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Autores: Prof. Guilherme Bandeira Candido Martins Prof. Luiz Carlos da Silva Profa. Viviane Gadret Borio Conceição Colaboradores: Prof. Juliano Rodrigo Guerreiro Profa. Marília Tavares Coutinho da Costa Patrão Tecnologia de Cosmético Professores conteudistas: Guilherme Bandeira Candido Martins / Luiz Carlos da Silva / Viviane Gadret Borio Conceição © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M386t Martins, Guilherme Bandeira Candido. Tecnologia de Cosmético / Guilherme Bandeira Candido Martins, Luiz Carlos da Silva, Viviane Gadret Borio Conceição. – São Paulo: Editora Sol, 2022. 164 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Pele. 2. Radiação. 3. Maquiagem. I. Martins, Guilherme Bandeira Candido. II. Silva, Luiz Carlos da. III. Conceição, Viviane Gadret Borio. IV. Título. CDU 687.55 U515.83 – 22 Guilherme Bandeira Candido Martins Bacharel em Química (2009), mestre em Físico-química (2012) e doutor em Físico-química (2016) pelo Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ-UnB). Licenciado em Química (2018) pela Universidade Cruzeiro do Sul. Autor de vários artigos científicos nacionais e internacionais, incluindo um de capa. Possui três patentes no Inpi na área de análises físico-químicas, materiais, combustíveis alimentos e cosméticos, sendo uma delas já licenciada e comercializada. Leciona desde 2013 ministrando aulas para o Ensino Superior nos cursos de Química, Química Tecnológica, Farmácia, Biomedicina e Fisioterapia. Atuou também como analista no Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT-UnB). Professor na UNIP desde 2014. Luiz Carlos da Silva Farmacêutico-bioquímico (1987) e mestre em Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica (1994) pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP). É especialista em Farmácia Hospitalar pela Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (SBRAFH), tendo realizado estágio de três meses no Hospital La Paz de Madrid, Espanha. Trabalha desde 1987 como oficial farmacêutico do Hospital de Força Aérea de São Paulo, onde desenvolveu diversas atividades relacionadas a farmácia hospitalar, análises clínicas e gestão da qualidade hospitalar. Lecionou por 25 anos no curso de Farmácia da UMC e da Uniban. Desde 2010, atua como professor adjunto dos cursos presencial e EaD da UNIP. Viviane Gadret Borio Conceição Farmacêutica (2000) e especialista em Análises Clínicas (2001) pela Universidade Católica de Pelotas (RS). Mestre (2009) pela Universidade do Vale do Paraíba (SP) e doutora na área de Controle de Qualidade Farmacêutica pela Universidade Brasil, atual Anhembi Morumbi (2015). Farmacêutica magistral, trabalhou na área de oncologia no Hospital Santa Rita (complexo Santa Casa de Porto Alegre). Leciona há 14 anos na área de Farmácia e de Estética. Desde 2017, atua como professora na UNIP. Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vitor Andrade Aline Ricciardi Sumário Tecnologia de Cosmético APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 INTRODUÇÃO À COSMETOLOGIA E ELEMENTOS ANATOMOFISIOLÓGICOS DA PELE ................................................................................................................................................................... 11 1.1 Contexto histórico ............................................................................................................................... 11 1.2 Aspectos legais ...................................................................................................................................... 15 1.2.1 Legislação ................................................................................................................................................... 17 1.2.2 Nomenclatura das matérias-primas utilizadas em cosméticos ........................................... 19 1.3 Mercado de cosméticos ..................................................................................................................... 19 1.4 Elementos anatomofisiológicos da pele ..................................................................................... 21 1.4.1 Epiderme..................................................................................................................................................... 22 1.4.2 Derme .......................................................................................................................................................... 24 1.4.3 Hipoderme ................................................................................................................................................. 25 1.4.4 Anexos da pele ......................................................................................................................................... 25 1.4.5 Tipos de pele ............................................................................................................................................. 26 2 COSMECÊUTICOS ............................................................................................................................................. 28 2.1 Introdução ............................................................................................................................................... 28 2.2 Aspectos legais ...................................................................................................................................... 29 2.3 Mercado ................................................................................................................................................... 32 2.4 Características dos produtos ........................................................................................................... 32 2.5 Indicações de uso ................................................................................................................................. 34 2.6 Componentes e composição química .......................................................................................... 36 2.7 Formulações ........................................................................................................................................... 39 2.8 Considerações finais ............................................................................................................................ 40 3 PREPARAÇÕES COSMÉTICAS PARA HIGIENE E LIMPEZA ................................................................ 40 3.1 Preparo de sabão ..................................................................................................................................42 3.2 Preparo de sabonetes.......................................................................................................................... 44 3.3 Preparo de sabonete líquido ............................................................................................................ 46 3.4 Preparo de sais de banho .................................................................................................................. 46 3.5 Preparo de óleo para banho ............................................................................................................. 47 3.6 Formulações ........................................................................................................................................... 47 4 PREPARAÇÕES COSMÉTICAS PARA HIGIENE E TRATAMENTO CAPILAR .................................... 52 4.1 Xampus ..................................................................................................................................................... 54 4.1.1 Componentes dos xampus .................................................................................................................. 55 4.2 Condicionadores ................................................................................................................................... 65 4.3 Formulações ........................................................................................................................................... 67 Unidade II 5 RADIAÇÃO SOLAR, FILTROS SOLARES E BRONZEADORES .............................................................. 80 5.1 Introdução ............................................................................................................................................... 80 5.2 Legislação ................................................................................................................................................ 81 5.3 Mercado ................................................................................................................................................... 81 5.4 Histórico ................................................................................................................................................... 82 5.5 Luz solar e ultravioleta ....................................................................................................................... 84 5.5.1 Características da luz solar e ultravioleta ..................................................................................... 84 5.5.2 Interação da luz UV com o corpo..................................................................................................... 87 5.6 Tipos e características de produtos de proteção solar .......................................................... 89 5.6.1 Protetores orgânicos.............................................................................................................................. 89 5.6.2 Protetores inorgânicos .......................................................................................................................... 91 5.6.3 O fator de proteção solar (FPS) ......................................................................................................... 92 5.6.4 Componentes auxiliares ....................................................................................................................... 92 5.7 Formulações ........................................................................................................................................... 93 6 DESODORANTES E ANTIPERSPIRANTES ................................................................................................. 95 6.1 Glândulas écrinas ................................................................................................................................. 96 6.2 Glândulas apócrinas ............................................................................................................................ 97 6.3 Alterações na sudorese ...................................................................................................................... 98 6.4 Desodorantes ......................................................................................................................................... 98 6.4.1 Substâncias utilizadas ........................................................................................................................... 99 6.4.2 Eficácia de um desodorante .............................................................................................................100 6.5 Antiperspirantes ..................................................................................................................................100 6.5.1 Mecanismo de ação .............................................................................................................................100 6.5.2 Ativos antiperspirantes .......................................................................................................................100 6.5.3 Eficácia de um antiperspirante .......................................................................................................102 6.6 Formas de apresentação ..................................................................................................................102 6.7 Reações adversas (dermatite de contato) ................................................................................102 6.8 Formulações .........................................................................................................................................103 7 PREPARAÇÕES COSMÉTICAS PARA MAQUIAGENS .........................................................................107 7.1 Introdução .............................................................................................................................................107 7.2 Legislação ..............................................................................................................................................108 7.3 Mercado .................................................................................................................................................109 7.4 Histórico .................................................................................................................................................111 7.5 Tipos .........................................................................................................................................................113 7.5.1 Principais produtos de maquiagem .............................................................................................. 113 7.5.2 Características dos produtos de maquiagens ........................................................................... 119 7.6 Formulações .........................................................................................................................................124 7.6.1 Primers ..................................................................................................................................................... 124 7.6.2 Base ........................................................................................................................................................... 126 7.6.3 Brilhos labiais ........................................................................................................................................ 127 7.6.4 Batons ....................................................................................................................................................... 128 7.6.5 Delineadores .......................................................................................................................................... 130 7.6.6 Esmaltes ................................................................................................................................................... 132 7.7 Riscos à saúde......................................................................................................................................134 8 PERFUMES ........................................................................................................................................................136 8.1 Introdução .............................................................................................................................................136 8.2 Legislação ..............................................................................................................................................137 8.3 Mercado .................................................................................................................................................138 8.4 Histórico .................................................................................................................................................139 8.5 Características .....................................................................................................................................140 8.6 Tipos .........................................................................................................................................................143 8.7 Componentes e composição química ........................................................................................143 8.8 Formulações .........................................................................................................................................150 8.9 Riscos à saúde ......................................................................................................................................152 8.10 Tendências ..........................................................................................................................................152 9 APRESENTAÇÃO Prezado(a) aluno(a), Nesta disciplina, buscou-se inserir e sedimentar os conhecimentos básicos sobre as formas cosméticas mais usuais, de modo a habilitar o futuro farmacêutico a aplicar os melhores recursos tecnológicos na produção de produtos utilizados para proteção e embelezamento do corpo. Foram acentuados conceitos básicos sobre as formas cosméticas mais usadas em nosso meio, os principais componentes aplicados para sua obtenção, algumas sugestões de formulações e sua técnica de preparo. Assim, a intenção em cada tópico é estimular o entendimento dos seguintes assuntos: forma cosmética; técnicas de preparo; operações unitárias envolvidas em cada procedimento; e equipamentos utilizados tanto em processos magistrais quanto industriais. O aprendizado dos conceitos teóricos proporcionará a você competências para distinguir as diferentes formas cosméticas, para que elas possam ser usadas e preparadas de modo adequado, considerando a escala produtiva, as características dos ativos utilizados e a sua compatibilidade com os vários excipientes disponíveis, de modo que o produto obtido apresente eficiência e estabilidade ao ser armazenado de forma adequada. Cada forma cosmética possui particularidades que podem se apresentar como obstáculos para obter o produto cosmético desejado. Assim, o profissional deverá compreender as causas desses problemas e saber propor resoluções e alternativas para eles. Para tanto, será estimulado a buscar na literatura relacionada as informações e atualizações necessárias para uma atuação profissional adequada. Os links indicados no recurso “Saiba Mais” vão ajudá-lo a aprofundar seus estudos. Essa é uma maneira prática de expandir a compreensão. Ao realizar os exercícios propostos, você estará se preparando melhor para futuras avaliações. Bons estudos! INTRODUÇÃO Este livro-texto permitirá que você tenha contato com aspectos gerais sobre as características dos cosméticos. Assim, estudará informações sobre a anatomofisiologia da pele e seus anexos, bem como as alterações de interesse em dermatologia cosmética e nos produtos que podem ser utilizados para o seu tratamento. O conteúdo abordado propiciará a você conhecimento teórico para o correto desenvolvimento de formulações cosméticas. Desse modo, poderá entender a relação entre a pele e os produtos cosméticos, as matérias-primas usadas nas formulações e as técnicas de preparo dos principais produtos cosméticos. Também serão ilustradas as principais formas cosméticas disponíveis no “mundo da beleza”. Na unidade I, você terá contato com as características anatomofisiológicas de nosso maior órgão: a pele e seus anexos. Logo no início, o livro pretende discutir as diferenças nos conceitos de cosméticos e medicamentos, abordando uma classe de produtos que se inserem na interface entre essas duas 10 categorias de produtos: os cosmecêuticos e os ativos cosméticos, os quais vão interferir nas atividades fisiológicas da pele e de seus anexos. Em seguida, serão elencados os principais aspectos relacionados a produtos para higiene do corpo e do cabelo, caracterizados pela veiculação de sabão e detergente em formas cosméticas capazes de remover as sujidades sem prejudicar a fisiologia da pele. Na unidade II, serão destacadas as características da maior fonte de energia do planeta, o sol, e os efeitos deletérios dos diferentes tipos de radiações eletromagnéticas emitidas por esse astro. Haverá especial interesse na descrição dos efeitos causados pela radiação ultravioleta e os agentes que propiciam fotoproteção por meio da veiculação de filtros orgânicos e inorgânicos em formas cosméticas adequadas. Depois, estudaremos os efeitos da produção de suor pelas glândulas sudoríparas écrinas e apócrinas e o mecanismo de ação dos produtos utilizados para mascarar o odor desagradável gerado pelo suor e os ativos disponíveis para minimizar a transpiração. Por fim, serão acentuados a aplicação de corantes e pigmentos em produtos cosméticos para o embelezamento do corpo e os conceitos básicos para a elaboração de perfumes. Espera-se, ao final da leitura deste livro-texto, que o aluno esteja apto a aplicar conceitos teóricos para o planejamento, a produção e a conservação de produtos cosméticos e que tome contato com sistemas de informação e de pesquisa bibliográfica (livros, revistas, sites e aplicativos) para auxiliá-lo na resolução de problemas e propor ações inovadoras e transformadoras. 