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3 MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

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MEIO AMBIENTE E 
SUSTENTABILIDADE 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Mariana Andreotti Dias 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Seguindo com nossas discussões, até agora compreendemos o que é a 
temática ambiental e as definições que fundamentam a lógica ambiental e 
também a de mercado – conhecimento adquirido por meio do estudo acerca do 
conceito de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. 
De posse disso, conseguiremos então analisar as mudanças no discurso 
ambiental que agora se apresenta de forma integrada, em uma percepção 
sistêmica e holística. 
Para compreendermos esse tema, vamos explorar os seguintes itens: 
 A abordagem sistêmica do meio ambiente compreendendo a Teoria dos 
Sistemas e de sua contribuição para a evolução do discurso ambiental; 
 A evidente ação do homem como modificador da natureza e elemento 
de análise dos estudiosos; 
 Análise do "todo" na perspectiva holística. 
TEMA 1 - A ABORDAGEM SISTÊMICA DO MEIO AMBIENTE 
A temática ambiental é construída, como já vimos, por meio de conceitos 
e discursos. Tais discursos compreendem perspectivas múltiplas para a analise, 
sendo a perspectiva sistêmica uma das principais. Ela provém da Teoria Geral 
dos Sistemas (TGS) que surgiu com os trabalhos do biólogo austríaco Ludwig 
von Bertalanffy, publicados entre 1950 e 1968 e foi amplamente aplicada na 
análise da natureza e da sociedade desde então. Seus objetivos principais eram 
auxiliar na compreensão dos fenômenos observados na realidade e ser a 
interação entre os elementos que permitem compreender qualquer sistema. 
Assim é possível delinear sistemas naturais, sistemas sociais, sistemas 
ambientais, etc. (Mendonça; Dias, 2019, p.91). 
O contexto histórico da TGS e sua contribuição para a evolução do 
discurso ambiental são comprovados pelo seu uso em diversos ramos 
específicos, como ecologia, biologia, geografia, engenharias, administração, etc. 
Essa teoria é ao mesmo tempo uma construção teórica e metodológica 
que tece considerações a respeito de suas potencialidades na física, na biologia 
e nas ciências sociais. Capra (citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 94) 
compreende a importância da TGS para a temática ambiental, pois 
 
 
3 
(...) também podemos dizer que todo pensamento sistêmico é 
pensamento ambientalista”; visto que a abordagem sistêmica é uma 
abordagem contextual, intrínseca, explicar coisas considerando o seu 
contexto significa explicá-las considerando o seu meio ambiente. 
TEMA 2 – O PENSAMENTO SISTÊMICO: O ECOSSISTEMA E O GEOSSISTEMA 
De acordo com Capra (citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 94-95), o 
pensamento sistêmico pode ser compreendido da seguinte forma: 
• A compreensão das propriedades das partes é feita a partir da 
dinâmica do todo; 
• As partes são padrões de uma rede de relações e cada estrutura é 
vista como uma manifestação de um processo implícito; 
• no processo de conhecimento deve ser incluída a descrição explícita 
dos fenômenos naturais; 
• A rede de inter-relações é a metáfora do conhecimento, para 
representar os fenômenos observados. A disposição das partes ou dos 
elementos de um todo coordenados entre si funciona como uma 
estrutura orgânica dinâmica, onde existe fluxo e transformação; 
• Todos os conceitos, as teorias e as descobertas são aproximações 
da realidade. 
De posse dessa construção metodológica, as ciências mais diversas vão 
se voltar para a perspectiva sistêmica criando, assim, um ideário para suas 
teorias. Exemplo disso é o conceito de ecossistema (Figura 1), criado por 
Tansley, em 1937. Podemos perceber que a junção de eco + sistema 
compreende, segundo Mendonça e Dias (2019, p. 95) a “operacionalização de 
alguns atributos, caracterizados por um conjunto de seres vivos (biocenose) que 
se relacionam no meio físico (biótipo), compondo uma unidade de organismos 
interdependentes que compartilham o mesmo hábitat”. 
Figura 1 - Esquema simplificado de um ecossistema 
 
Fonte: Andreotti, 2019, p.96. 
 
