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■ ■ ■ ■ Tels.: (21) 3543-0770/(11) 5080-0770 | Fax: (21) 3543-0896 www.grupogen.com.br | faleconosco@grupogen.com.br Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito, da EDITORA ROCA LTDA. Tradução: Soraya Imon de Oliveira Capa: Bruno Sales Produção digital: Geethik Ficha catalográfica M334m 10. ed. Martin, Garry Modificação do comportamento : o que é e como fazer / Garry Martin, Joseph Pear; Revisão técnica Gildo dos Santos Angelotti, Hernando Neves Filho. - - 10. ed. - Rio de Janeiro : Roca, 2018. 406 p. : il. ; 24 cm. Inclui bibliografia e índice ISBN 978-85-277-3379-3 1. Psicologia. 2. Comportamento humano - Aspectos psicológicos. I. Pear, Joseph. II. Título.. http://www.grupogen.com.br mailto:faleconosco@grupogen.com.br http://www.geethik.com 23 • • • Avaliação Funcional de Comportamento Problemático Objetivos do aprendizado Descrever as abordagens de avaliação funcional das causas de comportamentos problemáticos Discutir as principais causas de comportamentos problemáticos Resumir as diretrizes para condução de uma avaliação funcional do comportamento problemático. Ao longo de toda a Parte 2 deste livro, especialmente nas seções “Armadilhas”, reforçamos repetidamente como a aplicação incorreta dos princípios comportamentais pode levar ao comportamento problemático. Em outras palavras, se os princípios não estiverem funcionando para você, estarão funcionando contra você. Cada vez mais, analistas e terapeutas comportamentais tentam entender as causas dos comportamentos problemáticos, para tratá-los de forma mais efetiva. Uma avaliação funcional de um comportamento problemático envolve fazer duas perguntas: quais são os antecedentes do comportamento e quais são as consequências imediatas do comportamento. Mais especificamente, perguntamos: o comportamento é evocado ou eliciado por estímulos particulares? Está sendo reforçado? E, se estiver, qual é o reforço? O comportamento leva à fuga de eventos aversivos? Da perspectiva do cliente, qual função é atendida pelo comportamento? As respostas a essas questões têm implicações importantes para o planejamento do tratamento efetivo. PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO FUNCIONAL O termo avaliação funcional se refere a uma variedade de abordagens que tentam identificar os antecedentes e consequências de comportamentos problemáticos. Nesta seção, consideramos os procedimentos para identificar variáveis que controlam comportamentos problemáticos específicos, e discutimos como o conhecimento destas variáveis podem ajudar a delinear programas de tratamento efetivos. A informação aqui apresentada segue logicamente os procedimentos e princípios básicos discutidos nos capítulos anteriores deste livro. Análise funcional de comportamento problemático A análise funcional consiste na manipulação sistemática de eventos ambientais para testar experimentalmente seus papéis como antecedentes ou consequências no controle ou manutenção de comportamentos problemáticos específicos. Neste procedimento ‐ que também é chamado avaliação funcional experimental ‐ alguém avalia diretamente os efeitos de potenciais variáveis de controle sobre o comportamento problemático. No início da modificação de comportamento, independentemente daquilo que estava causando ou mantendo um comportamento problemático, muitas vezes se considerava que o agendamento apropriado de reforçadores positivos e/ou punidores superaria qualquer coisa que pudesse estar causando ou mantendo o comportamento. E esta estratégia costumava funcionar bem. Entretanto, encontrar reforçadores positivos suficientemente potentes para superar comportamentos problemáticos extremamente sérios muitas vezes era difícil. Isso parecia ser especialmente válido para o comportamento autolesivo emitido por indivíduos com dificuldades de desenvolvimento. E muitos desses comportamentos (p. ex., enfiar o dedo no olho, bater na cabeça, morder-se) eram tão danosos para os indivíduos nele engajados que não restava dúvida de que tinham de ser eliminados. Se comportamentos autolesivos extremamente danosos tivessem que ser controlados, os modificadores de comportamento frequentemente pareciam não ter escolha se não recorrer a punições fortes, como a punição do choque elétrico.1 Então, em 1982, Brian Iwata et al. publicaram um artigo que se tornou tão influente que acabou sendo reimpresso em 1994 (Iwata et al., 1982, 1994), e ainda continua