11 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Unidade I 1 INTRODUÇÃO À COSMETOLOGIA E ELEMENTOS ANATOMOFISIOLÓGICOS DA PELE O termo cosmético deriva da palavra grega kosmein, cujo significado é “organizar, arrumar, adornar ou enfeitar”. Consequentemente, a palavra grega kosmétiké significa “a arte de preparar cosméticos”. Assim, cosméticos são formulações de aplicação local, fundamentadas em conceitos científicos, destinados ao cuidado e embelezamento da pele humana e seus anexos, sem prejudicar as funções vitais, causar irritações, sensibilizar ou provocar fenômenos secundários indesejáveis atribuídos à sua absorção. O termo cosmetologia refere-se à ciência que serve de suporte para a fabricação dos produtos de beleza, permitindo, ainda, verificar as suas propriedades. 1.1 Contexto histórico O culto à beleza sempre esteve ligado à história da humanidade, havendo indícios concretos de que os antigos egípcios, bem como os gregos e outros povos, já se preocupavam com a autoimagem, buscando formas de esconder as marcas de expressão, manchas e rugas que surgiam com o passar dos anos (figura a seguir). Figura 1 – Mulheres egípcias cuidando da pele do rosto Disponível em: https://bit.ly/3NZfEaX. Acesso em: 12 jul. 2022. 12 Unidade I Há algumas curiosidades sobre os rituais de autocuidado da mais famosa rainha do Egito, Cleópatra, considerada de uma beleza ímpar em seu tempo. Entre eles, pode-se citar um batom feito do intestino de besouros e o uso de pó de esterco de crocodilo nos olhos. Além disso, ela costumava banhar-se diariamente em leite azedo de jumento, o que promovia uma ação semelhante a um peeling ácido na camada superficialda pele, estimulando a regeneração e o surgimento de uma pele sem manchas, renovada e mais lisa. Outra figura importante foi a rainha egípcia Nefertiti, que também usava diversos artifícios para manter-se bela, como era reconhecida no Antigo Egito. Ela usava maquiagem preta nos olhos, derivada de chumbo (acumulativo no organismo e provedor de efeitos neurotóxicos, presente em alguns batons até os dias atuais, porém em concentração muito baixa), além de batom com bromine mannite (bromo), outra substância tóxica suspeita de tê-la envenenado ainda antes que o chumbo o fizesse. Os derivados do bromo fornecem coloração alaranjada ou âmbar, motivo pelo qual eram usados em maquiagens para olhos e até mesmo para batons. Ainda em se tratando da evolução dos cosméticos, foi em torno de 180 d.C. que o médico grego Claudio Galeno (figura 2) realizou pesquisas sobre produção de cosméticos, dando início à era galênica de produtos farmacêuticos. Ele desenvolveu um produto chamado Unguentum Refrigerans, contendo cera de abelha e bórax (borato de sódio), que até hoje é mundialmente conhecido como cold cream, uma formulação oficinal, ou seja, constante no Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira. Em homenagem ao pesquisador, o termo farmácia galênica se refere às preparações farmacêuticas de conteúdo complexo, e não compostas quimicamente de uma única substância. Outra expressão de destaque é o termo base galênica, que a RDC n. 67 (ANVISA, 2007) define como sendo uma preparação composta de uma ou mais matérias-primas, com fórmula definida, destinada a ser utilizada como veículo/excipiente de preparações farmacêuticas. Desse modo, as farmácias magistrais estão autorizadas a obter essas bases fabricadas por indústrias e usá-las como veículos da formulação final. São exemplos de bases galênicas o creme e a loção Lanette N, o gel de Carbopol, o gel de Natrosol (não iônico). Figura 2 – Médico Cláudio Galeno, desenvolvedor do cold cream Disponível em: https://bit.ly/3bwi8jr. Acesso em: 12 jul. 2022. 13 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Naquela época, Roma deu seguimento a esse legado cosmético e aprimorou os conhecimentos adquiridos até então, utilizando-se de óleos de alecrim ou de lavanda francesa, visando melhorar a circulação ou obter efeito calmante, respectivamente. É interessante notar também que, na Idade Média, o cristianismo reprimiu o ato de cultivar a beleza, estimulando o uso de vestes que cobrissem praticamente todo o corpo, incluindo o cabelo (figura a seguir). Naquele período, houve um retrocesso dos cuidados pessoais e o aumento de doenças por falta de higiene. Figura 3 – Representação da figura feminina na Idade Média Disponível em: https://bit.ly/3OvqlD3. Acesso em: 30 jun. 2022. No entanto, durante a era renascentista, os cosméticos começaram a ressurgir na Itália e na França, que se destacaram principalmente na produção de perfumes. Como a falta de higiene era comum, esses produtos eram indicados para tentar mascarar o mau cheiro corporal. A obra de Leonardo da Vinci, A Gioconda (figura a seguir), ou Mona Lisa, como é mais conhecida, representa a volta do desejo de mostrar o corpo feminino, de embelezar-se e perfumar-se. 14 Unidade I Figura 4 – A Gioconda, de Leonardo da Vinci, símbolo da beleza renascentista Disponível em: https://bit.ly/3Ad9sJ7. Acesso em: 30 jun. 2022. Já no século XIX, o uso de cosméticos era bem mais comum, mesmo que ainda fossem produzidos em casa, em pequena escala. Certamente, foi a Revolução Industrial que contribuiu muito para a eterna busca da humanidade pela beleza e boa aparência, ao iniciar a produção de cosméticos em grande escala, com processos fabris muito bem estabelecidos. Foi naquela época que os produtos de higiene se tornaram acessíveis e iniciou-se a preocupação com o desenvolvimento dos primeiros filtros solares. Começou a ser comum, principalmente entre as mulheres, o uso de cremes hidratantes, cremes noturnos, produtos para pés e mãos, talcos, esmaltes, perfumes e maquiagens. Nossas avós faziam uso de produtos adquiridos muitas vezes em catálogos, revistas, e de vendedores que os traziam até os seus lares. Mesmo com os produtos mais ao alcance das mulheres, ainda havia algumas delas que preparavam uma mistura com glicerina e gotas de limão e aplicando ao dormir. Percebiam que o resultado era benéfico, melhorava a textura da pele, 15 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO clareava-a. A figura a seguir contém propagandas de um produto usado pelas gerações passadas e que até hoje é comercializado. Figura 5 Disponível em: https://bit.ly/3y2KHfV. Acesso em: 30 jun. 2022. 1.2 Aspectos legais A RDC n. 211, de 14 de julho de 2005, define e classifica produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes como [...] preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e/ou corrigir odores corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado (ANVISA, 2005). Assim, as funções básicas dos cosméticos são: • Limpeza: deve ser feita respeitando-se o equilíbrio fisiológico, sem causar desengorduramento excessivo, sem alcalinizar ou desnaturar as proteínas cutâneas. Exemplos: cremes de limpeza, xampus, sabonetes. 16 Unidade I • Correção: restabelecer o equilíbrio alterado, devolvendo a beleza natural. Exemplo: condicionador capilar. • Proteção: evitar a limpeza irracional ou impedir que os agentes atmosféricos (vento, sol, frio) alterem a epiderme. Exemplos: protetores solares e cremes hidratantes. Um produto cosmético difere de um medicamento porque, por definição legal, os cosméticos são produtos aplicados no corpo humano para promover limpeza, beleza ou alterar a aparência. Já os medicamentos são utilizados com a intenção de promover diagnóstico, cura, alívio, tratamento ou prevenção de doenças; eles são sujeitos a regulamentações mais rigorosas, exigindo estudos que demonstrem segurança e eficácia, de forma que os benefícios superem os riscos. Alguns termos podem ser encontrados em cosmetologia: • Cosmecêutico: expressão que surgiu nos anos 1970 para descrever preparações que possuem ativos que não visam apenas à limpeza e proteção do corpo, mas que incorporam bioativos que podem causar alterações fisiológicas no corpo, principalmente em nível tópico. Exemplos: produtos contendo minoxidil, ácido retinoico e alfa-hidroxiácidos. Esses produtos são tão importantes atualmente que elaboramos um tópico sobre eles neste livro-texto. • Cosmiatria: refere-se à prática da dermatologia e aborda assuntos relativos aos cuidados estéticos da pele sã ou enferma, como acne, discromias, celulite, psoríase, entre outros. • Medicamento de uso tópico: produto farmacêutico contendo ativos destinados ao tratamento de problemas da pele. Exemplos: corticoide e antibióticos. Assim como os medicamentos, todos os produtos cosméticos necessitam de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), devendo ser produzidos por empresas devidamente cadastradas e que possuam autorização de funcionamento, conforme a legislação sanitária em vigor. Os produtos cosméticos são enquadrados em quatro categorias: preparações para higiene, preparações para uso infantil, perfumes e cosméticos. A RDC n. 7/2015, de 10 de fevereiro de 2015, que dispõe sobre os requisitos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, também classifica esses produtos em relação ao potencial de causar danos ao usuário em graus 1 e 2, de acordo com o local de aplicação, os componentes da formulação e os cuidados a serem observados. Os produtos com grau de risco 1 possuem uma pequena probabilidade para causar efeitos adversos (exemplos de produtos com baixo risco: dentifrício, xampu, creme de barbear). Já os produtos com grau de risco2 possuem um risco potencial de produzir efeitos adversos (exemplos: todos os produtos de uso infantil, xampu anticaspa, creme dental anticárie ou antiplaca). O quadro a seguir apresenta a classificação de risco de diversos produtos cosméticos. 17 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Quadro 1 – Grau de risco de diversos produtos cosméticos Tipos de produtos Grau Sabonete facial, corporal, abrasivo ou esfoliante 1 Sabonete antisséptico 2 Xampu, xampu-condicionador, condicionador 1 Xampu anticaspa, antiqueda, condicionador anticaspa 2 Dentifrício, aromatizante bucal 1 Dentifrício antiplaca, anticárie, antitártaro, enxaguatório antisséptico 2 Desodorante axilar, corporal, perfumado 1 Desodorante íntimo 2 Desodorante antitranspirante ou antitranspirante/antiperspirante 2 Produtos para barbear e após barbear 1 Produtos para lábios 1 Sombra para pálpebras, máscara para cílios, lápis, delineador 1 Creme, gel e loção para área dos olhos 2 Produtos para bronzear e antissolares 2 Produtos para tingimento do cabelo 2 Produtos para clarear o cabelo 2 Produtos para ondular o cabelo 2 Produtos para alisar o cabelo 2 Neutralizantes capilares 1 Produtos para modelar e assentar o cabelo 1 Creme e loção para o rosto, corpo e mãos 1 Creme e loção para o rosto, corpo e mãos com fotoprotetor ou para clarear a pele 2 Creme e loção para celulite/estrias 2 Creme e loção para rugas, para pele acneica 2 Creme e loção de limpeza facial ou tonificante 1 Creme ou máscara esfoliante peeling mecânico 1 Creme ou máscara esfoliante peeling químico 2 Produtos para maquilagem facial 1 Depilatório mecânico ou epilatório 1 Depilatório químico 2 Produtos de uso infantil 2 1.2.1 Legislação Observe a seguir algumas legislações na área de cosmetologia. • Portaria n. 534, de 19/09/1988: proíbe a fabricação de produtos cosméticos, de higiene, perfumes e saneantes domissanitários aerossóis que contenham propelentes à base de CFC. 18 Unidade I • Portaria n. 348, de 18/08/1997: determina a todos os estabelecimentos produtores de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes o cumprimento das diretrizes fixadas no Regulamento Técnico (Manual de Boas Práticas de Fabricação). • Resolução CFF n. 406, de 15/12/2003: define e regulamenta as atividades do farmacêutico na indústria cosmética. • RDC n. 332, de 1º/12/2005: trata da implementação de um sistema de cosmetovigilância pelos fabricantes e/ou importadoras de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes instalados no território nacional. • RDC n. 47/2006, de 16/03/2006: destaca a lista de filtros ultravioletas permitidos para produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. • RDC n. 67/2007, de 8/10/2007: dispõe sobre as boas práticas de manipulação de prescrições magistrais e oficinais para uso humano em farmácias. • RDC n. 48/2013, de 25/10/2013: aprova o Regulamento Técnico de Boas Práticas de Fabricação para Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes. Essa resolução incorpora ao ordenamento jurídico nacional a Resolução GMC Mercosul n. 19/2011, que aprovou o Regulamento Técnico de Boas Práticas de Fabricação para produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes (revogação das Res. GMC n. 92/1994 e 66/1996). • RDC n. 409/2020, de 27/07/2020: dispõe sobre os procedimentos e requisitos para a regularização de produtos cosméticos para alisar ou ondular o cabelo. • RDC n. 528/2021, de 4/08/2021: destaca a lista de substâncias de ação conservante permitidas para produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes e internaliza a Resolução GMC Mercosul n. 35/2020. • RDC n. 529, de 4/08/2021: traz a lista de substâncias que não podem ser utilizadas em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes e internaliza a Resolução GMC Mercosul n. 62/2014, alterada pela Resolução GMC Mercosul n. 37/2020. • RDC n. 530, de 4/08/2021: dispõe sobre a lista de substâncias que os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes não devem conter, exceto nas condições e com as restrições estabelecidas, a lista de componentes de fragrâncias e aromas que devem ser indicados na rotulagem desses produtos em condições específicas e internaliza a Resolução GMC Mercosul n. 24/2011, alterada pela Resolução GMC Mercosul n. 37/2020. Lembrete Assim como os medicamentos, todos os produtos cosméticos necessitam de registro na Anvisa. 19 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO 1.2.2 Nomenclatura das matérias-primas utilizadas em cosméticos Em virtude do grande número de matérias-primas disponíveis para o preparo de cosméticos, foi necessário padronizar sua nomenclatura. Assim, no início dos anos 1970, a Associação Norte-Americana de Cosméticos, Perfumes e Artigos de Toucador (Cosmetic, Toiletry and Fragrance Association – CTFA) implantou uma nomenclatura própria para designar as matérias-primas aplicadas em produtos cosméticos, que recebeu a denominação INCI – International Nomenclature Cosmetic Ingredient. Desse modo, as matérias-primas foram agrupadas em famílias que apresentam propriedades de aplicação em comum, independentemente de seus aspectos físicos e químicos, como umectantes, espessantes, tensoativos, conservantes e corantes. Adotou-se a nomenclatura utilizada na Farmacopeia Norte-Americana (USP) e no Formulário Nacional (NF), empregando-se nomes químicos mais simples. O Brasil adotou a nomenclatura INCI, que deve ser expressa nos rótulos dos produtos em sua forma original (inglês). Em 2022, o Brasil passará a adotar a nomenclatura em português para os rótulos dos cosméticos. O quadro a seguir apresenta a nomenclatura de alguns ácidos e álcoois graxos muito usados em cosmetologia. Quadro 2 Número de C (cadeia principal) Iupac Ácido INCI Ácido Iupac (Álcool) INCI Álcool 6 Hexanoico Caproico Hexanol Hexílico 8 Octanoico Caprílico Octanol Caprilílico 10 Decanoico Cáprico Decanol Decílico 12 Dodecanoico Láurico Dodecanol Laurílico 14 Tetradecanoico Mirístico Tetradecanol Miristílico 16 Hexadecanoico Palmítico Hexadecanol Cetílico 18 Octadecanoico Esteárico Octadecanol Estearílico Assim, matérias-primas muito utilizadas para a produção de cosméticos são mais conhecidas por sua nomenclatura INCI do que pela nomenclatura adotada pela Sociedade Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac). O ácido 16-metil-hepta-decanoico (Iupac) é mais conhecido como ácido esteárico (INCI), já o polietilenoglicol é conhecido como PEG (INCI). Os polímeros de ácido acrílico usados como agentes gelificantes são chamados de carbômeros (carbomer). 1.3 Mercado de cosméticos O mercado de cosmético é uma área em franca expansão e desenvolvimento. Reproduzimos, a seguir, alguns dados recentes obtidos do site da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Segundo o provedor de pesquisa de mercado Euromonitor International, o Brasil é o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo. O país fica atrás de EUA, China e Japão (os dados são 20 Unidade I de um relatório de 2019, relativos a 2018). Na categoria de fragrâncias, os brasileiros estão em segundo lugar, atrás apenas dos americanos, conforme exposto na figura 6 (ABIHPEC, 2020). O mercado de beleza e cuidados pessoais no Brasil e no mundo tem sido agitado pelo movimento de gigantes, como a aquisição da Avon pela Natura. Cinco empresas concentram 47,8% do mercado brasileiro, de acordo com o mesmo relatório: Natura & Co, seguida por O Boticário, Unilever, L’Oréal e Colgate-Palmolive Co. Já o número de empresas registradas na Anvisa, em 2018, era de 2.794, segundo a Abihpec. Entre 2013 e 2018, houve crescimento de 24,5% em valor de vendas no varejo, em reais, mesmo tendo ocorrido uma queda de 0,3% entre 2014 e 2015; para 2023, a previsão do Euromonitor International é de 20,6% de aumento. Já os dados apresentados pela Abihpec, comparando o PIB brasileiro com índices do setor, mostram perdas em 2015 e 2016 ainda não compensadas pela retomada de 2017 e 2018, – embora a recuperação tenhaocorrido em ritmo mais elevado que no restante da economia. Brasil US$ 30 bilhões US$ 37,5 bilhões Japão US$ 62 bilhões China US$ 89,5 bilhões EUA Figura 6 – Mercado de beleza e cuidados especiais: vendas de cosméticos do varejo ao consumidor em 2018 Adaptada de: Euromonitor International apud Abihpec (2020). De acordo com o painel de dados de mercado da Abihpec, o setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC) teve alta de 5,7% em vendas no primeiro quadrimestre de 2021, em relação ao mesmo período do ano anterior. O segmento de perfumaria foi o que apresentou o melhor desempenho, atingindo alta de 22%. O destaque fica por conta da perfumaria feminina, que teve crescimento de 26% contra 15% da perfumaria masculina. Produtos de higiene pessoal seguem com alta, e o segmento fechou o primeiro quadrimestre com crescimento de 11,4%. Entre as categorias que tiveram melhor desempenho, estão as de produtos relacionados ao banho, hábito reforçado no dia a dia dos brasileiros, por conta da prevenção à covid-19. No primeiro [...] quadrimestre de 2021, a categoria de sabonetes obteve 23% de alta nas vendas; a de xampus, +2%; e condicionador, +1% em comparação ao mesmo período de 2020 (ABIHPEC, 2020). 