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26 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Unidade II 5 EMERGÊNCIAS TRAUMÁTICAS O trauma é a terceira causa mais comum de morte, sendo entendido como uma doença de caráter endêmico na sociedade moderna, não abalando apenas o campo da saúde pública, mas também o plano sociopolítico da sociedade. Como tal, pode ser prevenido por meio de campanhas educativas e de capacitação profissional. É considerado uma epidemia mundial, tendo como custo global um valor que excede os 500 bilhões de dólares anualmente, fato que assume proporções maiores caso se considerem as perdas salariais, as despesas médicas, os danos ao patrimônio, a perda de força de trabalho e os prejuízos indiretos decorrentes de acidentes de trabalho, além de levar-se em conta que ele acomete os membros mais jovens e potencialmente mais produtivos da sociedade. Por ser considerado uma doença, uma vez que tem um agente (energia), um vetor (exemplos: veículo automotor, arma de fogo etc.) e um hospedeiro (o paciente), deve ser abordado com estratégias de prevenção, diagnóstico precoce, tratamento adequado e reabilitação, no intuito de reduzir a morbidade e a mortalidade. A distribuição temporal das mortes por trauma descreve uma curva de três picos, a saber: • Primeiro pico (morte imediata): ocorre nos primeiros segundos ou minutos após a lesão, com a mínima chance de reversão, decorrente de traumatismo cranioencefálico, trauma raquimedular ou ruptura da aorta, de vasos do coração ou de outros grandes vasos. • Segundo pico (morte prematura): engloba o denominado “tempo de ouro” (golden hour), ocorrendo de minutos até várias horas após a lesão; decorrente de hematomas cerebrais, trauma torácico, ruptura de baço, laceração do fígado, fratura pélvica e/ou grandes lesões e hemorragias intensas. Tal conceito é a janela de oportunidade durante a qual a equipe médica pode ter êxito no atendimento, reduzindo a morbidade e a mortalidade relacionadas ao trauma. • Terceiro pico (morte tardia): decorre entre vários dias e semanas após a lesão inicial, em virtude de infecções generalizadas e da falência de múltiplos órgãos. O atendimento realizado durante as fases anteriores tem impacto sobre o prognóstico nesse estágio. Essa distribuição temporal das mortes tende a refletir o quanto se tem de investir no cuidado pré-hospitalar e hospitalar ao trauma, bem como nos programas de prevenção de acidentes. Outro fator seria a necessidade de estabelecer uma padronização do atendimento a esse público. 27 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Diante do exposto, o American College of Surgeons (ACS), por acreditar que um atendimento apropriado e padronizado possa melhorar significativamente o prognóstico dos pacientes traumatizados e com o intuito de aprimorar o cuidado de pacientes cirúrgicos, criou, em 1978, juntamente com o seu o Comitê de Trauma, o ATLS, sigla correspondente a Advanced Trauma Life Support, ou Suporte Avançado de Vida no Trauma (SAVT), em português. 5.1 Traumatismos cranioencefálico, cervical, torácico, abdominal, pélvico e genital Trauma cranioencefálico (TCE) O traumatismo cranioencefálico (TCE) ou as lesões cerebrais traumáticas (LCT) ainda representam uma alta taxa de mortalidade nas situações de emergências, seja precedido de uma eventual e simples queda da própria altura, como é visto nos extremos de idade (crianças e idosos); seja em decorrência de acidentes automobilísticos, que lideram as causas de TCE que potencialmente levarão a óbito ou deixarão sequelas físicas permanentes na faixa etária de adolescentes e adultos jovens. A lesão pode ser originada por um trauma ou pela penetração de algum corpo estranho na cabeça que provoque impacto direto no tecido cerebral. Os traumatismos por impacto podem resultar de forças de desaceleração e/ou aceleração; em muitos casos, esses fenômenos ocorrem simultaneamente. As alterações e perdas funcionais estão diretamente relacionadas às lesões cerebrais sofridas. As mais comuns são: Fraturas de crânio Frequentemente, as fraturas de crânio não causam déficits aparentes, contudo não podemos deixar de destacar sua gravidade, podendo ser classificadas em aberta, fechada, na calota craniana ou na base do crânio caracterizadas pela presença de sangramento no ouvido ou no nariz, otorreia, ou rinorreia, equimose retroauricular (Sinal de Battle), e edema e hematoma periorbital (olhos de guaxinim). As fraturas expostas têm sua importância devido à quebra de barreira e à propensão para processos infecciosos como a meningite. Concussão Consiste numa lesão cerebral caracterizada por cefaleias, vertigens, dificuldade de concentração, perda de memória temporária, fadiga e alterações do nível de consciência (confusão, desorientação e perda total). Contusão É caracterizada por uma lesão que produz uma hemorragia cerebral decorrente de um mecanismo de aceleração/desaceleração. Os sinais variam de pequenos déficits a grandes hemorragias e edema cerebral. 28 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Hematoma cerebral Os traumatismos cranianos, geralmente, resultam em hematomas, e estes podem produziu danos pelo efeito de pressão e deslocação do conteúdo intracraniano. Sob o ponto de vista anatômico, têm-se dois tipos principais de hematomas: os extraparenquimatosos (fora do tecido cerebral), que são o epidural e o subdural; e o intraparenquimatoso, que danifica diretamente o tecido cerebral. • Hematoma epidural: é o acúmulo de sangue no espaço entre a calota craniana e a dura-máter, que normalmente é drenado da artéria meníngea média que está localizada sob o osso temporal. Esse tipo de hematoma pode evoluir, com efeito de massa, comprimindo as estruturas cerebrais, elevando a pressão intracraniana e a gravidade do caso; contudo, uma rápida intervenção cirúrgica de drenagem desse hematoma tem um potencial de recuperação excelente. • Hematoma subdural: é o sangue venoso represado no espaço existente entre a dura-máter e a aracnoide, e que pode se apresentar de duas maneiras distintas: em uma delas assume volume de massa, comprime as estruturas cerebrais e leva a um quadro agudo de hipertensão intracraniana, necessitando de intervenção cirúrgica de emergência; por outro lado, em outras situações clínicas específicas, como em idosos após queda da própria altura, o hematoma subdural se acomoda nesse espaço sem causar danos às estruturas adjacentes e sem sintomatologia aparente, sendo o diagnóstico feito anos depois, dada a sua cronicidade. Nos casos em que o hematoma assume efeito de massa, a vítima pode relatar cefaleia, distúrbios na fala e visuais, além de alterações na personalidade e de força muscular (paresia e plegia). Hemorragia subaracnoidea Compreende o sangramento no espaço que cobre o cérebro, associada, na grande maioria das vezes, à ruptura de um aneurisma, contudo, segundo as estatísticas, as maiores causas desse tipo de sangramento são as pós-traumáticas. Apesar de não ter efeito de compressão, o sangue aumenta o risco de complicações que levam à hipertensão intracraniana (HIC). Primeiros socorros: • Acionar o sistema de APH ou priorizar o transporte. • Realizar o exame primário: CAB da vida. • Imobilizar a coluna cervical: em caso de suspeita de fratura. • Observar a presença e a exteriorização de fluidos pelo nariz e ouvido; se presente, não fazer tamponamento. 29 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Observação Os ferimentospor arma de fogo estão entre as principais causas de TCE atualmente, há de se destacar que esse tipo de ferimento pode comprometer estruturas anexas, aumentar o edema cerebral e piorar o acesso a uma via de suporte ventilatório para a vítima. Trauma cervical O trauma cervical pode ser considerado um das situações de emergências que requerem mais cautela por parte do socorrista, seja ele leigo ou não, pois numa simples mudança de posição, a vítima poderá ter sequelas motoras irreversíveis, ou até invalidez permanente, pois a medula espinhal é responsável pela condução de impulsos nervosos motores e sensitivos do cérebro para as extremidades. As fraturas da coluna cervical e vertebral são decorrentes de uma força ou pressão excessivas no pescoço ou na coluna, geradas por acidentes de trânsito, quedas, mergulho em piscina, prática de alguns esportes e lesões por trauma penetrante (arma de fogo). Para o atendimento inicial de uma vítima com suspeita de trauma raquimedular, devemos atentar para alguns sinais, como: • Alteração do nível de consciência (estado mental que prejudique a sensibilidade e o controle da dor). • Dor ou sensibilidade na região cervical. • Alterações motoras e sensitivas (perda total ou parcial dos movimentos nas extremidades – paralisia ou paresia – e/ou perda total ou parcial da sensibilidade nas extremidades: anestesia ou parestesia). • Posicionamento anormal da cabeça ou do pescoço. Observação Algumas situações podem prejudicar a avaliação de uma vítima com provável lesão medular, como casos de intoxicação, presença de outras lesões extremamente dolorosas e falhas no processo de comunicação (idioma, problemas auditivos, pouca idade, déficit cognitivo, entre outros). Nessas ocorrências, a imobilização torna-se uma medida prioritária no pré-hospitalar. 