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157
Capítulo 10
Brasil, 1980: 
a “década perdida”
Ao se analisar a economia brasileira ao longo do século XX, se tor-
nam gritantes as diferenças entre os níveis de crescimento econômi-
co observados nos períodos que antecedem a década de 1980 e os 
parâmetros de expansão econômica que ocorreram após esta referida 
década. Entre 1930 e 1990, o Estado brasileiro praticou uma política de 
defesa da indústria localizada em território nacional e, paralelamente, os 
mais variados governos estimularam a criação e/ou expansão de uma 
ampla indústria de base, como a petrolífera, a de mineração, a de aço, a 
química, a de energia elétrica, a de telecomunicações, entre tantas ou-
tras (aeronáutica, de armas, etc.), que acabou por expandir o mercado 
industrial brasileiro. Além dos citados apoios à indústria, se impulsionou 
também a produção de soja (por meio da Embrapa), do açúcar e do ál-
cool (por meio do Proálcool), o que estimulou diversos ramos da agroin-
dústria brasileira e potencializou a produção de máquinas, caminhões e 
implementos agrícolas, entre outros setores industriais (e de serviços) 
a estes conexos.
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aterial para uso exclusivo de aluno m
atriculado em
 curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com
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.Observa-se que o produto interno bruto (PIB) industrial teve um de-
sempenho excepcional entre 1933 e 1980 – em média, atingiu 8,7% ao 
ano –, porém, caiu para parco 0,7% ao ano entre 1981 e 1999. Já o PIB 
agropecuário, que havia crescido em média 3,8% ao ano, recuou para 
2,8% ao ano entre 1981 e 1999. Ambos caíram; no entanto, o PIB indus-
trial caiu proporcionalmente muitíssimo mais. Por consequência, o PIB 
total brasileiro “despencou” para níveis bem inferiores ao que havia sido 
atingido pela economia brasileira anteriormente (SUZIGAN, 2000).
A década de 1980 marca, desse modo, esse período de transição 
entre uma longa fase de alto crescimento para uma etapa de tímido de-
sempenho da expansão da economia nacional. A variação média do PIB 
total brasileiro, que havia atingido 6,7% ao ano entre 1933 e 1980, caiu 
para modestíssimos 3% ao ano entre 1980 (inclusive) e 1989. Excluindo-
se o (ainda exuberante) ano de 1980, a média ao longo dessa déca-
da se mostrou ainda mais comedida: apenas 2,3%; motivo pelo qual, 
comparativamente, passou a ser denominada como a “década perdida” 
(SUZIGAN, 2000).
Para se entender a economia da década de 1980, serão abordados 
dois aspectos: no primeiro, se contextualizará de modo abrangente as 
principais condicionantes externas e internas; e, no segundo, se apre-
sentará para análise o fenômeno da “estagflação” e seus subprodutos, 
como a queda no nível de emprego, inflação e aumento das taxas de 
juros.
1 Década de 1980: encerramento de um ciclo
Tanto pelo aspecto político quanto econômico, a década de 1980 
pode ser entendida como um período de transição, desencadeada por 
acontecimentos marcantes ocorridos em 1979. No âmbito externo, o 
mundo enfrentou a segunda crise do petróleo, marcada pela Revolução 
Fundamentalista do Irã (fevereiro de 1979) e a posterior Guerra Irã-Iraque 
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 Editora Senac São Paulo. Brasil, 1980: a “década perdida”
(setembro de 1980). Em razão da crise, o barril do petróleo que, em 
1978 estava em torno de US$ 51,6, subiu para US$ 104,5 em 1979; vol-
tando ao mesmo nível de preço (de 1978) somente depois de 1985 (BP 
GLOBAL, 2017).
Outro fator desestabilizador da economia global foi o aumento da 
taxa de juros nos Estados Unidos. Coincidência ou não, enquanto durou 
a fase de alta do petróleo, perdurou-se a política de valorização da mo-
eda norte-americana; entre 1979 e 1985, o dólar chegou a valer 80% a 
mais do que valera em 1980 (TAVARES; MELIN, 1997). Se do lado norte-
-americano a moeda valorizada facilitava a importação de petróleo ou a 
atração de capitais, do lado brasileiro a combinação desses dois fatores 
(aumento dos preços do petróleo e valorização do dólar) se tornava fa-
tal; pois, além de importador de petróleo, o Brasil era devedor em moeda 
estrangeira; em um momento que os investidores preferiam se proteger 
buscando fazer negócios nos mercados (financeiros) estadunidenses.