21 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO 1.4 Elementos anatomofisiológicos da pele A pele é o maior órgão do corpo humano, com uma superfície média de 2 m2, que corresponde de 10% a 15% do peso corpóreo total. Nela estão presentes corpúsculos sensitivos para tato, calor, dor e frio. Nela também se manifestam sensações emocionais, como medo (palidez, ereção dos pelos), ansiedade (sudorese) e angústia (rubor). As funções desse órgão são protetora, conforme as características da epiderme e dos anexos, como pelos, unhas e cabelo; e secretora, por meio das glândulas sebáceas e sudoríparas. A pele é composta de três camadas, a saber (figura 7): • Epiderme: camada mais externa da pele, constituída de tecido epitelial pavimentoso estratificado, formado por células que se renovam a partir do estrato basal e que se diferenciam constantemente até atingirem o extrato córneo onde são eliminadas; a espessura varia de 0,004 mm a 0,15 mm, sendo mais espessa nas palmas e plantas dos pés; possui diversas funções, mas a principal é a proteção do organismo contra agressões tanto externas quanto internas. • Derme: formada por tecido conjuntivo onde se situam as raízes dos pelos, as glândulas, os vasos sanguíneos e as terminações nervosas; é cerca de 20 vezes mais espessa do que a epiderme e possui as funções de proteção contra lesões mecânicas e nutrição da epiderme. • Hipoderme: camada mais profunda da pele, com as funções de proteção mecânica, isolante térmico e reserva de gordura. Camada córnear (queratinizada) Terminação nervosa livre Glândula sudorípara Músculo eretor do pêlo Artéria Hipoderme Epiderme Poro sudoríparo Corpúsculo de Meissner Glândula sebácea Derme Folículo pilosoVeia Tecido subcutâneo (adiposo) Figura 7 – Estrutura da pele e seus anexos Fonte: Cestari (2012, p. 9). 22 Unidade I A pele em seu estado normal possui pH ácido devido aos ácidos acético, propiônico, caprílico, láctico, cítrico e ascórbico (produtos da evaporação do suor), cujo valor depende de idade, sexo e características do indivíduo, tornando-se alcalino nas camadas mais profundas. Esse valor ácido é barreira contra a invasão de bactérias e fungos. O valor do pH na pele varia conforme o local analisado, assim, os valores aproximados são: no couro cabeludo, 4,0; no rosto, 4,7; nas axilas, 6,5; em pernas e tornozelos, 4,5 – de forma que a média geral permaneça próximo a 5,3. Existe também uma microbiota característica, responsável por alguns problemas dermatológicos, como infecções de pele (acne) devido a uma série de fatores. Assim, é possível identificar a presença de microrganismos, como Propionibacterium acnes e bactérias do gênero Corynebacterium e Staphylococcus. Um fator fundamental para a higidez da pele é a hidratação, a qual é mantida graças às características das células do estrato córneo, constituído por células anucleadas, mantidas unidas pela presença de proteínas e lipídeos intercelulares que formam um manto (película) que, além de proteger a pele contra as intempéries ambientais, dificulta a perda transepidérmica de água, mantendo os estratos inferiores hidratados. Diversas substâncias estão associadas ao que é chamado de “fator de hidratação natural” (FHN ou NMF), como aminoácidos, ácido pirrolidona carboxílico (PCA), ureia, lactatos, ácido urocânico e eletrólitos (Na+, K+, Ca2+, PO4 3-, Cl-). 1.4.1 Epiderme A epiderme é formada por camadas ou estratos de células epiteliais que sofrem diferenciação celular a partir da lâmina basal. Vejamos, a seguir, as características das quatro camadas da epiderme (figura 8). • Estrato basal ou germinativo: localizado na lâmina basal, na junção dos tecidos epitelial e conjuntivo, é responsável pela regeneração das células epidérmicas que se diferenciarão em queratinócitos, as principais células da epiderme. • Estrato espinhoso ou malpighiano: composto por células de formato poliédrico, justapostas e firmemente aderidas por espículas chamadas desmossomos. • Estrato granuloso: formado por células mais achatadas que vão perdendo o núcleo e, consequentemente, a capacidade de se dividir. • Estrato córneo: composto de células superficiais anucleadas e sem organelas, que sofreram o processo de queratinização e que estão em contínuo processo de descamação. 23 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Estrato córneo Estrato granuloso Estrato espinhoso Estrato basal Figura 8 – Morfologia das células que compõem as camadas da epiderme As células epidérmicas geradas a partir da camada basal vão se diferenciando até o seu desprendimento na camada córnea. Esse processo demora de 15 a 40 dias, de acordo com a idade do indivíduo. A figura a seguir mostra o processo de queratinização da pele. Cornificação Córnea Derme Granulado Espinhoso Basal Queratinização Queratinização Duas moléculas de cisteína são transformadas em cistina dando dureza aos cabelos, unhas e epiderme Energia do ATP Cisteína Cisteína CH2-SH HCNH2 HCNH2 HS-CH2 COOH COOH Cistina CH2-S-S-CH2 H2O+HCNH2 HCNH2 COOH COOH 1/2 02 + Figura 9 – Queratinização da epiderme Adaptada de: Beny (2000, p. 47). O estrato córneo tem espessura entre 0,075 mm e 0,15 mm e sua função de barreira contra o meio ambiente é conferida pela presença de queratinócitos e lipídeos, localizados principalmente no espaço intercelular, como os ácidos graxos livres, as ceramidas e o colesterol. Os ácidos graxos formam a membrana celular que circunda as células, além de concentrarem-se na fase extracelular (espaço intercelular), sendo fundamentais para a retenção de água no estrato córneo. Esses ácidos graxos controlam a perda transepidérmica da água, mantendo a maciez e a elasticidade da pele. O envelhecimento e as agressões ambientais (luz solar) resultam numa diminuição da capacidade do estrato córneo de reter seu conteúdo de umidade ideal, tornando a pele seca e rugosa. A quantidade ingerida de água também é fator que interfere no estado de hidratação da pele. 24 Unidade I As ceramidas são esfingolipídeos formados por cadeias graxas diferentes (existem seis classes de acordo com a cadeia) ligadas à base esfingoide. Além dos queratinócitos, a epiderme possui outras células responsáveis pela secreção de diversas substâncias fisiologicamente importantes, como os melanócitos, células responsáveis pela síntese de melanina. Estima-se que exista um melanócito para cada 36 queratinócitos na epiderme. A melanina é o pigmento natural da pele humana que, além de dar cor à pele e ao cabelo, atua como filtro solar. Podemos ter dois tipos de melanina: a eumelanina e a feomelanina. O primeiro é caracterizado por um pigmento de cor negra e o segundo apresenta uma coloração avermelhada. Esses pigmentos são produzidos a partir do aminoácido tirosina, quandoo melanócito é estimulado pela luz solar e na presença de uma enzima chamada tirosinase. Os melanócitos localizam-se na camada basal e na base do folículo piloso (próximos à papila dérmica); sintetizam melanina que se acumula nos melanossomas (organela presente nos melanócitos). A melanina armazenada nos melanossomas é transferida para os queratinócitos vizinhos e vão caracterizar a cor da pele e a cor do cabelo. Há cerca de 1.500 melanócitos por mm2 de superfície de pele, sendo esse número, em média, igual para todos os indivíduos. A variedade de cor é devido ao tamanho dos melanossomas e atividade dos melanócitos ativos, ou seja, daqueles que ainda não se descamaram juntamente com os queratinócitos. A quantidade de melanócitos diminui gradualmente com a idade do indivíduo. O melanócito não sofre divisão celular. Caso isso ocorra, o indivíduo pode estar com um tipo de câncer chamado melanoma (célula neoplásica). Também podemos encontrar na epiderme algumas células relacionadas à sensibilidade e à imunidade, como as células de Langerhans, relacionadas à imunidade, uma vez que apresentam antígenos ao nosso sistema de defesa (presentes nos estratos intermediários). Já as células de Merkel possuem função sensorial para a pele e estão presentes no estrato basal. A proteção da pele conferida pela epiderme se deve à síntese de proteínas (sobretudo a queratina), à síntese de lipídeos (durante a renovação dos queratinócitos) e de melanina (a partir dos melanócitos). A queratina é uma proteína fibrosa, insolúvel em H2O, formada por três moléculas enroladas entre si, interligadas por pontes dissulfeto e de hidrogênio (α-queratina). Lembrete A epiderme é formada por camadas ou estratos de células epiteliais que sofrem diferenciação celular a partir da lâmina basal. 1.4.2 Derme A derme é formada por tecido conjuntivo caracterizado pela presença de células e fibras separadas por abundante material intercelular. As células são constituídas em grande parte por fibroblastos e células de defesa. Os fibroblastos são responsáveis pela produção de proteínas fibrosas, como colágeno e elastina, sendo, o colágeno, mais abundante. 25 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Na derme, essas fibras (colágeno e elastina) têm vida de dois e seis meses, respectivamente. A exposição à luz solar estimula a síntese das enzimas colagenase e elastase e, portanto, contribuem para o envelhecimento precoce da pele. Os fibroblastos também são responsáveis pela síntese de fibras, chamadas glicosaminoglicanas, fundamentais para as características do tecido conjunto da derme. Elas formam a substância fundamental amorfa (SFA) uma vez que são polissacarídeos que contém hexosamina, água e eletrólitos. A hexosamina é um açúcar nitrogenado com seis átomos de carbono, onde um grupo amina substitui um grupo hidroxila. São exemplos de glicosaminoglicanas o ácido hialurônico e o sulfato de condroitina. Também podemos encontrar na derme folículos pilosos, glândulas secretoras (sebáceas e sudoríparas), vasos sanguíneos e linfáticos, e terminações nervosas. 1.4.3 Hipoderme A hipoderme é constituída, preponderantemente, por células que acumulam gorduras, chamadas adipócitos, as quais são separadas por material ceroso constituído por ácidos polissacarídeos. Esse estrato é bastante inervado e vascularizado. A hipoderme confere proteção à pele, contra pressões e frio, além de ser importante reserva de gordura e, consequentemente, de energia. Saiba mais Para entender melhor sobre a importante função de barreira da pele, consulte o artigo indicado a seguir: MELO, M. O.; MAIA CAMPOS, P. M. B. G. Função de barreira da pele e pH cutâneo. Cosmetic & Toiletries, ed. brasileira, v. 28, p. 34-38, maio/jun. 2016. 1.4.4 Anexos da pele A pele possui diversos anexos espalhados por suas três camadas, os quais desempenham importantes funções fisiológicas, como proteção, secreção e termorregulação, entre outras. 1.4.4.1 Glândulas sudoríparas Glândulas responsáveis pela secreção do suor, que tem um importante papel no controle da temperatura corpórea, na excreção de metabólitos e na hidratação da camada córnea. Há dois tipos de glândulas sudoríparas: as glândula écrinas e as glândulas apócrinas. • Glândulas écrinas: possuem estrutura semelhante a um novelo de lã, com um ducto que desemboca diretamente na superfície da pele; estão distribuídas por toda a superfície do corpo e são mais numerosas que as glândulas apócrinas; seu suor é 99% composto de água, eletrólitos e alguns compostos orgânicos. 26 Unidade I • Glândulas apócrinas: também possuem estrutura semelhante a um novelo de lã, entretanto, seu ducto desemboca no folículo pilo-sebáceo, são maiores que as écrinas e mais concentradas nas regiões pubiana e axilar; seu suor é rico em material graxo e substâncias orgânicas – substratos para o crescimento de microrganismos da microbiota da pele e podem levar à produção de ácidos orgânicos de odor característico. 1.4.4.2 Glândulas sebáceas Estruturas anexas ao folículo piloso, no qual desembocam e vertem uma secreção graxa que contém triglicerídes, ésteres graxos, esqualeno, ácidos graxos livres e ésteres de esteróis. Essas glândulas estão distribuídas por todo o corpo, exceto nas regiões palmo-plantares e se concentram em maior quantidade no couro cabeludo, na face (nariz) e nas regiões genitais e paragenitais. 1.4.4.3 Folículo piloso É uma invaginação tubular da epiderme, onde é produzido o pelo, por meio da queratinização das células formadas dentro da matriz (na base do folículo piloso). Essa região é muito irrigada por vasos sanguíneos que asseguram a regeneração e o crescimento do pelo, mediante proliferação de células diferenciadas. O pelo do cabelo cresce cerca de um centímetro por mês e seu ciclo de crescimento é dividido em três fases, a saber: • Fase anagênica (ativa): encontram-se de 80% a 95% dos fios do couro cabeludo e possui duração de três a sete anos. • Fase catagência (transição): encontram-se de 1% a 2% do total dos fios de cabelo e dura de três a quatro semanas. • Fase telogênica (fase final do ciclo de vida): encontram-se de 10% a 14% dos fios do couro cabeludo e dura de três a quatro meses. 1.4.5 Tipos de pele A pele pode ser classificada de acordo com as características observadas ao exame da mesma em pele normal, oleosa, hiper-hidratada e seca (alípica e desidratada). O quadro a seguir, apresenta os diferentes tipos de pele de acordo com suas características. Quadro 3 – Tipos de pele de acordo com suas características Tipos de pele Exame e etiologia Pele normal Aspecto opaco, flexível, firme, sólida (pele de bebê) Pele oleosa Aspecto brilhante, pela presença de grande quantidade de ácidos graxos Pele seca - alípica - desidratada Aspecto sem brilho por insuficiência de material graxo Diminuição de componentes que a mantêm hidratada Pele mista Parecida com a pele normal, mas se apresenta oleosa na testa, no nariz e no queixo 27 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO O tipo de pele também pode ser caracterizado pela emissão de fluorescência após incidência de luz ultravioleta com comprimento de onda de 315 nm a uma distância entre 15 cm e 30 cm da pele. Essa radiação é emitida por um equipamento chamado lâmpada de Wood. O quadro a seguir apresenta os diferentes tipos de pele de acordo com a cor da fluorescência emitida. Quadro 4 – Tipos de pele de acordo com a fluorescência emitida após a utilização de uma lâmpada de Wood Fluorescência Pele Leve, azul-violeta, com ligeira tonalidade de alfazema Normal Violeta intenso Hidratada Violeta pálido Desidratada Esbranquiçada Espessa (fortemente queratinizada) Escura Fina (pouco queratinizada) Amarelo pálido Oleosa A imagem a seguir mostra uma pessoa com tínea versicolor, que normalmente se manifesta com diferentes manchas escamosas na pele. Após a aplicação da luz UV, o que não ocorreu na figura em questão, é possível identificar diversos problemas dermatológicos, como discromias, lesões e biótipos de peleFigura 10 – Tínea versicolor Disponível em: https://bit.ly/3yXbQCI. Acesso em: 27 jul. 2022. 28 Unidade I Observação A pele também pode ser classificada em fototipos, de acordo com a capacidade de cada pessoa em se bronzear, assim como sensibilidade e vermelhidão da pele quando exposta ao sol. A classificação mais conhecida é a Escala Fitzpatrick, criada pelo médico estadunidense Thomas B. Fitzpatrick. 2 COSMECÊUTICOS A dermatologia cosmética vem sendo tema de publicações há algumas décadas, tendo sido denominada, mais recentemente, como cosmecêutica, fato este diretamente relacionado ao aumento da preocupação da humanidade com a aparência física, decorrente do crescimento da taxa de longevidade e expectativa de vida. 2.1 Introdução É claro e certo que o envelhecimento é consequência da maior sobrevida, o que traz consigo diversas situações para as quais o ser humano precisa de adaptação. Pode-se exemplificar a perda ou diminuição da cognição, diminuição das capacidades físicas e instabilidade emocional. Tudo isso reflete a necessidade e a urgência em melhorar a vivência e proporcionar mais prazer e satisfação enquanto pessoa humana. Nesse intuito, atividade física, alimentação saudável, boas condições de higiene e cuidados com a aparência são fundamentais. A Abihpec (2020) apresentou números sobre o desempenho do segmento “cuidados com a pele”, no período de janeiro a julho de 2020, e evidenciou um aumento na busca por produtos de higiene devido à pandemia de covid-19, e maior cuidado com a pele durante o isolamento social, ao comparar os dados com o ano anterior, no mesmo período. Na figura a seguir, é possível verificar os resultados. 143% 19% 104% 12% 166% Mãos, pés e unhas Pele do rosto Máscara facial Pele do corpo Esfoliantes corporais Figura 11 – Gráfico apresentando os produtos mais buscados pelos consumidores no período de pandemia, em 2020, e o aumento percentual em comparação ao ano de 2019 Adaptada de: Abihpec (2020). 29 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO A preocupação com a beleza permeia toda a história da humanidade e, ao longo do tempo, passou-se a dar importância à prevenção e a cuidados em níveis mais profundos, obtendo-se êxito oriundo da crescente capacitação de profissionais da área, acompanhada da preocupação com qualidade, segurança e eficácia dos produtos. No entanto, mesmo autores muito conceituados consideram bastante tênue a linha divisória entre os termos utilizados na definição de tais formulações: cosméticos, medicamentos dermatológicos e cosmecêuticos. Cosmecêutico é um termo híbrido, formado da fusão de cosmético e farmacêutico, primeiramente divulgado por Raymond Reed, na década de 1960. Contudo, foi em 1974 que o médico americano Albert Kligman suscitou a ideia de que um produto (por ele desenvolvido) proporcionava efeitos muito além de um simples embelezamento da pele, ao atenuar rugas, despertando um interesse absolutamente maior sobre formulações desse nível, diferenciando-as daqueles cosméticos até então utilizados. Até os dias atuais, cosmecêutico é ainda um tema contraditório em dermatologia e estética, não havendo consenso internacional, visto que nem todas as agências regulatórias do mundo o reconhecem, incluindo a europeia e a americana. A fórmula de Kligman (como é conhecida até hoje) é constituída de 5% de Hidroquinona, 0,05% a 0,1% de tretinoína e 0,1% de dexametasona ou betametasona e é utilizada e comercializada, a exemplo do produto da figura a seguir. Figura 12 – Cosmecêutico atual: fórmula de Kligman Disponível em: https://bit.ly/3OS4h5k. Acesso em: 30 jun. 2022. 