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HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA AULA 3 Prof.ª Fernanda Eliza Toscani Burigo 2 CONVERSA INICIAL Conforme visto anteriormente, após o desenvolvimento, o embrião forma os folhetos embrionários, responsáveis pela origem dos diferentes tecidos e órgãos. O conjunto de células com mesma estrutura e características que, em conjunto, desempenham as mesmas funções constitui um tecido. O corpo da maioria dos vertebrados, incluindo o ser humano, é constituído basicamente por quatro tipos de tecidos: o epitelial, responsável por revestimento e secreção; o conjuntivo, cuja principal função é o preenchimento e a conexão entre estruturas; o muscular, fundamental para sustentação, movimentação e locomoção do organismo; e o nervoso, que capta e interpreta estímulos, além de reagir a eles. Importante ressaltar que os tecidos não se mantêm de forma isolada, mas se integram entre si, constituindo os órgãos. Nesta aula, abordaremos com especificidade o tecido epitelial, destacando suas características, funções, componentes e especializações. Poderemos perceber que ele se subdivide em epitélio de revestimento e secreção, atuando no recobrimento de órgãos, protegendo-os e também, por meio dos epitélios glandulares, sintetizando e liberando substâncias que terão as mais variadas funções. Vamos observar que, para manutenção da integridade desse tecido e para sua funcionalidade, suas células apresentam adaptações na membrana plasmática, favorecendo a execução de suas funções. Por fim, será sugerida uma atividade prática de observação de lâminas permanentes de tecido epitelial, propiciando a conexão entre conhecimentos obtidos na teoria, com a observação prática, convidando-o a registrar e identificar informações e estruturas relevantes. Para esta aula, apresentamos os seguintes objetivos: • Geral: reconhecer as principais características e funções dos epitélios. • Específicos: o Caracterizar o tecido epitelial. o Identificar as especializações do tecido epitelial e suas respectivas funções. o Identificar as características e funções dos epitélios de revestimento. o Identificar as características e funções dos epitélios glandulares. o Observar e registrar as características anatômicas dos epitélios. 3 TEMA 1 – CARACTERÍSTICAS GERAIS, FUNÇÕES E COMPONENTES DOS EPITÉLIOS O tecido epitelial pode se originar dos três folhetos embrionários: ectoderme, que gera o revestimento externo, constituindo a epiderme; endoderme, que forma o epitélio de revestimento interno, dos tratos digestório, respiratório e genito-urinário, e a mesoderme, que constitui o tecido do endotélio (vasos sanguíneos). Uma das características mais marcantes desse tipo de tecido é a justaposição celular, ou seja, as células encontram-se muito unidas entre si, quase sem substância intercelular, conforme pode ser observado na Figura 1. Assim, permanecem conectadas por especializações da membrana plasmática, que constituem as junções intercelulares. Devido ao fato de serem justapostas, as células assumem um formato poliédrico, ou seja, com várias faces, que interagem entre si, formando um aglomerado celular tridimensional. Outra característica importantíssima do tecido epitelial é que ele é avascular, ou seja, não possui irrigação sanguínea (ver Figura 1). Sendo assim, como ocorre a nutrição, a excreção e a oxigenação nesse tecido? O fato é que ele está sempre associado ao tecido conjuntivo – este, sim, riquíssimo em vascularização – que, por difusão, repassa oxigênio e nutrientes ao tecido epitelial e recolhe suas excretas, eliminando-as. A porção celular volvida para o tecido conjuntivo recebe o nome de porção basal, ao passo que a parte voltada para um espaço ou cavidade denomina-se porção apical, a qual apresenta superfície livre (entra em contato direto com substâncias). 