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Anatomia Humana Dra. Carmem Patrícia Barbosa _book_Anatomia Humana.indb 1 11/11/2019 11:33:57 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BARBOSA, Carmen Patrícia. Anatomia Humana. Carmem Patrícia Barbosa. Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. Reimpresso 2021. 248 p. “Graduação - EAD”. 1. Anatomia. 2. Humana. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0475-5 CDD - 22 ed. 611 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Coordenador de Conteúdo Lilian Rosana dos Santos Moraes. Designer Educacional Ana Claudia Salvadego e Janaína de Souza Pontes. Revisão Textual Érica Fernanda Ortega Editoração Bruna Stefane Martins Marconato e Isabela Mezzaroba Belido. Ilustração Marcelo Goto e Mateus Calmon. Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Naldeie Thiago Surmani. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite; Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock _book_Anatomia Humana.indb 2 11/11/2019 11:33:58 PALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! _book_Anatomia Humana.indb 3 11/11/2019 11:33:58 BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. _book_Anatomia Humana.indb 4 11/11/2019 11:34:00 Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. _book_Anatomia Humana.indb 5 11/11/2019 11:34:02 APRESENTAÇÃO Prezado(a) aluno(a), a palavra Anatomia é originária do grego e decorre da fusão de “ana” e “tomein”, que significam, respectivamente, “partes” e “cortar”. Assim, é possível traduzir literalmente a palavra “Anatomia” como cortar em partes. Essa palavra foi escolhida porque na Grécia antiga a atenção era dada exclusivamente ao ato de cortar, o que estava implícito no conceito geral da anatomia. Tal fatoexplica, ao menos em parte, porque até mesmo nos dias de hoje muitas pessoas se sentem incomodadas ou têm medo de estudar anatomia. Enquanto ciência, a anatomia tem um significado muito mais amplo, pois estuda macro e microscopicamente a constituição e o desenvolvimento do ser humano. Sua existência sempre esteve relacionada à imensa curio- sidade do homem em melhor compreender as estruturas que o formam e as diferenças que existem em relação a seus semelhantes, em termos de constituição e função. O início dos estudos anatômicos foi difícil, pois princípios éticos e religiosos da época impunham restrições ao ato de expor o corpo humano, já que para desvendar os mistérios desta fabulosa “máquina”, a simples observa- ção superficial não era suficiente. Por isso, a necessidade de aprofundar tal estudo foi posteriormente saciada pela dissecação (ou dissecção). A palavra dissecar tem origem latina e é produto da fusão de “dis” (separar) mais “secare” (cortar). Assim, por meio da dissecação, os órgãos do corpo podem ser expostos cirurgicamente, de maneira metódica, por meio de incisões adequadas que mantêm a organização natural do corpo. Dessa forma, é possível manter os órgãos separados, mas ao mesmo tempo em uma relação de dependência entre forma e função. _book_Anatomia Humana.indb 6 11/11/2019 11:34:02 Vale ressaltar que os estudos da anatomia humana são realizados no cadáver - nome dado ao corpo, após a morte, enquanto este ainda conserva parte de seus tecidos. Esse termo, segundo a etimologia popular, teve origem na expressão latina “caro data vermibus” que significa “a carne dada aos ver- mes”. Os etimologistas defendem que a palavra deriva da raiz “cado”, que significa “caído”. Estranho, não é? Esse termo foi escolhido devido ao fato de que, como o estudo anatômico era inicialmente proibido, aqueles que se interessavam pela dissecação muitas vezes o faziam às escuras, violando sepulturas e dissecando corpos que já estavam em estado de putrefação. Complementarmente, estudos realizados em animais originaram a ana- tomia comparativa por meio da qual a compreensão da constituição do corpo era realizada primeiramente em animais para posterior comparação com seres humanos. Inclusive, a dissecação de animais prenhes permitiu a observação de fetos e representou o início da embriologia como ciência. A embriologia (estudo da formação dos órgãos e sistemas), a citologia (estu- do das células) e a histologia (estudo dos tecidos) tiveram seus desenvolvi- mentos fortemente marcados pelo surgimento do microscópio. Isto porque este instrumento possibilitou o estudo específico dos elementos constituintes dos seres organizados. Vale ressaltar que embora todas estas ciências sejam consideradas especializações, são vistas como ramos da anatomia. Em relação aos principais aspectos históricos da anatomia humana, sabe-se que os primeiros esboços anatômicos datam do período paleolítico e que os gregos foram grandes responsáveis por seu desenvolvimento. No Brasil, a Bahia se destacou como “berço do ensino médico” e, na mesma época, iniciou-se o ensino médico oficial no Rio de Janeiro. _book_Anatomia Humana.indb 7 11/11/2019 11:34:02 8 Atualmente, o estudo da anatomia ainda é realizado por meio da disseca- ção de cadáveres humanos considerados normais, embora possam existir variações anatômicas individuais e diferenças morfológicas em decorrência da passagem do estado vivo ao cadavérico. No entanto, é possível aprender anatomia mesmo sem a dissecação por meio da observação do corpo huma- no, por sua palpação e pelo estudo da anatomia de superfície (a qual avalia os relevos e depressões que as estruturas anatômicas são capazes de formar). Por todo o exposto, pode-se concluir que esta tão bela e polêmica ciência se encarrega de estudar o corpo humano em detalhes. Seu estudo pode ser feito de maneira regional, clínica ou sistêmica. Enquanto no estudo regional (ou topográfico) são apresentados os pormenores de uma determinada região do corpo, no estudo clínico as estruturas e as funções são apresentadas aos profissionais da área da saúde a fim de habilitá-los a compreender o corpo em um contexto clínico geral. No entanto, neste livro, estudaremos a anatomia sistêmica, ou seja, os de- talhes de cada sistema que compõe a fabulosa “máquina” chamada corpo humano. Para tanto, estudaremos o aparelho locomotor (composto pelos sistemas esquelético, articular e muscular), o sistema cardiorrespiratório (composto pelos sistemas circulatório sanguíneo, circulatório linfático e respiratório), o sistema digestório (responsável pelo processo da digestão), o sistema urogenital (composto pelos sistemas urinários do genital masculino e genital feminino) e sistema neuroendócrino (composto pelos sistemas nervoso e endócrino). _book_Anatomia Humana.indb 8 11/11/2019 11:34:02 Em cada unidade, apresento uma INTRODUÇÃO sobre as generalidades de cada tema, um DESENVOLVIMENTO para apresentar o conteúdo programático de cada sistema, CONSIDERAÇÕES FINAIS que resumi- rão o estudo teórico e prático do assunto abordado e ATIVIDADES DE ESTUDO para reforçar o conteúdo estudado. Desejo a você um excelente aproveitamento desta tão apaixonante ciência. Na verdade, ela sempre foi não só apaixonante, mas também intrigante. Prova disso pode ser dada ao ler o texto do salmista (nos versos 13 a 16 do capítulo 139) que, mesmo sem grandes recursos tecnológicos ou científicos, não se conteve de tanta admiração ao analisar o milagre da criação e do funcionamento do corpo humano. Que você se encante conhecendo seu próprio corpo e que a todo momento descubra as melhores formas de favorecer seu desenvolvimento, tanto no adulto quanto na criança, por meio do pleno conhecimento. Bom estudo! Profa. Carmem Patrícia. _book_Anatomia Humana.indb 9 11/11/2019 11:34:02 CURRÍCULO DO PROFESSOR Dra. Carmem Patrícia Barbosa Tem Doutorado e Mestrado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) na área de Concentração Biologia Celular, respectivamente nos anos de 2002 e 2013. Especialização em Morfofisiologia Aplicada à Educação Corporal e à Reabilitação pela UEM (2000). Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL/1997). Desde 2002 é professora das disciplinas de Anatomia Humana, Fisiologia Humana, Cinesio- logia e Biomecânica, Bases Neurofuncionais do Movimento no Centro de Ensino Superior de Maringá (UniCesumar) e desde 2012 é professora na área de Anatomia Humana na UEM, no Departamento de Ciências Morfológicas (DCM) e também no curso de especialização. Foi membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UniCesumar e faz parte do corpo editorial da revista “Saúde e Pesquisa” da mesma instituição. Iniciação Científica da UniCesumar e ArquiMudi da UEM. Tem experiência nos cursos de Educação Física, Odontologia, Ciências Biológicas, Enfermagem, Nutrição, Biomedicina, Fisioterapia e Estética. _book_Anatomia Humana.indb 10 11/11/2019 11:34:02 _book_Anatomia Humana.indb 11 11/11/2019 11:34:02 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor 15 Sistemas Cardiovascular e Respiratório 81 _book_Anatomia Humana.indb 12 11/11/2019 11:34:02 Sistema Digestório 137 Sistema Urogenital 167 Sistema Neuroendócrino 201 _book_Anatomia Humana.indb 13 11/11/2019 11:34:02 24 Processo de Envelhecimento da Pele Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. _book_Anatomia Humana.indb 14 11/11/2019 11:34:02 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Dra. Carmem Patrícia Barbosa • Apresentar o conceito, a importância, os principais aspec- tos históricos da anatomia humana e a nômina anatômica atualizada. • Elucidar as principais subdivisões do corpo humano e os planos de tangenciamento e de secção do corpo humano, bem como os eixos de movimento. • Evidenciar as características do tegumento comum em todos os seus detalhes e especificações • Estudaras generalidades sobre os ossos, definir articula- ções e compreender suas funções e classificações, além de destacar as funções musculares. Anatomia Humana: Conceito e introdução ao estudo Divisões, planos e eixos do corpo humano Sistemas esquelético, articular e muscular Tegumento Comum Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor _book_Anatomia Humana.indb 15 11/11/2019 11:34:02 Prezado(a) aluno(a), o aparelho locomotor é constituído pelos sistemas esquelético, articular e muscular. Eles agem de maneira integrada e sob o comando do sistema nervoso para permitir cor- reção postural, equilíbrio e movimento voluntário. Enquanto o sistema esquelético é formado por ossos e cartilagens, o articular é formado por articulações e o muscular por músculos e órgãos anexos. O sistema esquelético é estudado pela os- teologia, o articular pela artrologia, o muscular pela miologia e os movimentos pela cinesiologia (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Embora cartilagem e osso sejam formas es- pecializadas do tecido conjuntivo, a cartilagem é flexível e o osso é rígido. As articulações ou jun- turas são representadas por estruturas que co- nectam duas ou mais partes rígidas do esqueleto (ossos, cartilagens e dentes) e embora possam ser chamadas de junturas, não devem ser chamadas de juntas. Os órgãos anexos do sistema muscular incluem fáscias de revestimento, bolsas sinoviais e bainhas fibrosas e sinoviais. Já ossos, articulações e músculos têm funções diferentes, mas complementares. Ossos suportam e dão forma ao corpo, protegem órgãos internos, Anatomia Humana: Conceito e Introdução ao Estudo _book_Anatomia Humana.indb 16 11/11/2019 11:34:03 17UNIDADE 1 atuam nos movimentos, armazenam íons, fabricam células do sangue e absorvem toxinas. A maioria das articulações e músculos relaciona-se ao movi- mento, coordenação e tônus muscular, peristalse e produção de calor (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). O texto abordará estes importantes sistemas e suas especificidades em relação aos profissionais da saúde. Será fundamentado em autores como Dangelo e Fattini (2011), Moore et al. (2014), Mi- randa Neto e Chopard (2014) e outros. A nomen- clatura está de acordo com a nômica anatômica atualizada. Todavia, é necessário utilizar um atlas de anatomia como Narciso (2012) ou Rohen, Yo- kochi e Lütjen-Drecoll (2002). Veremos aspectos relevantes do aparelho lo- comotor e a prática do exercício físico, a visão geral da nomenclatura anatômica, segmentação do corpo e planos e eixos. Fatores Gerais de Variação Anatômica O termo “anatomia humana” é mal visto por muitas pessoas. Talvez até para você, caro(a) alu- no(a), isto porque muitos pensam que falar em anatomia é sinônimo de falar de pessoas mortas ou mutiladas. Na verdade, a anatomia não tem nada de assustador, muito pelo contrário. É uma ciência que muito nos tem esclarecido ao longo dos anos. A anatomia estuda a estrutura do ser humano e as relações entre as partes que o formam. O termo “anatomia” deriva de duas palavras gregas, “ana” e “temnein”, que significam, respectivamente, “em partes” e “cortar ou incisar”. Assim, esta ciência está amplamente embasada no ato de cortar o corpo humano pelo método da dissecção (ou disseca- ção) a fim de melhor compreender sua estrutura externa e interna (FREITAS, 2004). Na anatomia, estudamos o corpo humano considerado “normal”, já que a patologia e outras ciências se dedicam ao estudo das doenças que o acometem. No entanto, para definir “normal” em anatomia, é necessário considerar o conceito estatístico e o conceito idealístico. O idealístico considera normal aquilo que é melhor para o de- sempenho da função da estrutura anatômica. Por exemplo, para que a mão consiga desempenhar adequadamente sua função de pinça fina, é ideal que o indivíduo tenha cinco dedos em cada uma delas. Já o conceito estatístico considera normal aquilo que a maioria dos indivíduos apresenta. Por exemplo, a maioria das pessoas tem cinco dedos em cada mão, por isso, é normal ter cinco e não três ou quatro dedos (WATANABE, 2000). Todavia, quando comparamos diferentes indi- víduos em um pequeno grupo sempre podemos identificar a existência de pequenas diferenças morfológicas entre eles (faça isso onde você esti- ver agora e perceba como as pessoas são mesmo diferentes). De acordo com Watanabe (2000), quando tais diferenças não prejudicam a função desempenhada pela estrutura anatômica, diz-se que são apenas “variações anatômicas”. No entan- to, quando tais diferenças atrapalham a função da estrutura, elas são ditas “anomalias” e, inclusive, podem ser denominadas de “monstruosidades” se impedirem que o indivíduo permaneça vivo. Uma variação anatômica pode ser, por exem- plo, as diferentes tonalidades na cor dos olhos de dois irmãos. Uma anomalia pode ser a miopia que um deles apresenta. Uma monstruosidade pode ser exemplificada quando dois irmãos nascem grudados e um deles tem que ser sacrificado para que o outro viva (é o que ocorre com gêmeos sia- meses ou xifópagos). Para que estes conceitos de “normal”, “variação anatômica”, “anomalia” e “monstruosidade” possam ser empregados, é necessário saber que alguns fatores podem causar variação. Isto ocorre, por _book_Anatomia Humana.indb 17 11/11/2019 11:34:03 18 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor exemplo, com a idade do indivíduo, com seu sexo, grupo étnico, biótipo entre outros. Por exemplo, é normal que um bebê apresente os ossos do crânio separados, mas não é normal que isso ocorra em um adulto. É normal que uma mulher tenha os os- sos da pelve mais abertos a fim de facilitar o parto pélvico, mas não é normal que isso ocorra em um homem. É normal que um indivíduo negro tenha a pele escura e os cabelos enrolados, mas não é nor- mal em um japonês. É normal que um indivíduo longilíneo tenha os membros longos em relação ao corpo, mas não é em um indivíduo brevilíneo. Por fim, é importante destacar que o estudo da anatomia humana pode ser feito de diferen- tes formas conforme o objetivo do estudo. Por exemplo, a anatomia pode ser estudada a partir dos sistemas que compõem o corpo humano (esta é a anatomia sistêmica que aprenderemos aqui). Por outro lado, seu estudo pode abranger regiões específicas e então passa a ser chamada de ana- tomia topográfica (a odontologia, por exemplo, estuda anatomia topográfica da cabeça). Além disso, seu estudo pode ser feito por meio de ima- gens (anatomia radiológica ou de imagem), em comparação a seres de outras espécies (anatomia comparativa), com fins artísticos (anatomia artís- tica), em comparação aos diferentes tipos raciais e morfológicos (anatomia antropológica e bioti- pológica) etc. (WATANABE, 2000). Nomenclatura Anatômica Cientistas e profissionais da área da saúde usam uma linguagem própria ao se referirem às estru- turas do corpo humano e à forma como a dissec- ção é feita. Por isso, estar atualizado em relação à nomenclatura utilizada é essencial ao estudante de anatomia humana, bem como aos profissionais da saúde. Na anatomia, esta nomenclatura engloba termos gerais e especiais originados da língua gre- ga, latina e outras. Em conjunto, a Nômina Ana- tômica, publicada com o nome de Terminologia Anatômica, tem o objetivo de evitar que estruturas do corpo humano recebam diferentes denomina- ções em diversos centros de estudos e pesquisas em anatomia no mundo (DI DIO, 2002). Considerada um documento oficial que deve ser obedecida por professores e alunos da discipli- na de anatomia humana, a terminologia anatômica é constituída por cerca de 6.000 termos esporadica- mente revistos e atualizados, os quais são traduzi- dos pelas sociedades de anatomia de cada país. No Brasil, a terminologia é traduzida pela Comissão de Terminologia Anatômica da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA) (CFTA, 2001; FREITAS, 2004; TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Este conjunto de termos empregados funda- menta-sena forma da estrutura ou em parte dela (como o músculo deltoide, por exemplo), sua si- tuação (artéria vertebral), sua função (glândula la- crimal) e outras peculiaridades. Vale destacar que a utilização de abreviações é permitida a fim de facilitar seu uso prático. Assim, utiliza-se a. (para artéria), v. (para veia), n. (para nervo), m. (para músculo), lig. (para ligamento), gl. (para glândula) e g. (para gânglio). O plural destes termos normal- mente emprega a duplicação da letra utilizada na abreviação, por exemplo, aa. (para artérias), vv. (para veias) etc. (WATANABE, 2000). _book_Anatomia Humana.indb 18 11/11/2019 11:34:03 19UNIDADE 1 Divisões, Planos e Eixos do Corpo Humano A posição anatômica de descrição ou posição de referência foi instituída e se tornou de gran- de valia para evitar erros na nomenclatura e no posicionamento do corpo a ser estudado. Em tal posição, supõe-se que o cadáver está ereto, com a cabeça em nível horizontal, olhos voltados para frente, pés plantados no chão e direcionados para frente, membros superiores ao lado do corpo com as palmas das mãos voltadas para frente (MOO- RE et al., 2014). A partir da posição anatômica, as várias regiões do corpo são denominadas como cabeça, pescoço, tronco, membros superiores e membros inferiores. A cabeça é subdividida em crânio facial ou viscero- crânio e crânio neural ou neurocrânio. Enquanto o crânio facial é anterior, menor, constituído por 14 ossos, cujas funções se relacionam a abrigar e pro- teger os órgãos dos sentidos e possibilitar a fonação e a mastigação, o crânio neural é posterior, maior, constituído por oito ossos, os quais estão direta- mente relacionados à proteção do sistema nervoso localizado em seu interior (TORTORA; DERRICK- SON; WERNECK, 2010). _book_Anatomia Humana.indb 19 11/11/2019 11:34:04 20 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor O pescoço é dividido em pesco- ço anterior (visceral) e posterior (muscular), também