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RESUMO CAMINHOS PARA A VIDA ADULTA

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Este texto aborda o interesse em estudar a população jovem do Brasil devido ao seu grande número e à fase de intensas transformações que eles vivenciam. Muitos jovens enfrentam fragilidades e vulnerabilidades, levando a uma chamada "crise dos jovens". Isso se reflete no alto desemprego, na pobreza e na mortalidade por homicídios nessa faixa etária. Além disso, muitos jovens permanecem dependentes dos pais devido à dificuldade de entrada no mercado de trabalho e instabilidade nas relações afetivas. No entanto, os jovens também são agentes de mudança e inovação na sociedade, especialmente no campo das tecnologias e da informação. O texto busca analisar o processo de transição dos jovens para a vida adulta, que não segue mais um modelo linear tradicional, impactando a definição de juventude e as políticas públicas para esse grupo. 
O texto explora a evolução do interesse e da abordagem dos estudos sobre a juventude no Brasil. Inicialmente, o foco estava na análise do potencial reprodutivo dos jovens, associado ao medo de uma explosão demográfica. Com o declínio desse temor, as discussões passaram a se concentrar na fecundidade das adolescentes e em questões negativas, como a instabilidade no mercado de trabalho e a violência urbana.
Na Sociologia, a abordagem da juventude estava influenciada pela Escola de Chicago, que via os jovens como fontes de desorganização social e criminalidade. Essa perspectiva foi criticada por reduzir os jovens a objetos determinados pelo ambiente, sem considerar suas escolhas ativas. Na mídia, os jovens frequentemente eram retratados como inconsequentes e propensos a desvios.
No entanto, nos últimos anos, houve um aumento na percepção dos jovens como sujeitos de direitos, em parte refletido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, que buscou ampliar a cidadania dos jovens e promover uma visão mais positiva sobre eles. No entanto, as políticas públicas ainda não tratam os jovens como atores políticos ativos, mas como questões a serem controladas ou atendidas em resposta às demandas da sociedade.
As representações da juventude na sociedade são ambíguas, pois os jovens são vistos tanto como agentes de mudança quanto como problemas sociais. Eles são frequentemente retratados como uma fase de transição entre a infância e a idade adulta. No entanto, essa abordagem pode limitar a compreensão dos jovens como sujeitos de direitos.
Além disso, a ideia de que a vida adulta é estável em oposição à juventude instável não reflete a realidade de uma sociedade em constante transformação. Os processos de transição dos jovens variam ao longo do tempo e não seguem uma ordem linear. A adolescência e a juventude são marcadas por diferentes trajetórias, e entender essa complexidade histórica é essencial.
A definição de juventude como o período entre 15 e 24 anos é arbitrária e não considera a heterogeneidade dentro desse grupo. Além disso, as políticas públicas muitas vezes não atendem adequadamente às necessidades dos jovens, especialmente aqueles entre 18 e 24 anos que enfrentam decisões relacionadas à educação e ao mercado de trabalho.
A heterogeneidade dentro da juventude também é influenciada por fatores sociais, como classe social, origem étnica e gênero, que ampliam ou restringem as oportunidades dos jovens e definem diferentes vulnerabilidades. Em resumo, compreender a juventude requer uma abordagem que leve em consideração sua complexidade e diversidade. A juventude é vista como uma fase de transição em que muitas características individuais são moldadas, mas nem sempre os jovens têm informações e experiências suficientes para tomar decisões que afetarão seu futuro.
A vulnerabilidade dos jovens é influenciada pela sua posição social e pela pressão para assumir responsabilidades precocemente, especialmente em famílias de baixa renda. No entanto, a definição da juventude como período de transição pode variar ao longo do tempo e de acordo com o contexto histórico e social.
O texto também discute como a legislação brasileira define e regula a juventude em termos de direitos e responsabilidades, como idade mínima para trabalhar, votar e se candidatar a cargos políticos. A ambiguidade na definição legal da juventude é destacada, com diferentes idades estabelecidas para diferentes direitos e deveres.
Finalmente, o texto enfatiza a complexidade da juventude e a heterogeneidade dos contextos em que os jovens brasileiros vivem, considerando as dimensões da escola, do trabalho e da família como influências na transição para a vida adulta. A definição operacional da juventude no texto é entre 15 e 24 anos, mas reconhece a necessidade de considerar faixas etárias diferentes ao analisar a condição juvenil.
