@import url(https://fonts.googleapis.com/css?family=Source+Sans+Pro:300,400,600,700&display=swap); A violência doméstica sexual.MEU NOME: Luiza MINHA IDADE: Quatorze anos MINHA QUALIFICAÇÃO: Vítima\u201cMinha família é constituída por meu pai, auxiliar administrativo, por minha mãe, costureira e por meus cinco irmãos (duas meninas e três meninos, cujas idades variam de um a onze anos). Residimos num quarto, cozinha e banheiro. A partir dos meus nove anos meu pai iniciou comigo \u201cbrincadeiras de cunho sexual\u201d e, quando completei doze anos, ele passou a manter comigo relações sexuais completas. Para que eu consentisse nestas práticas, ele me amarrava com correntes na cama, espancava\u2010me brutalmente, deixando\u2010me o corpo repleto de hematomas. Ele aproveitava sempre os sábados para manter relações comigo, uma vez que minha mãe saía para o trabalho e ele permanecia em casa .Eu observava que meus pais não se relacionavam bem sexualmente. Minha mãe costumava recusar as propostas dele de relação sexual. Às vezes eu pensava que ele queria se vingar da minha mãe, ao me utilizar daquela forma. As agressões sexuais que meu pai praticava em relação a mim eram do conhecimento de minha mãe. Ela jamais fez qualquer coisa para impedi\u2010las, limitando\u2010se a me dizer que \u201ccolocasse tudo nas mãos de Deus\u201d. Em nosso bairro vivíamos um pouco isolados. Minha mãe não conversava com quase ninguém e proibia que tanto eu, quanto meus irmãos, fizéssemos amizades ou conversássemos com vizinhos. Frequentávamos a Igreja Batista. Inclusive, como minha mãe não tomava providências em relação ao que ocorria comigo, contei ao pastor da Igreja. Ele chamou minha mãe para confirmação. Meu pai soube do que fizera, espancando\u2010me severamente e reiterando sua proibição no sentido de que eu contasse o fato a alguém. Eu tinha conhecimento de como nascem os bebês. Isto porque minha mãe me explicara e meu pai costumava comprar livros de orientação sexual para que eu lesse. Ele se preocupava com meus períodos de menstruação e ao menor atraso ele me dizia que se eu relatasse o fato a alguém me espancaria e se a polícia tomasse conhecimento do ocorrido, me levaria presa. Em função destas ameaças, senti\u2010me apavorada ao perceber a ausência da minha menstruação por um mês. Relatei o fato à minha mãe, que me forneceu cinco comprimidos para provocar aborto, bem como me avisou que iria me levar à parteira para resolver o problema, caso os comprimidos não funcionassem. Nem ela, nem eu abordamos este assunto com meu pai. Desesperada em face da situação, contei tudo à moça que trabalhava como empregada em nossa casa. Ela pediu ajuda a uma vizinha e ambas me levaram ao Centro de Saúde de nosso bairro, onde meu irmão menor é matriculado. Providências foram tomadas e meu pai foi preso. Quanto à minha mãe, gosto dela, mas por outro lado, às vezes, a raiva volta, por ela não ter acreditado em mim, por ter sempre apoiado meu pai. Quanto a ele também, por um lado, sinto amor e, por outro, ódio pela surras violentas e pelo processo de vitimização a que me submeteu... O caso que descrevemos acima foi destacado por Azevedo (1998), sendo que se trata de uma situação real. Na verdade os únicos dados fictícios são com relação ao nome da vítima e no mais tudo é verdade. Luiza foi vítima sexual pelo pai dos nove aos quatorze anos. A mãe da menina sempre soube da situação, que só veio a ser interrompida quando a menina teve ajuda de uma empregada doméstica e de vizinhos A história de Luiza foi suprimida porque é extensa, mas está detalhada no livro em questão, que contém ainda os relatos dos pais de Luiza, da empregada e da vizinha que a auxiliaram. O final trágico dessa história foi a gravidez de Luiza, além de sua reclusão em uma entidade buscando evitar a ocorrência da violência sexual novamente. Luiza não é, como sabemos, um caso isolado e nem tampouco decorre da invenção da criança e de seus familiares. Aliás, casos como esse existem muitos e atualmente vem sendo destaque na mídia, especialmente a denominada imprensa marrom. Nesse módulo iremos aprender informações sobre esse tipo de