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ESTADO DO MARANHÃO PODER JUDICIÁRIO PLANTÃO JUDICIAL DA COMARCA DE BACABAL-MA. END: Rua Manoel Alves de Abreu, S/n, Centro, Bacabal-MA. PROCESSO Nº 0800311-61.2022.8.10.0024 AÇÃO CIVIL PÚBLICA REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBICO ESTADUAL REQUERIDOS: MUNICÍPIO DE BACABAL E AABB DECISÃO Trata-se de Ação Civil Pública de Obrigação de Fazer c/c pedido de Tutela Provisória de Urgência, ajuizada pelo Ministério Público Estadual em face do Município de Bacabal e da Associação Atlética do Banco do Brasil, todos já qualificados. Afirma o Ministério Público que tomou conhecimento que a segunda requerida realizará uma festa, no dia 22 de janeiro |(HOJE) e que tal evento, contará com apresentação, de várias bandas, dentre elas a apresentação de Romim Mata, e, segundo o alegado, a realização de tal festividade tem o condão de causar aglomeração e por conseguinte, de atentar contra a saúde pública, ante o atual quadro de saúde vivenciado no mundo, causado pela pandemia de Covid-19. Diz ainda que a programação está em desacordo com a Constituição Federal, as leis e recomendações dos órgãos de saúde e ainda do próprio Órgão Ministerial, no que pleiteia, na forma de tutela em antecipação, pela suspensão do evento. Veio a peça inaugural instruída com a documentação em anexo. É o relatório. Decido. Di d d f di t ã i il úbli é f t l i Discorrendo de forma direta, a ação civil pública é ferramenta processual que visa o ressarcimento de prejuízos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro interesse difuso ou coletivo, à ordem urbanística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, ao patrimônio público e social. Um dos seus objetivos é prestar-se para o acautelamento dos referidos bens protegidos, no escopo de evitar danos. In casu, a pretensão se debruça sobre o direito difuso à saúde e, assim, mostra-se cabível o feito, ainda que de uma análise menos profunda, própria ao momento. Igualmente, o direito à saúde, assegurado pela Constituição da República de 1988 como direito fundamental decorrente do direito à vida e da dignidade da pessoa humana, incumbe ao Estado e à sociedade a obrigação de provê-lo a todos os que dele necessitem. Sob esse prisma, os artigos constitucionais 6º e 196 consagram o direito à saúde como dever do Estado, o qual deverá, por meio de políticas sociais e econômicas, propiciar aos necessitados o tratamento mais adequado e eficaz, capaz de ofertar ao enfermo maior dignidade e menor sofrimento. Seguindo, desde logo visualiza-se a legitimidade da parte autora para a propositura da demanda, nos termos da legislação aplicada à espécie. É indiscutível o cabimento de tutela antecipada contra a Fazenda Pública, desde que a hipótese discutida nos autos não esteja entre as hipóteses previstas nas leis nº 8.437/92, nº 9.494/97 e nº 12.016/09. Além disso, para a concessão da tutela, é necessário que haja, nos autos, elementos suficientes que evidenciem a probabilidade do direito alegado e do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, conforme previsão legal do artigo 300 do Código de Processo Civil. Em outras palavras, a legislação exige fumus boni iuris e periculum in mora. No caso em apreço, tenho por presente a probabilidade do direito alegado, consubstanciados nos indicativos da realização de um evento que contraria dispositivos normativos que determinam e recomendam a não realização de festividade que possa causar aglomeração de pessoas, principalmente, no momento em que vivemos. Tais indicativos são trazidos nos elementos juntados, sobretudo a imagem e o vídeo de divulgação do show, bem como nas recomendações do Ministério Público e decretos dos executivos estadual e municipal. Avançando, em uma análise não perfunctória, entendo que resta demonstrado também o perigo de dano oriundo da realização do evento. Nesse trilhar, os órgãos competentes apresentam determinações que visam o combate da doença e, dentre tais medidas, a não aglomeração é uma das principais. Assim, resta claro que a realização de um show, onde estarão um número grande de pessoas e onde existe intensa interação humana pode ser um vetor de proliferação do vírus da referida patologia, o que obviamente é danoso à saúde pública. Imperioso destacar que no final do ano de 2021 e início do ano de 2022, esta urbe, a exemplo de outras localidades, vem lutando contra uma onda de contágio de infecção viral respiratória (influenza), fato esse que também conduz ao entendimento de que no atual contexto, aglomerações não se mostram salutares. Uma nova variante foi identificada pela 1ª vez na África do Sul (ÔMICRON), no final de novembro do ano passado, e essa cepa foi classificada como “variante de preocupação” pela OMS (Organização Mundial da Saúde), maior nível na escala estabelecida l ó ã i l i ó i i i té i d S úd já h i d d ã pelo órgão e inclusive o próprio ministério da Saúde já havia recomendado que não se realizasse as festas de fim de ano. Fato é que