denomina- do nuca. Segundo Freitas (2004), o tronco também é subdividido em tórax (limitado superiormen- te pela clavícula e inferiormente pelo músculo diafragma), ab- dome (limitado superiormente pelo músculo diafragma e infe- riormente pela abertura superior da pelve) e pelve (localizada entre os ossos do quadril). Os membros superiores e in- feriores também são subdividi- dos em uma região conectada ao tronco, denominada cíngulo (ou cintura) e uma parte livre. A raiz ou cíngulo do membro superior é a cintura escapular e sua parte Figura 1 - Posição anatômica de descrição Figura 2 - Partes do corpo humano livre inclui braço, antebraço e mão (sendo sua parte anterior denomi- nada palma e a posterior, dorso). A raiz ou cíngulo do membro inferior é a cintura pélvica e sua parte livre inclui coxa, perna e pé (sendo sua parte superior denominada dorso e a inferior, planta). Articulações conectam as várias partes dos membros, por exemplo, as articulações do ombro, cotovelo, quadril e joelhos (FREITAS, 2004). De igual modo, a partir da posição anatômica de descrição, supõe-se a existência de planos imaginários que tangenciam a superfície externa do corpo a fim de facilitar a localização das estruturas corpóreas. Tais planos são denominados superior ou cranial, inferior ou podálico, la- teral direito, lateral esquerdo, anterior ou ventral, e posterior ou dorsal (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Assim, pode-se afirmar que os olhos são estruturas superiores à cicatriz umbilical já que se localizam mais pró- ximos ao plano superior ou cranial do que à cicatriz umbilical. De igual modo, pode-se afirmar que as escápulas são estrutu- ras posteriores em relação ao osso esterno uma vez que estão mais próximas do plano posterior. Embora os planos de tangen- ciamento facilitem a localização das estruturas corpóreas, o es- tudo da anatomia também se faz por meio do corpo seccio- nado, lembra? Assim, pla- nos de secção de referência também tiveram que ser padronizados. Assim, os termos “plano sagital”, “plano trans- versal” (ou horizontal) e “plano coronal” (ou frontal) foram adotados. O plano sagital é uma secção longi- tudinal que divide o corpo ou qualquer uma de suas partes em porções direita e esquerda. Se este plano passar exata- mente sobre a linha mediana do corpo, ele é chamado de plano sagital media- no, o qual divide o corpo em duas me- tades iguais denominadas antímero direito e antímero esquerdo. _book_Anatomia Humana.indb 20 11/11/2019 11:34:06 21UNIDADE 1 O plano coronal é uma secção longitudinal que divide o corpo em porção anterior e posterior denominadas paquímero an- terior ou ventral, e paquímero posterior ou dorsal. Por fim, o plano transversal divide o corpo em porção superior e inferior de- nominadas metâmero superior ou cranial e metâmero inferior ou podálico (FREITAS, 2004). Um dos objetivos do estudo da anatomia humana é empre- gar os conhecimentos adqui- ridos também no corpo vivo. Dessa forma, existem termos usados para descrever os dife- rentes movimentos dos mem- bros e outras partes corpóreas que podem ser realizados nas articulações móveis do corpo. Tais movimentos são descri- tos como pares de opostos, ou seja, flexão e extensão, abdu- ção e adução, rotação medial e lateral, supinação e prona- ção etc. (MOORE et al., 2014; TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). Todos esses movimentos serão abordados, posteriormente, nesta unidade, pois são de extrema relevância aos profissionais da saúde. Plano Coronal Plano Transversal Plano Sagital Figura 3 - Plano Sagital, Coronal e Transverso Os movimentos sempre ocorrem em um dos planos (sagital, coronal ou transversal) e por meio de linhas imaginárias deno- minadas eixos, os quais são perpendiculares aos planos. Assim, os movimentos de flexão e extensão ocorrem no plano sagital a partir do eixo coronal; a abdução e a adução ocorrem no plano coronal a partir do eixo sagital; a rotação medial e lateral ocorrem no plano transversal a partir do eixo longitudinal (GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). _book_Anatomia Humana.indb 21 11/11/2019 11:34:09 Tegumento Comum Conhecer o tegumento comum é de extrema im- portância aos profissionais da saúde, uma vez que este importante sistema se relaciona diretamente às suas atividades profissionais. Por isso, esta uni- dade abordará exclusivamente o tegumento co- mum em todos os seus detalhes e especificações. Todo o texto a seguir será baseado em importan- tes autores da área, como Miranda Neto e Chopard (2014), Moore et al. (2014), Watanabe (2000) e outros. O aprofundamento de seu estudo deve ser realizado considerando o uso concomitante de um atlas de Anatomia Humana como Narciso (2012) e um livro e/ou atlas de Histologia Humana como Junqueira et al. (2018). Desejo a você um ótimo aprendizado! Tegumento Comum O termo tegumento comum engloba a pele e seus anexos e a tela subcutânea que também é conheci- da como hipoderme. Enquanto a tela subcutânea tem localização profunda, a pele é superficial e constituída por duas camadas sobrepostas: epi- derme e derme. _book_Anatomia Humana.indb 22 11/11/2019 11:34:10 23UNIDADE 1 As três principais camadas da pele humana Epiderme Derme Hipoderme Figura 4 - As três principais camadas da pele humana Pele A pele é considerada o maior órgão do corpo hu- mano equivalendo a 16% do peso corporal de um indivíduo adulto e com uma área total de cerca de 2m2. Ela reveste externamente a superfície do corpo, margeia seus orifícios e prolonga-se com as mucosas do corpo dando proteção contra desidra- tação e agentes nocivos (que podem ser agentes químicos, físicos e biológicos). Além disso, a pele apresenta inúmeros recep- tores sensitivos (de dor, tato, temperatura, pressão etc.) os quais ligam-se ao sistema nervoso central informando-o constantemente das condições do meio externo. Adicionalmente, por seu intermé- dio, pode ocorrer eliminação e absorção de várias substâncias do corpo como, porexemplo, medi- camentos. Ela é fantástica! Algumas características da pele podem variar de acordo com as regiões do corpo. Sua espessura, por exemplo, pode variar de 0,5 a 4 mm. Normal- mente é mais espessa nas superfícies dorsais e ex- tensoras do corpo, e em regiões sujeitas à pressão onde é chamada de pele grossa. Em contrapartida, em áreas como pálpebras e lábios, ela é extrema- mente delicada sendo chamada de pele fina. A pele se prende apenas frouxamente às es- truturas próximas (como a tela subcutânea e as fáscias) e por isso pode ser facilmente deslocada ou mesmo se adaptar às irregularidades do cor- po. Todavia, existem faixas de tecido conjuntivo chamadas de retináculos da pele os quais podem limitar parcialmente esta mobilidade. Tais retiná- culos prendem-se à tela subcutânea e às fáscias, formando pontos de fixação profunda da pele. Nos pontos onde estas estruturas estão bem pre- sentes, formam-se sucos superficiais, chamados de linhas de clivagem, que indicam a direção dos feixes de fibras colágenas. Por isso, a pele (mais especificamente a epiderme) é rica em sulcos e cristas que caracterizam as pessoas (como as im- pressões digitais) e as regiões do corpo. Em algumas regiões do corpo, a pele apresenta capacidade de contração devido à presença de fi- bras musculares lisas. Isso acontece, por exemplo, na pele dos mamilos e do escroto. Ademais, a pele pode ser extremamente elástica (como ocorre no dorso da mão) ou pouco elástica (como ocorre na palma da mão). No entanto, o envelhecimento faz que ocorra expressiva perda da elasticidade da pele uma vez que suas fibras elásticas diminuem em termos quantitativos e tornam-se desorganizadas. Tal fato associa-se ao aumento do número de rugas e de flacidez. Vale ressaltar que quando ocorre a distensão excessiva da pele (em caso de gestação, obesidade, edema etc.), pode haver alteração da sua estrutura, com adelgaçamento e ruptura dos feixes de fibras elásticas. _book_Anatomia Humana.indb 23 11/11/2019 11:34:10 24 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Figura 5 - Diferentes tipos de pele humana - A: Pele fina; B: Pele grossa. Vale destacar que a pele pode apresentar-se flá- cida quando a ingestão de proteínas é muito baixa. Isto porque os fibroblastos da pele necessitam de aminoácidos para efetivarem a síntese de colágeno, cuja ausência implica em flacidez cutânea. A vita- mina C estimula a síntese de colágeno e, de igual modo, sua ausência a reduz. A proliferação das células da pele dependem do ritmo circadiano, sendo mais acentuada durante o repouso. O conhecimento da cronobiologia da pele tem permitido aos dermatologistas, cosme- tologistas e profissionais que trabalham em seu benefício, otimizarem a absorção de compostos pela pele, estimulando a utilização de protetores solares durante o dia e cremes hidratantes e nutri- tivos durante a noite. A cor da pele depende de alguns fatores como a quantidade de pigmentos (principalmente me- lanina e caroteno), da cor do sangue circulante, da espessura da epiderme e da quantidade de vasos capilares sanguíneos. Este último fator explica, por exemplo, o fato da pele ficar avermelhada quando aquecida em decorrência da vasodilatação perifé- rica e, em contrapartida, o fato da pele ficar pálida (esbranquiçada) em função da vasoconstrição. Processo de Envelhecimento da Pele _book_Anatomia Humana.indb 24 11/11/2019 11:34:14 25UNIDADE 1 A melanina é produzida pelos melanócitos de maneira geneticamente determinada. Embora o número de melanócitos seja quase o mesmo em todas as raças, a quantidade de melanina que eles produzem determina a cor que a pele apre- sentará (negros têm muita melanina e albinos não a apresentam). É importante destacar que a melanina protege dos raios solares (e conse- quentemente da incidência de câncer de pele). Todavia, um tipo específico de câncer, o mela- noma maligno, pode acometer os melanócitos. Sua prevenção se relaciona à menor exposição aos raios ultravioletas. A exposição da pele ao sol causa escurecimento porque a melanina já existente na pele sofre um processo de escureci- mento e, concomitantemente, ocorre ativação da síntese de nova melanina a partir da liberação do hormônio estimulante de melanócitos (MSH), produzido pela glândula hipófise. O caroteno também influencia na coloração da pele, podendo fazer que ela apresente uma colo- ração amarelada. Este pigmento está presente em alimentos como cenoura, abóbora e mamão. No entanto, é importante enfatizar que a pele amare- lada pode surgir em decorrência de doenças que podem alterar a coloração normal da pele (como icterícia, hepatites etc.). Como visto anteriormente, a pele é constituída por duas camadas sobrepostas: a epiderme e a derme. A epiderme é formada por várias cama- das de células. As mais profundas sofrem divisões celulares, se proliferam e empurram as demais células para regiões mais superficiais as quais pas- sam por um processo de queratinização. Assim, quando queratinizadas e mortas, tais células são eliminadas pelo próprio atrito. Como a queratina é uma proteína de fácil hi- dratação, a tumefação característica da pele de indivíduos que ficam muito tempo submersos na água se deve à hidratação excessiva dela. Além disso, na epiderme, a queratina é responsável pela relativa impermeabilidade que a pele apresenta, dificultando a evaporação de água (o que é es- sencial à manutenção da homeostasia corpórea), impede a penetração de substâncias químicas lesivas e minimiza a invasão de microrganismos. A epiderme não tem vasos linfáticos nem san- guíneos e por isso recebe sua nutrição do tecido conjuntivo da derme. Apresenta três tipos princi- pais de células: as células epiteliais (que são as mais abundantes e formam o epitélio pavimentoso que- ratinizado), os melanócitos e as células do sistema imune. Histologicamente (ou seja, quando vista ao microscópio), a epiderme é constituída por 5 estratos de células: estrato córneo, estrato lúcido, estrato granuloso, estrato espinhoso e estrato basal (ou germinativo). A derme fica abaixo da epiderme, tem muito tecido conjuntivo e é a camada mais espessa da pele. É rica em fibras colágenas e elásticas, o que lhe dá a capacidade de distensão quando tracio- nada. Apresenta muitos vasos sanguíneos e linfá- ticos, nervos e terminações nervosas. Devido aos vasos sanguíneos e glândulas que apresenta, ela participa da regulação da temperatura corporal, na chamada termorregulação. A derme apresenta duas camadas: papilar e reticular. A camada papilar é fina e formada por tecido conjuntivo frouxo que penetra nas papilas dérmicas formando as cristas dérmicas (impres- sões digitais) visíveis na superfície da pele. Nas papilas dérmicas, estão presentes vasos sanguí- neos e receptores do tato. Complementarmente, a camada reticular apresenta muitas fibras colá- genas, elásticas e reticulares entrelaçadas. Na derme, estão os folículos pilosos, as glându- las sudoríparas, as glândulas sebáceas e os mús- culos eretores do pelo. Sua superfície profunda se fixa aos ossos, músculos ou ao tecido conjuntivo da tela subcutânea. _book_Anatomia Humana.indb 25 11/11/2019 11:34:14 26 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Anexos da Pele Os anexos da pele localizam-se na epiderme, na derme e até mesmo na tela subcutânea. Incluem as glândulas sudoríparas, as glândulas sebáceas, as mamas, os pelos e as unhas. As glândulas sudoríparas possibilitam a su- dorese ou também chamada transpiração, que nada mais é do que a eliminação do suor a fim de manter a homeostasia corpórea (tais glândulas atuam na termoregulação). O suor é semelhante ao plasma sanguíneo, contém sódio, potássio, clo- reto, ureia, amônia, ácido úrico e uma pequena quantidades de proteínas. O odor do suor se deve à ação das bactérias sobre ele e das substâncias orgânicas eliminadas. As glândulas sudoríparas também atuam na excreção de metabólitos, medicações e alimentos.Elas são inervadas pelo sistema nervoso autôno- mo simpático e por isso podem ser influenciadas pelas emoções (o que explica o fato de em situa- ções de estresse físico ou psicológico haver au- mento da sudorese). Seu número varia de acordo com as regiões do corpo, sendo abundantes nas palmas das mãos e plantas dos pés, escassas no dorso corpo e ausentes nas pálpebras e glande. Em algumas regiões do corpo (como axila, região inguinal, órgãos genitais externos e ânus) existem algumas glândulas muito semelhantes às glândulas sudoríparas. Todavia, a secreção de tais glândulas é um pouco diferenciada, pois é ligeiramente viscosa, apresenta alguns produtos da desintegração de células glandulares e pode desenvolver um odor característico em função das bactérias locais. As glândulas sebáceas secretam sebo (consti- tuído de gorduras), cuja função é lubrificar a pele e os pelos. Assim, o sebo diminui o ressecamen- to dos pelos e previne a evaporação excessiva da pele, mantendo-a macia e inibindo o crescimento bacteriano. Normalmente elas ficam próximas aos folículos pilosos e não existem nas regiões palmares e plantares. Na adolescência, é comum, por influência hormonal, que as glândulas se- báceas sejam estimuladas e passem a produzir maior quantidade deste sebo. Tal fato, associado à queratinização anormal, à impactação do fluxo do sebo e ao crescimento bacteriano exacerbado, pode causar uma infecção dérmica ou hipodér- mica conhecida como acne. As mamas situam-se à frente dos músculos peitorais e são popular e erroneamente chamadas de seios. Este termo foi atribuído às mamas em decorrência do fato de entre elas existir um sulco intermamário o qual no passado era chamado de seio. Elas têm por função secretar inicialmente o colostro e posteriormente o leite para a nutrição do recém-nascido uma vez que é rico em proteí- nas, lactose, lipídeos e sais minerais. Poros Glândula sebácea Glândula sudorípara Folículo piloso Adipócitos Músculo Hipoderme Derme Epiderme Pele Humana Figura 6 - Pele humana _book_Anatomia Humana.indb 26 11/11/2019 11:34:15 27UNIDADE 1 As mamas são constituídas por 15 a 20 glân- dulas especializadas na produção de leite, as quais passam por um amplo desenvolvimento durante a puberdade em decorrência da influência hormo- nal. Por isso, as mamas são vistas como caracteres sexuais secundários e sofrem uma involução (cha- mada de involução climatérica da mama) gerando redução de tamanho, atrofia de ductos, de glându- las e tecido conjuntivo caracterizando a involução senil. Nos homens, elas são pouco desenvolvidas. A influência hormonal sobre as mamas tam- bém pode ser vista durante o período gestacional e de lactação, e durante o período pré-menstrual. No primeiro caso, as mamas podem até triplicar de tamanho. No segundo, pode haver enrijeci- mento e um quadro doloroso nas mamas. As mamas apresentam uma região central projetada chamada papila mamária onde desem- bocam de 15 a 20 ductos lactíferos. A papila é bastante inervada e sua pele apresenta fibras mus- culares lisas cuja contração (desencadeada por estímulos mecânicos, táteis, térmicos ou sexuais) faz que ela enrijeça. Ao redor da papila está a aréo- la da mama, uma área bastante pigmentada onde existem glândulas sudoríparas e sebáceas que são visíveis como pequenas saliências. Na gravidez, a aréola da mama escurece e tende a manter esta cor após o período gestacional. Internamente, as mamas são compostas por glândulas mamárias cujos ductos lactíferos se abrem na papila mamária. O conjunto destas glândulas é chamado de corpo da mama. Além disso, uma grande quantidade de tecido conjunti- vo forma o estroma da mama. O tecido conjuntivo denso forma trabéculas (ligamentos cutâneos ou ligamentos suspensores da mama) que sustentam o tecido adiposo da mama. A forma e o tamanho das mamas dependem da quantidade de tecido adiposo que elas apresentam. Infelizmente, o câncer de mama atinge grande parte da população feminina mundial. A prevenção é a melhor forma de conter esta doença. Para tanto, a palpação periódica dos linfonodos de drenagem das mamas e o autoexame de mama são essenciais. Músculo Peitoral Maior Tecido Adiposo Glândulas Mamárias Mamilo Papila Mamária Ductos Lactíferos Costelas Figura 7 - Anatomia das mamas Os pelos recobrem uma parte considerável da pele dos mamíferos, embora em algumas regiões específicas possam ser ausentes (como no dorso das falanges distais e nas regiões palmar e plan- tar). Os pelos dão proteção ao corpo, participam da termorregulação, da evaporação do suor e da sensibilidade tátil. Eles variam de acordo com as diferentes regiões corpóreas, com o sexo e grupo étnico. Sua coloração depende da quantidade de melanina que apresentam de forma que a ausência deste pigmento faz que sejam brancos. Os pelos apresentam duas partes: haste (acima da pele) e raiz (dentro do folículo piloso que fica dentre da derme e da tela subcutânea). A base do folículo piloso é dilatada, formando o bulbo piloso e, a cada pelo, há um músculo eretor do pelo cuja contração faz que ele fique ereto e a pele próxima arrepiada. _book_Anatomia Humana.indb 27 11/11/2019 11:34:15 28 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Além disso, ocorre a contração da glândula sebácea cuja secreção é eliminada ao meio externo para diminuir a perda de calor corpóreo. O músculo eretor do pelo pode se contrair involuntaria- mente a partir de emoções (como susto e medo) e também pela influência do frio. Ao redor das Figura 8 - Anatomia do pelo Músculo eretor do pelo Folículo piloso Raiz do pelo Vasos sanguíneos Papila do pelo Glândula sebácea Escalpo Pelo propiamente dito Figura 9 - Anatomia