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Emerson Guzzi Zuan Esteves Andréia Moreira da Fonseca Boechat Ademir Cavalheiro Leite Relações econômicas internacionais Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Esteves, Emerson Guzzi Zuan ISBN 978-85-8482-980-4 1. Comércio internacional. 2. Relações econômicas internacionais. I. Boechat, Andréia Moreira da Fonseca. II. Leite, Ademir Cavalheiro. III. Título. CDD 337 Zuan Esteves, Andréia Moreira da Fonseca Boechat, Ademir Cavalheiro Leite. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. 152 p. E79r Relações econômicas internacionais / Emerson Guzzi © 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente Acadêmico de Graduação Mário Ghio Júnior Conselho Acadêmico Alberto S. Santana Ana Lucia Jankovic Barduchi Camila Cardoso Rotella Cristiane Lisandra Danna Danielly Nunes Andrade Noé Emanuel Santana Grasiele Aparecida Lourenço Lidiane Cristina Vivaldini Olo Paulo Heraldo Costa do Valle Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro Revisão Técnica Mauro Stopatto Editorial Adilson Braga Fontes André Augusto de Andrade Ramos Cristiane Lisandra Danna Diogo Ribeiro Garcia Emanuel Santana Erick Silva Griep Lidiane Cristina Vivaldini Olo 2017 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Unidade 1 | Teorias do comércio internacional Seção 1 - As vantagens comparativas 1.1 | Teorias das vantagens comparativas 1.2 | Teoria das vantagens comparativas ou relativas, segundo David Ricardo (1820) Seção 2 - O modelo de fatores específicos 2.1 | Hipóteses do modelo de fatores específicos 2.1.1 | O modelo estrutural de fatores específicos 2.1.2 | Teoria da indústria infante Seção 3 - O modelo de Heckscher-Ohlin 3.1 | O modelo de produção simples de H-O Seção 4 - O modelo geral do comércio 4.1 | Possibilidades de produção e oferta relativa 4.2 | Preços relativos e demanda 4.3 | Determinação do equilíbrio mundial 4.4 | Efeitos dos termos de troca sobre o bem-estar 4.4.1 | Crescimento econômico e deslocamento da RS 4.4.2 | Transferências internacionais de renda e deslocamento da RD Sumário 7 Unidade 2 | Economia política do comércio internacional Seção 1 - Características básicas do comércio internacional 1.1 | Evolução histórica do comércio internacional 1.2 | Conceito das vantagens comparativas 1.3 | Custo de produção: fator determinante na política do valor de troca 1.4 | Diversificação da produção 1.5 | Características básicas do comércio internacional Seção 2 - O livre-comércio 2.1 | Significado de livre-comércio 2.2 | Equilíbrio do comércio mundial 2.3 | Principais zonas de livre-comércio 2.4 | Protecionismo 2.5 | Desvantagens do protecionismo Seção 3 - A Política cambial 3.1 | Conceito de câmbio 3.2 | Moedas conversíveis e moedas inconversíveis 3.3 | Conceito de crédito 3.4 | Política de câmbio livre 3.5 | Política de câmbio controlado 3.6 | Monopólio de câmbio 3.7 | Participantes do mercado cambial 3.8 | Câmbio fixo e câmbio flutuante Seção 4 - Organizações internacionais 4.1 | Conceito de organismos internacionais 4.2 | O Fundo Monetário Internacional (FMI) 10 11 12 18 19 21 25 26 27 31 32 34 36 36 36 38 45 48 48 50 50 51 51 55 55 55 57 59 59 61 61 62 64 64 65 65 65 66 68 68 69 4.3 | O Banco Mundial 4.4 | Organização das Nações Unidas (ONU) 4.5 | Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) 4.6 | Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) 4.7 | Organização Mundial da Saúde (OMS) 4.8 | Organização Internacional do Trabalho (OIT) 4.9 | Organização dos Estados Americanos (OEA) 4.10 | World Trade Organization ou Organização Mundial do Comércio Unidade 3 | O sistema monetário internacional Seção 1 - Restauração da conversibilidade: dólar; moeda japonesa; euromercado 1.1 | O padrão-ouro clássico 1.2 | Arranjos no entre guerras 1.3 | Sistema de Bretton Woods 1.4 | Arranjos pós-Bretton Woods 1.5 | Câmaras de conversão 1.6 | Fundo Monetário Internacional (FMI) 1.7 | Banco Mundial 1.8 | Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) − Organização Mundial do Comércio (OMC) Seção 2 - Globalização financeira e seus impactos sobre as políticas monetárias nacionais 2.1 | A internacionalização da economia: globalização produtiva e financeira 2.2 | As Multinacionais e o Investimento Estrangeiro Direto (IDE) 2.2.1 | Transnacionais 2.3 | A globalização do capital 2.4 | As procedências políticas estruturais da globalização do capital Unidade 4 | Organismos e grupamentos internacionais Seção 1 - ONU e organismos relevantes OIT, FMI, BIRD, OMC 1.1 | Organização das Nações Unidas (ONU) 1.2 | Organização Internacional do Trabalho (OIT) 1.3 | Fundo Monetário Internacional (FMI) 1.4 | Banco Mundial 1.5 | Organização Mundial do Comércio (OMC) Seção 2 - OTAN e OEA 2.1 | Organização do Tratado do Atlântico Norte 2.2 |Organização dos Estados Americanos (OEA) Seção 3 - Grupos econômicos: G-7; G-20; OPEP; BRICS 3.1 | Grupo dos Sete (G-7) e Grupo dos Vinte (G-20) 3.2 | Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) 3.3 | BRICS 69 70 71 71 72 72 72 72 82 82 87 89 94 98 98 99 100 79 102 102 105 106 107 108 117 120 120 124 125 127 128 131 131 132 136 136 138 139 Apresentação Com o mundo globalizado, o comércio internacional está ganhando cada vez mais importância, pois é uma forma de transformar economias pequenas e em desenvolvimento, em potências econômicas. No caso do Brasil, o comércio exterior contribuiu e muito para que nossa economia crescesse por meio da maior competitividade, ou seja, o comércio permitiu que as indústrias produzissem mais do que a capacidade do mercado interno, por exemplo, o setor primário da economia brasileira (como você sabe somos um dos maiores exportadores de produtos primários, grãos). Apesar de toda a importância, as exportações brasileiras em termos de valores monetários ainda são pequenas, se comparadas a países do mesmo porte do nosso. Esse fato demonstra a necessidade de estudarmos os problemas relacionados com a economia internacional e com o comércio exterior, ou seja, é preciso compreender as relações entre os países. Para isto, temas como teoria do comércio internacional; desenvolvimento econômico teórico recente, economias e deseconomias externas, concorrência imperfeita, comércio intraindústria, transferência de tecnologia; políticas e comércio internacional com ênfase ao livre-comércio, protecionismo e neoprotecionismo e organismos internacionais; e o sistema financeiro e monetário internacional serão tratados nesta disciplina. Assim, a disciplina Relações Econômicas Internacionais irá lhe proporcionar conhecimentos sobre a economia internacional, já que você, como futuro economista, precisa compreender as relações entre os países para poder avaliar as decisões tomadas pelo governo e também pelas empresas, principalmente as multinacionais. Bons estudos, Os autores. U1 - Teorias do comércio internacional 7 Unidade 1 Teorias do comércio internacional O intuito central da unidade é possibilitar uma noção elementar sobre as principais teorias do comércio exterior, de forma objetiva e clara. A proposta é fazer um resumo geral para apresentar ao estudante como começaram, quais foram as teorias, o que elas recomendavam e por quais motivos se completaram. Logo, pretende-se contextualizar o desenvolvimento e as principais teorias do comércio internacional, para um melhor entendimento das relações comerciaisentre países. Nesse contexto, para dar conta desse conteúdo, a unidade está composta por quatro seções, conforme apresentado a seguir. Objetivos de aprendizagem Nessa seção você conhecerá os principais conceitos e características dessa teoria, que busca explicar os mecanismos que decidiam a escolha dos produtos a serem produzidos e comercializados internacionalmente. Seção 1 | As vantagens comparativas Nessa seção você conhecerá os principais conceitos e características deste modelo, no qual busca-se analisar, entre outros temas, o impacto do comércio internacional em relação à distribuição de renda interna dos países envolvidos. Seção 2 | O modelo de fatores específicos Nessa seção você conhecerá os principais conceitos e características deste modelo, que é um “clássico” do comércio internacional, agregando à explicação do comércio internacional, entre outras circunstâncias, a importância das diferenças nas dotações de fatores entre os países. Seção 3 | O modelo de Heckscher-Ohlin Emerson Guzzi Zuan Esteves U1 - Teorias do comércio internacional8 Nessa seção você conhecerá os principais conceitos e características do Modelo Geral de Comércio, que é construído com base em quatro relações. Seção 4 | O modelo geral do comércio U1 - Teorias do comércio internacional 9 Introdução à unidade Nesta obra, você terá oportunidade de conhecer a teoria do comércio internacional, que surgiu da necessidade de explicação das trocas internacionais. Ao estudar essa teoria, você fortalecerá os conhecimentos necessários para compreender que esta remonta aos autores clássicos (com destaque para as contribuições de Adam Smith e David Ricardo), além de conseguir desenvolver uma análise plausível de generalização a qualquer país, assim se contrapondo às concepções protecionistas dos mercantilistas. Dessa forma, você poderá fazer uma leitura mais qualitativa sobre como são geradas as trocas internacionais. Portanto, o objetivo geral desta unidade é apresentar os conceitos da teoria do comércio internacional, que é o estudo das trocas internacionais dos agentes econômicos, isto é, da forma como estes procedem dado um conjunto de diferentes opções, comparando os benefícios e inconvenientes para a satisfação dos seus interesses. U1 - Teorias do comércio internacional10 Seção 1 As vantagens comparativas Introdução à seção Uma das diversas hipóteses desenvolvidas por David Ricardo, focada no desenvolvimento recíproco e no comércio internacional, foi o