hoje ela já predominante no mundo todo e aqui não é diferente, tamanho seu poder de transmissão. Acrescente-se ainda que é do conhecimento geral que a sede da AABB em Bacabal, o local onde aconteceria a festa, é coberto, o que agrava ainda mais a aglomeração de pessoas, sobretudo no período chuvoso que a cidade enfrenta na atualidade. Acerca do risco ao resultado útil do processo, este é latente, ante a iminência da realização do evento, que está designado para acontecer em menos de 24 (vinte e quatro) horas. Nunca é demais destacar que cada vida perdida em decorrência das consequências do coronavirus é um duro golpe na sociedade e que, em virtude de inúmeras tentativas de conscientização, começaram a ser cada vez menos encaradas como fatalidade e mais como irresponsabilidade. O risco oriundo da realização de eventos como este não fica adstrito apenas aos presentes, podendo atingir um número infindo da coletividade e, por tal caractere tão devastador, reclama uma inibição. Indubitavelmente, os eventos objetos desta ação e os demais que porventura venham a ser realizados contribuem de sobremaneira para a propagação do vírus, motivo pelo qual as medidas restritivas devem ser implementadas e respeitadas, principalmente quanto a proibição de aglomerações. Importante apontar que as deliberações judiciais acerca da efetivação de medidas que visam evitar um mal coletivo não se revestem de invasão indevida da competência de outros poderes, com já decidiu o Supremo Tribunal Federal. Precedente: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS. POSSIBILIDADE EM CASOS EXCEPCIONAIS. OMISSÃO ESTATAL. DIREITOS ESSENCIAIS INCLUSOS NO CONCEITO DE MÍNIMO EXISTENCIAL. 1. O STJ tem decidido que, ante a demora do Poder competente, o Poder Judiciário poderá determinar, em caráter excepcional, a implementação de políticas públicas de interesse social – principalmente nos casos em que visem resguardar a supremacia da dignidade humana sem que isso configure invasão da discricionariedade ou afronta à reserva do possível. 2. O controle jurisdicional de políticas públicas se legitima sempre que a “inescusável omissão estatal” na sua efetivação atinja direitos essenciais inclusos no conceito de mínimo existencial. 3. O Pretório Excelso consolidou o posicionamento de ser lícito ao Poder Judiciário “determinar que a Administração Pública adote medidas assecuratórias de direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais, sem que isso configure violação do princípio da separação dos Poderes” (AI 739.151 AgR, Rel. Ministra Rosa Weber, DJe 11/6/2014, e AI 708.667 AgR, Rel. Ministro Dias Toffoli, DJe 10/4/2012). 4. Agravo interno a que se nega provimento. (STJ – AgInt no REsp: 1304269 MG 2012/0032015-6, Relator: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento: 17/10/2017, T2 – SEGUNDA TURMA, Publicado em 20/10/2017). I t P t t i ti 300 d CPC d fi t t l d ê i Isto Posto,com esteio no artigo 300, do CPC, defiro a tutela de urgência em antecipação para determinar a suspensão imediata da realização do evento marcado para o dia de HOJE, 22/1/2021 na sede da AABB-Bacabal/MA, bem como de qualquer outro evento, público ou privado, que importe em aglomeração ou atente contra os decretos do executivo estadual ou municipal ou ainda as recomendações ministeriais. Intimem-se todos os réus desta decisão para cumpri-la em todos os seus termos. Faço a advertência de que o descumprimento desta decisão acarretará multa de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) em cada um dos estabelecimentos réus desta ação. Intimem-se todos os réus desta decisão para cumpri-la em todos os seus termos. Oficie-se a Procuradoria do Município de Bacabal/MA para ciência e adoção das medidas cabíveis à integral observância não só do presente decisum bem como de todas as disposições normativas e recomendações expedidas pelo Órgão Ministerial, no sentido da proibição de eventos que possam causar aglomerações, conforme requerido pelo Ministério Público. Expeçam-se comunicações às Polícia Militar e Civil para que tomem ciência e, caso necessário, auxiliem no cumprimento da ordem judicial e demais disposições normativas acerca do tema. Proceda-se com a citação da parte requerida para que, no prazo legal, se manifeste, apresentando manifestação quanto aos termos da inicial, cientificando-lhe das cominações advindas da inércia. Publicada com o recebimento dos autos em secretaria. Registre-se. Intimem-se todos. Após, proceda-se com os atos de redistribuição do feito. Cumpra-se de forma urgente. Serve a presente como mandado de intimação, citação e ofício para todos os fins de cumprimento. Bacabal-MA,data da assinatura digital. Jorge Antonio Sales Leite Juiz de Direito Titular da Vara de Família Assinado eletronicamente por: JORGE ANTONIO SALES LEITE 22/01/2022 09:07:27 https://pje.tjma.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam ID do documento: 59471328 2201220907274840000005 IMPRIMIR GERAR PDF
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