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MERCADO CAMBIAL E COMÉRCIO EXTERIOR Autoria: Cristiane Vieira Valente Indaial - 2021 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Cristiane Lisandra Danna Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Bárbara Pricila Franz Marcelo Bucci Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Xxxxxx Xxxxxxxxxxx Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx XXX p.; il. ISBN XXXXXXXXXXXXX 1.Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx CDD XXXX.XXX Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Política Cambial e Mercado de Câmbio ...................................... 7 CAPÍTULO 2 Balanço de Pagamentos e Organismos Internacionais ......... 51 CAPÍTULO 3 Teoria e Políticas de Comércio Exterior, Globalização e In- tegração Econômica ................................................................... 99 APRESENTAÇÃO Olá, sejam bem-vindos ao Livro de Mercado de Câmbio e Comércio Exterior. O estudo sobre comércio internacional é uma área interessante da ciência econômica que tenta promover um conhecimento sobre as causas e consequências das trocas internacionais. O comércio internacional é uma das mais antigas áreas da economia e atraiu vários economistas ao longo da história na busca de teorias sobre o tema. Neste Capítulo 1 vamos estudar sobre moeda e taxa de câmbio. É de extrema importância saber como essas trocas internacionais vão acontecer na questão monetária. Conhecer o aparecimento da moeda nas trocas internacionais e como se estabelece a taxa de câmbio em cada regime cambial é de extrema importância para quem trabalha com transações comerciais, possibilitando agir preventivamente frente à volatilidade do mercado internacional. CAPÍTULO 1 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Defi nir moeda e taxa de Câmbio. Compreender a política cambial e o que são os regimes cambiais. Analisar como o governo pode infl uenciar no mercado através da política cambial e comercial, minimizando a volatilidade do mercado internacional. Entender a Política Comercial para agir de forma preventiva no mercado internacional. 8 Mercado Cambial e Comércio Exterior 9 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O comércio internacional atual é o resultado de evoluções das práticas de comercializar desde os povos antigos, nômades e extrativistas da Antiguidade. Entender essa evolução e os processos que nos levaram até os dias de hoje são fundamentais para nos tornar capazes de entender o atual mundo globalizado. Entender qual a importância do comércio internacional para a economia de um país, o que leva os países a comercializarem entre si e como esse processo ocorre no mercado de câmbio. Atualmente, vivemos em um mundo globalizado, e mesmo sem perceber, essa realidade interfere diretamente nas nossas vidas. Hoje podemos contar com tecnologias que facilitam nossas vidas, assim como acesso a diversos produtos e serviços para satisfazerem nossas necessidades. Sem contar com o surgimento de novos produtos em tempo cada vez menor. São confortos e facilidades que a globalização nos proporciona que são irreversíveis, pois não queremos voltar atrás. Mas isso implica em intensifi cação das transações econômicas internacionais e no aumento dos níveis de interdependência das nações no âmbito real, fi nanceiro e política econômica. Neste capítulo vamos analisar a questão do comércio exterior, ou seja, as transações atuais implicam em fl uxos de divisas estrangeiras. Antes de mais nada, como a moeda surgiu como um facilitador de comércio, como se organiza o mercado de câmbio, seus regimes cambiais, os registros das transações comerciais e a política comercial. A política cambial é uma das políticas macroeconômicas que o governo possui para atender as suas metas macroeconômicas, ou seja, proporcionar o crescimento econômico, estabilidade de preços e alto nível de emprego. A decisão de qual regime cambial adotar é uma decisão governamental e isso irá infl uenciar as importações, exportações, produção nacional e infl ação. O conhecimento desses regimes cambiais e suas implicações no mercado são importantes para os agentes econômicos. Com o mundo extremamente interligado, mesmo aqueles que não atuam diretamente no comércio exterior são impactados pelos seus desdobramentos. Um aumento do valor do dólar, por exemplo, irá impactar no preço do barril do petróleo que importamos e muito provavelmente no preço dos combustíveis dentro do país. Esse aumento no preço dos combustíveis pode aumentar o preço dos transportes e das mercadorias que consumimos, mesmo que sejam nacionais. 10 Mercado Cambial e Comércio Exterior 2 MOEDA E TAXA DE CÂMBIO Se você fi zer uma enquete com um grupo de pessoas, perguntando o que é moeda, quais seriam as respostas prováveis? O papel que está na minha carteira? O dinheiro que tem no banco? Meu limite o cartão de crédito? Todas as respostas devem passar pela questão que o dinheiro é “algo” que serve para comprar o que desejamos. De forma simplória, a resposta está correta. A moeda é um objeto aceito pela coletividade para intermediar as trocas. Mas sempre foi assim? Não, a moeda já foi uma mercadoria, já foi um metal, um papel com representação em outro até chegar a nossa moeda atual. Foi uma grande evolução do sistema de trocas até os dias de hoje. 2.1 EVOLUÇÃO DO SISTEMA DE TROCAS Ao estudar a história da civilização, vimos o homem primitivo se abrigando em cavernas e se alimentando com o que conseguisse através da caça, pesca e frutos silvestres. Ao passar dos séculos, a espécie humana passou a ter novas necessidades e, com isso, apareceram as trocas individuais. O primeiro sistema de trocas foi o escambo. O escambo é a troca direta de mercadoria por mercadoria sem que haja uma moeda. Havia uma grande difi culdade na troca, pois era necessário que uma pessoa quisesse trocar o que o outro tinha. Depois era a questão de que não havia medida de valor de referência: quanto vale um peixe em espiga de milho? Essa permuta de objetos implicaria uma equivalência de valor. Mas, digamos que um grupo de pessoas tenha pescado mais peixe do que necessitava e numa outra comunidade colheu mais milho do que esperada. A moeda, como hoje a conhecemos, é o resultado de uma longa evolução. Como já foi dito, no início não havia moeda e era praticado o escambo. Ou seja, trocava-se mercadoria por mercadoria sem equivalência de valor predefi nida. Era uma forma de troca muito difícil, pois não existia uma medida comum de valor entre os elementos a serem trocados. Como apareceu a moeda? Quando a própria sociedade escolhia algumas mercadorias, basicamente, pela sua utilidade, que passaram a ser mais procuradas do que outras. Uma vez que essas mercadorias são aceitas por grande parte da sociedade, elas assumiram a função de moeda. Essas eram chamadas de moeda mercadoria, ou seja, mercadorias que circulavam como moeda, sendo trocada por outros produtos. Pelo seu elevado grau de aceitação, poderiam usar essa “mercadoria” no futuro para adquirir os produtos quedesejam. Essa prática virou um hábito entre os membros 11 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 da sociedade, fazendo com que o uso de uma mercadoria específi ca se tornasse um meio de troca com aceitação de grande parte da sociedade. Cabe ressaltar que coexistiam várias “mercadorias” moeda na época. Algumas mercadorias foram conhecidas como moeda: o gado bovino, por exemplo. Existiam vantagens na questão da locomoção própria e na reprodução, porém, existia o risco de doenças, de morte e a difi culdade de “troco”. Como dar o troco de ½ boi? Perderia o valor, pois o boi morreria! O sal foi outra moeda– mercadoria, que deu origem ao salário, ou seja, a remuneração do trabalho era feita com sal. Mas existia uma grande difi culdade de obter sal em países continentais, apesar de muito necessário para a conservação de alimentos. Mas com o passar do tempo, as inconveniências foram aparecendo. Muitas mercadorias eram perecíveis, de difícil divisibilidade e oscilavam de valor – o que difi cultada o acúmulo de riquezas. O ouro e a prata acabavam sendo uma mercadoria muito utilizada por conta da sua facilidade de fracionamento, transporte, durabilidade, raridade e beleza, além de antigos costumes religiosos nos primórdios da civilização. Estudiosos de astronomia, os sacerdotes da Babilônia, acreditavam que existia uma ligação entre o ouro e o Sol, a prata e a Lua. A primeira moeda de metal surgiu na Lídia (atual Turquia), no século VII a.C. (Figura 1). FONTE: <https://www.hipercultura.com/historia-do-dinheiro-como-surgiu-evolucao/>. Acesso em: 2 fev. 2021. FIGURA 1 – MOEDA LÍDIA DO SÉCULO VII a.C.: A PRIMEIRA MOEDA DO MUNDO Bem parecidas com as moedas atuais, as moedas lídias eram peças de metal arredondadas, achatadas e pequenas. Inicialmente tinham a imagem de um leão numa fase, pois representava a dinastia no poder da época. A cunhagem era feita através da pancada de martelo. De forma bem primitiva surgiu a cunhagem com martelo de metais nobres, como o ouro e a prata. O uso da moeda acabou se difundindo para outros locais, como Jônia, Pérsia e Grécia. A Figura 2 mostra a moeda utilizada em Atenas, capital da Grécia. 