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MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE AULA 3 Profª Mariana Andreotti Dias 2 CONVERSA INICIAL Seguindo com nossas discussões, até agora compreendemos o que é a temática ambiental e as definições que fundamentam a lógica ambiental e também a de mercado – conhecimento adquirido por meio do estudo acerca do conceito de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. De posse disso, conseguiremos então analisar as mudanças no discurso ambiental que agora se apresenta de forma integrada, em uma percepção sistêmica e holística. Para compreendermos esse tema, vamos explorar os seguintes itens: A abordagem sistêmica do meio ambiente compreendendo a Teoria dos Sistemas e de sua contribuição para a evolução do discurso ambiental; A evidente ação do homem como modificador da natureza e elemento de análise dos estudiosos; Análise do "todo" na perspectiva holística. TEMA 1 - A ABORDAGEM SISTÊMICA DO MEIO AMBIENTE A temática ambiental é construída, como já vimos, por meio de conceitos e discursos. Tais discursos compreendem perspectivas múltiplas para a analise, sendo a perspectiva sistêmica uma das principais. Ela provém da Teoria Geral dos Sistemas (TGS) que surgiu com os trabalhos do biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy, publicados entre 1950 e 1968 e foi amplamente aplicada na análise da natureza e da sociedade desde então. Seus objetivos principais eram auxiliar na compreensão dos fenômenos observados na realidade e ser a interação entre os elementos que permitem compreender qualquer sistema. Assim é possível delinear sistemas naturais, sistemas sociais, sistemas ambientais, etc. (Mendonça; Dias, 2019, p.91). O contexto histórico da TGS e sua contribuição para a evolução do discurso ambiental são comprovados pelo seu uso em diversos ramos específicos, como ecologia, biologia, geografia, engenharias, administração, etc. Essa teoria é ao mesmo tempo uma construção teórica e metodológica que tece considerações a respeito de suas potencialidades na física, na biologia e nas ciências sociais. Capra (citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 94) compreende a importância da TGS para a temática ambiental, pois 3 (...) também podemos dizer que todo pensamento sistêmico é pensamento ambientalista”; visto que a abordagem sistêmica é uma abordagem contextual, intrínseca, explicar coisas considerando o seu contexto significa explicá-las considerando o seu meio ambiente. TEMA 2 – O PENSAMENTO SISTÊMICO: O ECOSSISTEMA E O GEOSSISTEMA De acordo com Capra (citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 94-95), o pensamento sistêmico pode ser compreendido da seguinte forma: • A compreensão das propriedades das partes é feita a partir da dinâmica do todo; • As partes são padrões de uma rede de relações e cada estrutura é vista como uma manifestação de um processo implícito; • no processo de conhecimento deve ser incluída a descrição explícita dos fenômenos naturais; • A rede de inter-relações é a metáfora do conhecimento, para representar os fenômenos observados. A disposição das partes ou dos elementos de um todo coordenados entre si funciona como uma estrutura orgânica dinâmica, onde existe fluxo e transformação; • Todos os conceitos, as teorias e as descobertas são aproximações da realidade. De posse dessa construção metodológica, as ciências mais diversas vão se voltar para a perspectiva sistêmica criando, assim, um ideário para suas teorias. Exemplo disso é o conceito de ecossistema (Figura 1), criado por Tansley, em 1937. Podemos perceber que a junção de eco + sistema compreende, segundo Mendonça e Dias (2019, p. 95) a “operacionalização de alguns atributos, caracterizados por um conjunto de seres vivos (biocenose) que se relacionam no meio físico (biótipo), compondo uma unidade de organismos interdependentes que compartilham o mesmo hábitat”. Figura 1 - Esquema simplificado de um ecossistema Fonte: Andreotti, 2019, p.96. 