Princípio dos Custos Comparativos, também conhecido como Teoria das Vantagens Comparativas (GILPIN, 2002). O cerne dessa teoria está na busca pela explicação dos mecanismos que decidiriam a escolha dos produtos a serem produzidos e comercializados internacionalmente. Isso ocorre preservando-se a vocação individual e a busca da produtividade sistemática. De tal modo, observando países mais pobres, que não apresentam condições de produzir com custos menores para competir perante o mercado internacional, David Ricardo buscou analisar alternativas que garantissem a manutenção do comércio abarcando tais países, sem acarretar um desequilíbrio de suas riquezas (FOSCHETE, 2003). Caso uma circunstância extremamente contraditória entre as condições dos países fosse analisada pela teoria das vantagens absolutas de Adam Smith, essa demonstraria a inviabilidade de existência do comércio internacional entre eles, pois uma das escolhas apontadas por Ricardo seria o comércio entre todos os países sem a determinação de vantagens absolutas na produção de qualquer produto (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Para saber mais David Ricardo (Londres, 18 de abril de 1772 – Gatcombe Park, 11 de setembro de 1823). Considerado como um dos fundadores da escola clássica inglesa da economia política, juntamente com Adam Smith e Thomas Malthus. David Ricardo exerceu uma grande influência tanto sobre os economistas neoclássicos, como sobre os economistas U1 - Teorias do comércio internacional 11 Para saber mais marxistas, o que revela sua importância para o desenvolvimento da ciência econômica. Os temas presentes em suas obras incluem a teoria do valor- trabalho, a teoria da distribuição (as relações entre o lucro e os salários), o comércio internacional, temas monetários (WIKIPEDIA, 2017a). 1.1 Teorias das vantagens comparativas A fim de obter respostas para questões como: por que duas nações distintas comercializam? É melhor para ambas o comércio mútuo? Quais produtos devem ser comercializados? - os economistas clássicos elaboraram a Teoria das Vantagens Comparativas. Primeiramente, a teoria afirma que duas nações têm relações comerciais quando apresentam custos de produção distintos. Em segundo lugar, deduz que uma nação exportará sempre aquele produto que gerar custos relativamente menores do que o de outro. E, por fim, a partir destes resultados, argumenta que o comércio entre dois países (nações) é benéfico para ambos. Com ela, pretende-se definir os princípios que regem a divisão internacional do trabalho e, ao mesmo tempo, assegurar a mais ampla liberdade de comércio entre países (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Fundamentados nesse tipo de raciocínio, os clássicos concluíram que seria muito melhor para todos os países especializarem-se na produção daqueles bens em que tivessem melhor vantagem comparativa. Entretanto, para o funcionamento da previsão dos clássicos, era necessário que a teoria das vantagens comparativas fosse uma teoria realista. Nenhum país contemporâneo adota uma política de livre-comércio sem restrições à importação, abandonando sua economia e deixando-a completamente exposta à concorrência internacional (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). U1 - Teorias do comércio internacional12 Questão para reflexão Você consegue entender como a Teoria das vantagens comparativas pode impactar seu cotidiano? Seus efeitos são iguais sobre pessoas e países com rendas diferentes? Por quê? 1.2 Teoria das vantagens comparativas ou relativas, segundo David Ricardo (1820) 1.2.1 A formulação original do modelo O modelo das vantagens comparativas ou relativas, de David Ricardo, mostra que um país continua no comércio internacional produzindo um bem no qual seja eficiente, mesmo não sendo eficiente na produção dos demais bens (GILPIN, 2002). Para um melhor entendimento da teoria das vantagens comparativas, observa-se o exemplo do Quadro 1.1, proposto por David Ricardo, com dois países, dois produtos, conforme segue a exemplificação: Fonte: adaptado de Salvatore (2007). Quadro 1.1 | Relação Custo x Produtividade Bens: Tecido e Vinho Custo (horas de traba- lho necessárias para produzir 1) Produtividade (produção por hora de trabalho) Países Tecido Vinho X Y Inglaterra 100 120 1/100 1/120 Portugal 90 80 1/90 1/80 Os custos unitários ou as produtividades são determinados pelas tecnologias dos países, tanto na ótica de Adam Smith, como na de David Ricardo. Na exemplificação do Quadro 1.1, o país menos desenvolvido, Portugal, apesar de sua condição, é absolutamente mais eficiente na produção de ambos os bens - logo, trata-se de um paradoxo. Para David Ricardo, no contexto das vantagens absolutas, não haveria comércio entre os dois países. Entretanto, para determinar o padrão de especialização e troca, é necessário utilizar o conceito de vantagens comparativas (SALVATORE, 2007). U1 - Teorias do comércio internacional 13 Convencionalmente, considerando que em economia fechada verifica-se uma troca de semelhantes, para tal, uma equivalência nos valores totais da produção nos dois bens pode estimar as Razões de Troca Autônomas (RTA) em cada um dos países. Observe a Figura 1.1, em que Q representa Quantidades, C representa Custos Unitários e, por exemplo, RTAPortugal T/1V representa a RTA de Tecido por um de Vinho em Portugal: Fonte: adaptado de Salvatore (2007). Figura 1.1 | Equivalência nos valores globais da produção, custos relativos a Razões de Troca Autônomas (RTA) Fonte:adaptado de Salvatore (2007). Quadro 1.2 | Custos relativos, representado matricialmente Custos relativos Países Tecido Vinho Inglaterra 0,83(3) 1,2 Portugal 1,125 0,88(8) O Quadro 1.2 demonstra o custo relativo de 0,88, que é RTAPortugal T/1V ou seja, o custo do Vinho comparativamente ao Tecido em Portugal. De onde, avaliando o custo relativo de cada bem em comparação ao outro, entende-se que Portugal tem uma vantagem relativa na produção de Vinho e a Inglaterra tem uma vantagem relativa na produção de Tecido. Para tal, o custo comparativo do Vinho é menor em Portugal, 0,88(8) < 1,2, e o custo comparativo do Tecido é menor na Inglaterra, 0,83(3) < 1,125 (SALVATORE, 2007). Em palavras, a Inglaterra é comparativamente menos eficiente na produção de Vinho e Portugal é menos eficiente na produção de Tecido, devido U1 - Teorias do comércio internacional14 aos diferentes custos relativos os países possuem estímulos à troca. Logo, a Inglaterra deve especializar-se totalmente na produção de Tecido e Portugal na produção de Vinho (SALVATORE, 2007). Resumindo, a especialização ocorre por causa das vantagens comparativas. No exemplo apresentado, cada país acaba por especializar-se na produção dos bens na qual possui o menor custo relativo (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Após conhecido o padrão de especialização, só será concretizada a troca caso existam estímulos para tal, havendo uma Razão de Troca Internacional (RTI) que favoreça a especialização nos dois países. Dessa forma, a especialização inglesa em tecido somente ocorrerá se alcançar no mercado internacional mais do que 0,83(3) unidades de Vinho (litros), por cada unidade de Tecido (metros), ou seja, mais Vinho do que se alcançaria internamente por metros de Tecido. Da mesma forma, os portugueses deveriam se especializar na produção de Vinho (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Em síntese, caso o interesse na troca entre os países se concretize, a RTI deverá estar compreendida entre os valores das RTAs. Assim, para David Ricardo, caso a RTI totalize 21 unidades, por exemplo, haveria comércio se a RTA fosse de 20 ou menos unidades (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). David Ricardo não se atentou ao sentido objetivo da repartição dos benefícios por países, no entanto, existe a possibilidade de se provar, no que diz respeito aos benefícios da troca, que o país mais favorecido é aquele que tiver a RTI mais distante da RTA. No exemplo, vejamos como efetivamente os dois países lucram. Suponha-se que a RTIT/1V=1 e que cada país precisa de uma unidade de cada um dos produtos para contentar seus anseios internos. Diante do exposto, pode-se verificar que a Inglaterra é a mais beneficiada com a troca de 1,2-1 > 1-0,88(8) (SALVATORE, 2007). É importante terminar a análise do modelo (original) de Ricardo considerando as seguintes proposições: 1. Apesar do modelo não ser realista (principalmente em relação à estrutura de custos observados), a especialização que origina não é absolutamente “inocente”. Ela prega uma especialização industrial para a Inglaterra que, no longo prazo, levaria a altos benefícios e teria maiores ganhos do que os adquiridos por aqueles que viessem a se especializar em agricultura U1 - Teorias do comércio internacional 15 (problemática tácita da comparação entre as vantagens de curto prazo em relação às de longo prazo) (GILPIN, 2002). 2. Tanto para Adam Smith quanto para David Ricardo, a especialização internacional é associada aos fenômenos do crescimento econômico, da distribuição do rendimento e da acumulação de capital. Embora observa-se, no nível dessa função, uma pequena disparidade para ambos os autores, que se localiza intimamente associada à diferente conjuntura histórica-econômica em que viveram (GILPIN, 2002). Desse modo, havia a necessidade da importação de produtos agrícolas, visto que era possível reduzir as áreas agrícolas necessárias e ampliar a área disponibilizada à industrial, bem como suprir alimentos a preços menores, libertando-se fatores necessários à indústria e reduzindo o peso da agricultura. No nível da função esperada do comércio externo, enquanto Adam Smith priorizava as exportações, David Ricardo destacava as importações (GILPIN, 2002). 