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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 – 7ª FASE TUT 4 – Cardiopatias congênitas e sopro Sopros cardíacos - O sopro cardíaco é resultado de um aumento de velocidade do fluxo sanguíneo e da maior turbulência desse fluxo. É um achado comum durante o exame pediátrico de rotina, sendo a causa mais frequente de encaminhamento para o cardiologista, mesmo que em sua maioria não seja considerado como patológico. - A avaliação do cardiologista é necessária sempre que houver suspeita de cardiopatia. Importante lembrar que a cardiopatia pode estar presente em pctes assintomáticos. Avaliação geral: avaliação geral é tão importante quando a específica do sistema cardiovascular. - Anamnese: • Primeiros 3 meses de gestação: uso de medicamentos ou drogas, álcool, DM materno, infecções; • História do parto: peso e estatura ao nascer, uso de oxigênio, sopro descoberto no berçário; • História de malformações extracardíacas; • RNs e lactentes: dificuldade para mamar, ↓ ganho de peso, taquipneia, sudorese, irritabilidade; • História de anemia, hipertireodismo • Pré-escolares e adolescentes: cansaço aos exercícios, síncope, hipodesenvolvimento. - Exame Físico: • Presença de malformações extracardíacas • Precórdio abaulado, hiperdinâmico à palpação; • Cianose, palidez; • Pulsos: ↓ ou ↑, diferença de palpação entre MMSS e MMII; • Sinais de IC: taquipneia, taquicardia, ↑ hepático, edema; • Intensidade do sopro, localização no tórax, localização no ciclo cardíaco, mudança da ausculta com mudança de decúbito, sopro contínuo ou diastólico; • Segunda bulha: intensidade, desdobramento; • Arritmia, ritmo em galope, estalidos. - Atendimento realizado em ambiente silencioso, com criança tranquila. - Crianças maiores: inicialmente em DDH e depois sentadas ou em pé, para observar mudanças nos sopros -> sopro inocente geralmente ↓ ou desaparece com a mudança de decúbito. - Deformidades torácicas- pectus carinatum ou pectus excavatum- podem se associar com sopro funcional devido posição do coração no tórax. - Ao detectar o sopro, analisá-lo de forma sistematizada, com análise cuidadosa para diferenciar entre inocente e patológico. Sendo assim, é necessário: • Classificar o sopro quanto a posição no ciclo cardíaco e definir características deste sopro; • Definir localização do sopro nas áreas de ausculta cardíaca; • Definir intensidade do sopro e se há ou não irradiação. - A intensidade do sopro revela a magnitude dentre 2 cavidades ou artérias. SOPRO INOCENTE - Alteração na ausculta que ocorre na ausência de anormalidade anatômica ou funcional do sistema cardiovascular. - Achado frequente, que acomete 50-70% das crianças, geralmente em idade escolar. Pode ser acentuado em presença de febre, anemia e ansiedade. Logo, em algum momento da vida será observado um sopro, por isso, é importante diferenciar um sopro inocente vs. patológico para tranquilizar família e evitar o desnecessário. - Características dos sopros inocentes: • Mais facilmente audíveis em estados circulatórios hipercinéticos -> febre, anemia; • Geralmente sistólicos, raramente contínuos. • Nunca são diastólicos. • Curta duração e baixa intensidade (graus I a III). • Não associa a frêmito ou a ruídos acessórios (estalidos, cliques). • Local: área pequena e bem definida, sem irradiação. • Bulhas sempre normais. • RX e ECG normais - Origem controversa, geralmente atribuídos a fluxos turbulentos, originados em áreas de estreitamento na saída dos VD e VE, ou em áreas de ramificações de artérias, e no caso do zumbido venoso à turbulência originada no retorno venoso. - Os fluxos turbulentos são mais audíveis em crianças do que adultos porque as vias de saídas são proporcionalmente mais estreitas, e as estruturas cardíacas ficam mais próximas da parede