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FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL UNIASSELVI-PÓS Autoria: Thais Benetti de Oliveira Lenhardt Indaial - 2020 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: L566f Lenhardt, Thais Benetti de Oliveira Fundamentos da educação ambiental. / Thais Benetti de Oliveira Lenhardt. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 152 p.; il. ISBN 978-65-5646-036-9 ISBN Digital 978-65-5646-037-6 1. Educação ambiental. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 304.2 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................................7 CAPÍTULO 2 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO CAMPO TEÓRICO EM CONSTRUÇÃO: ASPECTOS HISTÓRICOS, EPISTEMOLÓGICOS E CONCEITUAIS ........................................53 CAPÍTULO 3 EDUCAÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE ..................................103 APRESENTAÇÃO Essa disciplina foi estruturada com o objetivo de apresentar e problematizar os principais conceitos pertencentes à Educação Ambiental, suscitando reflexões e contextualizações com problemas e exemplos reais, de modo que você, aluno, possa identificar as questões abordadas em seu cotidiano. Como futuro gestor ambiental é muito importante que você compreenda a relação homem-ambiente e, então, aplique esse entendimento em situações profissionais diversas como: criação e acompanhamento de projeto sobre Educação Ambiental em diferentes cenários; consultorias ambientais ou recuperação de áreas degradadas. A Educação Ambiental (EA) é um campo de conhecimento cujo objetivo principal é descrever e problematizar os mecanismos de inter-relação natureza- homem em suas diversas dimensões e manifestações. Trata-se, portanto, de um meio indispensável para a criação e aplicação de artifícios ou modos sustentáveis de interação sociedade/natureza e de soluções para os problemas ambientais. A partir disso, educar os brasileiros para que ajam de modo responsável e com sensibilidade por meio de comportamentos e atitudes conscientes que propiciem a manutenção do ambiente para futuras gerações. é de suma importância visto que a manutenção desse ambiente depende, fundamentalmente, de sua relação com o homem (influenciado por questões históricas, sociais, culturais e ideológicas), de como a ação antrópica na maioria das vezes, sistematicamente, repetida) interfere na dinâmica ambiental. Portanto, quando falamos de EA, não podemos pensar apenas em critérios objetivos, em conteúdos teóricos específicos, mas, devemos considerar, também, aspectos subjetivos da vida, inserindo, portanto, o trabalho com vínculos de identidade e empatia com o entorno socioambiental. Só quando se inclui, , a sensibilidade, a emoção e os sentimentos se obtêm mudanças significativas de comportamento. Por isso, a organização deste material primará, em seu primeiro capítulo, a apresentação de definições e pontos consensuais da EA, sua inserção na escola, a compreensão da diferença dos conceitos de ambiente, meio ambiente e natureza, bem como a importância dessas conceituações para o entendimento da área. O segundo capítulo tem como foco o contexto do surgimento e consolidação da EA: por que essa área ganhou tanto espaço nas pesquisas, nos discursos acadêmicos e midiáticos? Quais as transformações e características da sociedade contemporânea suscitaram reflexões sobre uma mudança premente no comportamento do homem no que tange às ações sustentáveis? Qual a relação entre o modo de produção capitalista e a emergência das questões ambientais? Essas questões remetem a trajetória da EA no Brasil, bem como às diferentes correntes teóricas que a definem e fundamentam e a transversalidade e transdisciplinaridade que caracteriza esse campo de pesquisa. O capítulo final deste material explora a questão da sustentabilidade e seus mitos, procurando descontruir concepções equivocadas e simplistas do termo que tem sido mobilizado em diferentes cenários, contextos e discursos, muitas vezes, com conotações apelativas, propagandísticas e de senso comum. A sustentabilidade tem sido difundida de forma irrefletida por meio de mobilizações ingênuas cujo fundamento não contribui, efetivamente, para promoção de estratégias que viabilizem a construção de uma sociedade ecologicamente equilibrada. Assim, para concluirmos os conteúdos desta disciplina, problematizaremos o conceito de sustentabilidade e a Educação para sustentabilidade, bem como a sua relação e/ou contribuição para a formação para cidadania. CAPÍTULO 1 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender a EA e seus principais focos de estudo. � Apresentar as potencialidades do trabalho com a Educação Ambiental na escola. � Compreender os conceitos de natureza, ambiente e meio ambiente por meio de uma análise histórica e epistemológica, bem como seu significado na EA. � Evitar o uso arbitrário e/ou equivocado dos termos pertencentes ao campo da EA. 8 Fundamentos da Educação Ambiental 9 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A temática ambiental é colocada em pauta na sociedade contemporânea como uma preocupação que atinge, não apenas especialistas e profissionais das Ciências da Natureza (biólogos e geólogos, por exemplo); mas manifesta-se, também, em diversos segmentos sociais e figura no centro de muitos debates nacionais e internacionais. Nesses contextos, frequentemente, a educação tem sido apontada como uma das principais vias de enfrentamento dos problemas ambientais já que pode contribuir para formação de pessoas capazes de provocar mudanças significativas na situação de degradação socioambiental com a qual nos deparamos (OLIVEIRA; CALDEIRA, 2018). A EA surge, portanto, como uma resposta à crise ambiental e objetiva uma mudança urgente nas relações entre sociedade e natureza. Para tanto, provê mudanças culturais que culminam na formação de sujeitos com atitude ecológica, que tenham consciência sobre a relação entre sociedade e ambiente e que ajam para contribuir com a melhoria dessas relações (SOUZA; SALVI, 2012). Apesar da ênfase atribuída à EA em diversos cenários, os conceitos pertencentes à área têm constituído ideias simplistas e estereotipadas de senso comum, o que não contribui para produção de material ou discursos críticos e baseados em propostas ou projetos verossímeis. Não basta reproduzir discursos ou levantar bandeiras sobre consciência, preservação ambiental e reciclagem para que as pessoas adotem atitudes e adquiram valores sustentáveis. A partir disso, algumas questões emergem e tornam-se centro deste debate: “Como promover o senso de responsabilidade individual e coletiva?” “Como formar pessoas comprometidas com valores sociais e princípios de solidariedade e democracia?”. É preciso, em um primeiro momento, definir e distinguir significados,evitando o uso arbitrário de conceitos pertencentes à área. Por exemplo, o conceito de ambiente é polissêmico e pode estar associado a vários significados e contextos: pode ser substantivado (ambiente familiar); pode fazer menção à uma qualidade (temperatura ambiente), pode ser usado para indicar determinado local e momento (“... um filme ambientado em...”) e há, ainda, o nosso principal foco, o significado deste vocábulo na Ecologia. Assim como o ambiente, meio ambiente e natureza são conceitos axiomas da EA e que, muitas vezes, são aplicados de maneira indiscriminada e/ou 10 Fundamentos da Educação Ambiental equivocada. Se estamos arguindo sobre os preceitos de uma EA genuína e que, efetivamente, contribua para uma mudança de comportamento, precisamos articular (de forma equitativa) as dimensões conceituais e valorativas. 2 INTRODUÇÃO À TEMÁTICA AMBIENTAL NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: MAPEANDO OS PRINCIPAIS CONCEITOS E QUESTIONAMENTOS PERTENCENTES À ÁREA Este tópico trata de um preâmbulo; um convite ao interesse para estudar a EA apresentando e analisando, criticamente, suas diferentes facetas epistemológicas. Essa leitura deve conduzi-lo ao entendimento de como essa área é constituída, quais são seus objetivos e objetos de estudo e pesquisa; e como ela é definida. Embora não serão apresentadas, neste momento, as diferentes correntes teóricas que sustentam a EA, é oportuno adiantar que elas existem e devem ser analisadas e distinguidas. Nesse primeiro momento, serão abordados pontos consensuais questões pertencentes à área que a delimitam como um campo de conhecimento. Mas, por que a EA é um campo de conhecimento? Para que possamos definir um novo campo de conhecimento, é necessário que esse campo cumpra critérios e possua atributos específicos. Para Cachapuz et al. (2005), por exemplo, o desenvolvimento de um novo campo de conhecimento está, na maior parte das vezes, associado às seguintes condições: a existência de uma problemática relevante, a qual suscite interesse e esforços para seu estudo, pesquisa e problematização; o caráter específico dessa problemática, ou seja, que não haja outra área de conhecimento já consolidada e que possa estudá-la; e a existência de condições externas favoráveis, como as conjunturas sociocultural, histórica, econômica e os recursos humanos específicos (NETO, 2009). É inegável que essas condições podem ser identificadas no campo da EA, tanto no Brasil, como em outros países. Isso porque, esse campo traz uma problemática – a questão ambiental, sua dinâmica de transformação, sua degradação, a sustentabilidade ambiental, entre outros aspectos – de alta relevância e