4 Figura 1 – Características gerais do tecido epitelial Créditos: José Luis Calvo/Shutterstock. Ancorando o tecido epitelial ao conjuntivo existe uma estrutura denominada lâmina basal, a qual só pode ser bem observada pela microscopia eletrônica. Tal estrutura é composta por colágeno (tipo IV), glicoproteínas e proteoglicanos. Sua principal função é promover a adesão entre epitélio e o tecido conjuntivo adjacente. Assim, com o passar dos anos, a síntese de colágeno diminui, dificultando essa aderência e minimizando a conexão entre os tecidos, o que caracteriza a flacidez. Vale salientar que a lâmina basal não é exclusiva do tecido epitelial, visto que também pode estar presente em células adiposas, musculares e nervosas (células de Schwann). Quanto às suas funções, o tecido epitelial pode atuar no revestimento de estruturas e constituir os epitélios de revestimento interno – endotélio, tubo digestório, trato genito-urinário e sistema respiratório, assumindo funções específicas para cada caso, como realizar absorção, funções sensoriais e trocas gasosas, ou pode revestir externamente, como no caso da epiderme, com função importante na proteção (a ser explorado no Tema 3). Outra atividade 5 importante desse tecido está na secreção de substâncias, em função da formação das glândulas, que as liberam, como o suor e a saliva, e também secretam os hormônios, constituintes do sistema endócrino (em destaque no Tema 4). TEMA 2 – ESPECIALIZAÇÕES DO TECIDO EPITELIAL As especializações do tecido epitelial estão intrinsecamente relacionadas às especializações da membrana plasmática, para que executem suas funções com alta especificidade e eficiência. As especializações das células epiteliais podem ser de dois tipos: de superfície de contato/coesão, as quais favorecem o contato entre as células, e de superfície livre, que permitem a movimentação de partículas e absorção. 2.1 Especializações de superfície de contato 2.1.1 Junções de oclusão Impedem a passagem de moléculas entre as células adjacentes. Presentes na porção apical da célula, formam uma faixa contínua que veda os espaços intercelulares – faixas de vedação –, produzidas por proteínas transmembrana que “costuram” as células, aproximando-as tanto que chegam a se confundir. No citoplasma, as junções de oclusão se ligam ao citoesqueleto de actina. Observadas no tecido endotelial (vasos sanguíneos). 2.1.2 Zônulas de adesão e desmossomas Permitem o ancoramento dos elementos do citoesqueleto, possibilitando a junção dos citoesqueletos de células individuais em uma rede. Favorecem a aderência entre células adjacentes. As zônulas de adesão possuem proteínas transmembranares denominadas caderinas e são vistas facilmente no epitélio simples prismático. Os desmossomas ou desmossomos (vide figuras 2 e 3) também oferecem forte ligação entre as células adjacentes, formando uma trama proteica que mantém a coesão celular, com estrutura complexa em forma de disco. Encontram-se em grande quantidade nos epitélios estratificados pavimentosos, que sofrem maior atrito. Conforme explica Junqueira e Carneiro (2018), o que pode ser observado na Figura 4: 6 No lado interno (citoplasmático) da membrana do desmossomo de cada uma das células, há uma placa circular chamada placa de ancoragem, composta de pelo menos 12 proteínas. Em células epiteliais, filamentos intermediários de queratina presentes no citoplasma se inserem nas placas de ancoragem ou então formam alças que retornam ao citoplasma. Uma vez que os filamentos intermediários de queratina do citoesqueleto são muito fortes, os desmossomos promovem uma adesão bastante firme entre as células. Figura 2 – Disposição dos desmossomos em enterócitos Créditos: Sakurra/Shutterstock. Figura 3 – Eletromicrografia demonstrando os desmossomos (regiões mais escuras entre as células) Créditos: José Luis Calvo/Shutterstock. 7 Figura 4 – Estrutura dos desmossomos Créditos: Sakurra/Shutterstock. 2.1.3 Junções comunicantesTambém conhecidas por junções do tipo gap ou nexus, permitem a passagem de pequenas moléculas diretamente entre células adjacentes, possibilitando a sinalização entre elas, a fim de coordenar e sincronizar as funções do tecido (Figura 5). Cada junção contém numerosos canais transmembranares – os conexons – que se alinham ao canal da célula vizinha, permitindo uma comunicação direta entre elas. Os canais podem ser abertos ou fechados, dependendo das condições celulares. Por exemplo, em células apoptóticas, os canais se fecham com o objetivo de isolar essa célula e seu conteúdo nocivo. Nos epitélios embrionários, são numerosas, favorecendo a troca de mensageiros químicos. 