3. Diversas vezes entende-se que um país maior, devido ao seu tamanho e poder econômico, pode conseguir todos os benefícios do comércio, tendo vantagem relativamente a um país de menor tamanho e sem poder. No entanto, para a teoria clássica este pensamento é incorreto. De fato, quando dois países de tamanho muito diferentes trocam entre si, todos os ganhos podem passar para o país menor, e o país grande não ganha nada (SALVATORE, 2007). Suponhamos, pelo Quadro 1.3, que o mundo consiste em dois países, sendo o país A de grande dimensão e o país B de pequena dimensão, e que produzem dois bens, X e Y, conforme segue a matriz de produtividades: Fonte: adaptado de Salvatore (2007). Quadro 1.3 | Quadro de produtividades de dois bens e dois países Unidades de bem por unidade de fator (output por unidade de trabalho) Países X Y A 4 8 B 1 6 U1 - Teorias do comércio internacional16 Assim, A é definitivamente mais eficiente a produzir ambos os bens, pois, de acordo com a teoria das vantagens absolutas, não haveria troca, logo, a partir da teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, no Quadro 1.4, segue a matriz de custos relativos: Fonte: adaptado de Salvatore (2007). Quadro 1.4 | Matriz de custos relativos Custos relativos Países X Y A ______1/4 1/8 = 2 ______1/8 1/4 = 0,5 B ______1/1 1/6 = 6 ______1/6 1/1 = 0,16(6) Analisando, observa-se que o país A teria vantagem relativa em X e o país B tem vantagem relativa em Y, uma vez que, devido à grande diferença de tamanho, é impossível a B suprir a totalidade do mercado de A para o bem Y. Logo, o país A também produz Y, pelo que os preços mundiais refletirão os custos do país A, ou seja, os termos de troca serão equiparados com os preços comparativos do país A. Nessas circunstâncias, A não ganha nada e todos os benefícios do comércio irão para o país B (SALVATORE, 2007). 4. O livre-comércio é mutuamente benéfico se e só se existir vantagem comparativa (GILPIN, 2002). Suponha-se, por exemplo, o seguinte caso, apresentado no Quadro 1.5: Fonte: adaptado de Gilpin (2002). Quadro 1.5 | Matriz de trocas relativas Unidades de bem por unidade de fator (output por unidade de trabalho) Países X Y A 4 8 B 1 2 Logo, de acordo com a teoria das vantagens absolutas não haveria troca (A é absolutamente mais eficiente a produzir ambos os bens). No Quadro 1.6, observamos em termos de custos relativos: U1 - Teorias do comércio internacional 17 Fonte: adaptado de Gilpin (2002). Quadro 1.6 | Matriz de custos relativos Custos relativos Países X Y A ______1/4 1/8 = 2 ______1/8 1/4 = 0,5 B ______1/1 1/2 = 2 ______1/2 1/1 = 0,5 Por conseguinte, nesse caso não há bases para o comércio reciprocamente benéfico, pois a relativa superioridade de A é idêntica em X e Y. Trata-se de um caso especial de mesma vantagem, no qual nenhum país tem vantagem comparativa em nenhum dos bens (GILPIN, 2002). Atividades de aprendizagem 1. Qual a diferença entre o modelo ricardiano de vantagens comparativas e o modelo de vantagens absolutas de Adam Smith? Mostre essas diferenças por meio de um exemplo. 2. Qual a importância dos salários no modelo ricardiano? U1 - Teorias do comércio internacional18 Seção 2 O modelo de fatores específicos Introdução à seção A renda é a remuneração aos proprietários dos fatores de produção por sua utilização. No modelo Ricardiano, em que há só um tipo de fator de produção escasso (a mão de obra homogênea) e inexistem custos ou barreiras para a movimentação do fator trabalho entre os diferentes setores produtivos, a questão da distribuição da renda interna não pode ser avaliada de forma adequada (GILPIN, 2002). As limitações do modelo ricardiano não acabam com sua utilidade, pois seus resultados básicossobre a relação entre a produtividade e a remuneração aos fatores e referente à existência de potenciais ganhos com o comércio sempre que os custos de oportunidade relativos sejam diferentes entre os países são inatacáveis e válidos. Para tratar de questões mais apuradas, entretanto, uma especificação mais precisa e detalhada da estrutura das economias passa a ser necessária (GILPIN, 2002). Com o modelo de fatores específicos (Paul Samuelson e Ronald Jones), busca-se analisar, entre outros temas, o impacto do comércio internacional em relação à distribuição de renda interna dos países envolvidos. Este não é o único modelo adequado para tratar do tema da distribuição de renda, mas é um modelo que se destaca nessa modalidade de análise (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Para tratar do assunto da distribuição de renda interna, o novo modelo exige alterações em diversas hipóteses simplificadoras do modelo ricardiano. No modelo de fatores específicos mais simples, há dois países, dois bens e três fatores de produção (Capital, Terra e Mão de Obra). As tecnologias de produção estão sujeitas a rendimentos marginais decrescentes, sendo Capital e Terra específicas dos respectivos setores de produção, ressalta-se observar que estes recursos não podem ser deslocados da produção de um bem para a de outro. O trabalho, como no modelo ricardiano, permanece homogêneo e com mobilidade entre os setores (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). U1 - Teorias do comércio internacional 19 Para saber mais Paul Anthony Samuelson (Gary, 15 de maio de 1915 – Middlesex, Massachutes, 13 de dezembro de 2009) foi um economista americano da escola neokeynesianista. É considerado um economista “generalista”, no sentido de que suas contribuições para a ciência econômica são aplicadas em vários campos (WIKIPEDIA, 2017d). 2.1 Hipóteses do modelo de fatores específicos O comércio internacional, em decorrência da distribuição de renda, mostra que recursos não podem mudar de um setor para outro de forma imediata e sem custo, e que as indústrias possuem diferenças quanto aos fatores de produção demandados. O modelo de fatores específicos é composto por dois bens: manufaturas e alimentos; e três fatores: terra, capital e trabalho. O trabalho é um fator variável, logo, pode se mover de um setor para o outro; já os fatores capital e terra são específicos e só são utilizados na fabricação de um bem, ou seja, a terra somente será utilizada na produção de alimentos e o capital para a fabricação de manufaturas. Este modelo possui mercados em perfeita concorrência (FOSCHETE, 2003). O estado de pleno emprego exige que o abastecimento de toda a economia seja uma somatória do trabalho empregado na produção de alimentos e o trabalho empregado na fabricação de manufaturas. A curva de possibilidade de produção retrata como a formação dessa produção move-se à medida que o trabalho é deslocado de um setor para o outro. O formato da função de produção retrata a lei dos rendimentos decrescentes, que mostra que a cada incremento de trabalhadores na produção sem que haja elevação de trabalhadores na fabricação do capital empregado, cada trabalhador terá menos capital para trabalhar, ou seja, cada elevação sucessiva na produção de trabalho adicionará menos que o anterior na produção (AMADO, 2003). U1 - Teorias do comércio internacional20 A partir do ponto em que os preços dos dois bens alteram na mesma proporção, não ocorrem mudanças reais. Logo, a taxa de salário eleva-se na mesma proporção que os preços, de modo que os salários reais não são alterados. As rendas reais de detentores de capital e proprietários de terra também se mantêm. O salário eleva-se menos que proporcionalmente ao incremento nos preços relativos. Supondo uma elevação no preço da manufatura, o efeito econômico dessa elevação sobre a renda dos trabalhadores não poderia ser inferido se estivesse em melhor ou pior situação, por existir uma dependência da importância relativa que as manufaturas e os alimentos têm na economia em questão. Quanto aos detentores de capital, com certeza ficariam melhores e os proprietários de terra certamente piores (AMADO, 2003). O comércio internacional no modelo de fatores específicos mostra que a oferta relativa dos países pode divergir devido às diferenças de tecnologia e fatores de produção. Um país que tenha mais capital do que terra tende a produzir uma proporção maior entre manufaturas e alimentos a quaisquer preços dados. Em um país que não faz comércio, a produção de um bem deve ser a mesma que seu consumo. O comércio internacional viabiliza que a composição de manufaturas e alimentos utilizada seja distinta da composição produzida, pois o padrão de comércio também retrata que um país não pode gastar mais do que recebe (FOSCHETE, 2003). O comércio internacional tem grande influência na distribuição de renda dentro dos países, logo, gera tanto perdedores quanto ganhadores. Os efeitos da distribuição de renda são dados por dois motivos: os fatores de produção não podem se mover, instantaneamente e sem custo, de uma indústria para outra, e as alterações na composição do produto de uma economia têm efeitos distintos sobre a demanda e os fatores de produção (FOSCHETE, 2003). O modelo de fatores específico é útil para os efeitos da distribuição de renda do comércio internacional, pois, neste modelo, as diferenças nos recursos podem fazer com que os países tenham curvas de ofertas relativas distintas, o que estimula o comércio internacional. Os fatores específicos dos setores de exportação em cada país mostram ganhos do comércio, enquanto os fatores específicos dos setores que competem com as importações perdem. Logo, os fatores móveis podem ser utilizados nos dois setores, podendo então ganhar U1 - Teorias do comércio internacional 21 ou perder. Em suma, o comércio produz ganhos gerais no sentido limitado de que os que ganham podem, a priori, compensar os que perdem, continuando ainda em melhor situação do que estavam (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Para saber mais Ronald Winthrop Jones (nascido em 1931) é um influente economista do comércio internacional e professor Xerox de Economia na Universidade de Rochester. Seu recente e altamente aclamado livro Globalization and Theory of Input Trade (2000) resume muito de seu trabalho anterior e também discute a tendência recente do mercado em direção à fragmentação e terceirização do processo de produção (WIKIPEDIA, 2007e). 