2.2 Aspectos legais No Brasil, a Anvisa é quem aprova, regulamenta e classifica os produtos farmacêuticos. A Resolução da Diretoria Colegiada n. 7, de 10 de fevereiro de 2015 (ANVISA, 2015) dispõe sobre os requisitos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. Nessa resolução, os cosmecêuticos são classificados como cosméticos de grau de risco 2, e a agência autoriza que sejam manipulados ou vendidos prontos sem necessidade de receita médica. A Anvisa, ao classificar os produtos com grau 1 e 2, considera ainda a via de administração (local de aplicação) e a população que utilizará o produto, assim como a probabilidade de produzir efeitos indesejáveis. 30 Unidade I Segue a lista dos produtos cosméticos de grau 2, conforme a legislação vigente: Quadro 5 Produtos cosméticos de grau 2 Água oxigenada 10 a 40 volumes (incluídas as cremosas, excetuando-se aquelas de uso medicinal) Antitranspirante axilar Antitranspirante pédico Ativador/Acelerador de bronzeado Batom labial e brilho labial infantil Bloqueador solar/antissolar Blush/rouge infantil Bronzeador Bronzeador simulatório Clareador da pele Clareador químico para as unhas Clareador para cabelo e pelos do corpo Colônia infantil Condicionador anticaspa/antiqueda Condicionador infantil Dentifrício anticárie Dentifrício antiplaca Dentifrício antitártaro Dentifrício clareador/clareador dental químico Dentrifrício para dentes sensíveis Dentifrício infantil Depilatório químico Descolorante capilar Desodorante antitranspirante axilar Desodorante antitranspirante pédico Desodorante de uso íntimo Enxaguatório bucal antiplaca Enxaguatório bucal antisséptico Enxaguatório bucal infantil Enxaguatório capilar anticaspa/antiqueda Enxaguatório capilar infantil Enxaguatório capilar colorante/tonalizante Esfoliante peeling químico Esmalte para unhas infantil Fixador de cabelo infantil Lenços umedecidos para higiene infantil Maquiagem com fotoprotetor Produto de limpeza/higienização infantil 31 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Produtos cosméticos de grau 2 Produto para alisar e/ou tingir o cabelo Produto para área dos olhos (exceto os de maquiagem e/ou ação hidratante e/ou demaquilante) Produto para evitar roer unhas Produto para ondular o cabelo Produto para pele acneica Produto para rugas Produto protetor da pele infantil Protetor labial com fotoprotetor Protetor solar Protetor solar infantil Removedor de cutícula Removedor de mancha de nicotina químico Repelente de insetos Sabonete antisséptico Sabonete infantil Sabonete de uso íntimo Talco/amido infantil Talco/pó antisséptico Tintura capilar temporária/progressiva/permanente Tônico/loção capilar Xampu anticaspa/antiqueda Xampu colorante Xampu condicionador anticaspa/antiqueda Xampu condicionador infantil Xampu infantil Fonte: Anvisa (2020a). Pode-se verificar que os produtos para uso infantil constam nessa categoria e isso é justificado por se tratar de população com mais vulnerabilidade e suscetibilidade a efeitos adversos e reações locais. Da mesma forma, pode-se notar que os produtos que apresentam alguma função que não somente higienizar ou perfumar também foram ali incluídos, independentemente do tipo de usuário e da via de administração tópica. Por se tratar de uma área em constante evolução, é indicado que a legislação seja sempre consultada pelos profissionais da área a fim de evitar surpresas e problemas quanto às boas práticas, quanto aos produtos não mais permitidos e, até mesmo, a fim de manter-se atualizado quanto a eventuais compostos proscritos. A descrição das principais legislações da área cosmética, atualizadas até 2022, está no tópico 1.2.1 deste livro-texto. 32 Unidade I 2.3 Mercado O Brasil está entre os principais consumidores de cosméticos do mundo. Nos últimos anos, apesar da recessão econômica provocada principalmente pela pandemia de coronavírus, o setor de produtos de higiene, cosméticos e perfumes teve aumento de vendas, essencialmente em relação aos produtos de cuidado com a pele do rosto e do corpo. São muitas as indústrias produtoras de cosmecêuticos, desde pequenas até grandes empresas multinacionais. No entanto, cabe ressaltar o papel das farmácias magistrais nesse cenário, as quais ocupam um bom espaço e são capazes de individualizar as formulações e adequá-lasaos usuários, seja em termos de tipos de insumos, concentrações, melhores bases e, até mesmo, presença ou ausência de determinados adjuvantes farmacotécnicos, os quais o cliente pode requerer ou não. O segmento magistral tem muito a oferecer aos pacientes, visto que o prescritor pode fazer associações que promovam efeito sinérgico benéfico, excluindo determinado composto com o qual o paciente não possa ter contato. Isso se aplica tanto para bioativos quanto para adjuvantes farmacotécnicos e melhoradores de formulação, como corantes, por exemplo. Por outro lado, há que se ter muita cautela na seleção das substâncias a serem associadas, visto que misturas podem gerar produtos de função fisiológica bastante distinta da esperada. É, sem dúvida, desafiador para o prescritor e para o farmacêutico preverem com certeza o resultado de cada formulação idealizada e desenvolvida única e exclusivamente para um paciente. Mesmo com todo o estudo teórico, há a possibilidade de eventos inesperados que devem ser resolvidos sem prejuízos significativos aos pacientes. Entretanto, no que tange à indústria de cosméticos, é de se esperar que, com investimentos em inovação tecnológica e até mesmo em publicidade, aliados à facilidade de obtenção de informações por meio de sites, blogs, redes sociais e compras pela internet, o mercado de beleza não cesse de crescer e desenvolver novidades na área cosmecêutica. Para o profissional que tem intenção de atuar nesse ramo da farmacêutica, é fundamental entender o mercado e as necessidades dos clientes – pois a dermocosmética é uma área que exige constante atualização do profissional – do contrário, não obterá sucesso em sua carreira. 2.4 Características dos produtos É fato que esses produtos, também conhecidos nacionalmente como dermocosméticos, há tempos já se enquadram na capacidade de modificar estruturas da pele, auxiliando na correção de suas irregularidades, tais como envelhecimento, e não eram somente utilizados com o intuito de melhorá-la, perfumá-la ou embelezá-la, mas sim produzir efeitos quase tão potentes quanto aqueles proporcionados pelos medicamentos tópicos. Pode-se deduzir, então, que, ao classificar um cosmecêutico, ele deve ser categorizado entre o cosmético e o medicamento. Lembrando aqui que medicamentos, tais como o ácido retinoico, por exemplo, devem ser adquiridos e utilizados desde que se tenha a prescrição de um profissional habilitado. Esses produtos têm valor elevado, pois, além de todo o estudo envolvido e da produção delicada, são belamente apresentados, contendo embalagens sofisticadas e atraentes. 33 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO São exemplos de importantes marcas de dermocosméticos: Adcos, Avène, Bioderma, Dermage, Eucerin, La Roche Posay, Physiogel, Profuse, Roc, Shiseido, SkinCeuticals e Vichy. Para fins de comparação e melhor entendimento desse conceito, a figura a seguir mostra de forma ilustrativa a capacidade de permeação cutânea dos cosméticos (tipo 1) e dos cosmecêuticos (tipo 2) através das camadas da pele. Derme Tecido subcutâneo Epiderme Co sm ét ic o Co sm ec êu tic o Músculo Osso Figura 13 – Camadas da pele e a permeação de cosméticos e cosmecêuticos Uma forma de perceber a distinção entre um cosmecêutico e um medicamento é considerar que o último é atrelado ao uso em concentrações terapêuticas e deve ter seu uso restrito a um período determinado. A figura a seguir mostra um cosmecêutico produzido pela ADCOS (sérum concentrado anti-idade para peeling), de uso diário, que visa uniformizar a textura e o tom da pele pela renovação celular, além de reduzir rugas e linhas de expressão. Figura 14 – Imagem de um cosmecêutico produzido industrialmente Disponível em: https://bit.ly/3yup89B. Acesso em: 30 jun. 2022. 34 Unidade I Por serem produtos utilizados por público visualmente exigente, as embalagens também são bastante sofisticadas e dirigidas para o melhor uso possível. Muitas vezes, as embalagens dos cosmecêuticos também são funcionais, tais como o mousse de limpeza micelar da marca Maraden (figura a seguir), que contêm nutrientes e vitamina C. A embalagem possui uma esponja acoplada, por onde o produto sai, que já funciona como aplicador. Figura 15 – Cosmecêutico contendo aplicador na própria embalagem Disponível em: https://bit.ly/3bCmR39. Acesso em: 12 jul. 2022. 2.5 Indicações de uso Tratando-se das indicações de uso dos cosmecêuticos, são relacionados às funções específicas dos compostos que costumam fazer parte das formulações, tais como: • Antioxidantes: substâncias que poupam as estruturas da pele das ações dos radicais livres produzidos pelo estresse da pele e pela poluição. • Clareadores/Despigmentantes: melhoram a condição da pele manchada, sejam elas causadas por produtos químicos, por ação física, solar ou até mesmo hormonal. • Queratolíticos leves: substâncias que promovem a remoção das células mortas mais superficiais da pele (queratinócitos). • Anti-idade: do inglês anti-aging, são aqueles produtos para tratamentos dos efeitos advindos do envelhecimento. • Antiflacidez: substâncias com atividade de firmar e reverter a perda de elasticidade da pele. • Antirrugas: substâncias que ajudam a prevenir e a suavizar as linhas e depressões que se formam na pele com o passar dos anos, devido à perda de elastina, colágeno, ácido hialurônico – importante salientar que é melhor prevenir do que tratar as rugas. 35 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO • Antiacne: os ativos têm função de regular a oleosidade excessiva, regular o microbioma da pele e reduzir a inflamação local. • Antiestrias: reduzem ou evitam que a pele estire nas fases em que ocorre crescimento rápido do corpo (adolescência), gestação e aumento de peso repentino. • Estimuladores de crescimento capilar: embora sejam diversos os tipos de alopecia, e mais diversos ainda os motivos que levam ao aumento da queda do cabelo, alguns compostos ajudam a crescer e a fortalecer os fios. • Produtos de aplicação íntima (sabonete íntimo): visto que a via de aplicação é bastante sensível, existe a necessidade de bases específicas, pH adequado à finalidade de uso, entre outras especificações. • Produtos para uso infantil (diversos): população mais sensível, portanto, necessita de produção mais delicada. • Protetores solares: os filtros físicos e os químicos existem em uma grande variedade, e são estudados em um capítulo à parte deste livro-texto. • Repelentes de inseto: em razão da toxicidade de suas moléculas, os repelentes são considerados – pela agência regulatória – como cosméticos de grau 2. Certamente, muitos produtos contêm mais de uma classe dos compostos listados, além de muitas outras não citadas, abrangendo mais de uma função para a pele ao interagir com sua fisiologia por mecanismos de ação específicos. Exemplos de associação: clareadores e queratolíticos, e protetores solares e antioxidantes. São exemplos de produtos de composição complexa: • Sérum 10 em 1 (Wepink) – principais ativos: ácido hialurônico, vitamina E, retinol, colágeno hidrolisado, vitamina C, extrato de algas marinhas e D-pantenol – reduz linhas e marcas de expressões, em um só frasco. • Anti age (Emanna Wisdom) – principais substâncias ativas: DMAE, ácido hialurônico e acácia do Senegal – proporciona ação anti-aging, antioxidante, hidratação, ação anti-inflamatória, reduz intensidade das rugas e linhas de expressão, hidrata e combate o envelhecimento da pele, diminui olheiras e bolsas embaixo dos olhos, em um produto único. • Vitamin C e ferulic (Skinceuticals): combinação antioxidante sinérgica de vitamina C, vitamina E e ácido ferúlico para proteção da pele contra danos atmosféricos causados por agressores ambientais e sinais de envelhecimento precoce causados por radicais livres da radiação UVA/UVB, radiação infravermelha e poluição. • Sérum corretor calmante phyto corrective (Skinceuticals): contém extratos botânicos, ácido hialurônico e glicerina – visa corrigir marcas de acne, aumentarhidratação da pele instantaneamente e mantê-la hidratada ao longo do dia; também instantaneamente, reduz os desconfortos da pele, como irritação e sensação de queimação. 36 Unidade I Mesmo que um produto seja utilizado com objetivo único, por exemplo, crescimento capilar, é bastante comum que se utilize de associações de ativos que agem por mecanismos diferentes, mas complementares, sinérgicos. É o caso do produto da empresa brasileira Ervik, o Hairvik, composto de nanoxenol que repõe vitaminas, nutrientes e aminoácidos no bulbo capilar, nano cafeína que acelera a microcirculação, entregando nutrientes e vitaminas com mais velocidade para o bulbo capilar. Além disso, bloqueia a ação hormonal que danifica o bulbo e fornece tripeptídeo de cobre que promove o crescimento de folículos capilares e impede a queda capilar. Ativo muito utilizado em procedimentos estéticos. Essa mesma empresa desenvolveu recentemente um produto que promete fazer retornar o pigmento original dos fios de cabelo, o que seria perfeito para as pessoas que se sentem incomodadas com o surgimento de fios brancos. Essa formulação, chamada comercialmente de Hairvik Regenere, contém diversos ativos estimuladores de crescimento, fatores de crescimento, os principais são: Greyverse, Tyrosilane, cafeína e biotina. É, sem dúvida, uma evolução desta época. Imprescindível lembrar da forte tendência atual de utilizar compostos naturais ao invés dos sintéticos, e lembrar, ainda, da grande preocupação com a sustentabilidade e o impacto ambiental que as formulações podem trazer. Hoje em dia, empresas como a Natura fazem o papel de produzir cosmecêuticos a partir de compostos da floresta amazônica, como ucuuba, priprioca, açaí, tucumã, buriti, entre outros. Havendo, no entanto, cuidado em ser sustentável e em respeitar a época de colheita de cada vegetal para que, então, sejam extraídos os insumos necessários. 2.6 Componentes e composição química Tendo-se em vista o grande número de insumos farmacêuticos ativos com capacidade de agir nas camadas mais profundas da pele, é de se esperar que a composição dos produtos cosmecêuticos seja bastante diversificada – e muitas vezes complexa. É natural que as pessoas queiram passar menos tempo do dia aplicando cremes e que desejem que os produtos tenham o maior número possível de funções. Atualmente, mesmo com a forte tendência ao desenvolvimento de cosméticos naturais, biotecnológicos menos agressivos à pele do usuário, há uma vertente da sociedade contrária à extração de compostos naturais que implique em sofrimento ou morte de espécies animais, resultando, assim, nos cosméticos veganos, por exemplo, ausente de compostos derivados de animais, e que nem os utilizem como cobaias para testes laboratoriais de eficácia e segurança. Considerando o exposto, alguns bioativos utilizados com frequência nos dermocosméticos: • Vitaminas e seus derivados – retinol (vitamina A): traz muitos benefícios para a pele, como a renovação celular, a melhora de rugas e textura, e estimula a produção de colágeno. • Ácido ascórbico (vitamina C): potente antioxidante e essencial para a formação do colágeno. • Tocoferol (vitamina E): hidratante e formador de barreira cutânea, e antioxidante. • Nicotinamida (vitamina B3): fornece diversos benefícios à pele, tais como redução de acne e cravos e controle de oleosidade. 37 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO • Ácido pantotênico (vitamina B5): bioativo natural que proporciona aumento da hidratação superficial, elasticidade e maciez da pele, além de propriedades anti-inflamatórias. • Alfa hidroxiácidos (AHA): grupo de substâncias encontradas comumente em alimentos e frutas, sendo chamados muitas vezes de “ácidos de frutas”. O ácido lático, no entanto, é encontrado no leite azedo. Já o ácido cítrico é encontrado nas frutas cítricas, o ácido tartárico é obtido de uvas e os ácidos málico e mandélico são encontrados na maçã. Entretanto, o mais popular do grupo é o ácido glicólico. É o alfa hidroxiácido com menor massa molecular que confere elevada penetrabilidade na pele, podendo ser usado em diversas lesões cutâneas, como queratose seborreica, acne e verruga vulgar. É também usado para melhorar rugas (superficiais, médias e profundas), manchas hipercrômicas, flacidez, estrias, manchas senis, entre outras aplicações. • Ácido ferúlico: um ácido hidroxicinâmico com função antioxidante, bastante utilizado atualmente. • Ativos protetores solares: filtros físicos de barreira e filtros químicos de moléculas complexas fazem parte desse grande grupo de ativos que, em combinações diversas, são capazes de gerar diferentes tipos de proteção solar. • Resveratrol: encontrado nas uvas pretas e no vinho tinto, na pele do amendoim, em amoras, mirtilo, cranberry e cacau. Sua molécula polifenoólica (figura a seguir) já demonstra sua atividade antioxidante decorrente da ressonância capaz de enfraquecer efeitos de radicais livres. É, sem dúvida alguma, um dos melhores ativos nesse quesito. Além de antioxidante para a pele, o resveratrol tem ação protetora dos raios ultravioleta. HO OH OH Figura 16 – Molécula do Resveratrol • Ácido kójico: recomendado para o tratamento de manchas escuras e a prevenção do envelhecimento da pele pela ação antioxidante, também age como antimicrobiano; existe uma grande vantagem frente a outros despigmentantes, que é a de não ser fotossensibilizante durante o uso; ele é um dos bioativos naturais e sustentáveis da atualidade, produzido por fungos através da fermentação do arroz, soja, saquê e outros alimentos. • Alantoína: ativo que acelera a regeneração epitelial, forma uma película sobre a pele, impedindo a evaporação de água e a desidratação; é o produto final do metabolismo da purina e, como tal, encontra-se amplamente disseminada em organismos animais e vegetais, e pode ser obtida da planta confrei. 