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A AVALIAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA PARA O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Mariluce Meurer1 Renata de Souza Franca Bastos de Almeida2 RESUMO Este artigo é o resultado final do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE e aborda a temática avaliação no contexto escolar tendo como principal objetivo conscientizar os educadores sobre a importância da avaliação como uma prática contínua, processual e complementar ao processo de ensino aprendizagem tendo como finalidade auxiliar na reflexão sobre a prática pedagógica, não se resumindo apenas ao ato de medir e atribuir nota ao aluno. O presente artigo apresenta a importância de repensar constantemente as práticas avaliativas para diagnosticar possíveis dificuldades, tanto dos alunos como do próprio professor enquanto mediador do conhecimento. O artigo aborda os seguintes itens: breve histórico sobre avaliação; modalidades de avaliação e suas respectivas funções; o papel da avaliação nos processos de ensino e aprendizagem, o relato da implementação do projeto de pesquisa que foi realizado no Colégio Estadual Nereu Ramos – EFM, no município de Manoel Ribas – Pr e, um breve relato do Grupo de Trabalho em Rede – GTR, aplicado a professores da Rede Estadual de Ensino através da modalidade de Ensino de Educação à Distância. Palavras chave: ensino; aprendizagem; prática docente; avaliação. Abstract:This article is the final result of the Educational Development Program (PDE) and addresses the theme of evaluation in the school context. Its main objective is to educate educators about the importance of evaluation as a continuous, procedural and complementary practice to the process of teaching learning, with the purpose of helping In the reflection on the pedagogical practice, not being limited to the act of measuring and assigning a note to the student. This article presents the importance of constantly rethinking the evaluation practices to diagnose possible difficulties, both of the students and of the teacher himself as mediator of knowledge. The article addresses the following items: brief evaluation history; Evaluation modalities and their respective functions; The role of evaluation in the teaching and learning processes, the report of the implementation of the research project that was carried out at the Nereu Ramos State College - EFM, in the municipality of Manoel Ribas - Pr, and a brief report of the Grup. , Applied to teachers of the State Education Network through the Distance Education Teaching modality. Keywords: teaching; learning; Teaching practice; evaluation. 1 Autora: Professora Pedagoga, Especialista em Educação, integrante do Programa PDE/2016 – SEED- PR. 2 Co-autora: Professora Especialista do Departamento de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina - UEL. Introdução Refletir sobre a prática da avaliação nas escolas continua sendo de suma importância para melhorar a qualidade da educação. A avaliação ainda é vista por muitos docentes como uma forma eficiente de controlar comportamentos e atitudes dos alunos, pois segundo Luckesi (2005) na Pedagogia Comeniana o medo é uma ferramenta para manter a atenção dos alunos. Apesar de ser um assunto bastante polêmico a avaliação da aprendizagem não tem acontecido de maneira coerente, ou seja, não se leva em conta o que o professor ensinou e nem o que o aluno aprendeu. A avaliação da aprendizagem escolar é muito mais do que atribuir notas ou conceitos, ela deve contribuir para a análise reflexiva da própria prática do professor, pois através da avaliação percebe-se os estágios de aprendizagem dos alunos, seus avanços, suas potencialidades e limitações. A avaliação deve ser um momento de reflexão sobre a prática de ensino, um momento de análise do processo educativo, no qual o professor possa analisar de que forma está se processando a aprendizagem do aluno, com qualidade ou com dificuldade, e a partir daí dar um novo enfoque ou mesmo subsidiar o trabalho do professor. Pode-se observar que a avaliação acaba tornando-se muito mais o cumprimento burocrático do sistema de atribuir uma nota ou conceito no final de cada bimestre, trimestre ou semestre para que os pais possam acompanhar a vida escolar de seus filhos através de um boletim e, para o professor no final do ano letivo, aprovar ou reprovar o aluno. Em muitos casos essa nota não condiz com o que de fato foi aprendido. A