discutida em âmbito mundial há mais de cinco décadas. Os estudos acerca dessas problemáticas são cada vez mais abordados e aparentes em 11 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 decorrência de um contexto sociocultural, político, econômico e ideológico que exige medidas globais e imediatas para o tratamento das questões ambientais (NETO, 2009). Vê-se que a EA está associada a contextos socioculturais, políticos, econômicos e ideológicos e prima pela mudança de comportamento frente a relação homem-natureza. Decorrente disso, existem muitas definições e correntes teóricas, as quais procuram estabelecer maneiras efetivas de mudar a relação supracitada. Nesse sentido, partimos da “compreensão de que o campo da EA é um campo plural, diverso e diferenciado de tendências político-pedagógicas, éticas e epistemológicas” (LIMA, 2005, p. 20). Pode-se dizer que o campo da EA é composto por uma diversidade de atores, grupos e instituições sociais que compartilham, enquanto membros do campo, um núcleo de valores, de normas e características comuns, mas que se diferenciam entre si, por suas concepções sobre a crise ambiental e pelas propostas político-pedagógicas que defendem para abordar os problemas ambientais. Essas concepções ambientais e pedagógicas, por sua vez se fundamentam em interesses e posições políticas diversas que oscilam entre tendências à conservação ou à transformação das relações sociais e das relações que a sociedade mantém com o seu ambiente” (LIMA, 2005, p. 16). Em um artigo intitulado “(Re) pensando a EA”, a professora Marília Freitas de Campos Tozoni-Reis faz uma compilação acerca de algumas das definições da EA: QUADRO 1 - DIFERENTES CONCEPÇÕES ACERCA DA EA 1. “Educação Ambiental é um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir – individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais presentes e futuros.” (Ministério do Meio Ambiente – MMA). 2. “[...] a Educação Ambiental compreendida como o espaço onde se engendram relações sociais resultantes de um passado instituidor que, atualizando o presente, faz emergir as referências para futuras ações educativas no campo das políticas públicas de meio ambiente. Significa, ainda, desvelar para a sociedade experiências e propostas de Educação Ambiental, 12 Fundamentos da Educação Ambiental em tempos diferentes, muitas vezes até conceitualmente divergentes, mas, todas, reveladoras de um nexo comum com as conjunturas política, social, econômica e ambiental vivenciadas.” (Secretaria do Meio Ambiente – SP). 3. “A Educação Ambiental é definida como um processo de formação e informação orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sobre as questões ambientais, e de atividades que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental.” (Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama). 4. “O conceito de Educação Ambiental é complexo, abstrato e dificilmente compartilhado, porque não está abrangentemente explicado. Pode ser visto como uma forma de intervenção na problemática ambiental mediada por projetos definidores de programas educativos. A Educação Ambiental envolve- se na formação das pessoas na busca da utopia que significa oportunidade de reinvenção do compromisso com a emancipação. A Educação Ambiental é um processo continuado, permanente, com estratégias específicas desenvolvidas pelos seus participantes, incluindo a de sobrevivência econômica, comunitariamente articulada. Assim, o bairro, a microbacia, o ambiente urbano, articulam a rede de cidadania, base do desenvolvimento sustentável. A prática da Educação Ambiental deve objetivar a ser perpassada pela intencionalidade de promoção e pelo incentivo ao desenvolvimento de conhecimentos, valores, atitudes, comportamentos e habilidades que contribuam para a sobrevivência – a nossa e de todas as espécies e sistemas naturais do planeta –, a participação e a emancipação humana.” (Instituto Ecoar). 5. “A Educação Ambiental deve ser direcionada para a compreensão da busca de superação das causas estruturais dos problemas ambientais por meio da ação coletiva e organizada. Segundo esta percepção, a leitura da problemática ambiental deve se realizar sob a ótica da complexidade do meio social e o processo educativo deve pautar-se por uma postura dialógica, problematizadora e comprometida com transformações estruturais da sociedade, de cunho emancipatório. Neste sentido, acredita-se que, ao participar do processo coletivo de transformação da sociedade, a pessoa estará, também, se transformando.” (Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – MG). 6. “A verdadeira Educação é ambiental em sua essência, uma vez que o planeta não é uma somatória de sujeitos isolados por redomas… Sua tônica deve ser a de conectar as várias áreas do conhecimento, com noção de encadeamento dos fatos. E que o aprendizado se concretize em mudança de comportamento, por adoção de uma nova filosofia de vida. Que as pessoas 13 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDOE DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 possam se conscientizar de seu papel na engrenagem e da importância e consequência de suas ações.” (Maria Vitória Ferrari Tomé – Rede Ambiente). 7. “O conceito de Educação Ambiental foi mudando ao longo do tempo. Inicialmente relacionado à ideia de natureza e o modo de percebê-la, tem se acentuado a necessidade de levar em conta os vários aspectos que interferem nas situações ambientais, incorporando as dimensões socioeconômica, política, cultural e histórica de uma população” (Vidagua). 8. “A Educação Ambiental se constitui numa forma abrangente de Educação, que se propõe atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo permanente que procura incutir no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais.” (Ambiente Brasil). 9. Art. 1° Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999). A “Educação Ambiental envolve o entendimento de uma educação cidadã, responsável, crítica, participativa, em que cada sujeito aprende com conhecimentos científicos e com o reconhecimento dos saberes tradicionais, possibilitando a tomada de decisões transformadoras, a partir do meio ambiente natural ou construído no qual as pessoas se integram. A Educação Ambiental avança na construção de uma cidadania responsável voltada para culturas de sustentabilidade socioambiental”. (Parecer CNE/CP nº 14/2012, aprovado em 6 de junho de 2012 - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental). A Educação Ambiental é um processo, uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação que utiliza vários conhecimentos para promover a compreensão dos mecanismos de inter-relação natureza- homem, em suas diversas dimensões (Parâmetros Curriculares Nacionais- Temas Transversais). FONTE: Adaptado de Tozoni-Reis (2004) 14 Fundamentos da Educação Ambiental Após fazer a leitura do Quadro 1, constituído por 11 definições de EA, você consegue identificar referências comuns em todas as conceituações que possam ser consensuais sobre a definição de EA? Procure fazer esse exercício mentalmente ou por meio da construção de um mapa conceitual. Para saber mais sobre mapa conceitual, faça a leitura do artigo ou assista ao vídeo, disponíveis nos links a seguir: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cc/v12/v12a08.pdf>. <https://www.youtube.com/watch?v=F54SWctP7-E>. Embora as definições apresentadas sejam plurais, enunciadas por diferentes sujeitos, há elementos de intersecção que unificam o conceito de EA. Trata-se da ideia de que a EA é um processo permanente, continuado. Se pensarmos que o principal objeto de estudo dessa área é a relação do homem com a natureza e que essa relação é transformada constantemente, essa constatação parece óbvia. Por exemplo, imagine se ainda vivêssemos em uma sociedade cuja economia fosse sustentada totalmente pelo escambo ou pela agricultura de subsistência... Será que as questões correlatas à EA estariam tão emergentes? Além disso, nenhuma definição menciona a EA apenas como um conjunto de conceitos pertencentes à Biologia e suas subáreas (por exemplo, Ecologia ou Geologia). Trata-se de um conhecimento transdisciplinar e multidimensional, pautado em questões socioeconômicas, políticas, culturais e históricas. Ademais, essa área é constituída não apenas por saberes conceituais, mas, também, procedimentais e atitudinais. Envolve um saber, um saber-fazer e um saber ser coletivo, solidário, além de uma tomada de consciência manifestada na percepção de que o homem é parte da natureza e não externo a ela. Em consonância a esses elementos consensuais, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, todas as recomendações, decisões e tratados internacionais sobre o tema evidenciam a importância atribuída por lideranças de todo o mundo para a EA como meio indispensável para se conseguir criar e aplicar formas cada vez mais sustentáveis de interação sociedade-natureza e soluções para os problemas ambientais (BRASIL, 1998). Percebe-se assim, a ênfase na relação sociedade-natureza e nas diferentes formas de explorá-la e derivar reflexões sobre as condições que configuram o 15 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 “tipo” de relação predominante (exploratória, afetiva, irrelevante, por exemplo). É fundamental que analisemos como o nosso modo de vida e organização social – hoje geridos pelo capitalismo- afetam a nosso modo de lidar com a natureza. A “EA apresenta-se como um campo novo e multidi mensional ainda insuficientemente explorado em