da unha Ma triz da un ha Rai z d a u nha Pre ga p rox imi dal da un ha Epo níq uio /Cu tícu la Co rpo da un ha Lei to d a u nha marg em l ivre da unha Falange distal Estrato germinativo raízes dos pelos, existem várias terminações nervosas e vasos sanguíneos. Os pelos são constituídos de células queratinizadas e in- cluem cabelos, supercílios, cí- lios, vibrissas (pelos do nariz), bigode, barba, hircos (pelos da axila) e púbios (pelos da região púbica). Pelos escuros apresen- tam medular, cortical (pigmen- tada) e cutícula; pelos brancos têm as mesmas camadas, mas a cortical é despigmentada; pelos loiros não têm medular. As unhas são lâminas constituídas de células queratinizadas que recobrem a maior parte das falanges distais das mãos e pés a fim de protegê-las. Sua parte proximal é chamada de matriz da unha (oculta pela pele que a recobre) e sua parte distal e principal é o corpo da unha. A matriz da unha garante a formação e o crescimento da unha. Próximo à raiz, há uma região esbranquiçada em forma de meia lua chamada de lúnula e uma prega que a fixa chamada de eponíquio (ou popularmente, cutícula). As margens la- terais e a margem proximal da unha são fixas aos dedos e sua margem distal é livre. Sua transparência permite ver a tonalidade rosada do leito da unha (local bastante vascularizado e inervado onde a unha repousa). As unhas crescem durante toda a vida (cerca de 1mm / se- mana), pois as células epiteliais da raiz se proliferam e sofrem queratinização formando a pla- ca córnea constituída de célu- las mortas. O crescimento das unhas tende a ser maior no ve- rão e não ocorre em cadáveres. _book_Anatomia Humana.indb 28 11/11/2019 11:34:16 29UNIDADE 1 Tela Subcutânea A tela subcutânea é formada por tecido conjunti- vo frouxo, tecido adiposo e fibras elásticas. Ela une frouxamente a derme aos órgãos adjacentes, pro- tege contra choques e atua como isolante térmico. Adicionalmente, a tela subcutânea representa uma reserva de nutrientes e armazena temporariamen- te alguns hormônios e medicamentos liposso- lúveis. Tal fato pode ser útil quando se utilizam injeções subcutâneas de liberação lenta aplicada diretamente na tela subcutânea. Todavia, isso podeser indesejável quando a via de adminis- tração é outra, mas o medicamento é parcialmente armazenado na tela subcutânea comprometendo sua biodisponibilidade e consequentemente sua ação (é o caso, por exemplo, de medicamentos à base de hormônios lipossolúveis). A tela subcutânea forma uma camada variável de tecido adiposo chamada de panículo adiposo. Embora ela seja mais espessa nas mulheres e sua distribuição no corpo feminino seja uma carac- terística sexual secundária (haja vista ela predo- minar na região de baixo ventre e quadris), em alguns lugares do corpo ela quase inexiste (como no pavilhão auditivo, pálpebras, lábios menores do pudendo, escroto e prepúcio). O tecido conjuntivo subcutâneo tem muitos vasos sanguíneos e vasos linfáticos. Além dis- so apresenta raízes dos folículos pilosos, parte das glândulas sudoríparas, nervos cutâneos e terminações nervosas (principalmente relacio- nadas à pressão). A espessura da tela subcutânea varia de acordo com o estado nutricional do indivíduo e tende a ser maior nas mulheres e a aumentar com a idade em ambos os sexos. Histologicamente, apresenta as camadas areolar, lamelar e a fáscia superficial. A gordura da tela subcutânea normalmente é usada em situações de privação alimentar e desnutrição. Você sabia que a pele tem importante participação da síntese da vitamina D? Tal fato é extremamente importante, pois a vitamina D atua aumentando a absorção de fosfato e cálcio no intestino. A síntese desta vitamina depende da incidência dos raios ultravioletas, os quais, ao atingirem a pele, transfor- mam a pré-vitamina D obtida nos alimentos em sua forma ativa. No verão, a síntese de vitamina D é grande, permitindo que o excedente do consumo seja armazenado no fígado, possibilitando que a reserva seja consumida durante o inverno (pela menor disponibilidade de luz solar). Vale destacar que deficiências na vitamina D podem causar raquitismo (nas crianças) e osteomalácea (nos adultos). Outro dado interessante é o fato da vitamina A (ácido retinóico) ser fundamental para a manutenção da estrutura epitelial normal, pois é necessária para que as células basais se diferenciem em epitélio garantindo assim a integridade da pele e das mucosas. Sua deficiência causa lesões cutâneas como hiperceratose folicular (pele de sapo, escamas de jacaré), cegueira noturna (nictalopia), amolecimento e ulceração da córnea. _book_Anatomia Humana.indb 29 11/11/2019 11:34:16 30 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor30 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor ALTERAÇÕES CORRELATAS É a inflamação da pele que pode ocorrer, por exemplo, quando a pele é exposta a substâncias irritantes químicas ou físicas, ao contato com agen- tes tóxicos ou pode ser em decorrência à exposi- ção excessiva aos raios ultravioletas do sol. Quando streptococos pyogenicos infectam a pele, podem aparecer impetigo (lesão ulcerosa e até purulenta) e erisipela (grave infecção da pele). Também chamadas de dermatite seborreica, as caspas são caracterizadas por placas amareladas e oleosas em toda a extensão do couro cabeludo. Seu agente causador são fungos, e normalmente culminam em queda dos cabelos. É a pele azulada comum em casos de hipóxia/anó- xia (diminuição / falta de oxigênio). Isso ocorre por- que a hemoglobina (responsável pelo transporte de gases no sangue) apresenta coloração vermelho vivo ao transportar o oxigênio e coloração arroxea- da quando o oxigênio não está em quantidade suficiente. É mais evidente onde a pele é fina como nos lábios, pálpebras e unhas transparentes. É a coloração amarelada da pele e das escleras dos olhos. É comum em alguns distúrbios do fígado, porque um pigmento amarelado (chamado bilir- rubina) acumula-se no sangue. É mais evidente em pessoas de pele clara. É uma doença na qual os melanócitos são perdi- dos parcial ou completamente. Assim, a atuação deles na produção de pigmento na epiderme é prejudicada, fazendo que apareçam manchas de tonalidade mais clara pelo corpo. Suas causas in- cluem autoimunidade, fatores neuro-humorais e autodestruição dos melanócitos por intermediá- rios tóxicos da síntese de melanina. É a coloração anormalmente avermelhada da pele que ocorre em casos de lesão cutânea, exposição ao calor excessivo, infecção, inflamação ou reações alérgicas. Ocorre por ingurgitamento dos leitos capilares superficiais. Incisões paralelas às linhas de clivagem da pele tendem a cicatrizar facilmente e com pouca marca de cicatrização. No entanto, quando a incisão é transversal às linhas de clivagem, mais fibras colá- genas são rompidas e a cicatrização é mais difícil, podendo desencadear uma cicatrização excessiva chamada queloide. Estrias são linhas finas e enrugadas que aparecem na pele, inicialmente com a coloração avermelha- da e posteriormente esbranquiçada. Elas surgem porque os ajustes da pele em relação à distensão e crescimento não são suficientes para evitar que as fibras colágenas da derme se rompam. Ocorrem comumente em gravidez, com o aumento de peso acentuado (obesidade), em algumas doen- ças (hipercortisolismo ou síndrome de Cushing), e são comuns nas nádegas, abdome, coxas e mamas. Dermatite Caspas Cianose Icterícia Vitiligo Eritema Cicatrização Estrias cutâneas _book_Anatomia Humana.indb 30 11/11/2019 11:34:20 31UNIDADE 1 31UNIDADE 1 São causadas por trauma térmico, radiação ultravioleta ou ionizante, agentes químicos dentre outros. São classificadas de acordo com a profundidade da lesão em queimaduras de primeiro, segundo e ter- ceiro graus. A queimadura de primeiro grau é mais superficial, pois limita-se à epider- me. Ocorre, por exemplo, por exposição ao sol. Seus principais sintomas incluem dor, eritema e edema. Geralmente causa descamação da cama- da mais superficial, sendo facilmente substituída sem que haja cicatriz. A queimadura de segundo grau tem uma profundidade interme- diária, havendo danos à epiderme e à derme superficial. É comum o aparecimento de bolhas e dor em função da agressão às terminações nervosas. A cicatrização é lenta (em média 3 meses) e pode haver cicatriz e algum grau de retração ou contratura. A queimadura de terceiro grau é profunda, pois acomete toda a es- pessura da pele, tela subcutânea e até mesmo músculos subjacentes. É comum o aparecimento de edema e anestesia da região acometida em função da lesão das terminações nervosas locais. Pode exigir, inclusive, enxerto de pele. É importante enfatizar que a extensão da queimadura geralmente é mais importante do que o grau da lesão. De acordo com a Ameri- can Burn Association, uma queimadura extensa é representada por uma queimadura de 3° grau em mais de 10% da área de superfície corporal, ou uma queimadura de 2° grau em mais de 25% desta área ou ainda qualquer queimadura de 3° grau em mãos, pés, face ou pe- ríneo. Quando a área queimada do corpo ultrapassa 70% da área de superfície corporal, a taxa de mortalidade passa a ser superior a 50% A acne é uma infecção dérmica ou hipodérmica comum, mas não exclusiva da adolescência (devido à forte influência hormonal que ocorre nesta fase da vida). Ela é causada pela estimulação excessiva das glândulas sebáceas que passam a produzir maior quantidade de sebo, aliada à queratinização anormal, à impactação do fluxo do sebo e ao crescimento bacteriano exacerbado. Queimaduras Acne _book_Anatomia Humana.indb 31 11/11/2019 11:34:23 Ao chegarmos ao término do estudo específico do tegumento comum, você deve ser capaz de diferenciar as estruturas anatô- micas que formam este sistema, de entender seus principais as- pectos morfológicos e funcio- nais. Ademais, é importante que você se sinta familiarizado com as principais alterações comuns ao tegumento comum e que busque sempre o conhecimento específico das principais técni- cas profiláticas e terapêuticas de tais males. Além disso, você, enquan- to profissional da saúde, não pode esquecer o fato de que a pele é um dosmelhores indica- dores da saúde do ser humano. Por isso, seu exame detalhado, além de ser facilmente reali- zado, é imprescindível e pode evitar maiores complicações à saúde. Assim, é importante que você se aplique à sua prática e se aperfeiçoe em suas habilidades profissionais sempre se capaci- tando e buscando a excelência. Muito sucesso a você! _book_Anatomia Humana.indb 32 11/11/2019 11:34:28 33UNIDADE 1 Generalidades sobre os Ossos Ossos são peças rígidas, com formatos variados. Eles são muito plásticos, ou seja, adaptam-se às estruturas vizinhas, inclusive permitindo que tais estruturas lhes imprimam marcas em decorrência do contato. Isto pode ser visto, por exemplo, ao examinar a face interna da calota craniana. Nes- sa região aparece claramente os sulcos venosos e arteriais, além das impressões dos giros. A criança apresenta um total de 350 ossos, mas o indivíduo adulto tem este número reduzido para 206. Você pode se perguntar: “O que ocorre para este número reduzir tanto”? Na verdade, há uma fusão em vários ossos do corpo, por exemplo, no osso frontal, no sacro e nos ossos do quadril. Além disso, você precisa saber que este número pode sofrer variações de acordo com características in- dividuais. Por exemplo, se a pessoa tiver um dedo ou uma costela a mais ou a menos. Além disso, esse número total de ossos no indivíduo adulto também pode ser influenciado pelo critério de contagem que foi adotado. Sistema Esquelético _book_Anatomia Humana.indb 33 11/11/2019 11:34:33 34 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Muitas vezes escuto pessoas dizendo que seus pesos na balança não estão altos porque estão “aci- ma do peso”, mas que seu peso está alto porque elas têm os ossos largos e pesados. Sorrio quan- do ouço isso porque tenho a impressão de que as pessoas se veem como o Wolverine e seus ossos de adamântio. Acho que as pessoas imaginam que os ossos pesam muito mais do que verdadeiramente pesam. Você sabe qual é o peso real dos seus os- sos? Na verdade, o peso médio dos ossos de um homem adulto de cerca de 80 Kg é cerca de 12 Kg. Assim, não é tanto quanto a maioria das pessoas julgam ser. Por fim, gostaria de esclarecer que, além dos os- sos convencionais conhecidos por nós desde a vida inteira, existem também alguns ossos especiais, por exemplo, os ossos suturais (que ficam entre as suturas do crânio) e os ossos heterotópicos que se formam nos tecidos moles (como nas coxas de jóqueis em áreas onde a hemorragia se calcifica). Funções do Esqueleto Se você acha que a função dos ossos se restringe a possibilitar movimentos, você está muito enga- nado. Na verdade, o esqueleto desempenha vá- rias funções, inclusive algumas consideradas vitais (MOORE et al., 2014). De fato, os ossos se relacionam ao movimento embora não os produzam. Isto porque quem faz o movimento acontecer são os músculos e, por isso, estes são considerados os elementos ativos do movimento (por outro lado, ossos são elementos passivos do movimento). Dessa forma, os ossos são tracionados pelos músculos em um efeito de alavanca. É o que ocorre, por exemplo, quando o músculo quadríceps femoral traciona a tíbia e gera movimento de extensão do joelho. Outras duas funções dos ossos podem ser identificadas quando observamos atentamente o corpo humano na posição bípede (em pé). A habilidade dos ossos em suportar o peso corporal e dar forma aos diferentes segmentos do corpo é extraordinária. Tais funções são prontamente percebidas quando imaginamos um osso fratura- do (o fêmur, por exemplo) e temos a clara certeza de que é impossível descarregar peso naquele membro inferior. Além disso, se você comparar a forma arredondada do seu crânio à forma alon- gada de seus dedos terá clareza de que os ossos são os responsáveis diretos por tais diferenças. Quando os ossos protegem os órgãos inter- nos, armazenam íons essenciais, sintetizam células sanguíneas e absorvem toxinas, certamente, con- cluímos que suas funções também são vitais. Ao observarmos, por exemplo, a importante ação das costelas e do osso esterno envolvendo o coração e os pulmões, e do crânio envolvendo o encéfalo, fica claro o quanto os ossos nos são relevantes. Além disso, eles atuam como reservatórios de cálcio, fosfato e magnésio os quais são essenciais à transmissão sináptica e à contração muscular. A síntese de células sanguíneas ocorre por meio da medula óssea vermelha que se localiza no interior dos ossos (este assunto será esclarecido adiante). E, por fim, eles são hábeis em absorver toxinas e metais pesados da corrente sanguínea diminuindo os efeitos deletérios destes compos- tos em outros tecidos (principalmente no fígado e nos rins). Divisões do Esqueleto O esquelético pode ser dividido em duas partes funcionais, porém interligadas: o esqueleto axial e o esqueleto apendicular. O esqueleto axial é for- mado pelos ossos localizados na região central do corpo, como aqueles da cabeça (ossos do crânio), pescoço (osso hioide e vértebras cervicais) e no tronco (osso esterno, costelas, vértebras e sacro). _book_Anatomia Humana.indb 34 11/11/2019 11:34:33 35UNIDADE 1 Já o esqueleto apendicular é formado pelos ossos localizados nas extremidades do corpo, ou seja, nos membros superiores e inferiores incluindo aqueles que formam os cíngulos (escápula, clavícula e ossos do quadril) (DANGELO; FATTINI, 2011). Tipos de Ossos Quanto à Forma Ao avaliar o comprimento, a largura e a espessu- ra dos ossos, podemos agrupá-los em seis tipos principais: longos ou tubulares, curtos, laminares ou planos, irregulares, sesamoides e pneumáticos (WATANABE, 2000). Os ossos longos ou tubulares têm predomínio do comprimento em relação à largura e à espessura. Apresentam uma cavidade central (chamada ca- vidade medular) que abriga a medula óssea. Além disso, sua parte central é chamada de diáfise e suas extremidades são as epífises. Enquanto, a epífise proximal fica mais próxima do cíngulo do mem- bro, a epífise distal fica mais distante dele. A região de transição entre epífise e diáfise recebe o nome de metáfise. O fêmur é um exemplo deste tipo de osso. Alguns ossos têm características semelhantes, mas não apresentam cavidade medular e, por isso, são chamados de alongados ao invés de longos. Ossos curtos têm os três diâmetros (compri- mento, largura e espessura) equivalentes apresen- tando forma cuboide. É o que ocorre, por exemplo, com os ossos carpais e tarsais. Por outro lado, os ossos laminares ou planos são largos e pouco espessos. Geralmente, esses ossos têm função pro- tetora, como os ossos planos do crânio (o parietal é um bom exemplo). Já os ossos irregulares (como o próprio nome já revela) têm formatos variados sem predomínio específico do comprimento, da largura ou da espes- sura. São exemplos os ossos da face e as vértebras. Os ossos sesamoides são também chamados de ossos intratendíneos ou periarticulares, pois se desenvolvem em alguns tendões e são encontrados onde os tendões cruzam as extremidades dos ossos longos. Assim, eles protegem os tendões contra desgastes e podem mudar seu ângulo de inserção. A patela é um deles. Todavia, algumas pessoas podem apresentar ossos sesamoides nas mãos e pés como variação anatômica.Figura 10 - Esqueleto axial x Esqueleto apendicular _book_Anatomia Humana.indb 35 11/11/2019 11:34:40 36 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Os ossos pneumáticos apresentam cavidades contendo ar em seu interior. Localizam-se no crânio, por exemplo, o osso frontal, a maxila, o esfenoide e o etmoide. Suas cavidades são revestidas por mucosa e são chamadas de seios. Devido ao fato de drenarem seu conteúdo mucoso para a cavidade nasal podem ser chamados, em conjunto, de seios paranasais. Constituição e Arquitetura dos Ossos Quando você observa atentamente um osso, é co- mum achar que se trata de um tecido inerte, seco e até sem vida. Todavia, muito pelo contrário, o tecido ósseoé vivo, dinâmico e se desenvolve e cresce por meio de um metabolismo muito ativo. Pra você ter uma ideia, os ossos são renováveis, em média, a cada dois anos. Isto significa que o fêmur ou o crânio que você tem hoje, não são os mesmos que você tinha há dois anos e nem serão os mesmos que você terá daqui a dois anos. Fantástico, não? Figura 11 – Comparação entre os tipos de ossos: a) exemplo de osso irregular, b) exemplo de osso sesamoide e c) exemplo de osso longo A constituição do tecido ósseo também é fa- bulosa, pois os ossos são constituídos a partir de três componentes principais: água, matriz óssea orgânica e matriz óssea inorgânica (DANGELO; FATTINI, 2011). A água representa cerca de 25% da estrutura óssea. Todavia, é importante ressaltar que esta pro- porção é maior em recém-nascidos e crianças, e vai diminuindo à medida que o envelhecimento ocorre. Por isso, o envelhecimento faz com que os ossos fiquem mais sujeitos a sofrerem fatu- ras as quais, em idosos, são chamadas de “fratura em galho seco”. Crianças têm “fratura em galho verde”. Além disso, ossos de idosos normalmente apresentam maior dificuldade para consolidação de fraturas uma vez que a quantidade de matriz orgânica diminui. A matriz orgânica também representa cerca de 25% da estrutura óssea e é constituída por proteo- glicanas e colágeno. Assim, esta matriz é rica em proteínas que dão resistência à tensão e à tração às quais os ossos estão sujeitos diariamente. Por isso, a matriz orgânica está diretamente relacio- nada à maleabilidade óssea, ou seja, sua