Acrescente-se a este panorama desolador, para a economia brasi-
leira, o fator político: a eleição do, assim anunciado desde sua candida-
tura, último presidente do regime civil-militar, João Baptista de Oliveira 
Figueiredo (15 de março de 1979 a 15 de março de 1985). Para os mili-
tares no poder, o crescimento econômico e a estabilidade eram fatores 
que contribuíam decisivamente para a legitimidade do regime. As metas 
econômicas de governo tinham como parâmetros de sucesso o cres-
cimento econômico obtido durante o milagre econômico (1968-1973), 
período que o país cresceu, em média, um pouco acima de 11% ao ano.
Diante da incapacidade de debelar a crise por meio do investimen-
to estatal (conforme vinha ocorrendo há décadas no Brasil), o gover-
no Figueiredo se viu cercado por uma conjuntura de queda do PIB, de-
semprego e inflação. Diante da inflação, os trabalhadores passaram a 
buscar reajustes salariais mesmo que, para isso, tivessem que recorrer 
às greves. Como as greves estavam proibidas pela Lei de Segurança 
Nacional, essa que era uma simples luta salarial se convertia em 
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.contestação direta ao regime. Desse modo, ao lutarem contra o “arrocho 
salarial”, os trabalhadores inseriam em suas pautas sindicais a luta con-
tra a “ditadura” – o que atraía os demais grupos sociais, descontentes 
com o regime, em torno dos trabalhadores. Assim, ao movimento dos 
trabalhadores liderados pelo Novo Sindicalismo, somaram-se diversas 
outras manifestações de instituições, empresariais, sindicais, de advo-
gados (OAB), religiosas, defensoras da Anistia (ampla, geral e irrestrita), 
além de tantos outros “novos” movimentos sociais que foram surgindo 
espontaneamente – muitos dos quais sem vínculos partidários ou ideo-
lógicos–, o que foi ampliando de modo exponencial o movimento de 
contestação ao regime.
Resumidamente, segundo Carneiro (1990, p. 309),
entre agosto de 1979 e outubro de 1980, o país experimentou sua 
última tentativa de ignorar a crise externa, agravada com o novo 
choque do petróleo e a elevação vertiginosa do custo do endivida-
mento externo.
A substituição do ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen por 
Antônio Delfim Netto (15 de agosto de 1979 a 15 de março de 1985) re-
presentava a busca de “agora sim, um milagre econômico” (CARNEIRO, 
1990, p. 309); cujo objetivo era enfrentar um novo choque do petróleo 
simultaneamente à elevação vertiginosa do custo de endividamento ex-
terno e à inflação crescente.
Não foi por acaso que o governo brasileiro, após enfrentar déficits 
nas transações correntes em 1980, 1981, 1982 e, posteriormente em 
1983, buscou ajuda ao FMI, em novembro de 1982.
NA PRÁTICA 
As transações correntesincluem as contas de comércio (balança co-
mercial, balança de serviços e as transferências unilaterais) e o movi-
mento de capitais, que constitui uma conta também chamada de conta 
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 Editora Senac São Paulo. Brasil, 1980: a “década perdida”
de capital. A balança comercial registra os valores das exportações e 
o valor das importações. A balança de serviços registra as receitas e 
as despesas de diversos tipos de transação, destacando-se os trans-
portes, os seguros, as viagens internacionais, os royalties, a assistência 
técnica, os lucros e os juros (estes últimos de grande peso no balanço 
de pagamentos de países com grande dívida externa, como é o caso do 
Brasil). As transferências unilaterais registram as entradas ou as saídas 
de divisas decorrentes, por exemplo, do envio de recursos ao exterior 
para a manutenção de embaixadas e serviços consulares, de imigran-
tes que mandam parte de seus salários para familiares em seus países 
de origem, etc. O resultado conjunto dessas contas é consolidado nas 
transações correntes. Se houver superávit, diz-se que o país tem supe-
rávit em conta corrente, ou, no caso oposto, déficit em conta corrente. 