2.1.1 O modelo estrutural de fatores específicos O modelo de fatores específicos segundo Krugman e Obstfeld (2010), é formalizado a partir da seguinte composição: 1) Estrutura: a) 2 bens: i) Manufaturas (M) ii) Alimentos (A) b) 2 países: i) local (doméstico/interno) ii) estrangeiro (“*”) c) 3 fatores escassos: i) 2 específicos aos setores (indústrias) U1 - Teorias do comércio internacional22 (1) Capital, K, usado apenas na produção de manufaturas (2) Terra, T, usado apenas na produção de alimentos ii) 1 fator não específico: (1) Mão de obra, L, usada tanto na produção de manufaturas, LM, quanto na produção de alimentos, LA. d) Tecnologia − Funções de Produção: i) Produção de manufaturas Q M = Q M (K,L M ) (Produtividade Marginal do Trabalho Positiva) (Rendimentos Marginais Decrescentes) (Produtividade Marginal do Capital Positiva) ii) Produção de Alimentos Q A = Q A (T,L A ) (Produtividade Marginal do Trabalho Positiva) (Rendimentos Marginais Decrescentes) (Produtividade Marginal da Terra Positiva) e) Graficamente (F = Food = Alimentos): ____ = PMg 1.M > 0∂QM ∂L _______ < 0 ∂PMg LM ∂L ____ = PMg KM > 0∂QM ∂K ____ = PMg 1.A > 0∂QA ∂L _______ < 0 ∂PMg LA ∂L ____ = PMg TA > 0∂QA ∂T Questão para reflexãoVocê consegue entender como o modelo de fatores específicos pode impactar seu cotidiano? Seus efeitos são iguais sobre pessoas e países com rendas diferentes? Por quê? U1 - Teorias do comércio internacional 23 Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.2 | Produtividade marginal do trabalho positiva e formato da função de produção Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.3 | Acréscimo no estoque do capital a PMgL aumenta para cada nível de utilização de trabalho (QM) Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.4 | Acréscimo no estoque do capital a PMgL aumenta para cada nível de utilização de trabalho: Q M = QM(K 1 ,L M ) Output Q M Q M = Q M (K.L M ) Labor input, L M Marginal product of labor, MPL M MPL M Labor input, L M Input, QM Q = Q (K , L )M M r M Q = Q (K, L )M M M Labor input, LM U1 - Teorias do comércio internacional24 Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.5 | Solução gráfica do modelo iii) Pleno Emprego: o estado de pleno emprego dos fatores agora é tríplice: (1) K = K, tal que, todo o estoque de capital é utilizado. (2) T = T, tal que, todo o estoque de terra é utilizado. (3) L = L M + L A iv) se as condições (a), (b) e (c) forem atendidas, a economia estará empregando plenamente seus recursos, dada as condições observadas sobre a Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP). Supõe-se, na análise da Figura 1.5, que a economia esteja operando em pleno emprego, ou seja, que as três condições acima sejam satisfeitas. O gráfico mostra nos quadrantes superiores esquerdos e inferiores direito as funções de produção de alimentos e manufaturas, respectivamente. Na elaboração destas curvas, supõe-se que os estoques de insumos específicos, T e K, sejam iguais aos totais disponíveis na economia, o que garante o pleno emprego destes dois fatores na análise (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Para assegurar o pleno emprego da mão de obra, o quadrante inferior esquerdo exibe a restrição de plena utilização deste fator, que pode ser deslocado, sem custos, entre os dois setores (produção de alimentos e de manufaturas). Sobre a restrição L = LA + LM, a mão de obra está plenamente utilizada (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). 1 2 3 1’ 2’ 3’ L LA 2 QM 2 LM 2 QA 2 PP AA L Q = Q (S,L )A A A Função de produção de alimentos Fronteira de possibilidades de produção da economia (PP) Alocação de trabalho na economia (AA) Função de produção de manufaturas U1 - Teorias do comércio internacional 25 A explicação da Figura 1.5 é bastante simples, pois para produzir cada vez mais alimentos é necessário arcar com os custos crescentes em fazê-lo: tanto a produtividade marginal do trabalho diminui na produção de alimentos (mais horas de trabalho são necessárias à produção de cada unidade de alimentos incrementais), quanto o custo da redução na produção de manufaturas aumenta (mais unidades de manufaturas são desprezadas de produzir a cada unidade de mão de obra deslocada para a produção de alimentos) (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). 2.1.2 Teoria da indústria infante A Teoria da Indústria Infante foi formulada por autores alemães e americanos, ainda no século XIX, em rebate à Teoria das Vantagens Comparativas. Ela nasce da constatação de que o país que se industrializar primeiro assume tais vantagens comparativas na produção industrial, em detrimento dos demais países. Foi o que aconteceu com a Alemanha e os Estados Unidos no século passado (SILVA; CARVALHO, 2007). A indústria alemã não tinha capacidade de concorrer em condições de igualdade, no mercado nacional, com a britânica. Logo, para viabilizar sua industrialização, os Estados Unidos e a Alemanha passaram a proteger seus mercados internos, cobrando altas tarifas aduaneiras sobre produtos importados que competissem com os de suas próprias indústrias. A Teoria da Indústria Infante surgiu, de certa forma, para justificar essa prática protecionista (SILVA; CARVALHO, 2007). No Brasil, durante o auge do ciclo cafeeiro (1840-1930), o argumento da “indústria infante” foi largamente utilizado para defender políticas aduaneiras favoráveis aos ramos que procuravam substituir as importações nesse período (GONÇALVES, 2000). Atividades de aprendizagem 1. Quais as contribuições adicionais do modelo de comércio com fator específico em relação ao modelo de vantagens comparativas? Em quais conclusões há convergência e em quais há divergência? 2. Sob quais pressupostos ocorrerá o comércio internacional? U1 - Teorias do comércio internacional26 Seção 3 O modelo de Heckscher-Ohlin Introdução à seção O modelo Hecksher-Ohlin (H-O) é um “clássico” do comércio internacional, agregando à explicação do comércio internacional, entre outras circunstâncias, a importância das diferenças nas dotações de fatores entre os países. Eli Hecksher e Bertil Ohlin são suecos, sendo que esse último recebeu o Nobel em 1977 (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). O comércio internacional é influenciado pelas dotações relativas de fatores e cabe ressaltar que o país que tem mais terra (em comparação aos outros países), geralmente tem uma vantagem na produção de bens que utilizem esse insumo de forma intensiva. O tratamento explícito da importância das proporções de fatores fez com que este modelo também fosse conhecido como o “modelo de proporções de fatores” (SILVA; CARVALHO, 2007). Em sua versão mais clássica, aqui analisada, o modelo H-O supõe 2 economias, cada qual produzindo 2 bens e usando 2 fatores, que é o de modelo 2 x 2 x 2. Diversos teoremas importantes decorrem do modelo H-O, sendo: i) Um país exporta os bens cuja produção é intensiva na utilização dos fatores de produção que lhe são relativamente fartos (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). ii) Se as tecnologias e produtos nos dois países forem iguais e todos os produtos forem produzidos em todos os países (especialização incompleta), os preços dos fatores serão iguais nos dois países, o que é chamado de teorema da equalização dos preços dos fatores (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). iii) Qualquer efeito do comércio que aumente o preço local do produto importado beneficia os donos do fator produtivo usado intensivamente na produção do bem concorrente do importado, o que é chamado de Teorema de Stolper Samuelson (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). U1 - Teorias do comércio internacional 27 Para saber mais Eli Filip Heckscher (24 de novembro de 1879 - 23 de dezembro de 1952) foi um economista político sueco e historiador econômico. De acordo com uma bibliografia publicada em 1950, tinha, a partir do ano anterior, publicado 1.148 livros e artigos, entre os quais se pode mencionar o seu estudo do Mercantilismo, que tinha sido traduzido para várias línguas, e uma monumental história econômica da Suécia em vários volumes. É mais conhecido por um modelo explicando padrões no comércio internacional, pelo modelo Hecksher-Ohlin (H-O) que desenvolveu com Bertil Ohlin na Escola de Economia de Estocolmo (WIKIPEDIA, 2007b). 