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Unidade 3 Fundamentos do Direito Civil Noções de Direito Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria CAMILA COELHO MOREIRA AUTORIA Camila Coelho Moreira Sou formada, pós-graduada e mestre em Direito, com experiência técnico-profissional na área. Atualmente sou diretora da área de contencioso civil de um escritório de advocacia no qual eu sou sócia na cidade de Vitória/ES. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Noções de Direito Civil .............................................................................10 Conceito de Direito Civil .............................................................................................................10 Personalidade e capacidade civil ....................................................................................... 12 Dos fatos e atos jurídicos ..........................................................................................................16 Bens e obrigações ......................................................................................19 Bens .......................................................................................................................................................... 19 Bens quanto a si mesmos ..................................................................................... 19 Bens reciprocamente considerados ..............................................................22 Bens em relação às pessoas ...............................................................................24 Bens em relação a sua comercialidade ......................................................25 Obrigações .........................................................................................................................................26 Contratos e direitos das coisas ..............................................................34 Contratos ...............................................................................................................................................34 Direito das coisas ......................................................................................................................... 40 Direito de família e direito das sucessões ........................................43 Direito de família ..............................................................................................................................43 Direito das sucessões ................................................................................................................. 46 7 UNIDADE 03 Noções de Direito 8 INTRODUÇÃO O Direito Civil é um ramo do Direito Privado Interno que cuida das relações particulares das pessoas. Grande parte das normas civis do direito brasileiro encontram-se previstas no Código Civil e ao longo dessa unidade trabalharemos algumas delas. Iniciaremos tratando os direitos da personalidade, a capacidade civil e os atos e negócios jurídicos. Posteriormente vamos conhecer o significado de bens e em que consiste o direito das obrigações. Uma vez que você aprendeu sobre bens e obrigações, será o momento de aprender sobre o direito contratual e o direito das coisas, importantes áreas do direito civil e por fim trataremos do direito de família e do direito das sucessões. Perceba que nessa unidade, em termos civis, abordaremos desde o nascimento do indivíduo até a sua morte, passando por todos os acontecimentos civis, tentando trazer para você os principais conceitos e definições para aplicação na sua vida profissional e pessoal. Animado para mais essa jornada? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Noções de Direito 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Reconhecer algumas noções introdutórias de Direito Civil. 2. Identificar em que consistem os bens e as obrigações na legislação civil brasileira. 3. Interpretar as determinações legais sobre os contratos no direito brasileiro e o direito em relação às coisas. 4. Analisar as determinações legislativas acerca do direito das famílias e sucessões no Brasil. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Noções de Direito 10 Noções de Direito Civil OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender em que consiste o Direito Civil, bem como sobre os direitos da personalidade e sobre capacidade civil. Além disso, estudaremos sobre atos e fatos jurídicos e o conhecimento adquirido neste capítulo será base para seu aprendizado nos demais. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Conceito de Direito Civil O Direito Civil consiste em um ramo do direito que surgiu na Roma Antiga, cujo objetivo à época era reger a vida dos cidadãos, abrangendo todo o direito existente, de modo que englobava os ramos dos direitos penal, trabalhista, administrativo e processual (DINIZ, 2016). Esse ramo do direito passou por diversas transformações e influências durante a Idade Média e somente na idade moderna, ganhou, através do direito anglo-americano, designação de private law, ou seja, direito privado. O Direito Civil, portanto, é um ramo do direito privado que regula as relações entre pessoas físicas ou jurídicas, podendo tais relações ser de caráter pessoal, familiar, patrimonial ou obrigacional, disciplinadas em grande parte no Código Civil. O Direito Civil é aplicado a todas as pessoas e disciplina o modo de agir e de ser, independente da condição social ou cultural de cada um. Tal regramento estabelece normas mínimas para a convivência em sociedade, além de assegurar os direitos e deveres aos jurisdicionados. Atualmente encontra-se em vigor o Código Civil de 2002 (Lei 10.406/2002), que, ao contrário do Código Civil de 1916, dispositivo legal anterior à referida lei, passou a abordar em seus artigos os preceitos Noções de Direito 11 constitucionais adotados pela Constituição de 1988. Segundo as lições de Miguel Reale (2013), o Código Civil rege-se por princípios próprios, que são eles: a. Socialidade – esse princípio considera a coletividade em detrimento da individualidade. b. Eticidade – por esse princípio considera-se a ética e a boa-fé acima de qualquer negócio jurídico. c. Operabilidade – esse princípioleva em conta a simplificação dos processos e a efetividade das cláusulas e conceitos trazidos pelo atual Código Civil. O Código Civil contém atualmente 2.046 (dois mil e quarenta e seis) artigos e divide-se em duas partes: a geral, que trata dos direitos individuais das pessoas, seus bens, fatos, atos e negócios jurídicos e a parte especial, que cuida dos direitos das obrigações, do direito da empresa, direito das coisas, direito de família e direito das sucessões. Além disso, são considerados princípios gerais do Direito Civil por alguns autores os seguintes: a. Personalidade – todo ser humano é sujeito a direitos e obrigações. b. Autonomia da vontade – reconhecimento da capacidade do indivíduo em praticar ou não certos atos. c. Liberdade de estipulação negocial – liberdade de restrição de direitos (dentro dos limites legais) na celebração de negócios jurídicos. d. Propriedade individual – o homem possui, dentro das formas admitidas pela lei, a possibilidade de exteriorizar seus ganhos através de bens móveis e imóveis. e. Intangibilidade familiar – a família é uma extensão da personalidade individual, sendo protegida pelas normas jurídicas. f. Legitimidade da herança e direito de testar – relacionado com o poder que as pessoas têm sobre seus bens, inclusive após sua morte, podendo dispor deles dentro dos limites legais. Noções de Direito 12 g. Solidariedade social – possui o condão de conciliar os interesses individuais com os interesses da coletividade. Nesse sentido, tais princípios, juntamente com as normas, são os responsáveis por regular as relações e o comportamento dos indivíduos dentro da sociedade. Trata-se do denominado pela doutrina por relação jurídica, que consiste nesse vínculo entre as pessoas diante de uma lide. As