30 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Primeiros socorros: • Acionar o sistema de APH ou priorizar o transporte. • Realizar o exame primário – CAB da vida. • Realizar imobilização da coluna cervical aos pequenos sinais ou mesmo suspeita de fratura ou lesão. • Controlar hemorragias. • Transferir a vítima para uma prancha rígida. • Realizar imobilização do tronco e dos membros nesse dispositivo. • Colocar a cabeça em posição neutra e alinhada. • Realizar o exame secundário: consciência – AVDI. • Transportar a vítima para local especializado. Trauma torácico A região torácica compreende os órgãos responsáveis pela oxigenação sanguínea e perfusão tissular, logo, vítimas de trauma torácico devem ser consideradas em estado grave, mesmo que não apresentem sinais clínicos aparentes. Nos traumatismos fechados de tórax ou contusões torácicas, não há lesão aparente na pele, contudo, nos traumatismos abertos ou ferimentos torácicos, podem surgir complicações maiores, podendo ser chamados de penetrantes quando atingem a pleura, o pericárdio ou o mediastino e levam a alterações respiratórias e metabólicas acentuadas, que podem ser agravadas pela idade do acidentado ou pela existência de processos patológicos cardiopulmonares anteriores. Em relação à localização, o ferimento pode ser torácico, cervicotorácico e toracoabdominal. Fratura de costelas Apesar da proteção advinda de uma camada muscular, as fraturas de costelas não são raras no trauma torácico, e são potencialmente fatais na população idosa. As fraturas de costelas inferiores, contudo, são consideradas as mais graves, uma vez que podem evoluir para o choque decorrente de lesões de órgãos localizados próximos dessa região, como o fígado e o baço. Na avaliação pode-se encontrar queixa de dor torácica e dispneia, podendo evoluir com alteração dos sinais vitais. 31 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Primeiros socorros: • Acionar o sistema de APH ou priorizar o transporte. • Realizar o exame primário – CAB da vida. • Aliviar a dor e tranquilizar a vítima. • Orientar a inspiração profunda e estimular a tosse para evitar atelectasia. • Instalar oxigênio – se necessário. • Evitar o uso de bandagens torácicas. • Transportar para local especializado. Contusão pulmonar É o tipo de trauma caracterizado pela laceração do tecido pulmonar com consequente extravasamento de sangue para dentro do parênquima pulmonar, dificultando a troca gasosa, podendo instalar-se até 24 horas após o trauma primário. Os achados clínicos estão diretamente associados à parte do pulmão afetada, o que justifica o alto índice de mortalidade, contudo, pode ser assintomático nas primeiras horas ou apresentar discreta dispneia. Primeiros socorros: • Acionar o sistema de APH ou priorizar o transporte. • Realizar o exame primário – CAB da vida. • Tranquilizar a vítima. • Instalar oxigênio – se necessário. • Avaliar constantemente os sinais de desconforto respiratório. • Transportar para local especializado. Pneumotórax É caracterizado pela presença de ar na cavidade pleural, que se agrava com o aumento desse volume de ar, propiciando um colabamento do pulmão afetado. 32 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Os achados clínicos vão variar de acordo com o grau de comprometimento pulmonar, que pode ser detectado por dor torácica e desconforto respiratório se for o pneumotórax simples; taquipneia, ansiedade, pulso fino e filiforme, movimentos respiratórios com ruídos audíveis e dispneia intensa, se for pneumotórax aberto; taquicardia, taquipneia, estase de jugular, agitação intensa, sofrimento respiratório, desvio traqueal, aumento da pressão intratorácica culminando em choque e óbito, se for pneumotórax hipertensivo. Primeiros socorros: • Acionar o sistema de APH ou priorizar o transporte. • Realizar o exame primário – CAB da vida. • Avaliar necessidade de imobilização cervical. • Tranquilizar a vítima. • Instalar oxigênio – se necessário. • Avaliar constantemente os sinais de desconforto respiratório a fim de evitar a evolução para um pneumotórax hipertensivo. • Realizar selagem (curativo de três pontas) de lesão aberta – em caso de pneumotórax aberto. • Transportar para local especializado – urgente. Trauma na região abdominal Por constituírem uma lesão de difícil diagnóstico, os traumas abdominais são os mais letais, talvez pela grande perda sanguínea decorrente de lesões nos órgãos localizados nessa cavidade e pelo atraso de um tratamento definitivo e potencialmente curativo. Ferimentos penetrantes Em geral, os ferimentos penetrantes se dão ou por arma branca (FAB) ou arma de fogo (FAF). O FAB produz uma força de energia cinética baixa que lesa apenas os órgãos e tecidos existentes no trajeto da lâmina e raramente atinge a cavidade peritoneal. Quando a arma utilizada é de fogo (FAF), pode atingir uma energia cinética alta, capaz de criar cavidades temporárias, além da lesão do trajeto do projétil que pode atravessar o peritônio e perfurar órgãos internos. Trauma fechado Caracteriza-se pela atuação do agente traumático sobre a parede abdominal, como acidentes automobilísticos, atropelamento, quedas de altura considerável, prática de alguns esportes, dentre 33 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA outros. Produzem uma força de compressão que lacera o órgão e o cisalhamento que esgarça os pontos de fixação dos órgão, e podem levar a rupturas de estruturas abdominais internas. Os achados clínicos vão depender da evolução do choque hemorrágico, logo, se pode ter alteração donível de consciência, da respiração e da frequência cardíaca, além de pele fria e pegajosa, presença ou não de alguma lesão abdominal, dor e rigidez abdominal. O atendimento pré-hospitalar deve priorizar sempre o transporte imediato da vítima, em caso de suspeita ou evidência de uma hemorragia intra-abdominal. Primeiros socorros: • Acionar o sistema de APH ou priorizar o transporte. • Realizar o exame primário – CAB da vida. • Realizar imobilização. • Tranquilizar a vítima. • Instalar oxigênio – se necessário. • Controlar a hemorragia com compressão direta. • Transportar para local especializado com equipe cirúrgica – urgente. Conduta na presença de objetos encravados: • Não tentar retirar o objeto. • Imobilizar a vítima para que não faça movimentos durante o transporte. • Realizar compressão direta se houver presença de sangramento ativo. Trauma aberto Pode ser constituído de uma simples ferida até uma ruptura da parede abdominal suficiente para ocorra uma evisceração. Conduta nas eviscerações: • Expor o local da lesão. • Não tocar nas vísceras. 34 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II • Não tentar recolocá-las na cavidade abdominal. • Manter a umidificação com gaze estéril umidificada por soro fisiológico estéril. • Efetuar curativo oclusivo com plástico estéril. • Manter o aquecimento da vítima. • Encaminhar para o serviço especializado rapidamente. Trauma de pelve A pélvis é uma estrutura que protege o sistema urinário, grandes vasos e nervos dos membros inferiores, podendo resultar numa disfunção urológica e neurológica com perigo de vida em caso de hemorragias. O traumatismo pélvico, frequentemente, é decorrente de acidentes automobilísticos, queda ou esmagamento. A maior parte das lesões da pélvis envolve fratura, com ou sem lesão dos tecidos subjacentes. São classificadas em estáveis, com ruptura do arcabouço ósseo da pélvis ou cóccix, sem deslocamento, e instáveis, em que há fraturas em mais de um local ou no acetábulo. A vítima pode apresentar hematomas perineais, que indicam extravasamento de urina ou sangue, dor à palpação ou crepitação nas cristas ilíacas, sensação de formigamento e diminuição de força em membro inferior e urina com sangue. As fraturas da pelve devem ser consideradas graves, considerando a possibilidade de perfuração de estruturas importantes, como bexiga, intestinos ou outros órgãos. A vítima pode apresentar sinais de choque por perda de sangue (externo ou interno), dor intensa e falta de movimentos de membros inferiores. Trauma genital O traumatismo genital raramente é decorrente de uma ação isolada, está associado a outros traumas como: torácico, abdominal e pélvico. É classificado como de impacto, desencadeado por desaceleração, e penetrante, quando resultante de punhaladas ou acidentes com arma de fogo na região abdominal ou nas costas, sendo caracterizado pela presença de contusões abdominais, hematomas e sangue no meato urinário. 5.2 Emergências músculo-esqueléticas: fraturas, luxações, entorses e distensões Fraturas Resultam da ruptura na continuidade do osso, sendo definidas de acordo com seu tipo e sua extensão. Acontecem quando o osso é exposto a um estresse maior do que ele pode suportar, seja por impacto direto, forças de esmagamento, movimentos de torção repentinos ou contrações musculares extremas. 