torácica que é mais delgada que a do adulto. - Os sopros inocentes mais frequentes em crianças são: 1. Sopro Vibratório de Still: + frequente - Detectado em 75-85% de crianças na idade escolar. Raro em lactentes. Características vibratórias, musicais, de baixa intensidade, nunca rude. - Mais detectado na borda esternal E média ou entre a borda esternal baixa e o apêndice xifoide, na posição supina e no começo da sístole. Pode desaparecer com pressão do aparelho sobre o tórax e a intensidade ↓ com posição ereta. - Dx diferencial: CIV de pequeno diâmetro, miocardiopatia hipertrófica → essas com sopros de maior intensidade, não se alteram com a posição e podem estar associados a frêmito. 2. Sopro de Ejeção Pulmonar: Sopro sistólico, no foco pulmonar, característica suave à ausculta e de ↓ intensidade. ↓ de intensidade com mudança de decúbito. Segunda bulha sempre normal. - Dx diferencial: sopro sistólico da CIA ou estenose pulmonar. 3. Sopro de Ramos Pulmonares: Mais frequente em RNs. Sopro sistólico, audível em região supraclavicular E, suave, sem irradiação. Causado pela transição do sangue do tronco pulmonar para os ramos, pouco desenvolvidos. 4. Sopro Supraclavicular: Sopro mesossistólico, que pode ser audível bilateralmente, mas é mais comum à direita, em região logo acima das clavículas. ↓ intensidade e s/ frêmito. 5. Zumbido Venoso: Causado pelo turbilhonamento da entrada do sangue na confluência das veias jugular interna, inominada e subclávia direita com a veia cava superior. - Audível suavemente na região da veia jugular externa. Acentuada com a criança sentada. Característica contínua, acentuada na diástole e desaparece na compressão jugular. O SOPRO PATOLÓGICO é causado por uma doença cardíaca. Possui características bem específica nas cardiopatias acianóticas e inespecífica na cianótica. - A 2ª bulha é muito importante na ausculta em crianças: quando o desdobramento fisiológico da 2 bulha desaparece, deve-se pensar em cardiopatia. CIRCULAÇÃO FETAL - No feto, a placenta é o principal órgão para oxigenação e trocas metabólicas, diferente do pulmão, que nessa fase sofre uma “exclusão parcial” do sistema circulatório, recebendo apenas 10% do DC. - A veia umbilical carrega o sangue rico em 02 que foi oxigenado pela placenta → veia umbilical entra no ducto venoso, onde vai ser conectada com veia cava para que o sangue oxigenado ganha a circulação de forma mais rápida (a outra metade vai para o fígado). → Sangue continua subindo, entra no coração pelo AD e passa para AE pelo forame oval (pressão maior no lado D que empurra), ai desce para VE e sobe sangue para aorta, distribuindo o sangue para o resto dos tecidos de maneira mais rápida. → Outra porção do sangue que não vai para aorta segue pela artéria pulmonar e ganha circulação pulmonar, mas existe o ducto arterioso que joga esse sangue direto para a aorta também. NA CIRCULAÇÃO NEONATAL, há ajustes circulatórios, com fechamento do forame oval, ducto venoso e ducto arterioso, além dos vasos umbilicais. - Aumenta pressão no AE que faz com que feche funcionalmente o forame oval, assim fica por semanas/meses, ai cria fibrose e fecha de vez. - Aumenta espessura da parede do VE e aumenta a sua função, pq ele trabalha com mais volume sanguíneo. - Aumenta [ ] de 02 que vai fechar o ducto arterioso pq sangue precisa chegar em grande qtd aos pulmões para que sejam oxigenados e voltem para o lado esquerdo pelos vasos pulmonares → AE → VE → aorta. Cardiopatias congênitas - As desordens cardíacas em crianças ocorrem, em sua maioria, devido a origem congênita, diferente dos adultos que tem origem isquêmica. - O dx dessas anomalias é feito em 40-50% dos pctes durante a primeira semana de vida, e em 50-60% por volta do primeiro mês após o nascimento. - As cardiopatias congênitas ainda são a principal