pessoas ocupam o espaço de sujeito ativo (quem pede) ou sujeito passivo (quem deve prestar a obrigação), em prol do objeto da lide. EXEMPLO: Ana deseja requerer alimentos (pensão alimentícia) a seu pai, Roberto. Ana será o sujeito ativo da demanda, Roberto, o sujeito passivo e os alimentos serão o objeto da lide. A seguir trataremos pormenorizadamente das pessoas no Código Civil. Personalidade e capacidade civil Antes de iniciarmos o estudo sobre personalidade e capacidade civil, é importante que você saiba o conceito de pessoa no direito. Assim como outras definições que já estudamos, o sentido jurídico do termo pessoa é algo mais complexo. Doutrinadores do direito definem pessoa como alguém ou algo coletivo sujeito de direitos e obrigações (DINIZ, 2016). Dizer que alguém é sujeito de direito refere-se a uma pessoa que detém um dever jurídico, uma pretensão ou que é o titular de um direito. No direito brasileiro, o conceito de pessoa classifica-se em física (natural) ou jurídica. Pessoa física é o indivíduo humano, enquanto pessoa jurídica está relacionada com um conjunto de pessoas ou de bens criados pela lei com uma finalidade. Sempre uma pessoa física será responsável pela pessoa jurídica. A personalidade jurídica, por sua vez, consiste em um atributo jurídico, que nas lições de Diniz, “liga-se à pessoa a ideia de personalidade, que exprime a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações” (DINIZ, 2016, p. 130). Noções de Direito 13 Quanto ao início da personalidade jurídica da pessoa natural, existem três teorias sobre seu marco: a teoria natalista, pela qual a personalidade jurídica se inicia com o nascimento; a teoria concepcionista, pela qual a personalidade jurídica se inicia desde a concepção; e a teoria da personalidade condicionada, adotada pelo Código Civil Brasileiro, pela qual estabeleceu o nascimento como marco inicial da personalidade humana, mas que também resguarda os direitos do nascituro (feto) desde a concepção, condicionando sua efetivação ao nascimento. A personalidade jurídica tem início com o nascimento com vida, a partir da primeira respiração. Dessa forma, o nascimento com vida de um bebê é o marco de atribuição da personalidade, mesmo que ele venha a óbito posteriormente. Tal previsão encontra-se prevista no artigo 2º do Código Civil e por esse motivo que os direitos do nascituro estão resguardados pela lei civil brasileira. Já o marco final da personalidade jurídica da pessoa física é a morte real, por meio do óbito ou presumida (declarada por um juiz, ocorre nos casos previstos na lei em que a pessoa se encontra desaparecida e que existem justos motivos para declarar seu óbito). Quanto à pessoa jurídica, seu marco final pode se dar pela dissolução proveniente da vontade dos sócios ou por morte ou incapacidade de sócio ou pela falência da empresa. Os direitos oriundos da personalidade, em regra, possuem as seguintes garantias: a. Erga omnes – oponíveis a todos, ou seja, valem perante toda a sociedade. b. Indisponíveis – não podem ser renunciados ou transferidos à terceiros. c. Vitalícios – são para a vida toda, enquanto o sujeito existir. d. Intransmissíveis – não são passados de pais para filhos ou podem ser vendidos. e. Essenciais – fazem parte da essência do ser humano. Noções de Direito 14 VOCÊ SABIA? Um exemplo de exceção ao direito da personalidade, por ser disponível, é o direito autoral, previsto na Lei 5.988/73. A personalidade jurídica possui atributos, sendo eles o nome, domicílio, estado civil e a capacidade e suas definições possibilitam distinguir um indivíduo dos demais, de modo que cada particularidade o torna único perante a coletividade. O nome consiste em um meio de individualização da personalidade jurídica. O nome é formado pelo prenome, nome (sobrenome) e, em alguns casos, o agnome (Júnior, Neto, Sobrinho). Tanto a pessoa natural quanto a pessoa jurídica possuem esse atributo da personalidade. Quanto ao domicílio, este consiste no local em que a pessoa estabelece sua residência fixa, sua morada com fim definitivo. O Código Civil também considera como domicílio o local onde a pessoa exerce sua profissão (art. 72). O título III do Código Civil é todo destinado a especificidades ligadas ao domicílio. As pessoas jurídicas também estabelecem domicílio, que é o local em que exercem suas atividades. O estado civil, também denominado de estado familiar, consiste na situação civil do indivíduo, podendo ser solteiro, casado, divorciado. O estado civil, via de regra, é provado por meio de registros públicos. Quanto à capacidade, essa merece uma atenção especial. A capacidade civil, como conceito, consiste na aptidão da pessoa para exercer direitos e assumir deveres no âmbito civil. O artigo 1º do Código Civil considera que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil, cabendo prova ao contrário. A capacidade civil, portanto, é formada pela capacidade de direito e capacidade de fato. A capacidade de direito é a comum a todos, inerente à personalidade, relacionada com a personalidade jurídica. Já a capacidade de fato está relacionada com a capacidade individual de Noções de Direito 15 cada um para exercer os direitos e deveres na vida civil. Tal diferenciação é necessária ao tratarmos da incapacidade. Os incapazes encontram-se tipificados pelo artigo 3 e 4 do Código Civil e foram alterados pela Lei n° 13.146, de julho de 2015, que instituiu o Estatuto da Pessoa com Deficiência e conferiu uma nova roupagem sobre as incapacidades no Direito Civil brasileiro. Os incapazes se classificam em absolutamente incapazes e relativamente incapazes. Os absolutamente incapazes, após a alteração trazida pela Lei 13.146/2015, são somente os menores de 16 (dezesseis) anos e todos os atos civis praticados pelos absolutamente incapazes são absolutamente nulos (art. 166, I do Código Civil). Quanto aos relativamente incapazes, passaram a ser entendidos como pessoas que precisam ser assistidas, auxiliadas na prática de atos da vida civil. São relativamente incapazes os maioresde dezesseis e menores de dezoito anos, os ébrios habituais e os viciados em tóxico, aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade e os pródigos (art. 4º do Código Civil). Os atos praticados pelos relativamente incapazes são anuláveis, de modo que dependem de uma decisão judicial que analise cada caso concreto, para que não haja prejuízo entre as partes. O interessado deve propor a ação de anulação do ato jurídico no prazo de 4 (quatro) anos. VOCÊ SABIA? Antes da entrada em vigor da lei 13.146/2015, os indígenas eram considerados incapazes, dependendo da FUNAI a validação de seus atos. Com a entrada em vigor do dispositivo legal, os indígenas integrados à comunhão nacional passaram a poder exercer os atos civis livremente e somente os indígenas que não estiverem integrados passaram a ser assistidos pela FUNAI. A seguir, trataremos mais detalhadamente dos fatos e atos jurídicos, vamos nessa? Noções de Direito 16 Dos fatos e atos jurídicos Agora que você já conheceu quem é o sujeito de direito e quais são suas características, é importante que você saiba em que consiste o fato jurídico. Entende-se por fato jurídico o elemento que dá origem aos direitos subjetivos, ou seja, a origem da relação jurídica, concretizada na norma jurídica (DINIZ, 2016). Em suma, é fato jurídico todo evento que produz efeitos jurídicos. Os fatos jurídicos classificam-se em naturais ou humanos. Os fatos jurídicos naturais são aqueles que ocorrem sem que haja interferência da vontade humana, como o nascimento, a morte, a maioridade ou até mesmo um alagamento, desabamento, incêndio. Note que tais acontecimentos têm consequência jurídica, tornando alguém sujeito a direitos e obrigações. Por conseguinte, os fatos jurídicos humanos são aqueles cujo acontecimento está diretamente ligado à vontade humana, podendo ser voluntários ou involuntários. Voluntários são atos em que há a vontade do agente e involuntários são