4 Mas, dependendo da área do conhecimento, haverá a adequação da TGS, a exemplo da geografia, que lê o ecossistema como “as inter-relações que os organismos de determinado local estabelecem entre si e o meio abiótico, ou seja, é a soma da biocenose ao biótipo” (Mendonça; Dias, 2019, p. 96). Dentro do ecossistema há componentes que denotarão particularidades ao serem integrados; como exemplos temos o ciclo biológico de uma planta, a cadeia alimentar, o ciclo da água, a bacia hidrográfica, sistema atômico, sistema solar, sistema celular, sistema molecular etc. Além disso, o ecossistema envolverá outras relações em que a base para a sua existência será o ser vivo (Mendonça; Dias, 2019, p.96). A abordagem ambiental sistêmica também pode ser compreendida por meio de outros complexos, como mostra a Figura 2. Figura 2 – Bacias hidrográficas Brasil e perfil pedológico Fonte: Shutterstock. As imagens ilustram dois sistemas: as bacias hidrográficas que compreendem uma regionalização e o perfil pedológico de um solo. Em ambos os casos, compreendemos a existência dos chamados inputs e dos outputs que mantêm uma inter-relação formando o todo. Sem a entrada e a saída não há o sistema e, consequentemente, não há relações e inter-relações. O sistema solar (Figura 3) pode ser um exemplo de ecossistema, pois é “um conjunto de planetas, asteroides e cometas que giram ao redor do sol. Cada um se mantém em sua respectiva órbita em virtude da intensa força gravitacional exercida pelo astro” (Virtus Tecnologia, 2008). 5 Figura 3 – O Sistema Solar Fonte: Virtus Tecnologia, 2008. Como input deste sistema temos, por exemplo, a órbita e toda a força gravitacional do complexo. Já os outputs serão o resultado da combinação desses fatores, ou seja, da saída do sistema, da carga e dos astros. É dentro dos princípios da ecologia que a abordagem ambiental sistêmica será inicialmente organizada. A ecologia é uma ciência que se relaciona com muitas outras – climatologia, oceanografia, fisiologia, demografia, psicologia, física, geologia, geografia, matemática – e, conforme muitos ecólogos modernos apontam, essa ciência não precede de outras e seus trabalhos de investigação se diferenciam das restantes pelo uso de ferramentas matemáticas (Odum, 1953; Molles, 1999 e Polo, 2010). Dentro da ciência geográfica também acontecerá um movimento parecido com o da ecologia, denominado geossistema. De acordo com Mendonça e Dias (2019, p.10), ele (...) resulta da combinação de fatores geomorfológicos (natureza das rochas, mantos superficiais etc.), fatores climáticos (precipitações, temperaturas, etc.) e fatores hidrológicos (lençol freático, qualidade da água, etc.). São fenômenos naturais, mas seu estado engloba fatores econômicos e sociais e seus modelos vão resultar em parâmetros passíveis de identificar alterações nas paisagens, em grande parte ocasionadas pelo homem. A sua proposta visa integrar a natureza e a sociedade humana. Este sistema (Figura 4) foi pensado por Sotchava, em 1978, que o aplicou na geografia com a perspectiva de espacializar o ecossistema e também como método (caminho) específico para os estudos geográficos. 6 Figura 4 – Fluxograma do geossistema Fonte: Bertrand, 2019, p. 101. Segundo Capra (2012; Mendonça; Dias, 2019, p. 99), de acordo com a visão sistêmica: [...] as propriedades essenciais de um organismo, ou sistema vivo, são propriedades do todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem das interações e das relações entre as partes. Essas propriedades são destruídas quando o sistema é dissecado, física ou teoricamente, em elementos isolados. “embora possamos discernir partes individuais em qualquer sistema, essas partes não são isoladas, e a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes. Mas quais são as contribuições que a perspectiva do ecossistema e do geossistema trazempara a temática ambiental? Mendonça e Dias (2019, p.101) explicam que A pesquisa com os geossistemas além de promover estudos com elementos abióticos (clima, solo, hidrografia, relevo, etc.) e bióticos (fauna e flora) também