8 Figura 5 – Junções comunicantes (do tipo GAP) em neurônios Créditos: Designua/Shutterstock. 2.1.4 Interdigitações Caracterizam-se como dobras de membranas que se encaixam em dobras de membranas de células adjacentes, favorecendo sua aderência. Seu principal propósito é aumentar a superfície de contato entre as células participantes. Podem ser encontradas em diversos epitélios, como é o caso do intestinal (Figura 6). Figura 6 – Eletromicrografia demonstrando as interdigitações entre células epiteliais Créditos: José Luis Calvo/Shutterstock. 9 2.2 Especializações de superfície livre 2.2.1 Microvilosidades São expansões da membrana plasmática, em forma de dedos, conforme demonstram as figuras 7 e 8. Estão intimamente relacionadas à função de absorção e são amplamente visualizadas no epitélio intestinal. Sua grande contribuição é aumentar a superfície de absorção, permitindo que a área de absorção intestinal seja equivalente a uma quadra de basquete. A porção citoplasmática de cada microvilo contém filamentos de actina F, inseridos na trama terminal (adaptação do citoesqueleto situada abaixo da superfície celular). Figura 7 – Eletromicrografia de superfície intestinal, repleta de microvilosidades Créditos: Jose Luis Calvo/Shutterstock. Figura 8 – Microvilosidades intestinais vistas sob microscopia Créditos: David Litman/Shutterstock. 10 2.2.2 Cílios e flagelos Os cílios são estruturas curtas e numerosas (vide Figura 9), dotadas de mobilidade, que se projetam do ápice de algumas células epiteliais, como as da traqueia e das tubas uterinas. Suas principais funções são a retenção de partículas e o transporte de substâncias. São formados dos microtúbulos, que se arranjam aos pares, constituídos por nove pares periféricos e um par central. Sua base é contínua com o corpúsculo basal (formado por nove trincas de microtúbulos). Já os flagelos, que na espécie humana se restringem aos espermatozoides, possuem a mesma constituição dos cílios, diferenciando-se somente por serem mais longos e limitados a um por célula (Figura 10). Figura 9 – Epitélio ciliado de traqueia, com grande número de cílios na porção apical da célula Créditos: Jose Luis Calvo/Shutterstock. Figura 10 – Estrutura do flagelo em um espermatozoide Créditos: SVETLANA VERBINSKAYA/Shutterstock. 11 2.2.3 Estereocílios São microvilos muito longos e sem mobilidade, originalmente considerados como forma incomum de cílios; no entanto, sua estrutura interna não apresenta nenhuma semelhança com a dos cílios, mas sim com a dos microvilos, constituindo-se como um esqueleto de filamentos de actina. Observados no epidídimo e no ducto deferente, acredita-se que sua função esteja relacionada com a absorção no epidídimo. TEMA 3 – EPITÉLIO DE REVESTIMENTO Epitélios de revestimento são aqueles cujas células se organizam em folhetos, a fim de recobrir externamente a superfície corporal (epiderme) ou internamente, constituindo o revestimento de órgãos e de cavidades corporais. Tais epitélios podem ser classificados quanto às funções que desempenham no organismo, ao número de camadas de células e à morfologia de suas células, conforme abordado a seguir. 3.1 Classificação quanto à função Os epitélios de revestimento desempenham as mais variadas funções no organismo, sendo fundamentais para a eficiência de diversos órgãos e sistemas. Sua função está diretamente relacionada à sua localização no organismo. Podem atuar na proteção e na síntese de vitaminas (vitamina D), como é o caso da epiderme – neste caso, operam como a primeira barreira de proteção contra agentes externos (radiação, substâncias tóxicas e microrganismos). Além disso, estão relacionados às trocas de substâncias, como o epitélio dos alvéolos pulmonares e o dos capilares sanguíneos, pois admitem a passagem de oxigênio e nutrientes, permitindo que transitem entre a corrente sanguínea e os tecidos e órgãos, promovendo sua nutrição e