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ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA PROFESSORA Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa ANATOMIA 2 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo, Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard, Coordenador de Contéudo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior e José Jhonny Coelho Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Maria Fernanda Vasconcelos, Ana Claudia Salvadego, Revisão Textual DanielaFerreira dos Santos, Pedro Afonso Barth, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BARBOSA, Carmem Patrícia. Anatomia Humana Aplicada à Educação Física. Carmem Patrícia Barbosa. Maringá - PR.:UniCesumar, 2016. Reimpresso em 2018. 230 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Anatomia. 2. Humana. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0437-3 CDD - 22ª Ed. 701.1 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas 6 autora 6 Professora Doutora Carmem Patrícia Barbosa Tem Doutorado e Mestrado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) na área de Concentração Biologia Celular, respectivamente nos anos de 2002 e 2013. Especialização em Morfofi siologia Aplicada à Educação Corporal e à Reabilitação pela UEM (2000). Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL/1997). Desde 2002 éprofessora das disciplinas de Anatomia Humana, Fisiologia Humana, Cinesiologia e Biomecânica, Bases Neurofuncionais do Movimento no Centro de Ensino Superior de Maringá (UniCesumar) e desde 2012 é professora na área de Anatomia Humana na UEM, no Departamento de Ciências Morfológicas (DCM) e também no curso de espe- cialização. Foi membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UniCesumar e faz parte do corpo editorial da revista “Saúde e Pesquisa” da mesma instituição. Iniciação Científi ca da UniCesumar e ArquiMudi da UEM. Tem experiência nos cur- sos de Educação Física, Odontologia, Ciências Biológicas, Enfermagem, Nutrição, Biomedicina, Fisioterapia e Estética. apresentação do material Anatomia Humana Aplicada à Educação Física Carmem Patrícia Barbosa Prezado(a) aluno(a), a palavra Anatomia é originária do grego e decorre da fusão de “ana” e “tomein”, que significam, respectivamente, “partes” e “cortar”. Assim, é possível traduzir literalmente a palavra “Anatomia” como cortar em partes. Essa palavra foi escolhida porque na Grécia antiga a atenção era dada exclu- sivamente ao ato de cortar o que estava implícito no conceito geral da anatomia. Tal fato explica, ao menos em parte, porque até mesmo nos dias de hoje muitas pessoas se sentem incomodadas ou têm medo de es- tudar anatomia. Enquanto ciência, a anatomia tem um significado muito mais amplo, pois estuda macro e microscopi- camente a constituição e o desenvolvimento do ser humano. Sua existência sempre esteve relacionada à imensa curiosidade do homem em melhor compre- ender as estruturas que o formam e as diferenças que existem em relação a seus semelhantes, em termos de constituição e função. O início dos estudos anatômicos foi difícil, pois princí- pios éticos e religiosos da época impunham restrições ao ato de expor o corpo humano, já que para desven- dar os mistérios desta fabulosa “máquina”, a simples observação superficial não era suficiente. Por isso, a necessidade de aprofundar tal estudo foi posterior- mente saciada pela dissecação (ou dissecção). A palavra dissecar tem origem latina e é produto da fusão de “dis” (separar) mais “secare” (cortar). Assim, por meio da dissecação, os órgãos do corpo podem ser expostos cirurgicamente, de maneira metódica, por meio de incisões adequadas que mantêm a organiza- ção natural do corpo. Dessa forma, é possível manter os órgãos separados, mas ao mesmo tempo em uma relação de dependência entre forma e função. Vale ressaltar que os estudos da anatomia humana são realizados no cadáver - nome dado ao corpo, após a morte, enquanto, este ainda conserva parte de seus tecidos. Esse termo, segundo a etimologia popular, teve origem na expressão latina “caro data vermibus” que significa “a carne dada aos vermes”. Os etimolo- gistas defendem que a palavra deriva da raiz “cado”, que significa “caído”. Estranho, não é? Esse termo foi escolhido devido ao fato de que, como o estudo anatômico era inicialmente proibido, aqueles que se interessavam pela dissecação muitas vezes o faziam às escuras, violando sepulturas e dissecando corpos que já estavam em estado de putrefação. Complementarmente, estudos realizados em animais originaram a anatomia comparativa por meio da qual a compreensão da constituição do corpo era realizada primeiramente em animais para posterior comparação com seres humanos. Inclusive, a dissecação de animais prenhes permitiu a observação de fetos e representou o início da embriologia como ciência. A embriologia (estudo da formação dos órgãos e sis- temas), a citologia (estudo das células) e a histologia (estudo dos tecidos) tiveram seus desenvolvimentos fortemente marcados pelo surgimento do microscópio. Isto porque este instrumento possibilitou o estudo específico dos elementos constituintes dos seres orga- nizados. Vale ressaltar que embora todas estas ciências sejam consideradas especializações, são vistas como ramos da anatomia. Em relação aos principais aspectos históricos da ana- tomia humana, sabe-se que os primeiros esboços ana- tômicos datam do período paleolítico e que os gregos foram grandes responsáveis por seu desenvolvimento. No Brasil, a Bahia se destacou como “berço do ensi- no médico” e, na mesma época, iniciou-se o ensino médico oficial no Rio de Janeiro. Atualmente, o estudo da anatomia ainda é realizado por meio da dissecação de cadáveres humanos con- siderados normais, embora, possam existir variações anatômicas individuais e diferenças morfológicas em decorrência da passagem do estado vivo ao cadavéri- co. No entanto, é possível aprender anatomia mesmo sem a dissecação por meio da observação do corpo humano, por sua palpação e pelo estudo da anatomia