ausência pode causar doenças, por exemplo, a doença dos ossos de vidro. Nesse caso, os ossos não resistem à tensão e à tração que os músculos lhes impõem e se tornam fragilizados e quebradiços, mesmo aos menores esforços. Sobre a matriz orgânica se deposita a matriz inorgânica. A matriz inorgânica representa cerca de 50% da estrutura óssea. É constituída por sais minerais (principalmente, fosfato de cálcio e carbonato de cálcio) os quais formam a hidroxiapatita que dá ao osso resistência à compressão. Deficiência nos componentes dessa matriz também pode tornar os ossos fragilizados e quebradiços. O tecido ósseo pode se organizar em dois tipos principais de ossos: os compactos ou corticais e os esponjosos ou trabeculares. No osso compacto, as trabéculas ósseas estão justapostas e formam uma _book_Anatomia Humana.indb 36 11/11/2019 11:34:42 37UNIDADE 1 estrutura pouco porosa e com alta capacidade de resistência para sustentação de peso. Assim, atuam como colunas que suportam a descarga de peso. Em contrapartida, no osso esponjoso as trabéculas ósseas não estão justapostas, mas deixam espaços entre si os quais são preenchidos por ar. Essa disposição origina uma estrutura altamente porosa e adaptada à absorção de impacto uma vez que o ar presente em meio às trabéculas ósseas funciona como um coxim aerífero que amortece a descarga de peso. Ep í� se p ro xi m al D iá �s e Ep í� se d ist al Osso esponjoso Linha epi�sial Periósteo Osso compacto Cavidade medular Osso esponjoso Osso compacto Cartilagem articular Artérias nutrícias Endósteo Medula óssea amarela Osso compacto Periósteo Artérias nutrícias É importante que você saiba que a distribuição de tecido ósseo compacto e esponjoso nos ossos não é uniforme, mas depende das solicitações biome- cânicas impostas aos ossos, ou seja, varia de acor- do com a função exercida pelo osso, com a tração e com a pressão a que os ossos são submetidos. Assim, embora todos os ossos tenham uma fina camada superficial de osso compacto ao redor de uma massa central de osso esponjoso, ossos longos adaptados à descarga de peso (como o fêmur, por exemplo) apresentam maior quantidade de osso compacto próximo da parte média da diáfise onde tendem a se curvar. O mesmo não acontece, por exemplo, nos ossos longos que não recebem gran- des descargas de peso (por exemplo, úmero) ou nos ossos carpais e tarsais. Figura 12 - Osso compacto e esponjoso _book_Anatomia Humana.indb 37 11/11/2019 11:34:42 38 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor O efeito piezoelétrico explica parcialmente as diferenças na ar- quitetura dos ossos submetidos ou não à descarga de peso e à tra- ção óssea. Embora a descarga e a tração ocorram constantemente em nosso dia a dia, normalmente elas são maiores ao realizarmos exercícios físicos (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Segundo o efeito piezoelétrico, regiões ósseas onde ocorre com- pressão ficam sujeitas a potenciais elétricos negativos, enquanto nas demais regiões do osso aparecem potenciais elétricos positivos. Onde há potencial elétrico nega- tivo, células ósseas sintetizadoras de ossos são ativadas fazendo deposição óssea proporcional ao estímulo dado. Dessa forma, a tensão óssea estimula a síntese de matriz orgânica e a deposição de sais minerais (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Esse princípio é facilmente identificado em atletas, os quais têm estrutura óssea diferenciada em relação aos indivíduos seden- tários e é aplicado à reabilitação física de pacientes tetraplégicos que perdem a capacidade de manter o ortostatismo. Para estes pacientes, a pedestação por meio de mesas ortostáticas possibilita a manutenção da saúde óssea minimizando o aparecimento de fraturas espontâneas. A arquitetura dos ossos planos do crânio merece destaque, pois é adaptada à proteção do encéfalo alojado em seu interior. Em tais ossos, uma camada de osso esponjoso, chamada díploe, fica interposta entre duas lâminas de osso compacto (uma lâmina externa e outra interna). Assim, quando uma força é im- posta à lâmina externa de osso compacto, a díploe absorve parte desta força (uma vez que em seu interior existe ar interposto às trabéculas ósseas) minimizando as chances da lâmina interna de osso compacto se fragmentar e lesionar o tecido nervoso adjacente. Na díploe, há medula óssea vermelha e por ela passam as veias. Figura 13 - Díploe O tecido ósseo compacto está disposto em unidades chamadas ósteons ou sistema de Havers. Em volta destes canais existem lame- las concêntricas (anéis de matriz extracelular rígida e calcificada), entre as quais há pequenos canais (lacunas) contendo osteócitos que se comunicam entre si. Canalículos minúsculos com líquido extracelular irradiam-se pelos ossos fazendo difusão de oxigênio e nutrientes por todo o osso e drenando resíduos. Vasos sanguíneos, linfáticos e nervos provenientes do periósteo penetram no osso compacto por meio de canais perfurantes transversos ou canais de Volkmann. O tecido ósseo esponjoso, ao contrário, não contém ósteons. Ele é leve (o que reduz o peso total dos ossos) e tende a se localizar onde não há grandes forças ou onde as forças são aplicadas a partir de muitas direções (MOORE et. al, 2014). A manutenção da saúde dos ossos depende da atuação das células que os compõem: os osteoblastos, osteócitos e osteoclastos (MIRAN- DA NETO; CHOPARD, 2014). Os osteoblastos são células jovens, originadas de células osteoprogenitoras, com grande capacidade de divisão celular e, portanto, formadoras de osso. Elas sintetizam e se- cretam fibras colágenas e outros componentes orgânicos necessários à formação da matriz extracelular e iniciam a calcificação. À medida que são recobertos por matriz, tornam-se presos em suas secreções e se transformam em osteócitos. _book_Anatomia Humana.indb 38 11/11/2019 11:34:43 39UNIDADE 1 Os osteócitos são considerados células ósseas maduras relacionadas à manutenção do tecido ósseo e, por isso, são as principais células desse tecido. Assim como os osteoblastos, não sofrem divisão celular (apenas células osteoprogenitoras se dividem). Já os osteoclastos são células grandes que resultam da fusão de até 50 monócitos. Por meio de sua margem pregueada (lacunas de Ho- wship), elas liberam enzimas proteolíticas que englobam e solubilizam cristais que contêm cálcio dissolvendo as matrizes ósseas. Assim,estão diretamente relacionadas à renovação óssea, uma vez que o tecido ósseo sofre reabsorção e reelaboração durante toda a vida fazendo com que o esqueleto seja constantemente renovado (lembra que, em média, o esqueleto se renova a cada dois anos?). No entanto, sua ação excessiva pode causar osteopenia que pode evoluir para osteoporose. A ação das células ósseas de- pende de diversos fatores como idade, hereditariedade, nutri- ção, doença, trauma, gravidez, esforço funcional e influência hormonal. Em relação aos hor- mônios, os ossos sofrem forte influência do hormônio do cres- cimento (GH), dos hormônios sexuais (testosterona, estrógeno e progesterona), da calcitonina (hormônio tireoidiano) e do paratormônio (ou hormônio paratireoidiano). Enquanto o GH, os hor- mônios sexuais e a calcitonina atuam como hormônios os- teogênicos ativando osteoblas- tos, o paratormônio estimula a degradação da estrutura óssea por estimular os osteoclastos. Isto explica o fato da osteopo- rose (doença que torna os ossos progressivamente mais porosos) ser mais comum na velhice e nas mulheres após a menopausa. Ne- las, há redução do estrógeno e da renovação da matriz orgânica. Além disso, no indivíduo com osteoporose, devido à atua- ção excessiva dos osteoclastos causando osteólise, o nível de cálcio no sangue pode subir causando complicações como depósito do cálcio nas articu- lações e rins, e hipercoagulação sanguínea (causando embolia pulmonar, acidente vascular encefálico isquêmico etc.). Nervo Osteócito Osteoblasto Osteoclasto Canal central Lamela VeiaVaso linfáticoArtéria ESTRUTURA DO OSSO LONGO Ósteon Cartilagem Osso Ósteon Medula óssea amarela Osso compacto Periósteo Osteoclasto Osteócito Célula osteoprogenitora Osteoblasto Canal Osteonico Células do tecido ósseo Osteócito Osteoblasto Célula osteoprogenitora Osteoclasto Figura 14 - Ósteon Figura 15 - Células ósseas _book_Anatomia Humana.indb 39 11/11/2019 11:34:44 40 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Vale lembrar que deficiência na ingestão de determinados nutrien- tes pode enfraquecer os ossos. É o caso, por exemplo, das proteínas (uma vez que aminoácidos são necessários para formar colágeno), vitamina C (que estimula a síntese do colágeno), vitamina D (que é responsável pela absorção do cálcio e do fosfato do intestino; é ativada pela exposição ao sol) e vitamina A (que ajuda a fazer com que os ossos respondam adequadamente à tensão). Ainda em relação à constituição e arquitetura dos ossos, é importan- te estudarmos a medula óssea (alojada no interior de alguns ossos), e as camadas de revestimento dos ossos (o pericôndrio, o periósteo e o endósteo). A medula óssea está presente em praticamente todos os ossos do feto e em alguns ossos dos adultos (como costelas, osso esterno, ossos do quadril, crânio e ossos dos membros superiores e inferiores). Nos ossos longos, o osso esponjoso da diáfise é subs- tituído pela cavidade medular a qual abriga a medula óssea. Essa medula pode ser vermelha ou amarela. A vermelha é um órgão hematopoiético, ou seja, produz células sanguíneas. A amarela perde esta função em decorrência do próprio envelhecimento e se torna altamente gordurosa. Uma medula óssea anormal ou cancerosa pode ser substituída por uma medula óssea vermelha saudável a fim de reestabelecer as contagens normais de células sanguíneas por meio de um trans- plante de medula óssea. A medula óssea vermelha saudável pode ser fornecida por um doador do qual é retirada, sob anestesia, da crista ilíaca e injetada na veia do receptor em um processo muito semelhante a uma transfusão de sangue. Um procedimento mais moderno envolve o transplante de células do cordão umbilical (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Pericôndrio, endósteo e periós- teo são camadas de tecido con- juntivo fibroso que revestem os elementos do esqueleto. O peri- côndrio faz o revestimento das cartilagens nutrindo suas faces externas; o endósteo reveste in- ternamente a cavidade medular e contém uma única camada de células formadora de osso; o pe- riósteo faz o revestimento exter- no dos ossos, é capaz de deposi- tar mais osso (sobretudo durante a consolidação de fraturas ou o Embora as vitaminas A e D sejam importantes para os ossos, o excesso de vitamina A acelera a ossificação causando cessação precoce do crescimento corporal. Além disso, deficiência de vi- tamina D pode causar raquitismo na criança e osteomalácia no adulto. Ambas são doenças caracterizadas pela baixa absorção de cálcio pelo intestino e má calcificação da matriz óssea causando amolecimento e deformação dos ossos. Fonte: Guyton e Hall (2011). Figura 16 - Tipos de medula óssea Estrutura óssea Linha epifisial Periósteo Osso esponjoso Vasos sanguíneos Medula óssea amarela Cartilagem articular _book_Anatomia Humana.indb 40 11/11/2019 11:34:45 41UNIDADE 1 crescimento ósseo), formar uma interface para fixação dos tendões e dos ligamentos, proteger o osso e ajudar na nutrição do tecido ósseo. O periósteo se fixa ao osso subjacente pelas fibras perfurantes (de Sharpey) – feixes espessos de colágeno que se estende do periósteo até o interior da matriz óssea (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Crescimento Ósseo As estruturas responsáveis pelo crescimento ósseo em compri- mento e em espessura são diferentes. Enquanto o crescimento em espessura dos ossos é possibilitado pelo periósteo, o crescimento em comprimento é feito pela lâmina epifisial (WATANABE, 2000). O periósteo já foi mencionado anteriormente como sendo uma bainha de tecido conjuntivo que circunda a superfície externa dos ossos em partes não cobertas pela cartilagem articular. Já a lâmina epifisial é uma fina camada de cartilagem hialina localizada na metáfise. Por volta dos 18 anos de idade para mulheres e 21 anos para homens, ela se fecha, ou seja, suas células param de se dividir e o osso substitui a cartilagem permanecendo apenas a linha epifisial. A clavícula é o último osso a parar de crescer. Pericôndrio Endósteo Periósteo Figura 17 - Pericôndrio, periósteo e endósteo Figura 18 - Periósteo e lâmina epifisial Cartilagem articular Osso esponjoso Periósteo Osso compacto Cartilagem epifisial Epífise EpífiseDiáfise _book_Anatomia Humana.indb 41 11/11/2019 11:34:46 42 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Nutrição e Inervação Óssea Você já sofreu alguma fratura? Se já, sabe que dói muito e que pode ocorrer sangramento e hema- toma na região. Contudo, você sabe por que tais coisas acontecem? A dor se deve ao fato dos ossos serem abundantemente inervados, e o sangramen- to ocorre porque eles são muito vascularizados. Vasos sanguíneos e nervos penetram a estrutu- ra óssea a partir do periósteo. Assim, as artérias pe- riosteais penetram a diáfise dos ossos longos pas- sando por canais perfurantes e irrigam o periósteo e a parte externa do osso compacto. Além disso, próximo ao centro da diáfise uma grande artéria nutrícia penetra o osso pelo forame nutrício, chega à cavidade medular, divide-se em ramos distal e proximal para irrigar o tecido ósseo compacto, esponjoso, medula óssea até as linhas epifisiais. É importante ressaltar que enquanto alguns ossos têm apenas uma artéria nutrícia (como a tíbia, por exemplo), outros têm várias (como o fêmur). As extremidades dos ossos são irrigadas por artérias metafisárias e epifisiárias (MORRE et al., 2014). A drenagem venosa dos ossos é feita por veias que seguem trajetos muito semelhantes aos das arté- rias. Assim, as veias que drenam os ossos podem ser uma ou duas veias nutrícias (que acompanham as artérias na diáfise), veias metafisárias e epifisiá- rias (que acompanham as artérias metafisárias e epifisiárias) e veias periostais (que acompanham as artérias periostais). De igual modo, os nervos dos ossos acompa- nham os vasos sanguíneos que os suprem. Assim, o periósteo é rico em nervos periostais sensitivos (alguns responsáveis pela dor)e nervos vasomo- tores responsáveis pela vasoconstrição e vasodila- tação dos vasos regulando o fluxo de sangue para a medula óssea. Vale lembrar que no periósteo também tem vasos linfáticos. Ossificação e Fratura Você já se perguntou se os fetos têm ossos pron- tos? Ou se todos os ossos dos fetos são de cartila- gem? Que tipo de substância pode originar osso? Bom, para responder estas e outras perguntas, primeiro é importante você saber que os ossos não nascem prontos. Eles são gradativamente formados por um processo contínuo chamado ossificação ou osteogênese que se inicia na sexta semana de desenvolvimento. A ossificação ocorre a partir de células mesenquimais presentes no esqueleto do embrião, no local onde os futuros ossos serão formados (MIRANDA NETO; CHO- PARD, 2014). Embora alguns ossos (como o esfenoide e o temporal) tenham uma ossificação mista, normal- mente, ela ocorre de duas formas: a intramembra- nosa e a endocondral. Na ossificação intramem- branosa, o osso se forma diretamente dentro do mesênquima, em uma região chamada centro de Figura 19 – Artérias ósseas Vasos sanguíneos e nervos responsáveis pela irrigação, drenagem e inervação óssea _book_Anatomia Humana.indb 42 11/11/2019 11:34:48 43UNIDADE 1 ossificação. Ela ocorre nos ossos do crânio e na mandíbula, os quais são ditos ossos conjuntivos. Já na ossificação endocondral, primeiro células mesenquimais se aglomeram na forma do futuro osso e se diferenciam formando um modelo de cartilagem hialina envolto por pericôndrio. Esse tipo de ossificação ocorre principalmente nos ossos longos, os quais ditos ossos condrais. Depois do osso formado pode haver, em casos de traumas ou doenças, a ruptura do osso carac- terizando algum tipo de fratura. Elas são denomi- nadas conforme a gravidade, a forma ou a posição da linha de fratura. Assim, os tipos mais comuns são fratura exposta, fechada, cominutiva, em galho verde, impactada ou por estresse (fissuras micros- cópicas, sem ruptura visível). O reparo de uma fratura é um processo relativamente lento e sua recuperação deve ser sempre acompanhada por um profissional habilitado que acompanhe todas as etapas descritas porque se elas não forem respei- tadas, pode haver formação de um osso defeituoso. Acidentes Anatômicos Os acidentes anatômicos constituem os elementos descritivos para o estudo dos ossos. Eles surgem onde há inserção de tendões, fixação de fáscias, ligamentos, onde artérias penetram os ossos etc. Podem ser de vários tipos, por exemplo, saliências, depressões e aberturas. As saliências (como os processos, tubérculos, eminências, cristas, espinhas etc.) geralmente es- tão relacionadas a pontos de inserção de músculos e fáscias. As depressões (como as fossas, sulcos, incisuras etc.) geralmente servem para adapta- ção a estruturas vizinhas. Já as aberturas (como os forames, canais etc.) geralmente servem para a passagem de estruturas como vasos e nervos (WATANABE, 2000). Principais Ossos do Corpo Humano Ossos da Cabeça Os ossos da cabeça são chamados em conjunto de crânio. Esta estrutura, que se parece com um ca- pacete ou com um estojo ósseo, tem por principal função proteger o encéfalo (parte do sistema ner- voso central popularmente conhecida como “cére- bro”) que fica alojado em seu interior. No entanto, o crânio apresenta outras importantes funções, por exemplo, abrigar e proteger os órgãos dos senti- dos (olhos, mucosa olfatória, órgão auditivo, órgão gustativo e do equilíbrio) por meio de cavidades especiais (como a orbital, nasal, meato acústico interno e cavidade oral). Por fim, o crânio também possibilita a mastigação e a fonação por meio dos movimentos da Articulação Temporo-Mandibular (ATM) (DANGELO; FATTINI, 2011). O crânio tem um teto em forma de cúpula (chamado de calvária) e um assoalho (chamado de base) e é formado por 22 ossos que se articu- lam sendo apenas um deles amplamente móvel, a mandíbula. Vale lembrar que no interior de dois destes ossos (os ossos temporais) estão presentes os ossículos da audição chamados de martelo, bigorna e estribo, os quais não entram nesta con- tagem (DI DIO, 2002). Dos 22 ossos, 8 formam o crânio neural (osso frontal, occipital, esfenoide, etmoide, parietais e temporais) e 14 formam o crânio facial ou visceral (mandíbula, vômer, nasais, palatinos, maxilas, zigomáticos, lacrimais e conchas nasais inferiores). Lembre-se de que a maxila e a man- díbula têm estruturas destinadas à sustentação dos dentes (processos alveolares) e por todo o crânio há muitos forames para a passagem de vasos e nervos. _book_Anatomia Humana.indb 43 11/11/2019 11:34:48 44 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Exceto a articulação da mandíbula com o osso temporal (que é chamada de Articulação Temporo-Mandibular ou ATM), as ou- tras articulações do crânio ocorrem por meio de suturas (como a sagital, a coronal, a lambdoidea, a escamosa, a internasal e a intermaxilar). Estas suturas não estão presentes desde o nascimento, pois, inicialmente, entre os ossos do crânio existem espaços preen- chidos com mesênquima não ossificado chamados de fontí- culos (popularmente chamados de “moleiras”). Os fontículos permitem relativa flexibilidade e possibilidade de crescimento ao crânio fetal. Os principais são o fontículo