3.1 O modelo de produção simples de H-O David Ricardo não se preocupou em explicar o porquê de as produtividades divergirem entre os países, pois no seu ponto de análise, o que explica as vantagens comparativas é o simples fato de os países se beneficiarem de diferentes tecnologias, logo, de diferentes produtividades do fator trabalho. Por sua vez, na abordagem neoclássica, pela ótica da demanda, são as diferenças em relação à procura é que determinam diferentes preços, e, contudo, fornecem os incentivos à relação de trocas no comércio entre países (SILVA; CARVALHO, 2007). Segundo Krugman e Obstfeld (2010), para melhor entendimento da nova abordagem neoclássica, apresenta-se o modelo de H-O, com uma série de hipóteses e pressupostos. Hipóteses: • Fabricam-se duas mercadorias, 1 e 2, com o auxílio de dois fatores primários e homogêneos: capital (K) e trabalho (L). • As funções de produção são do tipo Qi = F (Ki, Li), com i = 1,2, U1- Teorias do comércio internacional28 sendo funções homogêneas de grau um, com rendimentos constantes à escala, e infinitamente diferenciáveis e contínuas. • A categorização dos dois bens de acordo com a sua intensidade fatorial é inequívoca para todos os preços relativos dos fatores, ou seja, não existe reversibilidade das intensidades fatorais. • Há mobilidade dos fatores entre os setores do país, porém imobilidade entre os países. Os preços dos fatores são maleáveis, o que garante o pleno emprego. • A oferta dos fatores é restringida, ou seja, autônoma dos seus preços. • Os países têm dotações relativas de fatores distintos. • Os conhecimentos tecnológicos estão da mesma forma disponíveis para todos os países e sem custo. Assim, a função de produção é idêntica nos dois países para o mesmo produto. • Os bens movimentam-se internacionalmente de uma forma independente, sem custos de transporte, barreiras alfandegárias ou outros empecilhos ao comércio livre. • Existe concorrência perfeita tanto no mercado dos bens como no mercado de fatores produção. • Cada consumidor tenta maximizar uma função de utilidade análoga e homotética, ou seja, a elasticidade rendimento da procura é unitária para cada bem nos dois países. Apresentadas as diversas hipóteses do modelo de Heckscher-Ohlin (H-O), pode-se concluir que cada país goza de vantagens comparativas nos bens que usam mais intensivamente o seu fator mais abundante, ou seja, relativamente mais barato (SILVA; CARVALHO, 2007). Questão para reflexão Você consegue entender como o Modelo de Heckscher-Ohlin (H-O) pode impactar seu cotidiano? Seus efeitos são iguais sobre pessoas e países com rendas diferentes? Por quê? O modelo H-O admite que, em longo prazo, os fatores produtivos são substituíveis entre si. Isso significa que se, por hipótese, o preço do trabalho (w) aumenta em relação ao preço do capital (r), em longo prazo as empresas trocarão trabalho por capital: utilizarão mais trabalho U1 - Teorias do comércio internacional 29 e menos capital para produzir cada unidade de produto (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Por exemplo, em um determinado período as empresas de uma indústria utilizam duas unidades de trabalho e duas unidades de capital para produção de uma unidade de produto final, logo, um acréscimo do preço relativo do trabalho levará essas empresas a produzirem uma unidade de produto final com base em três unidades de capital e somente uma unidade de trabalho (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Em esquema: 2K + 2L > 1Y ------- ↑ w/r -------> 3K + 1L > 1y Antes Depois Onde, y é o produto final de uma indústria. Logo, o modelo H-O admite que os diferentes bens são produzidos usando-se os vários fatores produtivos com diversas intensidades. Entretanto, importa procedermos a uma comparação entre o teorema H-O e o teorema de Ricardo, pois de acordo com ambos os teoremas, o comércio existe porque em relações de trocas alguns bens são produzidos a preços menores em alguns países quando comparados com outros. Não obstante, segundo o teorema de Ricardo tal situação ocorre porque os países têm tecnologias de produção distintas, enquanto que de acordo com o teorema H-O isso acontece porque as dotações relativas de fatores são diferentes entre países (SILVA; CARVALHO, 2007). Em suma, os dois teoremas enfatizam a mesma causa próxima do comércio, ou seja, a diferença entre os preços relativos dos bens em trocas de país para país, além de diferenças como: tecnologias distintas, no caso do teorema de Ricardo, e diferentes dotações de fatores, no caso do teorema de H-O. Nota-se ainda que, sendo distintas, estas causas não são incompatíveis: mais do que pôr em questão a explicação ricardiana para o comércio internacional, o teorema H-O propõe uma explicação complementar para esse comércio. A teoria de Heckscher e Ohlin difere do modelo ricardiano por distinguir o comércio internacional do comércio inter-regional e na identificação dos fatores que determinam a existência de vantagens comparativas (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). U1 - Teorias do comércio internacional30 Para saber mais Bertil Gotthard Ohlin (23 de abril de 1899 − 3 de agosto de 1979) foi um economista e político sueco. Ele foi professor de economia na Escola de Economia de Estocolmo de 1929 a 1965. Também foi líder do Partido Popular, um partido social-liberal que na época era o maior partido em oposição ao Partido Social Democrata, de 1944 a 1967. Trabalhou brevemente como Ministro do Comércio de 1944 a 1945 no governo de coalizão sueco durante a Segunda Guerra Mundial. Foi Presidente do Conselho Nórdico em 1959 e 1964 (WIKIPEDIA, 2017b). Atividades de aprendizagem 1. Explique a teoria da Hecksher-Ohlin, enfatizando os resultados sobre padrão e ganhos de comércio, esclarecendo o que a diferencia da teoria ricardiana e descrevendo o funcionamento do modelo H-O. 2. Qual a condição de especialização para o modelo H-O? Quais as implicações decorrentes da abertura ao comércio em relação à distribuição de renda? U1 - Teorias do comércio internacional 31 Seção 4 O modelo geral do comércio Introdução à seção Segundo Amado (2003), o Modelo Geral de Comércio é construído com base em quatro relações: i) Fronteira de Possibilidade de Produção e Curva de Oferta Relativa (FPP). ii) Preços Relativos e Demanda. iii) Determinação do Equilíbrio Mundial (RS e RD). iv) Efeito dos termos de troca (preço relativo internacional) sobre o bem-estar de uma nação. A integração entre fronteira de possibilidade de produção e a curva de oferta relativa segue as premissas de que cada país produza dois bens, supondo-se alimentos e tecidos. A FPP é uma curva amena e o ponto em que a economia produz efetivamente sobre a fronteira de possibilidade de produção está sujeita ao preço dos tecidos em relação aos de alimentos. As linhas de isovalor são linhas ao longo das quais o valor do produto é constante. A economia maximiza o valor da produção aos preços dados, logo, a economia produzirá na linha de isovalor mais alta no limite da FPP. As preferências dos consumidores são representadas pelas curvas de indiferenças, que são combinações de bens que tornam os consumidores igualmente satisfeitos. A alteração no bem ocorre quando o preço de um bem altera em relação ao preço do outro bem, o que é chamado de efeito renda, pois trata-se de uma alteração na renda que gera bem-estar. A substituição de um bem por outro ocorre quando o preço do bem muda em relação ao outro, que é considerado efeito substituição (AMADO, 2003). O crescimento econômico intitulado de crescimento viesado é quando a fronteira de possibilidade de produção se move para fora, mais em uma direção do que na outra, ou seja, um setor cresce mais do que o outro, sendo assim, a oferta relativa sofre alteração. Já o crescimento empobrecedor é uma situação na qual o crescimento U1 - Teorias do comércio internacional32 viesado para exportações nas nações mais pobres piora tanto seus termos de troca que elas continuariam em pior situação, caso não houvesse aumentado (COSTA; GRISI, 1999). O crescimento viesado para exportação é o que expande a fronteira de possibilidade de produção do país desproporcionalmente na produção de exportação do país. O seu efeito minimiza o termo de comércio, geralmente diminuindo o seu bem-estar e aumentando o bem-estar do país externo. Já o crescimento viesado para importações é quando a fronteira de possibilidade de produção aumenta desproporcionalmente na produção que o país importa e seu efeito aumenta os termos de troca do país, em regra aumentando o seu bem- estar e diminuindo o bem-estar do país externo (COSTA; GRISI, 1999). O remanejamento de renda desloca apenas a curva de demanda relativa, enquanto que a curva de oferta relativa é afetada pela mudança na dotação dos fatores de produção. Em suma, uma transferência de renda agravará os termos de troca do país quetransferiu a renda, caso este apresente uma propensão marginal a consumir em seu bem de exportação maior do que o país que está recebendo de renda (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Questão para reflexão Você consegue entender como o Modelo Geral de Comércio pode impactar seu cotidiano? Seus efeitos são iguais sobre pessoas e países com rendas diferentes? Por quê? 4.1 Possibilidades de produção e oferta relativa Segundo Krugman e Obstfeld (2010), os pressupostos do modelo são: • Que cada país produza dois bens: alimento (A) e tecidos (T). • Que a fronteira de possibilidades de produção de cada país seja uma curva suave (TT). O alvo em que a economia efetivamente produz sobre a fronteira de possibilidades de produção depende do preço dos tecidos em relação ao dos alimentos, P T /P A . Linhas de isovalor: P T .Q T + P A .Q A = V, linhas ao longo das quais o valor do produto é constante, conforme segue a representação gráfica na Figura 1.6: U1 - Teorias do comércio internacional 33 Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.6 | Preços relativos determinam o produto da economia A economia maximiza o valor da produção aos preços dados, contudo a economia produzirá em Q (ver Figura 1.6) que está na linha de isovalor mais alta possível. Uma alta do preço relativo PT/PA deixa as linhas de isovalor mais inclinadas. Como resultado desta inclinação (ver Figura 1.7 e 1.7a), a economia produz mais tecidos e menos alimentos e o produto de equilíbrio na FPP desloca-se de posição. Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.7 | Como um aumento no preço relativo de tecidos afeta a oferta relativa Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.7a | Como um aumento no preço relativo de tecidos afeta a oferta relativa TT Produção de alimentos, QA Produção de tecidos, QT Q Linhas de isovalor TT Produção de alimentos, QA Produção de tecidos, QT Q VV (P /P ) Q 1 2 1 T A 1 VV (P /P )2 T A 2 QA QT Q Q 1 2 Pt/Pa Q Q 1 2 Qt/Qa RS Dom U1 - Teorias do comércio internacional34 4.2 Preços relativos e demanda De acordo com Krugman e Obstfeld (2010), o valor do consumo de uma economia é igual ao valor de sua produção: P T Q T + P A Q A = P T D T + P A D A = V, ou P T .