 (SANDRONI, 1999; SECURATO, 2011).
 
No âmbito interno, o país vinha enfrentando, desde a primeira crise 
do petróleo, três fatores econômicos que se agravaram substancial-
mente a partir de 1979: inflação inercial, endividamento do Estado e re-
dução do crescimento do PIB.
1.1 A inflação inercial
Durante a década de 1980, discutiu-se no Brasil o fenômeno deno-
minado “estagflação”, que era o resultado da combinação da ocorrên-
cia de altas taxas de inflação com estagnação econômica. De acordo 
com diversos economistas, havia algo de particular na inflação brasilei-
ra, que se expandia mesmo em momentos de recessão (1981 e 1983, 
por exemplo). Segundo Modiano (1990), a inflação no Brasil parecia ter 
propriedade específica e dinâmica própria, pois resistia a pressões de-
flacionárias da recessão e do desemprego.
Desde o final da década de 1970, a inflação havia apresentado dois 
fortes movimentos de mudança de “patamar”: o primeiro relacionado a 
crise do petróleo de 1979, e o segundo relacionado à maxidesvalorização 
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.(de 30%) do cruzeiro em fevereiro de 1983. Assim, ainda que se aplicas-
se uma política econômica ortodoxa, de tempos em tempos a inflação 
“subia”, como que inercialmente, conforme pode-se verificar no gráfico 1.
Gráfico 1 – Evolução da inflação anual no Brasil (1979-1985)
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250,0
52,7
99,3 95,6 104,8
164,01
215,26
242,23
300,0
0,0
50,0
100,0
150,0
19
85
19
84
19
83
19
82
19
81
19
80
19
79
Fonte: adaptado de Brasil ([s.d.]).
Conforme se demonstra no gráfico, os índices sobem como se escalas-
sem uma escada, ou melhor, mudassem de patamar, quase que automa-
ticamente. Em 1979, a inflação estava em 52,7% ao ano. Em razão da se-
gunda crise do petróleo, subiu para 99,3% em 1980. E se manteve próximo 
deste nível até 1982. Em 1983, voltou a subir por causa da maxidesvaloriza-
ção da moeda nacional (o cruzeiro); em 1984, chegou a 215%, e em 1985, 
subiu mais um tanto atingindo 242% ao ano. A esse fenômeno (mudança 
de patamar), os economistas passaram a denominar inflação inercial.
Por exemplo, em função do aumento dos preços do petróleo após à 
segunda crise (1979), os agentes econômicos (ou melhor, aqueles que 
tinham poder para fazê-lo) majoraram seus preços, o que fez com que o 
índice de inflação praticamente dobrasse entre 1979 e 1980. Em 1983, 
a “desculpa” para essa mudança de patamar foi a maxidesvalorização 
da moeda nacional, que tornou mais baratas (logo, competitivas) as ex-
portações brasileiras, porém, ao custo de encarecer o preço dos pro-
dutos importados – petróleo, inclusive. Estes novos custos, ao serem 
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repassados para os preços dos produtos internos, funcionavam como 
aceleradores da inflação.
Segundo economistas heterodoxos, em contraposição aos ortodo-
xos, o caso da inflação no Brasil de então se tratava de uma inflação 
autônoma ou inercial. De acordo com Bresser-Pereira (1989), existiriam 
ao menos três tipos de inflação: a comum, a inercial e a hiperinflação. É 
inercial quando se mantém em um determinado patamar. No entanto, 
por meio do conflito distributivo (em que cada setor busca aumentar 
vantajosamente seus preços), alguns poucos e poderosos agentes eco-
nômicos são capazes de transferir automaticamente para os preços os 
aumentos de custos (efetivos ou presumidos), reproduzindo no presen-
te a inflação passada. Essa indexação formal e informal da economia 
seria, na opinião de Bresser, o “componente inercial” da inflação.
A descoberta do componente inercial na inflação, vale dizer, fora es-
sencial para o desenvolvimento da nova teoria. Ficava assim explicada 
a persistência de altos níveis de inflação. Mas isso não significa que a 
teoria da inflação inercial se limitasse a explicar os fatores mantenedo-
res da inflação. Ela procurava explicar também a aceleração inflacioná-
ria, que seria o “estopim” da inflação inercial.