38 Unidade I • Ácido hialurônico: talvez um dos bioativos que mais aparece nas formulações para a pele, e já tem surgido também em produtos capilares; trata-se de uma substância produzida naturalmente pelo corpo, mas que, com o tempo, sua produção vai diminuindo e pode ser reposto em forma injetável, na forma de cremes e loções; tem ação hidratante e estimulante de colágeno; na forma injetável, é usado em harmonização facial como preenchedor e modelador. • Alfa bisabolol: constituinte do óleo essencial de camomila, é ótimo calmante da pele por seu poder anti-inflamatório, é também cicatrizante e antisséptico . • Hidroquinona: ativo que compete com a tirosina pela enzima tirosinase, impedindo a formação da melanina, agindo como clareador de pele manchada; há que se ter cuidado, pois é comum haver sensibilidade à hidroquinona. • Lipossomas AHA: ativo que une tecnologia dos lipossomas aos de alfa hidróxiácidos (ácido glicólico e ácido lático); tem ação queratolítica, hidratante e de renovação celular. • Lipossomas coenzima Q10: previnem o envelhecimento precoce da pele. • Lipossomas de vitaminas A, C e E: combatem radicais livres (C e) e renovam as células da pele (A). Os lipossomas são vesículas formadas por fosfolipídeos de soja que englobam os princípios ativos, levando-os até o local de ação sem que sofram alterações. Pode-se lipossomar ativos para pele e para cabelo. Como são semelhantes às membranas plasmáticas, a sua interação com as células é muito facilitada. E ainda considerando que tem uma porção hidrofílica e outra lipofílica, são capazes de carrear ativos das duas espécies. Sua estrutura básica pode ser visualizada a seguir. Figura 17 – Desenho esquemático de lipossoma Disponível em: https://bit.ly/3yF55nY. Acesso em: 12 jul. 2022. 39 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Cabe ressaltar que é grande a importância dos farmacêuticos na área dermocosmética, visto que o profissional é capaz de desenvolver formulações e adequar a posologia dos produtos para cada indivíduo, estando apto a indicá-los de acordo com as necessidades e desejos dos pacientes e clientes. Quanto aofato de que podem ser desenvolvidas formulações cosmecêuticas, não se pode deixar de atentar aos veículos e bases utilizadas nessas composições, bem como aos adjuvantes farmacotécnicos escolhidos. É fundamental que se conheça as compatibilidades entre ingredientes ativos, adjuvantes e veículos, a fim de que o produto acabado seja estável, efetivo e seguro. 2.7 Formulações Como exemplos de formulações cosmecêuticas, sugere-se observar as constantes a seguir, bem como a função dos bioativos utilizados. Sugere-se ainda prestar atenção às quantidades indicadas. • Creme despigmentante: — Hidroquinona 3% (despigmentação). — Ácido lático 2% (hidratação, microesfoliação, renovação celular). — Alfa bisabolol 0,5% (hidratação, anti-inflamação). — Creme ou fluido oil free q.s.p. (veículo livre de óleo) q.s.p. 100%. — Hidroquinona 5% (despigmentação). — Ácido kójico 2% (despigmentação). — Ácido azelaico ou azeloglicina 10% (despigmentação). — Creme-gel (ou loção) q.s.p. 100%.: • Loção antirrugas: — Microesponjas de retinol 5% (elasticidade, prevenção e atenuação de rugas). — DMAE (dimetil aminoetanol) 8% (estimulação da produção da acetilcolina). — Loção não iônica q.s.p. 100%. • Creme antirrugas: — Argireline 10% (previne e recupera rugas por movimentos repetitivos). — Elastinol 5% (torna a pele mais firme e mais elástica). — Creme não iônico q.s.p. 100%. 40 Unidade I As formulações sugerem tratamentos de rejuvenescimento e recuperação dos sinais do tempo sobre a pele, indicando os principais ativos individualmente e uma sugestão de base (veículo). Observação Em formulações para peeling químico que contêm alfa hidroxiácidos (ácido glicólico), é comum a neutralização de 10% do teor do AHA com uma base (NaOH), visando a formação de um tampão que melhora a hidratação da pele e reduz a irritação do produto. 2.8 Considerações finais A cosmetologia é diretamente ligada à estética, que tem sido a cada ano uma das principais áreas de atuação de profissionais da saúde. No entanto, é também ligada a tratamento e prevenção de disfunções dermatofisiológicas devido à capacidade dos cosmecêuticos de penetrar até as camadas mais profundas da pele, interferindo na sua fisiologia. É notória a atual preocupação em buscar um ponto de equilíbrio entre o que é natural e o que é tecnologicamente obtido. Enquanto muitos profissionais acreditam que os compostos naturais trazem mais benefícios à pele, surgem novos ativos tecnológicos que prometem rejuvenescimento e recuperação da beleza de forma mais rápida e eficaz. Não se pode deixar de lado o que a tecnologia traz, mas nem tudo o que é natural é inofensivo e totalmente liberado. Por fim, é desejável que haja atenção por parte do produtor quanto às escolhas de fármacos e suas concentrações, aditivos e veículos, bem como por parte do dispensador das formulações dermocosméticas, pois, de acordo com o exposto, pode-se perceber que são nos detalhes que residem o sucesso ou o fracasso de um tratamento. Saiba mais Para se aprofundar e entender melhor os cosmecêuticos, leia o artigo a seguir: MUKTA, S.; ADAM, F. Cosmeceuticals in day-to-day clinical practice. Journal of Drugs in Dermatology, v. 9, n. 5, p. 62-66, May 2010. 3 PREPARAÇÕES COSMÉTICAS PARA HIGIENE E LIMPEZA O conceito de higiene na conservação da saúde remonta há muitos séculos. A palavra higiene deriva do termo Higeia ou Higia, a filha do semideus Asclépio, filho de Apolo, o Deus grego da saúde. Não é à toa que Asclépio, com seu bastão (caduceu), representa o símbolo da medicina e Higeia, segurando um vaso envolto por uma serpente, representa o símbolo da farmácia (figura a seguir). 41 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Figura 18 – Representação de Asclépio e sua filha Higeia, que personificam os símbolos da medicina e da farmácia, respectivamente Disponível em: https://bit.ly/3OyZF4n. Acesso em: 30 jun. 2022. A saúde sempre foi uma preocupação dos seres humanos. Os egípcios utilizavam óleos vegetais, gorduras animais e sais alcalinos para manter o asseio. Preparavam um produto chamado Khol (uma mistura negra de gordura + sulfato de chumbo) para proteção das pálpebras. O Papiro de Eber, descoberto pelo arqueólogo alemão Georg Eber no Egito e datado de 1500 a.C., faz referência a mais de 7 mil substâncias em mais de 800 formulações descritas de forma quantitativa. Nele há a descrição de como combinar óleos animais e vegetais com sais alcalinos para obter um produto que se parece com o sabão. No século V a.C., os banhos já eram hábito, e os gregos abastados tinham salas de banho em suas residências. Os cidadãos menos abastados frequentavam banhos públicos ou se lavavam nos rios. A banheira mais antiga conhecida é datada de 1700 a.C. e foi encontrada na cidade de Knossos, na Grécia. Os romanos consideravam a higiene uma virtude e um sinal de elegância. Construíram aquedutos para transportar água para as grandes cidades e assim disponibilizá-la para a população. Alguns banhos públicos possuíam água quente e fria. 42 Unidade I As tabletas de Nippur, documentos de barro em escrita sumério-babilônica datados de 1700 a.C., contêm os registros mais antigos sobre o uso de sabões para higienização do corpo. O historiador Plínio descreve que o sabão já era preparado pelos fenícios desde 600 a.C., cozendo-se o sebo de animais com cinzas de madeira. A rainha do Egito, Cleópatra, utilizava óleos essenciais, leite de égua e areia fina em seus banhos hidratantes. Segundo historiadores, o termo sabão deriva do Monte Sapo (Roma), onde eram realizados sacrifícios de animais em pilhas crematórias e quando chovia, a água arrastava o sebo dos animais derretido nas cinzas para o rio Tibre, gerando a formação de espuma que era aproveitada para a lavagem de roupas, visto que esse processo ficava mais fácil de ser realizado. Na cidade grega de Pompeia, destruída pelas lavas do vulcão Vesúvio, foram encontradas ruínas preservadas de uma fábrica de sabão. No século II, Galeno, o médico dos imperadores, desenvolveu uma preparação emulsiva a partir da reação de gordura de baleia com um mineral alcalino chamado bórax (borato de sódio) e água. Esse é um dos primeiros registro acerca da arte de misturar dois líquidos imiscíveis entre si por meio de uma reação de emulsificação. Os árabes no século VII desenvolveram o processo de saponificação a partir da reação de gordura animal com substâncias alcalinas. Os espanhóis aperfeiçoaram o método utilizando óleo de oliva. Willian Colgate abre, em 1806, 1ª. fábrica de sabão nos EUA. Em 1878, Harley Procter e James Gamble começam a produzir sabonete nos EUA. Um produto menos cáustico que os sabões tradicionais No Brasil, a Casa Granado começa, a partir de 1870, a desenvolver e a vender produtos de higiene, que, nessa época, eram muito valorizados. O italiano José Milani passa a fabricar, no Brasil, o sabonete Gessy (1913). 3.1 Preparo de sabão Os sabões podem ser obtidos a partir da reação de neutralização, nesse caso, chamada de saponificação, entre ácidos graxos presentes em gorduras e óleos de origem animal ou vegetal, com substâncias alcalinas, formando um sal que apresenta propriedades tensoativas. A utilização de cinzas como agente alcalino para realizar a reação dificultava a produção em larga escala de sabão, o que foi solucionado com a síntese química de hidróxido de sódio, com os estudos do químico francês Nicolas Leblanc (1742-1806) sobre a obtenção de soda (hidróxido de sódio) a partir do carbonato de sódio (barrilha) com baixo custo de produção. Dessa forma, observou-se o desenvolvimento da saboaria na qual o sabão passou de artigo de luxo para se tornar um item acessível para a população. O processo de obtenção de sabões se manteve até 1916, quando se desenvolveu o primeiro tensoativo sintético, que facilitou o processo de obtenção de produtos para a higiene pessoal. 43 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Os sabões são obtidos quimicamente a partir da reação do hidróxido de sódio (soda) com ésteresde ácidos graxos (triglicérides) presentes em gorduras e óleos. O processo é muito simples e pode ser realizado em cubas contendo agentes graxos (ácidos graxos), soda e água, seguido de aquecimento para que a reação de saponificação possa ocorrer. O aquecimento, além de permitir a reação química, evapora o excesso de água e vai dando consistência ao produto (figura a seguir). A partir de 1950, os sabões passam a ser produzidos de derivados do petróleo. Óleo ou gordura + base inorgânica → sabão + glicerina Triglicerídeo Sabões Glicerol ++ 3 NaOH → soda cáustica OH OH OH CH2 CH2 CH2 O O O O-Na+ O-Na+ O-Na+ C C C R R R O O O O O O CH2 CH2 CH2 C C C R R R Figura 19 – Reação de saponificação para obtenção de sabão Os tensoativos possuem propriedades similares aos sabões, entretanto, não são tão sensíveis quanto os sabões em relação à presença de sais minerais dissolvidos na água, o que pode causar a insolubilidade do sabão. Dessa forma, os tensoativos dão mais flexibilidade ao formulador. Os tensoativos são compostos formados por uma parte polar, que tem afinidade pela água (hidrofílica), e outra parte apolar, que apresenta afinidade por óleo (lipofílica). Por apresentarem essas duas características (lipo e hidrofílica) em sua estrutura molecular, são denominados substâncias anfifílicas. Os tensoativos reduzem a tensão interfacial entre dois líquidos, permitindo que se misturem na forma de pequenas gotículas chamadas micelas. Os tensoativos podem ser classificados quanto à natureza iônica: • Aniônicos: — Sabões: laurato de potássio, estearato de trietanolamina. — Sulfatos: lauril sulfato de sódio, polioxietileno-alquil-sulfatos. — Sulfonato: dodecil sulfonato de sódio. • Catiônicos: — Derivados de amônio quaternário: cloreto de cetiltrimetilamônio. 44 Unidade I • Anfóteros: — A carga depende do pH do meio (betaínas). • Não iônicos: — Ésteres graxos de polioxietileno-sorbitano (Tween). — Ésteres graxos de sorbitano (Span). 3.2 Preparo de sabonetes Os sabonetes são menos cáusticos que os sabões e apresentam um toque mais suave em função das matérias-primas utilizadas. Dependendo da composição e do processo de fabricação, podemos ter sabonetes tradicionais, sabonetes glicerinados ou sabonetes combar (figura a seguir). Figura 20 – Sabonetes tradicionais em barra Disponível em: https://bit.ly/3NZGxeS. Acesso em: 12 jul. 2022. A escolha da matéria-prima é importante para a elaboração dos produtos de qualidade e alguns fatores devem ser considerados: utilização de matérias-primas de boa qualidade, uma vez que a oxidação das insaturações dos ácidos graxos gera odor pungente de ranço, que é um processo é irreversível. Os sabonetes tradicionais são constituídos pela mistura de 80% a 85% de ácidos graxos presentes em gorduras animais (sebo) com 15% a 20% de ácidos graxos presentes no óleo de coco, babaçu ou palmito, na forma de sais de sódio (80% do produto). Os 20% restantes do produto é de impurezas, como glicerol, cloreto de sódio, alcalinidade residual e umidade. Os ácidos graxos presentes na gordura animal possuem de 16 a 18 átomos de carbono (C16-18) e são responsáveis pela qualidade da espuma do produto. Já os ácidos graxos presentes nos óleos vegetais possuem de 12 a 14 átomos de carbono (C12-14) e são responsáveis pela quantidade de espuma. 45 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Os ácidos graxos animais podem ser substituídos pelo óleo de palma ou de dendê em virtude da similaridade nas cadeias graxas. O processo de fabricação de sabonetes tradicionais requer equipamento específico para a obtenção de um produto final adequado. Pode-se utilizar massa-base de sabonetes tradicionais para o preparo de sabonetes transparentes, como o sabonete de glicerina. Assim, para o preparo de sabonetes, é necessário dispor de matérias-primas de qualidade compostas por: • ácidos graxos C16-18 (palmítico, esteárico e oleico); • ácidos graxos C12-14 (láurico e mirístico); • álcalis: NaOH (sabão duro); KOH (sabão mole); trietanolamina (sabonetes); • adjuvantes diversos: corantes, fragrâncias, agentes umectantes, agentes opacificantes (TiO2) e antissépticos (triclosan). Os sabonetes glicerinados transparentes são preparados a partir da massa-base de sabonetes tradicionais, solubilizada em 15% de etanol e adicionada de umectantes, como glicerina, propilenoglicol ou sorbitol e sacarose, que confere elevada transparência, mas baixo poder espumante, daí a possibilidade da incorporação de tensoativos e dietanolamina de ácido graxo de coco para melhor a espumabilidade do produto. Eles são facilmente obtidos pela moldagem da massa de sabonete fundida (figura a seguir). Figura 21 – Sabonete de glicerina Disponível em: https://bit.ly/3AEN0c8. Acesso em: 12 jul. 2022. O sabonete do tipo combar é uma associação de sabão com detergente sintético que reforça a ação espumógena e permite a obtenção de produtos menos alcalinos. Esses produtos são mais estáveis na presença de sais minerais na água. 46 Unidade I 3.3 Preparo de sabonete líquido Os sabonetes líquidos possuem uma composição muito parecida com a dos xampus, mas com maior concentração de detergente (45% a 60%). Eles podem se apresentar na forma transparente, perolada ou misturada com estearatos alcalinos para a obtenção de preparações cremosas. Os produtos atuais tentam eliminar alguns inconvenientes dos sabões na forma de sais alcalinos de ácidos graxos, como o elevado valor de pH do produto, a remoção excessiva de gordura, a interação com cálcio e magnésio em águas duras e o ressecamento da pele. A adição de sobreengordurantes, como a dietanolamina de ácido graxo de coco, melhora o poder espumógeno, além de repor parte da oleosidade retirada (ação sobreengordurante) e de aumentar a viscosidade do produto. Os tensoativos mais utilizados no preparo de sabonetes líquidos são o laurilsulfato de sódio (LSS) e o lauril éter sulfato de sódio (LESS). A suavidade do sabonete líquido pode ser aumentada pela adição de tensoativos não iônicos, como os alquil poliglicosídeos e os alquilsulfatos, reduzindo uma possível irritação na pele. Quando a preparação apresenta a possibilidade de turvação, como na incorporação de ativos contendo etanol, pode-se adicionar agentes opacificantes que dão um efeito leitoso e uma sensação cremosa ao produto. Os principais agentes perolizantes são o monoestearato de etilenoglicol e o diestearato etilenoglicol. Também pode-se adicionar agentes bactericidas de amplo espectro aos sabonetes líquidos, como o triclosan (Igarsan DP 300). A incorporação de agentes gelificantes, como as gomas guar, xantana ou derivados de celulose, além de aumentar a viscosidade do produto, dá uma sensação agradável após aplicação e enxágue. Esses sabonetes líquidos são chamados de shower gel. 3.4 Preparo de sais de banho Os sais de banho foram desenvolvidos, inicialmente, para eliminar os íons de cálcio e magnésio, responsáveis pela dureza da água, para que os sabões pudessem realizar com eficiência a remoção de sujidades. A utilização de tensoativos sintéticos minimiza essa ação, pois são menos sensíveis à dureza da água. Os sais de banho são produtos com sal marinho e podem conter outros componentes em sua composição para lhes dar alguma característica particular. Existem vários tipos de sais de banho e cada um deles tem um uso específico, a saber: • agente harmonizador das energias corporais; • esfoliante suave com o uso de buchas; • espumante para banheiras; • fonte de aromas durante o banho. 47 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO O principal constituinte dos sais de banho é o cloreto de sódio, o qual pode ser obtido a partir da evaporação da água do mar nas salinas (nesse caso, é chamado de sal marinho) ou pode vir de jazidas subterrâneas ou superficiais que surgiram pela evaporação de lagos ou mares antigos (nesse caso, é chamado de sal-gema). No Brasil, o principal sal utilizado é o sal marinho. Além do cloreto de sódio, podem ser utilizadosos seguintes agentes na composição dos sais de banho: • Carbonato de sódio: redutor da dureza da água. • Tiossulfato de sódio: utilizado em sais terapêuticos pelas propriedades do enxofre. • Bicarbonato de sódio ou potássio: utilizado para obter um efeito efervescente e espumógeno a partir da reação de efervescência com ácido cítrico, ácido tartárico e lauril sulfato de sódio em pó. • Sulfato de sódio, potássio e magnésio. • Tetraborato de sódio: redução da dureza da água. 3.5 Preparo de óleo para banho Óleos para banho são formas cosméticas de natureza líquida, perfumada e colorida, podendo apresentar diversas fase de acordo com a densidade dos líquidos utilizados, destinadas a aromatizar a água para banho ou para aplicação tópica sobre o corpo ainda molhado, perfumando e conferindo emoliência à pele. Pode-se utilizar tensoativos de natureza não iônica com baixo equilíbrio hidrófilo-lipófilo (EHL), em baixa proporção (5%), visando facilitar a interação com os componentes oleosos da preparação e conferir suavidade à preparação. É comum a utilização de tensoativos etoxilados, como álcool oleílico etoxilado 3OE. A fragrância do produto é um elemento essencial para sua aceitação pelo consumidor. 3.6 Formulações A tabela a seguir ilustra as porcentagens específicas para a formulação de sabonete em barra: Tabela 1 – Sabonete em barra Componente Porcentagem Massa-base para sabonete 70,0% Lauril éter sulfato de sódio 3,0% Álcool etílico 5,0% Sacarose 3,0% Glicerina 5,0% Essência q.s. Corante q.s. Água purificada q.s.p. 100, 0 mL 48 Unidade I Observação A sigla q.s. significa “quantidade suficiente”, e a sigla q.s.p. significa “quantidade suficiente para”. Técnica de preparo 1. Pesar a sacarose e pulverizar em gral. Transferir para um béquer e dissolvê-la na mistura de água e glicerina. 