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ELETRÔNICA DE POTÊNCIA I Fabricio Ströher da Silva Retificador trifásico a tiristor Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer circuitos trifásicos a tiristor. Comparar retificadores trifásicos em ponte mista e em ponte de Graetz. Analisar as topologias com cargas R, RL e RLE. Introdução Retificadores trifásicos são utilizados na indústria, de forma geral, para produzir tensões em corrente contínua de valores elevados (HART, 2012). Um retificador trifásico que utiliza como componente de conversão CA para CC os diodos é chamado de retificador não controlado. Por utilizar elementos passivos, no caso o diodo, a tensão da saída do retificador será proporcional à tensão de entrada, não podendo ser alterada ou controlada sem que se insira no circuito estabilizadores de tensão. Outra forma de controle sobre a tensão na carga é substituindo os diodos por SCRs, de modo que, assim, tem-se um controle da tensão média na carga e, por consequência da sua potência, recebe o nome de retificador controlado. Neste capítulo, você conhecerá os retificadores trifásicos controlados e verá como comparar os retificadores trifásicos a tiristor em suas topologias com ponto médio, mista e ponte de Graetz. Além disso, aprenderá a analisar um retificador com cargas R, RL e RLE em sua topologia. Circuitos trifásicos a tiristor A estrutura básica de um retifi cador trifásico faz referência ao fato de que este circuito deverá ter no mínimo três elementos retifi cadores, um para cada fase. Esse circuito se comporta como um retifi cador monofásico de meia onda, mas atuando em três tensões simultaneamente, conforme apresentado na Figura 1. Figura 1. Retificador trifásico de ponto médio a tiristor. Fonte: Barbi (2005, p. 101). Este tipo de estrutura é denominado retificador trifásico de três pulsos em função de o sinal da tensão retificada ter três picos durante o tempo de um ciclo das três fontes; por consequência, a frequência de ondulação do sinal de saída será três vezes maior que a frequência do sinal da fonte. Alguns autores apresentam essa mesma estrutura apresentada na Figura 1 como sendo um retificador trifásico de ponto médio a tiristor, pois a carga está, em um lado, conectado aos elementos tiristores e, em outro, conectado ao ponto neutro da fonte trifásica. Com isso, a referência de tensão é o ponto médio entre o sinal de pico positivo e o sinal de pico negativo da senoide. Como cada tiristor controla uma das senoides da tensão de entrada, esse circuito não aproveita o ciclo completo das ondas, resumindo-se a um retifi- cador de meia onda trifásico. Para que se seja possível a retificação da senoide como um todo, aprovei- tando os dois sentidos da corrente, é possível a utilização de circuitos retifi- cadores trifásicos de onda completa, também conhecidos como retificadores de seis pulsos ou ponte de Graetz. Esse circuito é apresentado na Figura 2. Retificador trifásico a tiristor2 Figura 2. Ponte de Graetz. Fonte: Barbi (2005, p. 105). O circuito apresentado na Figura 2, além de realizar a retificação da corrente positiva e da negativa, também faz o controle de todos os pulsos na saída do retificador. Por vezes, não se quer a operação em dois quadrantes e, para isso, Barbi (2005) apresenta a ponte mista. Esse circuito elimina os tiristores T4, T5 e T6 e os substitui por diodos, conforme mostra a Figura 3. Figura 3. Ponte de Graetz mista. Fonte: Barbi (2005, p. 109). Além da estrutura de retificação utilizando diodos e tiristores, quando a carga apresenta características indutivas, também há um diodo em paralelo com a carga que tem a finalidade de auxiliar na eliminação da energia acu- mulada no indutor para que não haja corrente circulante após o bloqueio dos 3Retificador trifásico a tiristor diodos ou tiristores. Esse circuito é apresentado na Figura 4, acoplado a um retificador de ponte mista, o que não significa que somente nessa topologia se utiliza tal técnica. Esse artifício