Segundo Rego e Marques (2006), as ideias de Bresser-Pereira sobre 
inflação inercial, por exemplo, tinham origens no livro A inflação brasi-
leira de Ignácio Rangel (1963), que via a inflação como uma espécie 
de mecanismo de defesa da economia. Enquanto na teoria convencio-
nal da inflação, monetarista ou keynesiana, se supõe que ela é causada 
pela demanda, Rangel considerava que a causa (principal) da inflação 
estava relacionada a desequilíbrios da economia. O poder dos grandes 
monopólios (ou oligopólios) em momentos de recessão tinha maior 
capacidade de lutar contra as perdas de renda. Outra contribuição de 
Rangel se refere à relação entre moeda e inflação – para ele, a moeda 
desempenha um papel endógeno. Não era o aumento da quantidade da 
moeda que explicava a inflação, mas o aumento dela, provocado pelo 
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.poder de monopólio e pela necessidade de reduzir as crises cíclicas, 
que induziam o aumento da oferta monetária.
O que ainda faltava explicar era o fenômeno da estabilidade da in-
flação em determinados patamares. Bresser-Pereira e Nakano (1984) 
começaram distinguindo quais seriam os fatores – aceleradores, man-
tenedores e sancionadores da inflação. De acordo com as teorias orto-
doxas, a inflação seria estimulada pelos seguintes fatores aceleradores:
 • para os monetaristas, a causa da aceleração da inflação estaria 
relacionada ao aumento na quantidade nominal da moeda acima 
da renda;
 • para os keynesianos, a inflação ocorreria pelo excesso da deman-
da em relação à oferta agregada;
 • para os estruturalistas, a inflação se aceleraria se houvesse al-
gum tipo de estrangulamentos na oferta, o que acarretaria umaonda de aumento de preços, que se propagariam para o restante 
da economia;
 • para os administrativistas, a inflação se aceleraria por causa do 
poder monopolista de empresas, sindicatos e do próprio governo, 
que eram capazes de impor choques constantes de preços, os 
quais, em seguida, se propagavam para o resto da economia.
De acordo com Bresser-Pereira e Nakano (1984), a manutenção da 
inflação em determinado patamar decorreria da disputa entre os agen-
tes econômicos em sua participação na renda. Como os aumentos de 
preços são realizados ao longo do tempo, estes repassam os aumentos 
de custos repetindo no presente a inflação passada – indexando infor-
malmente seus preços. A inflação inercial torna-se o resultado do confli-
to distributivo entre empresas, capitalistas, burocratas e trabalhadores, 
para manter sua participação na renda.
Portanto, a inflação no Brasil possuía complicadores adicionais.
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1.2 O endividamento do Estado
Além das condicionantes já mencionadas, somava-se o endivida-
mento do Estado, que passou a caminhar próximo ao “abismo” do dé-
ficit público. Nas finanças públicas, segundo Sandroni (1999), o déficit 
ocorre quando as despesas se tornam superiores à arrecadação. Nas 
contas do governo, o déficit pode ser denominado como primário (em 
que se inclui todas as receitas e todas as despesas do governo menos 
os juros) ou operacional. A diferença entre os dois é que, no segundo 
(operacional), se inclui as despesas com juros das dívidas interna e ex-
terna do setor público.
Em um cenário de forte dependência de financiamento externo, o 
endividamento público passa a se constituir como um entrave ao cres-
cimento econômico, pois se reduzem drasticamente a capacidade de 
investimentos públicos ao mesmo tempo que o Estado passa a deman-
dar mais contrapartida da sociedade, por meio de impostos, taxas e ta-
rifas, para poder fazer frente ao cenário recessivo e para honrar seus 
compromissos com os credores internacionais, dos quais também pas-
sam a depender para financiar e refinanciar suas dívidas.
O que se observa a partir de 1981, apesar do crescimento observado 
(de 5 a 8%) entre 1984 e 1986, é a total impossibilidade de manutenção 
daquele histórico-padrão de crescimento econômico obtido nas déca-
das anteriores.
