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História da Enfermagem Aula 3 Docente: Carina Manara Evolução em Saúde Pelo que pudemos ver até aqui, o processo saúde-doença se configura como um processo dinâmico, complexo e multidimensional; Engloba dimensões biológicas, psicológicas, socioculturais, econômicas, ambientais, políticas; Identifica uma complexa interrelação quando se trata de saúde e doença de uma pessoa, de um grupo social ou de sociedades. A abordagem de Castellanos (1990) se coloca como um esforço de operacionalização, do ponto de vista analítico, do processo saúde-doença, tendo em vista os diferentes níveis de organização da vida. Determinação do processo Saúde-Doença O processo saúde-doença é um conceito central da proposta de epidemiologia social, que procura caracterizar a saúde e a doença como componentes integrados de modo dinâmico nas condições concretas de vida das pessoas e dos diversos grupos sociais; cada situação de saúde específica, individual ou coletiva, é o resultado, em dado momento, de um conjunto de determinantes históricos, sociais, econômicos, culturais e biológicos. Nessa trajetória, o conceito de saúde vem sofrendo mudanças, por ter sido definido como “estado de ausência de doenças”; foi redefinido em 1948, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como “estado de completo bem-estar físico, mental e social”, passando de uma visão mecânica da saúde para uma visão abrangente e não estática do processo saúde-doença. A definição de saúde presente na Lei Orgânica de Saúde (LOS), n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, procura ir além da apresentada pela OMS, ao se mostrar mais ampla, pela explicitação dos fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença. Esta lei regulamenta o Sistema Único de Saúde, e é complementada pela Lei n. 8142, de dezembro de 1990 A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer, o acesso a bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país (Brasil, 1990, Art. 3). Saúde e doença não são estados ou condições estáveis, mas sim conceitos vitais, sujeitos a constante avaliação e mudança. A doença é considerada como ausência de Saúde, um estado que, ao atingir um indivíduo, provoca distúrbios das funções físicas e mentais. Pode ser causada por fatores exógenos (externos, do ambiente) ou endógenos (internos, do próprio organismo). as doenças infecciosas eram difíceis senão impossíveis de curar e, uma vez instaladas no adulto, o seu tratamento e a sua cura eram dispendiosos; os indivíduos contraíam doenças infecciosas em contato com o meio ambiente físico e social que continha o agente patogénico; as doenças infecciosas não se contraíam a não ser que o organismo hospedeiro fornecesse um meio favorável ao desenvolvimento do agente infeccioso. O conceito de doença O modelo biomédico, aplicado à saúde pública, reconheceu que: Além disso, esse modelo mostrou que, para prevenir as doenças, era necessário controlar os agentes patogénicos, por exemplo: controlando a sua mobilidade através da construção de sistemas de esgotos e de distribuição de água potável e da gestão de migrações, ou destruindo esses agentes com o tratamento das águas de consumo, e finalmente, já bem dentro do presente século, produzindo vacinas. Quando essas medidas falham, aplica-se a medicina curativa que, a partir de meados do século XX, encontrou nos antibióticos um auxiliar eficaz na destruição desses microorganismos. A partir dos sinais das doenças, o desenvolvimento da anatomia patológica tornou-se um dos principais alicerces da medicina moderna e a doença passou a ser considerada uma patologia (BATISTELLA, 2007). À medida que as doenças passaram ser acompanhadas estatisticamente, locais de atendimento em saúde também se transformam em espaços de produção de conhecimento e de ensino. A clínica passou a buscar uma linguagem objetiva e os sintomas passam a representar a linguagem do corpo. Dessa forma, a busca pela doença passou a ser no corpo e não fora dele Para facilitar a classificação das doenças, a OMS criou uma lista conhecida como Classificação Internacional de Doenças (CID); Uma ferramenta epidemiológica que fornece códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. Essa classificação foi criada a partir de uma necessidade de classificar as doenças, e a partir de outras tentativas de organizar o conhecimento sobre as doenças. Em 1855, Willian Far estabeleceu uma classificação que estava dividida em 5 grupos: doenças epidêmicas, generalizadas e localizadas, de acordo com a