pode ser utilizado em qualquer topologia que controla uma carga com características indutivas. Figura 4. Ponte de Graetz mista com diodo de roda livre. Fonte: Barbi (2005, p. 110). Ainda há outros retificadores trifásicos que podem chegar a 24 pulsos, segundo Barbi (2005), mas vamos nos limitar, aqui, aos retificadores trifásicos controlados de 12 pulsos. Essa limitação se deve ao fato de que, com ou sem controle da tensão que vai para a carga, altera-se de forma muito tímida, o que inviabiliza o controle pelo aumento do custo do retificador e também da complexidade de se realizar o controle. Na Figura 5, é apresentada a estrutura de um retificador de 12 pulsos, que se trata de dois retificadores de seis pulsos, mas com conexões intermediárias as fontes fazem com que um retificador trabalhe com defasagem em relação ao outro. Retificador trifásico a tiristor4 Figura 5. Retificador trifásico de 12 pulsos controlado. Fonte: Adaptada de Hart (2012). Comparação entre retificadores trifásicos a tiristor Uma primeira comparação que pode ser feita em relação aos retifi cadores trifásicos a tiristor é no que se refere à sua estrutura, em que o número de pulsos na saída está diretamente relacionado à quantidade de tiristores no circuito; como consequência, quanto mais pulsos um retifi cador trifásico tiver, menor será sua tensão de ripple, considerando o disparo do tiristor com α = 0. Na Figura 6, são apresentadas as três senoides de um sistema trifásico e, na sequência, o sinal de tensão na carga de um retifi cador de três pulsos e um de seis pulsos respectivamente. 5Retificador trifásico a tiristor Figura 6. Relação da tensão na fonte com um retificador de três e seis pulsos. Fonte: Fouad A. Saad/Shutterstock.com. Verificando a tensão da saída de um retificador de três pulsos ou meia onda (half-wave), notamos que a máxima tensão na saída do retificador é exatamente a mesma se comparada às senoides de entrada. Isso se deve ao fato de que a tensão na saída é em função da tensão de fase da entrada. Já na tensão na saída, apresentada na figura de um retificador de seis pulsos ou onda completa ( full-wave retification), percebemos que a tensão na carga é superior à tensão individual de cada senoide, porque a tensão na saída tem a tensão de linha como referência. Além dessa diferença de tensão, a ondulação da tensão é bastante reduzida quando elevamos o número de pulsos de um retificador trifásico. Outra questão em relação aos retificadores trifásicos a tiristor é referente ao ângulo α, pois, conforme aumenta o número de pulsos de um retificador, esse ângulo vai ficando mais limitado. Em retificadores monofásicos controlados por tiristor, o ângulo α poderia ser qualquer valor compreendido entre 0 e π rad; já em retificadores trifásicos, essa gama de valores se limita aos ângulos compreendidos no espaço de tempo Retificador trifásico a tiristor6 em que a tensão de fase de determinado tiristor seja positiva. Na Figura 7, são apresentadas as senoides das três fases da fonte defasadas em 120° entre si; neste caso. o disparo do tiristor só pode ocorrer do ângulo π/6 rad até o ângulo 5π/6, que é o momento em que a tensão Va representa a maior tensão de fase. Figura 7. Retificador três pulsos. Fonte: Adaptado de Retificador... (2018). Comparação entre ponte mista e ponte de Graetz A principal diferença que temos entre as topologias foi referenciada anterior- mente: uma ponte mista utiliza como elemento retifi cador diodos e tiristores, enquanto pontes de Graetz utilizam somente tiristores. A eliminação de três tiristores do circuito faz com que os circuitos de comando sejam mais simples, reduzindo a complexidade do projeto e seu custo final. Na Figura 8a, são apresentadas as formas de onda da tensão na carga resis- tiva de um retificador de ponte mista em que é perceptível que os semiciclos da tensão que polarizam diretamente os tiristores fazem com quea tensão na saída do retificador respeite o atraso de disparo do SCR. Já quando o sinal de tensão polariza diretamente os diodos, também é perceptível que esse sinal de tensão não tenha atrasos, iniciando a senoide justamente no instante em que o respectivo diodo fica diretamente polarizado. 