se promoveu da utilização de elementos característicos da sociedade, da economia e da história. Essas considerações apontam as diferenças entre a teoria do ecossistema (ecologia) e a teoria do geossistema. Vieira (1970) aponta que existe uma dissociação entre geossistemas e ecossistemas, tanto em função de sua espacialidade, quanto, e principalmente, no que concernente ao seu foco, visto que esse último está diretamente ligado à ecologia. Vale frisar que a TGS não serviu apenas para a temática ambiental; ela foi contemplada em estudos quantitativos, fazendo parte da matematização do conhecimento em 1950, momento em que a Revolução Quantitativa Teorética proporcionou descobertas e avanços no campo da informática e no processamento de dados obtidos por softwares de alta tecnologia (Mendonça; Dias, 2019, p. 100). 7 Sendo assim, podemos considerar que a abordagem sistêmica se constitui numa excelente perspectiva para os estudos relacionados ao meio ambiente, especialmente porque permite a análise das relações entre os diferentes elementos de uma dada realidade; vimos anteriormente que a concepção fundamental de meio ambiente está alicerçada nas relações entre elementos naturais e/ou sociais (Mendonça; Dias, 2019, p. 102). E aí concentra-se a riqueza. Pensar de forma integrada e não mais fragmentada faz compreendermos as limitações e potencialidades das nossas ações na natureza, próximo tema que discutiremos. TEMA 3 - A AÇÃO ANTRÓPICA COMO ELEMENTO DE ANÁLISE Ao tratamos da temática ambiental em nossas aulas e dialogarmos sobre a inserção do ser humano na análise sistêmica, temos a expectativa que uma linearidade seja compreendida pelo intuito bastante coerente de expor que é o ser homem (e a sociedade) o responsável pelos processos degradantes da natureza e do meio ambiente. Sabemos que cada sociedade produz e reproduz seu espaço conforme suas necessidades e interesses, e concordamos com a afirmação de Troppmair (et al., 2006, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 104): “O tempo antrópico ou de impactos é o momento que altera de forma mais rápida e drástica a paisagem, pois ocorre em curtíssimo espaço de tempo, ou seja, em poucos anos, meses ou mesmo dias e horas”. Algo que possui relação direta com a surpresa que Ferreira (citado por Mendonça, Dias, 2019, p. 104) vai demonstrar ao perceber como a questão ambiental em pouquíssimo tempo se tornou um tema relevante nas diversas áreas do conhecimento, incluindo as teorias sociais que não possuíam discursos com esse cunho. Tal discurso vai de encontro ao que comentamos nos temas anteriores: as certificações ambientais, a ideia de desenvolvimento sustentável, etc. Vamos refletir sobre os seguintes pressupostos de Gonçalves (2019, p.104). Não restam dúvidas de que os problemas ambientais não são exclusivos da ordem natural ou cultural-histórica e a necessidade de discutir paradigmas e reformulá-los aparece pela busca de não tomar homem e natureza como polos excludentes. 8 Reforçamos a perspectiva de não excluir da análise ambiental a interferência humana; não são de responsabilidade do planeta e de seus fatores naturais os eventos extremos, as queimadas, as enchentes; etc.; são causas latentes da interferência humana. O que se pretende é questionar a importância de situar o homem dentro da análise sobre a questão ambiental, já que é o homem quem mais provoca alterações e degradações ao ambiente (e, portanto, a si mesmo) sendo então coerente colocá-lo sobre apreciação e em conjunto a esses processos. Essa concepção do homem assumindo o papel de ser modificador da natureza reside não apenas nos discursos ecológicos, mas em averiguações cotidianas: paisagens alteradas e impactos ambientais, o que acarreta certa banalidade ao tratamento da questão, por já convivermos e estar acostumados com tais situações (Mendonça; Dias, 2019, p. 104-105). 