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Conteudista: Prof.ª Esp. Priscilla Cardoso Jorge
Revisão Textual: Esp. Vinicius Oliveira
 
Objetivo da Unidade:
Compreender a Naturologia como uma racionalidade em saúde.
 Material Teórico
 Material Complementar
 Referências
Naturologia como Racionalidade em Saúde
Compreender a Naturologia como uma Racionalidade
em Saúde
A Naturologia teve reconhecimento como racionalidade em saúde recentemente, a partir da
dissertação de mestrado da naturóloga Carina Ceratti, cuja orientadora foi a Prof.ª Madel
Therezinha Luz, grande referência na área da Saúde Coletiva. Em 1992 ela desenvolveu o
conceito de racionalidade médica, que se refere a todo sistema médico ou terapêutico complexo
que é construído racional e empiricamente em seis dimensões: morfologia humana; dinâmica
vital; doutrina médica; sistema de diagnóstico; sistema terapêutico; e cosmologia (MORAIS;
ANTÔNIO; RODRIGUES, 2018).
Fazem parte do contexto das racionalidades médicas, a medicina tradicional chinesa, a medicina
ocidental contemporânea, a medicina tradicional ayurvédica, a medicina antroposófica e a
homeopatia. A Naturologia é considerada uma “nova” área de saber em saúde. Ela apresenta uma
concepção sistêmica e complexa da vida, a qual demostra a insuficiência do modelo biomédico
no processo vida-saúde-doença. Utiliza as práticas integrativas naturais, tradicionais e
contemporâneas de cuidado, prezando pela qualidade de vida e pela relação do ser humano com
o ambiente em que vive. Assim, a formação em Naturologia abrange tanto disciplinas pautadas
no modelo vitalista quanto disciplinas no modelo biomédico de saúde, incluindo conhecimentos
das medicinas tradicionais ocidentais e orientais, como também conhecimentos específicos das
práticas integrativas e complementares (HELLMANN; GRASSI; VERDI, 2017).
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 Material Teórico
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ACESSE
O estudo das racionalidades em saúde valida cientificamente as práticas integrativas e as
medicinas tradicionais. A criação e a sistematização desse conceito contribuíram para o
reconhecimento das práticas de saúde não hegemônicas. A Naturologia é um “novo” modelo de
pensamento, que se enquadra como racionalidade e se apresenta nas seis dimensões:
Leitura 
O Currículo da Naturologia à Luz dos Conceitos de Racionalidade
Médica e Prática Integrativa  
Conheça o estudo, escrito por Fernando Helmann e colaboradores, em
2017, que analisou o currículo de Naturologia a partir dos conceitos de
racionalidade médica e práticas integrativas.
Cosmologia: sincrética (diferentes concepções filosóficas), considera a
subjetividade própria de cada sujeito, com base na relação de interagência;
Doutrina médica: visão multidimensional, integral, vitalista, de promoção,
prevenção e observação das condições de saúde e adoecimento dos sujeitos;
Morfologia e dinâmica vital: associativa, baseada em princípios e evidências de
diversos saberes das ciências da saúde ocidentais e orientais;
Sistema diagnóstico: combinação de métodos das terapêuticas tradicionais
orientais (chinesa e ayurvédica), das práticas da racionalidade biomédica (conforme
legislação de cada país) e das práticas integrativas e complementares;
Enquanto nova racionalidade em saúde, a Naturologia pode ser compreendida como fruto da
nossa cultura atual, caracterizada por fatores múltiplos, sincretismos nas dimensões das
racionalidades, e centrada na relação da interagência. Trata-se de uma racionalidade que
desperta uma ciência nova transdisciplinar, aberta, complexa e composta, subordinada ao
entendimento de que sistemas fechados, inflexíveis, deterministas e dualistas não representam
mais a nossa sociedade. O quadro abaixo apresenta a relação das racionalidades médicas e suas
características, como também demonstra, comparativamente, a Naturologia como pertencente
desses sistemas médicos (MORAIS; ANTÔNIO; RODRIGUES, 2018).
