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Projeto de Paisagismo II Raquel Weijh Espaços abertos e interligações com o entorno Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar espaços abertos e suas interligações com o entorno. Examinar aspectos que caracterizam os espaços abertos urbanos de diferentes cidades. Reconhecer a importância do conhecimento acerca do espaço aberto urbano para o paisagismo. Introdução A arquitetura enquanto ofício se insere em um contexto de aglomeração de obras de diversos profissionais, materializando o espaço privado dentro do espaço público e coletivo que é a cidade. É possível generalizar a representação do que é a cidade dizendo que ela é um grande mosaico — uma costura nem sempre harmônica — dos espaços públicos com os privados. Entretanto, ao nos aproximarmos da cidade a partir do ponto de vista do seu usuário, percebemos que ela é, na verdade, resultado das relações humanas e da experimentação dos diferentes espaços desse mosaico, públicos e privados, fechados e abertos. Neste capítulo, você compreenderá o papel do arquiteto e a respon- sabilidade social do seu ofício no tratamento dos espaços abertos. Além disso, verá como o arquiteto urbanista e o paisagista, juntos, podem criar uma cidade viva, na qual as pessoas se apropriam efetivamente dos espaços públicos. O que é um espaço público? Um espaço público é um ambiente de posse e uso comum de todos. Ele pode ser fechado, como alguns equipamentos de uso público (escolas, órgãos de administração pública, hospitais), ou aberto, como parques, praças e até mesmo ruas. Todavia, há uma classificação intermediária entre público e privado: o semipúblico. Espaços semipúblicos podem ser um local de reunião de pessoas com acesso público, mas de propriedade de uma entidade ou empresa, como no caso de igrejas, associações recreativas ou alguns tipos de empresas, como shopping centers. Quanto à conceituação do que é um espaço público, Jacobs (2011), em seu livro A vida e a morte das grandes cidades, traz as seguintes definições sobre a diferenciação entre uso público e uso privado: O primeiro, que pode ser chamado espaço público, é utilizado para a circulação pública geral de pedestres. É um espaço em que as pessoas se movimentam livremente, por livre escolha, no percurso de um lugar a outro. Ele inclui as ruas, vários dos parques menores e às vezes os saguões de prédios, quando usados livremente como área de circulação. O segundo tipo de espaço, que pode ser chamado de espaço especial, não é normalmente utilizado como via pública pelos pedestres. Pode ou não ter construções; pode ou não ser propriedade pública; pode ou não ser acessível às pessoas. Isso não importa. O que importa é que as pessoas andam em torno dele, ou ao longo dele, mas não através dele (JACOBS, 2011, p. 180). Ainda de acordo com Jacobs (2011), o “espaço especial”, conforme a sua classificação, pode ser encarado como um obstáculo que está no meio do caminho, o qual pode ser geográfico, fechado ao público ou um espaço que não gere interesse por parte dos pedestres. De qualquer modo, é uma interferência no uso do espaço público. Esse “solo especial” promove a circulação de pessoas, pois o seu uso pode abrigá-las em residências ou no trabalho, ou ser um ponto de atração urbana por outro motivo qualquer. É importante salientar que, na cidade, a principal utilidade das ruas é a circulação entre as construções, embora a partir disso possam surgir outros usos. A inter-relação entre os espaços privados e públicos é essencial para que estes últimos sejam apropriados pelos usuários, ou seja, tenham vida. Os espaços Espaços abertos e interligações com o entorno2 públicos precisam ser considerados extensões dos espaços privados, pois eles são o palco do desenvolvimento de boa parte da vida das pessoas, tanto como local de transição entre espaços privados quanto como local de permanência. Por isso, Jacobs (2011) afirma que o que produz a cidade são as relações das pessoas no e com o ambiente público. A apropriação dos espaços públicos pelas pessoas se dá a partir da relação harmônica entre estes e os objetos construídos. Logo, os arquitetos precisam considerar as relações entre construções