Os primeiros estudos sobre a transição para a vida adulta na Europa surgiram em resposta à crise do mercado de trabalho nos anos 1970. Duas perspectivas foram adotadas para analisar esse processo de inserção social e profissional dos jovens. A primeira, inicialmente predominante, focava na passagem da escola para o trabalho e categorizava os jovens como estudantes, à procura do primeiro emprego ou já trabalhadores. No entanto, ao longo dos anos 1980, uma perspectiva mais ampla se consolidou, considerando a transição para a vida adulta como um processo complexo que envolve a educação, o emprego, e a vida familiar, afetando a vida das pessoas desde a puberdade até a aquisição de posições sociais.
Na análise da transição para a vida adulta, a literatura concorda que não se deve restringir apenas a indicadores socioeconômicos ligados à escola e ao trabalho. É essencial compreender a emergência de novos estilos de vida e as diversas maneiras de ingressar na fase adulta, incluindo as mudanças nos arranjos familiares.
No contexto brasileiro, o processo de transição para a vida adulta é analisado considerando as relações entre escola, trabalho e a situação de residência dos jovens. A variável da residência, ou seja, se eles saíram da casa dos pais ou continuam vivendo com eles, é usada como indicador de independência. O objetivo é explorar as diferentes formas de transição para a vida adulta entre aqueles que se tornaram independentes, deixando a casa dos pais, e aqueles que ainda vivem com eles.
A escola desempenha um papel fundamental na vida dos jovens, sendo historicamente responsável pela transição da infância para a juventude e, posteriormente, para a vida adulta. A escola, ao longo do tempo, tem evoluído em seus objetivos, passando de uma instituição para a formação das crianças para uma responsável pela formação dos jovens, preparando-os tanto para a cidadania quanto para o mercado de trabalho.
Ao analisar a participação dos jovens brasileiros na escola e no mercado de trabalho em 1982 e 2002, três tendências se destacam: o aumento contínuo da escolarização, a redução da proporção de jovens ocupados e o aumento na proporção de jovens que não estudam e nem trabalham. A exceção a essa tendência é o grupo de mulheres entre 20 e 24 anos, que manteve uma proporção constante de ocupadas e uma proporção decrescente de "não estuda nem trabalha".
No entanto, observou-se um aumento no percentual de jovens do sexo masculino com mais de 18 anos que não estudam nem trabalham. Isso ocorreu apesar do aumento na escolaridade desse grupo. A proporção de mulheres que não estudam e não trabalham, por outro lado, diminuiu.
A média de anos de estudo dos jovens brasileiros também aumentou no período estudado, com os maiores ganhos ocorrendo entre aqueles que são apenas ocupados e aqueles que não estudam nem trabalham. Os jovens que apenas estudam tiveram ganhos menores em anos de estudo, enquanto os que estudam e trabalham apresentaram maior escolaridade. Os jovens que não estudam e não trabalham tinham a escolaridade mais baixa.
Embora haja um reconhecimento dos avanços na escolaridade dos jovens, também se destaca a alta taxa de evasão escolar e o baixo desempenho acadêmico. O debate histórico sobre as causas da evasão escolar incluía a responsabilidade da família e fatores estruturais da sociedade, comoa necessidade de trabalhar para sobreviver.
O texto menciona que evidências de pesquisas qualitativas mostram que tanto os segmentos mais favorecidos quanto os de renda mais baixa valorizam a escola como meio de promoção de habilidades para o mercado de trabalho. Além disso, destaca-se a preocupação de educadores com os mecanismos internos das escolas que levam à expulsão de alunos, especialmente aqueles que trabalham. A padronização e falta de adaptação às necessidades individuais dos alunos são citadas como fatores que afetam sua autoestima e contribuem para a evasão escolar.
No aspecto socioeconômico, é ressaltado que a reestruturação econômica e o avanço tecnológico criam desafios para os jovens, tornando o mercado de trabalho menos dependente de mão de obra e mais exigente em termos de qualificação. Isso dificulta a contratação de jovens, prolongando sua dependência econômica dos pais.
Também é mencionado indicadores do mercado de trabalho, como a diminuição da taxa de atividade masculina, o aumento das taxas de mulheres jovens com mais de 18 anos e o crescimento das taxas de desemprego, especialmente entre os jovens, que representam uma parcela significativa dos desempregados no Brasil. O autor destaca que, embora esse fenômeno tenha se agravado nas últimas décadas, o desemprego entre os jovens sempre foi alto. Parte dos jovens está inativa, o que pode ser aceitável considerando a idade e a escolarização. Dos que estão na População Economicamente Ativa (PEA), uma parte está à procura de trabalho, mas cerca de 43% desses jovens ainda estão frequentando a escola e morando com seus pais. Alguns dos contabilizados como desempregados podem estar apenas aguardando uma oportunidade melhor no mercado de trabalho.