sua complexidade, diversidade, em sua(s) identidade(s) e alcance social” (LIMA, 2005, p. 11). Igualmente, por não haver estudos empíricos que possibilitem saber qual é a postura político-pedagó gica da EA em todos os setores da sociedade, ao menos entre os pesquisadores da área “a ideia de que o conhecimento e a prática da EA devem incorporar as dimensões sociais e políticas da questão ambiental parece ser na atualidade, uma conclusão consensual” (Lima, 2005, p. 118). Isso significa que, os conhecimentos das Ciências Naturais não são suficientes para sustentarem a área. Por exemplo, a Sociologia é uma disciplina cujo objeto de estudo é a forma de organização da sociedade. A partir da revolução industrial e suas consequências, uma nova organização social foi instituída e, então, o estudo dessas organizações passou a fazer mais sentido: as classes sociais emergentes, a divisão do trabalho, o êxodo rural e concomitante urbanização, a emergência do capitalismo. Estudar essas questões e compreender profundamente o modo de produção capitalista pode ser uma ferramenta de análise para o entendimento do porquê a sustentabilidade é tão aclamada dentro da questão ambiental. Embora seja importante que a disciplina de Ciências dê a sua contribuição para a compreensão dos fatores que compõem o ambiente e colabore na formação de uma consciência ambiental, a EA tem natureza transversal e interdisciplinar não sendo, portanto, objeto de estudo exclusivo das Ciências Naturais. É importante questionar a concepção de mundo estritamente biológico das Ciências Naturais e ampliar essa visão a partir de uma concepção de mundo que inclua os valores culturais, o mundo das humanidades (BRASIL, 1998). O estudo e a análise cartesiana (compartimentalizada) que influenciou o modo de fazer ciência durante séculos (herança da proposição filosófica de Descartes) subdivide os objetos de estudo a serem analisados por diferentes áreas do conhecimento. Para o estudo dos fenômenos ambientais, esse critério não é suficiente dado o próprio funcionamento sincrônico simultâneo dos fenômenos ambientais, bem como a relevância da ação antrópica para compreendê- los. BRASIL, 1998). Os elementos ou fenômenos da natureza não podem ser estudados de forma isolada uma vez que atuam de forma interdependente. Por exemplo, em uma cadeia alimentar, se qualquer um dos níveis tróficos tiver a sua população alterada, a cadeia será afetada como um todo e, consequentemente, a dinâmica e o equilíbrio do ecossistema também. Sugere-se, dessa forma, uma mudança no olhar teórico e prático para a EA, 16 Fundamentos da Educação Ambiental de maneira a promover uma visão que integre as dimensões social, econômica, ecoló gica, geográfica e cultural (SACHS, 1989). Essa ideia tem como objetivo desprender-se de um conceito reducionista que entende a EA apenas como uma educaçãopara a conservação da natureza, a conscientização da sociedade e mudanças de comportamento (CORREIA, 2014). O objetivo mais genuíno e profundo dessa área é propor estratégias e ações de educação para a mudança da sociedade, para que a tomada de consciência promova e/ou oriente um desenvolvimento humano que seja, concomitantemente, causa e efeito da sustentabilidade e da responsabilidade global. Portanto, a partir de um ponto de vista operacional, a EA envolve tanto a análise crí tica da estrutura socioeconômica que tem determinado as atuais tendências insustentáveis (informação e sensibilização), como o reforço das capacidades humanas para transformar (agir), dando grande importância à preparação de uma cidadania responsável e capaz de tomar decisões num mundo globalizado e complexo (CORREIA, 2014, p. 10). Toda a concepção de EA cujo eixo de pensamento desprende a dinâmica “natural” das condições e contextos sociais e promove a ideia de que há uma “natureza” idealmente perfeita, estática, fora do movimento da vida (que deve ser ensinada por aqueles que a compreenderam e copiada pelos demais), nega a vinculação educação-cidadania-participação e desconsidera a sustentabilidade como uma construção permanente e decorrente das mediações (sociais e ecológicas) que nos constituem. Em processos educativos participativos não há uma única relação adequada, mas relações possíveis em determinados contextos, ou seja, territórios organizados culturalmente com uma história social a ser conhecida (no que tange ao passado) e transformada (no presente para criar-se o futuro). Trata-se, portanto, de um movimento constante de redefinição e aprimoramento das nossas relações sociais na natureza (LOUREIRO, 2004). Dessa forma, é preciso incentivar as pessoas, por meio da EA, a refletirem sobre a sua relação com a natureza, sobre como suas atitudes interferem na dinâmica do ecossistema e sobre como entender uma atitude individual como parte do bem coletivo. O êxodo rural, a criação de ambientes urbanizados artificiais, e o novo estilo de vida consumista e alheio às questões ambientais têm contribuído para um distanciamento entre a população e o ambiente natural. Para muitos alunos, o conhecimento sobre o ambiente é muitas vezes restrito ao que se ensina na escola, principalmente dentro de espaços formais de aprendizagem. A falta de possibilidades de interação das pessoas com a natureza pode ser um fator 17 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 importante na falta de identificação e sensibilização acerca dos problemas ambientais. Partindo de tal pressuposto, questões ambientais podem ser, equivocadamente, entendidas como independentes da realidade urbana. Embora seja uma ideia bastante, simplificada, é muito comum pensarmos que somos excêntricos à natureza, que vivemos fora dela, em um ambiente urbanizado, modernizado; que falar da relação do homem com a natureza não é falar de atitudes diárias, que interferem no meio específico no qual cada um vive, mas pensar em atitudes estritas à preservação de áreas verdes, em um local distante da vida cotidiana. De acordo com algumas perspectivas, a questão ambiental representa quase uma síntese dos impasses que o atual modelo de civilização acarreta. Assim, o que assistimos no início do século XXI não é só uma crise ambiental, mas uma crise civilizatória. E a superação dessa crise exigirá mudanças profundas na concepção de mundo, de natureza, de poder, de bem-estar, tendo por base novos valores individuais e sociais. Faz parte dessa nova visão de mundo a percepção de que o homem não é o centro da natureza (BRASIL, 1998). No âmbito do contexto social atual no qual a educação constitui uma forma de intervenção no mundo e sincroniza o ensino de conceitos, procedimentos e atitudes (e não apenas a ênfase perpetuada na memorização e repetição), diversas formulações teórico-metodológicas remetem-se à consolidação de tendências em EA como meio de enfrentamento dos desafios postos pela crise ambiental (SILVA; COSTA; ALMEIDA, 2012). A EA é a herdeira mais próxima dos debates ecológicos e está dentro dos movimentos de constituição de alternativas contra-hegemônicas que visam à construção de outras formas de relacionamento entre sociedade-natureza (SILVA; COSTA; ALMEIDA, 2012). Assim, podemos considerar que a EA é uma atividade intencional da prática social que imprime ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, com o objetivo de potencializar a atividade humana, tornando-a mais plena de prática social e de ética ambiental. Essa atividade exige sistematização por meio de metodologia que organize os processos de transmissão/apropriação crítica de conhecimentos, atitudes e valores políticos, sociais e históricos. Assim, se a Educação é mediadora na atividade humana, articulando teoria e prática, a EA é mediadora da apropriação, pelos sujeitos, das qualidades e capacidades necessárias à ação transformadora responsável diante do ambiente em que eles vivem. Podemos dizer que a gênese do processo educativo ambiental é o movimento de fazer-se plenamente humano pela apropriação/transmissão crítica e transformadora da totalidade histórica e concreta da vida dos homens no ambiente (TOZONI-REIS, 2004). 18 Fundamentos da Educação Ambiental De forma geral e em consonância com Reigota (1994), entende-se que a proble mática ambiental é constituída pelo resultado da forma como estão estabelecidas as relações entre sociedade e natureza e entre seres humanos, havendo uma apropriação humana sobre o meio ambiente de forma desigual e, em muitas vezes, em detrimento não só das demais formas de vida, mas também contra os próprios seres humanos (SOUZA; SALVI, 2012). Assim, é de importante considerar a Educação Ambiental como um campo que: 1. Gira em torno do educativo e do ambiental de forma que não é possível subtrair dos debates ambos os campos disciplinares; 2. Requer aportes de outras disciplinas e formas de conhecimento de ma neira a compor-se dentro de uma natureza interdisciplinar; 3. Tem construído sua própria especificidade e importância na arena da produção de conhecimento e de práticas sociais (NIETO-CARAVEO, 2001). Se o objetivo maior da EA e das ações derivadas desse campo de pesquisa e atuação é construir um novo patamar societário e de existência integrada às demais espécies vivas e em comunhão com o mundo, é preciso superar as formas de alienação que culminam na dicotomia sociedade/natureza (LOUREIRO, 2004). O desafio maior está, portanto, no desenvolvimento de uma educação que aumente a oferta de alternativas para a formação de sujeitos que construam um futuro sustentável. A realidade atual exige uma reflexão