 
 
4 
Mas, dependendo da área do conhecimento, haverá a adequação da 
TGS, a exemplo da geografia, que lê o ecossistema como “as inter-relações que 
os organismos de determinado local estabelecem entre si e o meio abiótico, ou 
seja, é a soma da biocenose ao biótipo” (Mendonça; Dias, 2019, p. 96). 
Dentro do ecossistema há componentes que denotarão particularidades 
ao serem integrados; como exemplos temos o ciclo biológico de uma planta, a 
cadeia alimentar, o ciclo da água, a bacia hidrográfica, sistema atômico, sistema 
solar, sistema celular, sistema molecular etc. Além disso, o ecossistema 
envolverá outras relações em que a base para a sua existência será o ser vivo 
(Mendonça; Dias, 2019, p.96). 
A abordagem ambiental sistêmica também pode ser compreendida por 
meio de outros complexos, como mostra a Figura 2. 
Figura 2 – Bacias hidrográficas Brasil e perfil pedológico 
 
Fonte: Shutterstock. 
As imagens ilustram dois sistemas: as bacias hidrográficas que 
compreendem uma regionalização e o perfil pedológico de um solo. Em ambos 
os casos, compreendemos a existência dos chamados inputs e dos outputs que 
mantêm uma inter-relação formando o todo. Sem a entrada e a saída não há o 
sistema e, consequentemente, não há relações e inter-relações. 
O sistema solar (Figura 3) pode ser um exemplo de ecossistema, pois é 
“um conjunto de planetas, asteroides e cometas que giram ao redor do sol. Cada 
um se mantém em sua respectiva órbita em virtude da intensa força gravitacional 
exercida pelo astro” (Virtus Tecnologia, 2008). 
 
 
5 
Figura 3 – O Sistema Solar 
 
Fonte: Virtus Tecnologia, 2008. 
Como input deste sistema temos, por exemplo, a órbita e toda a força 
gravitacional do complexo. Já os outputs serão o resultado da combinação 
desses fatores, ou seja, da saída do sistema, da carga e dos astros. 
É dentro dos princípios da ecologia que a abordagem ambiental 
sistêmica será inicialmente organizada. A ecologia é uma ciência que se 
relaciona com muitas outras – climatologia, oceanografia, fisiologia, demografia, 
psicologia, física, geologia, geografia, matemática – e, conforme muitos ecólogos 
modernos apontam, essa ciência não precede de outras e seus trabalhos de 
investigação se diferenciam das restantes pelo uso de ferramentas matemáticas 
(Odum, 1953; Molles, 1999 e Polo, 2010). 
Dentro da ciência geográfica também acontecerá um movimento parecido 
com o da ecologia, denominado geossistema. De acordo com Mendonça e Dias 
(2019, p.10), ele 
(...) resulta da combinação de fatores geomorfológicos (natureza das 
rochas, mantos superficiais etc.), fatores climáticos (precipitações, 
temperaturas, etc.) e fatores hidrológicos (lençol freático, qualidade da 
água, etc.). São fenômenos naturais, mas seu estado engloba fatores 
econômicos e sociais e seus modelos vão resultar em parâmetros 
passíveis de identificar alterações nas paisagens, em grande parte 
ocasionadas pelo homem. A sua proposta visa integrar a natureza e a 
sociedade humana. 
Este sistema (Figura 4) foi pensado por Sotchava, em 1978, que o aplicou 
na geografia com a perspectiva de espacializar o ecossistema e também como 
método (caminho) específico para os estudos geográficos. 
 
 
 
6 
Figura 4 – Fluxograma do geossistema 
Fonte: Bertrand, 2019, p. 101. 
Segundo Capra (2012; Mendonça; Dias, 2019, p. 99), de acordo com a 
visão sistêmica: 
[...] as propriedades essenciais de um organismo, ou sistema vivo, são 
propriedades do todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem 
das interações e das relações entre as partes. Essas propriedades são 
destruídas quando o sistema é dissecado, física ou teoricamente, em 
elementos isolados. “embora possamos discernir partes individuais em 
qualquer sistema, essas partes não são isoladas, e a natureza do todo 
é sempre diferente da mera soma de suas partes. 
Mas quais são as contribuições que a perspectiva do ecossistema e do 
geossistema trazempara a temática ambiental? Mendonça e Dias (2019, p.101) 
explicam que 
A pesquisa com os geossistemas além de promover estudos com 
elementos abióticos (clima, solo, hidrografia, relevo, etc.) e bióticos 
(fauna e flora) também se promoveu da utilização de elementos 
característicos da sociedade, da economia e da história. Essas 
considerações apontam as diferenças entre a teoria do ecossistema 
(ecologia) e a teoria do geossistema. Vieira (1970) aponta que existe 
uma dissociação entre geossistemas e ecossistemas, tanto em função 
de sua espacialidade, quanto, e principalmente, no que concernente 
ao seu foco, visto que esse último está diretamente ligado à ecologia. 
Vale frisar que a TGS não serviu apenas para a temática ambiental; ela 
foi contemplada em estudos quantitativos, fazendo parte da matematização do 
conhecimento em 1950, momento em que a Revolução Quantitativa Teorética 
proporcionou descobertas e avanços no campo da informática e no 
processamento de dados obtidos por softwares de alta tecnologia (Mendonça; 
Dias, 2019, p. 100). 
 