12 Mercado Cambial e Comércio Exterior FONTE: <https://www.hipercultura.com/historia-do-dinheiro-como-surgiu-evolucao/>. Acesso em: 2 fev. 2021. FIGURA 2 – MOEDA LÍDIA MOEDA DE PRATA GREGA CHAMADA TETRADRACMA, QUE CIRCULOU NA GRÉCIA ENTRE 510-38 a.C. Podemos perceber que as moedas refl etiam os aspectos políticos, culturais, tecnológicos e econômicos da sua época. Através dessas impressões nas moedas, conhecemos hoje personalidades importantes da época. A fi gura de Alexandre, o Grande, da Macedônia, foi registrada numa moeda por volta do ano 330 a.C. Inicialmente as peças eram feitas em processos manuais, tinham bordas irregulares, não eram absolutamente iguais, porém, o mesmo peso do metal. Lembra da expressão “a peso de outro” e/ou “vale o quanto pesa” ? Isso porque as moedas em ouro e prata se mantiveram durante muito tempo garantidas seu valor intrínseco, ou seja, pelo valor comercializado do metal utilizado na sua peça. Assim, se foram utilizadas 10 gramas de ouro na confecção daquela moeda, ela era trocada por mercadorias e serviços neste mesmo valor. A história nos conta que, por segurança, foi necessário aparecer “locais” para guardar os metais preciosos. Os negociantes de ouro e prata tinham cofres nesses “estabelecimentos” e cuidavam do dinheiro dos seus clientes, dando recibos escritos das quantias guardadas. Foi o nascimento dos bancos. Esses recibos eram chamados de “moeda-papel” e com o tempo passaram a ser utilizados como meio de pagamento pelos seus detentores, sendo mais seguro de portar do que o dinheiro vivo. Os chineses, por volta do ano 800 d.C., criaram o papel moeda (Figura 3). Foi a necessidade de evitar o transporte de grandes quantidades de dinheiro de uma localidade para outra, mais fácil transportar certifi cados de dinheiro em papel. Depois o possuidor desse certifi cado poderia trocá-lo pelo seu valor equivalente. 13 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 FONTE: <https://www.hipercultura.com/historia-do-dinheiro-como-surgiu-evolucao/>. Acesso em: 2 fev. 2021. FIGURA 3 – CÉDULA CHINESA DA DINASTIA YUAN (1271-1368) HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. 22 ed. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: LTC, 2019. Este livro tem duplo objetivo. É uma tentativa de explicar a história pela teoria econômica e a teoria econômica pela história. Com o passar do tempo, para controlar as falsifi cações e garantir o valor do papel, os governos passaram a emitir cédulas. Hoje em dia, quase todos os países possuem seus bancos centrais, encarregados das emissões de cédulas e moedas. Em 1656 surge o primeiro Banco Central na Suécia; depois na Inglaterra, em 1694; na França, em 1700, e no Brasil, em 1808. A partir da segunda metade do século XVIII, a Inglaterra passou a adotar o padrão ouro. Mas o que signifi cava padrão ouro? Simples: as moedas de ouro foram sendo substituídas gradativamente por notas em papel fornecidas pelo 14 Mercado Cambial e Comércio Exterior Banco da Inglaterra (papel moeda com lastro em ouro) . Esses “papeis” eram títulos que permitiam o resgate equivalente das moedas de ouro guardadas em instituições fi nanceiras. Este mesmo padrão mais tarde foi adotado por países como França, Alemanha, Holanda e nações escandinavas. Qual a importância do Banco Central e da Casa da Moeda? Sugiro ver a publicação: https://www.bcb.gov.br/content/ cidadaniafinanceira/Documents/publicacoes/serie_pmf/FAQ%20 11-Fun%C3%A7%C3%B5es%20do%20Banco%20Central.pdf “O conjunto de cédulas e moedas utilizadas por um país forma o seu sistema monetário. Este sistema, regulado através de legislação própria, é organizado a partir de um valor que lhe serve de base e que é sua unidade monetária.” “Atualmente, quase todos os países utilizam o sistema monetário de base centesimal, no qual a moeda divisionária da unidade representa um centésimo de seu valor.” Disponível em: http://ead2.fgv.br/ls5/centro_rec/pag/textos/origem_ evolucao_moeda_9.htm As cédulas de moeda geralmente retratam características dos países emissores, como fauna e fl ora, líderes políticos, cenas históricas etc. Então, afi nal, o que é um sistema monetário? Atualmente, o papel-moeda não possui mais lastro, por isso também pode ser chamado por moeda fi duciária. O que quer dizer com isto? Não há a garantia física sustentando o valor da moeda, sua aceitação depende da confi ança de quem a emitiu e sua aceitação é feita através de uma imposição legal do Governo. 15 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 2.2 FUNÇÕES DA MOEDA Depois de estudar sobre a evolução da moeda até os dias de hoje, podemos concluir que a moeda é “algo” aceito pela sociedade para quitar obrigações para pagar pelos bens e serviços. Em suma, grosso modo, qualquer coisa pode ser moeda, contanto que seja aceita como forma de pagamento. Para ser uma moeda, ela deve atender as suas funções, a saber: a) Intermediário de trocas: é a principal função e a mais conhecida. A moeda foi criada para ser um meio de troca, para facilitar a aquisição indireta de um bem ou serviço. Ao receber uma moeda, ela será capaz de te proporcionar a capacidade de escolher o que você vai adquirir. Imagine a situação: você vende um produto, recebe uma quantia de moeda X e, com essa quantia, você pode adquirir o bem Y. A moeda foi um intermediário de troca, um instrumento para que você pudesse adquirir esse bem. Em uma situação hipotética que ninguém queira aceitar a moeda como instrumento de troca, ele perderá completamente sua função e seu valor. Para evitar isso, o governo exige o curso forçado da moeda, ou seja, exige que todos os agentes econômicos façam as suas transações formais em moeda nacional. Desta forma, as notasfi scais, transferências bancárias, por exemplo, são feitas em moeda nacional. É o chamado curso forçado da moeda nacional, defi nido pela lei Nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964. Sobre as trocas cambiais, é importante a Circular BACEN/DC Nº 3691 de 16/12/2013, que dispõe sobre o mercado de câmbio https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/circ/2013/pdf/circ_3691_ v1_O.pdf b) Unidade de conta ou Denominador comum de valores: essa é uma função muito importante. Veja bem: quando colocamos todos os bens e serviços na mesma unidade monetária, conseguimos comparar os valores. É importante que a mesma sociedade tenha a mesma unidade de conta, pois seu valor fi ca quantifi cado em unidades monetárias, passível de comparação. Se o bem A custa R$10,00 e o bem B custa R$20,00 eu posso afi rmar que o bem A é a metade do valor do bem B ou, da mesma forma, o bem B custa o dobro do bem A. Percebem como temos um referencial de valor? 16 Mercado Cambial e Comércio Exterior c) Reserva de valor: a moeda deve preservar o poder de compra por um tempo pois é uma forma de medir riqueza. Algumas moedas não conseguem exercer plenamente essa função por conta do processo infl acionário, pois acaba fazendo a moeda perder o valor e comprometendo sua capacidade de reservar valor. De qualquer forma, a liquidez imediata da moeda, ou seja, a capacidade de ser aceita e trocada por outra mercadoria imediatamente fazem com que as pessoas mantenham parte da sua renda em moeda. Querem mais informações sobre moeda? Indico a leitura O Papel da Moeda em Marx e Keynes, em: https:// www.eco.unicamp.br/images/arquivos/artigos/LEP/L14/5%20 LEP14_O%20papel%20da%20moeda.pdf 1 Analise as considerações abaixo a respeito das funções características da moeda: I- O meio de troca e de pagamento uma vez que o real (R$) é a moeda (ou mesmo, o dinheiro) legalmente aceita(o) pela sociedade brasileira e que viabiliza a troca entre diversos bens (ou serviços) e de pagamento II- Uma unidade de conta, pois os preços relativos dos bens na economia brasileira (assim como no mundo) são expressos em unidades monetárias. III- Reserva de valor, pois o real (R$) armazena valor e ele tem como característica render juros. Assinale a alternativa correta: a) Somente I é verdadeira. b) Somente II é verdadeira. c) Somente III é verdadeira. d) As opções I e II são verdadeiras. e) As opções II e III são verdadeiras. 17 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 2.3 MERCADO MONETÁRIO O mercado fi nanceiro pode ser dividido em quatro segmentos: Monetário, de Capitais, Cambial e de Crédito. É no Mercado Monetário que ocorrem as operações para controle da oferta de moeda e das taxas de juros com o objetivo de garantir a liquidez na economia. Esse será o tema do nosso estudo agora. Mas, para evitar confusões conceituais, vamos diferenciá-lo de Mercado de Capitais. Nesse mercado é onde ocorrem operações de compra e venda de títulos e valores mobiliários entre empresas, investidores e intermediários. Já no Mercado de Crédito, é onde ocorrem as operações de empréstimos e fi nanciamentos, também conhecidos como mercado bancário. O Banco Central do Brasil é o principal órgão responsável por controlar, normatizar e fi scalizar este mercado. Ainda nesta unidade, será abordado o Mercado Cambial, no qual se negociam as trocas de moedas estrangeiras e envolve as questões de importação e exportação. Centralizando o item atual sobre mercado monetário, é necessário destacar que a moeda possui demanda e oferta, sendo que só as Autoridades Monetárias do país podem alterar a oferta monetária. Não podemos pensar em moeda como sendo somente as cédulas em poder do público e depósitos à vista (MOCHÓN, 2011). Base Monetária é o estoque de papel emitido Meios de Pagamento (M1) é o estoque de ativos que tem poder liberatório instantâneo. M1 = Papel Moeda em Poder do Público + Depósitos à vista. Quase Moeda (M2, M3 e M4) é o estoque de ativos fi nanceiros que podem ser convertidos em moeda. M2 = M1 + Depósitos de Poupança e Títulos Privados (Depósitos a Prazo, Letras de Câmbio, Imobiliárias e Hipotecárias). M3 = M2 + Fundos de Renda Fixa e Operações Compromissadas com Títulos Federais e Registradas na SELIC. M4 = M3 + Títulos Federais, Estaduais e Municipais. FONTE: Adaptado de Mochón (2011) QUADRO 1 – AGREGADOS MONETÁRIOS 18 Mercado Cambial e Comércio Exterior Nesse momento acabam surgindo dúvidas sobre onde