causa de mortalidade em crianças com malformações congênitas. - Principais cardiopatias: • Comunicação Interventricular (CIV): 35-30% • ComunicaçãoInteratrial (CIA) secundum: 6-8% • Persistência do Canal Arterial: 6-8% • Coarctação de aorta: 5-7% • Tetralogia de Fallot: 5-7% • Estenose Pulmonar: 5-7% • Estenose Aórtica: 4-7% • Transposição de grandes vasos: 3-5% - A maioria dos defeitos são tolerados durante a vida neonatal devido à presença de circulação fetal. - São classificadas em apresentarem ou não cianose: • Shunt D -> E: cianose • Shunt E -> D: IC (acianose) ETIOLOGIA - Etiologia desconhecida, porém há algumas anomalias cromossômicas envolvidas em grande parte nos dx: • Sd de Edwards (18): CIV (95%) e Tetralogia de Fallot (25%); • Sd de Down (21): DSAV, CIV, CIA, tetralogia de fallot e coarctação de aorta; • Sd de Turner: estenose aórtica, valva aórtica bicúspide e coarctação de aorta. - Há tb alguns agentes teratogênicos, como: rubéola congênita, hidantoína, ácido valproico, álcool, ácido retinoico, warfarin, fenilcetonúria em mães, DM, LES. - Em sexos femininos, há maior frequência de defeitos CIA, CIV, PCA e estenose pulmonar. - Em sexos masculinos é mais comum a transposição de grandes vasos. Triagem pré-natal, diagnóstico e tto - DC é a principal causa de morte perinatal e infantil por anomalia congênita, embora os resultados tenham melhorado significativamente com o avanço das intervenções corretivas ou paliativa. Fatores de risco para cardiopatia congênita: prematuridade, histórico familiar, síndromes genéticas e problemas de saúde da EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 – 7ª FASE mãe, como DM, HAS, obesidade, dist da tireoide, além de tratamentos de fertilidade e infecção in útero. - Lesões de DCC envolvendo tratos de saída anormais (incluindo tetralogia de Fallot, dupla via de saída do ventrículo direito e transposição das grandes artérias) estão particularmente em risco de não serem identificados. A coarctação da aorta (COA) pode ser difícil de diagnosticar definitivamente no pré-natal, independentemente da técnica. - Um estudo descobriu que a taxa de detecção pré-natal de DCC crítica aumentou de 44 por cento em 2007 para 69 por cento em 2013. - A idade gestacional ideal para triagem de anomalias cardíacas fetais estruturais é de 18 a 22 semanas de gestação. Geralmente pela US padrão, que avalia as 4 câmaras cardíacas e vias de saída. Recém-nascidos sintomáticos: cárdio urgente - EF: buscar atividade precordial anormal, bulhas cardíacas anormais, sopros patológicos, pulso diminuído ou ausente, PPA anormal nas 4 extremidades. - Oximetria de pulso: avalia cianose. - RX: diferencia distúrbios cardíacos, além de avaliar causas não cardíacas também. - Ecocardiografia:dx definitivo com informações sobre anatomia e função cardíaca. O encaminhamento para ecocardio se dá quando há fatores de risco ou suspeita de US de anatomia obstétrica, realizadas no 2º trimestre. Deve ser realizada quando a sinais ou sintomas relativos a CC, achados de ECG ou RX sugestivos, achados do EF, triagem de oximetria de pulso positiva, malformação extracardíaca associada com malformações cardiovasculares (Sd. Down). Recém-nascidos assintomáticos - Triagem com oximetria de pulso para melhorar o reconhecimento, além de revisar a história e o exame d bebê. - Achados cardiovasculares sugestivos de CC merecem avaliação adicional ou encaminhamento: FC fora dos valores de 90-160, faz ECG; Oximetria de pulso – teste do coraçãozinho - Tenta reduzir taxa de mortalidade infantil por cardiopatias congênitas: objetivo é detecção das críticas que fluxo pulmonar ou sistêmico é dependente de canal arterial: atresia de artéria pulmonar, hipoplasia de coração esquerdo e coarctação grave de aorta, transposição de grandes vasos: geralmente não se