Tabela 1 – Relação das Racionalidades Médicas e suas características
Sistema terapêutico: aberto e amplo, com várias práticas diferentes das
racionalidades médicas, terapêuticas tradicionais, fitoterapia, floral e aromas,
terapêuticas relacionadas à nutrição e as práticas integrativas e complementares.
Fonte: Adaptada de MORAIS; ANTONIO; RODRIGUES, 2018, p. 33
As teorias da complexidade e transdisciplinaridade nos fazem pensar de diferentes formas os
desafios da contemporaneidade. As duas se articulam e sugerem a superação do modo de pensar
dicotômico (sujeito-objeto, razão-emoção) e podem desarticular os moldes sobre os quais a
educação é proposta. O pensamento complexo propõe um novo método, uma maneira nova de
refletir e observar o todo de forma inseparável, tendo como intuito a produção do conhecimento
multi e transdisciplinar. Transformar a visão do pensamento simplificador e reducionista,
propondo não ser o contrário desse pensamento, mas sim uma integração, é o desafio do
pensamento complexo. A palavra complexidade não remete a ideias simplistas, tampouco
reducionistas, ou seja, a complexidade não é submetida a uma única vertente de pensamento. O
pensamento complexo considera todas as influências recebidas no âmbito interno e externo,
atuando de forma integral e não isolada, considerando todas as ações nas quais surgem novas
faces. Esse pensamento amplia o saber e nos guia a um maior entendimento sobre os nossos
problemas essenciais (CERATTI, 2018).
A complexidade é considerada uma nova forma de pensamento, surge da necessidade de
reformular paradigmas e valores da sociedade atual. A ligação entre Naturologia e complexidade
pode colaborar em várias questões, principalmente no desafio de fazer ciência com fronteiras
abertas. A complexidade é um desafio, no faz construir um pensamento mais abrangente e
menos reducionista que a visão cartesiana (SILVA, 2012).
A transdisciplinaridade tem o objetivo de religar saberes, valorizando o saber disciplinar,
especializado, descartando fundamentos unidimensionais e reducionistas. A
transdisciplinaridade, diferentemente da interdisciplinaridade, ultrapassa as fronteiras do
conhecimento disciplinar. Ela busca superar a fragmentação do conhecimento e construir uma
melhor compreensão do objeto de investigação ou o objeto de estudo. Essa é a proposta que a
Naturologia busca agregar em sua formação curricular, uma formação mais generalista
(CERATTI, 2018).
A Naturologia é complexa, não fragmenta os saberes, busca a integração do sujeito e objeto. A
Naturologia traz um olhar diferenciado para a saúde do indivíduo e, através do conhecimento
transdisciplinar e pensamento complexo, assume o desafio de dialogar com a nossa cultura
atual (SILVA, 2012).
Entre os cursos da área da saúde, podemos afirmar que a graduação de Naturologia é a formação
acadêmica que melhor compreende os processos de saúde-adoecimento dentro de uma
abordagem vitalista (HELLMANN; GRASSI; VERDI, 2017).
Cosmologia da Naturologia e a Perspectiva do Cuidado
Humanizado
É muito importante trazer primeiramente essa dimensão, a fim de discutir a origem da
Naturologia em relação ampla com o universo. Entende-se por cosmologia a visão e concepção
de mundo – Universo, homem e suas relações com o meio, ou seja, o modo como o mundo é
pensado (LUZ; BARROS, 2012). 
Importante! 
A Naturologia é um conhecimento caracterizado por aproximações
existentes com algumas racionalidades médicas vitalistas, de
filosofias e de técnicas orientais, ocidentais, modernas e tradicionais,
podendo ser compreendida como um sistema complexo de pensar e
fazer saúde (CERATTI, 2018).
A expressão cosmologia vem do grego cosmos, aquele que ordena, origina, e logos, discurso,
estudo. É a ciência que pesquisa o nascimento, o progresso e a disposição estrutural do
Universo, sempre com base no método teórico-experimental, próprio da ciência. É, portanto, a
categoria que busca explicar a origem do objeto estudado e sua forma de relação com o contexto
que o envolve (CERATTI, 2018).