investir seu dinheiro, não é mesmo? Para quem quiser, indico um site interessante que mostrará os diversos tipos de investimentos atrelados aos Títulos Federais: https://clubedovalor.com.br/blog/cdb-ou-tesouro-direto/ O Impacto da dívida pública sobre o spread bancário: uma avaliação empírica Em: https://seer.ufrgs.br/index.php/AnaliseEconomica/article/ view/43632 Como o governo pode utilizar os instrumentos de política monetária para alterar a oferta monetária? Através de instrumentos de política monetária que podem ser medidas para aumentar a oferta monetária (política monetária expansionista) e também para reduzir a oferta monetária (política monetária restritiva). A política monetária é feita utilizando os seguintes instrumentos: Determinação da Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia): é a taxa básica de juros defi nida pelo COPOM (Comitê de Política Monetária). A Selic é a taxa de juros utilizada nas operações de empréstimos entre as instituições fi nanceiras que utilizam títulos públicos federais como garantia. Uma redução da Selic reduz os custos de captação dos bancos, que tendem a emprestar com clientes com juros menores, aumentando a oferta monetária. Ao aumentar a Selic, o processo é inverso: tendência de juros maiores e redução da oferta monetária. O controle das emissões de papel moeda: um aumento nas emissões de moeda gera um aumento da oferta monetária. Não é um instrumento efi caz para reduzir a oferta monetária. A determinação do depósito compulsório dos bancos comerciais no Banco Central: mas o que são depósitos compulsórios? É um tipo de recolhimento que os bancos fazem para o Banco Central, de um percentual sobre os valores 19 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 depositados. Ou seja, os bancos são obrigados a deixar uma parte dos seus depósitos no banco central. Se esse percentual de depósito aumentar, o banco tende a reduzir os empréstimos a clientes e aumentar os juros dos mesmos. No caso de uma redução do depósito compulsório, os bancos acabam aumentando os empréstimos, reduzindo os juros e aumentando a oferta monetária no mercado. Operações de open-market ou mercado aberto de títulos: são operações em que o Banco Central oferece ou compra títulos de dívida pública aos bancos comerciais. Neste sentido, o Banco Central pode comprar ou vender esses títulos da maneira que achar mais conveniente, de acordo com sua necessidade. Se o banco Central aumenta a oferta desses títulos, os bancos retêm mais dinheiro, reduzindo a quantidade de moeda em circulação. No caso da compra de títulos pelo Banco Central, o processo é inverso, com uma maior disponibilidade de moeda em circulação. Política de redesconto: chamamos de redesconto bancário a medida que o Banco Central empresta dinheiro para as instituições fi nanceiras para atender a eventuais problemas de liquidez, de natureza circunstancial e de curto prazo. Quando essa linha de crédito aumenta, haverá maior liquidez dentro da economia, um aumento de oferta monetária. Quando essa linha de crédito se reduz, ocorre uma redução da oferta monetária.Para deixar mais claro, segue um quadro com o resumo das medidas de política monetária expansionista e contracionista: QUADRO 2 – INSTRUMENTOS MONETÁRIOS PARA ALTERAR A OFERTA MONETÁRIA FONTE: <http://diegofernandes.weebly.com/uploads/2/0/2/9/2029053/aula_4.4_-_ economia_-_produ%C3%A7%C3%A3o_e_gest%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2021. 20 Mercado Cambial e Comércio Exterior Qual seria a demanda por moeda? Ou seja, qual será a quantidade total de moeda necessária pelos indivíduos e empresas na economia? Antes dessa decisão, os agentes econômicos precisam observar três variáveis importantes: 1º) A Taxa de Juros. Um aumento na taxa de juros acaba causando uma queda na demanda de moeda. Por quê? Pois os investimentos fi nanceiros fi cam mais rentáveis, as decisões de consumo acabam sendo postergadas. No caso de uma redução a taxa de juros, os agentes econômicos acabam por reter mais moeda. 2º) Nível de Preços. Um aumento da infl ação, ou seja, um aumento no nível de preços acaba aumentando a demanda de moeda. Os agentes econômicos precisaram de mais moeda disponível, ou seja, com liquidez imediata para suara transações. Uma redução dos indicadores de preço tende a reduzir essa necessidade, ou seja, diminuindo a demanda por moeda 3º) Renda Nacional Real. Se a renda nacional real aumentar, ou seja, a renda nominal descontada da taxa de infl ação do período for maior, haverá uma tendência a um aumento na demanda de moeda para transações. Em contrapartida, uma redução real da renda nacional reduz o poder aquisitivo da população e uma redução na demanda por moeda. Ou seja, por que reter moeda se existem alternativas de aplicação em ativos que produzem rendimentos? É importante destacar que a moeda é um ativo que não rende juros! Vejamos alguns dos motivos: a) Transações: a nossa necessidade de ter moeda para pagar compromissos, para fazer nossos pagamentos. Veja que, neste caso, existe uma relação direta com a renda. b) Precaução: também é um motivo que envolve a relação direta com a renda, pois queremos reter moeda para garantir um impacto menor frente às incertezas das datas de recebimentos de moeda e de pagamentos de contas c) Especulação: esse motivo tem uma relação inversa com a taxa de juros. Manter moeda para aproveitar oportunidades de investimento, seja em imóveis ou em títulos. 21 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 2 O romance O Código da Vinci, de Dan Brown, alude recorrentemente aos Cavaleiros Templários, grupo tido como o ramo militar do Priorado de Sião, sociedade secreta protetora do segredo do Santo Graal. Em visita à Temple Church, uma igreja templária de Londres, Sir Leigh Teabing, famoso historiador do Graal, dirige-se os protagonistas Sophie Neveu e Robert Langdon nos seguintes termos: “Os Templários inventaram o conceito do sistema bancário moderno. Para os nobres europeus, era perigoso viajar com ouro, então os Templários permitiam que os nobres depositassem ouro na igreja do Templo mais próxima e depois o sacassem em qualquer outra igreja do Templo do outro lado da Europa. Só precisavam dos documentos apropriados. – Deu uma piscadela. – E de uma pequena comissão. Eles eram os bancos 24 horas daquele tempo” (BROWN, D. O Código da Vinci. Rio de Janeiro: Sextante, 2004, p. 367). Utilizando o excerto como motivação, explique o aparecimento da moeda fi duciária, ou seja, baseada na confi ança, como a evolução de um sistema baseado na moeda metálica. 2.4 TAXA DE CÂMBIO Sem dúvidas, a possibilidade de comprar e vender produtos provenientes de várias partes do mundo é uma das vantagens da globalização. Tanto os produtores brasileiros podem optar por produzirem no Brasil e ofertarem seus produtos no mercado interno e externo quanto os consumidores brasileiros podem decidir consumir os produtos do mercado interno ou do externo A economia aberta permite um fl uxo livre de importação e exportação e isso traz algumas vantagens. Uma delas é pensar que é possível você competir no mercado internacional com aquilo que você produz de melhor qualidade e menor custo e comprar o que não é produzido efi cientemente domesticamente ou mesmo que não exista produção doméstica. Mas, para que estas operações de compras e vendas internacionais possam acontecer, é preciso analisar o fator câmbio, ou seja, é necessário estabelecer a 22 Mercado Cambial e Comércio Exterior relação de troca entre as duas moedas. A cada oscilação da moeda de transação internacional, os importadores e exportadores serão afetados diretamente. O mercado de cambio é onde a moeda doméstica (real, no nosso caso) é trocada por moeda de outro país (dólar, por exemplo). Colocado isso, vamos defi nir taxa de câmbio: é o preço da moeda estrangeira em moeda doméstica. Para evitar dúvidas quanto à valorização e desvalorização da taxa de câmbio, vamos a um exemplo: a) taxa de câmbio é 1 U$$ = R$ 5,90 b) taxa de câmbio é 1 U$$ = R$ 6,00 c) taxa de câmbio é 1 U$$ = R$ 5,80 O momento a) signifi ca que para adquirir 1 moeda norte americana, são necessárias R$ 5,90 moedas nacionais. No dia seguinte, teremos o momento b) em que será necessária uma quantidade maior de moeda nacional (R$ 6,00) para adquirir a mesma unidade monetária de moeda norte-americana. Ou seja, houve uma depreciação da moeda nacional com o aumento da taxa de câmbio. Se no dia seguinte, momento c), será necessário menos moeda nacional (R$ 5,80) para a mesma unidade monetária de moeda norte-americana. Ou seja, houve uma apreciação da moeda nacional e uma redução da taxa de câmbio. É importante destacar a diferença entre uma desvalorização ou valorização real de uma desvalorização, ou valorização nominal. Quando se trata de uma valorização real, o câmbio, signifi ca a valorização nominal dele menos a taxa de infl ação do período. Exemplo: se a taxa de câmbio valorizar 10% no mês e a infl ação do período for de 10%, ocorrerá uma valorização nominal de 10%, mas não ocorrerá uma valorização real. Essas alterações da taxa de câmbio acontecem de diversas formas, de acordo com o regime cambial adotado no país, como veremos a seguir. Agora, é importante destacar que a valorização e desvalorização da taxa de câmbio podem modifi car as transações comerciais, especifi camente as exportações e importações. Vamos fazer algumas considerações sobre a importância dessa oscilação do câmbio para esses dois agentes do comércio exterior: a) para o exportador: ao produzir no mercado doméstico e vender para o mercado externo, o exportador pagará seus impostos, custos com funcionários, aluguel etc. em moeda doméstica, no caso