comum); e o científico. Entretanto, é PensamentoCientífico 15 importante ressaltar que, aqui, usaremos basicamente o conhecimento científico. Estudemos cada conhecimento. De acordo com Alves (2007), o conhecimento empírico ou do senso comum é produzido no dia a dia, sem a necessidade de comprovação por meio de métodos sistemáticos ou científicos. Por esse motivo, é um tipo de conhecimento superficial e subjetivo ligado a tradições, crenças ou valores. Além disso, não possui uma forma sistemática e traz, como solução para um problema, uma explicação popular que não é testada como relação direta entre causa e efeito. É apenas observado um resultado, independente de subinterações possíveis. Por exemplo: os chás medicinais usados por nossas avós podem ser úteis para curar uma indigestão ou para “acalmar os nervos”. Contudo, é improvável que nossas avós saibam exatamente quais são as propriedades químicas desses chás ou como elas agem no corpo humano. O conhecimento teológico ou religioso é produzido por meio da aceitação de saberes e de informações consideradas divinamente reveladas e, como tais, são inquestionáveis e infalíveis. Por exemplo: enquanto os cristãos acreditam que o conhecimento bíblico é de origem divina e representa a verdade, os muçulmanos encontram os conhecimentos que guiam as suas vidas no Alcorão, que é equivalente à Bíblia para os cristãos. De maneira direta, a justificativa ou resposta sobre um acontecimento é dada a um Deus, entendido como um ser supremo, dependendo da cultura de cada povo. O ser humano se relaciona por meio da fé religiosa. Podemos ter exemplos nos próprios livros utilizados por algumas religiões. O conhecimento filosófico é produzido por meio da reflexão e, portanto, é sistemático e crítico. Nesse caso, a percepção direta dos objetos concretos não é o mais importante, e sim a construção de ideias e conceitos, por vezes, metafísicos e abstratos, na busca pelo conhecimento da realidade em seu contexto mais universal. O conhecimento filosófico busca descobrir aspectos relacionados ao sentido primordial da existência e da realidade, se há, ou não, liberdade, quais valores devem direcionar as ações humanas, entre outros conteúdos dessa natureza que são para o bem em comum de todos. Pensamento Científico 16 DEFINIÇÃO: Já o conhecimento científico, o qual será explorado ao longo desta disciplina, pode ser considerado o conhecimento verdadeiro, visto que busca conhecer as causas e as leis que regem determinado evento. Ele é adquirido de modo racional, por meio de processos que são sistematizados e organizados. Não só, mas entendido quando o pesquisador retira o contexto em que o evento está inserido e valida aquele acontecimento por intermédio de procedimentos que possam levar o resultado a uma possível comprovação da sua ocorrência. Esse processo nunca é considerado finalizado e pronto, pois sempre pode ser questionado e reavaliado. Em outras palavras, é um processo em constante construção. Se tomarmos o mesmo exemplo apresentado sobre chás, é o fato de se verificar exatamente qual é a causa e o efeito quando se utiliza um determinado chá. Seguem exemplos simples e que representam os tipos de conhecimento: • Conhecimento empírico ou do senso comum – “Chá de camomila é bom para acalmar os nervos”. • Conhecimento teológico ou religioso – “Bem-aventurados os que choram, porque Deus os consolará”. • Conhecimento filosófico – “A finalidade essencial da razão humana é a felicidade universal”. • Conhecimento científico – “A temperatura média do universo diminui à medida que o universo se expande”. Assim como já fora explicado, apesar da classificação em relação aos tipos de conhecimento para a apreensão da realidade social, o sujeito pode percorrer diversas áreas do saber para conhecer o seu objeto. Isso significa que as diversas formas de conhecimento estudadas poderão coexistir. Neste tópico, foi evidenciado que todas as formas de conhecimento são importantes. Apesar de sabermos que usaremos basicamente o conhecimento científico, é fácil perceber que algumas formas deram origem a ele. Nenhuma forma de conhecimento Pensamento Científico 17 é descartável, pois a ciência, apesar de exigir processos e ditar muitas regras, necessita da compreensão e da aplicação de contextos sociais, os quais só podem ser aplicados e compreendidos de maneira correta se considerado o ser humano como parte de todas essas interações. No tópico seguinte, apresentaremos o conceito de ciência com base em diversos autores. Conceito de ciência A ciência é o meio para identificar o nosso conhecimento e fazê-lo crescer, ver como as coisas funcionam, tais como a natureza, o universo etc. Ela trata de investigar/estudar os fenômenos, levando à descoberta de informações sobre o mundo. Esse estudo e investigação são realizados de acordo com o método científico, que nada mais é que o processo de avaliar o conhecimento empírico com os conhecimentos adquiridos por estudos e pesquisas. Vários autores, como Lakatos e Marconi (2000, 2003, 2005), Koche (1997), Fachin (2003), Minayo (2007), conceituaram e classificaram a ciência em suas obras. Vejamos algumas conceituações a seguir: A ciência, segundo Fachin (2003, p. 27), “trata dos conhecimentos de várias maneiras, procurando leis gerais que abriguem certo número de fatos particulares. [...] As ciências prosperaram e foram divididas para que pudessem ser melhor compreendidas”. No século XIX, houve o progresso da ciência e de suas aplicações práticas, as quais provocam mudanças e melhoramentos na vida do homem. Já na segunda metade desse século, houve o desenvolvimento das ciências humanas, as quais seguiam uma concepção de construção do saber científico nomeada “positivismo”. O positivismo tem, como características, o empirismo, a objetividade, a experimentação, a validade, as leis e a previsão. Assim, é com base nesse modelo de ciência positiva que há o desenvolvimento das ciências humanas na segunda metade do século XIX. Ao analisar a história da ciência, constatamos que muitos de seus princípios básicos foram modificados ou substituídos em função de novas conjunturas ou de novos padrões. Segundo Lakatos e Marconi (2000, p. 24): Pensamento Científico 18 A ciência, portanto, constitui-se em um conjunto de proposições e enunciados, hierarquicamente correlacionados, de maneira ascendente ou descendente, indo gradativamente de fatos particulares para os gerais, e vice-versa [...], comprovados (com a certeza de serem fundamentados) pela pesquisa empírica (submetidos à verificação). Já no que se refere à classificação e à divisão da ciência, elas ocorreram devido à necessidade do homem de estudar, entender e publicar os resultados das suas investigações científicas (nas próximas unidades, veremos como se dá as apresentações dessas investigações). Para Lakatos e Marconi (2003), em relação à classificação da ciência, podemos classificá-la mediante o conteúdo, complexidade, objeto, temas, metodologia e outros. No entanto, não há um consenso entre os autores da área acerca dessa classificação. Observe, na figura a seguir, a classificação da ciência de acordo com as autoras: Figura 3 – Classificação da ciência CIÊNCIAS Factuais Naturais Sociais Física/Química/Biologia Direito Formais Lógica Matemática Economia/Política Sociologia/Antropologia Fonte: Lakatos e Marconi, 2003 (Adaptado). Explicar e apresentar as características das ciências não faz parte do objetivo desta unidade. Entretanto, é fundamental que você saiba da existência dessa classificação. Pensamento Científico 19 Já sobre o objetivo da ciência e a sua concepção na atualidade, Koche (1997, p. 79) sustenta que: [...] o objetivo da ciência ainda é o de tentar tornar inteligível o mundo, é atingir um conhecimento sistemático e seguro de toda a realidade. No entanto, a concepção de ciência na atualidadeé de ser uma investigação constante, em contínua construção e reconstrução, tanto das suas teorias quanto dos seus processos de investigação. Baseando-se na citação apresentada e nas análises da realidade e da história da ciência, podemos inferir que ela vem ganhando importância ao longo dos anos. O avanço científico, aliado a tecnologia, possibilitou transformações no mundo, como a Revolução Industrial. Todavia, é somente a partir da segunda metade do século XX que temos um acúmulo de conhecimentos e de transformações na sociedade. Ao pensarmos na ciência que temos hoje, devemos pensar, também, em aliá-la à tecnologia, já que esta é um instrumento para a realização da ciência. Para alguns autores, é a ciência aplicada, ou seja, a tecnologia fornece precisão e controle dos resultados à ciência, o que permite que o homem controle o mundo. É válido ressaltar, contudo, que, apesar do desenvolvimento científico-tecnológico que temos a nível mundial, esse progresso não tem chegado a vias de transformar a realidade da população. Um exemplo disso se refere às suas condições básicas de existência. RESUMINDO: Gostou do conteúdo apresentado? Compreendeu tudo? Agora, para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido o significado do conhecimento, identificado os seus tipos e o que significa ciência. Não só, mas também percebeu que todos nós somos dotados de conhecimento dos mais diversos tipos. Contudo, compreendeu, sobretudo, a importância do conhecimento científico para você, estudante de nível superior. Além disso, conheceu um pouco a história da ciência, seu objetivo e classificação, bem como soube a sua importância para o avanço da humanidade. Pensamento Científico 20 Ciência e seus métodos INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de caracterizar a ciência e identificar os métodos científicos que existem. Isso será fundamental para você, aluno de nível superior. Dessa forma, você terá contato com alguns elementos, a fim de adquirir uma postura científica e ser capaz de obter conhecimento com credibilidade e confiabilidade. Motivado para desenvolver essas competências? Vamos lá. Avante! Ciência e vida acadêmica Ao ingressar na vida acadêmica, é necessário que tenhamos atitudes de investigação científica, seja para interpretar a realidade social, seja para a produção das nossas pesquisas. Essa postura científica é adquirida ao cursar as diversas disciplinas, como a que está cursando agora, ao longo da sua graduação. Dessa forma, antes de iniciarmos a apresentação de alguns métodos que existem, é preciso discutir o significado de método e metodologia. Vamos lá! As pessoas, de forma geral, consideram a ciência porque acreditam que o conhecimento científico desvenda a verdade absoluta, devido a sua base empírica. Isso significa que as teorias científicas derivam diretamente de observações e experimentações sobre os fenômenos da natureza (ALVES, 2007). De acordo com Alves (2007), os cientistas ou pesquisadores são pessoas interessadas em investigar aspectos ou elementos que dizem respeito ao mundo e aos seres humanos. Esses indivíduos podem realizar investigações individuais, mas, em geral, estão reunidos em universidades ou em departamentos de pesquisa dentro de empresas. Outro aspecto importante a ser discutido é a metodologia. É possível afirmar que a metodologia trata do caminho reflexivo e da prática exercida na abordagem da realidade (ALVES, 2007). Portanto, incorpora, ao mesmo Pensamento Científico 21 tempo, a teoria da abordagem, as técnicas (instrumentos de operação do conhecimento) e a criatividade do pesquisador. Genericamente, o termo “metodologia” pode ser entendido como uma ação que visa investigar uma determinada realidade, desde que, para isso, sejam aplicados métodos específicos. Ao longo da história, um dos principais esforços do ser humano tem sido a busca constante pelo aumento do conhecimento a respeito do mundo onde vive e de si mesmo. Uma das razões para essa busca é muito simples: é preciso conhecer para controlar e, assim, definir as estruturas da ciência e da pesquisa cientifica. Por exemplo: o início de toda pesquisa é delineado por uma problemática, a qual é permeada por questões de pesquisa que se baseiam em conhecimentos prévios, que, se tratados cientificamente, são capazes de construir novos referenciais, os quais são chamados de teoria e estão inseridos em uma determinada área de conhecimento. Em algum momento da vida, aprendemos que o fogo queima, que a água gelada refresca, que os automóveis devem parar quando o sinal vermelho do semáforo está aceso e que as pessoas geralmente reagem a certos estímulos, sejam eles positivos ou negativos, com reflexos no pensamento e atos. Diante do exposto, é plausível afirmar que a teoria e a metodologia estão intimamente relacionadas e são fundamentais no processo de elaboração de qualquer projeto de pesquisa ou intervenção. Sendo assim, a metodologia deve dispor de um instrumento claro e suficientemente capaz de resolver os impasses teóricos para o desafio da prática (ALVES, 2007). No tópico a seguir, apresentaremos o significado de método. Ciência e método científico Acredito que você, aluno, já ouviu algumas vezes a palavra “método” em seu cotidiano e nas mais diversas situações e contextos. Vamos apresentar alguns exemplos. Já ouvimos alguém dizer que uma determinada pessoa é muito metódica e que, em consequência dessa forma de agir, ela poderá atingir o seu objetivo. Já em outras situações, percebemos que falta um método de ação em alguém ou até mesmo que o método de trabalho de certa pessoa não é eficiente. Pensamento Científico 22 De modo geral, a pesquisa sempre esteve voltada para a investigação de problemas teóricos ou práticos por meio do emprego de métodos científicos. São vários os tipos de pesquisa que podemos utilizar quando pretendemos desenvolver alguma investigação, quer seja de ordem prática ou intelectual. Baseando-se nas explicações apresentadas, podemos dizer que o método seria o caminho o qual devemos percorrer para que possamos alcançar um determinado objetivo, ou seja, é uma forma para se alcançar uma meta. Então, por que devemos utilizar o método em nossas pesquisas? É importante que você saiba que uma das características que distingue a ciência de outros tipos de conhecimento é o seu método. DEFINIÇÃO: A etimologia da palavra “método” é a seguinte: vem do grego methodus e significa “através, ao longo do caminho”. É o conjunto de etapas e procedimentos que orientam a investigação dos fatos ou a busca da verdade. Em outras palavras, o método é guia e um caminho (D’ONOFRIO, 1999). Temos, na ciência, o método científico, o qual deve seguir as etapas que objetivam provar, ou não, o fato real, a verdade. Método e técnica É importante entender que, quando falamos em método científico, não estamos nos referindo apenas à ciência em si. Quando se diz que você já é um cientista, isso se refere ao fato de que, na essência, todo mundo tem um “quê” de pesquisador e/ou cientista. Estamos, a todo o tempo, testando, agindo e aprendendo, o que consiste basicamente no que os cientistas fazem de maneira metódica. No entanto, não podemos dizer de maneira literal que estamos praticando ciência, se não houver um processo sistematizado que possa ser testado e replicado, caso necessário. Para isso, será apresentada a diferença entre a palavra “método” e a “técnica”, assim como alguns conceitos do próprio método Pensamento Científico 23 científico. Isso se deve, pois, dessa forma, você compreenderá melhor a relação de tudo isso com a ciência. Vamos, primeiramente, falar do método. Esse processo é como um grande apanhado de atividades organizadas de maneira sistemática, as quais fornecem uma maior segurançae permitem que alcancemos o objetivo proposto. O método segue um caminho traçado, apto a identificar falhas, erros e, ainda, auxiliar para que sejam tomadas as melhores escolhas. Podemos afirmar, também, que ele é um conjunto de critérios que servem como uma referência, na tentativa de explicação ou construção de previsões para o que é proposto. IMPORTANTE: Para que haja um método na realização de uma pesquisa ou comprovação científica, é indispensável que o objetivo esteja bem definido e seja estabelecido, de maneira clara, o que se quer responder. O método será, então, o conjunto de etapas necessárias para responder aquilo que foi proposto. Sendo assim, o método não é criado de acordo com o pensamento ou vontade do cientista, mas escolhido dependendo do tipo de objeto de pesquisa que se tem em determinada situação. Em outras palavras, uma investigação qualquer vem de um problema ou um questionamento. Para tanto, são utilizados conjuntos de processos ou etapas que se traduzem no método científico, o qual tem como foco fornecer uma posição sobre a hipótese formada. Diante disso, pode-se, por outro lado, afirmar que o método é uma forma de se pensar, a fim de encontrar a compreensão de um problema, seja para fins de estudo ou, ainda, para uma explicação. Sabe-se que a própria ciência é constituída de um conhecimento extremamente racional, metódico e ainda altamente sistemático, sendo implícita a possibilidade de sua verificação por meio do uso de técnicas e métodos diversos. Podemos traduzir o que foi apresentado até aqui de outra forma. Pensamento Científico 24 VOCÊ SABIA? Você sabia que estamos cercados, em nosso cotidiano, por diversos métodos, mesmo sem percebermos? Se fazemos um churrasco, por exemplo, para que a carne seja colocada no fogo, é necessário que o tempero seja colocado antes. Ao comer uma fruta, você naturalmente tira a casca para, depois, consumir o que tem dentro. São métodos simples que, se não aplicados, podem resultar em situações desagradáveis ou até mesmo desastrosas para a culinária. Podemos pensar na mesma construção de utilização do método quando a relacionamos com a nossa maneira de se vestir. Você coloca primeiramente a sua roupa íntima para, depois, colocar a calça, a camiseta e qualquer outra peça. Se você colocar a sua roupa superior e posteriormente vestir a roupa íntima, ou seja, não seguir os passos de maneira correta, o resultado não será o adequado ou o esperado para o processo. Nessa situação, no máximo, você estaria se parecendo com o Superman. Fica claro que existe uma ordem natural para as coisas e para os procedimentos do dia a dia. Portanto, isso pode ser traduzido como um método de se fazer cada coisa. Se não for seguido, produzirá um resultado não satisfatório na primeira tentativa. Assim, é possível resumir tudo o que foi discutido de outra forma: o método nada mais é do que um caminho para o fim que buscamos chegar. É o que vai ser percorrido, ou seja, “como” é que pretendemos alcançar determinado aspecto ou resposta. Observe outros processos do seu cotidiano. Classificação dos métodos Apresentaremos uma classificação dos métodos, para que possa ser mais claro o que estamos querendo dizer. Entre os mais conhecidos, podemos destacar os seguintes: experimental, observacional, comparativo, estatístico e o etnográfico. Pensamento Científico 25 Método experimental O surgimento da ciência e, portanto, do seu método, está diretamente vinculado às ciências da natureza, as quais foram as primeiras a se desenvolverem no século XVII. Apenas no final do século XVIII é que surgiram as ciências sociais e as humanas (psicologia, sociologia, entre outras). Em um primeiro momento, as ciências tentaram garantir um estatuto de cientificidade e, para tal, utilizaram o método experimental nas suas formulações teóricas. Aos poucos, os cientistas da época foram percebendo a inadequação desse método para os fenômenos humanos. REFLITA: Com base nos exemplos citados ao longo do material e em outras situações pelas quais passou ao longo da vida, você deve ter percebido que, em algum momento, já atuou como cientista e já realizou um experimento. Essa afirmação tem total referência quando dissemos, no início deste capítulo, que a ciência está presente em nosso dia a dia. Na realização do método experimental, algumas condições particulares são estabelecidas pelo pesquisador. Em outras palavras, no ato da experimentação, o pesquisador compara o efeito de duas variáveis, como as condições e um tratamento. Assim, antes da realização desse método, é essencial que o pesquisador trace um plano experimental em que estejam estabelecidas as condições da experiência, de forma que, por meio delas, consiga-se obter as respostas do seu problema de pesquisa. Método observacional É considerado o primeiro passo de um estudo, qualquer que seja a sua natureza. Envolve desde as primeiras etapas de um estudo até os mais avançados estágios. Além disso, difere-se de um simples conjunto de curiosidades para algo sistematizado e planejado, com fins de alcançar um objetivo ou procurar respostas para um possível problema de pesquisa. Pensamento Científico 26 A atividade de pesquisa visa resolver problemas e nós fazemos isso de forma cotidiana, seja na academia, seja no nosso ambiente profissional. Em algumas áreas de estudo, o método experimental pode ser de difícil aplicação, como nas ciências sociais e na biologia. Diante disso, o método observacional adquire bastante importância e deve ser executado com cuidado. IMPORTANTE: Diante do que foi apresentado, você conseguiria explicar a diferença entre o método experimental e o método observacional? No método experimental, o cientista toma providências para que algo ocorra em relação ao experimento, a fim de identificar o que ocorre a partir de então. Já no método observacional, o cientista observa algo que está ocorrendo sem interferir na realidade ou algo que já ocorreu. Método comparativo Ao longo dos estudos sobre a história da ciência, verificamos que há uma discussão sobre o método comparativo e o seu processo de construção do conhecimento com base nos clássicos da Sociologia do século XIX. Nas obras de autores, tais como Comte, Durkheim e Weber, observamos o uso da comparação na construção do conhecimento. De acordo com Fachin (2003), o método comparativo consiste em investigar coisas ou fatos e explicá-los segundo as suas semelhanças e suas diferenças. Perceba que é o método que possibilita o estudo comparativo entre grupos, sociedades e outros fatores. É um procedimento de comparação sistemática de casos de análise que, em sua maioria, são aplicados com fins de generalização empírica e verificação de hipóteses. Método estatístico É o método desenvolvido tendo, como referência, a teoria estatística de probabilidade. Sua utilização possibilita medir, quantificar e mensurar a Pensamento Científico 27 realidade pesquisada. É um método que constitui um grande auxílio para a área das ciências sociais. Sem dúvidas, você já deve ter ouvido falar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa instituição é um instituto de pesquisa que realiza o recenseamento da população por meio do método estatístico. Outro exemplo de instituição que realiza o método estatístico é o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), que, por exemplo, realiza pesquisa de intenção de voto no período eleitoral. Apesar de ser utilizado de forma frequente, é comum ocorrer a manipulação, de forma tendenciosa, dos dados estatísticos com fins políticos e econômicos. Entretanto, é essencial que o pesquisador fique atento aos dados para que não se tire conclusões precipitadas e possua ética na realização da sua pesquisa. Método etnográfico Uma das abordagens metodológicas mais utilizadas no campo das pesquisas empíricasé a etnografia. A partir do conceito de cultura traçado por Lakatos e Marconi (2005), podemos afirmar que um dos modos pelo qual podemos buscar os significados da cultura é por meio da etnografia, que não será compreendida como um método permeado por regras, mas como uma prática que deve estar longe de ser avaliativa e julgadora. Ao pesquisador que se propor a realizar uma pesquisa etnográfica, é preciso romper com a linearidade do método para perceber as nuances que fogem a esse método. Entretanto, dentro do campo conhecido como filosofia da ciência, há uma reflexão mais profunda sobre as características específicas do conhecimento científico. Como exemplo, temos a crítica ao método indutivo relacionado à ciência, em que proposições gerais são formuladas a partir de observações de casos particulares. Apesar da aplicabilidade prática, o indutivismo não garante explicações definitivas sobre nenhum fenômeno da natureza. Adicionalmente, existe o fato de que nenhuma observação pode ser realizada de forma totalmente objetiva, pois todas as percepções e interpretações do mundo exterior são influenciadas por fatores subjetivos, como a cultura e as expectativas pessoais (ALVES, 2007). Pensamento Científico 28 Métodos indutivo e dedutivo No método indutivo, para que as generalizações sejam consideradas legítimas, é preciso fazer numerosas observações do fenômeno em estudo. Essas observações devem ser repetidas em várias condições e não pode haver nenhum resultado contraditório (ALVES, 2007). Esse método pode ser traduzido como a forma de se raciocinar por meio de uma associação com base em dados prévios, quando se obtém uma conclusão de algo já observado e estabelecido. Para exemplificar: o cobre, o zinco e o ferro conduzem eletricidade. Dessa forma, todos os metais conduzem eletricidade. Já o método dedutivo é o ato de descobrir a verdade por meio de conclusões já conhecidas. Pode-se dizer que ele parte do geral para o particular. Ao utilizarmos o exemplo exposto, dizemos que todos os metais conduzem eletricidade. O ouro é um metal, logo, conduz eletricidade. Ou, ainda, podemos pensar da seguinte forma: o cobalto conduz eletricidade, assim, sabemos que é um metal. Diante do exposto, pode-se afirmar que, entre a dedução e a indução, não há um isolamento de processo, uma vez que ambos são complementares. A indução deve servir como base a uma possível conclusão acerca de um tema. Na sequência, a dedução continua sendo uma espécie de parâmetro e pode até mesmo servir como premissa para próximas induções. NOTA: Com base nos tipos de métodos que apresentamos, saiba que não há como dizer que o método científico é apenas um. São várias as maneiras possíveis para a obtenção de resultados científicos e todas elas são de fundamental importância na construção do conhecimento. Cabe ao pesquisador decidir qual é a mais adequada. Pensamento Científico 29 Um resultado obtido em laboratório por meio de métodos científicos, por exemplo, em condições controladas e de maneira reprodutível, ainda não está qualificado como parte integrante do conhecimento científico. Qualquer resultado experimental necessita passar pelo crivo de outros investigadores, mediante a sua publicação em um periódico científico. É de extrema importância, portanto, realizar a formalização da produção científica e proceder a divulgação dos resultados obtidos a partir da pesquisa para outros cientistas da área. Assim, é fundamental que você saiba que produzir conhecimento exige muita dedicação por parte do pesquisador. RESUMINDO: Gostou do que foi apresentado? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter relacionado a ciência e o método. Também aprendeu o conceito de método e a sua importância para a realização das atividades de pesquisa. Identificou os principais métodos científicos utilizados pela ciência e as características de cada um deles. Por fim, verificou o quanto é significativa, para a construção do conhecimento e, logicamente, para o avanço da ciência, a utilização de um método científico. Pensamento Científico 30 A importância da pesquisa científica INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar a importância da pesquisa científica. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Significado da pesquisa científica Para você, o que seria pesquisa? Geralmente, nós associamos a atividade de pesquisa aos cientistas vestidos de batas brancas, em seus laboratórios, realizando experimentos. Com certeza, você já assistiu a diversos filmes e desenhos animados nos quais aparecem os cientistas em um laboratório realizando as suas experiências com vários tubos de ensaio e outros utensílios. No entanto, essa é uma ideia equivocada que temos acerca do que significa pesquisa. A atividade de pesquisa é a de resolver problemas e nós fazemos isso de forma cotidiana, seja na academia, seja em nosso ambiente profissional. Você já percebeu isso? Avalie o seu dia a dia e veja como a pesquisa está presente nele. Pesquisamos para saber o menor valor de um objeto que desejamos comprar, para realizar os trabalhos da faculdade e, até mesmo, para escolher uma escola para o filho estudar. Você já realizou algumas dessas atividades? Claro que sim. Lembre-se que você, ao pesquisar, tem que resolver alguma situação e, para isso, estabelece algum critério norteador para que atinja o seu objetivo. Nas empresas e organizações, pesquisas são realizadas para saber a satisfação do cliente, a aceitação do produto e da marca perante os consumidores e a concorrência. Minayo (2007, p. 47) sustenta que: [...] a pesquisa é uma atividade básica das Ciências na sua indagação e construção da realidade. [...] É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados, pensamento e ação. Pensamento Científico 31 Perceba que, de acordo com a autora, o termo “pesquisa” atrelado à ciência é uma aproximação da realidade munida de critérios, rigor, metodologia e caráter científico. A pesquisa científica tem a finalidade de propor respostas aos problemas relevantes que o homem se coloca e realizar descobertas significativas, ou seja, que aumentem a sua bagagem de conhecimentos. Em suma, a pesquisa científica visa descrever, explicar e prever os fenômenos. Você já consegue conceituar o que é pesquisa científica? A figura a seguir sintetiza as características da pesquisa científica que foram apresentadas até aqui. Aconselhamos que internalize essas características, pois elas serão necessárias ao longo da sua formação profissional e até mesmo quando estiver nos ambientes de atuação da sua prática profissional. Figura 4 - Características da pesquisa científica PESQUISA CIENTÍFICA Problema Planejada Reflexão crítica Sistematizada Conhecimento original Investigação contítua Fonte: Lakatos e Marconi, 2003 (Adaptado). Para Lüdke e André (1986), a melhor maneira de se aprender a pesquisar é, precisamente, fazendo pesquisa, enfrentando os problemas teóricos, metodológicos e técnicos que se apresentam no Pensamento Científico 32 trabalho científico. Para realizá-la, é preciso haver um confronto entre as informações coletadas sobre um determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado. Entre outras informações pertinentes, é necessário entender que, na pesquisa, existe uma relação entre teoria e prática e que é ao exercer a atividade da pesquisa que o pesquisador delineará os limites e as possibilidades em relação a essa atividade. O avanço da pesquisa científica O desenvolvimento científico sempre foi influenciado por aspectos econômicos, políticos e religiosos, assim como já abordamos. Na atualidade, por exemplo, o avanço de pesquisascom células-tronco embrionárias, que podem possibilitar a cura de diversas doenças, é bastante criticado por setores religiosos da sociedade. Nessa perspectiva, podem ser citadas, também, as doenças negligenciadas, tais como a malária, a esquistossomose, entre outras, que são enfermidades consideradas endêmicas em populações de baixa renda e que apresentam investimentos reduzidos em pesquisas científicas e produção de medicamentos. Dessa forma, o conhecimento científico não é resultante da prática investigativa e experimental por si só. A ciência se desenvolve a partir de interações sociais complexas e, consequentemente, sofre a influência de interesses pessoais, além de grupos políticos, econômicos e religiosos. O porquê de se entender os processos sistemáticos que envolvem a metodologia da pesquisa é parte integrante para a obtenção da segurança dos dados, critérios, princípios e normas, os quais fornecerão orientação e possibilitarão condições adequadas ao pesquisador na realização dos seus trabalhos. Os resultados sempre devem ser os mais confiáveis possíveis, para que possam ser usados como base de generalizações ou para outras pesquisas. Ao resgatarmos alguns aspectos da história, perceberemos que, durante a Idade Média, o desenvolvimento do conhecimento científico avançou lentamente, em consequência do predomínio do dogmatismo religioso. Nessa época, houve a valorização do conhecimento religioso para Pensamento Científico 33 explicar os fenômenos naturais, tendo Deus como o centro do Universo (teocentrismo). Culturas pagãs, como a grega, foram perseguidas, combatidas e menosprezadas. A Igreja restringiu o acesso à escrita e à cultura, o que impactou negativamente o desenvolvimento da intelectualidade. Já o desenvolvimento tecnológico resultou em inúmeros benefícios para sociedade, como o processo de globalização econômico e social. No entanto, pelo fato de os avanços tecnológicos terem ocorrido em uma sociedade capitalista, que objetiva essencialmente o lucro, a natureza é explorada de maneira inescrupulosa e o bem-estar social está sendo cada vez mais comprometido. Assim, a ciência (neste caso, apresentada como construção do conhecimento) é capaz de oferecer respostas confiáveis sobre a compreensão de determinados eventos e por que ocorrem. Ela também pode ser compreendida como a observação dos fatos de maneira sistêmica, com intuito de análise da experimentação e, desse processo, é possível retirar resultados passíveis de utilização universal. A ciência precisa ser entendida como a compreensão das relações dos efeitos e suas possíveis/principais causas de acontecimentos em determinados eventos quaisquer. Nesses eventos, é almejado demonstrar a verdade dos fatos e suas implicações ou aplicações práticas. Assim, a pesquisa científica, em si, é uma construção criada por meio de questões específicas que precisam ser respondidas. Constatamos, portanto, que o conhecimento se preocupa em explicar, mas também tem, como cerne, a busca por relações e outros fatos, na tentativa de explicá-los. Algo muito interessante de se observar é que o próprio senso comum pode motivar a realização de uma pesquisa científica. Esse processo é uma forma de testar algo que o senso comum não consegue obter resposta e trazê-lo à luz da aplicação do método científico. Um bom exemplo para entender a diferença entre os dois conhecimentos pode se referenciar na realização dos tratamentos médicos. Antigamente, um tratamento indicado pelos próprios índios ou anciãs era proveniente do conhecimento comum, que também pode ser dito como vulgar. Os remédios eram usados para diversas doenças ou Pensamento Científico 34 situações. Após ser comprovada a melhora ou a cura de determinada doença a partir do que foi aplicado, isso se tornava um conhecimento científico. Como entender isso? Anteriormente, a validação não existia, pois, mesmo que as doenças tivessem sido curadas, não se havia aplicado um método científico e não se tinha certeza da real eficácia de determinado remédio para uma doença específica. Como realizar um link desse assunto com a sua própria vida acadêmica? Na tentativa de resolução de um determinado problema, será importante a aplicação de métodos/maneiras científicas para chegar a sua solução sem a utilização de achismos. Compreenda a importância de se utilizar o método científico, pois, de acordo com o olhar da pesquisa acadêmica, você já é um cientista! No mundo atual, é possível perceber que o conhecimento científico é altamente relevante para a sociedade. De modo geral, as pessoas atribuem confiabilidade a qualquer informação, dado ou raciocínio obtido por meio dos chamados métodos científicos. Os sujeitos, de forma geral, consideram a ciência porque acreditam que o conhecimento científico desvenda a verdade absoluta devido a sua base empírica, na qual as teorias científicas derivam diretamente de observações e experimentações sobre os fenômenos da natureza (CHALMERS, 1993). Ciência como prática social O conhecimento científico é construído por meio da prática social e é bastante influenciado pelos interesses das classes sociais dominantes. Nesse sentido, segundo Chalmers (1993, p. 158), “[...] o desenvolvimento de uma ciência ocorre de forma análoga à construção de uma catedral enquanto resultado do trabalho combinado de certo número de indivíduos, cada qual aplicando suas habilidades especializadas”. Um resultado obtido em laboratório por meio de métodos científicos, por exemplo, em condições controladas e de maneira reprodutível, ainda não está qualificado a ser parte integrante do conhecimento científico. Qualquer resultado experimental necessita passar pelo crivo de outros investigadores, por meio de sua publicação em um periódico científico. Pensamento Científico 35 É de extrema importância, portanto, realizar a formalização da produção científica e proceder à divulgação dos resultados obtidos a partir da pesquisa para outros cientistas da área. Figura 5 – Divulgação da pesquisa Fonte: Pixabay No ato da pesquisa científica, é necessário que qualquer atividade experimental produzida seja avaliada, testada, discutida e aceita pela comunidade científica. Essa interdependência social para a construção da ciência evidencia o caráter dinâmico do conhecimento científico. É possível que resultados experimentais importantes sejam refutados, mal interpretados ou não recebam a devida atenção pela comunidade científica de uma determinada época, postergando grandes avanços científicos por longos anos, como foi o caso das pesquisas científicas realizadas pelo monge e botânico Gregor J. Mendel, que nasceu na Áustria, em 1822. Os trabalhos que Mendel publicou sobre hibridização de ervilhas não receberam nenhuma atenção de seus contemporâneos. Entretanto, atualmente, Mendel é considerado o fundador da genética (BATISTETI; ARAÚJO; CALUZI, 2010). A população, de modo geral, tem uma visão descontextualizada do trabalho de um cientista. A mídia tem grande influência sobre esse tipo de visão, pois o estereótipo do cientista nos desenhos animados, nas Pensamento Científico 36 histórias em quadrinhos e em outros meios de comunicação é uma figura masculina, individualista, antissocial, com óculos, e que sempre tem ideias mirabolantes. NOTA: Para entender a atual visão de mundo com base no conhecimento científico, é preciso compreender as fases da evolução do intelecto do homem, as quais refletem o próprio processo de desenvolvimento da ciência. Não há um consenso sobre a época histórica precisa do surgimento da ciência: para alguns estudiosos, sua criação data das primeiras civilizações; outros consideram a Grécia Antiga o berço da ciência e há, ainda, aqueles que acreditam que o surgimento da ciência se deu na Era Moderna. No entanto, sabe-se que, nas mais diversas culturas e regiões do globo,do ponto de vista mental e intelectual, houve, inicialmente, a subordinação do mundo físico a um mundo superior, o qual era habitado por entes e divindades responsáveis pelos fenômenos da natureza e pelo destino do homem (ROSA, 2012). O pensamento grego começou a se diferenciar das outras culturas contemporâneas por se basear na observação e no raciocínio para explicar os fenômenos naturais. No curso dos séculos, a busca pelas causas e pela essência dos fenômenos teve grande influência teológica, mantendo as bases metafísicas gregas. O distanciamento da ciência em relação aos pensamentos religiosos para explicar os fenômenos naturais se iniciou no século XV, com o Renascimento. A ideia de racionalidade, que surgiu com os filósofos iluministas no século XVIII, intensificou-se com o positivismo e o construtivismo nos séculos seguintes (ROSA, 2012). É importante salientar que o desenvolvimento do conhecimento científico foi marcado por estagnação e retrocessos, como o período da Idade Média, mas também por grandes avanços, como na época do Renascimento, o que evidencia a complexidade da evolução histórico- social da ciência (ROSA, 2012). Assim, para compreender melhor o processo de construção do conhecimento científico, precisamos conhecer alguns detalhes sobre as principais fases do pensamento humano, as Pensamento Científico 37 quais envolvem o pensamento mitológico, o conhecimento religioso e a racionalidade empírico-mecanicista. A mente humana apresenta a mesma capacidade nos diferentes povos, embora não seja possível desenvolver imediatamente e ao mesmo tempo todas as capacidades mentais. Assim, cada cultura desenvolve os potenciais cognitivos de acordo com o tipo de vida que leva e com o tipo de relação que mantém com a natureza. Os povos antigos também utilizavam meios intelectuais para tentar compreender o Universo, como é o caso das civilizações pré-colombianas (maias, incas e astecas), que possuíam grandes conhecimentos sobre astronomia e matemática. Não se pode, portanto, desvalorizar a forma de pensar dessas culturas, pois os indivíduos estavam inseridos em uma realidade material muito rude, dominados pela necessidade de manter um nível mínimo de subsistência. Contudo, trata-se de um modo intelectual de pensar que parte do princípio de que é preciso compreender o todo para se explicar as coisas, o que contradiz o proceder do pensamento científico, que avança etapa por etapa na explicação dos fenômenos naturais. O fato é que o mito não confere ao homem o domínio material sobre a natureza, o que é alcançado por meio do pensamento científico. REFLITA: Enquanto nas culturas orientais desenvolvia-se o espírito contemplativo, na Grécia Antiga formava-se uma mentalidade crítica, impulsionada pelos filósofos da época. A partir do questionamento de conceitos absolutos (metafísica), buscou-se explicar os fenômenos naturais a partir da lógica e da razão. O pensador grego Aristóteles foi o fundador da lógica, influenciando fortemente a formação do pensamento científico. Os campos filosófico e científico se confundiam e se inter-relacionavam até o fim da Idade Média, o que caracterizava um período de transição do pensamento humano (ROSA, 2012). Pensamento Científico 38 No entanto, após séculos de relativa estagnação, houve um avanço extraordinário no conhecimento científico, propiciado pelas profundas transformações sociais, políticas, econômicas e culturais iniciadas em meados do século XV, no período denominado Renascimento (ROSA, 2012). A superação da preponderância do conhecimento religioso ocorreu na época da Idade Moderna: as invenções e inovações técnicas contribuíram decisivamente para a expansão do conhecimento científico. Além disso, avanços revolucionários na Matemática, Astronomia e Anatomia permitiram o desenvolvimento da Física, da Química e da Biologia. O termo “biologia” surgiu no século XIX para nomear o campo da ciência que estuda os seres vivos, herdando, assim, boa parte do que, até então, chamava-se de história natural (ROSA, 2012). Dessa forma, a formação do pensamento científico foi influenciada pelo pensamento filosófico e teve um período de relativa estagnação em seu desenvolvimento, devido ao predomínio do conhecimento religioso durante a Idade Média. A expansão do pensamento científico foi, então, retomada na época da Idade Moderna, em que foi superada a hegemonia da religião. Nesse sentido, houve a construção de competências pelos alunos, como o desenvolvimento da capacidade de trabalhar em grupo, debater, questionar, expressar-se de forma oral, escrita ou artística, entre outras. Enquanto as competências apresentam caráter genérico, as habilidades estão relacionadas com situações mais específicas. Por exemplo, na área de ciências, ler e interpretar gráficos relacionados à saúde e à ecologia, e analisar situações-problema referentes às questões ambientais são de extrema importância/exigência. Portanto, é plausível afirmar que processo educacional está passando cada vez mais a ter, como tônica, o desenvolvimento de competências e habilidades pelo aluno, para que ele possa compreender os conhecimentos científico-tecnológicos e utilizá- los para atuar no mundo como cidadão. Até este momento, estudamos que o conhecimento científico é construído por meio da prática social e é influenciado por aspectos econômicos, políticos e religiosos. Assim, a ciência apresenta caráter dinâmico e está em constante mudança e reformulação. A população, de Pensamento Científico 39 modo geral, apresenta visões equivocadas sobre a ciência e o trabalho dos cientistas, e cabe ao professor desmistificar as concepções de senso comum dos alunos. A tecnologia, que consiste em ser a aplicação prática da ciência, representa o modo de vida de nossa sociedade atual. No entanto, o desenvolvimento tecnológico não gera, necessariamente, bem-estar social, visto que, no mundo contemporâneo, observa-se o aprofundamento das desigualdades sociais e vários problemas ambientais. O papel da escola e do ensino de ciências naturais, nesse contexto, é o de formar cidadãos que possam atuar de maneira crítica e transformadora sobre a realidade. Portanto, as práticas pedagógicas do educador devem possibilitar que o aluno desenvolva competências e habilidades que sejam significativas para a sua atuação como cidadão global. NOTA: De acordo com Alves (2007), a subjetividade é o modo como cada indivíduo percebe o mundo. Objetividade é a percepção do mundo de modo imparcial