35 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA As fraturas podem ser classificadas como fechadas, em que há lesão do tecido ósseo, mas sem perda da continuidade da pele e com aparecimento de algum ferimento; e expostas, em que o fragmento ósseo, normalmente pontiagudo, transfixa facilmente a pele, ocasionando a exposição do tecido. Outro ponto importante a ser mencionado é o alto riso de infecção nesse tipo de lesão devido ao grau de exposição óssea durante o acidente. Os sinais e sintomas evidenciados nas fraturas fechadas incluem a dor intensa, que aumenta com o movimento, edema do ponto fraturado, deformidade de contorno, perda de função (dificuldade de movimento), posição anormal do membro fraturado, mobilidade insólita de um ponto, como se ali houvesse uma nova articulação e sensação de crepitação na palpação. Observação Não é raro que, durante a avaliação, a vítima possa realizar movimentos no membro fraturado e relatar escores de dor muito baixos, essa tolerância à dor e à movimentação deve-se à descarga intensa de adrenalina na corrente sanguínea durante o trauma. Nas fraturas expostas, o sinal mais evidente é o sangramento, que pode ser persistente ou não dependendo da lesão, da camada medular óssea e da presença de perfuração de órgãos internos. Primeiros socorros: • Acionar o serviço de atendimento pré-hospitalar. • Realizar o exame primário – CAB da vida. • Controlar a hemorragia – o controle da hemorragia é crucial na primeira fase do tratamento. • Tratar o estado de choque, caso seja presente. • Imobilizar a área afetada – colocar o membro na posição anatômica normal. • Manter o membro imobilizado em nível mais elevado que o resto do corpo. • Realizar compressas de gelo – para diminuir o edema, a dor e a progressão do hematoma. • No caso de exposição óssea, cobrir a área com compressas ou gaze. • Avaliar perfusão distal do membro afetado. • Encaminhar para atendimento hospitalar especializado. 36 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Figura 4 – Fratura fechada Luxação É a ruptura ligamentar que desloca duas superfícies articulares dos ossos formadores das articulações, levando à uma instabilidade óssea. A sintomatologia inclui dor local, edema, dificuldade de movimentação, deformidade da articulação e hematoma. Observação A dor só irá melhorar quando essa articulação for colocada em sua posição natural, ato que só deve ser realizado por médicos, sob pena de piorar a lesão. O atendimento inicial é muito similar ao da fratura. Primeiros socorros: • Acionar o serviço de atendimento pré-hospitalar. • Realizar o exame primário – CAB da vida. • Imobilizar a área afetada. 37 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA • Manter o membro imobilizado em nível mais elevado que o resto do corpo. • Realizar compressas de gelo para diminuir o edema, a dor e a progressão do hematoma. • Avaliar perfusão distal do membro afetado. • Transferir rapidamente para atendimento hospitalar especializado. Figura 5 – Luxação Entorse É a torção forçada de uma articulação, que estira ou rompe seus ligamentos, mas não desloca os ossos. Os ligamentos são estendidos além de suas capacidades, sendo comum nos membros inferiores, principalmente, nos joelhos e tornozelos. Pode levar à dor intensa, quando ocorre a movimentação; ocasionar considerável edema, decorrente da ruptura dos vasos sanguíneos; e equimose no local, extravasamento de líquidos (sangue) levando a hematomas, além de aumento da temperatura e dificuldade para movimentar ou apoiar o membro acometido. 38 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Figura 6 – Entorse Primeiros socorros: • Acionar o serviço de atendimento pré-hospitalar. • Realizar o exame primário – CAB da vida. • Imobilizar a área afetada – não colocar em posição anatômica. • Manter o membro imobilizado em nível mais elevado que o resto do corpo. • Realizar compressas de gelo – para diminuiro edema, a dor e a progressão do hematoma. • Fazer uma atadura compressiva para controlar o sangramento, reduzir o edema e fornecer suporte para os tecidos lesionados. • Transferir rapidamente para atendimento hospitalar especializado. Distensão É uma tração muscular, ou seja, lacerações musculares microscópicas e incompletas induzidas pelo uso, alongamento ou estresse excessivos, com sangramento no tecido, sendo comum ocorrer nos músculos que movimentam duas articulações, como os músculos posteriores da coxa, que flexionam os joelhos e estendem a articulação dos quadris; o quadríceps, na face anterior da coxa; o gastrocnêmio, na panturrilha; e o bíceps, no braço. 39 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA A vítima sofre uma dor aguda, o aumento da sensibilidade no momento da lesão e pode apresentar edema e equimose após 24 horas. Primeiros socorros: • Acionar o serviço de atendimento pré-hospitalar. • Realizar o exame primário – CAB da vida. • Imobilizar a área afetada – não colocar em posição anatômica. • Manter o membro imobilizado em nível mais elevado que o resto do corpo. • Realizar compressas de gelo para diminuir o edema, a dor e a progressão do hematoma. • Fazer uma atadura compressiva para controlar o sangramento, reduzir o edema e fornecer suporte para os tecidos lesionados. • Transferir rapidamente para atendimento hospitalar especializado. 5.3 Imobilizações, transporte e atendimento adequado das vítimas de trauma Imobilização A fratura consiste em qualquer interrupção da continuidade de um osso, podendo ser caracterizada por dor local; hematoma; deformidade; incapacidade funcional; mobilidade anormal e crepitação óssea. Sempre que exista a suspeita de lesão osteoarticular, nunca se deve tentar movimentar a parte afetada, uma vez que uma precipitada ou incorreta atuação pode agravar o quadro, como a ruptura de um vaso sanguíneo ou nervo pela deslocação de um fragmento ósseo. Ao se suspeitar de uma fratura, antes do transporte da vítima, deve-se aplicar alguma forma de imobilização, mesmo que seja improvisada, com os elementos que se tenha à mão, de modo a assegurar que a parte lesionada não se movimente. Se apenas uma articulação for acometida, a imobilização de um ligamento é suficiente, contudo se houver a presença de fratura é preciso imobilizar as duas articulações das extremidades; ou seja, se a fratura for nos membros inferiores, deve-se imobilizar o joelho e o tornozelo e, se for em membro superior, deve-se imobilizar o cotovelo e o pulso. Para fazer uma imobilização, pode-se improvisar uma tala, amarrando delicadamente o membro lesado (braços ou pernas) a uma superfície, como uma tábua, revista dobrada ou vassoura, e utilizar tiras de pano, ataduras ou cintos, sem apertar muito para não dificultar a circulação sanguínea. O comprimento das talas deve ultrapassar as articulações acima e abaixo do locar da fratura e sustentar o membro atingido. Ao imobilizar braços e pernas, devem-se deixar os dedos visíveis, de modo a verificar 40 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II qualquer alteração, ao passo que se os membros estiverem edemaciados ou com hematomas, as tiras deverão estar mais frouxas. Não esquecendo de nunca fixar no local da fratura. Em casos de fratura de punho, antebraço, cotovelo, costelas ou clavícula, uma tipoia pode ser confeccionada com um pedaço grande de tecido com as pontas presas ao redor do pescoço, contudo, somente pode ser usada se o braço ferido puder ser flexionado sem dor ou se ele já estiver nessa posição. Figura 7 – Imobilização de proteção Na fratura de fêmur e de pelve (bacia) deve-se: • Imobilizar totalmente os membros inferiores, incluindo-se a articulação do quadril. • Utilizar cobertores, talas rígidas grandes e bandagens triangulares ou tiras de pano para fixação. • Nos casos de fraturas de pelve e fêmur com grande hemorragia, deve-se prevenir o estado de choque e priorizar o transporte. Métodos de transporte e atendimento adequado das vítimas de trauma O transporte das vítimas de trauma requer do socorrista o máximo cuidado para que não se agravem as lesões já existentes ou se originem outras, contudo deve-se primeiramente, assegurar as funções dos sinais vitais, controlar as hemorragias e imobilizar devidamente as fraturas. 41 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Recomenda-se o transporte de vítimas de trauma nos seguintes casos: vítima inconsciente, estado de choque instalado, grande queimado, hemorragia abundante, choque, envenenamento, picada de animal peçonhento e acidentado com fratura de membros inferiores, bacia ou coluna vertebral. Transporte com apoio Passa-se o braço da vítima por trás da nuca do socorrista, que segurando-a com um dos braços, passa o outro por trás das costas da vítima, na diagonal. Esse tipo de transporte é utilizado para as vítimas de vertigem ou desmaio, com ferimentos leves ou com pequenas perturbações, sem alteração de consciência e da marcha. Figura 8 – Transporte de apoio Transporte no colo Um socorrista pode levantar e transportar a vítima, colocando um braço debaixo dos joelhos e o outro em torno de suas costas. É utilizado em casos de envenenamento, sem alteração da consciência ou fraturas (exceto na coluna). 