e espaços adjacentes na hora de projetar as edificações, sempre levando em conta também as diretrizes ur- banísticas do local. Nesse sentido, Gehl, em seu livro Cidades para pessoas, é enfático: Se reforçarmos a vida na cidade de modo que mais pessoas caminhem e passem um tempo nos espaços comuns, em quase todas as situações, haverá um aumento da segurança, tanto da real quanto da percebida. A presença de “outros” indica que um lugar é considerado bom e seguro. Há “olhos nas ruas” e frequentemente, também “olhos sobre as ruas”, porque seguir e acompanhar o que acontece nas ruas acabou se tornando algo significativo e interessante para os usuários dos edifícios do entorno (GEHL, 2015, p. 99). Gehl (2015) complementa falando sobre o impacto das áreas térreas das edificações sobre a vida das pessoas e sobre o espaço urbano. Os espaços térreos estão na escala do pedestre, no nível do olho do passante; porém, os andares baixos também podem acompanhar as movimentações que ocorrem na rua. Portanto, segundo Gehl (2015), é imprescindível que os térreos sejam agradáveis e suaves, e incitem a ocupação desse espaço, de forma a cercar os pedestres por atividade humana. Ele salienta ainda que, mesmo à noite, quando esses térreos não estiverem ocupados, os sinais de que há vida nesses espaços durante o dia suscitam uma sensação de segurança no pedestre. A transição mais suave entre o privado e o público torna a cidade mais acolhedora. Nesse sentido, ruas comerciais repletas de objetos que sinalizam o seu uso durante o dia são mais confortantes do que ruas comerciais que, à noite, são fechadas por portas metálicas, visto que ruas escuras e desertas despertam a sensação de rejeição e insegurança. São espaços livres de uso público as ruas, as praças, os parques, entre outros locais que constituem variações destes. Conforme você viu anteriormente, esses espaços são, ao mesmo tempo, produto e produção das relações humanas. 3Espaços abertos e interligações com o entorno Há diversos profissionais do urbanismo desenvolvendo trabalhos em grandes metró- poles, no sentido de tornar o espaço público mais agradável ao usuário, e as cidades, mais humanas. Dois escritórios que têm desenvolvido isso com muita intensidade são os escritórios de Jan Gehl e Jeff Speck. Jan Gehl trabalha a cidade como resultado de relações humanas, e Jeff Speck desenvolveu um conceito chamado walkable city, ou “cidade caminhável”. Acesse os links a seguir (em inglês) para conferir alguns dos trabalhos que esses arquitetos estão desenvolvendo. https://qrgo.page.link/yffhc https://qrgo.page.link/RpnD1 Os espaços abertos urbanos Como você já viu, os espaços abertos dentro de uma cidade são os espaços de transição entre os objetos construídos e possuem caráter público. A fi m de compreender as características de cada espaço, vamos subdividi-los e analisar como eles aparecem nas cidades. Ruas As ruas, enquanto espaços livres de uso público, sempre tiveram como prin- cipal função promover a conexão entre diferentes pontos da cidade, ou seja, a circulação de pessoas, bens móveis e meios de transporte individuais ou coletivos. A largura desses espaços costuma ser dimensionada conforme os fl uxos previstos. Após a Revolução Industrial e com o advento dos veículos motorizados, as ruas passaram a tomar uma escala cada vez maior, fazendo com que as cidades passassem a ser projetadas para os veículos. É possível analisar essa condição em Brasília, por exemplo, onde grandes vias sem conexões com o seu entorno ligam os blocos habitacionais e de serviço (Figura 1). Isso torna a cidade, segundo Ling (2019), um dos maiores exemplos de validação do urbanismo modernista no mundo. Espaços abertose interligações com o entorno4 Figura 1. Grandes vias com trânsito de veículos intenso e pouca conexão com o entorno, em Brasília. Fonte: Governança... (2017, documento on-line). Acesse o link a seguir e compreenda um pouco mais sobre o urbanismo modernista presente na capital do país no artigo Brasília: uma cidade que não faríamos de novo, escrito por Anthony Ling. https://qrgo.page.link/ZYYtf Jane Jacobs, logo após a implantação das primeiras cidades modernistas e também a partir da análise das cidades