brasileiro, em real. 23 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 De uma forma simplória, imagine que esse exportador vende sua mercadoria para o exterior e receber U$$ 1 por ela. Ao ser cambiada, qual seria a melhor situação de cambio para ele? A cotação de 1U$ = R$5,90; 1U$ = R$6,00 ou 1U$ = R$5,80? Parece claro que é interessante a taxa de câmbio 1U$=R$6,00, ou seja, uma depreciação da moeda nacional, ou seja, um aumento da taxa de câmbio. O exportador terá menor retorno quando a taxa de câmbio estiver mais baixa, ou seja, com a moeda nacional apreciada (1 U$ = R$ 5,80) b) para o importador: vamos lembrar que ele compra do mercado exterior e paga em dólar e vende para o mercado doméstico, em real. De uma forma simplória, imagine que esse importador compra sua mercadoria do exterior e paga U$$ 1 por ela. Ao ser cambiada, qual seria a melhor situação de câmbio para ele? A cotação de 1U$ = R$5,90; 1U$ = R$6,00 ou 1U$ = R$5,80? Parece claro que é interessante a taxa de câmbio 1 U$ = R$ 5,80, ou seja, uma apreciação da moeda nacional, ou seja, uma redução da taxa de câmbio. O importador terá menor retorno quando a taxa de câmbio estiver mais alta, ou seja, com a moeda nacional depreciada ( 1U$ = R$ 6,00). Em resumo: Dólar Real Exportador Importador US$1 R$ 5,90 => 6,00 � � US$ 1 R$ 5,90 => 5,80 � � Percebe-se que o posicionamento desses agentes é divergente: para os importadores, quanto maior estiver o valor do dólar, mais desvalorizada a moeda doméstica, o processo de importação se tornará mais caro. Esse aumento do dólar aumentará os custos de importação e será repassado ao consumidor fi nal, ou seja, ele irá pagar mais pelo mesmo produto. Por outro lado, para o exportador, quanto maior for o valor do dólar mais ele receberá, em real, pelo produto vendido. Isso possibilita que o 24 Mercado Cambial e Comércio Exterior produtor nacional reduza seu preço em moeda estrangeira para ser mais competitivo no mercado internacional ou ele mantém o seu preço em real e terá uma margem de lucro muito maior. É necessário lembrar que o aumento do dólar também encarece alguns custos do exportador como: frete internacional, seguro internacional e algumas tarifas e taxas que são pagas tanto para o importador quanto para o exportador. Ainda podemos acrescentar um possível aumento de custos na cadeia doméstica de produção caso o produto precise de um insumo importado. Uma desvalorização da moeda nacional frente ao dólar não parece ser uma solução tão favorável assim. É possível ter oportunidade de importação mesmo com o dólar alto? Leia: https://chinagate.com.br/oportunidades-em-importacao- mesmo-com-dolar-alto/ Bretton Woods: saiba o que foi este acordo e sistema monetário Os acordos de Bretton Woods foram estabelecidos em sua conferência, realizada em 1944, com a presença de delegações de 44 países. Este encontro ocorreu nos Estados Unidos na cidade de Bretton Woods, no estado de New Hampshire, motivo pelo qual fi cou assim conhecido. Na reunião para a Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas foram discutidas mudanças que afetariam o comércio internacional e o ordenamento monetário mundial. O conjunto dos Para a economia, o melhor cenário é o equilíbrio para que tanto os importadores quanto os exportadores possam se benefi ciar, pois o sucesso depende de ambos os agentes do comércio exterior. Ao longo de toda a discussão sobre comércio exterior, sempre fazemos a equivalência com a moeda norte-americana, o dólar. Mas por quê? 25 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 acordos celebrados entre os países resultou no sistema Bretton Woods, onde o dólar fi caria atrelado ao valor do ouro e a outras moedas ao dólar norte-americano. Hotel Mount Washington, local onde se fi rmaram os acordos de Bretton Woods Contexto histórico Até antes da Primeira Guerra Mundial, o sistema monetário vigente na maioria dos países era o padrão-ouro. Nele o valor das moedas tinha origem no preço da commodity, mantendo garantido os seus valores e as taxas de câmbio. O comércio entre os países é então agravado devido às duas Grandes Guerras e também pela Grande Depressão em 1929. Muitos países abandonam os acordos de comércio e passam a desvalorizar as suas moedas. Com isso, conseguiam aumentar as suas exportações, e ainda fi nanciar os gastos públicos com a emissão de mais moeda. Naquele cenário considerado mais protecionista, o mercado mundial decresce cada vez mais e uma nova ordem para o comércio internacional deveria ser elaborada. A conferência de Bretton Woods ocorre ainda durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido iniciada no mês de julho do ano de 1944. A reunião tinha o objetivo de reaproximar as economias, defi nindo um novo padrão internacional. Apesar de ter durado três semanas, as ideias já eram debatidas há alguns anos entre os seus projetistas. Dentre eles se destacam os economistas John Maynard Keynes e Harry Dexter White. 26 Mercado Cambial e Comércio Exterior Sistema Bretton Woods Nos acordos fi cou estabelecido o sistema Bretton Woods como base para a gestão monetária para o comércio internacional e para os pagamentos de exportações e importações. Durante o padrão-ouro, cada país mantinha a sua moeda atrelada ao valor do ouro limitado à quantidade mantida em cada nação. Havendo um excesso de importação, parte da reserva de ouro deveria ser entregue entre os países. No sistema elaborado em Bretton Woods os delegados concordaram que as moedas passariam a ter os seus valores derivados do dólar. Já a moeda norte- americana, continuaria a ter o seu valor atrelado ao do ouro. Além de menos limitado em comparação ao antigo sistema, Bretton Woods seria supervisionado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), órgão que foi criado durante a conferência. Resultados dos acordos de Bretton Woods Com o sistema fi nanceiro imposto, o FMI seria responsável por manter um fundo de emergência para os países que acabassem por ter altos défi cits comerciais - excesso de importações. Ainda nos acordos, estava previsto a criação do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), que apoiaria a reconstrução dos países. Esta instituição deu origem ao Banco Mundial. Já em 1947, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) continuaria a impulsionar o comércio entre países e reduzindo barreiras ao desenvolvimento econômico. O sistema de Bretton Woods foi perdendo força ao longo dos anos devido às limitações em manter o dólar atrelado ao ouro. No ano de 1971, o presidente Richard Nixon determina o fi m deste sistema, permitindo que cada país pudesse defi nir como seria a paridade de duas moedas. Apesar de seu fi m, este sistema conseguiu sustentar e impulsionar o comércio internacional. Além disso, mantém os seus efeitos até os dias atuais, com o FMI e o Banco Mundial ainda em atividade. 27 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 3 Descreva o possível efeito da desvalorização do real em relação ao dólar sobre: a) as exportações b) as importações Índice Big Mac O Índice Big Mac, ou Big Mac Index, foi criado em 1986 pela revista britânica The Economist e compara os preços do Big Mac em diferentes países no mundo onde contém a cadeia de restaurantes McDonald’s. Este índice serve como um indicativo da Paridade do Poder de Compra (PPC) de cada um desses países usando como referência o Big Mac. Mesmo que feito de maneira informal, permite a comparação do poder de compra devido à presença da rede McDonald’s em vários países. Além disso, o estudo considera o fato deste produto ser homogêneo em todos os países em que é comercializado, considerando os custos para oferecê-lo e o preço de venda. Índice Big Mac para o Brasil Os resultados divulgados pela revista no início de 2020 apontam que o Real está subvalorizado em 15,3%. Se a taxa de câmbio estivesse em R$ 3,51 para cada dólar, o produto estaria sendo vendido ao mesmo valor nos Estados Unidos ou no Brasil. Os resultados divulgados desde 2016 podem ser acompanhados pela tabela abaixo: Um outro questionamento é sobre o poder de compra em cada país, ou seja, o que eu consigo comprar em cada país com uma quantia de dólar? Daí surgiu o “índice Big Mac” que eu sugiro a leitura: 28 Mercado Cambial e Comércio Exterior Data de divulgação Preço Big Mac no Brasil Preço Big Mac nos EUA Pari- dade de equilíbrio Taxa de câmbio (para cada dólar) Índice Big Mac Jan/2021 R$ 21,90 US$ 5,66 3,87 R$ 5,50 - 29,6% Jul/2020 R$ 20,90 US$ 5,71 3,66 R$ 5,34 - 31,5% Jan/2020 R$ 19,90 US$ 5,67 3,51 R$ 4,14 - 15,3% Jul/2019 R$ 17,50 US$ 5,74 3,05 R$ 3,81 - 19,9% Jan/2019 R$ 16,90 US$ 5,58 3,03 R$ 3,72 - 18,5% Jul/2018 R$ 16,90 US$ 5,51 3,07 R$ 3,84 - 20,1% Jan/2018 R$ 16,50 US$ 5,28 3,13 R$ 3,23 - 3,2% Jul/2017 R$ 16,50 US$ 5,30 3,11 R$ 3,23 - 3,7% Jan/2017 R$ 16,50 US$ 5,06 3,26 R$ 3,22 + 1,1% Jul/2016 R$ 15,50 US$ 5,04 3,08 R$ 3,24 - 5,1% Jan/2016 R$ 13,50 US$ 4,93 2,74 R$ 4,02 - 32,0% Como é calculado o Índice Big Mac Para comparar o poder de compra entre países é utilizado como base o preço médio do Big Mac nos Estados Unidos, coletando ainda o preço médio do sanduíche em cada país. O índice criadopela The Economist propõe analisar o quão valorizada ou desvalorizada está a moeda de cada país em relação à moeda norte-americana. A forma como é calculada este índice é o seguinte: Por exemplo, analisando em janeiro de 2021 o Big Mac nos Estados Unidos custava US$ 5,66 e no Brasil R$ 21,90. A paridade deste produto entre os dois países medida foi de 3,87. A paridade de preços pode ser comparada com a taxa de câmbio vigente no mercado no período. Ainda no exemplo, foi visto que a taxa de câmbio estava em R$ 5,50 por cada dólar, valor acima da paridade, e que propõe haver desvalorização da moeda brasileira. Segundo o índice a subvalorização medida era de 29,6% face ao poder de compra da moeda dos norte-americanos ao adquirir este produto. 