42 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Figura 9 – Transporte no colo Transporte nas costas A vítima coloca os braços sobre os ombros do socorrista e este segura à sua frente os braços da vítima. Usa-se em casos de envenenamento ou em caso de entorses e luxações dos membros inferiores, previamente imobilizados. Figura 10 – Transporte nas costas 43 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Manobra para retirada da vítima com suspeita de fratura de coluna O socorrista deve se posicionar atrás da vítima, colocando as mãos sob as axilas, segurando um de seus braços de encontro ao seu tórax e a arrastá-la para fora do veículo, apoiando a região dorsal nas coxas. Contudo essa manobra deve ser feita apenas em situações de extrema urgência. Figura 11 – Retirada de vítima de veículo com suspeita de lesão na coluna cervical Transporte de apoio de dois socorristas Quando a vítima for obesa, serão necessários dois socorristas que irão passar o braço da vítima pelos seus ombros, segurando-a com um dos braços e passando o outro braço por trás das costas da vítima, em diagonal. Esse tipo de transporte é usado em caso de vertigem ou desmaio, na presença de ferimentos leves ou leve alteração do nível de consciência. Figura 12 – Transporte de apoio em dois 44 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Transporte de maca O transporte de maca consiste no melhor meio de transporte, pois mantem o alinhamento corporal. Contudo, deve-se lembrar de estabilizar vias aéreas e sinais vitais. Figura 13 – Transporte em maca 5.4 Ferimentos em tecidos moles Podem-se classificar os tecidos moles em pele, órgão internos, músculo e tecido adiposo, e compreender que o ferimento nessas áreas pode ser aparente ou não, algo como uma lesão interna. Contudo, para se avaliar de maneira mais criteriosa, é preciso entender alguns aspectos referentes às feridas ou lesões, as quais são resultantes de agressão sofridanos tecidos e causadas por agentes externos de natureza diversa: cortantes, contundentes ou perfurantes. A lesão será considerada um ferimento, que poderá ser superficial ou profundo, aberto ou fechado. A ferida é caracterizada pela descontinuidade do tecido epitelial, das mucosas ou dos órgãos por fatores extrínsecos ou não, com comprometimento da função básica. Alguns fatores devem ser considerados ao se avaliar uma ferida, entre eles: etiologia, tempo de surgimento, características da lesão (extensão, profundidade), presença de edema e exsudato (seroso, purulento) e dor. Uma vez instalada a lesão, tem-se início o processo de cicatrização, desencadeado por uma reação inflamatória, que está diretamente relacionada com o agente agressor (limpo ou contaminado), com posterior vasoconstrição, vasodilatação e exsudação, além de reações hemostáticas para a formação do coágulo, e outras reações celulares para que se consolide o processo de cicatrização. 45 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA As feridas podem ser classificadas segundo alguns aspectos: Fator etiológico De acordo com o fator etiológico, as feridas podem ser classificadas como cirúrgicas e traumáticas. As feridas cirúrgicas ou incisivas são aquelas provocadas intencionalmente, sem perda tecidual aparente e com bordas aproximadas por sutura simples. Em relação às feridas traumáticas, é possível subcategorizá-las levando em consideração a origem desse trauma, se foi fator mecânico, químico e/ou físico. Se a origem da lesão for mecânica, as feridas podem ser denominadas: • Escoriações ou abrasões: produzidas pelo atrito de uma superfície áspera e dura contra a pele e que frequentemente contêm partículas de corpo estranho (cinza, graxa, terra). • Incisas ou cortantes: provocadas por agentes perfuro-cortantes, com predomínio do comprimento sobre a profundidade, têm bordas regulares, nítidas e retilíneas. • Corto-contusas: caracterizadas pela penetração do instrumento (FAB), adquirindo um formato irregular e com perda de tecido epitelial, podendo ser profundas ou superficiais, o que pode levar a quadros hemorrágicos e à presença de equimoses e hematomas. • Perfurantes: nesse tipo de ferimento, a gravidade é determinada se algum órgão interno houver sido atingido e de acordo com a capacidade de sangramento dele, pois o agente causador será longo, pontiagudo e vai transfixar a pele e o órgão. • Perfuro-contusas: normalmente produzidas por um projétil de arma de fogo, este ferimento terá um ou dois orifícios (entrada e saída) e um trajeto que pode transfixar o corpo ou permanecer alojado em suas estruturas, com graves danos à vítima, incluindo uma grande hemorragia interna. • Lacero-contusas: lesões com bordas irregulares em mais de um ângulo, decorrente da força de compressão, que causa esmagamento da pele, e de uma tração que leva a uma lesão tecidual. As lesões de origem química são decorrentes de produtos químicos e/ou tóxicos, e as de origem física são lesões decorrentes da exposição ao frio, calor ou radiação. Grau de contaminação De acordo com o grau de contaminação, as feridas podem ser divididas em limpas, que são aquelas sem processo inflamatório; limpas-contaminadas, que não têm nenhum processo inflamatório aparente 46 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II e apresentam um tempo de evolução inferior a seis horas; contaminadas, as quais também não apresentam sinais de infecção e têm tempo de evolução maior que oito horas; e, por fim, as infectadas, em que se observa intensa reação inflamatória local e presença de agente infeccioso. No que tange ao cuidado primário com esse tipo de trauma e como orientação geral: lave o ferimento com água corrente ou soro fisiológico, para remover partículas de corpo estranho, e, na sequência, cubra com gaze estéril. Entretanto, a particularidade de cada ferimento deve ser considerada. Nas escoriações, lave com água corrente ou soro fisiológico, sem provocar atrito. Se disponível, instile uma solução antisséptica antes do curativo. Recubra a área escoriada com gaze estéril, fixando-a com fita adesiva ou, em área muito grande, com atadura ou bandagem triangular. Nas feridas incisivas, aproxime e fixe suas bordas com um curativo compressivo, utilizando atadura ou bandagem triangular. Nas feridas lacerantes, controle o sangramento e proteja-as com uma gaze estéril firmemente pressionada. Lesões graves podem exigir a imobilização da parte afetada. Todos os ferimentos extensos ou profundos devem ser avaliados em hospital. Oriente qualquer vítima de ferimento a procurar o serviço de saúde mais próximo, para atualizar sua imunização contra tétano. Além dos cuidados gerais, deve-se: • Acionar o sistema de APH ou priorizar o transporte, especialmente nos ferimentos que estejam em cavidades. • Tranquilizar a vítima e colocá-la em decúbito dorsal, em situações mais graves. • Expor o ferimento, removendo ou cortando as vestes. • Prevenir o estado de choque, se houver presença de hemorragia intensa. 5.5 Ferimentos com objetos empalados Ferida que tem um objeto penetrante e está parcialmente exteriorizado. Para o atendimento o objeto deve ser estabilizado na posição encontrada, independentemente da região do corpo afetada. 47 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Figura 14 – Objeto empalado Além dos cuidados gerais, deve-se: • Acionar o sistema de APH ou priorizar o transporte. • Controlar sangramentos externos. • Expor a lesão, retirando a roupa. • Nunca remover o objeto ou permitir que a vítima o faça. • Estabilizar o objeto antes de movimentar a vítima. • Dar suporte emocional à vítima, durante o atendimento ou transporte. 5.6 Amputação Decorre de toda lesão resultante da separação de uma das extremidades ou de uma estrutura protuberante do corpo humano, decorrente de injúrias envolvendo objetos cortantes, esmagamento ou forças de tração. Está frequentemente relacionada a acidentes de trabalho e automobilísticos, e sua maior prevalência está relacionada a homens jovens. A amputação pode ser: • Completa ou total: o segmento é totalmente separado do corpo. • Parcial: o segmento tem 50% ou mais de área de separação do corpo. 48 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Desenluvamento Decorrente do descolamento da pele e do tecido adiposo do tecido subjacente à lesão, mas não há separação das partes. Figura 15 – Desenluvamento Em virtude da possibilidade de reimplantação, o atendimento inicial deve ser rápido, preservando-se o membro amputado. Há também o risco de morte por hemorragia, logo, o controle desta é crucial na primeira fase do atendimento. Primeiros socorros: • Realizar o exame primário – CAB da vida. • Controlar a hemorragia – o controle da hemorragia é crucial na primeira fase do tratamento. • Tratar o estado de choque, caso esteja presente. • Realizar os cuidados com o segmento amputado: — Limpar com solução salina ou água estéril, sem imersão em líquido. — Envolver em gaze estéril ou tecido limpo e seco. — Cobrir a área ferida com compressa embebida em solução salina. — Proteger o membro amputado em saco plástico e mantê-lo em contato com superfície gelada, contudo, nunca colocá-lo diretamente em contato com gelo. — Remover a vítima o mais rapidamente possível para o hospital. 