ideia de ―tirar nota para passar de ano‖ está tão enraizada em nossa cultura que muitas vezes, tanto alunos quanto professores, esquecem o objetivo principal da escola que é o de possibilitar a aquisição de conhecimentos e que estes, uma vez adquiridos, possam transformar a vida dos alunos e consequentemente a sociedade em que estão inseridos. Por esses motivos faz-se necessário uma constante reflexão sobre a prática avaliativa, para que aos poucos seja desmistificada a lógica de que avaliação serve apenas para ―medir conhecimentos‖ e que passe a ser vista como uma ferramenta que auxilie na melhoria da prática docente atingindo uma educação de qualidade. Breve histórico sobre a Avaliação Atualmente muito se fala em mudanças quanto aos métodos avaliativos, mas ainda se vê o prevalecimento da avaliação quantitativa sobre a qualitativa, ou seja, a nota que o aluno tira em determinada avaliação ainda é mais importante do que a qualidade do conteúdo que o aluno aprendeu. Para melhor compreensão sobre a evolução da avaliação educacional é necessário recorrer a um breve relato histórico. Segundo Gasparin, (1994,) no decorrer do século XVI, surge a Escola Moderna, cuja característica é o ensino simultâneo, ou seja, o professor ensina vários alunos ao mesmo tempo. As pedagogias produzidas pelos católicos (Companhia de Jesus) e pelos Protestantes (Jhon Amós Comenius) deram forma aos atuais exames escolares que hoje são praticados em nossas escolas sem que haja consciência se esta é a melhor maneira de trabalhar com nossos alunos. Essa herança histórica se perpetua com o nome de avaliação. Conforme Luckesi (2009, p. 01) Nas primeiras décadas do século XX, a maioria das atividades que eram apontadas como forma de avaliação educacional, estava ligada à aplicação de testes. A educação do século XXI é herdeira da educação do século XVII, isso pode ser percebido em documentos, como o Ratio Studiorum. O termo ―Avaliação da Aprendizagem‖ é atribuído originalmente a Ralph Tyler (1930), educador norte-americano. Já se afirmava então que ―o processo de avaliação servia para determinar em que medidas os objetivos educacionais estavam sendo alcançados, porém a prática continuou a ser baseada em provas e exames‖ (LUCKESI, 2001, p. 170). No início de 1960, nos Estados Unidos, surgiram inúmeros modelos de avaliação. No Brasil, apenas a partir de 1970, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases, Lei 5692/71, houve grande avanço em relação ao tema, especialmente por meio de pesquisas que buscavam melhor qualidade de ensino e processos avaliativos mais justos e coerentes com os objetivos. De 1930 a 1950 a educação sofre grande influência do desenvolvimento econômico e deveria preparar mão de obra qualificada para trabalhar nas indústrias e aumentar a produtividade. No período de 1950 a 1970 a concepção de avaliação tecnicista passa a ser criticada pelos estudiosos por gerar um ambiente de competição e classificação entre os alunos, pois os mesmos eram conhecidos apenas pela nota que atingiam, dessa forma, segundo Luckesi (2005, p. 24) ―a relação professor- aluno passa a ser uma relação entre coisas: as notas. É a nota que domina tudo; é em função dela que se vive na prática escolar.‖ Os estudiosos passam a refletir sobre um modelo de avaliação que dê ênfase às capacidades do aluno e que seja significativa para sua aprendizagem. A Lei 5.692 de 11 de agosto de 1971salienta: A verificação do rendimento escolar ficará, na forma a regimental, a cargo dos estabelecimentos, compreendendo a avaliação do aproveitamento e a apuração de assiduidade. § 1° Na avaliação do aproveitamento, a ser expressa em notas ou menções, preponderarão os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e os resultados obtidos durante o período letivo sobre os da prova final, caso esta seja exigida. § 2° O aluno de aproveitamento insuficiente poderá obter aprovação mediante estudos de recuperação, proporcionados obrigatoriamente pelo estabelecimento. §3° Ter-se-á como aprovado quanto à assiduidade: a) o aluno de frequência igual ou superior a 75% na respectiva disciplina, área de estudo ou atividade; b) o aluno de frequência inferior a 75%, que tenha obtido aproveitamento superior a 80% da escala de notas ou menções adotadas pelo estabelecimento; c) o aluno que não se encontre na hipótese de alínea anterior, mas com frequência igual ou superior ao mínimo estabelecido em cada sistema de ensino pelo respectivo Conselho de Educação, e que