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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA COMISSÃO DE GRADUÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO IMPLEMENTAÇÃO DE SOLUÇÃO DE BUSINESS INTELLIGENCE EM UMA EMPRESA DE INTELIGENCIA COMERCIAL EDUARDO PATRICK DALCIN DA COSTA Orientador: Prof. Dr. Marcelo Nogueira Cortimiglia Dr. (PPGEP/UFRGS) PORTO ALEGRE 2022 3 1. INTRODUÇÃO Em um passado recente, verifica-se que os dados de negócios, em geral, eram coletados e estruturados de forma simples e intuitiva, após terem sido coletados por empresas administradoras de sistemas e, depois, armazenados em Sistemas de Gerenciamento de Bancos de Dados Relacionais. As técnicas analíticas utilizadas em tais sistemas foram predominantes na década de 1990 e se apresentavam, por exemplo, sob a forma de relatórios, fichas de controle, inteligência de negócios com base em pesquisa, processamento de transações online, visualização interativa, modelagem preditiva e mineração de dados (Chen et al., 2014). Atualmente, as organizações operam em um ambiente dinâmico e complexo, enfrentando diariamente uma gama de incertezas, riscos e oportunidades de negócio, as quais influenciam na escolha das estratégias, na definição dos objetivos e no processo de tomada de decisão. Conforme relatório publicado no ano de 2020 pela IDC Corporation, estima- se que entre o período de 2005 a 2020 o universo digital cresceu cerca de 300 vezes, sendo a tendência, após o período, que este volume dobre a cada dois anos. Este volume de dados traz mudanças também na metodologia da tomada de decisão nas empresas, que passam a evitar decisões que possam partir de influências pessoais, optam, assim, por aquelas regidas por dados. Um estudo da McKinsey (2010) sobre mil grandes negócios demonstrou que quando as organizações trabalham para reduzir o efeito do viés pessoal em seus processos de tomada de decisão, estas obtiveram retornos até 7% maiores. Dessa forma, segundo Musskopf (2017), para uma organização manter-se competitiva, é necessário que as empresas aumentem e melhorem o uso das informações internas e externas, bem como seus processos e tecnologias. Da mesma forma, seguindo esta tendência presente em todos os segmentos de mercado, Locke et al. (2000) ressalta que a rápida expansão da internet criou um novo tipo de identidade corporativa que busca a oportunidade de personalizar o marketing. Nesse contexto, surgiram uma série de abordagens estratégicas de Marketing, tais como o Outbound e Inbound Marketing (Marketing de Atração), além da Smarketing, uma recente proposta estratégica que promove a integração e coordenação entre o departamento de vendas e de marketing. Ao mesmo tempo em que essa expansão é considerada positiva ao colocar o Marketing em uma posição 4 vital à sobrevivência das empresas, ao contrário de ser tratado apenas como um mecanismo de promoção, tal visibilidade também trouxe à tona uma das maiores dificuldades do setor: a de mensuração. Conforme sugere Almeida (2015), a aplicação de modelos e métricas de marketing, tão negligenciados na área, se apresenta como um pilar fundamental para unir a demanda pela compreensão dos fenômenos mercadológicos e a busca por modelos gerenciais academicamente significativos. Sendo assim, à medida em que o acesso a grandes volumes de dados crescerá consideravelmente, torna-se extremamente necessário para as empresas a estruturação e implementação de uma infraestrutura de dados consistente. Caso uma organização não esteja preparada para coletar e analisar criticamente os dados gerados tanto interna quanto externamente, ela estará fadada a sofrer com perdas de oportunidades de negócio, processos internos confusos e a pouca ou nenhuma rastreabilidade de suas informações, o que prejudica, até mesmo, a usabilidade das ferramentas já implementadas. Além disso, outro problema enfrentado é o da incerteza e falta de confiabilidade nas informações obtidas de múltiplas origens de dados, além do risco inerente a falhas causadas pelo manejo manual destas informações. A partir disso, dentre as estratégias que contemplam as metodologias de estruturação de dados, a CRISP-DM fornece uma abordagem estruturada para o planejamento de projetos de