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DESCRIÇÃO Descrição e caracterização dos fármacos. Terapia antineoplásica. PROPÓSITO Compreender as principais classes de fármacos utilizados na prática clínica oncológica é essencial para entender de forma ampla as modalidades terapêuticas empregadas no tratamento do câncer e embasar os cuidados farmacêuticos direcionados ao paciente oncológico. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir a terapia-alvo molecular e os princípios fundamentais da terapia farmacológica do câncer MÓDULO 2 Identificar a farmacologia dos inibidores de quinases, agentes citotóxicos, antimetabólitos e antimicrotúbulos MÓDULO 3 Reconhecer a farmacologia dos hormônios e antibióticos antitumorais MÓDULO 4 Descrever a farmacoterapia de suporte para os efeitos colaterais associados ao uso de antineoplásicos INTRODUÇÃO Neste conteúdo, iremos abordar uma temática bastante interessante e que, associada ao aumento da expectativa de vida da população, torna-se cada vez mais necessário discutir: o tratamento oncológico. O câncer é uma doença complexa, associada a uma série de mitos que causam desconforto para os leigos. Precisamos quebrar a barreira do desconhecimento e discutir sobre a importância de estudar este tema. Ao final do nosso conteúdo, você poderá entender o tratamento do câncer e as principais formas de prevenir ou atenuar suas complicações. Vamos discorrer sobre a quimioterapia clássica e construir um racional do que é o tratamento oncológico. MÓDULO 1 Definir a terapia-alvo molecular e os princípios fundamentais da terapia farmacológica do câncer TERAPIA-ALVO MOLECULAR O câncer é um conjunto de mais de 200 doenças que apresentam alguma similaridade entre si. Contudo, seria muita ingenuidade nossa acreditar que todas essas doenças apresentam as mesmas características referentes à proliferação celular. Trata-se de um conjunto complexo de doenças, de diferentes órgãos, que, por essa razão, apresentam inúmeras diferenças no aspecto molecular. De forma geral, o câncer é proveniente de uma intensa proliferação celular, entretanto, com algumas diferenças das células do tecido de origem. Chamamos de carcinogênese o processo em que ocorre alguma modificação no material genético da célula, ocasionando um fenótipo diferenciado, com características de sobrevivência e proliferação mais acentuados. Podemos atribuir à carcinogênese algumas características, relacionadas ao estímulo que levou à modificação celular: CARCINOGÊNESE QUÍMICA Chamamos de carcinogênese química aquela originária da exposição a agentes químicos, como o álcool, o tabaco, o benzeno e muitas outras substâncias que, quando expostas aos mais variados tipos celulares, são capazes de induzir mutações em seu material genético, levando à formação de tumores. CARCINOGÊNESE FÍSICA Chamamos de carcinogênese física aquela na qual as mutações são originárias da exposição ao agente físico, como a radiação, fortemente associada ao desenvolvimento de tumores de pele, mas também a muitos outros tipos de câncer. CARCINOGÊNESE BIOLÓGICA Na carcinogênese biológica, vírus e microrganismos induzem o processo tumoral. Um exemplo de destaque é a forte associação entre o desenvolvimento de tumores de colo de útero e o vírus do papiloma humano (HPV). ATENÇÃO O que precisa ficar claro neste processo é que nem toda formação tumoral é um câncer. A proliferação celular mais acentuada pode ter como resultado a formação de um tumor benigno, que, por característica, apresenta crescimento mais lento, estrutura mais organizada, sendo mais facilmente removido por um procedimento cirúrgico e sem a capacidade de invasão a outros tipos celulares, como vemos no outro tipo de tumor: os tumores malignos. Esses são chamados de malignos pelas suas características de crescimento acelerado, capacidade de invasão a outros tecidos e de proliferação em local diferente de seu local de origem (metástase), além da dificuldade de tratamento direcionado, necessitando de complexos esquemas farmacológicos e não farmacológicos para tratamento. Imagem: Shutterstock.com, Adaptado por Thaiane Andrade e Rossana Ramos ILUSTRAÇÃO REPRESENTATIVA DE UM TUMOR BENIGNO. Imagem: Shutterstock.com, Adaptado por Thaiane Andrade e Rossana Ramos ILUSTRAÇÃO REPRESENTATIVA DE UM TUMOR MALIGNO. No início do desenvolvimento dos tratamentos oncológicos, foram utilizados medicamentos com pouca especificidade, ou seja, medicamentos que tinham seu mecanismo de ação voltado para estruturas que atacariam a célula tumoral, destruindo-as e cumprindo o seu papel. Esses medicamentos seriam fantásticos e isentos de efeitos adversos se tivessem apenas a célula tumoral como alvo, o que claramente não era possível de acontecer dada a limitação de técnicas e de conhecimentos de tempos passados. Infelizmente, esses medicamentos também exerciam seus efeitos sobre as células sadias, acarretando inúmeros efeitos adversos, como: complicações hematológicas, disfunções neurológicas e muitos outros. Esse tipo de tratamento ainda é adotado na prática clínica atual, mas vem perdendo espaço ao longo dos anos, ou vem sendo incrementado com a utilização de medicamentos mais específicos, com alvos de ação mais bem definidos e com certa especificidade. Por outro lado, os avanços da biologia molecular surgiram trazendo a elucidação de novas vias de sinalização, novas cascatas intracelulares e atribuições para proteínas e estruturas anteriormente desconhecidas ou chamadas de sem função. Todos esses avanços, no longo ou curto prazo, trouxeram muitos benefícios aos tratamentos oncológicos. Esses benefícios podem ser divididos em dois grandes grupos: Benefícios diagnósticos Permitem evidenciar mínimas alterações com enorme impacto na terapêutica. Benefícios de tratamento Uma vez identificada uma mutação ou uma hiperexpressão de determinada proteína induzida pelo tumor, é favorecida a utilização de medicamentos voltados para este ligante em específico. O que falamos até aqui nos dá uma breve definição de terapia-alvo. Não se trata apenas de um avanço no campo molecular, mas de uma mudança de percepção multidisciplinar sobre o câncer. Esse avanço permitiu o que encontramos hoje de mais moderno nos tratamentos oncológicos, como as terapias inovadoras que trouxeram muitos benefícios aos pacientes, tais como os anticorpos monoclonais, os inibidores tirosino-quinase e as imunoterapias. Para entrarmos neste conteúdo tão amplo, precisamos nos aprofundar mais no conceito de alvos terapêuticos para estes novos agentes antitumorais. De antemão, é fundamental destacar que um bom alvo molecular é aquele que somente existe na célula tumoral, ou aquele que, quando existente em demais tecidos, apresenta-se em número elevado nas células do tumor. Um excelente exemplo desse racional é o domínio de membrana HER2 (human epidermal growth factor receptor 2), um fator de crescimento presente no tecido mamário sadio. Esse fator pode apresentar elevação de sua expressão em alguns tumores, o que o torna excelente alvo para a ação de medicamentos direcionados, a nossa terapia-alvo. Conceitualmente, podemos dizer em linhas gerais que: Terapia-alvo é o uso de fármacos direcionados a alvos moleculares específicos, com o intuito de bloquear o crescimento e a disseminação de células tumorais, por diferentes vias. Conforme falamos anteriormente, câncer é um termo genérico que carrega consigo inúmeras doenças e muitas modificações moleculares. Essa modalidade de terapia confere ao tratamento oncológico a enorme possibilidade de abordagens terapêuticas cada vez mais individualizadas. É possível, atualmente, que um indivíduo portador de alguma doença neoplásica faça uma biópsia de seu tumor e encaminhe o material para análise. Dessa forma, é feita a identificação de alterações de expressão do perfil genético e das proteínas específicas por eles codificadas. Essas proteínas, quando relacionadas à sobrevivência da célula tumoral ou à sua proliferação, são excelentes alvos e passíveis da utilização de medicamentos com maiorespecificidade. Felizmente, já é possível a realização desses testes no Brasil, o que é um divisor de águas nos tratamentos mais atuais. Uma forma didática de falar sobre a terapia-alvo é fazer uma correlação entre a sua forma de ação, que pode ser sobre a própria célula tumoral, ou sobre o seu redor, o qual chamamos de microambiente tumoral. Antigamente, nos livros mais clássicos de oncologia, equivocadamente, um tumor era apresentado como uma entidade isolada e sem conexão com o tecido no qual se encontrava. Atualmente, esse modo de vê-lo caiu em desuso. Sabemos que os tumores se encontram circundados e até mesmo entremeados por um complexo conjunto de células, cofatores e citocinas, que compõem o microambiente