demonstre melhoria de aproveitamento após estudos a título de recuperação. § 4° Verificadas as necessárias condições, os sistemas de ensino poderão admitir a adoção de critérios, que permitam avanços progressivos dos alunos pela conjugação dos elementos de idade e aproveitamento. (BRASIL, 1971). De acordo com o citado na Lei 5.692/71, percebe-se que o conhecimento continua a ser mensurado por meio de notas com o objetivo de classificar os estudantes de acordo com o que era estabelecido pelo sistema de ensino e pelo governo. Em 1980, aconteceu a I Conferência Brasileira de Educação com o objetivo de construir um Sistema Nacional de Educação, cabendo a esse sistema ―[...]assumir o papel de articulador, normatizador e coordenador dos sistemas de ensino (federal, estadual e municipal), garantindo diretrizes educacionais comuns e mantendo as especificidades de cada um‖. (Conferência Nacional da Educação Básica, 1980, p. 4) Na década de 1980 já se pensava o potencial da avaliação para além de um instrumento seletivo capaz de ‗medir a aquisição de conteúdo‘ para reprovar ou permitir a continuidade dos estudos; ou seja, despontava seu potencial de contribuição para uma reflexão permanente sobre a realidade e para o acompanhamento, passo a passo, da trajetória do educando na construção do conhecimento. (HOFFMANN, 1993 p. 35). A aprendizagem passa a ser vista como uma construção social e histórica e o conhecimento passa a ser percebido de forma global, considerando os aspectos culturais, sociais, econômicos e históricos em que ocorre a aprendizagem. Conforme Luckesi (2014), um novo olhar sobre o sistema de avaliação iniciou-se pelo Ensino Superior. Em 1982, a Andes - Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior propôs a avaliação institucional, como um recurso subsidiário da melhoria do desempenho de cada instituição. Em 1983, o MEC institui o PARU – Programa de Avaliação da Reforma Universitária. Em 1993, foi criado o PAIUB – Programa de Avaliação Institucional da Universidade Brasileira. Em 1996, foi implantado o Exame Nacional de Curso, popularmente denominado ―Provão‖, que, em 2004, transformou-se no SINAES – Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior. Em termos de datas iniciais, seguimos pelo Ensino Básico. O Sistema de Avaliação do Ensino Básico — SAEB — foi criado em 1988, com sua primeira aplicação em 1990, que, do ponto de vista da avaliação da educação no país, sofreu os aperfeiçoamentos com a Prova Brasil (2005) e com o IDEB — Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (2007). Por último, chegamos ao Ensino Médio. Em 1998, foi implantado o ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio; cuja expressão atual decorre do denominado ―novo Enem‖ (2009). (LUCKESI, 2014) Através desse resgate histórico pode-se perceber que os alunos deixaram de ser vistos como os únicos responsáveis pelo sucesso ou fracasso escolar, pois o sistema de ensino também pode fracassar. A avaliação da aprendizagem nos permite acompanhar os alunos individualmente em suas aprendizagens, carências e necessidades em seu percurso de formação, pois com os dados obtidos através das avaliações, pode-se pensar em diferentes formas para se chegar a resultados satisfatórios em relação à aprendizagem. Modalidades de avaliação e suas respectivas funções Embora haja muitas discussões sobre diferentes modalidades de avaliação, é a partir de 1990 que basicamente a avaliação passa a apresentar três funções: diagnosticar, controlar e classificar. De acordo com Haydt, (1994, p. 16), ―relacionadas a essas três funções, existem três modalidades de avaliação: diagnóstica, formativa e somativa‖. A avaliação diagnóstica identifica dificuldades e avanços no processo de aquisição de conhecimento e pode ser usada para classificar ou subsidiar a aprendizagem. Para Penna Firme (1994, p. 6) ―[...] as avaliações diagnósticas são conduzidas com o propósito de identificar as fraquezas e as potencialidades dos estudantes, com o intuito de informar futuras estratégias ao professor e ao aluno‖. Através do diagnóstico se chega à avaliação formativa, que tem como objetivo a promoção de sujeitos. Dessa forma, o ato de avaliar não serve como pausa para pensar a prática e retornar a ela. Mas sim como meio de julgar a prática e torna-la estratificada. De fato o momento de avaliação deveria ser um ―momento de fôlego‖ na escalada, para, em seguida, ocorrer a retomada da marcha de forma mais adequada, e nunca como um ponto definitivo