1.3 A redução do PIB e suas consequências diretas
Conforme pôde-se observar, os condicionantes externos, como as 
duas crises do petróleo, entre outros fatores já apontados, limitaram 
a capacidade de crescimento da economia brasileira, que havia expe-
rimentado altíssimos índices de expansão do PIB, entre 1968 e 1973; 
e que, apesar dos pesares, havia alcançado até 1980 razoáveis perfor-
mances, mesmo depois da primeira crise do petróleo. A partir de 1981, 
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.no entanto, as estratégias nacionais pareceram se esgotar diante da 
elevação vertiginosa do custo do endividamento externo. Por conse-
quência, os níveis de crescimento médio do PIB caíram para parco 
1,7% ao ano.
Gráfico 2 – Evolução do PIB no Brasil (1968-1990)
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-10,0
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Fonte: adaptado de Abreu (2014).
O período de 1968 a 1973 é chamado de milagre econômico. Em 
1973, o crescimento chegou ao recorde nacional de 14%. Depois dessa 
fase, o país seguiu crescendo em níveis consideráveis: em torno de 7% 
ao ano (em 1976, por exemplo, chegou a 10,3%). A interrupção dessa 
tendência ocorreu em 1981, por causa de uma recessão de -4,3%. Ainda 
que a variação do PIB tenha sido positiva (de 0,8%) em 1982, o país caiu 
em recessão novamente em 1983: desta vez, de -3%. Entretanto, a eco-
nomia voltou a se expandir entre 1984 e 1987, em média 6,1% ao ano, 
mas outra vez apresentou resultado negativo em 1988 (-0,1%); atingin-
do o fundo do poço em 1990, quando o PIB decresceu 4,4%.
A transição democrática (1984-1985), vale destacar, ocorreu em 
um cenário de crescimento econômico (5,4% e 7,9%, respectivamen-
te). De acordo com o regime que saía, a volta do crescimento eco-
nômico era resultado direto das políticas adotadas por Delfim Netto, 
depois da traumática ida ao FMI em 1982. Em 1983, além das medi-
das emergenciais que visavam fechar as contas de 1982 (por meio de 
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empréstimos junto ao governo norte-americano e bancos comerciais), 
o governo passou a implementar um programa que buscava reduzir o 
déficit do setor público de 6% para 3,5% do PIB, ainda que à custa de 
redução de investimentos das empresas estatais em 21%. O governo 
promoveu, ainda, o aumento das taxas de juros, além de eliminar gra-
dualmente diversos subsídios agrícolas, desvalorizar a taxa de câm-
bio (por meio de minidesvalorizações em relação ao dólar americano) 
e aumentar a produção doméstica de petróleo e seus derivados, que 
passaram a ser reajustados acima da inflação brasileira. A consequên-
cia direta dessas ações foi a redução na taxa de crescimento da dívida 
externa, de curto e longo prazos, para cerca de 8% em 1983 e 7% em 
1984, em comparação com a média de 14% no período 1978 a 1982 
(CERQUEIRA, 1996).
É fato que, a partir daí e até 1984, a política macroeconômica passou 
a ser pautada pela disponibilidade de financiamento externo e, pelo me-
nos até abril de 1994, as autoridades monetárias brasileiras estiveram 
envolvidas com a renegociação da dívida externa (CERQUEIRA, 1996). 
No entanto, o cenário possibilitava se vislumbrar algum otimismo a par-
tir de 1984 em que se combinavam: perspectiva de “fim da ditadura” e 
a volta do crescimento econômico. Neste ano, destacavam os jornais, 
o superávit da balança comercial atingiu US$ 13,1 bilhões, e a elevação 
dos níveis das reservas internacionais subiram para quase US$ 12 bi-
lhões; um excelente resultado se comparado às reservas de 1983, que 
havia atingido US$ 3,1 bilhões (CERQUEIRA, 1996).
No entanto, embora o cenário macroeconômico das contas externas 
sugerisse mudança (positiva), a inflação também voltava a subir de “pa-
tamar”: de 99,7% em 1983 para 223,8% em 1984; 235,1% em 1985 (ano 
da transição democrática). O país entrava, assim, em uma nova “fase” 
inflacionária: a da hiperinflação, que ocorria simultaneamente à nova 
fase de redução do crescimento econômico.