3.1 A questão ambiental é despertada De forma a compreender tais implicações, o movimento ecológico aparece com o objetivo emergencial de atentar as sociedades para os prejuízos causados às fontes vitais. Alguns autores apontam que a culpa de toda a crise que vivemos é da globalização, especialmente as crises sociais, ambientais e econômicas. Mas a globalização causou muito mais que isso, causou a perda da saúde mental e emocional dos seres humanos. A seguir, vamos compreender este percurso. A explosão demográfica, expressão utilizada a partir dos anos 1950, ocorreu, sobretudo nos países do terceiro mundo, nos anos 1960 e 1970, em conjunto ao êxodo rural exercido pela população que migrou para as cidades em busca de melhores condições de vida. Os avanços tecnológicos e as melhorias nas condições de higiene, saúde e alimentação geral permitiram que o crescimento acontecesse. Entretanto, desde a Teoria de Malthus são perceptíveis aspectos de uma dominação provenientes das altas hierarquias do poder (Mendonça; Dias, 2019, p. 106). Nos anos 1970 uma grande seca assolou a população do Sahel (Figura ), região da África localizada entre o deserto do Saara e as terras férteis a sul, e o processo de desertificação impossibilitou a agricultura prejudicando a população que, boa parte, morreu de fome. O grande contingente populacional dos países 9 africanos, explorado em demasia e desumanamente, também motivou o enfraquecimento dos solos que, em sua gênese, são afeitos ao processo desértico (Mendonça; Dias, 2019, p. 106). Figura 5 – Desertificação na África Fonte: Shutterstock. A respeito disso, Mendonça e Dias (2019, p. 106) evidenciam a seguinte opinião: Muitas questões são lançadas quando tratamos das problemáticas que ocorrem em território africano, podem ser em relação à saúde, a natalidade e mortalidade, a economia etc. Em maioria, tais questionamentos são marcados por visões racistas e preconceituosas (...) O que podemos concluir, de forma forasteira, é que após inúmeras tragédias (desertificação, fome, miséria, epidemias, etc.) a denúncia do estado de calamidade em que vive a África tomou a dimensão global. Mas, esse 10 discurso não cumpre com a função que deveria, o cessar fogo, o cessar fome, o cessar miséria, o cessar exploração do povo e do território. Olhando para o Brasil, encontramos cenários parecidos. O movimento aqui desencadeado uniu o ser humano ao meio ambiente nas discussões. Evidenciamos a ciência geográfica, que se encarregou de escrever sobre essa fase, muito pelo seu engajamento com questões sociais e sua preocupação em construir discursos que pudessem incentivar posturas humanas frentes as adversidades políticas, sociais e ambientais. Entretanto, não se pode esquecer o passado dessa ciência, que é voltado para apropriação e territórios e estratégias militares. Ademais, Mendonça e Dias (2019, p. 108-109) frisam que “essa ciência não é a única a se preocupar com esta perspectiva; o nascimento e o sequencial reforço da multi-interdisciplinaridade passaram a integrar, cada vez mais, as perspectivas dos estudos ambientais”, até que chegamos na perspectiva sistêmica, já discutida por nós, ou melhor, chegamos no momento de criticá-la pelas palavras de Lilienfeld (2019, p. 109): O que se encontra são pensadores sistêmicos que exibem uma fascinação por definições, conceituações e afirmações programáticas de uma natureza vagamente benévola, vagamente moralizante”, onde “as descrições (dessas analogias) parecem oferecer a eles um deleite estético que é a sua própria justificação. Questionamos então: Por que devemos buscar uma abordagem diferente da sistêmica? Essa não consegue englobar diversos elementos e prover análises agregadoras?Acredita-se que a razão se dá, pois a abordagem sistêmica especializa o conhecimento em campos fragmentados, ou seja, realizando o oposto do que a teoria se propôs em seu início. Uma saída para o entrave é vislumbrada por Maturana (1988), um crítico do processo sistêmico que com o apoio de Wasserman (2004) formulou uma nova abordagem: a holística. TEMA 5 - A BUSCA DA ABORDAGEM HOLÍSTICA Desde a década de 1970, com o movimento ecológico, acontece o despertar da consciência acerca do meio ambiente pela sociedade. Mas isso se dava de forma fragmentada, sem de fato atingir as camadas mais prejudicadas da sociedade. 