de chegada, especialmente quando o objeto da ação avaliativa é dinâmico como, no caso, a aprendizagem. Com a função classificatória, a avaliação não auxilia em nada o avanço e o crescimento. Somente com a função diagnóstica ela pode servir para essa finalidade. (LUCKESI, 2005, p. 34-35). A avaliação formativa pressupõe desenvolver competências, ou seja, é um processo que ocorre de forma contínua, participativa, diagnóstica e investigativa. Através da avaliação formativa é possível verificar os avanços e dificuldades do aluno e dessa forma intervir agindo e redefinindo os rumos que devem ser percorridos fazendo considerações relevantes para reconstrução e aprimoramento do saber. A avaliação formativa é também emancipatória, pois oferece aos alunos a oportunidade de refletirem sobre seus avanços, levando em consideração as avaliações realizadas em diferentes momentos e de diferentes maneiras. Uma avaliação formativa ajuda o aluno a compreender e a se desenvolver. Colabora para a regulação de suas aprendizagens, para o desenvolvimento de suas competências e o aprimoramento de suas habilidades em favor de um projeto. Um professor comprometido com a aprendizagem de seus alunos utiliza os erros, inevitáveis, sobretudo no começo, como uma oportunidade de observação e intervenção. Com base neles, propõe situações- problema cujo enfrentamento requer uma nova e melhor aprendizagem, possível e querida para quem a realiza.(MACEDO, 2007, p. 118). Na avaliação somativa é possível proporcionar aos estudantes os chamados feedback, através deste, os alunos podem perceber o nível de aprendizagem alcançado e tentar atingir um nível maior de conhecimento, esse modalidade de avaliação também compara os resultados obtidos, visando a atribuição de nota. Para Haydt, (1997, p. 18) A avaliação somativa com função classificatória realiza-se ao final do curso, período letivo ou unidade de ensino, e consiste em classificar os alunos de acordo com os níveis de aproveitamento previamente estabelecidos, geralmente tendo em vista sua promoção de uma série para outra, ou de um grau para outro. Ao avaliar o educador tem em suas mãos a possibilidade de pensar em decisões e intervir de acordo com as reais necessidades do educando na busca da aprendizagem e do conhecimento. Atravésdos dados coletados o professor pode rever e replanejar sua metodologia com o intuito de melhorar o processo de ensino e aprendizagem, ou seja, o professor é responsável pelo processo avaliativo mediador e pela produção de conhecimento por parte do aluno. O acompanhamento que o professor deve fazer com seu aluno, vai além de apontar erros e acertos, deve ser um acompanhar no sentido de pesquisar e refletir sobre as soluções apresentadas pelos alunos, nesse sentido, o diálogo é muito importante. O diálogo possibilita o entendimento e a ―negociação‖, e então, nessa perspectiva, verificamos que não há erro, mas sim outro conhecimento, diferente do que estaríamos esperando em resposta à nossa pergunta. (LUCKESI, 2011, p. 204). Segundo Luckesi (2011), o diálogo é uma importante ferramenta na construção da aprendizagem, pois através das respostas dadas pelos alunos podem-se criar novos argumentos que levam a novas discussões que por consequência enriquecem a prática educativa na elaboração de novos conhecimentos. O grande desafio na prática da avaliação é desenvolver um processo mediador que atinja as expectativas dos alunos, aproximando-o intelectualmente do professor. Devido a isso a avaliação deve existir enquanto aproximação de ideias articuladas e veiculadas nessa sequência de aprendizagem, ou seja, a avaliação deve ser o momento de investigação do professor e, o ponto de interrogação e de reflexão que leva à ação. Quando o professor realmente avalia o aluno, está acolhendo-o e incluindo-o, subsidiando seus estudos e orientando sua aprendizagem. Nessa perspectiva a avaliação cumpre seu papel de possibilitar a construção ou o aperfeiçoamento do saber, ou seja, conforme Hadji, (2001, p. 15) ―(...) tem o objetivo legítimo de contribuir para o êxito do ensino, isto é, para construção de saberes e competências pelos alunos‖. No ato de avaliar, professor e aluno devem aprender; o professor no sentido de perceber quais os limites e o conhecimento que o aluno já possui e, o estudante no sentido de verificar quais são suas dificuldades em relação ao conteúdo que está sendo trabalhado. Nessa perspectiva de avaliação, no seu sentido real, o professor tem a função