violência doméstica. Tendo tais colocações arroladas, podemos descrever que a violência doméstica sexual, consiste em:\u201c[...] todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente ou utilizá-los para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou outra\u201d. (GUERRA, 2005, p. 33).Compreende-se, assim, enquanto violência sexual não apenas a relação onde há a conjunção carnal, mas também a estimulação sexual por palavras, gestos e até a exposição da criança/adolescente a material erótico. Isso posto é necessário considerar que muitas crianças não possuem condições físicas que permitam a realização do coito. Entretanto, o fato de não ser realizado não descaracteriza a violência enquanto sexual. Portanto, o fato de o adulto estimular a criança ou o adolescente sexualmente já é considerado violência sexual.Como o objetivo é sempre a satisfação do adulto, devemos considerar sempre que a criança ou o adolescente é a maior vítima. Como tal, a participação da criança e do adolescente em tais eventos sempre trará a eles prejuízos, que não são restritos a aspectos psicológicos, mas também orgânicos. Quanto à colocação supra é necessário ainda que não apenas pelos prejuízos causados à criança e ao adolescente sejam considerados. É necessário para isso romper com uma visão de que a criança ou o adolescente \u201cprovocaram\u201d tal situação. Nesse sentido, as meninas são as maiores vítimas. Figuram ainda no imaginário de grande parte das pessoas a imagem da menina Lolita ou mesmo Anita e que tendem a induzir em uma responsabilização da vítima, transformando-a em ré.Ditas tais palavras, vamos à frente. Azevedo (1998) assevera que a violência sexual doméstica pode ser classificada como intra e extra familiares. Para a autora a violência doméstica sexual intrafamiliar consiste em atos praticados por pessoas que pertencem à dinâmica cotidiana da vítima, ao passo que a violência sexual doméstica extrafamiliar consiste em atos praticados por pessoas que possuem vínculo com as vítimas, mas que não convivem cotidianamente com as mesmas. A violência sexual doméstica intra ou extrafamiliar, segundo Guerra (1998), pode acontecer envolvendo contato físico, não envolvendo contato físico e envolvendo violência. A autora indica assim como exemplos de violência sexual doméstica sem o contato físico:1Abuso verbal, \u201chá vários tipos de abuso verbal. Aqui se incluem as discussões abertas sobre atos sexuais, destinadas a despertar o interesse da criança ou chocá-la. 2Telefonemas obscenos \u2013 são telefonemas em que ofensas de natureza sexual mesclam-se a convites explícitos ou implícitos. 3Exibicionismo \u2013 exposição intencional (e não natural) a uma criança do corpo nu de um adulto ou partes dele. 4Voyeurismo \u2013 \u201cEspionagem\u201d da nudez total ou parcial de uma criança por um adulto (geralmente a partir de um posto secreto de observação) (OP. CIT., p. 13). Segundo o Guia Escolar da Rede de Proteção à Infância (2004) figuram ainda como uma prática de violência sexual doméstica o assédio sexual e a pornografia. O assédio sexual é descrito no documento como \u201c[..] propostas de relações sexuais. Baseia-se, na maioria das vezes, na posição de poder do agente sobre a vítima, que é chantageada e ameaçada pelo autor da agressão\u201d (OP.CIT., p. 38), como foi o caso de Luiza inicialmente. Já a pornografia, segundo o mesmo documento, consiste em uma \u201c[...] forma de abuso [que] pode também ser enquadrada como exploração sexual comercial, uma vez que, na maioria dos casos, o objetivo é a obtenção de lucro financeiro\u201d (OP.CIT., p. 38).Atos que são intensificados atualmente por meio da internet, como percebemos na imprensa e que tem sido punidos criminalmente. Guerra (1998) prossegue destacando atos de violência sexual doméstica que acontecem por meio do contato físico, sendo esses: [...] \u201catos físico-genitais\u201d que incluem \u201cpassar a mão\u201d, coito (ou tentativa de), manipulação de genitais, contato oralgenital e uso sexual do ânus. Aqui também se incluem a pornografia e a prostituição infantil, isto é, \u201cexploração sexual de