Buscar

Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão - 1 Grau

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ESTADO DO MARANHÃO
PODER JUDICIÁRIO
PLANTÃO JUDICIAL DA COMARCA DE BACABAL-MA.
END: Rua Manoel Alves de Abreu, S/n, Centro, Bacabal-MA.
 
 
PROCESSO Nº 0800311-61.2022.8.10.0024
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBICO ESTADUAL
REQUERIDOS: MUNICÍPIO DE BACABAL E AABB
 
 
 
DECISÃO
 
 
Trata-se de Ação Civil Pública de Obrigação de Fazer c/c pedido de Tutela
Provisória de Urgência, ajuizada pelo Ministério Público Estadual em face do Município de
Bacabal e da Associação Atlética do Banco do Brasil, todos já qualificados.
Afirma o Ministério Público que tomou conhecimento que a segunda requerida
realizará uma festa, no dia 22 de janeiro |(HOJE) e que tal evento, contará com apresentação,
de várias bandas, dentre elas a apresentação de Romim Mata, e, segundo o alegado, a
realização de tal festividade tem o condão de causar aglomeração e por conseguinte, de
atentar contra a saúde pública, ante o atual quadro de saúde vivenciado no mundo, causado
pela pandemia de Covid-19.
Diz ainda que a programação está em desacordo com a Constituição Federal, as
leis e recomendações dos órgãos de saúde e    ainda do próprio Órgão Ministerial, no que
pleiteia, na forma de tutela em antecipação, pela suspensão do evento.
Veio a peça inaugural instruída com a documentação em anexo.
É o relatório.  Decido.
Di d d f di t ã i il úbli é f t l i
Discorrendo de forma direta, a ação civil pública é ferramenta processual que visa
o ressarcimento de prejuízos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de
valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro interesse difuso ou
coletivo, à ordem urbanística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos,
ao patrimônio público e social. Um dos seus objetivos é prestar-se para o acautelamento dos
referidos bens protegidos, no escopo de evitar danos.
In casu, a pretensão se debruça sobre o direito difuso à saúde e, assim, mostra-se
cabível o feito, ainda que de uma análise menos profunda, própria ao momento.
Igualmente, o direito à saúde, assegurado pela Constituição da República de 1988
como direito fundamental decorrente do direito à vida e da dignidade da pessoa humana,
incumbe ao Estado e à sociedade a obrigação de provê-lo a todos os que dele necessitem. Sob
esse prisma, os artigos constitucionais 6º e 196 consagram o direito à saúde como dever do
Estado, o qual deverá, por meio de políticas sociais e econômicas, propiciar aos necessitados o
tratamento mais adequado e eficaz, capaz de ofertar ao enfermo maior dignidade e menor
sofrimento.
Seguindo, desde logo visualiza-se a legitimidade da parte autora para a
propositura da demanda, nos termos da legislação aplicada à espécie.
É indiscutível o cabimento de tutela antecipada contra a Fazenda Pública, desde que a
hipótese discutida nos autos não esteja entre as hipóteses previstas nas leis nº 8.437/92, nº
9.494/97 e nº 12.016/09. Além disso, para a concessão da tutela, é necessário que haja, nos
autos, elementos suficientes que evidenciem a probabilidade do direito alegado e do perigo
de dano ou risco ao resultado útil do processo, conforme previsão legal do artigo 300 do
Código de Processo Civil.
Em outras palavras, a legislação exige fumus boni iuris e periculum in mora.
No caso em apreço, tenho por presente a probabilidade do direito alegado,
consubstanciados nos indicativos da realização de um evento que contraria dispositivos
normativos que determinam e recomendam a não realização de festividade que possa causar
aglomeração de pessoas, principalmente, no momento em que vivemos.
Tais indicativos são trazidos nos elementos juntados, sobretudo a imagem e o
vídeo de divulgação do show, bem como nas recomendações do Ministério Público e decretos
dos executivos estadual e municipal.
Avançando, em uma análise não perfunctória, entendo que resta demonstrado
também o perigo de dano oriundo da realização do evento.
Nesse trilhar, os órgãos competentes apresentam determinações que visam o
combate da doença e, dentre tais medidas, a não aglomeração é uma das principais. Assim,
resta claro que a realização de um show, onde estarão um número grande de pessoas e onde
existe intensa interação humana pode ser um vetor de proliferação do vírus da referida
patologia, o que obviamente é danoso à saúde pública.
Imperioso destacar que no final do ano de 2021 e início do ano de 2022, esta urbe,
a exemplo de outras localidades, vem lutando contra uma onda de contágio de infecção viral
respiratória (influenza), fato esse que também conduz ao entendimento de que no atual
contexto, aglomerações não se mostram salutares.
Uma nova variante foi identificada pela 1ª vez na África do Sul (ÔMICRON), no
final de novembro do ano passado, e essa cepa foi classificada como “variante de
preocupação” pela OMS (Organização Mundial da Saúde), maior nível na escala estabelecida
l ó ã i l i ó i i i té i d S úd já h i d d ã
pelo órgão e inclusive o próprio ministério da Saúde já havia recomendado que não se
realizasse as festas de fim de ano. Fato é que hoje ela já predominante no mundo todo e aqui
não é diferente, tamanho seu poder de transmissão.
Acrescente-se ainda que é do conhecimento geral que a sede da AABB em Bacabal,
o local onde aconteceria a festa, é coberto, o que agrava ainda mais a aglomeração de
pessoas, sobretudo no período chuvoso que a cidade enfrenta na atualidade.
Acerca do risco ao resultado útil do processo, este é latente, ante a iminência da
realização do evento, que está designado para acontecer em menos de 24 (vinte e quatro)
horas.
Nunca é demais destacar que cada vida perdida em decorrência das
consequências do coronavirus é um duro golpe na sociedade e que, em virtude de inúmeras
tentativas de conscientização, começaram a ser cada vez menos encaradas como fatalidade e
mais como irresponsabilidade. O risco oriundo da realização de eventos como este não fica
adstrito apenas aos presentes, podendo atingir um número infindo da coletividade e, por tal
caractere tão devastador, reclama uma inibição.
Indubitavelmente, os eventos objetos desta ação e os demais que porventura
venham a ser realizados contribuem de sobremaneira para a propagação do vírus, motivo
pelo qual as medidas restritivas devem ser implementadas e respeitadas, principalmente
quanto a proibição de aglomerações.
Importante apontar que as deliberações judiciais acerca da efetivação de medidas
que visam evitar um mal coletivo não se revestem de invasão indevida da competência de
outros poderes, com já decidiu o Supremo Tribunal Federal. Precedente:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO
RECURSO ESPECIAL. CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS.
POSSIBILIDADE EM CASOS EXCEPCIONAIS. OMISSÃO ESTATAL.
DIREITOS ESSENCIAIS INCLUSOS NO CONCEITO DE MÍNIMO
EXISTENCIAL. 1. O STJ tem decidido que, ante a demora do Poder
competente, o Poder Judiciário poderá determinar, em caráter
excepcional, a implementação de políticas públicas de interesse social –
principalmente nos casos em que visem resguardar a supremacia da
dignidade humana sem que isso configure invasão da
discricionariedade ou afronta à reserva do possível. 2. O controle
jurisdicional de políticas públicas se legitima sempre que a
“inescusável omissão estatal” na sua efetivação atinja direitos
essenciais inclusos no conceito de mínimo existencial. 3. O Pretório
Excelso consolidou o posicionamento de ser lícito ao Poder Judiciário
“determinar que a Administração Pública adote medidas
assecuratórias de direitos constitucionalmente reconhecidos como
essenciais, sem que isso configure violação do princípio da separação
dos Poderes” (AI 739.151 AgR, Rel. Ministra Rosa Weber, DJe 11/6/2014,
e AI 708.667 AgR, Rel. Ministro Dias Toffoli, DJe 10/4/2012). 4. Agravo
interno a que se nega provimento. (STJ – AgInt no REsp: 1304269 MG
2012/0032015-6, Relator: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento:
17/10/2017, T2 – SEGUNDA TURMA, Publicado em 20/10/2017).
 