manifestam clinicamente antes do fechamento do canal arterial: tenta detectar antes dos sinais clínicos. - Indicado em todo neonato com > 34 semanas de IG após 24 horas de vida e antes da alta da maternidade (48h). - Local: extremidade do MSD (que representa a saturação pré- ductal) e extremidade de um dos MMII (que representam a saturação pósductal): necessário que as extremidades estejam aquecidas no momento da avaliação. - Resultado normal: sat ≥ 95% em ambos os locais, e diferença menor que 3% entre as medidas do membro superior e inferior. - Resultado anormal: saturação < 95% ou se a diferença entre elas for > que 3%: nova aferição deverá ser feita após 1 hora, se mantém anormal criança deverá realizar um ecocardiograma nas próximas 24h. APGAR - Uma “prova” que avalia do RN pós-parto. Uma nota de 8 a 10, presente em cerca de 90% dos recém-nascidos, significa que o bebê nasceu em ótimas condições. Uma nota 7 significa que o bebê teve uma dificuldade leve. De 4 a 6, traduz uma dificuldade de grau moderado, e de 0 a 3 uma dificuldade de ordem grave. Nesses casos, é preciso tratamento rápido para evitar a anóxia, que é a falta de oxigenação. - É normal que, na avaliação do primeiro minuto, a nota seja um ou dois pontos mais baixa do que a registrada no quinto minuto. Se no quinto minuto de vida se obter um Apgar menor do que sete, os médicos vão continuar calculando o índice de 5 em 5 minutos, até os 20 minutos. Cardiopatias acianóticas COMUNICAÇÃO INTERATRIAL (CIA) - A comunicação entre os 2 átrios é indispensável à vida no período fetal, permite que o sangue venha da cava e vá para o corpo todo. - O septo interatrial é constituído por duas membranas, que por mecanismo valvular, permitem a passagem do sangue: o septo primum é fibroso e delgado, localizado inferiormente e do lado AE, enquanto o septo secundum é mais rijo e musculoso, situado no AD. - Após o nascimento, a resistência pulmonar ↓, a pressão no AD ↓, e cessa o shunt D -> E pelo forame oval, ocorrendo assim o fechamento funcional da comunicação interatrial, já que o fechamento anatômico acontece até o primeiro ano de vida. Os defeitos no desenvolvimento dessas estruturas são chamados de CIA. - Comum a associação com outra malformações cardíacas, com predomínio no sexo feminino de 2:1. As CIAs podem ser classificadas: • Ostium primum: comunicação é de localização baixa em relação às válvulas atrioventriculares; • Ostium secundum ou tipo fossa oval: mais superior. Mais comum. • Tipo seio venoso: localiza-se próxima à entrada da veia cava superior. FISIOPATOLOGIA - O fluxo E -> D, com AE e AD não é importante no RN e no lactente jovem, já que o VD oferece maior resistência uma vez que suas paredes são mais musculares e menos complacentes. Após 3-4 anos de vida, a complacência ventricular direita ↓, permitindo maior shunt E -> D. E a partir de então aparece os sintomas clínicos mais importantes → hiperfluxo pulmonar, retorno de sangue > AE, aumento do AD e VD (volume >), dilatação da artéria pulmonar, prolonga esvaziamento do VD. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Sintomas: geralmente as crianças são assintomáticas, com dx feito através do sopro. Em alguns casos pode haver: dispneia, palpitações, fadiga aos esforços, infecções respiratórias e déficit ponderal e raramente IC. - Sinais: desdobramento fixo e amplo de B2, sopro sistólico mais audível em borda esternal esquerda média e alta. - Se não corrigido, a CIA pode se manifestar na idade adulta com ICC e arritmias. DIAGNÓSTICO • RX: varia com a magnitude do shunt, ↑ do AD e VD, ↑ da trama vascular, tronco pulmonar abaulado, dilatação do ramo D (marcas de congestão pulmonar). • Ecografia: vê tamanho e posição da CIA, ↑ de AD e VD, quantificação entre fluxo pulmonar e fluxo sistêmico. • ECG: ritmo sinusal com onda