norte-americanas, estabeleceu as primeiras críticas sobre o modelo planejado para os veículos. Segundo a autora, quem é responsável por dar vida às cidades são as pessoas, isto é, os pedestres, desvinculados dos seus veículos motorizados. É preciso, portanto, redimensionar vias e estabelecer conexões simples, que possam ser potencializadas pelos pedestres, mirando uma cidade viva. A maneira como a rua é tratada pode aumentar a circulação das pessoas por ela, proporcionando espaços de permanência e convivência, ou tornar 5Espaços abertos e interligações com o entorno a rua mais segura para os pedestres, deixando o trânsito de veículos auto- motores mais lento ou controlado. Conclui-se, assim, que as ruas, mais do que conectar os espaços e permitir o trânsito de veículos, são o palco para grandes interações sociais dentro das cidades. Veja no projeto proposto pelo escritório nórdico Snøhetta para a revitaliza- ção da Times Square, em Nova York, um exemplo de proposta que privilegiou os pedestres, criando espaços para a sua permanência. Antes dessa proposta, em que a avenida era tomada pelos automóveis e o espaço assumia uma função maior de circulação e menor de permanência (Figura 2). Figura 2. Revitalização da Times Square — Snøhetta. Fonte: Adaptada de Times... (2017). Espaços abertos e interligações com o entorno6 O projeto do escritório Gehum e Hetedik Muterem para a revitalização da Avenida do Castelo, em Sopron, na Hungria, propõe algo completamente voltado para a permanência no espaço e a sua contemplação (Figura 3). É possível perceber que a cidade possui outra escala, se comparada ao caso de Nova York. Consequentemente, o f luxo de veículos é mais lento e esparso, bem como a vivência das pessoas, o seu dia a dia e a relação delas com as ruas. Por esses motivos, foram propostos largos passeios com espaços de permanência, com bancos sombreados por árvores, rodeados de f lores da estação e com iluminação compatível com alta circulação de pessoas. Além disso, é possível perceber que há um cuidado especial na proposição de pisos, uma vez que a sua mudança de desenhos e texturas demonstra a mudança de uso do espaço, ou seja, cada tipo de piso é direcionado a um uso diferenciado. Figura 3. Revitalização da Avenida do Castelo, em Sopron, na Hungria — Gehum e Hetedik Muterem. Fonte: Sopron... (2016). 7Espaços abertos e interligações com o entorno Quando a rua é invadida pelos pedestres O urbanismo tático, ou urbanismo de guerrilha, descreve ações tomadas a partir dos usuários do espaço público. É um termo cunhado no início dos anos 2010, nos Estados Unidos, que se refere a ações iniciadas por grupos de pessoas em todo o país, mais expressivamente em São Francisco, na Califórnia, as quais tinham por fi nalidade ocupar espaços públicos livres que não possuíam políticas públicas que contemplassem as necessidades dos usuários. As ações mais populares desses grupos foram os parklets, que se apro- priavam de vagas de estacionamento nas ruas e as tornavam local de estadia e permanência ao ar livre. Essas iniciativas se espalharam por vários lugares em todo o mundo, sendo reproduzidas livremente em intenção, mas com características locais. Na Figura 4, você pode ver um exemplo desse tipo de intervenção no Brasil. Figura 4. Parklet no bairro da Liberdade, em São Paulo. Fonte: São Paulo (2019, documento on-line). Espaços abertos e interligações com o entorno8 O grupo Shoot The Shit, de Porto Alegre, tem uma iniciativa muito interessante relacio- nada com o urbanismo tático. Acesse o link a seguir para conferir o trabalho do grupo. https://qrgo.page.link/Zi3nk Praças A praça é um dos espaços públicos mais comuns nas cidades. Esses locais são, com frequência, conformados por um quarteirão constituído basicamente por um grande espaço aberto, que naturalmente se torna referência no bairro e local de reunião das pessoas que vivem próximas ao espaço. Entretanto, uma praça sem projeto adequado ou interligação efi ciente com o entorno pode se tornar um ambiente perigoso e repulsivo. A praça é um espaço público aberto já consolidado no imaginário das pessoas, por ser uma configuração de espaço aberto milenar, acompanhando o surgimento das primeiras