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Fundamentos da Biologia Celular - Alberts et al - 2017 - 4 Edicao-743

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716 Fundamentos da Biologia Celular
vas que atuam nos tecidos. Um excesso de nutrientes circulantes, ou o aumento 
anormal de hormônios, mitógenos ou fatores de crescimento, por exemplo, po-
dem auxiliar células com mutações perigosas a sobreviver, crescer e proliferar. 
Por fim, surgem células que possuem todas as anormalidades necessárias para 
se desenvolver como câncer.
Para ser bem-sucedida, uma célula cancerosa deve adquirir uma gama com-
pleta de propriedades anormais – uma coleção de comportamentos subversivos. 
Uma célula precursora em proliferação no epitélio que reveste o intestino, por 
exemplo, deve sofrer mudanças que lhe permitam continuar se dividindo, quan-
do ela normalmente deveria parar de fazê-lo (ver Figura 20-36). Essa célula e 
sua progênie devem ser capazes de evitar a morte celular, deslocar as células 
vizinhas e atrair suprimento sanguíneo suficiente para nutrir o tumor em cresci-
mento. Para que as células tumorais se tornem invasivas, elas devem ser capazes 
de se desprender da camada de células epiteliais e digerir seu caminho ao longo 
da lâmina basal até o tecido conectivo subjacente. Para se espalhar até outros 
órgãos e formar metástases, elas devem ser capazes de entrar e sair da circulação 
sanguínea ou linfonodos e se estabelecer, sobreviver e proliferar em novos locais 
(ver Figura 20-45).
Diferentes cânceres exigem diferentes combinações de propriedades. Mes-
mo assim, descrevemos uma relação de características gerais que distinguem as 
células cancerosas das células normais.
 1. As células cancerosas possuem uma dependência reduzida de sinais de 
outras células para sua sobrevivência, crescimento e divisão. Isso aconte-
ce porque elas costumam conter mutações nos componentes das vias de 
sinalização celular que em geral respondem a tais estímulos. Uma mutação 
ativadora no gene Ras (discutido no Capítulo 16), por exemplo, pode causar 
uma sinalização intracelular para proliferação mesmo na ausência de um 
estímulo extracelular que normalmente seria necessário para ativar o Ras, 
como uma campainha que toca sem ninguém apertar o botão.
 2. As células cancerosas podem sobreviver a níveis de estresse e alterações 
internas que fariam as células normais se suicidarem por apoptose. Essa 
evasão do suicídio com frequência é resultado de mutações em genes que 
regulam o programa de morte intracelular responsável pela apoptose (dis-
cutido no Capítulo 18). Por exemplo, cerca de 50% de todos os cânceres hu-
manos possuem uma mutação de inativação no gene p53. A proteína p53 
atua, normalmente, como parte de uma resposta aos danos no DNA que faz 
as células com DNA danificado pararem de se dividir (ver Figura 18-15) ou 
morrerem por apoptose. Quebras cromossômicas, por exemplo, se não corri-
gidas, em geral causarão o suicídio celular, mas se a célula possui um defeito 
em p53, ela pode sobreviver e se dividir, criando células-filhas anormais com 
potencial para mais danos.
 3. Ao contrário da maioria das células humanas normais, as células cancero-
sas podem, com frequência, proliferar indefinidamente. Em cultura, a maio-
ria das células somáticas humanas normais poderá se dividir por um núme-
ro limitado de vezes e, a partir desse ponto, irá parar permanentemente. Isso 
ocorre, em parte, porque elas perderam a capacidade de produzir a enzima 
telomerase, de modo que os telômeros nas extremidades dos cromossomos 
encurtam progressivamente a cada divisão celular (ver página 210). As célu-
las cancerosas costumam romper essa barreira de proliferação, reativando a 
produção da telomerase, permitindo, assim, que elas mantenham o compri-
mento dos telômeros indefinidamente.
 4. A maioria das células cancerosas é geneticamente instável, com taxas de 
mutações muito aumentadas e números anormais de cromossomos.
 5. As células cancerosas são anormalmente invasivas, em parte porque lhes 
faltam determinadas moléculas de adesão, como as caderinas, que ajudam a 
manter as células normais nas suas localizações adequadas.
Uma mutação confere
vantagem a uma célula
Células epiteliais
crescendo na
lâmina basal
Uma segunda mutação aumenta a vantagem
Uma terceira
mutação aumenta
ainda mais a
vantagem e torna
a célula invasiva
SOBREVIVÊNCIA,
PROLIFERAÇÃO E
INVASÃO CELULAR
PERIGOSA
SOBREVIVÊNCIA E
PROLIFERAÇÃO CELULAR
SOBREVIVÊNCIA E
PROLIFERAÇÃO
CELULAR
Figura 20-47 Os tumores desenvolvem-
-se por ciclos repetidos de mutações, 
proliferação e seleção natural. O resulta-
do final é um tumor completamente malig-
no. Em cada passo, uma única célula sofre 
uma mutação que aumenta sua capacidade 
proliferativa, ou de sobrevivência, ou am-
bas, de modo que a progênie se torna um 
clone dominante no tumor. A proliferação 
desse clone acelera o próximo passo da 
progressão do tumor, aumentando o ta-
manho da população de células com risco 
de sofrerem mutações adicionais. Alguns 
cânceres possuem múltiplos clones malig-
nos, cada um com seu próprio conjunto de 
mutações, além de uma série de mutações 
comuns que refletem a origem do tumor 
a partir de uma célula mutante fundadora 
(não apresentado).
QUESTÃO 20-8
Cerca de 1016 divisões celulares 
ocorrem no corpo humano durante 
a vida do indivíduo; mesmo assim, 
o corpo de um adulto consiste em 
cerca de 1013 células. Por que esses 
dois números são tão diferentes?
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