de analisar todas as ações do aluno no momento em que o mesmo está realizando a avaliação e, em seguida fazer considerações que sejam relevantes para o processo de reconstrução de ideias e aprimoramento do saber mas, para que isso ocorra de maneira satisfatória, o professor precisa utilizar instrumentos avaliativos diversificados, levar em consideração e respeitar as características individuais de seus alunos, ou seja, (...) a avaliação como crítica de percurso, é uma ferramenta necessária ao ser humano no processo de construção dos resultados que planificou produzir, assim como o é no redimensionamento da direção da ação. A avaliação é uma ferramenta da qual o ser humano não se livra. Ela faz parte do seu modo de agir e, por isso, é necessário que seja usada da melhor maneira possível. (LUCKESI, 2005, p. 118-119). O papel da avaliação nos processos de ensino e aprendizagem A avaliação escolar é um compromisso social que deve proporcionar aos alunos o acesso aos conhecimentos sistematizados e aos bens culturais, mas dependendo da maneira como é utilizada, a avaliação pode se aproximar ou se afastar desses objetivos. A avaliação deve conduzir a uma tomada de decisão e contribuir para uma reflexão permanente sobre a realidade e para o acompanhamento da trajetória do aluno na busca pelo conhecimento. A avaliação é um exercício de reflexão, capacidade única e exclusiva do ser humano, de pensar os seus atos, de analisá-los, interagir não só com o mundo, mas também com os outros seres, e de influenciar na tomada de decisões e transformação da realidade. Desta forma, pode contribuir para o aluno ―ter a consciência do inacabado do ser humano, impulsionando os sujeitos à invenção da existência, à criação de um mundo não natural na busca de superação dos desafios postos pela própria existência, levando-os assim à construção contínua da cultura, da história, da sociedade‖ (FREIRE, 2000 apud CIPRIANO, 2007, p.48) As salas de aula precisam deixar de ser espaço de transmissão de conteúdos com técnicas de avaliação meramente classificatórias e tornarem-se espaço de conhecimento onde professores e alunos sejam vistos como sujeitos ativos, capazes de construir e modificar ideias. A avaliação na sala de aula tem que estar para além do autoritarismo‖ fundamentada numa concepção de conhecimento, sociedade e educação, que possibilite ampliar a compreensão do processo avaliativo para além da verificação. O autoritarismo da avaliação exclui ou ignora um fazer com a responsabilidade pelo aprender. Ela não é para dominar, não é para o professor, mas para a emancipação do aprendiz. [...] (LUCKESI, 1980 apud CIPRIANO, 2007, p. 45). O professor deve usar a avaliação como um meio que leve os alunos a pensar, refletir sobre o que estão aprendendo e, dessa forma orientar suas ações, fazendo da avaliação um momento de participação do aluno, levando-o a identificar suas dificuldades e necessidades e, a partir dessa verificação conduzi- lo à aquisição de novas competências. Ao ter seus objetivos claramente definidos, o professor consegue preparar bem suas aulas, levando em consideração e analisando os conteúdos curriculares propostos e verificando se estes são relevantes para a realidade na qual seus alunos estão inseridos. Para Libâneo, (1994, apud BARBOSA, 2016, p. 2) A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Através dela os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos a fim de constatar progressos, dificuldades e reorientar o trabalho para as correções necessárias. A principal preocupação que o professor dever ter é se a avaliação está levando seu aluno ao crescimento e, se os objetivos propostos estão sendo atingidos. Avaliar é um processo que exige compromisso e responsabilidade, a avaliação deve contribuir para a compreensão das necessidades e dificuldades dos alunos, com o objetivo de rever, mudar e adotar ações que favoreçam o desenvolvimento integral do aluno, bem como levar professores e estudantes a compreenderem de forma mais organizada o processo de ensinar e aprender, sendo utilizada dessa forma, a avaliação perde seu caráter de ser punitivo e classificatório. A prática avaliativa deve ser planejada a partir das interações que ocorrem no interior da sala de aula com os alunos e de acordo com as possibilidades de entendimento dos conteúdos que estão sendo abordados; ao pensar nos instrumentos de avaliação o professor deve verificar se a linguagem utilizada está sendo clara e objetiva, se há um