Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DEFINIÇÃO Funcionamento dos mercados financeiros, seus principais atores e produtos. PROPÓSITO Entender o funcionamento básico dos mercados financeiros e seus objetivos e conhecer os principais atores e produtos negociados. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever os objetivos, composição e funcionamento dos mercados financeiros MÓDULO 2 Descrever os principais tipos de instituições e produtos dos mercados financeiros INTRODUÇÃO Quando você efetua um pagamento com seu cartão de crédito, ou realiza um saque da sua conta-corrente, está usando os serviços do mercado financeiro – um dos principais mercados em qualquer economia. Veremos neste tema como eles funcionam: seus objetivos, as diferentes partes que os compõe, e como elas funcionam. Estudaremos também algumas de suas instituições e produtos – que vão desde os mais simples, como o serviço de conta-corrente, até produtos financeiros complexos, que demandam uma regulação cuidadosa. Fonte: fanjianhua / Freepik MÓDULO 1 Descrever os objetivos, composição e funcionamento dos mercados financeiros FUNCIONAMENTO DOS MERCADOS FINANCEIROS Descreveremos aqui os objetivos dos mercados financeiros, sua importância para a economia de um país e a composição do Sistema Financeiro Nacional, além do funcionamento de algum dos seus principais componentes. Algumas das decisões mais relevantes tomadas pelos agentes econômicos, as famílias, as empresas e o governo dizem respeito ao consumo, à poupança e ao investimento. As famílias consomem parte de sua renda e poupam outra parte para se precaverem das incertezas futuras. As empresas e o governo necessitam de recursos para realizar investimentos produtivos: compra de máquinas, desenvolvimento de infraestrutura etc. Assim, há na economia agentes geradores de poupança (agentes superavitários) e agentes demandantes de recursos para investimento (agentes deficitários). Agentes geradores de poupança (agentes superavitários). Agentes demandantes de recursos para investimento (agentes deficitários). O mercado financeiro é o mecanismo por meio do qual se viabiliza o fluxo de recursos entre os agentes superavitários, ou poupadores, e os agentes deficitários, ou tomadores de recursos. Fonte: Desenhado pelo autor / Freepik / Freepik Vejamos o seguinte exemplo: José tem uma empresa, mas não tem o capital necessário para investir na modernização de seus equipamentos, portanto procura o banco BCO a fim de conseguir um empréstimo. Ao mesmo tempo, João recebeu um dinheiro extra e deseja poupá-lo para sua aposentadoria contratando um plano de previdência da seguradora SGA. Como as histórias de João e José se cruzam? Quando João aplica seu dinheiro em um plano de previdência, a seguradora SGA investe esse montante em um CDB do banco BCO. Este, por sua vez, empresta o dinheiro a José para abrir sua empresa. Quando José quita a dívida com o banco BCO, pagando juros, uma parte desses juros é repassada à seguradora SGA, como remuneração do CDB. A seguradora, então, repassa essa remuneração para o fundo previdenciário do João, que vê sua poupança aumentar. Fonte: Desenhado pelo autor / Freepik / Freepik Com o objetivo de organizar e resumir o que já aprendemos, preparamos a tabela abaixo sobre quem são os componentes do mercado financeiro, acompanhe: COMPONENTES DO MERCADO FINANCEIRO Agentes poupadores (superavitários). Agentes tomadores de recursos (deficitários). Instituições operadoras (bancos, cooperativas de crédito, seguradoras, corretoras, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, fundos de pensão etc.). Instrumentos financeiros (títulos, ações, fundos etc.). Organismos reguladores. Organismos supervisores O Banco Central do Brasil (BCB) apresenta a seguinte composição para o Sistema Financeiro Nacional em seu site: Moeda, crédito, capitais e câmbio Seguros privados Previdência fechada Orgãos CMN Conselho Monetário Nacional CNSP Conselho Monetário Nacional CNPC Conselho Nacional de Previdência Complementar Supervisores BC Banco Central do Brasil CVM Comissão de Valores Mobiliários Susep Superintendência de Seguros Privados Previc Superintendência Nacional de Previdência Complementar Operadores Bancos e caixas econômicas Administradoras de consórcios Bolsa de valores Seguradoras e resseguradores Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) Cooperativas de crédito Corretoras e distribuidoras* Bolsa de mercadorias e futuros Entidades abertas de previdência Moeda, crédito, capitais e câmbio Seguros privados Previdência fechada Instituições depagamento** Demais instituições não bancárias Sociedades de capitalização *Dependendo de suas atividades corretoras e distribuidoras também são fiscalizadas pela CVM. **As Instituições de Pagamento não compõem o SFN, mas são reguladas e fiscalizadas pelo BCB, conforme diretrizes estabelecidas pelo CMN. Sistema Financeiro Nacional (SFN). (Fonte: Banco Central do Brasil). Com relação aos componentes do mercado financeiro, daremos destaque agora para os organismos reguladores e os organismos supervisores. Veja a seguir: ÓRGÃOS NORMATIVOS São aqueles que estabelecem as regras do jogo, regulando as condições para se operar nos mercados, estabelecendo medidas prudenciais para garantir a estabilidade financeira, medidas de conduta para garantir a proteção dos participantes e consumidores, dentre outras regras que visam a um bom funcionamento do sistema. São eles: - O conselho monetário nacional (CMN). - O conselho nacional de seguros privados (CNSP). - O conselho nacional de previdência complementar (CNPC). CMN Foi criado pela Lei 4.595 de 1964. É o órgão que estabelece as políticas monetária, creditícia, cambial e de capitais. CNSP Criado pelo Decreto-Lei 73 de 1966, regula os mercados de seguros, resseguros (o seguro das seguradoras), previdência complementar aberta e capitalização. CNPC javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Teve a missão dada pela Lei 12.154 de 2009: regula a previdência complementar fechada, operada pelos fundos de pensão, estabelecidos por empresas para seus funcionários. ÓRGÃOS SUPERVISORES Os órgãos supervisores desses mercados são: - O Banco Central do Brasil (BCB). - A Comissão de Valores Mobiliários (CVM). - A Superintendência de Seguros Privados (Susep). - A Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). Apesar da enorme importância dos seguros e da previdência complementar para o Sistema Financeiro Nacional, geralmente associamos a “mercados financeiros” apenas os mercados de moeda, câmbio, crédito e capitais. Apesar de terem características próprias, os quatro mercados estão intimamente ligados, tanto que as instituições que operam em um desses mercados geralmente também o fazem nos demais. Vejamos as especificidades de cada um dos mercados anteriormente citados: MERCADO DE MOEDA OU MONETÁRIO O mercado de moeda, ou monetário, está relacionado com o papel-moeda e a moeda escritural, que é aquela que os bancos geram ao registrar seus depósitos em conta-corrente. As operações nesse mercado são as operações de curtíssimo prazo. MERCADO DE CÂMBIO O mercado de câmbio cuida da compra e venda de moeda estrangeira. MERCADO DE CRÉDITO O mercado de crédito lida com os empréstimos concedidos pelas instituições financeiras. MERCADO DE CAPITAIS O mercado de capitais se relaciona com a captação de recursos das empresas com compartilhamento de riscos e ganhos, por meio de ações e títulos. FUNCIONAMENTO DOS MERCADOS MONETÁRIO, CAMBIAL, DE CRÉDITO E DE CAPITAIS Já vimos que os mercados financeiros são divididos em alguns segmentos denominados de Mercado de moedas ou monetário, Mercado cambial, Mercado de crédito e Mercado de capitais. Agora, vamos analisar cada um deles. Fonte: Freepik / Freepik MERCADO MONETÁRIO Este é um mercado de operações de curtíssimo prazo, e possui um importante papel na gestão da liquidez da economia e no controle dainflação. Você já deve ter ouvido que quando o governo “imprime” mais dinheiro, gera inflação. Ou seja, quando o governo aumenta a base monetária (a quantidade de moeda disponível) há uma pressão sobre a inflação. Dados do BCB indicam que em junho de 2020 havia cerca de R$ 260 bilhões em papel-moeda em poder da população. No mesmo período, o total de depósitos à vista nos bancos era de R$ 230 bilhões. Mas não é sobre esse “tipo de moeda” que o BCB atua na sua missão de entregar a meta de inflação, imprimindo ou recolhendo dinheiro. Para controlar a inflação, o BCB atua no mercado monetário de outra forma. Quando o BCB precisa tirar dinheiro de circulação, ele atua vendendo títulos públicos; e quando ele quer injetar mais dinheiro na economia, compra esses títulos, alterando assim a liquidez do mercado. Essas operações são realizadas pelo BCB por meio do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). As instituições financeiras também negociam títulos públicos no sistema Selic, geralmente em operações de um dia (overnight), para recompor suas reservas compulsórias junto ao Banco Central. A média das taxas de todas as negociações realizadas no Selic ao longo de um dia é denominada de taxa Selic, sobre a qual você certamente já ouviu falar. ATENÇÃO O Comitê de Política Monetária do BCB (Copom) estabelece uma meta para a taxa Selic em função das expectativas de inflação em relação à meta definida pelo Conselho Monetário Nacional. Se a inflação está alta, o Copom estabelece uma meta mais elevada para a taxa Selic, com o objetivo de retirar dinheiro de circulação. PERCEBE QUE UMA TAXA MAIS ALTA TIRA DINHEIRO DE CIRCULAÇÃO? Com uma taxa mais alta, mais pessoas se interessarão em trocar moeda por títulos, pois sua remuneração é maior. Essa moeda vai, então, para os cofres do BCB e sai de circulação. Se a inflação está baixa, o Copom reduz a meta para a taxa Selic, com