29 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 Outra forma de perceber o poder de compra através do índice é convertendo o valor do sanduíche na mesma moeda, neste caso o dólar. Fazendo isso, vemos que o Big Mac custaria cerca de US$ 3,98 no Brasil, indicando a um poder de compra inferior ao dos americanos. Poder de compra no Índice Big Mac O poder de compra é o que indica a capacidade das pessoas de uma região ou país adquirirem um conjunto de produtos e serviços. A teoria da Paridade do Poder de Compra (PPC) propõe analisar as diferenças de poder de compra de cada localidade, convertidos à mesma moeda. A paridade existe apenas quando toma um valor igual à unidade, ou uma variação nula no caso do índice Big Mac. Índices de paridade do poder de compra são medidos por várias entidades por todo o mundo, utilizando uma cesta de bens e serviços comparáveis. Já no caso deste índice, é utilizado um único produto: o Big Mac. A revista The Economist faz uma outra análise semelhante com um café da empresa Starbucks. FONTE: https://www.dicionariofi nanceiro.com/big-mac-index/ 2.5 POLÍTICA CAMBIAL Antes de estudarmos a Política cambial, vamos entender inicialmente o que são as políticas macroeconômicas. O governo tem algumas metas macroeconômicas que devem ser atingidas como crescimento econômico, estabilidade de preços, melhora na distribuição de renda e nível de emprego. De uma forma resumida, as políticas macroeconômicas são medidas que o governo pode utilizar para atingir essas metas. Cada política macroeconômica possui seus próprios instrumentos tais como taxa de juros, taxa de câmbio e gastos públicos. Essas políticas são distintas, mas devem ser harmônicas com objetivos fi nais de garantir a economia determinadas taxas de crescimento econômico, taxas de infl ação controlada, menor nível possível de desemprego, contas públicas equilibradas, entre outros. O ideal seria conseguir atingir todos os objetivos fi nais simultaneamente, mas alguns objetivos podem ser contraditórios. O exemplo talvez mais discutido atualmente é a determinação da taxa básica de juros (SELIC) pelo governo. Ao reduzir a taxa de juros, por exemplo, as autoridades monetárias tendem impactar de forma positiva os indicadores de crescimento econômico na economia e aumento no nível de emprego. Acontece que a redução nos juros pode comprometer os níveis de infl ação, pressionando a elevação de preços. 30 Mercado Cambial e Comércio Exterior 2.5.1 Defi nição Podemos defi nir Política cambial como o conjunto de medidas do governo que infl uencia o comportamento da taxa de câmbio, isto é, no preço da moeda nacional em relação às moedas estrangeiras. Na política cambial, o governo escolhe a forma como é determinada a taxa de câmbio no país A determinação do câmbio, os chamados “regimes cambias”, podem ser de duas maneiras: o regime de taxas fi xas de câmbio, em que as autoridades monetárias defi nem o valor da taxa de câmbio, ou regime de câmbio fl exível ou fl utuante, em que as taxas de câmbio fl utuam no mercado dependendo da oferta e demanda de divisas. Mas o que seria um mercado de divisas? Nada mais é do que a demanda e oferta de moeda estrangeira. A oferta de divisas pode ocorrer pelo exportador, pois quando ele exporta sua mercadoria, ele traz dólar para dentro do país e essa moeda estrangeira será cambiada pelo Banco Central por moeda doméstica. Outra forma, seria a entrada de capitais estrangeiros no país assim como a vinda de turistas estrangeiros que teriam que trocar a moeda estrangeira por moeda doméstica. É importante ressaltar que, no Brasil, não podemos utilizar a moeda estrangeira internamente, ou seja, comprar e vender bens, pagar contas no banco, emitir notas fi scais etc. Essa divisa deve ser cambiada no banco Central A demanda de divisas é feita pelos importadores, que precisam utilizar moeda estrangeira para pagar suas importações assim como a saída de capital estrangeiro do país, pagamento de juros internacionais, fretes internacionais, saída de turista, remessa de lucro para o exterior etc. 2.5.2 Regimes cambiais: defi nições, vantagens e desvantagens Entende-se por regime, ou padrão cambial, a forma a taxa de câmbio como é determinada. Vamos estudar aqui dois regimes cambiais: regime de taxas de câmbio fl utuantes, ou fl utuantes, e Regime de taxa de câmbio fi xa. Vamos defi nir cada um desses regimes e depois destacar suas vantagens e desvantagens Podemos defi nir Política cambial como o conjunto de medidas do governo que infl uencia o comportamento da taxa de câmbio, isto é, no preço da moeda nacional em relação às moedas estrangeiras. Entende-se por regime, ou padrão cambial, a forma a taxa de câmbio como é determinada. 31 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 a) Regime de câmbio fi xo Esse foi o regime cambial mais utilizado ao longo da história. Antes da Grande Depressão, no início da década de 1930, grande parte dos países, inclusive o Brasil, emitiam moeda com lastro em ouro, o chamado padrão-ouro, e tinha o regime de taxa de câmbio fi xo. Durante o Sistema de Bretton Woods, a partir do fi m da II guerra mundial, alguns países desenvolvidos voltaram a adotar um regime de taxa de câmbio fi xo, com alterações pontuais no câmbio, quando necessário. Com a dissolução do Sistema de Bretton Woods, em 1971, momento em que os EUA abandonaram a conversibilidade do ouro com dólar, os principais países adotam, ofi cialmente, o regime de taxas de câmbio fl exível. No sistema câmbio fi xo, o governo determina o valor do câmbio. Com isso, o governo se compromete a vender e comprar a moeda estrangeira pelo valor por ele estabelecido. Pelas regras do sistema fi nanceiro internacional, ao adotar um regime de câmbio fi xo, o governo daquele país é obrigado a disponibilizar suas reservas de divisa caso o mercado precise. Nos anos 1980 e 1990, muitos países com elevadas taxas de infl ação adotaram regime de taxas de câmbio fi xo. Na primeira fase do Plano Real, no Brasil, o regime cambial adotado mantinha o dólar em uma variação estreita chamada “banda cambial”. Na Argentina, a conversibilidade do peso em relação ao dólar, mantendo fi xa a paridade de um dólar igual a um peso, entre 1989 e 2002. A Argentina ainda sofre as consequências desse período. No sistema câmbio fi xo, o governo determina o valor do câmbio. https://www.beefpoint.com.br/argentina-vive-inferno-cambial-com-12- taxas-diferentes-do-dolar/ Para países com taxas de infl ação elevadas, o câmbio fi xo contribuía para o combate à infl ação. A explicação é simples: Com uma valorização cambial, a moeda nacional fi ca mais forte frente a moeda do outro país. Com isso, a população consegue comprar produtos importados mais baratos do que os produtos nacionais e pressiona os empresários domésticos a manter seus preços em níveis competitivos. Sem dizer que bens importados que fazem parte do processo produtivo doméstico, como o petróleo, fi cam mais baratos e podem facilitar a redução do preço dos produtos domésticos. A valorização da moeda 32 Mercado Cambial e Comércio Exterior nacional permite que ospreços internos “ancore” e reduz a taxa de infl ação, e é por esta razão que é chamada de âncora cambial. Sem dúvidas, a estabilidade da taxa de câmbio realmente ajuda a controlar a infl ação. Vamos entender melhor essa relação entre valorização da moeda nacional e controle da infl ação: imagine que o governo brasileiro defi na que o valor do dólar é de R$ 2,00, ou seja, para adquirir 1 U$$ será necessário R$ 1,00. Vamos importar um produto que custa um dólar, ele será importado por 1 real. Daqui a um ano, como a infl ação dos EUA é controlada, esse produto estará custando o mesmo 1U$$ e o produto continuará sendo importado a R$ 1. Como alguém poderá vender esse produto acima desse valor no país? Obviamente estou trabalhando na hipótese de que há uma abertura comercial, com elevada liberdade de importação e que o governo consiga ter reservas para garantir a taxa fi xa de U$ 1,00 = R$1. Vejamos a Figura 4 abaixo. Suponha que esse gráfi co represente o valor de 1US$ em R$. Com a demanda e oferta inicial, o equilíbrio estaria no ponto A. Supondo que a demanda por dólar aumente, a sua curva se deslocará para a direita e teria um novo ponto de equilíbrio com um ponto mais alto e, consequentemente, mais moedas domésticas seriam necessárias para adquirir o mesmo dólar. Porém, como o câmbio é fi xo, o governo mantém no valor anterior, haverá uma diferença entre a oferta e demanda de divisa. Essa diferença deverá ser colocada no mercado pelo governo para garantir o sistema . FIGURA 4 – DEMANDA E OFERTA DE DIVISAS NO REGIME DE CÂMBIO FIXO FONTE: A autora (2021) 33 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 Ao adotar um regime de taxa de câmbio fi xo, o governo tem que garantir o valor do dólar e utilizar suas reservas, caso necessário. Isso pode comprometer a capacidade do governo em outras áreas, como, por exemplo, estimular as atividades econômicas. Suponhamos que o valor do dólar esteja fi xado em R$1,00. Isso signifi ca que o Banco Central assume o compromisso de comprar e vender qualquer quantidade de dólar por um real. No caso de uma crise, se os investidores quiserem sair do país, o banco central deve usar suas reservas internacionais para bancar essa cotação. Essa medida pode comprometer outras áreas, como por exemplo, elevar as taxas de juros para atrair investidores estrangeiros a trazerem dólar para dentro do país. Porém, essa política monetária contracionista de aumento de juros pode comprometer a atividade econômica pois os agentes econômicos terão crédito mais caro Um aumento da taxa de juros para manter o equilíbrio no mercado cambial pode respingar também na política fi scal. Ao aumentar os juros, o governo aumenta o valor da sua dívida pública e, consequentemente, compromete as contas públicas aumentando o défi cit fi scal. Isso pode acarretar uma política fi scal contracionista com o aumento de impostos e redução de gastos públicos, comprometendo o crescimento econômico e o nível de emprego da economia. b) Regime de câmbio fl utuante ou fl exível No regime de câmbio fl exível, ou fl utuante, a taxa de câmbio é determinada pelo mercado de divisas, ou seja, pela demanda e oferta de moeda estrangeira dentro do país. Analisando a Figura 5, temos o momento inicial de equilíbrio (ponto A) e, ao aumentar a demanda de dólar dentro do país, a curva de demanda por dólar se deslocaria para a direita. Estabeleceria um novo ponto de encontro (ponto B) com a oferta de dólar estável, o preço em do dólar em real aumentaria, ou seja, haveria uma desvalorização da moeda nacional e valorização do dólar. No regime de câmbio fl exível, ou fl utuante, a taxa de câmbio é determinada pelo mercado de divisas. 