crianças para fins econômicos\u201d e o incesto enquanto atividade sexual entre uma criança e seus parentes mais próximos (de sangue ou de afinidade) (OP.CIT., p. 14).Por fim, Guerra (1998) destaca como violência sexual doméstica com uso de violência: [...] as ocorrências de estupro, brutalização ou mesmo assassinato de crianças como formas progressivamente mais violentas de ataque sexual. O estupro é a violência sexual caracterizada pelo contato íntimo entre uma criança e um adulto, praticada sempre com uso da FORÇA, AMEAÇA, ou INTIMIDAÇÃO) (OP.CIT., p. 14).Essas formas de violência sexual doméstica buscam ampliar a concepção sobre a mesma, visando não restringi-la apenas a ocorrência de coito ou então a criminalizá-la apenas quando se tratar do genitor das vítimas. Nesse sentido, todas essas situações são passíveis de punição podendo o agressor ser criminalizado em atentado violento ao pudor, corrupção de menores, sedução e estupro. Quando passamos a pensar sobre a violência sexual doméstica, é comum que temas como o incesto e a pedofilia também surjam. Teoricamente, o incesto é definido pelo Guia Escolar de Proteção à Infância (2004) como sendo \u201c[...] a relação sexual/e ou amorosa entre as pessoas de mesmo sangue, principalmente naqueles casos em que o matrimônio é proibido por lei\u201d (OP.CIT., p. 39). Mas, atualmente são consideradas incestuosas mesmo as relações de afinidade estabelecidas entre madrastas e enteados e padrastos e enteados.Essa proibição que é legal na sociedade brasileira provém antes de mais nada da proibição moral, da sociedade que define o que é tolerável ou não. Fato que torna o incesto uma questão cultural, mas que também não o exclui da classificação da psicopatia. Entretanto, sabe-se que a visão das pessoas que praticam o incesto, sobretudo os agressores, em relação ao que é estabelecido socialmente não faz diferença em suas condutas. Pesquisadores defendem que nessas famílias, além da estrutura fechada, prevalece a crença da criança ou adolescente como propriedade e, portanto, sujeito aos desejos dos pais.A pedofilia por seu turno é tida como uma disfunção sexual. Segundo o Guia Escolar da Rede de Proteção à Infância (2004): \u201cÉ um tipo de parafilia, na qual o indivíduo só sente prazer com determinado objeto. Pode relacionar-se com outros objetos de prazer, mas sua energia libidinal está diretamente voltada para um único objeto, do qual não consegue desvencilhar-se\u201d (OP.CIT., p. 41).Não há, entretanto, como dizer que todo agressor sexual seja um pedófilo e o inverso também não é totalmente verdadeiro, entretanto todo pedófilo está agredindo ou tentando agredir sexualmente uma criança e um adolescente, que pode estar ou não próximo de seu círculo de convivência, podendo inclusive pertencer à sua família. Para concluir nossas \u201cdiscussões\u201d sobre o assunto, vamos destacar dois exemplos polêmicos. O primeiro refere-se ao caso de Woody Allen, no qual o célebre escritor, ator e diretor teve um envolvimento com sua enteada. E o segundo refere-se ao caso do austríaco que abusou da filha por vinte e quatro anos.Woody Allen (cujo nome verdadeiro é Allan Stewart Konigsberg) foi a grande revelação humorística da década de 70. Judeu americano, nascido no Brooklyn (subúrbio de Nova York), começou a escrever aos 17 anos, passando pelos mais importantes shows de humor da TV americana, até ser descoberto em 1965 pelo produtor Charles Feldman para escrever e interpretar \u201cO Que é Que Há Gatinha?\u201d (What's New, Pussycat). Suas incursões no humor incluem matérias para a revista Playboy, participação como ator em \u201cCassino Royale\u201d (1967), duas peças de teatro (Don't Drink The Water, filmada em 1971 por Howard Morris e intitulada aqui \u201cQuase um Sequestro Aéreo\u201d, e Play It Again, Sam, dirigida por Herbert Ross e estrelada por ele mesmo em 1973 como \u201cSonhos de um Sedutor\u201d).Mas sua ideia mais curiosa foi com What's Up Tiger Lily (1966), em que ele utilizou um filme japonês classe \u201cC\u201d, modificando inteiramente seu sentido através da dublagem humorística... Sua vida pessoal, que ele