e independente das preferências individuais do sujeito. Já a intersubjetividade é um modo compartilhado de ver o mundo, utilizado pela ciência para decidir o que e como deve ser estudado. Figura 6 – Pesquisa científica Fonte: Freepik Pensamento Científico 40 Nesse ínterim, alguns questionamentos são importantes: de que forma o pesquisador pode perceber essas nuances, captar os detalhes contidos nas entrelinhas da cultura e do cotidiano dos sujeitos? Como registrar os dados de forma que não sejam trazidos de maneira superficial e não sejam alterados? As necessidades e os interesses de cada ser humano também interferem na interpretação da realidade e na busca da verdade. Consistem em ser matizes ou vieses que limitam ou direcionam para o que lhes seja mais útil ou conveniente enxergar, sem considerar a possibilidade de que outros podem enxergar de maneira diferente. Assim, podemos incluir em nossa história que a semente do conhecimento é permeada pelos estudos de comunidades antigas, as quais, por meio de uma comunicação, transmitiram a ciência de forma rudimentar até atingirem o uso da tecnologia. É nesse momento que houve a adesão aos fenômenos observados pela ciência moderna. RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido, ao longo do capítulo, o que significa a pesquisa científica. Também conheceu as suas características e importância para a humanidade. Além desses aspectos, aprendeu que há uma relação entre o conhecimento de senso comum e o ato de se fazer pesquisa científica. Por fim, compreendeu a importância de você, estudante, realizar pesquisas em sua graduação. Pensamento Científico 41 Desafios da ciência e a ética na produção científica INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar os desafios da ciência e os aspectos importantes da ética na produção científica. Motivado para desenvolver essas competências? Vamos lá. Avante! Desafios da ciência O que leva uma pessoa a realizar uma investigação científica? O desenvolvimento de uma pesquisa científica se refere à experiência teórica e prática do pesquisador, da comunidade científica e da área de conhecimento na qual está situado. A pesquisa científica deve ser estabelecida a partir de duas abordagens: qualitativa e quantitativa. Neste tópico, aprenderemos um pouco mais essas duas abordagens científicas que devem ser determinadas pelo pesquisador ainda no início do processo de pesquisa. Dessa forma, é importante que, durante a produção cientifica, seja justificado o que lhe impede de buscar respostas. O tema e até o subtema que você escolheu podem promover mudanças significativas para a profissão que você exerce? Trata-se de novas soluções para a comunidade? Respondem às questões que há tempos não são investigadas? Contribuem para o trabalho de outras pessoas ou para o desenvolvimento de sua área de atuação? Questione-se sobre as contribuições práticas de sua pesquisa científica e apresente ao leitor, aquele que terá acesso posteriormente à sua pesquisa escrita e organizada, a relevância do tema, as suas argumentações e as suas considerações pessoais sobre o assunto e, principalmente, sobre os subtemas ao redor de sua pesquisa. Assim como já foi explicado, a ciência é resultado do trabalho de cientistas e de grupos de cientistas espalhados pelo mundo, reunidos em universidades, empresas e instituições de pesquisa. Esses profissionais Pensamento Científico 42 divulgam o seu trabalho para a avaliação de outros pesquisadores e para contribuir com a realização de outras pesquisas. Na visão de Alves (2007), é extremamente importante que as teorias desenvolvidas por meio da pesquisa científica sejam divulgadas, de forma que possam ser avaliadas, testadas e, quando necessário, reformuladas. Desse modo, também é possível evitar a duplicação de esforços e de gastos desnecessários de recursos. Para que essa divulgação aconteça, são utilizadas várias formas: a. Realização de eventos, como seminários e congressos científicos. b. Publicação de artigos científicos em periódicos (publicações impressas ou on-line) de cada área do conhecimento. c. Defesa pública e publicação de monografias, dissertações e teses em universidades. d. Divulgação jornalística de resultados de pesquisas em jornais, revistas, programas de televisão ou de rádio e portais de internet. e. Publicação de livros técnicos. Nesse sentido, a divulgação jornalística do conhecimento científico é especialmente importante para que o grande público tenha acesso à informação especializada. É importante “traduzir” termos e teorias científicas em uma linguagem que seja compreendida mais facilmente, pois, assim, contribui para uma melhor atuação da comunicação entre as produções cientificas. IMPORTANTE: A busca do ser humano pelo conhecimento sobre o mundo onde vive e sobre si mesmo tem servido tanto para suprir suas necessidades intelectuais e materiais quanto para criar outras. Pode-se verificar a utilidade da ciência ao observar o conhecimento acumulado até hoje, por exemplo, sobre as leis que regem as órbitas planetárias e outros corpos celestes, o funcionamento do corpo humano, os efeitos gerados pelo surgimento dos grandes centros urbanos, entre outros assuntos. Pensamento Científico 43 Você deve ter imaginado que é muito difícil ser um pesquisador, mas, nestas poucas páginas, verá que isso é possível a qualquer um, desde que haja muita dedicação. Quer saber como produzir e desenvolver conhecimento? Estudar o que é verdade consiste em analisar a relação existente entre o pensamento humano e o objeto a ser conhecido. Assim, voltamos à limitação humana e a sua relação com a realidade. O homem tem como portas de entrada (de sua aprendizagem e de seu relacionamento com a realidade), primeiramente, seus sentidos (visão, audição, tato, olfato etc.). Algumas vezes, precisa de instrumentos adequados para conhecer um mundo que, aos olhos naturais, não conseguiria perceber. Um bom exemplo são os microscópios para ampliar a visão. Sem o instrumento adequado, como é possível saber que vírus, bactérias e microrganismos existem? Entretanto, o fato de o homem não os perceber não significa que não existam. Outras vezes, há obstáculos que impedem ou distorcem o entendimento da realidade pelo ser humano. Exemplo disso são os dogmas, verdades prontas e acabadas que se baseiam em crenças que lhes foram impostas ou que tacitamente foram aceitas ao longo de seu crescimento, desde criança até a fase adulta. Além disso, a pesquisa não é a única forma de obter conhecimento e fazer descobertas. A pesquisa bibliográfica é um exemplo claro de obtenção do conhecimento, pois esclarece dúvidas, e não é necessário o emprego de processos metodológicos rigorosos. Embora seja válido, esse tipo de pesquisa não se caracteriza como uma pesquisa científica. Em sua vida acadêmica, se ainda não a fez, é provável que você faça pesquisas bibliográficas. É importante lembrar que a pesquisa científica sempre parte de uma dúvida ou um problema e, por meio da utilização de um método científico, talvez sejam encontradas respostas e soluções. Muitas vezes, não encontramos respostas às nossas indagações imediatamente ou apenas com a aplicação de um método de pesquisa. É possível que, antes de encontrarmos as respostas às nossas dúvidas, tenhamos de recorrer a vários tipos e métodos de pesquisa. Para ser considerada científica, uma pesquisa pode levar anos, porque ela precisa ser comprovada e Pensamento Científico 44 experimentada inúmeras vezes, a fim de comprovar se as respostas encontradas são válidas. ACESSE: O filme “O dia depois de amanhã” (EUA, 2004) mostra os possíveis efeitos do aquecimento global. O cientista vivido pelo ator Dennis Quaid alerta as autoridades mundiais para a necessidade de se tomarem medidas urgentes, capazes de impedir uma nova Era do Gelo. Lembre-se que o trabalho científico original é fruto de uma pesquisa que foi realizada pela primeira vez e apresenta as novas descobertas, contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento científico. Nesse tipo de pesquisa, o pesquisador é movido pela necessidade de contribuir com o progresso da ciência e com o desenvolvimento de soluções concretas para os problemas estudados. Figura 7 – Controle da ciência Fonte: Freepik Além das limitações relacionadas ao desenvolvimento da ciência, há uma série de desafios ligados à atividade científica. Primeiramente, é preciso lembrar que o desenvolvimento da ciência interessa a todos. Quando dizemos “todos”, estamos nos referindo aos governos dos países, à comunidade científica, às empresas privadas, aos grupos sociais, aos indivíduos e à sociedade em geral, em todas as atribuições da pesquisa científica. Pensamento Científico 45 Dessa forma, as práticas científicas, que deveriam ser um dos desejos de qualquer estudante universitário, são uma etapa fundamental para a formação de pesquisadores. Nossa nação carece de pesquisadores capazes de produzir, ampliar o conhecimento e, consequentemente, desenvolver o Brasil, a fim de diminuir a nossa dependênciadas nações mais desenvolvidas. Isso porque as práticas científicas contribuem para o desenvolvimento da capacidade intelectual de uma nação. Produção científica e ética Ao longo da história, diversos filósofos e cientistas investiram seu tempo e recursos, com o intuito de encontrar uma forma de classificar o conhecimento humano em diferentes áreas. Como resultado desses esforços, muitas classificações surgiram ao longo do tempo e é bastante provável que novas ainda sejam criadas, à medida que as áreas do conhecimento científico se ampliem ou se especializem. Atualmente, uma das principais formas de se classificar a ciência é por meio da divisão entre a ciência pura e a ciência aplicada. A ciência pura ou básica é constituída por investigações nas quais não existe uma preocupação em encontrar uma utilidade prática imediata para as teorias formuladas. Já a ciência aplicada é constituída por investigações nas quais há uma busca por soluções concretas para problemas reais, o que possibilita a aplicação prática imediata dos resultados da pesquisa científica. Também podemos dividir a ciência em ciências naturais, focadas no estudo da natureza e de seus fenômenos, e ciências sociais, que estudam as pessoas e os agrupamentos humanos. Historicamente, as ciências naturais são mais antigas; já as ciências sociais são mais recentes. Dessa forma, muitos procedimentos de pesquisa utilizados pelas ciências sociais são adaptações dos procedimentos originariamente desenvolvidos no campo das ciências naturais. No atual momento de desenvolvimento científico, há um grande debate acerca da necessidade de se desenvolverem métodos científicos apropriados para cada área do conhecimento e para cada objeto de estudo. Portanto, passamos por um momento histórico em que diversas áreas do conhecimento, as quais denominamos “ciências”, encontram-se em diferentes estágios de desenvolvimento. Pensamento Científico 46 Ao comparar a situação apresentada com o ser humano, seria conveniente afirmar que algumas ciências já estão na fase adulta, enquanto outras estão ainda na infância. O que seria, afinal, uma ciência mais “adulta”? Seria uma ciência que já tem várias teorias bem desenvolvidas e testadas, além de uma metodologia científica bem definida, como é o caso da Física, por exemplo. Outras ciências ainda estão desenvolvendo suas teorias e sua metodologia. É o caso das ciências mais novas, como a Sociologia e a Psicologia. Entretanto, isso não significa dizer que uma ciência seja melhor que a outra. Apenas chama a atenção para o fato de que algumas áreas do conhecimento humano já são mais desenvolvidas, principalmente porque são mais antigas e estão sendo estudadas há mais tempo. A atual classificação oficial das áreas de conhecimento utilizada no Brasil foi proposta pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). EXPLICANDO MELHOR: A Capes, que é um órgão oficial do governo federal brasileiro, definiu nove grandes áreas que agrupam conhecimentos e que têm afinidades entre si. Em outras palavras, são áreas que compartilham temas, objetos de estudo e metodologias de pesquisa. Observe que cada grande área do conhecimento apresenta subáreas que tratam de assuntos de natureza semelhante. Por exemplo: em ciências da saúde, todas as subáreas têm como foco de estudo o corpo humano e a saúde tanto em nível individual quanto em nível coletivo. Em ciências biológicas, por sua vez, o foco de estudo é o meio ambiente natural e todas as suas propriedades. Graduação no Brasil De acordo com Alves (2007), no Brasil, a graduação é um curso de nível superior realizado após a conclusão do Ensino Médio. Ela busca a formação profissional do estudante em diversas áreas do conhecimento e, em alguns casos, essa formação é obrigatória para o exercício da profissão. Pensamento Científico 47 Os cursos de graduação, no Brasil, têm, em média, quatro anos de duração, embora haja diferenças de duração entre diferentes cursos. Além disso, são divididos em: (1) bacharelado, (2) licenciatura e (3) tecnologia. O bacharelado dura de quatro a seis anos e é voltado ao exercício da profissão relacionada a cada área do conhecimento. Exemplos: Arquitetura, Medicina, Direito, Engenharias, Comunicação Social. A licenciatura também dura, em média, de quatro a seis anos, e é um curso superior voltado à formação de professores para níveis inferiores à graduação. Exemplos: Letras, Educação Artística. Já os cursos de tecnologia duram, em geral, de dois a três anos, e são voltados à formação de tecnólogos, ou seja, profissionais especializados em áreas técnicas do conhecimento, especialmente, as voltadas à indústria. Exemplos: Tecnólogo em Construção Civil, Tecnólogo em Gestão. Os cursos de graduação são regulamentados e avaliados periodicamente por órgãos vinculados ao Ministério da Educação (MEC), como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ou o Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle (Simec). Em 2008, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, o Brasil tinha cerca de 06 milhões de estudantes matriculados em cursos de graduação. A maior parte deles (cerca de 60%) estava matriculada em instituições privadas. Diante do exposto, precisamos refletir sobre a pesquisa na graduação, o que chamamos de iniciação científica. Muito se tem falando sobre a pesquisa nas instituições de nível superior do nosso país. Sabemos que a quase totalidade das pesquisas são realizadas em instituições públicas. Todavia, qual seria a relação da pesquisa com o aluno de graduação? Primeiro, precisamos explicar que um dos grandes desafios das universidades é a de, além da formação, fazer com que os graduandos sejam capazes de utilizar os conhecimentos. Assim, as atividades curriculares que tenham por objetivo a resolução de problemas são importantes instrumentos para a formação dos alunos. Você já realizou uma pesquisa? Quais foram os aspectos que sentiu mais dificuldade? Com certeza, houve vários obstáculos em vários momentos da sua graduação, seja em sala de aula, seja durante a iniciação Pensamento Científico 48 científica. Saiba que, nos próximos capítulos da disciplina, você receberá mais conhecimentos para ser um pesquisador. Para que você se instrumentalize nessa área, é necessário que você seja envolvido na elaboração de projetos de pesquisa, inclusive, para estimular os alunos que possuem a vocação para seguir a carreira de pesquisadores. As formas institucionais para ingressar nessa área ainda durante a graduação são os estágios curriculares e a iniciação científica. Recomendamos que você se aproprie das pesquisas realizadas pela sua instituição. Perceba que elas têm total ligação com a sociedade em que estamos vivendo, pois objetivam transformar a realidade por meio da busca por respostas para um problema ou situação. Pós-graduação no Brasil Na visão de Lakatos e Marconi (2005), no Brasil, a pós-graduação é formada por cursos que podem ser realizados após a conclusão da graduação. Esses cursos dividem-se em dois tipos: lato sensu e stricto sensu. Os cursos lato sensu são especializações voltados à atualização profissional nas mais diversas áreas do conhecimento. A carga horária mínima de um curso de especialização é de 360 horas, em geral, distribuídas no período de um ano a um ano e meio. No Brasil, os MBAs (do inglês: Master in Business Administration) também são cursos de especialização. Já os stricto sensu são cursos voltados à formação científica e acadêmica, ou seja, formam pesquisadores e professores universitários. Dividem-se em mestrado acadêmico, mestrado profissional e doutorado. Em todos os tipos de pós-graduação stricto sensu, há uma séria preocupação com o desenvolvimento da autonomia científica, ou seja, da capacidade de o indivíduo aprendere produzir conhecimento por si mesmo. Além disso, Alves (2007) explana que os cursos de pós- graduação são regulamentados e avaliados periodicamente pela Capes. Outras agências ligadas ao governo, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ou a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), concedem bolsas Pensamento Científico 49 (auxílios financeiros) para a realização de cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior. A principal tendência, atualmente, é a concessão de bolsas para doutorado sanduíche, quando o aluno faz apenas uma parte do curso no exterior. REFLITA: Após essa apresentação, qual seria a importância dos cursos de pós-graduação para o nosso país? Já sabemos a importância da pesquisa científica para o desenvolvimento de um país e para o avanço da sociedade. Primeiramente, é fundamental que a ciência seja plural e dialogue com os problemas da sociedade. Isso significa que é preciso aproximar o que se é discutido e pesquisado nos ambientes acadêmicos com a população em geral. Portanto, perceba que há desafios científicos e sociais a serem enfrentados e superados na atividade da pesquisa científica. Para finalizarmos este capítulo e esta unidade, esperamos que fique claro que nenhuma nação consegue evoluir sem pesquisa científica. Se, hoje, vivemos em um mundo e em uma sociedade tecnológica, isso se deve aos inúmeros pesquisadores que criam projetos de pesquisa, que encontram resultados, que os validam ou refutam e os publicam, atribuindo-lhes visibilidade. Já no que se refere à ética, ela é algo que deve permear todo o trabalho do pesquisador, desde o ato de elaboração do projeto de pesquisa. Isso significa que nada impede que seja realizada uma pesquisa na Internet, mas se deve verificar se as informações são confiáveis ou não. Não só, mas atribuir os devidos créditos aos autores e não plagiar. Por fim, acreditamos que a pesquisa científica em nosso país e os cientistas que temos precisam ser creditados por todos nós. Pensamento Científico 50 RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos tudo o que estudamos. Atualmente, o conhecimento se depara com um aspecto bastante significativo nos mercados: os recursos utilizados por ele estão espalhados por todo o globo e esses recursos atendem aos leitores de todos os cantos do mundo. Em virtude das facilidades proporcionadas pelo desenvolvimento intenso da tecnologia nas últimas décadas e da transnacionalização do conhecimento e do aprendizado, um estudante brasileiro tem condições de adquirir, por meio da Internet, conhecimento, ao realizar a sua leitura em qualquer lugar do mundo, o que contribui para que todos tenham uma excelente educação. Contudo, além do acesso a informação, é preciso que sejamos capazes de identificar as informações científicas. Pensamento Científico 51 REFERÊNCIAS ALVES, R. Filosofia da ciência. 12. ed. São Paulo: Loyola, 2007. BATISTETI, C. B.; ARAÚJO, E. S. N. de; CALUZI, J. J. O trabalho de Mendel: um caso de prematuridade científica? Filosofia e História da Biologia, v. 5, n. 1, p. 35-53, 2010. CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? São Paulo: Editora Brasiliense, 1993. CHASSOT, A. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 2004. CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. D’ONOFRIO, S. Metodologia do trabalho intelectual. São Paulo: Atlas, 1999. ECO, U. Como se faz uma tese. 16. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. KERLINGER, F. N. Metodologia da pesquisa em Ciências Sociais: um tratamento conceitual. São Paulo: EPU, 1980. KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à pesquisa. Petrópolis: Vozes, 1997. KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. LANKSHEAR, C.; KNOBEL, M. Pesquisa metodológica: do projeto à implementação. Porto Alegre: Artmed, 2008. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005. Pensamento Científico 52 LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber. Manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10. ed. São Paulo: Hucitec, 2007. ROSA, C. A. de P. História da ciência: da antiguidade ao renascimento científico. 2. ed. Brasília: FUNAG, 2012. Pensamento Científico Unidade 2 Técnicas de leitura, resumo e fichamento Pensamento Científico Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ THALYTA MABEL NOBRE BARBOSA AUTORIA André de Faria Thomáz Olá. Meu nome é André de Faria Thomáz. Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas (2006), pós-graduando em Docência Superior pela Universidade Gama Filho (2009), pós-graduado em MBA Executivo em Administração de Empresas (2009-2012), mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica (2011) e doutor em Administração Prática nas Funções de Contador pela mesma instituição (2018). Também sou professor universitário, conteudista e curador. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir a minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Thalyta Mabel Nobre Barbosa Olá. Meu nome é Thalyta Mabel. Sou graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestre em Serviço Social, tendo como objeto de estudo o Serviço Social na Previdência Social, pela mesma instituição. Possuo experiência como docente nas áreas de Serviço Social e Metodologia Científica na graduação e na pós-graduação de instituições públicas e privadas. Atuo como autora, designer educacional e consultora educacional na elaboração, gestão e implementação de materiais didáticos para a EaD. Fui convidada mais uma vez pela Editora Telesapiens a integrar o seu elenco de autores independentes e estou muito feliz em poder ajudar você a conhecer o mundo maravilhoso da pesquisa científica e contribuir para o seu aprendizado nesta fase. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quandoalguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO A leitura do texto teórico ........................................................................ 10 A importância da leitura no nível superior ................................................................... 10 Finalidades e a importância da leitura ............................................................................ 12 Aspectos para uma leitura proveitosa ............................................................................. 18 Resumo ............................................................................................................22 Conceito e tipos de resumo ...................................................................................................22 Fichamento ....................................................................................................27 Conceito e tipos de fichamento ..........................................................................................27 Resenha .......................................................................................................... 33 Conceito e a importância da resenha .............................................................................33 7 UNIDADE 04 UNIDADE 02 Pensamento Científico 8 INTRODUÇÃO A partir do momento em que você ingressa no ensino superior, obtém contato com diversas formas de conhecimento. Esse contato é possibilitado por meio das aulas, dos seminários, das pesquisas, dos eventos científicos e outros. Para que você tenha um maior proveito das informações adquiridas no universo acadêmico, é essencial que você desenvolva habilidades que facilitem o seu estudo. Grande parte das informações a qual você terá acesso será orientada pelos textos teóricos. Nesse sentido, a proposta deste capítulo é a de disponibilizar elementos que facilitem o estudo dos textos teóricos. A apreensão do conteúdo ministrado em cada disciplina que você cursar implica uma dedicação que pode ser mais bem sistematizada se você tiver mecanismos que simplifiquem as suas tarefas. O acesso ao conteúdo recebido em uma aula encontra, na leitura, uma grande aliada. Torna-se, assim, fundamental o conhecimento de técnicas que auxiliem na compreensão do material que você precisa ler. Diante desse contexto, abordaremos técnicas de leitura e análise de textos, tais como resumo, fichamento e resenha. Saiba que uma boa leitura possibilita a apropriação do conteúdo em suas várias possibilidades. Além disso, as atividades de leitura são extremamente necessárias tanto na sua vida acadêmica quanto na vida profissional, uma vez que, por meio dela, você enriquece a memória, estimula o senso crítico, amplia os seus conhecimentos e aprofunda os seus estudos, permitindo melhor entendimento do conteúdo lido. Pensamento Científico 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliá-lo no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Aplicar as técnicas de leitura no estudo de textos teóricos. 2. Elaborar resumos acadêmicos. 3. Identificar os tipos de fichamentos existentes. 4. Elaborar uma resenha. Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Pensamento Científico 10 A leitura do texto teórico INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz aplicar as técnicas de leitura no estudo de textos teóricos. Essas técnicas serão fundamentais para que a sua escrita tenha um desenvolvimento prático e coeso. Ressaltamos que algumas técnicas lhe ajudarão em vários trabalhos acadêmicos, em escritas profissionais e para a aplicabilidade do conhecimento. Motivado para desenvolver essas competências? Vamos lá. Avante! A importância da leitura no nível superior Ao darmos início a um curso de nível superior, adentramos em um universo repleto de conhecimento e novas habilidades a serem desenvolvidas. Essas exigências são apresentadas ao aluno de modo que, gradativamente, sejam internalizadas por eles. Como exemplos de exigências de novas habilidades, podemos citar: a utilização de programas de editor de texto; a navegação pela Internet, para a realização das pesquisas acadêmicas, e em base de dados; a utilização de planilhas de cálculo; e a elaboração de apresentação de slides. Além desses itens, podemos citar a leitura, a produção e a apresentação do texto acadêmico. Ao chegar à pós-graduação, muitas dificuldades já foram superadas. No entanto, a leitura e a utilização da informática são exigências e habilidades que perpassam qualquer que seja o seu estágio de formação acadêmica. Portanto, é fundamental que você, como aluno de um curso a distância e que utiliza de forma frequente o ambiente virtual de aprendizagem, perceba que a leitura é uma atividade que deve integrar a sua rotina de estudos. Primeiramente, é importante afirmar que, se você não possui um hábito de leitura frequente, deve desenvolvê-lo. Podemos definir o ato de ler como o ato de significar o mundo. Perceba que, cada vez que atribuímos significado ao mundo que nos cerca, estamos realizando Pensamento Científico 11 uma leitura. Nesse sentido, estamos constantemente lendo, sejam fatos, acontecimentos, paisagens, livros, entre outros. Figura 1 – Leitura por intermédio da tecnologia Fonte: Pixabay Na universidade, também realizamos várias leituras, mas destacamos, neste processo, a leitura do texto teórico. Isso se deve, uma vez que é preciso que nos apropriemos da produção que a humanidade já disponibilizou para avançarmos na busca por novas possibilidades. Figura 2 – Leitura como o ato de significar o mundo Fonte: Pixabay Pensamento Científico 12 REFLITA: Qual é a importância da leitura para a sua vida acadêmica? Você já se questionou a esse respeito? A leitura viabiliza o aprimoramento do vocabulário, a interpretação da realidade e a reflexão de forma crítica. Sobre a leitura, Alves (1999, p. 64) explica que: [...] a leitura é igual à música. Para que a leitura dê prazer, é preciso que quem leia domine a técnica de ler. A leitura não dá prazer quando o leitor é igual ao pianeiro: sabem juntar as letras, dizer o que significam – mas não têm o domínio da técnica. Diante do exposto, podemos inferir que a leitura nos coloca diante do mundo do conhecimento. Para uma perfeita compreensão do texto, você deverá atuar não só como um decodificador da palavra, mas deverá dialogar com o texto, recriar sentidos implícitos e estabelecer relações. REFLITA: Como é o seu processo de seleção de material para leitura? Quais são as principais fontes que você tem contato para a obtenção de informação? Finalidades e a importância da leitura É importante que você saiba que, ao encontrar um determinado material para leitura, é fundamental realizar uma varredura de reconhecimento. Isso se dá pela verificação da capa, do autor, do sumário, das referências indicadas pelo próprio autor, da introdução e prefácio (no caso dos livros), para, depois, iniciar a leitura. Esse ato é chamado de análise textual, que é a visão panorâmica do texto, a fim de prepará-lo para a leitura. De maneira geral, a leitura é feita com as seguintes finalidades: • Informativa – é a leitura que está direcionada à aquisição de uma cultura geral. Como exemplo, temos a leitura dos clássicos da literatura, de revistas culturais, de arte etc. Pensamento Científico 13 • Formativa – relacionada com a aquisição e a ampliação de conhecimentos. Como exemplos, temos a leitura de textos científicos, técnicos, de revistas científicas etc. Figura 3 – Exemplo de texto científico Fonte: Freepik • Entretenimento – voltada à promoção da distração no leitor. Como exemplo, temos a leitura de jornais, revistas de moda, de curiosidades, em quadrinhosetc. Pensamento Científico 14 Figura 4 – Leitura de jornal Fonte: Freepik A leitura de estudo é classificada por muitos autores, tais como Cervo e Bervian (2003), como leitura formativa. A partir disso, é necessário que você, ao ter algo para ler, estabeleça a finalidade da leitura daquele texto, pois, assim, a sua leitura será bem mais proveitosa. REFLITA: Quais são as leituras que você realiza em seu cotidiano? Você consegue classificá-las de acordo com as finalidades apresentadas? No contexto acadêmico, que é a nossa realidade em questão, o texto, seja ele científico, técnico ou filosófico, destaca-se como uma ferramenta que servirá de suporte ao seu aprendizado. A leitura que se desenvolve por intermédio desses textos é chamada de leitura analítica, uma vez que procede a uma análise do texto. Pensamento Científico 15 Os processos apresentados são parte integrante de uma abordagem exploratória do tema, com o intuito de fornecer subsídios das validades de se ler o documento ou não. Dessa maneira, será possível identificar se a leitura é importante para o alcance do objetivo proposto no estudo que está sendo realizado. Uma dica que pode ser usada quando há a realização de uma pesquisa é: sempre que estiver lendo, faça anotações dos aspectos principais do documento em fichas de leitura, bem como anote a fonte em que a informação foi consultada. Armazene esses dados de forma acessível, para que você possa retornar a eles quando necessário. Isso é o que chamamos de leitura temática e leitura interpretativa. Nesse momento, você decifrará a mensagem do autor, estabelecerá as ideias centrais e secundárias, e realizará um diálogo com o autor, posicionando- se frente às ideias apresentadas. É quando você desenvolve a crítica do texto lido. EXPLICANDO MELHOR: A ideia central é identificada quando você reconhece a mensagem que o autor quer transmitir, a tese que ele defende. As ideias secundárias são os argumentos utilizados pelo autor para justificar a sua ideia central, ou seja, para defender a sua tese. Atualmente, fazemos a leitura de arquivos digitalizados por meio do nosso computador ou tablet, por exemplo. Assim, é importante que você redija comentários neles e escreva as suas observações referentes a eles. Outro aspecto que merece a sua atenção é a separação dos textos, em seu computador pessoal, por áreas e subáreas do conhecimento. Além disso, os links que remetem a eles e as datas em que você teve acesso são informações fundamentais, caso seja necessário apresentá-los nas referências de algum trabalho acadêmico elaborado por você. Pensamento Científico 16 Figura 5 – Leitura digital Fonte: Pixabay NOTA: Recomendamos a elaboração de uma planilha com as seguintes informações: título da obra, resumo, link e data do acesso. Dessa forma, você organizará a sua biblioteca digital particular. Que tal aplicar isso em seu cotidiano acadêmico? O que foi apresentado é muito importante para fins de organização e de sistematização do conhecimento. Não perca essas informações, pois, sem elas, informações importantes não poderão ser utilizadas na realização do trabalho. Além disso, foi possível compreender que a leitura de um material tem como principal missão memorizar determinado conteúdo, aprender algo e desenvolver uma visão crítica sobre algum aspecto. Para que possamos aplicar um método em nosso cotidiano, tendo em vista a sua importância nos processos do dia a dia, existem algumas regras básicas que facilitam a aprendizagem. Pensamento Científico 17 Primeiramente, atribua atenção ao que está sendo feito. Parece ser uma etapa desnecessária e que deveria ser realizada implicitamente por todos, sem a necessidade de ser parte do método. Contudo, não é assim que acontece. É necessário esclarecer que a atenção é a capacidade de estar concentrado, com foco único, direcionado a uma só atividade. Além disso, considere que, se a atenção for aplicada durante um período para determinada leitura, deve haver obrigatoriamente outro momento de repouso. Caso o assunto seja de interesse do leitor(a), tem-se uma maior facilidade de mantê-la fixa. Em segundo lugar, há a memória, que nada mais é do que o processo de retenção daquilo que foi lido e estudado. Não é sinônimo de decorar alguma coisa. A memória tem relação com a execução de um bom método de leitura, composto por uma atenção coerente, interesse e relação entre o que está sendo lido com outros conteúdos já observados. Isso se dá pela construção das bases comuns do conhecimento. ACESSE: Indicamos que você acesse a Scielo por meio do site: www. scielo.com.br. A Scielo é uma biblioteca eletrônica brasileira que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos das mais diversas áreas. Finalmente chegamos à etapa do indivíduo associar ideias de maneira a extrapolar fatos e acontecimentos. É muito evidente quando existe uma correlação entre o que está sendo apresentado e as experiências anteriores dos autores. Isso se dá naturalmente por trocas de palavras na conversa. Para um aprendizado adequado, é passível a utilização de tal técnica para associar o conteúdo. Então, para se adequar o hábito de leitura ao melhor possível, é necessário que o tempo para ler seja selecionado e reservado diariamente, com local e material adequado. Que tal iniciar com as suas leituras? Pensamento Científico 18 Aspectos para uma leitura proveitosa Vivemos, hoje, em uma era tecnológica e é fácil perceber que a informação é transmitida de maneira muito rápida. Apesar de tudo isso, é necessário que entendamos a importância da leitura como fonte principal e melhor forma para a aquisição do conhecimento. Ainda que possamos ouvir informações por outros meios de comunicação, a leitura desenvolve e aprimora capacidades cognitivas relevantes ao ser humano. Por meio da leitura, podemos nos comunicar melhor, aumentar o nosso próprio vocabulário e, ainda, expor as nossas ideias de maneira mais eficiente. Diante disso, para que a leitura se desenvolva da melhor maneira, existem técnicas que colaboram com o processo. Em primeiro lugar, é preciso realizar uma pré-leitura para o reconhecimento do que se tem nas mãos. Nesses momentos, devemos ler o começo e o final do documento de maneira genérica. Se for um livro, o início e o fim; se for um capítulo, o primeiro e o último parágrafo. Já se estivermos lendo um jornal ou revista, de maneira geral, o título e as chamadas definem bem o conteúdo. Tenha em mente que os primeiros parágrafos, normalmente, trazem as informações mais importantes para reter a atenção e fazem referência direta ao que será apresentado. Após isso, precisamos ter em mente que a leitura deve ser seletiva, de modo a descartar o que é irrelevante ou desinteressante ao foco desejado. Entretanto, para esta etapa, é necessário que esteja claro qual é o objetivo do trabalho, ou seja, é fundamental que saibamos os critérios que serão usados para abordá-los de maneira correta. O problema da pesquisa precisa estar muito bem definido, a fim de que o material seja corretamente aproveitado. Para a sequência, deve-se realizar a leitura de forma crítica. Assim, a capacidade de selecionar as ideias principais e separar tudo aquilo que é secundário ao material é considerada a principal abordagem. Ao verificar qual é o cenário da pesquisa, o aluno precisa analisar e comparar as informações, no intuito de julgar e levantar as semelhanças para construir a sua visão sobre o assunto. Nesse aspecto, é imprescindível que se tenha Pensamento Científico 19 uma visão sistêmica do todo, a fim que se possa realizar uma análise do contexto para uma síntese. Figura 6 – Grupo de jovens realizando a leitura Fonte: Freepik Passamos, então, para a fase da leitura interpretativa do que foi observado. O pesquisador procura entender e formar uma opinião sobre as informaçõesapresentadas pelo autor. Nesse momento, é de extrema importância a integração entre os dados que foram descobertos na execução da leitura. Podemos seguir os procedimentos apresentados em conjunto com algumas práticas apresentadas a seguir: • Não ler um material sem ter definido qual é o foco ou necessidade dessa leitura. • Atentar-se na assimilação correta do conteúdo, ao lê-lo mais de uma vez, se necessário. • Ser sempre crítico em relação ao texto. Isso pode parecer genérico ou vago, mas, quando a leitura for realizada, é importante se questionar sobre a ideia principal do texto, o argumento que está sendo defendido e se vale a pena continuar com a leitura. Pensamento Científico 20 • Verificar a ordem lógica do texto e a sua devida coerência. • Realizar a leitura de reconhecimento antes do final é uma etapa importante. • Verificar a veracidade das informações a partir da fonte que ela está sendo consultada. • Finalmente, tente entender o porquê o autor escreveu aquilo. Isso também pode ser definido como a justificativa do trabalho. Essencialmente, se você tiver entendido a motivação da construção do trabalho, a leitura ficará mais fácil. Agora, já é possível entender os resultados esperados a partir de uma boa leitura. Passemos para a fase de organização da pesquisa, ou seja, a documentação. Figura 7 – Organização da pesquisa Fonte: Freepik Para que a pesquisa obtenha êxito, precisamos entender que não basta ler exaustivamente todo o material encontrado sobre determinado tema: é importante que haja compreensão e que o conteúdo seja corretamente assimilado. A fim de que você possa se organizar e obter o melhor rendimento possível dos seus estudos, existe uma prática que, Pensamento Científico 21 se adotada, vai te auxiliar positivamente. A documentação correta das suas leituras é algo efetivo e tem como intuito facilitar o processo de aquisição do conhecimento. Para tanto, existem, basicamente, dois tipos de documentação: SAIBA MAIS: A documentação geral é a organização do que foi encontrado em caixas ou até mesmo em pastas. Os documentos podem ser apostilas, jornais ou textos consultados e lidos, os quais são, geralmente, apenas organizados por temas, o que pode ocasionar uma demora quando buscada alguma fonte. Já a documentação bibliográfica tem como foco a separação do conteúdo de diversas maneiras. As principais são: por comentários das leituras, resumos ou, ainda, por citações. As separações podem ser realizadas por meio do fichamento, que torna mais fácil, caso seja necessária a realização da referência de determinada obra. Para que possamos elaborar uma referência de uma determinada fonte, seja ela um livro, revista, site ou periódico em geral, é necessário que façamos utilização das normas ABNT. Essas normas serão explicadas de maneira mais detalhada adiante. RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido as técnicas de leitura no estudo de textos teóricos. Não só, mas conheceu as suas finalidades e a sua devida importância. Por fim, compreendeu os aspectos para se ter uma leitura proveitosa. Pensamento Científico 22 Resumo INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de elaborar os resumos acadêmicos. A principal função dos resumos se dá em um processo de filtragem das principais ideias de uma obra, o que exige que você saiba como funciona cada uma dessas fases de filtração. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Conceito e tipos de resumo A leitura analítica apresentada no capítulo anterior deve garantir que o leitor apreenda aquilo que realmente é essencial. Essa apreensão pode ser bem melhor possibilitada mediante a elaboração do resumo da leitura efetuada. No entanto, o que seria resumir? Todas as vezes que falamos sobre resumo, a primeira ideia que temos é a de que se trata de textos curtos e objetivos, o que não é verdade: resumir é bem mais que isso. Esse formato é também compreendido como uma condensação do texto, mas sempre se deve ter o cuidado de fazer com que sejam permanecidas a intenção e a opinião do autor. O formato de resumo não aceita avaliação, julgamento de opinião ou comentários sobre o documento original. Resumir não é simplesmente recortar e reproduzir partes do texto original. É necessário que seja expressa, a partir de suas próprias palavras, a ideia central do texto. De acordo com a NBR 6028 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2003), um resumo é a apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto. Dessa forma, é plausível afirmar que os resumos se constituem em um processo de filtragem das principais ideias de uma obra sem perder a origem e o contexto que o autor nos transmite. Nesse aspecto, o resumo comporta maior espaço para o registro de observações e comentários sobre a obra do autor, ou seja, confere mais detalhes e maior importância ao tema e suas primícias centrais. Lembre- Pensamento Científico 23 se que as observações quanto aos comentários devem manter coerência, visto que é um fator primordial para que o resumo atinja o seu objetivo central, que é o de nos fornecer informações sem perder a sua natureza, a partir das ideias contidas na obra que se está resumindo. A partir do exposto, podemos afirmar que o ato de resumir um texto exige muita atenção e fidelidade aos pensamentos do autor, principalmente quando se trata do equilíbrio de algumas informações. Dessa forma, o resumo não comporta críticas que se oponham às ideias originais apresentadas, como “gostei”, “concordo”, “não considero válido” etc. Trata-se de uma síntese dos principais elementos constitutivos da obra e de sua comunicação conosco. Podemos dar início ao resumo com o registro do tema, do problema de pesquisa do autor e a sua síntese. Caso se trate de um livro com muitos capítulos, pode-se realizar o registro por capítulos. Além disso, o resumo deve conter os principais argumentos utilizados pelo autor e algumas citações diretas ou indiretas (as últimas são as mais utilizadas nesse tipo de esquema). Você precisa, antes de fazer um resumo, compreender o material que será resumido. Você sabe o que é resumir e para que serve um resumo? Pode parecer redundante realizar esse questionamento, mas um dos erros mais comuns é o de realizar um resumo ao mesmo tempo em que se lê o texto pela primeira vez. Em outras palavras, a primeira leitura deve ser realizada de maneira direta e sem interrupções. É a partir da segunda leitura que é possível compreender as ideias e separar as partes principais para a construção do resumo. Um resumo pode seguir alguns passos importantes para que haja uma boa execução, tais como: • Expor inicialmente a ideia mais importante do texto, bem como apresentar de onde ele é e onde foi publicado. • As articulações de ideias são, necessariamente, reflexos das ideias dadas pelo autor. • As conclusões do autor original são o foco do resumo. Pensamento Científico 24 • Fazer menção ao autor sempre comentando em terceira pessoa. • Não usar frases de maneira integral. • Não fazer juízo ou realizar crítica a respeito da obra original. • O resumo deve ser facilmente compreensível, sem haver a necessidade de consulta ao texto original. No entanto, devido à falta de detalhes, o resumo deve despertar o interesse pela obra original, caso necessário. • Evitar o uso de sentenças longas ao fazer menção ao que foi escrito no trabalho original. Os resumos podem caracterizados em três tipos: • O resumo informativo é, normalmente, o tipo de documento isento de opinião, apenas representando, de forma curta e direta, o texto que foi lido. Ele apresenta as ideias principais do autor, respeita a sua posição e, sefor necessária alguma citação integral, é apresentada entre aspas. • O resumo crítico é dado por um formato no qual quem o elabora redige normalmente a síntese de um documento lido. Posterior a isso, expressa a sua opinião em razão do que foi exposto, ou seja, realiza uma crítica. • O resumo acadêmico científico pode ser definido como um texto muito curto, mas que representa todas as etapas de um trabalho científico. Sua utilização vai desde monografias e artigos (geralmente 250 palavras) até teses e dissertações (geralmente 500 palavras). Em sua sequência, encontram-se as palavras-chave, responsáveis por localizar e exemplificar o que o documento trata. A norma que o define é a ABNT NBR 6028:2003, a qual estabelece os seus devidos limites. Vejamos, a seguir, o resumo da dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRN, intitulada O Serviço Social na Previdência Social: a afirmação do seu espaço na materialização dos direitos, de Rozendo (2010). Pensamento Científico 25 Quadro 1 – Exemplo de resumo RESUMO O trabalho profissional do/a assistente social na política previdenciária, vê-se envolto numa conjuntura adversa à consolidação do projeto ético-político profissional, marcada pela materialização da política de cunho neoliberal que promove essencialmente a redução dos direitos sociais historicamente conquistados pela luta da classe trabalhadora. Neste sentido, com o objetivo de analisar a afirmação do trabalho do Assistente Social na Previdência Social, suas lutas e desafios para a materialização de direitos, frente à conjuntura atual é que se processa a base teórica das discussões a serem travadas. Para tanto, realizamos como procedimentos metodológicos uma pesquisa bibliográfica e documental no detalhamento das nossas categorias analíticas, a fim de fundamentarmos o debate sobre a política previdenciária. A pesquisa realizada teve como área de abrangência a Gerências Executivas da Previdência Social de Mossoró e Natal-RN, correspondendo um total de 07 (sete) Assistentes Sociais pesquisadas, que trabalham no Setor de Serviço Social. Assim, a pesquisa, permitiu-se uma aproximação com o trabalho das Assistentes Sociais e com isso possibilitou-nos chegar a algumas conclusões: Primeiro, ao fato de que a Previdência Social não garante, em sua totalidade, as condições necessárias para o trabalho do(a) Assistente Social, tendo em vista a falta de recursos materiais e humanos para a sua efetivação, bem como da quase inexistência de sigilo profissional; segundo, que as Assistentes Sociais pesquisadas afirmam o Projeto Ético-Político do Serviço Social, no seu exercício profissional, a partir do engajamento em projetos e movimentos sociais relacionados à defesa dos direitos sociais e as classe trabalhadora; terceiro, que a afirmação deste projeto profissional, contribui para a formação de um novo fazer profissional, calcado numa análise de totalidade e de uma ação mais interventiva, crítica e propositiva, capaz de se relacionar com os interesses dos(as) usuários que procuram os seus serviços, na consolidação e socialização dos direitos sociais. Assim, os rumos do trabalho profissional do/a assistente social com respaldo no amadurecimento teórico-metodológico adquirido nos últimos anos e na competência ético-política cotidiana consolida o seu espaço na instituição previdenciária afirmando, os direitos arduamente combatidos numa conjuntura calcada na desestruturação das lutas sociais. Palavras-chaves: Política social. Previdência Social. Serviço Social. Trabalho Profissional. Direitos sociais. Fonte: Rozendo, 2010 (Adaptado). Pensamento Científico 26 Figura 8 – O ato de resumir Fonte: Pixabay Perceba que o exemplo anterior se trata de um resumo o qual apresenta introdução, objetivos, metodologia, resultados e conclusão. Ele é originário de uma pesquisa científica e é um meio de divulgar a produção acadêmica. Por fim, o resumo deve ser uma prática usual durante toda a sua formação, uma vez que, a cada nova disciplina, aumenta-se a carga de leitura solicitada. RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido a como elaborar resumos acadêmicos, bem como conheceu os seus tipos e finalidades. Além disso, percebeu a importância de se ter uma prática usual e rotineira desse gênero textual para obter êxito nos estudos acadêmicos. Pensamento Científico 27 Fichamento INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar os diversos tipos de fichamentos existentes. Isso será fundamental para o aprendizado adquirido em sua trajetória acadêmica. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Conceito e tipos de fichamento Apesar do homem, a cada dia, avançar no conhecimento de novas possibilidades para melhorar a sua existência, ele ainda não consegue usar toda a sua capacidade intelectiva. Nós não somos computadores, os quais armazenam um número infinito de informações. Por exemplo, no início de um curso, sempre estamos em contato com disciplinas interessantes, cujos conteúdos se diluem durante o curso. Muitas vezes, são conteúdos que fundamentam novos conhecimentos, mas não conseguimos armazená-los e eles se perdem, porque não são devidamente arquivados. O processo de fichamento é usado para que haja ordem na organização dos dados consultados, quando feita a pesquisa dos documentos relevantes ao tema. A finalidade é a de reunir as informações principais e contribuir na identificação da obra que foi estudada. Até alguns anos atrás, quando um professor nos solicitava um fichamento, o aluno, para confeccioná-lo, ia até uma livraria para comprar uma ficha de cartolina com tamanhos padronizados. Hoje, o avanço da informática permite que você faça o seu fichamento em qualquer programa de banco de dados de um computador, abrindo pastas para as diversas disciplinas. Pelo fato de estar no início de seus estudos, você pode estar subestimando a validade ou a importância do fichamento. Pode considerá-lo um retrabalho ou uma atividade desnecessária quando se está realizando uma pesquisa. Todavia, esse tipo de recurso constitui um dos mais importantes durante a execução da pesquisa. Além disso, é necessário fazer uso das normas ABNT para o fichamento, o que nos traz Pensamento Científico 28 uma padronização do conteúdo consultado, de forma a ter disponíveis as informações necessárias no momento de se escrever sobre determinado assunto. NOTA: O fichamento ou o conjunto de fichas de identificação que você elaborar pode ser armazenado no computador, a fim de facilitar o acesso às informações. No entanto, aos conservadores, é possível que essas fichas sejam feitas de forma manual. A vantagem disso é a garantia de uma maior dificuldade na perca dos dados devido a um problema de sistema. Outra forma de não perder o conteúdo é armazená- lo no computador, mas deixar o backup direcionado para a “nuvem”, que nada mais é do que deixar o arquivo salvo em algum servidor on-line. A composição padrão de um fichamento é: a. Primeiramente, o cabeçalho, que pode ser dividido em título geral e título específico do trabalho. b. Em seguida, temos a referência, a qual contém o autor, o título, o local em que foi publicado, a editora e o ano de publicação. c. Posteriormente, tem-se o corpo ou texto do fichamento/ficha, que também pode ser traduzido como o conteúdo do que está sendo arquivado. Ele pode ser constituído por um resumo geral ou até mesmo uma citação. Não só, mas também pode mudar de maneira específica, dependendo do tipo de fichamento que estiver sendo realizado. Pensamento Científico 29 Figura 9 – Modelo de ficha catalográfica Título Geral Título Específico Nº da ficha → Cabeçalho ReferênciaBibliográfica de acordo com a ABNT → → Corpo ou texto da ficha (biblioteca X) → Local onde a obra se encontra Fonte: Elaborado pelos autores. Para exemplificar e dividi-los em casos diferentes, traremos uma ficha de citação e uma ficha de resumo. Ao estabelecer as diferenças entre elas: A ficha de citação é constituída mediante o uso de partes das obras ou de capítulos do que foi estudado. A transcrição faz menção aos textos que foram consultados e estudados, de forma a obter-se citações diretas, as quais, quando escritas, devem seguir as normas propostas pela ABNT. As transcrições são classificadas em: • Citações diretas, com todo o texto redigido da maneira como foi escrito pelo autor. • Citações com omissão de parte do texto que não tem relevância no momento da citação, indicado por intermédio de três pontos e dois colchetes “[...]”. Dessa forma, quando se transcreve o texto na ficha em questão, é necessário observar todas as normas cabíveis para citações. Nesse caso, devem-se seguir as seguintes premissas: Pensamento Científico 30 bloco, letra 10 e espaço simples para citações com mais de três linhas; texto direto e entre aspas duplas (“ ”) se a citação for de até três linhas, não se esquecendo de citar a página ao final da citação. Figura 10 – Exemplo de ficha de citação Fundamentos de Metodologia 01 FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. São Paulo: Atlas, 1993. “O tamanho-padrão das fichas é 7,5 cm por 12,5 cm; ou 12,5 cm por 20,0 cm. O pesquisador poderá optar por outro tamanho que atenda a seus propósitos (p. 108)”. (biblioteca particular) Fonte: Elaborado pelos autores. É importante lembrar que, no momento de realização do fichamento, não é necessário o apresentar o autor e nem o ano, pois esses dados já foram inseridos no cabeçalho da própria ficha. Além disso, no momento em que você estiver estudando as normas da ABNT, atente-se em compreender o que deve ser levado em consideração para a construção do fichamento. Pensamento Científico 31 Já a ficha de resumo é uma síntese das ideias que são exploradas de maneira central na obra consultada. Em outras palavras, o foco dessa ficha é atribuído a um grupo de informações que possa sintetizar uma obra que foi lida, no intuito de facilitar a busca por certa informação na fonte. Esse recurso é um dos mais comuns quando se realiza uma pesquisa bibliográfica. Figura 11 – Ficha de resumo Fundamentos de Metodologia 01 FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. São Paulo: Atlas, 1993. A autora inicia sua obra situando a importância do conhecimento na vida do homem e os principais tipos de conhecimento. Destacando a ciência, situa o método como característica desse conhecimento. A seguir, discute a pesquisa como recurso necessário ao desenvolvimento da ciência. Nesse sentido, traça as etapas de um projeto de pesquisa e define a estrutura básica de um trabalho científico. (biblioteca particular) Fonte: Elaborado pelos autores. É possível, também, optar por uma ficha mista, aonde você pode facilmente resumir as ideias do autor e também incluir algumas citações longas e curtas. É você que escolhe qual é o tipo de ficha mais interessante. Pensamento Científico 32 Veja que apesar de estarmos em um mundo cada vez mais tecnológico no qual praticamente se extinguiu a escrita à mão você pode realizar o Fichamento de uma outra forma. Isso quer dizer que, ao invés de ter as fichas impressas pode realizar essa atividade diretamente em seu computador e armazenar todas as fichas lá. RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido os diversos tipos de fichamento e as suas características. Também conheceu a importância de se utilizar essa técnica de estudo em sua vida acadêmica e as possibilidades que ela oferece. Pensamento Científico 33 Resenha INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de elaborar uma resenha e compreender quais são as suas vantagens quando bem elaborada, inclusive, para a troca de conhecimento e divulgação científica. Motivado para desenvolver essas competências? Vamos lá. Avante! Conceito e a importância da resenha A resenha é o mais completo tipo de resumo, pois requer de quem a redige um conhecimento sobre a temática/objeto de sua análise. Além da crítica ao texto lido, deve conter comparações com obras da mesma área e avaliação da relevância da obra em relação às outras do mesmo gênero. É um recurso bastante utilizado quando se é lançado um livro de determinada área no comércio, pois possibilita a sua divulgação. Na verdade, a resenha não é nada além de um resumo crítico, em que as ideias centrais devem ser escritas de forma mais clara e objetiva. Além disso, por se tratar de um resumo, deve manter semelhança em seu ato constitutivo, ou seja, não deve perder a origem básica da comunicação inicial. Dessa forma, podemos afirmar que a resenha é uma forma ou técnica de realização de um resumo mais crítico ou até mesmo mais analítico sobre um texto. Com ela, temos a liberdade de acrescentarmos as nossas opiniões pessoais sobre o texto, atribuindo, assim, mais ênfase a uma comunicação com o texto por meio de nossa interpretação. Nesse momento, todavia, é importante partirmos de uma análise crítica das ideias/argumentos que realmente se encontram no texto, dado que não podemos criar ou definir nada fora do contexto inicial. Sendo assim, durante a escrita do resumo, o pesquisador fará a crítica, o julgamento da obra e dos principais aspectos ao seu redor. Para esse tipo de esquema, Santos e Candeloro (2006, p. 5) aconselham os seguintes passos: Pensamento Científico 34 a) Citação bibliográfica do texto lido de acordo com a ABNT [...], com inclusão do número de páginas do texto que está sendo resenhado. b) Caso seja longo e estruturado em capítulos, o texto a ser resumido, descrever a organização dos capítulos e os temas abordados pelos mesmos. Em se tratando de um texto curto descrever apenas o tema abordado pelo autor. c) Descrição clara do problema abordado pelo autor no texto. d) Descrição das conclusões apresentadas pelo autor (ideias centrais) e os argumentos por ele utilizados. e) Julgamento crítico das ideias e da argumentação do autor (grifo nosso). Observamos, ainda, que uma resenha pode prescindir do resumo se o texto já for muito difundido. Nesse caso, o autor da resenha pode expressar diretamente a sua opinião crítica sobre o pensamento do autor. O modelo clássico, no entanto, principia pelo resumo como forma mais concreta de comunicação. Para todos os efeitos, a resenha é um tipo de resumo crítico. Neste momento, você já compreende que isso significa a construção de um resumo no qual você redige a sua opinião. Contudo, nesse gênero textual, a sua liberdade é um pouco maior. É possível comparar o texto lido com obras da mesma área e formar juízo de valor, o que exige um conhecimento mais específico sobre o assunto. Em linhas gerais, a resenha precisa, inicialmente, referenciar a obra de maneira correta, apresentando todas as informações e direções para encontrá-las. Não só, mas também é necessário que se apresente o que foi abordado e executado na obra original. Entretanto, a resenha pode, ainda, ser apenas descritiva, sem necessariamente incluir a opinião de quem a elaborou. Como um padrão adotado, a resenha deve ter, no máximo, quatro folhas com espaços duplos. Pensamento Científico 35 Na construção de uma resenha, é necessário que sejam observados um pequeno número de passos: • Referência à obra original, de acordo com a NBR 6023 (ABNT, 2003). • Abordar, de maneira geral, o autor da obra. • Sintetizar o conteúdo do tema e os aspectos principais. • Apresentar o que o autor original concluiu.• Realizar a crítica sobre o que foi exposto. Para a elaboração da quinta etapa, é necessário trabalhar com uma lógica que questione: o mérito da obra; a contribuição dada; se as ideias são originais; e se o texto é coerente e preciso. Além disso, é preciso verificar qual é o público destinado a entender a obra e se ela está de acordo, bem como se há certo equilíbrio no que foi transmitido. Em suma, a resenha tem uma proposta que sustenta que você deve, primeiramente, dominar o tema que está sendo abordado, esquematizar o resumo e, então, elaborar uma crítica sobre determinada obra. RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido a importância da resenha para o estudo dos textos teóricos. Percebeu que ela é de suma importância para a divulgação científica e a consequente troca de conhecimentos. Também entendeu como se elabora uma resenha e quais são as suas características. Pensamento Científico 36 BIBLIOGRAFIA ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: Informação e documentação - Resumo – Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. São Paulo: Loyola, 1999. ANDRADE, M. M. de. Introdução à metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 2001. CARVALHO, M. C. M. de (org.). Construindo o saber. Campinas: Papirus, 2003. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. São Paulo: Prentice Hall, 2003. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2001. PLATÃO, F. S.; FIORIN, J. L. Para entender o texto: leitura e redação. 2. ed. São Paulo: Ática, 1991. SANTOS, V. dos; CANDELORO, R. J. Trabalhos acadêmicos: uma orientação para a pesquisa e norma técnica. Porto Alegre: AGE, 2006. Pensamento Científico Unidade 3 Projetos de pesquisa Pensamento Científico Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ THALYTA MABEL NOBRE BARBOSA AUTORIA André de Faria Thomáz Olá. Meu nome é André de Faria Thomáz. Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas (2006), pós-graduando em Docência Superior pela Universidade Gama Filho (2009), pós-graduado em MBA Executivo em Administração de Empresas (2009-2012), mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica (2011) e doutor em Administração Prática nas Funções de Contador pela mesma instituição (2018). Também sou professor universitário, conteudista e curador. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir a minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Thalyta Mabel Nobre Barbosa Olá. Meu nome é Thalyta Mabel. Sou graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestre em Serviço Social, tendo como objeto de estudo o Serviço Social na Previdência Social, pela mesma instituição. Possuo experiência como docente nas áreas de Serviço Social e Metodologia Científica na graduação e na pós-graduação de instituições públicas e privadas. Atuo como autora, designer educacional e consultora educacional na elaboração, gestão e implementação de materiais didáticos para a EaD. Fui convidada mais uma vez pela Editora Telesapiens a integrar o seu elenco de autores independentes e estou muito feliz em poder ajudar você a conhecer o mundo maravilhoso da pesquisa científica e contribuir para o seu aprendizado nesta fase. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Como planejar a pesquisa científica? ................................................. 12 A importância de planejar ........................................................................................................ 12 Planejando a pesquisa científica ........................................................................................ 14 Como elaborar o projeto de pesquisa? ..............................................26 A importância do projeto de pesquisa ...........................................................................26 Roteiro para a elaboração do projeto de pesquisa ................................................27 Tema e a sua delimitação: o que fazer? .....................................................28 Problema ........................................................................................................................... 31 Objetivos ...........................................................................................................................33 Justificativa ......................................................................................................................34 Revisão de literatura .................................................................................................35 Procedimentos metodológicos ........................................................................ 36 Cronograma .....................................................................................................................37 Referências ...................................................................................................................... 38 Apêndices ....................................................................................................................... 38 Quais os Tipos e técnicas de pesquisa? ............................................39 Tipos de Pesquisa ........................................................................................................................ 39 Natureza da pesquisa científica ........................................................................................... 40 Caracterização Segundo os Objetivos ......................................................... 41 Caracterização segundo os procedimentos de coleta ....................42 Caracterização segundo as Fontes de Informação ...........................44 Técnicas de pesquisa .................................................................................................................45 Como elaborar um relatório de pesquisa? .......................................49 A importância do relatório de pesquisa ......................................................................... 49 A elaboração do relatório de pesquisa .......................................................................... 51 9 UNIDADE 03 Pensamento Científico 10 INTRODUÇÃO Assim como já estudamosnesta disciplina, a universidade é o lócus da produção da pesquisa. Você já sabe a importância da pesquisa científica para o desenvolvimento das sociedades. Nesta unidade, daremos continuidade a essa discussão referente à pesquisa científica, mas enfatizaremos os seus tipos e a sistemática para a sua construção, que é a elaboração do projeto de pesquisa. Saiba que planejar as suas atividades de pesquisa de forma sistemática é um passo fundamental para o alcance das metas estabelecidas. É essencial que você compreenda a importância de se pesquisar e planejar uma pesquisa, bem como a necessidade de se pesquisar sujeitos, a sociedade e compreendê-los. Desejamos que você aproveite as orientações presentes nas páginas seguintes e entenda esta unidade como um meio informativo para a realização/elaboração do seu projeto de pesquisa. Pensamento Científico 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliá-lo no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Realizar um planejamento de uma pesquisa científica. 2. Elaborar um projeto de pesquisa. 3. Identificar os tipos e as técnicas de pesquisa a serem utilizadas na investigação científica. 4. Elaborar um relatório de pesquisa. Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Pensamento Científico 12 Como planejar a pesquisa científica? INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de realizar o planejamento de uma pesquisa científica. Isso será fundamental para o momento em que for solicitada a elaboração do seu projeto de pesquisa. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! A importância de planejar Antes de iniciarmos as explicações sobre o planejamento de uma pesquisa científica é importante retomarmos alguns pontos importantes sobre a pesquisa científica. Vamos lá! A pesquisa científica etem a finalidade de propor respostas aos problemas relevantes, que o homem se coloca, e realizar descobertas significativas, que aumentem a sua bagagem de conhecimentos. Em suma, a pesquisa científica visa descrever, explicar e prever os fenômenos. Vejamos a citação a seguir sobre a pesquisa científica. A pesquisa científica é a realização concreta de uma investigação planejada, desenvolvida e red♣igida, de acordo com as normas da metodologia consagradas pela ciência. É o método de abordagem do problema, em estudo que caracteriza o aspecto científico de uma pesquisa. (SALOMON 1991, p. 109 APUD LIMA, 2004, p. 8) Veja que a pesquisa não reduz a realidade em conhecimento, e o conhecimento pode ser favorável e reafirmar o poder instituído ou, ainda, descobrir as situações conflituosas existentes nas relações sociais. Vejamos a citação a seguir que aborda esse aspecto. A pesquisa não reduz a realidade em conhecimento, pois essa continua sendo realidade, mesmo depois de sua proble- matização e explicação teórica, até quando é limitada para estudo, pois o que sobra ainda é realidade constituída como processo. (SETUBAL, 1995, p. 45) Pensamento Científico 13 A pesquisa e a produção científica exigem um olhar sistemático para a realidade. A palavra “sistemático”, no seu sentido geral, significa tudo que constitui um sistema ou procede por sistema. Baseando-se nos seus conhecimentos o que seria pesquisa? Qual a relação da pesquisa com a realidade? Vamos entender o que seria a pesquisa científica? O essencial para pesquisa científica é um sistema não rígido, mas, sim, rigoroso, responsável pela ordenação e organização dos conteúdos constitutivos do objeto, levantados por meio das técnicas privilegiadas pela pesquisa, na qual nenhuma forma de análise é negligenciada (SETUBAL, 1995). A sistematização dava ao pesquisador a falsa impressão de ser o “dono da verdade”, já que o mundo e a história são representados de forma opaca. Daí a necessidade da postura crítico-dialética, já que essa serve de elemento de mediação entre o objeto e a sua análise. Um outro fator relevante é que, quando nos referimos a prática profissional das mais diversas áreas, não realizamos a associação com a pesquisa científica. Dessa forma, muitos profissionais, aos saírem das universidades e se desvincularem da vida acadêmica, não realizam a atividade de investigação em seus espaços de atuação. Isso é uma grande falha, pois o profissional pode produzir conhecimento por meio da apropriação do objeto de intervenção e no espaço onde atua diariamente. São pontos como esse que devem ser considerados no ato da formação profissional, ainda nas universidades, como também, lembrar que a sala de aula é um espaço na qual se pode desenvolver a iniciação científica (investigação/pesquisa). Diante do que foi exposto, concluímos que a pesquisa permite uma revisão e uma autoanálise dos que a praticam. O profissional deve se valer do seu olhar para transformar o que está a sua volta em conhecimento. Após as considerações sobre o significado da pesquisa vamos refletir sobre os eu planejamento. Mas, o que seria planejar? Muitos estudos apontam que o fato de realizarmos planejamento sobre a ação que pretendemos alcançar nos faz ter uma probabilidade de alcançá-la Pensamento Científico 14 com êxito. Planejar nada mais é que traçar um plano para que seja atingido um objetivo. Não estamos falando aqui da elaboração de um projeto de pesquisa, mas sim de como você de se preparar para a sua elaboração. Planejando a pesquisa científica A partir de agora iremos apresentar informações importantes para que de posse telas você elabore o seu projeto de pesquisa de uma forma mais prática. Lembrando que o projeto de pesquisa apresentará como você irá pesquisar aquilo que se propõem e quais as técnicas serão utilizadas. Um primeiro ponto e fundamental quando falamos em planeja- mento da pesquisa científica é a escolha do tema que será tratado. Para definir o tema que será abordado em seu projeto de pesquisa é necessário que você siga alguns pontos importantes. Afinidade com o tema é um dos aspectos mais importantes a serem considerados, pois como o assunto estará presente diariamente cotidiano estudos é fundamental que você goste de estudá-lo, que tenha interesse em aprofundar seus conhecimentos sobre o mesmo e que contribua para a sua formação profissional. Desta forma, ficará mais fácil o desenvolvimento do seu trabalho. Um outro ponto relevante é a especificidade. O tema do seu trabalho não pode ser tão abrangente. O ideal é que ele seja bem específico para que você tenha condições de explorá-lo e de executá-lo dentro do prazo estabelecido. Afinal, o tempo precisa ser condizente com as atividades as quais você precisa realizar tais como: ler materiais sobre o assunto, elaborar o referencial teórico, fazer fichamentos dos textos, estruturar o trabalho dentro das normas exigidas pela nossa instituição, entre outros. Recomendamos que acesse as bases de dados a seguir para que identifique o que já se pesquisa sobre a temática que pretende investigar. Pensamento Científico 15 Figura 1 – Base de dados Scielo Fonte: Os autores (2020) A base de dados anterior apresenta vários artigos de periódicos nacionais e das mais diversas áreas de atuação. Já a biblioteca virtual da USP apresenta as teses e dissertações elaboradas pelos alunos da instituição. Recomendamos o acesso, por ser umas das melhores instituições de ensino do nosso país. Figura 2 – Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP Fonte: Os autores (2020) Por último temos o Portal de periódicos da CAPES. É um portal no qual reúne milhares de teses, dissertações e artigos científicos tanto de instituições nacionais quanto internacionais. Pensamento Científico 16 Figura 3 – Portal de Periódicos da CAPES Fonte: os autores (2020). Caso você ainda tenha dúvidas sobre o que pesquisar recomen- damos que utilize as bases dedados e veja o que está sendo pesquisado naquela área. Também entrar em contato com o Corpo Docente da sua instituição para conversar sobre sua proposta, pedir uma orientação ou sugestão sobre temas que vem sendo pesquisados na atualidade são ações extremamente válidas. Lembre-se que o Corpo Docente é composto por professores-orientadores que possuem uma larga trajetória acadêmica de orientações de trabalhos de graduação, de especialização, de mestrado e doutorado. Então, eles são as pessoas mais apropriadas para darem aquelas dicas iniciais para que você siga no rumo certo em seu trabalho. Um outro ponto que merece destaque no ato do seu planejamento são os objetivos. Qual o objetivo da sua pesquisa? Os Objetivos são um dos principais componentes do seu projeto de pesquisa. Serão eles que irão nortear todo o seu trabalho desde a Introdução até a Conclusão. Lembre-se que todas as nossas atividades do diárias tem um objetivo. Para tudo há um objetivo, inclusive o que você pretende investigar. Qual o seu objetivo da sua investigação? Qual a sua intenção? Mostrar a melhoria, os benefícios, as lacunas de algo ou algum assunto? Se aprofundar/detalhar algum estudo de caso? Realizar um estudo compa- rativo? Diagnosticar uma situação ainda não compreendida? Orientamos a você que reflita bem sobre os pontos abordados anteriormente. Pensamento Científico 17 A justificativa, ou seja, saber os motivos da importância da investi-gação científica é fundamental. A justificativa deve assumir, predominantemente, a forma textual discursiva. Exposição sucinta, porém, completa, das razões de ordem teórica e prática que fazem a pesquisa ser importante/relevante para a área. Nesse sentido, procure: • Apresentar razões teóricas e práticas da Proposta de Trabalho; • Evidenciar as motivações de ordem pessoal/profissional que o instigaram a escolher esse tema; • Ressaltar a importância da pesquisa para a sua área. Para entender melhor essa questão chegou o momento de relacionarmos o que apresentado neste tópico a um exemplo prático e real. Que tal? Pedimos que você preste atenção e observe os pontos que serão levantados durante a análise. Vamos lá? Vejamos, a seguir, o Resumo, da Dissertação de Mestrado, do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, da UFRN, intitulada O Serviço Social na Previdência Social: a afirmação do seu espaço na materialização dos direitos, de autoria de Rozendo (2010). Antes do autor elaborar a Dissertação ele elaborou um projeto de pesquisa, o qual traz as etapas para a execução da sua investigação e, após toda a sua execução, inseriu os dados e informações, no que chamamos de Dissertação de Mestrado, que é um Trabalho de Conclusão de Curso dos que cursam Pós-graduação, em nível de Mestrado. Assim, na Dissertação há informações referentes e que estavam no projeto de pesquisa, como também informações referentes aos dados e informações coletadas no ato da execução da pesquisa. Queremos dizer que o tema, o problema da pesquisa, os objetivos, o objeto, a revisão da literatura, a justificativa e procedimentos metodológicos, que são elementos do projeto de pesquisa, que iremos estudar na unidade seguinte, estarão nos capítulos da Dissertação de Mestrado, já que ela é o resultado da pesquisa. Realizamos toda essa explicação para que você compreenda a relação que existe entre um projeto de pesquisa e uma Dissertação de Mestrado. O resumo que iremos utilizar como exemplo é um dos itens obrigatórios da Dissertação, o qual contém de forma sucinta o resultado da investigação. Agora pedimos que você realize a leitura do Resumo a seguir (veja o quadro 1). Pensamento Científico 18 Quadro 1 - Exemplo de resumo: O Serviço Social na Previdência Social RESUMO O trabalho profissional do/a assistente social na política previdenciária, vê- se envolto numa conjuntura adversa à consolidação do projeto ético-político profissional, marcada pela materialização da política de cunho neoliberal que promove essencialmente a redução dos direitos sociais historicamente conquistados pela luta da classe trabalhadora. Neste sentido, com o objetivo de analisar a afirmação do trabalho do Assistente Social na Previdência Social, suas lutas e desafios para a materialização de direitos, frente à conjuntura atual é que se processa a base teórica das discussões a serem travadas. Para tanto, realizamos como procedimentos metodológicos uma pesquisa bibliográfica e documental no detalhamento das nossas categorias analíticas, a fim de fundamentarmos o debate sobre a política previdenciária. A pesquisa realizada teve como área de abrangência a Gerências Executivas da Previdência Social de Mossoró e Natal-RN, correspondendo um total de 07 (sete) Assistentes Sociais pesquisadas, que trabalham no Setor de Serviço Social. Assim, a pesquisa, permitiu-se uma aproximação com o trabalho das Assistentes Sociais e com isso possibilitou-nos chegar a algumas conclusões: Primeiro, ao fato de que a Previdência Social não garante, em sua totalidade, as condições necessárias para o trabalho do(a) Assistente Social, tendo em vista a falta de recursos materiais e humanos para a sua efetivação, bem como da quase inexistência de sigilo profissional; segundo, que as Assistentes Sociais pesquisadas afirmam o Projeto Ético-Político do Serviço Social, no seu exercício profissional, a partir do engajamento em projetos e movimentos sociais relacionados à defesa dos direitos sociais e as classe trabalhadora; terceiro, que a afirmação deste projeto profissional, contribui para a formação de um novo fazer profissional, calcado numa análise de totalidade e de uma ação mais interventiva, crítica e propositiva, capaz de se relacionar com os interesses dos(as) usuários que procuram os seus serviços, na consolidação e socialização dos direitos sociais. Assim, os rumos do trabalho profissional do/a assistente social com respaldo no amadurecimento teórico-metodológico adquirido nos últimos anos e na competência ético-política cotidiana consolida o seu espaço na instituição previdenciária afirmando, os direitos arduamente combatidos numa conjuntura calcada na desestruturação das lutas sociais. Palavras-chaves: Política social. Previdência Social. Serviço Social. Trabalho Profissional. Direitos sociais. Fonte: Adaptado de Rozendo (2010). Pensamento Científico 19 Após a leitura do resumo da Dissertação temos algumas considerações a serem realizadas as quais podemos fazer uma relação com o planejamento do projeto de pesquisa. Vamos a elas. A Dissertação foi desenvolvida pelo aluno que desde a graduação tinha uma aproximação com o objeto de pesquisa em questão. O mesmo já tinha realizado estágio curricular não obrigatório, enquanto estudante de graduação, no INSS, na Gerência Executiva de Mossoró-RN, no Setor de Serviço Social. Atrelado a isso, o Trabalho de Conclusão de curso, a nível de graduação, versava sobre a materialização do projeto ético-político do Serviço Social, na Gerência Regional de Recife-PE, o qual abrange os seguintes estados da região nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe. Então, após a explicação anterior, nada mais natural que o aluno, ao dar continuidade a sua formação profissional a nível de Mestrado, fosse se enveredar pela mesma área de estudos. Sob as considerações, diante do que foi relatado, vamos às análises. O objeto de pesquisa é o Serviço Social na Previdência Social, no qual foi necessário que o pesquisador apreendesse, teórica e metodologicamente, a realidade concreta do objeto que estava sendo estudado. Já, os sujeitos da pesquisa foram as assistentes sociais, que trabalham especificamente no Setor de Serviço Social do INSS, nas Gerências Executivas das cidades de Natal e Mossoró, o que correspondia a um total de 7. E o objetivo da pesquisa era analisar a afirmação do trabalho do assistente social, na Previdência Social, noque se refere às lutas e desafios para a materialização dos direitos. Perceba que ao relacionarmos os conceitos apresentados a um exemplo da fica mais simples o seu entendimento. Antes de finalizarmos esse tópico propomos a você uma atividade para que tenha como objetivo o planejamento do seu projeto de pesquisa (iremos explicar no capítulo seguinte todos os passos para a sua elaboração). Mas você verá que após a realização da atividade a seguir será muito mais tranquilo e sem maiores dificuldades a elaboração do seu projeto. Pedimos que reflita acerca do que você pretende pesquisar/ estudar e a partir dos itens estruturantes mencionados a seguir, elabore o seu planejamento. Lembre-se de que a delimitação da sua pesquisa deve Pensamento Científico 20 levar em conta sua disponibilidade, sua possibilidade de execução do Projeto, seu acesso às fontes e ao campo da pesquisa e, principalmente, seu interesse pessoal sobre o tema. Na coluna da esquerda você tem o modelo e a explicação do que deve conter em cada uma das partes do Projeto e, na coluna da direita, o espaço em branco para você redigir cada parte dele. Quadro 2 – Planejamento do Projeto de Pesquisa CAPA INSTITUIÇÃO PROJETO DE ARTIGO CIENTÍFICO Título Sub-Título (se houver) Autor (nome) Orientador (Titulação, nome) LOCAL ANO Pensamento Científico 21 O QUÊ? 1. OBJETO Respondendo à pergunta “o quê?”, o objeto é a tentativa de dar concretude ao que se pretende trabalhar. Ele deve ser claro, preciso, bem delimitado e específico, além de merecer ser investigado cientificamente. Um objeto também responde afirmativamente às perguntas: É original? É relevante? É adequado para mim? É possível ser executado? Tenho recursos financeiros? Tenho suficiente tempo para abordar essa questão? O objeto da pesquisa também engloba o problema e a hipótese básica. Problema: “[...] dificuldade específica com o qual se defronta e que se pretende resolver por intermédio da pesquisa” (MARCONI e LAKATOS, 2001, p. 104). É a grande questão da pesquisa e deve ser elaborado em forma de pergunta. PARA QUÊ? PARA QUEM? 2. OBJETIVOS Objetivo Geral: “está ligado a uma visão global e abrangente do tema. Relaciona-se com o conteúdo intrínseco, quer dos fenômenos e eventos, quer das ideias estudadas” (MARCONI e LAKATOS, 2001, p. 102). Objetivos Específicos: apresentam caráter mais concreto. São as ações específicas, que permitem contemplar o objetivo geral. Pensamento Científico 22 POR QUÊ? 3. JUSTIFICATIVA A justificativa deve assumir, predominantemente, a forma textual discursiva. Exposição sucinta, porém, completa, das razões de ordem teórica e prática que fazem a pesquisa ser importante. Nesse sentido, procure: - Apresentar razões teóricas, práticas e pessoais do Projeto; - Ressaltar a importância da pesquisa aplicada. COMO? ONDE? 4. METODOLOGIA Explicitação das técnicas de pesquisa adotadas (documental indireta, bibliográfica, documental direta, observação direta intensiva e extensiva etc.); dos locais onde os dados serão coletados; dos tipos de dados que se pretende analisar etc. “Independentemente das técnicas escolhidas, deve-se descrever tanto a característica quanto a forma de sua aplicação, indicando, inclusive, como se pensa codificar e tabular os dados obtidos” (MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 106). Pensamento Científico 23 QUAIS TEORIAS (conceitos, autores)? 5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA - Relacionar a pesquisa com o universo teórico; - Retomar das principais fontes bibliográficas que podem contribuir para a temática do trabalho. QUANDO? 6. CRONOGRAMA* Deve ser organizado de acordo com o calendário letivo, considerando as datas oficiais de entrega do Artigo Científico. O cronograma deve conter as atividades previstas para todos os meses, desde o momento que se inicia a pesquisa até a entrega do artigo. Ano Mês 1 Mês 2 Mês 3 * Este quadro só serve para ilustrar uma das formas possíveis de se organizar o cronograma. Não deve ser tomado como modelo de realização das atividades no período assinalado. Pensamento Científico 24 QUAIS AS OBRAS CONSULTADAS E REFERENCIADAS? 7. REFERÊNCIAS Livros, artigos, publicações e documentos utilizados para elaboração do projeto e que se pretende ler durante sua execução. Fonte: os autores (2020) Nesse sentido, comece a refletir e a se indagar acerca do que você pretende pesquisar, levando em consideração todos os pontos abordados nesta unidade. Após o estudo de todos os assuntos abordados aqui, nesta unidade, recomendamos que você siga todas as orientações, pois eles são os elementos norteadores para quando for necessário elaborar o seu projeto de pesquisa, ou seja, o que você pretende investigar. Saiba que planejar as suas atividades de pesquisa de forma sistemática é um passo fundamental, para que alcance as metas estabelecidas. É essencial que você compreenda a importância de pesquisar, de planejar uma pesquisa, como também de se pesquisar sujeitos, a sociedade e compreendê-los. Pensamento Científico 25 RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido o significado de planejar e a sua importância para a pesquisa científica. Conheceu, também, os aspectos fundamentais para o planejamento de um projeto de pesquisa e compreendeu a sua importância para o êxito das investigações. Pensamento Científico 26 Como elaborar o projeto de pesquisa? INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de elaborar um projeto de pesquisa. Isso será fundamental para a sua vida acadêmica, pois elaborar um projeto de pesquisa gera grandes possibilidades de se obter êxito no ato da sua investigação. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! A importância do projeto de pesquisa Já dissemos no capítulo anterior da importância da realização de um planejamento, para que a pesquisa seja realizada com êxito e, para que isso aconteça. Porém, agora após a atividade e orientações apresentadas no capítulo anterior chegou o momento de você elaborar o seu projeto de pesquisa. Você se recorda do significado de um projeto de pesquisa? Saberia dizer qual a importância dele? Você já elaborou algum projeto de pesquisa durante a sua graduação? Em um projeto de pesquisa temos vários elementos, os quais seguiremos para que a pesquisa seja executada. O conceito de projeto de pesquisa é facilmente encontrado na literatura, assim, temos vários autores que o conceituam, como por exemplo o autor Gil (2002, p.19), o qual tem uma definição simples e objetiva com relação a esse conceito, de acordo com ele: “é o documento explicitador das ações a serem desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa”. SAIBA MAIS: Para ficar por dentro da temática, acesse o artigo “A definição do problema de pesquisa a chave para o sucesso do projeto de pesquisa”, de José Eduardo Gomides. Clique aqui. Pensamento Científico http://wwwp.fc.unesp.br/~verinha/ADEFINICAODOPROBLEMA.pdf 27 Já para Severino (2006), um projeto bem elaborado apresenta várias funções. Vejamos a seguir um resumo dos pontos importantes apontados pelo autor, em sua obra Metodologia do Trabalho Científico, com relação às funções do projeto de pesquisa: 1. Define e planeja para o estudante ou orientando o caminho a seguir no decorrer do desenvolvimento do seu trabalho de pesquisa; 2. Direciona as etapas a serem alcançadas, os instrumentos e estratégias a serem usados; 3. Possibilita que você, enquanto estudante universitário, adquira um perfil de pesquisador; 4. Enquanto pesquisador, você deve impor-se a uma disciplina de trabalho no que diz respeito, principalmente, em termos de organização do tempo, de sequência de roteiros e cumprimento de prazos; 5. Atende às exigências didáticas dos professores, ao serem submetidos a discussõesnos seminários, em nível de pós- graduação; 6. Serve de base para a coordenação de programas de pós- graduação selecionar o aluno ao ingresso no curso pleiteado, sobretudo aos cursos de doutoramento. No tópico a seguir aprenderemos os itens que compõem um projeto de pesquisa. Roteiro para a elaboração do projeto de pesquisa Não há um modelo único e exigido por todas as instituições, com relação ao projeto de pesquisa. Dentre os vários modelos existentes, eles podem ter algumas semelhanças ou pequenas diferenças, com relação a ordem dos elementos que o compõem. Porém, é fundamental que você compreenda o significado e o papel de cada um, no roteiro, para o projeto de pesquisa. Veja a seguir um modelo de projeto de caráter acadêmico. Pensamento Científico 28 Quadro 3 – Roteiro para a elaboração de um projeto de pesquisa ROTEIRO PARA PROJETO DE PESQUISA 1. TEMA 1.1 Delimitação do Tema 2. PROBLEMA 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral 3.2 Objetivos Específicos 4. JUSTIFICATIVA 5. REVISÃO DE LITERATURA 6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 7. CRONOGRAMA 8. REFERÊNCIAS 9. APÊNDICES Fonte: Os autores (2020) A partir de agora iremos estudar todos os itens apresentados no quadro anterior. Com base nesse estudo, você terá a capacidade de elaborar o seu projeto de pesquisa, assim, para facilitar sua compreensão, trabalharemos com um exemplo de pesquisa. No capítulo anterior apresentamos pontos importantes, referentes a escolha do tema e a sua delimitação, os objetivos e o problema da pesquisa. Iremos retomar esses pontos e acrescentaremos a justificativa, a revisão da literatura e os procedimentos metodológicos, ressaltando os instrumentos de coleta de dados ou técnicas de pesquisa. Vamos começar! Tema e a sua delimitação: o que fazer? De acordo com Alves (2007), delimitar significa “limitar”, escolher uma parte. Isso indica, por exemplo, que o tema meio ambiente é um assunto muito amplo, que não permite formular uma pergunta de pesquisa. Esta deve ser algo que pode ser pesquisado, ou seja, não adianta fazer uma pergunta que não poderá ser respondida por meio das técnicas de coleta e análise de dados das quais dispomos atualmente na ciência. Pensamento Científico 29 Já para Minayo et al. (2002, p. 37), “o tema de uma pesquisa indica a área a ser investigada”. Já as autoras Lakatos e Marconi (2002, p. 25) dizem que o “tema é o assunto que se pretende estudar e pesquisar”. Apresentamos, abaixo, o resumo da dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRN, de Rozendo (2010), intitulada O Serviço Social na Previdência Social: a afirmação do seu espaço na materialização dos direitos. Quadro 4 - Exemplo de resumo: O Serviço Social na Previdência Social RESUMO O trabalho profissional do/a assistente social na política previdenciária, vê- se envolto numa conjuntura adversa à consolidação do projeto ético-político profissional, marcada pela materialização da política de cunho neoliberal que promove essencialmente a redução dos direitos sociais historicamente conquistados pela luta da classe trabalhadora. Neste sentido, com o objetivo de analisar a afirmação do trabalho do Assistente Social na Previdência Social, suas lutas e desafios para a materialização de direitos, frente à conjuntura atual é que se processa a base teórica das discussões a serem travadas. Para tanto, realizamos como procedimentos metodológicos uma pesquisa bibliográfica e documental no detalhamento das nossas categorias analíticas, a fim de fundamentarmos o debate sobre a política previdenciária. A pesquisa realizada teve como área de abrangência a Gerências Executivas da Previdência Social de Mossoró e Natal-RN, correspondendo um total de 07 (sete) Assistentes Sociais pesquisadas, que trabalham no Setor de Serviço Social. Assim, a pesquisa, permitiu-se uma aproximação com o trabalho das Assistentes Sociais e com isso possibilitou-nos chegar a algumas conclusões: Primeiro, ao fato de que a Previdência Social não garante, em sua totalidade, as condições necessárias para o trabalho do(a) Assistente Social, tendo em vista a falta de recursos materiais e humanos para a sua efetivação, bem como da quase inexistência de sigilo profissional; segundo, que as Assistentes Sociais pesquisadas afirmam o Projeto Ético-Político do Serviço Social, no seu exercício profissional, a partir do engajamento em projetos e movimentos sociais relacionados à defesa dos direitos sociais e as classe trabalhadora; terceiro, que a afirmação deste projeto profissional, contribui para a formação de um novo fazer profissional, calcado numa análise de totalidade e de uma ação mais interventiva, crítica e propositiva, capaz de se relacionar com os interesses dos(as) usuários que procuram os seus serviços, na consolidação e socialização dos direitos sociais. Pensamento Científico 30 Assim, os rumos do trabalho profissional do/a assistente social com respaldo no amadurecimento teórico-metodológico adquirido nos últimos anos e na competência ético-política cotidiana consolida o seu espaço na instituição previdenciária afirmando, os direitos arduamente combatidos numa conjuntura calcada na desestruturação das lutas sociais. Palavras-chaves: Política social. Previdência Social. Serviço Social. Trabalho Profissional. Direitos sociais. Fonte: Adaptado de Rozendo (2010). Voltando ao exemplo apresentado na dissertação de Rozendo (2010), podemos identificar que o tema, da pesquisa realizada, seria o trabalho dos assistentes sociais na Previdência Social. Porém, Lakatos e Marconi (2002, p. 25) dizem que o “tema deve ser preciso, bem determinado e específico”. Então, com base nessa afirmação, podemos inferir que foi necessário Rozendo (2010), em sua investigação, realizar uma nova delimitação, para que o tema ficasse mais específico, por isso foi inserida a categoria de análise materialização dos direitos. Percebeu que agora o tema realmente ficou delimitado? O tema da sua pesquisa não pode ser tão abrangente. O ideal é que ele seja bem específico, para que você tenha condições de explorá-lo e de executá-lo, dentro do prazo estabelecido. Afinal, o tempo precisa ser condizente com as atividades, as quais você precisa realizar, tais como: ler materiais sobre o assunto, elaborar o referencial teórico, fazer fichamentos dos textos, estruturar o trabalho dentro das normas exigidas pela nossa instituição, entre outros. Após alguns estudos ele definiu que o tema, seria o trabalho dos assistentes sociais na Previdência Social com relação a materialização de direitos. Veja que ao delimitar o tema ele especificou o que pretendia investigar em sua pesquisa. Tema: O trabalho dos assistentes sociais no INSS. Delimitação do tema: A materialização de direitos no trabalho profissional dos assistentes sociais Pensamento Científico 31 Lembre-se de que a delimitação da sua pesquisa deve levar em conta sua disponibilidade, sua possibilidade de execução, seu acesso às fontes, ao campo de pesquisa e, principalmente, seu interesse pessoal sobre o tema. O tema responde à pergunta: o que será explorado? Problema Ressaltamos que o significado de problema, no contexto que iremos abordar aqui, é diferente daquele que usualmente utilizamos no senso comum. Problema, no âmbito da pesquisa, é aquilo que não foi apreendido pelo homem, mas que é necessário apreender. Vamos ver o que Minayo et al. (2002) diz sobre o problema da pesquisa. Para Minayo et al. (2002, p. 18), “toda investigação se inicia por um problema com uma questão, com uma dúvida ou com uma pergunta, articuladas a conhecimentos anteriores, mas que também podem demandar a criação de novos referenciais”. Na perspectiva da autora o problema é uma questão que precisa ser resolvida. Sobre o problema Gil (2002, p. 34) afirma que “[...] um problema é testável cientificamente quando envolve variáveis que podem ser observadasou manipuladas. As proposições que se seguem podem ser tidas como testáveis [...]”. O problema ou pergunta de pesquisa surge de uma inquietação, de algo a respeito do objeto de pesquisa que causa incômodo intelectual. A pergunta de pesquisa é algo que precisa ser respondido ou resolvido e pode surgir porque (1) algum aspecto da realidade nunca foi descrito ou explicado; (2) algum aspecto da realidade ainda não foi suficientemente descrito ou explicado ou (3) há um problema real e prático que precisa ser solucionado. Nesse caso, o resultado da pesquisa ajuda a entender melhor esse problema ou até mesmo propõe uma solução para resolvê-lo. A formulação do problema ou da pergunta de pesquisa também depende da bagagem de conhecimentos de cada pesquisador. Quanto mais o pesquisador souber sobre um assunto, mais fácil será formular uma pergunta a respeito do tema. Ao mesmo tempo, a área de conhecimento Pensamento Científico 32 acadêmico também influenciará na formulação da pergunta. Imagine, por exemplo, que diversos alunos de determinada escola estão com dificuldades de aprendizagem. Ao saber da situação, um administrador poderia formular o seguinte questionamento: “Qual é a influência da administração escolar sobre o nível de aprendizagem dos alunos dessa escola?”. Desse modo, com base nos autores podemos dizer que o problema é uma dúvida ou uma pergunta que o pesquisador faz sobre a realidade. O problema responde às perguntas: O quê? Como? Exemplos de Problemas de Pesquisa • Como os usuários do Hospital do Câncer veem o trabalho dos assistentes sociais? • Quais os desafios enfrentados pelos assistentes sociais na materialização do projeto ético-político nos hospitais universitários? • Quais os impactos causados pela contrarreforma do Estado e da Previdência para os assistentes sociais do INSS? Agora volte ao resumo da dissertação de Rozendo (2010), para que possamos partir para a etapa seguinte, que é identificar e analisar o problema de pesquisa, apresentado na investigação. Vamos lá? O problema da pesquisa apresentado foi responder a seguinte questão: Como se dá a afirmação do trabalho do assistente social no INSS, mediante uma conjuntura adversa de redução dos direitos sociais? Para lhe auxiliar com relação a análise da realidade social, é importante que você saiba que o assistente social naquela instituição é o responsável pela viabilização e acesso aos direitos dos usuários, no caso, segurados. Ou seja, o assistente social está realizando o seu trabalho em meio a uma conjuntura de contrarreforma do Estado e da Previdência Social, que impacta na redução dos direitos sociais dos usuários/segurados. Algo importante que você precisa se questionar ao escolher o seu objeto de pesquisa é o seguinte: Por que pesquisar? Quais as pessoas irão se beneficiar com os resultados da pesquisa? O problema de pesquisa é relevante para a área profissional? Qual é a contribuição que a pesquisa Pensamento Científico 33 dará para a área profissional? Qual a relevância da pesquisa para a sociedade? O problema é adequado para mim? Terei tempo para realizar a investigação? Aconselhamos a você, no ato da escolha do seu problema de pesquisa, questionar-se com relação às perguntas anteriores. Perceba que, no exemplo que apresentamos, os problemas além de serem importantes para gerarem conhecimento e reflexões, para o Serviço Social, também são relevantes do ponto de vista social. Ou seja, os resultados das investigações serão importantes para se refletir no interior da categoria profissional e procurar alternativas de ação para uma possível transformação da realidade dos usuários, que são atendidos pelos assistentes sociais do INSS, por exemplo. Então, baseando-se no exemplo apresentado, o problema científico se vincula ao conhecimento sobre o desconhecido, que se deseja conhecer. Objetivos Vamos discutir um outro ponto importante na pesquisa, que são os objetivos. Os objetivos são um dos principais componentes de uma pesquisa, pois serão eles que irão nortear todo o trabalho de pesquisa. Sobre os objetivos em nosso cotidiano, você já percebeu que para tudo que fazemos temos um objetivo? Tente se indagar com relação a isso. Veja alguns exemplos simples e situações hipotéticas a seguir: Quadro 5 - Exemplos de situações hipotéticas Vamos à padaria para COMPRAR pão. Vamos à autoescola para APRENDER a dirigir Fonte: Os autores (2020). Verifique que para tudo há um objetivo, inclusive na pesquisa. Minayo et al. (2002, p. 42) diz que os objetivos têm a finalidade de “[...] responder o que é pretendido com a pesquisa, que metas almejamos alcançar ao término da investigação”. Pensamento Científico 34 Os autores da área da Metodologia Científica dividem os objetivos em objetivo geral (de dimensão mais ampla) e objetivos específicos. Segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 102): O objetivo geral está ligado a uma visão global e abrangente do tema, relacionando-se com o conteúdo intrínseco, quer dos fenômenos e eventos, quer das ideias estudadas. Já o objetivo específico tem a função intermediária e instrumental, permitindo, de um lado, atingir o objetivo geral e, de outro, aplicar este a situações particulares. Retomando o exemplo da dissertação de Rozendo (2010), verifique que o objetivo da investigação foi: analisar a afirmação do trabalho do assistente social no que se refere às lutas e aos desafios. Com relação aos objetivos, é necessário que o pesquisador faça as seguintes indagações: Qual o seu objetivo da pesquisa? Qual a intenção? Mostrar a melhoria, os benefícios, as lacunas de algo ou algum assunto? Realizar um estudo comparativo? Identificar alguma uma situação ainda não compreendida? Para a escolha dos objetivos sugerimos a utilização dos verbos no infinitivo, por exemplo: analisar, comparar, relacionar, identificar, monitorar, diagnosticar, quantificar, diferenciar e outros. Para finalizar, é fundamental que você saiba que os objetivos têm por finalidade responder ao que se pretende na investigação. Os objetivos da pesquisa respondem às perguntas: Por quê? Para quê? Para quem? Justificativa A justificativa é um momento importante do seu projeto. É na justificativa que você constrói os elementos de ordem teórica, prática e social que irão convencer o seu orientador da importância da pesquisa proposta e ao seu leitor de uma forma geral. Ela deve ser construída por meio de um texto. Pensamento Científico 35 Na dissertação de Rozendo (2010), que estamos utilizando como exemplo, encontramos, no texto do seu trabalho, a relevância da temática, quando o autor afirmar que o debate sobre a atuação do assistente social, no âmbito previdenciário, na luta por direitos, faz parte do debate contemporâneo da profissão, já que requer análise sobre os processos de acumulação capitalista. Um outro ponto seria referente a história da profissão, visto que a previdência social foi uma das primeiras instituições em que o assistente social atuou de forma institucionalizada. A justificativa responde à pergunta: por quê? Revisão de literatura É necessário que seja realizado um levantamento, para que se identifique como estão as pesquisas na área da sua temática a ser investigada. Você lembra da pesquisa bibliográfica que explicamos aqui? Pois bem, é isso que você fará nessa etapa. Essa etapa inicial, consiste no contato do pesquisador com a bibliografia existente sobre o assunto, o qual possibilitará a identificação de trabalhos, ou não, com a mesma abordagem. Para auxiliar na compreensão dessa etapa, indicamos que você retorne ao tópico pesquisa bibliográfica e leia com calma as indicações lá existentes. É nessa etapa, ainda, que o pesquisador faz uma pré-seleção da bibliografia a ser utilizada. Orientamos a você que adote uma sistemática e critérios para a realização da sua pesquisa. Porexemplo: estabeleça um prazo para a sua realização, liste as revistas científicas mais importantes na área, vá em busca das obras dos autores, que são referência e claro estabeleça critérios para selecionar as obras que irá utilizar. Um outro ponto importante é a organização de todo esse material por você. Orientamos que crie uma planilha no Excel, com a listagem de todas as obras e as datas para a sua leitura. Organize-as em pastas ou insira no drive, pois essa é uma etapa importante e que exigirá de você organização e sistemática para a sua realização. Pensamento Científico 36 Procedimentos metodológicos A partir das questões de pesquisa, é possível definir que tipos de dados, variáveis e indicadores serão pesquisados. Assim, temos a capacidade de avaliar as fontes consultadas e faremos o desenho meto- dológico da pesquisa, definindo os métodos e técnicas empregados, a população, a amostra pesquisada e como os dados serão processados e analisados. Desta forma, temos o plano ou projeto de pesquisa. É na fase de execução que acontece a pesquisa, propriamente. O pesquisador toma contato com o campo, coleta dados e os processa, até que estejam prontos para serem concatenados em informações, em um relatório final. A fase de execução segue o projeto de pesquisa, garantindo a validade metodológica que, ao final, terá a resposta adequada ao problema de pesquisa. Neste ponto, vale destacar a importância de um bom plano de pesquisa, pois as opções de métodos e técnicas são variadas. Seguindo o desenho metodológico do projeto, são elaborados os instrumentos de coleta de dados, testados e aplicados à população ou ao desenho amostral definido. A equipe que coleta os dados é treinada, ou os sistemas de coleta disponibilizados, e são preparados os recursos para análise dos dados. Esta etapa decorre das decisões tomadas sobre o tipo de pesquisa e os métodos e técnicas escolhidos Os procedimentos metodológicos indicam a metodologia a ser utilizada no projeto de pesquisa, ou seja, é o caminho, ou caminhos, que você irá seguir para atingir o seu objetivo na pesquisa. Em seu projeto de pesquisa você deverá informar o tipo da pesquisa e o universo da pesquisa. Ressaltamos que é fundamental que você explique e justifique os motivos da escolha por tal tipo de pesquisa, como também os critérios adotados, no que se refere ao universo da pesquisa. Mas o que seria universo da pesquisa? O universo da pesquisa nada mais é do que o objeto de estudo a ser pesquisado. O universo da pesquisa é entendido por Lakatos e Marconi (2001, p. 223) como: Pensamento Científico 37 [...] o conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum [...] e a Delimitação do universo consiste em explicitar que pessoas ou coisas, fenômenos etc. serão pesquisados, enumerando suas características comuns. Já, com relação a amostra a ser trabalhada, Lakatos e Marconi (2001, p. 163) a definem como “uma parcela convenientemente selecionada do universo (população); é um subconjunto do universo”. Para maiores informações sobre essa temática pedimos que veja o capítulo seguinte. Os procedimentos metodológicos respondem às perguntas: Onde Fazer? Como? Com quê? Cronograma Nesta etapa, de preferência em formato de um quadro, devemos informar a previsão de tempo que será gasto na realização do trabalho, de acordo com as atividades a serem cumpridas. Veja o quadro a seguir com um exemplo fictício de um cronograma: Quadro 6 - Exemplo de um cronograma PERÍODO/ATIVIDADES PERÍODO – MESES ATIVIDADES JUL AGO SET OUT NOV DEZ Elaboração do projeto X X Revisão de literatura X X X X X Entrevistas X Análise dos dados X X Elaboração do relatório X Apresentação da pesquisa X Fonte: Os autores (2020). Sendo o cronograma uma previsão, como tal pode sofrer alterações no desenvolvimento da pesquisa, desde que as avaliações apontem a necessidade dessas alterações. O cronograma responde à pergunta: quando? Pensamento Científico 38 Referências Neste item você selecionará todo o material que consultou para produzir seu projeto. As normas para elaboração desta etapa, você cursou na disciplina de Metodologia Científica. Mesmo ainda não sabendo elaborar as referências dentro das normas da ABNT, liste-as com todas as informações possíveis. Exemplo, no caso de livro título: nome do autor, ano de publicação, local de publicação e editora; no caso de endereços eletrônicos: autor do texto (se houver), título (se houver), endereço consultado e data de seu acesso; e assim por diante. Para saber mais, acesse o site da ABNT. Nas referências estarão listadas todas as obras consultadas e referenciadas em seu trabalho. Recomendamos que sejam utilizadas obras que possuam credibilidade e confiabilidade acadêmicas, como também não sejam utilizadas informações de blogs ou até mesmo de sites colaborativos. Apêndices Corresponde a um texto ou documento que foi elaborado pelo autor e que objetiva complementar a argumentação, sem prejuízo da unidade nuclear do trabalho, no seu caso, um instrumento de coleta de dados (questionário, formulário, questões de entrevistas) fará parte do Apêndice. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir o que vimos. Você deve ter retomado o conceito de pesquisa científica e a sua importância. Por fim, abordamos as etapas para a elaboração e um projeto de pesquisa e os seus elementos indispensáveis que são: Tema, Delimitação do tema, Problema, Objetivos (geral e específicos), Justificativa, Revisão de literatura, Procedimentos metodológicos, Cronograma, Referências e Apêndices. Pensamento Científico 39 Quais os Tipos e técnicas de pesquisa? INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar os tipos e as técnicas de pesquisa a serem utilizadas na investigação científica. Isso será fundamental para que, no ato do planejamento da sua pesquisa, você saiba escolher o melhor tipo de técnica para a realização da sua investigação. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Então, pesquisar é resolver problemas e a nível acadêmico a pesquisa é utilizada como propulsora do conhecimento. Mas, para sua realização, são exigidos tratamento e transformação das informações, segundo as regras da Metodologia Científica. Para você qual a importância da pesquisa científica? No tópico seguinte iremos apresentar os dois principais tipos de pesquisa. Tipos de Pesquisa Segundo Santos (2002, p. 25), existem dois tipos de pesquisa. Veja a seguir quais são: a) Pesquisa de ponta – atividade de cientistas profissionais que garante o avanço das várias áreas do conhecimento, trazendo respostas para problemas como cura de doenças, o desenvolvimento de pragas em plantações, os desastres ocasionados pela intervenção do homem na natureza, entre outros. É a atividade típica do indivíduo que, tendo dominado as respostas comuns, já incorporadas à rotina de uma ciência ou profissão, parte em busca do novo, do ignorado, com intenção e método. b) Pesquisa acadêmica – toda atividade que se desenvolve na academia e desperta no aluno o espírito da busca, contri- buindo para sua autonomia intelectual. Você, por exemplo, faz pesquisa quando caminha na produção, refutação ou Pensamento Científico 40 afirmação de algum conhecimento em trabalhos que lhe são solicitados pelas diversas disciplinas que cursa. Exemplos dessas pesquisas são: os Trabalhos de Conclusão de Curso, os relatórios, as monografias, os relatórios de estudos, os trabalhos acadêmicos, entre outros. Perceba que o tipo de pesquisa que estamos tratando, nesta disciplina, trata-se da pesquisa acadêmica, que é realizada por você, aluno, no âmbito universitário ao elaboraros seus mais diversos trabalhos. Natureza da pesquisa científica Para falar da natureza da pesquisa científica é importante destacar que não há uma unanimidade entre os estudiosos, no que diz respeito a uma classificação de pesquisa. Por exemplo, Demo (1996), identifica quatro linhas básicas de pesquisa: a teórica, a metodológica, a empírica e a prática; Cervo e Bervian (2003), por sua vez, apontam três tipos fundamentais: a bibliográfica, a de campo e a de laboratório. Já Santos (2002) classifica a pesquisa de acordo com a natureza metodológica. É importante mencionar que nenhum tipo de pesquisa é autossuficiente, para a realização da sua investigação em sua completude, desse modo, em sua atividade de pesquisa, você pode incluir um outro tipo de pesquisa, para que possa atingir o seu objetivo, assim, podemos mesclar os tipos de pesquisa em nossa investigação. Vejamos a classificação de acordo com Santos (2002, p. 25), que é de natureza metodológica e, também, por considerarmos a mais didática e mais abrangente. 1) Caracterização segundo objetivos: as pesquisas podem ser exploratórias, descritivas e explicativas. 2) Caracterização segundo os procedimentos de coleta: experimento, levantamento, estudo de caso, bibliográfica, documental, pesquisa ação, pesquisa participante, pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa. Pensamento Científico 41 3) Caracterização segundo as fontes de informação: pesquisa teórica (bibliográfica) e empírica (campo e laboratório) – é claro que via de regra as pesquisas científicas são teórico- empíricas. A seguir, apresentaremos algumas características de cada um dos tipos, que essa classificação estabelece. Caracterização Segundo os Objetivos Tomando por base a classificação apresentada por Santos (2002, p. 26), vejamos a caracterização segundo os objetivos. a) Pesquisa exploratória – envolve levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes e análise de exemplos, visitas técnicas, visitas a web sites, entre outros. Corresponde a fase inicial de contato com o objeto de estudo, o que significa afirmar que toda pesquisa acadêmica, na fase inicial, é exploratória. b) Pesquisa descritiva – descreve o fato/fenômeno estudado sem que haja interferência do pesquisador; as técnicas preferencialmente usadas são a observação sistemática e questionários. Por exemplo: pesquisa sobre o índice de evasão escolar em determinada região caracterizando as famílias envolvidas. c) Pesquisa explicativa – registra, analisa e interpreta os fenômenos estudados, procurando identificar os seus fatores determinantes; essa é a pesquisa que possibilita o avanço da ciência porque explica a razão e o porquê das coisas. A diferença entre a pesquisa experimental e a pesquisa descritiva, apontada por Prodanov e Freitas (2013, p. 52), é que “esta procura classificar, explicar e interpretar fatos que ocorrem, enquanto a pesquisa experimental pretende demonstrar o modo ou as causas pelas quais um fato é produzido”. Pensamento Científico 42 Caracterização segundo os procedimentos de coleta Santos (2002, p. 27) aponta, ainda, uma classificação de acordo com os procedimentos de coleta. Vejamos. a) Pesquisa experimental – é o mais tradicional meio de realizar uma pesquisa, especialmente utilizada nas ciências da natureza. O pesquisador observa a realidade, problematiza, levanta a hipótese, testa essa hipótese e se confirmada ela se transforma em lei. b) Levantamento – esse tipo de pesquisa caracteriza-se pela interrogação direta das pessoas cuja opinião se quer conhecer. Possibilita um conhecimento direto da realidade, o objetivo é quantificar a realidade. c) Estudo de caso – estudo aprofundado e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado. d) Bibliográfica – a finalidade desse tipo de pesquisa é colocar o investigador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito a respeito do tema que pretende pesquisar. É uma pesquisa de cunho teórico. Ou seja, localização e consulta de diversas fontes de informação escritas com o objetivo de coletar material acerca de um tema específico. Já falamos, aqui, nesta disciplina, da importância e da necessidade de realizar uma pesquisa bibliográfica, como um dos primeiros passados para a execução da pesquisa. É fundamental e imprescindível que você realize tal procedimento para que possa verificar o que há de produção bibliográfica referente a temática que deseja estudar. Dessa forma, independentemente do tipo de pesquisa que você venha executar, a pesquisa bibliográfica deverá ser realizada, pois será por meio dela que você irá obter o conhecimento sobre o que já foi estudado e publicado com relação a temática da sua investigação. Para que consultar a produção bibliográfica existente? Até que ponto a pesquisa bibliográfica contribui no avanço do conhecimento, já Pensamento Científico 43 que representa o saber já construído? Segundo Lakatos e Marconi (2002, p. 71), a finalidade desse processo é “[...] colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto. [...] Dessa forma, [...] não é mera repetição [...], mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque [...]”. Agora que já estamos conscientes sobre a importância da pesquisa bibliográfica, para a execução da sua pesquisa científica, é fundamental que você saiba que ela possui algumas funções. Vamos ver quais são elas? Ao realizar a sua pesquisa bibliográfica atente-se para as funções mencionadas anteriormente. Sempre levante questionamentos como: você irá realizar a pesquisa bibliográfica com qual objetivo? O que você deseja encontrar nessa pesquisa? De qual forma ela irá auxiliar na execução e realização da sua pesquisa? É extremamente válido ressaltar a importância da internet para a localização das fontes, pois nela temos diversas bases de dados, de instituições renomadas, nas quais encontramos publicações de teses de doutorado, dissertações, trabalhos de conclusão de curso, legislações e revistas científicas, que poderão lhe auxiliar. Então, não despreze o acesso à rede mundial de computadores e faça bom uso. Porém, se atente para realizar as suas buscas em sites confiáveis e que tenha credibilidade acadêmica, como também material bibliográfico que esteja de acordo com as normas de confiabilidade. Referente à classificação, de acordo com os procedimentos de coleta apontados por Santos (2002, p. 27), temos, ainda: e) Documental – também chamada de pesquisa histórica, preocupa- se com o registro escrito dos documentos, buscando identificar neles as informações necessárias a produção do conhecimento. f) Pesquisa-ação – caracteriza-se pelo fato de que, ao mesmo tempo em que produz conhecimento, o pesquisador interfere na realidade. Pensamento Científico 44 g) Pesquisa participante – essa pesquisa acontece quando o pesquisador é ele também um dos elementos pesquisados. O pesquisador é ator no processo. h) Pesquisa qualitativa – seu objetivo não se liga à represen- tatividade numérica da realidade, mas sim ao aprofundamento da compreensão, busca explicar o porquê das coisas. i) Pesquisa quantitativa – traduz em números as informações para serem analisadas e classificadas; utiliza-se de técnicas estatísticas no estudo proposto. Ao ler todos os itens mencionados anteriormente, saiba que não é obrigatório que você realize todos os procedimentos de coleta em sua pesquisa. Contudo, é fundamental que você tenha bem definido qual ou quais procedimentos de coleta você irá realizar, de acordo com o objetivo que você deseja alcançar em sua pesquisa. Para ficar mais clara a explicação anterior, voltamos ao exemplo da Dissertação de Rozendo (2010), que vimos na unidade anterior. Você lembra que, na Dissertação, o autor estuda o trabalho profissional do assistentesocial no INSS? Então, para a realização da sua pesquisa foi necessária a realização de pesquisa bibliográfica e documental. Mas o que seria isso? Com relação à pesquisa bibliográfica o autor teve que investigar o que existia de produção acadêmica, referente ao trabalho profissional do assistente social naquela instituição e como os autores abordavam tal temática. Em um segundo momento, com relação à pesquisa documental, também foi necessária uma busca quanto as legislações que norteavam o exercício profissional do assistente social naquela instituição e quais as legislações que os profissionais utilizavam e se respaldavam para executarem o seu trabalho diariamente. Esperamos que após essas explicações você tenha conseguido compreender a relevância da coleta de dados em uma pesquisa. Caracterização segundo as Fontes de Informação Com relação à caracterização, segundo as fontes de informação, de acordo com a classificação de Santos (2002, p. 27), temos duas: Pensamento Científico 45 a) Teóricas (bibliográfica) – pesquisas que se desenvolvem tendo como fonte de informação a produção teórica sobre o tema pesquisado. b) Empíricas – correspondem as pesquisas cujos dados são buscados na realidade concreta e que se desenvolvem em campo ou em laboratório. Considerando a classificação anterior, é importante deixar claro, para você, estudante de Serviço Social, que a pesquisa em nossa área aponta como relevante a pesquisa que envolva a realidade social, suas mudanças, suas lutas de classe e os sujeitos envolvidos. Nessa direção, a nossa profissão é interventiva e inserida na realidade social. Então, para entender a realidade e as suas mudanças, são necessárias pesquisas nessa área, o que não quer dizer que estejamos relegando a pesquisa teórica, já que essa serve de base também para o entendimento da realidade. A partir de agora vamos falar sobre a questão das técnicas de pesquisa. Técnicas de pesquisa A técnica é resumida como os procedimentos práticos que precisam ser realizados para elaborar um trabalho científico. Isso independe do método que está sendo aplicado. Podemos entender como parte integrante da técnica, a forma que os dados são registrados, quantificados e ainda como são ordenados e classificados. Para obtenção de uma análise coerente, é necessária a técnica adequada para obter dados suficientes e coerentes, de acordo com os objetivos que são obtidos. Sobre os instrumentos de coleta de dados, você já sabe que toda a pesquisa tem um levantamento de conteúdo, que se dará por meio de fontes de informação e outros instrumentos, que são capazes também de levantar dados. Vejamos algumas fontes e informação: documentação indireta - possibilita obter a informação através da pesquisa documental e da pesquisa bibliográfica; Pensamento Científico 46 documentação direta - possibilita obter informações através de outras formas de pesquisas, por exemplo, a informação objeto da história oral. Entre os instrumentos de coleta de dados destacamos a observação, que tem função importante para o pesquisador, pois colabora na pesquisa ajudando-o a orientar no processo de conhecimento do objeto pesquisado e a intervir na realidade de uma forma mais direta. Segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 190), [...] a observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar. Recomendamos a você que, previamente a observação, liste pontos a serem observados, assim, você irá a campo já sabendo o que observar e com um guia em mãos, que irá facilitar o direcionamento do seu olhar de pesquisador. Lembre-se de realizar o registro das suas observações em um local de fácil acesso e não demore para realizar o registro, pois você corre o risco de esquecer de pontos fundamentais. Já, a entrevista, é uma técnica de pesquisa bastante utilizada e aplicada. “É uma técnica que permite o relacionamento estreito entre o entrevistado e o entrevistador (BARROS; LEHFELD, 2004, p. 91). Pode, ainda, ser entendida como “uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica; proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 222). Pode ser classificada em: entrevista estruturada – as questões são previamente formuladas, isto é, já é feito previamente pelo pesquisador um roteiro estruturado de perguntas, sem que haja a possi- bilidade de alteração, retirada ou inclusão, de perguntas; Pensamento Científico 47 entrevista não-estruturada – as questões são formuladas no ato da conversação, embora essa não possa fugir do objeto de estudo. Visto que os dados coletados serão utilizados na análise qualitativa, a fim de responder ao problema de pesquisa. O questionário é o instrumento mais usado para levantamento de informações, não se restringe a uma quantidade de questões, porém, não é viável que o mesmo fique extenso. Deve ser preenchido pelo pesquisador. Para Lakatos e Marconi (2001, p. 190), “é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador”. Na elaboração e aplicação de um questionário, devem ser observados os seguintes aspectos: tamanho do instrumento; conteúdo abordado; organização das informações; clareza das questões e, ainda, pode ser elaborado com perguntas abertas, fechadas ou a combinação de ambas. O formulário tem como sua principal característica o contato direto entre o pesquisador e o informante, que deve responder às perguntas do roteiro preenchido no momento da abordagem. Confunde-se com a técnica da entrevista. Para Selltiz (1965 apud LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 190), “é o nome geral usado para designar uma coleção de questões que são perguntadas e anotadas por um entrevistador numa situação face a face com outra pessoa”. Veja o exemplo, no resumo da dissertação de Rozendo (2010), perceba que os procedimentos metodológicos utilizados foram as entrevistas realizadas com as assistentes sociais, as quais foram os sujeitos da pesquisa. Em suma, quando na realização de uma pesquisa, é necessário que se defina as fontes de dados e também qual o tipo específico de pesquisa, para assim ser possível verificar as possíveis técnicas para coleta de dados como questionário, entrevistas ou até mesmo a partir da observação. Pensamento Científico 48 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir o que vimos. Você deve ter aprendido os tipos de pesquisa e as técnicas existentes. Viu que é importante identificar e escolher o tipo de pesquisa bem como a técnica a ser utilizada. Pensamento Científico 49 Como elaborar um relatório de pesquisa? INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de elaborar um relatório de pesquisa. Isso será fundamental para você, como estudante, pois você saberá como sistematizar e ordenar o seu conhecimento. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! A importância do relatório de pesquisa Você sabia que a pesquisa acadêmico-científica possui caracte- rísticas e estrutura que permitem ao pesquisador desenvolver um estudo coerente e objetivo, cumprindo normas e regras para a construção do conhecimento por meio da investigação. Para cumprir seu objetivo, toda pesquisa prevê apresentação e exposição de resultados. Nesta aula, estudaremos a composição do relatório de pesquisa, responsável pela apresentação do percurso argumentativo e dos dados estruturados de conclusão dos trabalhos. Você saberia dizer como podemos começar uma pesquisa acadêmico-cientifica? Para desenvolvermos uma pesquisa, primeira-mente, devemos escolher um tema, dentro de uma área de conhecimento. A partir deste ponto, e com a intenção de desenvolvê-lo, criamos uma problemática, ou seja, um questionamento, apontando uma questão a ser resolvida com a apresentação dos resultados da pesquisa. Observe que este breve resumo, que exemplifica o início da pesquisa, caracteriza o fio condutor que nos leva ao próprio fim da investigação: o relatório de pesquisa. De acordo com Tozoni-Reis (2007, p. 87), [...] o relatório de pesquisa não é apenas uma etapa do processo da pesquisa realizada, mas parte essencial, porque comunica o resultado da investigação e suas originais interpretações, tornando, então, o conhecimento socializado. Pensamento Científico 50 Mais do que isso, o relatório de pesquisa é “a apresentação final escrita e detalhada de todo o processo, desde o planejamento da pesquisa até as conclusões” (TOZONI-REIS, 2007, p. 87). Lembre-se que a pesquisa tem início a partir da delimitação de um tema. Assim, não podemos deixar de lado o pensamento prévio sobre o relatório, pois, ao estruturar um estudo, desde o seu início, precisamos projetar como será construído o relatório final, a partir do entendimento dos dados da pesquisa e do tipo de investigação que será desenvolvida. “O relatório de pesquisa é um documento em que serão levantadas todas as informações que digam respeito às atividades desenvolvidas numa pesquisa” (LEITE, 2008, p. 213). Portanto, grave bem: a pesquisa começa com o tema-problema e termina com o relatório de pesquisa, que apresenta os resultados da investigação. Escolhido o tema da pesquisa e o problema a ser trabalhado, é chegado o momento de prepararmos o material de pesquisa. Mas, antes de organizarmos o material de pesquisa, precisamos escolher o material de apoio. E como fazemos isto? De acordo com Leite (2008), há alguns aspectos que facilitam esta escolha. O título da obra, por exemplo, pode auxiliar na tomada de decisão, porém, nem sempre representa o conteúdo da obra. O mais importante, alerta o autor, é observar quais são as partes do livro, os capítulos e o que eles apresentam. Outro ponto que vale observar no material de apoio é a bibliografia utilizada, pois podemos verificar se as obras listadas servem como referencial para a pesquisa que realizamos. É importante destacar que estas dicas não se referem apenas aos livros, pois elas se aplicam também a outros materiais, como artigos científicos, publicações de anais de eventos científicos, relatórios e resenhas. Nestes casos, podemos iniciar a verificação a partir do título do material e das palavras-chaves, checando, posteriormente, o resumo e a introdução, e depois as seções e as referências. Após o término da seleção do material é hora do pesquisador começar o trabalho de leitura e interpretação, utilizando técnicas de fichamento e resumo do material. No tópico a seguir veremos como Pensamento Científico 51 elaborar um relatório de pesquisa. Isto é, divulgar os dados e os resultados da pesquisa. A elaboração do relatório de pesquisa Agora, vamos aprender como redigir um relatório de pesquisa. Para isso vamos estudar as três partes que o compõe, de acordo com os autores Tozoni-Reis (2017) e Markoni e Lakatos (2013). Observe, a seguir, como é feita esta divisão: • Pré-textual: capa, folha de rosto, sumário; • Textual: introdução, desenvolvimento (capítulos) e conside-rações finais; • Pós-textual: bibliografia (referências). Na parte pré-textual, a capa deve conter o nome da instituição de ensino e do autor da pesquisa, título do estudo, cidade de realização do trabalho e ano. O mesmo conteúdo deve ser incluído na folha de rosto, além de um texto explicativo sobre a pesquisa. O sumário, por fim, apresenta as diferentes partes do trabalho, assim como seus respectivos números das páginas. No início do trabalho, começamos com a introdução, texto que abre o relatório e expõe de forma geral seu conteúdo. Confira, a seguir, os elementos que compõem a introdução (TOZONI-REIS, 2007; MARCONI; LAKATOS, 2013). • Breve apresentação sobre o assunto da pesquisa: conceitos e marcos históricos importantes; • Breve revisão bibliográfica do tema: exposição dos principais autores do referencial teórico, podendo se posicionar sobre as referências; • Apresentação do fio condutor do trabalho: utilizando a própria reflexão unida ao referencial teórico (bibliografia); • Explicação do problema da pesquisa e seus objetivos; Pensamento Científico 52 • Apresentação da justificativa da pesquisa: indicar os resultados e expor a estrutura do relatório, como estão estruturadas suas partes; • Indicação da metodologia do trabalho: que tipo de pesquisa será realizada. O desenvolvimento do relatório apresenta o conteúdo dos capítulos, seções e subseções. Ele carrega os resultados da pesquisa, a análise dos dados, suas relações, a posição e reflexão do pesquisador sobre os dados coletados e o diálogo com os autores utilizados para fundamentar o trabalho. O uso de citações diretas e indiretas retiradas do material bibliográfico é importante nesta parte do relatório, pois fundamenta a pesquisa. Também é indicado dividir o conteúdo em capítulos, concen- trando em cada um temas diferentes a serem desenvolvidos (TOZONI- REIS, 2007; LEITE, 2008; MARCONI; LAKATOS, 2013). Outra parte importante no desenvolvimento da pesquisa é a conclusão do trabalho, comumente descrita como considerações finais. Este é o momento de encerramento da pesquisa, e consiste em três partes (TOZONI-REIS, 2007): • Síntese dos dados, da análise e interpretação; • Reflexão do pesquisador sobre o resultado final da pesquisa; • Contribuição do pesquisador para a área estudada. O pesquisador deve dominar a linguagem técnica do trabalho e ser capaz de redigir com clareza um documento, do contrário está passível a interpretações que não condizem com os resultados reais da pesquisa. O uso de uma linguagem mais complexa pode dificultar a interpretação das informações. Uma linguagem mais simples expõe de forma clara e precisa a mensagem da pesquisa. Leite (2008) observa que a escrita do relatório deve levar em consideração o público destinado à pesquisa, adequando a linguagem, os termos técnicos e a complexidade ou não do texto. Isso facilita a interpretação daqueles que irão utilizar o relatório para compreender a pesquisa ou utilizá-lo como fonte de pesquisa. Pensamento Científico 53 Além destas observações, é preciso ter cuidado com a apresentação estética do trabalho também. Detalhes como tamanho, espaçamento e tipo de fonte, margens e destaques no corpo de texto são importantes. O relatório precisa ser bem apresentado, objetivo e sem muito rebuscamento estético, para não poluir a visão e desviar o leitor do assunto. Cumprindo com estas etapas, o relatório estará bem elaborado e apresentado. Pensamento Científico 54 BIBLIOGRAFIA BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos de Metodologia Científica: um guia para a iniciação. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 2004. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. São Paulo: Prentice Hall, 2003. DEMO, P. Pesquisa e construção de conhecimento. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. GOMIDES, J. E. A Definição do Problema de Pesquisa a Chave para o Sucesso do Projeto de Pesquisa. Revista do Centro de Ensino Superior de Catalão. CESUC. Ano IV, n. 06, 1º Semestre, 2009. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2001. ______. Técnicas de Pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. MINAYO M. C. S. et al. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.PRODANOV, C. C.; FREITAS, C. E. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013. ROZENDO, F. H. C. O Serviço Social na Previdência Social: a afirmação do seu espaço na materialização dos direitos. Orientadora: Profa. Dra. Odília Souza Araújo. Dissertação (mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós Graduação em Serviço Social, 2010. Disponível em: <https://bit.ly/2ztI10n>. Acesso em: 13 set. 2019. SANTOS, A. R. Metodologia científica: a construção do conheci- mento. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. São Paulo: Cortez, 2006. Pensamento Científico Unidade 4 Trabalhos científicos e as normas da ABNT Pensamento Científico Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ THALYTA MABEL NOBRE BARBOSA AUTORIA André de Faria Thomáz Olá. Meu nome é André de Faria Thomáz. Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas (2006), pós-graduando em Docência Superior pela Universidade Gama Filho (2009), pós-graduado em MBA Executivo em Administração de Empresas (2009-2012), mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica (2011) e doutor em Administração Prática nas Funções de Contador pela mesma instituição (2018). Também sou professor universitário, conteudista e curador. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir a minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Thalyta Mabel Nobre Barbosa Olá. Meu nome é Thalyta Mabel. Sou graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestre em Serviço Social, tendo como objeto de estudo o Serviço Social na Previdência Social, pela mesma instituição. Possuo experiência como docente nas áreas de Serviço Social e Metodologia Científica na graduação e na pós-graduação de instituições públicas e privadas. Atuo como autora, designer educacional e consultora educacional na elaboração, gestão e implementação de materiais didáticos para a EaD. Fui convidada mais uma vez pela Editora Telesapiens a integrar o seu elenco de autores independentes e estou muito feliz em poder ajudar você a conhecer o mundo maravilhoso da pesquisa científica e contribuir para o seu aprendizado nesta fase. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Tipos de trabalhos científicos ................................................................ 10 Apresentação de trabalhos acadêmicos ......................................... 19 Normas das ABNT para citação ............................................................36 Normas da ABNT para referências .....................................................44 7 UNIDADE 04 Pensamento Científico 8 INTRODUÇÃO Você sabia que todas as universidades de nosso país adotam um padrão para a formatação dos trabalhos acadêmicos, sejam eles dissertações, teses ou projetos de pesquisa? Revistas científicas e periódicos científicos também utilizam um padrão bem semelhante aos que são utilizados pelas universidades. Esse padrão possui apenas algumas pequenas diferenças entre as instituições, pois alguns aspectos não são especificados pelas normas da ABNT, o que exige que o conselho editorial dos periódicos estabeleça esses critérios. O que seria esse padrão? Quais são os motivos da sua utilização? O padrão é estabelecido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Acreditamos que você já tenha ouvido falar nessa entidade. Só para esclarecer, a ABNT é uma entidade sem fins lucrativos e é a responsável pela normatização em nosso país. Esse padrão é importante, já que facilita o trabalho dos pesquisadores, leitores e estudantes. Portanto, qualquer trabalho científico realizado no Brasil segue a mesma formatação, o que facilita o trabalho daqueles que buscam algum tipo de informação específica. Esta disciplina não ousa apresentar todo o conteúdo da área da metodologia científica, mas objetiva fazer com que você esteja apto a entender o mundo da ciência e, consequentemente, da pesquisa científica, e adquira as habilidades para ser um pesquisador. Após cursar esta disciplina, é essencial que seus estudos permaneçam. Afinal, a atividade da pesquisa científica sempre é algo que nos proporciona aprendizado e desafios. Bons estudos! Pensamento Científico 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliá-lo no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar e caracterizar os tipos de trabalhos científicos existentes. 2. Caracterizar o trabalho acadêmico. 3. Aplicar as normas da ABNT para citação. 4. Aplicar as normas da ABNT para referências. Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Pensamento Científico 10 Tipos de trabalhos científicos INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar os tipos de trabalhos científicos existentes. Isso será fundamental para você, estudante, pois é imprescindível diferenciar cada um dos tipos de trabalhos científicos e saber a importância de cada um deles para a ciência. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Existem diversos tipos de trabalhos científicos e cada um tem uma finalidade. Por meio dos trabalhos acadêmicos, nós temos os registros das produções científicas para que elas possam, assim, ser divulgadas posteriormente. Rey (2003) afirma que existem diferentes modalidades de um documento científico. Para o estudioso, há o que chamamos de trabalhos originais, os quais apresentam informação primária, as publicações provisórias ou notas prévias e os trabalhos que apresentam informações secundárias. No entanto, o que seriam esses trabalhos? Segundo Rey (2003), um texto é um trabalho original quando o conteúdo apresentado é inédito. Isso significa que foi redigido de modo que um pesquisador competente e especializado na área tenha a possibilidade de verificar a exatidão das análises e deduções do autor da obra e possa repetir as observações e analisá-las. Como exemplo de trabalho original, temos os trabalhos experimentais, os quais submetem o fenômeno a uma condição controlada de experiência. Em outras palavras, há a utilização do método experimental que estudamos nas unidades anteriores. Outro exemplo seriam os trabalhos teóricos que têm, por finalidade, analisar o conhecimento,o que leva a produção de novos conhecimentos que se concretizam por meio do estabelecimento de teorias e novos conceitos. Já as publicações provisórias nos apresentam informações científicas novas. Contudo, as restrições impostas por alguns países impedem que outros pesquisadores possam verificar as informações que Pensamento Científico 11 foram apresentadas. Por fim, temos a informação secundária, que nada mais é do que um texto elaborado para reuniões ou congressos. A apresentação da pesquisa na academia é feita por meio do trabalho acadêmico. Para garantir a qualidade do seu trabalho acadêmico, é importante que você conheça e faça a distinção dos diversos tipos de trabalhos científicos e seus elementos constitutivos, bem como saiba organizar seus trabalhos com base na estrutura definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a qual objetiva universalizar o padrão de editoração dos textos. O conhecimento do estilo adotado pela instituição onde o trabalho será apresentado para avaliação faz parte do processo avaliativo. Essa padronização contribui para a uniformidade da apresentação do trabalho e a sua compreensão, de forma que os leitores possam dar atenção total ao seu conteúdo, além de garantir reconhecimento no meio científico. Todo trabalho científico, incluindo o projeto de pesquisa, a monografia, a dissertação e a tese, é formado por elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais. Assim como o próprio nome diz, “pré” se refere ao que vem antes e, “pós”, ao que vem depois. O que muda de um tipo de trabalho para o outro é a quantidade de elementos obrigatórios e opcionais. Por exemplo, o projeto de pesquisa é uma proposta de investigação a ser realizada no futuro e, por isso, não é possível incluir um resumo com os resultados obtidos. No projeto de pesquisa, são incluídos o orçamento e o cronograma, enquanto, no trabalho final – monografia, dissertação ou tese –, esses elementos não são incluídos, porque o trabalho já estará pronto e, portanto, não faz sentido incluir informações a respeito de quando será realizado ou quanto custará. Algumas publicações científicas exigem normas diferentes das estabelecidas pela ABNT. Por isso, é importante saber quais são as normas exigidas pelo congresso ou pela revista científica a qual se pretende publicar um artigo. Na figura a seguir, temos um exemplo de um texto científico que segue as normas da ABNT: Pensamento Científico 12 Figura 1 – Exemplo de texto científico Fonte: Freepik Pensamento Científico 13 IMPORTANTE: Na sequência, conheceremos algumas das principais normas da ABNT para a formatação de trabalhos científicos. No entanto, lembre-se de que há muitos outros detalhes que você pode acessar diretamente nos documentos eletrônicos da ABNT e no momento da formatação de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Algumas regras mudam e, por isso, é importante verificar as mais atualizadas. Em relação ao conceito de trabalho científico, Salomon (1977, p. 136) defende que: o trabalho científico passa a designar a concreção da atividade científica, ou seja, a investigação e o tratamento por escrito de questões abordadas metodologicamente. O tratamento por escrito apontado por Salomon (1977) diz respeito aos resultados de uma pesquisa científica que podem ser expressos por meio de monografias, dissertações, teses, entre outros. Veja, a seguir, os principais tipos de trabalhos acadêmicos. O projeto de pesquisa é um planejamento que deve ser feito antes da realização de um trabalho acadêmico, tal como uma monografia (de graduação ou de especialização), uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado. Esse projeto é avaliado por um professor-orientador ou por uma banca (um conjunto) de professores. Quem avalia o projeto de pesquisa será capaz de dizer se o problema de pesquisa está adequado, se os procedimentos para coleta e análise de dados estão corretos, se a pesquisa pode ser realizada ou se algo deve ser modificado. A partir disso, você executará a sua pesquisa científica. Lembre-se de que esse projeto poderá estar vinculado a algum programa de pós- graduação da universidade ou ser um projeto de conclusão do ensino superior, o que costumamos chamar de projeto de TCC. Além disso, é válido ressaltar que essas investigações promovem o avanço da ciência nas suas diversas áreas, afinal, não há desenvolvimento tecnológico sem ciência. Pensamento Científico 14 Para saber mais sobre esse assunto, que tal pesquisar os projetos de pesquisa da sua instituição? Garanto que você descobrirá muitos projetos bem interessantes. Figura 2 – A investigação científica Fonte: Pixabay ACESSE: Agora, recomendamos que você acesse o link a seguir e conheça os inúmeros projetos de pesquisa do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) pertencente à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), localizado nas dependências do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) em Natal (RN). Esse é um laboratório de pesquisa que tem parcerias com diversas instituições e universidades pelo mundo, a fim de realizar a inovação por meio da saúde. Para saber mais sobre os projetos executados, Clique aqui. Outro trabalho científico é a monografia. Acreditamos que você já tenha ouvido a palavra “monografia” ou até mesmo tenha elaborado esse tipo de trabalho científico. A monografia é um trabalho acadêmico Pensamento Científico https://lais.huol.ufrn.br/categoria/projetos/ 15 realizado ao final da graduação ou da especialização e o seu nome significa que é um trabalho de pesquisa sobre um único tema. ACESSE: Para que você conheça exemplos de trabalhos das mais diversas áreas do conhecimento, sugerimos que acesse a Biblioteca Digital de Monografias da UFRN. Lá, você encontrará trabalhos monográficos de uma das melhores instituições de nível superior do país. Para saber mais, Clique aqui. A dissertação é um trabalho acadêmico realizado ao final do curso de mestrado (pós-graduação stricto sensu) e exige para que o aluno demonstre conhecimentos aprofundados sobre determinado tema e metodologia de pesquisa. Já a tese é um trabalho acadêmico realizado ao final do curso de doutorado. O estudante deve propor uma nova teoria ou o aperfeiçoamento de uma teoria já existente. Os principais critérios de avaliação de uma tese são a originalidade do estudo e o uso adequado dos procedimentos metodológicos. Geralmente, um estudante que se propõe a cursar um mestrado ou doutorado possui uma ligação com a pesquisa desde os tempos da sua graduação. Afirmamos isso, pois, para se realizar investigações a esses níveis de dedicação, é necessário que se tenha estudos na área, bem como se conheça o objeto de estudo e a área do conhecimento. ACESSE: Para saber mais sobre as teses e dissertações produzidas em nosso país, recomendamos o acesso ao site da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a qual existe em nosso país desde 1900. Atualmente, ela realiza atividades de pesquisa, inovação e ensino na área da saúde. Acesse o link a seguir para ter acesso às teses e dissertações, Clique aqui. Pensamento Científico https://monografias.ufrn.br/jspui/ http://teses.icict.fiocruz.br/cgi-bin/wxis1660.exe/lildbi/iah/?IsisScript=lildbi/iah/iah.xis&base=TesesFiocruz&lang=p&form=F&user=GUEST 16 Um aspecto que merece destaque é a apresentação oral de trabalhos científicos. Para trabalharmos um pouco essa temática, primeiramente, temos um questionamento a fazer: você já apresentou algum trabalho científico? Figura 3 – Apresentação oral de trabalhos científicos Fonte: Pixabay Saiba que aqueles seminários apresentados na graduação e que servem como elementos avaliativos são exemplos simples de apresentação oral. Afinal, o conteúdo que está sendo apresentado é um conteúdo científico. Entretanto, em relação às apresentações orais dos trabalhos científicos, existe um aspecto importante.A apresentação oral de trabalhos científicos é obrigatória em alguns cursos de graduação, pós-graduação lato sensu e em todos os cursos de pós-graduação stricto sensu, ou seja, em mestrados e doutorados. Chamamos de defesa o momento final para a obtenção do grau de mestre ou doutor. Esse momento pressupõe todo um ritual acadêmico, desde antes a sua efetivação, durante e posteriormente. Isso significa que o seu trabalho científico de conclusão de curso deverá ser enviado Pensamento Científico 17 com antecedência para os avaliadores, terá o momento da apresentação (no caso, a defesa do trabalho), com assinatura da ata, e finalizará com o depósito final do trabalho para a obtenção o grau pleiteado. Nos cursos que exigem a apresentação oral do trabalho científico, geralmente, há dois momentos de apresentação: a qualificação do projeto de pesquisa e a defesa do trabalho final. A qualificação do projeto de pesquisa é uma apresentação do trabalho que ocorre antes da realização da coleta e da análise dos dados. O seu objetivo é o de conseguir a aprovação do projeto e aproveitar as sugestões da banca avaliadora para que haja o aperfeiçoamento do trabalho. Já a defesa da pesquisa é a apresentação de seus resultados. Geralmente, é o trabalho final de conclusão de um curso. Não existem regras fixas a respeito da apresentação oral do trabalho acadêmico, assim como há para a elaboração do trabalho escrito. Entretanto, algumas orientações gerais podem auxiliar pesquisadores iniciantes a prepararem suas apresentações orais. Lembre-se de que a apresentação oral de um trabalho acadêmico é um evento aberto ao público, por meio do qual uma banca de professores avalia o trabalho e faz comentários a respeito dele. A apresentação pode ser feita individualmente ou em grupo, dependendo do tipo de trabalho e do tipo de curso. Na maior parte dos cursos de graduação, os alunos do último ano ou do último período fazem a defesa oral de seu trabalho, seja individualmente, seja em equipe. Assistir a essas defesas é uma ótima oportunidade de aprendizagem para os alunos que estão iniciando o curso. Nesse caso, é importante prestar atenção na maneira como foi feito o trabalho, no modo como a apresentação foi organizada e, sobretudo, nas críticas e nos elogios que os professores farão ao trabalho. Em primeiro lugar, é preciso definir qual será o conteúdo a ser apresentado. Nessa etapa, um elemento fundamental é o tempo disponível para a apresentação. Esse tempo, geralmente, pode variar entre 20 e 45 minutos e, por isso, é importante saber com antecedência qual será o tempo disponível para a apresentação. Normalmente, as apresentações Pensamento Científico 18 orais são apoiadas por projetores e equipamentos audiovisuais. Assim, em uma apresentação, um cálculo aproximado para prever o tempo de uso desse recurso seria de uma tela a cada um ou dois minutos. Em segundo lugar, é preciso fazer um esboço dos tópicos principais a serem apresentados. É importante destacar que os professores da banca avaliadora leem o trabalho escrito antes da apresentação oral. Dessa forma, a apresentação oral deve ser uma síntese dos principais aspectos do trabalho, e não uma descrição detalhada de tudo que foi escrito. Nesse momento, são apresentadas sugestões de melhorias a serem acrescentadas no trabalho, para posterior elaboração da versão final. Essas ocasiões são de suma importância, pois temos a divulgação da pesquisa e o debate entre avaliadores conhecedores do tema. Esperamos que você tenha identificado os tipos de trabalho existentes e tenha percebido a quantidade que há de trabalhos científicos qualificados em nosso país. Apesar de a pesquisa científica e os pesquisadores não serem valorizados, devemos admitir e reconhecer que as instituições realizam importantes ações nas áreas tecnológicas, social e da saúde. RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido que existem diversos tipos de trabalhos científicos e conheceu as características de cada um. Além disso, soube o quanto é importante a apresentação oral desses trabalhos científicos e compreendeu o quanto é necessária a socialização do conhecimento para o avanço da ciência e das pesquisas, já que elas são transformadoras da sociedade. Pensamento Científico 19 Apresentação de trabalhos acadêmicos INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de elaborar um trabalho acadêmico de acordo com as normas da ABNT. Isso será fundamental para você, estudante, pois é imprescindível registrar as suas pesquisas acadêmicas para, posteriormente, publicá-las. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Para garantir uma produção de qualidade, é importante que você conheça e distinga os diversos tipos de trabalhos científicos, seus elementos constitutivos, bem como saiba organizar seus trabalhos com base na estrutura definida pela ABNT, cujo objetivo é o de universalizar o padrão de editoração desses trabalhos. O conhecimento do estilo adotado pela instituição onde o trabalho será apresentado para avaliação faz parte do processo avaliativo. Essa padronização contribui para a uniformidade da apresentação do trabalho e sua compreensão, de forma que os leitores possam dar atenção total ao seu conteúdo, além de garantir reconhecimento no meio científico. As normas atualizadas da ABNT para formatação de trabalhos acadêmicos podem ser acessadas pela Internet, em sites de universidades. Algumas publicações impressas também fornecem informações sobre essas normas, no entanto, é importante verificar se estão devidamente atualizadas. Assim como você já sabe, a apresentação da pesquisa, na academia, é feita por meio do trabalho acadêmico. Para Salomon (1977), os resultados de uma pesquisa científica podem ser expressos por intermédio de monografias, dissertações, teses e entre outros. Todavia, os trabalhos científicos expostos devem ser apresentados de qual forma? É isso que trabalharemos a partir de agora. Um dos elementos a ser considerado é a apresentação gráfica e estética. A NBR 14724:2005, que versa sobre a apresentação dos trabalhos acadêmicos, deixa o projeto gráfico a critério do autor, garantindo-lhe Pensamento Científico 20 liberdade para produzir a apresentação visual do seu trabalho (ABNT, 2005). Em outras palavras, o projeto gráfico é de responsabilidade do autor do trabalho (o importante é manter a uniformidade em todo o trabalho). Saiba que a construção do trabalho científico implica considerar dois aspectos: primeiro, o aspecto lógico e metodológico da construção textual, que requer pesquisa teórica fundamentada; segundo, o aspecto normativo, que implica a construção dos aspectos de normalização do trabalho segundo a ABNT. No primeiro aspecto, destacamos a importância da construção dos elementos textuais e de apoio, enquanto, no segundo, é importante considerar a importância da normalização desses elementos. Contudo, antes da apresentação de todos esses aspectos que abordamos, é fundamental afirmar que você não deve se sentir obrigado a internalizar e até mesmo decorar todas as informações e detalhes presentes nas normas da ABNT. É importante, apenas, que você saiba que existe um padrão que deve ser seguido e, quando houver necessidade, você consulta o nosso material para padronizar o seu trabalho. Alguns elementos são considerados fundamentais no desenvolvimento da apresentação gráfica, os quais apresentaremos a seguir. Conheçamos: a. Papel – o texto deve ser digitado no anverso da folha em papel branco, de boa qualidade, formato A4 (21 cm X 29,7 cm) e impresso na cor preta, com exceção das ilustrações. b. Impressão do texto – apesar das normas oficiais não determinarem o tipo de fontea ser utilizada no seu trabalho, você deve consultar o manual de sua instituição. Há uma indicação pelas fontes mais conhecidas, como a Arial e a Times New Roman. Recomenda-se para digitação a adoção de fonte tamanho 12. Mesmo diante das informações presentes na NBR 14724:2005, que indicam elementos para impressão do trabalho acadêmico, é importante afirmar que, hoje, grande parte das instituições de ensino não exige que o trabalho acadêmico deva ser impresso, mas digitalizado. Essa é uma forma de acompanhar o desenvolvimento tecnológico e digital, e promover a preservação do meio ambiente. Pensamento Científico 21 Figura 4 – Biblioteca virtual Fonte: Pixabay c. Margens – todas as folhas devem ser configuradas observando: • margem superior e esquerda – 3cm. • margem inferior e direita 2cm. d. Espaçamento entre linhas – deve ser 1,5 em todo o texto, exceto em algumas situações em que você deve utilizar espaço simples e a fonte menor, tamanho 10 (dez). São elas: • Citações com mais de 03 (três) linhas. • Notas de rodapé. • Legendas das ilustrações e tabelas. • Ficha catalográfica. • Natureza do trabalho. • Nome da instituição a que é submetida. • Área de concentração. Pensamento Científico 22 e. Numeração das páginas – a contagem das páginas de um trabalho científico se inicia na folha de rosto. A capa, como elemento de proteção externa do trabalho, não é contada para efeitos de paginação. Mesmo com a contagem das páginas sendo iniciada na folha de rosto, o número só aparecerá após o sumário, ou seja, na introdução do trabalho. As páginas devem ser numeradas em algarismos arábicos, no canto superior direito da folha, a 2cm da borda superior da folha. Para a realização do que apresentamos até agora, é importante que você tenha conhecimento e saiba manusear o seu editor de texto favorito. Também existem alguns tutoriais disponibilizados na Internet e até mesmo softwares e plataformas que auxiliam nessa tarefa. Para evidenciar a sistematização do conteúdo do trabalho, deve-se adotar a numeração progressiva para as seções do texto. Observe que não se usa ponto após os números, apenas um espaço de caractere. Quadro 1 – Numeração progressiva para as seções do texto Divisão Exemplo Seção Primária 1 CAIXA ALTA E NEGRITO Seção Secundária 1.1 CAIXA ALTA E SEM NEGRITO Seção Terciária 1.1.1 Caixa baixa e com negrito Seção Quaternária 1.1.1.1 Caixa baixa e sem negrito Seção Quinária 1.1.1.1.1 Caixa baixa e sem negrito Após a seção quinária, recomenda-se não subdividir mais e adotar o uso de alíneas: a).... b)... a) alínea Fonte: Elaborado pelos autores. Os títulos das seções devem começar na parte superior da mancha gráfica e devem ser separados do texto que os sucede por dois espaços 1,5 entrelinha. Da mesma forma, os títulos das subseções devem ser separados do texto que os precede e que os sucede por dois espaços 1,5. Pensamento Científico 23 Os títulos das seções sem indicativo numérico, como agradecimentos, resumo, abstract, listas de figuras, tabelas, siglas, sumário, referências, apêndices, anexos, glossário e índice, são digitados em fonte 12, com letra maiúscula e em negrito. A partir de agora, apresentaremos a estrutura do trabalho científico no que se refere aos elementos pré-textuais. A norma que trata da organização do trabalho para fins acadêmicos é a NBR 14724:2005: Informação e documentação: Trabalhos acadêmicos: Apresentação. Essa norma especifica os princípios gerais para a elaboração do trabalho acadêmico, que pode ser uma monografia, tese ou dissertação, para fins de aplicação nos cursos de graduação, pós-graduação e em outros trabalhos acadêmicos. Os elementos pré-textuais são as partes que antecedem ao conteúdo do trabalho científico. Alguns dos elementos pré-textuais são considerados obrigatórios e outros opcionais. Quando houver a elaboração de seu TCC, você terá que redigir os elementos que são obrigatórios. Vejamos: Quadro 2 – Elementos pré-textuais CAPA Obrigatório LOMBADA Opcional FOLHA DE ROSTO Obrigatório VERSO DA FOLHA DE ROSTO Obrigatório ERRATA Opcional FOLHA DE APROVAÇÃO Obrigatório DEDICATÓRIA Opcional AGRADECIMENTO Opcional EPÍGRAFE Opcional RESUMO NA LÍNGUA VERNÁCULA Obrigatório RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA Obrigatório LISTAS (tabelas, ilustrações, etc.) Opcional SUMÁRIO Obrigatório Fonte: Elaborado pelos autores. Pensamento Científico 24 Agora, vejamos o que deve conter em cada uma dessas partes. a. Capa – deve conter as seguintes informações: • Nome da instituição. • Nome da pró-reitoria. • Nome do curso. • Nome do autor. • Título. • Subtítulo (se houver, em letras minúsculas). • Local (cidade) da instituição onde deve ser apresentado. • Ano de conclusão (da entrega). b. Lombada – reúne as margens internas das folhas. As suas informações devem ser impressas de acordo com a NBR 12225:2004. É um elemento opcional, mas, para os trabalhos científicos de pós-graduação, é obrigatório. c. Folha de rosto – deve conter os elementos essenciais para a identificação do trabalho. Segundo a NBR 14724:2005, divide-se em duas partes: anverso da folha de rosto e verso da folha de rosto (ABNT, 2005). Nessa folha, o anverso da folha de rosto é um elemento obrigatório e contém os elementos essenciais à identificação do trabalho, como: • Nome do autor, título, natureza do trabalho, orientador, local e ano. Já no anverso da folha de rosto, entre os elementos obrigatórios, consta à natureza do trabalho, que deve ser alinhada ao meio da mancha (folha) para a margem direita. Como regra de apresentação, o anverso da folha de rosto deve seguir os seguintes padrões: • Fonte de tamanho 12. Pensamento Científico 25 • O título do trabalho; o nome do autor e a palavra “orientador” devem estar em letras maiúsculas e em negrito; o nome do orientador deve estar em negrito e escrito só com as primeiras letras do nome e sobrenomes em maiúscula. • Espaçamento entre linhas simples. • O espaço entre o título e a natureza do trabalho é de três espaços simples. No verso da folha de rosto, deve conter a ficha catalográfica. Essa ficha deverá ser elaborada sob a orientação do bibliotecário da biblioteca da sua instituição, sempre obedecendo às regras do AACR2. d. Errata – contém a indicação de erros porventura cometidos e identificados após impressão, com respectiva correção, acompanhados de sua localização no texto Exemplo: Um exemplo de errata seria o seguinte p. 32, linha 5: onde se lê “redaço”, leia-se “redação”). Apresenta-se em papel avulso ou encadernado, inserida após a folha de rosto. e. Folha de aprovação – a folha de aprovação é composta pelos elementos pertinentes ao trabalho e a banca examinadora: • Nome do autor. • Título e subtítulo. • Natureza do trabalho, contendo qual é o tipo do trabalho, objetivo, grau, nome da instituição e área de concentração (alinhados à direita). • A expressão “Aprovado em: (dia/mês/ano)” (alinhada à esquerda). • Nome dos integrantes da banca (centralizado). O nome do autor, título, subtítulo, data de aprovação e nomes dos integrantes da banca devem ser digitados em fonte 12 e espaçamento 1,5 entre linhas. Pensamento Científico 26 Apenas a natureza do trabalho deve ser digitada com espaçamento simples entre linhas. A folha de aprovação será diferenciada para os cursos de graduação e pós-graduação, em virtude da sistemática de conclusão de cada curso ser distinta. Na versão definitiva (encadernação à francesa), deve-se conter a folha de aprovação com as respectivas assinaturas da banca examinadora ou do orientador. Para a sua elaboração, de acordo com a ABNT, adota-se a NBR 14724:2005. f. Dedicatória – nesta parte, o autor presta homenagem ou dedica seu trabalho. g. Agradecimentos – podem ser feitos tanto a pessoas quanto a entidades que contribuíram de forma relevante para a elaboração do trabalho. h. Epígrafe– frases, pensamentos ou versos colocados no início de livros, capítulos seções. i. Resumo na língua vernácula, resumo em língua estrangeira (abstract) – trata-se de uma síntese, isto é, um breve relato, de forma concisa e objetiva, dos principais aspectos do trabalho. Lembre-se que, em unidades anteriores, nós estudamos os tipos de resumo e as suas características. Assim, é essencial que você saiba distinguir cada um deles e saiba os momentos da sua utilização. Oferece ao leitor informações de cada uma das partes em que se divide o texto. É redigido em um único parágrafo e não se trata de uma enumeração de tópicos. Quanto a sua extensão: para notas e recomendações breves, deve-se ter, no máximo, 100 palavras; para monografias e artigos, 250 palavras; para livros, teses e relatórios de pesquisa, 500 palavras. Os resumos devem ser seguidos de, no máximo, três palavras-chave pontuadas respectivamente. Verifique, junto à sua instituição, no manual de elaboração de trabalhos acadêmicos, a quantidade de palavras-chave que são exigidas. A norma da ABNT que rege a elaboração do resumo é a NBR 6028:2003. Essa norma fixa as condições exigidas para a redação e Pensamento Científico 27 apresentação de resumos. Aplica-se a qualquer tipo de texto. Ela descreve os diversos tipos de resumo e a quantidade de palavras necessárias para compô-lo, dependendo do tipo de trabalho. O resumo deve ter uma redação bastante objetiva, sendo construído por frases concisas e com uma sequência lógica das ideias. Deve ressaltar o objetivo da pesquisa, o método ou metodologia aplicada à pesquisa, os resultados e as conclusões do trabalho. No primeiro período do resumo, você deve explicitar o tema principal da pesquisa. Quanto à redação, é necessário usar os verbos na voz ativa e na terceira pessoa do singular. Como forma de apresentação, o título RESUMO vem em caixa alta, centralizado e em negrito. O título e texto devem estar em fonte 12 e com espaço 1,5 entre linhas. Ao término do resumo, há a expressão “palavras-chave”, que deve ser deslocada do texto e apresentada logo após a redação do resumo. São alinhadas à margem esquerda, separadas entre si por ponto e finalizadas por um ponto. Quadro 3 – Exemplo de resumo RESUMO Esta pesquisa aborda o tema trabalho infantil na Região Nordeste ... Descreve todo o texto... Palavras-chave: Política Social. Serviço Social. Trabalho Profissional. Fonte: Elaborado pelos autores. É importante que você saiba que, ao ter acesso ao trabalho acadêmico, uma das primeiras partes que o leitor encontrará é o resumo. Será com base nas informações que estão contidas nele que o leitor saberá se aquele texto será do seu interesse ou não. Então, recomendamos que, ao realizar uma pesquisa bibliográfica, verifique os resumos, sejam eles de artigos científicos, teses, dissertações ou monografias. j. Listas de tabelas, abreviaturas, siglas e símbolos – são elaboradas conforme a sua ordenação no texto, com cada item designado por seu nome específico e com o respectivo número da página. As abreviaturas e as siglas são apresentadas Pensamento Científico 28 no trabalho em ordem alfabética, seguidas de seu significado. Deve ser elaborada uma lista separada para cada tipo. A lista de símbolo deve obedecer à ordem de apresentação do texto com o significado de cada símbolo. Já a lista de tabelas é o sumário das tabelas (informações numéricas tratadas estatisticamente) que foram utilizadas no trabalho. k. Sumário – é um item obrigatório que descreve todas as partes internas do trabalho, seja ele um projeto, uma monografia, um relatório ou outros trabalhos acadêmicos. No sumário, os itens descritos devem estar graficamente iguais ao conteúdo interno das partes que você elaborou. A norma da ABNT que trata do sumário é a NBR 6027:2003. Essa norma fixa as condições exigidas para a estrutura, localização e aspecto tipográfico do sumário. Aplica-se especialmente a publicações periódicas e seriadas (revistas), livros, folhetos e outros documentos que necessitem de localização do assunto. Além disso: • É definido pela enumeração das principais divisões, seções e outras partes de uma publicação. • Deve apresentar a mesma ordem e grafia do conteúdo do trabalho. • Apresenta-se centralizado e com a mesma grafia das seções primárias (letra maiúscula e em negrito). • Os elementos pré-textuais não devem constar no sumário. Apenas os indicativos das seções que devem ser alinhados à esquerda, seguidos por pontinhos, e a página inicial do assunto a que a seção se refere. • Esse é o último elemento pré-textual e antecede ao conteúdo descrito. O corpo do trabalho científico é o momento central de sua pesquisa. Nesse sentido, sua construção exige o domínio do conteúdo objeto da pesquisa, bem como da forma como deve ser apresentado. Essa construção implica falar nos elementos textuais e nos elementos de apoio. É fundamental um texto bem argumentado e construído, pois é dele que depende o êxito de sua pesquisa. Pensamento Científico 29 Os elementos textuais devem obedecer à divisão de acordo com as orientações metodológicas. Compõem o corpo do texto e compreendem os seguintes elementos: introdução, desenvolvimento e conclusão. Os elementos textuais são as páginas que contêm o conteúdo do projeto ou do trabalho de pesquisa. Em monografias, dissertações e teses, os elementos textuais são compostos por introdução, desenvolvimento (referencial teórico, metodologia, apresentação e análise dos dados) e conclusão (ou considerações finais). A parte introdutória do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresenta o trabalho ao anunciar o assunto. O texto da introdução deve conter o tema e a sua delimitação, indicar o problema da pesquisa, esclarecer os objetivos pretendidos, expor a intenção do trabalho, seus limites, o método e o sentido da pesquisa, sem antecipar o que vai ser dito no desenvolvimento e na conclusão. Deve, ainda, situar o leitor acerca do estado atual em que se encontram as pesquisas na área, ou seja, conter a revisão de literatura. Perceba que todos os elementos que compõem a introdução já foram trabalhados de forma separada. Cabe, nesta etapa, produzir um texto que apresente a estrutura de sua pesquisa, ou seja, encaminhe o anúncio do assunto e suas partes, para que o leitor, antecipadamente, tenha uma visão geral do que vai constar no seu trabalho. A introdução é a parte inicial do texto e, nela, devem constar os seguintes elementos: • O tema e a pergunta de pesquisa. • As hipóteses, dependendo do tipo de pergunta de pesquisa. • Os objetivos gerais e específicos. • As justificativas. • Opcionalmente, a estrutura geral do trabalho (quantidade de capítulos e descrição dos principais temas). Esses elementos podem ser apresentados em subtópicos ou na forma de texto. Independentemente da escolha, é importante que o Pensamento Científico 30 pesquisador inicie a introdução com uma apresentação contextualizada de seu tema de pesquisa, de modo que o leitor seja devidamente apresentado ao tema do trabalho e perceba a importância da realização da pesquisa proposta ou apresentada. O título “Introdução” deve ser numerado como capítulo 1. Outros subtópicos desse capítulo devem seguir a numeração de acordo com a quantidade e a hierarquia dos assuntos. Por exemplo: 1.1, 1.2, 1.2.1, 1.2.2, e assim por diante. A numeração de página da introdução deve continuar a partir das páginas anteriores (pré-textuais), desde a folha de rosto (considerada página 1). A numeração das folhas pré-textuais é contada, mas não é sinalizada no trabalho. A numeração só passa a ser mostrada (o número pode ser visualizado no canto superior direito da folha) a partir da introdução. Uma vez que, na unidade anterior, você elaborou o seu projeto, agora, é só transformá-lo em um texto introdutório do seu TCC. Vamos tentar?O desenvolvimento é a parte do trabalho em que você deverá abordar detalhadamente os assuntos propostos na introdução e que fazem parte do referencial teórico ou da revisão de literatura. Ele é a parte principal do texto e deve conter o referencial teórico, a metodologia de pesquisa e a apresentação e análise de dados. O número de capítulos, seções e subseções será determinado de acordo com a necessidade e a preferência do pesquisador. A metodologia ou delineamento de pesquisa é a apresentação dos procedimentos que serão utilizados na pesquisa de campo e inclui a definição do tipo de pesquisa que será realizada, do objeto de estudo, das técnicas de coleta e de análise de dados. Já o referencial teórico é a apresentação organizada de conhecimentos teóricos já existentes sobre o tema de pesquisa, obtidos por meio de pesquisa bibliográfica (em livros, artigos acadêmicos, monografias, dissertações e teses). Pensamento Científico 31 Figura 5 – Livros e o conhecimento Fonte: Pixabay Não é preciso que você inicie este tópico com a palavra “Desenvolvimento”: você já pode elaborar a seção com o nome do assunto principal da pesquisa após a introdução. Todavia, como organizar o desenvolvimento? Você se lembra que, na unidade anterior, explicamos que os objetivos serão norteadores de todo o seu trabalho acadêmico? Então, a partir do seu objetivo geral, organize os títulos de cada capítulo e o que escrever em cada um deles. As seções primárias abordam os principais assuntos. Em seguida, vêm os assuntos secundários e as suas subdivisões. A maioria dos autores divide o desenvolvimento em três partes: • Exposição: processo em que são descritos e analisados os fatos ou apresentadas as ideias. • Argumentação: defende-se a validade das ideias por intermédio dos argumentos, em um ordenamento lógico da exposição das ideias. Pensamento Científico 32 • Discussão: consiste em ser a comparação das ideias. Procura- se comparar ideias, refutar certas opiniões e confirmar outras, ressaltando aspectos do assunto. Já a conclusão é a parte final do texto. Nela, você unirá as ideias de tudo o que você estudou com base nos resultados da sua análise, a fim de verificar se houve solução para o seu problema de pesquisa, se a hipótese que você formulou é verdadeira ou não e se você conseguiu atender aos objetivos gerais e específicos que foram formulados. Nesse sentido, a conclusão de um trabalho científico não é um simples resumo do que foi feito, nem a construção de novas ideias. A conclusão é o capítulo final do desenvolvimento do trabalho científico. Nela, são apresentadas as conclusões relacionadas aos objetivos, às hipóteses e à resposta encontrada para a pergunta de pesquisa. Além disso, na conclusão, também podem ser sugeridos temas e perguntas para futuros trabalhos de pesquisa. Perceba que o processo de construção da pesquisa é um ciclo e o seu fechamento está na conclusão das perguntas e nas soluções apresentadas por você. Um exemplo disso está na figura a seguir: Figura 6 – Ciclo do processo de construção da pesquisa Tema – Objetivos – Problema – Hipóteses ↓ Revisão de Literatura ↓ Análise e Interpretação dos Dados ↓ Conclusão ↓ Fonte: Elaborado pelos autores. Pensamento Científico 33 Assim como foi exposto, no projeto de pesquisa, não há capítulo de conclusão. Nesse caso, são incluídos os capítulos referentes aos aspectos técnicos relacionados à execução da pesquisa: • Recursos – apresentação do conjunto de elementos materiais e não materiais necessários à realização da pesquisa, tais como recursos humanos, infraestrutura, apoios institucionais, materiais e instrumentos, materiais de consumo e recursos financeiros. • Cronograma – apresentação do planejamento detalhado das etapas do projeto ao longo do tempo, incluindo a lista de atividades e as datas para realização das atividades. • Orçamento – apresentação detalhada dos custos do projeto De forma sistemática, o trabalho acadêmico adquire uma sequência lógica e padronizada. Esse fato favorecerá a divulgação dos conhecimentos gerados mediante o seu trabalho. Agora você conhecerá os elementos pós-textuais. Esse conhecimento te tornará apto a apresentar a sua pesquisa de acordo com as normas estabelecidas pela ABNT. Os elementos pós-textuais completam o trabalho. Eles possuem forma própria de apresentação, devendo figurar no trabalho na seguinte ordem: • Referências. • Apêndice. • Anexo. • Glossário. Acreditamos que o professor da graduação, ao solicitar a elaboração de um trabalho científico, tenha pedido a apresentação das referências. Então, esse termo não é novo para você, mesmo que você tenha certa dificuldade em elaborá-lo. Contudo, o que seriam as referências? Você já se questionou sobre isso e sobre a importância de termos um elemento pós-textual com esse nome? Pensamento Científico 34 Ao final do seu trabalho científico, você deverá apresentar um elemento pós-textual chamado referências. Nele, devem estar listadas todas as obras que foram consultadas ou citadas nos elementos pré- textuais e textuais do seu trabalho. Já os apêndices são os materiais suplementares, necessários para completar a obra, mas que não se encaixam em qualquer um dos capítulos dela. Eles são elaborados pelo próprio autor da obra, a fim de complementar a sua argumentação, sem prejudicar o núcleo do trabalho. Os apêndices são, por exemplo, aquele roteiro de entrevista (sem as respostas dos entrevistados) que foi utilizado para se obter os dados da sua pesquisa ou até mesmo um questionário com uma sequência de questões que também foi elaborado pelo pesquisador para que os sujeitos da pesquisa o respondessem. O(s) apêndice(s) é(são) identificado(s) por letras maiúsculas consecutivas, travessão e pelos respectivos títulos. Exemplos: APÊNDICE A – Modelo de questionário APÊNDICE B – Texto complementar Os anexos são elementos opcionais. Consistem em ser um texto ou documento não elaborado pelo autor, mas que serve de fundamentação, comprovação e ilustração. O(s) anexo(s) é(são) identificado(s) por letras maiúsculas consecutivas, travessão e pelos respectivos títulos. Exemplos: ANEXO A – Documento comprobatório ANEXO B – Nota fiscal Já o glossário é um elemento opcional. É uma lista, em ordem alfabética, de palavras ou expressões técnicas de uso restrito ou de sentido obscuro utilizadas no texto, acompanhadas das suas respectivas definições. Em outras palavras, é um vocabulário para elucidação e/ou explicação de vocábulos e expressões regionais de uso restrito. Deve ser organizado em ordem alfabética. Pensamento Científico 35 Agora que você conhece os elementos que estruturam o trabalho acadêmico, você está habilitado a elaborar seu TCC. Pelo fato de que essa é uma atividade que você só fará ao final do seu curso, orientamos o seu seguimento na produção de todos os trabalhos acadêmicos disciplinares, ou seja, nos trabalhos solicitados pelos professores das diversas disciplinas que cursar. RESUMINDO: Você aprendeu o significado de um trabalho acadêmico e identificou a sua estrutura padrão ao saber que ele é composto de elementos pré-textuais, textuais e pós- textuais. Além disso, conheceu os elementos opcionais e os obrigatórios, bem como aprendeu o que cada item dessa estrutura deverá conter e como o texto deverá ser elaborado. Pensamento Científico 36 Normas das ABNT para citação INTRODUÇÃO: Ao final deste capítulo, você será capaz de identificar os tipos de citações existentes, bem como utilizar cada um deles. Isso será fundamental no ato da elaboração de seus trabalhos acadêmicos. Uma citação é a “menção, no texto que se está escrevendo, de uma informação extraída de um livro ou artigo que se leu” (POZZEBON, 2004, p. 111). Essas menções devem ser indicadas com método e precisão. O uso de citações é definido pela NBR 10520:2002, que é a norma quefixa as condições exigidas para a redação e apresentação de citações em documentos, ou seja, ajuda a referenciar os autores que você citou em seu trabalho. É obrigatório indicar os dados completos das fontes de onde foram extraídas as citações, seja em nota de rodapé, seja em lista no fim do texto. Citação é o uso do pensamento ou da ideia de outra pessoa – um autor – para descrever ou explicar determinado assunto. Ela é o elemento básico da redação científica e o seu uso correto demonstra que o pesquisador estudou trabalhos anteriores a respeito do tema pesquisado e soube comparar adequadamente as teorias encontradas na literatura. As citações utilizadas nos trabalhos acadêmicos podem ser diretas curtas, diretas longas ou indiretas. As citações diretas curtas são frases transcritas exatamente como constam no trabalho original e ocupam menos de três linhas quando formatadas de acordo com as normas da ABNT. Veja, no exemplo a seguir, um parágrafo extraído de uma tese de doutorado: Pensamento Científico 37 Figura 7 – Exemplo de citação direta curta De acordo com MacDiarmid (2006, p. 12), “se enumerarmos os cinco maiores problemas do mundo atual, eles serão energia, água, alimentos, meio ambiente e pobreza”. Entre os principais problemas a serem enfrentados nos próximos anos, incluem-se, ainda, o crescimento demográfico descontrolado nos países em desenvolvimento e o consequente aumento da população vivendo em extremas condições de pobreza, com escassez de alimentos, sem saneamento básico e sem atendimento adequado na área da saúde. Fonte: Elaborado pelos autores. O autor do trabalho acadêmico usou uma ideia de MacDiarmid (2006) para construir um trecho de seu próprio trabalho. Entretanto, pelo fato de que houve uma cópia da sentença escrita por MacDiarmid – exatamente como estava no original –, ele redigiu a frase entre aspas. Além disso, a frase copiada ocupou menos de três linhas. Isso é uma citação direta curta. Na lista de referências, a obra de MacDiarmid (2006) ficaria assim: Figura 8 – Exemplo de referência MACDIARMID, Alan. O maior do mundo. Revista Desafios do Desenvolvimento, Brasília, v. 19, p. 8-12, fev. 2006. Entrevista concedida a Andréa Wolffenbüttel. Fonte: Elaborado pelos autores. As citações diretas longas são frases transcritas exatamente como constam no trabalho original e ocupam mais de três linhas quando formatadas de acordo com as normas da ABNT. Elas também têm outras características especiais, tais como recuo de 4 cm à esquerda, espaçamento entre linhas simples e o tamanho da letra deve ser menor que o tamanho utilizado no texto normal. Pelo fato de que a letra padrão é tamanho 12, as citações diretas longas devem ser formatadas com letra tamanho 10. Nas citações longas, não se utilizam as aspas, uma vez que a citação já aparece destacada do restante do texto. Pensamento Científico 38 Suponha que o autor do trabalho acadêmico também usou uma ideia de Biderman (2006) para construir outro trecho de seu próprio trabalho. Para isso, transcreveu as palavras de Biderman (2006) exatamente como estavam no original, formatou o parágrafo em uma letra menor que a letra do texto e incluiu um recuo à esquerda, uma vez que o texto transcrito ocupou mais de três linhas. Isso é uma citação direta longa. Na lista de referências, a obra de Biderman (2006) ficaria assim: Figura 9 – Exemplo de referência BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. O conhecimento, a terminologia e o dicionário. Ciência e Cultura, Campinas, v. 58, n. 2, p. 35-37, abr./maio/ jun. 2006. Fonte: Elaborado pelos autores. As citações indiretas são frases reescritas com palavras diferentes daquelas que estavam no trabalho original, mas que mantêm a ideia da obra da qual foram retiradas. Veja, no exemplo a seguir, um trecho extraído de uma tese de doutorado: Figura 10 – Exemplo de citação indireta De acordo com Vygotsky (2008), com base em estudos experimentais e nas teorias da linguagem e pensamento de Piaget e Stern, a linguagem é um produto cultural constituinte da estrutura do pensamento. A forma de pensar de uma determinada sociedade, portanto, é determinada pelas características da linguagem e pela forma como são formados os conceitos mais simples e mais complexos no cérebro humano. Fonte: Elaborado pelos autores. Na lista de referências, a obra de Vygotsky (2008) ficaria assim: Figura 11 – Exemplo de referência VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e linguagem. Tradução de: CAMARGO, Jefferson Luiz. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008. Fonte: Elaborado pelos autores. Pensamento Científico 39 O autor do trabalho acadêmico usou uma ideia de Vygotsky para construir um trecho de seu próprio trabalho. Entretanto, pelo fato de que o autor reescreveu as ideias de Vygotsky (2008) com as suas próprias palavras, apenas citou o sobrenome do autor e o ano da publicação, não há necessidade de utilização das aspas ou do parágrafo em destaque. Esse é um exemplo de citação indireta, também chamada de paráfrase. As citações indiretas podem ser elaboradas com base em uma frase, um parágrafo e até mesmo em um livro inteiro. O importante é ser fiel à ideia original. Há, ainda, um tipo especial de citação, que ocorre quando um pesquisador transcreve uma citação que foi usada em outro trabalho. Nesse caso, dizemos que ele usou uma citação da citação. Todavia, devemos evita-la ao máximo, uma vez que pode causar a impressão de que o pesquisador não buscou pela fonte original da informação. Essa maneira de citação pode ser utilizada quando o texto ou o livro original é uma obra muito rara e de difícil acesso. Veja um exemplo de citação da citação: Figura 12 – Exemplo de citação de citação Quanto às escolas ou abordagens em estudos de gestão organizacional, Miles (1980 apud LEWIN; MINTON, 1986) propõe uma classificação em dois grupos: modelos focados em objetivos e modelos sistêmicos. Fonte: Elaborado pelos autores. A referência da citação da citação do exemplo anterior ficaria assim: Figura 13 – Exemplo de referência LEWIN, Arien Y.; MINTON, John W. Determining Organizational Effectiveness: another look, and an agenda for research. Management Science, v. 32, n. 5, may 1986. Fonte: Elaborado pelos autores. Pensamento Científico 40 Nesse caso, o pesquisador teve acesso à obra de Lewin e Minton (1986), na qual encontrou uma citação relativa a uma ideia de Miles (1980). “Apud” significa o mesmo que “citado por”. Diante do exposto, é perceptível que cada forma de citação exige uma formatação correta, de acordo com as normas da ABNT. Além disso, cada citação também deve incluir sua referência, que é a fonte original de onde foi retirada. Essa referência deve incluir o(s) sobrenome(s) do(s) autor(es) e o ano da publicação. Nas citações diretas curtas e longas – que são transcrições literais dos textos originais –, deve-se incluir, também, o(s) número(s) da(s) página(s) de onde a citação foi retirada. As normas da ABNT explicam como citar uma obra que possui vários autores e quais são as opções para o “local” da chamada da citação: dentro ou fora de parênteses, ou seja, como parte da própria frase ou como complemento, ao final da frase. Observe um exemplo de chamada da citação incluída na frase extraída de uma obra com um autor: Figura 14 – Exemplo de citação indireta De acordo com Barros (2006), sob o ponto de vista linguístico os textos científicos podem ser analisados em diversos níveis, dentre estes os níveis semiótico, pragmático, sintático, semântico e lexical. Fonte: Elaborado pelos autores. Nesse caso, não foi incluído o número de página, porque a citação é indireta, ou seja, o pesquisador escreveu a ideia de Barros (2006) com suas próprias palavras. Observe, também, que o sobrenome do autor está em letras minúsculas (apenas a primeira letra fica em maiúscula). Na lista de referências, a obra de Barros (2006) ficaria assim: Figura 15 – Exemplode referência BARROS, Lídia Almeida. Aspectos epistemológicos e perspectivas científicas da terminologia. Ciência e Cultura, Campinas, v. 58, n. 2, p. 22-26, abr./maio/jun. 2006. Pensamento Científico 41 Fonte: Elaborado pelos autores. Agora, observe um exemplo de chamada da citação complementar à frase extraída de uma obra com dois autores: Figura 16 – Citação com dois autores Defensores da RSE, tais como Pascal Lamy, ex-EU Trade Comissioner, afirmam que há correlação direta entre os princípios sociais e ambientais da organização e seu desempenho financeiro (SWIFT; ZADEK, 2002). Fonte: Elaborado pelos autores. Nesse caso, não foi incluído o número de página, pois a citação é indireta, ou seja, o pesquisador descreveu a ideia de Swift e Zadek (2002) com suas próprias palavras. Observe, também, que os sobrenomes dos autores estão em letras maiúsculas, separados por ponto e vírgula, e dentro de parênteses. Na lista de referências, a obra de Swift e Zadek (2002) apareceria com a seguinte formatação: SWIFT, Tracey; ZADEK, Simon. Corporative Responsibility and the Competitive Advantage of Nations. Denmark: The Copenhagen Centre & AccountAbility Institute, 2002. De acordo com as normas da ABNT, é possível sinalizar que um trecho da citação foi omitido ou destacar uma palavra ou trecho de uma citação direta, o chamado grifo. Segue um exemplo de trecho omitido em uma citação direta: Texto original: Nas palavras de Vygotsky (2008, p. 8), “A concepção do significado da palavra como unidade tanto do pensamento generalizante quanto do intercâmbio social é de valor inestimável para o estudo do pensamento e da linguagem (...)”. Fonte: Elaborado pelos autores. Pensamento Científico 42 VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e linguagem. Tradução de: CAMARGO, Jefferson Luiz. 4. ed. São Paulo: M. Fontes, 2008. Fonte: Elaborado pelos autores. Texto com indicação da omissão de um trecho: Nas palavras de Vygotsky (2008, p. 8), “A concepção do significado da palavra (...) é de valor inestimável para o estudo do pensamento e da linguagem (...)”. Fonte: Elaborado pelos autores. Agora, observe um exemplo de grifo em uma citação direta: Nas palavras de Vygotsky (2008, p. 8, grifo nosso), “A concepção do significado da palavra como unidade tanto do pensamento generalizante quanto do intercâmbio social é de valor inestimável para o estudo do pensamento e da linguagem (...)”. Fonte: Elaborado pelos autores. VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e linguagem. Tradução de: CAMARGO, Jefferson. 4. ed. São Paulo: M. Fontes, 2008. No último caso, a indicação “grifo nosso” significa que essas palavras não estavam destacadas no original, mas foram destacadas pelo pesquisador. A seguir, estão algumas dicas importantes para o uso de citações: • É possível omitir alguma parte da citação, desde que não altere o sentido do texto ou frase. As omissões devem ser indicadas pelo uso de reticências, entre parênteses (...). • Você pode destacar frase(s) ou palavra(s) em citações. Para isso, deve usar o negrito e, imediatamente após a palavra ou frase em negrito, apresentar a expressão “sem grifo no original”, que deve vir entre colchetes. Pensamento Científico 43 • É possível fazer acréscimos e/ou explicações em citações, desde que venham entre colchetes. • Quando, no texto citado, aparecer incorreções e incoerências, imediatamente após a sua ocorrência, acrescente a expressão latina [sic], entre colchetes. • A indicação das fontes citadas segue as normas de referenciação bibliográfica. RESUMINDO: Ao realizar os estudos deste capítulo, você aprendeu que existem diversos tipos de citação e soube como utilizar cada uma delas. Além disso, percebeu como elas são importantes na construção e na elaboração de um trabalho cientifico, pois são formas de deixar o seu texto fundamentado. Pensamento Científico 44 Normas da ABNT para referências INTRODUÇÃO: Após a leitura deste capítulo, você estará apto(a) a elaborar os seus trabalhos acadêmicos de acordo com as normas da ABNT. Isso é fundamental para o seu aprendizado. Vamos lá! Chegamos ao último capítulo da nossa disciplina. Aqui, continuaremos os nossos estudos sobre as referências. Continuaremos, pois, desde o segundo capítulo, já trabalhamos essa temática. No terceiro capítulo, ao estudarmos citação, apresentamos aspectos das referências. Contudo, qual seria a relação das citações com as referências? Figura 17 – Biblioteca com obras Fonte: Pixabay As referências nada mais é que um conjunto de elementos que permite a identificação de documentos impressos ou registrados em qualquer suporte físico, sejam eles livros, artigos publicados em revistas, jornais, anais, congressos, e materiais especiais, como mapas, gravações, Pensamento Científico 45 filmes, entre outros. O material que deverá ser informado ao final do texto é o que chamamos de referência. As referências são apresentadas em uma página independente e numerada. A palavra REFERÊNCIA vem grafada em caixa alta e de forma centralizada. Ao final do seu trabalho, nas referências, é preciso que você insira os dados completos da obra a qual há um trecho no corpo do seu trabalho (nos elementos textuais). Isso significa que, se você mencionou uma citação de Rocha (2007), ao final do seu trabalho, é preciso que indique todos os dados da obra onde se encontra presente aquele trecho. Na referência, os elementos essenciais devem seguir a seguinte ordem: • Autor. • Título. • Subtítulo (se houver). • Edição. • Local. • Editora. • Data de publicação. Apesar de haver essa sequência, existe uma especificação para os diversos materiais consultados. O elemento pós-textual obrigatório em monografias, dissertações e teses, de acordo com as normas da ABNT, é a lista de referências. As referências são as obras consultadas e citadas durante o trabalho, de forma que possam ser identificadas e posteriormente localizadas. Essas referências podem ser livros, artigos, entre outros materiais que foram lidos e citados pelo pesquisador. Elas devem ser formatadas segundo as normas da ABNT, as quais contêm exemplos dos padrões que devem ser utilizados para cada tipo de obra ou texto: livro, monografia, artigo de revista científica, legislação etc. Segue um exemplo de referência de livro: Pensamento Científico 46 SOBRENOME DO AUTOR, Nome do autor. Título do livro em negrito ou itálico. Local: Editora, ano. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974. Agora, observe um exemplo de referência de artigo científico: SOBRENOME DO AUTOR, Nome do autor. Título do artigo. Título da revista científica em negrito ou itálico, local, volume, número, páginas, mês abreviado ano. GURGEL, C. Reforma de estado e segurança pública. Política e Administração, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 15-21, set. 1997. Observe, nos exemplos anteriores, que o nome do autor pode aparecer completo ou abreviado. Segue um exemplo de referência de dissertação de mestrado: SOBRENOME DO AUTOR, Nome do autor. Título do trabalho em negrito ou itálico: subtítulo do trabalho (se houver). Ano. Quantidade de folhas. Grau acadêmico (nome do programa de graduação ou pós-graduação) – vinculação acadêmica, local, data da defesa. ARAUJO, U. A. M. Máscaras inteiriças Tukúna: possibilidades de estudo de artefatos de museus para o conhecimento do universo indígena. 1985. 102 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, 1986. Segue um exemplo de referência de um material extraído da internet: SOBRENOME DO AUTOR, Nome do autor. Título do texto. Título da publicação em negrito ou itálico, Local: dia mês abreviado ano. Disponível em: endereço eletrônico completo. Acesso em: dia mês abreviado ano. SILVA, Ives Gandra da. Pena de morte para o nascituro. O Estado de S. Paulo, São Paulo: 19 set. 1998. Disponívelem: www.providafamilia.org/ pena_morte_nascituro.htm. Acesso em: 07 mar. 2020. Pensamento Científico 47 Além dos exemplos anteriores, as normas da ABNT também definem padrões para referência de diversos formatos de materiais disponíveis on- line, trechos de palestras, fotografias, filmes, teses, entre outras fontes de informações que podem ser utilizadas em um trabalho acadêmico. RESUMINDO: Neste capítulo, você aprendeu a importância das referências e como utilizá-las. Também soube que, para cada obra, há uma forma de se elaborar as referências. Você não precisa saber todos os detalhes para a elaboração da referência de cada obra, mas é importante que saiba que a referência de cada tipo de obra não é única. Pensamento Científico 48 REFERÊNCIAS ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: Informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2002. ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12225: Informação e documentação: lombada: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: Informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2002. ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6027: informação e documentação: sumário: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: Informação e documentação: resumo: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. São Paulo: Prentice Hall, 2003. HUHNE, L. M. (org.). Metodologia científica: cadernos de textos e técnicas. Rio de Janeiro: Agir, 2000. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Metodologia do trabalho científico. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2013. Pensamento Científico 49 MATITZ, Q. R. S. Aspectos semânticos, formais e funcionais do conceito desempenho em estudos organizacionais e estratégia: um modelo analítico. 2009. Tese (Doutorado em Administração) – Setor de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009. POZZEBON, P. M. G. Mínima metodológica. Guanabara/Campinas: Alínea, 2004. PRESTES, M. L. de M. A pesquisa e a construção do conhecimento científico: do planejamento aos textos, da escola à academia. 2. ed. São Paulo: Respel, 2003. REY, L. Planejar e redigir trabalhos científicos. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Edgard Blücher, 2003. SALOMON, D. V. Como fazer uma monografia: elementos de metodologia do trabalho científico. 5. ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1977. SALVADOR, Â. D. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica. 10 ed. Porto Alegre: Sulina, 1986. SANTOS, A. R. dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. São Paulo: Cortez, 2006. Pensamento Científico Unidade 1 Iniciação científica Pensamento Científico Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ THALYTA MABEL NOBRE BARBOSA AUTORIA André de Faria Thomáz Olá. Meu nome é André de Faria Thomáz. Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas (2006), pós-graduando em Docência Superior pela Universidade Gama Filho (2009), pós-graduado em MBA Executivo em Administração de Empresas (2009-2012), mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica (2011) e doutor em Administração Prática nas Funções de Contador pela mesma instituição (2018). Também sou professor universitário, conteudista e curador. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir a minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Thalyta Mabel Nobre Barbosa Olá. Meu nome é Thalyta Mabel. Sou graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestre em Serviço Social, tendo como objeto de estudo o Serviço Social na Previdência Social, pela mesma instituição. Possuo experiência como docente nas áreas de Serviço Social e Metodologia Científica na graduação e na pós-graduação de instituições públicas e privadas. Atuo como autora, designer educacional e consultora educacional na elaboração, gestão e implementação de materiais didáticos para a EaD. Fui convidada mais uma vez pela Editora Telesapiens a integrar o seu elenco de autores independentes e estou muito feliz em poder ajudar você a conhecer o mundo maravilhoso da pesquisa científica e contribuir para o seu aprendizado nesta fase. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Ciência e os tipos de conhecimento .................................................. 10 O homem e o conhecimento ................................................................................................ 10 1.2 Tipos de conhecimento ..................................................................................................... 14 Conceito de ciência ...................................................................................................................... 17 Ciência e seus métodos ..........................................................................20 Ciência e vida acadêmica ....................................................................................................... 20 Ciência e método científico .................................................................................................... 21 Método e técnica ........................................................................................................22 Classificação dos métodos ..................................................................................24 Método experimental ...........................................................................25 Método observacional .........................................................................25 Método comparativo .............................................................................26 Método estatístico ..................................................................................26 Método etnográfico ...............................................................................27 Métodos indutivo e dedutivo ..........................................................28 A importância da pesquisa científica .................................................30Significado da pesquisa científica ..................................................................................... 30 O avanço da pesquisa científica ...........................................................................................32 Ciência como prática social ...................................................................................................34 Desafios da ciência e a ética na produção científica ................... 41 Desafios da ciência ....................................................................................................................... 41 Produção científica e ética ......................................................................................................45 Graduação no Brasil .................................................................................................. 46 Pós-graduação no Brasil ...................................................................................... 48 7 UNIDADE 04 UNIDADE 01 Pensamento Científico 8 INTRODUÇÃO Você sabia que, em um contexto marcado por rápidas mudanças conceituais, teóricas e tecnológicas, o estudante de graduação deve ser capaz de produzir conhecimento relevante? Atualmente, as complexidades da nossa sociedade, as quais são refletidas no cotidiano acadêmico, demandam por profissionais que estejam capacitados a ler, compreender, questionar e a intervir nesse contexto. Nesse sentido, o instrumento mais adequado para isso são os projetos de pesquisa ou projetos de intervenção. Ao ingressar na universidade, você passa a conhecer o mundo da ciência. Aos poucos, você deixa de ser um mero receptor desse conhecimento e se torna um produtor dele, por meio da pesquisa científica. No entanto, ao realizar a pesquisa científica, é necessário que você se aproprie de algumas definições e seja instrumentalizado para tal. Diante dessa afirmação, nesta unidade, estudaremos juntos: o significado do conhecimento; os tipos de conhecimento; a importância da ciência e do conhecimento científico; os métodos científicos; e a ética na pesquisa. Por ser uma obra pensada e desenvolvida para a educação a distância, ela possibilitará uma experiência singular de imersão individualizada em um conteúdo rico em possibilidades de aprendizagem. Portanto, ao longo desta unidade letiva, você mergulhará neste universo! Bons estudos! Pensamento Científico 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliá-lo no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Conceituar ciência e identificar os tipos de conhecimento. 2. Caracterizar a ciência e identificar os métodos científicos existentes. 3. Identificar a importância da pesquisa científica. 4. Conhecer os desafios da ciência e os aspetos importantes da ética na produção científica. Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Pensamento Científico 10 Ciência e os tipos de conhecimento INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de conceituar ciência e de identificar os tipos de conhecimento. Isso será fundamental para a ampliação da sua compreensão a respeito do caminho percorrido diariamente por cientistas e pesquisadores em sua constante busca pelo conhecimento. Motivado para desenvolver essas competências? Vamos lá. Avante! O homem e o conhecimento Você já parou para analisar com que velocidade a tecnologia nos tem surpreendido? Há pouco tempo, a internet não existia e os aparelhos de TV eram monocromáticos. A comunicação por telefone era privilégio das classes sociais mais abastadas e grande parte das tecnologias que utilizamos diariamente não havia sido inventada. Além da intensa comunicação, hoje, dependemos cada vez mais do desenvolvimento de novos medicamentos, de novas técnicas de produção de alimentos, de novos meios para reverter os danos causados ao meio ambiente, além de outras explicações e soluções para os problemas que enfrentamos. Nesse contexto, a ciência assume papel de destaque na construção da sociedade e no aperfeiçoamento individual dos seres humanos. Por meio da atividade científica, o conhecimento é produzido em diversos locais e pode ser compartilhado, testado e reformulado, pois é resultado do trabalho de cientistas espalhados ao redor do mundo. Entretanto, quais foram os motivos que levaram a humanidade a realizar investigações? O que seria conhecimento? Pensamento Científico 11 Figura 1 – Conceito do conhecimento Fonte: Freepik Ao longo deste capítulo, responderemos a esses questionamentos. Vejamos, a seguir, a relação do homem com o conhecimento. Ao analisar a trajetória da humanidade, podemos perceber que o homem sempre foi ávido por conhecimento desde o seu nascimento. Exemplos disso são a descoberta do fogo, a impressão do pensamento nos desenhos rupestres, as explicações dos fenômenos que cercam a vida e a morte, os mitos, a filosofia, a criação e artefatos para a caça e a alimentação, bem como o avanço da intelectualidade, com a criação da roda e os pensamentos dos filósofos greco-romanos, que têm sido instrumentos poderosos de conhecimento até hoje. Todavia, apenas nos séculos XVI e XVII que a ciência ganhou status: verdade é aquilo que se pode ser comprovado. Hoje, o método científico é considerado o saber mais eficaz, o qual se encontra inserido no contexto do advento da ciência moderna. A ciência é uma forma de conhecimento. Contudo, o que seria conhecimento? Pensamento Científico 12 Você aprendeu até aqui que o homem sempre foi ávido por conhecimento e que, para adquiri-lo, ele realizava investigações. Também já se sabe que a ciência é uma forma de conhecimento e que ela está presente em seu cotidiano. Ainda sobre a relação do científico com a história da humanidade, Fachin (2003) apresenta uma reflexão sobre essa temática. A autora discorre que, desde a Antiguidade, já havia uma atenção para o científico, embora não existissem, naquela época, métodos e observações dos acontecimentos. Apenas após a advinda dos cientistas modernos que houve avanços nos métodos de pesquisa, nas técnicas e na ordenação nas coletas de dados. Esse será um assunto que discutiremos ao longo desta disciplina. Para Laville e Dionne (1999), há dois modos de aquisição do saber: o espontâneo e o racional. Esses dois tipos de saberes servem para conhecermos o funcionamento das coisas, a fim de melhor controlá-las e realizar melhores previsões. Os saberes espontâneos são: a intuição, a tradição e a autoridade, os quais, muitas vezes, são adquiridos a partir das experiências pessoais e nem sempre se baseiam em dados de experiências racionalizadas. Devido à fragilidade do saber, o homem desenvolveu o desejo de saber mais e de dispor de conhecimentos metodicamente elaborados e mais confiáveis, o que chamamos de saber racional. Para explicar a evolução do saber racional até a chegada, no século XIX, da ciência triunfante, Laville e Dione (1999) explicam que esse saber foi iniciado com os filósofos Platão e Aristóteles, a partir do desenvolvimento da lógica e, em seguida, por intermédio das reflexões filosóficas realizadas no período medieval. Não só, mas também houve a colaboração das superstições e das magias da Renascença, da observação empírica do século XVII, que objetivava o pensamento científico, e, no século XVIII, do desenvolvimento dos princípios da ciência experimental. REFLITA: Você já consegue conceituar “conhecimento” com base nas informações apresentadas até este momento? Pensamento Científico 13 Acreditamos que sim. Portanto, prossigamos. Possivelmente, você tenha conceituado “conhecimento” como o ato de conhecer algo ou a reunião de informações armazenadas na mente humana. EXPLICANDO MELHOR: Com base na resposta, podemos dizer que o homem tem diversos tipos de conhecimento. A mesma pessoa, por exemplo,pode ser um pesquisador da área da criança e do adolescente, conhecedor do Estatuto da Criança e do Adolescente e ser uma pessoa religiosa, conhecedora da bíblia. Você também possui diversos tipos de conhecimento. Já parou para pensar nisso? Consegue identificá-los? Um exemplo simples e que faz parte da sua realidade é este: você está no ensino superior para obter conhecimentos sobre a profissão a qual você escolheu, a fim de que, posteriormente, seja um profissional devidamente qualificado. Quais são os conhecimentos que você vai adquirir ou já adquiriu para atingir o seu objetivo? É bem provável que você já tenha tido acesso às legislações que norteiam o exercício profissional e todo o referencial teórico-metodológico presente nas obras dos autores referencias da sua área. Figura 2 – Exemplo de conhecimento adquirido no ensino superior Fonte: Freepik Pensamento Científico 14 Lakatos e Marconi (2005) explanam que, ao percebermos um objeto, somos capazes de captar certas qualidades ou características dele. Dessa maneira, tomamos consciência de nossas percepções e acumulamos experiências que formam um “estoque” de conhecimento, como na escola, local onde acumulamos conhecimentos produzidos por outras pessoas. Isso significa que o conhecimento nem sempre é adquirido mediante contato direto com um objeto, mas pode ser transmitido pelas mais diversas formas de linguagem, tais como: fotografias, imagens, vídeos, descrições textuais, gráficos, fórmulas, entre outras ferramentas comunicativas de grande utilização para os momentos educacionais. Ao longo do tempo, para facilitar os seus estudos, autores classificaram o conhecimento em tipos, assim como também houve a classificação da ciência. É válido ressaltar que, nas obras que abordam a temática “metodologia científica”, estudiosos usam nomenclaturas diferentes. Desse modo, serão os tipos de conhecimento que estudaremos no tópico seguinte. Tipos de conhecimento O conhecimento é o ato ou o efeito de conhecer algo, de saber, de ter informação e de buscar instrução. É a relação do homem (razão) com determinado objeto/objetivo. O conhecimento é um conceito importante para a Educação, uma vez que nos leva a conhecer disciplinas, conceitos, teorias, princípios etc., que foram internalizados e aprendidos antes. Além disso, é preciso ressaltar que, para falar de conhecimento, precisamos abordar informações, dados e fatos, a fim de que o conhecimento possa ser considerado uma informação útil para alguém. Afinal, o que é conhecimento? Conhecimento é o resultado da relação entre a percepção que temos do mundo, dada por meio de nossos sentidos – visão, audição, tato, olfato, paladar –, e os objetos que conseguimos perceber a nossa volta para, então, abstrairmos ideias ou noções. Fachin (2003) cita alguns tipos de conhecimentos nos quais os homens, por seu intermédio, evoluem e fazem evoluir o seu meio. Entre esses conhecimentos, temos: o filosófico; o teológico ou religioso; empírico (popular ou do senso comum); e o científico. Entretanto, é Pensamento Científico 15 importante ressaltar que, aqui, usaremos basicamente o conhecimento científico. Estudemos cada conhecimento. De acordo com Alves (2007), o conhecimento empírico ou do senso comum é produzido no dia a dia, sem a necessidade de comprovação por meio de métodos sistemáticos ou científicos. Por esse motivo, é um tipo de conhecimento superficial e subjetivo ligado a tradições, crenças ou valores. Além disso, não possui uma forma sistemática e traz, como solução para um problema, uma explicação popular que não é testada como relação direta entre causa e efeito. É apenas observado um resultado, independente de subinterações possíveis. Por exemplo: os chás medicinais usados por nossas avós podem ser úteis para curar uma indigestão ou para “acalmar os nervos”. Contudo, é improvável que nossas avós saibam exatamente quais são as propriedades químicas desses chás ou como elas agem no corpo humano. O conhecimento teológico ou religioso é produzido por meio da aceitação de saberes e de informações consideradas divinamente reveladas e, como tais, são inquestionáveis e infalíveis. Por exemplo: enquanto os cristãos acreditam que o conhecimento bíblico é de origem divina e representa a verdade, os muçulmanos encontram os conhecimentos que guiam as suas vidas no Alcorão, que é equivalente à Bíblia para os cristãos. De maneira direta, a justificativa ou resposta sobre um acontecimento é dada a um Deus, entendido como um ser supremo, dependendo da cultura de cada povo. O ser humano se relaciona por meio da fé religiosa. Podemos ter exemplos nos próprios livros utilizados por algumas religiões. O conhecimento filosófico é produzido por meio da reflexão e, portanto, é sistemático e crítico. Nesse caso, a percepção direta dos objetos concretos não é o mais importante, e sim a construção de ideias e conceitos, por vezes, metafísicos e abstratos, na busca pelo conhecimento da realidade em seu contexto mais universal. O conhecimento filosófico busca descobrir aspectos relacionados ao sentido primordial da existência e da realidade, se há, ou não, liberdade, quais valores devem direcionar as ações humanas, entre outros conteúdos dessa natureza que são para o bem em comum de todos. Pensamento Científico 16 DEFINIÇÃO: Já o conhecimento científico, o qual será explorado ao longo desta disciplina, pode ser considerado o conhecimento verdadeiro, visto que busca conhecer as causas e as leis que regem determinado evento. Ele é adquirido de modo racional, por meio de processos que são sistematizados e organizados. Não só, mas entendido quando o pesquisador retira o contexto em que o evento está inserido e valida aquele acontecimento por intermédio de procedimentos que possam levar o resultado a uma possível comprovação da sua ocorrência. Esse processo nunca é considerado finalizado e pronto, pois sempre pode ser questionado e reavaliado. Em outras palavras, é um processo em constante construção. Se tomarmos o mesmo exemplo apresentado sobre chás, é o fato de se verificar exatamente qual é a causa e o efeito quando se utiliza um determinado chá. Seguem exemplos simples e que representam os tipos de conhecimento: • Conhecimento empírico ou do senso comum – “Chá de camomila é bom para acalmar os nervos”. • Conhecimento teológico ou religioso – “Bem-aventurados os que choram, porque Deus os consolará”. • Conhecimento filosófico – “A finalidade essencial da razão humana é a felicidade universal”. • Conhecimento científico – “A temperatura média do universo diminui à medida que o universo se expande”. Assim como já fora explicado, apesar da classificação em relação aos tipos de conhecimento para a apreensão da realidade social, o sujeito pode percorrer diversas áreas do saber para conhecer o seu objeto. Isso significa que as diversas formas de conhecimento estudadas poderão coexistir. Neste tópico, foi evidenciado que todas as formas de conhecimento são importantes. Apesar de sabermos que usaremos basicamente o conhecimento científico, é fácil perceber que algumas formas deram origem a ele. Nenhuma forma de conhecimento Pensamento Científico 17 é descartável, pois a ciência, apesar de exigir processos e ditar muitas regras, necessita da compreensão e da aplicação de contextos sociais, os quais só podem ser aplicados e compreendidos de maneira correta se considerado o ser humano como parte de todas essas interações. No tópico seguinte, apresentaremos o conceito de ciência com base em diversos autores. Conceito de ciência A ciência é o meio para identificar o nosso conhecimento e fazê-lo crescer, ver como as coisas funcionam, tais como a natureza, o universo etc. Ela trata de investigar/estudar os fenômenos, levando à descoberta de informações sobre o mundo. Esse estudo e investigação são realizados de acordocom o método científico, que nada mais é que o processo de avaliar o conhecimento empírico com os conhecimentos adquiridos por estudos e pesquisas. Vários autores, como Lakatos e Marconi (2000, 2003, 2005), Koche (1997), Fachin (2003), Minayo (2007), conceituaram e classificaram a ciência em suas obras. Vejamos algumas conceituações a seguir: A ciência, segundo Fachin (2003, p. 27), “trata dos conhecimentos de várias maneiras, procurando leis gerais que abriguem certo número de fatos particulares. [...] As ciências prosperaram e foram divididas para que pudessem ser melhor compreendidas”. No século XIX, houve o progresso da ciência e de suas aplicações práticas, as quais provocam mudanças e melhoramentos na vida do homem. Já na segunda metade desse século, houve o desenvolvimento das ciências humanas, as quais seguiam uma concepção de construção do saber científico nomeada “positivismo”. O positivismo tem, como características, o empirismo, a objetividade, a experimentação, a validade, as leis e a previsão. Assim, é com base nesse modelo de ciência positiva que há o desenvolvimento das ciências humanas na segunda metade do século XIX. Ao analisar a história da ciência, constatamos que muitos de seus princípios básicos foram modificados ou substituídos em função de novas conjunturas ou de novos padrões. Segundo Lakatos e Marconi (2000, p. 24): Pensamento Científico 18 A ciência, portanto, constitui-se em um conjunto de proposições e enunciados, hierarquicamente correlacionados, de maneira ascendente ou descendente, indo gradativamente de fatos particulares para os gerais, e vice-versa [...], comprovados (com a certeza de serem fundamentados) pela pesquisa empírica (submetidos à verificação). Já no que se refere à classificação e à divisão da ciência, elas ocorreram devido à necessidade do homem de estudar, entender e publicar os resultados das suas investigações científicas (nas próximas unidades, veremos como se dá as apresentações dessas investigações). Para Lakatos e Marconi (2003), em relação à classificação da ciência, podemos classificá-la mediante o conteúdo, complexidade, objeto, temas, metodologia e outros. No entanto, não há um consenso entre os autores da área acerca dessa classificação. Observe, na figura a seguir, a classificação da ciência de acordo com as autoras: Figura 3 – Classificação da ciência CIÊNCIAS Factuais Naturais Sociais Física/Química/Biologia Direito Formais Lógica Matemática Economia/Política Sociologia/Antropologia Fonte: Lakatos e Marconi, 2003 (Adaptado). Explicar e apresentar as características das ciências não faz parte do objetivo desta unidade. Entretanto, é fundamental que você saiba da existência dessa classificação. Pensamento Científico 19 Já sobre o objetivo da ciência e a sua concepção na atualidade, Koche (1997, p. 79) sustenta que: [...] o objetivo da ciência ainda é o de tentar tornar inteligível o mundo, é atingir um conhecimento sistemático e seguro de toda a realidade. No entanto, a concepção de ciência na atualidade é de ser uma investigação constante, em contínua construção e reconstrução, tanto das suas teorias quanto dos seus processos de investigação. Baseando-se na citação apresentada e nas análises da realidade e da história da ciência, podemos inferir que ela vem ganhando importância ao longo dos anos. O avanço científico, aliado a tecnologia, possibilitou transformações no mundo, como a Revolução Industrial. Todavia, é somente a partir da segunda metade do século XX que temos um acúmulo de conhecimentos e de transformações na sociedade. Ao pensarmos na ciência que temos hoje, devemos pensar, também, em aliá-la à tecnologia, já que esta é um instrumento para a realização da ciência. Para alguns autores, é a ciência aplicada, ou seja, a tecnologia fornece precisão e controle dos resultados à ciência, o que permite que o homem controle o mundo. É válido ressaltar, contudo, que, apesar do desenvolvimento científico-tecnológico que temos a nível mundial, esse progresso não tem chegado a vias de transformar a realidade da população. Um exemplo disso se refere às suas condições básicas de existência. RESUMINDO: Gostou do conteúdo apresentado? Compreendeu tudo? Agora, para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido o significado do conhecimento, identificado os seus tipos e o que significa ciência. Não só, mas também percebeu que todos nós somos dotados de conhecimento dos mais diversos tipos. Contudo, compreendeu, sobretudo, a importância do conhecimento científico para você, estudante de nível superior. Além disso, conheceu um pouco a história da ciência, seu objetivo e classificação, bem como soube a sua importância para o avanço da humanidade. Pensamento Científico 20 Ciência e seus métodos INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de caracterizar a ciência e identificar os métodos científicos que existem. Isso será fundamental para você, aluno de nível superior. Dessa forma, você terá contato com alguns elementos, a fim de adquirir uma postura científica e ser capaz de obter conhecimento com credibilidade e confiabilidade. Motivado para desenvolver essas competências? Vamos lá. Avante! Ciência e vida acadêmica Ao ingressar na vida acadêmica, é necessário que tenhamos atitudes de investigação científica, seja para interpretar a realidade social, seja para a produção das nossas pesquisas. Essa postura científica é adquirida ao cursar as diversas disciplinas, como a que está cursando agora, ao longo da sua graduação. Dessa forma, antes de iniciarmos a apresentação de alguns métodos que existem, é preciso discutir o significado de método e metodologia. Vamos lá! As pessoas, de forma geral, consideram a ciência porque acreditam que o conhecimento científico desvenda a verdade absoluta, devido a sua base empírica. Isso significa que as teorias científicas derivam diretamente de observações e experimentações sobre os fenômenos da natureza (ALVES, 2007). De acordo com Alves (2007), os cientistas ou pesquisadores são pessoas interessadas em investigar aspectos ou elementos que dizem respeito ao mundo e aos seres humanos. Esses indivíduos podem realizar investigações individuais, mas, em geral, estão reunidos em universidades ou em departamentos de pesquisa dentro de empresas. Outro aspecto importante a ser discutido é a metodologia. É possível afirmar que a metodologia trata do caminho reflexivo e da prática exercida na abordagem da realidade (ALVES, 2007). Portanto, incorpora, ao mesmo Pensamento Científico 21 tempo, a teoria da abordagem, as técnicas (instrumentos de operação do conhecimento) e a criatividade do pesquisador. Genericamente, o termo “metodologia” pode ser entendido como uma ação que visa investigar uma determinada realidade, desde que, para isso, sejam aplicados métodos específicos. Ao longo da história, um dos principais esforços do ser humano tem sido a busca constante pelo aumento do conhecimento a respeito do mundo onde vive e de si mesmo. Uma das razões para essa busca é muito simples: é preciso conhecer para controlar e, assim, definir as estruturas da ciência e da pesquisa cientifica. Por exemplo: o início de toda pesquisa é delineado por uma problemática, a qual é permeada por questões de pesquisa que se baseiam em conhecimentos prévios, que, se tratados cientificamente, são capazes de construir novos referenciais, os quais são chamados de teoria e estão inseridos em uma determinada área de conhecimento. Em algum momento da vida, aprendemos que o fogo queima, que a água gelada refresca, que os automóveis devem parar quando o sinal vermelho do semáforo está aceso e que as pessoas geralmente reagem a certos estímulos, sejam eles positivos ou negativos, com reflexos no pensamento e atos.Diante do exposto, é plausível afirmar que a teoria e a metodologia estão intimamente relacionadas e são fundamentais no