 
7 
Sendo assim, podemos considerar que a abordagem sistêmica se 
constitui numa excelente perspectiva para os estudos relacionados ao meio 
ambiente, especialmente porque permite a análise das relações entre os 
diferentes elementos de uma dada realidade; vimos anteriormente que a 
concepção fundamental de meio ambiente está alicerçada nas relações entre 
elementos naturais e/ou sociais (Mendonça; Dias, 2019, p. 102). 
E aí concentra-se a riqueza. Pensar de forma integrada e não mais 
fragmentada faz compreendermos as limitações e potencialidades das nossas 
ações na natureza, próximo tema que discutiremos. 
TEMA 3 - A AÇÃO ANTRÓPICA COMO ELEMENTO DE ANÁLISE 
Ao tratamos da temática ambiental em nossas aulas e dialogarmos sobre 
a inserção do ser humano na análise sistêmica, temos a expectativa que uma 
linearidade seja compreendida pelo intuito bastante coerente de expor que é o 
ser homem (e a sociedade) o responsável pelos processos degradantes da 
natureza e do meio ambiente. 
Sabemos que cada sociedade produz e reproduz seu espaço conforme 
suas necessidades e interesses, e concordamos com a afirmação de Troppmair 
(et al., 2006, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 104): “O tempo antrópico ou 
de impactos é o momento que altera de forma mais rápida e drástica a 
paisagem, pois ocorre em curtíssimo espaço de tempo, ou seja, em poucos anos, 
meses ou mesmo dias e horas”. 
Algo que possui relação direta com a surpresa que Ferreira (citado por 
Mendonça, Dias, 2019, p. 104) vai demonstrar ao perceber como a questão 
ambiental em pouquíssimo tempo se tornou um tema relevante nas diversas 
áreas do conhecimento, incluindo as teorias sociais que não possuíam discursos 
com esse cunho. Tal discurso vai de encontro ao que comentamos nos temas 
anteriores: as certificações ambientais, a ideia de desenvolvimento sustentável, 
etc. 
Vamos refletir sobre os seguintes pressupostos de Gonçalves (2019, 
p.104). 
Não restam dúvidas de que os problemas ambientais não são 
exclusivos da ordem natural ou cultural-histórica e a necessidade de 
discutir paradigmas e reformulá-los aparece pela busca de não tomar 
homem e natureza como polos excludentes. 
 
 
8 
 
Reforçamos a perspectiva de não excluir da análise ambiental a 
interferência humana; não são de responsabilidade do planeta e de seus fatores 
naturais os eventos extremos, as queimadas, as enchentes; etc.; são causas 
latentes da interferência humana. 
O que se pretende é questionar a importância de situar o homem dentro 
da análise sobre a questão ambiental, já que é o homem quem mais provoca 
alterações e degradações ao ambiente (e, portanto, a si mesmo) sendo então 
coerente colocá-lo sobre apreciação e em conjunto a esses processos. 
Essa concepção do homem assumindo o papel de ser modificador da 
natureza reside não apenas nos discursos ecológicos, mas em averiguações 
cotidianas: paisagens alteradas e impactos ambientais, o que acarreta certa 
banalidade ao tratamento da questão, por já convivermos e estar acostumados 
com tais situações (Mendonça; Dias, 2019, p. 104-105). 
3.1 A questão ambiental é despertada 
De forma a compreender tais implicações, o movimento ecológico 
aparece com o objetivo emergencial de atentar as sociedades para os prejuízos 
causados às fontes vitais. Alguns autores apontam que a culpa de toda a crise 
que vivemos é da globalização, especialmente as crises sociais, ambientais e 
econômicas. Mas a globalização causou muito mais que isso, causou a perda da 
saúde mental e emocional dos seres humanos. A seguir, vamos compreender 
este percurso. 
A explosão demográfica, expressão utilizada a partir dos anos 1950, 
ocorreu, sobretudo nos países do terceiro mundo, nos anos 1960 e 1970, em 
conjunto ao êxodo rural exercido pela população que migrou para as cidades em 
busca de melhores condições de vida. Os avanços tecnológicos e as melhorias 
nas condições de higiene, saúde e alimentação geral permitiram que o 
crescimento acontecesse. Entretanto, desde a Teoria de Malthus são 
perceptíveis aspectos de uma dominação provenientes das altas hierarquias do 
poder (Mendonça; Dias, 2019, p. 106). 
Nos anos 1970 uma grande seca assolou a população do Sahel (Figura ), 
região da África localizada entre o deserto do Saara e as terras férteis a sul, e o 
processo de desertificação impossibilitou a agricultura prejudicando a população 
que, boa parte, morreu de fome. O grande contingente populacional dos países 
 