No entanto, cosmologias que integram homem e natureza numa
perspectiva de macro e
microuniversos e que postulam a integralidade do ser humano como constituída de aspectos
psicológicos, biológicos, sociais e espirituais, fundamentam as cinco dimensões das medicinas
orientais e da homeopatia, colaborando tanto nas doutrinas médicas quanto nos sistemas
diagnósticos e terapêuticos. Essa integração leva a compreender a doença como fruto da ruptura
de um equilíbrio interno e relacional. Interno, pensando no microuniverso que constitui o
homem; relacional, no que diz respeito às relações entre o homem e o meio no qual vive.
Encontramos nessas medicinas protocolos das doenças existentes; entretanto, elas não têm
interesse em si mesmas, devendo ser referidas, tanto em termos diagnósticos como
terapêuticos, aos sujeitos e suas constituições (LUZ; BARROS, 2012).
Em relação à cosmologia da Naturologia, é importante investigar o que mobilizam o sujeito e
suas relações em diferentes origens e contextos nessa dimensão. Por exemplo: racionalidades
médicas das medicinas tradicionais orientais chinesa e ayurvédica apresentam a cosmologia
enraizada em filosofias (CERATTI, 2018).
Para a racionalidade chinesa o universo teria sua origem no Tao (caminho), sendo este não dual,
mas uno. Quando em movimento gera as forças opostas e ao mesmo tempo complementares:
yin e yang, que, por sua vez, geram os cinco elementos, as estações e todas as coisas e
movimentos. Entende-se nessa cosmologia que a saúde se mantém a partir da harmonização e
equilíbrio do homem entre o céu e a terra. Já a racionalidade ayurvédica tem sua cosmologia
baseada em crenças religiosas, disciplina, exercícios e alimentação. Essa ciência compreende o
corpo humano e suas experiências sensoriais como manifestações da energia cósmica. O
homem é o microcosmo que contém um universo (macrocosmo) em si mesmo (CERATTI,
2018).
Sendo assim, nas medicinas tradicionais chinesa e ayurvédica a doença é uma consequência de
um desequilíbrio de forças naturais e espirituais, uma desordem cósmica em movimento.
Realmente, é essencial considerar essa harmonia e a inter-relação dos elementos do macro e do
microcosmos. Essas medicinas têm em comum o mesmo objeto, o ser humano doente, e o
mesmo objetivo, que é curar o indivíduo, restabelecendo a saúde. Sobre cosmologias
tradicionais propõem-se abordagens sociais e culturais na área da saúde, considerando
possíveis análises para a Naturologia (LUZ; BARROS, 2012).
Na terapêutica a Naturologia resgata diferentes cosmologias das racionalidades das medicinas
tradicionais para o cuidado com a saúde do interagente, do planeta e da sociedade e utiliza os
conhecimentos científicos, tradicionais e populares das práticas integrativas e
complementares, buscando desenvolvimento dos potenciais do ser humano e uma melhora da
saúde e qualidade de vida do indivíduo e da sociedade (RODRIGUES; HELLMANN; SANCHES,
2012).
Ao final da década de 1960, surgiram as medicinas alternativas e complementares (MAC), que
eram chamadas de terapias alternativas. A inserção dessas práticas nos serviços de saúde foi
motivada pelo interesse de muitos jovens pela busca de novas soluções terapêuticas, práticas
não convencionais de tratamento, não apenas como terapias, mas como símbolos de uma
necessidade e mudança cultural e transformação do modelo de atenção em saúde. Essa nova
forma de cuidado teve em seu desenvolvimento a introdução de sistemas de crença e
orientações filosóficas orientais. Atualmente, no Brasil, as práticas integrativas e
complementares (PICs) contemplam diversos sistemas médicos e de cuidado à saúde, recursos
diagnósticos e terapêuticos, e têm suas bases nos conhecimentos e saberes populares. As PICs
podem ser compreendidas como um complexo sociocultural, visto que se apresentam como um
sistema simbólico, cosmológico e social. Por mais que organizamos teoricamente esses
conhecimentos, até para que possam ser validados pela legislação de cada país como práticas de
saúde, é importante frisar que esse movimento de uma ciência doutrinária pode afastar as
práticas integrativas de sua própria essência, origem, isto é, sua cosmologia. Talvez esse seja um
dos desafios enfrentados pela Naturologia: o de utilizar-se de diversas práticas terapêuticas com
distintas origens culturais e teóricas sem que sejam desconsideradas ou ocidentalizadas as
cosmologias de cada saber. A Naturologia não apresenta uma cosmologia formulada a partir de
sua origem e visão própria, pois as práticas das quais se utiliza em sua terapêutica são anteriores
ao seu próprio surgimento (CERATTI, 2018).