de superfície (a qual avalia os relevos e depressões que as estruturas anatômicas são capazes de formar). Por todo o exposto, pode-se concluir que esta tão bela e polêmica ciência se encarrega de estudar o corpo humano em detalhes. Seu estudo pode ser feito de maneira regional, clínica ou sistêmica. Enquanto, no estudo regional (ou topográfico) são apresentados os pormenores de uma determinada região do corpo, no estudo clínico as estruturas e as funções são apre- sentadas aos profissionais da área da saúde a fim de habilitá-los a compreender o corpo em um contexto clínico geral. No entanto, neste livro, estudaremos a anatomia sistê- mica, ou seja, os detalhes de cada sistema que compõe a fabulosa “máquina” chamada corpo humano. Para tanto, estudaremos o aparelho locomotor (composto pelos sistemas esquelético, articular e muscular), o sistema cardiorrespiratório (composto pelos siste- mas circulatório sanguíneo, circulatório linfático e respiratório), o sistema digestório (responsável pelo processo da digestão), o sistema urogenital (composto pelos sistemas urinários do genital masculino e genital feminino) e sistema neuroendócrino (composto pelos sistemas nervoso e endócrino). Em cada unidade, apresento uma INTRODUÇÃO sobre as generalidades de cada tema, um DESEN- VOLVIMENTO para apresentar o conteúdo progra- mático de cada sistema, CONSIDERAÇÕES FINAIS que resumirão o estudo teórico e prático do assunto abordado e ATIVIDADES DE ESTUDO para reforçar o conteúdo estudado. Desejo a você, um excelente aproveitamento desta tão apaixonante ciência. Na verdade, ela sempre foi não só apaixonante, mas também intrigante. Prova disso pode ser dada ao ler o texto do salmista (nos versos 13 a 16 do capítulo 139) que, mesmo sem grandes recursos tecnológicos ou científicos, não se conteve de tanta admiração ao analisar o milagre da criação e do funcionamento do corpo humano. Que você se encante conhecendo seu próprio cor- po e que a todo momento descubra as melhores formas de favorecer seu desenvolvimento, tanto no adulto quanto na criança, por meio do pleno conhecimento. Bom estudo! Prof.ª Carmem Patrícia. sumário UNIDADE I INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR 14 Anatomia Humana: Conceito e Introdução ao Estudo 16 Divisões do Corpo Humano 17 Planos e Eixos do Corpo Humano 18 Sistema Esquelético 34 Sistema Articular 40 Sistema Muscular 57 Considerações Finais 64 Referências UNIDADE II SISTEMAS CARDIOVASCULAR E RESPIRATÓRIO 70 Sistema Circulatório 90 Sistema Linfático 100 Sistema Respiratório 111 Considerações Finais 116 Referências UNIDADE III SISTEMA DIGESTÓRIO 124 Função Geral e Divisão do Sistema Digestório 125 Órgãos do Sistema Digestório 137 Órgãos Anexos 140 Considerações Finais 145 Referências UNIDADE IV SISTEMA UROGENITAL 152 Sistema Urinário 158 Sistema Genital Masculino 166 Sistema Genital Feminino 174 Considerações Finais 180 Referências UNIDADE V SISTEMA NEUROENDÓCRINO 186 Sistema Nervoso Central (SNC) 199 Sistema Nervoso Periférico (SNP) 209 Sistema Nervoso Autônomo (SNA) 212 Sistema Endócrino 221 Considerações Finais 227 Referências 229 Conclusão Geral Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nestaunidade: • Anatomia Humana: Conceito e introdução ao estudo • Divisões do corpo humano • Planos e eixos do corpo humano • Sistema esquelético • Sistema articular • Sistema muscular Objetivos de Aprendizagem • Apresentar o conceito, a importância, os principais aspectos históricos da anatomia humana e a nômina anatômica atualizada. • Elucidar as principais subdivisões do corpo humano. • Apresentar os planos de tangenciamento e de secção do corpo humano, bem como os eixos de movimento. • Estudar as generalidades sobre os ossos, as funções do esqueleto, as divisões do esqueleto, os tipos de ossos quanto à forma, a constituição e a arquitetura dos ossos, o crescimento, a nutrição e a inervação óssea, os processos de ossifi cação, fratura e reparo ósseo, os acidentes anatômicos dos ossos e os principais ossos do corpo humano. • Defi nir articulações e compreender suas funções, classifi cações, tipos, vascularização, inervação, movimentos, fatores que afetam, envelhecimento e características das principais articulações do corpo humano. • Elucidar funções musculares, tipos de músculos, tipos de contração do músculo estriado esquelético, vascularização e inervação muscular, classifi cação funcional do músculo estriado esquelético, órgãos anexos, generalidades e principais músculos do corpo humano. INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR I unidade INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), o aparelho locomotor é constituído pelos sistemas esquelético, articular e muscular. Eles agem de maneira integrada e sob o comando do sistema nervoso para permitir correção postural, equilíbrio e movimento voluntário. Enquanto o sistema esquelético é formado por ossos e cartilagens, o articular é formado por articulações e o muscular por músculos e órgãos anexos. O sistema esquelético é estudado pela osteologia, o articular pela artrologia, o muscular pela miologia e os movimentos pela cinesiologia (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Embora cartilagem e osso sejam formas especializadas do tecido conjuntivo, a cartilagem é flexível e o osso é rígido. As articulações ou junturas são representadas por estruturas que conectam duas ou mais partes rígidas do esqueleto (ossos, cartilagens e dentes) e embora possam ser chamadas de junturas, não devem ser chamadas de juntas. Os órgãos anexos do sistema muscular incluem fáscias de revestimento, bolsas sino- viais e bainhas fibrosas e sinoviais. Já ossos, articulações e músculos têm funções diferentes, mas complementa- res. Ossos suportam e dão forma ao corpo, protegem órgãos internos, atuam nos movimentos, armazenam íons, fabricam células do sangue e absorvem toxinas. A maioria das articulações e músculos relaciona-se ao movimento, coordenação e tônus muscular, peristalse e produção de calor (TORTORA et al., 2010). O texto abordará estes