49 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on- 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA 5.7 Ferimentos em áreas específicas: olhos, orelhas e nariz Ferimentos nos olhos Normalmente são originados por algum corpo estranho, queimadura, luminosidade excessiva, agente químico, lacerações e contusões. Causam dor, irritação, ardência e sensação de visão turva. Podem provocar lesão irreversível, cegueira e até exteriorização do globo ocular. Primeiros socorros: • Realizar o exame primário – CAB da vida. • Realizar a irrigação ocular com soro fisiológico ou água durante vários minutos em caso de lesão por agentes químicos ou na presença de corpos estranhos. • Não utilizar medicamentos tópicos (colírios ou anestésicos) sem prescrição. • Não remover objetos empalados. Estabilizá-los com curativo apropriado não compressivo. • Ocluir os dois olhos com gaze umedecida, mesmo em lesões em um olho. • Em caso de exteriorização do globo ocular, não tentar recolocá-lo. Efetuar a oclusão ocular bilateral. • Não remover lentes de contato. Ferimentos nas orelhas Podem ser cortantes, lacerantes. O sangramento pela orelha pode indicar traumatismo craniano. Além dos cuidados gerais, deve-se: • Controlar sangramentos externos. • Não remover objetos encravados. • Não interromper a saída de líquido e/ou sangue pelo conduto auditivo externo. Ferimentos no nariz Podem indicar fratura de crânio. Primeiros socorros: • Acionar o sistema de APH ou priorizar o transporte. 50 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II • Manter a permeabilidade das vias aéreas e a estabilização da coluna cervical. • Não interromper a saída de líquido e/ou sangue pelo nariz. • Colocar a vítima sentada com a cabeça para frente. • Comprimir ambas as narinas no ponto de inserção das asas do nariz. • Em caso de sangramento, não parar: aplicar gelo no local de compressão ou comprimir o lábio superior imediatamente abaixo do nariz. • Ao cessar o sangramento, pedir à vítima para não assoar o nariz ou espirrar durante algumas horas e colocar gentilmente um pouco de vaselina no nariz afetado. • Levar a vítima ao hospital se o sangramento recomeçar ou se houver inconsciência – é importante colocar a vítima em posição lateral de segurança durante o transporte. • Se houver um objeto estranho (inseto e outros), retirar somente se estiver ao seu alcance. Se não estiver, não introduzir pinças ou dedos – deve-se levar a vítima ao hospital. Saiba mais Conheça mais sobre a abordagem do paciente vítima de trauma: VIEIRA, C. A. S.; MAFRA, A. A.; ANDRADE, J. M. O. Abordagem ao paciente politraumatizado. Protocolos Clínicos. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, 2011. Disponível em: <http://www.saude.pr.gov.br/ arquivos/File/HOSPSUS/ProtocolotraumaMG.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2017. 6 EMERGÊNCIAS ENVOLVENDO O SISTEMA CARDIOVASCULAR O sistema cardiovascular é composto de coração, vasos sanguíneos e sangue. Esse sistema possui muitas funções dentre as quais se destacam: • O transporte e a distribuição de oxigênio, nutrientes e hormônios para as células de todos os órgãos e tecidos. • Transporte de metabólitos para que possam ser eliminados do organismo. • Participação no controle hidroeletrolítico e ácido-base. 51 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA O coração é um órgão oco que possui a função de bombear sangue pelo corpo. Esse órgão é dividido em quatro câmaras distintas: dois átrios e dois ventrículos. O sangue chega da grande circulação (órgãos e sistemas) por meio da veia cava, no átrio direito, que, ao contrair-se (sístole atrial), empurra o sangue através da válvula tricúspide para o ventrículo direito. Quando este se contrai (sístole ventricular), empurra o sangue para os pulmões, através da válvula pulmonar, para a artéria pulmonar e os capilares pulmonares, onde o gás carbônico é trocado por oxigênio e retorna para o coração, pela veia pulmonar, mais especificamente para o átrio esquerdo (pequena circulação). Do átrio esquerdo, o sangue passa pela válvula mitral para alcançar o ventrículo esquerdo e, de lá, passando pela válvula aórtica, alcança a artéria aorta e segue para a circulação sistêmica, também chamada de grande circulação. Figura 16 – Esquema ilustrativo da pequena e da grande circulação Lembrete Grande circulação: coração ↔ órgãos e tecidos. Pequena circulação: coração ↔ pulmões. Os ventrículos possuem paredes mais espessas, pois são mais exigidos, tendo em vista que precisam vencer a pressão de pequenos vasos pulmonares (ventrículo direito) e empurrar o sangue até as pequenas arteríolas da grande circulação (ventrículo esquerdo). 52 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Figura 17 – Câmaras cardíacas As artérias que irrigam o coração (levam oxigênio) são chamadas de artérias coronárias. Elas nascem na base da artéria aorta, em dois grandes ramos: artéria coronária direita e artéria coronária esquerda. Estas artérias são as únicas que estão cheias de sangue durante a diástole ventricular, pois é quando os músculos cardíacos estão relaxados. A pressão arterial é “a força que o sangue exerce contra as paredes desse vaso” (GUYTON, 2011, p. 243) e é regida por três fatores: a força do coração enquanto bomba, o diâmetro do vaso e o volume de sangue circulante. Quaisquer alterações em um desses fatores alterarão diretamente a pressão arterial. Em outras palavras, a diminuição do volume de líquido circulante (comum na desidratação) ou o aumento do diâmetro da artéria (vasodilatação) causam queda da pressão arterial, conhecida como hipotensão. O eletrocardiograma é o exame diagnóstico mais utilizado nos diagnósticos de doenças do coração. Seu traçado mostra a atividade elétrica das câmaras cardíacas. Figura 18 – Eletrocardiograma normal 53 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA A primeira onda de um eletrocardiograma normal, denominada P, é a que representa a despolarização atrial (quando o interior das células atriais fica carregado positivamente, contraindo-as). A contração dos ventrículos é representada por três ondas, chamadas de complexo QRS. Por fim, temos a onda T, que representa a despolarização dos ventrículos (relaxamento). 6.1 Hemorragia Considera-se hemorragia o extravasamento de sangue através de uma ruptura nas paredes dos vasos sanguíneos. Pode ser classificada em: • Externa: em que geralmente o sangue se exterioriza por algum ferimento ou orifício natural do corpo (boca, nariz, ânus, vagina). • Interna: quando o sangue extravasa para o interior de cavidades naturais, sendo difícil, muitas vezes, identificar o local da perda de sangue. A severidade e a prioridade de atendimento ocorrem pelo tipo de vaso sanguíneo lesado, além da quantidade de sangue perdido: • Hemorragia arterial: geralmente se apresenta em grandes volumes, de coloração vermelho claro e brilhante, de modo intenso e compassado com o batimento cardíaco, e é de difícil controle. • Hemorragia venosa: caracterizado por um sangramento contínuo de coloração vermelho-escura, sob baixa pressão, contudo, não menos importante se o vaso for de grosso calibre ou se o sangramento não for cessado. • Hemorragia capilar: sangramento proveniente de um leito capilar, é facilmente controlado. As hemorragias (externas ou internas) graves, com grande perda de volume sanguíneo, podem levar à situação denominada choque hipovolêmico, uma situação grave, com perigo de morte iminente, logo,deve-se procurar controlar as hemorragias e encaminhar a vítima rapidamente ao hospital. Os sinais e sintomas evidentes no indivíduo com hemorragia interna são confusão mental, sensação de sede excessiva, taquicardia, hipotensão arterial, taquipneia, palidez cutânea, hipotermia, entre outros. Para o controle da hemorragia externa, o socorrista deverá obedecer a uma ordem de atendimento, com métodos diversificados que serão utilizados progressivamente, caso a hemorragia não tenha sido estancada, a saber: a compressão manual direta, o uso de curativos compressivos (bandagens elásticas e talas infláveis), a aplicação de torniquetes em membros e a utilização e agentes homeostáticos no tronco. 54 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Compressão direta O sangramento externo geralmente é de fácil controle e, em quase todos os casos, pode ser controlado pela aplicação de pressão direta na ferida, o que permite a interrupção do fluxo de sangue e favorece a formação de coágulo. Contudo, alguns fatores podem contribuir para o estancamento, como o tamanho e a pressão dentro do vaso lesado, além da presença dos fatores de coagulação e da capacidade de constrição do vaso. A compressão direta auxilia na redução do fluxo de sangue, uma vez que eleva a pressão externa, reduz a pressão interna do vaso e atua em conjunto com a capacidade compressível dos vasos, favorecendo a formação do coágulo e a interrupção da hemorragia. A bandagem pode ser o próximo passo depois da compressão direta sobre o ferimento aberto. Observação Estudos revelam que as técnicas de elevação de uma extremidade acima do nível do coração e a pressão digital sobre o ponto de pulso não tiveram sua eficácia comprovada, sem dados clínicos aparentes. Na verdade, sabe-se que em caso de fraturas, luxações ou de objetos empalados, a mobilização do membro pode levar à exteriorização de uma fratura e à piora do quadro de uma hemorragia interna. Diante dessa realidade, tais procedimentos não são mais utilizados. Torniquete Estudos recentes revelam que o uso de torniquetes não causa lesão significativa e/ou potencial nos nervos e no próprio membro. Por outro lado, pode salvar vidas, uma vez que cessa o fluxo sanguíneo arterial através do emprego de uma pressão externa. Esse dispositivo deve ser aplicado próximo da lesão e com uma força suficiente para o bloqueio total do sangue, durante um intervalo de tempo seguro de 120 a 150 minutos, ou até a chegada da vítima ao serviço de tratamento definitivo. O tamanho do membro está diretamente relacionado com a quantidade da pressão exercida. Agentes hemostáticos tópicos Alguns fármacos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) são utilizados também na tentativa de conter a hemorragia: • Curativo HemCon: derivado do camarão, é o agente de primeira escolha. 