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POLÍTICAS EM SAÚDE MENTAL

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POLÍTICAS EM SAÚDE MENTAL 
Profa. Aline Buriola
Saúde Mental 
9º termo - 2022.1
INTRODUÇÃO
Psiquiatria Democrática Italiana: a base da psiquiatria brasileira hoje é a psiquiatria italiana, criada por Franco Basaglia, um médico psiquiatra que acreditava que os indivíduos ditos “loucos” (qualquer um que não se encaixava no padrão da sociedade da época: mendigos, prostitutas, mulheres que engravidavam antes do casamento…) deveriam ser integrados na sociedade e não excluídos nos manicômios, os quais ele enxergava como uma forma de violência e desumanização. 
· Questiona o conceito de doença mental, o papel do manicômio e o poder exercido pelos médicos em nome de um saber competente. 
· Questiona o sistema social com sua violência e seus processos de exclusão
· Eclodiu no hospital psiquiátrico de Gorizia com 700 pacientes internados e depois o de Trieste com 1101 pacientes 
· Em 1960 através de um movimento político, Basaglia conseguiu que esses hospitais fossem fechados, e a partir disso foi criado um novo método de cuidado, onde, através de serviços comunitários, os pacientes eram cuidados, tratados e depois retornavam para a sociedade. 
· Esse método é a base para o nosso modelo atual, onde cuidamos do paciente e ainda preparamos a família para lidar com a doença e as condições dele, sempre levando em consideração sua dinâmica familiar. 
· Foram a psiquiatria e os manicômios que transformaram o louco em doente 
· A internação serve à sociedade como uma garantia à sua segurança, caracterizando então como um controle social. 
Cronologia:
· Anos 50 - hospitais com características de asilos:
· Submetidos a violência, sem condições de decidir sobre sua vida, os internados acabam perdendo a dignidade e cidadania. 
· 1960 - Movimento de caráter político por Franco Basaglia: questionava o conceito de doença mental, manicômio, poder, preconceito e exclusão. Argumentava que a loucura faz parte da condição humana. 
· “A loucura ou a desrazão existe porque faz parte da condição humana e deve ser aceita pela sociedade” (Basaglia).
· 1978 - Lei 180: proíbe a constituição e manutenção de manicômios, valoriza a assistência de saúde extra-hospitalar ou em pequenas enfermarias psiquiátricas dentro do hospital geral e com internações breves. 
BRASIL: LUTA ANTIMANICOMIAL (LAMA)
Foi inspirada no modelo de reforma italiana por Franco Basaglia, teve início na década de 70 e ganhou força através do apoio de alguns profissionais da saúde mental, de pacientes e de seus familiares. Transformou a assistência à saúde mental no país, fechando leitos em hospitais psiquiátricos e criando dispositivos alternativos na comunidade. 	
· Principal objetivo: aproximar portadores de transtornos mentais graves da sociedade, permitindo maior integração social e resgatando sua cidadania !!!!!!
REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA
Princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira:
· Reorganização do modelo assistencial → mudança na maneira de cuidar 
· Inserção da família no cuidado → cuidado territorial (internação como última alternativa)
· Mudança política e cultural → gestão participativa, protagonismo do usuário 
Cronologia da Reforma Psiquiátrica Brasileira:
· No Brasil, o processo de substituição da internação psiquiátrica é iniciado em meados dos anos 80, com a criação dos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
· Declaração de Caracas - 1990: !!!!!
· É o primeiro documento que regulamenta a reforma psiquiátrica no Brasil
· Dá início ao processo Legal da reestruturação da assistência em saúde mental
· A partir da Declaração de Caracas, tivemos a criação da Lei 10,216 em 2001
· Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001: regulamentação do atendimento psiquiátrico, também chamada de Lei Paulo Delgado !!!!
· Redireciona o modelo assistencial em saúde mental
· Assegura os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental
· Reconhece a responsabilidade do Estado para com a assistência
· Extingue progressivamente os manicômios no Brasil
· Criação dos Serviços Substitutivos, onde o paciente é tratado em contato com o meio social
· 03 tipos de reformas:
· Reforma com Desassistência: fecho os manicômios e não abro nada para manter a assistência a esses doente 
· Reforma com Desospitalização: fecho os manicômios, abro os serviços substitutivos, mas não altera a cultura isolacionista
· Reforma com Desconstrução: é a “Nova Maneira de Cuidar”, onde há a desospitalização e introdução de novas técnicas para o cuidado na saúde mental.
POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL
Substituição da ideologia do reparto, de carácter excludente e isolacionista para um modelo assistencial de tratamento extra-hospitalar, próxima da comunidade e da família, com o objetivo de garantir os direitos das pessoas com transtornos mentais. 
Diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental: 
REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 
Portaria 3.088 MS/GM, de 23 de dezembro de 2011: em complementação à lei 10.216, vai regulamentar toda a rede de atenção psicossocial, determinando como deve ser cada um dos serviços e qual o papel de cada profissional dentro desses serviços. !!!!!
· UBS/ESFOs 03 marcos da Reforma Psiquiátrica Brasileira: 
Declaração de Caracas
Lei nº 10.216
Lei nº 3.088
· CAPS
· Ambulatórios de Saúde Mental
· Hospital dia
· Emergência psiquiátrica.
· Unidade de internação psiquiátrica em hospital geral.
· Unidade de acolhimento.
· Leitos psiquiátricos em hospitais especializados
Atenção Primária: ESF (Estratégia Saúde da Família) e UBS (Unidade Básica de Saúde).
· Funções da Atenção Primária: promoção e prevenção em saúde mental → como?
· Atividades de educação e orientação sobre: 
· Princípios de saúde mental
· Melhores condições de vida
· Direitos e deveres em relação a si e aos outros
· Promoção e manutenção da saúde mental
· Ações de identificação e avaliação de: 
· Grupos vulneráveis a agravos a saúde mental
· Fatores de risco
· Potencial para enfrentamento de situações estressantes
· Atividades de participação em ações comunitárias e política de saúde mental 
· Funções do Profissional na Atenção Primária:
· Incluí promoção e manutenção da saúde e prevenção da doença.
· Prevenção em saúde mental não é buscar causas, mas sim fatores ou condições de vulnerabilidade.
· Neste nível de prevenção o profissional tem como objetivo diminuir a susceptibilidade da pessoas, famílias e comunidades aos transtornos mentais
· Também contribui com o desenvolvimento de habilidade de enfrentamento das situações conflitantes ou estressantes 
Atenção Secundária: CAPS e Ambulatórios Geral Psiquiátrico e Especializado
· Centro de Atenção Psicossocial (CAPS):
· Deve fornecer assistência médica, serviços de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer. Proporcionar atendimento mais intensivo que o ambulatório tanto em duração como em frequência de atendimento. Sendo um serviço intermediário entre o ambulatório e a internação. 
· Os CAPS são estruturados em três níveis de complexidade: 
· CAPS I (20-70 mil hab)
· CAPS II (70-200 mil hab e atendimento diurno)
· CAPS III (mais de 200 mil hab, 24 horas com leito)
· CAPSad - álcool e drogas
· CAPS infantil - até 18 anos
· Os CAPS I e II oferecem atendimento com equipe multidisciplinar, o que inclui psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional e serviço social, além da opção de o paciente passar o dia no prédio, fazendo atividades, até o horário de fechamento. O CAPS III, além de oferecer tudo que os CAPS I e II oferecem, vai ter também os leitos para observação e o atendimento 24h.
· Ambulatório Geral Psiquiátrico e Especializado:
· Eficaz no tratamento e controle das doenças mentais.
· Unidades de Acolhimento: adulto e infantil
· São serviços residenciais transitórios (tempo de permanência determinado de até 6 meses) para pessoas com problemas de álcool e drogas ou que receberam algum tipo de tratamento mas não têm para onde ir.
· Objetivo de colher e prestar cuidados em saúde.
· Funções da Atenção Secundária:
· Assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais. 
· Envolveo trabalho de detecção precoce e assistência imediata à pessoa em situação de crise ou com transtorno mental.
· Atualmente necessitam de maior investimento para suprir a demanda emergente 
· Funções do Profissional na Atenção Secundária:
· Realização de grupos de auto-ajuda para orientação sobre os transtornos mentais.
· Criação e desenvolvimento de programas psicoeducacionais - realizado em parceria com cliente, família, amigos e profissionais, proporcionando elementos e informações para facilitar a convivência ou o manejo da doença, adesão ao tratamento, o enfrentamento dos desafios que surgem no curso da doença, e um melhor nível de qualidade de vida. 
· Orientações sobre cuidados no domicílio.