tumoral, como ilustra a figura ao lado. Imagem: Frontiers in Oncology / Wikimedia Commons / CC BY 3.0, Adaptado por João Maia e Rossana Ramos Quando olhamos para a terapia-alvo que visa à célula tumoral, podemos sem medo associar essa modalidade de tratamento à indução do processo de apoptose (ou morte celular programada). Os fármacos têm como alvo proteínas específicas que regulam a sobrevivência e a proliferação celular. São bons exemplos de alvo as proteínas inibidoras de apoptose, as caspases e a proteína Bcl-2. Uma vez bloqueados por fármacos, as células tumorais têm vias de sinalização importantes comprometidas e entram em processo de apoptose. Um êxito para os fármacos utilizados. Quando olhamos para o microambiente tumoral, são inúmeras as possibilidades de utilização de terapia-alvo. Nessa região, encontram-se células do sistema imunológico, fibroblastos associados às células tumorais, e células endoteliais vasculares. Essas células vizinhas são bastante úteis aos tumores, ao propiciarem condições de sobrevivência da célula tumoral no tecido em que se encontra, via liberação de citocinas e cofatores de crescimento úteis no processo de nutrição e proliferação tumoral. Suprimir, via bloqueio de alvos específicos neste local, também é uma estratégia de terapia-alvo de enorme impacto nos tratamentos oncológicos. TIPOS DE TERAPIA-ALVO MOLECULAR Vejamos alguns tipos de terapias cujo fármaco atua em alvos moleculares. INIBIDORES DA PARP Fármacos como o Olaparibe e o Niraparibe são classificados como inibidores da enzima PARP (ou poli-ADP-polimerase) utilizados atualmente nos tumores de ovário, que têm a mutação dos genes BRCA1 e BRCA2. Essa mutação confere maior proliferação celular, justamente onde atua a enzima PARP. Nesse caso de superexpressão da enzima, esses inibidores são úteis no tratamento de tal tipo tumoral. SAIBA MAIS Você já deve ter visto nas mídias sociais que algumas mulheres (em especial, aquelas com casos familiares de câncer de mama e ovários) fazem cirurgias de retirada das mamas e outros órgãos, como útero e ovários. Isso se deve às mutações de BRCA1 e BRCA2, que podem ser herdadas e já se encontram bem descritas na literatura associadas a uma probabilidade mais elevada de apresentar câncer nestes órgãos. Esses genes estão envolvidos em processos de reparação celular, recombinação, transcrição e controle do ciclo celular. Diante de tudo isso, fica claro que essas mutações podem sem dúvida aumentar a susceptibilidade ao câncer INIBIDORES DE PROTEASSOMAS Fármacos como o Bortezomibe, Carfilzomibe e o Ixazomibe representam os inibidores de proteassoma e são especialmente empregados no tratamento do mieloma múltiplo, uma doença oncológica bastante expressiva em pacientes idosos. O mecanismo desses fármacos consiste em inibir os proteassomas, regulando a proliferação celular, levando a célula tumoral à apoptose. PROTEASSOMA O proteassoma é uma entidade celular dedicada à destruição de estruturas proteicas, especialmente após elas terem desenvolvido suas atividades. INIBIDORES DE TIROSINO-QUINASES Domínios de membrana do tipo tirosina-quinase desempenham um importante papel na regulação de muitos eventos celulares, como a proliferação, crescimento, migração e angiogênese, atividades fundamentais para o desenvolvimento dos tumores, mas também de células sadias. Esses domínios necessitam ligar-se ao ATP (adenosina trifosfato) para promover seus estímulos intracelulares, e é justamente aqui que se encaixam os inibidores de tirosina-quinase. Esses fármacos mimetizam o papel do ATP e promovem a inibição de cascatas intracelulares, das mais diversas possíveis. Vamos discutir melhor os fármacos deste grupo no próximo módulo. Imagem: GOODMAN, 2018. P. 1484. javascript:void(0) Os inibidores de tirosino-quinases e anticorpos monoclonais. Todas as classes de fármacos apresentados até o momento representam o que chamamos de pequenas moléculas. Fica fácil entendermos o motivo dessa denominação: os fármacos têm alvos muito específicos e, geralmente, intracelulares, o que exige que tenham peso molecular reduzido. ANTICORPOS MONOCLONAIS Este grupo de moléculas representa um divisor de águas no tratamento oncológico. Em virtude de seu tamanho, esses agentes atuam em diferentes alvos extracelulares. O entendimento dos mecanismos de ação dos anticorpos monoclonais depende de uma breve revisão de imunologia. Chamamos de monoclonal aquele anticorpo que possui apenas um epítopo de ligação, ou seja, aquele que se liga a apenas um exclusivo ligante (ou antígeno). Ao se ligar, um anticorpo monoclonal impede a ligação e interação de um ligante fisiológico com este domínio de membrana extracelular, o que, em linha gerais, compromete as mesmas funções das células tumorais que explicamos anteriormente: proliferação, crescimento, migração e angiogênese. Alguns tipos de tumores apresentam a expressão de domínio de membrana aumentada, ou até mesmo com algum tipo de mutação, sendo alvo da ação destes anticorpos. Entretanto, outra forma de ação interessante para os anticorpos monoclonais no tratamento do câncer consiste em mobilizar e ativar células do sistema imunológico (em especial, linfócitos), para que essas levem à destruição da célula tumoral, o que chamamos de imunoterapia. Ficaríamos horas aqui falando sobre os anticorpos monoclonais e suas inúmeras aplicabilidades no tratamento oncológico, mas, de forma resumida, eles atuam, principalmente, contra estruturas moleculares já bem caracterizadas, como: os fatores de crescimento epidermal (EGF), os fatores de crescimento vascular endotelial (VEGF) e muitos outros antígenos que podem ser alvos de bloqueio por estas estruturas. Anticorpos como o Trastuzumabe, Rituximabe e Cetuximabe foram revolucionários e representam um divisor de águas, respectivamente, no tratamento do câncer de mama, leucemias e linfomas e tumores de cólon. A figura que ilustra “Os inibidores de tirosino-quinases e anticorpos monoclonais” mostra a atuação dessas moléculas no ambiente extracelular. Para aprofundar um pouco mais as aplicabilidades na clínica dos anticorpos monoclonais conjugados aos fármacos, assista ao vídeo a seguir: ANTICORPOS MONOCLONAIS CONJUGADOS A FÁRMACOS O futuro reserva ainda muitas novidades e avanços no tratamento oncológico, em todas as suas modalidades. Para que essa afirmativa seja cada vez mais real, faz-se necessário o empenho dos estudantes e profissionais em desvendar a farmacologia clássica e todas as suas nuances, que, sem dúvida, abrem espaço para novas possibilidades, cada vez com mais assertividade. As duas modalidades a seguir mesclam os conhecimentos clássicos com as inovações que veremos muito em breve na terapêutica: VACINAS TERAPÊUTICAS As vacinas são grandes aliadas nos processos de imunização contra patógenos ao longo de muitos anos. Entretanto, o tratamento oncológico também pode se beneficiar com isso. As vacinas terapêuticas são destinadas a antígenos específicos de cada tumor, sensibilizando as células do sistema imunológico a reconhecerem as células tumorais, que apresentam esse antígeno, e atacá-las. Tal abordagem é especialmente promissora para pacientes que apresentam mutações já bem descritas, o que comprometeria menos os tecidossadios, sendo o processo de criação da vacina a partir do próprio tumor do indivíduo. VOCÊ SABIA Atualmente, encontra-se disponível para uso a Sipuleucel-T, uma vacina que demanda a coleta de sangue do paciente para o isolamento de suas células dendríticas, que serão estimuladas in vitro para produzir uma resposta imunológica forte contra as células do câncer de próstata. Algumas outras encontram-se ainda em fase de testes clínicos, para, em breve, auxiliar o tratamento de outros tipos tumorais. TERAPIA GÊNICA Até pouco tempo atrás, falar em terapia gênica era pouco provável. No entanto, os avanços da biologia molecular nos permitiram compreender que é possível alterar o material genético das células, em especial, da célula tumoral. Essa abordagem, de forma simplista, mas com uma complexa metodologia, é baseada em introduzir fitas de DNA e RNA na célula tumoral para promover um desajuste em seus processos de crescimento e proliferação. Com isso, a célula perde suas capacidades e entra em processo apoptótico. EXEMPLO Como um exemplo interessante, podemos citar a utilização de silenciadores de RNA, que levarão à deficiência de determinados segmentos gênicos, impossibilitando atividades fundamentais para a célula tumoral. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O TRATAMENTO DO CÂNCER VEM EVOLUINDO DIA APÓS DIA. ATUALMENTE, OS TRATAMENTOS TENDEM A SER MAIS ESPECÍFICOS, DIRETOS E COM MENOR PADRÃO DE EFEITOS ADVERSOS. UMA MODALIDADE DE TRATAMENTO QUE CORRESPONDE A ESTA AFIRMATIVA É: A) Cirurgia laparoscópica B) Medicina antroposófica C) Terapia-alvo D) Medicina ortomolecular E) Homeopatia 2. FELIZMENTE, O TRATAMENTO DO CÂNCER ESTÁ CAMINHANDO PARA TRATAMENTOS MAIS COMPLEXOS DO PONTO DE VISTA MOLECULAR. ESSES AVANÇOS REFLETEM EM ACRÉSCIMOS PARA A QUALIDADE DE VIDA DOS DOENTES, EM ESPECIAL, AQUELES QUE SE ENCONTRAM EM TRATAMENTO COM TERAPIA-ALVO MOLECULAR. MARQUE ABAIXO A OPÇÃO QUE REPRESENTA DUAS ABORDAGENS DE TERAPIA-ALVO MOLECULAR: A) Quimioterapia clássica e radioterapia B) Quimioterapia clássica e anticorpos monoclonais C) Radioterapia clássica e inibidores de proteassoma D) Inibidores de tirosina-quinase e anticorpos monoclonais E) Inibidores da PARP e quimioterapia clássica GABARITO 1. O tratamento do câncer vem evoluindo dia após dia. Atualmente, os tratamentos tendem a ser mais específicos, diretos e com menor padrão de efeitos adversos. Uma modalidade de tratamento que corresponde a esta afirmativa é: A alternativa "C " está correta. A terapia-alvo visa tratamentos com mais assertividade e menor apresentação de efeitos adversos por distinguir melhor os alvos terapêuticos. 2. Felizmente, o tratamento do câncer está caminhando para tratamentos mais complexos do ponto de vista molecular. Esses avanços refletem em acréscimos para a qualidade de vida dos doentes, em especial, aqueles que se encontram em tratamento com terapia-alvo molecular. Marque abaixo a opção que representa duas abordagens de terapia-alvo molecular: A alternativa "D " está correta. Representam mais assertividade e alvos mais bem definidos os inibidores de tirosina-quinase e anticorpos monoclonais. MÓDULO 2 Identificar a farmacologia dos inibidores de quinases, agentes citotóxicos, antimetabólitos e antimicrotúbulos INIBIDORES DE QUINASES A oncologia depende de muitas descobertas do ponto de vista molecular. A bioquímica clássica nos trouxe muita informação sobre as proteínas quinases, que são enzimas que catalisam a fosforilação de outras proteínas no ambiente intracelular, dependendo para isso de uma molécula de ATP (adenosina trifosfato). Em linhas gerais, essa fosforilação ativa cascatas de sinalização intracelular que culminam em muitos eventos celulares, como a proliferação, a diferenciação, a capacidade de sobrevivência e inclusive o processo de apoptose. Muitos são os domínios de membrana do tipo quinase, que são alvos farmacológicos no tratamento do câncer. Neste módulo, vamos apresentar as principais características daquelas mais expressivas do ponto de vista clínico, como podemos ver a seguir, e exemplificado na figura: Imagem: Shutterstock.com, Adaptado por João Maia e Rossana Ramos Exemplo de ação dos inibidores de quinases. INIBIDORES DA RAF-CINASE (Vemurafenibe e Dabrafenibe) Fármacos orais utilizados no tratamento do melanoma de pacientes que apresentam mutação BRAF, mas também no tratamento do câncer de pulmão que apresente esta mutação. Estes fármacos são substratos da CYP3A4, o que lhes confere possibilidades de interações medicamentosas. Os efeitos adversos mais comuns do Vemurafenibe incluem distúrbios cutâneos, fadiga e náuseas. Já o Dabrafenibe expõe os pacientes usuários a quadros de cefaleia e pirexia. Ambos os fármacos estão associados à artralgia, que deve ser monitorada. BRAF O gene BRAF é um importante gene que regula o crescimento e a proliferação celular. Quando sofre mutação, em especial no melanoma, confere maior possibilidade de metástase. Entretanto, é preciso destacar, em contrapartida, que essa mutação gera a possibilidade de tratamento com fármacos eficazes, como os inibidores da RAF e inibidores da MEK, que veremos a seguir. javascript:void(0) INIBIDORES DA MEK (Trametinibe e Cobimetinibe) Fármacos orais que inibem esse complexo enzimático, reduzindo o crescimento das células. O Trametinibe inibe de forma reversível a ligação do ATP à proteína MEK, sem ser substrato de nenhuma via de biotransformação. Seus efeitos adversos incluem vermelhidão com prurido, dermatite acneiforme, diarreia e fadiga. Já o Cobimetinibe inibe, também de forma reversível, a atividade da proteína quinase MEK. Trata-se de um fármaco substrato da CYP3A4, sendo necessário cautela caso seja necessário o tratamento com outro fármaco também substrato desta via, como o Fluconazol e o Cetoconazol. Seus efeitos adversos incluem diarreia, reação de fotossensibilidade, náuseas e vômitos. INIBIDORES DA JAK (Ruxolitinibe) Fármaco oral análogo do ATP que inibe as atividades da proteína JAK, responsável pela sinalização de citocinas, fatores de crescimento hematopoiéticos e na função hematológica. Utilizado no tratamento da mielofibrose e da policitemia. Seu uso está associado a quadros de anemia e trombocitopenia. Novamente, estamos diante de um fármaco metabolizado pela CYP3A4. INIBIDORES DE QUINASES DEPENDENTES DE CICLINAS (CDK) Fármacos como o Palbociclibe, Abemaciclibe e Ribociclibe são pertencentes a esta classe e são classificados como inibidores de CDK, com expressiva atuação frente ao tratamento do câncer de mama metastático. Em linhas gerais, seu mecanismo de ação se dá por inibição das ciclinas, que controlam a progressão do ciclo celular. Uma célula tumoral que tenha seu ciclo celular interrompido perde sua capacidade de proliferação. Seu uso está associado a quadros de neutropenia, leucopenia, infecções e diarreia. INIBIDORES DE BTK (Ibrutinibe) Forma oral que inibe a proteína BTK próximo ao sítio de ação do ATP, com um importante papel na função das células B. Utilizado no tratamento das leucemias, este fármaco expõe os pacientes a neutropenia, trombocitopenia, hemorragias, anemia, diarreia e intensa fadiga. Também substrato da CYP3A4. INIBIDOR DA BCR-ABL (Imatinibe, Nilotinibe e Dasatinibe) Fármacos orais que inibem o domínio BCR-ABL, utilizados no tratamento de leucemia e do GIST (tumor estromal gastrointestinal). Esses fármacos estão associados a quadro de diarreia, náuseas e vômitos, sendo que alguns pacientes apresentam um intenso edema após a utilização. INIBIDORES DA ALK (Alectinibe, Crizotinibe e Ceritinibe) Fármacos orais utilizados no tratamento de tumores de pulmão metastático, associados a distúrbios gastrointestinais, toxicidade hepática, ocular e neuropatias. INIBIDORES DE MÚLTIPLAS QUINASES (Cabozantinibe) Fármaco oral que atua frente a múltiplos domínios do tipo quinase, controlando a proliferação celular, a manutenção do ambiente tumoral, a angiogênese e a disseminação do tumor. Utilizado no câncer renal, sendosubstrato para o sistema CYP3A4, apresentando como principais efeitos adversos a ocorrência de diarreia, fadiga, náuseas, perda de apetite e podendo levar a quadros de hipertensão arterial. No vídeo a seguir, você conhecerá as principais pesquisas genéticas realizadas e suas implicações em tratamentos cada vez mais assertivos e eficientes. FARMACOGENÉTICA E MEDICINA PERSONALIZADA AGENTES ANTIMETABÓLITOS Por característica, as células tumorais apresentam uma intensa capacidade de proliferação. Nesse sentido, agentes quimioterápicos capazes de substituir peças-chaves para o processo de proliferação tornam-se excelentes ferramentas do controle das doenças neoplásicas. Destacam-se neste complexo grupo de fármacos dois grandes grupos, como apresentados a seguir: INTERFERENTES DE PRECURSORES DE BASES ANÁLOGOS DE NUCLEOSÍDEOS E NUCLEOTÍDEOS INTERFERENTES DE PRECURSORES DE BASES Os principais fármacos de destaque deste grupo são os análogos do ácido fólico – Metotrexato, Raltitrexede e Pemetrexede – Fármacos que apresentam como mecanismo de ação a inibição da enzima dihidrofolato redutase, reduzindo, após outras etapas, a formação de purinas (adenina e guanina). A diminuição da produção de nucleosídeos promove descompensações no processo de replicação do material genético, levando à redução dos tumores. Diante da baixa seletividade, por inibir também a enzima em tecidos sadios, o uso desses fármacos apresenta como efeitos adversos as toxicidades hematológicas (em especial, na medula óssea) e gastrointestinais. O Raltitrexede e o Pemetrexede são utilizados no tratamento do câncer de pulmão, enquanto o Metotrexato é um quimioterápico versátil utilizado no tratamento de muitas doenças oncológicas e não oncológicas, como artrite e psoríase. ANÁLOGOS DE NUCLEOSÍDEOS E NUCLEOTÍDEOS Neste grande grupo, observamos muitos fármacos com modificações, mas que mesmo assim apresentam semelhança estrutural com as bases de nitrogenadas (as purinas e as pirimidinas). De uma forma geral, o mecanismo de ação destes fármacos é alterar as atividades referentes ao material genético (transcrição, tradução e função) ao se incorporar no local dos nucleotídeos ou nucleosídeos corretos. Dessa forma, as principais enzimas que fazem os processos, ou as enzimas de reparo, têm sua atividade