Mineração de Dados reunindo melhores práticas para que este processo seja o mais produtivo e eficiente possível. O próximo passo, diante da necessidade de que tal extração seja eficiente e eficaz na geração de valor agregado, é a transformação dos dados em conhecimento, que consiste em um processo no qual a informação especializada é extraída e apresentada, de forma prática, em um formato adequado a sua interpretação e uso. O processo de transformação é viabilizado através da implementação de uma arquitetura de Business Intelligence (BI), em português, Inteligência de Negócios, a qual surgiu como uma contributiva tecnológica de gestão visando que as informações úteis no apoio ao processo de tomada de decisão sejam eficientemente utilizadas. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo geral a implementação de uma solução de Business Intelligence (BI) que forneça recursos necessários ao suporte no processo de decisão em uma empresa que fornece serviços de Inteligência Comercial. 5 O entendimento do negócio e requisitos do projeto foi definido a partir da utilização da metodologia CRISP-DM, sendo concretizado através de uma arquitetura de BI e posterior disponibilização de uma Dashboard confiável e eficiente no suporte a tomada de decisão. Dessa forma, será possível a melhor compreensão dos processos do negócio, o aprimoramento do planejamento estratégico e da gestão do conhecimento. Diante disso, estabeleceram-se como principais objetivos desta dissertação os seguintes: • Compreensão e análise crítica do fluxo dos processos estudados, em conjunto com a gestão, para devida identificação dos problemas enfrentados e definição dos requisitos do projeto; • Estruturar a fonte de dados e centralizar as informações de maneira que estas sejam base para futuras decisões estratégicas; • Desenvolver um modelo de limpeza e aprimoramento na qualidade dos dados armazenados através do processo ETL (Extração, Transformação e Carga) • Implementação de uma Dashboard de acompanhamento das métricas e indicadores operacionais a partir de um controle periódico do volume de dados gerado; O trabalho está organizado em 5 capítulos correlacionados. O Capítulo 1, Introdução, apresentou por meio de sua contextualização o tema proposto neste trabalho, bem como foram estabelecidos os resultados esperados por meio da definição dos objetivos. O Capítulo 2 apresenta a fundamentação teórica e o capítulo 3 apresenta a metodologia na qual o projeto fora desenvolvido. No Capítulo 4, são tecidas as conclusões do trabalho, relacionando os objetivos identificados inicialmente com os resultados alcançados. São ainda propostas possibilidades de continuação da pesquisa desenvolvida a partir das experiências adquiridas com a execução do trabalho. O capitulo 5 estrutura as referências bibliográficas. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. ESTRATÉGIAS DE MARKETING Segundo Kotler (2002), marketing é o conjunto de atividades humanas que tem por objetivo facilitar e consumar relações de troca. Na realidade atual, em que os 6 produtos são cada vez mais atraentes e o mercado é tão competitivo, esse conceito se atrela a uma soma de atividades específicas de planejamento, criação, elaboração de produtos ou serviço visando satisfazer as necessidades dos nichos de mercado. O Outbound Marketing, ou Marketing Tradicional, caracterizam-se por ações advindas de iniciativas da própria empresa, independentemente de o potencial cliente ter recebido, anteriormente, um contato prévio. Usualmente, está estratégia é dividida em quatro categorias: impressão, transmissão, mala diretae telefone (telemarketing). (KIELING; HOFFMANN; BOEING. 2016). O telemarketing é considerado um dos métodos mais difíceis de se obter resultados, tendo em vista que existem, quanto a receptividade dos clientes, uma série de variações, amigáveis ou não, o que leva a necessitar, então, de um esforço maior nas campanhas para se obter o sucesso esperado. Segundo Peçanha (2018), o Inbound Marketing, em uma tradução livre marketing de atração, se baseia na ideia de criação e compartilhamento de conteúdo voltado a um público-alvo especifico, para que, assim, seja possível conquistar a permissão deste potencial cliente para uma comunicação mais direta. O smarketing é uma tendência de otimização que vem ganhando espaço entre as empresas nos últimos anos, a qual foi cunhada pela HubSpot no início dos anos 2000 e advém da junção entre “sales”, e “marketing”, ou seja, um alinhamento entre o departamento de Vendas e o departamento de Marketing. 