o objetivo de colocar mais dinheiro em circulação e estimular a economia. Uma vez definida a meta da taxa Selic, o BCB vende ou compra títulos para que a taxa Selic diária atinja a meta estabelecida. Fonte: Desenhado pelo autor / Freepik / Freepik MERCADO CAMBIAL O mercado de câmbio realiza a troca de moedas estrangeiras por reais, e é dividido em mercado primário e mercado secundário. Vejamos a seguir as especificações desses dois subtipos de mercado cambial: Fonte: Freepik / Freepik MERCADO PRIMÁRIO Neste mercado, as pessoas físicas e as empresas que importam ou exportam mercadorias transacionam com os bancos a compra ou venda de moeda estrangeira. Fonte: Freepik / Freepik MERCADO SECUNDÁRIO O mercado secundário de câmbio é o mercado interbancário, no qual os bancos trocam divisas entre si. Além desses atores (pessoas físicas, empresas e bancos), o Banco Central do Brasil atua diretamente no mercado para a execução da política cambial. Todas as operações de câmbio são registradas em um sistema do BCB chamado SISBACEN, que calcula diariamente a média ponderada pelo volume das operações de câmbio entre reais e dólares americanos realizadas no mercado secundário (interbancário). A essa taxa dá-se o nome de Ptax. Fonte: Desenhado pelo autor / Freepik / Freepik MERCADO DE CRÉDITO Este é o mercado em que atuam os bancos comerciais. Nele, as instituições financeiras captam recursos dos poupadores e os emprestam às empresas e pessoas físicas para financiar consumo ou capital de giro, por exemplo. A remuneração dos bancos é dada pelo spread, que é a diferença entre a taxa de juros cobrada dos tomadores de empréstimo e a taxa de juros utilizada para remunerar os poupadores. Fonte: Desenhado pelo autor / Freepik / Freepik Neste mercado há, portanto, a intermediação financeira, pois os bancos atuam como intermediários que reúnem poupadores e tomadores nas operações de crédito, sendo remunerados por esse serviço por meio do spread bancário. Como as instituições financeiras que operam nesse mercado possuem uma gama bastante ampla de clientes com diferentes perfis de prazos e volumes de recursos, elas conseguem realizar uma gestão de riscos mais eficiente que os poupadores e tomadores seriam capazes de realizar sem o auxílio desses intermediários. O Banco Central do Brasil supervisiona este mercado, que segue regras prudenciais bastante restritas para a garantia de seu bom funcionamento e da estabilidade financeira do país. Essas regras são espelhadas em um padrão internacional estabelecido pelo Comitê de Basileia de Supervisão Bancária (BCBS, em inglês), denominado de Basileia III. Dessa forma, as instituições que operam no mercado de crédito devem possuir capital suficiente e uma estrutura eficaz de gestão de riscos para garantir seu funcionamento regular, mesmo em situações de crise. As operações neste mercado costumam ser de curto ou médio prazo. MERCADOS DE CAPITAIS Os mercados de capitais são caracterizados pela desintermediação financeira, ou seja, neles os agentes superavitários (poupadores) se relacionam diretamente com os agentes deficitários (tomadores) por meio de instrumentos de dívida (debt) ou instrumentos de patrimônio (equity). Apesar de não participarem diretamente das operações, uma vez que são operações sem intermediação, as instituições financeiras podem atuar indiretamente estruturando e facilitando a distribuição desses títulos entre os investidores. Nesse caso, elas não são remuneradas por um spread, mas por uma taxa de prestação de serviços. javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: Desenhado pelo autor / Freepik / Freepik INSTRUMENTOS DE DÍVIDA Têm como principais representantes as debêntures ― o termo vem do inglês debt ― e as notas promissórias ― commercial papers. Comprando uma debênture, os investidores passam a ser credores da empresa que a emitiu. INSTRUMENTO DE PATRIMÔNIO Possuem como principais representantes as ações (stock shares), por meio das quais os investidores podem se tornar sócios da empresa que as emitiu, participando de seus resultados e riscos. Assim como no mercado cambial, o mercado de capitais também pode ser dividido em primário e secundário. Vejamos suas especificidades a seguir: MERCADO PRIMÁRIO Consiste na primeira emissão dos títulos ou ações. É nesse instante que a empresa emissora (a tomadora dos recursos) efetivamente recebe os recursos para seu financiamento. Essa primeira emissão é feita com o auxílio de bancos de investimento, corretoras ou distribuidoras de títulos, contratados pelo emissor para a prestação desse serviço. MERCADO SECUNDÁRIO Ocorre após a emissão inicial, e também é chamada de subscrição (underwriting). Os títulos podem ser negociados entre os diversos investidores. Um mercado secundário ativo é muito importante para a liquidez dos papéis e uma boa formação de preços. javascript:void(0) javascript:void(0) No caso das ações, a primeira emissão é realizada por intermédio de um processo chamado IPO (do inglês, Initial Public Offer) ou Oferta Pública de Ações (OPA). Uma vez executada essa etapa, a empresa emissora passa a ser “listada” na Bolsa de Valores e suas ações podem ser negociadas no mercado secundário de bolsa. No Brasil, a principal bolsa de valores é a B3 (Brasil, Bolsa, Balcão). O mercado secundário, no entanto, não se resume às bolsas de valores. As debêntures, por exemplo, são negociadas em mercados de balcão, cujo principal operador nacional também é a B3. CONSIDERANDO O QUE VIMOS ATÉ AQUI, VOCÊ SABERIA APONTAR A DIFERENÇA ENTRE UMA BOLSA DE VALORES E UM MERCADO DE BALCÃO? VEJAMOS: Bolsa de valores Mercado de balcão Na bolsa de valores a negociação dos papeis é feita de forma multilateral, com vários compradores e vendedores apresentando suas ordens de compra e venda, e sempre que os preços convergem, o negócio é celebrado. No mercado de balcão, o detentor de um título negocia livremente com um comprador interessado. Após a negociação, registra-se a concretização da operação. As operações no mercado de mercado de capitais costumamser de médio a longo prazo. Neste vídeo, você será testado pondo em prática todo conhecimento adquirido até aqui. Aperte o play! VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UM DOS OBJETIVOS DO COMITÊ DE POLÍTICA MONETÁRIA É: A) Normatizar o mercado de capitais. B) Definir a meta de inflação. C) Definir o valor da taxa Selic. D) Negociar títulos no mercado aberto. 2. QUAL DAS OPÇÕES ABAIXO APRESENTA INSTRUMENTOS DO MERCADO DE CAPITAIS DE PATRIMÔNIO E DÍVIDA, RESPECTIVAMENTE? A) Dólar e real. B) Debêntures e ações. C) Dividendos e juros. D) Ações e debêntures. GABARITO 1. Um dos objetivos do Comitê de Política Monetária é: A alternativa "C " está correta. É o Copom quem define o valor da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia, com o objetivo de atingir a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional. 2. Qual das opções abaixo apresenta instrumentos do mercado de capitais de patrimônio e dívida, respectivamente? A alternativa "D " está correta. As debêntures são instrumentos de dívida emitidos pelas empresas no mercado de capitais, enquanto que as ações são instrumentos de patrimônio. MÓDULO 2 Descrever os principais tipos de instituições e produtos dos mercados financeiros AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS Agora que conhecemos os principais mercados financeiros, vamos analisar mais detidamente as instituições que operam tais mercados. BANCOS DE DESENVOLVIMENTO O mais conhecido deles é o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, mas há vários outros bancos de desenvolvimento regional, como o Banco da Amazônia e o Banco do Nordeste, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG, o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo – BANDES e outros. Esses bancos têm por objetivo fomentar a atividade econômica. A Resolução CMN nº 394 de 1976 define seus objetivos como sendo: PROPORCIONAR O SUPRIMENTO OPORTUNO E ADEQUADO DOS RECURSOS NECESSÁRIOS AO FINANCIAMENTO, A MÉDIO E LONGO PRAZOS, DE PROGRAMAS E PROJETOS QUE VISEM A PROMOVER O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL DOS RESPECTIVOS ESTADOS DA FEDERAÇÃO ONDE TENHAM SEDE, CABENDO-LHES APOIAR PRIORITARIAMENTE O SETOR PRIVADO. Vejamos alguns exemplos de instituições financeiras: Fonte: Caixa.gov Caixa Econômica Federal javascript:void(0) A Caixa é uma instituição financeira pública que exerce uma série de funções operacionais na implantação de políticas de governo, tal qual a gestão de fundos como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, o Programa de Integração Social – PIS, o seguro-desemprego, além de gerir as loterias e conceder empréstimos sob penhor. Fonte: Site BB Banco do Brasil O Banco do Brasil é uma sociedade de economia mista que também auxilia na execução de políticas públicas, como o crédito rural e industrial. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS São as instituições autorizadas a reter depósitos à vista, ou seja, gerar moeda escritural. Dividem-se em bancos comerciais, aqueles que estamos acostumados a utilizar, bancos múltiplos com carteiras comerciais, a Caixa Econômica Federal e as cooperativas de crédito. Fonte: jcomp / Freepik javascript:void(0) DEMAIS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS A Lei Complementar nº 105 de 2001 elenca uma série de tipos de instituições financeiras não monetárias, ou seja, que não geram moeda escritural. São elas: Distribuidoras de valores mobiliários Corretoras de câmbio e de valores mobiliários Sociedades de crédito, financiamento e investimentos Sociedades de crédito imobiliário Administradoras de cartões de crédito Sociedades de arrendamento mercantil (leasing) Administradoras de mercado de balcão organizado Associações de poupança e empréstimo Bolsas de valores e de mercadorias e futuros Entidades de liquidação e compensação INSTITUIÇÕES SOB SUPERVISÃO DA CVM, SUSEP E PREVIC Além das instituições financeiras citadas anteriormente, há ainda outras que não estão sob supervisão do BCB, mas de outros supervisores do SFN, como a CVM, a Susep e a Previc. São elas: Sociedades administradoras e gestoras de fundos de investimento Sociedades seguradoras Sociedades resseguradoras Sociedades de capitalização Entidades de previdência complementar Os fundos de investimento, que iremos analisar adiante , são particularmente importantes. Todas essas cinco instituições, no entanto, são muito relevantes na dinâmica dos mercados financeiros, pois constituem-se em grandes agentes superavitários, geradores de enormes recursos para os agentes deficitários. Estas instituições são comumente denominadas de investidores institucionais. Fonte: geralt / Pixabay PRODUTOS FINANCEIROS Conhecendo os mercados e seus atores, vamos agora conhecer os principais produtos disponíveis nesses mercados. PRODUTOS DE CAPTAÇÃO Para captar recursos que irão lastrear os empréstimos concedidos no mercado de crédito, as instituições financeiras dispõem de uma série de produtos dos mais variados tipos. Esses produtos sujeitam os investidores ao risco de quebra da instituição financeira na qual aportam recursos. Dessa forma, quanto mais sólida for a instituição financeira, menor será a taxa de remuneração. Caso o risco seja mais elevado, a remuneração também o será. Analisemos alguns dos produtos mais importantes. DEPÓSITOS À VISTA São os depósitos em conta-corrente, disponibilizados pelas instituições financeiras monetárias, os quais se constituem numa fonte importante de captação. Tais depósitos não são remunerados e possuem liquidez imediata para o depositante, podendo ser sacados a qualquer tempo. Fonte: Freepik / Freepik DEPÓSITOS A PRAZO Diferentemente dos depósitos à vista, os depósitos a prazo são remunerados pela instituição de crédito após o período previamente acordado. Possuem restrições de resgate para o depositante. Os principais produtos de depósito a prazo comercializados são: CDB Os Certificados de Depósito Bancário RDB Os Recibos de Depósito Bancário ATENÇÃO A diferença entre os dois é que o CDB pode ser negociado antes do seu vencimento, enquanto que o investidor não tem a opção de transferir o RDB. A remuneração dos títulos pode ser feita de três formas: Por uma taxa prefixada. Por uma taxa pós-fixada – geralmente um percentual da taxa DI. Por uma combinação das duas. Vale explicar um pouco melhor o que vem a ser a taxa DI, que deriva dos Certificados de Depósito Interfinanceiro – CDI. Quando estudamos o mercado monetário, tratamos da taxa Selic, composta pelas negociações de títulos públicos no mercado aberto. Essas negociações são uma forma de os bancos captarem recursos no overnight para recompor suas reservas compulsórias junto ao Banco Central, e envolvem uma caução, isto é, em troca dos empréstimos, os bancos tomadores de recursos deixam títulos públicos como garantia da operação. Outra forma de captar recursos para a recomposição das reservas compulsórias é por meio do mercado interbancário. Nesse mercado, os bancos emprestam dinheiro entre si, sem a necessidade dessa caução, negociando os CDIs. A taxa média dos negócios gerados no mercado interbancário é calculada pela B3 (antiga Central de Títulos Privados – Cetip) e é denominada de taxa DI. DEPÓSITOS DE POUPANÇA Estes são um dos produtos mais conhecidos dos brasileiros e oferecem uma rentabilidade de 0,5% ao mês, mais a variação da Taxa Referencial – TR. Depois de 2012, a regra da remuneração da poupança ganhou novo componente. Agora, caso a meta da taxa Selic seja igual ou inferior a 8,5% a.a., a remuneração da poupança será igual a 70% da taxa Selic mais a variação da TR. Ao final junho de 2020, a meta da taxa Selic estabelecida pelo Copom era de 2,25% ao ano e a TR era 0%. Assim, a remuneração da poupança nesse mês foi de: POUPANÇA = 70% X 2,25% + 0% = 1,575% 𝑎.𝑎. Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal LETRAS FINANCEIRAS São instrumentos de captação das instituições financeiras de mais longo prazo do que os CDBs e RDBs, geralmente destinados a investidoresinstitucionais, como os fundos de investimento, sociedades seguradoras e entidades de previdência complementar, uma vez que seu valor mínimo para aplicação é de R$ 300.000,00 e têm prazo mínimo de 2 anos. Além das instituições financeiras, outras instituições não financeiras também podem captar recursos diretamente no mercado de capitais, sem a necessidade de recorrer a um intermediário. Vamos analisar alguns dos produtos destinados a esse fim. Fonte: Freepik / Freepik AÇÕES As ações são um título de propriedade de parte da empresa que as emitiu. O nome em inglês – shares – significa justamente isso: partes ou frações. Quando um investidor adquire ações, sua rentabilidade dependerá de dois fatores: 1 A variação do preço dessas ações 2 Os dividendos (participação nos lucros da empresa) que elas pagarão ao longo de sua vida Assim, dizemos que são um instrumento de renda variável, pois não se conhece a priori qual será esta rentabilidade. Elas podem ser de dois tipos: AÇÕES ORDINÁRIAS São aquelas que dão direito a voto nas decisões da companhia emissora. AÇÕES PREFERENCIAIS Já as ações preferenciais não dão direito a voto, mas possuem preferência na distribuição de dividendos e nos bens da empresa em caso de quebra. EXEMPLO As ações da Petrobrás negociadas em bolsa são a PETR3 e a PETR4. A PETR3 é a ação ordinária da empresa, dando direito a voto. Já a PETR4 é a ação preferencial da empresa. Quando a Petrobrás apresenta lucro líquido, os acionistas preferenciais recebem uma remuneração mínima garantida. Após esse mínimo ser pago pela companhia, caso ainda haja lucro a ser distribuído, ele é destinado às ações ordinárias até que se iguale o valor pago às preferenciais. Qualquer excedente adicional de lucro é distribuído igualmente entre os dois tipos de ação. Em 2018 , após o pagamento do mínimo aos acionistas preferenciais, a companhia não tinha recursos suficientes para pagar o mesmo valor aos acionistas ordinários. Assim, cada ação PETR3 pagou R$ 0,92, contra R$ 0,25 pagos para cada ação PETR4. , A evolução do mercado acionário é acompanhada por índices de ações. No Brasil, o principal deles é o Ibovespa, que agrega as ações mais negociadas na Bolsa. DEBÊNTURES As debêntures são títulos de dívida emitidos por empresas não financeiras muito utilizadas para financiar projetos de longo prazo, pois permitem ao emissor estruturar seu fluxo de pagamentos, adequando-os aos fluxos esperados dos projetos. Geralmente têm sua rentabilidade prefixada ou atrelada a uma taxa pós-fixada, como a taxa DI ou a um índice de preços, como o IPCA. A flexibilidade desses instrumentos não se resume à estrutura de seu fluxo de pagamentos. Elas podem oferecer também uma série de opções, como: 1 Oferta de garantia 2 Opção de conversão em ações 3 Opção de recompra por parte do emissor TÍTULOS PÚBLICOS Além das instituições financeiras e não financeiras, o governo também capta recursos no mercado financeiro por meio da emissão de títulos. Esses títulos representam o principal ativo financeiro em circulação no país e podem ser adquiridos diretamente por pessoas físicas por intermédio do sistema Tesouro Direto. São emitidos pelo Tesouro Nacional e os principais tipos disponíveis atualmente são: LETRA DO TESOURO NACIONAL (LTN) São de mais curto prazo e são comercializadas com deságio sobre seu valor de face. Sua estrutura de pagamentos prevê apenas um fluxo, com o pagamento no principal (R$ 1.000,00) no vencimento. No Tesouro Direto esses títulos são denominados de “Tesouro prefixado”. Suponha que um investidor tenha adquirido uma LTN por R$ 800,00 um ano antes de seu vencimento. A rentabilidade da operação será de: 𝑅𝑒𝑛𝑡𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒=(1.000−800)/800=25% Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal LETRA FINANCEIRA DO TESOURO (LFT) Este é um título pós-fixado, que acumula as taxas Selic diárias. Ao vencimento do título será pago ao investidor o valor investido, corrigido pela taxa Selic acumulada no período de investimento. No Tesouro Direto esses títulos são denominados de “Tesouro Selic”. Suponha que um investidor tenha adquirido uma LFT por R$ 10.500,00 um ano antes de seu vencimento e que a taxa Selic acumulada nesse período seja de 2,5%. No vencimento, o investidor recebe os R$ 10.500,00 investidos, corrigidos pela Selic acumulada no período (2,5%). 