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ACESSE
Fica, portanto, complexo definir uma relação cosmológica própria da Naturologia quando se
misturam diferentes saberes vinculados e não vinculados a uma racionalidade complexa. Por
exemplo, na homeopatia, que é um sistema médico complexo, baseado no princípio vitalista e na
lei dos semelhantes, utilizam-se como recurso diagnóstico a matéria médica e o repertório e,
como recurso terapêutico, o medicamento homeopático. Em relação à cosmologia da
homeopatia, entende-se que a vida é tudo aquilo que se pode observar e expressa uma ordem
universal, em que há princípio, meio e fim para todos os fenômenos. O homem se apresenta
como uma das criaturas entre as infinitas espécies que possui uma finalidade, uma razão e um
motivo de ser. É mais do que uma simples manifestação da natureza, pois é dotado de uma
energia espiritual que lhe garante autonomia para dirigir seus atos (CERATTI, 2018).
Por fim, considerando que a Naturologia, ao conjugar todos esses saberes distintos e levando
em consideração que é acadêmica, científica, moderna e configurada dentro de uma estrutura de
pensamento próprio, não pode correr o risco de apropriar-se do entendimento de “outras”
medicinas, orientais ou vitalistas, sem estabelecer uma estrutura cosmológica própria (LEITE-
MOR; WEDEKIN, 2012).
Nesse sentido, a cosmologia naturológica não se dá como nas demais racionalidades e nem a
partir delas. Mas leva em consideração os traços culturais simbólicos que são evidenciados na
relação de interagência, ou seja, no processo terapêutico a partir da aproximação do indivíduo
Leitura 
Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas em Saúde: Estudos
Teóricos e Empíricos 
com todas as suas dimensões próprias e únicas. Estamos construindo uma ideia de cosmologia
dada a posteriori, cosmologia sincrética como uma colcha de retalhos, visto que o sujeito da
sociedade contemporânea não é um membro de algo unificado e coerente, mas sim um ser
cultural que constrói seus pensamentos, vivências e maneiras de existir. É nesse sentido que se
estabelece a cosmologia, de acordo com o que cada indivíduo entende, compreende e utiliza em
seu cotidiano e as dimensões próprias de si (CERATTI, 2018).
Morfologia: Abordagem Ampliada e Multidimensional
da Saúde
Essa dimensão se refere às estruturas e elementos que constituem o corpo humano, que no
ocidente conhecemos como anatomia. A anatomia estuda as estruturas e suas inter-relações e
pode ser dividida em anatomia microscópica, que estuda as estruturas observáveis apenas com o
auxílio de microscópicos; macroscópica, que estuda as composições visíveis a olho nu; humana,
que estuda os tecidos e sistemas do corpo humano; do desenvolvimento, que estuda as
mudanças estruturais desde a fecundação até o nascimento e o desenvolvimento da maturação
física; e a patológica, que estuda as mudanças estruturais causadas por doenças (CERATTI,
2018).
A visão multidimensional amplia o conhecimento do outro a partir de suas distintas dimensões:
física, psíquica, emocional, social, cultural, energética, ambiental, de relações inter e
Reflita 
O que se entende por visão multidimensional?