contexto bem elaborado, se o conteúdo é significativo para o aluno que está sendo avaliado, se está coerente com os objetivos do ensino e se explora a capacidade de leitura e de escrita do aluno. O principal objetivo da avaliação é fornecer informações acerca das ações da aprendizagem e, por esse motivo, não pode ser realizada apenas no final do processo, pois dessa forma o seu objetivo principal, que é a aprendizagem do aluno, acaba se perdendo. Para Luckesi (2008, p. 176) ―defino avaliação como um ato amoroso no sentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo e inclusivo‖, ou seja, o ato de avaliar deve proporcionar oportunidades para que professor e alunos possam interagir com o objetivo de fazer com que os educandos assimilem novos conhecimentos. O professor deve avaliar de diferentes maneiras e em diversos momentos pois, dessa forma, a avaliação deixa de ser um momento terminal do processo educativo para se transformarna busca incessante da compreensão das dificuldades do educando e na dinamização de novas oportunidades de conhecimento.(HOFFMANN, 2008, p. 19). Ao se caracterizar como um processo contínuo, a avaliação passa a ser auxiliar do crescimento, pois visa diagnosticar as dificuldades dos alunos e orientar os professores quanto à metodologia que deve ser empregada para que haja a real construção da aprendizagem, dessa maneira o professor passa a ser o mediador entre o aluno e o saber. A avaliação se destina ao diagnóstico e, por isso mesmo, à inclusão; destina-se à melhoria do ciclo de vida. Deste modo, por si, é um ato amoroso. Infelizmente, por nossas experiências histórico-sociais e pessoais, temos dificuldades em assim compreendê-la e praticá-la. [...]. É uma meta a ser trabalhada, que, com o tempo, se transformará em realidade, por meio de nossa ação. Somos responsáveis por esse processo. (LUCKESI, 2005, p. 180). Assim, é necessário que o professor conheça bem seu aluno em relação ao seu desempenho durante todas as etapas do processo educativo, ao comparar as informações que possui com as habilidades que ainda precisam ser desenvolvidas em relação aos conteúdos, o professor poderá tomar as decisões que possibilitem que os objetivos sejam alcançados. Dessa forma a avaliação deixa de ser um instrumento classificatório e passa a contribuir para o desenvolvimento do aluno. Ao analisar os resultados de uma avaliação, professor e alunos transformam a sala de aula em um espaço de discussão que favorece o processo de construção do conhecimento e, assim, a avaliação torna-se uma ferramenta de interação e de orientação, diagnosticando os avanços e dificuldades dos alunos e indicando ao professor os caminhos para replanejar sua ação pedagógica. A avaliação é um processo, e como tal deve ser encarada. Por isso ela deve fazer parte da sala de aula, sendo usada periodicamente como um dos aspectos integrantes do processo ensino-aprendizagem. Ao fazer uso conjugado das três modalidades de avaliação – diagnóstica, formativa e somativa-, com suas respectivas funções – diagnosticar, controlar e classificar - , o professor está garantindo a eficácia do seu ensino e a eficiência da aprendizagem. (HAYDT, 1997, p. 28). Fica evidente pensar numa prática avaliativa que permita o acompanhamento do desenvolvimento individual de nossos alunos, considerando toda diversidade que existe dentro de uma sala de aula e as possibilidades de crescimento de cada um, somente dessa maneira pode-se chegar a uma aprendizagem significativa. A prática avaliativa e educativa devem se constituir em ações que se complementem e que sejam significativas ao final do processo de ensino aprendizagem. A avaliação é parte do processo de ensino aprendizagem quando, segundo Hoffmann (2007), é concebida como um momento de questionamento e como ponto de partida para a reflexão sobre a ação e, para Canen (2009, p. 43) ―ela envolve sentimentos, autoestima, filosofia de vida, posicionamento político‖. Para que realmente seja mediadora, Hoffmann (1993, p. 56) aponta alguns princípios coerentes a essa prática: oportunizar aos alunos muitos momentos de expressar sua ideias; oportunizar discussões entre os alunos partir de situações desencadeadoras; realizar várias tarefas individuais, menores e sucessivas, investigando teoricamente, procurando entender razões para as respostas apresentadas pelos estudantes; ao invés do certo/errado e da atribuição de pontos, fazer comentários sobre as tarefas dos alunos, auxiliando-os a localizar as