O texto também menciona que o desemprego afeta mais os jovens com escolaridade mediana, entre 5 e 11 anos de estudo, pois tendem a ser mais seletivos na busca por emprego, esperando por oportunidades que correspondam à sua formação.
O autor discute diferentes perspectivas sobre a transição dos jovens para a vida adulta, incluindo a ideia de prolongamento da condição juvenil, que envolve um período entre a saída da escola e o ingresso no mercado de trabalho. Ele argumenta contra as teses da "inadequação da escola ao mercado de trabalho" e da "alergia dos jovens ao trabalho", destacando que os jovens são heterogêneos em suas atitudes em relação ao trabalho e à busca de emprego.
Ressaltando a importância de estudar as transições para a vida adulta dos jovens como processos diferenciados, reconhecendo que existem pontos convergentes entre as diversas experiências de juventude, como o desejo de valorizar sua condição e desfrutá-la. Também enfatiza que a escola deve estar atenta às especificidades das diferentes juventudes se quiser mantê-las no sistema educacional.
É discutido o prolongamento da idade em que os jovens saem de casa dos pais e assumem a independência, marcando sua transição para a vida adulta. Tradicionalmente, esses eventos ocorriam em idades previsíveis, mas o autor argumenta que essa linearidade não é mais observada atualmente. O autor analisou dados comparando os anos de 1982 e 2002 e observou um aumento nas idades dos limites superiores dos quartis para ambos os sexos. Em 1982, a saída dos homens ocorria até aproximadamente os 38 anos, enquanto em 2002 esse limite se estendeu por mais 1,5 anos. Entre as mulheres, a saída ocorria mais cedo, em média aos 31 anos em 1982, e foi prolongada em mais 1 ano em 2002.
O prolongamento da saída de casa se verifica em especial entre aqueles que saem mais tarde, indicando que quanto mais tarde ocorre a independência, mais ela foi prolongada. Os dados mostram uma mudança na distribuição das idades em que os jovens saem de casa, com uma concentração maior em idades mais avançadas, o que evidencia o deslocamento desse processo ao longo do tempo.
Houve diferenças notáveis entre homens e mulheres. As mulheres tendem a sair de casa cerca de três anos mais cedo do que os homens, em grande parte devido a casamentos e uniões com homens mais velhos. As mulheres mais jovens mostram uma maior dispersão nos quartis, indicando novas formas de transição e influências no adiamento da saída de casa.
Em 1982, a maioria das saídas ocorreu devido ao casamento, mas ao longo dos anos, novos papéis surgiram, com mais mulheres saindo de casa como chefes de domicílio. Em 2002, houve um aumento significativo no número de mulheres nessa condição. No entanto, ainda é um grupo pequeno em relação ao total de jovens, com a maioria permanecendo como filhos de seus pais ou outros parentes.
Os indicadores usados para medir a saída de casa referem-se a uma coorte sintética, e não se pode inferir sobre as condições em que eles realizaram essa transição. No entanto, sugere-se que aqueles que saíram mais cedo enfrentaram condições mais precárias. A idade também é um fator determinante da renda, sendo maior entre os que saíram de casa do que entre os que permaneceram como filhos.
Surge a questão de se os jovens que permanecem em casa o fazem por escolha ou por falta de renda ou trabalho. Por exemplo, os jovens do terceiro quartil de idade que permanecem como filhos têm uma escolaridade maior do que os jovens chefes do primeiro quartil e uma renda apenas ligeiramente menor. Isso levanta dúvidas sobre a ideia de que a independência econômica seja suficiente para a transição para a vida adulta, já que os filhos também contribuem significativamente para a renda das famílias.
O texto também levanta questões sobre a definição de vida adulta e independência, sugerindo que a saída da casa dos pais pode não ser a única medida relevante. Além disso, reconhece a existência de novas formas de transição para a vida adulta, questionando a recusa em conceder o estatuto de adulto a jovens que permanecem como filhos, mesmo contribuindo financeiramente para suas famílias e apresentando atividades e rendimentos semelhantes aos chefes de domicílio.