P morfologicamente normal, se muda onda P sugere aumento do AD. EVOLUÇÃO E CONDUTA - A evolução natural é benigna, sendo os defeitos do ostium secundum assintomáticos até a terceira década de vida. - Complicações tardias: ICC, arritmias atriais, hipertensão pulmonar, insuficiência mitrale tricúspide. - A cirurgia eletiva deve ser realizada após 2 anos, para evitar ↑ do tamanho do AD e VD. Indicada em pctes sintomáticos e para aqueles s/ sintomas, mas que apresentam relação fluxo pulmonar/sistêmico de 2:1. - Pctes com pequenos defeitos do tipo ostium secundum não devem ser operados, pq fecha espontaneamente em 80% casos. COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR (CIV) - Cardiopatia congênita mais frequente (25-30%). As CIVs de grande tamanho, associadas a outros defeitos cardíacos. Porém, o mais comum é que esses defeitos congênitos sejam de tamanho médio ou pequeno e que evoluam com redução do seu diâmetro e fechamento espontêneo, na maioria dos casos, nos primeiros 2 anos de vida. - CIV perimembranosa: defeito mais comum (70%). Envolve septo membranoso e septo muscular. O feixe de hiss relaciona- se com a sua borda póstero-inferior. - CIV justatricuspídea: abaixo da valva tricúspide, não relacionada com o septo membranoso. - CIV justa-arterial duplamente relacionada: relacionada com as valvas ventrículo- arteriais (aórtica e pulmonar). - CIV muscular: sem relação com a valvas e o feixe de hiss. A comunicação muscular pode ser única ou múltipla, encontrando- se, em alguns casos, pequenas aberturas- “queijo suíço”. FISIOPATOLOGIA - Desvio de sangue do VE -> VD. A resistência, aumentada, da circulação pulmonar logo após o nascimento, impede que este shunt seja importante. Porém, com o decorrer do tempo, com a ↓ da pressão do leito pulmonar, há as manifestações da CIV. O tamanho da comunicação também determina aparecimento e gravidade dos sintomas. - CIV restritiva (< 0,5 cm²): pressão em VE > VD, limitando a magnitude do shunt E -> D. - CIV não restrita (> 1 cm²): o defeito é grande, de modo a equalizar as pressões entre os VD e VE. Dessa forma, a resistência pulmonar é determinante do sentido do fluxo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Depende da magnitude do shunt, que se inicia-se no final do 1 mês de vida, com instalação completa ao final do 3 mês. - No período neonatal imediato, o sopro pode não ser audível devido à pressão pulmonar ainda elevada. - Os sintomas variam de acordo com a relação de tamanho da CIV, cuja repercussão hemodinâmica é avaliada através da relação entre o fluxo pulmonar e sistêmico. QP/QS>1 • CIV pequena (relação Qp:Qs entre 1-1,5: 1): pressão em VD geralmente normal. Pcte assintomático, com bom desenvolvimento ponderoestatural. No exame físico identifica-se a 2 bulha discretamente ↑ e um sopro sistólico na borda esternal esquerda baixa. • CIV moderada (relação Qp: Qs entre 1,5-2:1): há hiperfluxo pulmonar, ↑ da sobrecarga em câmaras ventriculares. Sintomas de ICC, infecções respiratórias de repetição e déficit ponderoestatural. • CIV grande (relação Qp: Qs > 2:1): ↑ das cavidades esquerdas e grave congestão pulmonar. Manifestações clínicas exuberantes. - Ao exame físico, é possível encontrar: • Ictus deslocado lateral e inferiormente; • Frêmito paraesternal, na borda esternal esquerda; • Sopro sistólico na borda externa esquerda inferior holossistólico, rude e alto quando a CIV é pequena e menos rude quando a CIV é grande. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 – 7ª FASE • Componente pulmonar variável na segunda bulha cardíaca: normal se CIV pequena e hiperfonético na CIV grande. • Desdobramento da segunda bulha fisiológica. DIAGNÓSTICO - RX: em CIVs pequenas, o RX pode ser normal. Nas grandes pode ocorrer cardiomegalia, a. pulmonar ↑ e intensificação da trama vascular pulmonar. - Ecocardiograma: mostra a anatomia precisa do defeito. - ECG: normal quando a CIV é pequena. Em defeitos grandes, há padrão de sobrecarga biventricular. - Indicações de cateterismo: casos de dúvida persistente quando à magnitude do shunt; suspeita de associações com outros defeitos; estudo da pressão pulmonar. EVOLUÇÃO E CONDUTA - CIVs pequenas: fecham espontaneamente em 30-50% dos casos nos primeiros 2 anos de vida. Se o defeito septal for do tipo muscular, a taxa de fechamento é de 80% e se for de septo membranoso é de 35%. Sendo assim, CIVs pequenas e sem repercussão hemodinâmica não tem indicação de fechamento cirúrgico. - CIVs moderadas a grandes: o manejo é clínico e cirúrgico. • Clínico: diuréticos, digitálicos, IECAs e restrição hídrica → controle dos sintomas e crescimento adequado. • Cirurgia: indicado em pacientes de qualquer idade com defeitos significativos nos quais os sintomas de IC não puderam ser controlados clinicamente; • São esses: lactentes entre 6-12 meses com defeitos significativos mesmo que controlados clinicamente com hipertensão pulmonar e naqueles com mais de 2 anos, com uma relação Qp: Qs maior que 2:1, em crianças com grandes defeitos (> 1 cm²) a operação realizada durante o primeiro ano de vida previne a doença vascular pulmonar. PERSISTÊNCIA DO CANAL ARTERIAL - PCA - O fechamento funcional do canal ocorre em torno de 12h de vida, mas o fechamento anatômico se completa dentro de 14-21 dias após o nascimento. - Após o nascimento, como há ↓ na resistência vascular pulmonar, se houver a presença de um canal arterial patente, o fluxo irá se desviar da a. aorta para a a. pulmonar. - A PCA é mais comum em mulheres, e está associada à síndrome da rubéola congênita. FISIOPATOLOGIA - A persistência do canal em RNs a termo, é decorrente de um defeito na camada endotelial e da camada muscular média, sendo que seu fechamento espontâneo ou farmacológico é improvável. Já em prematuros, isso ocorre, não devido a defeitos estruturais, mas sim devido função de fatores como imaturidade e hipóxia, que agem ↓ a eficácia da contração ductal. A PCA em RNs prematuros é considerado uma complicação da doença da membrana hialina. - O desvio da a.aorta -> a. pulmonar depende do comprimento e do diâmetro do conduto e da diferença de pressão entre as duas circulações. - Em PCAs de pequeno tamanho, as pressões em AD e VD e a. pulmonar são normais. Já em ductos grandes, até 70% do DC do VE pode atingir a circulação pulmonar. - Pctes com PCA que não são operados, correm um grande risco de desenvolver doença vascular pulmonar. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Pulso de amplitude ↑; • Pulso palmar: valor de dx para diferenciação entre CIV e PCA no período neonatal; • PA divergente à custa de diastólica, que será ↓; • Precórdio hiperdinâmico; • Sopro sistólico em região infraclavicular E com irradiação para dorso; Sopro contínuo. • Cianose nos MMII, pela mistura de sangue entre a. aorta e a. pulmonar. (inverte o shunt) DIAGNÓSTICO - RX: em shunts maiores há ↑ de câmaras E, ↑ de trama vascular pulmonar e da a. aorta ascendente; - Ecocardiograma: relação AE/raiz da aorta superior a 1,5:1 é reflexo de ↑ AE secundário a um shunt. - ECG: sobrecarga biventricular ou com predomínio de VE. TRATAMENTO - Independentemente da idade, a conduta sempre visa fechar o canal arterial- cirurgicamente ou por meio de cateter em laboratório de hemodinâmica. - Mesmo os pequenos canais devem ser fechados para prevenção de endoarterite infecciosa e endocardite. - Cirurgia indicada em todos os pctes antes do primeiro ano de vida. - A indometacina é o fármaco de escolha para o fechamento medicamentoso do PDA. COARCTAÇÃO DA AORTA - Caracterizado por estreitamento em qualquer ponto da aorta, desde o arco transverso até a bifurcação