2. Transferir o lauril éter sulfato de sódio para o béquer acima e homogeneizar. 3. Pesar a massa-base para sabonete e transferir para um béquer. Levar ao banho-maria até completa liquefação. 4. Retirar do banho-maria e imediatamente adicionar o conteúdo do béquer, álcool etílico, corante e essência. 5. Transferir para moldes/formas e aguardar resfriamento. 6. Acondicionar e rotular. Observação: • Glicerina, sacarose e álcool etílico garantem a transparência do sabonete. • É possível adicionar um extrato vegetal, como o extrato glicólico de erva-doce (≅ 5%). Tabela 2 – Sabonete líquido perolado Componente Porcentagem Lauril éter sulfato de sódio 30,0% Cocoamidopropil betaína 10,0% Base perolada 5,0% Dietanolamina de ácido graxo de coco 5,0% Diestearato de PEG 6000 1,0% Propilenoglicol 3,0% Metilparabeno 0,1% Imidazolidinil ureia (Germall) 0,3% Corante q.s. Essência q.s. Ácido cítrico 10% q.s. pH = 6,0 Água purificada q.s.p. 100,0 mL 49 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Técnica de preparo 1. Pesar o metilparabeno e EDTA Na2, separadamente, e transferir para um béquer contendo 45 mL de água purificada. Aquecer em banho-maria até a completa dissolução dos sólidos. 2. Adicionar e dissolver o diestearato de PEG 6000 a quente no béquer acima. 3. Transferir o conteúdo do béquer para um cálice e adicionar, intercalando com agitação, lauril éter sulfato de sódio, cocoamidopropil betaína, base perolada e dietanolamina de ácido graxo de coco. 4. Adicionar corante e essência. 5. Medir e acertar o pH para o valor de 6,0. 6. Completar com água q.s.p. 100 mL. 7. Acondicionar e rotular. Tabela 3 – Sabonete líquido íntimo Componente Porcentagem Lauril éter sulfato de sódio 30,0% Cocoamidopropil betaína 7,0% Dietanolamina de ácido graxo de coco 3,0% Diestearato de PEG 6000 3,0% Triclosan 0,5% Glicerina 1,0% EDTA dissódico 0,05% Parabenos/fenoxietanol 0,8% Extrato glicólico de Aloe vera 0,5% Corante q.s. Fragrância q.s. Ácido lático q.s. pH = 4,0 Água purificada q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Em um copo graduado de 125 mL, solubilizar EDTA, glicerina e solução de parabenos em q.s. de água. 2. Em um béquer, solubilizar os 5 primeiros componentes em banho-maria a cerca de 50 ºC e homogeneizar. Adicionar e dissolver o diestearato de PEG 6000 a quente no béquer acima. 3. Transferir o conteúdo do béquer para o copo graduado e homogeneizar. 50 Unidade I 4. Adicionar corante e essência. 5. Medir e acertar o pH para o valor de 4,0. 6. Completar com água q.s.p. 100 mL. 7. Acondicionar e rotular (CORREA, 2012, p. 473). Tabela 4 – Sal para banho Componente Porcentagem Cloreto de sódio 93,0% Lauril sulfato de sódio 5,0% Álcool etílico 1,0% Essência 1,0% Corante q.s. Técnica de preparo 1. Uniformizar o tamanho dos cristais de cloreto de sódio em gral de vidro. 2. Juntar o lauril sulfato de sódio e homogeneizar. 3. Misturar a solução de etano + essência + corante ao gral de vidro. 4. Homogeneizar bem e desprezar o excesso de solução. 5. Espalhar os cristais sobre papel impermeável e deixar secar. Tabela 5 – Óleo para banho trifásico Fase 1 Óleo mineral 15,0 mL Óleo de amêndoas 5,0 mL Fase 2 Óleo de silicone 20,0 mL Fase 3 Propilenoglicol 3,0 mL Essência 5,0 mL Água purificada 12,0 mL Corante q.s. 51 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Técnica de preparo 1. Em cálice, dissolver o corante na água. 2. Adicionar os outros componentes, homogeneizando. 3. Aguardar a separação das fases. 4. Acondicionar e rotular. Tabela 6 – Óleo para banho Componente Porcentagem Triglicerídeo de ácido cáprico caprílico 5,0% Estearato de octila 2,0% Álcool oleílico etoxilado 3 OE 7,0% Butilhidroxitolueno (BHT) 0,05% Óleo de gérmen de trigo 2,5% Óleo de semente de uva 2,5% Óleo de maracujá 2,5% Alfa tocoferol 0,2%. Fragrância q.s. Óleo mineral q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Em um béquer 100 mL, dispersar o BHT no óleo mineral. Se necessário, aquecer em banho-maria. 2. Transferir todos os outros componentes para um copo graduado de 125 mL e homogeneizar. 3. Transferir o conteúdo do béquer para o copo graduado e homogeneizar. 4. Acondicionar e rotular. Destaca-se que todos os recipientes a serem utilizados devem estar anidros para que não haja turvação da preparação oleosa (CORREA, 2012, p. 474). Saiba mais Para entender melhor os produtos para higiene e banho, leia a referência a seguir. CORREA, M. A. Cosmetologia: ciência e técnica. São Paulo: Medfarma, 2012. 52 Unidade I 4 PREPARAÇÕES COSMÉTICAS PARA HIGIENE E TRATAMENTO CAPILAR Não se pode falar em produtos para higiene capilar sem uma revisão sobre as características do fio de cabelo e do couro cabeludo. O fio de cabelo se origina em uma invaginação epidérmica localizada na papila dérmica, que é uma estrutura fibrovascular especializada e responsável pelo crescimento e pela manutenção do folículo piloso. A coloração do cabelo está relacionada ao tipo de melanina produzido pelo indivíduo. Quando visto ao microscópio eletrônico, percebe-se que o cabelo é formado por um conjunto de fibrilas e que cada fibrila é constituída por um grupo de fibras menores enroladas, como se formassem uma corda. Essas fibras são constituídas por queratina, proteínas que se caracterizam por sua elevada resistência e insolubilidade em água (figura a seguir). Cadeira proteica a-helicoidal Matriz Proteínas ricas em enxofre (S) Proteínas ricas em enxofre (S) Remanecente nuclear Protofibrilas Microfibrilas Microfibrilas Complexo membranoso celular Endocutícula Córtex Cutícula Célula paracordical Célula ortocortical Célula mesocordical Epicutícula Exocutícula A Exocutícula B Figura 22 – Estrutura do fio de cabelo mostrando as microfibrilas Fonte: Souza e Machado (2019, p. 52). Macroscopicamente, o pelo é constituído por três partes principais, Vejamos na sequência: • Haste: parte visível do cabelo, constituída por três camadas vistas ao microscópio óptico e conhecidas como (figuras 23 e 24): ―— medula: parte central do pelo composta de inúmeras microfibrilas; ―— córtex: camada mediana formada por células queratinizadas; ―— cutícula: camada externa. 53TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Camada hialina Córtex do cabelo Medula do cabelo Camada de Huxley Camada de Henle Fio externo ou dérmico Figura 23 – Estrutura do fio de cabelo Adaptada de: https://bit.ly/3yWytXU. Acesso em: 12 jul. 2022. • Raiz: parte interna do cabelo e inserida na derme. • Bulbo: extremidade viva do cabelo que recebe inervação e nutrição específica. Medula Músculo eretor do pelo Epiderme Derme Camada subcutânea Células adiposas Glândulas sebáceas Bulbo Papila Córtex Cutícula Figura 24 – Estrutura da raiz e do bulbo fio de cabelo mostrando sua inervação Adaptada de: Cestari (2012, p. 9). 54 Unidade I Durante a vida, ocorre uma constante renovação dos fios de cabelo, de acordo com as fases de crescimento. Os pelos do couro cabeludo duram de 2 a 6 anos e diariamente são perdidos cerca de 100 fios de cabelo. Diversos problemas podem afligir o cabelo, principalmente quando se realizam tratamentos cáusticos, como alisamentos e mudança de cor, que podem danificar essa estrutura básica do cabelo. O tratamento capilar do ponto de vista cosmético tem como objetivo proporcionar a limpeza dos fios e do couro cabeludo com a retirada de detritos e oleosidade excessiva. Também podem ser utilizados para condicionamento e restauração do cabelo danificado, devolvendo brilho e maciez. Nesse sentido, duas formas cosméticas são imprescindíveis para a obtenção desses objetivos: os xampus e os condicionadores. 4.1 Xampus Produtos cosméticos destinados à limpeza e ao condicionamento do cabelo sem causar-lhes danos ou irritações no couro cabeludo. A limpeza do cabelo e do couro cabeludo é efetuada pela ação de tensoativos ou surfactantes. Tensoativos são substâncias que reduzem a tensão superficial entre duas interfaces (nesse caso a água e o ar), facilitando o contato com as sujidades presentes nos fios. As sujidades presentes no meio ambiente (como poeiras, fumaças e névoas) ou aquelas produzidas pelo próprio organismo (como os produtos gerados da lipólise do sebo, os eletrólitos do suor, as células epiteliais decorrentes da descamação da camada córnea) se aderem ao fio por causa da oleosidade produzida pelas glândulas sebáceas e sudoríparas do tipo apócrinas. O cabelo sujo perde o brilho e adquire odor desagradável. Os xampus podem ser dos seguintes tipos: • Tradicional: promovem a limpeza e o condicionamento do cabelo. • Tratamento: proporcionam brilho, volume, recuperação e hidratação de fios de cabelo. • Medicinal: contêm princípios ativos que atuam fisiologicamente contra caspa, queda do cabelo, seborreia etc. Na preparação de xampus, o formulador deve sempre considerar que as principais características desejáveis dos xampus são: • formação abundante de espuma; • eliminação eficaz da sujidade; • facilidade de enxágue e penteado, fornecendo brilho ao cabelo; • não irritação no couro cabeludo e, se possível, nos olhos e na pele; • viscosidade adequada; • cores e perfumes agradáveis; • adequado ao uso e, se possível, ecocompatível. 55 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO A detergência do xampu deve ser adequada tendo em vista que representa a principal finalidade do produto: limpeza do couro cabeludo e do cabelo. Em que pese a detergência não estar diretamente relacionada à formação de espumas, esse fator é importante, pois o consumidor correlaciona a limpeza com a formação de espuma cremosa e abundante. Vale também considerar o valor do pH do produto, pois o ponto isoelétrico da queratina (proteína abundante no fio de cabelo) encontra-se em equilíbrio em valor de pH entre 3,7 e 4 (cargas + e - em equilíbrio evitam o excesso de uma delas e a repulsão entre as cargas em excesso). Em um pH em torno de 4,0, a estabilidade dos tensoativos pode ser comprometida, assim como a viscosidade do produto, adotando-se valor de pH final em torno de 6,0. Outro fator a ser considerado é a irritabilidade do produto, principalmente em relação à irritação ocular, a exemplo de xampus infantis que devem ser elaborados com tensoativos com menor possibilidade de causar esse tipo de irritação. Os xampus podem ser elaborados em diferentes formas cosméticas, vejamos as mais comuns: • Forma líquida transparente: mais utilizada, tendo em vista que transmite a ideia de pureza e limpeza (xampu cristal, xampu para cabelo oleoso e xampu para seborreia). • Forma líquida de aspecto perolado: transmite a ideia de tratamento cosmético e riqueza da formulação (xampu para cabelo seco); geralmente preparada quando algum componente impede sua total transparência pela turvação do produto. • Forma líquida opaca: devido à alta capacidade opacificante dos ativos empregados, geralmente de característica insolúvel em água, como piritionato de zinco e sulfeto de selênio . 4.1.1 Componentes dos xampus Na preparação de um xampu, devemos considerar a possibilidade de utilização das seguintes matérias-primas: agentes de limpeza (tensoativos), estabilizadores de espuma, sobreengordurantes, regulador do pH, conservantes, fragrâncias, corantes, opacificantes e água, entre outros, dependendo da forma cosmética a ser adotada. 4.1.1.1 Tensoativos Embora a água seja o componente mais utilizado para realizar a limpeza de sujidades tanto no corpo, quanto nas roupas que usamos, ela, por si só, não realiza a remoção das sujidades de natureza lipofílica, uma vez que sua elevada constante dielétrica impede sua interação com as sujidades lipofílicas. A elevada tensão superficial entre a fase aquosa e oleosa impede a remoção da fase oleosa da superfície onde ela está fixada. Para que isso ocorra, é necessária a adição de substâncias que diminuam a tensão entre essas duas interfaces. As substâncias que promovem essa redução da tensão superficial são chamadas surfactantes (do inglês surface active) ou tensoativos. 56 Unidade I Entretanto, somente a redução da tensão superficial não é suficiente para a remoção dos componentes lipofílicos ligados à superfície. É necessária a agitação mecânica das interfaces aquosa e oleosa (fricção da superfície com as mãos ou com esponja) para que tensoativo possa se interpor entre as duas fases e, assim, formar pequenas gotículas de óleo associadas à formação de espuma e que serão removidas pela corrente de água. Os tensoativos são os principais componentes de um xampu, tendo em vista que eles limpam efetivamente os fios e o couro cabeludo. São compostos orgânicos naturais ou sintéticos que apresentam estruturalmente uma longa cadeia lipofílica (apolar ou hidrofóbica) e uma porção hidrofílica (polar ou lipofóbica) na mesma molécula. Possuem, portanto, uma característica anfifílica, capazes de interagir com a água e com substâncias lipofílicas, como óleos e solventes orgânicos. Organizam-se, dependendo da concentração, na forma de pequenas gotículas de óleo ou de água chamadas micelas, de modo a não permitir que as partes solúveis em óleo (porção hidrófoba) entrem em contato com a água. A figura a seguir mostra a estrutura molecular de dois tensoativos muito utilizados: o lauril éter sulfato de sódio (CH12H25(OCH2CH2)OSO3 -Na+) e o lauril sulfato de sódio. Lauril éter sulfato de sódio Lauril sulfato de sódio n S O O O O O-Na+ S O O O O-Na+ Figura 25 – Estrutura de dois tensoativos comuns em cosmetologia Quando em contato com a água, os tensoativos podem ser classificados em: • aniônicos: adquirem carga negativa; • catiônicos: adquirem carga positiva; • anfóteros: pH ácido (+) e pH alcalino (-); • não iônicos: não formam carga. Observação Os tensoativos aniônicos não são compatíveis com tensoativos catiônicos, podendo precipitar ou turvar a solução. Já a mistura numa mesma formulação de tensoativos – aniônicos, anfóteros e não iônicos – apresenta compatibilidade. 57 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Tensoativos aniônicos Nesse grupo de tensoativos, temos os principais agentes utilizados para limpeza, como os sabões. Sabões são tensoativos de natureza aniônica, tradicionalmente obtidos pelo aquecimentode gorduras e óleos com um álcali (soda cáustica ou hidróxido de sódio). Por meio dessa reação de saponificação, forma-se um sal dos ácidos graxos de natureza aniônica com propriedade tensoativa. A gordura é geralmente proveniente de sebo ou gorduras animal; e o óleo geralmente é de origem vegetal, como babaçu, soja, palma e algodão. Com o avanço da indústria de síntese, desde os anos 1950, passou-se a utilizar tensoativos de origem sintética e não mais sabões para o preparo de xampus. Os tensoativos aniônicos são os mais utilizados por apresentarem bom poder de limpeza e detergência, boa formação de espuma e baixo custo. • Alquil sulfatos Os alquil sulfatos correspondem à classe de tensoativos aniônicos mais utilizada no preparo de xampus. São obtidos pela reação de sulfatação de um álcool graxo seguido de neutralização com diferentes agentes. Neles, a parte polar da molécula é o íon sulfato, e a parte apolar, a cadeia carbônica linear do álcool láurico (C12) e álcool miristílico (C14). Como exemplos dessa classe, temos lauril sulfato de sódio (LSS), lauril sulfato de trietanolamina e lauril sulfato de amônio, que possuem bom poder de umectação, limpeza e adequado volume de espuma. • Alquil éter sulfatos Apresentam maior solubilidade em água e menor poder irritante. São obtidos da mesma maneira que os alquil sulfatos, porém é feita uma reação de etoxilação prévia à neutralização, onde são inseridos 1 ou 2 mols de óxido de etileno, proporcionando maior suavidade ao tensoativo. Quanto maior o grau de etoxilação, menor o poder espumante e a viscosidade do agente. O principal tensoativo dessa classe é o lauril éter sulfato de sódio (LESS) e sua fórmula geral é R(OCH2CH2) nOSO3 -M+ (ver estrutura química na figura 26). • Alquil sulfosuccinatos Obtidos pela reação de condensação entre o anidrido maleico com o grupo hidroxila do álcool láurico etoxilado, que vai gerar o monolauril éter sulfosuccinato de sódio. Tem menor poder espumógeno, mas apresentam substantividade pelo cabelo, o que confere poder condicionador do cabelo e um toque leve e sedoso. Tensoativos catiônicos Esses tensoativos derivados de amônio quaternário apresentam propriedades antimicrobianas e, apesar de formarem bastante espuma, apresentam apenas razoável poder de limpeza. São mais 58 Unidade I utilizados por suas propriedades antiestáticas no preparo de condicionadores, uma vez que, quando aplicados após a lavagem do cabelo, facilitam o penteado, dão forma e brilho ao cabelo sem gerar forças eletrostáticas. Podem apresentam um comportamento irritante nos olhos. São exemplos dessa classe de tensoativos os sais de alquil trimetil amônio, como o cloreto de cetilmetilamônio ou cloreto de cetrimônio. Estrutura geral: RN+(CH3)3 X - (figura a seguir). HC 3 CH3 CH3N R + X- Figura 26 – Estrutura geral de um derivado de amônio quaternário Tensoativos não iônicos Essa classe de tensoativos, quando solubilizada em meio aquoso, não apresenta cargas. Fazem parte os derivados polioxietilênicos e seus ésteres, os produtos de condensação do óxido de etileno, ésteres de sorbitol, ésteres sacarides de ácidos graxos e as amidas de ácidos graxos de coco. Possuem baixo poder detergente e espumante e baixo poder irritante para a mucosa ocular. Por isso, não são utilizados como tensoativos primários em xampus, mas melhoraram as propriedades de tensoativos aniônicos. Também podem ser usados como agentes espessantes, sobreengordurantes, estabilizadores de espuma, solventes de fragrâncias, além de conferir cremosidade ao produto. São exemplos de tensoativos não iônicos a dietanolamida de ácidos graxos de coco e o lauril poliglicosídeo. • Alcanolaminas de ácido graxo de coco Esses agentes são obtidos pela condensação de ácidos graxos (oleico, mirístico, láurico) com uma alcanaloamina primária, como a mono ou dietanolamina. A mistura obtida é um eficiente estabilizador de espuma, entretanto o xampu adquire um pH elevado que necessita ser corrigido com ácidos fracos, como o ácido cítrico. As alcanolaminas aumentam a solubilidade do tensoativo primário reduzindo sua turvação, além de aumentar a viscosidade do produto e favorecer o condicionamento do cabelo. Sua concentração em xampus varia de 10% a 15%. Estrutura geral: RCONHCH2CH2OH (figura a seguir). O OH OH N Figura 27 – Estrutura da dietanolamina de ácido graxo de coco 59 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO • Alquilpoliglicosídeos Esses agentes são obtidos a partir da reação entre a glicose de milho e álcoois graxos do óleo de coco. Possuem boa solubilidade em água devido aos diversos grupos hidrofílicos da molécula. O laurilpoliglicosídeo (LPG) é utilizado como tensoativo auxiliar ou secundário em produtos de limpeza por sua suavidade na pele e no cabelo, por seu elevado poder espessante e estabilizador de espuma e baixa irritação ocular. Já o decil poliglicosídeos (DPG) apresenta as mesmas propriedades, mas é utilizado como tensoativo primário por seu alto poder detergente (figura a seguir). 