cada vez menos linear, e isto se produz na inter-relação entre saberes e práticas coletivas que criam identidades e valores comuns e ações solidárias face à reapropriação da natureza, numa perspectiva que privilegia o diálogo entre saberes (JACOBI, 2004). O adjetivo ambiental acrescentado à Educação diferencia a EA da Educação geral, inserindo como eixo notório de preocupação elementos da relação socie- dade e natureza. Destacam-se duas grandes tarefas nesse contexto: a realização de “uma crítica radical e permanente aos processos objetificantes promovidos e sustentados pela ética antropocêntrica do racionalismo moderno” (GRÜN, 1996, p. 51) e a divulgação de saberes que têm possibilidades de fomentar uma sociedade ecologicamente sustentada. A proposta e a fundamentação da EA dependem, também, da concepção de Educação que está em jogo. Se pensarmos na educação apenas como possibilidade para memorizar conceitos, termos, teorias e reproduzi-los em condições específicas dentro da escola (provas, trabalhos e chamadas orais) ou em situações correlatas (aprovação em vestibulares), a EA seráum conjunto de conceitos sobre Ecologia a ser decorado. Se pensarmos na educação com o objetivo de formação cidadã e de aprendizagem permanente de modo que o 19 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 indivíduo saiba situar-se e intervir na sociedade, contribuindo para o bem comum, a EA poderá ser trabalhada com base nas dimensões conceituais, atitudinais e procedimentais e, então, contribuir para conscientização e mudança de comportamento frente a diferentes contextos sociais. Por isso, é imprescindível, a discussão sobre o papel da EA na escola e como a escola trabalha a EA. O Relatório Final da Década da Educação para Desenvolvimento Sustentável (UNESCO/UNEP, 2005), destaca a importância do papel da sociedade civil e das ONGs enquanto organizações que devem estimular a sensibilização dos cidadãos, as campanhas e os grupos de pressão, prestar consultoria e contribuir para a formulação de políticas públicas, implantar a educação para o desenvolvimento sustentável, especialmente nos espaços educativos não formais, promover a aprendizagem e a ação participativa e mediar as relações entre o governo e o público. A educação não formal, objeto do trabalho educativo das ONGs, refere-se às atividades organizadas, com caráter de intencionalidade, realizadas fora da instituição formal de ensino, com determinado grau de sistematização e estruturação, com a finalidade de oferecer tipos selecionados de ensino a subgrupos específicos da população (COLLEY et al., 2002; TRILLA, 1996; LA BELLE, 1980). No Brasil, as ONGs ambientais têm desempenhado um importante papel no processo de aprofundamento e expansão das ações de educação ambiental não formal e, muitas vezes, impulsionam iniciativas governamentais e dão apoio às organizações da iniciativa privada interessadas no desenvolvimento de projetos na área. Estas organizações fazem parte do grupo de interessados preocupados com a problemática ambiental. São os denominados stakeholders das demandas ambientais como: os órgãos estatais encarregados de proteger o meio ambiente, gestores públicos, instituições e grupos científicos, gestores de empresas privadas, imprensa, profissionais ligados à implementação da questão ambiental na gestão de processos produtivos, consumidores “verdes”, comunidade acadêmica, cidadãos etc. As ONGs ambientalistas são entidades privadas com fins públicos, sem fins lucrativos e com alguma participação voluntária que atuam em problemas socioambientais. Seu foco de ação é 20 Fundamentos da Educação Ambiental impedir a degradação ambiental e promover formas sustentáveis de desenvolvimento. Nas últimas décadas, muitas delas têm atuado em parceria com a comunidade, governos e iniciativa privada para dar conta da complexidade do campo ambiental, que demanda soluções multifacetadas para um público bastante heterogêneo (PIGNATTI, 2005; PRINCEN; FINGER,1996). FONTE: Trechos retirados do artigo: TALAVEIRA VALENTINI TRISTÃO, VIRGÍNIA; MARTELLI TRISTÃO, JOSÉ AMERICO. A contribuição das ONGS para a Educação Ambiental: Uma avaliação da percepção dos Stakeholders. Ambiente & Sociedade, v. 19, n. 3, 2016. Como gestor ambiental, você poderá atuar, também, junto às organizações não governamentais. Seguem alguns exemplos de importantes ONGs cujo principal objetivo gira ao redor de ações ambientais. Greenpeace: <https://www.greenpeace.org/brasil/>. WWF-Brasil: <https://www.wwf.org.br/>. SOS Amazônia: <https://doe.sosamazonia. org.br/?gclid=EAIaIQobChMIjrmI8-SE4gIVRgmR Ch0hBQ5BEAAYASAAEgKH1_D_BwE>. Akatu: <https://www.akatu.org.br/>. 2.1. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DA ESCOLA Para incorporar o sentido da EA dentro da escola, pensando em seus objetivos e contribuições formativas, é preciso, inicialmente, especificar alguns posicionamentos gerais acerca da educação como um todo. A partir dos anos 1990, a centralidade da discussão sobre ensino de Ciências é a “formação para a cidadania”, analisada como reflexo do contexto sociopolítico da sociedade contemporânea brasileira. Portanto, as preocupações com a intensa 21 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 degradação ambiental, com a escassez de recursos naturais e com a melhoria da qualidade de vida incitaram uma (re)formulação dos objetivos do Ensino de Ciências: não se primaria mais a formação de cientistas, mas de cidadãos capazes de compreender e interferir na realidade por meio de um pensar lógico e crítico ( POZO; CRESCPO, 2009). A escola passa então, a ser concebida como um recurso em direção à cidadania, uma cidadania que favorece a cooperação, a discussão e a resolução de problemas. Essa organização é fundamental para que o ser humano aprimore sua qualidade de vida, tome decisões e continue a aprender (POZO; CRESPO, 2009). As disposições gerais sobre o ensino e o papel da formação para a cidadania são reafirmadas coerentemente quando se analisam textos dirigidos a áreas específicas, como o ensino de Ciências. Percebe-se nos trechos mencionados que a cidadania, como descreve a Lei n. 9.394/1996 (LDB), compreende participação social e política; exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais; atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças; respeito mútuo; reconhecimento e valorização da pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro; postura contrária a discriminações. A escola que sonhamos é aquela que assegura a todos a formação cultural e científica para a vida pessoal, profissional e cidadã, possibilitando uma relação autônoma, crítica e construtiva com a cultura em suas manifestações: a cultura provida pela ciência, pela técnica, pela estética, pela ética, bem como pela cultura paralela (meios de comunicação em massa) e pela cultura cotidiana (LIBÂNEO, 2013). Esse pensamento tem como objetivo formar cidadãos participantes em todas as instâncias da vida social contemporânea, o que implica articular os objetivos convencionais da escola- transmissão-assimilação ativa de conteúdos escolares, desenvolvimento do pensamento autônomo, crítico e criativo, formação de qualidades morais, atitudes, convicções- às exigências postas pela sociedade comunicacional, informática e globalizada: maior competência reflexiva, interação crítica com as mídias e multimídias, conjunção da escola com outros universos culturais, conhecimento e uso da informática, formação continuada (aprender a aprender), capacidade de diálogo e comunicação com os outros, reconhecimento das diferenças, solidariedade, qualidade de vida, preservação ambiental. Trata-se de conceber a escola de hoje como espaço de integração e síntese (LIBÂNEO, 2013). Essas tarefas da educação assumem uma importância crucial ante as 22 Fundamentos da Educação Ambiental transformações do mundo atual. Num mundo globalizado, transacional, nossos alunos precisam estar preparados para uma leitura crítica das transformações que ocorrem em uma escala mundial. Num mundo de intensas transformações científicas e tecnológicas, precisam de uma formação geral sólida, capaz de ajudá- los na sua capacidade de pensar cientificamente, de conhecer cientificamente os problemas humanos. Por outro lado, diante da crise de princípios e valores, resultantes da deificação do mercado e da tecnologia, do pragmatismo moral ou relativismo ético, é preciso que a escola contribua para uma nova postura ético-valorativa de recolocar valores humanos fundamentais como a justiça, a solidariedade, a honestidade, o reconhecimento da diversidade e da diferença, o respeito à vida e aos direitos humanos básicos, como suportes de convicções democráticas (LIBÂNEO, 2013). A partir disso, a escola tem um grande papel no fortalecimento da sociedade civil, das entidades, das organizações e movimentos sociais(LIBÂNEO, 2013). Formar para a cidadania é formar pessoas que têm compreensão do próprio papel como cidadão do mundo; que respeitam e valorizam a diversidade; têm um entendimento de como o mundo funciona economicamente, politicamente, culturalmente, socialmente, tecnologicamente e ambientalmente; que são contrárias à injustiça social; que participam e contribuem com a comunidade de vários modos em nível local e global; que estão dispostas a agir para tornar o mundo um lugar mais igualitário e sustentável; e que assumem as responsabilidades de suas ações (RATCLIFFE; GRACE, 2003). Os mesmos autores consideram que apesar de serem distintas as formas como se pode dar significado