7Retificador trifásico a tiristor Figura 8. Sinal da tensão na carga de um retificador trifásico em ponte mista (a) e a tensão na carga de um retificador trifásico em ponte de Graetz (b). Fonte: Powersimtech (2019, documento on-line). Já na Figura 8b percebe-se que todos os pulsos têm um determinado atraso, porque, nesse tipo de circuito, o controle é total, ou seja, tanto o semiciclo positivo quanto o negativo são controlados. Por consequência, a tensão média na carga em cada um dos circuitos apresentados será diferenciada. A tensão média na carga poderá ser determinada, segundo Barbi (2005), pela seguinte expressão: (1) onde Vo é a tensão média na carga e Vef é a tensão efi caz de fase da fonte. Já a tensão média na carga em um circuito ponte de Graetz pode ser de- terminada pelas expressões (BARBI, 2005): (2) (3) Retificador trifásico a tiristor8 Caso o ângulo de condução esteja a um valor acima de 2π/3 ou 120°, a tensão média na carga será 0, pois, no disparo, o tiristor estará reversamente polarizado. Determine a tensão média na saída para um circuito em ponte mista e ponte de Graetz que tenha uma tensão de eficaz de fase de 220 Volts com um ângulo de disparo do tiristor de 40°. Em ponte mista, a tensão será de: Já para um retificador de onda completa, a tensão média será de: As diferenças apresentadas entre a ponte mista e a ponte de Graetz con- sideram somente, até aqui, circuitos com cargas puramente resistivas, que não são as únicas cargas conectadas nesse tipo de circuito — a carga pode ser resistiva (R), resistiva indutiva (RL) e resistiva, indutiva com fonte de tensão CC (RLE). Análise das topologias com cargas R, RL e RLE Retifi cadores com cargas puramente reativas mantêm tensão e corrente sempre em fase. Quando na carga são apresentados elementos reativos com carga RL, dependendo da aplicação do retifi cador, é incluído em paralelo o diodo de roda livre; com isso, esse retifi cador terá características analíticas de sinal similar a um retifi cador com carga resistiva. 9Retificador trifásico a tiristor A carga alimentada pelo retificador pode ser do tipo RLE, que, além da resistência e da indutância, tem uma componente de tensão CC. Um exemplo em que ocorre esse tipo de carga é na alimentação de motores CC, nos quais a armadura gera uma tensão contra eletromotriz. Análise de retificadores com ponto médio O retifi cador com ponto médio terá a tensão na carga conforme apresentado na Figura 9, em que a tensão na saída é limitada à tensão de fase da entrada. Outro detalhe ao qual devemos prestar atenção na fi gura é que, se o ângulo de disparo for menor que 30°, o respectivo tiristor estará reversamente polarizado e, por consequência, não será acionado; por isso, o menor ângulo de disparo do tiristor será sempre de 30°. Figura 9. Sinal de tensão na carga R de um retificador trifásico de ponto médio. Fonte: Brumatti (2005, p. 5). A tensão média para essa carga pode ser determinada, segundo Barbi (2005), por: (4) Essa expressão é utilizada para a determinação da tensão média quando a condução for contínua, ou seja, sempre haverá corrente na carga, e isso ocorre quando o ângulo α não for superior a 30°. Retificador trifásico a tiristor10 Caso o tiristor trabalhe com um ângulo de disparo superior a 30°, mas inferior a 150°, a condução será descontínua e a tensão média na carga pode ser determinada, segundo Barbi (2005), por: (5) Quando se deseja determinar um ângulo em função da tensão média na carga, surge a dúvida de quais das expressões utilizar. Como a escolha da expressão é em função do ângulo de disparo, pode-se ter uma noção deste ângulo de forma gráfica, conforme mostra a Figura 10, e, então, determinar de forma mais assertiva qual das expressões utilizar para a determinação do ângulo de atraso do disparo em função da tensão média na carga. Figura 10. Ângulo α em função da razão entre a tensão média na carga e a tensão eficaz da fonte. Fonte: Barbi (2005, p. 103). Quando a carga for indutiva, a tensão na carga terá a forma apresentada na Figura 11. É perceptível uma alteração na polaridade da tensão na carga que se dá em função da inversão da polaridade do indutor quando deste é retirada a alimentação. 