aqueles sem a vontade do agente. Nesse sentido, temos os atos ilícitos, que segundo a definição do Código Civil, consiste em “ação ou omissão voluntária, culposa ou não, conforme a espécie, praticada por pessoa imputável que, implicando infração de dever absoluto ou relativo, viole direito ou cause prejuízo a outrem” (BRASIL, 2002). Por conseguinte, o ato jurídico consiste em um fato jurídico decorrente de ação lícita ou ilícita, ou omissão humana. Note que o ato jurídico é uma consequência de um fato jurídico. Um ato jurídico, para ser considerado válido, precisa reunir os seguintes elementos: ser praticado por pessoa capaz, o objeto do ato jurídico precisa ser lícito e a forma deve ser prevista em lei (ou não proibida por lei). Estando presentes todos esses requisitos, temos o que a doutrina chama de ato jurídico perfeito. O ato jurídico que não é perfeito é denominado ato ilícito, que são aqueles praticados em desconformidade com a lei. Esses atos que são vedados pela lei violam a boa-fé e são fontes de obrigação para quem os Noções de Direito 17 pratica, considerando o prejuízo que possa ser causado e a necessidade de repará-lo. São excludentes de atos ilícitos os praticados em legítima defesa, no exercício regular do direito ou em estado de necessidade. Os atos ilícitos podem ter efeitos tanto na esfera civil quanto na esfera penal. IMPORTANTE: A legítima defesa, conforme definição do Código Penal, entende-se por quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Já o exercício regular do direito é aplicável àqueles indivíduos que, geralmente em razão de sua profissão, possuem o dever de proteger (policiais, bombeiros) e age em estado de necessidade aquele que pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Como estão as coisas até aqui? Animado sobre esse tema? A seguir, continuaremos desbravando o Código Civil e seus artigos. Siga aqui comigo! SAIBA MAIS: A Lei 13.146/2015, conforme já conversamos, trouxe importantes alterações legislativas para as pessoas com deficiência. O artigo a seguir traz mais detalhes sobre esse importante tema, cuja leitura é imprescindível pra seu aprendizado. PEREIRA, R.C. Lei 13.146 acrescenta novo conceito para capacidade civil. Disponível aqui. Noções de Direito https://bit.ly/2xrXhKh 18 RESUMINDO: E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você iniciou esse capítulo aprendendo sobre o conceito de Direito Civil e a sua história desde o seu surgimento até sua materialização no Código Civil de 2002. Além disso, você foi apresentado aos princípios do Direito Civil, bem como você pode aprender sobre a personalidade jurídica, seus conceitos e que se tratam de direitos erga omnes, indisponíveis, vitalícios, intransmissíveis e essenciais. Ainda neste capítulo, você pode conhecer a figura do incapaz no direito, aprendeu sobre a diferença entre o relativamente incapaz e o absolutamente incapaz, bem como foi apresentado à recente alteração legislativa sobre o tema trazida através da Lei 13.146/2015. Por fim, nesse capítulo você foi apresentado às diferenças entre atos e fatos jurídicos, suas classificações e aprendemos sobre o que consiste um ato ilícito. Noções de Direito 19 Bens e obrigações OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como a legislação civil brasileira regula a relação de propriedade de um bem de determinada pessoa, bem como terá a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre o direito obrigacional. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão, afinal, certamente sua atividade profissional estará relacionada com algum direito obrigacional. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Bens Bem consiste em tudo aquilo que possui um valor para alguém. Todo bem é individualizável, economicamente valorável e representa um interesse de ordem econômica (DINIZ, 2016). O legislador civilista estipulou quatro critérios para classificar os bens no Código Civil, levando em conta suas características peculiares, de modo que um bem pode enquadrar-se em mais de uma categoria, a depender das suas características. De modo geral, eles são classificados por si mesmos (arts. 79 a 91), em relação aos outros (arts. 92 a 97) e em relação com o titular do domínio (98 a 103). A seguir, analisaremos cada uma delas. Bens quanto a si mesmos A primeira distinção dos bens quanto a si mesmos é em móveis e imóveis. Bens móveis são aqueles que podem removidos, transportados, deslocados, sem que haja qualquer alteração em sua estrutura ou forma. Noções de Direito 20 Figura 1 – O automóvel é um exemplo de bem fungível Fonte: Pixabay Já os bens imóveis são aqueles que o seu transporte ou deslocamento acarreta em alteração significativa da sua composição. Figura 2 – Bens imóveis Fonte: Pixabay Outra distinção que se faz no que diz respeito aos bens quanto a si mesmos é por serem fungíveis ou infungíveis. Bens infungíveis são bens únicos, que não podem ser substituídos, enquanto bens fungíveis são aqueles que podem ser trocados. EXEMPLO: É um exemplo de bem infungível uma obra de arte exclusiva ou até mesmo um produto comum que possua uma história para seu proprietário, como uma joia de família ou um carro deixado por algum parente para outro. Noções de Direito 21 Figura 3 – A Monalisa é um exemplo de bem infungível Fonte: Pixabay A terceira distinção que se faz é entre os bens consumíveis e inconsumíveis. Consumíveis são aqueles que permitem somente uma utilização e perdem o seu conteúdo a partir do seu uso, enquanto os não consumíveisconsistem nos bens que podem ser utilizados por mais de uma vez sem que sua integridade esteja ameaçada. A última distinção é relacionada aos bens singulares e coletivos. Singulares são os bens individualizados, cuja existência se dá por si mesmo, enquanto os bens coletivos são aqueles que são considerados em seu conjunto, em sua universalidade. EXEMPLO: O exemplo de um bem coletivo de alguém é uma biblioteca, que só existe por meio da coletividade de livros que a integra. Noções de Direito 22 Figura 4 – Bem coletivo – Biblioteca Fonte: Pixabay Bens reciprocamente considerados A primeira distinção que se faz quanto a essa categoria de bens é em relação aos bens principais e bens acessórios. Principais são os bens que existem independentemente da existência de outros bens. Já os bens acessórios são aqueles que, para existirem, dependem de um bem principal. Os bens acessórios dividem-se em três classificações: frutos, produtos e benfeitorias. Figura 5 – O solo é um exemplo de bem principal a plantação de bem acessório Fonte: Pixabay Noções de Direito 23 Os frutos, por sua vez, consistem em utilidades produzidas pelo bem principal que não afetam sua existência, ou seja, que podem sem retirados ou excluídos sem prejuízo do bem principal. São exemplos de frutos uma colheita, por exemplo, ou até mesmo o aluguel de um imóvel. Outra espécie de bens reciprocamente considerados são os produtos, que consistem em utilidades produzidas pelo bem principal, mas que lhe diminuem a quantidade. São exemplos de produtos o ouro ou pedras preciosas extraídas de determinado solo. IMPORTANTE: Os produtos distinguem-se dos frutos, porque a colheita não diminui o valor e nem a substância da fonte, enquanto os produtos sim. As benfeitorias são melhorias realizadas no bem principal e diferenciam-se por ser necessárias, aquelas intrínsecas à conservação da coisa, úteis que são aquelas que otimizam a utilização da coisa ou voluptuárias, que são melhorias supérfluas, para mero embelezamento. EXEMPLO: São exemplos de fruto uma safra de café ou de laranja; são exemplos de produto a extração de carvão mineral ou granito; é um exemplo de benfeitoria necessária a construção de uma estrutura de uma casa que tenha desabado; de benfeitoria útil a construção de uma rampa de acesso para um cadeirante e de benfeitoria voluptuosa a instalação de uma piscina em um imóvel. Noções de Direito 24 Figura 6 – As melhorias com fins estéticos, como a instalação