oxigenação. Também fazem a absorção de substâncias – epitélio intestinal –, possibilitando que os nutrientes ingeridos sejam absorvidos e repassados aos vasos sanguíneos, os quais vão transportá- los e distribuí-los. São capazes de movimentar substâncias no interior de canais, como ocorre com o epitélio ciliado presente na traqueia e nas tubas uterinas. Ainda, possuem função sensorial (neuroepitélios), como o epitélio das fossas nasais e o das papilas gustativas, garantindo a percepção de substâncias e, por 12 fim, podem secretar muco e outras substâncias, como observa-se no epitélio do estômago e no da vagina, os quais, apesar de não serem epitélios glandulares, são secretores. 3.2 Classificação quanto ao número de camadas Conforme o número de camadas que os folhetos celulares podem ter, os epitélios de revestimento podem ser classificados em: simples, estratificados e pseudoestratificados, conforme observado na Figura 11. Os epitélios simples apresentam apenas uma camada de células e estão diretamente relacionados às funções de absorção e trocas de substâncias, uma vez que facilitam esses processos. Portanto, são encontrados no revestimento dos alvéolos pulmonares, do intestino e dos capilares sanguíneos. Os epitélios estratificados são constituídos por duas ou mais camadas de células e possuem como principais funções a proteção e evitar a desidratação. Estão presentes em diversas estruturas, como na epiderme, nas cavidades oral, vaginal e anal, na bexiga urinária, nos ureteres e na membrana conjuntiva do olho. Já o epitélio pseudoestratificado é assim chamado por dar a impressão de ter várias camadas, embora só possua uma. Por isso, falsa (pseudo) estratificação. Isso ocorre devido à posição irregular do núcleo de suas células, que, ao serem vistos ao microscópio, dão a impressão de mais de uma camada de células. Esse epitélio pode ser observado no revestimento da cavidade nasal, da traqueia e dos brônquios, que são as vias de maior calibre do trato respiratório, e também na tuba auditiva e no epidídimo (estrutura do sistema reprodutor masculino). 13 Figura 11 – Classificação dos epitélios quanto ao número de camadas e morfologia celular Créditos: logika600/Shutterstock. 3.3 Classificação quanto à morfologia celular De acordo com a forma de suas células, as quais podem assumir os aspectos cuboide, achatado ou colunar (alongadas), os epitélios podem ser classificados em cúbicos, pavimentosos ou prismáticos, respectivamente (ver figuras 11 e 12). Tais tipos celulares podem se organizar como epitélios simples, estratificados ou, no caso do prismático, também pseudoestratificados. 14 Figura 12 – Classificação dos epitélios de acordo com a morfologia celular Créditos: Sakurra/Shutterstock. O epitélio simples pavimentoso é constituído por células achatadas com núcleos alongados, as quais caracterizam uma superfície contínua, sendo comumente chamado de epitélio escamoso, devido à similaridade de suas células com as escamas de um peixe. Tal epitélio pode ser encontrado nos pulmões, nas paredes de capilares sanguíneos – favorecendo a difusão de gases e líquidos, denominado endotélio– e também no revestimento das cavidades pleural, pericárdica e peritoneal, compondo o chamado mesotélio. Já o epitélio simples cuboide, cujas células possuem formato cúbico e núcleos arredondados, possui a função de revestir microtúbulos e ductos, com funções excretoras, secretoras ou de absorção. Como exemplos, podemos citar os túbulos renais, os ductos excretores do pâncreas e das glândulas salivares e também o revestimento externo do ovário. No epitélio simples colunar ou prismático, as células são cilíndricas e alongadas e podem variar de altura de acordo com a atividade funcional e o local, e o núcleo pode assumir diferentes posições – base, centro ou ápice celular. Com maior frequência encontrado em superfícies de absorção, tal como no intestino delgado, também pode constituir o revestimento de estruturas secretoras, como no estômago. Algumas vezes possuem cílios como especializações, sendo chamados ciliados, atuando na condução de pequenas partículas, como é o caso do epitélio presente nas tubas uterinas (Figura 13). 