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COMPILADO DE THREAD, MATERIAIS DISPONIBILIZADOS NO TELEGRAM (Professor Thimotie Heemann) e algumas postagens avulsas (@thim3108) Compilação: @estudaguria 1. Qual foi o Caso López e outros vs. Argentina? Corte IDH, Caso López e outros vs. Argentina (2019): Os Estados não podem alegar dificuldades econômicas para justificar condições de detenção que não cumpram com os parâmetros mínimos internacionais na matéria e que não respeitem a dignidade inerente do ser humano 2. No que consistiu o caso Romero Ferris vs Argentina? Corte IDH, Caso Romero Feris vs. Argentina (2019): O perigo de fuga não pode ser medido unicamente a partir da gravidade da possível pena que será imposta. A análise deve ser feita a partir de uma série de outros fatores relevantes que possam confirmar a existência de um perigo de fuga, como por exemplo aqueles relacionados com o lugar, ocupação, bens, vínculos familiares e todo tipo de vínculos com o país no qual o réu está sendo processado. 3. No que consistiu o caso Caso Girón e outro vs. Guatemala (2019)? O professor atribui duas jurisprudência em relação a esses casos: • Corte IDH, Caso Girón e outro vs. Guatemala (2019): A publicidade da execução da pena de morte através dos meios televisivos é incompatível com a dignidade humana, pois consiste em tratamento degradante, colocando os apenados como objetos para exemplificar, através de sua execução, que determinadas condutas são rechaçadas pela sociedade.] Em casos de natureza penal nos quais o Estado exerce o poder punitivo, em que a imposição da pena afeta de forma irreversível os direitos à vida e à liberdade pessoal, como é a pena de morte ou a privação de liberdade, previsão de que a defesa técnica possa ser realizada por estudantes de Direito consiste em violação do art. 2º da CADH. 4. Explique o princípio da vedação ao retrocesso em direitos humanos/ fundamentais: O princípio da proibição do retrocesso pode ser compreendido como a como a vedação da eliminação ou amesquinhamento do nível de proteção/concretização já alcançado pela sociedade em relação a determinado direito, admitindo-se apenas aprimoramentos ou acréscimos. A vedação do retrocesso é uma norma constitucional implícita. Para André de Carvalho Ramos e Ingo Sarlet o referido princípio estaria implicitamente inserido dentro do princípio do Estado de Direito (art. 1o, caput, CF88) e tbm na dignidade da pessoa humana (art 3o, III). Há ainda quem entenda que a vedação do retrocesso estaria no artigo 3o, inciso II da CF88 (garantir o desenvolvimento nacional), um dos objetivos fundamentais da república. No âmbito do Direito Internacional dos Direitos Humanos, a vedação do retrocesso pode ser encontrada no artigo 2.1 do Pacto dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais (PDESC) e no artigo 1o do Protocolo de San Salvador. O princípio é aplicado tanto no direito constitucional quanto no direito internacional dos direitos humanos. Alguns sinônimos de vedação do retrocesso: cláusula de não regressividade, vedação ao efeito cliquet, vedação ao efeito catraca, princípio da proibição de evolução reacionária ou ainda princípio do não retorno da concretização. • A vedação do retrocesso possui cinco facetas ou dimensões. a) Vedação ao Retrocesso SOCIAL: impede que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pela sociedade em matéria de direitos sociais (STF, MS 24.845). Ainda na faceta social da vedação do retrocesso, o STF entende que a proibição do retrocesso social é a dimensão negativa dos direitos sociais de natureza prestacional (STF, MS 24.875). b) Vedação do retrocesso POLÍTICO: ao julgar a ADI do voto impresso, o STF decidiu que a reinserção do mesmo violaria o princípio da proibição do retrocesso já sua vertente política (STF, ADI 4543-MC); c) vedação do retrocesso CIVIL: ao julgar a inconstitucionalidade do regime sucessório do companheiro em relação ao cônjuge (art. 1.790 do CC/2002) o Min. Barroso reconheceu a vedação do retrocesso civil na questão (STF, RE 878.694/MG). d) vedação do retrocesso ECOLÓGICO/AMBIENTAL: essa dimensão da proibição do retrocesso foi reconhecida pelo STF em ações que discutiam o amesquinhamento da proteção ambiental em unidades de conservação e áreas especialmente protegidas. e) vedação do retrocesso INSTITUCIONAL: desenvolvida por André de Carvalho Ramos, essa dimensão foi mencionada pela PGR em duas APDFs contra 2 atos do Presidente da República que reduziram do CONANDA e do Mecanismo Nacional de Combate à Tortura (STF ADPFs 622 e 607). O cerne, enfim, da vedação ao retrocesso é o de que os membros dos três Poderes devem levar o referido princípio em consideração na prática de seus atos, sejam eles comissivas ou omissivas, sob pena de incidirem em vício de inconvencionalidade/inconstitucionalidade 5. Explique o caso Wong Ho Wing vs Peru Corte IDH, Caso Wong Ho Wing vs. Peru (2015): A prisão para fins de extradição não pode ser automática, submetendo-se, portanto, aos critérios limitadores da prisão preventiva, como a exigência da cautelaridade e da duração razoável. 6. Discorra sobre a pena de morte na visão do Direito Internacional dos Direitos Humanos: De acordo com o atual estágio da proteção internacional dos direitos humanos, há uma tendência ao desuso da pena de morte pela maioria dos países. Vejamos as três fases da pena de morte no Direito Internacional dos Direitos Humanos: • Primeira fase da pena de morte: CONVIVÊNCIA TUTELADA. Nesta fase, o DIDH tolerava a pena de morte, mas com estrita regulamentação. Quatro limites à aplicação da pena capital eram impostos: a) natureza do crime (apenas crimes graves, não se admitindo sua banalização); b) impossibilidade de ampliação das hipóteses de aplicação da pena de morte: os países que ratificaram os tratados internacionais de direitos humanos que limitam a aplicação da pena de morte não podem ampliar as hipóteses de incidência da pena capital; c) devido processo legal: exige- se um amplo e rigoroso devido processo legal nos casos envolvendo a aplicação da pena capitalização. O Estado deve prever o direito à solicitação de anistia, indulto ou comutação de pena, além de vedar a aplicação da pena capital enquanto houver recurso pendente de apreciação. d) vedações circunstanciais: vedações em casos específicos como menores de 18 anos de idade, maiores de 70 anos, mulheres gravidas etc. • Segunda fase da pena de morte no Direito Internacional dos Direitos Humanos: “Banimento com exceções”. Nesta fase é vedada a aplicação da pena de morte em caráter geral, admitindo- se sua incidência apenas em crimes militares. O Brasil atualmente encontra-se na fase do banimento com exceções, uma vez que a Constituição Federal de 1988 veda a aplicação da pena de morte, salvo em casos de guerra declarada (art. 5o, inciso XLVII, alínea a) • Terceira fase da pena de morte para o Direito Internacional dos Direitos Humanos: “Banimento em Qualquer Circunstância”. Nesta fase, é vedada de maneira absoluta a aplicação da pena de morte. É a fase considerada ideal pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos . A fase do banimento em qualquer circunstância é aplicada principalmente no Sistema Europeu de Direitos Humanos. Convenção Americana de Direitos Humanos proíbe em seu artigo 4.5 a aplicação da pena de morte para menores de 18 anos, maiores de 70 anos e para mulheres grávidas. Também proíbe nos casos envolvendo delitos políticos. A CADH também proíbe que países que já tem abolido a pena de morte efetuem o seu reestabelecimento (art. 4.3). Além disso, a proibição da aplicação da pena de morte para menores de 18 anos é norma de jus cogens (CIDH, Caso Michael Domingues vs EUA) Também não é possível a instituição da pena de morte de forma generalizada, para todo e qualquer homicídio. Foi o que decidiu a Corte Interamericanade Direitos Humanos no Caso Hilarie e outros vs. Trindade e Tobago. Ainda sobre a proibição da pena de morte a determinados grupos de pessoas, embora os Pactos Internacionais prevejam expressamente apenas menores de 18 anos, maiores de 70 anos e mulheres grávidas, o Conselho Econômico e Social da ONU, em sua Resolução 1989/64 recomenda aos Estados membros abolirem a pena de morte — também — para os casos de pessoas que padeçam de deficiência mental ou com capacidade mental claramente reduzida. Da Mesma forma, a antiga Comissão de Direitos Humanos da ONU, em sua resolução 2005/59, que, além de prever a impossibilidade da aplicação da pena de morte para pessoas com deficiência mental, ainda amplia a situação de gravidez para abranger também mulheres com filhos bebês. Por fim, o Tribunal Penal Internacional, em virtude da sua instituição recente, já foi regulamentado dentro da terceira fase da pena de morte (banimento em qualquer circunstância). Não há aplicação da pena de morte pelo TPI, embora o Estatuto de Roma que regulamenta o Tribunal prevê a possibilidade de aplicação da pena de prisão perpétua, nos termos artigo 77.1 do Estatuto de Roma. Ainda sobre o tema, a Corte Europeia de Direitos Humanos já decidiu no caso Soering vs. Reino Unido que a espera excessiva no corredor da morte (death row) para a aplicação da pena de morte caracteriza tortura e tratamento desumano e degradante. 