interrompida por esses fármacos, e a célula tumoral é levada à apoptose. O quadro a seguir sintetiza os principais fármacos análogos de nucleosídeos e nucleotídeos , suas bases correspondentes e utilização: Grupo Fármaco Mecanismo de ação Utilização Via Efeitos adversos Análogos de pirimidinas 5-Fluorouracila (-) timidilato sintase Mama, GI (Gastrointestinal) , CP (Cabeça e pescoço) IV (Intravenoso) NVIQ (Náuseas e vômitos induzidos pela quimioterapia) , diarreia, mucosite, TH (Toxicidade hematológica) Capecitabina (-) timidilato sintase Mama e colorretal VO (Via oral) NVIQ, diarreia, mucosite, TH Citarabina (-) DNA- polimerase Leucemias e linfomas IV (Intravenoso) IM (Intramuscular) IT (Intratecal) SC (Subcutâneo) Distúrbios GI, MS (Mielossupressão) , dermatite Gencitabina (-) DNA- polimerase Pâncreas, ovários, bexiga e pulmão IV MS, hepatotoxicidade Azacitidina (-) DNA- citosina- metiltransferase Síndrome mielodisplásica IV SC MS e NVIQ Decitabina (-) DNA- citosina- metiltransferase Síndrome mielodisplásica IV MS e NVIQ Análogos de Purinas Fludarabina (-) função do DNA e RNA Leucemias e linfomas IV VO NVIQ, MS, mielodisplasia Cladribina (-) conversão de RNA em DNA Leucemias e linfomas IV VO NVIQ, MS, febre, síndrome de lise tumoral 6- mercaptopurina (-) síntese de purinas Leucemias e linfomas, doenças autoimunes VO NVIQ, MS, neoplasias secundárias Quadro: Resumo dos antimetabólitos. Adaptado de GOODMAN, 2018. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal AGENTES ANTIMICROTÚBULOS Os microtúbulos são estruturas fundamentais em muitos processos celulares, como a manutenção e a formação do esqueleto celular, a contratilidade e a formação do fuso mitótico, essencial para a divisão celular, vide figura a seguir. Imagem: Shutterstock.com, Adaptado por Rossana Ramos Os microtúbulos (linhas tracejadas) e a divisão celular. Uma estratégia interessante de controle de proliferação de células oncológicas consiste em promover a desordem dos microtúbulos, conforme apresentado nas classes a seguir: ALCALOIDES DA VINCA (Vincristina, Vinorelbina, Vimblastina) Fármacos derivados da planta pervinca que bloqueiam as células em mitose, com o mecanismo de ação voltado à ligação a unidades de tubulina, bloqueando sua polimerização e evitando a formação do fuso mitótico, o que culmina em incompleta divisão dos cromossomos e morte celular. Fármacos associados a uma intensa mielossupressão e toxicidade neurológica (principalmente neuropatias), cessadas gradativamente com a interrupção do uso. Esses fármacos são utilizados, principalmente, em tumores de mama, pulmão, linfomas e leucemias, especialmente, em pacientes pediátricos. Imagem: Shutterstock.com Pervinca, planta de jardim da qual são extraídos potentes quimioterápicos. ERIBULINA Fármaco derivado da esponja marinha Halichondria okadai. Age pelo mesmo mecanismo de ação dos alcaloides da vinca. Utilizada exclusivamente no tratamento do câncer de mama, apresenta como efeitos adversos a neuropatia periférica, toxicidade hematológica e gastrointestinal. TAXANOS (Paclitaxel, Cabazitaxel, Docetaxel) Compostos derivados de produtos naturais da casca do teixo. Diferentemente dos fármacos apresentados anteriormente, estes, em vez de inibir a polimerização dos microtúbulos, evitam sua desmontagem, interrompendo desta forma o processo de divisão celular e levando a célula à morte. Fármacos versáteis, utilizados no tratamento de muitos tipos de tumores, com destaque para os de mama, próstata, geniturinários, de cabeça e pescoço e outros. Seus efeitos adversos mais comuns incluem toxicidade hematológica, neuropatia periférica intensa e mucosites. Imagem: Shutterstock.com Taxus brevifolia (Teixo), planta nativa do pacífico que deu origem ao quimioterápico Paclitaxel. Podemos ver com clareza a principal diferença de mecanismo de ação entre os fármacos alcaloides da vinca e os taxanos na figura a seguir. Imagem: GOODMAN, 2018. P. 1459. Diferença de ação entre os fármacos taxanos e os alcaloides da vinca. ESTRAMUSTINA Fármaco que promove a desorganização dos microtúbulos, levando a efeito antimitótico. Utilizado no câncer de próstata, com pouca aplicabilidade clínica, associado a efeitos adversos como a toxicidade hematológica e efeitos estrogênicos. OUTROS AGENTES CITOTÓXICOS Muitos outros fármacos compõem o enorme grupo dos antineoplásicos, e, dentro dessa classificação, muitas outras surgem para reuni-los segundo sua origem química ou tipo de mecanismo de ação. Vejamos a seguir: ANÁLOGOS DA CAMPTOTECINA (Irinotecano e Topotecano) Fármacos que têm um mecanismo de ação centrado na inibição da enzima topoisomerase I, enzima que distorce o DNA para que ele seja transcrito. O Irinotecano é majoritariamente utilizado no tratamento dos tumores gastrointestinais e do sistema nervoso central, enquanto o Topotecano é mais utilizado no tratamento do câncer de pulmão. Ambos os fármacos expõem os pacientes principalmente à diarreia e à toxicidade hematológica. EPIPODOFILOTOXINAS (Etoposido e Teniposido) Estes fármacos inibem a topoisomerase II, impedindo o reparo dos filamentos de DNA após transcrição. O Etoposido é utilizado no tratamento de leucemias e linfomas, tumores testiculares e de pulmão. Já o Teniposido, pouco utilizado na prática clínica, é utilizado no tratamento de leucemias e tumores cerebrais. Esses fármacos expõem os pacientes à diarreia, à alopecia, à toxicidade hematológica e à mucosite. AGENTES ALQUILANTES Esta classe de quimioterápicos é composta por subclasses distintas, de acordo com sua estrutura química e origem. Seu mecanismode ação é centrado em interagir quimicamente com os filamentos de DNA e RNA, formando ligações covalentes fortes com estes, impedindo que sejam substratos para as vias enzimáticas de transcrição e tradução, além de impedir que esses filamentos sejam substratos das enzimas de reparo. Estas atividades levam as células à morte. COMPOSTOS METÁLICOS DE PLATINA (Carboplatina, Cisplatina e Oxaliplatina) Estes fármacos se assemelham quanto a um centro de coordenação com um átomo de platina. Semelhantemente aos agentes alquilantes, estes agentes também se ligam ao DNA, impedindo o desenvolvimento de sua função. Apresentam um amplo espectro de ação, como o tratamento de tumores gastrointestinais, ovários, cabeça e pescoço e outros. Quanto à toxicidade, ambos compartilham características comuns como a mielotoxicidade, nefrotoxicidade e toxicidade neurológica, especialmente neuropatias periféricas. É necessária a atenção ao uso de Cisplatina, em razão dos riscos de ototoxicidade, especialmente, na infância, quando existe a possibilidade de surdez permanente. Podemos ver mais detalhes da classe de agentes alquilantes no quadro a seguir. Grupo químico Fármaco Utilização Via Efeitos adversos Mostardas nitrogenadas Ciclofosfamida Tumores sólidos e hematológicos IV (Intravenoso) VO (Via oral) MS (Mielossupressão) , NVIQ (Náuseas e vômitos induzidos pela quimioterapia) , mucosite, cistite hemorrágica Ifosfamida Tumores hematológicos IV Melfalano Tumores hematológicos, pré- TMO IV VO Bendamustina Tumores hematológicos IV Clorambucila Tumores hematológicos IV VO Semelhantes a classe / toxicidade reprodutiva Alquilsulfonatos Bussulfano Leucemias IV VO MS, NVIQ, hepatotoxicidade Nitrosureias Carmustina Linfomas IV MS, fibrose pulmonar Lomustina Tumores cerebrais e linfomas VO NVIQ, TH (Toxicidade hematológica) Estreptozotocina Tumores de células beta IV Diabetes, NVIQ, nefrotoxicidade Triazenos Dacarbazina Melanoma e linfomas IV MS, alopecia, hepatotoxicidade, síndrome gripal Temozolomida Tumores cerebrais IV VO Metil-hidrazinas Procarbazina Linfomas e gliomas VO MS, NVIQ, infertilidade e tumores secundários Quadro: Agentes alquilantes. Adaptado de GOODMAN, 2018. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. OS INIBIDORES DE QUINASE SÃO FÁRMACOS QUE ESTÃO REVOLUCIONANDO O TRATAMENTO DOS TUMORES SÓLIDOS E HEMATOLÓGICOS. SOBRE ESTES FÁRMACOS, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) Precisam ligar-se ao DNA para agir e impedir cascatas de sinalização intracelular. B) Agem inibindo apenas domínios de membrana extracelular. C) Apresentam mais efeitos adversos que a quimioterapia convencional. D) Visam domínios de membrana celular interna específicos, impedindo importantes cascatas de sinalização. E) Provaram-se ineficientes no tratamento do câncer. 