15 Figura 13 – Diferentes tipos de epitélio simples e suas respectivas localizações Créditos: VectorMine/Shutterstock. Os epitélios estratificados, devido às suas funções, dificilmente atuarão na secreção e na absorção, por conta de sua estratificação, e são adaptados a diferentes tipos de estresse aos quais suas células estão expostas. Sua classificação se relaciona à camada de células mais superficial, uma vez que nas outras camadas as células apresentam formato predominantemente cuboide. Embora presentes, os epitélios estratificados cúbico e prismático são incomuns no organismo. O primeiro se encontra em trechos de canais secretores de algumas glândulas, e o segundo, na conjuntiva do olho. No epitélio estratificado pavimentoso, as células assumem diferentes formas ao longo das camadas: são cúbicas em contato com a lâmina basal, alongadas nas camadas intermediárias e achatadas na camada superficial. As células basais encontram- se em ininterrupta atividade mitótica, promovendo a renovação contínua desse tipo de epitélio, adaptado a resistir a atritos. Nele, as células superficiais podem ou não sofrer impregnação de queratina, denominados de queratinizados e não queratinizados respectivamente. Nos epitélios não queratinizados (Figura 14), as células estão vivas, revestindo importantes cavidades que sofrem constante 16 abrasão, como a oral, a esofágica, a anal e a vaginal, as quais são mantidas úmidas por secreções glandulares. Já no epitélio queratinizado (Figura 15), presente na epiderme – superfície seca –, as células acumulam queratina, no processo de queratinização, e morrem, constituindo a camada córnea, a qual sofre descamação gradativa. Tal camada queratinizada confere importante proteção contra a dessecação e a exposição a atritos frequentes. Um tipo especial de tecido estratificado é o epitélio de transição, encontrado apenas no trato urinário de mamíferos, no qual as células assumem diferentes formatos de acordo com o estado de expansão do órgão. Suas células podem assumir estágios transicionais entre os epitélios estratificados cúbico (bexiga vazia, por exemplo) e pavimentoso (bexiga cheia). Além disso, tal epitélio deve suportar a toxicidade da urina. Figura 14 – Epitélio estratificado não queratinizado de mucosa Créditos: Jose Luis Calvo/Shutterstock. 17 Figura 15 – Epitélio estratificado queratinizado – epiderme Créditos: Jose Luis Calvo/Shutterstock. Por fim, o epitélio pseudoestratificado só possui células cilíndricas, sendo, portanto, somente da forma prismática ou colunar. O exemplo mais comum de epitélio pseudoestratificado prismático é o ciliado, vide figuras 9 e 16, presente nas vias aéreas respiratórias, desde o nariz até os brônquios, cuja função é muito importante para impedir a passagem de pequenas partículas de poeira e outros materiais, que poderiam aderir ao epitélio e atingir os pulmões. Outro fator que auxilia essa função é que, por entre as células ciliadas, encontram-se as células caliciformes, secretoras de muco, que ajudam a expelir os “invasores”. Figura 16 – Epitélio pseudoestratificado ciliado de traqueia Créditos: Kateryna Kon/Shutterstock. 18 TEMA 4 – EPITÉLIO GLANDULAR Os epitélios glandulares, originados da invaginação da superfície do tecido epitelial, são capacitados a secretar substâncias, sejam proteínas, lipídios, carboidratos ou todos eles. Podem ser classificados de acordo com o número de células como unicelulares, por exemplo as glândulas caliciformes, presentes no epitélio intestinal e na traqueia, ou multicelulares, caso da maioria. Ainda, a classificação pode envolver a presença ou não de ductos secretores, que permitem a liberação de substâncias a serem secretadas. Tais substâncias podem ser eliminadas para o exterior, em superfícies livres – através dos ductos ou canais secretores –, ou diretamente na corrente sanguínea. No primeiro caso, são chamadas exócrinas (exo = exterior), e no segundo, endócrinas (endo = dentro, interior), nas quais os produtos de secreção são denominados hormônios (Figura 17). Há, ainda, um terceiro tipo glandular, que envolve os dois outros citados anteriormente, o qual possui ambas as funções (endócrina e exócrina), chamadas de mistas ou anfícrinas. Figura 17 – Epitélio glandular, com diferenças entre glândulas exócrinas e endócrinas Créditos: Aldona Griskeviciene/Shutterstock. 