dificuldades, oferecendo-lhes oportunidades de descobrirem melhores soluções; transformar os registros de avaliação significativas sobre o acompanhamento dos alunos em seu processo de construção de conhecimento. Sendo assim, a avaliação da aprendizagem passa a servir de mecanismo para que o professor possa detectar as dificuldades dos alunos, bem como verificar quais possibilidades esse aluno apresenta para construir novos conhecimentos e atingir os objetivos propostos pelo professor em sua prática educativa. Relato da Implementação do Projeto de Pesquisa Durante o ano de 2016 (dois mil e dezesseis) foram realizadas 40 horas de atividades de Inserção na Escola, no Colégio Estadual Nereu Estadual Nereu Ramos – EFM, na cidade de Manoel Ribas, Núcleo Regional de Educação de Ivaiporã. Essas atividades aconteceram da seguinte forma: reuniões com a Equipe Gestora e Equipe Pedagógica para o Planejamento de espaço e tempo para a construção do Projeto de Intervenção Pedagógica e da Produção Didático Pedagógica, reuniões com o Conselho Escolar para análise e aprovação do Projeto de Pesquisa e da Produção Didático Pedagógica, estudo do Regimento Escolar (sistema de avaliação da Instituição de Ensino), diálogo com a Equipe Gestora, Pedagógica e Professores sobre o tema do projeto para planejamento das ações que subsidiaram a Produção Didático Pedagógica, estudo do Plano de Ação da Instituição de Ensino e estudo/análise do Projeto Político Pedagógico. Durante as atividades de Inserção na Escola, houve excelente receptividade por parte da Equipe Diretiva, Equipe Pedagógica e Professores quanto ao tema abordado, inclusive sugerindo materiais que poderiam enriquecer as atividades a serem trabalhadas. Para a elaboração deste projeto, houve a necessidade de muita pesquisa para o embasamento teórico explicitando as concepções sobre avaliação sobre o olhar de diversos autores como Vasconcellos, Hadji, Haydt, Hoffmann, Saviani, Luckesi, Libâneo entre outros. A pesquisa foi realizada em livros, periódicos, artigos, teses e dissertações, procurando analisar de que maneira a avaliação pode contribuir para o trabalho do professor, deixando de lado seu caráter meramente classificatório. Após a elaboração do Projeto, deu-se início à Produção Didático Pedagógica que é uma atividade teórica e prática elaborada em conformidade com os requisitos para a participação no Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, que integra as ações do Projeto de Intervenção Pedagógica. A Implementação do Projeto de Pesquisa foi realizada no Colégio Estadual Nereu Ramos – EFM, no município de Manoel Ribas, onde participaram a Equipe Diretiva, Equipe Pedagógica e Professores. A Implementação do Projeto aconteceu em um Grupo de Estudos com carga horária de 32 (trinta e duas) horas, distribuídas no mês maio de 2017 (dois mil e dezessete) nas terças- feiras, quintas-feiras e sábados. As atividades foram realizadas através de leituras de textos, vídeos, debates, reflexões e questionamentos relevantes dentro do tema avaliação. O que se propôs com a Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica foi colaborar com a prática docente, levando os educadores à reflexão lhes permitindo rever as práticas avaliativas, renovar alguns conceitos, analisar critérios e instrumentos avaliativos, bem como colocar a avaliação como parte do processo escolar visando o sucesso do aluno, e não mais como atividade que se encerra em si mesma pois, sabe-se que as questões relacionadas à avaliação são complexas e geram muita polêmica e que as mudanças necessárias não acontecerão de forma imediata, cabendo às instituições que trabalham com a formação de professores darem maior importância ao tema avaliação, pois de nada adianta se falar em avaliação como meio de enriquecer a aprendizagem, se esse discurso permanecer apenas na teoria. Relato: Grupo de Trabalho em Rede – GTR Durante o primeiro semestre de 2017, ocorreu o Grupo de Trabalho em Rede – GTR, com a participação de vinte cursistas da Rede Estadual de Ensino do Paraná, através da modalidade de Educação à Distância. Esse Grupo de Trabalho teve como principal objetivo compartilhar a pesquisa realizada pelo Professor PDE durante o primeiro ano do programa, discutindo o tema da pesquisa,compartilhando experiências, bem como aprimorar o estudo do mesmo. Durante a realização do GTR, com as discussões sobre o tema, ficou evidente a preocupação dos educadores em relação à maneira como a avaliação ainda vem