importantes sistemas e suas especifi cidades em relação ao profi ssional de educação física. Será fundamentado em autores como Dangelo e Fattini (2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e outros. A nomenclatura está de acordo com a nômica anatômica atualizada. Todavia, é necessário utilizar um atlas de anatomia como Narciso (2012) ou Rohen, Yokochi e Lütjen-Drecoll (2002). Veremos aspectos relevantes do aparelho locomotor e a prática do exercí- cio físico, a visão geral da nomenclatura anatômica, segmentação do corpo e planos e eixos. Fique atento e aproveite. Bom estudo! ANATOMIA 14 FATORES GERAIS DE VARIAÇÃO ANATÔMICA pinça fina, é ideal que o indivíduo tenha cinco dedos em cada uma delas. Já o conceito estatístico conside- ra normal aquilo que a maioria dos indivíduos apre- senta. Por exemplo, a maioria das pessoas tem cinco dedos em cada mão, por isso, é normal ter cinco e não três ou quatro dedos (WATANABE, 2000). Todavia, quando comparamos diferentes in- divíduos em um pequeno grupo sempre podemos identificar a existência de pequenas diferenças mor- fológicas entre eles (faça isso onde você estiver agora e perceba como as pessoas são mesmo diferentes). De acordo com Watanabe (2000), quando tais dife- renças não prejudicam a função desempenhada pela estrutura anatômica, diz-se que são apenas “varia- ções anatômicas”. No entanto, quando tais diferen- ças atrapalham a função da estrutura, elas são ditas “anomalias” e, inclusive, podem ser denominadas de “monstruosidades” se impedirem que o indivíduo permaneça vivo. Uma variação anatômica pode ser, por exemplo, as diferentes tonalidades na cor dos olhos de dois ir- mãos. Uma anomalia pode ser a miopia que um deles apresenta. Uma monstruosidade pode ser exempli- ficada quando dois irmãos nascem grudados e um deles tem que ser sacrificado para que o outro viva (é o que ocorre com gêmeos siameses ou xifópagos). Anatomia Humana: Conceito e Introdução ao Estudo O termo “anatomia humana” é mal visto por muitas pessoas. Talvez até para você, caro(a) aluno(a), isto porque muitos pensam que falar em anatomia é sinô- nimo de falar de pessoas mortas ou mutiladas. Na verdade, a anatomia não tem nada de assustador, muito pelo contrário. É uma ciência que muito nos tem esclarecido ao longo dos anos. A anatomia estuda a estrutura do ser humano e as relações entre as partes que o formam. O termo “anatomia” deriva de duas palavras gregas, “ana” e “temnein”, que significam, respectivamente, “em partes” e “cortar ou incisar”. Assim, esta ciência está amplamente embasada no ato de cortar o corpo hu- mano pelo método da dissecção (ou dissecação) a fim de melhor compreender sua estrutura externa e interna (FREITAS, 2004). Na anatomia, estudamos o corpo humano consi- derado “normal”, já que a patologia e outras ciências se dedicam ao estudo das doenças que o acometem. No entanto, para definir “normal” em anatomia, é necessário considerar o conceito estatístico e o conceito idealístico. O idealístico considera normal aquilo que é melhor para o desempenho da função da estrutura anatômica. Por exemplo, para que a mão consiga desempenhar adequadamente sua função de EDUCAÇÃO FÍSICA 15 Para que estes conceitos de “normal”, “variação anatômica”, “anomalia” e “monstruosidade” possam ser empregados, é necessário saber que alguns fato- res podem causar variação. Isto ocorre, por exem- plo, com a idade do indivíduo, com seu sexo, grupo étnico, biótipo e entre outros. Por exemplo, é nor- mal que um bebê apresente os ossos do crânio se- parados, mas não é normal que isso ocorra em um adulto. É normal que uma mulher tenha os ossos da pelve mais abertos a fim de facilitar o parto pélvico, mas não é normal que isso ocorra em um homem. É normal que um indivíduo negro tenha a pele escura e os cabelos enrolados, mas não é normal em um ja- ponês. É normal que um indivíduo longilíneo tenha os membros longos em relação ao corpo, mas não é em um indivíduo brevilíneo. NOMENCLATURA ANATÔMICA Cientistas e profissionais da área da saúde usam uma linguagem própria ao se referirem às estruturas do corpo humano e à forma como a dissecção é feita. Por isso, estar atualizado em relação à nomencla- tura utilizada é essencial ao estudante de anatomia humana, bem como aos profissionais da saúde. Na anatomia, esta nomenclatura engloba termos gerais e especiais originados da língua grega, latina e outras. Em conjunto, a Nômina Anatômica, publicada com o nome de Terminologia Anatômica, tem o objetivo de evitar que estruturas do corpo humano recebam dife- rentes denominações em diversos centros de estudos e pesquisas em anatomia no mundo (DI DIO, 2002). Considerada um documento oficial que deve ser obedecida por professores e alunos da disciplina de anatomia humana, a terminologia anatômica é consti- tuída por cerca de 6.000 termos esporadicamente revis- Por fim, é importante destacar que o estudo da anatomia humana pode ser feito de diferentes for- mas conforme o objetivo do estudo. Por exemplo, a anatomia pode ser estudada a partir dos sistemas que compõem o corpo humano (esta é a anatomiasistêmica que aprenderemos aqui). Por outro lado, seu estudo pode abranger regiões específicas e en- tão passa a ser chamada de anatomia topográfica (a odontologia, por exemplo, estuda anatomia topo- gráfica da cabeça). Além disso, seu estudo pode ser feito por meio de imagens (anatomia radiológica ou de imagem), em comparação a seres de outras es- pécies (anatomia comparativa), com fins artísticos (anatomia artística), em comparação aos diferentes tipos raciais e morfológicos (anatomia antropológi- ca e biotipológica) etc. (WATANABE, 2000). tos e atualizados, os quais são traduzidos pelas socieda- des de anatomia de cada país. No Brasil, a terminologia é traduzida pela Comissão de Terminologia Anatômica da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA) (CFTA, 2001; FREITAS, 2004; TORTORA et al., 2010). Este conjunto de termos empregados fundamen- ta-se na forma da estrutura ou em parte dela (como o músculo deltoide, por