processo de elaboração de qualquer projeto de pesquisa ou intervenção. Sendo assim, a metodologia deve dispor de um instrumento claro e suficientemente capaz de resolver os impasses teóricos para o desafio da prática (ALVES, 2007). No tópico a seguir, apresentaremos o significado de método. Ciência e método científico Acredito que você, aluno, já ouviu algumas vezes a palavra “método” em seu cotidiano e nas mais diversas situações e contextos. Vamos apresentar alguns exemplos. Já ouvimos alguém dizer que uma determinada pessoa é muito metódica e que, em consequência dessa forma de agir, ela poderá atingir o seu objetivo. Já em outras situações, percebemos que falta um método de ação em alguém ou até mesmo que o método de trabalho de certa pessoa não é eficiente. Pensamento Científico 22 De modo geral, a pesquisa sempre esteve voltada para a investigação de problemas teóricos ou práticos por meio do emprego de métodos científicos. São vários os tipos de pesquisa que podemos utilizar quando pretendemos desenvolver alguma investigação, quer seja de ordem prática ou intelectual. Baseando-se nas explicações apresentadas, podemos dizer que o método seria o caminho o qual devemos percorrer para que possamos alcançar um determinado objetivo, ou seja, é uma forma para se alcançar uma meta. Então, por que devemos utilizar o método em nossas pesquisas? É importante que você saiba que uma das características que distingue a ciência de outros tipos de conhecimento é o seu método. DEFINIÇÃO: A etimologia da palavra “método” é a seguinte: vem do grego methodus e significa “através, ao longo do caminho”. É o conjunto de etapas e procedimentos que orientam a investigação dos fatos ou a busca da verdade. Em outras palavras, o método é guia e um caminho (D’ONOFRIO, 1999). Temos, na ciência, o método científico, o qual deve seguir as etapas que objetivam provar, ou não, o fato real, a verdade. Método e técnica É importante entender que, quando falamos em método científico, não estamos nos referindo apenas à ciência em si. Quando se diz que você já é um cientista, isso se refere ao fato de que, na essência, todo mundo tem um “quê” de pesquisador e/ou cientista. Estamos, a todo o tempo, testando, agindo e aprendendo, o que consiste basicamente no que os cientistas fazem de maneira metódica. No entanto, não podemos dizer de maneira literal que estamos praticando ciência, se não houver um processo sistematizado que possa ser testado e replicado, caso necessário. Para isso, será apresentada a diferença entre a palavra “método” e a “técnica”, assim como alguns conceitos do próprio método Pensamento Científico 23 científico. Isso se deve, pois, dessa forma, você compreenderá melhor a relação de tudo isso com a ciência. Vamos, primeiramente, falar do método. Esse processo é como um grande apanhado de atividades organizadas de maneira sistemática, as quais fornecem uma maior segurança e permitem que alcancemos o objetivo proposto. O método segue um caminho traçado, apto a identificar falhas, erros e, ainda, auxiliar para que sejam tomadas as melhores escolhas. Podemos afirmar, também, que ele é um conjunto de critérios que servem como uma referência, na tentativa de explicação ou construção de previsões para o que é proposto. IMPORTANTE: Para que haja um método na realização de uma pesquisa ou comprovação científica, é indispensável que o objetivo esteja bem definido e seja estabelecido, de maneira clara, o que se quer responder. O método será, então, o conjunto de etapas necessárias para responder aquilo que foi proposto. Sendo assim, o método não é criado de acordo com o pensamento ou vontade do cientista, mas escolhido dependendo do tipo de objeto de pesquisa que se tem em determinada situação. Em outras palavras, uma investigação qualquer vem de um problema ou um questionamento. Para tanto, são utilizados conjuntos de processos ou etapas que se traduzem no método científico, o qual tem como foco fornecer uma posição sobre a hipótese formada. Diante disso, pode-se, por outro lado, afirmar que o método é uma forma de se pensar, a fim de encontrar a compreensão de um problema, seja para fins de estudo ou, ainda, para uma explicação. Sabe-se que a própria ciência é constituída de um conhecimento extremamente racional, metódico e ainda altamente sistemático, sendo implícita a possibilidade de sua verificação por meio do uso de técnicas e métodos diversos. Podemos traduzir o que foi apresentado até aqui de outra forma. Pensamento Científico 24 VOCÊ SABIA? Você sabia que estamos cercados, em nosso cotidiano, por diversos métodos, mesmo sem percebermos? Se fazemos um churrasco, por exemplo, para que a carne seja colocada no fogo, é necessário que o tempero seja colocado antes. Ao comer uma fruta, você naturalmente tira a casca para, depois, consumir o que tem dentro. São métodos simples que, se não aplicados, podem resultar em situações desagradáveis ou até mesmo desastrosas para a culinária. Podemos pensar na mesma construção de utilização do método quando a relacionamos com a nossa maneira de se vestir. Você coloca primeiramente a sua roupa íntima para, depois, colocar a calça, a camiseta e qualquer outra peça. Se você colocar a sua roupa superior e posteriormente vestir a roupa íntima, ou seja, não seguir os passos de maneira correta, o resultado não será o adequado ou o esperado para o processo. Nessa situação, no máximo, você estaria se parecendo com o Superman. Fica claro que existe uma ordem natural para as coisas e para os procedimentos do dia a dia. Portanto, isso pode ser traduzido como um método de se fazer cada coisa. Se não for seguido, produzirá um resultado não satisfatório na primeira tentativa. Assim, é possível resumir tudo o que foi discutido de outra forma: o método nada mais é do que um caminho para o fim que buscamos chegar. É o que vai ser percorrido, ou seja, “como” é que pretendemos alcançar determinado aspecto ou resposta. Observe outros processos do seu cotidiano. Classificação dos métodos Apresentaremos uma classificação dos métodos, para que possa ser mais claro o que estamos querendo dizer. Entre os mais conhecidos, podemos destacar os seguintes: experimental, observacional, comparativo, estatístico e o etnográfico. Pensamento Científico 25 Método experimental O surgimento da ciência e, portanto, do seu método, está diretamente vinculado às ciências da natureza, as quais foram as primeiras a se desenvolverem no século XVII. Apenas no final do século XVIII é que surgiram as ciências sociais e as humanas (psicologia, sociologia, entre outras). Em um primeiro momento, as ciências tentaram garantir um estatuto de cientificidade e, para tal, utilizaram o método experimental nas suas formulações teóricas. Aos poucos, os cientistas da época foram percebendo a inadequação desse método para os fenômenos humanos. REFLITA: Com base nos exemplos citados ao longo do material e em outras situações pelas quais passou ao longo da vida, você deve ter percebido que, em algum momento, já atuou como cientista e já realizou um experimento. Essa afirmação tem total referência quando dissemos, no início deste capítulo, que a ciência está presente em nosso dia a dia. Na realização do método experimental, algumas condições particulares são estabelecidas pelo pesquisador. Em outras palavras, no ato da experimentação, o pesquisador compara o efeito de duas variáveis, como as condições e um tratamento. Assim, antes da realização desse método, é essencial que o pesquisador trace um plano experimental em que estejam estabelecidas as condições da experiência, de forma que, por meio delas, consiga-se obter as respostas do seu problema de pesquisa. Método observacional É consideradoo primeiro passo de um estudo, qualquer que seja a sua natureza. Envolve desde as primeiras etapas de um estudo até os mais avançados estágios. Além disso, difere-se de um simples conjunto de curiosidades para algo sistematizado e planejado, com fins de alcançar um objetivo ou procurar respostas para um possível problema de pesquisa. Pensamento Científico 26 A atividade de pesquisa visa resolver problemas e nós fazemos isso de forma cotidiana, seja na academia, seja no nosso ambiente profissional. Em algumas áreas de estudo, o método experimental pode ser de difícil aplicação, como nas ciências sociais e na biologia. Diante disso, o método observacional adquire bastante importância e deve ser executado com cuidado. IMPORTANTE: Diante do que foi apresentado, você conseguiria explicar a diferença entre o método experimental e o método observacional? No método experimental, o cientista toma providências para que algo ocorra em relação ao experimento, a fim de identificar o que ocorre a partir de então. Já no método observacional, o cientista observa algo que está ocorrendo sem interferir na realidade ou algo que já ocorreu. Método comparativo Ao longo dos estudos sobre a história da ciência, verificamos que há uma discussão sobre o método comparativo e o seu processo de construção do conhecimento com base nos clássicos da Sociologia do século XIX. Nas obras de autores, tais como Comte, Durkheim e Weber, observamos o uso da comparação na construção do conhecimento. De acordo com Fachin (2003), o método comparativo consiste em investigar coisas ou fatos e explicá-los segundo as suas semelhanças e suas diferenças. Perceba que é o método que possibilita o estudo comparativo entre grupos, sociedades e outros fatores. É um procedimento de comparação sistemática de casos de análise que, em sua maioria, são aplicados com fins de generalização empírica e verificação de hipóteses. Método estatístico É o método desenvolvido tendo, como referência, a teoria estatística de probabilidade. Sua utilização possibilita medir, quantificar e mensurar a Pensamento Científico 27 realidade pesquisada. É um método que constitui um grande auxílio para a área das ciências sociais. Sem dúvidas, você já deve ter ouvido falar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa instituição é um instituto de pesquisa que realiza o recenseamento da população por meio do método estatístico. Outro exemplo de instituição que realiza o método estatístico é o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), que, por exemplo, realiza pesquisa de intenção de voto no período eleitoral. Apesar de ser utilizado de forma frequente, é comum ocorrer a manipulação, de forma tendenciosa, dos dados estatísticos com fins políticos e econômicos. Entretanto, é essencial que o pesquisador fique atento aos dados para que não se tire conclusões precipitadas e possua ética na realização da sua pesquisa. Método etnográfico Uma das abordagens metodológicas mais utilizadas no campo das pesquisas empíricas é a etnografia. A partir do conceito de cultura traçado por Lakatos e Marconi (2005), podemos afirmar que um dos modos pelo qual podemos buscar os significados da cultura é por meio da etnografia, que não será compreendida como um método permeado por regras, mas como uma prática que deve estar longe de ser avaliativa e julgadora. Ao pesquisador que se propor a realizar uma pesquisa etnográfica, é preciso romper com a linearidade do método para perceber as nuances que fogem a esse método. Entretanto, dentro do campo conhecido como filosofia da ciência, há uma reflexão mais profunda sobre as características específicas do conhecimento científico. Como exemplo, temos a crítica ao método indutivo relacionado à ciência, em que proposições gerais são formuladas a partir de observações de casos particulares. Apesar da aplicabilidade prática, o indutivismo não garante explicações definitivas sobre nenhum fenômeno da natureza. Adicionalmente, existe o fato de que nenhuma observação pode ser realizada de forma totalmente objetiva, pois todas as percepções e interpretações do mundo exterior são influenciadas por fatores subjetivos, como a cultura e as expectativas pessoais (ALVES, 2007). Pensamento Científico 28 Métodos indutivo e dedutivo No método indutivo, para que as generalizações sejam consideradas legítimas, é preciso fazer numerosas observações do fenômeno em estudo. Essas observações devem ser repetidas em várias condições e não pode haver nenhum resultado contraditório (ALVES, 2007). Esse método pode ser traduzido como a forma de se raciocinar por meio de uma associação com base em dados prévios, quando se obtém uma conclusão de algo já observado e estabelecido. Para exemplificar: o cobre, o zinco e o ferro conduzem eletricidade. Dessa forma, todos os metais conduzem eletricidade. Já o método dedutivo é o ato de descobrir a verdade por meio de conclusões já conhecidas. Pode-se dizer que ele parte do geral para o particular. Ao utilizarmos o exemplo exposto, dizemos que todos os metais conduzem eletricidade. O ouro é um metal, logo, conduz eletricidade. Ou, ainda, podemos pensar da seguinte forma: o cobalto conduz eletricidade, assim, sabemos que é um metal. Diante do exposto, pode-se afirmar que, entre a dedução e a indução, não há um isolamento de processo, uma vez que ambos são complementares. A indução deve servir como base a uma possível conclusão acerca de um tema. Na sequência, a dedução continua sendo uma espécie de parâmetro e pode até mesmo servir como premissa para próximas induções. NOTA: Com base nos tipos de métodos que apresentamos, saiba que não há como dizer que o método científico é apenas um. São várias as maneiras possíveis para a obtenção de resultados científicos e todas elas são de fundamental importância na construção do conhecimento. Cabe ao pesquisador decidir qual é a mais adequada. Pensamento Científico 29 Um resultado obtido em laboratório por meio de métodos científicos, por exemplo, em condições controladas e de maneira reprodutível, ainda não está qualificado como parte integrante do conhecimento científico. Qualquer resultado experimental necessita passar pelo crivo de outros investigadores, mediante a sua publicação em um periódico científico. É de extrema importância, portanto, realizar a formalização da produção científica e proceder a divulgação dos resultados obtidos a partir da pesquisa para outros cientistas da área. Assim, é fundamental que você saiba que produzir conhecimento exige muita dedicação por parte do pesquisador. RESUMINDO: Gostou do que foi apresentado? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter relacionado a ciência e o método. Também aprendeu o conceito de método e a sua importância para a realização das atividades de pesquisa. Identificou os principais métodos científicos utilizados pela ciência e as características de cada um deles. Por fim, verificou o quanto é significativa, para a construção do conhecimento e, logicamente, para o avanço da ciência, a utilização de um método científico. Pensamento Científico 30 A importância da pesquisa científica INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar a importância da pesquisa científica. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Significado da pesquisa científica Para você, o que seria pesquisa? Geralmente, nós associamos a atividade de pesquisa aos cientistas vestidos de batas brancas, em seus laboratórios, realizando experimentos. Com certeza, você já assistiu a diversos filmes e desenhos animados nos quais aparecem os cientistas em um laboratório realizando as suas experiências com vários tubos de ensaio e outros utensílios. No entanto,essa é uma ideia equivocada que temos acerca do que significa pesquisa. A atividade de pesquisa é a de resolver problemas e nós fazemos isso de forma cotidiana, seja na academia, seja em nosso ambiente profissional. Você já percebeu isso? Avalie o seu dia a dia e veja como a pesquisa está presente nele. Pesquisamos para saber o menor valor de um objeto que desejamos comprar, para realizar os trabalhos da faculdade e, até mesmo, para escolher uma escola para o filho estudar. Você já realizou algumas dessas atividades? Claro que sim. Lembre-se que você, ao pesquisar, tem que resolver alguma situação e, para isso, estabelece algum critério norteador para que atinja o seu objetivo. Nas empresas e organizações, pesquisas são realizadas para saber a satisfação do cliente, a aceitação do produto e da marca perante os consumidores e a concorrência. Minayo (2007, p. 47) sustenta que: [...] a pesquisa é uma atividade básica das Ciências na sua indagação e construção da realidade. [...] É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados, pensamento e ação. Pensamento Científico 31 Perceba que, de acordo com a autora, o termo “pesquisa” atrelado à ciência é uma aproximação da realidade munida de critérios, rigor, metodologia e caráter científico. A pesquisa científica tem a finalidade de propor respostas aos problemas relevantes que o homem se coloca e realizar descobertas significativas, ou seja, que aumentem a sua bagagem de conhecimentos. Em suma, a pesquisa científica visa descrever, explicar e prever os fenômenos. Você já consegue conceituar o que é pesquisa científica? A figura a seguir sintetiza as características da pesquisa científica que foram apresentadas até aqui. Aconselhamos que internalize essas características, pois elas serão necessárias ao longo da sua formação profissional e até mesmo quando estiver nos ambientes de atuação da sua prática profissional. Figura 4 - Características da pesquisa científica PESQUISA CIENTÍFICA Problema Planejada Reflexão crítica Sistematizada Conhecimento original Investigação contítua Fonte: Lakatos e Marconi, 2003 (Adaptado). Para Lüdke e André (1986), a melhor maneira de se aprender a pesquisar é, precisamente, fazendo pesquisa, enfrentando os problemas teóricos, metodológicos e técnicos que se apresentam no Pensamento Científico 32 trabalho científico. Para realizá-la, é preciso haver um confronto entre as informações coletadas sobre um determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado. Entre outras informações pertinentes, é necessário entender que, na pesquisa, existe uma relação entre teoria e prática e que é ao exercer a atividade da pesquisa que o pesquisador delineará os limites e as possibilidades em relação a essa atividade. O avanço da pesquisa científica O desenvolvimento científico sempre foi influenciado por aspectos econômicos, políticos e religiosos, assim como já abordamos. Na atualidade, por exemplo, o avanço de pesquisas com células-tronco embrionárias, que podem possibilitar a cura de diversas doenças, é bastante criticado por setores religiosos da sociedade. Nessa perspectiva, podem ser citadas, também, as doenças negligenciadas, tais como a malária, a esquistossomose, entre outras, que são enfermidades consideradas endêmicas em populações de baixa renda e que apresentam investimentos reduzidos em pesquisas científicas e produção de medicamentos. Dessa forma, o conhecimento científico não é resultante da prática investigativa e experimental por si só. A ciência se desenvolve a partir de interações sociais complexas e, consequentemente, sofre a influência de interesses pessoais, além de grupos políticos, econômicos e religiosos. O porquê de se entender os processos sistemáticos que envolvem a metodologia da pesquisa é parte integrante para a obtenção da segurança dos dados, critérios, princípios e normas, os quais fornecerão orientação e possibilitarão condições adequadas ao pesquisador na realização dos seus trabalhos. Os resultados sempre devem ser os mais confiáveis possíveis, para que possam ser usados como base de generalizações ou para outras pesquisas. Ao resgatarmos alguns aspectos da história, perceberemos que, durante a Idade Média, o desenvolvimento do conhecimento científico avançou lentamente, em consequência do predomínio do dogmatismo religioso. Nessa época, houve a valorização do conhecimento religioso para Pensamento Científico 33 explicar os fenômenos naturais, tendo Deus como o centro do Universo (teocentrismo). Culturas pagãs, como a grega, foram perseguidas, combatidas e menosprezadas. A Igreja restringiu o acesso à escrita e à cultura, o que impactou negativamente o desenvolvimento da intelectualidade. Já o desenvolvimento tecnológico resultou em inúmeros benefícios para sociedade, como o processo de globalização econômico e social. No entanto, pelo fato de os avanços tecnológicos terem ocorrido em uma sociedade capitalista, que objetiva essencialmente o lucro, a natureza é explorada de maneira inescrupulosa e o bem-estar social está sendo cada vez mais comprometido. Assim, a ciência (neste caso, apresentada como construção do conhecimento) é capaz de oferecer respostas confiáveis sobre a compreensão de determinados eventos e por que ocorrem. Ela também pode ser compreendida como a observação dos fatos de maneira sistêmica, com intuito de análise da experimentação e, desse processo, é possível retirar resultados passíveis de utilização universal. A ciência precisa ser entendida como a compreensão das relações dos efeitos e suas possíveis/principais causas de acontecimentos em determinados eventos quaisquer. Nesses eventos, é almejado demonstrar a verdade dos fatos e suas implicações ou aplicações práticas. Assim, a pesquisa científica, em si, é uma construção criada por meio de questões específicas que precisam ser respondidas. Constatamos, portanto, que o conhecimento se preocupa em explicar, mas também tem, como cerne, a busca por relações e outros fatos, na tentativa de explicá-los. Algo muito interessante de se observar é que o próprio senso comum pode motivar a realização de uma pesquisa científica. Esse processo é uma forma de testar algo que o senso comum não consegue obter resposta e trazê-lo à luz da aplicação do método científico. Um bom exemplo para entender a diferença entre os dois conhecimentos pode se referenciar na realização dos tratamentos médicos. Antigamente, um tratamento indicado pelos próprios índios ou anciãs era proveniente do conhecimento comum, que também pode ser dito como vulgar. Os remédios eram usados para diversas doenças ou Pensamento Científico 34 situações. Após ser comprovada a melhora ou a cura de determinada doença a partir do que foi aplicado, isso se tornava um conhecimento científico. Como entender isso? Anteriormente, a validação não existia, pois, mesmo que as doenças tivessem sido curadas, não se havia aplicado um método científico e não se tinha certeza da real eficácia de determinado remédio para uma doença específica. Como realizar um link desse assunto com a sua própria vida acadêmica? Na tentativa de resolução de um determinado problema, será importante a aplicação de métodos/maneiras científicas para chegar a sua solução sem a utilização de achismos. Compreenda a importância de se utilizar o método científico, pois, de acordo com o olhar da pesquisa acadêmica, você já é um cientista! No mundo atual, é possível perceber que o conhecimento científico é altamente relevante para a sociedade. De modo geral, as pessoas atribuem confiabilidade a qualquer informação, dado ou raciocínio obtido por meio dos chamados métodos científicos. Os sujeitos, de forma geral, consideram a ciência porque acreditam que o conhecimento científico desvendaa verdade absoluta devido a sua base empírica, na qual as teorias científicas derivam diretamente de observações e experimentações sobre os fenômenos da natureza (CHALMERS, 1993). Ciência como prática social O conhecimento científico é construído por meio da prática social e é bastante influenciado pelos interesses das classes sociais dominantes. Nesse sentido, segundo Chalmers (1993, p. 158), “[...] o desenvolvimento de uma ciência ocorre de forma análoga à construção de uma catedral enquanto resultado do trabalho combinado de certo número de indivíduos, cada qual aplicando suas habilidades especializadas”. Um resultado obtido em laboratório por meio de métodos científicos, por exemplo, em condições controladas e de maneira reprodutível, ainda não está qualificado a ser parte integrante do conhecimento científico. Qualquer resultado experimental necessita passar pelo crivo de outros investigadores, por meio de sua publicação em um periódico científico. Pensamento Científico 35 É de extrema importância, portanto, realizar a formalização da produção científica e proceder à divulgação dos resultados obtidos a partir da pesquisa para outros cientistas da área. Figura 5 – Divulgação da pesquisa Fonte: Pixabay No ato da pesquisa científica, é necessário que qualquer atividade experimental produzida seja avaliada, testada, discutida e aceita pela comunidade científica. Essa interdependência social para a construção da ciência evidencia o caráter dinâmico do conhecimento científico. É possível que resultados experimentais importantes sejam refutados, mal interpretados ou não recebam a devida atenção pela comunidade científica de uma determinada época, postergando grandes avanços científicos por longos anos, como foi o caso das pesquisas científicas realizadas pelo monge e botânico Gregor J. Mendel, que nasceu na Áustria, em 1822. Os trabalhos que Mendel publicou sobre hibridização de ervilhas não receberam nenhuma atenção de seus contemporâneos. Entretanto, atualmente, Mendel é considerado o fundador da genética (BATISTETI; ARAÚJO; CALUZI, 2010). A população, de modo geral, tem uma visão descontextualizada do trabalho de um cientista. A mídia tem grande influência sobre esse tipo de visão, pois o estereótipo do cientista nos desenhos animados, nas Pensamento Científico 36 histórias em quadrinhos e em outros meios de comunicação é uma figura masculina, individualista, antissocial, com óculos, e que sempre tem ideias mirabolantes. NOTA: Para entender a atual visão de mundo com base no conhecimento científico, é preciso compreender as fases da evolução do intelecto do homem, as quais refletem o próprio processo de desenvolvimento da ciência. Não há um consenso sobre a época histórica precisa do surgimento da ciência: para alguns estudiosos, sua criação data das primeiras civilizações; outros consideram a Grécia Antiga o berço da ciência e há, ainda, aqueles que acreditam que o surgimento da ciência se deu na Era Moderna. No entanto, sabe-se que, nas mais diversas culturas e regiões do globo, do ponto de vista mental e intelectual, houve, inicialmente, a subordinação do mundo físico a um mundo superior, o qual era habitado por entes e divindades responsáveis pelos fenômenos da natureza e pelo destino do homem (ROSA, 2012). O pensamento grego começou a se diferenciar das outras culturas contemporâneas por se basear na observação e no raciocínio para explicar os fenômenos naturais. No curso dos séculos, a busca pelas causas e pela essência dos fenômenos teve grande influência teológica, mantendo as bases metafísicas gregas. O distanciamento da ciência em relação aos pensamentos religiosos para explicar os fenômenos naturais se iniciou no século XV, com o Renascimento. A ideia de racionalidade, que surgiu com os filósofos iluministas no século XVIII, intensificou-se com o positivismo e o construtivismo nos séculos seguintes (ROSA, 2012). É importante salientar que o desenvolvimento do conhecimento científico foi marcado por estagnação e retrocessos, como o período da Idade Média, mas também por grandes avanços, como na época do Renascimento, o que evidencia a complexidade da evolução histórico- social da ciência (ROSA, 2012). Assim, para compreender melhor o processo de construção do conhecimento científico, precisamos conhecer alguns detalhes sobre as principais fases do pensamento humano, as Pensamento Científico 37 quais envolvem o pensamento mitológico, o conhecimento religioso e a racionalidade empírico-mecanicista. A mente humana apresenta a mesma capacidade nos diferentes povos, embora não seja possível desenvolver imediatamente e ao mesmo tempo todas as capacidades mentais. Assim, cada cultura desenvolve os potenciais cognitivos de acordo com o tipo de vida que leva e com o tipo de relação que mantém com a natureza. Os povos antigos também utilizavam meios intelectuais para tentar compreender o Universo, como é o caso das civilizações pré-colombianas (maias, incas e astecas), que possuíam grandes conhecimentos sobre astronomia e matemática. Não se pode, portanto, desvalorizar a forma de pensar dessas culturas, pois os indivíduos estavam inseridos em uma realidade material muito rude, dominados pela necessidade de manter um nível mínimo de subsistência. Contudo, trata-se de um modo intelectual de pensar que parte do princípio de que é preciso compreender o todo para se explicar as coisas, o que contradiz o proceder do pensamento científico, que avança etapa por etapa na explicação dos fenômenos naturais. O fato é que o mito não confere ao homem o domínio material sobre a natureza, o que é alcançado por meio do pensamento científico. REFLITA: Enquanto nas culturas orientais desenvolvia-se o espírito contemplativo, na Grécia Antiga formava-se uma mentalidade crítica, impulsionada pelos filósofos da época. A partir do questionamento de conceitos absolutos (metafísica), buscou-se explicar os fenômenos naturais a partir da lógica e da razão. O pensador grego Aristóteles foi o fundador da lógica, influenciando fortemente a formação do pensamento científico. Os campos filosófico e científico se confundiam e se inter-relacionavam até o fim da Idade Média, o que caracterizava um período de transição do pensamento humano (ROSA, 2012). Pensamento Científico 38 No entanto, após séculos de relativa estagnação, houve um avanço extraordinário no conhecimento científico, propiciado pelas profundas transformações sociais, políticas, econômicas e culturais iniciadas em meados do século XV, no período denominado Renascimento (ROSA, 2012). A superação da preponderância do conhecimento religioso ocorreu na época da Idade Moderna: as invenções e inovações técnicas contribuíram decisivamente para a expansão do conhecimento científico. Além disso, avanços revolucionários na Matemática, Astronomia e Anatomia permitiram o desenvolvimento da Física, da Química e da Biologia. O termo “biologia” surgiu no século XIX para nomear o campo da ciência que estuda os seres vivos, herdando, assim, boa parte do que, até então, chamava-se de história natural (ROSA, 2012). Dessa forma, a formação do pensamento científico foi influenciada pelo pensamento filosófico e teve um período de relativa estagnação em seu desenvolvimento, devido ao predomínio do conhecimento religioso durante a Idade Média. A expansão do pensamento científico foi, então, retomada na época da Idade Moderna, em que foi superada a hegemonia da religião. Nesse sentido, houve a construção de competências pelos alunos, como o desenvolvimento da capacidade de trabalhar em grupo, debater, questionar, expressar-se de forma oral, escrita ou artística, entre outras. Enquanto as competências apresentam caráter genérico, as habilidades estão relacionadas com situações mais específicas. Por exemplo, na área de ciências, ler e interpretar gráficos relacionadosà saúde e à ecologia, e analisar situações-problema referentes às questões ambientais são de extrema importância/exigência. Portanto, é plausível afirmar que processo educacional está passando cada vez mais a ter, como tônica, o desenvolvimento de competências e habilidades pelo aluno, para que ele possa compreender os conhecimentos científico-tecnológicos e utilizá- los para atuar no mundo como cidadão. Até este momento, estudamos que o conhecimento científico é construído por meio da prática social e é influenciado por aspectos econômicos, políticos e religiosos. Assim, a ciência apresenta caráter dinâmico e está em constante mudança e reformulação. A população, de Pensamento Científico 39 modo geral, apresenta visões equivocadas sobre a ciência e o trabalho dos cientistas, e cabe ao professor desmistificar as concepções de senso comum dos alunos. A tecnologia, que consiste em ser a aplicação prática da ciência, representa o modo de vida de nossa sociedade atual. No entanto, o desenvolvimento tecnológico não gera, necessariamente, bem-estar social, visto que, no mundo contemporâneo, observa-se o aprofundamento das desigualdades sociais e vários problemas ambientais. O papel da escola e do ensino de ciências naturais, nesse contexto, é o de formar cidadãos que possam atuar de maneira crítica e transformadora sobre a realidade. Portanto, as práticas pedagógicas do educador devem possibilitar que o aluno desenvolva competências e habilidades que sejam significativas para a sua atuação como cidadão global. NOTA: De acordo com Alves (2007), a subjetividade é o modo como cada indivíduo percebe o mundo. Objetividade é a percepção do mundo de modo imparcial e independente das preferências individuais do sujeito. Já a intersubjetividade é um modo compartilhado de ver o mundo, utilizado pela ciência para decidir o que e como deve ser estudado. Figura 6 – Pesquisa científica Fonte: Freepik Pensamento Científico 40 Nesse ínterim, alguns questionamentos são importantes: de que forma o pesquisador pode perceber essas nuances, captar os detalhes contidos nas entrelinhas da cultura e do cotidiano dos sujeitos? Como registrar os dados de forma que não sejam trazidos de maneira superficial e não sejam alterados? As necessidades e os interesses de cada ser humano também interferem na interpretação da realidade e na busca da verdade. Consistem em ser matizes ou vieses que limitam ou direcionam para o que lhes seja mais útil ou conveniente enxergar, sem considerar a possibilidade de que outros podem enxergar de maneira diferente. Assim, podemos incluir em nossa história que a semente do conhecimento é permeada pelos estudos de comunidades antigas, as quais, por meio de uma comunicação, transmitiram a ciência de forma rudimentar até atingirem o uso da tecnologia. É nesse momento que houve a adesão aos fenômenos observados pela ciência moderna. RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido, ao longo do capítulo, o que significa a pesquisa científica. Também conheceu as suas características e importância para a humanidade. Além desses aspectos, aprendeu que há uma relação entre o conhecimento de senso comum e o ato de se fazer pesquisa científica. Por fim, compreendeu a importância de você, estudante, realizar pesquisas em sua graduação. Pensamento Científico 41 Desafios da ciência e a ética na produção científica INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar os desafios da ciência e os aspectos importantes da ética na produção científica. Motivado para desenvolver essas competências? Vamos lá. Avante! Desafios da ciência O que leva uma pessoa a realizar uma investigação científica? O desenvolvimento de uma pesquisa científica se refere à experiência teórica e prática do pesquisador, da comunidade científica e da área de conhecimento na qual está situado. A pesquisa científica deve ser estabelecida a partir de duas abordagens: qualitativa e quantitativa. Neste tópico, aprenderemos um pouco mais essas duas abordagens científicas que devem ser determinadas pelo pesquisador ainda no início do processo de pesquisa. Dessa forma, é importante que, durante a produção cientifica, seja justificado o que lhe impede de buscar respostas. O tema e até o subtema que você escolheu podem promover mudanças significativas para a profissão que você exerce? Trata-se de novas soluções para a comunidade? Respondem às questões que há tempos não são investigadas? Contribuem para o trabalho de outras pessoas ou para o desenvolvimento de sua área de atuação? Questione-se sobre as contribuições práticas de sua pesquisa científica e apresente ao leitor, aquele que terá acesso posteriormente à sua pesquisa escrita e organizada, a relevância do tema, as suas argumentações e as suas considerações pessoais sobre o assunto e, principalmente, sobre os subtemas ao redor de sua pesquisa. Assim como já foi explicado, a ciência é resultado do trabalho de cientistas e de grupos de cientistas espalhados pelo mundo, reunidos em universidades, empresas e instituições de pesquisa. Esses profissionais Pensamento Científico 42 divulgam o seu trabalho para a avaliação de outros pesquisadores e para contribuir com a realização de outras pesquisas. Na visão de Alves (2007), é extremamente importante que as teorias desenvolvidas por meio da pesquisa científica sejam divulgadas, de forma que possam ser avaliadas, testadas e, quando necessário, reformuladas. Desse modo, também é possível evitar a duplicação de esforços e de gastos desnecessários de recursos. Para que essa divulgação aconteça, são utilizadas várias formas: a. Realização de eventos, como seminários e congressos científicos. b. Publicação de artigos científicos em periódicos (publicações impressas ou on-line) de cada área do conhecimento. c. Defesa pública e publicação de monografias, dissertações e teses em universidades. d. Divulgação jornalística de resultados de pesquisas em jornais, revistas, programas de televisão ou de rádio e portais de internet. e. Publicação de livros técnicos. Nesse sentido, a divulgação jornalística do conhecimento científico é especialmente importante para que o grande público tenha acesso à informação especializada. É importante “traduzir” termos e teorias científicas em uma linguagem que seja compreendida mais facilmente, pois, assim, contribui para uma melhor atuação da comunicação entre as produções cientificas. IMPORTANTE: A busca do ser humano pelo conhecimento sobre o mundo onde vive e sobre si mesmo tem servido tanto para suprir suas necessidades intelectuais e materiais quanto para criar outras. Pode-se verificar a utilidade da ciência ao observar o conhecimento acumulado até hoje, por exemplo, sobre as leis que regem as órbitas planetárias e outros corpos celestes, o funcionamento do corpo humano, os efeitos gerados pelo surgimento dos grandes centros urbanos, entre outros assuntos. Pensamento Científico 43 Você deve ter imaginado que é muito difícil ser um pesquisador, mas, nestas poucas páginas, verá que isso é possível a qualquer um, desde que haja muita dedicação. Quer saber como produzir e desenvolver conhecimento? Estudar o que é verdade consiste em analisar a relação existente entre o pensamento humano e o objeto a ser conhecido. Assim, voltamos à limitação humana e a sua relação com a realidade. O homem tem como portas de entrada (de sua aprendizagem e de seu relacionamento com a realidade), primeiramente, seus sentidos (visão, audição, tato, olfato etc.). Algumas vezes, precisa de instrumentos adequados para conhecer um mundo que, aos olhos naturais, não conseguiria perceber. Um bom exemplo são os microscópios para ampliar a visão. Sem o instrumentoadequado, como é possível saber que vírus, bactérias e microrganismos existem? Entretanto, o fato de o homem não os perceber não significa que não existam. Outras vezes, há obstáculos que impedem ou distorcem o entendimento da realidade pelo ser humano. Exemplo disso são os dogmas, verdades prontas e acabadas que se baseiam em crenças que lhes foram impostas ou que tacitamente foram aceitas ao longo de seu crescimento, desde criança até a fase adulta. Além disso, a pesquisa não é a única forma de obter conhecimento e fazer descobertas. A pesquisa bibliográfica é um exemplo claro de obtenção do conhecimento, pois esclarece dúvidas, e não é necessário o emprego de processos metodológicos rigorosos. Embora seja válido, esse tipo de pesquisa não se caracteriza como uma pesquisa científica. Em sua vida acadêmica, se ainda não a fez, é provável que você faça pesquisas bibliográficas. É importante lembrar que a pesquisa científica sempre parte de uma dúvida ou um problema e, por meio da utilização de um método científico, talvez sejam encontradas respostas e soluções. Muitas vezes, não encontramos respostas às nossas indagações imediatamente ou apenas com a aplicação de um método de pesquisa. É possível que, antes de encontrarmos as respostas às nossas dúvidas, tenhamos de recorrer a vários tipos e métodos de pesquisa. Para ser considerada científica, uma pesquisa pode levar anos, porque ela precisa ser comprovada e Pensamento Científico 44 experimentada inúmeras vezes, a fim de comprovar se as respostas encontradas são válidas. ACESSE: O filme “O dia depois de amanhã” (EUA, 2004) mostra os possíveis efeitos do aquecimento global. O cientista vivido pelo ator Dennis Quaid alerta as autoridades mundiais para a necessidade de se tomarem medidas urgentes, capazes de impedir uma nova Era do Gelo. Lembre-se que o trabalho científico original é fruto de uma pesquisa que foi realizada pela primeira vez e apresenta as novas descobertas, contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento científico. Nesse tipo de pesquisa, o pesquisador é movido pela necessidade de contribuir com o progresso da ciência e com o desenvolvimento de soluções concretas para os problemas estudados. Figura 7 – Controle da ciência Fonte: Freepik Além das limitações relacionadas ao desenvolvimento da ciência, há uma série de desafios ligados à atividade científica. Primeiramente, é preciso lembrar que o desenvolvimento da ciência interessa a todos. Quando dizemos “todos”, estamos nos referindo aos governos dos países, à comunidade científica, às empresas privadas, aos grupos sociais, aos indivíduos e à sociedade em geral, em todas as atribuições da pesquisa científica. Pensamento Científico 45 Dessa forma, as práticas científicas, que deveriam ser um dos desejos de qualquer estudante universitário, são uma etapa fundamental para a formação de pesquisadores. Nossa nação carece de pesquisadores capazes de produzir, ampliar o conhecimento e, consequentemente, desenvolver o Brasil, a fim de diminuir a nossa dependência das nações mais desenvolvidas. Isso porque as práticas científicas contribuem para o desenvolvimento da capacidade intelectual de uma nação. Produção científica e ética Ao longo da história, diversos filósofos e cientistas investiram seu tempo e recursos, com o intuito de encontrar uma forma de classificar o conhecimento humano em diferentes áreas. Como resultado desses esforços, muitas classificações surgiram ao longo do tempo e é bastante provável que novas ainda sejam criadas, à medida que as áreas do conhecimento científico se ampliem ou se especializem. Atualmente, uma das principais formas de se classificar a ciência é por meio da divisão entre a ciência pura e a ciência aplicada. A ciência pura ou básica é constituída por investigações nas quais não existe uma preocupação em encontrar uma utilidade prática imediata para as teorias formuladas. Já a ciência aplicada é constituída por investigações nas quais há uma busca por soluções concretas para problemas reais, o que possibilita a aplicação prática imediata dos resultados da pesquisa científica. Também podemos dividir a ciência em ciências naturais, focadas no estudo da natureza e de seus fenômenos, e ciências sociais, que estudam as pessoas e os agrupamentos humanos. Historicamente, as ciências naturais são mais antigas; já as ciências sociais são mais recentes. Dessa forma, muitos procedimentos de pesquisa utilizados pelas ciências sociais são adaptações dos procedimentos originariamente desenvolvidos no campo das ciências naturais. No atual momento de desenvolvimento científico, há um grande debate acerca da necessidade de se desenvolverem métodos científicos apropriados para cada área do conhecimento e para cada objeto de estudo. Portanto, passamos por um momento histórico em que diversas áreas do conhecimento, as quais denominamos “ciências”, encontram-se em diferentes estágios de desenvolvimento. Pensamento Científico 46 Ao comparar a situação apresentada com o ser humano, seria conveniente afirmar que algumas ciências já estão na fase adulta, enquanto outras estão ainda na infância. O que seria, afinal, uma ciência mais “adulta”? Seria uma ciência que já tem várias teorias bem desenvolvidas e testadas, além de uma metodologia científica bem definida, como é o caso da Física, por exemplo. Outras ciências ainda estão desenvolvendo suas teorias e sua metodologia. É o caso das ciências mais novas, como a Sociologia e a Psicologia. Entretanto, isso não significa dizer que uma ciência seja melhor que a outra. Apenas chama a atenção para o fato de que algumas áreas do conhecimento humano já são mais desenvolvidas, principalmente porque são mais antigas e estão sendo estudadas há mais tempo. A atual classificação oficial das áreas de conhecimento utilizada no Brasil foi proposta pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). EXPLICANDO MELHOR: A Capes, que é um órgão oficial do governo federal brasileiro, definiu nove grandes áreas que agrupam conhecimentos e que têm afinidades entre si. Em outras palavras, são áreas que compartilham temas, objetos de estudo e metodologias de pesquisa. Observe que cada grande área do conhecimento apresenta subáreas que tratam de assuntos de natureza semelhante. Por exemplo: em ciências da saúde, todas as subáreas têm como foco de estudo o corpo humano e a saúde tanto em nível individual quanto em nível coletivo. Em ciências biológicas, por sua vez, o foco de estudo é o meio ambiente natural e todas as suas propriedades. Graduação no Brasil De acordo com Alves (2007), no Brasil, a graduação é um curso de nível superior realizado após a conclusão do Ensino Médio. Ela busca a formação