à educação para cidadania, é defendida a ideia de que os cidadãos precisam de conhecimento e compreensão do sistema social, jurídico e político em que vivem e operam. Eles precisam de habilidades e aptidões para fazer uso desse conhecimento e precisam ser dotados de valores para que o uso de tais conhecimentos e habilidades seja direcionado a fins benéficos. Questões sociocientíficas podem ser determinantes na formação de opinião e tomada de decisão em níveis pessoais e sociais, sendo com frequência reportadas pela mídia, normalmente tratadas por meio de informações incompletas devido à apresentação de evidências científicas conflitantes ou insuficientes; podem incluir dimensões locais, nacionais e globais de quadros políticos e sociais e envolvem algumas análises de custo e benefício, nas quais riscos interagem com valores. Podem envolver considerações acerca de desenvolvimentos sustentáveis e envolvem raciocínios éticos e de valores morais (RATCLIFFE; GRACE, 2003). Como já mencionado, o objetivo precípuo da EA é gerar uma reflexão sobre a relação homem- natureza em suas múltiplas perspectivas e não, estritamente, a biológica, que possa legitimar-se na mudança de comportamento. Isto posto, a EA no âmbito da escola, assume a responsabilidade de contribuir para uma mudança de comportamentos, para uma atuação cidadã. Quando bem proposta 23 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 e organizada, a EA leva a mudanças de comportamento pessoal, de atitudes e valores de cidadania que podem ter importantes consequências sociais. No entanto, a EA é entendida por muitos professores da Educação Básica como uma possibilidade de trabalho prático com um tema que envolva o meio ambiente. As escolas, por muitas vezes, assumem desenvolver projetos de EA que ficam reduzidos a práticas pontuais como a “separação de lixos” ou a ideia de que levar a própria caneca para beber água é sinônimo de desenvolvimento sustentável. Essa falta de sentido epistemológico para caracterizar a complexidade da EA deve ser problematizada. O que, de fato, constitui um projeto de EA? Como a EA realizada nas escolas pode contribuir para uma mudança de comportamento nos estudantes? Como proporcionar ou contribuir para o desenvolvimento da responsabilidade coletiva, do respeito e do diálogo? Como já foi diagnosticado anteriormente, a EA é constituída, em termos pedagógicos, não apenas por conceitos, mas por procedimentos e atitudes. Só haverá mudança de comportamento se o trabalho e o entendimento da EA envolver essas três dimensões. Entende-se dessa forma, que a EA tem como finalidade garantir certo nível de conhecimento, o desenvolvimento de determinadas atitudes e a promoção de certos valores por meio de processos em que o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente. Isso requer uma concepção de Educação, também, baseada em conceitos, procedimentos e atitudes. O ensino de conceitos é supervalorizado no âmbito curricular e escolar e, muitas vezes, não está acompanhado de uma preocupação pedagógica com o “saber-fazer” e o “saber ser”. A tradicional e perpetuada ideia de que o aluno precisa memorizar termos científicos sem, no entanto, saber apropriar-se da ciência em situações cotidianas e ainda entendê-la como neutra, salvacionista e feita por pessoas que se especializaram muito e trabalham em laboratórios de pesquisa , ainda, bastante presente. Por exemplo, quando um produto ou uma informação vem com a frase “cientificamente comprovado” em destaque, em geral, as pessoas não contestam a plausibilidade desse produto ou dessa informação. Isso porque, de acordo com o “senso comum científico”, a ciência só produz benefícios e oportunidades para a sociedade como um todo. Se assim fosse não faria sentido, por exemplo, o uso de pesticidas por grandes empresas que, evidentemente, sabem o efeito deste produto químico na cadeia alimentar e no equilíbrio do ecossistema. Por que não há um controle biológico em detrimento de um controle químico? Vamos pensar, por exemplo, no problema criado pelos fertilizantes químicos e pesticidas que, a partir da Segunda Guerra Mundial, produziram uma verdadeira 24 Fundamentos da Educação Ambiental revolução agrícola, incrementando de forma notável a produção. Recordemos que a utilização de produtos de síntese para combater os insetos, pragas, parasitas e fungos aumentou a produtividade num período em que um notável crescimento da população mundial o exigia. E recordamos igualmente que, alguns anos depois, a Comissão Mundial do Meio Ambiente e do Desenvolvimento (1988) advertia que o seu excesso constituía uma ameaça para a saúde humana, provocando desde malformações congênitas até ao cancro, sendo, por sua vez, autênticos venenos para peixes, mamíferos e pássaros (PRAIA; PÉREZ; PEÑA, 2007). Assim, as referidas substâncias que se acumulavam nos tecidos dos seres vivos chegaram a ser denominadas, conjuntamente com outras igualmente tóxicas, como “Contaminantes Orgânicos Persistentes” (COP). Este envenenamento do planeta pelos produtos químicos de síntese, e em particular pelo DDT, já havia sido denunciado, em finais dos anos 1950, por Carson (1980) no seu livro Primavera Silenciosa (título que faz referência ao desaparecimento dos pássaros), em que se refere a abundantes e contrastadas provas dos efeitos nocivos do DDT, o que não impediu de ser violentamente criticada e de sofrer uma acusação muito dura por parte da indústria química, dos políticos e numerosos cientistas, que negaram o valor das suas provas e a acusaram de estar contra um progresso que permitia dar de comer a uma população crescente e salvar, assim, muitas vidas humanas (PRAIA; PÉREZ; PEÑA, 2007). Contudo, apenas dez anos mais tarde, se reconheceu que o DDT era realmente um perigoso veneno e se proibiu a sua utilização nos países desenvolvidos, ainda que se tenha continuado a utilizar nos outros países. O que podemos perceber com esse exemplo? defensores da manutenção do DDT eram grandes “produtores de ciências” e, em um primeiro momento, por interesses pessoais não reconheceram os perigos associados ao uso de pesticidas. Esse exemplo elucida o caráter não neutro da ciência bem como de quem a produz (PRAIA; PÉREZ; PEÑA, 2007). Partindo ainda desse exemplo, peço para que faça uma reflexão: A partir do conceito de DDT e pesticidas, você conseguiria explicar, a relação do uso do DDT e seu efeito na cadeia alimentar? Você conseguiria analisar criticamente a proposta de uma empresa e criar argumentos próprios (sem “copiar” ideias de outras pessoas)? Você conseguiria não se iludir com uma ciência enviesada cuja tônica seja a mobilização de argumentos apelativos (acabar com a fome de milhões de pessoas)? O saber conceitual não implica, sozinho, em um saber procedimental e, muito menos, em um atitudinal. Muitas vezes, esse saber isolado, fica restrito à sala de aula, às condições de avaliação, reprodução em provas ou chamadas orais. Por isso, o ensino precisa balizar-se em competências. 25 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO EDIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 Na literatura, encontramos muitas definições para o conceito de competência, que são elaboradas a partir de diferentes referenciais. No contexto escolar, esse termo refere-se ao que qualquer pessoa necessita para responder aos problemas que enfrentará. Diz respeito à intervenção efetiva nos diferentes âmbitos da vida por meio de ações nas quais se mobilizam, ao mesmo tempo e de maneira inter- relacionada, componentes atitudinais, procedimentais e conceituais (ZABALA, 2010). O ensino de competências tem como finalidade formar o ser humano em todas as suas capacidades, para que seja possível responder aos problemas que se apresentam não só dentro da escola como nos mais diversos contextos. Cumpre uma função orientadora, a fim de permitir a cada um dos alunos, o acesso aos meios para que possam se desenvolver conforme suas possiblidades, em todas as etapas da vida. Trata-se de um ensino que busca favorecer o desenvolvimento pessoal, interpessoal, social e profissional (ZABALA, 2010). Agora, pensemos de forma análoga- a importância da sincronicidade entre conceito, procedimento e atitude- considerando a abordagem da EA nas escolas. Saber seus objetivos e propostas não provê, necessariamente, uma mudança de comportamento e atitudes. Ribeiro e Cavassan (2016) argumentam que os componentes conceituais, procedimentais e atitudinais podem, sincronicamente, constituir o que esses autores denominaram de competência ambiental. Essa competência considera a multidimensionalidade da EA e incorpora elementos da área que, muitas vezes, não são legitimados como objetos de ensino- aprendizagem. QUADRO 2 - ELEMENTOS ESTRUTURANTES DA COMPETÊNCIA AMBIENTAL Conteúdos Conhecimentos - Objetos de ensino e de aprendiza-gem Conteúdos conceituais Conhecimentos curriculares do campo das Ciências Natu- rais e Sociais. Conteúdos socialmente relevantes, selecio- nados de acordo com suas potencialidades formativas. Conteúdos procedimentais Habilidades sociais e comunicativas que fundamentam as relações interpessoais (saber dialogar, relacionar-se, con- viver, partilhar informações, cooperar, ouvir e reconsiderar ideias, saber respeitar e valorizar a diversidade de perspec- tivas etc.). Conteúdos atitudinais Respeito, cooperação, autonomia e democracia. FONTE: Ribeiro e Cavassan, (2016, p. 25) 26 Fundamentos da Educação Ambiental O quadro discrimina como cada um dos conteúdos podem ser trabalhados para