34 Mercado Cambial e Comércio Exterior FIGURA 5 – DEMANDA E OFERTA DE DIVISAS NO REGIME DE CÂMBIO FIXO FONTE: A autora (2021) Alguns economistas acreditam que nesse regime cambial, o mercado estabelece uma taxa de câmbio capaz de promover o equilíbrio nas contas externas. Supondo o exemplo da Figura 5 com défi cit nas contas externas, um aumento da demanda por dólar causa uma desvalorização da moeda nacional, pois teremos menos dólares disponíveis no mercado cambial. A valorização do dólar tende a provocar um aumento nas exportações e redução das importações, podendo levar a um novo equilíbrio. Sem dúvidas pode comprometer a infl ação, pois a tendência é que os produtos importados fi quem mais caros. Por outro lado, essa desvalorização da moeda nacional pode aumentar a competitividade dos produtores nacionais no mercado internacional. Suponhamos que o empresário no Brasil possa produzir um determinado bem por R$ 12, sendo que o preço dele no mercado externo é de US$ 3. Com uma taxa de câmbio de US$ 1 = R$ 4, não será interessante exportar, pois não terá lucro. Porém, se o real se desvalorizar para US$1 = R$6, o exportador receberá R$18 pelo produto exportado. Se o exportador quiser ser mais competitivo, pode exportar a mercadoria com o preço de US$2,5. Ele receberá R$15,00 e ainda terá lucro. Caso ocorra um superávit das contas externas, acontecerá uma valorização da moeda nacional e o preço do dólar reduzirá. Haverá redução na pressão sobre a infl ação, pois os produtos importados entrarão no país mais baratos, 35 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 entretanto, ao mesmo tempo haverá redução das exportações. A redução das exportações pode causar danos na produção nacional e no nível de emprego. Isso porque muitas empresas nacionais não suportariam a competição com produtos importados mais baratos, por conta do câmbio. Com isso, provocaria uma redução da produção nacional e do nível de emprego, apesar de um controle maior da infl ação A política monetária também pode infl uenciar o comportamento do mercado cambial. Suponha que o Banco Central eleve a taxa de juros em uma política monetária contracionista. Provavelmente haverá um aumento do número de investidores estrangeiros dispostos a adquirir títulos públicos no Brasil, os investidores brasileiros diminuem o interesse em aplicar seus recursos fora do país e, por outro lado, aumenta o interesse de bancos e empresas que estão no Brasil em buscar empréstimo no exterior para aplicar no Brasil. Dessa forma, aumentar a entrada de moeda estrangeira no Brasil provoca uma pressão pela valorização da moeda nacional. A tendência é que o preço do dólar caia e o real se valorize. Como já foi explicado, isso ocorrerá com redução do preço dos produtos importados, assim como a taxa de infl ação, com tendência a reduzir. No primeiro momento, isso parece bom para o país, porém, existem problemas. Com o incentivo do aumento das importações e a diminuição da exportação pode levar a um défi cit na balança comercial. A Balança comercial vai registrar a importação e exportação de mercadorias e, consequentemente, a saída de dólar (ao importar as mercadorias) e a entrada de dólar (ao exportar as mercadorias). Em resumo: 36 Mercado Cambial e Comércio Exterior c) Vantagens e desvantagens dos regimes cambiais A grande vantagem do regime fl exível, é que o governo consegue preservar as reservas cambias, pois é o mercado que vai fi xar a taxa de câmbio pelo movimento de oferta e demanda de divisas sem que o banco Central seja obrigado a utilizar suas reservas. O problema principal desse regime é que o câmbio pode fi car muito volátil e isso prejudica o mercado fi nanceiro e facilita o aparecimento das especulações. Outra questão é que podem surgir desvalorizações cambiais abruptas que aumente o preço dos produtos importados rapidamente, impactando os indicadores de infl ação do país. Na prática, mesmo sendo um regime de câmbio fl exível, o banco central tem formas de interferir na determinação da taxa de câmbio. Como? Por meio da compra e venda de divisas no mercado com o intuito de manter a taxa dentro dos níveis que as autoridades monetárias acreditam ser adequadas.Vamos exemplifi car: suponha que a taxa de câmbio esteja muito alta, segundo as Autoridades monetárias, e haja pressão nas taxas de infl ação. Neste caso, o Banco Central pode disponibilizar dólares no mercado, ou seja, aumentar a oferta de dólares para que a sua cotação diminua. Por outro lado, em outra situação, as autoridades monetárias consideram que a taxa de câmbio está muito alta e prejudicando os exportadores, o banco Central pode comprar dólar no mercado para aumentar a sua cotação, melhorando a posição cambial. Esse fato é chamado de “Flutuação suja” ou dirty fl oating. Mas o que é uma posição cambial? Posição de câmbio A posição de câmbio representa o resultado líquido acumulado das contratações de compra e venda de moeda estrangeira, realizadas por uma instituição autorizada a operar no mercado de câmbio desde o momento inicial de suas atividades. O valor da posição de câmbio de uma instituição é apurado diariamente acrescentando-se ou diminuindo-se de sua posição do dia anterior cada um dos registros efetuados (exportações, importações, remessas fi nanceiras do e para o exterior e operações interbancárias). O cômputo é realizado tanto na moeda estrangeira negociada como no equivalente em dólares dos Estados Unidos. Fonte: https://www.bcb.gov.br/conteudo/relatorioinfl acao/ EstudosEspeciais/EE087_Posicao_de_cambio.pdf 37 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 Câmbio fi xo Câmbio fl utuante Características Banco Central fi xa a taxa de câmbio. Banco Central é obriga- do a disponibilizar res- ervas cambiais. O mercado (oferta e demanda de divisas) determina a taxa de câmbio. O banco central não é obrigado a disponibili- zar as reservas cam- biais. Vantagens Maior controle de in- fl ação (custos das im- portações estáveis). Política monetária mais independente do câmbio. Reservas cambiais mais protegidas de ataques especulati- vos. Desvantagens Reservas cambiais vulneráveis a ataques especulativos. A política monetária (taxa de juros) fi ca de- pendente do volume das reservas cambiais. A taxa de câmbio fi ca muito dependente da volatilidade do merca- do fi nanceiro nacional e internacional. Maior difi culdade de controle das pressões infl acionárias devido as desvalorizações cambiais (pass- through). QUADRO 3 – REGIMES CAMBIAIS FONTE: Vasconcellos e Garcia (2007, p. 207) 4 (Instituto Rio Branco, 2010) Considerando que a taxa de câmbio é uma variável fundamental em uma economia aberta e sua determinação pode se dar de formas distintas: a) Explique a determinação da taxa de câmbio em regimes de câmbio fi xo e fl utuantes. b) Comente o papel das reservas internacionais nos dois regimes. 38 Mercado Cambial e Comércio Exterior 2.6 A VOLATILIDADE DO MERCADO INTERNACIONAL E A POLÍTICA COMERCIAL Muito se fala de volatilidade. Vamos entender o conceito de volatilidade? É feita uma análise das intensidades e frequência das oscilações de um ativo em um período determinado de tempo. Se essas oscilações e frequências forem intensas, o mercado está volátil. Suponha que o fl uxo de capitais para o Brasil tem oscilado mais, pois os investidores globais com aversão ao risco resolvem retirar seus investimentos dos países emergentes e reposicioná-los em mercados de países desenvolvidos. Esse movimento vai impactar de forma decisiva no mercado desses países emergentes, principalmente no câmbio. Existem alguns motivos para a valorização do dólar na comparação com as diversas moedas e ao real (pelos apontamentos do Geral Investimentos. • Cenário de aversão ao risco. • Diferencial de juros em relação a pares internacionais como o México (taxa básica de juros = 8%). • Diminuição das operações de carry trade (compra de dólares em lugares com juros baixos e aplicação em lugares com juros altos. Juros esses que foram bastante reduzidos no Brasil). • Troca de dívidas em dólar por dívidas em reais de empresas brasileiras. No Brasil há demanda de investidores institucionais locais em busca de maior rentabilidade, dado que a taxa de juros está muito baixa para padrões brasileiros. Em: http://www.geralinvestimentos.com.br/exterior-intensifi ca- volatilidade/ 39 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 As alterações na