de piscina ou decoração são consideradas voluptuárias Fonte: Pixabay Bens em relação às pessoas Quanto às pessoas, os bens distinguem-se em particulares, públicos ou res nullis. Os bens particulares são aqueles que pertencem a uma pessoa jurídica de direito privado ou a uma pessoa física. Já os bens públicos são aqueles que pertencem a uma pessoa jurídica de direito público interno, de modo que são bens de propriedade do povo. Os bens públicos dividem-se em bens de uso comum do povo, sendo aqueles que podem ser utilizados livremente pela coletividade, como rios, praias, lagos; bens de uso especial, que são aqueles que são destinados à atividade pública, como hospitais públicos e ministérios e os bens dominicais, entendidos por aqueles que fazem parte do patrimônio da administração pública. Há ainda uma terceira divisão, a res nullis, que, em tradução livre do latim, são as coisas sem dono, como os peixes do oceano e pássaros do céu. Noções de Direito 25 Figura 7 – Os animais da natureza são um exemplo de res nullis Fonte: Pixabay Bens em relação a sua comercialidade Quanto à comercialidade, os bens dividem-se em bens de comércio e bens fora do comércio. Bens de comércio são aqueles bens que podem ser comercializados sem nenhum impedimento. Já os bens fora do comércio são aqueles que que não podem ser comercializados, como o sol, as estrelas, a lua etc. Figura 8 – Bens incomerciáveis são aqueles que não são passíveis de negociação, como as estrelas do céu Fonte: Pixabay Noções de Direito 26 Agora que você já aprendeu sobre o conceito e bens e suas classificações, trataremos brevemente sobre o direito das obrigações! Respira fundo e vamos nessa! Obrigações O Direito das Obrigações é disciplinado pelo Código Civil entre os artigos 233 e 285 e consiste em regular o vínculo jurídico que liga o sujeito ativo, que neste caso é o credor ao sujeito passivo, que é o devedor, com o fim de exigir alguma obrigação existente entre eles. O vínculo jurídico que dá origem à relação obrigacional pode ser originário por meio da lei ou pela vontade das partes. As obrigações, assim como os bens, classificam-se conforme algumas variantes que iremos analisar a seguir. O direito das obrigações difere-se dos direitos reais, pois estão relacionados com um vínculo transitório, diferente do direito real, se paga a dívida acaba a obrigação, por exemplo. Nesse sentido, o direito das obrigações consiste em um direito pessoal, que só gera efeitos entre partes, não configurando efeitos para terceiro e o direito real, ao contrário do direito das obrigações, gera efeitos para terceiro. Figura 9 – Direito das obrigações Fonte: Pixabay Noções de Direito 27 As obrigações, portanto, podem ser classificadas como relações jurídicas estabelecidas de forma provisória pelo sujeito ativo (credor) e pelo sujeito passivo (devedor), tendo como objeto uma prestação econômica que pode ser positiva (obrigações de dar e de fazer) ou negativa (obrigação de não fazer) e que uma vez inadimplida, terá como garantia o patrimônio do próprio devedor ou por quem ele responsável, no caso da existência da figura do fiador. VOCÊ SABIA? O fiador é alguém que se responsabiliza pelo pagamento (obrigação de pagar) de uma dívida, caso a outra pessoa não consiga cumprir com seu compromisso. A fonte da obrigação pode ser um contrato, um acordo, um ato ilícito ou um ato unilateral de vontade, que caracterizam o vínculo jurídico, ou seja, o liame legal que une os sujeitos da obrigação. A prestação econômica, doravante elemento objetivo da obrigação, consiste no objeto da obrigação. A lei civil estabelece que o objeto da relação obrigacional deve ser lícito, possível e economicamente apreciável e pode constituir-se em: dar, fazer e não fazer, as quais estudaremos detalhadamente a seguir. A obrigação de dar ou entregar, como o próprio nome já diz, consiste em uma obrigação entre as partes (credor e devedor) e dar ou entregar alguma coisa. A doutrina ainda estabelece uma classificação entre coisa certa e incerta. A obrigação de entregar coisa certa ocorre quando o devedor se obriga a entregar algo específico e individual, cabendo ao credor exigir o cumprimento literal da obrigação. Noções de Direito 28 Figura 10 – Obrigação de dar ou entregar Fonte: Pixabay Pense na seguinte situação: Pedro se obrigou a entregar um colar de pérolas de sua mãe falecida à sua filha quando ela completasse dezoito anos. Note que se trata de uma obrigação bem específica, não se limitando apenas a um colar de pérola, mas sim o colar de pérola de sua mãe falecida. A obrigação de dar coisa certa se extingue com o perecimento da coisa, podendo gerar obrigação de indenizar, caso haja culpa do devedor. A coisa pertencerá ao devedor, com seus acréscimos, até a entrega ao devedor e se houverem frutos serão de propriedade do devedor. Exemplificando com o exemplo de Pedro, caso o colar de pérolas seja roubado, Pedro não precisará mais entregá-lo a sua filha, mas caso Pedro perca o colar (tenha culpa), ele deverá indenizar sua filha com o valor do colar, além de perdas e danos. Já a obrigação de dar ou entregar coisa incerta, o devedor estabelece somente o gênero e a quantidade, cabendo ao devedor escolher a qualidade. Ainda sobre o exemplo acima, se a obrigação fosse de somente dar um colar de pérolas, caberia a Pedro escolherem qual loja iria comprá-lo, por exemplo. Outro tipo de obrigação é a obrigação de fazer, que consiste em um ato imperativo de praticar um determinado ato ou realizar um determinado serviço. A obrigação será inadimplida quando o devedor Noções de Direito 29 não puder fazê-la por impossibilidade ou recusa. Em caso de recusa, caberá ao devedor indenizar o credor por perdas e danos e, em caso de impossibilidade, a obrigação restará resolvida. Figura 11 – Obrigação de fazer Fonte: Pixabay A obrigação de fazer pode ser personalíssima ou não personalíssima. Personalíssima é a obrigação que deve ser realizada somente por um profissional específico, devido a sua expertise ou exclusividade na prestação do serviço. Caso a obrigação não seja personalíssima e que o devedor originário não cumpra com sua obrigação, pode o credor contratar outro profissional às expensas do devedor, porém, em se tratando de obrigação personalíssima, é cabível perdas e danos. EXEMPLO: Renan contratou uma banda para tocar em seu aniversário e Larissa contratou um pintor para pintar seu escritório. Note que a obrigação de Renan é personalíssima, pois trata-se de uma banda específica. Já em relação à Larissa, a mesma contratou um pintor que pode ser substituído por outro, configurando, portanto, uma relação não personalíssima. Noções de Direito 30 Figura 12 – Obrigação personalíssima Fonte: Pixabay A terceira e última classificação é a obrigação de não fazer. Por ela, obriga-se uma das partes a obrigatoriamente não praticar um ato. No caso de inadimplemento, vigora a mesma regra: se por culpa, deverá indenizar o credor e, mediante impossibilidade, a obrigação estará resolvida. EXEMPLO: André é um youtuber que recentemente foi contratado por uma grande emissora brasileira para apresentar um show, porém no contrato existe uma cláusula que impede André de trabalhar ou conceder entrevistas para outras emissoras no país. Esse é um exemplo de obrigação de não fazer e caso André descumpra a obrigação, deverá arcar com as consequências de seu ato ilícito. Os exemplos trazidos até o momento ilustram o que a doutrina classifica como obrigações simples, que são aquelas que possuem o credor, o devedor e o objeto da obrigação é uma coisa certa, como um valor, um imóvel ou um bem móvel como um carro, uma joia. É possível também que entre as partes haja o que se chama de obrigação alternativa, cujo objeto da relação obrigacional pode ser uma coisa ou outra. Noções de Direito 31 EXEMPLO: Paulo contraiu uma obrigação com Leonardo e tem o dever de entregar a Julio um carro X ou o valor desse carro em dinheiro. Outro tipo de obrigação