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O surgimento da proteção internacional ao meio ambiente no âmbito das Nações Unidas O arcabouço da proteção e da governança ambiental tem os seus aspectos mais importantes nas instâncias internacionais, pois as questões ambientais não estão limitadas às definições de fronteiras entre países, ou seja, os desafios são transfronteiriços ou transnacionais e discuti-los e enfrentá-los exige a cooperação comum entre os Estados. As deliberações são estabelecidas nos arranjos das organizações supranacionais. A temática ambiental entrou na agenda global na década de 1960, a partir das preocupações com os efeitos da explosão demográfica mundial e do aumento da poluição. Em um período de forte expansão do comércio e das atividades econômicas, houve a constatação dos limites desse crescimento, que se tornou um assunto de debates entre pesquisadores e atores das instâncias internacionais. O sistema internacional contemporâneo é relativamente recente, com origem no final da Segunda Guerra Mundial, com a Conferência de São Francisco, de 1945, que aprovou a Carta de São Francisco, de criação da Organização das Nações Unidas (ONU). O propósito primordial da ONU é o de garantir a paz mundial, mas também o de “conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário [...]” e de “ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns” (BRASIL, 1945, [s. p.]). Nota-se, pois, que a ONU se tornou, assim, o centro das discussões globais, atuando por meio de seus conselhos – Segurança; Econômico e Social; outros –, de suas comissões – Direitos Humanos (que desde 2006 se transformou em Conselho) e outras – e de suas agências especializadas – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco); Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO); Fundo Monetário Internacional (FMI). Além da ONU, organizações foram criadas em âmbito regional, como a Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1948, pelos países das Américas. Na Europa, foram criados o Conselho da Europa, em 1949, e a Comissão Europeia, em 1951. Esses compõem, hoje, o arcabouço da União Europeia, a qual, por sua vez, foi criada em 1993. No que se refere ao direito internacional, em que os principais sujeitos são os Estados, é preciso destacar o papel da ONU, que se tornou o lócus de formação de um arcabouço de normas e instituições em várias áreas, como direitos humanos, educação, cultura e meio ambiente. Com essa perspectiva, a discussão entre Estados é fundamental para a formação de normas ambientais internacionais, com o objetivo comum de proteção ao meio ambiente em todas as suas dimensões. Vários problemas ambientais são de caráter transnacional e exigem ações multilaterais e cooperativas (BURSZTYN; BURSZTYN, 2012). A formalização da proteção ambiental no âmbito internacional se dá essencialmente por meio de dois tipos de atos: tratados e declarações. Os tratados são firmados entre Estados e podem ser bilaterais (dois Estados) ou multilaterais (vários Estados). Um tratado possui força jurídica vinculante, assim, é chamado de hard law. Os tratados podem ser globais, quando estabelecidos em organizações de abrangência mundial (por exemplo, ONU), ou regionais, quando firmados por países de uma determinada região do mundo ou em uma organização delimitada geograficamente (por exemplo, OEA). Os tratados de direito ambiental frequentemente recebem a denominação de convenção, porque costumam ser oriundos de conferências específicas para debater temáticas ambientais. Já as declarações, no direito ambiental, não têm força jurídica vinculante, são chamadas de soft law, ou seja, não são normas impositivas, mas formam os princípios do direito internacional. Esses são gradativamente reconhecidos nas instâncias internacionais e nacionais. Portanto, ao estudar o direito ambiental, esses dois tipos de atos são os mais frequentes. Os tratados em matéria ambiental costumam ter algumas características, como: (i) os países signatários se submetem às regras comuns; (ii) os países adotam uma cooperação interestatal, por meio de agências internacionais ou órgãos específicos que são criados; (iii) o conteúdo dos tratados depende do estágio atual do conhecimento científico; (iv) os tratados podem comportar obrigações diferenciadas entre países (BURSZTYN; BURSZTYN, 2012). Os tratados ambientais são compromissos para enfrentar questões, como poluição, diversidade biológica, mudança do clima, florestas, entre outros, que são reveladores de como as dinâmicas ambientais não respeitam fronteiras de Estados. Exige-se deles a cooperação e a articulação comum para o enfrentamento dos desafios ambientais. Por evidente, esse é um processo complexo, com dificuldades, porque a estrutura do direito internacional foi construída em observância a um dos pressupostos do Estado moderno, a soberania. E isso significa a autodeterminação sobre os seus territórios para dispor livremente de suas riquezas e de seus recursos naturais. Além disso, a autodeterminação está diretamente ligada ao desenvolvimento, que é um argumento presente entre os países, em especial, os emergentes, marcados pela desigualdade em múltiplas dimensões – econômica, social, ambiental. A cooperação para lidar com os problemas ambientais deve equacionar esses desafios. Isso demonstra a complexidade dos debates nas instâncias internacionais. A partir da década de 1970, há o franco desenvolvimento do direito internacional do meio ambiente, que ocorreu com as conferências no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), como veremos a seguir. Avalie este conteúdo Escolha de 1 a 5 estrelas
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