 
9 
africanos, explorado em demasia e desumanamente, também motivou o 
enfraquecimento dos solos que, em sua gênese, são afeitos ao processo 
desértico (Mendonça; Dias, 2019, p. 106). 
Figura 5 – Desertificação na África 
 
 
Fonte: Shutterstock. 
A respeito disso, Mendonça e Dias (2019, p. 106) evidenciam a seguinte 
opinião: 
Muitas questões são lançadas quando tratamos das problemáticas que 
ocorrem em território africano, podem ser em relação à saúde, a 
natalidade e mortalidade, a economia etc. Em maioria, tais 
questionamentos são marcados por visões racistas e preconceituosas 
(...) 
O que podemos concluir, de forma forasteira, é que após inúmeras 
tragédias (desertificação, fome, miséria, epidemias, etc.) a denúncia do estado 
de calamidade em que vive a África tomou a dimensão global. Mas, esse 
 
 
10 
discurso não cumpre com a função que deveria, o cessar fogo, o cessar fome, o 
cessar miséria, o cessar exploração do povo e do território. 
Olhando para o Brasil, encontramos cenários parecidos. O movimento 
aqui desencadeado uniu o ser humano ao meio ambiente nas discussões. 
Evidenciamos a ciência geográfica, que se encarregou de escrever sobre essa 
fase, muito pelo seu engajamento com questões sociais e sua preocupação em 
construir discursos que pudessem incentivar posturas humanas frentes as 
adversidades políticas, sociais e ambientais. Entretanto, não se pode esquecer 
o passado dessa ciência, que é voltado para apropriação e territórios e 
estratégias militares. 
Ademais, Mendonça e Dias (2019, p. 108-109) frisam que “essa ciência 
não é a única a se preocupar com esta perspectiva; o nascimento e o sequencial 
reforço da multi-interdisciplinaridade passaram a integrar, cada vez mais, as 
perspectivas dos estudos ambientais”, até que chegamos na perspectiva 
sistêmica, já discutida por nós, ou melhor, chegamos no momento de criticá-la 
pelas palavras de Lilienfeld (2019, p. 109): 
O que se encontra são pensadores sistêmicos que exibem uma 
fascinação por definições, conceituações e afirmações programáticas 
de uma natureza vagamente benévola, vagamente moralizante”, onde 
“as descrições (dessas analogias) parecem oferecer a eles um deleite 
estético que é a sua própria justificação. 
Questionamos então: Por que devemos buscar uma abordagem diferente 
da sistêmica? Essa não consegue englobar diversos elementos e prover 
análises agregadoras?Acredita-se que a razão se dá, pois a abordagem sistêmica especializa o 
conhecimento em campos fragmentados, ou seja, realizando o oposto do que a 
teoria se propôs em seu início. Uma saída para o entrave é vislumbrada por 
Maturana (1988), um crítico do processo sistêmico que com o apoio de 
Wasserman (2004) formulou uma nova abordagem: a holística. 
TEMA 5 - A BUSCA DA ABORDAGEM HOLÍSTICA 
Desde a década de 1970, com o movimento ecológico, acontece o 
despertar da consciência acerca do meio ambiente pela sociedade. Mas isso se 
dava de forma fragmentada, sem de fato atingir as camadas mais prejudicadas 
da sociedade. 
 
 
11 
Assim, a abordagem holística começou a ser traçada, colocando em 
evidência o desafio de compreender o mundo de maneira mais ampla e não mais 
pela soma de elementos dentro de uma perspectiva sistêmica reducionista. Já 
comentamos que a teoria sistêmica foi criticada por ter falhado em seu objetivo 
de compreender o todo, livre de divisões e, consequentemente, seu paradigma 
se tornou resoluto. 
Então porque compreendemos as coisas e formas fragmentadas? Capra 
(citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 110) explica que: 
valores dominantes vigentes na sociedade do século XIX modelaram a 
nossa cultura e engessou o pensamento em perspectivas individuais, 
visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, 
[...] a crença de que a mulher está em uma posição inferior à do homem 
é uma sociedade que segue uma lei básica da natureza. 
 