classificação anatômica, do desenvolvimento e consequentes de traumatismo. A partir da classificação de Far e de muitas revisões, chegou-se ao CID utilizado atualmente. � Microestrutural – molecular ou celular; � Microsistêmica – metabolismo ou tecido; � Subindividual (órgão ou sistema) – processos fisiopatológicos; � Clínica individual – casos; � Epidemiológica – população sob risco; � Interfaces ambientais – ecossistemas; � Simbólica – semiológica e cultural. Dentro das questões de doenças, faz-se necessário compreender o processo saúde-doença que surge a partir de diferentes dimensões: O processo saúde-doença, reconhecido a partir da posição do observador, aparece como alteração celular, sofrimento ou problema de saúde. No nível individual, a expressão do processo pode ser, simultaneamente, alteração fisiopatológica, sofrimento e representação (mediada por valores culturais). No nível coletivo, o processo saúde-doença possui uma expressão populacional (demográfica, ecológica), cultural (conjunto de regras) e espacial (organização e disposição). Nas sociedades, esse mesmo processo aparece como problema de saúde pública, entre o particular e o público e entre o individual e o coletivo (BATISTELA, 2007) No modelo de atenção, o objeto das práticas de saúde se expande para além da doença, dos doentes, dos modos de transmissão e dos fatores de risco, passando a englobar as necessidades e os determinantes (condições de vida e de trabalho), buscando o desenvolvimento de operações sobre os principais problemas e necessidades sociais de saúde, através de ações intersetoriais e de políticas públicas saudáveis. Na história, as doenças sempre representavam um desequilíbrio social e, nessa condição, a sociedade sempre precisou identificar causas e motivos. E as soluções para as doenças utilizavam medidas rígidas de controle, adotadas pelas autoridades sanitárias com o aval da população. Entre elas estavam a vigilância sanitária de moradias e estabelecimentos comerciais, o isolamento (quarentenas) e o desaparecimento dos doentes. A Epidemiologia é o estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes dos problemas de saúde em populações, bem como a aplicação desses estudos no controle dos eventos relacionados com saúde. A epidemiologia pode ser aplicada para informar a situação de saúde da população, investigar os fatores determinantes da situação de Saúde e avaliar o impacto das ações para alterar a situação encontrada. As medidas de frequência das doenças são definidas por conceitos epidemiológicos principais, que são a prevalência (o número de casos existentes de uma doença, em um dado momento) e a incidência (a frequência com que surgem casos novos da doença num intervalo de tempo). Saúde, doença e epidemiologia Para os estudos epidemiológicos é necessário conhecimento detalhado das condições de vida e de trabalho das pessoas para que se possa planejar e programar o desenvolvimento de ações em Saúde. Esses determinantes mais amplos do processo Saúde-doença são as condições de materiais necessários à sobrevivência, relacionados à nutrição, habitação, saneamento básico e áscondições de meio ambiente Para a atenção integral de saúde, é necessário utilizar e integrar saberes e práticas hoje reunidos em compartimentos isolados: atenção médico-hospitalar; programas de saúde pública; vigilância epidemiológica; vigilância sanitária; educação para a saúde etc. com ações extra-setoriais em distintos campos, como água, esgoto, resíduos, drenagem urbana, e também na educação, habitação, alimentação e nutrição etc, e dirigir esses saberes e práticas integrados a um território peculiar, diferente de outros territórios, onde habita uma população com características culturais, sociais, políticas, econômicas etc. também diferentes de outras populações que vivem em outros territórios. � Indicadores que traduzem diretamente a Saúde: razão de mortalidade proporcional, coeficiente geral de mortalidade, esperança de vida ao nascer, coeficiente de mortalidade infantil e coeficiente de mortalidade por doenças transmissíveis; � Indicadores que referem às condições do meio: índice de abastecimento de água, rede de esgotos, contaminações ambientais por poluentes; e � Indicadores que medem os recursos materiais e humanos relacionados às atividades de Saúde: índices relativos à rede de unidades de saúde de atenção básica, profissionais de saúde e leitos hospitalares. Dentro da epidemiologia é possível estudar os indicadores de Saúde, que são medidas que refletem características e têm como propósito