anterior (entre o osso frontal e os parietais), o posterior (entre os parietais e o occipital), os ântero-laterais (entre frontal, parietal, esfenoi- de e temporal) e os póstero-laterais (entre parietal, occipital e temporal). Esses sofrem ossificação e desaparecem durante o crescimento do crânio. Alguns ossos do crânio (fron- tal, esfenoide, etmoide e maxilas) apresentam cavidades ocas con- tendo ar, as quais são revestidas por mucosa e chamadas de seios paranasais (em decorrência de drenarem seu conteúdo mucoso para a cavidade nasal). Tais ossos são classificados como pneumá- ticos e ajudam a diminuir o peso da cabeça sobre as vértebras cer- vicais e a amplificar o som da voz como uma caixa acústica. A infla- mação de tal mucosa é chamada de sinusite (TORTORA; DER- RICKSON; WERNECK, 2010). Nasal Parietal Occipital Mandíbula Temporal Frontal Esfenoide Zigomático Maxila Figura 20 - Crânio Figura 21 – Fontículos _book_Anatomia Humana.indb 44 11/11/2019 11:34:49 45UNIDADE 1 Ossos do Tronco Os ossos do tronco incluem o osso esterno, as costelas, as vértebras torácicas, as vértebras lom- bares, as vértebras sacrais e as vértebras coccígeas (DI DIO, 2002). Figura 22 - Ossos do pescoço Osso hioide Ossos do Pescoço Fazem parte dos ossos do pescoço o hioide, as vértebras cervicais, o manúbrio do esterno (que será descrito junto com o esqueleto do tórax) e as clavículas (que serão descritas junto ao esqueleto do membro superior) (MOORE et al., 2014). O osso hioide é móvel e fica situado na parte an- terior do pescoço. Ele é suspenso por músculos e ligamentos e não se articula com nenhum outro osso do corpo. Assim, além de fixar os músculos da região anterior do pescoço, ele ajuda a manter as vias aéreas abertas. As vértebras cervicais são sete pequenos ossos irregulares chamados, respec- tivamente, de C1 (ou atlas), C2 (ou áxis), C3, C4, C5 e C6 e C7 (ou vértebra proeminente). Esqueleto apendicular Clavícula Escápula Ossos dos membros superiores Ossos do quadrilOssos dos membros inferiores Esqueleto axial Osso esterno Cartilagens costais Costelas Vértebras torácicas Figura 23 – Ossos do tronco _book_Anatomia Humana.indb 45 11/11/2019 11:34:52 46 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor O osso esterno é um osso ímpar, plano, localizado na região central e anterior do tórax. Ele é dividido em três partes até a meia idade quando ocorre sua ossificação. A parte mais larga e superior é chamada de manúbrio e nela se identificam as incisuras claviculares e a incisura jugular. Ele se une ao corpo que é mais longo e estreito, e onde se identificam as incisurascostais. O processo xifoide é a menor e mais variável parte do esterno. Ele se ossifica por volta dos 40 anos e nos idosos pode-se fundir ao corpo (antes é cartilagíneo). As costelas são 12 pares de ossos planos, curvos, com alta resiliência e que contém medula óssea. Podem ser verdadeiras, falsas ou flutuantes. As ver- dadeiras (do 1° ao 7° par) fixam-se diretamente ao osso esterno por meio de suas próprias cartilagens costais. As falsas (do 8° ao 10° par) têm conexão indireta com o osso esterno, pois suas cartilagens costais são unidas (formando a margem costal). As flutuantes ou anesternais (11° e 12° par de costelas) não se conectam ao osso esterno. As 12 vértebras torácicas são chamadas de T1, T2, T3, T4, T5, T6, T7, T8, T9,T10, T11 e T12, as 5 lombares são chamadas de L1, L2, L3, L4 e L5, as 5 sacrais são chamadas de S1, S2, S3, S4 e S5 e as 3 ou 4 coccígeas são chamadas de Co1, Co2, Co3 e Co4 (variação anatô- mica). No entanto, as vértebras sacrais e as coccí- geas, por ossificação de seus discos intervertebrais, originando o sacro e o cóccix, respectivamente. As lombares são as maiores e mais resistentes vértebras da coluna. Seus processos espinhosos são quadriláteros, largos, espessos e servem para fixação dos grandes músculos do dorso. O sacro é um osso triangular que se posiciona na parte posterior da cavidade pélvica, medialmente aos ossos do quadril, servindo como forte fundação para o cíngulo do membro inferior. Na mulher ele é mais curto, largo e curvo a fim de favorecer a expulsão do bebê du- rante o trabalho de parto normal. O sacro apresenta forames sacrais anteriores e posteriores pelos quais passam nervos e vasos sanguíneos. Para finalizarmos a apresentação do esqueleto do tronco, é importante apresentarmos as curvaturas da coluna vertebral (CV). Em vista anterior e pos- terior a CV deve ser retilínea, mas em vista lateral ela apresenta curvaturas fisiológicas que permi- tem a adequada distribuição do peso corpóreo e, consequentemente, o equilíbrio. Tais curvaturas começam a se formar ainda na vida embrionária quando a CV do feto apresenta- -se convexa (em vista posterior) devido à curva- tura do próprio útero e é chamada de curvatura primária. Quando o bebê começa a sustentar a cabeça, uma curvatura cervical côncava surge e é chamada de lordose cervical. Ao ficar em pé e sustentar o peso corpóreo (em torno de um ano de idade), aparece uma curvatura côncava nas vértebras lombares (lordose lombar). As regiões torácica e sacral são convexas, posteriormente, e, por isso, são chamadas de cifoses. Assim, no adulto normal existem quatro cur- vaturas fisiológicas na CV: Lordose cervical, cifose torácica, lordose lombar e cifose sacral. No entan- to, o aumento destas curvaturas pode se tornar patológico passando a caracterizar um quadro de hipercifose ou hiperlordose. Além disso, o desvio látero-lateral da CV também é patológico e é cha- mado de escoliose (que pode ser “C” à direita ou à esquerda, e em “S”). Entre os corpos das vértebras ficam interpos- tos os discos intervertebrais. Esses discos são constituídos pelo anel fibroso de fibrocartilagem (externamente) e núcleo pulposo (internamente). Ele é altamente hidratado e por isso é capaz de absorver impactos impostos à coluna vertebral e permitir movimentos. Fonte: Kahle; Leonhardt; Platzer, (2006). _book_Anatomia Humana.indb 46 11/11/2019 11:34:52 47UNIDADE 1 Ossos do Membro Superior O membro superior é composto por vários ossos (32 no total) que se articulam entre si para permi- tir ampla mobilidade e realização dos movimen- tos das mãos, inclusive os de pinça fina. O cíngulo do membro superior é composto pela clavícula e pela escápula e tem a função de unir a parte livre do membro ao esqueleto axial. A parte livre do membro apresenta um osso no braço (o úmero), dois ossos no antebraço (o rádio e a ulna), treze ossos nas mãos (oito ossos carpais e cinco ossos metacarpais) e quatorze ossos nos dedos (cinco falanges proximais, cinco falanges distais e qua- tro falanges médias). Apenas os ossos carpais são classificados (quanto à forma) como curtos sendo os demais classificados como longos (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). A clavícula é um osso fino, em forma de “S”, que fica sobre a primeira costela. Sua posição lhe permite se articular com o esterno e com a escá- pula, além de servir como ponto de fixação para alguns ligamentos. Em contrapartida, a escápula é um osso grande, plano, triangular e posterior que se articula com a clavícula e com o úmero. Além disso, ela permite a fixação de muitos mús- culos. Já o úmero é o osso mais longo do membro superior. Sua extremidade proximal se articula com a escápula e sua extremidade distal se articula com o rádio e com a ulna. Ele também permite a fixa- ção de vários músculos que agem sobre o braço, antebraço e mão. Enquanto a ulna (o maior osso do antebraço) tem localização medial, o rádio é o osso lateral do antebraço cuja extremidade distal se articula com três ossos do carpo (semilunar, escafoide e piramidal) para formar a articulação radiocarpal. Rádio e a ulna se articulam entre si pela mem- brana interóssea do antebraço que serve como ponto de fixação de alguns músculos profundos do antebraço. Os ossos da mão compreendem os ossos car- pais e metacarpais. Os carpais são oito ossos curtos interligados por ligamentos nas articulações inter- carpais. São dispostos em duas fileiras com quatro ossos cada. Na fileira proximal estão os ossos es- cafoide, semilunar, piramidal e pisiforme; na fileira distal estão os ossos trapézio, trapezoide, capitato (maior) e hamato. Os ossos metacarpais são cinco ossos longos numerados de I a V, a partir da posição lateral. Consistem de uma base (proximal), um corpo (intermédio) e uma cabeça (distal). Articulam-se proximalmente com os ossos do carpo e distal- mente com as falanges. Os ossos dos dedos são as falanges. São 14 ossos longos que apresentam base, corpo e cabeça e são chamadas de proximal, média e distal. O polegar tem apenas as falanges proximal e distal. Figura 24 – Curvaturas normais da CV _book_Anatomia Humana.indb 47 11/11/2019 11:34:54 48 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Ossos do Membro Inferior O membro inferior é composto por vários ossos que se articulam entre si para permitir ampla mobilidade e o suporte de peso corporal durante a marcha, assim como o equilíbrio do corpo na postura estática. O cíngulo do membro inferior é composto pelos ossos do quadril e pelo osso sacro e tem por função unir a parte livre do membro ao esqueleto axial. Já a parte livre do membro apresenta um osso longo na coxa (o fêmur), dois ossos longos na perna (a tíbia e a fíbula), um osso sesamoide na região do joelho (patela), doze ossos no pé (sendo sete ossos tarsais e cinco ossos metatarsais) e quatorze ossos nos dedos (cinco falanges proximais, cinco falanges distais e quatro falanges médias). Os ossos do quadril e o sacro são irregulares, os tarsais são curtos, os metatarsais e as falanges são longos (DANGELO; FATTINI, 2011). O osso do quadril do recém- -nascido é formado por três os- sos separados por cartilagem: ílio, ísquio e púbis. Eles se unem completamente por volta dos 23 anos de idade e se articulam an- teriormente na sínfise púbica e, posteriormente, unem-se ao sa- cro. Assim, o anel ósseo completo formado pelos dois ossos do qua- dril e sacro fazem uma estrutura em forma de bacia, chamada pel- ve óssea, que dá suporte à coluna vertebral e aos órgãos pélvicos. Como visto, existem impor- tantes diferenças entre o cíngulo do membro superior e inferior. Enquanto, o cíngulo do membro superior não se articula direta- mente à coluna vertebral, o do membro inferior o faz pela arti- culação sacroilíaca. Além disso, o encaixe na escápula para o úmero é raso e o fêmur no osso do qua- dril é profundo. Assim, enquanto o membro superior é adaptado a amplos movimentos, o membro inferior é adaptadoao suporte de peso e à estabilidade articular (GRABINER; GREGOR; VAS- CONCELOS, 1991). O fêmur é o maior, mais pe- sado e mais resistente osso do corpo. Sua extremidade proximal articula-se com o acetábulo do osso do quadril e a distal articula- -se com a tíbia e patela. Já a patela é um osso triangular e sesamoi- de que se desenvolve no tendão do músculo quadríceps femoral aumentando a força de alavanca Clavícula Úmero Escápula Rádio Ulna Ossos carpais Ossos metacarpais Falanges Figura 25 - Ossos do membro superior _book_Anatomia Humana.indb 48 11/11/2019 11:34:55 49UNIDADE 1 deste músculo, mantendo a po- sição de seu tendão na flexão do joelho e protegendo a articulação. Enquanto, a tíbia é o osso medial e sustentador de peso do membro inferior, a fíbula é paralela e lateral à tíbia. Su- periormente, a tíbia se articula com o fêmur e com a fíbula e inferiormente se articula com o osso tálus e com a fíbula (pela membrana interóssea da perna; sindesmose tibiofibular). Os ossos do pé incluem os ossos tarsais e metatarsais. Os tarsais (tálus, calcâneo, navicu- lar, cuboide, cuneiforme lateral, cuneiforme medial e cuneiforme intermédio) unem-se pelas arti- culações intertarsais. Os metatar- sais apresentam uma base (pro- ximal), um corpo (intermédio) e uma cabeça (distal), e são nume- rados de I a V a partir da posição medial. Articulam-se proximal- mente com os ossos tarsais e dis- talmente com as falanges. As falanges (proximal, média e distal) apresentam base, corpo e cabeça, e as articulações que for- mam entre si são chamadas de interfalângicas. Vale lembrar que o hálux (popularmente chamado de “dedão”) apresenta apenas fa- langes proximal e distal. Ossos do quadril Fêmur Patela Tíbia Fíbula Ossos tarsais Ossos metatarsais Falanges Figura 26 - Ossos do membro inferior _book_Anatomia Humana.indb 49 11/11/2019 11:34:57 Sistema Articular Defi nição de Articulação Quem nunca ouviu a vó ou o vô reclamando que está com dor nas “juntas”? Quem nunca ouviu dizer que se estalar o dedo engrossa as “juntas” ou se ficar muito tempo sem movimentar uma articulação a “junta” seca? Será que essas suposi- ções são fato ou boato? A fim de respondermos estas e tantas outras questões sobre este tema tão complexo, vamos fazer um estudo completo sobre as articulações. Em primeiro lugar, você só pode chamar de articulações ou junturas. Junta não! Em segun- do lugar, elas são definidas como o conjunto de estruturas anatômicas que promovem a conexão entre duas ou mais peças do esqueleto. Se a ar- ticulação ocorrer entre apenas dois ossos ela é classificada como simples, mas se acontecer entre mais de dois ossos, ela é chamada de composta (WATANABE, 2000). O restante, abordaremos nos tópicos que seguem. _book_Anatomia Humana.indb 50 11/11/2019 11:34:58 51UNIDADE 1 Funções das Articulações A maioria das articulações relaciona-se à produ- ção de movimentos uma vez que as peças ósseas são tracionadas pelos músculos (durante a contra- ção) e se movem ao redor dos pontos de junturas entre os ossos. Todavia, algumas articulações não são muito móveis, mas dão estabilidade às zonas de união entre os vários segmentos do esqueleto, ou seja, estão mais relacionadas à postura e ao equilíbrio (MOORE et al., 2014). Quando as articulações perdem suas funções em decorrência de doenças articulares graves (por exemplo, artrite), um procedimento cirúr- gico chamado de artroplastia pode ser feito. Nele a articulação lesada é substituída por uma arti- culação artificial. Classifi cação das Articulações As articulações podem ser classificadas segundo vários critérios, sendo os dois mais utilizados o critério funcional (com base nos tipos de mo- vimentos que permitem) e o critério estrutural (baseado em características anatômicas) (GRA- BINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). A classificação funcional está relacionada ao grau de movimento que a articulação permite. Assim, pode ser chamada de sinartrose (quando a articulação é fixa, sem movimento), anfiartrose (quando a articulação permite pouco movimen- to) ou diartrose (quando a articulação é muito móvel). Já a classificação estrutural é baseada na presença ou ausência de um espaço (a cavidade articular) entre os ossos da articulação, e no tipo de tecido que une os ossos. Assim, a articulação pode ser fibrosa, cartilagínea ou sinovial. A articulação fibrosa tem ossos unidos por teci- do conjuntivo fibroso rico em fibras colágenas não tem cavidade articular entre os ossos e permitem apenas pequenos deslocamentos e movimentos vibratórios. A articulação cartilagínea tem ossos unidos por cartilagem hialina ou fibrocartilagem, não tem cavidade articular entre os ossos e também permite apenas pequenos deslocamentos e movi- mentos vibratórios. Em contrapartida, a articulação sinovial tem ossos unidos por tecido conjuntivo denso não modelado em forma de cápsula articular, tem cavidade articular e apresenta alguns elementos articulares característicos e outros especiais. As articulações fibrosas podem ser do tipo su- tura, sindesmose ou gonfose. As suturas são fun- cionalmente classificadas como sinartroses, são encontradas nos ossos do crânio e podem ser pla- nas (quando os ossos se encaixam de forma retilí- nea, como no caso da sutura internasal), serrilhada (quando os ossos se interdigitalizam um no outro, como na sutura sagital) ou escamosa (quando os ossos se sobrepõem um ao outro como ocorre entre o parietal e temporal). A ossificação das suturas geralmente inicia na segunda década de vida e ter- mina após 80 anos, recebendo o nome de sinostose. Na sindesmose há uma distância maior entre os ossos e, por isso, existe mais tecido conjuntivo fibroso entre eles, o qual pode estar disposto como um feixe (ligamento) ou como lâmina (membrana interóssea). Exemplo: membrana interóssea da perna (sindesmose tibiofibular) e do antebraço (sindesmose radioulnar). É funcionalmente clas- sificada como anfiartrose. A gonfose ocorre quando uma estrutura cunei- forme se ajusta a uma concavidade. É o que ocorre, por exemplo, na união das raízes dos dentes com os processos alveolares da maxila e mandíbula. Vale ressaltar que, embora discretos, os movimen- tos dos dentes existem e podem ser percebidos du- rante pequenos rebaixamentos ao serem submeti- dos a fortes compreensões (servem para suavizar impactos e evitar que os dentes se partam). São funcionalmente classificadas como sinartroses. _book_Anatomia Humana.indb 51 11/11/2019 11:34:58 52 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor As articulações cartilagíneas podem ser do tipo sincondrose ou sínfise. A sincondrose apresenta cartilagem hialina entre os ossos e é funcionalmente classificada como sinartrose. Algumas podem ser temporárias sofrendo ossificação no decorrer da vida (como a sincondrose esfenocciptal e a lâmina epifisial) e outras podem ser permanentes (como as articulações entre o osso esterno e as dez primeiras cartilagens costais). A sínfise é uma articulação onde os ossos são uni- dos por um disco de fibrocartilagem (por exemplo, sínfise púbica, manubrioesternal e intervertebral). São classificadas como anfiartroses. As articulações sinoviais têm elementos característicos e especiais que podemos citar: a superfície articular, cartilagem articular, cápsula articular e líquido sinovial. A superfície articular é a porção de cada osso da articulação. Não tem periósteo, mas é coberta por cartilagem articular que é avascular (é nutrida pelo líquido sinovial), é fina, lisa e escorregadia (a fim de reduzir o atrito entre os ossos e absorver impactos). A cápsula articular é uma membrana de tecido conjuntivo que envolve a articulação vedando-a e unindo os ossos (fazendo coaptação articular). É amplamente vascularizada e inervada (tanto com inervação dolorosa quanto proprioceptiva). É composta pela camada fibrosa (externa) e sinovial (interna). Enquanto a fibrosa é resistente,permite coaptação, mobilidade e resistência à tração, a si- novial sintetiza o líquido. O líquido sinovial é viscoso, amarelo-claro, constituído principalmente por ácido hialurônico, proteoglinas e glicosaminoglicanas. Ele reduz atri- to (pois lubrifica a articulação), absorve impactos (pois mantém os ossos levemente afastados) e eli- mina calor produzido nas articulações durante os movimentos. Além disso, remove microrganismos e fragmen- tos resultantes do desgaste articular (pois contém células fagocíticas), nutre e oxigena a cartilagem ar- ticular, assim como dela remove o CO2 e os resíduos metabólicos. Como é produzido proporcionalmen- te ao movimento articular, quando uma articulação fica imobilizada por muito tempo (para consolidar uma fratura, por exemplo), o líquido torna-se me- nos abundante e viscoso. Por isso, as pessoas dizem que a “junta secou”. Todavia, produzido em excesso (por um processo inflamatório, por exemplo, sino- vite), deve ser aspirado a fim de diminuir a pressão intra-articular e a dor (FREITAS, 2004). Os elementos especiais das articulações si- noviais incluem