Podemos compreender que essa lei não condiz mais com a sociedade do 
século XXI, que necessita de um novo paradigma capaz de celebrar uma visão 
de mundo completa, ou do holismo, que vem do grego holos (inteiro, todo) 
(Mendonça; Dias, 2019, p. 111). 
Qual a necessidade do holismo? Wasserman et al. (2004, p. 2) 
consideram que “o holismo vai aflorar na formação do cientista quando este se 
deparar com problemas que demandam interação de conhecimentos, levando-o 
ao processo de tentativa e erro”. Isso é ciência. 
Mendonça e Dias (2019) nos posicionam ao afirmar que “desde algumas 
décadas o mundo precisa de cientistas e pessoas que consigam resolver as 
problemáticas de maneira integrada”. Além disso, nos deparamos com 
perspectivas positivistas, matematizadas, que especializaram os conhecimentos 
e, mais ainda, especializaram nossas vidas. 
Capra (citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 113) complementa, afirmando 
que “[...] a ênfase nas partes tem sido chamada de mecanicista, reducionista ou 
atomística [...]”, sendo que a busca da compreensão maior de nossas vidas e 
realidades é a busca holística. 
Devemos então nos questionar sobre a similaridade entre a abordagem 
sistêmica e a abordagem holística, conforme explanam Mendonça e Dias 
(2019, p. 110). 
A abordagem sistêmica faz parte da concepção holística que fora 
desenvolvida no início século XX e tem o objetivo de facilitar a 
compreensão humana visando organizar e integrar elementos que se 
interagem numa mesma perspectiva (conforme visto acima). Elabora-
se um sistema conforme a necessidade de análise, sendo a escolha 
 
 
12 
dos elementos e fatores que vão se interagir de responsabilidade da 
pessoa, algo também característico do holismo, mas esse último vai 
eclodir como uma metodologia ampla, verificando outras relações e 
trocas possíveis entre os corpos, a matéria. 
A concepção holística está embasada na convicção de que tudo faz 
parte de tudo, que tudo se relaciona permanentemente, e que para a 
compreensão de um elemento ou problema isolado é preciso se ter a 
ideia do todo. 
Essas considerações estão intrinsicamente associadas à Teoria de Gaia 
(ou hipótese de Gaia) que foi desenvolvida por Lovelock e Margulis, em 1972. 
Ela traz a ideia 
[...] de que o planeta Terra como um todo é um sistema vivo, auto-
organizador [...]”, ou seja, consegue gerar energia, manter seu clima, 
alterar suas condições ambientais e eliminar seus detritos, assim como 
os seres vivos. Tais argumentos provêm de estudos no campo da 
astrofísica que comprovam a alteração do calor do Sol e um aumento 
“[...] de 25%, desde que a vida começou na Terra e que, não obstante 
a esse aumento, a temperatura da superfície da Terra tem 
permanecido constante, num nível confortável para a vida, nesses 
quatro bilhões de anos (Capra, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 
110). 
Essa abordagem olha para a vida de maneira ampla, com a convicção de 
que tudo faz parte de tudo, continuamente, e que para a compreensão de um 
elemento ou problema isolado é preciso ter a ideia do todo. Entretanto, ela pode 
ser colocada dentro de um sistema a fim de organizar e facilitar a sua abordagem 
pelo método, mas ela, de fato, pertence à abordagem holística que não tem 
características organizadas em círculos, quadros, sistemas (Mendonça; Dias, 
2019, p. 111). 
Nas Figuras 6 e 7 podemos observar exemplos da abordagem holística 
em nossa sociedade; são os fluxogramas e as terapias alternativas em saúde. 
 