(Q T -C T ) + P A .(Q A -C A ) = V A preferência pela economia de um ponto sobre a linha de isovalor depende dos gostos dos consumidores, que podem ser representados graficamente pela Figura 1.8, dada uma série de curvas de indiferença. Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.8 | Produção, consumo e comércio no modelo-padrão Caso aconteça um aumento do preço relativo do tecido, P T /P A , a opção de preferência de consumo da economia se moverá de D1 para D2. O deslocamento de D1 para D2 reproduz dois efeitos, o efeito- renda e o efeito-substituição. Em teoria, é possível que o efeito-renda seja forte a ponto de, quando PT/PA aumentar, o consumo de ambos os bens efetivamente aumenta, mas a razão entre o consumo de T e de A tenderá à redução (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Seguem graficamente os efeitos elencados por Krugman e Obstfeld (2010), conforme observa-se nas Figuras 1.9 e 1.10. Produção de alimentos, QA T D Q Produção de tecidos, Q Exportação de tecidos Importação de alimentos Curvas de indiferença Linha de isovalor TT U1 - Teorias do comércio internacional 35 Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.9 | Efeitos de um aumento no preço relativo de tecidos Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.10 | Efeitos de um aumento no preço relativo de tecidos altera a demanda Para saber mais Paul Robin Krugman (Nova Iorque, 28 de fevereiro de 1953) é um economista norte-americano, vencedor do Nobel de Economia de 2008. Foi crítico da Nova Economia, termo cunhado no final da década de 1990, para descrever a passagem de uma economia de base principalmente industrial para uma economia baseada no conhecimento e nos serviços, resultante do progresso tecnológico e da globalização econômica (WIKIPEDIA, 2017c). Produção de alimentos, QA TProdução de tecidos, Q D D Q Q TT VV (P /P ) VV (P /P ) 1 1 1 1 2 2 A A T T 2 2 QA TQ C2 C1 Q1 Q2 Curvas de indiferença Pt/Pa Qt/Qa C2 C1 RD Dom U1 - Teorias do comércio internacional36 4.3 Determinação do equilíbrio mundial Segundo Foschete (2003), cada país, com suas demandas e ofertas relativas, possui um preço relativo de equilíbrio em trocas. A abertura comercial permite a interação entre os mercados, de tal sorte que haverá oferta e demanda relativas internacionais, que determinarão os termos de troca do comércio internacional, conforme observado na Figura 1.11: Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.11 | Equilíbrio de mercado com comércio internacional 4.4 Efeitos dos termos de troca sobre o bem-estar Em função do padrão de comércio, um determinado país será exportador de alimentos ou de tecidos. A depender do padrão, a direção da variação dos termos de troca pode favorecer ou desfavorecer o bem-estar da nação. Por exemplo, caso o país seja inicialmente um exportador de alimentos, a redução de PT/PA traria um ganho de bem-estar, ou seja, o poder de compra do alimento exportado, em termos de tecido, tenderia a aumentar. Todavia, para a mesma variação nos termos de troca, se o país exportar tecidos, haveria um declínio de bem-estar, ou seja, o poder de compra do tecido, em termos de alimento, seria menor (SILVA; CARVALHO, 2007). 4.4.1 Crescimento econômico e deslocamento da RS As implicações do crescimento econômico sobre o comércio internacional procedem do fato de tal crescimento ter um viés. O crescimento enviesado ocorre quando a FPP desloca-se para fora, mais em uma direção do que em outra, conforme Figura 1.12. Um crescimento que ultrapassa as possibilidades de produção de um país Qt+Qt /Qa+Qa Pt/Pa * RS Int RD Int * U1 - Teorias do comércio internacional 37 desproporcionalmente na direção do bem que ele exporta, logo, é um crescimento voltado para as exportações (SILVA; CARVALHO, 2007). Fonte: adaptado de Silva e Carvalho (2007). Figura 1.12 | Equilíbrio de mercado com comércio internacional Na Figura 1.13, observa-se, de modo similar, um crescimento enviesado na direção do bem que o país importa: é um crescimento voltado para as importações. Fonte: adaptado de Silva e Carvalho (2007). Figura 1.13 | Crescimento enviesado da FPP, para tecidos De acordo com Silva e Carvalho (2007), aceita-se o seguinte princípio: • O crescimento com foco em exportações propende a piorar os termos de troca de um país em crescimento, em benefício do resto do mundo. • O crescimento com foco em importações propende a melhorar os termos de troca de um país às custas do resto do mundo. A partir da Figura 1.14, é possível observar o deslocamento da oferta relativa, em relação ao crescimento enviesado para Alimentos e para Tecidos, conforme foi exemplificado pelas Figuras 1.12 e 1.13. Qt Qa Q2 FPP 2 Q1 FPP 1 Qt Qa Q2 FPP 2 Q1 FPP 1 U1 - Teorias do comércio internacional38 Fonte: adaptado de Silva e Carvalho (2007). Figura 1.14 | Crescimento enviesado da oferta relativa, respectivamente para tecidos e alimentos Na ótica de Krugman e Obstfeld (2010), os impactos do crescimento ampliarão ou reduzirão os benefícios de acordo com os seus vieses. No caso do crescimento empobrecedor, existiriam efeitos indesejáveis dadas condições bem específicas, como: • O crescimento intensamente voltado para exportações deve ser ajustado com curvas RS e RD muito inclinadas, ou seja, bastante inelásticas;. • Desse modo, caso a alteração nas relações de troca, após deslocamento da RS, seja elevada o suficiente para compensar os efeitos favoráveis iniciais de um aumento na capacidade produtiva do país, o acréscimo da quantidade transacionada não consegue compensar a perda dos termos de troca da relação inicial. 4.4.2 Transferências internacionaisde renda e deslocamento da RD Entre os motivos pelos quais a RD se desloca destacam-se as mudanças de preferências, as novas tecnologias e novos produtos, além das transferências de renda. As transferências de renda do país local para o estrangeiro ocorrem quando a renda e gastos do país local se reduzem, logo, no país estrangeiro ocorre inverso, portanto, aumentam (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Essa transferência pode afetar a divisão dos gastos mundiais, em função das diferentes preferências. Logo, a RD pode se deslocar e, portanto, alterar os termos de troca, porém, se a proporção dos gastos não se alterar, a RD não se desloca e, por consequência, os termos de troca não são afetados (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Qt+Qt /Qa+Qa Pt/Pa * * RS int RS int 2 RD int Qt+Qt /Qa+Qa Pt/Pa * * RS int RS int 2 RD int U1 - Teorias do comércio internacional 39 Caso ocorra o deslocamento da RD, este será o único efeito da transferência de renda, pois a RS não se deslocará. Contudo, se os dois países (Local e Estrangeiro) não alocarem suas alterações de renda em forma de gastos de mesma proporção, a RD se deslocará e o termo de troca sofrerá alteração, ou seja, diferentes padrões de gastos (como maior propensão marginal a consumir tecidos no país Local) fazem a RD se deslocar quando ocorrer a transferência de renda para o Estrangeiro. Na Figura 1.15, é possível observar que uma transferência de renda piora os termos de troca do doador se este tem uma maior propensão marginal a gastar em seu bem de exportação do que o receptor (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010). Fonte: adaptado de Krugman e Obstfeld (2010). Figura 1.15 | Redução da demanda relativa interna De acordo com o exemplo na Figura 1.15, que caso o doador apresentar uma menor propensão marginal a gastar em seu bem de exportação, seus termos de troca realmente melhorarão, e a demanda relativa apresentaria deslocamento para direita, e não para esquerda como exemplificado. Atividades de aprendizagem 1. Quais as características comuns dos modelos estudados até agora? 2. Usando o modelo ricardiano com dois países, no qual o país doméstico tem vantagem comparativa em alimentos e que no equilíbrio inicial há especialização de produção, qual seria o efeito nos preços relativos e no bem-estar de: Qt+Qt /Qa+Qa Pt/Pa * * RS int RD int 2 RD int U1 - Teorias do comércio internacional40 a) Aumento na força de trabalho estrangeira. b) Uma queda, de mesmo valor percentual, na utilização de trabalho na produção de uma unidade de alimento e de tecido no país doméstico. c) Uma queda, de mesmo valor percentual, na utilização de trabalho na produção de uma unidade de tecido nos dois países. Fique ligado Nesta unidade, foi abordada a teoria do comércio internacional, que surgiu da necessidade de explicação das trocas internacionais, com seus principais conceitos e características. Também foi explanado sobre a Teoria das vantagens comparativas, na qual foram expostos os principais conceitos e características dessa teoria, que está no fato de que ela busca explicar os mecanismos que decidiriam a escolha dos produtos a serem produzidos e comercializados internacionalmente. Foi abordado sobre o Modelo de fatores específicos, mostrando os principais conceitos e características desse modelo, no qual busca-se analisar, entre outros temas, o impacto do comércio internacional em relação à distribuição de renda interna dos países envolvidos. Depois foi visto o modelo de Heckscher-Ohlin, com os principais conceitos e características deste modelo que é um “clássico” do comércio internacional, agregando à explicação do comércio internacional, entre outras circunstâncias, a importância das diferenças nas dotações de fatores entre os países. Por fim, foi estudado o modelo geral do comércio, que é construído com base em quatro relações e sobre o qual foram apresentados os principais conceitos e características. Para concluir o estudo da unidade Em termos de aprofundamento dos conceitos de teoria do comércio internacional, recomenda-se a leitura da obra dos autores David Ricardo, Adam Smith, Paul Anthony Samuelson, Paul Krugman entre outros. U1 - Teorias do comércio internacional 41 Atividades de aprendizagem da unidade 1. (MPOG 2009) Os produtos X e Y são produzidos em determinado país empregando-se apenas a mão de obra local. Em um dia, cada trabalhador é capaz de produzir 3 unidades do bem X ou, alternativamente, 5 unidades do bem Y. Nesse caso, pode-se afirmar que: a) o custo de oportunidade de se produzir uma unidade do bem X é de 3/5 de unidade do bem Y. b) o custo de oportunidade de se produzir uma unidade do bem Y é de 3/5 de unidade do bem X. c) o custo de oportunidade de se produzir três unidades do bem Y é de 5 unidades do bem X. d) o custo de oportunidade de se produzir três unidades do bem X é de 3 unidades do bem Y. e) não é possível calcular o custo de oportunidade da produção do bem X ou do bem Y, pois o enunciado não informa a oportunidade perdida com essa produção. 