cidades. É um local de reunião e integração entre os cidadãos daquela localidade, sendo a ágora grega uma das referências na sua conformação. A ágora era um espaço onde se praticava a democracia na sociedade grega, marcada por estar próxima ou adjacente a um mercado popular — assim como o Fórum Romano, que tinha a mesma função e forma semelhante. Na Europa da Idade Média, a praça também era acompanhada pelo mercado, mas poderia estar localizada próximo de uma igreja ou catedral. A partir do Renascentismo, as praças passaram a adquirir características comuns, as quais podemos identificar ainda hoje, como os espaços ajardinados, de permanência e contemplação. Inicialmente, esses locais estavam conformados perto dos palácios das famílias reais, às vezes, inclusive, fora da malha urbana, como o Palácio de Versalhes, na França, conhecido mundialmente pelos seus jardins. Foi somente a partir do século XIX que esse espaço público aberto passou a receber maior atenção do Poder Público, tornando-se um local planejado. Enquanto espaço público, a praça pode abrigar muitas funções e usos, desde funções políticas e sociais, como reuniões cívicas para celebrações de datas 9Espaços abertos e interligações com o entorno importantes, manifestações ou comícios, até usos econômicos, como o co- mércio para as pessoas que usam o local, mercados populares, itinerantes ou não, lazer dos mais variados tipos e contemplação. De acordo com Macedo e Robba (apud VIERO; BARBOSA FILHO, 2009, documento on-line), há algumas classificações desse espaço, de acordo com a sua configuração espacial e as suas diretrizes de uso: Espacialmente, a praça é definida pela vegetação e outros elementos construí- dos. Neste sentido, de acordo com cada sentido que a palavra praça pode assu- mir, estes espaços podem ser classificados (MACEDO e ROBBA, 2002) em: a. Praça Jardim: espaços nos quais a contemplação das espécies vegetais, o contato com a natureza e a circulação são priorizados. Estes podem ser fechados por gra- des ou cercas, como o passeio público do Rio de Janeiro e de Curitiba, ou ainda podem ser abertos e rodeados de imóveis (comerciais e residenciais). No Brasil, o conceito de praça está, normalmente, associado a ideia de verde e de ajardina- mento urbano, por este motivo, os espaços públicos formados a partir do pátio das igrejas e dos mercados públicos é comumente chamado de adros ou largos. b. Praça Seca: largos históricos ou espaços que suportam intensa circulação de pedestres. Em algumas destas praças inexiste qualquer tipo de árvores ou jardins e nelas o importante é o espaço gerado pela arquitetura e são re- lações entre volumes do construído e do vazio que dão ao conjunto a escala humana. Nestes locais destacam-se símbolos arquitetônicos como a Praça de São Marcos em Veneza (Itália), a Praça de São Pedro em Roma (Itália) ressaltando a Basílica, a praça dos três Poderes em Brasília e o Memorial da América Latina em São Paulo. c. Praça Azul: praças na qual a água possui papel de destaque. Alguns bel- vederes e jardins de várzea possuem esta característica. d. Praça Amarela: as praias em geral são consideradas praças amarelas. Por ser um espaço público livre, ele também é muito dinâmico,acompa- nhando as mudanças de comportamento dos usuários, de modo que pode sofrer intervenções para adequações do espaço às necessidades dos usuários, passando por revitalizações. A Plaza de la Encarnación, localizada na cidade medieval de Sevilha, na Espanha, é um bom exemplo disso. A equipe de Jürgen Mayer H. Architects trabalhou com um espaço que possui em seu entorno edificações de até quatro pavimentos de diferentes períodos. A praça abriga uma estrutura composta por uma malha tridimensional de madeira que possui diversos usos, como restaurantes, bares, antiquário e outros usos culturais e recreativos. A principal diretriz projetual foi tornar Sevilha uma referência mundial no que tange à cultura. A forma da estrutura, que é identificada por alguns como uma floresta de cogumelos, foi denominada Metropol Parasol, pois lembra guarda-sóis (Figura 5). Outro ponto interessante a considerar é a maneira Espaços abertos e interligações com o entorno10 como os arquitetos proporcionam a