 
13 
Figura 5 – Exemplos da abordagem holística na sociedade 
 
Fonte: Soares, A. C. P, 2013. 
Figura 6 – Exemplos da abordagem holística na sociedade 
 
Fonte: Shutterstock. 
Podemos notar que o fluxograma evidencia a integração de elementos 
colocados em conjunto, com vias amplas para o diagnóstico, comumente 
utilizados em pesquisas socioambientais. Já nas terapias alternativas para a 
saúde, a prática compreende que o ser humano é um sujeito holístico, 
constituído por esferas e dimensões (espiritual, física e mental). 
Capra (citado por Mendonça; Dias, 2019, p.113) posiciona-se 
favoravelmente à construção de 
[...] uma teoria dos sistemas vivos consistente com o arcabouço 
filosófico da ecologia profunda, incluindo uma linguagem matemática 
 
 
14 
apropriada e implicando uma compreensão não-mecanicista e pós-
cartesiana da vida, está emergindo nos dias de hoje. 
Diante dessa abordagem, podemos afirmar a real necessidade de apoiar 
o que Maturana (1988) criticou, ao dizer que estamos fragmentados e presos em 
cadeiras de conhecimentos que não permitem o olhar para outros ramos e 
campos do conhecimento – algo que causa prejuízos ao praticante e ao espaço 
que receberá esse resultado. 
Tais divisões e especializações não conseguem suprir as necessidades 
sociais, políticas, culturais e ambientais etc. A temática, a questão e a 
problemática ambiental exigem – até porque tem sua gênese numa concepção 
relacional – o exercício da ciência e da criatividade para o tratamento adequado 
dos graves problemas que afligem a continuidade da vida humana sobre o 
planeta Terra (Mendonça; Dias, 2019, p.113). 
NA PRÁTICA 
Com o intuito de ilustrar as nossas discussões, dois documentários são 
propostos. O primeiro deles, Beautiful Minds (disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=QqwZJDEZ9Ng>.), evidencia a defesa da 
perspectiva holística e integradora, de forma a trazer ao expectador o bom senso 
nas discussões. Já o segundo, é um clássico para as discussões ambientais, 
pois conta de forma lúdica a História das Coisas (disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw>.), os caminhos e os 
desdobramentos de nossas ações para a natureza e sociedade, imaginando que 
esses caminhos estão interligados, assim como a abordagem sistêmica e 
holística. 
FINALIZANDO 
Diante de tais evidências, podemos concluir com esta terceira aula o que 
é o pensamento sistêmico, quais são as teorias que o fundamentam e que como 
contraponto também eliminam perspectivas da análise ambiental. Nossa fala foi 
crítica em relação aos processos e impactos socioambientais que acontecem no 
planeta, deixando para o ser humano a responsabilidade desses feitos. 
Apesar da proposta de entender a realidade por meio dos elementos que 
a formam, a Teoria dos Sistemas acaba sendo alvo de críticas pelo fato de ser 
abordada como mera soma de elementos dentro de um sistema isolado, 
 
 
15 
impondo divisões geradaspela ideia de sistema isolado. Tais críticas são 
apontadas com a apresentação da concepção da abordagem holística em que, 
na essência, todos os fenômenos e elementos são conectados e interligados. 
Mas nem tudo está perdido. Também são fortuitas as perspectivas que 
tentam analisar o todo, o complexo e a necessidade de integrar. As ciências se 
encarregam disso e apesar de serem falíveis, estão no esforço de contribuir para 
a sociedade e para a retomada do sentimento de solidariedade e humanidade. 
 
 
 
16 
REFERÊNCIAS 
BERTRAND, G. Paisagem e geografia global. Esboço metodológico. São Paulo: 
Universidade de São Paulo, Instituto de Geografia, Cadernos de Ciências da 
Terra, p. 1-27. 1971. 
CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos seres vivos. 
São Paulo: Ed. Cultrix, 1972; 1999. 
FERREIRA, L. C. Ecologia e economia os desafios da articulação. Revista 
Agricultura Sustentável. p. 23-26, jan./jun., 1994. 
LILIENFELD, D. Definitions of epidemiology. American Journal of 
Epidemiology, 107(2):87-90, 1978. 
LOVELOCK, J. Gaia. Nova York: Oxford University Press, 1979. 
MATURANA, H. Reality: The Search for Objectivity or the Quest for a Compelling 
Argument. Irish Journal of Psychology, v. 9, n. 2 l, p. 25-82, 1988. 
MENDONÇA F.; DIAS, M. A. Meio Ambiente e Sustentabilidade. Curitiba: Ed. 
InterSaberes, 2019. 
MENDONÇA, F. O Estudo do Clima Urbano no Brasil: Evolução, tendências 
e desafios. In: MONTEIRO, C.A.F.; MENDONÇA, F. (org.). Clima Urbano. São 
Paulo: Ed. Contexto, 2003. 
MOLLES, M. Ecology: concepts and applications. McGraw-Hill, 1999. 
ODUM, E. Fundamentais of Ecology. Filadélfia: Saunders, 1953. 
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