2. FÁRMACOS DERIVADOS DE PLANTAS, COMO A VINCRISTINA, VINORELBINA E A VIMBLASTINA SÃO UTILIZADAS NO TRATAMENTO DE MUITAS DOENÇAS TUMORAIS. SOBRE SEU MECANISMO DE AÇÃO, É CORRETO DIZER QUE: A) Apresentam o mesmo mecanismo de ação frente aos microtúbulos que o Paclitaxel. B) Impedem a formação do fuso mitótico, como o Paclitaxel. C) Estimulam a formação do fuso mitótico, como o Cabazitaxel. D) Diferem da Eribulina frente aos microtúbulos. E) Diferem dos taxanos, pois esses impedem a despolimerização dos microtúbulos. GABARITO 1. Os inibidores de quinase são fármacos que estão revolucionando o tratamento dos tumores sólidos e hematológicos. Sobre estes fármacos, é correto afirmar que: A alternativa "D " está correta. Os inibidores de quinases necessitam entrar nas células tumorais e impedir a fosforilação de importantes vias enzimáticas ligadas à proliferação e sobrevivência das células tumorais. 2. Fármacos derivados de plantas, como a Vincristina, Vinorelbina e a Vimblastina são utilizadas no tratamento de muitas doenças tumorais. Sobre seu mecanismo de ação, é correto dizer que: A alternativa "E " está correta. Os alcaloides da vinca agem inibindo a polimerização dos microtúbulos, enquanto os taxanos impedem sua despolimerização. MÓDULO 3 Reconhecer a farmacologia dos hormônios e antibióticos antitumorais HORMONIOTERAPIA Muitos tipos tumorais dependem da atividade de hormônios ou são regulados por estas moléculas secretadas por glândulas. Esses são capazes de estimular a proliferação e o crescimento de muitos tipos celulares, inclusive os tumores. De posse dessas informações, pode- se entender como estratégia eficiente no tratamento de algumas doenças neoplásicas o bloqueio dos receptores hormonais (tanto androgênicos quanto estrogênicos) e a inibição de sua produção a nível central, no eixo hipotálamo-hipófise. Vamos ver mais sobre este eixo. Essas duas estratégias norteiam o que chamamos de terapia hormonal. Os glicocorticoides (como a Dexametasona e Prednisona) são utilizados no tratamento de doenças oncológicas em razão de sua capacidade antiproliferativa. Os receptores para glicocorticoide (GR), quando ativados, são translocados para o núcleo das células e levam a alterações da expressão gênica, em especial aquelas que estimulam a apoptose e outras respostas que inibam a proliferação celular. São fármacos utilizados especialmente no tratamento de linfomas e leucemias e relacionados a quadros de edema, irritabilidade e vermelhidão. Falaremos mais à frente sobre os demais benefícios dos glicocorticoides como terapia de suporte. Quando pensamos em hormônios sexuais, precisamos dar ênfase à farmacologia dos estrogênios e androgênios, e sua variada utilização nos tratamentos do câncer de mama, útero e ovários e próstata. Para melhor compreensão, vamos caracterizar esses agentes hormonais e classificá-los segundo seu mecanismo de ação direto. CLASSIFICAÇÃO DOS FÁRMACOS DIRECIONADOS A RECEPTORES HORMONAIS: RECEPTORES ESTROGÊNICOS Nesta classe, encontram-se duas modalidades de fármacos: Moduladores seletivos Aqueles que modulam os receptores estrogênicos diretamente ao se ligarem. Infrarreguladores seletivos Aqueles que regulam sua expressão. EXEMPLO Tamoxifeno, Raloxifeno e Toremifeno, são exemplos de moduladores seletivos, sendo o primeiro o fármaco mais utilizado desta classe. Seu mecanismo de ação consiste em inibir competitivamente o receptor dos estrogênios, antagonizando a proliferação que o hormônio endógeno induz nas células tumorais, especialmente as de mama. Ao se ligar ao receptor, este se dimeriza e acessa o núcleo das células e sua ligação com filamentos de DNA específicos relacionados à proliferação. O Tamoxifeno é utilizado no tratamento de tumores de mama feminino do tipo estrogênio positivos, ou seja, aqueles que apresentam receptores estrogênicos expressos após a observação do tecido (biópsia). Sua utilização é restrita a mulheres pré-menopausa, nas quais a ação do estrogênio sobre as células mamárias é mais evidente, sendo utilizado por no mínimo cinco anos com o objetivo de evitar recidivas. Trata-se de um fármaco com boa absorção oral, biotransformado por CYP hepáticas (em especial CYP3A4 e CYP2D6), com tempo de meia vida em torno de 7h. Apesar de o sistema de biotransformação ser comum a outros fármacos, não foram identificados ainda na literatura interações medicamentosas significativas para essa classe. Sua toxicidade é característica de uma inibição estrogênica, como ondas de calor e fogachos, ressecamento vaginal, irregularidades menstruais, além de elevar a possibilidade de câncer endometrial. SAIBA MAIS O Tamoxifeno age também como agonista parcial em receptores estrogênicos no útero, sendo seu uso relacionado à possibilidade de estimular a proliferação no endométrio de duas a três vezes mais intensamente. Já os fármacos infrarreguladores seletivos, como o Fulvestranto, não agem como agonistas estrogênicos e são indicados para o tratamento de tumores de mama feminino do tipo estrogênio positivos, que falharam em tratamento anterior com os moduladores seletivos. Seumecanismo de ação consiste em inibir a ligação do estrogênio ao seu receptor, além de alterar sua estrutura e inibir sua dimerização. O somatório destas ações resulta em redução da transcrição gênica mediada pelo estrogênio, levando a célula tumoral à morte. Trata-se de um fármaco administrado por via intramuscular (IM), com meia vida plasmática de 40 dias, com o mesmo padrão de biotransformação que o estrogênio. Sua toxicidade está em geral atribuída a náuseas, astenia, dor, artralgias e cefaleia. INIBIDORES DE AROMATASE Fármacos indicados para o tratamento de tumores de mama feminino do tipo estrogênio positivos, pós menopausa ou pós falha com Tamoxifeno. Anastrozol, Letrozol, Aminoglutetimida, Formestano e Exemestano, são exemplos desta classe. Seu mecanismo de ação consiste em inibir a enzima aromatase, responsável por converter androgênios (androstenodiona e testosterona) em estrogênios (estrona e estradiol), reduzindo assim a disponibilidade de hormônios femininos para as pacientes que os utilizam. Trata-se de fármacos com boa biodisponibilidade oral, que compartilham efeitos adversos como artralgia, ressecamento vaginal e disfunções sexuais. Diferentemente do Tamoxifeno, estes fármacos estão pouco relacionados ao desenvolvimento de neoplasias secundárias. A figura a seguir traz a via de síntese de esteroides mais detalhadas. Imagem: GOODMAN, 2018. P. 1529, Adaptado por Rossana Ramos Síntese de esteroides. A seguir, acompanhe mais algumas classes de fármacos direcionados a receptores hormonais: AGONISTAS GNRH Destacam-se nesta classe os fármacos Gosserrelina, Leuprorrelina e Triptorrelina. Seu mecanismo de ação consiste em suprimir os receptores de GnRH na hipófise, o que diminui a liberação de FSH e LH, além de impedir a maturação folicular no ovário. Esses fármacos são úteis no tratamento de tumores de mama feminina e no tratamento do câncer de próstata. São fármacos administrados por via subcutânea (SC) profunda, com perfil de toxicidade considerável, incluindo os já conhecidos sintomas de privação hormonal, além de diminuição da libido e osteoporose. AGENTES PROGESTACIONAIS A ação da progesterona em tecidos como mama e endométrio é do tipo antiproliferativa, sendo útil sua utilização em tumores previamente tratados com as outras linhas de tratamento mencionadas anteriormente. Destacam-se os fármacos Medroxiprogesterona e Acetato de Megestrel nesta classe. Seu uso vem sendo reduzido ao longo dos anos, em virtude de maiores benefícios clínicos vistos com outras classes. AGENTES ANTIANDROGÊNICOS Os androgênios estimulam o crescimento celular tanto na próstata sadia quanto na próstata com doença neoplásica. Nesse sentido, os antiandrogênicos, os inibidores da esteroidogênese ou os estrogênios são comumente utilizados nos tratamentos de tumores de próstata, podendo ser associados a radioterapia e outros tratamentos. Os antiandrogênicos podem ser de dois tipos: esteroides (Ciproterona) ou não esteroides (Enzalutamida, Flutamida, Nilutamida e Bicalutamida), ambos utilizados por via oral. O mecanismo de ação central destes fármacos é inibir a translocação do receptor androgênico para o núcleo das células, induzindo a sua apoptose. Esses agentes compartilham como efeitos adversos a redução da função sexual masculina, ginecomastia, dor mamária, fadiga e cefaleia. FÁRMACOS INIBIDORES DA SÍNTESE DE ANDROGÊNIOS Dois fármacos destacam-se nesta classe: o Cetoconazol e a Abiraterona, que compartilham uma função interessante – a supressão da produção de hormônios masculinos de fontes não gonadais, como a suprarrenal e as células tumorais de próstata. Cetoconazol Antifúngico clássico, também inibe a esteroidogênese, sendo útil no tratamento dos tumores testiculares e de próstata, tendo seu uso limitado por pouca evidência científica e possibilidade de efeitos adversos. Abiraterona É utilizada apenas no tratamento de câncer de próstata. Seu mecanismo de ação consiste em inibir a enzima 17a-hidroxilase e a C-17,20- liase nos testículos, suprarrenal e próstata, levando à diminuição dos