transdisciplinares, familiares, hábitos e costumes, entre outras. Entende que o ser não é apenas
o sintoma que apresenta, mas um conjunto de fatores que podem ou não ter favorecido para o
surgimento desse ou de outros sintomas. Algumas instituições
referem-se a essa concepção
ampliada de saúde como a visão multidimensional do ser humano no processo saúde-
adoecimento, reconhecendo e valorizando todas as relações de saúde: saúde e sociedade;
espiritualidade e saúde; visão sistêmica da vida. Esta visão proporciona aos alunos a
oportunidade de integrar todos os seus conhecimentos para elaborar e avaliar intervenções de
promoção da saúde. O conceito de saúde integral é apresentado no ensinamento da boa
assistência, comparando os dados avaliativos e diagnósticos através das terapias naturais e
explorando informações consistentes para alcançar hipóteses de uma avaliação integrada. A
biomedicina nos oferece uma capacidade de descobrir as possíveis causas da doença, para criar e
justificar métodos de tratamento, para facilitar uma comunicação adequada com outros
profissionais da área da saúde e pesquisar teorias sobre os mecanismos dos tratamentos
complementares. Por isso, faz se necessário integrar todos os conhecimentos, os de disciplinas
científicas, patologia e diagnóstico clínico, com a sua compreensão terapêutica, para fornecer
dados clínicos coerentes, a fim de obter bons resultados e metas adequadas de tratamento
(CERATTI, 2018).
Para elaborar um plano terapêutico, é necessário identificar os hábitos e costumes do indivíduo.
A fim de promover saúde, prevenir doenças, fortalecer os sistemas de defesa do organismo e
despertar mudanças, principalmente a conscientização do interagente, almejando buscar o
equilíbrio, o bem-estar e a qualidade de vida, que consequentemente representam a saúde
integral. Um exemplo é a disciplina de Saúde Pública, através dela é possível descobrir os
impactos dos determinantes sociais na saúde dos indivíduos e da sociedade (CERATTI, 2018).
Importante! 
O foco da abordagem é centrado no interagente. A partir do que a
estrutura social e culturalmente é que se propõe um tratamento. Não
existe um protocolo pré-estabelecido quanto às concepções de saúde e
Propor a saúde de forma ampliada e integral é reconhecer seu caráter complexo e
multidimensional. Os sintomas ou doenças são compreendidos e, na medida do possível,
amenizados como forma de trazer conforto e bem-estar ao interagente (PASSOS et al., 2017).
doença para a Naturologia, mas, entre as instituições, prevalece a
abordagem terapêutica multidimensional e integral, que respeita os
estilos de vida de cada sujeito e, em relação ao mundo que o cerca
possam ser direcionadas para uma prática adequada tanto de
diagnóstico quanto de terapêutica (CERATTI, 2018).
Figura 2 – Interação do corpo humano com a natureza 
Fonte: Getty Images
Dinâmica Vital: a Integralidade e Transdisciplinaridade
A dinâmica vital pode ser entendida como análoga ao que se conhece no Ocidente como
fisiologia, aquilo que é percebido como o estado de saúde dentro de um padrão de normalidade.
A fisiologia trata das funções das partes do corpo. É dividida em fisiologia celular, que é o estudo
da homeostase e das funções específicas das organelas; fisiologia humana, que é o estudo das
menores porções estruturais do corpo até os mais complexos sistemas; fisiologia do
desenvolvimento, que trata das alterações funcionais que ocorrem conforme mudanças nos
organismos; e fisiologia patológica, que é o estudo das mudanças funcionais que acontecem
com o envelhecimento ou doença do organismo (CERATTI, 2018).
Essa dimensão se dá a partir das evidências da medicina ocidental, abrangendo todos os
sistemas e estruturas do corpo humano. O profissional de saúde precisa ter um bom
conhecimento dessas disciplinas, para compreender os fenômenos biológicos, e dos métodos
que fundamentam a prática escolhida. Os estudos de anatomia e fisiologia são essenciais na
formação de todos os profissionais de saúde complementares, pois permitem conhecer as
estruturas e funções do corpo humano. A Naturologia não se limita a esse saber, pois busca
associar outra racionalidade, como a medicina tradicional chinesa. Portanto, a Naturologia
busca criar sua base de atuação ou intervenção de acordo com a sua visão integral. É
indispensável o estudo da anatomia e fisiologia na Naturologia, pois estabelece uma
comunicação eficaz com outros profissionais da área da saúde, principalmente da racionalidade
biomédica. Porém, cada prática terapêutica exige um conhecimento específico e diferente do
convencional para sua forma de aplicação. Esse aprofundamento das práticas orientais recebe
suporte teórico dos conhecimentos da morfologia e dinâmica vital que as compõem. Não como
finalidade do estudo, pois o foco é a terapêutica, mas como base estrutural e de funcionamento
para a atuação (CERATTI, 2018).