sendo conduzida em nossas escolas, percebe-se que o conhecimento continua a ser mensurado através de notas com o objetivo de classificar os estudantes de acordo com o que é estabelecido pelo sistema de ensino. Mesmo com tantas mudanças no âmbito educacional, ainda prevalece em nossas escolas a prática do exame escolar que leva em conta somente o conhecimento que o aluno adquiriu até o momento, deixando de lado os encaminhamentos necessários para que haja a recuperação da aprendizagem desse aluno. Os educadores criticam a maneira como a avaliação vem sendo utilizada em nossas escolas, mas ao mesmo tempo, continuam agindo de acordo com as exigências do sistema burocrático de ensino e acabam reduzindo a avaliação a apenas um momento que parece não fazer parte do processo de ensino e aprendizagem, ou seja, a avaliação da aprendizagem apenas reflete o poder de uma sociedade liberal e capitalista que valoriza a memorização e a reprodução do conhecimento através do registro de resultados. Os educadores sabem da importância da avaliação para os processos de ensino e aprendizagem, os mesmos têm consciência de que devem usar a avaliação como um meio que leve os alunos a pensar, refletir sobre o que estão aprendendo, e que devem orientar suas ações, fazendo da avaliação um momento de participação do aluno, levando-o a identificar suas dificuldades e necessidades e a partir dessa verificação conduzi-lo à aquisição de novas competências. De acordo com os cursistas, o Grupo de Trabalho em Rede colaborou para rever as práticas e instrumentos avaliativos, trocar experiências, deixando ainda mais evidente a necessidade de mudança, considerando que a avaliação está presente na prática do professor e que deve ser vista como um instrumento que realmente possa contribuir para a construção do conhecimento do aluno. Considerações Finais Com a realização deste estudo, ficou evidente que a avaliação ainda vem sendo utilizada como meio de classificar nossos estudantes, pois é necessário atribuir nota ao aluno para que o mesmo seja aprovado para o ano seguinte, uma vez que isso é uma exigência do nosso sistema de ensino. É fundamental transformar a prática avaliativa em prática de aprendizagem e os educadores precisam perceber que a avaliação é uma condição para mudança da prática e para o redimensionamento do processo de ensino aprendizagem, ela faz parte do processo de aprendizagem, portanto, não deve ser utilizada apenas como um momento de verificação, mas sim como uma prática formativa. É necessário pensar numa prática avaliativa que permita o acompanhamento do desenvolvimento individual de nossos alunos, considerando toda diversidade que existe dentro de uma sala de aula e as possibilidades de crescimento de cada um, somente dessa maneira pode-se chegar a uma aprendizagem significativa. A prática avaliativa e educativa devem se constituir em ações que se complementem e que sejam significativas ao final do processo de ensino aprendizagem, a avaliação deve servir de mecanismo para que o professor possa detectar as dificuldades dos alunos, bem como verificar quais possibilidades esse estudante apresenta para construir novos conhecimentos e atingir os objetivos propostos pelo educador em sua prática pedagógica. O professor é verdadeiramente mediador quando começa seu trabalho a partir do que o aluno sabe, isto é, o ponto de partida deve ser a avaliação diagnóstica, objetivando auxiliar o aluno no seu desenvolvimento pessoal. A avaliação deve ser um momento de reflexão sobre a prática de ensino, um momento de análise do processo educativo, no qual o professor pode verificar de que forma está se processando a aprendizagem do aluno, com qualidade ou com dificuldades, ou seja, a avaliação deve ser encarada como uma reorientação, pois a mesma só fará sentido quando levar o educando à uma aprendizagem que seja realmente significativa, dessa forma a avaliação estará cumprindo sua real função, sendo reflexiva, crítica e emancipatória. REFERÊNCIAS BARBOSA, Maria R. L. da S.; MARTINS, Angélica P. R. Avaliação: Uma prática constante no processo de ensino e aprendizagem. 2016. Disponível em <http://catolicaonline.com.br> Acesso em 10 maio 2016. BRASIL. Documento Referência da I Conferência Nacional da Educação Básica, Rio de Janeiro: 1980. ________.Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: n. 4024/61. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: 1961. ________. 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