constituir, integralmente, a competência ambiental. Retome as definições de EA descritas e problematizadas no item anterior e veja que todas as definições envolvem mudanças de comportamentos e atitudes, principalmente no que se refere ao pensamento e ação coletiva. Desta forma, a escola, ao trabalhar a EA deve permitir que os estudantes adquiram essa competência e possam intervir na sociedade. No entanto, há um distanciamento considerável entre o que fundamenta os referenciais teóricos e o que, de fato, se faz na escola. Os currículos escolares destacam os conceitos e simples generalizações de modo que os alunos, raramente, são convidados a refletir ou protagonizar o processo de ensino-aprendizagem. Almeida (2007) argumenta que muitos professores acreditam que a abordagem de temáticas sobre o ambiente e temas adjacentes é suficiente para que os alunos desenvolvam atitudes e comportamentos favoráveis ao ambiente. Segundo esse autor, predominam, nas escolas, práticas pedagógicas centradas na política dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), refletindo uma concepção de EA focada na gestão dos recursos que está associada a uma perspectiva antropocêntrica da relação homem-natureza (CORREIA, 2014). Outro problema que devemos evitar diante do trabalho nas escolas é que ele fique no plano do discurso vazio de “salvação pela educação” ou da normatização de comportamentos “ecologicamente corretos” (LOUREIRO, 2007). Há uma ampliação na compreensão do mundo e o repensar das relações eu- eu, eu-outro, eu-nós no mundo. Temas anteriormente tratados como meio para a preservação ou respeito à natureza (elementos importantes, mas insuficientes ao reforçarem a dicotomia cultura-natureza) devem ser problematizados em várias dimensões (cultural, econômica, política, legal, histórica, geográfica, estética etc.) (LOUREIRO, 2007). Pensando em afastar-se da reprodução de jargões ou de projetos estereotipados, para que trabalho com a EA contribua para uma mudança de pensamento e comportamento diante de um contexto capitalista e de consumo exagerado, pode-se sugerir as atividades de campo uma vez que o contato com o ambiente permite a sensibilização acerca dos problemas ambientais. Além disso, surgem oportunidades de reflexão sobre valores, imprescindíveis às mudanças comportamentais e, sobretudo, atitudinais. Assim, uma caminhada no entorno do ambiente escolar, por exemplo, pode embasar uma ótima atividade a partir da observação e exploração dos problemas 27 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 locais. Ao pensar na EA como prática educativa, é preciso inserir as atividades de campo dentro de uma perspectiva onde o ambiente “é pensado como sistema complexo de relações e interações da base natural e social e, sobretudo, definido pelo modo de sua apropriação pelos diversos grupos, populações e interesses sociais, políticos e culturais que aí se estabelecem” (VIVEIRO; DINIZ, 2009). Apoiados na observação direta, os alunos podem fazer uma releitura crítico- construtiva da realidade, identificar seus problemas socioambientais, estabelecer relações entre as informações levantadas e elaborar propostas de transformação da mesma (SANTOS; COMPIANI, 2005). Cabe sugerir a utilização de propostas metodológicas como a problematização (BERBEL, 2011) e a aprendizagem baseada em problemas (ABP) (SOUZA; DOURADO, 2015). São metodologias ativas de aprendizagem cujo objetivo principal é colocar o aluno no centro do processo de ensino-aprendizagem por meio de problemas contextualizados (MORAN, 2015). Na primeira, os alunos identificam um problema por meio da observação da realidade, trazem o problema para a sala de aula para teorizá-lo, debatê-lo, estudar pontos específicos e/ou novos para, então, criar planos de ação que visam a transformação da realidade observada (e não, necessariamente, a extinção do problema). Trata-se de um movimento de ação-reflexão-ação por meio do qual o aluno tem a chance de conhecer e estudar a realidade e propor ações de intervenção. Já na segunda, o problema é elaborado e proposto pelo professor em sala de aula, que poderá, portanto, construí-lo a partir de uma problemática ambiental, e então, por meio de estudos individuais e, em grupo, o aluno deverá investigar a solução desse problema. Na educação científica, as estratégias de ensino usadas na ABP podem contribuir para a tomada de decisões e na formação para cidadania. A elaboração do caso pode considerar os problemas socioambientais reais com os quais os cidadãos se defrontam cotidianamente. Questões como transgênicos, uso de biocombustíveis, uso de produtos ou controle químico para aumento da produção, entre outras, envolvem consideráveis implicações científicas, tecnológicas, políticas e ambientais que podem ser trabalhadas com o intuito de favorecer a participação ativa dos estudantes em discussões escolares que enriqueçam seu crescimento pessoal e social além de contextualizar o conhecimento e/ou o conteúdo abordado. Imagine, por exemplo, em uma aula sobre transgênicos, você solicitar que os alunos assistam a dois vídeos que reverberam e descrevem sobre posicionamentos distintos acerca da produção e consumo dos alimentos 28 Fundamentos da Educação Ambiental transgênicos: um da CompanhiaMonsanto e um do Greenpeace. A partir dos vídeos, você constrói um problema semelhante à: “Imaginem que vocês foram consultados por um empresário que abrirá uma empresa agrícola e gostaria, de, em sua proposta de divulgação inicial, apresentar o posicionamento da empresa frente à questão da transgenia. Como você elaboraria argumentos sobre a produção (ou não) desse tipo de alimento pela empresa? Qual a orientação que daria ao empresário? Focar na produção orgânica ou em alimentos transgênicos? Outro exemplo de problema que pode ser trabalhado: Maior multinacional brasileira de cosméticos e pioneira em produção sustentável, a Natura é uma das vencedoras do prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU) Campeões da Terra 2015, na categoria Visão Empresarial. Com o Programa Amazônia, lançado em 2011, a Natura busca fomentar a criação de negócios sustentáveis na região amazônica, impulsionando o desenvolvimento de uma economia de floresta em pé. A companhia lançou uma linha de produtos que usa um novo ativo amazônico, a ucuuba. A ucuuba é uma árvore da Amazônia ameaçada de extinção, muito procurada por sua madeira leve e clara, porém, quem a derruba não vê que o seu verdadeiro valor está nas sementes. Antes derrubada para exploração madeireira, a árvore em pé passou a render três vezes mais ao ano às comunidades locais com o manejo sustentável para fornecer cosméticos à Natura. Só em 2016, uma área equivalente à 150 campos de futebol foi conservada. Você é dono de uma empresa de cosméticos e tem a chance de expandir seu negócio junto ao mercado nacional. Para tanto, precisa elaborar e lançar uma linha de produtos fundamentada no desenvolvimento sustentável. Pense em como você faria a divulgação de seu produto visto que a sua concorrente direta é a Natura. Você conseguiria responder essas questões com argumentos fundamentados e baseados em pesquisas científicas? É importante perceber que a construção das respostas exige pesquisa, reflexão, análise de argumentos, análise das fontes de informações (a plausibilidade do conteúdo informativo depende da fonte que a emite, do objetivo dessa fonte e do interesse dessa fonte), e principalmente, um posicionamento crítico, fundamentado e contextualizado (o que, certamente, não é possível apenas com a mobilização de conceitos retirados de livros didáticos ou apostilas). O uso de problemas ou cases que envolvem questões sobre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente (CTSA) é uma estratégia para contextualização dos conhecimentos, para exercitar a tomada de decisão e para o trabalho com conceitos (o que se sabe), procedimentos (o que fazer) e atitudes (como agir eticamente respeitando os valores de sustentabilidade, por exemplo). Envolver os conhecimentos teóricos em ações reais é de suma importância para que saibamos aplicar os conhecimentos e avaliar as consequências dessas aplicações para a qualidade de vida social e ambiental. 