taxa de câmbio acabam trazendo repercussões sobre outras variáveis dentro da economia. Tradicionalmente, os governos adotam política comercial para garantir resultados positivos em relação à balança comercial. Essas políticas acabam sendo medidas para que reduzir as importações e estimular as exportações. Vejamos quais seriam essas políticas: Alteração nas tarifas de importação: caso a política seja de proteção a produção nacional, o governo pode elevar o imposto de importação além de outros tributos e taxas pagas pelos produtos importados. Regulamentação do comércio exterior: através de entraves burocráticos que difi cultam a importação assim como barreiras qualitativas às importações, como estabelecer cotas e proibições às importações. Mas para poder ter uma maior compreensão da política comercial, é interessante destacar os fatores que infl uenciam as exportações e importações: As exportações são infl uenciadas pelas variáveis: a) taxa de câmbio: se ocorrer uma desvalorização da moeda nacional, ou seja, um aumento na taxa de câmbio, haverá um estímulo ao exportador para vender sua mercadoria no mercado externo. b) O preço dos produtos brasileiros no comércio internacional: se o preço do produto brasileiro aumentar de preço e, em dólar, haverá um estímulo a exportar mais. c) o preço interno em reais: se os preços da mercadoria aumentar dentro do mercado doméstico, haverá um estimulo do exportador em vender dentro do mercado doméstico. d) subsídio e incentivos as exportações: as exportações são estimuladas caso haja um incentivo fi scal, ou seja, o governo utilizando da política fi scal como isenção /redução de impostos para os exportadores ou a redução da taxa de juros e/ ou aumento de crédito para os exportadores. e) renda mundial: Uma alteração na renda mundial interfere diretamente nas exportações, uma vez que modifi ca a capacidade de consumo das pessoas. Caso a renda mundial aumente, haverá uma tendência ao aumento no consumo e, consequentemente, um estímulo para o exportador vender mais. Agora é a vez de expor alguns fatores que podem estimular as importações: a) barreiras tarifárias: dentre os instrumentos de política comercial, podemos destacar as barreiras tarifárias. São tributos que incidem nas operações de comércio exterior. No Brasil, tratam-se do imposto de importação e do imposto de exportação. Os impostos de importação e exportação possuem a natureza extrafi scal, ou seja, são instrumentos de política econômica do governo para 40 Mercado Cambial e Comércio Exterior regular a economia, não possuindo fi nalidade de arrecadação. Se o governo quer restringir a entrada de algum bem, eleva a alíquota do imposto de importação desse produto; caso queira incentivar a importação, reduz a alíquota. Em nosso sistema tributário-aduaneiro temos as seguintes tarifas aduaneiras: → ad valorem: que incide sobre o valor do bem (% do valor do bem) → específi ca: valor específi co que incide sobre determinada medida (R$x por litro) → mista: conjugação das tarifas ad valorem e específi ca (x por litro + y%) b) Barreiras não tarifárias: as barreiras tarifárias que discutimos acima são constantemente debatidas quando são feitas as Rodadas de Negociações internacionais sobre o livre. Muitos países passaram a utilizar as barreiras não tarifárias como formas de estabelecer protecionismo pois é uma ação mais velada. Essas barreiras podem ocorrer com a difi culdade de novos procedimentos administrativos, gerar obrigação de adotar controles sanitários e técnicos, além de estabelecer cotas. São instrumentos de política comercial que os países utilizampara agir de forma protecionista, restringindo a importação das mercadorias. Relacionamos as principais medidas não tarifárias: COTAS DE IMPORTAÇÃO • Limitação de importações pela fi xação de cotas para produtos, ou seja, apenas determinada quantidade de bens podem ser importadas no período. PROIBIÇÃO DE IMPORTAÇÃO • Estabelecimento de proibições de importação de determinados produtos, ainda que seja permitido sua comercialização no mercado interno. SUBSÍDIOS À EXPORTAÇÃO • Concessão de benefícios aos exportadores, que podem ser através de contribuição fi nanceira, doações, empréstimos, aportes de capital, garantias de empréstimos, perdão de dívidas, bonifi cação fi scal ou qualquer forma de sustentação de renda ou de preços. RESTRIÇÕES VOLUNTÁRIAS À EXPORTAÇÃO (RVE) ou ACORDO DE RESTRIÇÃO VOLUNTÁRIA • Estabelecimento de cotas à exportação pelo próprio país exportador, a pedido do importador, a fi m de evitar restrições comerciais. NECESSIDADE DE CONTEÚDO LOCAL • Exigência de produção local de parte do processo produtivo do bem. 41 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 BARREIRAS TÉCNICAS AO COMÉRCIO • Restrições quanto à composição do produto de forma a atender parâmetros mínimos, inclusive para se adequar a medidas de caráter ambiental. BARREIRAS SANITÁRIAS E FITOSSANITÁRIAS • Exigência de observância de normas sanitárias e fi tossanitárias na importação de produtos de origem animal e vegetal. MEDIDAS DE DEFESA COMERCIAL • Aplicação de medidas compensatórias, em caso de comprovação de prática de subsídios; • Aplicação de direitos antidumping, em caso de prática de dumping; e • Aplicação de medidas de salvaguardas, em caso de prejuízo grave ou ameaça decorrente do aumento do volume de importações. OUTRAS BARREIRAS NÃO TARIFÁRIAS • Estabelecimento de preços mínimos como referência para a cobrança das tarifas de importação, sem considerar a valoração aduaneira do produto • Licenciamento das importações: • Controle cambial. • Exigências consulares. • Exigência de veículo de bandeira nacional para o transporte de mercadorias importadas •Inspeções prévias ao embarque. • Procedimentos aduaneiros especiais. • Medidas para a segurança de contêineres. • Adicionais de tarifas portuárias ou de marinha mercante. • Taxas sobre serviços. FONTE: Krugman e Obstfeld (2010 p. 201) c) taxa de câmbio: uma desvalorização cambial, ou seja, uma valorização da moeda nacional frente à moeda estrangeira irá estimular a importação. Como já foi visto, para adquirir a mesma unidade de moeda estrangeira será necessária uma quantidade menor de moeda nacional, ou seja, será pago menos moeda nacional pelo mesmo produto que manteve o seu valor em moeda estrangeira. d) preços externos em moeda estrangeira: se ocorrer um aumento do preço da mercadoria em dólar, no exterior, haverá uma redução das importações dentro do país. e) preços internos em moeda nacional: um aumento do preço dos produtos no mercado doméstico acaba estimulando o consumo de produto importado, aumentando as importações. f) Renda nacional: as importações são afetadas pela renda nacional pois um aumento na renda nacional estimula a importação e, ao contrário, sua redução tende a provocar uma retração das importações. Existe um regime aduaneiro especial conhecido como “drawback” para eliminação de tributos de insumos importados em produtos exportados 42 Mercado Cambial e Comércio Exterior http://www.portaltributario.com.br/guia/drawback.html Avaliar esses pontos que foram destacados sobre as importações e exportações direciona as decisões de política comercial, a atuação do governo nas questões que envolvem o setor externo 2.7 POLÍTICA CAMBIAL E ATUAÇÃO DO GOVERNO A política comercial estabelece qual é o grau de abertura econômica de um país. De forma resumida, como o país se relacionará com os demais países através das suas importações e exportações. Cabe ao governo defi nir as medidas para estimular ou limitar o seu comércio exterior, visando o bem-estar da sua sociedade e desenvolvimento econômico e social do seu país. Vejamos algumas políticas comerciais: a) Livre cambismo Para Krugman (2010, p. 26), existem dois motivos para que os países participem do comércio internacional: (i) porque diferem um dos outros, de forma a se especializarem na produção daquilo que fazem melhor em relação aos demais; (ii) para obter economias de escala, de forma a produzirem numa escala maior e mais efi ciente do que se tentasse produzir todos os bens de que necessitam. Ou seja, na busca pela efi ciência produtiva e maximização de sua renda; (iii) prover bem-estar da sociedade, disponibilizando produtos que não estariam disponíveis para consumo, caso não houvesse o comércio internacional. O livre cambismo busca minimizar as restrições sobre importações e exportações. As medidas que restringem o livre comércio acabam gerando perdas de efi ciência econômica, além da perda de renda. No livre cambismo, não haveria barreiras legais ou regulamentares ao comércio, sendo o mercado o responsável pelo equilíbrio. Cada país iria se especializar na produção, buscando vantagens comparativas e economias de escala. Podemos considerar os seguintes argumentos a favor do livre comércio: 43 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 Efi ciência • Ganho de efi ciência para o país e para todo o comércio internacional na especialização de produção e comercialização de bens em que possua maior vantagem comparativa. • Possibilidade de inefi ciência econômica das medidas protecionistas, que poderia levar um país a produzir bens sem qualquer vantagem comparativa, com maiores custos e reduzidos benefícios econômicos. Custo menor pela economia de escala • Especialização com a utilização de economias de escala, com aumento de produtividade pelo aumento da produção, diluindo custos fi xos e maximizando o resultado Maior variedade de produtos. Maior variedade de produtos • Aumento da oferta interna de bens, com aumento no bem-estar da população devido a novas opções de consumo. Maior competição no mercado interno e estabilização de preços • Com