elucidar situações de saúde. Os indicadores possuem muitas especifidades e são divididos em três categorias: � Mortalidade: dados provenientes de declarações de dados de morte; � Morbidade: a comunicação de uma doença ou agravo à saúde feita a autoridade sanitária; � Razão de chances: medida de associação, significa quantas vezes maior é a chance de um indivíduo estar doente entre aqueles expostos a algum fator e aos não expostos (exemplo: qual a chance de ter câncer de pulmão entre os fumantes e não fumantes); � Risco relativo: responde a quantas vezes é maior o risco de desenvolver uma doença entre indivíduos expostos e não expostos (por exemplo: risco de bebês que não são amamentados exclusivamente com leite materno de terem diarreia com comparação com bebês que são amamentados apenas com leite materno), e também é uma medida de de associação; � Causalidade: explica a ocorrência da doença ou de outros eventos ligados à saúde Dentro da epidemiologia temos conceitos muito importantes que precisam ser destacados para compreensão do processo saúde e doença: As mudanças ocorridas nos padrões de morte, morbidade e invalidez que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas são transições epidemiológicas (SCHRAMM et al., 2004) que ocorrem ao longo do tempo. Essas transições e modificações na saúde da população na qual doenças crônicas e suas complicações são prevalentes resultam em padrões diferentes de utilização dos serviços de saúde e no aumento de gastos. Essas questões levam a desafios para a incorporação de tecnologias, mudança no modelo hospitalocêntrico ainda vigente, a pouca valorização na educação em saúde em relação aos aspectos referentes à promoção e prevenção e à necessidade de novas instâncias de cuidados https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/vacinas/plano-nacional-de-operacionalizacao- da-vacina-contra-a-covid-19/notas-tecnicas/2022/nota-tecnica-02-2022-vacinacao-de-5-11- anos.pdf/@@download/file/Nota%20T%C3%A9cnica%2002.2022%20- %20Vacina%C3%A7%C3%A3o%20de%205-11%20anos.pdf Saúde e doença: conceitos e processos Há uma estreita relação entre sociedade, cultura e saúde. É a partir de informações sobre a realidade demográfica, epidemiológica, social, política e cultural que é possível trabalhar com políticas públicas adequadas A saúde e a sociedade são compreendidas como indissociáveis, dependendo de como entendemos como saúde e a doença são produzidas. O processo saúde-doença é determinado pela forma como o homem se apropria da natureza em seus processos de trabalho em cada momento histórico e em determinadas relações sociais de produção (CAMPOS, 2002). A saúde é um traço cultural: pensamos em saúde na perspectiva da sobrevivência, dos anos de vida ganhos, de defender a vida. Mas, do ponto de vista cultural, a vida é também ligada ao prazer, ou seja, à intensidade da vida, à qualidade de vida (CAMPOS, 2002) e a tudo relacionado com a saúde. � Sociedade: o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, preocupações e costumes e que interagem entre si, constituindo uma comunidade. � Cultura: é um conjunto de valores, costumes, regras e leis que interferem em vários aspectos da vida. Saúde: determinada pela própria biologia humana, pelo ambiente físico, social e econômico ao qual o indivíduo está exposto e pelo seu estilo de vida, isto é, pelos hábitos de alimentação e outros comportamentos que podem ser benéficos ou prejudiciais. A boa saúde está associada ao aumento da qualidade de vida. Dessa forma, existem diferentes jeitos de pensar a saúde e o processo saúde-doença em termos de modelos assistenciais. Quando queremos estudar saúde, sociedade e cultura, devemos compreender que temos dois modelos assistenciais: um modelo biomédico e um modelo de determinação social. O modelo biomédico veio através da valorização do complexo industrial, da célula e da química, do poder do médico e sua onipotência, do conhecimento fragmentado e da rigidez. Nesse modelo, o conhecimento e a prática de saúde são centralizados no profissional médico. O modelo de determinação social valoriza a psicologia e o cultural, a atuação interdisciplinar e multiprofissional, a pessoa como um todo, a permeabilidade e a humildade, a flexibilidade e o pensamento crítico politico. Com a compreensão desses modelos, fica mais fácil a discussão da relação entre sociedade, cultura e saúde. A partir desses modelos podemos incluir o conceito de promoção da saúde que, implica em ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e fatores de risco e, depois