precursores e da própria testosterona. Seus efeitos adversos mais comuns são diarreia, edema nas articulações, arritmias cardíacas e a hepatotoxicidade, que pode sobretudo a contraindicar. ANTIBIÓTICOS ANTITUMORAIS Você já deve ter ouvido falar sobre os antibióticos para o tratamento das doenças de origem infecciosa, entretanto, existem também aqueles que agem frente às células tumorais. Esses agentes são considerados quimioterápicos clássicos, já bastante utilizados na prática clínica, tanto no tratamento de adultos quanto de crianças. O primeiro antibiótico, a Dactinomicina (ou Actinomicina D), é um fármaco extraído de bactérias Streptomyces, de uso parenteral, que é utilizado no tratamento de tumores sólidos pediátricos e de tumores germinativos em adultos. Seu mecanismo de ação consiste em se ligar ao DNA de dupla hélice, intercalando-se entre os pares de base, impedindo sua transcrição pela RNA-polimerase. É atribuída também à Dactinomicina a ligação a fitas simples de DNA. Tal mecanismo sugere sua ação frente a células em constante proliferação (como as neoplásicas) e também sobre as células sadias, o que implica em efeitos adversos como náuseas e vômitos, anorexia, toxicidade hematológica, mucosite, alopecia, além de complicações relacionadas ao tecido vascular, como flebites e lesões graves se ocorrido o extravasamento. SAIBA MAIS Questões comerciais e de interesse industrial levaram à descontinuidade da fabricação desse fármaco no Brasil. Outros antibióticos de enorme importância no cenário dos quimioterápicos são as antraciclinas, grupo que tem como representantes os fármacos: Imagem: Shutterstock.com DOXORRUBICINA Imagem: Shutterstock.com DAUNORRUBICINA Imagem: Shutterstock.com EPIRRUBICINA autor/shutterstock IDARRUBICINA Esses fármacos são versáteis e utilizados nos tratamentos de doenças oncológicas de origens distintas, como tumores de mama, hematológicos e de tecido conjuntivo (sarcomas etc.). Suas estruturas são semelhantes e são derivadas do fungo Streptomyces peucetius, entretanto, seus espectros de utilização são um pouco distintos e carecem de explicação mais detalhada caso a caso. Seu mecanismo de ação consiste em formar um complexo com a enzima topoisomerase II e o DNA. A topoisomerase II é a enzima que promove a desespiralização do DNA, permitindo que ele seja replicado, religando-as após este processo. Como as antraciclinas se ligam neste momento, o processo de replicação é interrompido e a célula é induzida à apoptose. Por esta razão, os mecanismos de reparo podem levar à resistência desses fármacos. Todas as antraciclinas são de coloração laranja-avermelhado e administradas por via parenteral, sendo majoritariamente biotransformadas no fígado. Este fato requer atenção com pacientes hepatopatas. Os efeitos adversos também são comuns entre os fármacos da classe e envolvem alopecia, mielossupressão, mucosite, distúrbios do sistema gastrointestinal e cardiotoxicidade, principal toxicidade de longo prazo do uso destes fármacos e tema do nosso vídeo complementar deste módulo. MIELOSSUPRESSÃO A mielossupressão é classificada como uma emergência oncológica. Sua origem está provavelmente relacionada ao mecanismo de ação das antraciclinas nas células hematopoéticas, que têm por característica ser altamente proliferantes. De 20 a 70% dos pacientes em tratamento com antraciclina desenvolvem esta toxicidade hematológica, que pode ir desde uma leucopenia simples até quadros mais intensos e graves como a neutropenia febril, principal causa de atraso entre as infusões da quimioterapia e de reduções de doses das antraciclinas. A Doxorrubicina é utilizada no tratamento de tumores de mama, linfomas, leucemias e tumores de tecidos moles. Uma formulação específica, a Doxorrubicina Lipossomal é utilizada no tratamento de sarcomas ósseos e sarcomas de Kaposi. A Epirrubicina é utilizada restritamente no tratamento detumores de mama e se assemelha à Doxorrubicina no padrão de efeitos adversos. Por último, no grupo dos antibióticos antitumorais, mas não menos importante, temos a Mitoxantrona. Esse fármaco pode ser utilizado no tratamento de tumores pediátricos e de próstata em pacientes adultos. É um fármaco de cor azul intenso, administrada por via intravenosa exclusiva, associada a quadros de mucosite, mielossupressão, cardiotoxicidade (menos que as antraciclinas), náuseas, vômito e diarreia. Assista ao vídeo a seguir para aprofundar seus conhecimentos a respeito dos principais fármacos que causam a cardiotoxicidade e as opções de manejo desta complicação: CARDIOTOXICIDADE RELACIONADA AO TRATAMENTO ONCOLÓGICO VERIFICANDO O APRENDIZADO javascript:void(0) 1. O TRATAMENTO ONCOLÓGICO É BASTANTE DIVERSO, PASSANDO PELA RADIOTERAPIA, CIRURGIA E TRATAMENTO FARMACOLÓGICO. DENTRE OS INÚMEROS FÁRMACOS UTILIZADOS, DESTACAM-SE SUPRESSORES HORMONAIS COMO O TAMOXIFENO, O ANASTROZOL, A GOSSERRELINA, ENTRE OUTROS. ESSES FÁRMACOS MODULAM FUNÇÕES HORMONAIS, E SUA IMPORTÂNCIA NA PRÁTICA CLÍNICA É FUNDAMENTADA POR: A) Todo câncer é estimulado por hormônios. B) Alguns tumores podem ser estimulados por hormônios. C) Somente mulheres tem tumores hormônio-positivos. D) Somente homens tem tumores hormônio-positivos. E) Estes fármacos não apresentam efeitos adversos. 2. OS ANTIBIÓTICOS ANTITUMORAIS SÃO IMPORTANTES ALIADOS NO TRATAMENTO DE TUMORES DE CRIANÇAS E ADULTOS. ESSES FÁRMACOS COMPARTILHAM INÚMEROS EFEITOS ADVERSOS, COMO NÁUSEAS, VÔMITOS, ALOPECIA E MUCOSITE. ENTRETANTO, DOIS EFEITOS ADVERSOS APRESENTAM MAIOR SEVERIDADE; SÃO ELES: A) Mielossupressão e retenção urinária B) Edema e cardiotoxicidade C) Edema e reações alérgicas D) Mielossupressão e cardiotoxicidade E) Coriza e cardiotoxicidade GABARITO 1. O tratamento oncológico é bastante diverso, passando pela radioterapia, cirurgia e tratamento farmacológico. Dentre os inúmeros fármacos utilizados, destacam-se supressores hormonais como o Tamoxifeno, o Anastrozol, a Gosserrelina, entre outros. Esses fármacos modulam funções hormonais, e sua importância na prática clínica é fundamentada por: A alternativa "B " está correta. Muitos tipos tumorais dependem da atividade de hormônios ou são regulados por essas moléculas, que são capazes de estimular a proliferação e o crescimento celular. 2. Os antibióticos antitumorais são importantes aliados no tratamento de tumores de crianças e adultos. Esses fármacos compartilham inúmeros efeitos adversos, como náuseas, vômitos, alopecia e mucosite. Entretanto, dois efeitos adversos apresentam maior severidade; são eles: A alternativa "D " está correta. Dentre os efeitos adversos dos antibióticos antitumorais, aqueles que oferecem risco elevado em curto e longo prazo são a mielossupressão e a cardiotoxicidade, respectivamente. MÓDULO 4 Descrever a farmacoterapia de suporte para os efeitos colaterais associados ao uso de antineoplásicos Vimos até o momento as principais formas de tratamento do câncer e suas peculiaridades. Entretanto, é preciso atenção especial também aos efeitos adversos que esse conjunto de terapias pode oferecer aos pacientes. Todos os profissionais de saúde que atendam um paciente oncológico devem estar atentos, pois efeitos adversos como náusea, vômito, diarreia ou constipação, dor (oncológica e neuropática), mucosite, reações alérgicas e outras problemáticas, além de diminuir muito a qualidade de vida do paciente, oferece risco à eficácia do tratamento oncológico. É possível que, mesmo diante de franco sucesso da terapia antineoplásica, um tratamento seja descontinuado (ou que as doses sejam reduzidas) em razão dos desconfortos apresentados por tais efeitos adversos. Neste cenário, fica inquestionável a importância de estudar a farmacoterapia dos medicamentos de suporte. Para facilitar o nosso entendimento, vamos desmembrar a terapia de suporte de acordo com os efeitos adversos que podem ocorrer e correlacioná-los com os principais medicamentos antineoplásicos utilizados na prática clínica. NÁUSEAS E VÔMITOS Talvez sejam os mais expressivos efeitos associados a um tratamento quimioterápico. Entretanto, os avanços da farmacologia não se concentraram apenas no tratamento de doenças complexas. Atualmente, temos disponível na prática clínica uma série de medicamentos para controle de náuseas e vômitos, os antieméticos. ATENÇÃO Antes de entrar na farmacologia dessa enorme classe, é preciso compreender que os quimioterápicos, assim como outros medicamentos antineoplásicos, são classificados de acordo com o potencial de causar náusea e vômito. É de posse dessa classificação que são eleitos os medicamentos de suporte. Risco emético Frequência Fármacos Alto > 90% Cisplatina Dacarbazina Streptozotocina Mecloretamina Doxorrubicina Carmustina Moderado 30 - 90% Azacitidina Daunorrubicina Melfalano Carboplatina Irinotecano Temozolomida Baixo 10 - 30% Docetaxel Eribulina Etoposido 5-Fluorouracil Gencitabina Paclitaxel Mínimo < 10% Vincristina Vimblastina Bleomicina Nivolumabe Trastuzumabe Tensirolimus Quadro: Potencial emetogênico dos fármacos antineoplásicos. Adaptado de NCCN, 2021. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal A fisiologia do processo emético induzida por fármacos antineoplásicos é bastante interessante e complexa. Destacam-se como atuantes duas estruturas – uma central e uma periférica. A parte central atribuímos ao centro do vômito, uma estrutura localizada na medula que recebe informações de outras estruturas próximas, como zona de gatilho quimiorreceptora (ZGQ). Já a via periférica é representada por órgãos como estômago e o intestino, que são capazes de ser sensibilizados por fármacos e induzirem a êmese. Toda a comunicação entre os mecanismos centrais e periféricos se dá via neurotransmissores, como a histamina, dopamina, serotonina, acetilcolina, substância P e outros. Muitos fármacos são capazes de irritar as mucosas dos órgãos periféricos e promover a liberação desses neurotransmissores. E são justamente esses que norteiam a utilização de medicamentos para o controle destes sintomas tão inconvenientes aos pacientes. A seguir, apresentaremos os fármacos antieméticos de destaque na prática clínica e suas principais características: ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES H1 (Difenidramina, Prometazina, Dimenidrato, Hidroxizina, Cinarizina) Fármacos cujo mecanismo de ação está centrado em competir com o neurotransmissor histamina pelos receptores H1. Esses são especialmente úteis, pois, além de auxiliar no controle de náuseas e vômitos, também atuam frente às possibilidades de quadros alérgicos, de que falaremos a seguir. ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES DOPAMINÉRGICOS D2 (Bromoprida, Domperidona, Metoclopramida, Alizaprida e Trimetobenzamida) Também chamados de pró-cinéticos, estes fármacos têm seu mecanismo de ação centrado em antagonizar os efeitos da dopamina na ZGQ e na periferia do organismo, inibindo o processo emético e suavizando a motilidade gastrointestinal. ANTAGONISTA DOS RECEPTORES 5-HT3 (Ondansetrona, Palonosetrona, Granisetrona, Tropizetrona e Dolasetrona) Fármacos que bloqueiam os receptores de serotonina do tipo 5-HT3. Fármacos de destaque no tratamento da náusea e vômito induzido pela quimioterapia, com excelente controle frente à utilização de fármacos antineoplásicos de risco moderado. ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES NK1 (Aprepitanto, Fosaprepitanto, Netupitanto, Rolapitanto) Estes fármacos promovem o bloqueio da substância P (ou neuropeptídeo P) em receptores NK1, reduzindo drasticamente os quadros de náuseas e vômitos. São, atualmente, os mais eficazes no tratamento desse efeito adverso. Os fármacos apresentados até o momento apresentam-se disponíveis para o uso parenteral e oral, e o seu racional de utilização se baseia na capacidade do fármaco utilizado no tratamento oncológico causar êmese, como mostra a tabela. Compreenda o impacto desses efeitos adversos no sucesso do tratamentooncológico, com foco na qualidade de vida dos pacientes. NÁUSEAS E VÔMITOS NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO DIARREIA Outro efeito adverso de enorme impacto na qualidade de vida e sucesso das terapias oncológicas são os quadros de diarreia. Todos nós sabemos o quanto é importante o equilíbrio entre o que ingerimos e o que excretamos. Manter um bom padrão de evacuação é importante na manutenção do balanço hídrico corporal e da concentração de importantes eletrólitos como sódio, potássio e magnésio no organismo. Quadros diarreicos são capazes de levar pacientes a desidratação, perda de apetite, perda de peso e intenso mal-estar. Alguns fármacos quimioterápicos, como o Irinotecano, a Capecitabina e o 5-Fluorouracil, são capazes de estimular quadros diarreicos, de diferentes formas. Esses fármacos podem desencadear quadros irritativos e inflamatórios nos intestinos, levando ao desbalanço entre a secreção e a concentração de água local (sobrecarga osmótica), além de contribuírem para a disfunção da microbiota intestinal, efeitos simultâneos que levam a quadros diarreicos. Para o tratamento dessa condição, estão disponíveis fármacos antidiarreicos, como os apresentados a seguir. Fármacos antidiarreicos Formadores de bolo fecal Fármacos derivados opioides Fármacos sequestradores de ácidos biliares Análogos da Somatostatina Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal FORMADORES DE BOLO FECAL Substâncias que absorvem a água, aumentando o volume e melhorando a consistência do bolo fecal. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Exemplos: Carboximetilcelulose e Policarbofílica cálcica. FÁRMACOS DERIVADOS OPIOIDES Fármacos utilizados quando se faz necessário um intenso controle da diarreia ocasionada por medicamentos. Agem bloqueando os receptores opioides que controlam a motilidade e a secreção intestinal, os receptores µ e receptores δ, respectivamente. Exemplo: Loperamida, Difenoxina e Difenoxilato, Codeína, Racecadotrila. FÁRMACOS SEQUESTRADORES DE ÁCIDOS BILIARES Fármacos que se ligam aos ácidos biliares e algumas toxinas bacterianas, levando à redução de quadros de diarreia. Exemplos: Colesevelam, Colestiramina e Colestipol. ANÁLOGOS DA SOMATOSTATINA Fármaco utilizado como antagonista de somatostatina em quadros de diarreia secretora grave, mais relacionado a tumores que secretam essa substância no pâncreas e no tubo gastrointestinal, refletindo em intensos quadros diarreicos. Exemplo: Octreotida. Neste contexto, faz-se importante a atenção multiprofissional, no qual o paciente seja acompanhado por diferentes especialistas, com destaque aos profissionais nutricionistas, para o auxílio no tratamento não farmacológico e para evitar quadros de constipação. Sabemos de antemão que esses podem causar distensão abdominal, dor, dificuldade de evacuação e lesões, como fissuras anais, além de exacerbação de quadros hemorroidários. DOR A dor é uma experiência sensorial ou emocional desagradável, associada a um dano tecidual. Para entender melhor a dor, precisamos falar de um fenômeno chamado nocicepção. Esse fenômeno consiste na transmissão de um sinal nervoso gerado em resposta a um estímulo a receptores chamados nociceptores, localizados em terminações nervosas em todo o corpo (pele, órgãos internos etc.). Fatores como temperatura (frio ou calor), estímulos químicos (diversas substâncias e até mesmo fármacos), além de pressões mecânicas, podem estimular a liberação de mediadores (prostaglandinas, bradicinina, GABA, eletrólitos, histamina, entre outros), que estimulam nossos nociceptores e iniciam o processo doloroso. Imagem: Shutterstock.com Ilustração representando a transmissão do impulso doloroso. Chamamos as moléculas capazes de estimular os nociceptores de mediadores inflamatórios, que se ligam, excitam os neurônios que conduzem a informação de dor com maior frequência e rapidez. Conhecer esses receptores e os mediadores que os estimulam é fundamental no tratamento desta condição, levando à possibilidade de bloqueio da interação do receptor com o ligante, proporcionando a interrupção da dor. As abordagens farmacológicas mais utilizadas consistem, de forma resumida, em duas metodologias principais: reduzir a disponibilidade de um mediador ou antagonizar a ligação desses aos seus receptores. EXEMPLO Para exemplificar esse processo, podemos destacar os anti-inflamatórios não esteroides (AINES), que diminuem a oferta do mediador prostaglandina e os fármacos opioides, que antagonizam receptores endógenos, levando à diminuição da dor. Muitos pacientes com câncer apresentam intensos quadros dolorosos no decorrer da doença. A dor é um sintoma multifatorial absolutamente limitante para a qualidade de vida dos indivíduos que a experimentam. Sua origem pode ser dividida em dois grandes grupos: na dor relacionada ao próprio tumor, seu tamanho e localização são responsáveis por este sintoma, como por exemplo tumores que comprimem vértebras, nervos ou que promovam alterações morfofuncionais incapacitantes. Também existe outro tipo de dor que muitos pacientes apresentam: a dor neuropática. Dor relacionada ao próprio tumor As dores relacionadas aos tumores são tratadas geralmente com opioides, que, dentre os fármacos eleitos para o tratamento da dor, apresentam maior controle deste sintoma. Destacam-se em quadros mais leves a utilização de Tramadol e codeína, podendo, à medida do avanço do sintoma, serem escolhidos fármacos com atividade mais intensa, como a morfina, metadona e a fentanila. Todos esses fármacos agem bloqueando os diferentes receptores opioides, reduzindo