7. O que é o tranconstitucionalismo? O transconstitucionalismo é uma proposta doutrinária desenvolvida pelo professor Marcelo Neves (UFRJ) na qual se propõe o entrelaçamento entre constituições e ordenamentos jurídicos distintos, sem qualquer hierarquia entre um ordenamento e outro. Neste ponto, vale também lembrar que inexiste hierarquia entre os tribunais nacionais e os tribunais internacionais de direitos humanos (Corte Interamericana de Direitos Humanos, Tribunal Penal Internacional, Corte Internacional de Justiça etc) Para Neves, o transconstitucionalismo é uma forma de se buscar uma melhor e mais adequada solução dos casos debatidos internamente. A partir dessas premissas, o autor propõe a chamada “CONSTITUIÇÃO TRANSVERSAL DO ESTADO NACIONAL”, que pode ser compreendida como uma constituição relacionada ao modelo contemporâneo de Estado Constitucional. A Constituição Transversal do Estado Nacional envolve a complexidade da relação entre Política e Direito (sistema jurídico e político) e busca o “acoplamento estrutural” que canaliza irritações sistêmicas como instâncias de relação e influências recíprocas, duradouras e intercâmbio de experiências entre as racionalidades particulares da política e do direito. Também no transconstitucionalismo, Neves define o conceito de CONSTITUCIONALISMO PROVINCIANO, que se caracteriza por uma tradição jurídica que enfatiza a pretensão de “identidade constitucional” de um Estado, ignorando o entrelaçamento entre ordens jurídicas. Para o autor, o constitucionalismo provinciano não se operaliza ou articula segundo ordens constitucionais de três tipos: estatal, supranacional e Internacional. Neves propõe a “conversação entre cortes”, onde tribunais constitucionais citam-se reciprocamente não como precedente vinculante, mas como argumento persuasivo. A conversação deve ser considerada a partir de “pontes de transição” entre ordens jurídicas e seus juízes e tribunais, como forma de intercâmbio e aprendizado recíproco. Resumindo, Neves defende a citação de precedentes de outras cortes constitucionais pelo STF como argumento de autoridade (eficácia persuasiva). O próprio autor adverte que a citação desses precedentes não vincula pois inexiste o chamado “bindingeffect". Assim, a partir do transconstitucionalismo de Estado deixa de atuar à luz do constitucionalismo provinciano e passa a conceber a ideia de Constituição Transversal do Estado Nacional. Por fim (e agora encerrando mesmo), alerto que o professor Daniel Sarmento (UERJ) desenvolveu uma ideia parecida a partir da aplicação do princípio do cosmopolitismo ético, propondo também a citação de precedentes oriundos do direito comparado. Ainda, alerto que a utilização desses precedentes deve ser feita de forma fidedigna e sem qualquer distorção do seu conteúdo, sob pena de incidirmos no fenômeno denominado “cherry picking”, que pode ser entendido como a situação na qual o intérprete do direito seleciona estrategicamente um precedente estrangeiro que apresenta semelhanças pontuais com o caso paradigma visando reforçar seu argumento sem ter o cuidado de justificar os motivos pelos quais o caso em comparação realmente se adequa. 8. O que é o Necrodireito? A teoria do NECRODIREITO ou “necroderecho” foi idealizada por José Ramón Narvaez Hernandez e pode ser compreendida como “o direito que mata”, a partir de uma construção teórica de que o sistema estatal não contempla/planifica tudo e todos, e acaba deixando vácuos/espaços, em razão de uma omissão por parte do Estado, ocasionando morte de pessoas, geralmente os indivíduos pertencentes aos grupos mais vulneráveis da sociedade. Segundo Narvaez, isso ocorre porque o Estado canaliza e dirige suas forças e objetivos para questões que considera essenciais, como por exemplo, “questões econômicas” e acaba deixando questões existenciais de lado, afetando a população em geral e de forma mais agravada os grupos vulneráveis. Para Narvaez, as questões envolvendo o necrodireito se tornam mais evidentes quando a temática é economia ou seguridade social, já que por vezes o Estado opta por políticas públicas que deixam de lado minorias e grupos vulneráveis (população LGBTQI+, idosos, índios, pessoas em situação de rua, mulheres, pessoas com deficiência, pessoas com graves enfermidades, migrantes, refugiadas, apátridas, quilombolas etc). Narvaez explica que existe um nível mais complexo do necrodireito que consiste justamente quando o Estado consente e elimina de forma velada certo grupo vulnerável da sociedade pois considera outros valores mais importantes para o bem estar social. Assim, o necrodireito se caracterizaria tanto em razão dos processos formais em que o Estado gera de forma direta a morte das pessoas, como também seria possível se falar em necrodireito nos processos do Estado que militam contra a vida de forma indireta, descaracterizando grupos vulneráveis, removendo a questão identitária e diminuindo sua autoestima. Narvaez chama isso “morte cultural”. Em contraposição ao necrodireito, o autor defende o chamado VITALISMO JURÍDICO que propõe a ideia de que todos estamos interconectados e necessitamos uns dos outros para sobreviver. O vitalismo jurídico propõe que se tome uma consciência coletiva fomentando a cumplicidade e a banalidade do bem. Esta é a ideia central do necrodireito (necroderecho) de Narvaez. 9. O que é o Constitucionalismo Transformador? O chamado “constitucionalismo transformador” possui origem a partir das experiências constitucionais da Bolívia e Equador, possuindo como objetivo o cumprimento das promessas centrais cristalizadas no texto constitucional, em especial: a) a garantia dos direitos humanos; b) a implementação/proteção da democracia e; c) a preservação do Estado de Direito. A proposta do constitucionalismo transformador recebe este nome justamente em virtude do objetivo de tentar “transformar” regiões que ainda não estão consolidadas nos três aspectos supramencionados (garantia dos direitos humanos, democracia sólida e Estado de Direito preservado. A grande maioria dos “Estados alvo” da proposta do constitucionalismo transformador possuem algumas características em comum graves problemas de desigualdade e exclusão social, baixo acesso da população a serviços públicos essenciais, altos índices de violência e baixa institucionalidade no âmbito dos poderes constituídos. Dessa forma, o constitucionalismo transformador aposta em uma transformaçãogradual do cenário narrado a partir de três medidas: (a) supraestatalidade: notadamente tratados internacionais e arcabouço normativo internacional de direitos humanos como um todo. (b) pluralismo dialógico de ideias entre ordens nacionais e internacionais. Aqui podemos lembrar das “conversações constitucionais” de Marcelo Neves ou ainda do “diálogo das cortes” de André de Carvalho Ramos e; (c) atuação judicial. A proposta do constitucionalismo transformador reconhece, portanto, a importância do Direito Internacional dos Direitos Humanos e dos standards protetivos fixados por tribunais internacionais de direitos humanos, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos 10. Direito à alimentação adequada O direito humano à alimentação adequada foi internacionalizado a partir do artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que prevê que “toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a sua família saúde, bem estar e alimentação”. O Pacto dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais prevê o direito humano à alimentação adequada em seu artigo 11 e o Protocolo de San Salvador elenca a alimentação adequada como um direito humano em seu artigo 12. No Brasil, a Lei 11.346/2006 criou o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e o artigo 2o do referido diploma conceitua alimentação adequada como “um direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na CF88, devendo o poder público adotar as políticas públicas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população". Vale lembrar que o direito à alimentação adequada foi constitucionalizado em 2010, sendo inserido pela EC 64/10 no artigo 6o da CF88 como um direito social. Ainda, a LOSAN (Lei 11.346/2006) define segurança alimentar e nutricional como a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como boas práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”. No ano de 2019, a Organização das Nações Unidas (ONU) exarou relatório “O Estado da segurança alimentar e nutricional no mundo” e apontou que a fome, que antes diminuía no Brasil, voltou a crescer. O direito humano à alimentação adequada possui duas dimensões: o direito de estar livre da fome e o direito à alimentação adequada em sentido estrito. A primeira dimensão vem sendo violada no Brasil, já que a curva da fome e desnutrição (segundo a ONU) passou a crescer novamente. Ainda sobre o tema, Segundo o Comitê dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais da ONU em seu Comentário Geral no 12, existem três níveis de promoção do DHAA: obrigação de respeitar, obrigação de proteger e obrigação de assistir/realizar. Tanto a ONU quanto os tribunais superiores brasileiros entendem que a alimentação adequada é um consectário lógico do princípio da dignidade da pessoa humana. Vejamos uma passagem do REsp 1744321/RJ:“A aquisição de produto de gênero alimentício contendo em seu interior corpo estranho, expondo o consumidor à risco concreto de lesão à sua saúde e segurança, ainda que não ocorra a ingestão de seu conteúdo, da direito à compensação por dano moral, dada a ofensa ao direito fundamental à alimentação adequada, corolário do princípio da dignidade da pessoa humana”. Nesse sentido também, os CG número 12 da ONU: “O Comitê afirma que o direito à alimentação adequada é indivisivelmente ligado à dignidade da pessoa humana e indispensável para a concretização de outros direitos humanos consagrados na Carta de Direitos Humanos”. Recentemente, a Corte IDH se manifestou pela primeira vez sobre o tema do direito à alimentação adequada em sua jurisprudência, reconhecendo a sua violação em contexto envolvendo comunidades indígenas (Caso Comunidades Indígenas da Associação Lagoa Honhat vs Argentina). 