10.500,00×(1+2,5%)=10.762,50 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal NOTA DO TESOURO NACIONAL – SÉRIE B (NTN-B) A rentabilidade desses títulos é dada pela variação da inflação, medida pelo IPCA. Diferente da LTN e da LFT, esse título prevê pagamentos semestrais, denominados de cupons. O nome “cupom” tem sua origem na época em que esses títulos ainda eram cartulares, ou seja, emitidos em papel. Cada título possuía cupons que eram destacados para recebimento de seus pagamentos nas respectivas datas. No Tesouro Direto esses títulos são denominados de “Tesouro IPCA+ com pagamentos semestrais”. Há uma modalidade específica de NTN-B no Tesouro Direto que não possui pagamento de cupons, denominada de “Tesouro IPCA+”, também chamada de NTN-B Principal. NOTA DO TESOURO NACIONAL – SÉRIE B (NTN-B) A rentabilidade desses títulos é prefixada, mas diferente da LTN esse título prevê pagamentos de cupons semestrais. PRODUTOS DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS Os produtos que vimos até aqui tinham o objetivo de captar recursos dos agentes superavitários para as instituições financeiras. Veremos agora o outro lado da moeda, os produtos que permitem às instituições financeiras emprestar recursos aos agentes deficitários. Fonte: Desenhado pelo autor / Freepik / Freepik Nessas operações, a instituição financeira que disponibiliza o crédito corre o risco do tomador de recursos, que pode ser uma pessoa física ou jurídica. Para calcular uma taxa de remuneração correspondente ao risco em que incorre, a instituição financeira faz uma análise da capacidade de pagamento daquele tomador. Para essa análise, a instituição financeira pode recorrer a bancos de dados como o Serviço de Proteção ao Crédito – SPC, ao SERASA ou à Central de Risco de Crédito do Banco Central – CRC. Recentemente foi regulamentado o cadastro positivo de crédito, com o objetivo de possibilitar aos bons pagadores auferirem melhores taxas no momento da contratação do empréstimo. Elencamos a seguir os produtos de empréstimos bancários: HOT MONEY São empréstimos normalmente de 1 a 7 dias para atender a necessidades de caixa de empresas. CHEQUE ESPECIAL É uma linha de crédito pré-aprovada pela instituição financeira que cobre eventuais saldos negativos na conta-corrente. DESCONTO DE TÍTULOS Quando o tomador de recursos possui créditos futuros a receber de duplicatas e outros títulos, ele pode antecipar esse recebimento por meio da operação de desconto de títulos. Nessa operação, a instituição financeira compra os títulos do tomador com um deságio, ou seja, por um preço inferior ao valor de face deste. FINANCIAMENTO DE CAPITAL DE GIRO São operações de crédito que visam atender as necessidades de capital de giro das empresas. Normalmente são exigidas garantias de créditos a receber da empresa, como duplicatas. CRÉDITO DIRETO AO CONSUMIDOR É uma modalidade de crédito destinada a financiar a aquisição de bens e serviços pelos consumidores. O bem a ser adquirido normalmente é dado à instituição financeira como garantia de pagamento do empréstimo. CRÉDITO CONSIGNADO Constitui-se numa linha de crédito destinada a funcionários públicos, com a cobrança sendo realizada diretamente no contracheque do tomador. Nessa modalidade, as taxas cobradas tendem a ser mais baixas devido ao baixo risco de inadimplência. Fonte: Buffik / Pixabay VEÍCULOS DE INVESTIMENTO COLETIVO Muitas vezes um investidor pessoa física não tem capacidade financeira para investir em alguns produtos diretamente. No entanto, pode fazê-lo utilizando-se de veículos de investimento coletivos,como os fundos de investimento ou os planos de previdência. FUNDOS DE INVESTIMENTO Os fundos de investimento são veículos de investimento coletivo regulados pela CVM que permitem aos seus cotistas investir em produtos financeiros mais sofisticados. Eles podem ser abertos ou fechados. Vejamos: FUNDOS ABERTOS São aqueles em que os participantes aportam ou resgatam recursos emitindo novas cotas, ou seja, a quantidade de cotas varia conforme os aportes e resgates. FUNDOS FECHADOS São aqueles em que há uma emissão inicial de cotas e não são mais feitos aportes dos resgates até o vencimento do fundo. Suas cotas podem ser negociadas no mercado secundário. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais – Anbima possui ainda uma classificação dos fundos segundo sua política de investimentos, conforme a tabela apresentada a seguir. Frame da classificação de fundos Regulação Regulação Frame da classificação de fundos Nível 1 Nível 2 Nível 3 Renda fixa Simples Simples Indexado Índices Ativos • Duração baixa • Duração média • Duração alta • Duração livre Soberano Grau de investimento Crédito livre Sustentatbilidade/governança Investimento no exterior Investimento no exterior Dívida externa Multimercados Alocação Balanceados Flexível Por estratégia Macro Trading Long and Short – Direcional Long and Short – Neutro Juros e moedas Livre Capital protegido Estratégia específica Investimento no exterior Investimento no exterior Ações Indexados Valor/crescimento Setoriais Dividendos Small Cap Índice ativo Livre Ativos Fundos fechados de ações Investimento no exterior Fundos de ações FMP-FGTS Frame da classificação de fundos Específicos Fundos de mono ação Cambial Cambial Cambial Classificação de fundos. (Fonte: Anbima). PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR ABERTA Outro veículo de investimento bastante utilizado pelos investidores são os planos de previdência complementar aberta ou os seguros de vida com cobertura de sobrevivência. Os mais conhecidos deles são: PGBL O Plano Gerador de Benefícios Livre VGBL O Vida Gerador de Benefícios Livre A principal diferença entre eles encontra-se no tratamento tributário. O PGBL é um plano de previdência e o VGBL é um seguro com cobertura de sobrevivência. Assim, as contribuições ao PGBL podem ser abatidas da base de cálculo do Imposto de Renda como contribuição previdenciária. O mesmo não ocorre com o VGBL. Por outro lado, quando dos recebimentos gerados pelos planos PGBL, resgates ou pagamentos de renda de aposentadoria, há incidência de imposto de renda. Isso não ocorre com o VGBL, pois apenas sua rentabilidade é tributada. Vamos exercitar o que você aprendeu até aqui? Aperte o play a seguir! VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. QUAL TÍTULO PÚBLICO FEDERAL TEM COMO REMUNERAÇÃO DA TAXA BÁSICA DE JUROS DA ECONOMIA? A) Notas do Tesouro Nacional – série B – NTN-B. B) Notas do Tesouro Nacional – série F – NTN-F. C) Letras Financeiras do Tesouro – LFT. D) Letras do Tesouro Nacional – LTN. 2. UMA LTN FOI VENDIDA POR 900 REAIS UM ANO ANTES DE SEU VENCIMENTO. QUAL A SUA RENTABILIDADE?. A) 10% a.a. B) 11,11% a.a. C) 12,5% a.a. D) 13,33% a.a. GABARITO 1. Qual título público federal tem como remuneração da taxa básica de juros da economia? A alternativa "B " está correta. A resposta correta é a letra B. As NTN-F são títulos prefixados que pagam cupons semestrais. 2. Uma LTN foi vendida por 900 reais um ano antes de seu vencimento. Qual a sua rentabilidade?. A alternativa "B " está correta. A resposta correta é a letra B. No vencimento, uma LTN vale R$ 1.000,00. Dessa forma, seu fluxo será dado pela figura: Sua rentabilidade será dada por: 𝑅𝑒𝑛𝑡𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒=(1.000−900)/900=11,11% 𝑎.𝑎. Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos neste tema o funcionamento básico do mercado financeiro. Os serviços cotidianos que você utiliza, como um saque em conta-corrente ou um empréstimo, são apenas alguns exemplos de uma gama de produtos financeiros, oferecidos por instituições de diversos tipos. O funcionamento do mercado financeiro é essencial para a economia crescer e distribuir renda. Fique atento às decisões das instituições financeiras: elas afetam não apenas suas transações cotidianas, mas todo o país. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2009. FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços. 18 ed. Rio de Janeiro: Qualymark, 2011. EXPLORE+ Acesse o site do Banco Central do Brasil para saber mais sobre o Sistema Financeiro Nacional. Acesse o site da B3 para conhecer o principal indicador do mercado de ações do país: o IBOVESPA. Acesse o site do Tesouro Direto, no qual podemos fazer aplicações em títulos públicos. CONTEUDISTA Paulo Roberto Miller Fernandes Vianna Junior CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DESCRIÇÃO O mercado de câmbio, sua organização e seu funcionamento, assim como a ligação dele com a política cambial e seus reflexos na economia do país. PROPÓSITO Compreender o funcionamento do mercado de câmbio, assim como seus agentes e sua ligação com a política cambial do país, para uma boa gestão de recursos financeiros em um mercado com reflexos significativos tanto na economia do país quanto em um mundo com um comércio global de importância crescente. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos papel, caneta e uma calculadora científica ou use a calculadora de seu smartphone ou computador. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever o funcionamento do mercado cambial MÓDULO 2 Aplicar as taxas de câmbio para conversão de valores monetários MÓDULO 3 Reconhecer os diferentes regimes cambiais INTRODUÇÃO Em um mundo cada vez mais globalizado, os agentes econômicos nacionais realizam constantemente transações com esses agentes nos demais países. Essas transações usualmente se dão em moeda estrangeira (em geral, o dólar americano), mas podem ser realizadas em euros, yuans chineses, francos suíços ou ienes japoneses. O comércio eletrônico e o grande crescimento do turismo também tornam mais forte a demanda por transações em moedas estrangeiras. Ao longo deste tema, descreveremos o funcionamento do mercado de câmbio, que trata da troca de divisas (moedas) entre diversos agentes. Veremos, em suma, como esse mercado é regulado, quem são as instituições que nele operam e como funcionam seus preços (as cotações de câmbio). Demonstraremos ainda de que forma os valores de uma moeda podem ser convertidos para os de outra. Em seguida, observaremos como a relação entre as diversas moedas afeta nosso dia a dia e de que forma os países desenvolvem suas políticas cambiais para fazer frente a esses efeitos. Por fim, estudaremos os diversos modelos de crises cambiais. MÓDULO 1 Descrever o funcionamento do mercado cambial PRIMEIRAS PALAVRAS Neste módulo, exploraremos o funcionamento do mercado de câmbio, destacando sua estrutura e seus principais agentes. Em seguida, apresentaremos o principal instrumento de formalização das operações: o contrato de câmbio. MERCADO CAMBIAL Trata-se de um mercado global no qual são trocadas moedas (ou divisas) entre diversos agentes econômicos que desejam realizar transações comerciais ou financeiras entre si. Devido à grande atividade gerada pelo comércio internacional, ele é considerado o maior mercado global em volume de negócios e liquidez. Seu volume diário de negociações gira na casa dos trilhões de dólares. Os objetos negociados