2.1.1 FUNIL DE VENDAS De acordo com Ang & Buttle (2006), o funil de vendas representa o estado de evolução dos clientes de uma empresa, desde os potenciais clientes que podem estar interessados nos produtos ou serviços da empresa, até aos clientes que realmente pretendem comprar. Para compreender a posição do consumidor em relação à decisão de compra, o funil de vendas é segmentado em etapas que permitam a empresa auxiliar o cliente com a informação e o conteúdo que ele precisa no momento. Para um melhor entendimento das etapas do funil de vendas é importante o entendimento dos conceitos constantes na tabela 1 abaixo: 7 Tabela 1. Definições em Marketing e Vendas Termo Definição Prospects Cliente em potencial e que demonstrou interesse pelo produto ou serviço Lead Conjunto de informação útil, resultante da expressão de interesse num produto ou serviço por parte de um indivíduo. Também pode ser um contato encontrado em pesquisas por potenciais clientes Marketing Qualified Lead (MQL) Lead que atende aos parâmetros de qualificação e indicam potencial de negócio. O time comercial está em processo de apresentação do produto/serviço e buscando efetivar o agendamento de uma reunião. Sales Qualified Lead (SQL) Lead que cumpriu os requisitos voltados para vendas, culminando em pedido de contato comercial, ou seja, no agendamento de reunião comercial. Sales Accepted Leads (SAL) Ou Oportunidade Reunião comercial realizada. Cliente Lead que passou por todas as etapas do funil de vendas e fechará negócio. Fonte: Elaborado pelo autor Com base no funil de vendas tradicional descrito acima, os autores Järvinen & Taiminen (2016) apresentam um funil de Marketing e Vendas conjunto, no qual ambas áreas são considerados partes integrantes do processo. Figura 1. Funil do Marketing & Vendas Fonte: Serpa, Marco Manuel da Silva 2.2. BUSINESS INTELLIGENGE Na subseção 2.2, os temas Inteligência de Negócios (Business Intelligence – BI) são revisados através de pesquisa bibliográfica e respectivas abordagens metodológicas desenvolvidas por outros autores. 8 Atualmente, a sociedade encontra-se inserida no cenário em que são coletados, diariamente, quantidades massivas de dados, em que o crescimento exponencial do volume de dados é resultado do rápido desenvolvimento tecnológico. Segundo Lindon (2004), o crescimento do volume de dados tem impacto em todas as etapas do marketing, dando origem a novas oportunidades e ameaças à medida em que estas permitem reduzir custos, acrescentar produtividade aos serviços comerciais e de marketing, além de serem uma fonte significativa de inovação. As empresas têm a capacidade de armazenar os dados relativos à caracterização pessoal e comportamental dos seus clientes, através das interações nos diversos canais, tendo ao seu dispor todo o conhecimento necessário para personalizar a oferta e comunica- la ao cliente através do canal mais indicado, seja e-mail, telemarketing ou online. Quando analisados corretamente, esses dados transformam-se no mesmo conhecimento utilizado no atendimento tradicional, mas numa escala muito maior (Greenyer, 2000). A partir disso, Geiger (2005) define que o BI é o conjunto de processos, estrutura de dados e ferramentas analíticas utilizados para entender o ambiente do negócio da empresa, tendo como propósito de apoiar a análise estratégica, a tomada de decisão, bem como a gestão de conhecimento e a melhoria de processos. Concomitantemente, segundo (VUKŠIĆ; BACH; POPOVIČ, 2013), o BI disponibiliza aos seus usuários – principalmente, gestores e diretores – o suporte necessário através de uma interface que agrupa dados e informações de forma analítica e a partir disso, os usuários tem a capacidade de elaborar e analisar as informações para o processo de tomada de decisões. Em artigo publicado por Kurniawan, Yohannes & Gunawan, A. & Kurnia, Stephen. (2014), os autores propõem um conceito de BI para tomada de decisão com objetivo de apoiar a estratégia de mix de marketing (produto, preço, praça e promoção). Foi evidenciado que modelo de BI melhorou os processos de negócios de ponta a ponta, como, por exemplo: gestão de leads; entrega e campanhas de gestão de vendas. A partir disso, constatou-se o aumento o volume e a qualidade das ofertas com os clientes através do direcionamento dos novos clientes em potencial. Além disso, tornou possível a visualização dos resultados em tempo real por meio de relatórios gerenciais e painéis. 