o aumento da oferta de bens no mercado interno, o preço interno tende a se estabilizar considerando a lei de mercado (oferta x demanda). Melhor fl uxo de ideias • Maior competição interna leva a uma busca pelo aumento da competitividade do produto nacional, exigindo um desenvolvimento da indústria nacional buscando uma maior competitividade internacional. • O acesso a bens estrangeiros proporciona um acesso à tecnologia estrangeira, possibilitando uma transferência de avanços tecnológicos. Argumento político • A abertura comercial escancara os custos da restrição ao livre comércio, tanto econômicos (custo das cotas, licenças, entraves aduaneiros etc.) quanto políticos. • O processo político, com atuação de grupos de infl uência interno e externo, infl uencia a decisão para a abertura comercial do país. b) Protecionismo Alguns analistas defendem que o comércio internacional não é bom para todos os países, devendo ser restringido. Isso porque alguns setores da economia são mais vulneráveis frente à concorrência de produtos importados no mercado doméstico. Defendem medidas protecionistas para que esses setores não sejam ameaçados, principalmente em situações de crise fi nanceira internacional ou guerras. Os EUA têm longa e persistente tradição de práticas protecionistas. Uma abertura comercial total, ou seja, uma entrada de produtos importados se nenhuma restrição pode impactar a indústria nacional, alterar os preços e 44 Mercado Cambial e Comércio Exterior prejudicar a indústria doméstica. Há certo consenso que há a necessidade de alguma intervenção do governo, principalmente em setores que envolvam meio ambiente e saúde. Mas e em outros setores? E em qual proporção deve ser essa regulação? A gente ouve sobre como os produtoschineses estão acabando com a indústria nacional, gerando desemprego etc. Vários agentes econômicos alegam que é melhor comprar produtos semifaturados para sua empresa da China do que das indústrias nacionais. Será que a abertura comercial ampla, o livre comércio sem a regulamentação do governo, é vantajoso para todos os países ou somente para os países com graus de desenvolvimento semelhantes? Alguns economistas acreditam que é importante o protecionismo para a indústria nascente; o governo faria medidas regulatórias ou atuação direta nas operações de exportações e importações. Preferencialmente, esse protecionismo deveria acontecer através da utilização de barreiras não tarifárias e/ou tarifárias. Existem alguns argumentos contra o livre comércio, com base na teoria econômica. https://youtu.be/OtUOikz-VkE Argumentos a favor do protecionismo: Países desenvolvidos também poderiam “sofrer” com o protecionismo através de tarifas e impostos sobre exportação • Esse argumento é criticado, pois, na prática, os países menores e em desenvolvimento não podem infl uenciar seus preços de importação e também há uma difi culdade de retaliar os países desenvolvidos. Argumento da falha do mercado doméstico • Necessidade de proteção interna pela existência de falhas no mercado doméstico como defasagem de tecnologia, mercados em desequilíbrios. Argumento dos empregos • Os produtos importados chegariam mais baratos e causariam danos à indústria nacional, diminuindo sua produção e/ou exigindo que a indústria 45 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 não protegida reduza custos demitindo e, consequentemente, gerando desemprego para a economia. Mas alguns economistas questionam se não seria possível uma situação intermediária. Ou seja, se haveria protecionismo em determinadas situações, ter práticas protecionistas nos seguintes casos: Situação de indústria nascente • Seria a ajuda do Estado para proteger a indústria nascente, mas aplicado de forma temporária. Aconteceria nos primeiros estágios do desenvolvimento da indústria para garantir seu desenvolvimento econômico. Situação de competição desleal • Como cada país possui regras diferentes, isso pode gerar uma competição desleal. Muito ouvimos falar da China com relação às práticas abusivas de comércio internacional, como o dumping e o subsídio. Proteção ao equilíbrio do Balanço de Pagamento • Garantir uma situação estável do país no que se refere às contas externas. Afastar a ameaça de desequilíbrio de Balanço de Pagamentos, evitando problemas sistêmicos no mercado internacional. A questão de segurança nacional • Questões que envolvam segurança nacional do país, como o comércio de armas, munições e outros materiais de guerra, e os artigos destinados direta ou indiretamente ao uso das forças armadas. 2.8 POLÍTICAS COMERCIAIS ESTRATÉGICAS Então, o que seriam as tais políticas comerciais estratégicas? São políticas comerciais com intervenções estatais setores estratégicos. Podemos considerar setores que envolvem alta tecnologia como setores devido à existência de externalidades tecnológicas 46 Mercado Cambial e Comércio Exterior http://www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/Juliana_ Gomes_da_Rocha_Kos.pdf Mas, o que são externalidades tecnológicas? É mais fácil mostrar em um exemplo. Suponha que a empresa investiu em pesquisa e criou um produto com tecnologia avançada no mercado. Outra empresa pega o seu produto, desmonta e fabrica um produto parecido sem ter o custo de ter investido na pesquisa. E esse produto ainda será mais competitivo no mercado externo! Qual seria o papel do governo neste caso? Criar políticas que estimulem a pesquisa e desenvolvimento, com subsídios e incentivos fi scais e colocaria barreira comercial para produtos concorrentes. Como vimos, os agentes econômicos devem estar atentos às políticas macroeconômicas do governo, pois, podem refl etir na sua atividade doméstica e externa. Uma medida de uma política monetária pode refl etir na política cambial e estabelecer novas ações por parte da política comercial. Cada vez mais elas se interagem e acabam exigindo dos agentes econômicos uma adaptação rápida aos novos cenários. 5 (AFRFB, 2009) A participação no comércio internacional é importante dimensão das estratégias de desenvolvimento econômico dos países, sendo perseguida a partir de ênfases diferenciadas quanto ao grau de exposição dos mercados domésticos à competição internacional. Com base nessa assertiva e considerando as diferentes orientações que podem assumir as políticas comerciais, assinale a opção correta: a) As políticas comerciais inspiradas pelo protecionismo privilegiam a obtenção de superávits comerciais notadamente pela via da diversifi cação dos mercados de exportação para produtos de maior valor agregado. b) Países que adotam políticas comerciais de orientação liberal são contrários aos esquemas preferenciais, como o Sistema Geral de Preferências, e aos acordos regionais e sub-regionais de integração comercial celebrados no marco da Organização 47 POLÍTICA CAMBIAL E MERCADO DE CÂMBIO Capítulo 1 Mundial do Comércio por conterem, tais esquemas e acordos, componentes protecionistas. c) A política de substituição de importações valeu-se preponderantemente de instrumentos de incentivos à produção e às exportações, tendo o protecionismo tarifário importância secundária em sua implementação. d) A ênfase ao estímulo à produção e à competitividade de bens de alto valor agregado e de maior potencial de irradiação econômica e tecnológica a serem destinados fundamentalmente para os mercados de exportação caracteriza as políticas comerciais estratégicas. e) As economias orientadas para as exportações, como as dos países do Sudeste Asiático, praticam políticas comerciais liberais em que são combatidos os incentivos e quaisquer formas de proteção setorial, privilegiando antes a criação de um ambiente econômico favorável à plena competição comercial. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Ao fi nal deste capítulo, vale a pena rever alguns pontos que foram colocados para que possamos atingir ao nosso objetivo de utilizar os conhecimentos teóricos nas aplicações práticas e de saber lidar de forma preventiva no mercado internacional. Ao estudar sobre a evolução do sistema de trocas, percebemos como a sociedade foi fazendo suas adaptações no sistema monetário conforme ele foi sendo modifi cado. Inicialmente, em uma sociedade primitiva tínhamos o escambo, a troca direta de mercadoria por mercadoria. Pequenos grupos já produziam excedente e descobriram na troca a capacidade de diversifi car seu consumo. Daí o sistema de troca vai evoluindo para uma moeda, ainda mercadoria, mas com características importantes para ser moeda, como a durabilidade, facilidade de transporte e durabilidade: o metal. As trocas eram feitas com a moeda metal, muitas já com cunhagem de fi guras importantes naquela sociedade. Ainda assim, a troca era feita pelo peso do metal. Para facilitar o transporte e por questões de segurança, os metais passaram a ser guardados em casa de custodias e, em troca, era dado um certifi cado. No século XVII as cédulas passaram a ser feitas pelos bancos Centrais e essas antigas casas de custódia viraram os bancos comerciais. Inicialmente o papel 48 Mercado Cambial e Comércio Exterior moeda tinha lastro em ouro, porém, atualmente ele não tem lastro em bem físico, por isso, é chamada de moeda fi duciária. As moedas têm funções específi cas e seu próprio mercado. O mercado monetário é composto pela oferta e demanda de moeda. Hoje temos alguns tipos de meios de pagamento que se diferenciam quanto a liquidez, ou seja, a sua capacidade de honrar imediatamente seus pagamentos. A demanda por moeda é feita pelas pessoas que querem liquidez imediata por precaução, transação ou especulação. A oferta monetária depende das Autoridades
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