O termo “integralidade” vem do latim integralitate e significa qualidade, condição ou atributo do
que é integral; total; união de todas as partes que formam um todo. O sentido do termo
integralidade na saúde busca superar o reducionismo do modelo mecânico-dualista (com foco
na doença), apresentando uma concepção de integração. Esse sentido da integralidade aplica-se
à Naturologia e deve ser visto como o eixo principal da atenção à saúde. É necessário tornar o
atendimento em saúde cada vez mais humanizado e, para que isso seja possível, é preciso
aumentar a capacidade de escuta do profissional da saúde, o acolhimento, e integrar todos os
aspectos possíveis no processo terapêutico. Para cuidar da saúde, é fundamental manter uma
visão integral, buscando o equilíbrio entre corpo, mente e espírito, visando à totalidade do ser
humano (NEVES, 2012).
A integralidade reconhece os fenômenos como uma interação entre seus diversos aspectos e
que o todo não é mais nem menos do que a soma de suas partes, mas sim a interação entre elas.
Com foco na promoção da saúde, no autocuidado, na escuta acolhedora, busca-se compreender
as causas dos processos de saúde. O foco não é a doença, e sim o indivíduo e suas experiências,
transformando a relação vida-saúde-doença e tornando presente a integralidade (PASSOS et al.,
2017).
É seguindo esse contexto que a Naturologia apresenta um olhar diferenciado no processo vida-
saúde-doença. Suas bases trazem um olhar alinhado com uma nova forma de dialogar com o
conhecimento. No âmbito científico, essa nova maneira de dialogar com o conhecimento é
chamada de transdisciplinaridade, uma atitude acadêmica que postula a realidade como
multidimensional e que nasce após a revolução quântica. A Naturologia estabelece estreita
relação com a transdisciplinaridade, pois trata de diálogos entre disciplinas, estando estas
situadas ou não dentro de uma mesma racionalidade, e constrói pontes, possibilitando
verdadeiro diálogo entre as racionalidades e visando sempre a uma abordagem mais integral em
saúde. Atuar de maneira transdisciplinar é reconhecer que a realidade se dá em níveis, cada um
deles com lógicas diferentes; por isso, quando tratamos de disciplinas, não há verdade absoluta.
A Naturologia se diferencia de outras profissões da área da saúde principalmente por utilizar um
olhar integrativo sobre racionalidades distintas. Sendo assim, o naturólogo está apto para atuar
em equipe transdisciplinar (PORTELLA, 2013).
Doutrina Médica: a Relação Vida-Saúde-Doença
A doutrina médica pode ser definida como a formulação de certas compreensões teóricas ou
racionalmente elaboradas sobre as origens, as causas e a natureza do adoecimento humano.
Abrange as disciplinas de formação e estruturação do profissional. Em se tratando da
Naturologia, citamos algumas instituições de ensino superior que a abordam:
Vale lembrar que existem diferenças entre as concepções de saúde-doença nos dois estilos de
pensamento: no da medicina ocidental contemporânea, em que saúde e doenças são vistas
como duas categorias dicotômicas, e no das medicinas tradicionais, em que saúde e doença são
entendidas como duas manifestações de um processo energético ou vitalista (CERATTI, 2018).
O curso de Naturologia aborda os diferentes sistemas terapêuticos e suas representações sociais
sobre saúde e adoecimento, conduzindo os profissionais a intervir com entendimento no
processo saúde-doença dos sujeitos. E ainda desenvolve a visão multidimensional do ser
humano, as relações saúde e sociedade, a relação de interagência e a do homem com a natureza.
UNISUL – Disciplina: Visão Multidimensional em Saúde: compreender a visão
multidimensional do ser humano no processo saúde-adoecimento. Saúde e
ambiente, saúde e sociedade. Espiritualidade e saúde. Teoria da complexidade;
Anhembi – Disciplina: Saúde Coletiva: aborda os sistemas de saúde do Brasil a
partir de uma visão histórica. Discute os programas de atenção básica de saúde, sob
um enfoque teórico-prático. Concentra a atenção sobre a promoção, prevenção e
controle de doenças e principais agravos à saúde na coletividade (CERATTI, 2018);
UNICSUL, UNIPÊ, UP, FSG, UNICID, Braz Cubas e UNIFRAN – Disciplina:
Abordagem Saúde Sistêmica: compreender a visão multidimensional do ser
humano no processo saúde-adoecimento. Saúde e ambiente, saúde e sociedade.