exemplo), sua situação (artéria vertebral), sua função (glândula lacrimal) e outras pe- culiaridades. Vale destacar que a utilização de abre- viações é permitida a fim de facilitar seu uso prático. Assim, utiliza-se a. (para artéria), v. (para veia), n. (para nervo), m. (para músculo), lig. (para ligamen- to), gl. (para glândula) e g. (para gânglio). O plural destes termos normalmente emprega a duplicação da letra utilizada na abreviação, por exemplo, aa. (para artérias), vv. (para veias) etc. (WATANABE, 2000). ANATOMIA 16 O pescoço é dividido em pescoço anterior (visce- ral) e posterior (muscular), também denominado nuca. Segundo Freitas (2004), o tronco também é subdividido em tórax (limitado superiormente pela clavícula e inferiormente pelo músculo diafragma), abdome (limitado superiormente pelo músculo dia- fragma e inferiormente pela abertura superior da pelve) e pelve (localizada entre os ossos do quadril). Os membros superiores e inferiores também são subdivididos em uma região conectada ao tron- co, denominada cíngulo (ou cintura) e uma parte livre. A raiz ou cíngulo do membro superior é a cintura escapu- lar e sua parte livre inclui braço, antebraço e mão (sendo sua parte ante- rior denominada palma e a posterior, dorso). A raiz ou cíngulo do membro inferior é a cintura pélvica e sua parte livre inclui coxa, perna e pé (sendo sua parte superior denominada dorso e a inferior, planta). Articulações conectam as várias partes dos mem- bros, por exemplo, as articulações do ombro, cotovelo, quadril e joelhos (FREITAS, 2004). Figura 2 - Partes do corpo humano A posição anatômica de descrição ou posição de referência foi instituída e se tornou de grande valia para evitar erros na nomenclatura e no posi- cionamento do corpo a ser estudado. Em tal posi- ção, supõe-se que o cadáver está ereto, com a cabe- ça em nível horizontal, olhos voltados para frente, pés plantados no chão e direcionados para frente, membros superiores ao lado do corpo com as palmas das mãos voltadas para frente (MOO- RE et al., 2014). A partir da posição anatô- mica, as várias regiões do corpo são denominadas como cabeça, pescoço, tronco, membros su- periores e membros inferiores. A cabeça é subdividida em crânio facial ou viscero- crânio e crânio neural ou neurocrânio. Enquanto o crânio facial é anterior, menor, cons- tituído por 14 ossos, cujas funções se relacionam a abrigar e proteger os órgãos dos sentidos e possibilitar a fonação e a mastigação, o crânio neu- ral é posterior, maior, constituído por oito ossos os quais estão diretamente relacionados à proteção do sistema nervoso localizado em seu interior (TORTORA et al.,2010). Divisões do Corpo Humano Figura 1 - Posição anatômica de descrição EDUCAÇÃO FÍSICA 17 De igual modo, a partir da posição anatômica de descrição, supõe-se a existência de planos imaginá- rios que tangenciam a superfície externa do corpo a fim de facilitar a localização das estruturas cor- póreas. Tais planos são denominados superior ou cranial, inferior ou podálico, lateral direito, lateral esquerdo, anterior ou ventral, e posterior ou dorsal (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Assim, pode-se afirmar que os olhos são estru- turas superiores à cicatriz umbilical já que se loca- lizam mais próximos ao plano superior ou cranial do que à cicatriz umbilical. De igual modo, pode-se afirmar que as escápulas são estruturas posteriores em relação ao osso esterno uma vez que estão mais próximas do plano posterior. Embora os planos de tangenciamento facilitem a localização das estruturas corpóreas, o estudo da ana- tomia também se faz por meio do corpo seccionado, lembra? Assim, planos de secção de referência tam- bém tiveram que ser padronizados. Assim, os termos “plano sagital”, “plano transversal” (ou horizontal) e “plano coronal” (ou frontal) foram adotados. O plano sagital é uma secção longitudinal que divide o corpo ou qualquer uma de suas partes em porções direita e esquerda. Se este plano passar exa- tamente sobre a linha mediana do corpo, ele é cha- mado de plano sagital mediano, o qual divide o cor- po em duas metades iguais denominadas antímero direito e antímero esquerdo. Planos e Eixos do Corpo Humano O plano coronal é uma secção longitudinal que divide o corpo em porção anterior e posterior deno- minadas paquímero anterior ou ventral, e paquíme- ro posterior ou dorsal. Por fim, o plano transversal divide o corpo em porção superior e inferior deno- minadas metâmero superior ou cranial, e metâmero inferior ou podálico (FREITAS, 2004). Figura 3 - Plano Sagital, Coronal e Transverso Plano Coronal Plano Transversal Plano Sagital ANATOMIA 18 Um dos objetivos do estudo da anatomia humana é empregar os conhecimentos adquiridos também no corpo vivo. Dessa forma, existem termos usa- dos para descrever os diferentes movimentos dos membros e outras partes corpóreas que podem ser realizados nas articulações móveis do corpo. Tais movimentos são descritos como pares de opostos, ou seja, flexão e extensão, abdução e adução, ro- tação medial e lateral, supinação e pronação etc. (MOORE et al., 2014; TORTORA et al., 2010). To- dos esses movimentos serão abordados, posterior- mente, nesta unidade, pois são de extrema relevân- cia ao profissional de educação física. Os movimentos sempre ocorrem em um dos pla- nos (sagital, coronal ou transversal) e por meio de linhas imaginárias denominadas eixos, os quais são perpendiculares aos planos. Assim, os movimentos de flexão e extensão ocorrem no plano sagital a par- tir do eixo coronal; a abdução e a adução ocorrem no plano coronal a partir do eixo sagital; a rotação medial e lateral ocorrem no plano transversal a par- tir do eixo longitudinal (GRABINER et al., 1991). Sistema Esquelético GENERALIDADES SOBRE OS OSSOS Ossos são peças rígidas, com formatos variados. Eles são muito plásticos, ou seja, adaptam-se às estrutu- ras vizinhas, inclusive permitindo que tais estrutu- ras lhes imprimam marcas em decorrência do con- tato. Isto pode ser visto, por exemplo, ao examinar a face interna