11. AÇÕES AFIRMATIVAS: As ações afirmativas também são chamadas de “discriminações positivas” e visam implementar o conteúdo jurídico do princípio da igualdade em determinado Estado. Embora o sistema das ações afirmativas tenha de desenvolvido bastante a partir da experiência nos Estados Unidos da América, a origem das ações afirmativas remonta ao sistema de castas da Índia. São basicamente quatro os argumentos que justificam as ações afirmativas: a) justiça compensatória: as ações afirmativas buscam corrigir desigualdades ocasionadas por injustiças ocorridas no passado (escravidão e população negra, por exemplo); b) justiça distributiva: a partir do princípio da igualdade, as ações afirmativas buscam distribuir oportunidades para todos os segmentos sociais, corrigindo assimetrias envolvendo aqueles mais vulneráveis; c) fortalecimento da autoestima do grupo estigmatizado: aqui as ações afirmativas atuam na vertente do princípio da igualdade reconhecida como “igualdade como reconhecimento” e buscam fortalecer a autoestima de grupos que historicamente foram estigmatizados; d) promoção do pluralismo: um dos fundamentos do país na Constituição Federal 1988, as ações afirmativas acabam promovendo a promoção do pluralismo de ideias e visões de mundo nos bancos acadêmicos, no mercado de trabalho, no uso e fruição de serviços públicos etc.. A Constituição Federal de 1988 prevê diversas ações afirmativas em seu texto: proteção do mercado de trabalho da mulher mediante incentivos específicos (art. 7, XX), reserva de vagas em concursos e empregos públicos para pessoas com deficiência (art. 37, VIII). A gratuidade dos transportes coletivos urbanos aos maiores de 65 anos (art 230, p2) dentre outras. Percebam que os destinatários das ações afirmativas são sempre os grupos vulneráveis: mulheres, pessoas com deficiência, idosos, indígenas, quilombolas etc.. No âmbito das cotas em universidades públicas, o STF já julgou a constitucionalidade deste tema (ADPF 186) admitindo inclusive que a universidade regulamente o tema com base em resolução, nos termos de sua autonomia universitária (art 207, caput, da CF88). No âmbito das cotas em concursos públicos na administração pública federal, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela constitucionalidade da Lei 12.990/2014 que regulamenta a matéria (ADC 41). Por fim, o Direito Internacional dos Direitos Humanos também incentiva a partir dos textos de tratados setorizados (mulheres, pessoas com deficiências, migrantes e refugiados, idosos etc) a promoção pelos Estado de ações afirmativas. Agora finalizando: as ações afirmativas podem ser promovidas tanto pelo Estado quanto por particulares (ações afirmativas em uma empresa privada, por exemplo). O tema comporta muita discussão mas hoje ficamos com este pequeno resumo da temática. 12. PRINCÍPIO REPUBLICANO O princípio republicano é uma norma constitucional implícita no artigo 1o, caput da Constituição Federal de 1988 (STF, ADI 2821 e APN 968). Deste modo, é plenamente cabível a propositura de ações objetivas do controle de constitucionalidade alegando a sua violação. O tema do princípio republicano é pouco comentado pela doutrina brasileira mas muito utilizado pelo Supremo Tribunal Federal em seus julgado. Seu conteúdo pode ser inicialmente compreendido a partir do significado da palavra “república” res (coisa em latim) pública. A república não é uma cláusula pétrea explícita na CF88, embora existam doutrinadores como o Min. Alexandre de Moraes que entendam a república como uma cláusula pétrea implícita. O princípio republicano materializa, portanto, o governo de todos. O princípio republicano também está lastreado no dogma democrático da alternância de poder (STF, RE 1028577 AgR) e no combate ao patrimonialismo na relação entre agentes de Estadoe a coisa pública (STF, ADI 4169). Os poucos doutrinadores que tratam sobre o tema no Brasil (Daniel Sarmento, por exemplo) elencam cinco consectarios do princípio republicano. Vamos a eles: a. PERIODICIDADE DE MANDATOS POLÍTICOS e PERIODICIDADE ENTRE OS GOVERNANTES: o conceito de república se caracteriza justamente por ser uma antítese do conceito de monarquia. Na monarquia os governantes são vitalícios e hereditários. Eles desempenham seu papel enquanto estiverem vivos. Na república os governantes são eleitos pelo povo e por um período determinado. Nesse sentido e com base no princípio republicano, o STF e o TSE reconheceram a inconstitucionalidade da prática do “prefeito itinerante” (STF, RE 637485/RJ); b. RESPONSABILIDADE DOS GOVERNANTES PELOS SEUS PRÓPRIOS ATO: na monarquia vigorava em regra geral a teoria da irresponsabilidade dos governantes (the king can do no wrong - o rei não erra) seja para negar a responsabilidade civil do Estado ou seja para salvaguardar a figura do rei. O princípio republicano propõe justamente o contrário, partindo da premissa que os agentes públicos que detém temporariamente o poder estão cuidando da coisa pública que não lhes pertence. Nesse sentido e com base no princípio republicano, o STF reconheceu a impossibilidade de extensão da “cláusula de irresponsabilidade” prevista na Constituição Federal de 1988 ao Presidente da República aos Governadores de Estado (STF, ADI 978). Também nesse sentido, o reconhecimento da inexistência de foro por prerrogativa de função nos casos envolvendo improbidade administrativa (STF, ADI 2797); c. SEPARAÇÃO ENTRE A COISA PÚBLICA E A COISA PRIVADA: Este é um dos elementos centrais do princípio republicano. O próprio princípio da impessoalidade previsto no artigo 37, caput, da Constituição Federal de 1988 corrobora essa ideia. Foi com base no princípio republicano e combate ao patrimonialismo que o STF atestou a constitucionalidade da lei que determinou a divulgação dos vencimentos de servidores públicos em portal da transparência (STF, ARE 652777) bem como a divulgação dos áudios das sessões do STM ocorridas na época da ditadura militar (STF, Rcl 11949); d. LIBERDADE POLÍTICA COMPREENDIDA COMO NÃO DOMINAÇÃO: A filosofia política republicana enfatiza muito a liberdade como “não dominação” que pode ser compreendida como o funcionamento das instituições, respeito ao princípio da separação dos poderes e inafastabilidade do Poder Judiciário e igualdade nas relações entre particulares. e. PARTICIPAÇÃO DO CIDADÃO NA REPÚBLICA E DEVERES CÍVICOS: a ideia do princípio republicano é de que todos participem e se engajem com a coisa pública, não apenas em período eleitoral mas diariamente, cobrando seus representantes, exercendo o direito de reunião e dando sua contribuição a partir do engajamento na sociedade civil. O princípio republicano reclama uma sociedade civil dinâmica, participativa e ativa (voto popular, direito de petição, ajuizamento de ações populares, plebiscitos, referendos etc). 13. As garantias previstas na Convenção Americana de Direitos Humanos devem ser observadas nos processos de impeachment. CorteIDH, Caso Tribunal Constitucional vs Peru e STF, ADPF 378, Voto do Rel. Min. Fachin 14. "É inviável o afastamento da qualificadora do feminicídio mediante a análise de aspectos subjetivos da motivação do crime, dada a natureza objetiva da referida qualificadora, ligada à condição de sexo feminino" STJ, REsp 1739704/RS, j. 18/09/2018. 15. No âmbito do Direito das Mulheres, a prática denominada “manterrupting” consiste em interromper constantemente a fala da mulher, impedindo que ela conclua seu raciocínio e afetando a autoestima da mesma. 16. No âmbito do Direito das Mulheres, o “mansplaning” consiste na situação na qual o homem agressor explica aquilo que é óbvio à mulher, tratando-a como uma incapaz. Esta situação pode ser verificada em ambientes nos quais há uma certa exposição dos interlocutores (leia-se: plateia) 17. No âmbito do Direito das Mulheres, a prática do “bropriating” pode ser compreendida como a apropriação pelo homem de ideias que pertencem à mulher, levando o crédito e os louros pela ideia implementada. Geralmente ocorre nos ambientes de trabalho ou em bancos acadêmicos. 18. No âmbito do Direito das Mulheres, o termo “gaslighting” refere-se à violência psicológica que diminui a autoestima da mulher, fazendo com que a própria mulher e os demais que a cercam passem a imaginar que a mesma se encontra louca ou desequilibrada. 19. A proibição de propaganda eleitoral em bens públicos não pode ser utilizada como impeditivo para exercício de manifestações de pensamento e de expressão com temáticas eleitorais nas universidades públicas. STF, ADI 548, j. 15.05.2020 20. O delito de racismo praticado contra judeus em rede social deve ser processado e julgado na Justiça Federal. STJ, 163420, j. 20/05/2020. Lembrando que os tribunais superiores adotam o conceito de “racismo social” desde o caso Ellwanger (STF, HC 82.424/RS). 21. As candidaturas avulsas por si só não violam o arcabouço normativo do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Por outro lado, também não viola o DIDH a vedação dessas candidaturas independentes. Corte IDH, Caso Castañeda Gutman vs México (2013). No âmbito do Supremo Tribunal Federal, a constitucionalidade da candidatura avulsa está pendente de julgamento (RE 1.238.853/DF, Rel. Min. Luís Roberto Barroso). 