profissional do estudante em diversas áreas do conhecimento e, em alguns casos, essa formação é obrigatória para o exercício da profissão. Pensamento Científico 47 Os cursos de graduação, no Brasil, têm, em média, quatro anos de duração, embora haja diferenças de duração entre diferentes cursos. Além disso, são divididos em: (1) bacharelado, (2) licenciatura e (3) tecnologia. O bacharelado dura de quatro a seis anos e é voltado ao exercício da profissão relacionada a cada área do conhecimento. Exemplos: Arquitetura, Medicina, Direito, Engenharias, Comunicação Social. A licenciatura também dura, em média, de quatro a seis anos, e é um curso superior voltado à formação de professores para níveis inferiores à graduação. Exemplos: Letras, Educação Artística. Já os cursos de tecnologia duram, em geral, de dois a três anos, e são voltados à formação de tecnólogos, ou seja, profissionais especializados em áreas técnicas do conhecimento, especialmente, as voltadas à indústria. Exemplos: Tecnólogo em Construção Civil, Tecnólogo em Gestão. Os cursos de graduação são regulamentados e avaliados periodicamente por órgãosvinculados ao Ministério da Educação (MEC), como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ou o Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle (Simec). Em 2008, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, o Brasil tinha cerca de 06 milhões de estudantes matriculados em cursos de graduação. A maior parte deles (cerca de 60%) estava matriculada em instituições privadas. Diante do exposto, precisamos refletir sobre a pesquisa na graduação, o que chamamos de iniciação científica. Muito se tem falando sobre a pesquisa nas instituições de nível superior do nosso país. Sabemos que a quase totalidade das pesquisas são realizadas em instituições públicas. Todavia, qual seria a relação da pesquisa com o aluno de graduação? Primeiro, precisamos explicar que um dos grandes desafios das universidades é a de, além da formação, fazer com que os graduandos sejam capazes de utilizar os conhecimentos. Assim, as atividades curriculares que tenham por objetivo a resolução de problemas são importantes instrumentos para a formação dos alunos. Você já realizou uma pesquisa? Quais foram os aspectos que sentiu mais dificuldade? Com certeza, houve vários obstáculos em vários momentos da sua graduação, seja em sala de aula, seja durante a iniciação Pensamento Científico 48 científica. Saiba que, nos próximos capítulos da disciplina, você receberá mais conhecimentos para ser um pesquisador. Para que você se instrumentalize nessa área, é necessário que você seja envolvido na elaboração de projetos de pesquisa, inclusive, para estimular os alunos que possuem a vocação para seguir a carreira de pesquisadores. As formas institucionais para ingressar nessa área ainda durante a graduação são os estágios curriculares e a iniciação científica. Recomendamos que você se aproprie das pesquisas realizadas pela sua instituição. Perceba que elas têm total ligação com a sociedade em que estamos vivendo, pois objetivam transformar a realidade por meio da busca por respostas para um problema ou situação. Pós-graduação no Brasil Na visão de Lakatos e Marconi (2005), no Brasil, a pós-graduação é formada por cursos que podem ser realizados após a conclusão da graduação. Esses cursos dividem-se em dois tipos: lato sensu e stricto sensu. Os cursos lato sensu são especializações voltados à atualização profissional nas mais diversas áreas do conhecimento. A carga horária mínima de um curso de especialização é de 360 horas, em geral, distribuídas no período de um ano a um ano e meio. No Brasil, os MBAs (do inglês: Master in Business Administration) também são cursos de especialização. Já os stricto sensu são cursos voltados à formação científica e acadêmica, ou seja, formam pesquisadores e professores universitários. Dividem-se em mestrado acadêmico, mestrado profissional e doutorado. Em todos os tipos de pós-graduação stricto sensu, há uma séria preocupação com o desenvolvimento da autonomia científica, ou seja, da capacidade de o indivíduo aprender e produzir conhecimento por si mesmo. Além disso, Alves (2007) explana que os cursos de pós- graduação são regulamentados e avaliados periodicamente pela Capes. Outras agências ligadas ao governo, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ou a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), concedem bolsas Pensamento Científico 49 (auxílios financeiros) para a realização de cursos de pós-graduação no Brasil e no exterior. A principal tendência, atualmente, é a concessão de bolsas para doutorado sanduíche, quando o aluno faz apenas uma parte do curso no exterior. REFLITA: Após essa apresentação, qual seria a importância dos cursos de pós-graduação para o nosso país? Já sabemos a importância da pesquisa científica para o desenvolvimento de um país e para o avanço da sociedade. Primeiramente, é fundamental que a ciência seja plural e dialogue com os problemas da sociedade. Isso significa que é preciso aproximar o que se é discutido e pesquisado nos ambientes acadêmicos com a população em geral. Portanto, perceba que há desafios científicos e sociais a serem enfrentados e superados na atividade da pesquisa científica. Para finalizarmos este capítulo e esta unidade, esperamos que fique claro que nenhuma nação consegue evoluir sem pesquisa científica. Se, hoje, vivemos em um mundo e em uma sociedade tecnológica, isso se deve aos inúmeros pesquisadores que criam projetos de pesquisa, que encontram resultados, que os validam ou refutam e os publicam, atribuindo-lhes visibilidade. Já no que se refere à ética, ela é algo que deve permear todo o trabalho do pesquisador, desde o ato de elaboração do projeto de pesquisa. Isso significa que nada impede que seja realizada uma pesquisa na Internet, mas se deve verificar se as informações são confiáveis ou não. Não só, mas atribuir os devidos créditos aos autores e não plagiar. Por fim, acreditamos que a pesquisa científica em nosso país e os cientistas que temos precisam ser creditados por todos nós. Pensamento Científico 50 RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos tudo o que estudamos. Atualmente, o conhecimento se depara com um aspecto bastante significativo nos mercados: os recursos utilizados por ele estão espalhados por todo o globo e esses recursos atendem aos leitores de todos os cantos do mundo. Em virtude das facilidades proporcionadas pelo desenvolvimento intenso da tecnologia nas últimas décadas e da transnacionalização do conhecimento e do aprendizado, um estudante brasileiro tem condições de adquirir, por meio da Internet, conhecimento, ao realizar a sua leitura em qualquer lugar do mundo, o que contribui para que todos tenham uma excelente educação. Contudo, além do acesso a informação, é preciso que sejamos capazes de identificar as informações científicas. Pensamento Científico 51 REFERÊNCIAS ALVES, R. Filosofia da ciência. 12. ed. São Paulo: Loyola, 2007. BATISTETI, C. B.; ARAÚJO, E. S. N. de; CALUZI, J. J. O trabalho de Mendel: um caso de prematuridade científica? Filosofia e História da Biologia, v. 5, n. 1, p. 35-53, 2010. CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? São Paulo: Editora Brasiliense, 1993. CHASSOT, A. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 2004. CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. D’ONOFRIO, S. Metodologia do trabalho intelectual. São Paulo: Atlas, 1999. ECO, U. Como se faz uma tese. 16. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. KERLINGER, F. N. Metodologia da pesquisa em Ciências Sociais: um tratamento conceitual. São Paulo: EPU, 1980. KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à pesquisa. Petrópolis: Vozes, 1997. KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. LANKSHEAR, C.; KNOBEL, M. Pesquisa metodológica: do projeto à implementação. Porto Alegre: Artmed, 2008. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005. Pensamento Científico 52 LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber. Manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10. ed. São Paulo: Hucitec,2007. ROSA, C. A. de P. História da ciência: da antiguidade ao renascimento científico. 2. ed. Brasília: FUNAG, 2012. Pensamento Científico Unidade 2 Técnicas de leitura, resumo e fichamento Pensamento Científico Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ THALYTA MABEL NOBRE BARBOSA AUTORIA André de Faria Thomáz Olá. Meu nome é André de Faria Thomáz. Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas (2006), pós-graduando em Docência Superior pela Universidade Gama Filho (2009), pós-graduado em MBA Executivo em Administração de Empresas (2009-2012), mestre em Administração pela Pontifícia Universidade Católica (2011) e doutor em Administração Prática nas Funções de Contador pela mesma instituição (2018). Também sou professor universitário, conteudista e curador. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir a minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Thalyta Mabel Nobre Barbosa Olá. Meu nome é Thalyta Mabel. Sou graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestre em Serviço Social, tendo como objeto de estudo o Serviço Social na Previdência Social, pela mesma instituição. Possuo experiência como docente nas áreas de Serviço Social e Metodologia Científica na graduação e na pós-graduação de instituições públicas e privadas. Atuo como autora, designer educacional e consultora educacional na elaboração, gestão e implementação de materiais didáticos para a EaD. Fui convidada mais uma vez pela Editora Telesapiens a integrar o seu elenco de autores independentes e estou muito feliz em poder ajudar você a conhecer o mundo maravilhoso da pesquisa científica e contribuir para o seu aprendizado nesta fase. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO A leitura do texto teórico ........................................................................ 10 A importância da leitura no nível superior ................................................................... 10 Finalidades e a importância da leitura ............................................................................ 12 Aspectos para uma leitura proveitosa ............................................................................. 18 Resumo ............................................................................................................22 Conceito e tipos de resumo ...................................................................................................22 Fichamento ....................................................................................................27 Conceito e tipos de fichamento ..........................................................................................27 Resenha .......................................................................................................... 33 Conceito e a importância da resenha .............................................................................33 7 UNIDADE 04 UNIDADE 02 Pensamento Científico 8 INTRODUÇÃO A partir do momento em que você ingressa no ensino superior, obtém contato com diversas formas de conhecimento. Esse contato é possibilitado por meio das aulas, dos seminários, das pesquisas, dos eventos científicos e outros. Para que você tenha um maior proveito das informações adquiridas no universo acadêmico, é essencial que você desenvolva habilidades que facilitem o seu estudo. Grande parte das informações a qual você terá acesso será orientada pelos textos teóricos. Nesse sentido, a proposta deste capítulo é a de disponibilizar elementos que facilitem o estudo dos textos teóricos. A apreensão do conteúdo ministrado em cada disciplina que você cursar implica uma dedicação que pode ser mais bem sistematizada se você tiver mecanismos que simplifiquem as suas tarefas. O acesso ao conteúdo recebido em uma aula encontra, na leitura, uma grande aliada. Torna-se, assim, fundamental o conhecimento de técnicas que auxiliem na compreensão do material que você precisa ler. Diante desse contexto, abordaremos técnicas de leitura e análise de textos, tais como resumo, fichamento e resenha. Saiba que uma boa leitura possibilita a apropriação do conteúdo em suas várias possibilidades. Além disso, as atividades de leitura são extremamente necessárias tanto na sua vida acadêmica quanto na vida profissional, uma vez que, por meio dela, você enriquece a memória, estimula o senso crítico, amplia os seus conhecimentos e aprofunda os seus estudos, permitindo melhor entendimento do conteúdo lido. Pensamento Científico 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliá-lo no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Aplicar as técnicas de leitura no estudo de textos teóricos. 2. Elaborar resumos acadêmicos. 3. Identificar os tipos de fichamentos existentes. 4. Elaborar uma resenha. Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Pensamento Científico 10 A leitura do texto teórico INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz aplicar as técnicas de leitura no estudo de textos teóricos. Essas técnicas serão fundamentais para que a sua escrita tenha um desenvolvimento prático e coeso. Ressaltamos que algumas técnicas lhe ajudarão em vários trabalhos acadêmicos, em escritas profissionais e para a aplicabilidade do conhecimento. Motivado para desenvolver essas competências? Vamos lá. Avante! A importância da leitura no nível superior Ao darmos início a um curso de nível superior, adentramos em um universo repleto de conhecimento e novas habilidades a serem desenvolvidas. Essas exigências são apresentadas ao aluno de modo que, gradativamente, sejam internalizadas por eles. Como exemplos de exigências de novas habilidades, podemos citar: a utilização de programas de editor de texto; a navegação pela Internet, para a realização das pesquisas acadêmicas, e em base de dados; a utilização de planilhas de cálculo; e a elaboração de apresentação de slides. Além desses itens, podemos citar a leitura, a produção e a apresentação do texto acadêmico. Ao chegar à pós-graduação, muitas dificuldades já foram superadas. No entanto, a leitura e a utilização da informática são exigências e habilidades que perpassam qualquer que seja o seu estágio de formação acadêmica. Portanto, é fundamental que você, como aluno de um curso a distância e que utiliza de forma frequenteo ambiente virtual de aprendizagem, perceba que a leitura é uma atividade que deve integrar a sua rotina de estudos. Primeiramente, é importante afirmar que, se você não possui um hábito de leitura frequente, deve desenvolvê-lo. Podemos definir o ato de ler como o ato de significar o mundo. Perceba que, cada vez que atribuímos significado ao mundo que nos cerca, estamos realizando Pensamento Científico 11 uma leitura. Nesse sentido, estamos constantemente lendo, sejam fatos, acontecimentos, paisagens, livros, entre outros. Figura 1 – Leitura por intermédio da tecnologia Fonte: Pixabay Na universidade, também realizamos várias leituras, mas destacamos, neste processo, a leitura do texto teórico. Isso se deve, uma vez que é preciso que nos apropriemos da produção que a humanidade já disponibilizou para avançarmos na busca por novas possibilidades. Figura 2 – Leitura como o ato de significar o mundo Fonte: Pixabay Pensamento Científico 12 REFLITA: Qual é a importância da leitura para a sua vida acadêmica? Você já se questionou a esse respeito? A leitura viabiliza o aprimoramento do vocabulário, a interpretação da realidade e a reflexão de forma crítica. Sobre a leitura, Alves (1999, p. 64) explica que: [...] a leitura é igual à música. Para que a leitura dê prazer, é preciso que quem leia domine a técnica de ler. A leitura não dá prazer quando o leitor é igual ao pianeiro: sabem juntar as letras, dizer o que significam – mas não têm o domínio da técnica. Diante do exposto, podemos inferir que a leitura nos coloca diante do mundo do conhecimento. Para uma perfeita compreensão do texto, você deverá atuar não só como um decodificador da palavra, mas deverá dialogar com o texto, recriar sentidos implícitos e estabelecer relações. REFLITA: Como é o seu processo de seleção de material para leitura? Quais são as principais fontes que você tem contato para a obtenção de informação? Finalidades e a importância da leitura É importante que você saiba que, ao encontrar um determinado material para leitura, é fundamental realizar uma varredura de reconhecimento. Isso se dá pela verificação da capa, do autor, do sumário, das referências indicadas pelo próprio autor, da introdução e prefácio (no caso dos livros), para, depois, iniciar a leitura. Esse ato é chamado de análise textual, que é a visão panorâmica do texto, a fim de prepará-lo para a leitura. De maneira geral, a leitura é feita com as seguintes finalidades: • Informativa – é a leitura que está direcionada à aquisição de uma cultura geral. Como exemplo, temos a leitura dos clássicos da literatura, de revistas culturais, de arte etc. Pensamento Científico 13 • Formativa – relacionada com a aquisição e a ampliação de conhecimentos. Como exemplos, temos a leitura de textos científicos, técnicos, de revistas científicas etc. Figura 3 – Exemplo de texto científico Fonte: Freepik • Entretenimento – voltada à promoção da distração no leitor. Como exemplo, temos a leitura de jornais, revistas de moda, de curiosidades, em quadrinhos etc. Pensamento Científico 14 Figura 4 – Leitura de jornal Fonte: Freepik A leitura de estudo é classificada por muitos autores, tais como Cervo e Bervian (2003), como leitura formativa. A partir disso, é necessário que você, ao ter algo para ler, estabeleça a finalidade da leitura daquele texto, pois, assim, a sua leitura será bem mais proveitosa. REFLITA: Quais são as leituras que você realiza em seu cotidiano? Você consegue classificá-las de acordo com as finalidades apresentadas? No contexto acadêmico, que é a nossa realidade em questão, o texto, seja ele científico, técnico ou filosófico, destaca-se como uma ferramenta que servirá de suporte ao seu aprendizado. A leitura que se desenvolve por intermédio desses textos é chamada de leitura analítica, uma vez que procede a uma análise do texto. Pensamento Científico 15 Os processos apresentados são parte integrante de uma abordagem exploratória do tema, com o intuito de fornecer subsídios das validades de se ler o documento ou não. Dessa maneira, será possível identificar se a leitura é importante para o alcance do objetivo proposto no estudo que está sendo realizado. Uma dica que pode ser usada quando há a realização de uma pesquisa é: sempre que estiver lendo, faça anotações dos aspectos principais do documento em fichas de leitura, bem como anote a fonte em que a informação foi consultada. Armazene esses dados de forma acessível, para que você possa retornar a eles quando necessário. Isso é o que chamamos de leitura temática e leitura interpretativa. Nesse momento, você decifrará a mensagem do autor, estabelecerá as ideias centrais e secundárias, e realizará um diálogo com o autor, posicionando- se frente às ideias apresentadas. É quando você desenvolve a crítica do texto lido. EXPLICANDO MELHOR: A ideia central é identificada quando você reconhece a mensagem que o autor quer transmitir, a tese que ele defende. As ideias secundárias são os argumentos utilizados pelo autor para justificar a sua ideia central, ou seja, para defender a sua tese. Atualmente, fazemos a leitura de arquivos digitalizados por meio do nosso computador ou tablet, por exemplo. Assim, é importante que você redija comentários neles e escreva as suas observações referentes a eles. Outro aspecto que merece a sua atenção é a separação dos textos, em seu computador pessoal, por áreas e subáreas do conhecimento. Além disso, os links que remetem a eles e as datas em que você teve acesso são informações fundamentais, caso seja necessário apresentá-los nas referências de algum trabalho acadêmico elaborado por você. Pensamento Científico 16 Figura 5 – Leitura digital Fonte: Pixabay NOTA: Recomendamos a elaboração de uma planilha com as seguintes informações: título da obra, resumo, link e data do acesso. Dessa forma, você organizará a sua biblioteca digital particular. Que tal aplicar isso em seu cotidiano acadêmico? O que foi apresentado é muito importante para fins de organização e de sistematização do conhecimento. Não perca essas informações, pois, sem elas, informações importantes não poderão ser utilizadas na realização do trabalho. Além disso, foi possível compreender que a leitura de um material tem como principal missão memorizar determinado conteúdo, aprender algo e desenvolver uma visão crítica sobre algum aspecto. Para que possamos aplicar um método em nosso cotidiano, tendo em vista a sua importância nos processos do dia a dia, existem algumas regras básicas que facilitam a aprendizagem. Pensamento Científico 17 Primeiramente, atribua atenção ao que está sendo feito. Parece ser uma etapa desnecessária e que deveria ser realizada implicitamente por todos, sem a necessidade de ser parte do método. Contudo, não é assim que acontece. É necessário esclarecer que a atenção é a capacidade de estar concentrado, com foco único, direcionado a uma só atividade. Além disso, considere que, se a atenção for aplicada durante um período para determinada leitura, deve haver obrigatoriamente outro momento de repouso. Caso o assunto seja de interesse do leitor(a), tem-se uma maior facilidade de mantê-la fixa. Em segundo lugar, há a memória, que nada mais é do que o processo de retenção daquilo que foi lido e estudado. Não é sinônimo de decorar alguma coisa. A memória tem relação com a execução de um bom método de leitura, composto por uma atenção coerente, interesse e relação entre o que está sendo lido com outros conteúdos já observados. Isso se dá pela construção das bases comuns do conhecimento. ACESSE: Indicamos que você acesse a Scielo por meio do site: www. scielo.com.br. A Scielo é uma biblioteca eletrônica brasileira que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos das mais diversas áreas. Finalmente chegamos à etapa do indivíduo associar ideias demaneira a extrapolar fatos e acontecimentos. É muito evidente quando existe uma correlação entre o que está sendo apresentado e as experiências anteriores dos autores. Isso se dá naturalmente por trocas de palavras na conversa. Para um aprendizado adequado, é passível a utilização de tal técnica para associar o conteúdo. Então, para se adequar o hábito de leitura ao melhor possível, é necessário que o tempo para ler seja selecionado e reservado diariamente, com local e material adequado. Que tal iniciar com as suas leituras? Pensamento Científico 18 Aspectos para uma leitura proveitosa Vivemos, hoje, em uma era tecnológica e é fácil perceber que a informação é transmitida de maneira muito rápida. Apesar de tudo isso, é necessário que entendamos a importância da leitura como fonte principal e melhor forma para a aquisição do conhecimento. Ainda que possamos ouvir informações por outros meios de comunicação, a leitura desenvolve e aprimora capacidades cognitivas relevantes ao ser humano. Por meio da leitura, podemos nos comunicar melhor, aumentar o nosso próprio vocabulário e, ainda, expor as nossas ideias de maneira mais eficiente. Diante disso, para que a leitura se desenvolva da melhor maneira, existem técnicas que colaboram com o processo. Em primeiro lugar, é preciso realizar uma pré-leitura para o reconhecimento do que se tem nas mãos. Nesses momentos, devemos ler o começo e o final do documento de maneira genérica. Se for um livro, o início e o fim; se for um capítulo, o primeiro e o último parágrafo. Já se estivermos lendo um jornal ou revista, de maneira geral, o título e as chamadas definem bem o conteúdo. Tenha em mente que os primeiros parágrafos, normalmente, trazem as informações mais importantes para reter a atenção e fazem referência direta ao que será apresentado. Após isso, precisamos ter em mente que a leitura deve ser seletiva, de modo a descartar o que é irrelevante ou desinteressante ao foco desejado. Entretanto, para esta etapa, é necessário que esteja claro qual é o objetivo do trabalho, ou seja, é fundamental que saibamos os critérios que serão usados para abordá-los de maneira correta. O problema da pesquisa precisa estar muito bem definido, a fim de que o material seja corretamente aproveitado. Para a sequência, deve-se realizar a leitura de forma crítica. Assim, a capacidade de selecionar as ideias principais e separar tudo aquilo que é secundário ao material é considerada a principal abordagem. Ao verificar qual é o cenário da pesquisa, o aluno precisa analisar e comparar as informações, no intuito de julgar e levantar as semelhanças para construir a sua visão sobre o assunto. Nesse aspecto, é imprescindível que se tenha Pensamento Científico 19 uma visão sistêmica do todo, a fim que se possa realizar uma análise do contexto para uma síntese. Figura 6 – Grupo de jovens realizando a leitura Fonte: Freepik Passamos, então, para a fase da leitura interpretativa do que foi observado. O pesquisador procura entender e formar uma opinião sobre as informações apresentadas pelo autor. Nesse momento, é de extrema importância a integração entre os dados que foram descobertos na execução da leitura. Podemos seguir os procedimentos apresentados em conjunto com algumas práticas apresentadas a seguir: • Não ler um material sem ter definido qual é o foco ou necessidade dessa leitura. • Atentar-se na assimilação correta do conteúdo, ao lê-lo mais de uma vez, se necessário. • Ser sempre crítico em relação ao texto. Isso pode parecer genérico ou vago, mas, quando a leitura for realizada, é importante se questionar sobre a ideia principal do texto, o argumento que está sendo defendido e se vale a pena continuar com a leitura. Pensamento Científico 20 • Verificar a ordem lógica do texto e a sua devida coerência. • Realizar a leitura de reconhecimento antes do final é uma etapa importante. • Verificar a veracidade das informações a partir da fonte que ela está sendo consultada. • Finalmente, tente entender o porquê o autor escreveu aquilo. Isso também pode ser definido como a justificativa do trabalho. Essencialmente, se você tiver entendido a motivação da construção do trabalho, a leitura ficará mais fácil. Agora, já é possível entender os resultados esperados a partir de uma boa leitura. Passemos para a fase de organização da pesquisa, ou seja, a documentação. Figura 7 – Organização da pesquisa Fonte: Freepik Para que a pesquisa obtenha êxito, precisamos entender que não basta ler exaustivamente todo o material encontrado sobre determinado tema: é importante que haja compreensão e que o conteúdo seja corretamente assimilado. A fim de que você possa se organizar e obter o melhor rendimento possível dos seus estudos, existe uma prática que, Pensamento Científico 21 se adotada, vai te auxiliar positivamente. A documentação correta das suas leituras é algo efetivo e tem como intuito facilitar o processo de aquisição do conhecimento. Para tanto, existem, basicamente, dois tipos de documentação: SAIBA MAIS: A documentação geral é a organização do que foi encontrado em caixas ou até mesmo em pastas. Os documentos podem ser apostilas, jornais ou textos consultados e lidos, os quais são, geralmente, apenas organizados por temas, o que pode ocasionar uma demora quando buscada alguma fonte. Já a documentação bibliográfica tem como foco a separação do conteúdo de diversas maneiras. As principais são: por comentários das leituras, resumos ou, ainda, por citações. As separações podem ser realizadas por meio do fichamento, que torna mais fácil, caso seja necessária a realização da referência de determinada obra. Para que possamos elaborar uma referência de uma determinada fonte, seja ela um livro, revista, site ou periódico em geral, é necessário que façamos utilização das normas ABNT. Essas normas serão explicadas de maneira mais detalhada adiante. RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido as técnicas de leitura no estudo de textos teóricos. Não só, mas conheceu as suas finalidades e a sua devida importância. Por fim, compreendeu os aspectos para se ter uma leitura proveitosa. Pensamento Científico 22 Resumo INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de elaborar os resumos acadêmicos. A principal função dos resumos se dá em um processo de filtragem das principais ideias de uma obra, o que exige que você saiba como funciona cada uma dessas fases de filtração. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Conceito e tipos de resumo A leitura analítica apresentada no capítulo anterior deve garantir que o leitor apreenda aquilo que realmente é essencial. Essa apreensão pode ser bem melhor possibilitada mediante a elaboração do resumo da leitura efetuada. No entanto, o que seria resumir? Todas as vezes que falamos sobre resumo, a primeira ideia que temos é a de que se trata de textos curtos e objetivos, o que não é verdade: resumir é bem mais que isso. Esse formato é também compreendido como uma condensação do texto, mas sempre se deve ter o cuidado de fazer com que sejam permanecidas a intenção e a opinião do autor. O formato de resumo não aceita avaliação, julgamento de opinião ou comentários sobre o documento original. Resumir não é simplesmente recortar e reproduzir partes do texto original. É necessário que seja expressa, a partir de suas próprias palavras, a ideia central do texto. De acordo com a NBR 6028 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2003), um resumo é a apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto. Dessa forma, é plausível afirmar que os resumos se constituem em um processo de filtragem das principais ideias de uma obra semperder a origem e o contexto que o autor nos transmite. Nesse aspecto, o resumo comporta maior espaço para o registro de observações e comentários sobre a obra do autor, ou seja, confere mais detalhes e maior importância ao tema e suas primícias centrais. Lembre- Pensamento Científico 23 se que as observações quanto aos comentários devem manter coerência, visto que é um fator primordial para que o resumo atinja o seu objetivo central, que é o de nos fornecer informações sem perder a sua natureza, a partir das ideias contidas na obra que se está resumindo. A partir do exposto, podemos afirmar que o ato de resumir um texto exige muita atenção e fidelidade aos pensamentos do autor, principalmente quando se trata do equilíbrio de algumas informações. Dessa forma, o resumo não comporta críticas que se oponham às ideias originais apresentadas, como “gostei”, “concordo”, “não considero válido” etc. Trata-se de uma síntese dos principais elementos constitutivos da obra e de sua comunicação conosco. Podemos dar início ao resumo com o registro do tema, do problema de pesquisa do autor e a sua síntese. Caso se trate de um livro com muitos capítulos, pode-se realizar o registro por capítulos. Além disso, o resumo deve conter os principais argumentos utilizados pelo autor e algumas citações diretas ou indiretas (as últimas são as mais utilizadas nesse tipo de esquema). Você precisa, antes de fazer um resumo, compreender o material que será resumido. Você sabe o que é resumir e para que serve um resumo? Pode parecer redundante realizar esse questionamento, mas um dos erros mais comuns é o de realizar um resumo ao mesmo tempo em que se lê o texto pela primeira vez. Em outras palavras, a primeira leitura deve ser realizada de maneira direta e sem interrupções. É a partir da segunda leitura que é possível compreender as ideias e separar as partes principais para a construção do resumo. Um resumo pode seguir alguns passos importantes para que haja uma boa execução, tais como: • Expor inicialmente a ideia mais importante do texto, bem como apresentar de onde ele é e onde foi publicado. • As articulações de ideias são, necessariamente, reflexos das ideias dadas pelo autor. • As conclusões do autor original são o foco do resumo. Pensamento Científico 24 • Fazer menção ao autor sempre comentando em terceira pessoa. • Não usar frases de maneira integral. • Não fazer juízo ou realizar crítica a respeito da obra original. • O resumo deve ser facilmente compreensível, sem haver a necessidade de consulta ao texto original. No entanto, devido à falta de detalhes, o resumo deve despertar o interesse pela obra original, caso necessário. • Evitar o uso de sentenças longas ao fazer menção ao que foi escrito no trabalho original. Os resumos podem caracterizados em três tipos: • O resumo informativo é, normalmente, o tipo de documento isento de opinião, apenas representando, de forma curta e direta, o texto que foi lido. Ele apresenta as ideias principais do autor, respeita a sua posição e, se for necessária alguma citação integral, é apresentada entre aspas. • O resumo crítico é dado por um formato no qual quem o elabora redige normalmente a síntese de um documento lido. Posterior a isso, expressa a sua opinião em razão do que foi exposto, ou seja, realiza uma crítica. • O resumo acadêmico científico pode ser definido como um texto muito curto, mas que representa todas as etapas de um trabalho científico. Sua utilização vai desde monografias e artigos (geralmente 250 palavras) até teses e dissertações (geralmente 500 palavras). Em sua sequência, encontram-se as palavras-chave, responsáveis por localizar e exemplificar o que o documento trata. A norma que o define é a ABNT NBR 6028:2003, a qual estabelece os seus devidos limites. Vejamos, a seguir, o resumo da dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRN, intitulada O Serviço Social na Previdência Social: a afirmação do seu espaço na materialização dos direitos, de Rozendo (2010). Pensamento Científico 25 Quadro 1 – Exemplo de resumo RESUMO O trabalho profissional do/a assistente social na política previdenciária, vê-se envolto numa conjuntura adversa à consolidação do projeto ético-político profissional, marcada pela materialização da política de cunho neoliberal que promove essencialmente a redução dos direitos sociais historicamente conquistados pela luta da classe trabalhadora. Neste sentido, com o objetivo de analisar a afirmação do trabalho do Assistente Social na Previdência Social, suas lutas e desafios para a materialização de direitos, frente à conjuntura atual é que se processa a base teórica das discussões a serem travadas. Para tanto, realizamos como procedimentos metodológicos uma pesquisa bibliográfica e documental no detalhamento das nossas categorias analíticas, a fim de fundamentarmos o debate sobre a política previdenciária. A pesquisa realizada teve como área de abrangência a Gerências Executivas da Previdência Social de Mossoró e Natal-RN, correspondendo um total de 07 (sete) Assistentes Sociais pesquisadas, que trabalham no Setor de Serviço Social. Assim, a pesquisa, permitiu-se uma aproximação com o trabalho das Assistentes Sociais e com isso possibilitou-nos chegar a algumas conclusões: Primeiro, ao fato de que a Previdência Social não garante, em sua totalidade, as condições necessárias para o trabalho do(a) Assistente Social, tendo em vista a falta de recursos materiais e humanos para a sua efetivação, bem como da quase inexistência de sigilo profissional; segundo, que as Assistentes Sociais pesquisadas afirmam o Projeto Ético-Político do Serviço Social, no seu exercício profissional, a partir do engajamento em projetos e movimentos sociais relacionados à defesa dos direitos sociais e as classe trabalhadora; terceiro, que a afirmação deste projeto profissional, contribui para a formação de um novo fazer profissional, calcado numa análise de totalidade e de uma ação mais interventiva, crítica e propositiva, capaz de se relacionar com os interesses dos(as) usuários que procuram os seus serviços, na consolidação e socialização dos direitos sociais. Assim, os rumos do trabalho profissional do/a assistente social com respaldo no amadurecimento teórico-metodológico adquirido nos últimos anos e na competência ético-política cotidiana consolida o seu espaço na instituição previdenciária afirmando, os direitos arduamente combatidos numa conjuntura calcada na desestruturação das lutas sociais. Palavras-chaves: Política social. Previdência Social. Serviço Social. Trabalho Profissional. Direitos sociais. Fonte: Rozendo, 2010 (Adaptado). Pensamento Científico 26 Figura 8 – O ato de resumir Fonte: Pixabay Perceba que o exemplo anterior se trata de um resumo o qual apresenta introdução, objetivos, metodologia, resultados e conclusão. Ele é originário de uma pesquisa científica e é um meio de divulgar a produção acadêmica. Por fim, o resumo deve ser uma prática usual durante toda a sua formação, uma vez que, a cada nova disciplina, aumenta-se a carga de leitura solicitada. RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido a como elaborar resumos acadêmicos, bem como conheceu os seus tipos e finalidades. Além disso, percebeu a importância de se ter uma prática usual e rotineira desse gênero textual para obter êxito nos estudos acadêmicos. Pensamento Científico 27 Fichamento INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar os diversos tipos de fichamentos existentes. Isso será fundamental para o aprendizado adquirido em sua trajetória acadêmica. Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Conceitoe tipos de fichamento Apesar do homem, a cada dia, avançar no conhecimento de novas possibilidades para melhorar a sua existência, ele ainda não consegue usar toda a sua capacidade intelectiva. Nós não somos computadores, os quais armazenam um número infinito de informações. Por exemplo, no início de um curso, sempre estamos em contato com disciplinas interessantes, cujos conteúdos se diluem durante o curso. Muitas vezes, são conteúdos que fundamentam novos conhecimentos, mas não conseguimos armazená-los e eles se perdem, porque não são devidamente arquivados. O processo de fichamento é usado para que haja ordem na organização dos dados consultados, quando feita a pesquisa dos documentos relevantes ao tema. A finalidade é a de reunir as informações principais e contribuir na identificação da obra que foi estudada. Até alguns anos atrás, quando um professor nos solicitava um fichamento, o aluno, para confeccioná-lo, ia até uma livraria para comprar uma ficha de cartolina com tamanhos padronizados. Hoje, o avanço da informática permite que você faça o seu fichamento em qualquer programa de banco de dados de um computador, abrindo pastas para as diversas disciplinas. Pelo fato de estar no início de seus estudos, você pode estar subestimando a validade ou a importância do fichamento. Pode considerá-lo um retrabalho ou uma atividade desnecessária quando se está realizando uma pesquisa. Todavia, esse tipo de recurso constitui um dos mais importantes durante a execução da pesquisa. Além disso, é necessário fazer uso das normas ABNT para o fichamento, o que nos traz Pensamento Científico 28 uma padronização do conteúdo consultado, de forma a ter disponíveis as informações necessárias no momento de se escrever sobre determinado assunto. NOTA: O fichamento ou o conjunto de fichas de identificação que você elaborar pode ser armazenado no computador, a fim de facilitar o acesso às informações. No entanto, aos conservadores, é possível que essas fichas sejam feitas de forma manual. A vantagem disso é a garantia de uma maior dificuldade na perca dos dados devido a um problema de sistema. Outra forma de não perder o conteúdo é armazená- lo no computador, mas deixar o backup direcionado para a “nuvem”, que nada mais é do que deixar o arquivo salvo em algum servidor on-line. A composição padrão de um fichamento é: a. Primeiramente, o cabeçalho, que pode ser dividido em título geral e título específico do trabalho. b. Em seguida, temos a referência, a qual contém o autor, o título, o local em que foi publicado, a editora e o ano de publicação. c. Posteriormente, tem-se o corpo ou texto do fichamento/ficha, que também pode ser traduzido como o conteúdo do que está sendo arquivado. Ele pode ser constituído por um resumo geral ou até mesmo uma citação. Não só, mas também pode mudar de maneira específica, dependendo do tipo de fichamento que estiver sendo realizado. Pensamento Científico 29 Figura 9 – Modelo de ficha catalográfica Título Geral Título Específico Nº da ficha → Cabeçalho Referência Bibliográfica de acordo com a ABNT → → Corpo ou texto da ficha (biblioteca X) → Local onde a obra se encontra Fonte: Elaborado pelos autores. Para exemplificar e dividi-los em casos diferentes, traremos uma ficha de citação e uma ficha de resumo. Ao estabelecer as diferenças entre elas: A ficha de citação é constituída mediante o uso de partes das obras ou de capítulos do que foi estudado. A transcrição faz menção aos textos que foram consultados e estudados, de forma a obter-se citações diretas, as quais, quando escritas, devem seguir as normas propostas pela ABNT. As transcrições são classificadas em: • Citações diretas, com todo o texto redigido da maneira como foi escrito pelo autor. • Citações com omissão de parte do texto que não tem relevância no momento da citação, indicado por intermédio de três pontos e dois colchetes “[...]”. Dessa forma, quando se transcreve o texto na ficha em questão, é necessário observar todas as normas cabíveis para citações. Nesse caso, devem-se seguir as seguintes premissas: Pensamento Científico 30 bloco, letra 10 e espaço simples para citações com mais de três linhas; texto direto e entre aspas duplas (“ ”) se a citação for de até três linhas, não se esquecendo de citar a página ao final da citação. Figura 10 – Exemplo de ficha de citação Fundamentos de Metodologia 01 FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. São Paulo: Atlas, 1993. “O tamanho-padrão das fichas é 7,5 cm por 12,5 cm; ou 12,5 cm por 20,0 cm. O pesquisador poderá optar por outro tamanho que atenda a seus propósitos (p. 108)”. (biblioteca particular) Fonte: Elaborado pelos autores. É importante lembrar que, no momento de realização do fichamento, não é necessário o apresentar o autor e nem o ano, pois esses dados já foram inseridos no cabeçalho da própria ficha. Além disso, no momento em que você estiver estudando as normas da ABNT, atente-se em compreender o que deve ser levado em consideração para a construção do fichamento. Pensamento Científico 31 Já a ficha de resumo é uma síntese das ideias que são exploradas de maneira central na obra consultada. Em outras palavras, o foco dessa ficha é atribuído a um grupo de informações que possa sintetizar uma obra que foi lida, no intuito de facilitar a busca por certa informação na fonte. Esse recurso é um dos mais comuns quando se realiza uma pesquisa bibliográfica. Figura 11 – Ficha de resumo Fundamentos de Metodologia 01 FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. São Paulo: Atlas, 1993. A autora inicia sua obra situando a importância do conhecimento na vida do homem e os principais tipos de conhecimento. Destacando a ciência, situa o método como característica desse conhecimento. A seguir, discute a pesquisa como recurso necessário ao desenvolvimento da ciência. Nesse sentido, traça as etapas de um projeto de pesquisa e define a estrutura básica de um trabalho científico. (biblioteca particular) Fonte: Elaborado pelos autores. É possível, também, optar por uma ficha mista, aonde você pode facilmente resumir as ideias do autor e também incluir algumas citações longas e curtas. É você que escolhe qual é o tipo de ficha mais interessante. Pensamento Científico 32 Veja que apesar de estarmos em um mundo cada vez mais tecnológico no qual praticamente se extinguiu a escrita à mão você pode realizar o Fichamento de uma outra forma. Isso quer dizer que, ao invés de ter as fichas impressas pode realizar essa atividade diretamente em seu computador e armazenar todas as fichas lá. RESUMINDO: Gostou do que lhe apresentamos? Compreendeu tudo? Agora, só para termos a certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, resumiremos o que estudamos. Você deve ter aprendido os diversos tipos de fichamento e as suas características. Também conheceu a importância de se utilizar essa técnica de estudo em sua vida acadêmica e as possibilidades que ela oferece. Pensamento Científico 33 Resenha INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de elaborar uma resenha e compreender quais são as suas vantagens quando bem elaborada, inclusive, para a troca de conhecimento e divulgação científica. Motivado para desenvolver essas competências? Vamos lá. Avante! Conceito e a importância da resenha A resenha é o mais completo tipo de resumo, pois requer de quem a redige um conhecimento sobre a temática/objeto de sua análise. Além da crítica ao texto lido, deve conter comparações com obras da mesma área e avaliação da relevância da obra em relação às outras do mesmo gênero. É um recurso bastante utilizado quando se é lançado um livro de determinada área no comércio, pois possibilita a sua divulgação. Na verdade, a resenha não é nada além de um resumo crítico, em que as ideias centrais devem ser escritas de forma mais clara e objetiva.