Foram identificadas cinco modalidades de transição:
1. Modelo Tradicional: A saída da casa dos pais desempenha um papel crucial nessa transição. Muitos jovens seguem esse modelo, embora também continuem seus estudos. No entanto, a presença de um cônjuge e filhos no domicílio pode variar.
2. Escolarização Prolongada: Esta é uma modalidade emergente em que os jovens vivem com um cônjuge, têm emprego e continuam estudando, com ou sem filhos em casa. Essa modalidade está relacionada às demandas do mercado de trabalho e à busca por maior qualificação por meio da educação.
3. Transição Emergente: Esta é a modalidade mais recente de transição para a vida adulta. Caracteriza-se pela ausência de cônjuge e pela presença de filhos no domicílio. Isso reflete mudanças nas estruturas familiares e arranjos domésticos.
4. Transição Parcial: Envolve jovens que não têm cônjuge, mas estudam e trabalham, sem filhos no domicílio. Essa modalidade é mais comum entre os mais jovens e pode resultar em configurações familiares tradicionais ou novas.
5. Transição Indefinida: Esta modalidade inclui jovens chefes de família, com ou sem cônjuge, que não estudam nem trabalham. Sua situação econômica pode ser vulnerável, dependendo do suporte financeiro de suas famílias de origem.
Ao longo dos anos, as proporções das diferentes modalidades de transição têm evoluído, refletindo as mudanças na sociedade e nas estruturas familiares.
Abordando a questão da transição para a vida adulta, questiona-se se os jovens que não saem de casa podem ser considerados adultos. Ele critica o modelo linear tradicional de emancipação dos jovens, que envolve sair de casa dos pais, concluir a escola, obter emprego e se tornar independente, argumentando que esse modelo não considera a diversidade de experiências e identidades dos jovens. Se tornar adulto não depende apenas de cumprir etapas predefinidas, mas também da identificação pessoal e social como adulto. Além disso, reconhece a existência de múltiplos caminhos para a vida adulta, incluindo jovens que permanecem na casa dos pais ou retornam a ela.
Oautor observa que a idade desempenha um papel importante na determinação da condição de um jovem que não saiu de casa, sugerindo que os mais jovens podem estar seguindo uma trajetória mais tradicional de transição, enquanto os mais velhos podem estar adiando a independência por meio de novos arranjos familiares ou maior escolarização.
Em resumo, o texto questiona os modelos tradicionais de transição para a vida adulta, reconhecendo a diversidade de caminhos e identidades dos jovens, especialmente aqueles que não saem de casa, e sugere a necessidade de abordagens mais flexíveis e adaptáveis para entender essa fase da vida.
O texto aborda diferentes modalidades de transição para a vida adulta dos jovens que permanecem em casa dos pais ou outros parentes. Essas modalidades são categorizadas com base em atividades como estudos, trabalho e presença de filhos, e são diferentes para homens e mulheres.
1. Escolarização Prolongada: Esta modalidade envolve jovens que estudam e trabalham. É a segunda mais comum tanto para homens quanto para mulheres, com um aumento observado ao longo do tempo.
2. Modalidade Tradicional: Refere-se aos jovens que estudam e não trabalham, sendo mais comum entre as mulheres. Essa modalidade também aumentou ao longo do tempo.
3. Transição Indefinida: Inclui jovens que não estudam nem trabalham. A proporção desses jovens aumentou ao longo do tempo.
4. Transição Precoce: Envolve mulheres que já tiveram filhos, completando a formação da família, mas ainda moram com os pais ou outros parentes.
5. Modalidade Parcial: Caracteriza-se por jovens que já deixaram a escola, ingressaram no mercado de trabalho e ainda moram com os pais. Esta modalidade sugere que alguns jovens estão adiando a saída de casa, possivelmente seguindo uma estratégia de transição para a vida adulta.
A escolarização prolongada está se tornando mais comum, sugerindo uma tendência de aumento na escolarização dos jovens brasileiros. Também observa que a dificuldade de inserção no mercado de trabalho está contribuindo para o adiamento da saída de casa. Além disso, o texto sugere que a independência econômica pode não ser o único fator determinante para a transição para a vida adulta, e que morar com os pais pode envolver relações de dependência mútua, tanto financeira quanto emocional.
Concluindo, o estudo ressalta a complexidade das transições para a vida adulta, que podem ocorrer de maneira não linear e em diferentes arranjos familiares, desafiando os modelos tradicionais de emancipação dos jovens.