9 2.2.1 METODOLOGIA CRISP-DM O termo Cross Industry Standard Process for Data Mining (CRISP-DM), que em português significa Processo Padrão Inter-Indústrias para Mineração de Dados, é uma metodologia aplicada em várias organizações para aumentar o sucesso de projetos de DM. Os autores Han, Kamber, & Pei (2012) definem a expressão DM como a descoberta de algo valioso na exploração de um vasto conjunto de material bruto. Neste contexto, ela se materializa na descoberta de informação em um conjunto de dados em estado bruto. Sendo assim, esta metodologia propõe, através de uma sequência flexível de seis processos, a construção e implementação de modelo desenvolvido em acordo com problemas reais e com o objetivo de responder às necessidades das empresas e suportar as decisões de negócio (Chapman, et al., 2000). Segundo Witten e Frank (2005), a grande vantagem deste processo é o seu fluxo iterativo que permite que o resultado final seja completamente afinado e alinhado com os objetivos de negócio. Na figura 2 é apresentado o fluxo de processos do modelo CRISP-DM, como descrito por Chapman, et al. (2000). Na imagem, as setas indicam as dependências entre as fases que ocorrem mais frequentemente. O ciclo exterior representado simboliza o ciclo natural do próprio processo de DM, uma vez que o processo não é finalizado quando a solução for implementada. Os conhecimentos adquiridos, durante e após o processo, devem ser novamente incorporadas ao modelo, permitindo que os processos subsequentes se beneficiam das experiências e resultados obtidos anteriormente. 10 Figura 2. Ciclo de vida original do modelo CRISP-DM Fonte: adaptado de Chapman et al. (2000: 10) Em relação às seis fases macro apresentadas na Figura 3, estas podem ser sucintamente descritas do seguinte modo: Compreensão do Negócio: é a etapa inicial do projeto e considerada a mais importante. Ela garante que o projeto atenda às necessidades dos usuários e a entrega corresponda às expectativas do cliente, o que é primordial para a geração de valor (SMART VISION EUROPE, 2016). Assim, essa fase tem como foco identificar o problema a ser resolvido por meio de entrevistas junto ao cliente, de forma a estabelecer o objetivo do projeto como mais próximo possível de suas necessidades. Compreensão dos Dados: se inicia através da identificação da fonte de obtenção e de suas restrições técnicaspor meio de análises qualitativas visando a familiarização com a informação. Preparação dos Dados: representa a seleção e limpeza dos dados que serão utilizados, bem como a construção de novas variáveis consideradas necessárias ao model. Modelagem: aplicação de técnicas de modelagem em acordo com as regras de negócio anteriormente especificadas. 11 Avaliação: aferição das funcionalidades, objetivos e critérios de sucesso definidos nas etapas inicial. Como procedimentos podem ser lançadas versões iniciais para teste, feedback, revisão e correção de possíveis inconsistências verificadas. Implementação: definidos os planos de acesso e governança, bem como planos de manutenção, treinamentos e, consequentemente, a sistemática de apresentação dos resultados obtidos. 