55 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA • Curativo Quik-Clot: derivado de um mineral vulcânico que absorve as moléculas de água rapidamente, favorecendo a concentração dos fatores de coagulação no leito da ferida; no entanto, esse tipo de curativo também é fonte de calor excessivo, o que acaba lesionando os tecidos circundantes. • TraumaDex: derivado de plantas que favorecem a desidratação sanguínea e aceleram o processo de coagulação. Torna-se importante ressaltar que tais produtos não são utilizados rotineiramente na prática no atendimento pré-hospitalar no Brasil, sendo a compressão manual a técnica mais usual e efetiva. Lembrete A instabilidade hemodinâmica na vítima de trauma é geralmente ocasionada por uma perda sanguínea significativa e, portanto, o socorrista deverá identificar e tratar prontamente a hemorragia externa. Para o doente que apresenta hemorragia interna, nada poderá ser feito no atendimento pré-hospitalar, no sentido de estancar o sangramento. A vítima necessitará ser encaminhada rapidamente ao hospital de referência equipado com recursos humanos e materiais, pois o controle da hemorragia é potencialmente cirúrgico. 6.2 Estados de choque O choque é uma condição potencialmente letal que se caracteriza por redução significativa da perfusão tecidual, resultando em inadequada oferta de oxigênio aos tecidos, levando à falência da circulação sistêmica. Pode-se classificá-lo em: hipovolêmico, distributivo e cardiogênico. E ainda existe uma subcategoria dentro choque distributivo, em que se encontram o neurogênico, o séptico e o anafilático. Choque hipovolêmico É caracterizado pela hipovolemia proveniente de uma desidratação severa com a perda do volume intravascular ou de uma hemorragia intensa. Na fase inicial, prevalece o mecanismo compensatório através da descarga de adrenalina e noradrenalina, que estimulam uma vasoconstrição, mantendo um equilíbrio e a perfusão sanguínea dos órgãos. A queda na pressão arterial marca a mudança do choque compensado para descompensado. Com a intensa vasoconstrição e a hipotensão arterial, ocorre também uma diminuição da intensidade dos pulsos periféricos, que se tornam fracos e de difícil palpação. 56 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II A vítima que está chocada por hipovolemia apresenta os seguintes sinais e sintomas: rebaixamento do nível de consciência, desde agitação até o coma, taquicardia e pulso filiforme, respiração curta, rápida e superficial, hipotensão arterial, náusea, sede, sudorese intensa, pele fria e pegajosa, mucosas hipocoradas, perfusão periférica prejudicada e lenta, hipotermia e tremores. As medidas de atendimento inicial consistem em: • Abordar adequadamente a vítima, atentando ao C-A-B-D. • Controlar hemorragias externas. • Aquecer a vítima com cobertores. • Não lhe dar nada para comer ou beber. • Imediatamente acionar o serviço de atendimento pré-hospitalar, se existente, ou conduzir a vítima ao hospital. Observação O tratamento inicial, realizado pelo suporte avançado, é o estabelecimento de dois acessos periféricos calibrosos (jelco 14 ou 16) e início de infusão de cristaloides aquecidos, sendo o soro Ringer Lactato a solução de primeira escolha. Choque hemorrágico Decorrente da perda sanguínea que pode ser classificada de acordo com a porcentagem de sangue perdido, estimando-se, dessa forma, a gravidade do choque. Classe I Caracterizado por uma perda sanguínea de 15%, tem a taquicardia como único sintoma apresentado e, na maioria das situações, é revertido com reposição de fluidos simples. Classe II Caracterizado por uma perda sanguínea de 15% a 30%, o que ainda não acarreta uma descompensação hemodinâmica, apresentará taquicardia, taquipneia, PA normal, oligúria e ansiedade. A reversão deverá ser feita através da utilização de cristaloide e raramente de transfusão sanguínea. 57 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Classe III A perda sanguínea é de 30% a 40%, o que leva ao aparecimento dos sintomas clássicos de desequilíbrio hídrico e compartimental, como taquicardia, taquipneia e hipotensão, associados à oligúria e ao rebaixamento do nível de consciência. Nesses casos, a terapêutica inclui a transfusão de sangue e intervenção cirúrgica. Classe IV Representa uma perda de mais de 40% do volume sanguíneo, fato que coloca a vítima num estado de gravidade muito evidente, com a necessidade de intervenção imediata para assegurar alguma chance de sobrevida. Choque distributivo Nesse tipo de choque, a hipotensão é decorrente da redução de resistência vascularperiférica, que desencadeia uma vasodilatação intensa e consequente hipoperfusão tecidual. Diante desse quadro, o tratamento visa aumentar o nível de oxigênio na corrente sanguínea e direcioná-lo ao cérebro e a outros órgãos vitais. Choque neurogênico A vasodilatação origina-se da lesão medular que controla a musculatura lisa da parede dos vasos. Choque séptico O processo infeccioso e a liberação das citocinas dele decorrente diminuem a resistência e aumentam a permeabilidade vascular, caracterizando a hipotensão arterial. Choque anafilático É caracterizado por uma grave reação alérgica, em que se observa, além da vasodilatação, uma aparente obstrução do fluxo aéreo. Choque cardiogênico É caracterizado pela incapacidade do coração de realizar sua função de bombear o volume de sangue adequado para atender às necessidades metabólicas dos tecidos. O atendimento pré-hospitalar à vítima com choque inclui: • Abordar adequadamente a vítima, atentando ao C-A-B-D. • Identificar a presença real do choque (alteração do nível de consciência, taquipneia, taquicardia, hipotensão, pulso fraco, pele fria e pegajosa). 58 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II • Oferecer suporte ventilatório e oxigenação adequada. • Identificar a hemorragia externa ou a suspeita de hemorragia interna. • Oferecer reposição volêmica. • Manter vítima aquecida. • Transportar rapidamente a vítima para um serviço especializado. Observação Para o atendimento à vítima com choque, principalmente o hemorrágico, a reposição volêmica se faz não só necessária, como urgente. Dispomos, atualmente, de mais uma via de infusão, a intraóssea. Apesar de o método ter sido descrito há muito tempo, ele só foi reconhecido como uma prática do enfermeiro no ano de 2009. 6.3 Atendimento cardiovascular de emergência – parada cardiorrespiratória (PCR) e reanimação cardiovascular (RCP) em adultos Denomina-se parada cardiorrespiratória a condição clínica em que há a cessação súbita e inesperada da circulação e das funções cardíaca, respiratória e cerebral de uma pessoa. Nenhuma situação clínica supera a prioridade de atendimento da parada cardiorrespiratória (PCR), em que a rapidez e a eficácia das intervenções adotadas são cruciais para melhor resultado do atendimento (LADEIRA, 2007). Esta condição inclui alterações no ritmo e na frequência cardíaca, tais como: • Taquicardia ventricular sem pulso (TVSP): ritmo ventricular acelerado de tal forma que não há tempo hábil para preenchimento dos ventrículos com sangue e, consequentemente, não há pulso detectável. O traçado do eletrocardiograma mostra complexos QRS maiores que os comuns. As ondas P não podem ser visualizadas, em razão da alta frequência de complexos QRS. Figura 19 – Taquicardia ventricular • Fibrilação ventricular: ausência de pulso detectável devido à atividade elétrica desorganizada, sem a contração eficaz dos ventrículos. No traçado observa-se que não há presença de ondas P ou de complexos QRS. 59 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Figura 20 – Fibrilação ventricular • Assistolia: ausência de atividade elétrica e mecânica cardíaca. O traçado do eletrocardiograma é semelhante a uma linha reta. • Atividade elétrica sem pulso (Aesp): ausência de pulso detectável na presença de algum tipo de atividade elétrica, com exclusão da taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular. O traçado do eletrocardiograma é disforme e irregular. Conforme Weaver et al. (apud VANHEUSDEN et al., 2007), os ritmos iniciais mais frequentes de PCR (parada cardiorrespiratória) são a taquicardia ventricular sem pulso ou a fibrilação ventricular (40% dos casos) e a assistolia (40% dos casos). A dissociação eletromecânica ocorreu em 20% dos casos. O atendimento da PCR é descrito na literatura como ressuscitação cardiopulmonar (RCP), que compreende uma sequência de manobras e procedimentos destinados a manter a circulação cerebral e cardíaca e garantir a sobrevida do paciente (AHA, 2015). As diretrizes da American Heart Association propõem novas recomendações sobre a RCP e Atendimento Cardiovascular de Emergência (ACE) e recomenda os seguintes passos para o atendimento à vitima de PCR (AHA, 2015). Reconhecimento da PCR Para avaliar o nível de consciência, é importate aproximar-se da vítima e chamá-la pelo nome, tocando com vigor a região do ombro. Vítimas de PCR apresentam-se inconscientes (não respondem a estímulos). Pode apresentar ainda apneia (ausência de movimentos respiratórios) ou respiração agônica, também conhecida como gasping agônico (movimentos respiratórios assincrônicos e não efetivos). Observação A sequência do ver, ouvir e sentir a respiração e a checagem do pulso periférico foi abolida do atendimento inicial à vítima de PCR, pois há evidências que sinalizam a perda de tempo, principalmente do socorrista leigo, na realização desses procedimentos, uma vez que esses não tinham preparo e treinamento para aplicá-los de forma rápida, segura e eficaz. Concluiu-se que o início imediato das compressões cardíacas reduz o risco de morte da vítima em PCR, se comparado ao tempo primordial necessário para que não haja necrose tecidual. 