experimentação desse espaço, permitindo que o usuário acesse toda a estrutura, inclusive no nível de cobertura, para contemplar a partir dela os diversos visuais da cidade. Figura 5. El Parasol, em Sevilha, na Espanha. Fonte: a) Metropol Parasol (2019, documento on-line); b) Setas de Sevilha (2018, docu- mento on-line). Parques Os parques são espaços públicos livres cujas áreas em geral são maiores que as das praças, pois possuem como característica principal a preservação da natureza nativa de alguma localidade, dentro ou fora da cidade. Segundo a prefeitura de São Paulo (2019, documento on-line): Os parques constituem unidades de conservação, terrestres e/ou aquáticas, normalmente extensas, destinadas à proteção de áreas representativas de ecossistemas, podendo também ser áreas dotadas de atributos naturais ou paisa- 11Espaços abertos e interligações com o entorno gísticos notáveis, sítios geológicos de grande interesse científico, educacional, recreativo ou turístico, cuja finalidade é resguardar atributos excepcionais da natureza, conciliando a proteção integral da flora, da fauna e das belezas naturais com a utilização para objetivos científicos, educacionais e recreativos. Assim, os parques são áreas destinadas para fins de conservação, pesquisa e turismo. Podem ser criados no âmbito nacional, estadual ou municipal, em terras de seu domínio, ou que devem ser desapropriadas para esse fim. Além disso, podem reunir, em seus programas de necessidades, todas as atividades que possam ser contempladas nas praças, como reuniões de cunho político, econômico, social, cultural ou recreativo, além de atividades de interesse ambiental, como já mencionado. Algumas vezes, a fundação de parques urbanos pode ser uma alternativa para requalificar áreas degradadas, devolvendo-as aos cidadãos. Um bom exemplo de projeto que contempla uma tentativa de requalificar o espaço urbano é o do Jiading Central Park, em Xangai (Figuras 6 e 7). Figura 6. Jiading Central Park, em Xangai. Fonte: Adaptada de Jiading... (2016, documento on-line). Espaços abertos e interligações com o entorno12 Figura 7. Jiading Central Park, em Xangai. Fonte: Adaptada de Jiading... (2016, documento on-line). O novo parque reinsere uma vasta área degradada ao cotidiano da ci- dade, interligando equipamentos de grande porte, como biblioteca e centros comerciais e residenciais. Por sua extensão avantajada, esse parque prevê usos diferenciados, conforme a localização geográfica, como recreativo, esportivo e político. Outro exemplo de parque urbano é o Parque do Ibirapuera, em São Paulo (Figura 8). Fundado em 1954, a sua área de quase 160 hectares no coração da metrópole é ocupada por áreas de preservação de espécies e equipamentos públicos culturais, recreacionais e esportivos. O projeto do parque é do paisagista Roberto Burle Marx, e o das edificações é de Oscar Niemeyer. 13Espaços abertos e interligações com o entorno Figura 8. Parque do Ibirapuera. Fonte: Coletta (2018, documento on-line). Ruas, praças e parques são os principais espaços abertos públicos, e é a partir deles que se constroem as interligações com o entorno construído. Esses espaços devem ser discutidos, estudados e previstos no planejamento urbano para que possam exercer a sua função adequadamente. Nas cidades, nada deve ser projetado de forma isolada, e quanto mais integrados forem os projetos de edificações com o espaço aberto, mais harmoniosas serão as relações das pessoas dentro das cidades. O paisagismo nos espaços abertos urbanos O projeto paisagístico é um grande aliado dos equipamentos abertos públicos. O paisagismo é o elemento que compatibiliza a escala da cidade com a escala do usuário, já que é projetado para a escala humana. Então, o paisagismo urbano é o conjunto de elementos que preenchem os espaços abertos públicos. O autor Jan Gehl (2015) afirma que a cidade deve ser percebida sob o olhar do ser humano e as suas percepções de escala e de conforto. O usuário precisa se identificar com os equipamentos urbanos. Isso não significa que os espaços abertos devam ser pequenos, e sim que é preciso aplicar estratégias de gradação de escala, adequando dimensões do espaço e dimensões do usuário. Espaços