19 4.1 Glândulas exócrinas As glândulas exócrinas permanecem conectadas com uma superfície livre por meio de um canal, chamado ducto condutor. Tais glândulas podem ser microscópicas, como é o caso das sudoríparas, como também constituir órgãos sólidos, como ocorre com o fígado. São exemplos de glândulas exócrinas: glândulas mamárias, sudoríparas, sebáceas, lacrimais, salivares e odoríferas. Essas glândulas são formadas por duas porções: porção secretora, que contém as células responsáveis pela atividade de secreção, e ducto condutor, atuante na condução do produto a ser secretado. Caso o ducto seja ramificado, são chamadas de compostas; com um único ducto, sem ramificações, são as glândulas simples. Além disso, de acordo com a forma da porção secretora – tubular ou esférica –, as glândulas simples podem ser: tubulares simples (presentes no intestino grosso), tubulares enoveladas (sudoríparas), tubulares ramificadas (estômago) ou acinosas (uretra peniana e glândula sebácea) – vide Figura 18. Já as glândulas compostas podem ser tubulares (duodeno), acinosas (pâncreas exócrino) ou mistas (salivar submandibular). Figura 18 –Glândula exócrina: tipos de porção secretora das glândulas simples Créditos: Aldona Griskeviciene/Shutterstock. É importante ressaltar que as glândulas apresentam uma taxa contínua de secreção, mediada pelos sistemas nervoso e endócrino. Circundando a porção secretora, encontram-se as células mioepiteliais, células contráteis que auxiliam a extrusão da secreção pela glândula. 20 4.2 Glândulas endócrinas As glândulas endócrinas perderam o contato com a superfície epitelial, ou seja, não possuem ductos secretores. Assim, suas secreções serão lançadas diretamente na corrente sanguínea, podendo agir rapidamente em tecidos distantes. Seus produtos, importantes mensageiros químicos, são chamados de hormônios. Possuem tamanhos, localização, formas e aspectos dos mais variados e, em conjunto, constituem o sistema endócrino (mais abordado na anatomia e na fisiologia). Em geral, a atividade hormonal das glândulas endócrinas pode ser regulada por alguns fatores isolados ou em conjunto, tais como fatores metabólicos (por exemplo, níveis de glicose no sangue), secreção de outros hormônios – o TSH liberado pela hipófise estimula a tireoide a secretar tiroxina –, e pelo sistema nervoso (atuação da adrenalina). Em relação à organizaçãode suas células, podem ser classificadas em dois tipos: o primeiro são as cordonais, que consistem em aglomerados de células secretoras envoltas por vasta rede de microvasos sanguíneos – o produto de secreção é liberado nos espaços intercelulares, difundindo-se rapidamente pelos vasos sanguíneos. É o caso das suprarrenais, das paratireoides e do lobo anterior da hipófise. No segundo tipo, folicular, forma-se uma vesícula preenchida pelo produto a ser secretado – folículo, como ocorre na tireoide. 4.3 Glândulas mistas Nas glândulas mistas ou anfícrinas, são observadas as duas porções – endócrina e exócrina. O principal exemplo é o pâncreas (Figura 19), cuja porção exócrina contempla diversos ácinos (porções secretoras esféricas), e cada um deles drena para um ducto; todos eles convergem para um conjunto de ductos excretores, os quais aumentam gradativamente de tamanho e desembocam no duodeno (superfície livre), conduzindo o suco pancreático – produto de secreção – que vai atuar na digestão. A porção endócrina é constituída por um ninho de células endócrinas, as ilhotas de Langerhans, responsáveis pela secreção dos hormônios insulina e glucagon, importantes no metabolismo da glicose, com ação antagônica: enquanto a insulina captura o excesso de glicose do sangue e a conduz para o fígado, para armazená-la sob forma de glicogênio, o glucagon 21 – na ausência de glicose na circulação – degrada o glicogênio armazenado e disponibiliza glicose no sangue. Figura 19 – Glândula mista, pâncreas – no detalhe, as Ilhotas de Langerhans Créditos: Aldona Griskeviciene/Shutterstock. TEMA 5 – PRÁTICA – OBSERVAÇÃO DE LÂMINAS PERMANENTES DE TECIDO EPITELIAL Como o objetivo da nossa aula foi conhecer um pouco mais sobre o tecido epitelial, vamos observar lâminas permanentes de tecido epitelial de revestimento e glandular ao microscópio óptico (MO) (vídeo em anexo). Para isso, é essencial um roteiro para sua organização, o qual se encontra detalhado adiante. Com o roteiro em mãos, podemos nos preparar para anotar os aspectos relevantes e as principais características observadas. 