I t P t t i ti 300 d CPC d fi t t l d ê i
Isto Posto,com esteio no artigo 300, do CPC, defiro a tutela de urgência em
antecipação para determinar a suspensão imediata da realização do evento marcado para o
dia de HOJE, 22/1/2021 na sede da AABB-Bacabal/MA, bem como de qualquer outro evento,
público ou privado, que importe em aglomeração ou atente contra os decretos do executivo
estadual ou municipal ou ainda as recomendações ministeriais.
Intimem-se todos os réus desta decisão para cumpri-la em todos os seus termos.
Faço a advertência de que o descumprimento desta decisão acarretará multa de R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais) em cada um dos estabelecimentos réus desta ação.
Intimem-se todos os réus desta decisão para cumpri-la  em todos os seus termos. 
Oficie-se a Procuradoria do Município de Bacabal/MA para ciência e adoção das
medidas cabíveis à integral observância não só do presente decisum bem como de todas as
disposições normativas e recomendações expedidas pelo Órgão Ministerial, no sentido da
proibição de eventos que possam causar aglomerações, conforme requerido pelo Ministério
Público. 
Expeçam-se comunicações às Polícia Militar e Civil para que tomem ciência e, caso
necessário, auxiliem no cumprimento da ordem judicial e demais disposições normativas
acerca do tema.
  Proceda-se com a citação da parte requerida para que, no prazo legal, se
manifeste, apresentando manifestação quanto aos termos da inicial, cientificando-lhe das
cominações advindas da inércia.
Publicada com o recebimento dos autos em secretaria.
Registre-se. Intimem-se todos.
Após, proceda-se com os atos de redistribuição do feito.
Cumpra-se de forma urgente. 
Serve a presente como mandado de intimação, citação e ofício para todos os fins
de cumprimento. 
 
Bacabal-MA,data da assinatura digital. 
 
Jorge Antonio Sales Leite
Juiz de Direito Titular da Vara de Família 
Assinado eletronicamente por: JORGE ANTONIO SALES LEITE
 22/01/2022 09:07:27 
https://pje.tjma.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento: 59471328
2201220907274840000005
IMPRIMIR GERAR PDF

Continue navegando