permitida no direito brasileiro é a obrigação cumulativa, que, conforme o próprio nome sugere, é composta por dois ou mais objetos, como, por exemplo, dar um dinheiro e um carro. As obrigações podem ser divisíveis ou indivisíveis. As obrigações divisíveis são aquelas que possuem dois ou mais sujeitos em um dos polos da relação obrigacional. O artigo 257 do Código Civil estabelece que “havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quanto os credores ou devedores”. As obrigações indivisíveis, por sua vez, ocorrem diante de um objeto indivisível e quando duas ou mais pessoas ocupando o mesmo polo da relação jurídica. Imagine que Anna e Julia se obrigaram a dar um carro a Murilo. Como Murilo não pode dividir o carro ao meio e exigir metade de cada uma, o Código Civil permite que Murilo cobre a dívida integralmente de uma das devedoras, cabendo a elas se resolverem posteriormente. Há ainda as obrigações solidárias, que ocorrem quando há mais de um devedor ou credor e que, entre ambos, existe um vínculo. O artigo 265 do Código Civil estabelece que a solidariedade não se presume, e resulta sim da lei ou da vontade das partes. Nesse caso, ambos são responsáveis pelo pagamento da dívida, cabendo a eles resolverem sua situação em processo posterior. Noções de Direito 32 Figura 13 – Obrigação solidária é aquele assumida por duas ou mais pessoas Fonte: Pixabay As obrigações constituídas pelas vontades das partes são, em grande parte, oriundas de um contrato celebrado pelo credor e devedor. No capítulo a seguir, trataremos mais detalhadamente sobre o tema contratos. SAIBA MAIS: O direito obrigacional é um ramo de suma importância para as relações civis. A seguir, temos um artigo de extrema relevância que envolve do direito do esquecimento, oriundo do direito da personalidade, direito obrigacional e direito digital. Se eu fosse você eu não perdia essa leitura! Artigo: Direito ao esquecimento criou obrigações para veículos de comunicação. Autor: Tadeu Rover. Disponível aqui. Noções de Direito https://www.conjur.com.br/2019-ago-28/direito-esquecimento-criou-obrigacoes-meios-comunicacao 33 RESUMINDO: E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você iniciou esse capítulo aprendendo sobre o que é um bem para o direito brasileiro e a diferença entre bens móveis e imóveis, bens fungíveis e infungíveis, bens consumíveis e não consumíveis, bens singulares e coletivos, bens principais e bens acessórios, bens particulares e públicos e bens de comércio e bens fora do comércio. Nesse mesmo capítulo você também teve a oportunidade de aprender sobre o direito obrigacional, ramo do Direito Civil que regula as relações estabelecidas por particulares. Você pode conhecer as obrigações existentes no direito: obrigação de dar, obrigação de fazer e obrigação de não fazer, oportunidade em que aprendemos todas as consequências quando elas não são cumpridas e as possibilidades mediante o descumprimento. Vimos ainda a diferença entre as obrigações, podendo ser simples, alternativas, cumulativas, divisíveis, indivisíveis e as obrigações solidárias. Noções de Direito 34 Contratos e direitos das coisas OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender em que consiste o direito contratual e de que forma ele interfere nas relações entre particulares, além de aprender também sobre as coisas que são objetos desses contratos. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Contratos O direito contratual é um sub-ramo do Direito Civil que surgiu há muito tempo e faz parte da história do homem até os dias atuais. Trata- se de um ramo do Direito Civil extremamente importante na vida do indivíduo, uma vez que faz parte das relações civis por ele vivenciadas cotidianamente. O fato de você ter acesso a esse material e estar participando deste curso por si só é um exemplo de uma relação contratual, celebrada entre você, o aluno, e a instituição de ensino. Além disso, atos rotineiros, como andar de ônibus e comprar coisas no mercado, são elementos do direito contratual. Figura 14 – Contratos cotidianos Fonte: Pixabay Noções de Direito 35 O marco do surgimento do direito contratual surgiu no direito romano, expressão designada às regras do Corpus Juris Civilis que era o equivalente ao nosso Código Civil. O Corpus Juris Civilis consistia no conjunto de leis e princípios criado pelo imperador Justiniano, considerado até hoje como um importante instrumento do direito na história da humanidade. Na era do Imperador Justiniano, as obrigações entre os cidadãos romanos eram definidas como vinculum, ou seja, uma conexão entre duas pessoas, podendo uma cobrar da outra a execução da obrigação. Inicialmente, no direito romano, os contratos eram pré-estabelecidos, sendo somente o contrato de venda, locação, mandato e sociedade. Com o tempo, as relações interpessoais dos cidadãos romanos foram evoluindo de modo que as demais relaçõesocorridas nessa época passaram a ser objeto do direito contratual. Ainda sobre a história do direito contratual na sociedade, é importante ressaltar que até o século XV os contratos carregavam em si a carga religiosa que era vivida na sociedade, com apego a doutrinas religiosas e vinculação do cumprimento a obrigações divinas. Com o evoluir da sociedade e principalmente com a laicidade do Estado, as influencias religiosas deixaram de refletir nas relações particulares dos indivíduos e o que une as partes é somente a autonomia da vontade entre elas. Sendo assim, o contrato, em termos de conceito, consiste em um acordo celebrado entre duas ou mais pessoas capazes com o fim de criar, extinguir, construir ou modificar uma situação jurídica de natureza patrimonial (DINIZ, 2016). O direito contratual encontra-se tipificado no Código Civil dos artigos 421 a 480 e nele encontram-se normas que buscam interferir minimamente na vontade das partes, mas sem deixar de regular tais relações. Para tanto, devem ser respeitados os seguintes princípios: a. Boa-fé – um dos mais importantes princípios do direito contratual, determina que as partes devem agir sempre utilizando a lealdade nas relações contratuais. Noções de Direito 36 b. Autonomia da vontade – as partes possuem liberdade para estipulares o que quiserem, dentro dos limites da lei. c. Supremacia das normas de ordem pública – os contratos devem respeitar as normas legais existentes no direito. d. Relatividade dos efeitos dos contratos – em regra os contratos fazem lei somente entre as partes. e. Obrigatoriedade dos contratos (pacta sunt servanda) – o contrato, se atendida todas as determinações legais, faz lei entre as partes. f. Revisão dos contratos (rebus sic stantibus) – essa previsão permite que, caso haja alguma modificação da situação fática que torne o contrato extremamente oneroso para uma das partes, ele possa ser revisado judicialmente. É muito comum que as pessoas associem o direito contratual somente às relações solenes de assinatura de contratos, sem se dar conta que atos cotidianos como comprar um pão na padaria e pegar um ônibus também são formas de relações contratuais. Isso porque existem diversas classificações de contratos, de acordo com vários fatores. Figura 15 – Atos cotidianos podem ser contratos Fonte: Pixabay Noções de Direito 37 Quanto aos efeitos, o contrato pode ser unilateral ou bilateral. Unilateral é o contrato que obriga somente uma das partes, enquanto bilateral é o contrato em que ambas as partes se obrigam a alguma coisa. Repare que sempre um contrato será bilateral em relação as partes, devendo ter um sujeito ativo e um sujeito passivo, porém é possível que somente uma das partes tenha que prestar alguma obrigação. EXEMPLO: O contrato de compra e venda é um contrato bilateral, pois uma pessoa se obriga a pagar um valor enquanto a outra se obriga a entregar o bem. Já um contrato de doação é um exemplo de contrato unilateral, pois somente uma das partes se obriga a entregar o bem, não havendo contraprestação. Figura 16 – Contrato Bilateral