11 Assim, a abordagem holística começou a ser traçada, colocando em evidência o desafio de compreender o mundo de maneira mais ampla e não mais pela soma de elementos dentro de uma perspectiva sistêmica reducionista. Já comentamos que a teoria sistêmica foi criticada por ter falhado em seu objetivo de compreender o todo, livre de divisões e, consequentemente, seu paradigma se tornou resoluto. Então porque compreendemos as coisas e formas fragmentadas? Capra (citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 110) explica que: valores dominantes vigentes na sociedade do século XIX modelaram a nossa cultura e engessou o pensamento em perspectivas individuais, visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, [...] a crença de que a mulher está em uma posição inferior à do homem é uma sociedade que segue uma lei básica da natureza. Podemos compreender que essa lei não condiz mais com a sociedade do século XXI, que necessita de um novo paradigma capaz de celebrar uma visão de mundo completa, ou do holismo, que vem do grego holos (inteiro, todo) (Mendonça; Dias, 2019, p. 111). Qual a necessidade do holismo? Wasserman et al. (2004, p. 2) consideram que “o holismo vai aflorar na formação do cientista quando este se deparar com problemas que demandam interação de conhecimentos, levando-o ao processo de tentativa e erro”. Isso é ciência. Mendonça e Dias (2019) nos posicionam ao afirmar que “desde algumas décadas o mundo precisa de cientistas e pessoas que consigam resolver as problemáticas de maneira integrada”. Além disso, nos deparamos com perspectivas positivistas, matematizadas, que especializaram os conhecimentos e, mais ainda, especializaram nossas vidas. Capra (citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 113) complementa, afirmando que “[...] a ênfase nas partes tem sido chamada de mecanicista, reducionista ou atomística [...]”, sendo que a busca da compreensão maior de nossas vidas e realidades é a busca holística. Devemos então nos questionar sobre a similaridade entre a abordagem sistêmica e a abordagem holística, conforme explanam Mendonça e Dias (2019, p. 110). A abordagem sistêmica faz parte da concepção holística que fora desenvolvida no início século XX e tem o objetivo de facilitar a compreensão humana visando organizar e integrar elementos que se interagem numa mesma perspectiva (conforme visto acima). Elabora- se um sistema conforme a necessidade de análise, sendo a escolha 12 dos elementos e fatores que vão se interagir de responsabilidade da pessoa, algo também característico do holismo, mas esse último vai eclodir como uma metodologia ampla, verificando outras relações e trocas possíveis entre os corpos, a matéria. A concepção holística está embasada na convicção de que tudo faz parte de tudo, que tudo se relaciona permanentemente, e que para a compreensão de um elemento ou problema isolado é preciso se ter a ideia do todo. Essas considerações estão intrinsicamente associadas à Teoria de Gaia (ou hipótese de Gaia) que foi desenvolvida por Lovelock e Margulis, em 1972. Ela traz a ideia [...] de que o planeta Terra como um todo é um sistema vivo, auto- organizador [...]”, ou seja, consegue gerar energia, manter seu clima, alterar suas condições ambientais e eliminar seus detritos, assim como os seres vivos. Tais argumentos provêm de estudos no campo da astrofísica que comprovam a alteração do calor do Sol e um aumento “[...] de 25%, desde que a vida começou na Terra e que, não obstante a esse aumento, a temperatura da superfície da Terra tem permanecido constante, num nível confortável para a vida, nesses quatro bilhões de anos (Capra, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 110). Essa abordagem olha para a vida de maneira ampla, com a convicção de que tudo faz parte de tudo, continuamente, e que para a compreensão de um elemento ou problema isolado é preciso ter a ideia do todo. Entretanto, ela pode ser colocada dentro de um sistema a fim de organizar e facilitar a sua abordagem pelo método, mas ela, de fato, pertence à abordagem holística que não tem características organizadas em círculos, quadros, sistemas (Mendonça; Dias, 2019, p. 111). Nas Figuras 6 e 7 podemos observar exemplos da abordagem holística em nossa sociedade; são os fluxogramas e as terapias alternativas em saúde. 