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2 A estagflação e suas consequências
Ao iniciar-se a presidência de José Sarney, o governo se comprome-
teu a honrar os compromissos políticos do presidente eleito (por via 
indireta) e não empossado Tancredo de Almeida Neves (falecido em 21 
de abril de 1985). Este, diferentemente das práticas econômicas reces-
sivas adotadas pelo governoanterior, pregava que não se deveria pagar 
a dívida externa com mais sacrifício do povo, conforme discurso prepa-
rado para a posse de 15 de março de 1985.
Sempre que me perguntam sobre a dívida externa, repito que 
honraremos os compromissos que, em nome do País, foram as-
sumidos pelos nossos antecessores. Mas, da mesma maneira 
que ninguém retirará da boca do filho o pão para entregá-lo ao 
credor, não iremos resgatar os nossos títulos no exterior com a 
fome dos brasileiros. Haveremos de encontrar, com os nossos 
credores, a forma justa de liquidar os débitos. Eles também sa-
bem que só produziremos se dispusermos de recursos para in-
vestir no interior do País. Nisso não me preocupo. Conto com a 
lucidez dos credores, que compreenderão o nosso direito de exi-
gir prazos compatíveis e de recusar taxas escorchantes de juros 
(O GLOBO, 2010).
Como estratégia econômica e de combate à inflação, o governo 
Sarney passou a adotar uma via bastante heterodoxa – por meio de 
congelamentos de preços sem recorrer (inicialmente) ao receituário 
clássico ortodoxo de política recessiva.
Vale demarcar que o termo heterodoxo está relacionado a uma abor-
dagem relativamente conflitante com a abordagem ortodoxa. Em linhas 
(bem) gerais, a ortodoxia deriva do mainstream economics, que tem 
base no modelo walrasiano – segundo o qual existe igualdade entre a 
oferta agregada e a demanda agregada.
Para os ortodoxos, as falhas provocadas por qualquer tipo de in-
tervenção estatal tendem a ser piores do que aquelas originárias das 
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imperfeições dos mercados. Para eles, em caso de crise, deve-se am-
pliar a liberdade de mercado; a partir das alternativas apontadas pelo 
livre mercado é que se deve esperar as melhores alternativas para a 
volta à normalidade. Seguem, portanto, na linha dos fundamentos teó-
ricos que contribuíram para a formulação do Consenso de Washington, 
na segunda metade do século XX. Lidera este conjunto de economistas, 
a escola monetarista (ou Escola de Chicago). Portanto, os ortodoxos 
pressupõem que a economia tende ao equilíbrio, à racionalidade, e se 
prefere o individualismo econômico à preocupação coletivista que, em 
geral, se espera da intervenção estatal.
Rego e Marques (2006) argumentam que, historicamente, no Brasil, 
as correntes ortodoxas (ou, segundo eles, pragmáticas) são aquelas 
que se preocupam com os chamados fundamentos macroeconômicos, 
por acreditarem que uma vez sejam estes alcançados, os caminhos 
para o crescimento econômico se abrem (“naturalmente”).
Já os heterodoxos são identificados por aqueles economistas que 
defendem abordagens que diferem da economia ortodoxa, basicamen-
te pela defesa do desenvolvimentismo, pois priorizam o crescimento 
econômico (REGO; MARQUES, 2006).
Os planos heterodoxos de estabilização, implantados na década 
de 1980, após a redemocratização, se caracterizam, portanto, por cer-
ta descrença em relação aos diagnósticos ortodoxos. Ganham força 
diante da crise da dívida externa e da inflação, que resultaram na re-
dução e na instabilidade das taxas de crescimento, assim como na 
superaceleração inflacionária.
Com a posse do governo Sarney, o governo decide não assinar acor-
do com o FMI que implicasse em política recessiva, o que acarretou 
frustração quanto à formalização dos contratos resultantes de negocia-
ção (1982-1985) concluída com os credores.
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.No plano interno, o governo buscou reduzir a inflação lançando o 
Plano Cruzado que, de fato, reduziu a inflação de 235% ao ano, em 1985, 
para 65%, em 1986; ainda que esta retornasse à sua lógica de escalada, 
saltando para 415% em 1987, chegando a 1.037% em 1988; 1.783% em 
1989; e 2.596% em 1990.
No ano seguinte ao Plano Cruzado, com a volta da aceleração in-
flacionária após a troca de ministro da Fazenda (Dilson Funaro por 
Bresser-Pereira, que permaneceu no cargo de fevereiro a dezembro de 
1987), o país esteve em situação de moratória, em função basicamente 
da redução de divisas despendidas em importações necessárias para 
garantir o controle de preços durante o Plano Cruzado.