ilíaca. Em 98% dos casos, as coarctações localizam-se abaixo da emergência da a. subclávia. - Pode ser uma lesão isolada ou associada a outras anomalias, sendo a mais frequente a válvula aórtica bicúspide (70% dos casos). - Malformação 2x mais comum no sexo masculino, e tb muito frequente na síndrome de Turner, onde 70% das mulheres acometidas apresentam coarctação da aorta + valva aórtica bicúspide. FISIOPATOLOGIA - Há diferentes níveis de gravidade, desdeestreitamento mais leves até os mais graves, havendo grande variedade de alterações hemodinâmicas. - Em obstruções graves: o VE irá desenvolver hipertrofia devido aumento da pré-carga-retorno venoso (obstrução da aorta- fechamento do canal arterial), e ↑ da pressão intracavitária irá se disseminar retrogradamente para o AE e veias pulmonares, gerando assim uma ICC esquerda. - Em obstruções leves: alterações hemodinâmicas são leves, sendo que o efeito clínico pode ser visto em fases mais tardias da vida (ex: adolescência). Ocorre hipertensão arterial. Pulsos femorais, tibiais posteriores e pediosos são fracos, ou não se palpam. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - RNs com Coarctação grave, irão desenvolver logo no nascimento ICC, cianose diferencial (apenas em MMII), hipoperfusão de extremidades e acidose metabólica. Porém, boa parte deles ainda pode ser assintomática. - Manifestações clássicas ao exame físico: diferenças entre amplitude de pulso e pressão sanguínea entre MMSS e MMII- femoral, poplíteo e pedioso- tem amplitude reduzida e podem estar ausentes em até 40% dos pctes. A palpação do pulso radial e femoral revela que o pulso na região inguinal é sentido mais tardiamente, pq fluxo da aorta descendente depende dos colaterais. - Pode ter fadiga, cefaleia, epistaxe. Sopro audível na fúrcula e interescapular. DIAGNÓSTICO - RX: quando sintomáticos, ocorre cardiomegalia. - ECG: sinais de hipertrofia biventricular ou apenas hipertrofia ventricular esquerda. (crianças maiores). - Eco: área de estreitamento aórtico, presença de anomalias associadas. Cateterismo pode auxiliar no dx. TRATAMENTO - Em neonatos com coarctação grave, o canal arterial deve ser mantido pérvio com o uso de prostaglandina. - Indicação para tto invasivo quando pctes sintomáticos e assintomáticos com HAS ou sinais de repercussão hemodinâmica. - TTO urgente em RN e lactentes com IC e eletivos nos pctes assintomáticos, no 1º ano de vida. Crianças sintomáticos com ICC devem ser tratadas e compensadas antes do procedimento operatório. - Tratamento: cirúrgico. Abre coarctação por cateterismo ou cirurgia ou dilatação com balão. Cardiopatias cianóticas TETRALOGIA DE FALLOT - É a cardiopatia congênita cianótica mais comum na infância, e resulta do desvio anterior do septo atrioventricular durante a embriogênese. - Composta por: • Estenose Pulmonar (obstrução-pode ser total). • Comunicação Interventricular perimembranoso, grande e não restrititva. • Dextroposição da aorta: cavalgamento é uma alteração essencial, podem de grau variável, se >50% há dupla via de saída do VD. • Hipertrofia ventricular direita (VD aumentado) - O defeito primário da T4F é o desvio anterior do septo infundibular (septo muscular que separa a via de saída aórtica e pulmonar). - A obstrução do fluxo sanguíneo arterial pulmonar é usualmente no nível do infundíbulo ventricular e válvula pulmonar. - A circulação colateral sistêmico-pulmonar é comum em pctes com atresia e CIV, podendo ser a única forma de suprimento sanguíneo pulmonar. - A artéria pulmonar principal é frequentemente pequena e encontra-se associada a graus variados de estenose de seus ramos. FISIOPATOLOGIA + vídeo da ISABELA EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 – 7ª FASE MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - A gravidade das alterações