11Retificador trifásico a tiristor Figura 11. Sinal de tensão na carga RL de um retificador trifásico de ponto médio. Fonte: Brumatti (2005, p. 5). A tensão média na carga, conforme Ahmed (2000), pode ser determinada conforme a seguinte expressão: (6) onde Vfm é a tensão máxima de linha. Quando analisamos um retificador trifásico com carga RLE, pela lei de Kirchhoff das tensões, podemos determinar que: Sendo Vf a tensão na fonte, VO a tensão na carga e VE a tensão CC da carga, podemos determinar seus valores. Como vimos até então, o tiristor ou o diodo entra em condução quando a tensão de fase da senoide a ser controlada for superior às demais. Já quando temos uma carga RLE, além dessa condição, a tensão no anodo do elemento retificador deverá ser superior à tensão da carga, pois, caso contrário, esse elemento estará reversamente polarizado. Na Figura 12, é apresentado o circuito do retificador trifásico a tiristor com carga RLE. Cargas RLE podem ser alimentadas com retificadores trifásicos ou monofásicos. Retificador trifásico a tiristor12 Figura 12. Retificador trifásico a tiristor com ponto médio e carga RLE. Fonte: Powersimtech (2019, documento on-line). Análise de retificadores trifásicos a tiristor em ponte de Graetz A ponte de Graetz, por ter a tensão na carga proporcional à tensão de linha da fonte, terá uma maior tensão média na carga, além de uma menor variação de sua tensão. Essa tensão média na carga pode ser determinada por, quando o ângulo de disparo do SCR não ultrapassar os 60°, conforme lecionado por Barbi (2005): (7) Comparando a Equação 7 com a 5, é possível reafirmar que a tensão média na carga será maior em um circuito de seis pulsos em comparação a um circuito de três pulsos. Quando esse ângulo de disparo for superior a 60° e inferior a 120°, o retificador trabalhará de forma descontínua e a determinação de sua tensão média na carga se dará por, segundo Barbi (2005): (8) 13Retificador trifásico a tiristor As Equações 7 e 8 são aplicadas a retificadores trifásicos em ponte de Graetz quando eles alimentam cargas puramente resistivas. A relação do ângulo de disparo do tiristor e da razão entre a tensão média na carga e a tensão eficaz na fonte é apresentada na Figura 13. Figura 13. Ângulo α em função da razão entre a tensão média na carga e a tensão eficaz da fonte. Fonte: Barbi (2005, p. 106). Quando eles alimentam cargas indutivas, seu comportamento e, por con- sequência, sua função variam. A tensão na carga pode ser determinada de forma geral pela Equação 7, mas o módulo da tensão dependerá do seu ângulo de disparo. Se o ângulo de disparo for maior ou igual a zero e menor que 90°, o retificador se comporta como um retificador. Se esse ângulo se elevar a um valor superior a 90° e menor ou igual a 180°, seu comportamento será o de um inversor não autônomo. Retificador trifásico a tiristor14 AHMED, A. Eletrônica de potência. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2000. BARBI, I. Eletrônica de potência. 5. ed. Florianópolis: Autor, 2005. BRUMATTI, M. Eletrônica de potência. Serra: CEFETES, 2005. HART, D. W. Eletrônica de potência: análise e projetos de circuitos. Porto Alegre: AMGH, 2012. POWERSIMTECH. Software PSIM. United States: [S. n.], 2019. Disponível em: https:// powersimtech.com/products/psim/. Acesso em: 2 ago. 2019. RETIFICADOR Trifásico de Três Pulsos com Carga R. [S. l.: s. n.], 2018. 1 vídeo (7 min).Publicado pelo canal Fundamentos de Eletrônica de Potência. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=JKEZJQlGy-o. Acesso em: 2 ago. 2019. 15Retificador trifásico a tiristor