22. Vamos falar um pouco sobre DEMOCRACIA ILIBERAL, VAZIA ou de BAIXA INTENSIDADE? A democracia iliberal também chamada de parcial, de baixa intensidade, vazia ou guiada é uma ideia de Fareed Zakaria e pode ser compreendida como o sistema de governo no qual, em que pese sejam realizadas eleições democráticas, a população é afastada de exercer o controle/accountability sobre as atividades dos governantes, em virtude da prática de atos de violação de liberdades civis e direitos fundamentais/humanos dos cidadãos por parte do Estado, não sendo, portanto, uma sociedade aberta e democrática. Aprofundando, o Estado Iliberal ou de baixa intensidade se caracteriza a partir de uma situação onde governos eleitos ou referendados legitimamente costumam ignorar os limites constitucionais e privar a população que o eleitor ou aceitou de seus direitos fundamentais. A maior parte dos Estados iliberais se situam em algum ponto do espectro entre as ditaduras reconhecidas e das democracias consolidadas. O povo possui maior proteção às liberdades políticas menor proteção às liberdades civis. Ainda, o Poder Judiciário é enfraquecido nas democracias de baixa intensidade. A mídia e a sociedade civil são vulneráveis e sofrem ataques a todo momento. Por fim, a desigualdade entre grupos vulneráveis e sociedade majoritária aumenta paulatinamente. Assim, o país regido pelo sistema iliberal ou de baixa intensidade não é considerado “democrático” e tampouco “não democrático” formalmente falando. No entanto, materialmente, flerta com regimes autoritários e ditatoriais. O sistema de democracia iliberal foi lembrado expressamente pelo Ministro Luís Roberto Barroso em sua decisão na ADPF 622 que tratou da análise da constitucionalidade do Decreto do Chefe do Executivo Federal que reduziu o número de assentos do CONANDA, ocasionando a diminuição do controle e participação popular no Conselho Nacional da Criança e Adolescente. A medida cautelar foi concedida e quórum de representantes da população foi mantido, combatendo, assim, qualquer ideia de Estado iliberal na ocasião. 23. A inviolabilidade de crença e cultos religiosos deve ser compreendida e realizada em sua dupla acepção: a) proteger o indivíduo e as diversas confissões religiosas de qualquer intervenção estatal; b) assegurar a laicidade do Estado. STF, ADI 4439, j. 27/09/2017 24. A lei não pode usar expressões pejorativas e discriminatórias, poisa orientação sexual é liberdade existencial do indivíduo. Não foram recepcionadas pela CF88 as expressões “homossexual ou não” e “pederastia” que estavam alocadas no artigo 235 do CPM. STF, ADPF 291 25. As cotas de candidatos dos partidos políticos são de gênero, e não de sexo biológico. Assim, as pessoas transgêneros devem preencher o espaço da ação afirmativa de acordo com o gênero com que se identificam. TSE, Consulta 0604054- 26. As presas transexuais possuem o direito ao cumprimento de pena em presídios femininos, respeitando, assim, a identidade de gênero autopercebida STF, ADPF 527-MC DF, decisão de 27/06/2019 27. A imunidade parlamentar funciona como instrumento de combate e prevenção ao chamado efeito resfriador à liberdade de expressão (chilling effect). STF, RE 600.063/SP 28. Não há hierarquia entre Corte Interamericana de Direitos Humanos e Supremo Tribunal Federal. A Corte Interamericana de Direitos Humanos não é uma quarta instância do sistema judiciário (Caso Gomes Lund e outros vs. Brasil). 29. Vamos falar um pouco sobre PORNOGRAFIA DE VINGANÇA (REVENGE PORN) E DIREITOS DA MULHER? A pornografia de vingança (revenge porn) pode ser compreendida como o ato de expor publicamente, na internet, fotos ou vídeos íntimos de terceiros, sem o consentimento dos mesmos, ainda que estes tenham se deixado filmar ou fotografar no âmbito privado. A pornografia de vingança geralmente ocorre após o fim de um relacionamento amoroso abusivo, quando um dos envolvidos (na ampla maioria dos casos o homem) divulga cenas íntimas do outro como forma de vingança. A revenge porn possui seu efeito maximizado e ainda mais danoso quando a vítima reside em cidades pequenas com um baixo número de habitantes, já que a circulação das imagens e vídeos ocorrem de uma forma mais rápida e a exposição se torna ainda maior. Revenge porn e direito. Quais são as consequências da prática da pornografia de vingança? A Lei Maria da Penha prevê diversas formas de violência contra a mulher, dentre elas a violência moral e a psicológica. A pornografia de vingança gera esses dois tipos de violência. A violência psicológica pode ser compreendida como qualquer conduta que cause a mulher dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento, ou ainda que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação. O Brasil também é signatário de tratados internacionais de direitos humanos que protegem a mulher contra violência moral e psicológica. Exemplo: Convenção de Belém do Pará. Até o ano de 2018 a pornografia de vingança era punida com mais facilidade no âmbito cível, mediante a fixação de indenização por danos morais para as mulheres vítimas. A partir do advento da Lei 13.718/2018, a revenge porn passou a ser crime no Brasil nos termos do artigo 218-C, parágrafo 1o, com pena de 1 a 5 anos de reclusão, mais um aumento de 1/3 a 2/3. A prática da pornografia de vingança é portanto crime no Brasil desde 2018 e também gera o pagamento de indenização por danos morais no âmbito cível. Por fim, alerto que a prática da pornografia de vingança também pode caracterizar o delito de extorsão caso o agressor esteja chantageando a vítima exigindo para si ou para outrem uma vantagem econômica ou que a vítima faça ou deixe de fazer algo para que as fotos ou vídeos não sejam disponibilizadas ao público. O delito de extorsão possui uma pena de 04 a 10 anos de reclusão. 30. Vamos falar um pouco sobre IMPERIALISMO DOS DIREITOS HUMANOS? O tema imperialismo dos direitos humanos foi desenvolvido por Eric Hobsbawn e consiste na situação em que os direitos humanos são utilizado como uma falsa premissa para justificar intervenções externas (geralmente militares) imperialistas em determinados países. O imperialismo dos direitos humanos é uma forma, portanto, de violação de direitos humanos dos indivíduos de determinado país que é invadido a partir de um falso discurso de proteção de direitos humanos. Geralmente ocorre por países da Europa ou pelos EUA. Assim, através de uma falsa premissa de proteção de direitos humanos, mitiga- se o princípio da não intervenção de um país em outro em nome da “proteção” dos nacionais do Estado invadido. No entanto, o discurso é puramente teórico, já que, na prática, essas intervenções possuem objeto diverso da proteção de direitos humanos. Trata-se de uma forma de imperialismo que possui como objetivo principal a implementação de um regime econômico (ou controlar a economia) nos mais variados países. Hobsbawn cita como exemplo a intervenção dos EUA no Iraque sob o argumento de que haveriam armas nucleares no referido país, mas o real propósito da intervenção estaria ligado a motivações econômicas. Para Hobsbawn, do ponto de vista político, a tendência do imperialismo dos direitos humanos é tanto atual quanto perigosa, pois esconde uma questão imperial de determinado país por trás de intenções pacifistas e garantidoras de dignidade. Hobsbawn defende que, a priori, as transformações sociais e a concretização de direitos humanos não necessitam de uma intervenção externa e que essa situação do imperialismo dos direitos humanos levaria sempre a uma relação colonial de uma Estado considerado uma potencial global em relação a um com menor força no cenário mundial. Guardem: o imperialismo dos direitos humanos utiliza um FALSO discurso de proteção de direitos humanos para legitimar intervenções externas em determinado país sob o argumento de proteção de direitos humanos dos nacionais do país invadido. 31. O Brasil foi o primeiro país a ser responsabilizado na Comissão Interamericana de Direitos Humanos por racismo. Caso Simone André Diniz (2006). 32. Vamos falar um pouco sobre DIREITOS HUMANOS DE JORNALISTAS E PROFISSIONAIS DE IMPRENSA? - Brasil é o 2o país na América Latina que mais viola direitos humanos de jornalistas. Em um país considerado “democrático” a imprensa livre é um dos seus pilares. Jornalistas e profissionais da imprensa precisam ter seus direitos humanos protegidos no desempenho de sua profissão. Segundo o STF e a Corte Interamericana de Direitos Humanos não é necessária a exigência do diploma de curso superior de jornalismo para que a pessoa exerça o papel de jornalista. Segundo os dados da ONG Internacional “Repórteres Sem Fronteiras”, O Brasil é o segundo país da América Latina com o maior número de violação de direitos humanos de jornalistas entre 2010 e 2017, ficando atrás apenas do México. Dois casos clássicos demonstram a violência em que os profissionais de imprensa estão e sempre estiveram submetidos no Brasil: Caso Vladimir Herzog, encontrado morto na sede DOPS em São Paulo, gerando inclusive uma condenação do Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos e Caso Tim Lopes, jornalista assasinado enquanto realizava matéria jornalística no Rio de Janeiro. Outros casos também são conhecidos como agressões a profissionais de imprensa que realizam a cobertura de manifestações políticas. Recentemente, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) publicou um relatório temático sobre o tema “violência contra comunicadores no Brasil” informando que 64 profissionais da imprensa foram assassinados entre 1995 e 2018. Para Comissão Interamericana de Direitos Humanos a segurança dos jornalistas é um dever do Estado que se desdobra em uma tríplice obrigação: prevenir, proteger e procurar justiça. Obrigação de prevenção à violência contra jornalistas e imprensa em geral: O Estado deve:produzir dados de qualidade, sancionar penalmente a violência contra jornalistas e trabalhadores do meio de comunicação, respeitar o direito de sigilo da fonte, notas e arquivos pessoais dos jornalistas, instruir órgãos de segurança pública sobre a liberdade de imprensa e adotar um discurso público e oficial em prol dos jornalistas e da imprensa livre em geral. Obrigação do Estado em investigar e punir autores de delitos contra jornalistas: atuar com a devida diligência e esgotar as linhas de investigação nos crimes contra o exercício jornalístico, possuir estrutura adequada para investigar e punir os delitos contra a imprensa, realizar investigações em tempo razoável, evitando atrasos injustificados, facilitar a participação das vítimas ou de suas famílias e remover os obstáculos legais à investigação e punição proporcional e efetiva dos crimes contra jornalistas. 