sendo amplamente citado. Estes pesquisadores decidiram conduzir uma abordagem analítica funcional para obterem as causas do comportamento autolesivo de crianças com dificuldade de desenvolvimento. Para tanto, empregaram um delineamento multielementos, como descrito no capítulo anterior. Nove crianças com certo grau de dificuldade de desenvolvimento e que se engajavam em comportamento autolesivo foram incluídas no estudo. Como o estudo requeria permitir que as crianças emitissem comportamento autolesivo, a equipe médica as submeteu a uma cuidadosa triagem com o intuito de garantir que as autolesões não fossem além dos pequenos cortes ou arranhões que as crianças tipicamente incorrem em suas atividades normais do dia a dia. Além disso, no decorrer de todo o estudo, a equipe médica se manteve sempre acessível para tratar quaisquer autolesões. E, ainda, na consulta com a equipe médica, rigorosos critérios foram estabelecidos para encerrar uma sessão, caso as autolesões excedessem uma pequena quantidade especificada. O estudo durou em média 8 dias para cada criança. Havia quatro condições no estudo desses pesquisadores. Cada condição era conduzida 2 vezes por dia, em ordem aleatória, durante 15 minutos para cada criança, em uma sala que normalmente era usada para terapia. Em uma condição de atenção, para ver se o comportamento autolesivo estava sendo mantido pela atenção dos adultos, vários brinquedos foram colocados na sala e a criança acompanhada do modificador de comportamento entravam na sala juntos. Entretanto, o modificador de comportamento fingia lidar com uma papelada e somente interagia com a criança quando ela se engajava no comportamento problemático. Toda vez que a criança se engajava no comportamento autolesivo, o modificador do comportamento a olhava e expressava preocupação, dizendo algo como “Não faça isso, você vai se machucar”. Em uma condição de demanda, para ver se o comportamento autolesivo era mantido pela fuga das demandas, o modificador do comportamento e a criança entravam juntos na sala e o modificador de comportamento incentivava a criança a realizar alguma tarefa que ela achasse difícil. Se a criança se engajasse no comportamento problemático, o modificador de comportamento parava de fazer demandas para a criança, por 30 segundos. Em uma condição de estar só, para ver se o comportamento autolesivo era uma forma de reforço sensorial quando a criança estava sozinha, não havia brinquedos na sala e a criança ficava sozinha no local, embora fosse observada através de um falso espelho. Em uma condição controle, para testar se o comportamento autolesivo ocorreu na ausência das três condições anteriores, a criança e o modificador de comportamento entraram na sala juntos, onde havia vários brinquedos, e o modificador de comportamento reforçou o comportamento de brincar apropriado da criança. Os resultados indicaram claramente que diferentes tipos de reforçador estavam controlando o comportamento autolesivo de seis das nove crianças. Duas crianças mostraram um comportamento mais autolesivo durante a condição A, indicando que a atenção social, um reforço social positivo, estava mantendo o comportamento autolesivo delas. Duas crianças mostraram comportamento autolesivo durante a condição B, indicando que a fuga da demanda, um reforço social negativo, mantinha o comportamento autolesivo delas. Duas crianças mostraram comportamento mais autolesivo durantea condição C, sugerindo que um reforço não social estava mantendo seu comportamento autolesivo. Isto poderia ser algum tipo de reforço sensorial interno a partir do comportamento autolesivo. O reforço sensorial interno significa o reforço que é produzido simplesmente pelas sensações que uma resposta produz, como os flashes de luz que um indivíduo pode ver ao apertar o globo ocular. Nenhuma das crianças mostrou comportamento mais autolesivo na condição D. Os resultados indicaram: (a) em quatro crianças, o comportamento autolesivo era relativamente intenso durante a condição de autorreforço (estar só); (b) em duas crianças, a autolesão se manifestou da forma mais intensa durante a condição de demanda; (c) em três crianças, o comportamento autolesivo estava relativamente intenso em todas as condições de estímulo. Implicações de uma análise funcional para o tratamento Os resultados de Iwata et al. (1982, 1994) indicaram que, embora a forma de comportamento autolesivo possa ser bastante similar de um indivíduo