1 2 3 n 5 64 H OH OH H H HH H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H H b a d c HO HO O O Figura 28 – Estrutura genérica de um surfactante alquil poliglicosídeo Tensoativos anfóteros Esses agentes são derivados carboxilados da imidazolina de ácidos graxos de coco. São compostos ionizáveis de modo que seu comportamento iônico depende do valor do pH da solução. Em pH ácido, tem comportamento de detergente catiônico. Em pH alcalino, tem comportamento de detergente aniônico. O grau de irritação ocular é baixo e, por isso, são indicados para xampus infantis. São mais utilizados como tensoativos auxiliares (condicionadores). Os compostos imidazolínicos e as betaínas são exemplos de tensoativos dessa classe. Estrutura geral das betaínas RN+(CH3)2CH2COO - , onde R equivale de 12 a 18 carbonos (figura a seguir). N+ CH3 H3C H2 C C O O- H3C Figura 29 – Estrutura genérica da glicilbetaína, cuja carga + ou – depende do valor do pH do meio onde ela estiver inserida 4.1.1.2 Propriedades dos tensoativos Os tensoativos apresentam, por suas características estruturais, uma série de propriedades que podem ser utilizadas pelo formulador na elaboração de xampus, veja algumas delas: 60 Unidade I • Antiestático: apresenta carga positiva em sua estrutura química, o que favorece a neutralização das cargas negativas que recobrem o fio de cabelo e causam aumento no volume do penteado (característica dos tensoativos catiônicos e anfóteros em pH ácido). • Detergente: capacidade de remover as sujidades pela redução da tensão superficial da água, o que permite a emulsificação das sujidades lipofílicas com ou sem a formação de espuma. • Emulsionante: assegura a estabilidade da dispersão de um agente apolar (lipofílico) com a água, facilitando sua remoção das superfícies. • Espessante: promove aumento da viscosidade, evitando precipitações. • Estabilizador de espuma: aumenta o volume e estabiliza a espuma deixando-a mais cremosa (ação característica das alcanolamidas de ácidos graxos e dos tensoativos anfóteros). • Solubilizante: solubiliza compostos lipofílicos, como fragrâncias e óleos essenciais, em água. • Umectante: favorece o contato da água com outras substâncias e o cabelo. O quadro a seguir apresenta algumas características de tensoativos utilizados na formulação dos variados tipos de xampu. Quadro 6 – Características de alguns tensoativos Nome químico Características Coco betaína Tensoativo anfótero, estabilizador de espuma, agente condicionante: associado aos aniônicos, aumenta a viscosidade (melhor efeito em relação ao cocoamidopropil betaína) Cocoamidopropil betaína Tensoativo anfótero, estabilizador de espuma, agente condicionante: associado aos aniônicos, aumenta a viscosidade Cocoanfocarboxiglicinato Tensoativo anfótero suave Cocoanfoacetato de sódio Tensoativo anfótero com propriedades de condicionamento Dietanolamida do ácido graxo de coco Tensoativo não iônico,espessante, sobreengordurante, estabilizador de espuma Decil glicosídeo Tensoativo não iônico suave Lauril sulfato de sódio Tensoativo aniônico, ótimo poder espumante e detergência, alta irritabilidade aos olhos, baixa solubilidade em água, alta agressividade ao cabelo Lauril sulfato de amônio Tensoativo aniônico, ótimo poder espumante e detergência, regular irritabilidade aos olhos, agressividade ao cabelo Lauril éter sulfato de sódio (LESS) Tensoativo aniônico, ótimo poder espumante, boa detergência, média irritabilidade aos olhos, ótima solubilidade em água, baixa agressividade ao cabelo, boa viscosidade Lauril éter sulfato de sódio/lauril éter sulfossuccinato de sódio Todas as características do LESS, porém diminui a irritabilidade aos olhos. Indicado para o emprego em xampus infantis Lauril sulfato de trietanolamina Tensoativo aniônico, ótimo poder espumante e detergência, baixa agressividade ao cabelo, baixa viscosidade Lauril poliglicosídeo Tensoativo não iônico, bom poder espumante, boa viscosidade quando associados a tensoativos aniônicos, baixo poder irritante 61 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO 4.1.1.3 Função dos tensoativos em formulações de xampus De acordo com suas características os tensoativos, podem apresentar diferentes funções numa formulação de xampu, a saber: • Tensoativos primários: responsáveis pela capacidade de limpeza (poder de detergência); exemplo: tensoativos aniônicos, como o lauril sulfato de trietanolamina e o lauril éter sulfato de sódio. • Tensoativos secundários: modificam certas propriedades do tensoativo primário (responsável pela detergência), como a redução da irritabilidade e aumento da viscosidade do produto. Geralmente, utilizam-se tensoativos anfóteros, pois proporcionam condicionamento quando em pH ácido (apresentam caráter catiônico) ou substantividade ao cabelo (vide condicionadores); são empregados em baixas porcentagens, para conferir suavidade ao cabelo, e em associação a tensoativos aniônicos; o pH final de um xampu deve oscilar em torno de 6,0. • Adjuvantes: asseguram a estabilidade do produto acabado (são estabilizadores de espuma, espessante, solubilizante de essências e sobreengordurante), pois reduzem o ressecamento deixado pelos tensoativos aniônicos; exemplo: alcanolamidas de ácidos graxos de coco. Os tensoativos aniônicos mais usados na preparação de xampus, tanto na farmácia magistral quanto na indústria cosmética, são lauril éter sulfato de sódio, lauril sulfato de trietanolamina e lauril sulfossuccinato de sódio. A dietanolamida de ácidos graxos de coco é empregada como estabilizante de espuma, além de auxiliar no espessamento do xampu e repor um pouco da oleosidade retirada durante a lavagem. O tensoativo aniônico costuma ser empregado em baixa porcentagem, no entanto, os xampus destinados à limpeza de cabelo seco recebem maior quantidade desse tipo de tensoativo. A adição de tensoativos anfóteros reduz a irritabilidade causada pelos tensoativos primários e ajuda a reduzir a estática do cabelo (efeito condicionador). A incorporação de substâncias como proteínas hidrolisadas em xampus proporciona ao produto condicionamento, por apresentarem substantividade com o fio de cabelo (depositam-se nas suas superfícies e formam uma película reparadora que permanece na superfície do fio mesmo após o enxágue). Os requisitos para a utilização de um bom tensoativo na formulação de um xampu são: • facilitar a distribuição do xampu sobre a superfície do cabelo; • apresentar boa solubilidade em água para facilitar sua remoção; • ser compatível com os demais componentes da fórmula; • facilitar a operação de secagem do cabelo; 62 Unidade I • possuir adequado poder de umectação; • possuir adequado poder de formar espuma; • possuir adequado comportamento em relação à viscosidade. 4.1.1.4 Espessantes A viscosidade de um xampu é um elemento importante na experiência do consumidor com esse tipo de produto, uma vez que a baixa viscosidade do produto faz com que ele escoe pelas mãos no momento da aplicação no couro cabeludo, ocasionando desperdício. O aumento da viscosidade pode ser obtido pela modificação da realogia do líquido, mediante a incorporação de amidas de ácidos graxos, ésteres graxos e eletrólitos (como cloreto de sódio, cloreto de amônio e sulfato de sódio) ou pela incorporação de agentes espessantes hidrofílicos convencionais (como os derivados de celulose, polímeros carboxivinílicos e derivados da polivinilpirrolidona). A utilização desse último grupo não é recomendada por causa da possibilidade de separação do produto durante o tempo de prateleira. Uma estratégia comumente utilizada é a adição de eletrólitos ao final da preparação do xampu contendo tensoativos de natureza aniônica, uma vez que ocorre aumento da turgescência do produto e a solução se torna mais viscosa. Nesse processo, a viscosidade pode sofrer alteração após pequenas adições do eletrólito, processo que pode ser reversível quando a concentração de eletrólito é muito aumentada. O aumento do pH da solução também causa aumento na viscosidade do produto quando se utiliza eletrólitos como agente espessante, entretanto, a manutenção do pH do produto em torno de 6 minimiza esse efeito. O diestearato de polietilenoglicol (PEG) 6000, resultante da combinação de ácido esteárico e PEG 6000, também apresenta propriedade espessante, contudo, diferentemente do uso de eletrólitos, sua utilização requer aquecimento do produto, para que se funda e possa ser misturado ao xampu. 4.1.1.5 Agentes acidulantes A utilização de acidulantes tem como finalidade a correção do pH do xampu para que o produto final apresente um valor de pH em torno de 6. Alguns componentes podem causar elevação no valor do pH do xampu, como a inclusão de alcanolaminas, daí a necessidade de acidificar o meio. O ácido cítrico é o acidulante mais utilizado, pois, além de ser um ácido fraco, possui ação sequestrante de metais pesados, como o ferro. O ácido clorídrico diluído também pode ser utilizado, pois, ao interagir com sais de dietanolaminas, aumenta a viscosidade da preparação. 4.1.1.6 Agentes antimicrobianos A presença de água na composição do xampu representa a possibilidade de crescimento de microrganismos, adicione a isso a presença de substratos sacarídicos ou proteicos que atuam como 63 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO substratos para o crescimento de microrganismos, daí a obrigatoriedade da adição de um sistema conservante nesse tipo de produto. Os parabenos (metil e propilparabeno) são os agentes conservantes mais utilizados. Quando associados à imidazolidinil ureia, observa-se uma potencialização da atividade antimicrobiana. No entanto, outros conservantes podem ser utilizados, como DMDM hidantoína, quaternarium 15, sais de ácido benzoico e ácido sórbico. 4.1.1.7 Agentes antioxidantes Quando o xampu apresenta, em sua composição, componentes graxos insaturados, como óleos vegetais, é necessário adicionar um sistema antioxidante para evitar a oxidação do ácido graxo, que pode gerar um odor desagradável no produto. Os agentes mais usados são tocoferol, butilhidroxitolueno (BHT) e butilhidroxianisol (BHA). Também pode-se utilizar agentes quelantes, como o EDTA e seus sais ou ácido ascórbico, visando inibir a ação catalisadora de íons metálicos. 4.1.1.8 Outros agentes O quadro a seguir apresenta, além dos já comentados, outros componentes que podem ser utilizados pelo formulador na composição de um xampu. Quadro 7 – Componentes que podem ser utilizados na formulação de um xampu Água Principal componente (destilada ou desmineralizada) Tensoativos Aniônico (alquil sulfatos: lauril sulfato de amônio; de trietanolamina e alquil éter sulfato: lauril éter sulfato de sódio) Não iônico (ésteres de PEG, ésteres de sorbitano, ésteres do sorbitano polietoxilados, alquilamidas) Anfóteros (betaínas e imidazolínicos) Espessantes Eletrólitos (NaCl, Na2SO4) Amidas de ácidos graxos Gomas naturais, derivados de celulose, carbômerosEstabilizadores de espuma Amidas de ácidos graxos: mono e dietanolamidas, betaínas (aumentam o poder espumante) Sequestrantes EDTA (complexante de Ca++ , Mg++ etc.) Conservantes Metilparabeno, propilparabeno, formaldeído, imidazolidinil ureia, isotiazolinonas, parabenos e fenoxietanol, 2-bromo-2-nitropropano-1,3-diol Nota: não deve ser adicionada água aos xampus, pois o conservante perde a sua efetividade Corretores de pH Ácido cítrico, hidróxido de sódio Opacificantes e perolizantes Álcool cetílico, álcool estearílico, diestearatos de etilenoglicol, monoésteres de propilenoglicol, emulsões viscosas de polímeros vinílicos, estearatos de magnésio e zinco Agentes sobreengordurantes Alcanolamidas de ácidos graxos de coco, álcoois graxos, ésteres de ácidos graxos 64 Unidade I Água Principal componente (destilada ou desmineralizada) Suavizantes Lanolina anidra, derivados de proteínas, ésteres graxos de glicol e glicerol, lecitina (diminuem a ação detergente excessiva) Antioxidantes BHT (butil-hidroxitolueno) Perfumes e corantes Perfumes hidrossolúveis, essências, corantes A tabela a seguir apresenta alguns ativos que podem ser adicionados a xampus utilizados no tratamento dos fios de cabelo. Tabela 7 – Ativos empregados na composição de xampus de tratamento e suas respectivas funções Ativo Função % Tipo de xampu empregado Proteínas da seda hidrolisada Umectante, doador de brilho 1 De uso diário, restaurador Extrato de sálvia Adstringente, antisséptico 1,5 Para cabelo oleoso Extrato de alecrim Bactericida 1,5 Para cabelo oleoso Extrato de algas marinhas Liporredutor 3 Regenerador, redutor de oleosidade Queratina hidrolisada Umectante e doador de brilho 2 Para cabelo seco, quebradiço Extrato de jaborandi Estimulante capilar 2 Antiqueda Extrato de quina Estimulante capilar 1,5 Antiqueda Óleo de copaíba hidrossolúvel Antifúngico, bactericida 2 Anticaspa Óleo de jojoba hidrossolúvel Antisseborreico, agente de brilho 2 Anticaspa Cloreto de guar hidróxipropil-trimetil-amônio Antiestático e doador de volume 1 Xampu condicionador (2 em 1) Dimeticone copoliol Emulsificante, lubrificante 1 Xampu condicionador (2 em 1) Monoetanolamida de ácido undecilênico Fungicida 2 Anticaspa, antiqueda Extrato glicólico de hamamélis Adstringente 1 Anticaspa, antiqueda Poliquatérnio Polímero condicionador 2 Condicionador p-metoxicinamato de octila Filtro solar UVB 4 Protetor, cabelo tingido Extrato de Aloe vera Hidratante 0,5 – 2 Para cabelo seco Acetamida MEA Hidratante 1 Para cabelo seco Proteínas de trigo hidrolisada e quaternizada Condiciona, dá brilho e volume 0,5 Para cabelo seco Fator de umectação natural (Hidroviton)* Hidratante 3 Para cabelo seco Silicone quaternizado Agente condicionador 2 Condicionador * Hidroviton: contém aminoácidos, lactato de sódio e ureia Observação Xampus para cabelo oleoso requerem maior concentração de agentes de limpeza (tensoativos primários) em relação aos xampus destinados à limpeza de cabelo seco. 65 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO A tabela a seguir apresenta alguns ativos que podem ser adicionados a xampus medicinais. Vale lembrar algumas características dos ativos utilizados nesse tipo de xampu: • Os ativos não devem apresentar incompatibilidades com os componentes da formulação. • Eles devem ser efetivos em baixas concentrações e, de preferência, solúveis em água. • Eles não devem ser tóxicos ou irritantes, não devem influir na viscosidade e, se possível, apresentar custo acessível. Tabela 8 – Ativos que podem ser incorporados em xampus medicinais e suas incompatibilidades Ativo Função Concentração Incompatibilidade Piritionato de zinco Anticaspa 2% Sensível à luz Sulfeto de selênio 1 – 2,5% Sensível à luz e baixos valores pH Cetoconazol 1 – 2% – Piroctone olamina (Octopirox) 1% Instável na presença de luz UV LCD (liquor carbonis detergens) Antisseborreico 15 – 20% Reduz a espuma e viscosidade dos xampus Tinturas alcoólicas/ hidroalcoólicas Contém capsicum e quina (estimulantes) 2 – 10% Podem precipitar por redução do grau alcoólico da tintura Extratos Contém camomila, jaborandi, aloé, algas e henna (umectância e tonificação) 1 – 10% Podem diminuir a viscosidade do xampu Proteínas hidrolisadas (queratina, trigo) Hidrata e condiciona o cabelo 0,2 – 4% Incompatíveis com formaldeído D-pantenol Vitamina/hidratante/restaurador 0,5 – 1% Sensível às temperaturas acima 75 ºC Vitamina A (palmitato) Reduz a escamação e hidrata o couro cabeludo 0,25 – 1% Sensível à luz, metais pesados Lanolina etoxilada Emoliente 0,5 – 1% – 4.2 Condicionadores Os primeiros condicionadores capilares de natureza catiônica, denominados de creme rinse, foram desenvolvidos em meados de 1945 e utilizavam o cloreto de estearil dimetil benzilamônio (Triton X-400). Entretanto, somente no início dos anos 1970, eles passaram a ser mais consumidos. Eles são formulados para serem utilizados após a lavagem do cabelo, visando exercer uma ação antiestática e condicionadora, que melhore a penteabilidade do cabelo. A fibra capilar é formada por uma proteína chamada queratina. As cargas + e - geradas pelos aminoácidos que constituem a proteína são influenciadas pelo pH do meio de forma que, no ponto isoelétrico da proteína (pH entre 3,7 e 4,0), teremos um equilíbrio com 50% das cargas + e 50% das cargas -. Caso o pH esteja abaixo de 4,0, teremos maior quantidade de cargas +, e se ele estiver acima de 4,0, teremos maior quantidade de cargas -. 66 Unidade I Como os xampus apresentam pH em torno de 6,0, a lavagem do cabelo com xampus faz com que os fios fiquem impregnados de cargas, causando repulsão entre eles e aumentando seu volume, além de abrir as cutículas do fio de cabelo, o que leva ao embaraçamento. A remoção excessiva da oleosidade na superfície dos fios aumenta o atrito entre eles, influenciando a penteabilidade do cabelo. Assim, a utilização de agentes catiônicos permite corrigir esse desequilíbrio estático no fio de cabelo e produzir um efeito sobreengordurante que repõe a lubrificação perdida, fornecendo suavidade, maleabilidade, brilho e proporcionando facilidade para pentear. Os condicionadores podem desempenhar dois papéis em relação ao desequilíbrio estático, causado pela lavagem do cabelo com xampus: • Cremes rinse: utilizados para o enxágue do cabelo após o uso do xampu, eliminam a estática do cabelo, melhoram o pentear, proporcionam maciez e brilho ao cabelo porque contêm em sua composição tensoativo catiônico e agente sobreengordurante e espessante, água deionizada, conservante e essência (geralmente, o pH desse tipo de forma cosmética é próximo ao ponto isoelétrico da queratina, em torno de 4,0). • Condicionadores tradicionais: seus ingredientes assemelham-se aos utilizados em cremes rinse, porém são acrescidos de substâncias condicionadoras que têm boa afinidade pela queratina, proporcionado elasticidade, suavidade, maciez (aumenta a aderência das escamas da cutícula capilar) e facilidade ao pentear o cabelo (úmidos ou secos) por conta do equilíbrio entre as cargas. Os condicionadores baseiam-se no conceito de substantividade (aderência de substâncias adequadas que modificam propriedades na superfície do cabelo, mesmo com seu enxágue). São exemplos de agentes condicionadores as amidas graxas, a lanolina e seus derivados, a lecitina, os silicones, as proteínas de baixo peso molecular (hidrolisadas), os polímeros catiônicos, os tensoativos catiônicos (apresentam certo potencial de irritação à pele e aos olhos), os agentes umectantes (glicerina, propilenoglicol) que retêm a umidade e promovem flexibilidade e brilho do cabelo. • Condicionadores leave-in: preparações condicionadoras que permanecem no cabelo e podem ser aplicados em cabelo seco ou úmidos. A tabela a seguir apresenta alguns componentes empregados na composição de condicionadores. Tabela 9 – Componentes presente em condicionadores Componente Função Concentração aproximada (%) Cera autoemulsionante nãoiônica Emulsionante, espessante 2 – 3 Conservantes – – Óleo mineral Emoliente 1 Álcool cetoestearílico/cetílico Agente de consistência, sobreengordurante 4 Cloreto de cetil trimetil amônio 50% Antiestático 1,5 – 2 67 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Componente Função Concentração aproximada (%) Silicones quaternizados ou catiônicos Condicionador 5 Aminoácidos de queratina Emoliente, regenerador 1 Silicone Formador de filme 2 Ácido cítrico Acidulante – Óleo de macadâmia hidrossolúvel Emoliente 1 Dimeticone copoliol Agente condicionador 2 Lanolina etoxilada Emoliente 1 (cabelo seco) Ureia Hidratante 5 (cabelo normal) Extrato glicólico de hamamelis Adstringente 2 (cabelo oleoso) D-pantenol Restaurador/Condicionador 1 4.3 Formulações Tabela 10 – Xampu transparente antiqueda Componente Porcentagem Lauril éter sulfato de sódio 20,0% Lauril sulfato de trietanolamina 10,0% Dietanolamina de ácido graxo de coco 3,0% Imidazolidinil ureia (Germall) 0,3% EDTANa2 0,1% Essência q.s. Corante q.s. NaCl Até 2,0% Extrato glicólico de jaborandi 5,0% Ácido cítrico (sol.10%) q.s. pH = 6,0-6,5 Água purificada q.s.p. 100 mL Técnica de preparo 1. Em um copo graduado de 125 mL, solubilizar o EDTANa2 em q.s. de água. 2. Adicionar, a esse mesmo copo graduado, imidazolidinilureia, lauril éter sulfato de sódio, lauril sulfato de trietanolamina e dietanolamina de ácido graxo de coco. Agitar entre uma adição e outra, com cuidado para não formar espuma em excesso. 