29 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 Ao tratar das atividades de campo como estratégia para EA, Krasilchik (2004) alerta para que haja coerência entre o discurso de conservação que se utiliza em sala de aula e saídas a campo e o comportamento do professor e dos estudantes. Por exemplo, os impactos gerados pela atividade devem ser mínimos, somente o essencial deve ser coletado para estudo, desde que não cause danos significativos ao ambiente (o que também poderá ser uma estratégia para o trabalho com atitudes). O trabalho de Educação Ambiental deve ser desenvolvido a fim de ajudar os alunos a construírem uma consciência global das questões relativas ao meio para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria. Para isso é importante que possam atribuir significado àquilo que aprendem sobre a questão ambiental. E esse significado é resultado da ligação que o aluno estabelece entre o que aprende e a sua realidade cotidiana, da possibilidade de estabelecer ligações entre o que aprende e o que já conhece, e também da possibilidade de utilizar o conhecimento em outras situações. A perspectiva ambiental oferece instrumentos para que o aluno possa compreender problemas que afetam a sua vida, a de sua comunidade, a de seu país e a do planeta. Muitas das questões políticas, econômicas e sociais são permeadas por elementos diretamente ligados à questão ambiental. Nesse sentido, as situações de ensino devem se organizar de forma a proporcionar oportunidades para que o aluno possa utilizar o conhecimento sobre Meio Ambiente para compreender a sua realidade e atuar sobre ela (BRASIL, 1998, p. 35). A EA prospecta elementos para propostas pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação dos educandos, que devem ser consonantes a uma ideia de educação com os mesmos objetivos (JACOBI, 2004). Além disso, o que deve ser muito bem previsto é a coerência entre objetivos e ações e/ou propostas que serão desenvolvidas com cunho de EA. Os objetivos, aquilo que se deseja alcançar com determinado projeto ou proposta, devem ser consonantes ao que se pode desenvolver ou fazer. Por exemplo, não se deve dizer que uma escola tem um projeto de EA cujo objetivo é desenvolver a competência ambiental nos estudantes e na comunidade, promovendo uma mudança de comportamento e aquisição de novos valores se o que a escola se propõe a fazer é colocar coletores identificados – papel, vidro, plástico, metal, não reciclável e orgânico - no pátio e avisar aos alunos sobre a necessidade de identificar os objetos antes de jogá-los no lixo. Essa ação pontual, irrefletida, proposta apenas por meio da reprodução e condicionamento de comportamentos não levará a uma mudança de valores. Atualmente, o desafio de fortalecer uma educação ambiental convergente e multirreferencial se coloca como prioridade para viabilizar uma prática educativa que articule de forma 30 Fundamentos da Educação Ambiental incisiva a necessidade de se enfrentar concomitantemente a degradação ambiental e os problemas sociais. Assim, o entendimento sobre os problemas ambientais se dá por uma visão do meio ambiente como um campo de conhecimento e significados socialmente construídos, que são perpassados pela diversidade cultural e ideológica, como pelos conflitos de interesse. Neste universo de complexidades precisa ser situado o aluno, onde os repertórios pedagógicos devem ser amplos e interdependentes, na medida que a questão ambiental seja um problema híbrido, associado às diversas dimensões humanas. Os professores devem estar cada vez mais preparados para reelaborar as informações que recebem, e entre elas as ambientais, para poder transmitir e decodificar para os alunos a expressão dos significados em torno do meio ambiente e da ecologia nas suas múltiplas determinações e intersecções. A ênfase deve ser a capacitação para perceber as relações entre as áreas e como um todo, enfatizando uma formação local/global, buscando marcar a necessidade de enfrentar a lógica da exclusão e das desigualdades. Nesse contexto, a administração dos riscos socioambientais coloca cada vez mais a necessidade de ampliar o envolvimento público através de iniciativas que possibilitem um aumento do nível de consciência ambiental dos moradores, garantindo a informação e a consolidação institucional de canais abertos para a participação numa perspectiva pluralista. A educação ambiental não pode se restringir apenas aos problemas ambientais que decorrem da desordem e degradação da qualidade de vida nas cidades e regiões (JACOBI, 2004, p. 32). Entende-se, portanto, que a prática da EA nas escolas só será efetiva se estiver inserida no contexto de valores sociais, mesmo que se refira a mudanças de hábitos cotidianos e não reduzida ao tratamento de alguns temase princípios ecológicos nas diversas disciplinas que formam os currículos, ou na geração de ofertas educativas específicas relacionadas com o tema (JACOBI, 2004). A declaração de Tbilisi (UNESCO, 1978) estabeleceu os seguintes objetivos da EA: promover a aquisição de conhecimentos acerca dos fatores bio lógicos, físicos, socioeconômicos, de cuja interação o ambiente depende; promover atitudes de preservação do ambiente nos indivíduos; desenvolver nos membros das comunidades um sentido crítico para o exercício de uma cidadania responsável, que se traduza na participação ativa e empenhamento na resolução dos graves problemas ambientais que enfrentamos. A EA apresenta três componentes prin cipais: educação acerca do ambiente (aquisição de conhecimentos); educação no am biente (utilização do meio como recurso, quer de processos investigativos, quer como palco material para múltiplas atividades); educação pelo ambiente (desenvolvimento de atitudes e valores que conduzam a um comprometimento tanto pessoal como comunitário com as questões do ambiente). Esta última com ponente implica o envolvimento 31 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 individual e coletivo dos alunos em uma abordagem interdisciplinar de resolução de problemas focada em problemas reais das comunida des. Essas metodologias de ensino podem incluir métodos diversificados, como: atividades de discussão; pesquisa bibliográfica; elaboração de mapas conceituais; realização de in quéritos; recurso a analogias; recurso às tecnologias da informação e comunicação; trabalho laboratorial e trabalho de campo (ALMEIDA, 2007). Para exemplificar essa questão, podemos citar a metodologia da problematização, ressaltando a sua potencialidade para o trabalho com a EA. Em síntese, Berbel (1998) explica que o desenvolvimento dessa metodologia se dá a partir de um determinado aspecto da realidade. Então, a primeira etapa é a da observação da realidade e definição do problema. É o início de um processo de apropriação de informações pelos estudantes, que são levados a observar a realidade em si, com seus próprios olhos e a identificar as características, a fim de, mediante os estudos, poderem contribuir para a transformação da realidade observada. Imagine que são os próprios alunos que trarão o problema para ser teorizado e trabalhado em sala de aula. Dessa forma, após uma observação do contexto em que vivem, os alunos, apoiados pelo professor, selecionam uma das situações e a problematizam. Definido o problema a estudar/investigar, inicia-se uma reflexão acerca dos possíveis fatores e determinantes maiores relacionados ao problema, possibilitando uma maior compreensão da complexidade e da multideterminação dele. Essa reflexão culminará na definição dos pontos-chave. Os pontos-chave podem ser expressos de forma variada: questões básicas que se apresentam para o estudo; afirmações sobre aspectos do problema; tópicos a serem investigados ou, ainda, de outras formas. Assim, possibilita-se a criatividade e flexibilidade nessa elaboração, após a compreensão do problema pelo grupo. A terceira etapa – a da Teorização – é o momento da construção de respostas mais elaboradas para o problema. Os dados obtidos, registrados e tratados, são analisados e discutidos, buscando-se um sentido para eles, tendo sempre em vista o problema. Todo estudo, até a etapa da Teorização, deve servir de base para a transformação da realidade ou para gerar possibilidades de melhoria ou minimização do problema que fora identificado no início. Então se chega à quarta etapa, a das Hipóteses de Solução, em que a criatividade e a originalidade devem ser bastante estimuladas para se pensar, planejar e propor as alternativas de solução e intervenção. Bordenave afirma que “o aluno usa a realidade para aprender com ela, ao mesmo tempo em que se prepara para transformá-la” (BORDENAVE, 1989, p. 25). É nesse momento 32 Fundamentos da Educação Ambiental que, após estudar teoricamente o problema visto na prática e/ou realidade, o aluno começa a engendrar ideias de intervenção social: “O que posso fazer para minimizar o problema?”, “O que é necessário para que o problema não ocorra?”, “Quais são as ações que eu posso desencadear na direção de melhoria ou extinção do problema?”, dentre outras. Por fim, a última etapa, a da Aplicação à Realidade, é aquela que possibilita o intervir, o exercitar, o manejar situações associadas à solução do problema. A aplicação permite fixar as soluções geradas e contempla o comprometimento do pesquisador para voltar para a mesma realidade, transformando-a em algum grau. Assim, a Metodologia da Problematização diferencia-se de outras metodologias de mesmo fim, e consiste em problematizar a realidade, em virtude da peculiaridade processual que possui, ou seja, seus pontos de partida e de chegada; efetiva- se por meio da aplicação à realidade na qual se observou o problema, ao retornar posteriormente a esta mesma realidade, mas com novas informações e conhecimentos, visando à transformação. “Trata-se de uma concepção que acredita na educação como uma prática social e não individual ou individualizante” (BERBEL, 1998, p. 36). Em suma, o aluno irá: 1. Partir da observação da realidade de uma sala de aula, durante alguns dias/ horas, para a identificação de problemas e a escolha de um deles para o desenvolvimento da investigação. 2. Refletir sobre os possíveis fatores e determinantes maiores do problema eleito e definição dos pontos-chave do estudo. 3. Investigação de cada um dos pontos-chave, buscando informações e analisando-as para responder ao problema, compondo assim a teorização; 4. Elaboração de hipóteses de solução para o problema. 5. Aplicação de uma ou mais das hipóteses de solução, como um retorno do estudo à realidade investigada (COLOMBO; BERBEL, 2007). O arco de Maguerez, apresentado inicialmente por Bordenave e Pereira (1982), elucida essas cinco etapas e resume, esquematicamente, o percurso metodológico da problematização. 