as respostas nociceptivas, ou seja, as respostas dolorosas. Dor neuropática Diversos grupos de quimioterápicos que vimos anteriormente promovem a dor neuropática induzida pela quimioterapia (NPIQ), como os alcaloides da vinca, os taxanos, a talidomida, os inibidores de proteassoma e os compostos derivados de platina. Estes quadros comprometem a eficácia do tratamento, podendo postergar os intervalos entre administrações, modificar protocolos, reduzir doses e até levar à descontinuação. ATENÇÃO Aqui, cabe uma atenção especial a um efeito adverso comum à classe de fármacos que atua no tratamento das dores do próprio tumor: a constipação, relacionada a desconfortos e sensações dolorosas na região abdominal. As dores podem ser dos tipos: AGUDO Quando se manifesta durante a infusão intravenosa. CRÔNICO Podendo ser evidenciada por até meses após o término do tratamento. Fisiologicamente, sua origem ainda carece de explicações mais rebuscadas, mas a literatura científica já associa esta condição a desbalanços eletrolíticos que levam à hiperexcitabilidade dos neurônicos que conduzem informações de dor. Estas evidências baseiam os tratamentos disponíveis atualmente, como antidepressivos, anticonvulsivantes, bloqueadores de canais iônicos e formulações tópicas, os quais são eficazes no controle dos sintomas. Quanto aos anticonvulsivantes, a Gabapentina e a Pregabalina são dois fármacos orais análogos do neurotransmissor GABA (ácido gama-aminobutírico) bastante utilizados nos quadros de dor neuropática. Esses fármacos agem de forma similar em receptores gabaérgicos, reduzindo a excitabilidade neuronal e reduzindo o influxo de cálcio e de sódio nas células neuronais. Tais eventos moleculares reduzem assim a condução de estímulos dolorosos. Esses dois fármacos apresentam excreção renal, devendo ser administrados com cautela em pacientes nefropatas. Seus efeitos adversos mais comuns envolvem sonolência, tontura e fadiga. Ainda relacionado a canais iônicos, o uso tópico de fármacos como cremes de capsaicina e lidocaína em formulações transdérmicas têm se mostrado útil também ao longo dos anos, levando ao bloqueio de canais de sódio e reduzindo as sensações dolorosas. SAIBA MAIS Fármacos como a duloxetina e a venlafaxina são antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina utilizadosno tratamento de polineuropatias dolorosas, inclusive aquelas relacionadas à quimioterapia. TOXICIDADE HEMATOLÓGICA Por característica intrínseca à maioria dos mecanismos de ação, os quimioterápicos tendem a agir em células com intensa proliferação. Isso seria perfeito para sua ação frente às células tumorais, entretanto, outras células, também com intensa proliferação, porém sadias, acabam sofrendo os efeitos dos fármacos antineoplásicos. Aqui, destacamos as células hematológicas, como as hemácias, as plaquetas e as células de linhagem granulocítica (especialmente os neutrófilos). As células sanguíneas apresentam inúmeras funções indispensáveis para o organismo. Sua destruição pode levar a distúrbios energéticos (hemácias), de coagulação (plaquetas) e de defesa (leucócitos) do organismo. SAIBA MAIS Tempos atrás, as disfunções hematológicas eram solucionadas com transfusões de sangue, o que, além de ser limitado pela dependência de doação compatível, ainda representava chances de complicações. Atualmente, temos disponível na prática clínica fatores de crescimento e precursores das principais linhagens celulares que são impactadas pelos fármacos quimioterápicos, como a linhagem das hemácias e dos neutrófilos. Fármacos como a Eritropoetina e a Alfadarbepoetina estimulam o amadurecimento das hemácias, renovando-as em substituição àquelas lesadas pela quimioterapia. Fármacos como a Filgrastima, Pegfilgrastima e Lipegfilgrastima exercem a mesma ação, entretanto como precursores de outra linhagem, a de neutrófilos. Ainda estão em fase de testes os precursores de plaquetas, tendo os pacientes que se encontram com população reduzida deste tipo de componente sanguíneo que realizar transfusões periódicas. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O CONTROLE DE NÁUSEAS E VÔMITOS É MUITO IMPORTANTE NO SEGMENTO DO TRATAMENTO ONCOLÓGICO. SOBRE A ABORDAGEM FARMACOTERAPÊUTICA, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) Fármacos como a Gabapentina são úteis no controle desses sintomas. B) Fármacos como a Octreotida são contraindicados no tratamento de náuseas e vômitos. C) Fármacos como a Difenidramina, além de importante antiemético, ainda age frente a possíveis reações alérgicas. D) Fármacos como a Metoclopramida e a Palonosetrona fazem parte da mesma classe antiemética. E) O tratamento da náusea e vômito induzidos pela quimioterapia não exerce impacto positivo no tratamento oncológico. 2. MUITAS CÉLULAS SÃO AFETADAS PELA QUIMIOTERAPIA, SOBRETUDO AS CÉLULAS DO TECIDO SANGUÍNEO. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA A INFORMAÇÃO CORRETA SOBRE ESSA MODALIDADE DE TOXICIDADE DOS TRATAMENTOS ONCOLÓGICOS: A) O tratamento dessa condição é realizado apenas com transfusões de sangue. B) A Eritropoetina é precursora da linhagem granulocítica. C) A Pegfilgrastima pode ser utilizada frente quadros de plaquetopenia. D) A Alfadarbepoetina é útil no tratamento da neutropenia pós-quimioterapia. E) A plaquetopenia após tratamento oncológico pode exigir hemotransfusão para manejo. GABARITO 1. O controle de náuseas e vômitos é muito importante no segmento do tratamento oncológico. Sobre a abordagem farmacoterapêutica, é correto afirmar que: A alternativa "C " está correta. Os antagonistas dos receptores de histamina H1, como a Difenidramina, Prometazina, Dimenidrato, Hidroxizina e Cinarizina são fármacos que, além de auxiliar no controle de náuseas e vômitos, também atuam frente a quadros alérgicos. 2. Muitas células são afetadas pela quimioterapia, sobretudo as células do tecido sanguíneo. Assinale a alternativa que apresenta a informação correta sobre essa modalidade de toxicidade dos tratamentos oncológicos: A alternativa "E " está correta. O tratamento das complicações hematológicas obtidas com a quimioterapia obtém benefícios com a utilização de precursores de linhagens celulares, como a Eritropoetina e Alfadarbepoetina para linhagens vermelhas e a Filgrastima e seus derivados para linhagem granulocítica. Quando se faz necessário aumentar a população de plaquetas, ainda é preciso realizar transfusão de sangue, por não termos disponível no mercado farmacêutico fator de crescimento para esta população de células. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Em nosso conteúdo, construímos uma trajetória bastante interessante sobre o tratamento farmacológico das doenças neoplásicas. Como vimos, a terapia antineoplásica pode ser bastante diversa, passando por tratamentos pouco seletivos e repletos de efeitos adversos, mas que também têm evoluído com o tempo e com os avanços da biologia molecular, levando-nos a tratamentos cada vez mais promissores e seguros. Falamos sobre terapia-alvo e suas nuances, sobre os fármacos mais utilizados na prática clínica, como os quimioterápicos, sobre os hormônios e suas aplicabilidades, além dos principais efeitos adversos da terapia. Por último, foi possível fazer uma reflexão sobre o quão importante é estudar oncologia e o quanto esse conteúdo será importante em sua formação. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS GOODMAN et al. As bases farmacológicas da terapêutica. 13. ed. Porto Alegre: AMHG, 2018. LEE, Y. T.; TAN, Y. J.; OON, C. E. Molecular targeted therapy: Treating cancer with specificity. European Journal of Pharmacology, v. 834, p. 188–196, 2018. NCCN Guidelines. National Comprehensive Cancer Network. NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology: Antiemesis. Version 1, 2021. RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. SALLUSTIO, B. C.; BODDY, A. V. Is there scope for better individualization of anthracycline cancer chemotherapy? British Journal of Clinical Pharmacology, v. 87, n. 2, p. 295–305, 2021. SANDRA E. FILIPPINI.; ANA VEGA. Breast cancer genes: beyond BRCA1 and BRCA2. Frontiers in Bioscience, v. 1, p. 1358–1372, 2013. EXPLORE+ A cada dois anos, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) publica a estimativa de casos novos de câncer no Brasil. O material faz uma excelente análise demográfica sobre a doença e a distribuição dos casos em sexo, regiões geográficas, estados, dentre outras. Veja este conteúdo acessando o material da Instituição – Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil. CONTEUDISTA João Raphael Leite Castello Branco Maia CURRÍCULO LATTES https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf javascript:void(0);
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