de instalada a doença, no tratamento adequado dos doentes. A promoção da saúde se refere a ações sobre os determinantes sociais da saúde, dirigidas a impactar favoravelmente a qualidade de vida das pessoas na sociedade. A promoção da saúde está diretamente relacionada à sociedade, uma vez que, para melhorar as condições de saúde, são necessárias mudanças profundas dos padrões econômicos no interior dessas sociedades, além de intensificação de políticas sociais, que são eminentemente políticas públicas. Existem fatores que determinam a promoção da saúde e que vão além das características das doenças: são os chamados determinantes sociais de saúde. A maior parte da carga das doenças, assim como as iniquidades em saúde que existem em todos os países, acontece por conta das condições em que as pessoas nascem, vivem, trabalham e envelhecem. A conjunto se dá o nome de determinantes sociais de saúde. Os determinantes sociais de saúde devem estabelecer uma hierarquia entre fatores gerais de natureza social, econômica e política e quais desses fatores incidem sobre a situação de saúde da população, uma vez que a relação de determinação não é uma relação direta de causa- efeito (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007). Enquanto os fatores individuais ajudam a identificar quem está submetido a um maior risco de doença, os determinantes sociais ajudam a entender o grau de equidade e distribuição de renda das pessoas. Há abordagens que explicam essa relação no ponto de vista de que as diferenças de renda podem influenciar em escassez de recursos e ausência de investimentos na comunidade; seja em saneamento, infraestrutura ou serviços de saúde, entre outros (BUSS; PELLEGRINI FILHO 2007) Determinantes sociais de saúde As relações de saúde da população e a desigualdade nas condições de vida, os vínculos, as relações de solidariedade e confiança e os mecanismos de iniquidade que afetam o país. Segundo Buss e PellegriniFilho (2007), não são as sociedades mais ricas que possuem melhor saúde, mas as sociedades mais igualitárias. Com isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu ações para melhorar a situação da saúde e reduzir iniquidades. Essas ações são baseadas em 3 princípios 1. Melhorar as condições de vida cotidianas — as circunstâncias em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem. 2. Abordar a distribuição desigual de poder, dinheiro e recursos — os motores estruturais das condições de vida referidas — nos níveis global, nacionais e locais. 3. Quantificar o problema, avaliar a ação, alargar a base de conhecimento, desenvolver um corpo de recursos humanos formado sobre os determinantes sociais da saúde e promover a consciência pública sobre o tema A abordagem dos determinantes sociais reflete o fato de que as iniquidades em saúde não podem ser combatidas sem que as iniquidades sociais sejam combatidas junto. Para que a economia permaneça forte e a estabilidade social e a segurança global sejam mantidas, é essencial que ações coordenadas em prol da saúde sejam implementadas. Trabalhar sobre os determinantes sociais também ajuda a melhorar as condições de saúde como um todo Existe no Brasil a Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), criada em 2006 com o objetivo de promover uma tomada de consciência sobre a importância dos determinantes sociais na situação de saúde e sobre a necessidade do combate às iniquidades de saúde por eles geradas. a prevenção e controle de epidemias de dengue, a prevenção de impacto da violência na saúde das crianças e adolescentes; e a política nacional de promoção da saúde, que levam em consideração dados culturais da nossa sociedade. Políticas públicas de promoção da saúde têm por objetivo promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e os riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes (modos de viver, condições de traba-lho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura e acesso a bens e serviços essenciais) (BRASIL, 2010). No Brasil, realizam-se importantes políticas públicas de promoção da saúde: Alimentação saudável, prática corporal e atividade física, prevenção e controle do tabagismo, redução da morbimortalidade em decorrência do uso abusivo de álcool e outras drogas, redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito, prevenção da violência e estímulo à cultura de paz e promoção do desenvolvimento sustentável. https://youtu.be/FIRLNeNzMAk COMO PROMOVER O CUIDADO INTEGRAL? https://youtu.be/O_Fadno8wck
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