2.2.2 PROJETO DE BI Tendo em vista que, assim como as corporações levam tempo para absorver e implantar as melhores técnicas de marketing, elas também levam tempo para adquirir conhecimento necessário à implementação do BI. Dessa forma, a capacidade de uma organização em determinar suas necessidades BI e posteriormente implementá-la é uma parte essencial no amadurecimento do gerenciamento de BI e de marketing. Conforme evidenciado em artigo publicado pelos autores Stone, M. D., & Woodcock, N. D. (2014), à medida que o marketing interativo das corporações se torna mais sofisticado, a estrutura de BI necessária para apoiá-lo deve se tornar mais avançada, da mesma maneira com que os usuários de marketing devem se tornar mais hábeis no entendimento e uso da tecnologia de maneira independente. O planejamento e a governança aprimorados são necessários para evitar que conclusões errôneas sejam feitas devido à má compreensão da fonte de dados ou das análises e ferramentas utilizadas. Sendo assim, posteriormente à a aplicação da metodologia CRISP-DM, a qual promove as melhores práticas para que este processo seja executado de maneira mais eficiente e produtiva possível, a arquitetura de BI busca transformar o volume de dados coletados em informações úteis para tomada de decisão. 2.2.3 ARQUITETURA DO SISTEMA DE BI Em qualquer empresa ou sistema de informação, considera-se que os dados têm qualidade quando estes cumprem os requisitos de precisão, completude, consistência, credibilidade, representação temporal e interpretabilidade. (Han, Kamber, & Pei, 2012). Além disso, segundo Costa & Santos (2012), um sistema de BI deve oferecer interfaces que facilitem o entendimento dos dados, permitindo a manipulação, monitorização e compreensão destes. 12 A infraestrutura apresentada por Han, Kamber e Pei (2012) é composta por três níveis, os quais encontram-se apresentados na figura 3 e posteriormente descritos. Figura 3. Arquitetura e componentes de Business Intelligence Fonte: Han, Kamber e Pei (2012) 2.2.3.1.1 Nível Inferior Extração, Transformação e Carga (ETL): trata da limpeza, homogeneização e carga dos dados, levando em consideração que o valor agregado das informações não se encontra na extração, mas sim no tratamento desta. O principal objetivo desta etapa é melhorar a qualidade dos dados, corrigindo erros e valores nulos, de modo a serem transformados em informação útil para a organização. Data Warehouse (DW): armazenam os dados atuais e dados históricos provenientes de bases de dados operacionais, contemplando os recursos necessários ao suporte à tomada de decisão. 13 2.2.3.1.2 Nível Intermediário Online Analytical Processing (OLAP): Trata-se do processamento analítico em tempo real que permitem aos usuários finais analisar grandes quantidades de dados em diferentes dimensões, segmentações e perspectivas, sendo normalmente realizadas através de funcionalidades como sumarização, consolidação e agregação. 2.2.3.1.3 Nível Superior O nível superior representa os resultados do processo, no qual os dados são explorados através de diferentes ferramentas analíticas que permitem identificar tendências e padrões anteriormente desconhecidos. A informação relevante resultante é disponibilizada através de relatórios, gráficos e painéis de controle, comumente denominados Dashboards. Tendo em vista os conceitos apresentados, em sua tese Bianca Panico apresenta a CRISP-DM como abordagem metodológica para o desenvolvimento de uma plataforma de apoio à gestão na tomada de decisões. O projeto teve como objeto de estudo uma linha de manufatura de asas de avião, sendo consolidado através de uma plataforma que adquire, minera e exibe dados em tempo real referentes ao processo envolvido. Através da implementação da plataforma foi possível a utilização de Dashboards mais eficientes, além de se perceber, como resultado, o aumento de 147% na cadência mensal de produção, além de gerar uma economia estimada em, aproximadamente, U$170.000,00 em até dois anos. (Panico, 2020) Em projeto que teve como objeto de estudo um segmento corporativo de um banco privado, Ana Luiza Silveira Nunes buscou analisar os aspectos positivos e negativos da utilização de um painel de BI anteriormente implementado. A autora identificou, através de entrevistas estruturadas, que os usuários do sistema de BI consideravam que tais recursos não eram eficientemente utilizados na organização. Dessa forma, foi evidenciado como aspecto positivo que após o início do uso do painel o acompanhamento mensal da carteira se tornou mais assertivo e trouxe uma visão gerencial mais prática para embasar a análise estratégica e a tomada de decisão bem como possibilitou uma visão simplificada, objetiva e de fácil análise quanto à carteira de clientes do gerente. (Nunes, 2019) 14 3. METODOLOGIA Nesta seção, o cenário do estudo é descrito (3.1) e a classificação da pesquisa é realizada (3.2). Após, as etapas na condução e desenvolvimento do estudo são apresentadas (3.3)”. 