60 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Reconhecida a PCR, é primordial que o socorrista solicite auxílio de alguém próximo para acionar o serviço de resgate enquanto ele inicia as manobras de RCP. Vítimas com nível de consciência rebaixado devem ser monitoradas com o intuito de reconhecer o mais prontamente uma PCR. Para tanto, é necessário verificar o nível de consciência, conversando com a vítima, bem como verificar o pulso e os movimentos respiratórios em intervalos curtos, que podem ser a cada 10 minutos, em casos mais graves. É importante lembrar que, após o reconhecimento da PCR, é necessário que o socorrista solicite ajuda, tanto para realizar os procedimentos de ressuscitação cardiopulmonar quanto para solicitar remoção para o serviço de urgência mais próximo. Caso esteja sozinho, deve ligar imediatamente para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), discando 192. Fornecer dados como: • Local onde se encontra a vítima, com precisão (endereço e telefone de onde está chamando). • Natureza da emergência ou do ferimento (por exemplo: acidentes automobilísticos, desmaios, convulsões etc.). • Número de pessoas envolvidas. • Sexo e idade (aproximada) das vítimas. • Nome completo do socorrista. No entanto, se o socorrista for um profissional treinado, ele deve realizar a mesma avaliação com o acréscimo da verificação do pulso periférico e, ao pedir ajuda, deve solicitar também o DEA (desfibrilador externo automático). Para verificação do pulso, os pulsos centrais, como o femoral e carotídeo, são os preferenciais por constituírem artérias mais calibrosas e com função importante de levar o sangue para o cérebro e para os MMII. Para a palpação e verificação do pulso carotídeo, primeiramente localize a traqueia com seus dedos médio, anelar e indicador. Feito isso, deslize esses três dedos para o lado onde você se encontra, procure uma das artérias carótidas, localizadas no pescoço. Por exemplo: se o socorrista encontra-se do lado direito da vítima, ele deve deslizar os dedos para o lado direito do pescoço da vítima. 61 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Figura 21 – Palpação de pulso carotídeo Compressões torácicas Caso a vítima apresente sinais de PCR e não tenhasofrido trauma, coloque-a sobre uma superfície rígida para iniciar as compressões torácicas. Segundo as últimas diretrizes American Heart Association, após a detecção da inconsciência e da ausência da respiração, deve-se acionar o serviço médico e iniciar as compressões torácicas e ventilação em todos os pacientes adultos com PCR, seja por causa cardíaca ou não cardíaca (AHA, 2015). Desde 2010, a sequência do atendimento mudou para C-A-B, em que C representa as compressões, A, a abertura das vias aéreas e B, as ventilações (do inglês breathing). O socorrista leigo, que não tiver treinamento, deve realizar apenas compressões torácicas até a chegada de um DEA ou de outros socorristas treinados. Para esses profissionais, as compressões torácicas devem preceder a abertura de vias aéreas e das ventilações de resgate, sendo que a proporção permanece de 30 compressões para 2 ventilações. As compressões devem ter uma profundidade de 5 cm para serem efetivas, comprimindo as câmaras cardíacas e empurrando o sangue para a pequena e a grande circulação. Deve-se ainda permitir o retorno completo do tórax a cada compressão, possibilitando que o coração seja preenchido por sangue após cada uma delas, promovendo uma circulação eficiente. 62 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Para que haja circulação e oxigenação dos órgãos o mais adequadamente possível, é necessário que sejam realizadas de 100 a 120 compressões por minuto (AHA, 2015). Para tanto, deve-se minimizar ao máximo o tempo de parada das compressões, como o tempo para ventilações. Esse fato explica-se pelo fluxo sanguíneo gerado através das compressões, que aumenta a pressão intratorácica e comprime o coração, que consequentemente, manda um fluxo de sangue e um aporte de oxigênio para o próprio coração e para o cérebro. As compressões torácicas devem ser realizadas no centro do tórax. Procure o rebordo intercostal com a mão direita e deslize os dedos até chegar ao apêndice xifoide. Com a mão esquerda, meça uma distância do apêndice xifoide de dois dedos (indicador e médio) e posicione a região dos ossos carpais (na parte inferior da palma da mão) logo após seu dedo médio. Coloque sua mão esquerda em cima da mão direita (já posicionada) e entrelace os dedos, puxando-os para cima. Incline-se sobre o tórax do paciente até que seus braços formem um ângulo de 90º com o tórax da vítima. Mantenha os braços esticados e comprima o tórax com o peso do seu corpo. Figura 22 – Posição do socorrista para realizar a massagem cardíaca Abertura de vias aéreas A nova recomendação que enfoca principalmente os leigos, segundo o AHA (2015) é utilizar o DEA assim que possível, podendo interromper as compressões torácicas e desfibrilar o paciente se o ritmo da PCR for chocável, uma vez que esse dispositivo atua sozinho tanto no reconhecimento do ritmo como aplicando o choque quando necessário. 63 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Quando o serviço médico de emergência assume o atendimento à vítima de PCR, pode ser feita uma estratégia de 3 ciclos de 200 compressões contínuas com choques interpostos, enquanto se usa apenas insuflação de oxigênio passiva. A abertura de vias aéreas se dá com a inclinação da cabeça com hiperextensão do pescoço e elevação do queixo. Essa técnica é conhecida como Manobra de Chin Lift, é indicada a pacientes que não possuam suspeita de trauma, enquanto a Manobra de Jaw Trust é indicada para vítimas com suspeita de trauma. Ventilações artificiais As ventilações devem ser realizadas em uma proporção de 30 compressões para 2 ventilações, com uma quantidade de ar capaz de elevar o tórax e promover a troca gasosa; estudos revelam que a contaminação através da ventilação boca a boca é mínima, contudo, é indicado que o socorrista utilize equipamentos de proteção para aplicar as ventilações, como a bolsa-válvula-máscara. Há alguns anos a ventilação boca a boca era utilizada para o suporte ventilatório, porém, com a disseminação de doenças infectocontagiosas potencialmente letais, como a aids, muitos socorristas não se sentem à vontade em realizar essa manobra. Além desse fato, pesquisas científicas recentes comprovam maiores chances de sobrevida apenas realizando as compressões torácicas. As novas diretrizes da AHA (2015) não recomendam a utilização de ventilação boca a boca. Existem alguns dispositivos específicos para formar a barreira entre a boca da vítima e a boca do socorrista, sendo um deles semelhante a um lenço facial com válvula antirrefluxo, mas confeccionado com plástico transparente e um filtro protetor contra secreções biológicas. Outros dispositivos utilizados para esse fim são uma máscara facial de bolso (pocket-mask), que cobre o nariz e a boca da vítima, conector (tipo bico redondo) com um filtro contra secreções biológicas. No atendimento de PCR por socorristas profissionais da saúde (como os do Samu) as ventilações são realizadas com uma máscara, conectada a uma bolsa de ar (ambú) e a um reservatório conectado à bolsa, que garante maior concentração de oxigênio a cada ventilação realizada pela bolsa, desde que esteja conectada a uma fonte de oxigênio. Torna-se de suma importância enfatizar que se o socorrista não for treinado e proficiente, a AHA (2015) recomenda que sejam realizadas apenas compressões. Desfibrilação precoce Uso de desfibriladores externos automáticos (DEA): é recomendado o uso destes aparelhos para aumentar as taxas de sobrevivência em PCR súbita extra-hospitalar (AHA, 2010). 