Segundo Cerqueira (1996, p. 42),
A moratória foi um recurso com o qual o governo esperava aliviar o 
problema de caixa. Entretanto, anunciada como um remédio para 
a economia acabou agravando a saúde financeira do país, criando, 
ainda, dificuldades no relacionamento com os credores externos.
A saída do ministro Bresser-Pereira (em dezembro de 1987) e a en-
trada de Maílson da Nóbrega (1988-1989) “coincide” com a retomada 
das negociações da dívida externa. Diante da descrença em se aplicar 
novo plano de estabilização heterodoxo, tendo em vista as experiências 
anteriores (Plano Cruzado, Cruzadinho, Plano Bresser), Maílson desen-
volve uma política monetária tímida, gradual e pouco intervencionista, 
de orientação eminentemente ortodoxa (política, segundo ele, do “feijão 
com arroz”) – por considerar a inflação um problema (basicamente) de 
demanda. Daí o seu “receituário”: de cortar o déficit público operacional 
de 8% para 4% e de reter a inflação em torno de 15% ao mês, por meio 
da suspensão temporária dos reajustes dos salários do funcionalismo 
público e do adiamento dos aumentos dos preços administrados.
O quadro parece se complicar ainda mais no segundo semestre de 
1988 por causa do aumento da inflação que ultrapassou 24% ao mês 
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 Editora Senac São Paulo. Brasil, 1980: a “década perdida”
em julho, exigindo-se reajustes dos preços públicos. Acrescente-se tam-
bém a entrada em vigor da nova Constituição que passou a vincular a 
receita a certas despesas específicas, dificultando a pretendida redução 
dos gastos públicos.
Após tentativa de pacto social em novembro de 1988 (entre governo, 
empresários e trabalhadores), o governo (em seu último ano de manda-
to) lançou o Plano Verão em 15 de janeiro de 1989, que era o terceiro 
choque econômico – novamente, com congelamento de preços e salá-
rios – e a segunda reforma monetária do governo Sarney, com a qual 
surgia o Cruzado Novo (NCz$ 1,00 = US$ 1,00, um cruzado novo estava 
para um dólar americano), acrescido de ousada desindexação da eco-
nomia (extinção da obrigação do tesouro nacional, OTN; e da unidade 
de referência de preços, URP).
No entanto, a primeira experiência heterodoxa, do primeiro governo 
civil, não foi capaz de debelar a hiperinflação inercial brasileira, que se 
consolidava como mais um dos grandes problemas brasileiros da déca-
da de 1980 e meados da década de 1990.
Considerações finais
Neste capítulo, analisamos a economia brasileira na década de 1980, 
período que se denomina como uma “década perdida”. E tal alcunha 
parece fazer sentido quando se compara a evolução do crescimento da 
economia nacional nesta fase a dos anos de crescimentos econômicos 
de períodos anteriores.
A referida década aparece, assim, como um longo momento de tran-
sição entre um ciclo expandido de intervenção estatal na economia, 
com base nos princípios da substituição de importações, para uma 
etapa de redução da participação econômica estatal no processo de 
formação do PIB do país. Se destaca também como um momento de 
volta da democraciadepois de vinte e um anos de regime civil-militar.
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.Para entender aquele fenômeno econômico, tem que se levar em 
consideração as condicionantes externas (econômicas) e internas (po-
lítico-econômicas e sociais) que o Brasil enfrentava naquela ocasião, 
como a alta dos juros nos Estados Unidos, a segunda crise do petróleo, 
a expansão da dívida externa, a inflação inercial, o endividamento públi-
co, a retomada do movimento sindical e a contestação aberta contra o 
“fim da ditadura” pelos novos movimentos sociais.
É diante desse cenário tão adverso que os brasileiros acabaram 
convivendo com níveis de emprego incomuns ou com a hiperinflação 
(que chegou a 1.783% em 1989, e a 2.596% em 1990) – elementos que, 
juntos, acometeram o país a um cenário de graves tensões socioeco-
nômicas que, por sua vez, acabaram por “transbordar” para a década 
de 1990.
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