no mercado de câmbio são as moedas dos diferentes países. Com isso, rúpias indianas podem ser trocadas por pesos mexicanos, assim como é possível fazer o mesmo processo na conversão de dólares australianos para libras esterlinas. Apesar de as trocas poderem se dar entre quaisquer moedas, algumas, como, por exemplo, o dólar americano, são consideradas as principais referências nesse mercadodevido à sua maior liquidez e por serem vistas como moeda de reserva internacional, ou seja, uma moeda “segura”. No Brasil, o mercado de câmbio é regulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e monitorado pelo Banco Central do Brasil (BCB). Ambos obedecem a uma estrutura que descreveremos adiante. ESTRUTURA DO MERCADO DE CÂMBIO A figura a seguir a seguir ilustra o funcionamento do mercado de câmbio, que se divide em dois: mercado primário e mercado secundário. Fonte: YDUQS, 2020 A estrutura do mercado de câmbio no Brasil. MERCADO PRIMÁRIO No mercado primário, os agentes econômicos de uma nação – ou seja, pessoas e empresas – realizam transações comerciais e financeiras com os agentes estrangeiros, trocando, nesse processo, divisas entre si. Esse mercado sensibiliza o balanço de pagamentos do país, pois é nele que se forma o fluxo de entrada e saída de divisas da nossa economia, alterando seus estoques. Quando a quantidade de divisas estrangeiras enviada para o exterior é superior à recebida de lá, o balanço de pagamentos fica negativo e o estoque de moeda estrangeira do país diminui. Já quando a quantidade recebida é superior à que é enviada, esse balanço fica positivo e o estoque de moeda estrangeira da nação aumenta. BALANÇO DE PAGAMENTOS javascript:void(0) Trata-se da diferença entre a quantidade de divisas estrangeiras que entram no país e a que sai dele. MERCADO SECUNDÁRIO No mercado secundário, as moedas estrangeiras no país são negociadas entre os agentes de câmbios autorizados a operar pelo BCB. Por isso, ele também é chamado de mercado interbancário. As negociações nesse mercado não afetam o balanço de pagamentos; portanto, elas não alteram o estoque de divisas estrangeiras no país. Conheceremos agora alguns exemplos de como funcionam esses mercados. MERCADO PRIMÁRIO Suponha que um exportador venda mercadorias para o exterior e receba o pagamento em moeda estrangeira. Quando essas divisas chegam ao país, elas sensibilizam o balanço de pagamentos, aumentando o estoque da moeda estrangeira no Brasil. Um agente de câmbio então faz a conversão dessa moeda estrangeira para reais por meio de um contrato de câmbio, repassando o valor ao exportador. Como já frisamos, os contratos de câmbio efetuados pelos agentes de câmbio são o meio utilizado para se trocar moeda local e estrangeira com as empresas e as pessoas que realizam transações no mercado internacional de bens e serviços. MERCADO SECUNDÁRIO Suponha, por exemplo, que o Banco A esteja com um estoque baixo de dólares e deseje aumentá-lo. Ele negocia a compra de dólares com o Banco B, que conta com muitos exemplares dessa moeda estrangeira. Como o domicílio de ambos é o Brasil, não houve aumento nem redução da quantidade de dólares no país. Este é um exemplo do tipo de negociação efetuada no mercado interbancário (ou secundário). Outra razão para os bancos negociarem moeda estrangeira entre si é a melhor gestão de suas exposições ao risco cambial. Vamos entender o que isso significa. Neste vídeo, entenderemos melhor a estrutura do mercado de câmbio no Brasil. RISCO CAMBIAL O risco cambial é um dos riscos no qual incorrem os agentes econômicos que possuem direitos ou obrigações em moeda estrangeira. Ele é o risco de oscilações adversas nas taxas de câmbio. Suponha que um importador tenha um milhão de dólares para receber daqui a uma semana por conta de um negócio fechado recentemente. Se, nesse período, o dólar sofrer uma depreciação frente ao real (ou, de forma equivalente, se este se apreciar frente àquele), esse importador, quando o contrato de câmbio for fechado, não conseguirá a mesma quantidade de reais que conseguiria antes da depreciação da moeda americana. A mesma coisa acontece com um investidor que possua títulos nominados em dólar. Uma depreciação dessa moeda fará com que ele tenha um retorno menor em seu investimento após a conversão para reais. Por outro lado, se um exportador tiver uma dívida em dólares, seu risco será o oposto: a chance maior, neste caso, é que o dólar se aprecie, ou seja, sua cotação na moeda brasileira aumente, pois sua dívida em reais também irá aumentar. Fonte: Eliseu Geisler/Shutterstock Para proteger-se contra estes tipos de riscos, os instrumentos que os agentes econômicos utilizam são os derivativos cambiais. Eles devem ser empregados quando um agente assume uma posição contrária àquela a que está exposto. Se o risco contra o qual ele queira se proteger for o de uma depreciação do dólar, o agente assumirá uma posição em derivativos que gere ganhos com essa depreciação. Se o risco for a subida do dólar, ele fará o contrário. Os principais derivativos cambiais são os contratos futuros de dólar, os contratos a termo e os swaps. COMENTÁRIO Os swaps e o termo são contratos no mercado de balcão (operações nas quais se conhece a contraparte) utilizados, na maioria das vezes, para proteção contra a variação cambial. Já o futuro de dólar é transacionado na Bolsa de Valores, servindo tanto para proteção quanto para especulação. Neste tema, nossa abordagem se atém ao mercado à vista de câmbio. Por conta disso, falaremos apenas de forma superficial do mercado de derivativos cambiais. AGENTES DO MERCADO DE CÂMBIO O artigo 2º da Circular BCB nº 3.691, de 2013, determina que as pessoas físicas e jurídicas podem comprar e vender moeda estrangeira ou realizar transferências internacionais em reais de qualquer natureza, sem limitação de valor, sendo a contraparte da operação o agente autorizado a operar no mercado de câmbio. Ou seja, apesar de não haver limitações de volume de negociação para a compra e venda de moeda estrangeira, as pessoas físicas e jurídicas devem negociar com instituições autorizadas pelo Banco Central a operar câmbio, ou seja, os agentes de câmbio. Fonte: Adriano Kirihara/Shutterstock O artigo 33 do mesmo normativo indica quem pode obter tal autorização junto ao Banco Central para operar como agente de câmbio: Bancos múltiplos; Bancos comerciais; Caixas econômicas; Bancos de investimento; Bancos de desenvolvimento; Bancos de câmbio; Agências de fomento; Sociedades de crédito, financiamento e investimento; Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários; Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários; Sociedades corretoras de câmbio. CONTRATO DE CÂMBIO A Circular nº 3.691 também estabelece que o contrato de câmbio é o instrumento por meio do qual se formalizam as operações cambiais, além de exigir que tais contratos sejam registrados no sistema de câmbio do Banco Central. Fonte: TippaPatt/shutterstock Há dois os tipos de contrato de câmbio existentes: Fonte: YDUQS, 2020 O CONTRATO DE COMPRA Ele é destinado a operações de compra de moeda estrangeira realizadas pelas instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio. Figura: O contrato de compra de moeda estrangeira. Fonte: YDUQS, 2020 O CONTRATO DE VENDA Já este contrato é destinado às operações de venda de moeda estrangeira realizadas pelas instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio. Figura: O contrato de venda de moeda estrangeira. O BCB utiliza as informações registradas no Sistema do Banco Central (Sisbacen) para controlar a exposição cambial dos bancos e monitorar a higidez do mercado. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ASSINALE A AFIRMATIVA CORRETA SOBRE O MERCADO DE CÂMBIO. A) O mercado primário de câmbio não sensibiliza o balanço de pagamentos do país, já que é onde os bancos negociam moedas estrangeiras entre si, não havendo fluxos de moeda estrangeira entrando ou saindo do território nacional. B) O mercado interbancário opera com agentes autorizados pela Comissão de Valores Mobiliários. C) Apenas agentes autorizados pelo Conselho Monetário Nacional podem operar no mercado primário de câmbio. D) Os contratos de venda de moeda estrangeira devem ser registrados no sistema de câmbio do Banco Central, mas não é necessário registrar os contratos decompra. E) As exportações contribuem para aumentar o estoque de divisas estrangeiras no país; as importações, para reduzi-lo. 2. UM FUNDO DE PENSÃO COMPRA TÍTULOS DO TESOURO DOS ESTADOS UNIDOS. PARA ISSO, EFETUA UM CONTRATO DE CÂMBIO COM UM GRANDE BANCO NACIONAL, QUE, POR SUA VEZ, ENVIA OS DÓLARES NECESSÁRIOS À COMPRA PARA O EXTERIOR. ESTAMOS FALANDO DE QUE MERCADO? A) Mercado primário, pois há saída de divisas do país. B) Mercado primário, porque somente é possível efetuar essa operação por intermédio de uma instituição autorizada pelo Banco Central para operar câmbio. C) Mercado secundário, já que não há saída de divisas do país. D) Mercado secundário, uma vez que os dois agentes envolvidos são regulados pelo CMN. E) Mercado secundário; afinal, trata-se de uma operação de investimento, e não de bens e serviços. GABARITO 1. Assinale a afirmativa correta sobre o mercado de câmbio. A alternativa "E " está correta. Quando um bem ou serviço é exportado, os exportadores recebem seu pagamento em moeda estrangeira, aumentando o estoque de divisas estrangeiras. Nas importações, ocorre o contrário. O erro da letra a é que o mercado primário de câmbio efetivamente sensibiliza o balanço de pagamentos. É nele que os agentes econômicos nacionais realizam transações com os agentes econômicos estrangeiros. Já a opção b está errada, porque é o Banco Central o responsável por autorizar os agentes a operarem no mercado interbancário. O erro da letra c reside no fato de que é o Banco Central do Brasil quem autoriza a operação no mercado de câmbio. Já a opção d não pode ser considerada correta, pois tanto os contratos de compra como de venda devem ser registrados. 