· Criação de associações de famílias e amigos – contribui com a reintegração social.
Atenção Terciária: Unidade Psiquiátrica em Hospital Geral (PAI), Hospital Psiquiátrico Especializado, Unidade de Emergência Psiquiátrica e Serviço de Residência Terapêutica.
· Unidade Psiquiátrica em Hospital Geral: serviços destinados a internações de pacientes agudos com ou sem intercorrências clínicas e/ou cirúrgicas.
· Hospital Psiquiátrico Especializado: para pacientes que necessitam de cuidados intensivos cujo tratamento não é possível ser feito em serviços de menor complexidade. 
· Unidade de Emergência Psiquiátrica: aberta em tempo integral (24 horas por dia), com leitos para acolher pacientes em crise, em curtíssima permanência (até 24 horas). 
· Funções da Atenção Terciária: 
· Redução de incapacidade
· Reabilitação do cliente
· Funções do Profissional na Atenção Terciária:
· Criação de serviços na comunidade como oficinas abrigadas, residências terapêuticas, grupos de auto-ajuda etc.
· Organização e participação em programas que ajudem na inserção na comunidade.
· Esclarecimento da população sobre os recursos existentes na comunidade, sua utilização e a conscientização de seus direitos e deveres.
· Promoção e reabilitação social do cliente.
Outros Serviços:
· Serviço de Residência Terapêutica I (Lar Abrigado): serviço destinado a pacientes com autonomia, sem necessidades clínicas de internação, que não contam com o apoio da família. Os moradores terão como referência um serviço de saúde mental.
· Serviço de Residência Terapêutica II (Pensão Protegida): serviços destinados a pacientes com a autonomia comprometida, sem necessidades clínicas de internação, que não contam com o apoio da família. Os moradores terão como referência um serviço de saúde mental.
· Centro de Convivência: comprometimento, para recreação e convívio. Nestes centros poderão ser utilizadas técnicas de reabilitação, com profissionais de nível superior, à exceção de médicos. Os centros de convivência estariam referenciados a um serviço de assistência de nível secundário.
Obs: as residências terapêuticas foram criadas após o fechamento dos hospitais psiquiátricos, com o objetivo de fornecer residência aos pacientes institucionalizados destes hospitais. São casas grandes, com em torno de 10 pacientes cada uma, cujo aluguel é mantido pelo Estado e o recurso humano pelo Município. 
A POLÍTICA DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
· Mudança do modelo assistencial – instituições fechadas, baseadas na abstinência para uma rede de atenção integral que reduza a exclusão e a falta de cuidados, evitando internações desnecessárias
· Rede de atenção deve incluir: Centros de atenção psicossocial AD, Hospitais Gerais, ações na atenção básica e articulação com uma rede de suporte social
· Redução de danos como estratégia valiosa
· Integração Intra e Intersetorial /Revisão e construção de um suporte legal e normativo
CONFLITOS ATUAIS
Portaria 3588, de 21 de dezembro de 2017:
· Investimento de 320 milhões em capacitação profissional.
· Expansão das comunidades terapêuticas (não faziam parte da RAPS)
· Abertura de novos CAPS, UA, SRT, leitos em hospitais gerais.
· Ampliação das equipes nos ambulatórios – investimento financeiro.
· Criação do CAPS ad IV – mais 500 mil hab. Próx. cracolândia
· Manutenção dos leitos em hospitais especializados.
Nota Técnica nº11/2019 - CGMAD/DAPES/SAS/MS:
· O Hospital Psiquiátrico passa a ser incluído na RAPS e não mais se incentiva o seu fechamento.
· Foram criados dois novos procedimentos para faturamento hospitalar – um para internações curtas (até 90 dias) e outro para internações prolongadas (mais de 90 dias) ou reinternações antes de 30 dias da última alta hospitalar.
· Prevê hospitais acima de 400 leitos
· Internação de crianças e adolescentes em unidades psiquiátricas. A melhor prática indica a necessidade de que tais internações ocorram em Enfermarias Especializadas em Infância e Adolescência. No entanto, exceções à regra podem ocorrer, sempre em benefício dos pacientes.
· Compra de aparelhos de eletroconvulsoterapia (ECT)
· A quem interessa isso? Se já temos em hospitais federais e são poucos os casos onde este recurso é mesmo necessário
Sugestão de filme: Uma Mente Brilhante

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