3. Adicionar o extrato glicólico de jaborandi. 4. Adicionar essência e corante q.s. 5. Ajustar a viscosidade, utilizando cloreto de sódio. 68 Unidade I 6. Se necessário, ajustar o pH com solução de ácido cítrico q.s. pH 6,0-6,5. 7. Acertar o volume com água purificada q.s.p. 100 mL. 8. Acondicionar e rotular. Tabela 11 – Xampu perolado para cabelo seco Componente Porcentagem Lauril éter sulfato de sódio 20,0% Texapon SBN ou laurilpoliglucosídeo 5,0% Diestearato de PEG-6000 3,0% Base perolada 5,0% EDTANa2 0,1% Metilparabeno 0,2% Propilparabeno 0,1% Ácido cítrico (sol. 10%) q.s. pH = 6,0-6,5 Extrato glicólico de Aloe vera 2,0% Água purificada q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Em copo graduado de 125 mL, solubilizar o EDTANa2 em q.s. de água. 2. Adicionar, a esse mesmo cálice, lauril éter sulfato de sódio e lauril poliglucosídeo. Agitar entre uma adição e outra, com cuidado para não formar espuma em excesso. 3. Em um béquer de 100 mL, aquecer o metilparabeno e propilparabeno com 50 mL de água purificada até completa dissolução. 4. Nesse mesmo béquer, dissolver o diestearato de PEG 6000 a quente. 5. Verter o conteúdo do béquer no copo graduado e homogeneizar. 6. Adicionar, ao copo graduado, a base perolada e homogeneizar. 7. Adicionar o extrato glicólico de Aloe vera e homogeneizar. 8. Aos poucos, adicionar água purificada até chegar próximo a 100 mL. 9. Adicionar essência e corante q.s. 10. Se necessário, ajustar o pH com solução de ácido cítrico q.s. pH 6,0-6,5. 69 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO 11. Acertar o volume com água purificada q.s.p. 100 mL. 12. Acondicionar e rotular. Tabela 12 – Xampu para cabelo oleoso Componente Porcentagem Lauril éter sulfato de sódio 28,0% Dietanolamina de ácido graxo de coco 3,0% Laurilpoliglicosídeo 4,0% Poliquaternário 7 2,0% EDTANa2 0,1% Metilparabeno 0,1% Imidazolidinil ureia 0,1% Ácido cítrico (sol. 10%) q.s. pH = 6,0-6,5 Fragrância q.s. Corante q.s. Cloreto de sódio 1,0% Água purificada q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Em copo graduado de 125 mL, solubilizar o EDTANa2 em q.s. de água. 2. Adicionar, a esse mesmo copo graduado, poliquaternário 7 e a dietanolamina. Agitar entre uma adição e outra, com cuidado para não formar espuma em excesso. 3. Adicionar o LESS e homogeneizar. Em seguida, adicionar o lauril poliglicosídeo e homogeneizar. 4. Adicionar q.s. do corante e da fragrância e homogeneizar. 5. Se necessário, ajustar o pH com solução de ácido cítrico q.s. pH 6,0-6,5. 6. Adicionar o cloreto de sódio solubilizado em uma pequena quantidade de água com agitação moderada para evitar a formação de espuma. 7. Acertar o volume com água purificada q.s.p. 100 mL. 8. Acondicionar e rotular (CORREA, 2012, p. 457). 70 Unidade I Tabela 13 – Xampu para cabelo quimicamente tratado Componente Porcentagem Lauril éter sulfato de sódio 30,0% Cocoamidopropil betaína 5,0% Dietanolamina de ácido graxo de coco 7,5% Lauril poliglicosídeo 5,0% Poliquaternário 10 0,2% Feniltrimeticone 0,2% Amodimeticone 0,2% EDTANa2 0,1% Metilparabeno 0,1% Imidazolidinil ureia 0,1% D-pantenol 0,5% Ceramida 0,3% Manteiga de murumuru 0,3% Extrato glicólico de açaí 2,0% Base perolada 0,3% Ácido cítrico (sol. 10%) q.s. pH = 6,0-6,5 Fragrância q.s. Água purificada q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Em um béquer de 250 mL, solubilize o poliquaternário 10 em q.s. de água. Em seguida, adicionar os 3 primeiros tensoativos e homogeneizar levemente. 2. A esse mesmo béquer, adicionar o lauril poliglicosídeo e a manteiga de murumuru e levar a um ligeiro aquecimento (40oC) e homogeneizar. 3. Adicionar, a esse mesmo béquer, o fenitrimeticone, o amodimeticone, o metilparabeno e a imidazolidinil ureia e homogeneizar. 4. Adicionar o EDTA, o D-pantenol e a ceramida e homogeneizar. 5. Adicionar o extrato glicólico de açaí e homogeneizar. 6. Transferir o conteúdo para um copo graduado de 125 mL e corrigir o valor do pH com a solução de ácido cítrico. 7. Adicionar a base perolada e a fragrância e homogeneizar. 71 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO 8. Acertar o volume com água purificada q.s.p. 100 mL. 9. Acondicionar e rotular (CORREA, 2012, p. 458). Tabela 14 – Condicionador Componente Porcentagem Álcool cetílico 1,0% Álcool cetoestearílico 5,0% BHT 0,05% Cloreto de cetil trimetil amônio (Deyquart A) 2,0% EDTANa2 0,1% Metilparabeno 0,1% Propilparabeno 0,05% Ácido cítrico (sol. 10%) q.s. pH = 3,5-4,0 Óleo de silicone 1,0% Lanolina 1,0% Essência q.s. Corante q.s. Água purificada q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Pesar separadamente álcool cetílico, álcool cetoestearílico e BHT. Transferir para um béquer de 250 mL e levar ao banho-maria. 2. Pesar separadamente metilparabeno, propilparabeno, EDTANa2 e transferir para um béquer de 250 mL. A esse mesmo béquer, adicionar o cloreto de cetil trimetil amônio e 85 mL de água purificada. Levar ao banho-maria. 3. Os dois béqueres devem atingir a temperatura de 70-80 ºC ao mesmo tempo. 4. Retirar do banho-maria e verter imediatamente o conteúdo da fase aquosa na fase oleosa. Agitar até resfriamento (aproximadamente 40 ºC). 5. Adicionar o óleo de silicone, a lanolina, essência e corante q.s. Homogeneizar e verificar o pH. Se necessário, corrigir com solução de ácido cítrico a 10% q.s. pH 3,5-4,0. 6. Completar com água purificada q.s.p. 100 mL. 7. Acondicionar e rotular. 72 Unidade I Tabela 15 – Condicionador para cabelo cacheado Componente Porcentagem Álcool cetoestearílico 5,0% Cloreto de beheniltrimetilamônio 2,5% Óleo de buriti 0,5% Manteiga de cupuaçu 0,7% BHT 0,05% Dimeticone 0,5% Propilenoglicol 3,0% Metilparabeno 0,1% Propilparabeno 0,05% D-pantenol 0,5% Extrato glicólico de bambu 0,5% Fragrância q.s. Corante q.s. Água purificada q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Em um béquer de 250 mL, fundir os componentes da fase oleosa (6 primeiros) a cerca de 70-80 ºC. 2. Em um outro béquer, solubilizar o propilenoglicol, o metilparabeno e o propilparabeno em q.s. de água a temperatura de 70-80 ºC. 3. Quando os dois béqueres atingirem a temperatura de 70-80 ºC, verter a fase aquosa na fase oleosa e adicionar um pouco mais de água para resfriar o sistema a cerca de 40 ºC. 4. Transferir o conteúdo para um copo graduado de 125 mL. 5. Adicionar ao copo graduado o D-pantenol, o extrato glicólico de bambu, a fragrância e o corante previamente diluído em água. 6. Completar com água purificada q.s.p. 100 mL. 7. Acondicionar e rotular (CORREA, 2012, p. 463). 73 TECNOLOGIADE COSMÉTICO Saiba mais Para saber mais sobre xampus e condicionadores, consulte: CORREA, M. A. Cosmetologia: ciência e técnica. São Paulo: Medfarma, 2012. Especificamente sobre xampus, leia a referência a seguir: AMIRALIAN, L.; FERNANDES, C. A. Shampoos. Cosmetic & Toiletries, ed. brasileira, v. 30, n. 1, p. 30-33, jan./fev. 2018. Especificamente sobre condicionadores, leia: AMIRALIAN, L.; FERNANDES, C. A. Shampoos. Cosmetic & Toiletries, ed. brasileira, v. 30, n. 1, p. 28-30, jan./fev. 2018. 74 Unidade I Resumo O termo cosmetologia refere-se à ciência que serve de suporte para a fabricação dos produtos de beleza. De acordo com a legislação sanitária, cosméticos são produtos com o objetivo exclusivo ou principal de limpar, perfumar, alterar sua aparência e/ou corrigir odores corporais e/ou proteger o corpo ou mantê-lo em bom estado. Podem ser classificados em relação ao potencial de causar danos ao usuário em graus 1 e 2, de acordo com o local de aplicação, os componentes da formulação e os cuidados a serem observados. A preocupação com a beleza permeia toda a história da humanidade e, ao longo do tempo, passou-se a dar importância à prevenção e aos cuidados em níveis mais profundos, o que envolve a preocupação com qualidade, segurança e eficácia dos produtos. As matérias-primas utilizadas em cosméticos seguem a denominação internacional INCI, e o rótulo dos produtos deve descrever as matérias-primas usadas de acordo com essa denominação. O mercado cosmético está em franca ascensão e o Brasil é o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo. O país fica atrás de EUA, China e Japão. Vimos que a pele possui três camadas: epiderme, derme e hipoderme. Destacou-se que os produtos cosméticos podem ter ação superficial ou penetrar em camadas mais profundas. A epiderme é constituída por quatro camadas que formam um manto protetor da pele: estrato basal ou germinativo, estrato espinhoso ou malpighiano, estrato granuloso e estrato córneo. Na derme estão inseridos os anexos da pele, como glândulas sebáceas, sudoríparas e folículo piloso. A derme é formada por tecido conjuntivo, caracterizado pela presença de células e fibras separadas por abundante material intercelular. As células são constituídas em grande parte por fibroblastos e células de defesa. A hipoderme é constituída, preponderantemente, por células que acumulam gorduras, chamadas adipócitos, as quais são separadas por material ceroso constituído por ácidos polissacarídeos. Esse estrato é bastante inervado e vascularizado. Por sua vez, o termo cosmecêutico ganhou notoriedade a partir de 1974, quando Albert Kligman desenvolveu um produto que proporcionava efeitos superiores a um simples embelezamento da pele, despertando interesse sobre formulações desse nível, diferenciando-as dos cosméticos até então utilizados. No entanto, ainda se trata de um tema contraditório, não havendo consenso internacional, visto que importantes agências regulatórias, da Europa e dos EUA, por exemplo, não reconhecem o termo cosmecêutico. A Anvisa trata esses produtos como cosméticos grau 2, considerando a capacidade de atingir camadas 75 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO profundas, a via de administração, a população que vai utilizá-los, assim como a probabilidade de gerarem efeitos indesejáveis. Uma forma de se distinguir um cosmecêutico de um medicamento é considerar que o último é atrelado ao uso em concentrações terapêuticas e deve ser restrito a um período determinado. Quanto à composição, tendo em vista o grande número de bioativos com capacidade de agir nas camadas mais profundas da pele, podem ser bastante diversificados, muitas vezes complexos. Cabe ressaltar a importância dos farmacêuticos na dermocosmética, visto que são capazes de desenvolver formulações e adequar a posologia para cada indivíduo. Outro tema relevante desta unidade envolve os tensoativos, que podem ser classificados quanto a sua natureza iônica em aniônicos (carga -), catiônicos (carga +), não iônicos (sem carga aparente) e anfóteros (a carga depende do pH do meio). Eles podem ser obtidos por meio de reações ácido-base, na qual se faz reagir um ou mais ácidos graxos com uma base forte, obtendo-se um sal que apresenta a capacidade de diminuir a tensão superficial entre dois líquidos. Os sabonetes são menos cáusticos que os sabões e apresentam um toque mais suave em função das matérias-primas utilizadas. Assim, podemos preparar produtos de limpeza na forma sólida (sabão em barra) ou na forma líquida (sabonete líquido), os quais têm a capacidade de remover sujidades de natureza lipofílica ou hidrofílica. Esses tensoativos também são os principais constituintes de cosméticos para a limpeza do cabelo, a exemplo dos xampus, que podem ser tradicionais, de tratamento ou medicinais – para o tratamento de patologias do couro cabeludo. Os tensoativos de natureza aniônica são os mais usados para o preparo de xampus, pois conferem boas características para o produto. Vimos que não se deve misturar tensoativos aniônicos com tensoativos catiônicos, pois eles podem sofrer precipitação. Os condicionadores são aplicados para diminuir a estática do cabelo e melhorar a sua penteabilidade. O elemento-chave desse tipo de produto são os antiestéticos, que geralmente são tensoativos de natureza catiônica. O pH dos produtos é uma das características importantes para seu bom funcionamento, uma vez que os xampus possuem um pH ligeiramente ácido, próximos de 7,0, e os condicionadores um pH bem ácido (entre 3,5 e 4). O xampu geralmente possui um tensoativo primário e um secundário, que modifica certas propriedades do tensoativo primário (responsável pela detergência), como redução da irritabilidade, aumento da viscosidade do produto, além de dar estabilidade na formação de espuma. A quantidade de tensoativo primário depende da oleosidade do cabelo que vai ser tratado. Xampus para cabelo oleoso geralmente possuem um teor de tensoativo maior que aqueles para cabelo seco. 76 Unidade I Exercícios Questão 1. Os produtos de higiene pessoal, os cosméticos e os perfumes são preparações de uso externo que visam limpar o corpo, perfumá-lo, protegê-lo, alterar sua aparência, corrigir seus odores e/ou a mantê-lo em bom estado. A Resolução n. 7/2015 dispõe sobre os requisitos técnicos para a regularização desses produtos e dá outras providências. Segundo esse documento, temos o que segue. • Produtos com grau de risco 1 requerem informações detalhadas quanto ao seu modo de usar e às suas restrições de uso, devido à baixa probabilidade de ocorrência de efeitos não desejados, à formulação, à finalidade de uso, às áreas do corpo a que se destinam e aos cuidados a serem observados quando da sua utilização. São passíveis de notificação, apenas. • Produtos com grau de risco 2 têm indicações específicas, sendo necessários a comprovação da segurança e/ou da eficácia, bem como o fornecimento de informações sobre cuidados e sobre o modo e as restrições de uso. São passíveis de notificação e de registro. Com base no exposto, assinale a alternativa que apresenta apenas produtos com grau de risco 2. A) Removedor de esmalte e brilho labial infantil. B) Secante de esmalte e desodorante colônia. C) Neutralizante para permanente e extrato aromático. D) Xampu anticaspa e dentifrício com flúor. E) Restaurador capilar e desodorante antitranspirante. Resposta correta: alternativa D. Análise da questão A Resolução n. 7/2015, ao classificar os produtos em graus de risco 1 e 2, considera a probabilidade de reações adversas, a via de administração e a população que vai utilizar o produto, assim como a probabilidade de que sejam produzidos efeitos indesejáveis. A lista completa de produtos cosméticos com graus de risco 1 e 2 pode ser consultada na referida resolução. 77 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO A respeito dos produtos citados na questão, temos o que segue. • Removedor e secante de esmalte são constituídos, na maioriadas vezes, por solventes orgânicos. A via de administração (tópica) e o tipo de solvente usado (como a acetona) resultam em baixa probabilidade de reação adversa após o uso. São, portanto, produtos com grau de risco 1. • Todos os produtos destinados ao público infantil apresentam grau de risco 2, devido à maior susceptibilidade desse público-alvo aos efeitos indesejáveis. • Desodorantes que não apresentam efeito antitranspirante e que não são destinados à região íntima são considerados produtos com grau de risco 1. • Neutralizantes para permanente são capazes de fixar o novo formato dos fios de cabelo a partir da alteração do pH do fio. Apresentam, em sua composição, peróxido de hidrogênio, bromato de sódio e perborato de sódio em concentrações relativamente baixas e, portanto, são considerados produtos com grau de risco 1. • Restauradores capilares apresentam baixo risco de reação adversa e, por esse motivo, são considerados produtos com grau de risco 1. Essa observação também é válida para os extratos aromáticos, que são produzidos a partir de vegetais e usados em massagens e em difusores de ambiente, entre outros. • Xampus com ação antiqueda, anticaspas e xampus com outros benefícios que justifiquem comprovação prévia são produtos com grau de risco 2. • Dentifrícios com flúor, ação antiplaca, ação anticárie, ação antitártaro, com indicação para dentes sensíveis e dentifrícios clareadores químicos são produtos com grau de risco 2. 78 Unidade I Questão 2. Observe a figura a seguir, que ilustra a reação de obtenção de um conhecido produto de higiene. R R R Na + + R O O O O O O O O OH 3 NaOH H2O OH OH Figura 30 Com base na figura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas a seguir. I – Trata-se da reação de obtenção do sabonete líquido glicerinado. II – Na reação, os reagentes são um triglicerídeo e o hidróxido de sódio. III – A glicerina é um dos produtos da reação e apresenta fórmula RCOONa. IV – Outras bases, como o hidróxido de potássio (KOH) e o carbonato de sódio (Na2CO3), podem ser usadas na reação. É correto apenas o que se afirma em: A) I e II. B) II e III. C) III e IV. D) I e III. E) II e IV. Resposta correta: alternativa E. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: a reação ilustrada no enunciado da questão é a reação de saponificação, que resulta na formação de sabão comum. 79 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO O sabonete líquido glicerinado apresenta composição muito parecida com a dos xampus, mas com maior concentração de detergente (45-60%). A adição de sobreengordurantes, como a dietanolamina de ácido graxo de coco, melhora o poder espumógeno, além de repor parte da oleosidade retirada e de aumentar a viscosidade do produto. Os tensoativos mais utilizados no preparo de sabonetes líquidos são o laurilsulfato de sódio (LSS) e o lauril éter sulfato de sódio (LESS). II – Afirmativa correta. Justificativa: na reação de saponificação, os reagentes são um triglicerídeo e uma base forte, no exemplo, o hidróxido de sódio (NaOH), embora também possam ser usados o hidróxido de potássio (KOH) e o carbonato de sódio (Na2CO3). Os produtos são o glicerol (glicerina) e o sabão propriamente dito. Essas substâncias são indicadas na figura a seguir. + + R R R O O O O O O 3 NaOH Hidróxido de sódio Glicerina Sabão Triglicerídeo H2O OH OH OH R Na O O Figura 31 III – Afirmativa incorreta. Justificativa: a glicerina é um dos produtos da reação e apresenta fórmula C3H8O3. IV – Afirmativa correta. Justificativa: na reação de saponificação, os reagentes são um triglicerídeo e uma base forte, conforme exposto anteriormente.