13 Figura 5 – Exemplos da abordagem holística na sociedade Fonte: Soares, A. C. P, 2013. Figura 6 – Exemplos da abordagem holística na sociedade Fonte: Shutterstock. Podemos notar que o fluxograma evidencia a integração de elementos colocados em conjunto, com vias amplas para o diagnóstico, comumente utilizados em pesquisas socioambientais. Já nas terapias alternativas para a saúde, a prática compreende que o ser humano é um sujeito holístico, constituído por esferas e dimensões (espiritual, física e mental). Capra (citado por Mendonça; Dias, 2019, p.113) posiciona-se favoravelmente à construção de [...] uma teoria dos sistemas vivos consistente com o arcabouço filosófico da ecologia profunda, incluindo uma linguagem matemática 14 apropriada e implicando uma compreensão não-mecanicista e pós- cartesiana da vida, está emergindo nos dias de hoje. Diante dessa abordagem, podemos afirmar a real necessidade de apoiar o que Maturana (1988) criticou, ao dizer que estamos fragmentados e presos em cadeiras de conhecimentos que não permitem o olhar para outros ramos e campos do conhecimento – algo que causa prejuízos ao praticante e ao espaço que receberá esse resultado. Tais divisões e especializações não conseguem suprir as necessidades sociais, políticas, culturais e ambientais etc. A temática, a questão e a problemática ambiental exigem – até porque tem sua gênese numa concepção relacional – o exercício da ciência e da criatividade para o tratamento adequado dos graves problemas que afligem a continuidade da vida humana sobre o planeta Terra (Mendonça; Dias, 2019, p.113). NA PRÁTICA Com o intuito de ilustrar as nossas discussões, dois documentários são propostos. O primeiro deles, Beautiful Minds (disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=QqwZJDEZ9Ng>.), evidencia a defesa da perspectiva holística e integradora, de forma a trazer ao expectador o bom senso nas discussões. Já o segundo, é um clássico para as discussões ambientais, pois conta de forma lúdica a História das Coisas (disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw>.), os caminhos e os desdobramentos de nossas ações para a natureza e sociedade, imaginando que esses caminhos estão interligados, assim como a abordagem sistêmica e holística. FINALIZANDO Diante de tais evidências, podemos concluir com esta terceira aula o que é o pensamento sistêmico, quais são as teorias que o fundamentam e que como contraponto também eliminam perspectivas da análise ambiental. Nossa fala foi crítica em relação aos processos e impactos socioambientais que acontecem no planeta, deixando para o ser humano a responsabilidade desses feitos. Apesar da proposta de entender a realidade por meio dos elementos que a formam, a Teoria dos Sistemas acaba sendo alvo de críticas pelo fato de ser abordada como mera soma de elementos dentro de um sistema isolado, 15 impondo divisões geradaspela ideia de sistema isolado. Tais críticas são apontadas com a apresentação da concepção da abordagem holística em que, na essência, todos os fenômenos e elementos são conectados e interligados. Mas nem tudo está perdido. Também são fortuitas as perspectivas que tentam analisar o todo, o complexo e a necessidade de integrar. As ciências se encarregam disso e apesar de serem falíveis, estão no esforço de contribuir para a sociedade e para a retomada do sentimento de solidariedade e humanidade. 16 REFERÊNCIAS BERTRAND, G. Paisagem e geografia global. Esboço metodológico. São Paulo: Universidade de São Paulo, Instituto de Geografia, Cadernos de Ciências da Terra, p. 1-27. 1971. CAPRA, F. 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