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716 Fundamentos da Biologia Celular vas que atuam nos tecidos. Um excesso de nutrientes circulantes, ou o aumento anormal de hormônios, mitógenos ou fatores de crescimento, por exemplo, po- dem auxiliar células com mutações perigosas a sobreviver, crescer e proliferar. Por fim, surgem células que possuem todas as anormalidades necessárias para se desenvolver como câncer. Para ser bem-sucedida, uma célula cancerosa deve adquirir uma gama com- pleta de propriedades anormais – uma coleção de comportamentos subversivos. Uma célula precursora em proliferação no epitélio que reveste o intestino, por exemplo, deve sofrer mudanças que lhe permitam continuar se dividindo, quan- do ela normalmente deveria parar de fazê-lo (ver Figura 20-36). Essa célula e sua progênie devem ser capazes de evitar a morte celular, deslocar as células vizinhas e atrair suprimento sanguíneo suficiente para nutrir o tumor em cresci- mento. Para que as células tumorais se tornem invasivas, elas devem ser capazes de se desprender da camada de células epiteliais e digerir seu caminho ao longo da lâmina basal até o tecido conectivo subjacente. Para se espalhar até outros órgãos e formar metástases, elas devem ser capazes de entrar e sair da circulação sanguínea ou linfonodos e se estabelecer, sobreviver e proliferar em novos locais (ver Figura 20-45). Diferentes cânceres exigem diferentes combinações de propriedades. Mes- mo assim, descrevemos uma relação de características gerais que distinguem as células cancerosas das células normais. 1. As células cancerosas possuem uma dependência reduzida de sinais de outras células para sua sobrevivência, crescimento e divisão. Isso aconte- ce porque elas costumam conter mutações nos componentes das vias de sinalização celular que em geral respondem a tais estímulos. Uma mutação ativadora no gene Ras (discutido no Capítulo 16), por exemplo, pode causar uma sinalização intracelular para proliferação mesmo na ausência de um estímulo extracelular que normalmente seria necessário para ativar o Ras, como uma campainha que toca sem ninguém apertar o botão. 2. As células cancerosas podem sobreviver a níveis de estresse e alterações internas que fariam as células normais se suicidarem por apoptose. Essa evasão do suicídio com frequência é resultado de mutações em genes que regulam o programa de morte intracelular responsável pela apoptose (dis- cutido no Capítulo 18). Por exemplo, cerca de 50% de todos os cânceres hu- manos possuem uma mutação de inativação no gene p53. A proteína p53 atua, normalmente, como parte de uma resposta aos danos no DNA que faz as células com DNA danificado pararem de se dividir (ver Figura 18-15) ou morrerem por apoptose. Quebras cromossômicas, por exemplo, se não corri- gidas, em geral causarão o suicídio celular, mas se a célula possui um defeito em p53, ela pode sobreviver e se dividir, criando células-filhas anormais com potencial para mais danos. 3. Ao contrário da maioria das células humanas normais, as células cancero- sas podem, com frequência, proliferar indefinidamente. Em cultura, a maio- ria das células somáticas humanas normais poderá se dividir por um núme- ro limitado de vezes e, a partir desse ponto, irá parar permanentemente. Isso ocorre, em parte, porque elas perderam a capacidade de produzir a enzima telomerase, de modo que os telômeros nas extremidades dos cromossomos encurtam progressivamente a cada divisão celular (ver página 210). As célu- las cancerosas costumam romper essa barreira de proliferação, reativando a produção da telomerase, permitindo, assim, que elas mantenham o compri- mento dos telômeros indefinidamente. 4. A maioria das células cancerosas é geneticamente instável, com taxas de mutações muito aumentadas e números anormais de cromossomos. 5. As células cancerosas são anormalmente invasivas, em parte porque lhes faltam determinadas moléculas de adesão, como as caderinas, que ajudam a manter as células normais nas suas localizações adequadas. Uma mutação confere vantagem a uma célula Células epiteliais crescendo na lâmina basal Uma segunda mutação aumenta a vantagem Uma terceira mutação aumenta ainda mais a vantagem e torna a célula invasiva SOBREVIVÊNCIA, PROLIFERAÇÃO E INVASÃO CELULAR PERIGOSA SOBREVIVÊNCIA E PROLIFERAÇÃO CELULAR SOBREVIVÊNCIA E PROLIFERAÇÃO CELULAR Figura 20-47 Os tumores desenvolvem- -se por ciclos repetidos de mutações, proliferação e seleção natural. O resulta- do final é um tumor completamente malig- no. Em cada passo, uma única célula sofre uma mutação que aumenta sua capacidade proliferativa, ou de sobrevivência, ou am- bas, de modo que a progênie se torna um clone dominante no tumor. A proliferação desse clone acelera o próximo passo da progressão do tumor, aumentando o ta- manho da população de células com risco de sofrerem mutações adicionais. Alguns cânceres possuem múltiplos clones malig- nos, cada um com seu próprio conjunto de mutações, além de uma série de mutações comuns que refletem a origem do tumor a partir de uma célula mutante fundadora (não apresentado). QUESTÃO 20-8 Cerca de 1016 divisões celulares ocorrem no corpo humano durante a vida do indivíduo; mesmo assim, o corpo de um adulto consiste em cerca de 1013 células. Por que esses dois números são tão diferentes? Alberts_20.indd 716Alberts_20.indd 716 16/01/2017 11:42:3416/01/2017 11:42:34
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