da calota craniana. Nessa região aparece claramente os sulcos venosos e arteriais, além das impressões dos giros. A criança apresenta um total de 350 ossos, mas o indivíduo adulto tem este número reduzido para 206. Você pode se perguntar: “O que ocorre para este nú- mero reduzir tanto”? Na verdade, há uma fusão em vários ossos do corpo, por exemplo, no osso frontal, no sacro e nos ossos do quadril. Além disso, você precisa saber que este número pode sofrer variações de acordo com características individuais. Por exem- plo, se a pessoa tiver um dedo ou uma costela a mais ou a menos. Além disso, esse número total de ossos no indivíduo adulto também pode ser influenciado pelo critério de contagem que foi adotado. Muitas vezes escuto pessoas dizendo que seus pesos na balança não estão altos porque estão “aci- ma do peso”, mas que seu peso está alto porque elas têm os ossos largos e pesados. Sorrio quando ouço isso porquetenho a impressão de que as pessoas se veem como o Wolverine e seus ossos de adamântio. EDUCAÇÃO FÍSICA 19 Acho que as pessoas imaginam que os ossos pesam muito mais do que verdadeiramente pesam. Você sabe qual é o peso real dos seus ossos? Na verdade, o peso médio dos ossos de um homem adulto de cerca de 80 Kg é cerca de 12 Kg. Assim, não é tanto quanto a maioria das pessoas julgam ser. Por fim, gostaria de esclarecer que, além dos os- sos convencionais conhecidos por nós desde a vida inteira, existem também alguns ossos especiais, por exemplo, os ossos suturais (que ficam entre as sutu- ras do crânio) e os ossos heterotópicos que se for- mam nos tecidos moles (como nas coxas de jóqueis em áreas onde a hemorragia se calcifica). FUNÇÕES DO ESQUELETO Se você acha que a função dos ossos se restringe a possibilitar movimentos, você está muito enga- nado. Na verdade, o esqueleto desempenha várias funções, inclusive algumas consideradas vitais (MOORE et al., 2014). De fato, os ossos se relacionam ao movimento embora não os produzam. Isto porque quem faz o movimento acontecer são os músculos e, por isso, estes são considerados os elementos ativos do movi- mento (por outro lado, ossos são elementos passivos do movimento). Dessa forma, os ossos são tracio- nados pelos músculos em um efeito de alavanca. É o que ocorre, por exemplo, quando o músculo qua- dríceps femoral traciona a tíbia e gera movimento de extensão do joelho. Outras duas funções dos ossos podem ser identificadas quando observamos atentamente o corpo humano na posição bípede (em pé). A ha- bilidade dos ossos em suportar o peso corporal e dar forma aos diferentes segmentos do corpo é extraordinária. Tais funções são prontamente per- cebidas quando imaginamos um osso fraturado (o fêmur, por exemplo) e temos a clara certeza de que é impossível descarregar peso naquele membro in- ferior. Além disso, se você comparar a forma arre- dondada do seu crânio à forma alongada de seus dedos terá clareza de que os ossos são os responsá- veis diretos por tais diferenças. Quando os ossos protegem os órgãos internos, armazenam íons essenciais, sintetizam células san- guíneas e absorvem toxinas, certamente, concluímos que suas funções também são vitais. Ao observar- mos, por exemplo, a importante ação das costelas e do osso esterno envolvendo o coração e os pulmões, e do crânio envolvendo o encéfalo, fica claro o quan- to os ossos nos são relevantes. Além disso, eles atu- am como reservatórios de cálcio, fosfato e magnésio os quais são essenciais à transmissão sináptica e à contração muscular. A síntese de células sanguíneas ocorre por meio da medula óssea vermelha que se localiza no interior dos ossos (este assunto será esclarecido adiante). E, por fim, eles são hábeis em absorver toxinas e metais pesados da corrente sanguínea diminuindo os efei- tos deletérios destes compostos em outros tecidos (principalmente no fígado e nos rins). DIVISÕES DO ESQUELETO O esquelético pode ser dividido em duas partes fun- cionais, porém interligadas: o esqueleto axial e o esqueleto apendicular. O esqueleto axial é formado pelos ossos localizados na região central do corpo, como aqueles da cabeça (ossos do crânio), pescoço (osso hioide e vértebras cervicais) e no tronco (osso esterno, costelas, vértebras e sacro). ANATOMIA 20 Já o esqueleto apendicular é formado pelos ossos localizados nas extremidades do corpo, ou seja, nos membros superiores e inferiores incluindo aqueles que formam os cíngulos (escápula, clavícula e ossos do quadril) (DANGELO; FATTINI, 2011). TIPOS DE OSSOS QUANTO À FORMA Ao avaliar o comprimento, a largura e a espessu- ra dos ossos, podemos agrupá-los em seis tipos principais: longos ou tubulares, curtos, laminares ou planos, irregulares, sesamoides e pneumáticos (WATANABE, 2000). Os ossos longos ou tubulares têm predomínio do comprimento em relação à largura e à espessura. Apresentam uma cavidade central (chamada cavida- de medular) que abriga a medula óssea. Além disso, sua parte central é chamada de diáfise e suas extre- midades são as epífises. Enquanto, a epífise proximal fica mais próxima do cíngulo do membro, a epífise distal fica mais distante dele. A região de transição entre epífise e diáfise recebe o nome de metáfise. O fêmur é um exemplo deste tipo de osso. Alguns os- sos têm características semelhantes, mas não apre- sentam cavidade medular e, por isso, são chamados de alongados ao invés de longos. Ossos curtos têm os três diâmetros (comprimen- to, largura e espessura) equivalentes apresentando forma cuboide. É o que ocorre, por exemplo, com os ossos carpais e tarsais. Por outro lado, os ossos lami- nares ou planos são largos e pouco espessos. Geral- mente, esses ossos têm função protetora, como os os- sos planos do crânio (o parietal é um bom exemplo). Já os ossos irregulares (como o próprio nome já revela) têm formatos variados sem predomínio es- pecífico do comprimento, da largura ou da espessu- ra. São exemplos os ossos da face e as vértebras. Os ossos sesamoides são também chamados de ossos intratendíneos ou periarticulares, pois se desen- volvem em alguns