os lábios, os discos articulares, os meniscos, os ligamentos acessórios, as bolsas e as bainhas tendíneas. Os lábios são estruturas de fibrocartilagem localizadas em extremidades articulares, geralmente côncavas, a fim de am- pliar a cavidade e conferir maior estabilidade à articulação. Os discos articulares e os meniscos são estru- turas de fibrocartilagem presentes em articula- ções muito usadas, como a temporomandibular e o joelho. Eles melhoram a coaptação articular, aumentam a estabilidade, reduzem o atrito e os da- nos causados por impactos, além de distribuírem melhor o líquido sinovial. Os ligamentos acessórios aumentam a coapta- ção articular e podem estar localizados por fora da cavidade articular (extracapsulares - como os ligamentos colaterais do joelho) ou por dentro da cápsula, mas fora da cavidade articular (intracap- sulares - como o ligamento cruzado anterior do joelho). As bolsas são sacos de tecido conjuntivo reves- tidos por membrana sinovial e preenchidos por uma pequena quantidade de líquido semelhante ao líquido sinovial. Localizam-se entre pele/osso, tendões/osso, músculo/osso ou ligamento/osso. Reduzem o atrito de articulações muito exigidas e sua inflamação é chamada de bursite. Por fim, bainhas tendíneas são bolsas que envolvem tendões que sofrem atrito. _book_Anatomia Humana.indb 52 11/11/2019 11:34:58 53UNIDADE 1 Tipos de Articulações Sinoviais As articulações sinoviais são nomeadas de acordo com os movimen- tos que permitem, os quais são influenciados pela forma dos ossos. Assim, conforme a configuração das faces articulares, as articulações sinoviais podem ser do tipo plana, gínglimo, trocoide, elipsoide, selar ou esferoide (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). As articulações planas apresentam faces planas e permitem mo- vimentos de deslizamento de uma superfície sobre a outra. Isso ocorre entre os ossos carpais e tarsais, na articulação sacroilíaca, acromioclavicular, esternoclavicular, esternocostais e vertebrocostais. As articulações do tipo gínglimo têm superfícies ósseas cilíndricas apresentando depressão em carretel em um osso e saliência corres- pondente no outro. As articulações interfalângicas, do cotovelo e do joelho são alguns exemplos. As articulações trocoides têm faces ósseas semicilíndricas com- pletadas por ligamentos que possibilitam movimento de rotação. As articulações rádio-ulnar proximal e distal e a articulação atlantoaxial são exemplos. Já nas elipsoides, uma das superfícies ósseas é oval e convexa, e a outra é oval e côncava. As articulações radiocarpal e metatarsofalângica são assim. As selares têm superfície côncava em uma direção e convexa em outra, com encaixe recíproco em outra superfície óssea. Ocorre, por exemplo, na articulação carpometacarpal do polegar. Por fim, as ar- ticulações esferoides têm superfície esférica articulando-se em uma cavidade correspondente (como no quadril e ombro). Figura 27 - Tipos de articulações Sinoviais Movimentos das Articulações Sinoviais As articulações sinoviais podem apresentar movimento do tipo deslizamento, angular, de rotação ou ainda movimentos especiais. No deslizamento, as faces planas dos ossos se movimentam sem alterar significativamente o ângulo entre eles. Assim, a amplitude de movimento é limitada. Diferentemente, nos movimentos angulares o ângulo entre os ossos da articulação é alterado. Incluem flexão, extensão, flexão lateral, abdução, adução e circundução (GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). Flexão e extensão são movimentos opostos. Na flexão ocorre redução do ângulo entre os ossos e na extensão ocorre aumento desse ângulo (normalmente para voltar à posição anatômica). Ocorrem no plano sagital, por meio do eixo coronal (exceto a do polegar). Alguns autores consideram a continuação da extensão para além da posição anatômica como hiperextensão. Na flexão lateral, o segmento corpóreo _book_Anatomia Humana.indb 53 11/11/2019 11:34:59 54 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor é deslocado em direção ao plano lateral. Ocorre no plano coronal por meio do eixo sagital. Este movi- mento ocorre, por exemplo, no tronco. Abdução e adução são movimentos opostos. Na abdução ocorre movimento do segmento corpóreo para longe da linha mediana do corpo. Na adução, o segmento corpóreo é deslocado em direção à linha mediana do corpo (normalmente para voltar à posição anatômica). Ocorrem no plano coronal por meio do eixo sagital (exceto a do polegar). Para os dedos, considera-se como ponto de referência uma linha mediana que passa sobre o dedo médio da mão e sobre o 2° dedo do pé. Na articulação radiocarpal, a abdução pode ser chamada de desvio radial e a adução pode ser chamada de desvio ulnar. Na circundução a extremidade distal do seg- mento corpóreo descreve um círculo. Ocorre como resultado de uma sequência de movimento que envolve flexão, extensão, abdução e adução. Na rotação o osso gira em torno do seu próprio eixo longitudinal. Nos membros, se a face anterior é girada em direção à linha mediana do corpo, a ro- tação é chamada de medial e se é girada para longe da linha mediana do corpo, é chamada de lateral. Em algumas articulações podem ocorrer mo- vimentos especiais. É o caso, por exemplo, da ele- vação e abaixamento. Enquanto na elevação há movimento de uma parte do corpo para cima, no abaixamento esta mesma parte corpórea move-se para baixo. São possíveis na mandíbula, costelas, ombros, osso hioide etc. Outros movimentos especiais incluem a pro- tração (ou protrusão), retração (ou retrusão), in- versão, eversão, flexão dorsal (ou dorsiflexão), fle- xão plantar (ou plantiflexão), supinação, pronação, oposição e reposição. Na protração há movimento anterior de uma parte do corpo no plano trans- versal e na retração ocorre o movimento da parte protraída de volta à posição anatômica (possível na mandíbula, clavícula etc.). A inversão e a eversão ocorrem nas articula- ções intertarsais. Enquanto na inversão as plantas movimentam-se medialmente, na eversão elas se movimentam lateralmente. Na flexão dorsal, o dorso é movido em direção à face anterior da perna e na flexão plantar, a planta é movida em direção à face posterior da perna. A supinação e a pronação ocorrem nas articu- lações radioulnar proximal e distal. Enquanto na supinação a palma é girada anteriormente, na pro- nação a palma é girada posteriormente. Por fim, oposição é o movimento do polegar para tocar as falanges distais dos demais dedos dando-lhe a capacidade de fazer movimentos de pinça (possí- vel na articulação carpometacarpal). Reposição é o movimento oposto. Vascularização e Inervação Articular As articulações são extremamente inervadas e vas- cularizadas (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Elas recebem sangue de ramos articulares das arté- rias que passam ao redor da cápsula articular e são drenadas porveias que acompanham as artérias. A maioria dos nervos articulares é derivada de nervos que suprem músculos ao redor das articula- ções. Vale destacar que a inervação articular é muito importante, pois está relacionada à sua proteção. Assim, principalmente, a cápsula e os ligamentos articulares apresentam vários tipos de sensibilidade, como a dolorosa e a proprioceptiva. Fatores que Afetam o Contato e a Amplitude de Movimento das Articulações Sinoviais Alguns fatores afetam o contato entre as superfícies ósseas de uma articulação e, consequentemente, _book_Anatomia Humana.indb 54 11/11/2019 11:34:59 55UNIDADE 1 limitam a amplitude de movimento articular. Os principais são a forma dos ossos que se articulam, a resistência das estruturas articulares, a tensão mus- cular, o contato de partes moles próximas, ação de alguns hormônios e o desuso (GRABINER; GRE- GOR; VASCONCELOS, 1991). A forma dos ossos afeta, por exemplo, a extensão completa do cotovelo, pois tal movimento depen- de do encaixe da ulna no úmero. Extrapolar esta limitação óssea pode causar lesão. A resistência das estruturas articulares também afeta a amplitude de movimento articular. Isto pode ser visto, por exem- plo, quando se faz a flexão e a extensão do punho em amplitude máxima. Tais movimentos são limitados pela tensão dos ligamentos e da cápsula articular os quais são bastante resistentes. De igual modo, a tensão muscular pode in- fluenciar na realização do movimento. A flexão do quadril associada à extensão do joelho, por exemplo, pode ser limitada por encurtamento dos músculos posteriores da coxa. Quando a flexão do cotovelo é realizada por um indivíduo com hipertrofia do músculo bíceps bra- quial, pode haver limitação da amplitude de movi- mento devido o contato das partes moles próximas (músculos do braço e do antebraço). Além disso, alguns hormônios podem interferir na mobilidade articular. É o caso da relaxina (produ- zida pelos ovários e placenta) que aumenta a mobili- dade da sínfise púbica em gestantes a fim de facilitar o trabalho de parto. Em contrapartida, o desuso ou a imobilização articular podem reduzir a flexibilidade dos ligamentos e tendões. Envelhecimento Articular Os efeitos do envelhecimento sobre as articula- ções variam individualmente segundo fatores hereditários e de uso. Incluem a diminuição na produção do líquido sinovial, a fragilidade da cartilagem articular, a perda da flexibilidade dos ligamentos, o aumento do peso corporal e a ten- dência a deformidades corpóreas (principalmente na coluna vertebral e nos joelhos) (GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 2001). Todavia, todos esses efeitos do envelhecimento podem ser minimizados pela prática de exercícios físicos frequentes e por cuidados alimentares (in- gestão proteica e hídrica adequada, por exemplo). Particularidades das Princi- pais Articulações do Corpo As diferentes articulações do corpo têm carac- terísticas anatômicas próprias, as quais variam, principalmente, com as demandas funcionais. Assim, a presença de discos e meniscos na ar- ticulação do joelho e na articulação temporo- mandibular, por exemplo, deve-se ao fato destas articulações receberem descarga de peso e serem utilizadas abundantemente em toda a vida. Por outro lado, as articulações dos tórax estão adap- tadas não à descarga de peso, mas aos movimen- tos respiratórios. Outro aspecto importante é que as articula- ções se movem ao redor de eixos de movimento. Assim, quanto mais móvel é a articulação, mais eixos passam por ela. Por exemplo, as articulações do quadril e do ombro são muito móveis, pois são triaxiais, ou seja, por elas passam três eixos de mo- vimento. Já a articulação do joelho e do cotovelo são monoaxiais e, por isso, desenvolvem menos tipos de movimentos. O punho e o tornozelo são biaxiais e podem realizar mais movimentos do que as monoaxiais e menos do que as triaxiais. Normalmente, os movimentos de flexão e ex- tensão ocorrem por meio do eixo coronal e são realizados no plano sagital. Já os movimentos de abdução e adução ocorrem por meio do eixo sagital e são realizados no plano coronal. As rotações ocor- rem pelo eixo longitudinal e no plano transversal (GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 2001). _book_Anatomia Humana.indb 55 11/11/2019 11:34:59 Funções Musculares A função do músculo é realizar contração e, a partir desta, vários outros eventos podem ser desencadeados, como manutenção da postura (sustentação estática), respiração, movimento cardíaco, movimento peristáltico e manutenção do tônus muscular. Além disso, os músculos dão forma ao corpo, são fonte de calor e possibilitam movimentos voluntários sendo considerados os órgãos ativos da locomoção (MOORE et al., 2014). Sistema Muscular Quando se fala em sistema muscular é impor- tante nos questionarmos sobre alguns pontos: Todas as pessoas têm o mesmo número de músculos? Será que indivíduos hipertrofiados têm o mesmo número de músculos do que aqueles que sofre- ram atrofia muscular, após terem apresentado uma lesão medular? Até que ponto o sistema ner- voso influencia no poder de contração muscular? _book_Anatomia Humana.indb 56 11/11/2019 11:35:01 57UNIDADE 1 Tipos de Músculos Os músculos podem ser classificados consideran- do diferenças relacionadas ao controle voluntário, à presença de estrias em suas fibras ao microscó- pio e à localização (FREITAS, 2004). Quanto ao controle voluntário, o músculo pode ser voluntário (se sua contração ocorrer de acordo com a vontade do indivíduo) ou involun- tário (se sua contração não depender do controle do indivíduo). Quanto à aparência estriada ou não de suas fibras ao microscópio, o músculo pode ser do tipo estriado (aquele que apresenta estrias transversais) ou liso (sem estrias transversais). Por fim, quanto à localização, o músculo pode ser somático (aquele localizado na parede do corpo ou nos membros) ou visceral (aquele localizado nos órgãos ocos ou nos vasos sanguíneos). Assim, considerando estes três critérios, os músculos podem ser de três tipos: músculo estriado esquelético (movem ou estabilizam ossos e outras estruturas como os olhos; é so- mático e voluntário), músculo estriado cardía- co (forma a maior parte das paredes do coração e dos grandes vasos; é visceral e involuntário) ou músculo liso (forma a parede da maioria dos vasos sanguíneos e órgãos ocos; é visceral e involuntário). Um caso especial ocorre com o músculo dia- fragma, pois embora seja involuntário, ele pode sofrer breve influência voluntária permitindo pe- ríodos de apneia (interrupção da respiração) ou hiperpneia (aumento da frequência da respiração) de acordo com a vontade do indivíduo. Figura 28 - Tipos de músculos Músculo estriado cardíaco Músculo estriado esquelético Músculo liso Músculo Estriado Esquelético Uma membrana de tecido conjuntivo denso, chamada epimísio, envolve todo o músculo. Dela partem septos (o perimísio) para o interior do músculo os quais envolvem pequenos grupos de células ou fibras musculares (fascículos). Cada fibra muscular, por sua vez, é envolvida por uma membrana delicada de tecido conjuntivo, o endo- mísio. Externamente, os músculos são revestidos por mais uma camada de tecido conjuntivo - a fáscia muscular. Epimísio, perimísio e endomísio se prolongam além das fibras musculares para formar os tendões musculares. A maioria dos músculos estriados esqueléticos está fixada aos ossos, cartilagens, ligamentos ou fáscias. Todavia, alguns deles podem se fixar a órgãos (como os olhos), pele (como os músculos da face) ou à mucosa (como os músculos intrínsecos da língua). Tais músculos têm porções carnosas, avermelhadas e contráteis (chamadas de cabeça ou ventre), e ex- tremidades brancas não contráteis (chamadas de tendões). Os tendões são compostos principalmente por feixes de colágenos e servem para fixação dos músculos. Em alguns músculos aparecem como lâminas planas e passam a ser chamados de apo- neurose (MIRANDANETO; CHOPARD, 2014). _book_Anatomia Humana.indb 57 11/11/2019 11:35:08 58 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor A fáscia muscular garante a sustentação do mús- culo bem como a preservação de sua anatomia funcional sustentando vasos e nervos, e permi- tindo o deslizamento entre músculos próximos. Além disso, forma septos intermusculares que compartimentalizam os músculos do corpo. Quando ocorre aderência entra as fáscias (de- vido a processos inflamatórios ou traumas), os músculos diminuem seu poder de contração. As fixações dos músculos (seja por tendão ou aponeurose) costumam ser descritas como origem e inserção. De uma forma geral, origem é a extremidade proximal que permanece fixa durante a contração muscular e a inserção é a extremidade distal que se move durante a contra- ção muscular. No entanto, em alguns movimentos específicos, os conceitos de origem e inserção po- dem ser modificados. Figura 29 - Ventre muscular, tendão e aponeurose M. Peitoral maior M. Serrátil anterior M. Bíceps braquial M. Reto do abdome M. Oblíquo externo do abdome M. Reto femoral M. Trapézio M. Latíssimo do dorso M. Glúteo máximo M. Gastrocnêmio M. Deltoide M. Bíceps femoral Cartilagem articular Tendão Fáscia muscular Músculo estriado esquelético Perimísio Epimísio Fibras musculares Endomísio Fascículo Osso Vasos sanguíneos Figura 30 - Peri, epi e endomísio + fáscia muscular _book_Anatomia Humana.indb 58 11/11/2019 11:35:12 59UNIDADE 1 Tipos de Contração do Músculo Estriado Esquelético Existem dois principais tipos de contração mus- cular fásica ou ativa: a isométrica e a isotônica (GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). Na contração isométrica, o comprimento do mús- culo permanece igual (ou seja, não há movimen- to), mas a força aumenta para resistir à gravidade ou à outra força antagônica. Este tipo de contração é importante para a manutenção da postura quan- do os músculos atuam como fixadores. Em contrapartida, na contração isotônica o músculo altera seu comprimento enquanto o movimento ocorre. Ela pode ser do tipo concên- trica (o movimento se dá junto ao encurtamento do músculo) ou excêntrica (quando o músculo é alongado ao se contrair, ou seja, sofre um relaxa- mento gradual e controlado enquanto exerce uma força contínua). É importante destacar que a gravidade influen- cia no tipo de contração que o músculo exercerá. Assim, a flexão resistida do cotovelo com o indiví- duo em pé é realizada por contração concêntrica dos músculos flexores do cotovelo, mas o lento retorno à extensão do cotovelo é feita pela con- tração excêntrica dos mesmos músculos. Muitas pessoas imaginam que o retorno seja feito pela contração concêntrica do tríceps braquial que é o agonista da extensão do cotovelo. Todavia, não é. Isto porque o fato do movi- mento ocorrer contra a ação da gravidade muda a participação do músculo no movimento. Assim, quando o profissional da saúde precisar analisar biomecanicamente os músculos envolvidos na realização de um determinado movimento, é ne- cessário que ele faça antes uma avaliação da ação da gravidade sobre as fibras musculares. Vascularização e Inervação Muscular A vascularização sanguínea é abundante nos mús- culos, pois dela depende a adequada oxigenação e nutrição muscular, bem como a drenagem de gás carbônico e produtos residuais produzidos no próprio músculo. Sem vascularização eficiente, a contração muscular é inviável e, por isso, ela ge- ralmente é múltipla, ou seja, o músculo é irrigado por várias artérias adjacentes. De igual modo, a inervação do músculo é res- ponsável pela contração e pelos estímulos sensi- tivos deles (dolorosos e proprioceptivos). Assim, a coordenação motora depende da interação entre sistema muscular e sistema nervoso (MOORE et al., 2014). Classificação Funcional do Músculo Estriado Esquelético De acordo com o papel que o músculo desem- penha durante o movimento, ele pode ser clas- sificado como agonista, antagonista, sinergista e fixador ou postural (GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). O agonista (ou motor primário) é o principal músculo que produz o movimento (como o múscu- lo braquial na flexão do cotovelo). Já o antagonista, é o músculo que se opõe à ação de outro músculo (como o músculo tríceps braquial na flexão do co- tovelo). O músculo sinergista complementa a ação do agonista (como o músculo braquiorradial na flexão do cotovelo) ou fixa uma articulação inter- mediária quando o agonista passa por mais de uma articulação (como o músculo extensor dos dedos que é sinergista do flexor profundo dos dedos ao _book_Anatomia Humana.indb 59 11/11/2019 11:35:12 60 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor fixar em extensão todas