33. Vamos falar um pouco sobre DIREITOS HUMANOS E PESSOA COM DEFICIÊNCIA? Até a internalização da Convenção do ONU sobre o Direito das Pessoas com Deficiência (2009), vigorava no Brasil o chamado “modelo médico de pessoa com deficiência (medical model) na qual a deficiência era concebida como um defeito ou enfermidade que necessitava de cura. Justamente em razão da vivência do modelo médico de pessoa com deficiência, a legislação até o ano de 2009 e a própria Constituição Federal de 1988 utilizam a expressão “pessoa portadora de deficiência” para se referir às pessoas com deficiência. Com o advento da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em 2009, operou-se uma mudança de paradigma no Direito das Pessoas com Deficiência: o Brasil deixou o modelo médico e passou a adotar o modelo social (ou de direitos humanos) de pessoa com deficiência. A deficiência passou a ser encarada como uma condição existencial, maximizando e humanizando os direitos das Pessoas com deficiência. Nesse sentido, o Estatuto da Pessoa com Deficiência (13.146/2015) já foi promulgado sob a influência do modelo de direitos humanos e do movimento de convencionalização do direito civil (influência e releitura da legislação à luz dos tratados internacionais de direitos humanos). O Estatuto da Pessoa com Deficiência sempre utiliza a expressão “pessoa com deficiencia”. O atual Direito das Pessoas com Deficiência é regido por dois principais princípios: in dúbio pro capacitas e superior interesse da pessoa com deficiência. Ainda no âmbito da proteção internacional de direitos humanos, os únicos três tratados internacionais de direitos humanos incorporados no Brasil com o quilate normativo equivalente ao de emenda constitucional são justamente três tratados sobre o tema das Pessoas com deficiência: Convenção da ONU sobre o Direito das Pessoas com Deficiência, seu Protocolo Adicional e Tratado de Marraqueche. André de Carvalho Ramos denomina esses 3 tratados de: “arco-íris da proteção internacional dos direitos das pessoas com deficiência. No sistema interamericano de direitos humanos a primeira condenação do Estado brasileiro na CorteIDH retrata justamente em um caso envolvendo a violação de direitos humanos de uma pessoa com deficiência (Caso Damião Ximenes Lopes, 2006). Em texto publicado recentemente denominei o direito à acessibilidade livre e desembaraçada como um “metadireito” dentro do catálogo de Direito das Pessoas com Deficiência, já que se trata de um direito pressuposto para o exercício de outros direitos pela pessoa com deficiência. É a partir do direito à acessibilidade livre e desembaraçada que a pessoa com deficiência consegue exercer seu direito de voto, de frequentar escolas e universidades, buscar tratamento de saúde etc. É a consagração do “direito a ter direitos”. Para encerrar, uma reflexão: qual o impacto da pandemia do covid19 na comunicação e liberdade de expressão das pessoas com deficiência que utilizam a linguagem brasileira de sinais? Embora parte da comunicação ocorrer por sinais emanados dos braços, o uso de máscaras impede a visualização da expressão facial das pessoas (o que também é muito importante em LIBRAS). É claro que o uso de máscara é adequado e necessário para este momento, mas fica a reflexão. 34. Vale lembrar que a “extrema pobreza” é uma das características do conceito de pessoa em situação de rua (Decreto 7.053/2009) Em grego, a palavra á-poros significa “sem recursos”, portanto, o termo aporofobia significa “rejeição ou aversão aos pobres”. A expressão “aporofobia” foi cunhada por Adela Cortina (Universidade de Valência/ESP) e retrata o medo/aversão de pessoas pobres ou em situação de rua. A aporofobia está constantemente ligada a políticas higienistas praticadas por governantes contra as pessoas em situação de rua. 35. O sequestro de uma criança recém nascida e a negação da sua identidade original consiste em uma forma peculiar de desaparecimento forçado, ensejando a violação do direito humano à identidade. Corte IDH, Caso Gelman vs Uruguai 36. Ao ser condenado no caso Gomes Lund e outros vs. Brasil, a Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou ao Estado brasileiro uma ordem de tipificação do delito de desaparecimento forçado no ordenamento jurídico interno. Este ponto da sentença ainda não foi cumprido. 37. É possível a análise do requisito da dupla tipicidade para fins de extradição, em caso envolvendo o crime de desaparecimento forçado no estrangeiro, com base no delito de sequestro previsto no artigo 148 do Código Penal brasileiro. STF, EXT 974, j. 06/08/2009 38. Não é adequada a utilização da expressão “morador de rua”, comumente utilizada por veículos de imprensa. A situação de rua é uma condição transitória segundo a Política Nacional das Pessoas em Situação de Rua (Decreto 7.053/2009) o correto é “Pessoa em situação de rua”. 39. Não é possível a impetração de mandado de segurança para questionar determinada demarcação de terras indígenas, tendo em vista a necessidade de dilação probatória para aferir a questão. STF, MS 24.531 40. A destruição de acessões feitas em terras indígenas pode configurar dano qualificado, tendo em vista que as terras indígenas são bens da União (art. 20, inciso XI, da CF88) STF, Inq 3670 41. Vamos falar um pouco sobre RACISMO E DIREITOS HUMANOS? A Constituição Federal de 1988 aborda o tema duas vezes em seu texto. O repúdio ao racismo é um dos princípios reitores do Brasil nas suas relações internacionais (art. 4o, VIII, da Constituição Federal de 1988) A Constituição Federal de 1988 prevê em seu artigo 5o, inciso XLII um mandamento constitucional de criminalização “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão nos termos da lei”. A ordem constitucional foi cumprida a partir da tipificação do crime de racismo no artigo 20 da Lei 7.716/1989 (popularmente chamada de Lei CAÓ): “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia ou procedência nacional”. No âmbito infraconstitucional, as principais leis sobre o tema no Brasil são: Lei 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade Racial) e a Lei 10.639/2003 (Sistema Nacional de Proteção a Igualdade Racial - SINAPIR) No âmbito da proteção internacional de Direitos Humanos: Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e Declaração de Durban. O Estatuto da Igualdade Racial prevê o conceito de discriminação racial ou étnico Racial: “toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em cor, raça, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada”. Voltando ao delito de racismo, ao julgar o caso Ellwanger, o SupremoTribunal Federal entendeu que o racismo não se caracteriza por uma discriminação baseada em critérios essencialmente biológicos. Segundo o STF: “Com a definição e o mapeamento do genoma humano cientificamente não existem distinções entre homens, seja pela segmentação da pele, pelo formato dos olhos, altura, pêlos ou por quaisquer outras características físicas, visto que todos se qualificam como espécie humana. Não há diferenças biológicas entre os seres humanos. Na essência são todos iguais”. (STF, HC 82.424/RS). A partir deste momento o STF passou a utilizar o conceito de “racismo social” compreendendo o racismo como uma questão histórica e sociológica de discriminação praticada pela maioria contra grupos vulneráveis. Foi com base nesse conceito de racismo social que o STF enquadrou a homofobia e transfobia dentro do artigo 20 da Lei CAÓ (STF, ADO 26 e MI 4733). Além disso, reconheceu a existência do chamado racismo religioso no plano teórico ao analisar o caso Jonas Abib (STF, RHC 134.682/BA) além de ter reconhecido os judeus como vítimas de racismo no caso Ellwanger (STF, HC 82.424). Portanto, o STF adota uma leitura social do artigo 20 da Lei 7.716/1989. Superada essa questão, vamos abordar mais alguns temas envolvendo a temática do racismo. O primeiro deles é o chamado racismo ambiental, que pode ser compreendido como “os atos e políticas públicas que prejudicam povos e comunidades tradicionais. Ações que promovem a destruição do meio ambiente e o desrespeito à cidadania afetando diretamente grupos vulneráveis. O racismo ambiental se manifesta na prática de ações que beneficiam grupos econômicos e atuam na lógica de economia vigente. RACISMO INSTITUCIONAL: “conjunto de normas, práticas e comportamentos discriminatórios e cotidianos adotados por organizações públicas ou privadas que, movidos por estereótipos e preconceitos, impõe a membros de grupos raciais ou étnico discriminados uma situação desvantagem no acesso a benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e organizações” (André de Carvalho Ramos). Percebam que racismo institucional pode ocorrer em instituições públicas ou privadas. Exemplos de RI: Sub-representação de grupos raciais nos meios de comunicação de massa e barreiras raciais para empregos e promoções no mercado de trabalho. O Brasil foi responsabilizado na Comissão Interamericana de Direitos Humanos por racismo institucional (Caso Simone André Diniz). Por fim, vamos falar um pouco sobre FILTRAGEM RACIAL e PERFILHAMENTO RACIAL. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o fenômeno da filtragem racial pode ser compreendido como uma forma de racismo na qual uma determinada pessoa é “escolhida” como suspeita pelas autoridades estatais simplesmente por causa de sua cor. Já o perfilhamento racial é um fenômeno mais amplo, e pode ser compreendido o ato de suspeitar ou visar uma pessoa de determinada raça ou grupo vulnerável com base em comportamentos assumidos pelo grupo a qual pertence, ao invés de eventual suspeita ser baseada em uma questão individual. O perfilhamento racial não se limita à raça de um indivíduo e também pode ser baseado na etnia, religião ou nacionalidade. Nos EUA é chamado de perfilhamento étnico. Um exemplo de perfilhamento racial (ou étnico) para a doutrina é a aplicação da lei de forma mais severa em níveis locais, estadual e federal nos EUA levando em consideração a origem da pessoa (latinos, africanos, árabes, muçulmanos etc). (...) 42. O cacique de determinada comunidade indígena não possui legitimidade para o ajuizamento de mandado de segurança coletivo em nome da comunidade. STJ, AgRg no MS 13248 43. A disputa por área ocupada por quilombolas é de competência da Justiça Federal (STJ, CC 129.229) 44. A “função dikelógica“ dos recursos especiais e extraordinários está relacionada a persecução da justiça no caso concreto por meio da adequada aplicação do direito. 45. O critério da autoatribuiçao/autorreconhecimento previsto no artigo 2o do Decreto 4.883/2003 (Estatuto dos Quilombolas) para definir quem deve ser considerado membro de uma comunidade quilombola é constitucional. STF, ADI 3239/DF, j. 08/02/2018 46. Aplica-se o princípio da kompetenz-kompetenz no sistema interamericano de direitos humanos (CorteIDH, Caso Garibaldi e outros vs. Brasil). 47. A norma constitucional que confere aos maiores de sessenta e cinco anos a gratuidade dos transportes coletivos urbanos (art. 230, p. 2o, da Constituição Federal de 1988) é de eficácia plena e aplicabilidade imediata. STF, ADI 3768, j. 19/09/2007 48. Vamos falar um pouco sobre HIPERPRESIDENCIALISMO? O tema do hiperpresidencialismo é pouco desenvolvido pela doutrina brasileira e muito debatido na literatura estrangeira. O hiperpresidencialismo pode ser compreendido como um sistema de governo no qual determinado Estado é regido formalmente por um sistema presidencialista mas com algumas peculiaridades que destoam do presidencialismo clássico para um regime antidemocrático. Esse fenômeno pós-moderno se alastrou pela América Latina e atingiu algumas partes do mundo, como a Rússia e a Turquia. O hiperpresidencialismo possui quatro principais características: a) A concentração do poder do Estado em lideranças personificadas: a liderança exercida pelo Presidente da República é excessivamente personificada, o que não é saudável para o regime democrático uma vez que o indivíduo que ocupa a cadeira presidencial em uma situação de normalidade democrática está apenas de passagem pela presidência da república. Exemplos: Chavez e Maduro na Venezuela, Putin na Rússia e Erdogan na Turquia; b) concentração de poder no Executivo: no hiperpresidencialismo o Presidente da República intervém de forma indevida nas instituições públicas. A autonomia dos funcionários e servidores públicos nomeados para as instituições públicas é meramente de fachada; c) a ameaça constante ao regime democrático: outra característica do hiperpresidencialismo é a colocação do regime democrático em cheque a todo momento pelo Presidente da República. Os regimes hiperpresidencialistas costumam ter uma duração excessiva e longa o que acaba desgastando a figura do Chefe do Executivo perante a população e colocando em questão a existência da democracia, uma vez que um dos pilares da democracia é justamente a alternância de poder. A partir deste momento, o país se torna uma “panela de pressão” e existem frequentes conflitos entre a população e Estado, que frequentemente se vale do uso da força para conter os manifestantes. Ex: Venezuela, Rússia, Turquia etc; d) o controle das demais instituições pelo Presidente da República: esta talvez seja a característica mais fácil de ser visualizada. No hiperpresidencialismo o Poder Executivo possui o controle das demais instituições e até mesmo de outros poderes, que existem apenas de forma decorativa. Neste caso ocorrem alterações na composição de tribunais superiores, prisão de parlamentares, de oposição etc. 49. Vamos falar um pouco sobre VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E DIREITOS DAS MULHERES? A violência obstétrica é uma situação que envolve os direitos humanos sexuais e reprodutivos das mulheres. Primeiramente, é importante ressaltar que a doutrina elenca duas dimensões dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, são elas: (a) dimensão positiva, que retrata a autonomia das mulheres que são titulares dos referidos direitos sexuais e reprodutivos; (b) dimensão negativa, que dispõe acerca de vedações de violência e discriminação com base na sexualidade e no gênero A violência obstétrica pode ser caracterizada como a apropriação do corpo e processos reprodutivos das mulheres pelos profissionais de saúde, por meio do tratamento desumanizado, abuso da medicação e pagologizaçao de processos naturais, causando a perda da autonomia e capacidade de decidir livrementesobre seu corpo e sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres. O fenômeno da violência obstétrica pode ocorrer durante três momentos distintos, quais sejam, na gestação, no momento do parto ou em situações na qual a gestante está em vias de perder seu bebê. São exemplos de violência obstétrica durante a gestação: negligenciar o atendimento de qualidade, ofender, humilhar ou xingar a mulher e sua familia, negar atendimento à mulher ou impor dificuldade ao atendimento e ainda aguardar cesárea sem recomendação baseada em evidências científicas atendendo aos interesses e conveniências do médico. São exemplos de violência obstétrica no momento do parto: recusa da admissão em hospital ou maternidade (tbm chamada de peregrinação por leito), impedimento da entrada do acompanhante escolhido pela mulher, cesariana sem indicação clínica e sem o consentimento da mulher e ainda impedir ou dificultar o aleitamento materno (impedindo amamentação na primeira hora de vida, afastando o recém nascido de sua mãe, deixando-o em berçários). Por fim, são exemplos de violência obstétrica em situações em que a mulher está em vias de perder o bebê: negativa ou demora no atendimento à mulher em tal circunstância, questionamento à mulher quanto a causa da situação, coação com a finalidade de confissão e denúncia à polícia da mulher pela suposta prática de um delito não existente na referida situação ou ainda ameaças, acusações e culpabilização da mulher em um momento de fragilidade. O Brasil já foi condenado no Sistema Global de Direitos Humanos (Sistema ONU) no Comitê para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (Comitê CEDAW) pela pratica de violência obstétrica. Trata-se do caso Aline Pimentel, uma mulher negra que estava no sexto mês de gestação e buscou assistência na rede pública de Belford Roxo, no RJ. Após sucessivos atos de violência obstétrica por parte do Estado Alyne Pimentel faleceu em decorrência de hemorragia digestiva do parto do feto morto (Alyne foi forçada a esperar horas para a realização da cirurgia de retirada dos restos mortais do feto de sua placenta. Isso tudo após ter sido, em um primeiro momento, liberada para voltar para sua casa pois as suas dores abdominais “não eram nada”). Em maio de 2019, o Ministério da Saúde realizou advertiu que realizaria a retirada do termo “violência obstétrica” de seus atos normativos por ser supostamente inadequado (embora seja utilizado globalmente). Posteriormente, o Ministério da Saúde voltou atrás e passou a reconhecer o uso do termo violência obstétrica, reconhecendo ainda a legitimidade das mulheres para a utilização do referido termo. Isso ocorreu após uma recomendação do MPF aduzindo a legitimidade e importância do reconhecimento do termo e da educação em direitos acerca do tema. 50. É possível a aplicação da teoria da encampação no bojo do habeas data. STJ, HD 147 51. OS ANIMAIS PODEM SER CONSIDERADOS TITULARES DE DIREITOS NO BRASIL? Não há no Brasil uma lei ou um dispositivo constitucional que diga de forma expressa e categórica que animais são titulares de direitos fundamentais. A titularidade de direitos fundamentais foi pensada a partir do paradigma do antropocentrismo. No entanto, o tema comporta reflexões aprofundadas. Ordinariamente, a legislação brasileira reconhece os animais como bens semoventes, evidenciando a questão antropocentrista ou ao menos refutando em certa medida a possibilidade de animais serem titulares de direitos em nosso país. Todavia, uma corrente da doutrina capitaneada por Peter Singer é chamada de doutrina da ecologia profunda “deep ecology” encara as questões ambientais a partir de outro ponto de partida, e admite os animais como titulares de direitos. Em Portugal, desde 2017 o país deixou de reconhecer os animais como coisas e passaram a categorizá-los como “seres vivos dotados de sensibilidade”. (Lei 08/2017 de Portugal). No Brasil, sem duvidas a principal norma protetora dos animais é o artigo 225, p. 1o, da CF1988 que veda a prática