gostava de manter preservada, virou escândalo em 1992, quando veio à luz seu romance com a enteada de 21 anos, a coreana Soon-Yi Previn, filha adotiva da atriz Mia Farrow, sua companheira e atriz principal ao longo de dez anos. Allen casou-se com Soon-Yi, mas felizmente o \u201cescândalo" não afetou sua produtividade nem seu brilho como diretor... O caso em questão parece ter sido aceito pela sociedade. Apesar do escândalo inicial na época dos acontecimentos, atualmente o diretor e ator de \u201cQuerida encolhi as crianças\u201d parece não ser percebido como um pedófilo. Talvez pelo prestígio já alcançado ou talvez pelo fato de trata-se de uma enteada. Particularmente discordamos dessa posição, visto que conforme já fora dito, o vínculo a ser considerado não é consanguíneo e sim afetivo.Austríaco que abusou da filha por 24 anos havia sido acusado de estupro na época em que ela nasceu Advogado de Fritzl diz que ele não deve ir para a prisão, mas sim para uma instituição psiquiátrica...austríaco que manteve sua filha Elisabeth presa por 24 anos em um sótão e teve sete filhos com ela, Josef Fritzl, 73 anos, foi acusado de estupro na época em que sua principal vítima nasceu, segundo relatos de sua cunhada publicados neste domingo pela imprensa austríaca. O jornal Oberoesterreichische Nachrichten reproduz neste domingo um suposto registro judicial de 1967 dos arquivos de Linz, no qual Josef Fritzl foi acusado de entrar no apartamento de uma enfermeira de 24 anos e estuprá\u2010la. A cunhada dele, identificada como Christine R., disse ao jornal Oesterreich que ele foi preso pelo crime. \u201cEu tinha 16 anos quando ele foi preso por estupro\u201d, afirmou. A acusação teria acontecido pouco depois do nascimento de Elisabeth, 42 anos, que foi libertada há uma semana do sótão onde seu pai a mantinha confinada. O advogado de Fritzl, Rudolf Mayer, que não atendeu ao telefone neste domingo, afirma em entrevistas publicadas em jornais hoje que seu cliente não é responsável por seus atos. Segundo o criminalista, um dos melhores do país, o engenheiro não deve ir para a prisão, mas para uma instituição psiquiátrica. Elisabeth Fritzl inocenta a mãeElisabeth Fritzl, chamada de a filha do \u201ccarcereiro de Amstetten\u201d, isentou sua mãe de culpa pelo martírio sofrido nos 24 anos, quando viveu presa no porão de sua casa, onde foi submetida às violências pelo pai. As informações são do semanário \u201cDer Spiegel\u201d, que circulará no domingo. Por todos estes anos em que viveu sob o domínio do pai, Elisabeth recebia alimentos e vestidos apenas dele. Sua mãe, Rosemarie, nunca soube de nada nem teve nada a ver com o ocorrido, disse Elisabeth, hoje aos 42 anos, à polícia. O \u201cDer Spiegel\u201d diz ainda que a família havia sido submetida à observação de assistentes sociais a menores, que jamais suspeitaram de alguma coisa e que inclusive constataram em suas atas que o padre se sentia \u201caliviado\u201d pela emoção de \u201cter encontrado um bebê abandonado\u201d diante de sua porta. Três destes filhos\u2010netos viveram no andar de cima da casa, junto à esposa de Josef e o restante da família. Enganados por Josef, todos acreditavam que os pequenos teriam sido abandonados pela mãe, que supostamente integrava uma seita. O caso veio à tona quando a filha mais velha de Elisabeth, Kerstin teve que ser levada ao hospital de Amstetten, onde permanece internada em estado grave, e em coma induzido, com uma doença mantida em sigilo pelos médicos. No dia 19 de abril, o engenheiro aposentado concordou em levar a filha a um médico, com Elisabeth. Mas o pai não sabia que a mãe das crianças \u2013 que temia contar aos médicos o que enfrentava nos últimos 24 anos \u2013 havia escondido um bilhete na roupa da filha doente. (Veja trecho do texto escrito por Elisabeth).\ufeffOra, o fato comum é a inversão de papéis, de padrasto para esposo e de pai para esposo e nesse sentido a relação consanguínea deve ser considerada assim como a relação afetiva. Dando seguimento ao nosso estudo, trataremos sobre a violência psicológica e a negligência.
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