tendões e são encontrados onde os tendões cruzam as extremidades dos ossos longos. As- sim, eles protegem os tendões contra desgastes e po- dem mudar seu ângulo de inserção. A patela é um de-Figura 4 - Esqueleto axial x Esqueleto apendicular EDUCAÇÃO FÍSICA 21 les. Todavia, algumas pessoas podem apresentar ossos sesamoides nas mãos e pés como variação anatômica. Os ossos pneumáticos apresentam cavidades contendo ar em seu interior. Localizam-se no crânio, por exemplo, o osso frontal, a maxila, o esfenoide e o etmoide. Suas cavidades são revestidas por mucosa e são chamadas de seios. Devido ao fato de drenarem seu conteúdo mucoso para a cavidade nasal podem ser chamados, em conjunto, de seios paranasais. CONSTITUIÇÃO E ARQUITETURA DOS OSSOS Quando você observa atentamente um osso, é co- mum achar que se trata de um tecido inerte, seco e até sem vida. Todavia, muito pelo contrário, o tecido ósseo é vivo, dinâmico e se desenvolve e cresce por meio de um metabolismo muito ativo. Pra você ter uma ideia, os ossos são renováveis, em média, a cada dois anos. Isto significa que o fêmur ou o crânio que você tem hoje, não são os mesmos que você tinha há dois anos e nem serão os mesmos que você terá daqui a dois anos. Fantástico, não? A constituição do tecido ósseo também é fabulosa, pois os ossos são constituídos a partir de três compo- nentes principais: água, matriz óssea orgânica e matriz óssea inorgânica (DANGELO; FATTINI, 2011). A água representa cerca de 25% da estrutura óssea. Todavia, é importante ressaltar que esta pro- porção é maior em recém-nascidos e crianças, e vai diminuindo à medida que o envelhecimento ocorre. Por isso, o envelhecimento faz com que os ossos fi- quem mais sujeitos a sofrerem faturas as quais, em idosos, são chamadas de “fratura em galho seco”. Crianças têm “fratura em galho verde”. Além disso, ossos de idosos normalmente apresentam maior di- ficuldade para consolidação de fraturas uma vez que a quantidade de matriz orgânica diminui. A matriz orgânica também representa cerca de 25% da estrutura óssea e é constituída por prote- oglicanas e colágeno. Assim, esta matriz é rica em proteínas que dão resistência à tensão e à tração às quais os ossos estão sujeitos diariamente. Por isso, a matriz orgânica está diretamente relacionada à maleabilidade óssea, ou seja, sua ausência pode causar doenças, por exemplo, a doença dos ossos de vidro. Nesse caso, os ossos não resistem à tensão Figura 5 – Comparação entre os tipos de ossos: a) exemplo de osso irregular, b) exemplo de osso sesamoide e c) exemplo de osso longo ANATOMIA 22 e à tração que os músculos lhes impõem e se tor- nam fragilizados e quebradiços, mesmo aos meno- res esforços. Sobre a matriz orgânica se deposita a matriz inorgânica. A matriz inorgânica representacerca de 50% da estrutura óssea. É constituída por sais minerais (principalmente, fosfato de cálcio e carbonato de cálcio) os quais formam a hidroxiapatita que dá ao osso resistência à compressão. Deficiência nos com- ponentes dessa matriz também pode tornar os ossos fragilizados e quebradiços. O tecido ósseo pode se organizar em dois tipos principais de ossos: os compactos ou corticais e os Figura 6 - Osso compacto e esponjoso esponjosos ou trabeculares. No osso compacto, as trabéculas ósseas estão justapostas e formam uma estrutura pouco porosa e com alta capacidade de resistência para sustentação de peso. Assim, atuam como colunas que suportam a descarga de peso. Em contrapartida, no osso esponjoso as tra- béculas ósseas não estão justapostas, mas deixam espaços entre si os quais são preenchidos por ar. Essa disposição origina uma estrutura altamente porosa e adaptada à absorção de impacto uma vez que o ar presente em meio às trabéculas ósseas funciona como um coxim aerífero que amortece a descarga de peso. EDUCAÇÃO FÍSICA 23 É importante que você saiba que a distribuição de tecido ósseo compacto e esponjoso nos ossos não é uniforme, mas depende das solicitações biomecâni- cas impostas aos ossos, ou seja, varia de acordo com a função exercida pelo osso, com a tração e com a pressão a que os ossos são submetidos. Assim, em- bora todos os ossos tenham uma fi na camada su- perfi cial de osso compacto ao redor de uma massa central de osso esponjoso, ossos longos adaptados à descarga de peso (como o fêmur, por exemplo) apre- sentam maior quantidade de osso compacto próxi- mo da parte média da diáfi se onde tendem a se cur- var. O mesmo não acontece, por exemplo, nos ossos longos que não recebem grandes descargas de peso (por exemplo, úmero) ou nos ossos carpais e tarsais. O efeito piezoelétrico explica parcialmente as diferenças na arquitetura dos ossos submetidos ou não à descarga de peso e à tração óssea. Embora a descarga e a tração ocorram constantemente em nosso dia a dia, normalmente elas são maiores ao realizarmos exercícios físicos (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Segundo o efeito piezoelétrico, regiões ósseas onde ocorre compressão fi cam sujeitas a potenciais elétricos negativos, enquanto nas demais regiões do osso apare- cem potenciais elétricos positivos. Onde há potencial elétrico negativo, células ósseas sintetizadoras de ossos são ativadas fazendo deposição óssea proporcional ao estímulo dado. Dessa forma, a tensão óssea estimula a síntese de matriz orgânica e a deposição de sais mine- rais (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Esse princípio é facilmente identifi cado em atle- tas, os quais têm estrutura óssea diferenciada em re- lação aos indivíduos sedentários e é aplicado à reabi- litação física de pacientes tetraplégicos que perdem a capacidade de manter o ortostatismo. Para estes pacientes, a pedestação por meio de mesas ortostáti- cas possibilita a manutenção da saúde óssea minimi- zando o aparecimento de fraturas espontâneas. A arquitetura dos ossos planos do crânio merece destaque, pois é adaptada à proteção do encéfalo alo- jado em seu interior. Em tais ossos, uma camada de osso esponjoso, chamada díploe, fi ca interposta entre duas