2. Um fundo de pensão compra títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Para isso, efetua um contrato de câmbio com um grande banco nacional, que, por sua vez, envia os dólares necessários à compra para o exterior. Estamos falando de que mercado? A alternativa "A " está correta. Para poder comprar um título estrangeiro, é necessário haver uma remessa de divisas para o exterior, sensibilizando o balanço de pagamentos. Trata-se, portanto, de uma operação do mercado primário. MÓDULO 2 Aplicar as taxas de câmbio para conversão de valores monetários PRIMEIRAS PALAVRAS As taxas de câmbio representam os preços praticados no mercado cambial. Elas também são o instrumento utilizado para a conversão de moedas. Expressaremos neste módulo a importância de se ter um bom conhecimento do que essas taxas representam e de como elas são formadas tanto para operar nesse mercado quanto para entender os efeitos do câmbio na economia. TAXAS DE CÂMBIO Como dissemos anteriormente, a taxa de câmbio expressa o preço da moeda estrangeira no mercado cambial. É quanto se paga, portanto, na troca entre duas moedas. Poderemos compreender melhor esse conceito por meio de exemplos. EXEMPLO 1 Se a taxa de câmbio é de 5R$/US$, isso significa que, para se comprar um dólar americano, é preciso pagar R$5. Em outras palavras: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Da mesma forma, pode-se dividir cada lado da igualdade acima por 5 e verificar que: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Ou seja, para se adquirir um real, são necessários vinte centavos de dólar. Dessa maneira, é possível expressar essa mesma taxa de câmbio como sendo 0,20 US$/R$. EXEMPLO 2 US $1 = R$5 =US $15 R$5 5 US $0,20 = R$1 Suponha que eu queira converter 2.000 dólares em reais. O agente de câmbio me diz que a cotação é de 5,2R$/US$. Quantos reais posso obter com essa cotação? De início, devemos expressar a cotação do dólar como fizemos anteriormente. Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Como quero calcular o valor de dois mil dólares, devo multiplicar toda a expressão acima por 2.000, obtendo: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal EXEMPLO 3 Ainda desejo converter os mesmos 2.000 dólares; no entanto, a cotação agora está expressa de maneira diferente: 0,16US$/R$. Como devo proceder? Para começar, representaremos a cotação na forma vista anteriormente: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Dividindo os dois lados da igualdade por 0,16, temos: US $1 = R$5,20 US $2.000 = R$5,20 × 2.000 US $2.000 = R$10.400 US $0,16 = R$1 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Recaímos no caso anterior. Podemos, portanto, multiplicar toda a igualdade por 2.000: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal No primeiro caso, só multiplicamos o valor que queríamos converter pela cotação em R$/US$ ( ). No segundo, por outro lado, dividimos o valor que seria convertido pela cotação em US$/R$ ( ). ISO 4217:2015 Conforme destacamos, o objeto de negociação no mercado de câmbio são as moedas (ou divisas). Moedas de diversos países podem ser negociadas; ainda assim, muitas vezes, suas cotações são expressas em dólares americanos. = US $0,16 0,16 R$1 0,16 US $1 = R$6,25 US $2.000 = R$6,25 × 2.000 US $2.000 = R$12.500 2.000 × 5,2 = 10.400 2.000/0,16 = 12.500 Para facilitar a comunicação entre os agentes, a norma ISO 4217:2015 estabelece códigos para cada moeda e outras commodities, como o ouro. Há dois tipos de código: ALFABÉTICO NUMÉRICO ALFABÉTICO O código alfabético contém três letras: as duas primeiras são o código do país, enquanto a terceira – quando possível – corresponde à primeira letra da moeda. NUMÉRICO Já o código numérico foi desenvolvido para países que não utilizam caracteres ocidentais e também para facilitar o uso em sistemas computadorizados. A tabela a seguir apresenta alguns desses códigos, com destaque para o real (BRL) e o dólar americano (USD): Moeda Código Alfabético Código Numérico Colón CRC 188 Dólar australiano AUD 036 Dólar americano USD 840 Dólar canadense CAD 124 Dólar de Hong Kong HKD 344 Euro EUR 978 Franco suíço CHF 756 Iene JPY 392 Libra egípcia EGP 818 Libra esterlina GBP 826 Peso argentino ARS 032 Peso mexicano MXN 484 Real BRL 986 Rublo RUB 643 Rúpia INR 356 Won KRW 410 Yuan Renminbi CNY 156 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Tabela: Códigos alfabéticos e numéricos das moedas segundo a ISO 4217:2015. Usaremos esses códigos com frequência a partir de agora. Podemos supor que conheçamos tanto a cotação do dólar canadense contra o americano (1,3408CAD/USD) quanto a do dólar americano contra a libra esterlina (1,2703USD/GBP). Como calculamos a cotação do dólar canadense contra a libra esterlina? A resposta para isso é bem simples: basta observar a forma como as cotações estão apresentadas. Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Notem que, se multiplicarmos as duas frações acima, o dólar americano sumirá, restando apenas o canadense e a libra esterlina. Vejamos então como fica. e CAD USD USD GBP 1,3408 × 1,2703 = 1,7032CAD USD USD GBP CAD GBP Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Ou seja, cada libra esterlina equivale a 1,7032 dólares canadenses. Podemos usar esse procedimento sempre que precisarmos. Explicaremos neste vídeo como funciona a conversão de moedas de mesmo tipo. PTAX A PTAX é a cotação calculada pelo BCB para as moedas estrangeiras. Segundo informações disponíveis no site do Banco Central, o nome PTAX se origina de uma transação do Sisbacen muito utilizada no passado pelo público para consultar taxas de câmbio: a PTAX800. Apesar deessa transação ter sido desativada em setembro de 2014, o sistema que a substituiu conservou seu nome. Fonte: Jo Galvao/Shutterstock Tal cotação é divulgada diariamente para todas as moedas, ainda que ela esteja comumente associada à do dólar americano. Seus valores estão disponíveis no site do Banco Central do Brasil. Esta tabela exibe um extrato da cotação da PTAX obtida no site do BCB para o dia 25 de setembro de 2020: Fonte: Banco Central do Brasil Cotações da PTAX em 19 de outubro de 2020. Na coluna “Cod Moeda”, estão dispostos os códigos numéricos da norma ISO 4217 e, em “Moeda”, seus respectivos códigos alfabéticos. Observando respectivamente as colunas “Taxa Compra” e “Taxa Venda”, notamos que, no dia 25 de setembro de 2020, a cotação do dólar americano (código numérico 220 e código alfabético USD) era de R$5,5661 para compra e de R$ 5,5667 para venda. Há ainda três outras colunas na tabela. As colunas “Paridade Compra” e “Paridade Venda” nos permitem ver a cotação das moedas em relação ao dólar americano. Já a coluna “Tipo” indica como essa cotação é apresentada. Podemos dominar melhor tais conceitos mediante a análise de dois exemplos envolvendo tanto o dólar de Hong Kong (código numérico 205 e código alfabético HKD), que é uma moeda do tipo “A”, quanto o fijiano (200 e FJD), que é do tipo “B”. DÓLAR DE HONG KONG Neste caso, a leitura é a mesma feita para ler o valor em reais, pois a cotação informa quantas unidades da moeda analisada equivalem a um dólar americano. Desse modo, verificamos que, no dia 25 de setembro de 2020: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Na compra (coluna “Paridade Compra”): Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Na venda (coluna “Paridade Venda”). DÓLAR FIJIANO Já para o dólar fijiano, a leitura é inversa: a cotação agora informa quantos dólares equivalem a uma unidade da moeda analisada. Com isso, em 25 de setembro de 2020: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Na compra (coluna “Paridade Compra”): Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Na venda (coluna “Paridade Venda”). Repare que a conversão das moedas deve ser feita, conforme destacamos anteriormente, de maneiras distintas. Para converter valores de dólares americanos para os de Hong Kong, precisamos multiplicar o valor em dólares pela cotação HKD/USD. Por outro lado, para a conversão de dólares 1 USD = 7,7500 HKD 1 USD = 7,7501 HKD 1 FJD = 0,4574 USD 1 FJD = 0,4744 USD americanos para os fijianos, devemos dividir esse valor por outra cotação: USD/FJD. SPREAD DE COMPRA E VENDA Notem que as cotações apresentadas pelo Banco Central na PTAX se dão em dois valores: para compra e para venda. Reparem ainda que a cotação de compra é sempre menor que a de venda. Explicaremos agora o que isso significa. Imaginemos um banco que opere câmbio, ou seja, que tenha, na compra e venda de moeda estrangeira, um negócio. Sua remuneração por prestar esse serviço é dada pela diferença entre as duas cotações. Essa diferença é chamada de spread, que, em inglês, significa “margem”. Assim, para que o banco aufira algum lucro nessa operação, o valor pelo qual ele compra a moeda estrangeira (cotação de compra) deve ser menor que aquele pelo qual ele vende a mesma moeda (cotação de venda). COMENTÁRIO Podemos fazer agora um link com os dois contratos estudados anteriormente: o de compra (cuja taxa é a de compra) e o de venda (taxa de venda). Retomemos o exemplo do dólar americano em 25 de setembro de 2020: A cotação de venda é de: A cotação de compra é de: 1 USD = 5,5667 BRL 1 USD = 5,5661 USD Se o banco, em determinado dia, comprar 1 milhão de dólares e o revender no mesmo dia, qual será seu lucro? Resposta: sua receita será dada pelo valor pelo qual ele vendeu esses dólares. Ou seja: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Já a despesa dele será auferida pelo valor pelo qual ele comprou esses dólares: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal O lucro, portanto, será dado pela