3.1. DESCRIÇÃO DO CENÁRIO A organização objeto de estudo é considerada uma empresa de pequeno e médio porte (PME) e está inserida nos mercados de Marketing e Vendas. Além disso, foi fundada em março de 2019 por seus três sócios fundadores, que possuem mais de dez anos de experiência. A estrutura da empresa é totalmente digital, na qual seus cerca de 50 colaboradores trabalham em regime de teletrabalho. Os serviços de inteligência comercial são destinados a empresas que desejam encurtar e acelerar o seu ciclo de vendas por meio da prospecção e qualificação de leads. Utilizando-se das estratégias de Marketing Outbound e Social Selling, possuem uma carteira de cerca de 100 clientes, promovendo um impacto total no faturamento destes de mais de 50 milhões de dólares. Por uma questão de confidencialidade, não será divulgado o nome da empresa onde o estudo fora realizado. Para tal, conta com uma equipe de Lead Development Representative (LDR) para geração e organização das listas que contém o contato dos leads a serem prospectados, sempre em acordo com as características e a segmentação especificada pelos seus clientes no início do processo. Após a validação dos dados destas listas pela equipe de LDR, estas são encaminhadas a equipe comercial de Outbound Marketing, que tem como principal função entrar em contato estes leads através de telefones ou e-mails, buscando, assim, identificar oportunidades de vendas. O setor comercial é designado pela sigla BDR (Business Development Representative), sendo as métricas operacionais e de desempenho desta equipe o principal objeto de análise neste projeto. Ao final do processo, após a devida qualificação e demonstração de interesse de um lead no produto ou serviço, este é repassado ao time de vendas da empresa contratante. Atualmente, o maior desafio do processo de vendas é ter previsibilidade acurada de quantos leads são precisos para gerar um determinado número de novos clientes. Coe (2004b) e Blattberg (2008) apontam que taxas de conversão baixas15 fazem aumentar substancialmente o custo de aquisição por cliente. Desta forma, ter taxas de qualificação mais altas e previsíveis é importante, principalmente, para a diminuição da discrepância entre o que a área de marketing considera como lead qualificado (MQL) e o que a área de vendas aceita como lead qualificado (SAL). Nesse sentido, com o objetivo de angariar o máximo número de clientes, minimizando o investimento em campanhas de marketing, surge nas empresas uma maior preocupação com a qualificação de leads, com a eficiência dos processos e com o aumento das taxas de conversão. Atualmente, a empresa conta com uma solução tecnológica para a gestão destas campanhas. Esta contém as informações de contato dos leads selecionados, bem como uma sistemática para gestão destes através do funil de vendas. No entanto, não há definida uma estrutura sistematizada para acompanhamento dos indicadores operacionais gerados durante o processo de prospecção. Ainda que a seleção de leads seja realizada conforme segmentação prévia e apesar da solução permitir exportar relatórios de campanhas contendo os resultados de sua execução, estes dados não eram eficientemente utilizados no auxílio à tomada de decisão. A falta de elementos que permitam validar a integridade destes relatórios, tais como a confiabilidade, padronização e a interoperabilidade entre os sistemas utilizados, acaba por impossibilitar a análise eficiente destes dados visando a geração de conhecimento, acompanhamento de métricas e o suporte a tomada de decisão. Dessa forma, o tempo desprendido em análises manuais e ineficientes são altamente prejudiciais à empresa, tanto do ponto de vista financeiro quanto competitivo, pois acarreta em perdas de oportunidades de negócio e de produtividade. A empresa possui metas ambiciosas de aquisição de clientes no mercado brasileiro e latino americano para os próximos anos. Dessa forma, o presente trabalho foi realizado em conjunto com a gestão da empresa após estes identificarem a urgência da aplicação dos conceitos de BI ao suporte na tomada de decisão. 3.2. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA Segundo Andrade (2010, p. 109) “pesquisa é o conjunto de procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante a utilização de métodos científicos”. 16 Dessa forma, considerando o cenário exposto anteriormente, esta pesquisa classifica-se, quanto à natureza, como aplicada, uma vez que tem como finalidade a resolução de um problema específico através do desenvolvimento e implementação de uma solução de BI. Quanto à forma de abordagem do problema, esta é classificada como qualitativa, pois busca fonte direta para coleta de dados, interpretação de fenômenos e atribuição de significados através de reuniões com a gestão da empresa buscando identificar os requisitos do projeto. A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização. (GOLDENBERG, 1997) Quanto aos objetivos, trata-se de uma pesquisa descritiva, na qual, segundo Gil (2002), são utilizadas técnicas de coleta de dados, tais como questionários, mesma técnica utilizada neste trabalho. A pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987). Sendo assim, as técnicas de observação e coleta de dados padronizados, como questionários, permitem, assim, expor as características do processo objeto de estudo e ao final descrever a percepção da empresa acerca de possíveis melhorias providas através da implementação da ferramenta de BI. Quanto ao procedimento, esta classifica-se como uma pesquisa-ação, a qual, segundo Thiollent (2005), é caracterizada pela estreita cooperação entre os indivíduos pesquisados e o pesquisador. Nesse tipo de pesquisa, certa situação-problema, de abrangência coletiva, é investigada para, em discussão com as pessoas atingidas por um problema ou questão sobre causas, agentes, opções de reparo, ações, negociações e conflitos, chegar à resolução e gerar aprendizagem sobre o que se tratou. Sendo assim, foi realizado um estudo extensivo acerca das metodologias mais adequadas na resolução do problema, tendo como base para o resultado da pesquisa os experimentos realizados dentro da instituição. 3.3. ETAPAS DO TRABALHO A metodologia CRISP-DM permite garantir maior agilidade, segurança e viabilidade ao projeto, além de menores custos de execução e fornecer capacidade ajustar-se dinamicamente aos requisitos técnicos. Além disso, permite que o projecto 17 possa ser facilmente compreendido ou revisado, uma vez que as suas fases estão devidamente organizadas, estruturadas e definidas. Em relação às seis fases macro apresentadas nos próximos passos, estas podem ser sucintamente descritas conforme a figura abaixo: Figura 4. Ciclo de vida original do modelo CRISP-DM Fonte: adaptado de Chapman et al. (2000: 10) 3.3.1 COMPREENSÃO DO NEGÓCIO A etapa inicial e mais importante do projeto é a de Compreensão do Negócio, pois garante que este esteja alinhado às necessidades dos usuários e, consequentemente, a geração de valor através de uma entrega final que corresponda às expectativas do cliente. A coleta de dados é realizada através de entrevista abertas junto aos sócios e aos dois Analista de Negócios, que serão os usuários da ferramenta. A técnica de entrevista aberta foi a selecionada para que fosse possível obter, individualmente, não só os resultados propriamente ditos, mas também o máximo de informação possível sobre o tema e recolher a visão dos entrevistados, face às iniciativas implementadas. Através desta técnica de entrevista, foi possível obter o máximo de informação detalhada sobre o impacto das medidas adotadas, recolhendo dos entrevistados, detalhes e reflexões que são possíveis de recolher através deste método. (Souza Minayo & Costa, 2018) 18 Dessa forma, pode-se identificar o problema a ser resolvido e o estabelecimento dos requisitos e do escopo do projeto em acordo com a real necessidade da empresa. 