Fonte: Pixabay Quanto ao proveito econômico, os contratos podem ser onerosos ou gratuitos. Onerosos são os contratos em que ambas as partes possuem vantagem e proveito econômico. Já os contratos gratuitos são aqueles em que somente uma das partes possui proveito econômico. Via de regra, os contratos unilaterais são gratuitos, porém o direito permite alguns casos que os contratos unilaterais sejam onerosos, como no caso de uma doação em que haja uma obrigação a ser prestada. Noções de Direito 38 Figura 17 – A doação é um exemplo de contrato gratuito Fonte: Pixabay Quanto à natureza da obrigação, os contratos classificam-se como comutativos ou aleatórios. Comutativos são os contratos em que possuem prestações equivalentes, já os aleatórios são os contratos que tratam de coisas futuras que podem inclusive não existir ou coisas arriscadas. EXEMPLO: Um exemplo de contrato comutativo são os de compra e venda, troca, prestação de serviços em geral. Já os contratos aleatórios são os de jogo de loteria, por exemplo. Além disso, o contrato pode ser expresso ou tácito. Expresso é o contrato em que todas as cláusulas são estipuladas entre as partes previamente, enquanto o contrato tácito consiste no contrato em que as partes, sem declarar suas intenções, agem de forma consonante com determinada obrigação, de modo que dessa relação surgem direitos e obrigações. EXEMPLO: Marli é tia de Paula, que teve um filho recentemente. Por conta da chegada do novo sobrinho, Marli passou a ir todas as quartas-feiras à casa de Paula e dar uma faxina e Paula, por gratidão, sempre deixava um dinheiro para a tia como forma de compensar o serviço. Noções de Direito 39 Mesmo não havendo um acordo formal entre elas, ambas possuem um contrato tácito. Importante destacar que o contrato tácito não se confunde com o contrato não formal. O contrato não formal é aquele em que as partes possuem um pacto prévio, porém não o formalizaram na forma da lei. Já os contratos solenes são aqueles que seguem a previsão legal do Código Civil. Figura 18 – Contrato solene Fonte: Pixabay Um contrato se origina a partir da proposta e se concretiza por meio da sua formalização. A proposta contratual possui valor entre as partes, obrigando o proponente a cumpri-la, caso não a desfaça anteriormente. Sobre o direito contratual e a previsão existente no Código Civil, é importante mencionarmos os vícios redibitórios. Os vícios redibitórios consistem em defeitos ocultos do bem objeto de negociação em um contrato, de modo que tais defeitos tornem o bem impróprios para o uso a que se destinam ou que lhe diminuam seu valor. Diante de tal situação acima mencionada, o adquirente do bem poderá redibir (desfazer) o contrato devolvendo o bem, requerer o abatimento no preço ou ainda solicitar sua reparação. Importante mencionarmos que a Lei 8.078/1990, que deu origem ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC), também possui Noções de Direito 40 determinação semelhante, porém aplicada aos casos de vícios ou defeitos dos produtos nas relações de consumo. Existe ainda nas relações contratuais e evicção, que ocorre quando o objeto de determinado contrato é perdido por conta de sentença judicial anterior. Imagine a situação de alguém que te venda um carro e dois dias após a compra você é notificado de uma busca e apreensão do veículo. Neste caso, você terá direito a receber o valor pago pelo bem (no caso, o carro), além de perdas e danos, custas judiciais e todas as despesas causadas pelo vendedor. Via de regra, o contrato se extingue por meio do cumprimento das obrigações que foram ajustadas, dentro dos prazos e condições estabelecidas entre as partes. Porém, existem algumas ocasiões previstas pelo legislador que o contrato pode ser extinto sem que as obrigações tenham sido cumpridas, sendo elas: a. Nulidade – se alguma cláusula contratual desrespeitar a previsão legal, o contrato será considerado nulo. b. Condição resolutiva – ocorre nos casos em que há previsão para o contrato se resolver. Ocorre nos casos em que descumprimento da obrigação por impossibilidade, por exemplo. c. Direito de arrependimento – previsto no artigo 420 do Código Civil, deve estar previsto expressamente nos contratos. d. Morte de uma das partes – ocorrerá caso de uma das partes venha a falecer e o contrato seja personalíssimo. Direito das coisas O Direito das coisas, também chamado de direitos reais (res latim = coisa), é uma área do Direito Civil que regulamenta as relações jurídicas entre o homem e os bens. O direito das coisas distingue-se do direito contratual, pois o direito contratual regula a relação jurídica entre as partes, entre as pessoas envolvidas no contrato, enquanto o direito das coisas regulamentaa relação entre as partes e os bens objeto do contrato. Noções de Direito 41 A posse, regulamentada pelo Código Civil nos artigos 1196 a 1224, consiste na detenção da coisa em nome próprio ou como se dono fosse. A posse difere-se da detenção, que consiste na condição de quem detém o bem em nome de outrem. Considera-se possuidor, portanto, aquele que tem de fato o exercício dos direitos relacionados ao domínio da coisa. É objeto da posse tudo que pode ser dominado. EXEMPLO: O dono de um imóvel que reside no imóvel é considerado possuidor. Se esse dono resolve alugar o imóvel, o inquilino torna- se possuidor, pois a ele são conferidos todos os direitos inerentes à posse. Porém caso o dono deseje contratar um caseiro, este é considerado detentor, pois ele não é o dono e nem age como dono. O possuidor, se de boa-fé, possui direito aos frutos, à indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis, direito de retenção pelo pagamento das benfeitorias e direito de retirar as benfeitorias voluptuárias. Tais direitos não se aplicam ao possuidor de má-fé, que deverá pagar pelos frutos colhidos, se responsabilizar pela perda da coisa e possui o direito de ressarcimento somente das benfeitorias necessárias. A posse se encerra quando o possuidor perde o bem (abandono, perda, destruição), quando outra pessoa passa a se apropriar do bem ou quando quem possui a posse passa a possuí-la em nome alheio (constituto possessório). A propriedade, por sua vez, consiste no direito que possui a pessoa (física ou jurídica) de usar, gozar, dispor ou reivindicar o bem de quem injustamente o possua. São elementos constitutivos da propriedade: a. Direito de uso – utilização do bem da forma que convém. b. Direito de gozo – poder de perceber os frutos naturais e civis do bem, bem como tirar proveito econômico delas. c. Direito de dispor – direito de vender a coisa ou transferir a posse. d. Direito de reivindicar – poder reaver a coisa de quem o possua injustamente. A propriedade abrange, além do bem, o solo, tudo o que está abaixo da superfície e dentro dos seus limites (art. 1229 CC). As jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, Noções de Direito 42 os monumentos arqueológicos e outros bens que estejam dentro da propriedade de alguém pertencem à União (BRASIL, 2002). Além disso, o direito de propriedade deve ser exercido de acordo com a função social da propriedade, atendendo às suas finalidades econômicas e sociais. A propriedade pode extinguir-se por meio da alienação do bem, de seu abandono, por meio da perda do objeto (destruição) ou por meio da desapropriação, que consiste na reivindicação do bem por ato unilateral do Poder Público em prol da coletividade. SAIBA MAIS: Quer saber mais sobre o assunto, recomendamos o artigo do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, que traz explicações sobre uma ação muito importante sobre a propriedade: a usucapião. Acesse por meio deste link. RESUMINDO: E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você iniciou esse capítulo aprendendo o que é o direito contratual e sua previsão no Código Civil. Vimos quais são os princípios do direito contratual, como boa-fé, autonomia da vontade, relatividade dos efeitos dos contratos, obrigatoriedade dos contratos e a possibilidade de revisão dos contratos, além de trabalharmos juntos em algumas classificações dos contratos, uma vez que aprendemos que existem várias formas das partes celebrarem contratos. Ainda neste capítulo você pode aprender sobre os vícios redibitórios, defeitos ocultos presentes nos objetos dos contratos e as consequências jurídicas para as partes. Na outra metade desse capítulo trabalhamos com os direitos reais, direitos das coisas. Pudemos aprender sobre os conceitos de posse e propriedade e as formas de adquiri-la. Vimos as formas de obtenção e fim da posse e propriedade bem como os direitos do possuidor e proprietário. Noções de Direito https://bit.ly/3brOlTO 43 Direito de família e direito das sucessões OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como funciona o sistema legislativo brasileiro que cuida do direito de família, além de estudarmos juntos sobre temas que dizem respeito ao direito das sucessões. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Direito de família O Direito de família consiste em um ramo do direito familiar que regula as relações de convivência, organização, estrutura e proteção dos integrantes da família. Destacaremos alguns pontos importantes no que diz respeito a esse ramo do Direito Civil. O início do Direito de família se dá por meio da regulamentação do casamento, por meio dos artigos 1.511 a 1.590 do Código Civil. Ressaltamos que o Código Civil reconhece a família independente da formalização do casamento, mas essa foi somente uma escolha do legislador ao disciplinar o tema. O casamento consiste, em termos legais, na união entre homem e mulher com o objetivo de constituir uma família e deve ser baseada na igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges, sendo proibido a qualquer pessoa interferir na comunhão de vida instituída pela família. A relação entre homem e mulher sem a formalização do casamento até 1988 era chamada de concubinato e os integrantes dessa relação não possuíam qualquer direito, sendo considerada uma relação ilegítima. Com a entrada em vigor da Constituição de 1988, o artigo 226 estabelece que “a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado” e no parágrafo terceiro do mesmo artigo, reconheceu que “para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em Noções de Direito 44 casamento”. Nesse sentido, a partir da entrada em vigor desse dispositivo e com a redação do Código Civil de 2002, os conviventes em união estável passaram a ter os mesmos direitos e deveres de quem é casado pelo regime da comunhão parcial de bens. Em 5 de maio de 2011, durante o julgamento a Ação Direita de Inconstitucionalidade (ADI) no 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no 132, o Supremo Tribunal Federal reconheceu como legítimas as uniões estáveis homo afetivas e consagrou aos casais homossexuais todos os direitos conferidos às uniões estáveis entre casais heterossexuais. Feitas essas considerações sobre a união estável, no Brasil são permitidos os seguintes regimes de casamento: a. Comunhão total ou universal de bens – por esse regime, todos os bens que são de um cônjuge devem ser compartilhados com o outro, sendo excluídos os bens doados e as dívidas anteriores ao casamento, além de pensões e bens essenciais ao exercício da profissão. b. Comunhão parcial de bens – também conhecido como regime geral, por eles todos os bens adquiridos na constância do casamento deverão ser compartilhados, excluindo-se da divisão os bens particulares que as partes tiverem antes da união. c. Separação total de bens – por esse regime todos os bens adquiridos antes ou depois do casamento são incomunicáveis, ou seja, não serão divididos entre as partes. d. Participação final nos aquestos – trata-se de um regime instituído pelo Código Civil de 2002 e pode ser considerado um regime misto, pois cada cônjuge possui seu próprio patrimônio (separação total) e somente o adquirido na constância do casamento será compartilhado entre as partes (comunhão parcial). Aquestos é sinônimo de patrimônio adquirido onerosamente na constância do casamento. Noções de Direito 45 O divórcio é o marco final do casamento, não admitindo restabelecimento. Caso as partes se divorciem e desejem retomar o relacionamento, deverão constituir um novo casamento. Importante destacar que odivórcio encerra o vínculo conjugal entre as partes, mas não desfaz o vínculo familiar caso da união sobressaiam filhos, de modo que o casal deverá, juntos, continuar o exercício do poder familiar. O divórcio, do jeito que você conhece, é uma figura recente no direito brasileiro. Apesar de ser previsto pela Constituição de 1988, o artigo 226 originalmente determinava que as pessoas que não desejassem mais conviver conjugalmente deveriam ingressar com uma ação de separação judicial e após o período de dois anos poderiam se divorciar de fato. Somente após a entrada em vigor da Emenda Constitucional 66/2010, que a vontade de uma das partes se tornou o único requisito para que o divórcio aconteça. Sobre o direito de família, o Código Civil também regula as relações de parentesco, que consistem na relação existente entre as pessoas de uma mesma família. Existe, no direito de família, o que chamamos de parentesco consanguíneo, aquele derivado das relações de sangue (pai e filho) e o parentesco por afinidade, originado através da vontade das partes em se unirem (marido e mulher). Além dessa classificação, os graus de parentesco podem se dar horizontalmente ou verticalmente a partir de você, surgindo, portanto, as figuras dos ascendentes (pais, avós e bisavós), descendentes (filhos e netos) e parentes colaterais (tios, primos). Após a promulgação da Constituição de 1988, os filhos havidos fora do casamento passaram a ser considerados legítimos, possuindo os mesmos direitos dos filhos havidos na constância do casamento, fazendo desaparecer do mundo jurídico o termo bastardo. Via de regra, a paternidade é reconhecida por meio da certidão de nascimento, porém a lei permite, diante da dúvida, a investigação da paternidade. Outro ponto importante sobre direito de família presente no Código Civil é a questão dos alimentos. Os alimentos são tudo aquilo que é necessário para manutenção da vida e sobrevivência de uma Noções de Direito 46 pessoa dentro de um modo compatível com sua condição social, como alimentação, vestuário, saúde, lazer, entre outros. O Código Civil determina que cabe aos descendentes, ascendentes, irmãos, cônjuges e companheiros a obrigação de prestação de alimentos de forma recíproca. A fixação de alimentos deve sempre levar em conta o binômio necessidade e possibilidade, de modo que deve atender sempre à necessidade de quem precisa dos alimentos, mas também observada a possibilidade de quem deverá paga-los. Por fim, abordaremos sobre o bem de família, que se encontra disciplinado entre os artigos 1711 e 1722 que constitui um importante instituto jurídico. O bem de família constitui uma roupagem, uma proteção estabelecida pelo Direito Brasileiro à propriedade familiar. Essa proteção dada pelo bem de família impede que o bem seja penhorado, não servindo de garantia para o pagamento de dívidas. Para que o bem seja considerado de família, a lei civil estabelece que eles podem ser determinados pelo cônjuge por escritura pública e pode recair sobre imóvel urbano ou rural. A legislação também determina que será considerado bem de família o único bem de propriedade da entidade familiar, mesmo que não haja nenhum registro a respeito, porém, caso o casal possua mais de um imóvel com destinação de moraria, será considerado bem de família o imóvel de menor valor, salvo se houver determinação no registro no imóvel de maior valor para tanto. Direito das sucessões Conforme combinamos no início desse e-book, iríamos tratar de questões da vida civil do indivíduo desde o seu nascimento até a sua morte e aqui estamos. O Direito das Sucessões é o ramo do Direito Civil que irá