as outras articulações pelas quais ele passa). Por fim, o músculo fixador ou postural estabiliza partes proximais de um membro mediante contrações isométricas, enquanto ocor- rem movimentos nas partes distais. O músculo del- toide, por exemplo, mantém o ombro em abdução enquanto um movimento de pinça fina é executado nas articulações interfalângicas. Órgãos Anexos do Sistema Muscular São estruturas que facilitam a ação dos músculos ou os mantêm íntegros. Os principais órgãos ane- xos são as bolsas sinoviais, as bainhas fibrosas e sinoviais e os retináculos (FREITAS, 2004). As bolsas sinoviais são sacos fibrosos revestidos de membrana sinovial, contendo líquido sinovial em seu interior. Normalmente, ficam em regiões de maior atrito entre um músculo e um osso, entre dois músculos, entre o músculo e a pele supra- jacente etc. Quando inflamadas ou lesadas por esforço repetitivo, ocorre edema e dor (bursite). As bainhas fibrosas revestem tendões e fás- cias de revestimento. São constituídas por teci- do conjuntivo e se inserem nos ossos formando canais para manterem em posição os tendões de músculos longos que passam em seu interior. Já as bainhas sinoviais são encontradas no interior das bainhas fibrosas. São constituídas por uma camada interna (intimamente aderida ao tendão) e uma camada externa (voltada à bainha fibrosa). Sua função é produzir um líquido semelhante ao líquido sinovial para facilitar o deslizamento dos tendões durante a realização dos movimentos. São comuns na região dos ossos carpais e tarsais. Por fim, os retináculos são espessamentos das fáscias. São constituídos por tecido conjuntivo e servem para manter em posição os tendões que cruzam as articulações. Generalidades do Sistema Muscular Segundo Moore et al. (2014), existem 656 mús- culos estriados esqueléticos nominados no corpo humano. A nomenclatura é baseada em vários critérios, como forma (músculo deltóide e mús- culo trapézio), localização (músculos intercos- tais e músculo subescapular), forma e localização (músculo quadrado da coxa e músculo orbicular da boca), ação (músculo eretor da espinha e mús- culo extensor dos dedos), ação e forma (músculo pronador quadrado e músculo adutor longo), ação e localização (músculo flexor superior dos dedos e músculo flexor radial do carpo), origem e inserção (músculo esternocleidomastoideo) dentre outros. Além disso, os músculos também podem ser classificados de acordo com outros critérios, por exemplo, direção das fibras musculares, sua apa- rência, localização, número de pontos de origem, número de pontos inserção, número de ventres musculares e função. Quanto à direção das fibras musculares, eles po- dem ser de fibras paralelas (como o sartório) ou de Retináculo Retináculo Tendões musculares Figura 31 - Órgãos anexos do sistema muscular _book_Anatomia Humana.indb 60 11/11/2019 11:35:13 61UNIDADE 1 fibras oblíquas (como o glúteo máximo). Normal- mente, músculos de fibras paralelas desenvolvem bastante amplitude de movimento articular, mas normalmente têm pouca força. Em contrapartida, músculos de fibras oblíquas têm bastante força muscular, mas pouca amplitude de movimento. Complementarmente, os músculos de fibrasoblí- quas podem ser do tipo unipenados (como o ex- tensor longo dos dedos), bipenados (como o reto da coxa) ou multipenados (como o deltoide). Vale ressaltar que em alguns músculos, as fi- bras convergem de uma larga origem para um estreito e único tendão dando ao músculo uma arranjo em forma de leque ou um aspecto triangu- lar (é o que ocorre, por exemplo, com o músculo peitoral maior). Quanto à aparência, os músculos podem ser curtos (como os da mão), longos (em forma de fita; como o sartório), plano ou chato (presentes no abdome e no dorso; como o trapé- zio), fusiforme (com uma região central de maior diâmetro em relação às extremidades; como o bíceps braquial) ou circulares ou esfincterianos (que circudam aberturas ou orifícios do corpo; como o orbicular do olho). Quanto à localização, eles podem ser superfi- ciais (aqueles que ficam logo abaixo da pele têm pelo menos uma de suas inserções na derme, sen- do chamados de dérmicos; como os músculos da expressão facial) ou profundos (sem inserções na derme; como músculos profundos do antebraço). A nomenclatura também pode considerar o núme- ro de pontos de origem (bíceps, tríceps e quadrí- ceps), o número de pontos de inserção (bicaudado e policaudado), de ventres musculares (digástrico e poligástrico) ou a função exercida pelo músculo (flexor, extensor, abdutor etc.) Figura 32 - Músculos de fibras paralelas e oblíquas, músculos longos, curtos, planos e fusiformes Músculo fusiforme Músculo de fibras paralelas Músculo longo Músculo de fibras paralelas Músculo de fibras oblíquas Músculo de fibras oblíquas Músculo plano Músculo curto _book_Anatomia Humana.indb 61 11/11/2019 11:35:15 62 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Figura 33 - Da esquerda para a direita: Músculos bíceps, tríceps, quadríceps, digástrico, poligástrico, bi e policaudado Músculo bíceps Músculo tríceps Músculo quadríceps Músculo digástrico ou biventre Músculo poligástrico ou poliventre Músculo policaudado _book_Anatomia Humana.indb 62 11/11/2019 11:35:22 63UNIDADE 1 Principais Músculos do Corpo Humano Principais Músculos da Cabeça e do Pescoço • Levantador do lábio superior e da asa do nariz: levanta o lábio superior e a asa do nariz. • Levantador do lábio superior: levanta o lábio superior fazendo eversão ou “bico” do lábio superior. • Levantador do ângulo da boca: traciona o ângulo da boca obliquamente para cima na risada. • Zigomático maior e zigomático menor: tracionam o ân- gulo da boca obliquamente para cima na risada. • Risório: traciona o ângulo da boca horizontalmente no sorriso. • Orbicular da boca: fecha a rima bucal. • Abaixador do ângulo da boca: abaixa o ângulo da boca fazendo a expressão de tristeza. • Abaixador do lábio inferior: abaixa o lábio inferior fazendo a eversão ou “bico” do lábio inferior. • Mentual: protrai o lábio inferior e enruga a pele do mento. • Bucinador: contrai a bochecha no assopro, assovio, bocejo, e puxa o ângulo da boca lateralmente. • Platisma: o mais superficial; abaixa a mandíbula, traciona o ângulo da boca para baixo e enruga a pele do pescoço. Os músculos da cabeça e do pescoço incluem os da expres- são facial, os mastigatórios, os relacionados ao osso hioide, os superficiais do pescoço (como o esternocleidomastoideo), aque- les relacionados à coluna verte- bral (pré, para e pós-vertebrais), além daqueles que constituem a língua, o palato mole e a faringe (FREITAS, 2004). Os músculos da expressão facial nos permitem expressar emoções por meio de suas con- trações. Seus nomes estão dire- tamente relacionados às suas funções, são eles: • Occipitofrontal: com os ventres frontal e occipital unidos pela aponeurose epicrânica; ele eleva os supercílios enrugando a pele da fronte dando a expressão de atenção. • Prócero: enruga a pele entre os supercílios. • Corrugador do super- cílio: junta os supercílios fazendo a expressão de bravo. • Orbicular do olho: fe- cha a rima palpebral. • Nasal: abre a asa do nariz para ampliar a captação do ar em esforço respi- ratório. Figura 34 - Músculos da expressão facial M. Occipitofrontal M. Orbicular do olhoM Prócero M. Nasal M. Zigomático menor M. Zigomático maior M. Risório M. Abaixador do lábio inferior M. Mentual M. Abaixador do ângulo da boca _book_Anatomia Humana.indb 63 11/11/2019 11:35:23 64 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Os músculos da mastigação incluem o temporal, o masseter, o pterigoide lateral e o pterigoide medial. Todos eles movimentam a mandíbula durante a mastigação e a fala. Figura 35 - Músculos da mastigação M. Temporal M. Masseter Os músculos relacionados ao osso hioide dividem- -se em supra e infra-hioideos. Os supra-hioideos elevam o osso hioide durante a primeira fase da de- glutição e abaixam a mandíbula contra resistência. São eles o digástrico, o estilo-hioideo, o milo-hioi- deo e o gênio-hioideo. Os músculos infra-hioideos abaixam o osso hioide durante a segunda fase da deglutição. São eles: o omo-hioideo, esterno-hioi- deo, esternotireoideo e o tíreo-hioideo. Figura 36 - Músculos supra e infra-hioideos Músculos infra-hioideos Músculos supra-hioideos O esternocleidomastoideo é um músculo superfi- cial do pescoço. Ele flexiona a cabeça (em contra- ção bilateral) e, em contração unilateral, faz a flexão lateral da cabeça para o mesmo lado do músculo que se contraiu associada à rotação da face para o lado contrário do músculo que se contraiu. Figura 37 – Músculo Esternocleidomastoideo M. Esternocleidomastoideo Os músculos pré-vertebrais estão relacionados à flexão da cabeça e do pescoço. Inclui o músculo longo da cabeça, o longo do pescoço, reto anterior da cabeça e reto lateral da cabeça. Os músculos para-vertebrais realizam a flexão lateral da cabeça e do pescoço (este movimento também pode ser chamado de inclinação lateral). Inclui os músculos escalenos anterior, médio e posterior. Os músculos pós-vertebrais estão relaciona- dos à extensão da cabeça e do pescoço. São eles o esplênio da cabeça, esplênio do pescoço, semies- pinal da cabeça, semiespinal do pescoço, multí- fidos e suboccipitais (incluindo o reto posterior maior da cabeça, reto posterior menor da cabeça, oblíquo superior da cabeça e oblíquo inferior da cabeça). Os multífidos são também rotadores da coluna vertebral. _book_Anatomia Humana.indb 64 11/11/2019 11:35:26 65UNIDADE 1 Principais Músculos do Dorso Os músculos do dorso são for- tes, fixam-se às vértebras e são essenciais para sustentar e mover a coluna vertebral. De uma for- ma geral, podem produzir movi- mentos nos membros superiores (como o trapézio, o latíssimo do dorso, o levantador da escápula e os romboides), relacionam-se aos movimentos respiratórios (como o serrátil posterior su- perior e o serrátil posterior in- ferior) ou agem sobre a coluna vertebral permitindo movimen- to e sustentando a postura (como o esplênio da cabeça, esplênio do pescoço, eretor da espinha, semi- nespinal, multífidos e rotadores) (DI DIO, 2002). Músculos paravertebrais Músculos pós-vertebrais Figura 38 - Músculos para (esquerda) e pós-vertebrais (direita) Figura 39 - Músculos do dorso _book_Anatomia Humana.indb 65 11/11/2019 11:35:28 66 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Principais Músculos do Tórax Os músculos do tórax in- cluem músculos que unem o esqueleto axial ao apendicular, músculos da parede anterola- teral do abdome, do pescoço, do dorso e alguns que agem como acessórios da respiração. No entanto, os verdadeiros músculos da parede torácica são os levantadores das cos- telas (agem na inspiração), o transverso do tórax (função expiratória), os intercostais externos (atuam na inspira- ção), os intercostais internos (na expiração), os intercostais íntimos (têm a mesma ação dos intercostais internos) e subcostais (com ação igual a dos intercostais internos). O diafragma é um comum ao tórax e ao abdomee atua como o principal músculo da inspiração. Apresenta uma par- te central aponeurótica chama- da de centro tendíneo, e uma parte muscular dividida em parte esternal, costal e lombar (de acordo com suas fixações). Ele é perfurado pelo forame da veia cava, pelo hiato esofágico e pelo hiato aórtico os quais ser- vem para permitir a passagem, respectivamente, da veia cava inferior, esôfago e da artéria aorta (WATANABE, 2000). Principais Músculos do Abdome Os músculos do abdome podem estar localizados na parede ante- rolateral ou posterior do abdome. Na parede anterolateral existem cinco pares de músculos: reto do abdome, piramidal, oblíquo exter- no do abdome, oblíquo interno do abdome e transverso do abdome. Estes músculos têm diferentes direções de fibras e formam uma sustentação forte para esta região. Juntos, eles sustentam e prote- gem as vísceras abdominais, comprimem o conteúdo abdominal para manter ou aumentar a pressão intra-abdominal, opõem-se ao diafragma, movem o tronco, ajudam a manter a postura, formam um cinturão muscular e atuam ao tossir, espirrar, vomitar, no parto normal, ao assoar o nariz, na defecação e outras atividades (MI- RANDA NETO; CHOPARD, 2014). Os músculos da parede abdominal posterior incluem o psoas maior, o psoas menor, o ilíaco e o quadrado do lombo. O psoas maior fica posicionado lateralmente à coluna vertebral e parte de suas fibras unem-se ao tendão do músculo ilíaco formando o músculo iliopsoas, que é o principal flexor do quadril. Além disso, ele faz a flexão lateral do tronco e ajuda a manter a lordose lombar. O psoas menor é considerado uma variação anatômica podendo não existir. Enquanto o ilíaco estabiliza a articulação do quadril, o quadrado do lombo é flexor lateral e extensor do tronco. Figura 40 – Músculos do tórax M. intercostais externos M. Peitoral maior M. Peitoral menor M. Serrátil anterior _book_Anatomia Humana.indb 66 11/11/2019 11:35:30 67UNIDADE 1 Principais Músculos do Membro Superior Os músculos do membro superior são muito numerosos, principalmente porque possibilitam os precisos movimentos da mão. O trapézio e o latíssimo do dorso atuam sobre o membro supe- rior, mas não serão abordados novamente, pois já foram descritos no dorso. Além deles, também estão inclusos o peitoral maior, peitoral menor, subclávio, serrátil anterior, levantador da escá- pula, romboide maior, romboide menor, deltoi- de, redondo maior, redondo menor, supraespinal, infraespinal, subescapular, os vários músculos do braço, do antebraço e da mão (DI DIO, 2002). O peitoral maior tem forma de leque. Age para aduzir, rodar medialmente, flexionar ou esten- der o braço a partir da flexão. O peitoral menor é quase totalmente coberto pelo peitoral maior. Ele estabiliza a escápula e ajuda a elevar as costelas na inspiração profunda. Já o subclávio fica abaixo da clavícula e tem a função de estabilizar a clavícula durante os movimentos do membro superior. O serrátil anterior faz a protrusão da escápula. O levantador da escápula eleva a escápula. Os rom- boides (maior e menor), nem sempre separados um do outro, situam-se profundamente ao trapézio e fazem a retração e rotação inferior da escápula. O deltoide é um músculo espesso e forte que recobre o ombro dando-lhe um contorno arre- dondado. Ele estabiliza a articulação do ombro e faz sua abdução, flexão e extensão quando suas partes clavicular, acromial e espinal agem, res- pectivamente. O redondo maior também é um importante estabilizador do ombro e faz sua adução e rotação medial. Já o redondo menor é completamente co- berto pelo deltoide e faz rotação lateral do ombro. Acima e abaixo da espinha da escápula ficam os músculos supraespinal e infraespinal, e abaixo dela o subescapular. O supraespinal inicia os pri- meiros 15° de abdução do ombro (é considerado o abdutor “starter”, sendo auxiliado pelo deltoide). O infraespinal, além de ser um poderoso rotador lateral do ombro, ajuda a estabilizar a articulação do ombro. O subescapular é o principal rotador medial do braço e também ajuda a estabilizar a articulação do ombro. Vale ressaltar que os músculos supraespinal, infraespinal, redondo menor e subescapular for- mam o chamado “manguito rotador”. Seus ten- dões fundem-se e reforçam a capsula articular do ombro protegendo e estabilizando a articulação. O nome é dado porque todos eles (menos o su- praespinal) são rotadores do úmero. Figura 41 - Músculos do abdome M. Reto do abdome M. Oblíquo externo do abdome _book_Anatomia Humana.indb 67 11/11/2019 11:35:32 68 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Os músculos do braço são divididos em grupo ante- rior e posterior, os quais são separados pelo úmero. O grupo anterior é flexor do cotovelo (bíceps bra- quial, braquial e coracobraquial) e o grupo posterior é extensores (tríceps braquial e ancôneo). Os flexores são quase duas vezes mais fortes do que os extenso- res, o que justifica o fato de sermos melhores para puxar do que para empurrar (MOORE et al., 2014). O bíceps braquial geralmente tem duas cabeças (longa e curta), mas 10% das pessoas podem ter uma terceira cabeça. É triarticular, pois passa pela articulação do ombro, do cotovelo e pela articula- ção radioulnar proximal. Assim, o bíceps braquial permite flexão do ombro, supinação da articulação radioulnar e flexão do antebraço em supinação. O braquial é profundo ao bíceps braquial e é o princi- pal flexor do antebraço. Já o coracobraquial ajuda a flexionar, aduzir e estabilizar a articulação do ombro. O tríceps braquial tem três cabeças (longa, cur- ta e medial). A cabeça longa cruza a articulação do ombro e a medial é o carro chefe da extensão do cotovelo. A cabeça medial é a mais forte, porém é recrutada principalmente em atividades contra re- sistidas. Assim, este músculo é o principal extensor do antebraço, mas ajuda a estabilizar a articulação do ombro. O ancôneo, por sua vez, situa-se na face posterolateral do cotovelo e ajuda o tríceps braquial a estender o antebraço. Os músculos do antebraço compreendem 17 músculos que cruzam a articulação do cotovelo. Alguns atuam exclusivamente nessa articulação, enquanto outros atuam na articulação do punho e/ou dedos. Geralmente, os flexores ficam no compartimento anterior e têm cerca do dobro do volume e da força dos extensores que ficam no compartimento posterior. Todavia, o músculo braquiorradial embora seja flexor do antebraço está no compartimento posterolateral; o músculo pronador redondo faz a pronação do antebraço; o flexor radial do carpo faz a flexão e abdução do punho; o palmar longo faz a flexão do punho; o flexor ulnar do carpo faz flexão e adução do punho; o flexor superficial dos dedos flexiona as articulações interfalângi- cas proximais dos quatro dedos mediais; o flexor profundo dos dedos é o único que pode flexionar as articulações interfalângica distais dos dedos mediais; o flexor longo do polegar faz a flexão das articulações do polegar; o pronador quadrado é o agonista da pronação do antebraço (é auxilia- do pelo pronador redondo) e ajuda a membrana interóssea a unir o rádio e a ulna. Os músculos extensores do antebraço podem estender e abduzir ou aduzir a articulação do punho (como o extensor radial longo do carpo, o extensor radial curto do carpo e o extensor Figura 42 - Músculos relacionados à escápula M. Levantador da escápula M. Romboide menor M. Romboide maior M. Deltoide M. Trapézio M. Bíceps braquial M. Latíssimo do dorso M. Tríceps braquial Figura 43 - Músculos do braço _book_Anatomia Humana.indb 68 11/11/2019 11:35:34 69UNIDADE 1 ulnar do carpo) podem estender os quatro dedos mediais (como o extensor dos dedos, o extensor do indicador e o extensor do dedo mínimo) e podem estender ou abduzir o polegar (como o extensor longo do polegar, o extensor curto do polegar e o abdutor longo do polegar). Os músculos da mão têm nomes que identi- ficam suas funções. Incluemo músculo abdutor curto do polegar, flexor curto do polegar, opo- nente do polegar, abdutor do dedo mínimo, flexor curto do dedo mínimo, oponente do dedo míni- mo, lumbricais, interósseos e o adutor do polegar. joelho fazendo a flexão de ambas. O iliopsoas é um músculo fixo à coluna vertebral, à pelve e ao fêmur. É o principal flexor da coxa e, em contração bilateral, faz flexão do tronco sobre o quadril e aumenta a lordose lombar sendo ativo também na caminhada em declive. O quadríceps femoral dá o maior volume para a região anterior da coxa e é um dos músculos mais fortes do corpo. É constituído pelos músculos reto femoral, vasto