para outro, a função pode ser muito diferente. Este achado implicou que o tratamento deveria ser baseado na função do comportamento, e não em sua forma. Suponha, por exemplo, que as quatro condições de Iwata tivessem sido conduzidas com cada uma das duas crianças que mostraram comportamento autolesivo, com cinco sessões por condição por criança. Suponha ainda que os resultados do delineamento multielementos com as duas crianças fossem aqueles mostrados na Figura 23.1. Como os resultados com a criança A indicam que seu comportamento problemático é mantido pela atenção dos adultos, o tratamento recomendado seria a retirada da atenção para o comportamento problemático e o fornecimento de atenção para um comportamento desejável. Por outro lado, como os resultados da criança B mostrados na Figura 23.1 indicam que o comportamento problemático desta criança é mantido pela fuga das demandas, o tratamento recomendado seria incluir períodos mais numerosos ou mais longos de ausência de demanda ao trabalhar com esta criança e, talvez, persistir com as demandas se o comportamento problemático ocorresse logo após uma demanda (extinção do comportamento de fuga). Embora os dados na Figura 23.1 sejam hipotéticos, alguns exemplos apresentados adiante, neste mesmo capítulo, mostrarão que uma análise funcional das causas de um comportamento problemático muitas vezes é combinada à aplicação de um tratamento efetivo, com base nos resultados da análise funcional. Figura 23.1 Dados hipotéticos do comportamento autolesivo (CAL) de duas crianças, cada uma observada em quatro condições. Em seguida ao estudo de referência de Iwata et al. (1982, 1994), mais de 2 mil artigos e capítulos de livros discutiram e estenderam o procedimento de análise funcional originalmente desenvolvido por esses pesquisadores (Beavers et al., 2013). A análise funcional tem sido usada em alguns contextos diferentes, com diferentes tipos de comportamento problemático e com diferentes tipos de indivíduo (p. ex., Cipani e Schock, 2007; Steege e Watson, 2009; Sturmey, 2007). É frequentemente referida como “padrão-ouro” de avaliação funcional, porque outros procedimentos de avaliação funcional (descritos adiante) não foram tão efetivos para identificar as variáveis que mantêm o comportamento problemático. Limitações de análise funcional Embora a análise funcional possa demonstrar de maneira convincente as variáveis controladoras de comportamentos problemáticos, também exibe algumas limitações. Primeiro, a quantidade de tempo requerida para conduzir uma análise funcional pode impor uma tensão significativa sobre a equipe disponível. Por exemplo, em um resumo de 152 análises funcionais, Iwata et al. (1994) relataram que a duração das avaliações de clientes individuais variou de 8 a 66 sessões ou de 2 a 16,5 horas (Iwata et al., 1994), que é um tempo substancial para uma equipe treinada retirar do tempo destinado as suas outras obrigações. Em segundo lugar, a análise funcional não pode ser aplicada a comportamentos extremamente perigosos. Em terceiro lugar, muitos problemas de comportamento ocorrem com frequências inferiores a 1 vez por dia ou por semana. As análises funcionais destes comportamentos de baixa frequência requerem tempo considerável para que uma quantidade de dados suficiente possa ser obtida para extrair conclusões válidas. Tentando minimizar a primeira limitação, o tempo requerido para uma análise funcional, os pesquisadores constataram que apenas uma ou duas repetições de algumas condições e uma diminuição na duração da sessão para 5 minutos frequentemente podem promover resultados significativos (Northup et al., 1991; Tincani et al., 1999). Outra forma de diminuir a quantidade de tempo requerido em uma análise funcional consiste em usar a condição isolada como fase de triagem quando houver suspeita de reforço sensorial. Caso o comportamento problemático não diminua ao longo de várias sessões da condição isolada, isto é uma forte indicação (ainda que imperfeita) de que o comportamento problemático está sendo mantido por reforço sensorial interno, e testes adicionais podem ser omitidos quando se fizer necessário para poupar tempo (Querim et al., 2013). Com relação à segunda limitação, alguns comportamentos perigosos ou extremamente desordenados muitas vezes são precedidos de comportamentos que não são perigosos nem extremamente desordenados. Um exemplo seria gritar antes de se tornar agressivo. Pesquisas indicam