2. (Enade 2006, nº 31) Suponha que a tabela abaixo representa a produção diária de vinho e de tecidos de um trabalhador, na Inglaterra e em Portugal, no século XVIII. Inglaterra Portugal Vinho 2 barris 1 barril Tecidos 4 peças 1 peça Com base na tabela, é possível afirmar que: a) a Inglaterra tem vantagem comparativa em ambos os bens. b) em condições de livre-comércio entre os dois países, a competição de produtos ingleses inviabilizará a produção em Portugal. c) seria imperativo que Portugal procurasse proteger sua produção de tecidos, que é a mais ameaçada pelos ingleses. d) uma vez estabelecido o livre-comércio, a Inglaterra irá especializar-se na produção de tecidos, e Portugal, na de vinhos. e) desde que cada país se especialize na produção de um bem, qualquer escolha é igualmente vantajosa para ambos. 3. (PROVÃO, 2002, nº 25) Em 1817, David Ricardo publicou seu livro Princípios de Economia Política e Tributação, no qual apresenta a teoria U1 - Teorias do comércio internacional42 4. (Aptada de: CESGRANRIO, BNDES, 2013) Com base no modelo de comércio de dotação de fatores, em um equilíbrio com livre-comércio: a) a taxa de juros é maior no país com menos capital. b) o salário é maior no país abundante em trabalho. c) os países se especializam no bem que possui vantagem tecnológica absoluta. d) os países importam o bem que possui dotação relativa abundante. e) os países exportam o bem intensivo no fator de produção relativamente abundante. 5. O modelo básico de Heckscher-Ohlin, de comércio internacional, supõe que, entre os países envolvidos, a(o): a) vantagem comparativa seja anulada. b) dotação dos fatores de produção seja a mesma. c) economia de escala na produção determine o comércio internacional. d) tecnologia disponível seja a mesma. e) comércio internacional de fatores de produção possa ocorrer. das vantagens comparativas. De acordo com ela, o comércio internacional pode ser benéfico para dois países, mesmo quando um deles é mais eficiente na produção de todos os bens. Para isso, basta que cada país se especialize e exporte os bens para os quais possua vantagem comparativa. Suponha, de acordo com a teoria clássica do comércio internacional, dois países (A e B) que produzem dois produtos (X e Y), usando apenas um fator de produção (trabalho). As produtividades médias do trabalho (constantes na produção de ambos os bens e em ambos os países) são apresentadas na tabela abaixo: Produtos Países A B X 2 1 Y 3 2 Nesse contexto, é correto afirmar que o país A deverá: a) exportar o bem X e importar o bem Y. b) exportar o bem Y e importar o bem X. c) exportar tanto o bem X quanto o bem Y. d) importar tanto o bem X quanto o bem Y. e) não comerciar com o país B. U2 - Economia política do comércio internacional 43 Referências AMADO, Adriana M. Noções de macroeconomia: razões teóricas para divergências entre os economistas. Barueri, SP: Manole, 2003. BRIGAGÃO, Clóvis. (org.).Estratégias de negociações internacionais. Rio de Janeiro: Aeroplano/Faperj, 2001. COSTA, Ligia Maura; GRISI, Celso Cláudio de Hildebrand e. Negociações internacionais e a globalização. São Paulo: LTR, 1999. FOSCHETE, Mozart T. Relações econômicas internacionais. São Paulo: Aduaneiras, 2003. GILPIN, Robert. A economia política das relações internacionais. Brasília: Editora da UNB, 2002. GONÇALVES, Reinaldo. O Brasil e o comércio internacional: transformações e perspectivas. São Paulo: Contexto: 2000. KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice. Economia internacional. São Paulo: Pearson, 2010. SALVATORE, Dominick. Introdução à economia internacional. Rio de Janeiro: LTC, 2007. SILVA, Cesar Roberto Leite da; CARVALHO, Maria Auxiliadora de. Economia internacional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. WIKIPEDIA. David Ricardo. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/David_ Ricardo>. Acesso em: 30 abr. 2017a. ______. Heckscher-Ohlin model. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/ Heckscher%E2%80%93Ohlin_model>. Acesso em: 30 abr. 2017b. ______. Paul Robin Krugman. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_ Krugman>. Acesso em: 30 abr. 2017c. ______. Paul Samuelson. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_ Samuelson>. Acesso em: 30 abr. 2017d. ______. Ronald W. Jones. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Ronald_W._ Jones>. Acesso em: 30 abr. 2017e. U2 - Economia política do comércio internacional44 U2 - Economia política do comércio internacional 45 Unidade 2 Economia política do comércio internacional Nesta unidade, iremos abordar: a economia política do comércio internacional; as interferências governamentais nas operações de comércio; as características do livre-comércio; a política cambial; o protecionismo moderno e a presença das organizações internacionais. Nossa abordagem está dividida em quatro seções, que serão apresentadas a seguir. Objetivos de aprendizagem Nessa seção serão abordados: os conceitos básicos da evolução do comércio internacional; as características do comércio entre as nações; o princípio da vantagem comparativa; a relação do comércio exterior com a balança comercial. Seção 1 | Características básicas do comércio internacional O significado das zonas de livre-comércio; as modalidades das zonas de livre-comércio; o protecionismo moderno; os atrasos tecnológicos oriundos do protecionismo, são temas a serem abordados nessa seção. Seção 2 | O livre-comércio Na Seção 3, os temas a serem abordados são: o conceito de política cambial; os fatores que levam os países a praticarem a política cambial; a relação do câmbio com comércio internacional; as diferenças existentes entre política de câmbio fixo, câmbio controlado, câmbio flutuante e monopólio cambial. Seção 3 | A política cambial Por fim, na Seção 4, será discorrido sobre: a importância das organizações para a equalização do comércio internacional; a função do FMI no contexto de comércio entre os países; a substituição do GATT pela OMC; a missão do Banco Mundial e a atuação da ONU como mediadora do sistema do comércio entre as nações. Seção 4 | Organizações internacionais Ademir Cavalheiro Leite U2 - Economia política do comércio internacional46 U2 - Economia política do comércio internacional 47 Introdução à unidade Nesta unidade de ensino, será observada a maneira como é conduzida a dinâmica do comércio internacional, a forma como os governos interagem dentro do contexto no qual existem relações comerciais entre as nações, além da importância e da presença das organizações industriais. U2 - Economia política do comércio internacional48 Seção 1 Características básicas do comércio internacional Nesta seção veremos a evolução do comércio internacional; estudaremos a importância da navegação marítima do século XVI para a intensificação do comércio entre as nações; observaremos a maneira como era conduzida a realização do comércio durante o mercantilismo; analisaremos os fatores que desencadearam o conceito das vantagens comparativas; veremos que o custo de produção é fator determinante da política do valor de troca; discutiremos a importância de uma política voltada para o processo de diversificação da produção, com o objetivo de avaliar se esta é positiva ou não; teremos a oportunidade de observar a importância do superávit da balança comercial para a elaboração de políticas direcionadas ao mercado internacional; e finalizaremos a seção analisando as características básicas do comércio internacional. Questão para reflexão • Você acredita que o resultado da Balança Comercial é importante para a definição de políticas macroeconômicas voltadas para o comércio internacional? • Seria correto afirmar que no período mercantilista o Estado intervinha de forma direta na economia? 1.1 Evolução histórica do comércio internacional O comércio em sua fase embrionária era caracterizado pela presença de trocas e permutas. Ao longo do tempo, essas ações ficaram conhecidas pelo nome de escambo, que eram transações diretas entre seres humanos pertencentes às sociedades primitivas. Conforme pode ser observado na Figura 2.1, “na idade média, as trocas comerciais tiveram continuidade com a presença de feiras mercantis realizadas pela burguesia da época, que já utilizavam moeda como base de troca.” (GASTALDI, 2005, p. 287). Introdução à seção U2 - Economia política do comércio internacional 49 Fonte: <https://pvmarques.files.wordpress.com/2012/09/feira_medieval.jpg>. Acesso em: 8 mar. 2017. Figura 2.1 | Feiras medievais No início do século XVI, com o surgimento da bússola e dos navios de grande porte, o comércio internacional passou por grandes transformações, levando os governantes dos principais países europeus a adotarem políticas mercantilistas das mais diversas. Espanha e Portugal competiam pelo controle das rotas do comércio marítimo internacional e chegar até as índias através do oceano Atlântico era o objetivo dos dois Estados-Nação. Nesse contexto, Cristóvão Colombo acabou descobrindo a América em outubro de 1492, atendendo aos interesses da Espanha, e Vasco da Gama descobriu a rota para as Índias, em maio de 1498, atendendo aos interesses de Portugal. As navegações do período estavam tão intensas que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em abril de 1500. Fonte: <https://historiaestvitae.wordpress.com/2014/06/24/a-vida-no-mar-no-sec-xv-xvi-parte-iv-os-instrumentos- de-navegacao/>. Acesso em: 7 mar. 2017. Figura 2.2 | Caravela portuguesa século XVI U2 - Economia política do comércio internacional50 O Mercantilismo foi a prática econômica adotada durante os séculos XVI, XVII e XVIII e em termos políticos ficou marcado pela intervenção do Estado na economia. 