Pensamento sistêmico e a teoria da complexidade e as disciplinas de Abordagem
Naturológica I e II, que orientam a formação de um olhar sistêmico, complexo e
transdisciplinar capaz de realizar a escuta ativa e humanista das singularidades de
cada sujeito, com base na relação de interagência, que irá influenciar diretamente a
atuação profissional. 
A Naturologia acaba se distanciando do modelo biomédico, pois o foco não é a doença, e sim a
educação em saúde e o indivíduo (CERRATI; HELLMANN; LUZ, 2017).
Sistema de Diagnose e a Relação de Interagência
Em relação ao sistema de diagnóstico, levando em consideração a nossa cultura ocidental, esse
termo remete ao modelo clássico hegemônico da biomedicina como sendo o ato de investigar e
descobrir a doença. Porém, etimologicamente, a origem grega nos diz que o termo diagnose
significa conhecer através de ação ou faculdade de discernir; distinguir. Ou seja, aquilo que deve
ser destacado e compreendido como o objeto da intervenção médica. Em um conceito mais
amplo, pode-se entender que, a partir da concepção de homem ou organismo vivo a ser tratado,
são identificados os elementos e as partes do indivíduo que devem ser atendidas no tratamento,
definindo assim os objetivos do processo (LUZ; BARROS, 2012). 
Diante da visão vitalista que rege a Naturologia, entende-se que o sistema diagnóstico é o
momento em que se buscam as origens (não somente as causas) e os desequilíbrios, isto é, do
movimento e fluxo do campo energético do indivíduo. E é através de algumas disciplinas
específicas que se aplica o sistema diagnóstico. Por exemplo, a disciplina Medicina Tradicional
Chinesa, na qual se estudam, através da visão oriental, o processo de adoecimento e as diversas
maneiras de diagnóstico. Para tanto, todas as dimensões dessa racionalidade são vistas:
cosmologia na terapêutica tradicional chinesa, sistema diagnóstico e terapêutico não invasivo
por meio de avaliação do pulso, língua e anamnese (histórico completo do interagente)
(CERRATI; HELLMANN; LUZ, 2017).
É importante sintetizar os conhecimentos e habilidades adquiridos de todas as disciplinas,
desenvolvendo a capacidade de aplicar o pensamento crítico. Nas instituições do Grupo Cruzeiro
do Sul, a disciplina de Avaliação Naturológica e Interagência visa apresentar o sistema de
diagnóstico e interagência dentro do sistema naturopático advindo das racionalidades
biomédica, chinesa, ayurveda, antroposófica e de outras práticas integrativas. Também
apresenta a Iridologia em sua grade curricular. Essa prática apresenta uma técnica de avaliação,
visto que o estudo de sinais nos órgãos e regiões na íris, de acordo com uma topografia, podem
mostrar possíveis fragilidades e potencialidades de cada indivíduo. As variações de estrutura, cor
e proporção na íris são observadas, analisadas e interpretadas em termos de estado de saúde de
um indivíduo e são utilizadas como auxílio na formulação de um plano de tratamento
naturológico. Sobretudo, a interpretação dos sinais, sintomas e desequilíbrios se dá pela união
de um ou mais métodos possíveis de utilização e interpretação que podem incluir diferentes
racionalidades médicas, inclusive técnicas modernas e avançadas de diagnóstico por imagem ou
exames laboratoriais, com as devidas ressalvas legais de atuação dependendo do país em que a
prática é realizada (CERATTI, 2018).
Desta forma, a atuação do naturólogo, enquanto sistema diagnóstico, pode ser considerada
complementar à medicina convencional, tendo um importante papel na formação de equipes
multidisciplinares (CERRATI; HELLMANN; LUZ, 2017).