64 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II Figura 23 – Desfibrilador externo automático (DEA) A desfibrilação precoce é o único tratamento para parada cardiorrespiratória para os ritmos de PCR, como FV e TV, sendo o DEA o equipamento portátil utilizado, capaz de interpretar o ritmo cardíaco, selecionar o nível de energia e carregar automaticamente. Após a colocação das pás, é preciso que todos se afastem, pois há risco de uma descarga elétrica em quem estiver tocando na vítima no momento do choque. Em vítimas molhadas, orienta-se secá-las antes do uso do DEA, bem como a região ao redor da vítima, pois a água é condutora de energia. Após o choque, devem-se reiniciar as compressões, caso não haja pulso palpável ou ritmo sinusal detectado pelo DEA. 6.4 Atendimento cardiovascular de emergência (ACE) e reanimação cardiovascular (RCP) em crianças O primeiro passo para atendimento da criança crítica é o rápido reconhecimento de falência respiratória, visto que esta é a causa mais frequente de parada cardiorrespiratória (PCR) em pediatria. Sinais como o aumento da frequência respiratória, respiração errática, batimento de aleta nasal, retrações torácicas, gemência, cianose e alteração do nível de consciência são importantes marcadores de sofrimento respiratório e não podem ser subdiagnosticados (ZORZELA; GAROOS; CAEN, 2007, p. 65). A American Heart Association (AHA, 2015) recomenda a mesma sequência utilizada no adulto (C-A-B). Por a falência respiratória ser a principal causa de PCR em crianças, é de extrema importância o reconhecimento das alterações do padrão respiratório nestas; porém a técnica, a profundidade da compressão e a relação compressão-ventilação são diferentes para as crianças nas diferentes faixas etárias. Para um atendimento adequado é necessário, primeiramente, definir as faixas etárias: a classificação de bebê (lactente) compreende desde os recém-nascidos até 1 ano de idade; e criança é aquela com idade entre 1 e 8 anos, apresentando ou não sinais de puberdade. 65 Re vi são: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Lembrete Por ser a falência respiratória (apneia e gasping) a principal causa de PCR em crianças, é de extrema importância o reconhecimento das alterações do padrão respiratório nesses pacientes. Reconhecimento da PCR A responsividade é determinada primeiramente pelo estímulo auditivo seguido do tátil, se a vítima (criança) responder, faça um breve questionamento sobre o que aconteceu e quais os sintomas. Se a criança não responder, nem reagir de alguma forma, considere que ela está irresponsiva. Siga avaliando a respiração, observando se há elevação do tórax ou a presença de respiração agônica (irregular ou anormal). Se a respiração estiver presente, estabeleça-se ao lado da vítima e chame ajuda. A criança não responsiva, sem respiração ou apenas com gasping e sem pulso palpado em 10 segundos é caracterizada como em PCR, logo, devem ser iniciadas as compressões torácicas. Pedir ajuda O tempo entre o início das compressões torácicas e a avaliação da responsividade, respiração e o acionamento do serviço de emergência deve ser de no máximo de 10 segundos. Se no atendimento houver dois socorristas, um deve iniciar a RCP imediatamente e o outro deve ativar o SME e obter um DEA, se estiver disponível. Se o socorrista estiver sozinho, ele deve solicitar ajuda e realizar 2 minutos de RCP, antes de deixar a vítima e acionar o SME novamente. Saiba mais Veja a importância da capacitação de profissionais da saúde para o atendimento à parada cardiovascular: MEIRA JÚNIOR, L. E. Avaliação de treinamento em suporte básico de vida para médicos e enfermeiros da atenção primária. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, v. 11, n. 38, 2016. Disponível em: <https:// www.rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/1231>. Acesso em: 20 jan. 2017. Compressões torácicas Assim como no adulto, a AHA (2015) recomenda que as interrupções torácicas sejam minimizadas, realizando as compressões num intervalo entre 100 e 120 compressões por minuto. Porém a técnica das compressões sofre algumas alterações, conforme a idade da criança: 66 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II • Recém‑nascidos e crianças de até um ano de idade: realizar as compressões no centro do tórax, sobre o esterno, utilizando os dedos indicador e médio. A profundidade das compressões deve ser de, no mínimo, 1/3 da altura do tórax, ou seja, do diâmetro anteroposterior do tórax. Isso corresponde a, aproximadamente, 1 polegada, cerca de 4 cm. • Crianças de 1 a 8 anos: realizar as compressões no centro do tórax, utilizando apenas uma mão, sendo a profundidade destas compressões cerca de 5 cm. Figura 24 – RCP em lactente Abertura de vias aéreas – ventilação Para a realização das ventilações de resgate é necessária a abertura das vias aéreas, através das técnicas de Chin Lift, que só devem ser utilizadas quando não houver suspeita de trauma. Consistem na inclinação da cabeça e elevação do mento; já a Manobra de Jaw Trust é a tração do ângulo da mandíbula utilizada nas vítimas com suspeita de trauma. Observação Em crianças ou lactentes não responsivos, os músculos ficam relaxados e a língua pode obstruir a via área e interferir nas ventilações. As recomendações da AHA (2015), quanto à técnica são as mesmas que para o adulto. Já a relação compressão-ventilação modifica-se conforme o número de socorristas: 1 socorrista: 30 compressões para 2 ventilações. 2 socorristas: 15 compressões para 2 ventilações. 67 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 SUPORTE BÁSICO DE VIDA Para aplicar as ventilações em crianças utiliza-se normalmente uma bolsa-válvula-máscara com capacidade de 1.000 ml e para lactentes deve ser utilizada uma bolsa com capacidade de 450-500 ml. Desfibrilação As recomendações da AHA (2010) para o uso de desfibrilador em crianças sofreu alterações devido ao não conhecimento das cargas de energia mínima eficaz e nem do limite superior para desfibrilação segura nessa faixa etária. Conforme a AHA (2010), DEAs “com cargas de energia relativamente alta têm sido usados com êxito em bebês com PCR, sem efeitos adversos claros”. Na tentativa de desfibrilação em crianças de 1 a 8 anos de idade com um DEA/DAE, o socorrista deve usar um sistema atenuador de carga pediátrico, se disponível. Se o socorrista aplicar a RCP contra a PCR em uma criança e não houver um DEA/DAE com sistema atenuador pediátrico, deve-se usar um DEA/DAE padrão. Em bebês (com menos de 1 ano de idade), é preferível um desfibrilador manual. Se não houver um desfibrilador manual disponível, aconselha-se um DEA/DAE com atenuação de carga pediátrica. Se nenhum dos dois estiver disponível, use um DEA/DAE sem atenuador de carga (AHA, 2010). 6.5 Dor torácica sugestiva de isquemia ou necrose miocárdica (SCA) O mau funcionamento das artérias coronárias pode levar à hipóxia miocárdica (pouco oxigênio no músculo cardíaco). Esse mau funcionamento pode ser causado pela obstrução por placas de gordura (ateroma) e menos frequentemente por enrijecimento arterial (arteriosclerose) e por vasoespasmos. Estes últimos são comuns em usuários de drogas ilícitas como cocaína, heroína e seus derivados. Caso haja anóxia (ausência total de oxigênio) ocorrerá necrose de parte do músculo cardíaco, que é irreversível. Esse evento é conhecido como infarto agudo do miocárdio (IAM). Figura 25 – Infarto do miocárdio. (1) Obstrução de artéria coronária; (2) Área de necrose 68 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 8/ 01 /1 7 Unidade II A diminuição ou interrupção da oxigenação miocárdica causa um sintoma comum: a angina. Essa dor pode ter início abrupto ou por fatores desencadeantes como exposição ao frio extremo, grandes emoções, após ingestão de refeição copiosa ou durante exercícios físicos. A angina é uma dor característica, em aperto ou como um peso na região retroesternal, que se irradia para pescoço (até a região mandibular), membros superiores e tórax anterior. Normalmente, é acompanhada de sudorese intensa, palidez cutaneomucosa, dispneia (falta de ar) e sensação de morte iminente. Pacientes que fazem acompanhamento médico para tratamento de angina costumam ser medicados com nitratos, por via oral. Esses medicamentos atuam como vasodilatadores com efeito em células da musculatura lisa, como as células dos vasos sanguíneos. A dor que não cessa em até 15 minutos após a retirada do fator precipitante ou após o uso de nitratos pode ser indicativa de lesão miocárdica, ou seja, de infarto miocárdico. Os primeiros socorros para o IAM que ajudam a reduzir as sequelas e a salvar a vida da vítima incluem: • Acionar o Sistema de APH. • Realizar CAB inicial. • Se a vítima estiver consciente, questionar se já apresentou episódio semelhante previamente e orientar a mastigação de 2 comprimidos de aspirina (atentar-se para alergias). • Acalmar a vítima e sentá-la numa posição confortável, afrouxando a vestimenta. • Aguardar socorro ou, caso não seja possível, levar a vítima ao atendimento especializado mais próximo, o mais rápido possível. • Se a vítima apresentar inconsciência ou ausência da respiração, as manobras de ressuscitação cardíaca devem ser iniciadas imediatamente. 6.6 Acidente vascular encefálico (AVE) O acidente vascular encefálico (AVE), conhecido popularmente como derrame, é o “termo utilizado para definir um grande número de circunstâncias em que uma lesão vascular isquêmica ou hemorrágica provoca um quadro agudo deficitário em alguma área cerebral”
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