lâminas de osso compacto (uma lâmina externa e outra interna). Assim, quando uma força é imposta à lâmina externa de osso compacto, a díploe absorve parte desta força (uma vez que em seu interior existe ar interposto às trabéculas ósseas) minimizando as chan- ces da lâmina interna de osso compacto se fragmentar e lesionar o tecido nervoso adjacente. Na díploe, há medula óssea vermelha e por ele passam as veias. Figura 7 - Díploe O tecido ósseo compacto está disposto em unidades chamadas ósteons ou sistema de Havers. Em volta destes canais existem lamelas concêntricas (anéis de matriz extracelular rígida e calcifi cada), entre as quais há pequenos canais (lacunas) contendo osteócitos que se comunicam entre si. Canalículos minúsculos com líquido extracelular irradiam-se pelos ossos fazen- do difusão de oxigênio e nutrientes por todo o osso e drenando resíduos. Vasos sanguíneos, linfáticos e nervos provenientes do periósteo penetram no osso compacto por meio de canais perfurantes transversos ou canais de Volkmann. O tecido ósseo esponjoso, ao contrário, não contém ósteons. Ele é leve (o que reduz o peso total dos ossos) e tende a se localizar onde não há grandes forças ou onde as forças são aplicadas a partir de muitas direções (MOORE et. al, 2014). medula óssea vermelha e por ele passam as veias. O tecido ósseo compacto está disposto em unidades chamadas ósteons ou sistema de Havers. Em volta Figura 7 - Díploe medula óssea vermelha e por ele passam as veias. ANATOMIA 24 A manutenção da saúde dos ossos depende da atuação das células que os compõem: os osteoblastos, osteóci- tos e osteoclastos (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Os osteoblastos são células jovens, originadas de células osteoprogenitoras, com grande capacida- de de divisão celular e, portanto, formadoras de osso. Elas sintetizam e secretam fibras colágenas e outros componentes orgânicos necessários à formação da matriz extracelular e iniciam a calcificação. À medida que são recobertos por matriz, tornam-se presos em suas secreções e se transformam em osteócitos. Os osteócitos são considerados células ósseas maduras relacionadas à manutenção do tecido ós- seo e, por isso, são as principais células desse tecido. Assim como os osteoblastos, não sofrem divisão ce- lular (apenas células osteoprogenitoras se dividem). Já os osteoclastos são células grandes que re- sultam da fusão de até 50 monócitos. Por meio de sua margem pregueada (lacunas de Howship), elas liberam enzimas proteolíticas que englobam e so- lubilizam cristais que contêm cálcio dissolvendo as matrizes ósseas. Assim, estão diretamente rela- cionadas à renovação óssea, uma vez que o tecido ósseo sofre reabsorção e reelaboração durante toda a vida fazendo com que o esqueleto seja constante- mente renovado (lembra que, em média, o esque- leto se renova a cada dois anos?). No entanto, sua ação excessiva pode causar osteopenia que pode evoluir para osteoporose. Figura 8 - Ósteon Figura 9 - Células ósseas A ação das células ósseas depende de diversos fatores como idade, hereditariedade, nutrição, doença, trau- ma, gravidez, esforço funcional e influência hormo- nal. Em relação aos hormônios, os ossos sofrem forte influência do hormônio do crescimento (GH), dos hormônios sexuais (testosterona, estrógeno e proges- terona), da calcitonina (hormônio tireoidiano) e do paratormônio (ou hormônio paratireoidiano). Enquanto o GH, os hormônios sexuais e a cal- citonina atuam como hormônios osteogênicos ativando osteoblastos, o paratormônio estimula a degradação da estrutura óssea por estimular os os- teoclastos. Isto explica o fato da osteoporose (do- ença que torna os ossos progressivamente mais po- rosos) ser mais comum na velhice e nas mulheres após a menopausa. Nelas, há redução do estrógeno e da renovação da matriz orgânica. ESTRUTURA DO OSSO LONGO Ósteon Cartilagem Osso Ósteon Medula óssea amarela Osso compacto Periósteo Osteoclasto Osteócito Célula osteoprogenitora Osteoblasto Canal Osteonico Células do tecido ósseo Osteócito Osteoblasto Célula osteoprogenitora Osteoclasto EDUCAÇÃO FÍSICA 25 Além disso, no indivíduo com osteoporose, de- vido à atuação excessiva dos osteoclastos causando osteólise, o nível de cálcio no sangue pode subir causando complicações como depósito do cálcio nas articulações e rins, e hipercoagulação sanguínea (causando embolia pulmonar, acidente vascular en- cefálico isquêmico etc.). Vale lembrar que deficiência na ingestão de de- terminados nutrientes pode enfraquecer os ossos. É o caso, por exemplo, das proteínas (uma vez que aminoácidos são necessários para formar colágeno), vitamina C (que estimula a síntese do colágeno), vi- tamina D (que é responsável pelaabsorção do cálcio e do fosfato do intestino; é ativada pela exposição ao sol) e vitamina A (que ajuda a fazer com que os ossos respondam adequadamente à tensão). inferiores). Nos ossos longos, o osso esponjoso da diáfise é substituído pela cavidade medular a qual abriga a medula óssea. Essa medula pode ser verme- lha ou amarela. A vermelha é um órgão hematopoi- ético, ou seja, produz células sanguíneas. A amarela perde esta função em decorrência do próprio enve- lhecimento e se torna altamente gordurosa. Uma medula óssea anormal ou cancerosa pode ser substituída por uma medula óssea vermelha sau- dável a fim de reestabelecer as contagens normais de células sanguíneas por meio de um transplante de medula óssea. A medula óssea vermelha saudável pode ser fornecida por um doador do qual é retira- da, sob anestesia, da crista ilíaca e injetada na veia do receptor em um processo muito semelhante a uma transfusão de sangue. Um procedimento mais moderno envolve o transplante de células do cordão umbilical (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Embora as vitaminas A e D sejam importantes para os ossos, o excesso de vitamina A acelera a ossificação causando cessação precoce do crescimento corporal. Além disso, deficiência de vitamina D pode causar raquitismo na criança e osteomalácia no adulto. Ambas são doenças