diferença entre receita e despesa: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Quando o banco realiza inúmeras operações diárias como as descritas acima, ele consegue administrar bem o seu risco cambial, permitindo reduzir esse spread. Quando essas negociações são menos abundantes, o spread tende a aumentar, já que o banco espera um retorno maior pelo risco adicional em que incorreu. Em outras palavras, pode-se dizer que um spread será tão menor quanto mais líquida for uma divisa. COMENTÁRIO Receita = 1.000.000 × 5,5667 = R$5.566.700 Despesa = 1.000.000 × 5,5661 = R$5.566.100 Lucro = 5.566.700 − 5.566.100 = R$600 As moedas com maior liquidez são, portanto, mais baratas para se operar no mercado internacional, já que elas possuem spreads menores, reduzindo os custos para importadores e exportadores. As moedas mais líquidas no cenário global são o dólar americano (USD), o euro (EUR), o iene (JPY) e a libra esterlina (GBP). COMO É CALCULADA A PTAX Até julho de 2011, a taxa PTAX era calculada como a taxa média ponderada pelo volume nas operações do mercado interbancário, havendo o expurgo de algumas operações específicas (outliers, operações intragrupo etc.) para que fossem evitadas possíveis distorções. Dessa média, diminuía-se 004 para a cotação de compra e somava-se 004 para a de venda. Com a maior participação do Brasil no comércio internacional, fez-se necessário alterar essa metodologia. Isso ocorreu com a edição da Circular BCB nº 3.506, de 23 de setembro de 2010. Desde então, a PTAX passou a ser calculada a partir de quatro consultas diárias do BCB aos operadores de câmbio. As duas maiores e as duas menores cotações são excluídas, calculando-se as médias simples de todas as cotações recebidas para compra e para venda. O BCB ainda verifica se essas taxas médias estão de acordo com as praticadas no mercado interbancário. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UM IMPORTADOR, QUE DESEJA ADQUIRIR MERCADORIAS DA CHINA NO VALOR DE 10 MILHÕES DE YUANS, CONSULTA O SITE DO BCB PARA SABER O VALOR DA COMPRA EM REAIS. DESSA FORMA, ELE OBTÉM A COTAÇÃO DE COMPRA IGUAL A 0,8155BRL/CNY E A DE VENDA, A 0,8160BRL/CNY. QUE VALOR EM REAIS SERÁ GASTO PELO IMPORTADOR SE ELE DECIDIR EFETUAR A COMPRA? A) R$8.155.000 B) R$8.160.000 C) R$12.262.415,69 D) R$12.254.910,96 E) R$10.815.500 2. UM BANCO OPERA NO MERCADO À VISTA DE DÓLAR COM UM SPREAD DE 0,005BRL/USD. SE ELE COMPRAR E VENDER 10 MILHÕES DE DÓLARES AMERICANOS EM UM SÓ DIA, QUAL SERÁ SEU LUCRO NESSA OPERAÇÃO? A) R$5.000 B) R$20.000 C) R$50.000 D) R$2.000 E) R$500.000.000 GABARITO 1. Um importador, que deseja adquirir mercadorias da China no valor de 10 milhões de yuans, consulta o site do BCB para saber o valor da compra em reais. Dessa forma, ele obtém a cotação de compra igual a 0,8155BRL/CNY e a de venda, a 0,8160BRL/CNY. Que valor em reais será gasto pelo importador se ele decidir efetuar a compra? A alternativa "B " está correta. Como o importador precisa comprar yuans, ele deve celebrar um contrato de venda de yuans com um agente de mercado (lembre-se de que, no contrato de venda, um agente de câmbio vende moeda estrangeira para sua contraparte). Por isso, deve-se utilizar a cotação de venda para efetuar a conversão. Desse modo, temos: Multiplicando-se os dois lados da igualdade acima por 10.000.000, obtemos: 2. Um banco opera no mercado à vista de dólar com um spread de 0,005BRL/USD. Se ele comprar e vender 10 milhões de dólares americanos em um só dia, qual será seu lucro nessa operação? A alternativa "C " está correta. Para cada dólar negociado, o banco aufere um lucro de 0,005 reais. Com isso, verificamos que o lucro total dele é de: MÓDULO 3 Reconhecer os diferentesregimes cambiais PRIMEIRAS PALAVRAS Alguns dos principais atores no mercado de câmbio são os governos nacionais. Como as flutuações das taxas de câmbio podem ter impactos na economia dos países, os governos atuam nesse mercado buscando alcançar maior estabilidade e um crescimento econômico. Neste módulo, delinearemos os diferentes tipos de políticas cambiais. Destacaremos ainda as crises cambiais que podem colocar em risco os objetivos – que foram apontados logo acima – de muitos países. 1 CNY = 0,8160 BRL 10.000.000 CNY = 8.160.000 BRL Lucro = 10.000.000 × 0,005 = 50.000 BRL POLÍTICA CAMBIAL Segundo o BCB, a política cambial “é o conjunto de medidas que define o regime de taxas de câmbio e regulamenta as operações de câmbio”. Fonte: (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020a) Essa política estabelece o funcionamento do mercado de câmbio e a gestão das reservas internacionais. Como vimos, a definição das regras de funcionamento do mercado de câmbio fica a cargo do Conselho Monetário Nacional (CMN). Entidade subordinada ao CMN, o Banco Central do Brasil (BCB) atua para garantir o cumprimento dessas regras. O BCB tem, portanto, papel fundamental na execução da política cambial, como veremos mais à frente. ATENÇÃO A política cambial e os movimentos das taxas de câmbio afetam diretamente a vida de todos os cidadãos. Muitos itens consumidos são afetados pelos valores do câmbio, desde o agronegócio, em que os preços de alguns produtos e insumos são determinados pela moeda estrangeira, até a mineração e os produtos industrializados. Mesmo alguns bens produzidos no Brasil têm seu preço dependente de matéria-prima ou de peças adquiridas no exterior. Por outro lado, se uma taxa de câmbio muito apreciada (ou seja, com um Real forte) reduz a pressão externa nos preços de bens e serviços comercializados no país, ela tem o efeito de diminuir a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional, pois eles ficam mais caros em moeda estrangeira. A despeito do valor absoluto do câmbio, uma volatilidade muito grande nas taxas dificulta bastante a previsibilidade dos agentes econômicos, gerando incerteza e ineficiência na economia. REGIMES CAMBIAIS Por conta do que foi exposto anteriormente, uma das principais decisões tomadas pelo CMN é a definição do regime de câmbio a ser adotado no país. Esse regime pode ser fixo, flutuante ou administrado. REGIME DE CÂMBIO FIXO Como o próprio nome diz, a taxa de câmbio não se altera, sendo artificialmente mantida fixa pelo governo. Para manter essa taxa fixa, ele opera no mercado de câmbio, comprando e vendendo moeda estrangeira. Sua ação ocorre da seguinte forma: se a moeda estrangeira tende a se apreciar (ficar mais cara), o governo vende moeda estrangeira, aumentando sua oferta e reduzindo seu preço (cotação). Caso essa moeda se deprecie (fique mais barata), ele atua comprando-a, o que reduz sua oferta e aumenta sua cotação. Essas operações requerem a disponibilidade de grandes volumes de reservas para que o sistema funcione adequadamente. COMENTÁRIO O principal argumento para a utilização de câmbio fixo é o controle inflacionário. Segundo os defensores deste tipo de regime, atrelar o valor da moeda local a uma moeda estável pode evitar surtos de inflação. Seus críticos, por outro lado, argumentam que a manutenção artificial do câmbio em um valor fixo é de difícil sustentação em longo prazo, terminando inevitavelmente em uma crise cambial. Alguns países latino-americanos empregam atualmente este tipo de regime cambial, o que mantém suas moedas equiparadas ao dólar americano. Podemos citar como exemplos Equador, Panamá, El Salvador, Costa Rica, Haiti e Honduras. O regime de câmbio fixo foi adotado mais recentemente no Brasil na década de 1990 como forma de controlar a hiperinflação vivida pelo país até então. Essa estratégia foi bem sucedida naquele momento. Já na história econômica mundial, seu percurso é bastante interessante. PADRÃO-OURO Sistema monetário internacional utilizado entre 1870 e 1914, o padrão-ouro se baseava na teoria quantitativa da moeda elaborada por David Hume. Nesse sistema, cada banco era obrigado a converter as moedas em ouro sempre que houvesse o pedido para tal. O padrão-ouro consistia, portanto, em um regime cambial fixo com a moeda lastreada em determinada quantidade de ouro. Fonte: Pla2na/Shutterstock Os países comprometiam-se a manter a paridade de suas moedas com o ouro, comprando-o e vendendo-o quando fosse necessário. Se o balanço de pagamentos de um país fosse deficitário, ele deveria vender ouro para manter a paridade monetária. Caso contrário, deveria importá-lo. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) pôs um fim a esse sistema. BRETTON WOODS Em 1944, ainda durante a Segunda Grande Guerra, 44 países reuniram-se em Bretton Woods, localidade no estado de New Hampshire, para uma conferência. Foram definidas nela as regras de uma nova ordem monetária internacional. O acordo de Bretton Woods estabeleceu instituições que permanecem até os dias atuais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). COMENTÁRIO Com esse acordo, o dólar americano passou a estar vinculado ao ouro, em que cada onça troy (aproximadamente 28 gramas) correspondia a 35 dólares, enquanto os demais países comprometiam-se a manter suas moedas indexadas ao dólar. Os países podiam recorrer ao FMI para ajudá-los a manter essa indexação em situações mais difíceis. Em 1971, os Estados Unidos romperam o acordo, fazendo com que o dólar americano se tornasse a principal moeda de reserva internacional e que muitos países passassem a adotar o regime de câmbio flutuante. REGIME DE CÂMBIO FLUTUANTE Trata-se do regime cambial adotado atualmente no Brasil. No regime de câmbio flutuante, o valor das taxas de câmbio se dá livremente pelas condições de oferta e demanda do mercado. Se houver uma maior procura por moeda estrangeira, ela tenderá a se valorizar, depreciando a moeda local. Contudo, se a procura pela estrangeira for menor, sua tendência será a de se depreciar, valorizando a local. Vejamos um exemplo disso: Suponhamos que, em determinado