A relação de interagência pode ser mais bem compreendida partindo de três definições da
palavra “interagir”:
Importante! 
A relação terapêutica é um dos pontos fundamentais da abordagem em
Naturologia. A relação de interagência é caracterizada como o
diferencial na forma de atuação do naturólogo. É considerada como o
foco do processo terapêutico, com ênfase no cuidado humanizado e
trazendo a transversalidade ao invés da verticalidade (PASSOS et al.,
2017).
Dialogar com alguém; comunicar-se;
O indivíduo que busca a Naturologia recebe o nome de “interagente”, pois ele participa
ativamente de seu processo terapêutico por meio de suas decisões e escolhas relacionadas aos
aspectos de vida-saúde-doença, tornando-se corresponsável em seu tratamento. Na terapêutica
naturológica evita-se o uso das palavras “paciente” e “cliente”, pois “paciente” remete à
passividade e “cliente” é utilizada em âmbito comercial. A interagência compreende e se
direciona também para o profissional. O vínculo estabelecido não pode ser de caráter vertical, no
qual acontece somente a transmissão dos conhecimentos, mas sim transversal, no qual as
decisões sobre a saúde do interagente são construídas em conjunto, respeitando e preservando
a autonomia dele. Para auxiliar no processo terapêutico e estabelecer a relação de interagência, o
naturólogo se norteia por conceitos e valores tais como ética, vínculo, acolhimento, cuidado,
presença, respeito, disciplina, compreensão, empatia, escuta, reflexão, integralidade e
complexidade. Sendo assim, a Naturologia propõe uma abordagem que objetiva restaurar,
manter e promover a saúde por meio da educação para a saúde. A perspectiva é educar o
interagente para que identifique e transforme seus processos de saúde; o naturólogo auxilia no
processo, mas sem que se estabeleça uma relação de dependência entre ambos (PASSOS et al.,
2017).
Sistema Terapêutico e os Aspectos Físicos, Emocionais,
Mentais, Espirituais, Socioculturais e Ambientais dos
Tratamentos em Naturologia
Essa dimensão diz respeito à arte e à ciência de cuidar, atender, acolher e tratar o indivíduo
(doente ou não). É a isto que se propõe o conceito de racionalidades médicas: tratar o doente
(LUZ, BARROS, 2012).
O objetivo principal da intervenção terapêutica é a busca de um novo equilíbrio do sujeito,
entendendo esse indivíduo em sua totalidade complexa, pluridimensional (física, vital,
emocional, mental, espiritual) (CERATTI, 2018). Por isso, a Naturologia tem como finalidade a
intervenção terapêutica na promoção, recuperação e ampliação da saúde, por meio, por
Participar de atividade juntamente com outra(s) pessoa(s);
Exercer ação mútua com algo influenciando o desenvolvimento um do outro.
exemplo, das seguintes práticas: terapia comunitária integrativa, ayurveda, reflexologia;
recursos terapêuticos manuais; meditação, reiki, medicina tradicional chinesa, antroposofia,
práticas corporais (lian gong, dança circular, yoga), geoterapia, hidroterapia, apiterapia,
recursos expressivos, fitoterapia; cromoterapia; terapia floral; aromaterapia.
O tratamento proposto será sempre singularizado, particularizado e direcionado. O interagente é
abordado de uma forma multidimensional, considerando todos os aspectos físicos, emocionais,
mentais, espirituais, socioculturais e ambientais (PASSOS et al., 2017).
Indicações para
saber mais sobre os assuntos abordados nesta
Unidade:
  Vídeos  
Racionalidades Médicas em Saúde
2 / 3
 Material Complementar
Racionalidades Médicas em saúde
Naturologia como um Ampliação da Visão do Processo
Saúde/Doença 
  Leitura  
O Currículo da Naturologia à Luz dos Conceitos de
Racionalidade Médica e Prática Integrativa
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ACESSE
Naturologia como um ampliação da visão do processo saúde/doe…
Racionalidades Médicas e Práticas Integrativas em Saúde:
Estudos Teóricos e Empíricos
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ACESSE
BATISTA, A. M. M. Práxis, consciência de práxis e educação popular: algumas reflexões sobre
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