abertos e interligações com o entorno14 Essa questão também foi levantada por Jane Jacobs (2011), ao descrever a agradabilidade das ruas de Nova York. Apesar de serem grandes vias, segundo a autora, possuem uma adaptabilidade competente à escala humana. Isso se dá em função de diversas características, entre as quais é possível destacar a presença de comércio nos térreos dos edifícios. As vitrines, normalmente aderidas ao passeio público, promovem a conexão entre usuários que caminham e usuários que consomem nas lojas e nos serviços oferecidos. Apesar de grandes vias, os quarteirões são relativamente curtos, o que é mais convidativo para o pedestre. As calçadas frequentemente são utilizadas pelo comércio local, com canteiros e mesas, promovendo uma integração ainda mais eficiente. A conexão entre as pessoas de dentro e de fora das edificações, as chamadas fachadas vivas (Jacobs, 2011) e os trajetos mais dinâmicos são alguns dos responsáveis pelas ruas agradáveis de Nova York (Figura 9). Figura 9. Rua em Nova York. Fonte: Angheben ([2018], documento on-line). Além de fornecer condições agradáveis para as pessoas caminharem, os espaços abertos devem oferecer condições de estar confortáveis. Logo, praças com sombra e locais para sentar-se e para encontrar pessoas são fundamentais. Roma, por exemplo, é uma cidade muito convidativa ao pedestre, em parte por oferecer para os usuários recantos de estar em diversas escalas (Figura 10). Sejam caminhantes cansados ou vizinhos se encontrando, o uso do espaço público pelas pessoas é o que dá o caráter à cidade. 15Espaços abertos e interligações com o entorno Figura 10. Piazza Navona, Roma. Fonte: Piazza Navona... (2018, documento on-line). O papel do paisagismo na escala urbana é de transformar a cidade para o olhar humano: ruas agradáveis para caminhar e espaços confortáveis para recreação, encontro e descanso. Para isso, o planejamento urbano precisa prever as áreas de ruas, praças, parques e largos de forma a conectar com harmonia os objetos construídos. Nesse sentido, o paisagismo é a área que transforma esses lugares em lugares vivos e convidativos para os usuários. ANGHEBEN, F. Wall Street: o que fazer no distrito financeiro de Nova York. In: DICAS NOVA YORK. [S. l.: s. n., 2018]. Disponível em: https://dicasnovayork.com.br/wall-street- -nova-york-o-que-fazer/. Acesso em: 14 nov. 2019. COLETTA, R. D. Concessão do Ibirapuera, o controverso pivô da guerra eleitoral em São Paulo. El País, jul. 2018. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/23/ politica/1532357628_025230.html. Acesso em: 14 nov. 2019. Espaços abertos e interligações com o entorno16 GEHL, J. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2015. GOVERNANÇAinovadora é tema do Dia Mundial das Cidades, celebrado hoje. Agência Brasil, out. 2017. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noti- cia/2017-10/governanca-inovadora-e-tema-do-dia-mundial-das-cidades-celebrado- -hoje. Acesso em: 14 nov. 2019. JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011. JIADING Central Park. In: LANDEZINE. [S. l.: s. n.], 2016. Disponível em: http://www.lan- dezine.com/index.php/2016/08/sopron-castle-district-revitalization/. Acesso em: 14 nov. 2019. LING, A. Brasília: uma cidade que não faríamos de novo. In: CAOS PLANEJADO. [S. l.: s. n.], 2019. Disponível em: https://caosplanejado.com/brasilia-uma-cidade-que-nao- -fariamos-de-novo/. Acesso em: 14 nov. 2019. METROPOL PARASOL. In: WIKIPEDIA. [S. l.: s. n.], 2019. Disponível em: https://hu.wikipedia. org/wiki/Metropol_Parasol. Acesso em: 14 nov. 2019. PIAZZA NAVONA, Rome, Italy, Europe. In: HOTEIS.COM. 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Porto Alegre: [S. n.], 2019. Disponível em: http://www.shoottheshit.cc/. Acesso em: 14 nov. 2019. GEHL PEOPLE. Copenhagen: Gehl, 2019. Disponível em: https://gehlpeople.com/. Acesso em: 14 nov. 2019. SPECK, J. Jeff Speck is a city planner and urban designer who advocates internationally for more walkable cities. In: JEFF SPECK. Brookline: [S. n.], 2019. Disponível em: https://www. jeffspeck.com/. Acesso em: 14 nov. 2019. Espaços abertos e interligações com o entorno18
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