que, em alguns casos, se uma análise funcional destes precursores é conduzida e se os resultados forem usados para tratar e eliminar estes precursores, o comportamento mais grave será eliminado também (Fritz et al., 2013). Com relação à terceira limitação, aumentar a duração das sessões de análise funcional para semanas, dias ou até horas é inviável e poderia ser considerado antiético, devido à grande quantidade de tempo que o cliente teria que gastar em um procedimento não terapêutico. Entretanto, foi constatado que a espera para que o comportamento problemático ocorra e a iniciação de uma análise funcional exatamente no momento de sua ocorrência pode resultar em uma análise funcional que forneça resultados significativos (Tarbox et al., 2004). Como, por definição, o comportamento problemático ocorre de modo infrequente, as sessões requeridas para a análise funcional também seriam infrequentes. Portanto, embora a análise funcional tenha limitações, os pesquisadores estão constantemente tentando superá-las, devido aos benefícios comprovados da análise funcional. Entrevista e questionário de avaliação funcional Outra forma de identificar os antecedentes e as consequências que controlam o comportamento problemático é entrevistar o cliente ou pessoas que estejam familiarizadas com o cliente. Quando verbal, o cliente pode ser capaz de dizer o motivo que leva ao seu engajamento em um comportamento particular. Se o cliente não for verbal, as pessoas familiarizadas com ele podem ser capazes de fornecer a informação necessária. Uma forma mais estruturada de descobrir a causa do comportamento problemático é administrar um questionário em que o cliente ou as pessoas que lhe são familiares são interrogadas com uma série de perguntas relevantes. Alguns exemplos de questionários que foram desenvolvidos para este propósito são o Questions About Behavioral Function (QABF; Matson e Vollmer, 1995), The Motivation Assessment Scale (MAS; Durand e Crimmins, 1988), e o The Functional Analysis Screening Tool (FAST; Iwata et al., 2013). Infelizmente, nenhum dos questionários desenvolvidos apresentam boa confiabilidade ou validade, em comparação com a condução de uma análise funcional (Iwata et al., 2013; Iwata et al., 2000; Sturmey, 1994). Isto é válido até mesmo para o FAST, um questionário desenvolvido por Iwata et al. baseado explicitamente na metodologia de análise funcional. Isto não significa que os questionários devam ser dispensados como inúteis. Iwata et al. estabeleceram que questionários como o QABF, MAS e FAST podemter ao menos três utilidades: (1) proporcionarem uma forma rápida e consistente de reunir informação; (2) a informação fornecida por estes questionários pode servir de base para a obtenção de informação de acompanhamento que poderia ser útil caso surgisse algum fato exclusivo ou idiossincrático sobre o cliente; e (3) quando há grande concordância entre vários informantes em um questionário, é possível economizar tempo conduzindo uma análise funcional por meio da exclusão de alguns potenciais reforçadores do comportamento problemático. Infelizmente, apesar de suas limitações, os questionários são o método primário de avaliação funcional usado por muitos clínicos e educadores (Desrochers et al., 1997; Ellingson et al., 1999; Knoster, 2000; Van Acker et al., 2005). Alguns dos possíveis motivos sugeridos para o aumento do uso dos questionários, em comparação com a análise funcional, são: a facilidade para aplicar os questionários, a rapidez com que podem ser aplicados e o fato de não requererem observação direta do comportamento de interesse (Dixon et al., 2012, p. 20). Avaliações funcionais observacionais Outra forma de tentar identificar as variáveis que mantêm um comportamento problemático é fazer uma avaliação observacional ou descritiva. Nesta avaliação, alguém cuidadosamente observa e descreve os antecedentes e as consequências imediatas do comportamento problemático em seus contextos naturais (ver exemplos na Tabela 4.3, Capítulo 4). A partir destas descrições, são formadas hipóteses sobre os estímulos antecedentes, variáveis motivacionais e consequências que controlam o comportamento problemático. Em seguida, um plano de tratamento é elaborado e implementado com base nestas hipóteses. Se o Parte 5 Preparação para Desenvolvimento de Programas Comportamentais Eficazes 23 Avaliação Funcional de Comportamento Problemático
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