fisiopatológicas pode depender do grau de estenose. Se a estenose for discreta, haverá um predomínio do shunt E -> D (através do septo interventricular) e a cianose pode não ocorrer. - O retorno venoso para AD e VD é normal, porém, quando o VD se contrai, o sangue pobremente oxigenado é desviado e vai para a cavidade esquerda e para a aorta, gerando cianose. Além disso, o fluxo pulmonar é extremamente restrito devido à obstrução. - A cianose não é uma manifestação precoce da T4F, pois a persistência do canal arterial, por exemplo, permite um fluxo pulmonar adequado. Quando ele fechar, aí sim ocorrerá cianose. - Dependem da anatomia da doença. Em T4F com estenose pulmonar grave, a cianose é intensa desde o nascimento e o fluxo pulmonar dependente de canal arterial. - Na T4F com estenose pulmonar leve, o paciente pode ser acianótico- Fallot Rosa- com sopro cardíaco alto-ejetivo e sistólico, sinais/sintomas de ICC. - Arco aórtico à direita é achado comum nos pctes. Crianças podem ter baqueteamento digital e adotar posição de cócora para melhorar hipóxia. DIAGNÓSTICO - RX: criança maior com coração com a ponta desviada para cima e borda esquerda côncava: tamanco holandês. - ECG: desvio do eixo QRD para direita e hipertrofia do VD. - Angiotomo, RM: quando falta dados clínicos. TRATAMENTO - Evitar hipóxia e cianose - Oxigênio, morfina (taquipneia), beta-bloq (relaxa musculo infundibular), cetamina (sedar), bicarbonato de sódio, epinefrina - Se não melhorar, faz cirurgia quando urgência ou condição desfavorável. TRANSPOSIÇÃO DE GRANDES ARTÉRIAS - Tem topografia anormal da aorta, anterior e à direita em relação ao tronco pulmonar → a. aorta sai do VD e o tronco pulmonar sai do VE. - Há 2 circulações em paralelo: o retorno venoso segue do AD -> VD -> a. aorta. Já o sangue venoso pulmonar que retorna ao AE -> VE -> a. pulmonares. - Se não houver mistura entre as duas circulações, esse distúrbio torna-se incompatível com a vida. Sendo assim, a presença do forâme oval patente e da persistência do canal arterial logo após o nascimento permite a mistura parcial do sangue oxigenado e garante a sobrevida inicial desses RNs. - 50 % das crianças apresentam CIV associada. - A Transposição é mais comum em RN filhos de mães diabéticas, do sexo masculino e em crianças com deleção do cromossoma 22q. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - A idade de aparecimento dos sintomas depende da integridade do septo interventricular. Se o septo estiver íntegro, a cianose surge nas primeiras horas de vida (momento concomitante ao fechamento do canal arterial e ↓ da taxa de sangue misturado). - A primeira manifestação costuma ser cianose. - Em decorrência da hipóxia e acidose metabólica resultantes, desenvolve-se disfunção miocárdica com ICC: taquipneia, ocorrendo piora em 12-24h, cansaço as mamadas, gemências e palidez cutaneomucosa. - Exame físico: sempre há algum grau de cianose. O restante do exame dependerá das anomalias associadas. Em geral a segunda bulha é ↑ e única, devido à posição anterior da aorta. Não costuma haver sopro. DIAGNÓSTICO - RX: mediastino superior estreito, sendo a aparência da sombra cardíaca descrita como “ovo deitado”. - ECG: raramente útil, nesses casos. - Ecocardiografia: define conexões anormais e alterações associadas. TRATAMENTO - No RN cianótico, deve-se ↑ a mistura de sangue saturado e dessaturado, com infusão de prostagladinas E1, para manter o canal arterial pérvio. Além de mantê-lo aquecido e com controle de glicemia. - Em RN que permanecem cianóticos mesmo com prostaglandinas: atriosseptostomia de Rashkind, que consiste em comunicação entre o AD -> AE. - Procedimento cirúrgico definitivo: inversão arterial de Jatene. Deve ser realizado já nas primeiras 2 semanas de vida.
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