33 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 FIGURA 1 - ARCO DE MAGUEREZ FONTE: Adaptado de Bordenave e Pereira (1989) A problematização leva os alunos a observarem e investigarem a realidade a sua volta, identificando problemas e/ou dificuldades para, então, a partir de estudos e levantamentos de dados teóricos e práticos, elaborarem um projeto de transformação e intervenção da realidade. Dessa forma, são os próprios alunos que trarão o problema a ser teorizado e trabalhado em sala de aula. Essa metodologia parte de uma questão prática – observação da realidade e levantamento de um problema; transita por uma questão teórica – estudo sobre o problema identificado e volta para uma questão prática – elaboração de uma ação cujo objetivo seja intervir na realidade (BERBEL, 1998). Há, portanto, nessa metodologia uma ideia de educação crítica visto que os alunos precisarão conhecer a realidade social que o cercam, dialogar com a comunidade, investigar formas de intervir nessa sociedade e, inerentemente, buscar um posicionamento crítico para direcionar escolhas e decisões. Além disso, o processo de ensino-aprendizagem envolve a observação da realidade, 34 Fundamentos da Educação Ambiental a investigação, o trabalho em grupo, a cooperação e a orientação e mediação desse processo por parte do professor, atribuindo o protagonismo das ações aos alunos. Por exemplo, os alunos vão a uma empresa e/ou indústria e identificam diversos fatores que aumentam a pegada de carbono da empresa. O problema é trazido para sala com o objetivo de criar estratégias para diminuição da pegada de carbono (pegada de carbono: mede a quantidade de dióxido de carbono que produzimos diariamente e a forma como essasemissões de gás influenciam o meio ambiente). Quais sugestões você pode dar a essa empresa- após estudar a temática- para que a pegada de carbono diminua? Partindo disso, e considerando que a polissemia do termo pode gerar equívocos não só na escola, mas em diversos âmbitos e para diversas pessoas e/ou atores que querem falar e compreender sobre a EA, é de suma importância, estabelecer distinções entre alguns conceitos bastante mencionados na área e que podem levar a entendimentos distintos e, portanto, gerar ações, também, distintas da EA. Como Gestor Ambiental, você será capacitado para criar e implementar projetos de EA em escolas. Para tanto, é fundamental conhecer exemplos e problematizações. O material “Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola “é um ótimo guia para auxiliar na elaboração e liderança de projetos que possam, factualmente, fazer a diferença na relação homem-ambiente. Os textos foram organizados em quatro capítulos. O primeiro apresenta as ações estruturantes e diretrizes desenvolvidas pelo Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental, uma parceria entre o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA), elucidando a inovação e os desafios políticos e institucionais. Nos textos que compõem este capítulo surgem algumas áreas de atuação para universalizarmos a educação ambiental no Brasil. Com elas fazemos uma educação com o planeta na mente e no coração. O material está disponível no link: <http://www.unoparsetelagoas. com.br/educacao_%20ambiental/downlod/publicacao_3.pdf#page=58>. 35 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 Os sites a seguir são fontes de consulta bem interessantes sobre diferentes perspectivas e abordagens acerca da EA e seus desdobramentos. Como já mencionado, essa é uma área presente em muitos setores, centro de muitos discursos, debates e polêmicas e, portanto, é necessário conhecer e avaliar diversas fontes e suas propostas, bem como a linguagem e as estratégias construídas para falar da EA. Os 3 primeiros sites apresentados foram sugeridos em um trabalho da professora Marília de Freitas Tozoni Reis – (Re) Pensando a EA, 2004. 1. <https://edukatu.org.br/>. O que você irá encontrar: Conteúdo sobre consumo consciente. O site reúne vídeos, games, atividades e relatos de projetos ligados à sustentabilidade desenvolvidos por escolas. Por que é relevante? Você encontra informações diversificadas sobre o tema e o site também tem um espaço chamado “Rede” para incentivar a troca de conhecimentos e práticas sobre consumo consciente e sustentabilidade em escolas de Ensino Fundamental de todo o país. Destaque para as animações da seção “De onde vem para onde vai” que explicam o processo de produção, os impactos ambientais e as alternativas sustentáveis para o uso de objetos do nosso dia a dia, como a sacola plástica e os celulares. 2. <https://www.wwf.org.br/>. O que você irá encontrar: Respostas para dúvidas sobre temas conspícuos e, invariavelmente, mencionados por meio de ideias equivocadas ou enviesadas, como desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas e unidades de conservação. Por que é relevante? A seção “Nosso mundo” explica de forma didática os temas ambientais mais discutidos no momento. Destaque para a seção “Pegada ecológica” que apresenta o conceito de que nosso modo de vida e hábitos de consumo deixam “rastros” e impactam de alguma maneira o meio ambiente. Além de explicar com mais detalhes essa ideia, o site oferece um teste para medir nossas pegadas. Essa contextualização com a realidade é muito importante para a tomada de consciência e a mudança de comportamento. 3. <https://www.sosma.org.br/blog-categorias/educacao-ambiental/>. O que você irá encontrar: Muitas notícias, dados e mapas sobre a degradação do bioma da Mata Atlântica e informações sobre 36 Fundamentos da Educação Ambiental projetos de preservação. Por que é relevante? Você encontra um blog sobre EA com relatos da equipe da organização SOS Mata Atlântica sobre atividades e projetos de sustentabilidade desenvolvidos com escolas. 4. <http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/politica-de-educacao -ambiental/programa-nacional-de-educacao-ambiental>. O que você irá encontrar: Descrição e problematização sobre o Programa Nacional de EA. Por que é relevante? Além de descrever as linhas de ação e a forma de atuação do programa, apresenta conteúdos científicos muito pertinentes à área: áreas protegidas, biodiversidade, biomas, cidades sustentáveis, clima, desenvolvimento rural, responsabilidade socioambiental etc. É uma fonte muito importante e confiável para consulta de conceitos. A notícia a seguir transcreve uma entrevista com a coordenadora dos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais cuja temática são as propostas de EA nas redes estaduais de ensino. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/899/neide- nogueira-fala-sobre-educacao-ambiental-no-brasil>. Após a leitura e os conhecimentos teóricos já adquiridos, faça uma reflexão sobre as possibilidades e limitações do trabalho com a EA nas escolas. Antes de fazer a leitura do artigo indicado, pense na seguinte questão: O homem é um ser vivo mais importante ou de maior valor do que os outros? Devemos conceber a relação homem-natureza apenas considerando os interesses e vontades dos homens? Faça a leitura do artigo: “Dos Direitos morais aos Direitos 37 NATUREZA, AMBIENTE E MEIO AMBIENTE: ENTENDENDO E DIFERENCIANDO OS CONCEITOS NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Capítulo 1 Constitucionais: para além do especismo elitista e eletivo”, disponível no link: <https://portalseer.ufba.br/index.php/RBDA/article/ view/10300/7358>. Resenha: Para que a dimensão socioambiental seja devidamente discutida em sala de aula, o antropocentrismo, ou seja, o pensamento que confere maior valor ao homem do que aos demais seres vivos, precisa ser problematizado. O antropocentrismo acompanha a trajetória humana há mais de 2 mil anos, sendo que por todo esse tempo os seres vivos foram reduzidos a um entendimento que subdivide os seres em “úteis” ou “nocivos” ao interesse humano. Discutir a temática ambiental por vias antropocêntricas pode resultar na formação de cidadãos que analisem a devastação em termos de riscos e benefícios somente para a espécie humana, quando na verdade os primeiros e mais afetados são as demais espécies vivas. A ótica antropocêntrica tem sido problematizada? A lógica antropocêntrica se refere a uma suposta superioridade humana em relação às demais espécies e a partir dela são elaboradas legislações direcionadas somente a direitos humanos e, se são incluídos outros seres, a inserção de um ou de outro é determinada por critérios especistas. O especismo refere-se à desconsideração moral de humanos aos animais não humanos, ou seja, aqueles interesses de animais não humanos não equivalem ao peso moral de interesses humanos. Podem-se distinguir dois tipos de especismo: o elitista e o eletivo. O especismo elitista considera os interesses de sujeitos racionais mais relevantes, ou seja, sobrepõe direitos humanos sobre direitos de animais não humanos. Já o especismo eletivo, confere maior importância aos animais escolhidos segundo a predileção humana por critérios afetivos, estéticos e econômicos. Os animais sinantrópicos, aqueles que compartilham habitats com o homem, tais como baratas, ratos, aranhas e sapos, são constantemente alvo de comportamentos humanos negativos e tal resposta atitudinal aversiva resulta de interpretações pejorativas do significado da aparência dos animais. A interpretação da aparência geralmente depende do estabelecimento social de padrões de beleza que se referem à cor, textura, tamanho, delicadeza e proporção. Frequentemente não é considerada a importância
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