disciplinar a transmissão das obrigações e do patrimônio de alguém após a sua morte aos herdeiros e legatários. A sucessão deve ser aberta sempre após o falecimento do autor da herança e no local de seu último domicílio. Aberta a sucessão, a herança Noções de Direito 47 deixada pelo falecido, que é chamado pelo Código Civil de cujus, será transmitida a seus herdeiros, meeiros e legatários. Herdeiro será toda pessoa que recebe os bens do de cujus. Os herdeiros classificam-se da seguinte maneira: a. Herdeiro legítimo – é aquele que é indicado pela lei por ter preferência em relação aos demais. São herdeiros legítimos os descendentes, o cônjuge sobrevivente, os ascendentes, o cônjuge sobrevivente e os colaterais (artigo 1829 do Código Civil); b. Herdeiro testamentário – é aquele designado em função de testamento prévio. c. Herdeiro universal – é o herdeiro único, quem receberá a totalidade da herança. A figura do meeiro refere-se ao cônjuge sobrevivente, que terá direito à metade do patrimônio do de cujus (a depender do regime de casamento). É importante ressaltar que pessoas que são casadas pelo regime da separação total de bens não dividem patrimônio, de modo que não há o que se falar em meação. Por outro lado, o quantitativo de bens que serão objeto da meação também irá variar de acordo com o regime: comunhão universal de bens (todos os bens do de cujus) ou comunhão parcial de bens (somente os bens adquiridos após o casamento). O legatário, por sua vez, constitui pessoa que herda algo certo e individualizado do de cujus. O legatário difere-se do herdeiro legítimo por não necessariamente ser uma das pessoas do 1829. Além disso, o herdeiro é sucessor pela universalidade dos bens, enquanto o legatário recebe uma coisa certa e determinada. Toda pessoa, ao falecer, possui liberdade de testar sobre 50% do seu patrimônio, ou seja, ao morrer, você pode fazer o que quiser com metade dos seus bens, sendo a outra metade destinada necessariamente a seus herdeiros. A sucessão classifica-se em legítima e testamentária. Legítima será a sucessão em que ocorrerá de acordo com a vontade do legislador, Noções de Direito 48 enquanto a sucessão testamentária seguirá as disposições do de cujus antes de seu falecimento. A sucessão legítima deverá obedecer a ordem de sucessão hereditária estabelecida no artigo 1829 do Código Civil e ocorrerá nos casos em que não houver testamento ou que o testamento for declarado nulo. A ordem de vocação será sempre: descendentes, ascendentes, cônjuges, colaterais até o quarto grau (primos ou tio-avô). Caso o de cujus não tenha nenhum parente nessas linhas de sucessão, sua herança será considerada jacente e o patrimônio será destinado ao poder público. Na ausência de ascendentes (pais e avós) e descendentes (filhos e netos), o cônjuge sobrevivente herdará todo o patrimônio do de cujus. Independentemente do regime de bens, o cônjuge sobrevivente possui direito real de habitação na residência da família quando o imóvel for o único do casal, de modo que mesmo que não seja considerado o proprietário do imóvel, terá sua posse pelo tempo em que residir no imóvel. O testamento constitui o ato de última vontade de uma pessoa, pelo qual você pode fazer suas últimas declarações. Muitas pessoas no Brasil ainda acreditam que o testamento é algo que deve ser feito somente por pessoas de muitas posses, não se dando conta que o testamento é um ato de última vontade, de modo que você pode dispor do que quiser e não somente sobre questões patrimoniais. Nesse sentido, é possível que, em sede de testamento, seja reconhecido um filho havido fora do casamento, pode-se deserdar algum herdeiro ou até mesmo organizar sua vida após a morte, como estabelecer quem deve cuidar de seus animais de estimação ou de que modo a pessoa deverá dispor de seu patrimônio. EXEMPLO: “Quanto aos meus livros, quero que Renata, minha secretária, procure a instituição de ensino carente e doe-os. Desejo que Alicia de Tal, minha vizinha, cuide do meu gato Lary. Desejo que Betina, minha amiga, continue honrando o financiamento que fiz para minha mãe por meio do meu saldo bancário.” Noções de Direito 49 Conforme já aprendemos,qualquer pessoa só poderá testar o equivalente a metade de seu patrimônio, devendo a outra metade constituir a herança necessária. Caso alguém teste um valor acima do permitido, a lei civil irá reduzi-lo ao valor legalmente estabelecido no processo de inventário. O inventário consiste em um processo judicial por meio do qual são levantados todos os ativos e passivos da herança. O inventário deve ser aberto no local de último domicílio do de cujus e todos os interessados (herdeiros, meeiros, legatários) deverão se habilitar por meio de petição feita por advogado. Durante o período em que o processo de inventário vai se desenvolvendo, o juiz deverá nomear uma pessoa de confiança chamada de inventariante para administrar os bens, devendo prestar contas. A partilha dos bens consiste em uma das etapas do inventário que sucede a habilitação dos herdeiros. É nela em que serão divididos os bens conforme o quantitativo de bens e na proporcionalidade dos sucessores. É possível que a partilha seja feita pelos sucessores e só homologada pelo juiz, nos casos em que não há conflito entre as partes, sendo uma etapa que agiliza consideravelmente o processo. Porém, diante de conflito entre os herdeiros, é necessário que o juiz interfira no processo e decida como proceder. A lei civil permite que o inventário e a partilha sejam feitos extrajudicialmente, sem a necessidade de se recorrer ao judiciário, nos casos em que todos os sucessores estejam de acordo e que não haja menores de idade. SAIBA MAIS: A seguir temos um artigo que aborda de maneira brilhante a relação entre os companheiros e o direito sucessório, ambos temas abordados neste capítulo, que tal conferi-lo? Companheiros são herdeiros necessários ou facultativos? Disponível aqui. Noções de Direito https://bit.ly/2xx9Ljx 50 RESUMINDO: E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você iniciou esse capítulo aprendendo sobre o início da família por meio do casamento, oportunidade em que vimos a diferença entre o casamento e a união estável, a possibilidade da união homo afetiva no Brasil e os regimes de casamento que vigoram no Brasil: a comunhão universal de bens, a comunhão parcial de bens, a separação total de bens e o regime de participação final nos aquestos. Estudamos também a figura do divórcio e suas alterações legislativas. Ainda neste capítulo, em sua primeira parte, você pode aprender sobre as relações de parentesco e os alimentos, de que forma essa relação se estabelece e, por fim, estudamos em que consiste o bem de família no direito brasileiro. Na segunda parte deste capítulo você teve a oportunidade de aprender sobre o direito das sucessões no Brasil. Você pode aprender sobre os conceitos de herdeiros existentes no código civil e a diferença entre herdeiro, meeiro e legatário. Por fim, aprendemos sobre o processo de inventário e partilha. Noções de Direito 51 REFERÊNCIAS BRASIL. LEI 10.406/2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, [2002]. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em 18 fev. 2020. DIAS, M.B. Manual das Sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. DINIZ, M.H. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2016. REALE, M. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 2013. Noções de Direito http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm Noções de Direito Civil Conceito de Direito Civil Personalidade e capacidade civil Dos fatos e atos jurídicos Bens e obrigações Bens Bens quanto a si mesmos Bens reciprocamente considerados Bens em relação às pessoas Bens em relação a sua comercialidade Obrigações Contratos e direitos das coisas Contratos Direito das coisas Direito de família e direito das sucessões Direito de família Direito das sucessões
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