de crueldade e maus tratos contra animais. Segundo o STF, trata-se de uma norma de aplicabilidade imediata (STF, ADI 1856). A partir desta norma constitucional a Corte Constitucional Brasileira desenvolveu uma jurisprudência “pro animais”. O primeiro caso decidido favoravelmente aos animais e meio ambiente foi o caso da Farra do Boi em Santa Catarina. Tal prática cultural foi considerada inconstitucional por violar a norma constitucional supracitada e o STF deu seu primeiro passo significativo em matéria de ética animal. Os animais, contudo, não foram reconhecidos como “sujeitos de direitos”, mas como objetos a serem protegidos pela CF a partir da vedação de maus tratos e crueldade (STF, RE 153.531/SC). O mesmo ocorreu em relação as chamadas “brigas de galo” prática também reconhecida como inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal pela vedação de maus tratos e crueldade aos animais prevista na Constituição Federal de 1988 (STF, ADI 2514/SC). O STF adotou o mesmo entendimento no famoso caso em que foi analisada a prática cultural da vaquejada (STF, ADI 4983/CE). Posteriormente ao julgado do STF, o Congresso Nacional aprovou uma Emenda Constitucional reconhecendo a vaquejada como prática cultural. Trata-se da EC 97/2017. No entanto, em março de 2019, o STF reconheceu a constitucionalidade de lei que permite o sacrifício de animais em cultos religiosos de matriz africana, desde que sejam observadas algumas condições como a utilização de técnicas indolores que não causem sofrimento aos animais. No entanto, foi no Superior Tribunal de Justiça que a jurisprudência brasileira obteve o seu maior avanço em matéria de reconhecimento dos animais como sujeitos de direitos. Ao julgar o REsp 1.797.175/SP, o STJ reconheceu a existência da DIMENSÃO ECOLÓGICA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. Essa faceta do princípio da dignidade da pessoa humana reconhece a existência de um Estado Socioambiental de Direito no Brasil no qual abusos pelo bem estar ambiental e a proteção do meio ambiente é sempre um objetivo a ser buscado pelo Estado (constitucionalismo ecológico). A partir daí, o STJ, ao analisar as mudanças de habitat de um papagaio doméstico entendeu que a questão “viola a dimensão ecológica da dignidade humana, pois as múltiplas mudanças do ambiente perpetuam o estresse animal, pondo em dúvida a viabilidade de readaptação a um novo ambiente”. Vejamos que o STJ deu até o momento o maior passo para reconhecer os animais como “sujeitos “especiais de direito”. Ainda no âmbito do STJ, o tribunal da cidadania reconheceu o direito de visita a animal de estimação após a separação do casal (seus donos) embora neste caso, não tenha mencionado a dimensão ecológica da dignidade humana. É possível dizer que o tema vem evoluindo no Brasil no âmbito do STJ e os animais já estão começando a ganhar traços de sujeitos de direito, a partir do reconhecimento da dimensão ecológica da dignidade. 52. Vamos falar um pouco sobre TEORIA DA DEMOCRACIA MILITANTE? Pouco estudado no Brasil, o conceito de “democracia militante” surgiu a partir de um artigo de Karl Lowenstein em 1937, pouco após a ascensão do Partido Nazista na Alemanha. No Brasil, o tema é desenvolvido por Daniel Sarmento (UERJ). Para Lowenstein, a democracia deve ser capaz de resistir àqueles políticos que, como Adolf Hitler, utilizam-se de instrumentos democráticos para assegurar o triunfo de projetos totalitários ou autoritários de poder. A essa ideia Lowenstein deu o nome de democracia militante (cit. Daniel Sarmento). Segundo Sarmento, diversos ordenamentos jurídicos acolhem a ideia de democracia militante: Alemanha, Espanha, Portugal, Costa Rica, Lituânia, Romênia, Israel etc. Para Sarmento, a Constituição Federal 1988 também contempla a ideia de democracia militante em seu artigo17, caput, da Constituição Federal de 1988. O artigo 17, caput, da CF88 determina que “é livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana. Assim, Sarmento entende que “se a Carta Maior determina que a criação de partidos políticos deve observar valores cruciais, como a democracia e o respeito aos direitos fundamentais, ela proíbe, a contrário sensu, a existência de partidos que rejeitam esses valores. Sarmento explica que “a ideia central que permeia o conceito de democracia militante é bastante similar ao raciocínio sobre o qual se funda o hate speech” e continua: “em praticamente todos os ordenamentos jurídicos de países democráticos, entende-se que as manifestações de ódio, desprezo ou intolerância contra minorias e grupos vulneráveis, motivadas por preconceitos ligados a fatores como etnia, religião, gênero, nacionalidade, deficiência e orientação sexual não devem ser constitucionalmente protegidas”. A premissa é a de que esse tipo de discurso, além de não contribuir para o debate social, viola gravemente os direitos fundamentais de indivíduos e grupos vulneráveis. Dessa forma, é necessário que se restrinja a liberdade de expressão para resguardar direitos constitucionais das vítimas, como dignidade humana e igualdade”. Esse entendimento foi adotado pelo STF no julgamento do caso Ellwanger (HC 82.424) que reconheceu manifestações antissemitas, mesmo sob a forma de livros publicamos, como crime de racismo. Recentemente, o STF também utilizou o ethos da democracia militante para reconhecer a discriminação por motivo de orientação sexual (homofobia e transfobia) também como crime de racismo (MI 4733 e ADO 26). Nesse sentido, a partir das ideias de Lowenstein, Sarmento explica que: “como a tutela da liberdade de expressão não se estende a manifestações de ódio contra minorias, sustenta a teoria da democracia militante que os direitos políticos poderiam ser restringidos para evitar a ascensão ao poder de pessoas e partidos profundamente autoritários, que comprometam a sobrevivência da própria democracia”. Por outro lado, o professor da UERJ reconhece que a ideia da democracia militante não é isenta de críticas ligadas à segurança jurídica e à possibilidade de tirania judicial. No entanto, admite o amparo da ideia de democracia militante na Constituição Federal de 1988, já que, uma interpretação teleológica do artigo 17, caput, da CF88 poderia lastrear a exegese de que candidatos simbolizem a exata antítese da democracia e assim impossibilitá-los de concorrer a qualquer pleito eleitoral. Sarmento conclui com a seguinte frase: “A democracia não é uma missão suicida”. Em síntese, a teoria da democracia militante propõe que se impeçam candidaturas eleitorais contrárias aos valores considerados o núcleo duro da Constituição Federal de 1988: respeito aos direitos fundamentais e ao princípio da dignidade da pessoa humana. 53. “A União também tem competência para a decretação das mesmas medidas de restrição de locomoção durante a pandemia do novo coronavírus, no âmbito de suas atribuições, quando houver interesse nacional”. STF, ADI 6343, j, 06/05/2020 54. “A adoção de medidas restritivas relativas à locomoção e ao transporte, por qualquer dos entes federativos, deve estar embasada em recomendação técnica fundamentada de órgãos da vigilância sanitária e tem de preservar o transporte de produtos e serviços essenciais” STF, ADI 6343 55. “Estados e municípios, no âmbito de suas competências e em seu território, podem adotar medidas de restrição à locomoção intermunicipal e local durante o estado de emergência decorrente da pandemia do novo coronavírus, sem a necessidade de autorização da União”. STF, ADI 636 56. Não é cabível o manejo de ação direta de inconstitucionalidade (ADI) para questionar procedimento de demarcação de terras indígenas. STF, ADI 977 57. Os tratados internacionais aprovados no âmbito do MERCOSUL não possuem aplicabilidade imediata no ordenamento interno brasileiro e precisam passar pelo rito dos tratados internacionais previstos na Constituição Federal de 1988. STF, ADI 1480 58. No Direito Internacional dos Direitos Humanos a doutrina desenvolveu a figura da “discriminacion por edad” que consiste justamente em discriminar ou menosprezar alguém pela condição de idoso, prática que lamentavelmente tem sido verificada no Brasil durante a pandemia do covid19. 59. “A função socializadora (ou social) da escola consiste em inserir a criança e o adolescente em um espaço público de convívio com outros menores em semelhante estágio de desenvolvimento psicossocial”. STF, RE 888815/RS, j. 12/09/2018 60. Vamos falar um pouco sobre PARADOXO DA TOLERÂNCIA e DIREITOS HUMANOS? O paradoxo da tolerância é uma referência ao pensamento abordado por Karl Popper em seu livro “A sociedade aberta e seus inimigos” no qual apresenta a https://pbs.twimg.com/media/EYuEjRmXQAEsOMM.jpg ideia de que, no ambiente social, a tolerância ilimitada leva, paradoxalmente, ao desaparecimento da tolerância. Segundo Popper: “Tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos ilimitada tolerância mesmo aos intolerantes, se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância, com eles”. O tema do paradoxo da tolerância está intimamente ligado ao direito tendo em vista o avanço de discursos de ódio e a um agravamento de atos de intolerância contra minorias e grupos vulneráveis, inclusive com o retorno de simbologias associadas direta ou indiretamente ao nazismo ou a outros regimes antidemocráticos. O tema pode ser facilmente visualizado a partir da questão envolvendo o discurso de ódio (hate speech) que já foi inclusive objeto de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal no HC 82.424/RS (Caso Ellwanger) no qual a Corte Constitucional Brasileira reconheceu a impossibilidade de se tolerar ofensas antissemitas proferidas pelo Sr. Ellwanger em seu livro, caracterizando a referida conduta como crime de racismo (art. 20 da Lei 7.716/89). Na mesma linha o STF reconheceu a homofobia e transfobia como crime de racismo (STF, MI 4733 e ADO 26) não tolerando discursos de ódio por motivo de discriminação por orientação sexual. Ao analisar a constitucionalidade do homeschooling (ensino domiciliar) no Brasil (STF, RE 888815/RS) o Ministro Luiz Fux lembrou que: “A tolerância não pode ser evocada para fundamentar qualquer tolerância, sob pena de se legitimar, sob tal argumento, até uma postura de absoluta intolerância. É o fenômeno tautológico que se intitulou de paradoxo da tolerância”. Percebam que o “paradoxo da tolerância” tem sido utilizado como vetor pelo Supremo Tribunal Federal para decidir temas envolvendo minorias e grupos vulneráveis. Em síntese: a partir do paradoxo da tolerância de Karl Popper propõe que discursos de ódio e ideias antitolerantes de maneira geral sejam fortemente combatidas, sob pena da própria sociedade ser “tolerante” com o “intolerável” e passar a normalizar ainda que de maneira tácita tais comportamentos no cotidiano, ocasionando o desaparecimento da tolerância e a consolidação de uma sociedade intolerância e movida por ódio, exclusão e discriminação. 