momento, a taxa de câmbio entre reais (BRL) e dólares americanos (USD) seja tal que 1USD = 5BRL. Digamos agora que, devido a uma melhora no ambiente de negócios no Brasil e aos incentivos a grandes investimentos em infraestrutura, haja um grande fluxo de investidores estrangeiros em nossa economia. Neste caso, os dólares desses investidores serão convertidos em reais para poderem ser investidos nos projetos pelo Brasil. Isso fará com que a procura por reais aumente e ele se valorize frente ao dólar, ou seja, que este se deprecie frente àquele. Esse movimento gerará uma pressão na taxa de câmbio de tal forma que 1USD < 5BRL. Da mesma forma, se houver uma instabilidade política no país que afugente os investidores estrangeiros, eles irão converter seus reais em dólares, ou seja, haverá um aumento na demanda por dólares, o que fará com que ele se valorize frente ao real. Desta vez, a pressão do mercado fará com que a taxa de câmbio seja tal que 1USD > 5BRL. A demanda e a oferta por moeda estrangeira decorrem das atividades econômicas, como, por exemplo, importações, exportações, turismo, investimentos estrangeiros no Brasil e de brasileiros no exterior, além de remessa de juros e amortizações a credores externos e de capitais e dividendos por empresas multinacionais. Com isso, a demanda e a oferta são bastante afetadas por problemas como inflação, taxas de juros, balanço de pagamentos, estabilidade política, segurança jurídica e perspectivas econômicas dos agentes. ATENÇÃO Um regime de câmbio flutuante não exclui o fato de que o governo, por meio do Banco Central, atua nesse mercado. Certamente, o BCB não fará isso com o objetivo de determinar a taxa de câmbio, que flutua livremente; contudo, sua atuação será fundamental para, como veremos adiante, manter a funcionalidade desse mercado. REGIMEDE CÂMBIO ADMINISTRADO Esse regime também é chamado de regime de bandas cambiais, pois ele permite uma flutuação limitada da taxa de câmbio dentro de intervalos predeterminados (bandas cambiais). Dessa maneira, os governos estabelecem uma faixa cambial dentro da qual a taxa de câmbio pode flutuar livremente, intervindo apenas quando ela tende a sair do intervalo fixado. Fonte: Number1411/Shutterstock CRISES CAMBIAIS Com o fim do acordo de Bretton Woods e a disseminação dos regimes de câmbio flutuante, observaram-se diversas crises cambiais no mundo, que passaram a ser o objeto de estudo de muitos economistas. Consideraremos crises do tipo os eventos em que a taxa de câmbio de determinado país sofre uma forte depreciação em curto espaço de tempo. Desenvolvidas após o estudo de diversos economistas, as três gerações de crises cambiais serão analisadas a seguir: CRISES CAMBIAIS DE 1ª GERAÇÃO Neste tipo de modelo, as crises cambiais são causadas pela conjugação de políticas internas que geram deficit fiscal e um regime de câmbio fixo. Como o deficit fiscal — quando o governo gasta mais do que arrecada — precisa ser financiado por emissão de dívida ou diminuição das reservas internacionais, os governos possuem um estoque limitado de reservas para manter o câmbio fixo. Essas políticas acabam por esgotar tais reservas, tornando impossível a manutenção do regime de câmbio fixo. Caso as reservas se esgotem, os países teriam de emitir mais moeda para financiar seu deficit, o que geraria uma desvalorização da moeda local. Nesse momento, passaria a ser mais vantajoso deter a moeda estrangeira: sua cotação aumentaria abruptamente. Na verdade, os agentes sabem que isso ocorrerá. Tão logo percebam que as reservas estão fadadas a esgotarem-se no futuro, eles se antecipam e convertem seus ativos de moeda local para moeda estrangeira, fazendo com que as reservas se esgotem imediatamente e a local tenha uma forte desvalorização. Esses modelos descrevem de certa forma as crises observadas no México e na Argentina na década de 1980. No entanto, eles não correspondem às vividas na Europa no início dos anos 1990. CRISES CAMBIAIS DE 2ª GERAÇÃO Os países que sofreram ataques especulativos na Europa, no início da década de 1990, não apresentavam as condições prévias descritas nos modelos de 1ª geração. Isso fez com fossem desenvolvidos os de 2ª geração. Enquanto as respostas dos governos eram automáticas nos de 1ª geração, os modelos de 2ª geração previam uma ponderação deles sobre os custos de se manter o regime de câmbio fixo, ainda que possuindo condições para tal. Esses custos estão relacionados a consequências, como, por exemplo, aumento do desemprego e das taxas de juros ou baixo crescimento (caso a opção seja manter o regime de câmbio fixo). Segundo esses modelos, haveria três situações de equilíbrio possíveis: Caso os fundamentos estejam deteriorados, a crise é inevitável; Caso eles estejam bons, não haverá crise; Caso sejam intermediários, qualquer desfecho é possível. No exemplo europeu, os países enquadravam-se no terceiro caso. Apesar de os fundamentos não estarem ruins, o alto desemprego gerava pressões políticas para a desvalorização cambial, o que favoreceu o ataque especulativo às moedas. CRISES CAMBIAIS DE 3ª GERAÇÃO No final da década de 1990, uma série de países asiáticos foi afetada por crises cambiais. Elas apresentavam características distintas, o que propiciou o desenvolvimento dos modelos de 3ª geração. A principal característica dessa crise foi seu ponto de origem: uma crise bancária. Ela suscitou o surgimento de outra crise, a cambial, a qual, por sua vez, agravou a crise bancária, gerando um círculo vicioso. Nesses modelos, a crise decorre do choque entre dois objetivos dos bancos centrais: manter o câmbio fixo ou garantir o bom funcionamento do sistema bancário. Como eles se tornem incompatíveis, o regime de câmbio fixo termina por ser abandonado. As crises asiáticas (1997), assim como a crise da Rússia (1998) e do México (1995), precipitaram o abandono do regime de câmbio fixo no Brasil em 1998. Neste vídeo, entenderemos melhor os modelos de crises cambiais de 1ª, 2ª e 3ª gerações. RESERVAS INTERNACIONAIS Vimos que, nos regimes de câmbio fixo e administrado, as reservas internacionais são fundamentais para permitir que seja mantida a cotação da moeda local fixa ou que ela permaneça dentro da banda cambial. No entanto, mesmo no regime de câmbio flutuante, as reservas internacionais desempenham um papel relevante. Podemos observar no site do BCB que as reservas internacionais são definidas como ativos em moeda estrangeira do Brasil, funcionando como uma espécie de seguro para o país fazer frente a suas obrigações no exterior e a choques de natureza externa, como, por exemplo, crises cambiais e interrupções nos fluxos de capital para o país. O site ainda traz a figura a seguir, que mostra o volume de reservas internacionais do Brasil desde setembro de 2010. Elas giram em torno de US$350 bilhões. Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2020b Reservas internacionais brasileiras (out/2010 a out/2020). Com o regime de câmbio flutuante adotado pelo Brasil, as reservas internacionais permitem a manutenção do mercado de câmbio funcionando adequadamente. O BCB administra essas reservas, podendo operar nesse mercado para atenuar oscilações bruscas do real frente ao dólar. Desse modo, em vez de tentar manter fixa a cotação da moeda, a entidade atua para atenuar a volatilidade excessiva do câmbio e manter a estabilidade sistêmica. Apesar de poder operar diretamente com as reservas, o Banco Central também usa outro expediente nesse trabalho de prover previsibilidade e segurança no câmbio: o swap cambial. Em inglês, o termo swap significa “troca”. Ele é um instrumento derivativo muito utilizado. A partir do contrato de swap cambial, o investidor recebe do BCB um valor correspondente à variação cambial do período, protegendo- se, assim, dessas variações do câmbio. Em troca, o investidor paga ao Banco Central a variação da taxa de juros brasileira: a taxa Selic. Como este tipo de contrato não exige desembolso inicial, o BCB consegue atuar no mercado cambial sem utilizar diretamente suas reservas internacionais. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DETERMINADO PAÍS TEM BAIXA INFLAÇÃO, DÍVIDA E BALANÇO DE PAGAMENTOS ESTABILIZADOS, ALÉM DE UM SIGNIFICATIVO ESTOQUE DE RESERVAS. MESMO ASSIM, ELE POSSUI ALTO DESEMPREGO E BAIXO CRESCIMENTO. APÓS SER ALVO DE UM ATAQUE ESPECULATIVO CONTRA SUA MOEDA, O PAÍS DECIDE ABANDONAR O REGIME DE CÂMBIO FIXO UTILIZADO ATÉ ENTÃO. QUAL MODELO DE CRISE CAMBIAL MELHOR DESCREVE ESSA SITUAÇÃO? A) Modelo de 1ª geração. B) Modelo de 2ª geração. C) Modelo de 3ª geração. D) Tanto o modelo de 1ª geração quanto o de 3ª explicam adequadamente a situação descrita no enunciado. E) Esta não é uma situação de crise cambial que possa ser explicada por modelos econômicos. 2. ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA. A) No regime de câmbio fixo, os governos atuam no mercado de câmbio para manter a taxa de câmbio artificialmente fixa. B) No regime de câmbio flutuante, a taxa de câmbio é determinada exclusivamente pela oferta e pela demanda por moeda local e estrangeira. C) O regime de câmbio administrado é um híbrido entre o câmbio fixo e o flutuante, com os governos definindo faixas em que a taxa de câmbio pode flutuar livremente. D) As reservas cambiais não são importantes no regime de câmbio fixo. E) O padrão-ouro pode ser considerado um sistema de câmbio fixo. GABARITO 1. Determinado país tem baixa inflação, dívida e balanço de pagamentos estabilizados, além de um significativo estoque de reservas. Mesmo assim, ele possui alto desemprego e baixo crescimento. Após ser alvo de um ataque especulativo contra sua moeda, o país decide abandonar o regime de câmbio fixo utilizado até então. Qual modelo de crise cambial melhor descreve essa situação? A alternativa "B " está correta. O modelo de
Compartilhar