1. 2 Conceito das vantagens comparativas O conceito das vantagens comparativas de David Ricardo estava apoiado no fato de as nações, em termos de recursos naturais, não serem homogêneas. O que era fácil de ser produzido por um país, poderia ser difícil para outro. Nesse contexto, Ricardo, que aparece na Figura 2.3, sugeria que cada nação produzisse produtos que tivessem para ela custos mais baixos, para que, no futuro, utilizando as vantagens do comércio internacional, pudessem se beneficiar do sistema de trocas. Fonte: <http://moneyweek.com/wp-content/uploads/2016/10/817-Ricardo-1200.jpg>. Acesso em: 7 mar. 2017. Figura 2.3 | David Ricardo (1772 -1823) 1.3 Custo de produção: fator determinante na política do valor de troca Do ponto de vista político, David Ricardo estava correto na análise dos custos de produção. Para ele, um país, por ter facilidade na produção de trigo, poderia se especializar na produção de macarrão e exportar o excedente do que houvesse produzido para outro, que tivesse custos baixos na produção de uva. De forma natural, o país com facilidade na produção de uva poderia produzir vinho e trocar o excedente com o país produtor de macarrão. U2 - Economia política docomércio internacional 51 Se analisarmos o pensamento de Ricardo com relação ao comércio internacional, o Brasil está correto em importar petróleo do Iraque e exportar aves congeladas para esse país. 1.4 Diversificação da produção Na visão de Ricardo, cada país teria obrigação de explorar suas vantagens comparativas, se possível diversificando a pauta de exportações. Essa realidade pode ser vista no Brasil, que tem sua pauta de exportação apoiada em cinco produtos básicos: soja in natura e triturada; minérios de ferro e seus concentrados; óleos brutos de petróleo; açúcar oriundo da cana-de-açúcar; e carne de frango congelada. 1.5 Características básicas do comércio internacional Por definição, o comércio internacional pode ser classificado como o intercâmbio de bens e serviços entre as nações. Da mesma forma que o comércio internacional auxilia os países a importarem os produtos que necessitam, também os ajuda nas exportações dos excedentes de produção oriundos da existência das economias de escala. É importante destacar que a possibilidade pura e simples da venda de excedentes precisa ser analisada com muito cuidado. No caso das exportações de bens duráveis, existe a necessidade da adaptação do produto que será exportado às condições do país que irá recebê-lo. Apenas exportar o excedente não é recomendável. Imagine um veículo automotor (carro), produzido para andar na cidade do Rio de Janeiro, que apresenta temperatura média de 40° C durante o ano, sendo exportado para a Groelândia, país onde a temperatura predominante quase sempre está abaixo de zero. Com certeza um veículo produzido no Brasil precisará de adaptações para conseguir ser operacional em países onde a temperatura for demasiadamente baixa. Portanto, a exportação de excedentes exige muito critério, tanto por parte de quem exporta, como por parte de quem vier a importar. A Figura 2.4 mostra um Fusca com volante no lado direito, produto típico de consumo local. U2 - Economia política do comércio internacional52 Fonte: <https://goo.gl/eRNeCX>. Acesso em: 7 mar. 2017. Figura 2.4 | Fusca projetado para a Inglaterra Em suma, podemos afirmar que a importância do comércio não é apenas econômica, mas também social e política. 1.6 A relação do comércio exterior com a balança comercial A partir do momento em que um país começa a manter relações comerciais com o resto do mundo, surge a necessidade de se estabelecer um controle sobre o fluxo de pagamentos e recebimentos realizados nas relações comerciais internacionais. Nesse contexto, o país precisa se comportar como uma empresa, que vende bens e serviços, não devendo em hipótese alguma ter prejuízo. Para que esse controle possa ser realizado é necessária a existência do Balanço de Pagamentos do Brasil, que é o registro contábil de todas as transações do país com os outros Estados- Nações do planeta. Em uma interpretação mais simples: “O Balanço de Pagamentos é o registro contábil entre os residentes e não residentes de um país mensurado em um determinado período de tempo" (LEITE, 2007, p. 26). Os residentes são pessoas com residência fixa no país, inclusive estrangeiros, por exemplo, funcionários de embaixadas. Analisando o contexto comercial, como instrumento básico de trocas, podemos dizer que ele serve de ligação entre o homens, os povos e as nações, pelo fato de representar um fator de intercâmbio social de amplitude internacional. (GASTALDI, 2005, p. 287) U2 - Economia política do comércio internacional 53 Também estão incluídos entre os residentes, as filiais das empresas estrangeiras no país. No Balanço de Pagamentos estão registradas as importações e exportações de mercadorias realizadas pelo país. É importante destacar que o resultado do registro das exportações e importações recebe no Balanço de Pagamentos o nome de Balança Comercial. Diante desse cenário, todos os países com superávit na Balança Comercial procuram desenvolver políticas comerciais voltadas para a manutenção do sistema superavitário. Por outro lado, os países com déficits necessitam do desenvolvimento de políticas comerciais que possibilitem a inversão dos processos causadores desses déficits. Portanto, podemos afirmar que o resultado da Balança Comercial interfere de maneira direta na condução das políticas macroeconômicas, voltadas para o mercado internacional. Para saber mais Você sabia que a globalização modificou significativamente o tratamento jurídico direcionado ao comércio internacional? Atividades de aprendizagem 1. Leia as afirmativas a seguir: I - O comércio, em sua fase embrionária, era caracterizado pela presença de trocas e permutas. Ao longo do tempo, essas ações ficaram conhecidas pelo nome de escambo, que eram transações diretas entre seres humanos pertencentes às sociedades primitivas. II - No início do século XVI, com o surgimento da bússola e dos navios de grande porte, o comércio internacional passou por grandes transformações, levando os governantes dos principais países europeus a adotarem políticas mercantilistas das mais diversas. Assinale a alternativa correta: a) Somente a afirmativa I está correta. b) Somente a afirmativa II está correta. c) As afirmativas I e II estão incorretas. U2 - Economia política do comércio internacional54 d) Todas as afirmativas estão corretas. e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento Econômico. 2. Leia as afirmativas a seguir: I - O conceito das vantagens comparativas de David Ricardo estava apoiado no fato de as nações, em termos de recursos naturais, não serem homogêneas. O que era fácil de ser produzido por um país, poderia ser difícil para outro. II - Por definição, o comércio internacional pode ser classificado como o intercâmbio de bens e serviços entre as nações. Assinale a alternativa correta: a) Somente a afirmativa I está correta. b) Somente a afirmativa II está correta. c) Nenhuma das afirmativas está correta. d) As afirmativas I e II estão corretas. e) As afirmativas não têm relação com a Teoria do Desenvolvimento Econômico. U2 - Economia política do comércio internacional 55 Seção 2 O livre-comércio Introdução à seção Nesta seção veremos o que significa livre-comércio; o que são zonas de livre-comércio; observaremos as particularidades das zonas de livre-comércio; abordaremos o conceito de protecionismo; discutiremos os efeitos positivos do protecionismo; destacaremos os efeitos negativos do protecionismo; finalizaremos a seção abordando a relação do protecionismo com o desenvolvimento econômico. Questão para reflexão • Você acredita que existe protecionismo no comércio internacional? • Que tipo de impacto as políticas protecionistas dos países ricos podem causar nos países pobres? 2.1 Significado de livre-comércio Livre-comércio é um modelo de mercado no qual as trocas fluem de forma natural, sem a interferência de restrições impostas pelo Estado. São consideradas zonas de livre-comércio as associações entre países, nas quais as mercadorias podem circular com taxas alfandegárias reduzidas em decorrência de acordos mútuos entre os parceiros comerciais. 2.2 Equilíbrio do comércio mundial O equilíbrio do comércio mundial tem relação direta com o comportamento geopolítico das principais potências do planeta. A hegemonia da Inglaterra no século XIX levou os historiadores a classificarem esse período de multipolar, pelo fato de a influência inglesa definir os rumos da política e do comércio internacional da época. Após a Segunda Guerra Mundial, surge uma nova ordem mundial, apoiada na ascensão dos Estados Unidos e na consolidação da União U2 - Economia política do comércio internacional56 Soviética como potência militar. A nova realidade deixou o mundo dentro de um contexto bipolar (dois polos de domínio). Nesse contexto, a segunda metade do século XX ficou conhecida como “o período da Guerra Fria” e nesse cenário as políticas que normatizavam as relações do
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