61. Vamos falar sobre EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS? O tema “educação em direitos humanos” é abstrato, então optei por transcrever um espelho de prova que resumiu de forma formidável a ideia de educação em direitos humanos. Vamos lá! A mobilização global para a educação em direitos humanos está imbricara no conceito de educação para uma cultura democrática, na compreensão dos contextos nacional e internacional, nos valores da tolerância e solidariedade, da justiçasocial e na sustentabilidade na inclusão e na pluralidade. Ainda há muito para ser conquistado em termos de respeito à dignidade da pessoa humana, sem distinção de raça, nacionalidade, etnia, gênero, classe social, região, cultura, religião, orientação sexual, identidade de gênero, geração e deficiência. Da mesma forma, há muito a ser feito para se efetivar o direito à qualidade de vida, à saúde, à educação, à moradia, ao lazer, ao meio ambiente saudável, ao saneamento básico, à segurança pública, ao trabalho e às diversidades cultural e religiosa entre outras. Uma concepção contemporânea de direitos humanos incorpora os conceitos de cidadania democrática, cidadania ativa e cidadania planetária, por sua vez inspiradas em valores humanistas e embasadas nos princípios da liberdade, da igualdade, da equidade e da diversidade, afirmando sua universalidade, indivisibilidade e interdependência. O processo da concepção de uma cidadania planetária e do exercício da cidadania ativa requer, necessariamente, a formação de cidadãos(ãs) conscientes de seus direitos e deveres protagonistas da materialidade das normas e pactos que os(as) protegem, reconhecendo o princípio normativo da dignidade da pessoa humana, englobando a solidariedade internacional e o compromisso com outros povos e nações. Além disso, propõe a formatação de cada cidadão(ã) como sujeitos de direitos, capaz de exercitar o controle democrático das ações de Estado. Assim, a educação em direitos humanos está imbricada no conceito de educação para uma cultura democrática, na compreensão dos contextos nacional e internacional nos valores da tolerância, da solidariedade, da justiça social e na sustentabilidade, na inclusão e na pluralidade. Considero cada vez mais importante falarmos sobre o tema “educação em direitos humanos”. 62. Vamos falar sobre CONSTITUCIONALISMO WHIG? O Constitucionalismo Whig (ou termidoriano) é tratado no Brasil por José Adércio Sampaio (MPF/MG) então a thread será um resumo das ideias deste autor. O constitucionalismo whig retrata a mudança de regime politico- constitucional lento e evolutivo, mais que revolucionário e radical. É o mote das transições constitucionais dos dias atuais (Cf. José Adercio Sampaio). No constitucionalismo whig essa mudança ocorre sem o derramamento de sangue, uma vez que os regimes vão se “encorpando” gradualmente dentro de regimes caducos ou de baixa intensidade. Esse constitucionalismo evolutivo que ocorre dentro de um regime de baixa intensidade é visto, por vezes, como um modelo de ideologia conservadora de mudanças sociais, seja por inspiração inglesa (whig) seja por inspiração francesa (termidorianismo). Para José Adércio todo constitucionalismo transporta um ingrediente do Termidor, afinal, no âmbito da história, a reação termidoriana é a fase de algumas revoluções em que o poder passa das mãos da liderança revolucionária e de um regime radical para grupos mais conservadores que adotam uma linha política que se distância das propostas originais, atingindo as vezes retrocessos históricos é pré-revolucionários. A expressão “termidoriana” possui origem na Revolução Francesa. Por fim, o autor conclui que com o constitucionalismo whig ou termidoriano as revoluções inicialmente com um propósito X acabam se tornando conservadoras, atingindo um propósito Y, afinal, quando a ruptura com o regime anterior se consuma os líderes do movimento tendem a institucionalizar o que consideram conquistas do povo por meio de uma Constituição, sendo a rigidez constitucional então um aspecto que “termidoriza” (nas palavras do autor) a própria concepção de revolução. Trata-se de um movimento que no fim das contas gera a perda dos ideais da revolução constitucional e torna a mesma incompleta. O autor conclui com uma passagem muito importante: “frequentemente pensamos na Constituição como instrumento de transformação social. Deixamos de notar que ela também é o meio reacionário ou, pelo menos, estabilizador das rupturas institucionais. Para o bem ou para o mal. 63. Vamos falar um pouco sobre SUPERPRECEDENTES, MINIPRECEDENTES e DIREITOS HUMANOS? Quem aborda o tema no Brasil é Bernardo Gonçalves e Siddharta Legale. Os super precedentes são precedentes que possuem a sua superação (overruling) dificultada em razão de sua vinculação jurídica e cultural, consubstanciada pelas redes sociais que sustentam seus argumentos (Bernardo Gonçalves). Os superprecedentes se aproximam do que Cass Sunstein chama de “metadecisões”, já que orientam decisões futuras e retiram substancialmente o ônus argumentativo de instâncias superiores. Em virtude do seu caráter amplo, os superprecedentes dão ensejo, por vezes, a uma verdadeira “reforma constitucional de fato”. Vejamos as características dos superprecedentes de acordo com os autores citados início da thread. a) Amplitude e imprecisão: os superprecedentes são amplos e imprecisos, pois se assim não fossem, regulariam apenas os casos extremamente semelhantes, reduzindo seu aspecto de aplicação e impossibilitando o esforço de orientar tomadas de decisões futuras. b) Efeito pacificador de disputas políticas, morais e sociais: Os superprecedentes possuem o referido efeito, já que definem controvérsias de forma clara, evitam ou reduzem as disputas legais e se tornam objetos de deliberações sociais, pelas quais eles são atacados ou reconhecidos como válidos, o que permite que gerem uma “eficácia global e uma segurança jurídica sobre a decisão a ser tomada”. c) Vinculação jurídica e social abarcada sobre o contexto de uma Constituição Viva (living constitution): Os casos que envolvem os superprecedentes extrapolam a mera vinculação ao plano jurídico, uma vez que seus efeitos também se espalham para as relações políticas e sociais. A normatividade dos superprecedentes se instaura nos mais variados ramos da vida cotidiana (política, social e jurídica). d) Baixo grau de superação dos superprecedentes: A chance de ocorrer a superação (overruling) de um superprecedente é baixíssima, uma vez que isso ocasionaria a superação de diversas normas e interpretações consolidadas a partir do superprecedente. Dois são os exemplos claros de superprecedentes na jurisprudência do STF: reconhecimento das uniões homoafetivas como entidade familiar (ADPF 132 e ADI 4277) e constitucionalidade da Lei Maria da Penha (ADC 19). Alguém conseguiria imaginar a superação destes superprecedentes? Seria possível a partir do contexto social, político e jurídico que foi formado a partir destas decisões do STF, e da realidade posta com a conclusão de tais julgamentos, imaginar uma superação destes superprecedentes? Muito difícil. É possível perceber que em virtude das características dos “superprecedentes” eles geralmente serão firmados na seara dos direitos humanos, notadamente na proteção e concretização de direitos de minorias e grupos vulneráveis. Percebam que essa ideia de superprecedentes está umbilicalmente ligada com o que Flávia Piovesan chama de “precedente com impacto transformador” quando analisa a questão à luz do Sistema Interamericano de Direitos Humanos! Por fim, os MINIPRECEDENTES (microprecedentes) são decisões intuitivas, frágeis, estritas e fáceis de se evitar. Em síntese, são decisões fáceis de serem atingidas pelo overruling e que possuem baixa intensidade em matéria de reflexão moral ou baixo impacto transformador, se enquadrando nas decisões do cotidiano do Poder Judiciário. Para finalizar, por vezes os superprecedentes podem estar ligados a ideia de “processo estrutural” como no caso Brown vs. Board of Education of Topeka. 64. Vamos falar um pouco sobre CONSTITUCIONALISMO DO FUTURO? O constitucionalismo do futuro também é chamado de constitucionalismo do “por vir” foi idealizado por José Roberto Dromi e prega a consolidação dos direitos humanos de
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