22 5.1 Roteiro de aula prática – observando lâminas permanentes de tecido epitelial Objetivos: • Observar a constituição do tecido epitelial de revestimento, presente na lâmina 1 – pele de camundongo. • Identificar as principais características da lâmina 1, tais como: camada de queratina, epitélio estratificado, ausência de vascularização e células justapostas. • Observar a constituição do tecido epitelial de revestimento, presente na lâmina 2 – intestino, identificando as microvilosidades. • Observar a constituição do tecido epitelial glandular, presente na lâmina 3 – glândula exócrina, identificando a porção secretora e o ducto secretor. • Observar a constituição do tecido epitelial glandular, presente na lâmina 4 – glândula endócrina, identificando a porção secretora e os vasos sanguíneos. • Registrar, por meio de desenhos, o material observado em cada lâmina. Materiais: microscópio óptico e lâminas permanentes de tecido epitelial. Procedimentos: focalize, lâmina a lâmina, no microscópio óptico, e observe as principais estruturas de cada uma – conforme indicado nos objetivos, desenhando-as nas objetivas de 10 e 40, ou seja, na ampliação de 100 e 400 vezes, respectivamente. Registre e indique as principais características observadas em cada lâmina. Discussão: • Quais são as principais características observadas, que caracterizam o tecido epitelial? • Diferencie as lâminas observadas, elaborando um quadro comparativo. • Como são preparadas as lâminas permanentes? Descreva brevemente. Conclusão: elabore um parágrafo de conclusão sobre a aula prática indicando a importância da observação das lâminas permanentes de tecido epitelial para a compreensão das características desse tecido. 23 NA PRÁTICA • Com o intuito de compreender melhor a importância tecido epitelial, pesquise sobre as principais doenças relacionadas a ele. • O uso do ultrassom, em especial na estética, pode provocar alterações no tecido epitelial. Leia o artigo: Análise histológica em tecido epitelial sadio de ratos Wistar (in vivo) irradiados com diferentes intensidades do ultrassom, disponível em <http://www.scielo.br/pdf/rbfis/v14n2/aop010_10.pdf>, e anote suas conclusões referentes ao artigo. • A fim de compreender a estrutura das glândulas exócrinas, faça desenhos esquemáticos das suas formas secretoras, exemplificando-as. • As glândulas endócrinas e mistas constituem o sistema endócrino. Pesquise uma imagem desse sistema, indicando as principais glândulas, com o intuito de perceber sua localização no organismo. FINALIZANDO Figura 20 – Tecido epitelial CARACTERÍSTICAS: * Avascular * Justaposição * Lâmina basal ESPECIALIZAÇÕES: * Microvilosidades * Interdigitações * Junções * Cílios e flagelos EPITÉLIO DE REVESTIMENTO: * Número de camadas * Tipos de células * Funções EPITÉLIOS GLANDULARES: * Tipos de glândulas * Importância TECIDO EPITELIAL 24 REFERÊNCIAS ABRAHAMSOHN, P. Histologia. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. GARTNER, L. P. Atlas colorido de histologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. GLEREAN, A.; SIMÕES, M. I. Fundamentos de histologia para estudantes da área da saúde. São Paulo: Santos, 2013. JUNQUEIRA, L. C. U.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. MEDRADO, L. Citologia e histologia humana: fundamentos de morfofisiologia celular e tecidual. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014. ROSS, M. H.; PAWLINA, W. Histologia: texto e atlas. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
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