lateral, vasto intermédio e vasto lateral. Tais músculos se unem na parte distal da coxa para formar um tendão único, o tendão do músculo quadríceps femoral, cuja continuação é o ligamento da patela que se fixa à tuberosidade da tíbia. O músculo vasto medial e vasto lateral também ajudam a manter o alinhamento da patela. O reto femoral é biarticular e é mais eficiente em movimentos que associam a flexão do quadril e a extensão do joelho a partir de uma posição de hiperextensão do quadril e flexão do joelho (como na posição preparatória para chutar uma bola de futebol). Todos eles agem em conjunto fazendo a extensão do joelho. Por fim, o músculo articular do joelho é derivado do músculo vasto intermédio. Ele é pequeno, plano e age tracionan- do a membrana sinovial na extensão da perna. Na região medial da coxa estão os músculos adutores (adutor longo, adutor curto, adutor mag- no, grácil e obturador externo). O adutor magno tem uma parte adutora (que também faz flexão da coxa) e uma parte do jarrete (que também faz extensão da coxa). O grácil cruza as articulações do quadril e do joelho e se une a outros dois mús- culos biarticulares (o sartório e o semitendíneo) para formar uma inserção tendínea chamada “pata de ganso”. Ele é sinergista na flexão do joe- lho e na rotação medial da perna quando o joelho está flexionado, e aumenta a estabilidade do joe- lho estendido. O obturador externo é pequeno e profundo e atua também como rotador lateral da coxa (DI DIO, 2002). Principais Músculos do Membro Inferior Os músculos do membro inferior, além de movi- mentar as diversas articulações deste segmento corpóreo, permitem a sustentação do peso do cor- po e a manutenção da postura bípede em equi- líbrio, possibilitando a marcha. Seu estudo pode ser realizado agrupando-os em grupo anterior da coxa, posterior da coxa, medial da coxa, múscu- los da região glútea, da região anterior da perna, da região posterior da perna, da região lateral da perna e músculos do pé (FREITAS, 2004). Na região anterior da coxa estão os flexores do quadril e/ou extensores do joelho e incluem o músculo pectíneo, sartório, iliopsoas, quadríceps femoral e articular do joelho. O pectíneo faz adução, flexão e ajuda na ro- tação medial do quadril. O sartório é o músculo mais longo do corpo, é superficial e parece uma fita. Age sobre a articulação do quadril e do Figura 44 - Músculos do antebraço Músculos extensores do carpo e dos dedos _book_Anatomia Humana.indb 69 11/11/2019 11:35:37 70 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor Os músculos da região glútea incluem o múscu- lo glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo, tensor da fáscia lata, piriforme, obturador inter- no, gêmeo superior, gêmeo inferior e quadrado femoral. O glúteo máximo faz extensão e rotação lateral do quadril e sua paralisia, embora não afete a marcha em superfície plana, afeta a marcha em aclive (principalmente ao subir escadas). Já o glú- teo médio e o glúteo mínimo têm forma de leque e atuam estabilizando a pelve, aduzindo e fazendo rotação medial da coxa. O tensor da fáscia lata tensiona a fáscia lata e é flexor do quadril. O piriforme, obturador inter- no, gêmeo superior, gêmeo inferior e quadrado femoral estabilizam a articulação do quadril e são rotadores laterais da coxa. Os músculos da região posterior da coxa são o semitendíneo, semimembranáceo e o bíceps fe- moral. Todos, menos a cabeça curta do bíceps femoral, são extensores do quadril e flexores do joelho. A cabeça curta do bíceps femoral age ape- nas na flexão do joelho, pois é monoarticular (ou seja, só atravessa a articulação do joelho).Figura 45 - Músculos anteriores e mediais da coxa M. Tensor da fáscia lata M. Sartório M. adutores do quadril M. Reto femoral M. Vasto medial Figura 46 - Músculos da região glútea M. Glúteo máximo Figura 47 - Músculos da região posterior da coxa M. Semitendíneo M. Bíceps femoral M. Semimembranáceo _book_Anatomia Humana.indb 70 11/11/2019 11:35:41 71UNIDADE 1 Os músculos da região anterior da perna incluem o músculo tibial anterior, o extensor longo dos dedos, extensor longo do hálux e fibular terceiro. O tibial anterior é dorsiflexor da articulação talocrural e inversor do pé. O extensor longo dos dedos estende os quatro dedos laterais e faz dorsiflexão do torno- zelo. O extensor longo do hálux estende o hálux e faz dorsiflexão do tornozelo. O fibular terceiro faz dorsiflexão do tornozelo e auxilia na eversão do pé. Já os músculos da região lateral da perna são eversores do pé e podem contribuir para a flexão plantar do tornozelo. São eles o fibular longo e o fibular curto. Os músculos da região posterior da perna são o gastrocnêmio, sóleo, plantar, poplíteo, flexor longo dos dedos, flexor longo do hálux e tibial posterior. O gastrocnêmio forma a parte mais proeminente da panturrilha. Tem duas cabeças (la- teral e medial) as quais se unem por um tendão co- mum, o tendão do calcâneo, que se fixa ao calcâneo (é o mais forte e espesso tendão do corpo humano). É biarticular (faz flexão do joelho e plantiflexão do tornozelo). Todavia, o músculo não pode exercer toda a sua força nas duas articulações ao mesmo tempo. Assim, é mais eficaz com o joelho estendido e é ativado ao máximo quando a extensão do joelho é associada à dorsiflexão. O sóleo é profundo ao gastrocnêmio e é con- siderado o “burro de carga da flexão plantar”. Isso porque é monoarticular (não age sobre o joelho e por isso atua sozinho na flexão plantar quando o joelho está flexionado). Além disso, é antigravita- cional atuando na posição ortostática, na marcha e para manter o equilíbrio. É forte, capaz de manter contração por bastante tempo, mas é lento. Une-se às cabeças do gastrocnêmio para formar o tríceps sural. Devido às diferenças entre o gastrocnêmio e o sóleo, pode-se afirmar que: “Se passeia com o sóleo, mas se ganha o salto à distância com o gastrocnêmio” (MOORE et al., 2014, p. 592). O plantar é pequeno, de ventre curto, tendão longo e está ausente em torno de 10% das pessoas. Atua com o gastrocnêmio. Todavia, é considera- do um órgão de propriocepção, pois tem muitos fusos neuromusculares. Além disso, seu tendão pode ser usado em enxertos (por exemplo, na re- construção dos tendões da mão), sendo que sua retirada não causa incapacidade. O poplíteo é insignificante como flexor do joe- lho, mas durante a flexão, ele ajuda a tracionar o menisco lateral posteriormente; quando em pé com o joelho parcialmente flexionado, ele se con- trai para ajudar o ligamento cruzado posterior na prevenção do deslocamento anterior do fêmur; em pé com os joelhos estendidos, faz rotação late- ral do fêmur liberando o joelho para fazer flexão. O flexor longo do hálux e o flexor longo dos dedos são potentes flexores das articulações do hálux e dos dedos. Já o tibial posterior é inversor do pé e plantiflexor do tornozelo. Os músculos do pé localizam-se na face plan- tar (14 deles), no dorso (2 deles) ou são inter- mediários (4 deles). Os músculos da planta es- tão organizados em camadas e atuam na fase de suporte da marcha mantendo os arcos do pé e produzindo supinação e pronação para permitir que o pé se ajuste ao solo irregular. São eles o ab- dutor do hálux, adutor do hálux, flexor curto do hálux, abdutor do dedo mínimo, flexordo dedo mínimo, flexor curto dos dedos, quadrado plan- tar, lumbricais, interósseos dorsais e plantares. No dorso estão os músculos extensor curto dos dedos e extensor curto do hálux. _book_Anatomia Humana.indb 71 11/11/2019 11:35:41 72 Introdução à Anatomia Humana e Aparelho Locomotor O corpo humano é capaz de realizar movimentos graças ao sistema locomotor formado por ossos, articulações e músculos. A atuação conjunta des- tes sistemas, e em concordância com o comando do sistema nervoso, garante o movimento volun- tário harmônico e coordenado. O sistema muscular é importante, pois repre- senta o elemento ativo do movimento tracionando ossos que, como alavancas, movem passivamente articulações às quais se conectam. Se qualquer um destes sistemas ou o controle nervoso falhar, distúr- bios motores podem surgir como hiper ou hipoto- nia muscular, paralisia, paresia, discinesia e outros. Além disso, as funções destes sistemas também podem ser prejudicadas por fraturas, osteoporose, inflamação, alteração imunológica, trauma e ou- tros. Como estas anormalidades podem compro- meter uma atividade primordial do ser humano que é a deambulação, a saúde e integridade das estruturas anatômicas que o formam é essencial. Para garantir que as funções destes sistemas permaneçam adequadas, cuidados simples podem ser assumidos. Uma dieta adequada, por exemplo, com ingestão de alimentos ricos em colágeno e cálcio (leite e derivados, brócolis, repolho, cama- rão, salmão e ostras). Além disso, exercício físico regular e supervisionado, alternado com repouso articular e muscular, faz toda a diferença. De igual modo, reposição hormonal em mulheres pós-cli- matério, também é indicada. Por fim, é essencial o pleno conhecimento anatômico e fisiológico das estruturas que com- põem tais sistemas, pois por meio do conheci- mento adequado, procedimentos preventivos e curativos (como o fortalecimento e o alongamento muscular, e até mesmo as intervenções cirúrgicas) poderão aperfeiçoar a atuação destes sistemas tão importantes. Vale ressaltar que como profissional da área da saúde é fundamental conhecer profundamente estes sistemas, pois age diretamente modifican- do-os, seja ao predispor hipertrofia óssea ou mus- cular, ou ao manter a integridade articular. Assim, boa capacitação a você. Figura 48 - Músculos da perna (região anterior A, posterior B, lateral C) Figura 49 - Músculos do pé (planta e dorso) M. Gastrocnêmio (cabeça medial) M. Tibial anterior M. Extensor longo dos dedos M. Gastrocnêmio (cabeça lateral) Músculos dorsais do pé A C B _book_Anatomia Humana.indb 72 11/11/2019 11:35:43 73 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Leia, atentamente, o texto que segue sobre o sistema esquelético, avalie as proposições a seguir e responda. “Além de dar sustentação ao corpo, o sistema esquelético protege os órgãos internos e fornece pontos de apoio para a fixação dos músculos. Ele é consti- tuído de peças ósseas e cartilagíneas articuladas, que formam um sistema de alavancas movimentadas pelos músculos” ( VILELA, 2015, on-line)2. I) O esqueleto do tórax é composto pelas cartilagens costais, osso esterno, costelas e vértebras cervicais e torácicas. Sua mobilidade, apesar de não tão expressiva, é essencial à respiração. II) Pode-se afirmar que, exceto os ossos carpais e tarsais que são alongados, os outros ossos que formam o esqueleto dos membros superiores e inferiores são classificados como longos. III) A escápula e a clavícula, embora estejam posicionados no tronco, pertencem ao esqueleto apendicular. IV) A coluna vertebral, em vista lateral, apresenta curvaturas características tais como a lordose cervical, a cifose torácica, a lordose lombar e a cifose sacral. Entretanto, embora tais curvaturas sejam consideradas fisiológicas (normais), o seu aumento é considerado patológico, pois pode ocasionar hiperlordoses e hipercifoses as quais são responsáveis por fortes dores na coluna vertebral. V) O crânio é constituído por 24 ossos os quais apresentam pouca mobilidade. A maior parte deles constitui o crânio neural. Estão corretas as alternativas: a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) VI e V. e) III e V. _book_Anatomia Humana.indb 73 11/11/2019 11:35:44 74 2. O estudo dos planos de secção e tangenciamento do corpo humano é essencial à Anatomia Humana uma vez que auxilia no corte anatômico e na nomenclatura das estruturas estudadas. Analise as proposições a seguir e responda. a) Uma estrutura é dita mediana quando ela está próxima do plano sagital me- diano, mas não sobre ele. b) Ao contrário do proposto, uma estrutura é dita mediana quando ela está pró- xima ao plano anterior. c) Uma estrutura é classificada como média quando se posiciona entre uma es- trutura lateral e outra estrutura medial. d) Uma estrutura é classificada como intermédia quando ela se posiciona entre uma estrutura lateral e outra estrutura medial. e) Ao contrário do proposto na afirmativa, uma estrutura é intermédia quando ela se posiciona embaixo do plano sagital mediano. 3. A Anatomia Humana estuda a constituição do corpo considerando que cada indivíduo pode apresentar diferenças devido a fatores que causam variações. Analise as proposições a seguir e responda. I) A idade é um fator causador de variação anatômica. Bom exemplo disso é o fato de ocorrer sinostose nos ossos do crânio de indivíduos idosos. II) O biótipo é outro fator causador de variação anatômica. Indivíduos do biótipo longilíneo apresentam tórax arredondado, membros curtos em relação ao tronco e baixa estatura corpórea. Em contrapartida, indivíduos brevilíneos têm tórax alongado, membros longos em relação ao tronco e maior estatura corpórea. III) Outro diferente fator causador de variação anatômica é a etnia. No entanto, diferentes grupos raciais apresentam diferenças anatômicas apenas exter- namente (cor de pele, cor de olhos, aspecto do cabelo, do nariz etc.). Não há diferenças anatômicas internas entre grupos raciais. IV) O sexo também causa variação anatômica e, inclusive, pode ser usado na ana- tomia legal para identificação de cadáveres. O crânio masculino, por exemplo, apresenta a fronte mais inclinada (na mulher ela é verticalizada; apresenta ortometopismo). Além disso, o crânio masculino tem acidentes anatômicos mais salientes devido à maior força muscular que os homens apresentam tracionando os ossos ao ponto de marcá-los. _book_Anatomia Humana.indb 74 11/11/2019 11:35:44 75 V) De fato, o sexo é um fator causador de variação anatômica que pode ser usado na anatomia legal para identificação de cadáveres. Todavia, ao contrário do que foi proposto anteriormente, o crânio feminino apresenta a fronte mais inclinada (no homem ela é verticalizada, apresentando ortometopismo). Além disso, no crânio feminino os acidentes anatômicos são mais salientes devido à ação dos hormônios femininos (como o estrógeno e a progesterona). Está correta a alternativa: a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I e IV. e) III e V. 4. Relembre seus conhecimentos sobre miologia, analise as afirmações, a seguir, e identifique-as como verdadeiras ou falsas. ) ( Os músculos classificados como digástricos apresentam dois ventres muscu- lares separados por um tendão intermediário. Um exemplo de tal músculo é o estilo-hioideo (um dos músculos supra-hioídeos que atuam na primeira fase da deglutição elevando o osso hioide). ) ( Os músculos classificados como bíceps, tríceps ou quadríceps apresentam, respectivamente, dois, três ou quatro ventres musculares. Exemplos de tais músculos são, respectivamente, o bíceps braquial, o tríceps braquial e o qua- dríceps femoral. ) ( Os músculos mímicos são classificados como estriados esqueléticos, voluntários e dérmicos. A proximidade deles à pele faz com que suas contrações repetitivas e contínuas sulquem a pele, fazendo com que as rugas de expressão apareçam. a) F - F - V. b) V - F - V. c) F -V - F. d) V - F - F. e) F - V - V. _book_Anatomia Humana.indb 75 11/11/2019 11:35:44 76 5. A miologia estuda os músculos e seus órgãos anexos. Analise as proposições a seguir e responda: I) O músculo estriado cardíaco apresenta estrias transversais e contração in- voluntária. Assim, ele é classificado como somático. II) Ao contrário do músculo estriado cardíaco, o músculo estriado esquelético tem contração voluntária e não apresenta estrias transversais. Assim, ele é classificado como liso. III) Um músculo classificado como tríceps (por exemplo, o tríceps braquial e o tríceps sural) apresenta três ventres musculares e apenas um tendão de inserção. IV) Um músculo classificado como policaudado (como alguns das mãos e dos pés) apresenta um ventre muscular e vários tendões de inserção. V) É considerado o tendão de origem de um músculo seu ponto que permanece mais fixo durante um determinado movimento. Em contrapartida, é consi- derado o tendão de inserção de um músculo seu ponto que mais se move durante um determinado movimento. Está correta a alternativa: a) I e III. b) II e III. c) III e IV. d) IV e V. e) II e V. _book_Anatomia Humana.indb 76 11/11/2019 11:35:44 77 A Teoria de Tudo Ano: 2014 Sinopse: a história de Stephen Hawking é contada pela luz da genialidade e do amor que não vê obstáculos. Quando Jane conhece Stephen, percebe que está entrando para uma família diferente. Com grande sede de conhecimento, os Hawking possuíam o hábito de levar material de leitura para o jantar, ir à ópe- ras e concertos e estimular o brilhantismo em seus filhos – entre eles aquele que seria conhecido como um dos maiores gênios da humanidade, Stephen. Diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) aos 21 anos, Hawking superou todas as expectativas dos médicos sobre suas chances de sobrevivência a partir da perseverança de sua mulher. Mesmo ao descobrir que a condição de Stephen apenas pioraria, Jane seguiu firme na decisão de compartilhar a vida com aquele que havia lhe encantado. FILME _book_Anatomia Humana.indb 77 11/11/2019 11:35:45 78 CFTA - COMISSÃO FEDERATIVA DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA. Terminologia Anatômica: ter- minologia anatômica internacional. São Paulo: Manole, 2001. DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. DI DIO, L. J. A. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada: princípios básicos e sistêmicos, esquelético, articular e muscular. 2. ed. Atheneu: São Paulo, 2002. FREITAS, V. Anatomia conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004. GRABINER, M. D.; GREGOR, R. J.; VASCONCELOS, M. M. Cinesiologia e anatomia aplicada. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. JUNQUEIRA, L. C. U.; CARNEIRO, J.; ABRAHAMSOHN, P.; ZORN, T. M. T.; SANTOS, M. F.; GAMA, P. His- tologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. KAHLE, W.; LEONHARDT. H.; PLATZER, W. Atlas de Anatomia Humana: com texto comentado e aplicações em Medicina, Reabilitação e Educaçã Física: Aparelho de Movimento. São Paulo: Editora Athene, 2006. MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem dinâmica. Maringá: Gráfica Editora Clichetec, 2014. MOORE, K .L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. NARCISO, M. S. Sobotta: atlas de anatomia humana: anatomia geral e sistema muscular. Rio de Janeiro: Gua- nabara Koogan, 2012. ROHEN, J. W.; YOKOCHI, C.; LÜTJEN-DRECOLL, E. Anatomia humana: atlas fotográfico de anatomia sistêmica e regional. São Paulo: Manole, 2002. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo: Atheneu, 2000. REFERÊNCIAS ON-LINE 1Em: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ArqMudi/article/view/24739/pdf_49>. Acesso em: 07 nov. 2018. 2Em: <http://www.afh.bio.br/sustenta/sustenta1.asp>. Acesso em: 07 nov. 2018. _book_Anatomia Humana.indb 78 11/11/2019 11:35:45 79 1. C. 2. C. 3. D. 4. A. Falso. Embora a definição de músculo digástrico esteja correta, o músculo estilo-hioideo não é um exemplo. Exemplo correto seria o próprio músculo digástrico ou mesmo o músculo omo-hioideo. Falso. Embora os exemplos dados estejam corretos, a classificação dos músculos como bíceps, tríceps ou quadríceps não considera o número de ventres musculares, mas sim o número de pontos de origem. Verdadeira. 5. D. _book_Anatomia Humana.indb 79 11/11/2019 11:35:45 80 _book_Anatomia Humana.indb 80 11/11/2019 11:35:45