3.3.2 COMPREENSÃO DOS DADOS O segundo estágio, Compreensão dos Dados, inicia com a identificação da fonte de obtenção dos dados, bem como suas qualidades e restrições técnicas, prosseguindo-se com as respectivas atividades de familiarização com estes, conforme as tarefas descritas abaixo: I. Fonte de dados: desta tarefa resulta uma lista dos dados adquiridos, a sua localização, os métodos de aquisição, problemas e soluções encontradas; II. Descrição dos dados: uma vez recolhidos os dados são necessários descrevê-los, reconhecer o seu formato e o número de registos nas tabelas; III. Exploração os dados: o resultado consiste em uma listagem inicial de hipóteses e o seu respectivo impacto no restante do projeto. Para uma melhor exploração utilizam-se, por exemplo, gráficos e histogramas, que indicam características dos dados; IV. Verificação da qualidade dos dados: relatório que inclui problemas de qualidade nos dados e possíveis soluções, buscando obter o feedback dos utilizadores para futura preparação. 3.3.3 PREPARAÇÃO DOS DADOS Através de ferramentas pertinentes ao próprio banco de dados em que as informações estão armazenadas, esta fase inclui a seleção de tabelas, registos e atributos, bem como a transformação e limpeza dos dados a usar na ferramenta de modelação, em acordo com os processos de ETL descritos anteriormente. 3.3.4 MODELAGEM Nesta etapa as informações coletadas são traduzidas em acordo com as regras de negócio por meio da aplicação de técnicas de modelagem, as quais permitirão a 19 geração de valor nas análises dos dados coletados. Nesta fase são contempladasas seguintes tarefas: I. Seleção de técnicas de modelação: a seleção da técnica mais apropriada deve ser realizada tendo em atenção o tipo de problema, objetivos e as ferramentas disponíveis; II. Definição de uma concepção de teste: é importante, antes de construir o modelo, definir um procedimento ou um mecanismo para testar o seu desempenho; III. Construção do modelo: uma vez selecionada a ferramenta de modelação, esta é aplicada ao conjunto de dados preparados anteriormente, o que permitirá a criação de um ou mais modelos. Os vários parâmetros das ferramentas de modelação devem ser ajustados e os modelos resultantes devem ser convenientemente interpretados e o seu desempenho explicado; IV. Revisão do modelo: a interpretação dos modelos deve ser realizada de acordo com o domínio do conhecimento, critérios de sucesso do projeto e com o mecanismo de teste definido. Na avaliação do sucesso da aplicação do modelo deve ser levada em consideração o impacto dos resultados deste no contexto do negócio. Dessa forma, os dados agora representam métricas que influenciam diretamente no processo da tomada de decisão, pois afetam a eficiência de processos. 3.3.5 AVALIAÇÃO A fase de avaliação consiste na validação da utilidade do modelo, na revisão dos passos executados durante a sua construção e a verificação se foram atingidos os objetivos propostos. 3.3.6 IMPLEMENTAÇÃO Esta etapa envolve a seleção, exploração, transformação, análises, modelagem e apresentação dos resultados obtidos através das metodologias implementadas. Através de uma Dashboard o online de BI web, o usuário final poderá interagir com os relatórios que irão conter dados estratégicos de forma agregada, 20 incluindo indicadores chave de desempenho. A visualização incluí relatórios interativos com dados traduzidos em gráficos, medidores e ilustrações para simplificar a comunicação de tópicos complexos. Além disso, elas permitem interações básicas que fornecem vários níveis de detalhes permitindo análises aprofundadas. A partir disso, é importante ressaltar que uma vez criado o modelo, este não representa o final do projeto. O conhecimento extraído deve ser organizado e apresentado de modo a que o utilizador o possa usar e analisar criticamente. Além disso, a definição dos planos de governança, manutenção e acesso à informação são essenciais para se manter a confiabilidade e a segurança das informações apresentadas. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, M. I. S. de. Modelos mercadológicos: uma reflexão para pesquisadores brasileiros sobre a natureza, escopo e alcance. Revista Interdisciplinar de Marketing, v.5, n.1, p. 95-101, 2015. AMARAL, Sueli Angélica do. Marketing da informação: abordagem inovadora para entender o mercado e o negócio da informação. Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 40, n. 1, p. 85-98, jan./abr., 2011. Ang, L., & Buttle, F. (2006). Managing for successful customer acquisition: An exploration. Journal of Marketing Management, 22, 295-317. Bodnar, k. (s.d.) 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