ca- racterizadas pela baixa absorção de cálcio pelo intestino e má calcificação da matriz óssea cau- sando amolecimento e deformação dos ossos. Fonte: Guyton e Hall (2011). SAIBA MAIS Ainda em relação à constituição e arquitetura dos ossos, é importante estudarmos a medula óssea (alo- jada no interior de alguns ossos), e as camadas de revestimento dos ossos (o pericôndrio, o periósteo e o endósteo). A medula óssea está presente em pra- ticamente todos os ossos do feto e em alguns ossos dos adultos (como costelas, osso esterno, ossos do quadril, crânio e ossos dos membros superiores e Figura 10 - Tipos de medula óssea Estrutura óssea Linha epifisial Periósteo Osso esponjoso Vasos sanguíneos Medula óssea amarela Cartilagem articular Pericôndrio, endósteo e periósteo são camadas de tecido conjuntivo fibroso que revestem os elemen- tos do esqueleto. O pericôndrio faz o revestimen- to das cartilagens nutrindo suas faces externas; o endósteo reveste internamente a cavidade medular e contém uma única camada de células formadora de osso; o periósteo faz o revestimento externo dos ossos, é capaz de depositar mais osso (sobretudo ANATOMIA 26 durante a consolidação de fraturas ou o crescimen- to ósseo), formar uma interface para fixação dos tendões e dos ligamentos, proteger o osso e ajudar na nutrição do tecido ósseo. O periósteo se fixa ao osso subjacente pelas fibras perfurantes (de Shar- pey) – feixes espessos de colágeno que se estende do periósteo até o interior da matriz óssea (MI- RANDA NETO; CHOPARD, 2014). lheres e 21 anos para homens, ela se fecha, ou seja, suas células param de se dividir e o osso substitui a cartilagem permanecendo apenas a linha epifisial. A clavícula é o último osso a parar de crescer. Figura 11 - Pericôndrio, periósteo e endósteo CRESCIMENTO ÓSSEO As estruturas responsáveis pelo crescimento ósseo em comprimento e em espessura são diferentes. Enquan- to, o crescimento em espessura dos ossos é possibili- tado pelo periósteo, o crescimento em comprimento é feito pela lâmina epifisial (WATANABE, 2000). O periósteo já foi mencionado anteriormente como sendo uma bainha de tecido conjuntivo que circunda a superfície externa dos ossos em partes não cobertas pela cartilagem articular. Já a lâmina epifisial é uma fina camada de cartilagem hialina localizada na metáfise. Por volta dos 18 anos de idade para mu- Figura 12 - Periósteo e lâmina epifisial NUTRIÇÃO E INERVAÇÃO ÓSSEA Você já sofreu alguma fratura? Se já, sabe que dói muito e que pode ocorrer sangramento e hema- toma na região. Mas você sabe por que tais coisas acontecem? A dor se deve ao fato dos ossos serem abundantemente inervados e o sangramento ocorre porque eles são muito vascularizados. Vasos sanguíneos e nervos penetram a estrutura óssea a partir do periósteo. Assim, as artérias perios- teais penetram a diáfise dos ossos longos passando por canais perfurantes e irrigam o periósteo e a par- te externa do osso compacto. Além disso, próximo ao centro da diáfise uma grande artéria nutrícia pe- netra o osso pelo forame nutrício, chega à cavidade medular, divide-se em ramos distal e proximal para irrigar o tecido ósseo compacto, esponjoso, medula óssea até as linhas epifisiais. É importante ressaltar que enquanto alguns ossos têm apenas uma artéria nutrícia (como a tíbia, por exemplo), outros têm várias (como o fêmur). As extremidades dos ossos são irrigadas por artérias metafisárias e epifisiárias (MORRE et al., 2014). Epífise Cartilagem articular Osso esponjoso Periósteo Osso compacto Cartilagem epifisial Epífise Diáfise PericôndrioEndósteoPeriósteo EDUCAÇÃO FÍSICA 27 A drenagem venosa dos ossos é feita por veias que seguem trajetos muito semelhantes aos das arté- rias. Assim, as veias que drenam os ossos podem ser uma ou duas veias nutrícias (que acompanham as artérias na diáfise), veias metafisárias e epifisi- árias (que acompanham as artérias metafisárias e epifisiárias) e veias periostais (que acompanham as artérias periostais). De igual modo, os nervos dos ossos acompa- nham os vasos sanguíneos que os suprem. Assim, o periósteo é rico em nervos periostais sensitivos (al- guns responsáveis pela dor) e nervos vasomotores responsáveis pela vasoconstrição e vasodilatação dos vasos regulando o fluxo de sangue para a me- dula óssea. Vale lembrar que no periósteo também tem vasos linfáticos. OSSIFICAÇÃO E FRATURA Você já se perguntou se os fetos têm ossos prontos? Ou se todos os ossos dos fetos são de cartilagem? Que tipo de substância pode originar osso? Bom, para responder estas e outras perguntas, primeiro é importante você saber que os ossos não nascem prontos. Eles são gradativamente formados por um processo contínuo chamado ossificação ou osteogênese que se inicia na sexta semana de desen- volvimento. A ossificação ocorre a partir de células mesenquimais presentes no esqueleto do embrião, no local onde os futuros ossos serão formados (MI- RANDA NETO; CHOPARD, 2014). Embora alguns ossos (como o esfenoide e o tem- poral) tenham uma ossificação mista, normalmente, ela ocorre de duas formas: a intramembranosa e a en- docondral. Na ossificação intramembranosa o osso se forma diretamente dentro do mesênquima, em uma região chamada centro de ossificação. Ela ocorre nos ossos do crânio e na mandíbula, os quais são ditos ossos conjuntivos. Já na ossificação endocondral, pri- meiro células mesenquimais se aglomeram na forma do futuro osso e se diferenciam formando um mode- lo de cartilagem hialina envolto por pericôndrio. Esse tipo de ossificação ocorre principalmente nos ossos longos, os quais ditos ossos condrais. Depois do osso formado pode haver, em casos de traumas ou doenças, a ruptura do osso caracteri- zando algum tipo de fratura. Elas são denominadas conforme a gravidade, a forma ou a posição da linha de fratura. Assim, os tipos mais comuns são fratura exposta, fechada, cominutiva, em galho verde, im- pactada ou por estresse (fissuras microscópicas, sem ruptura visível). O reparo de uma fratura é um pro- cesso relativamente lento e sua recuperação deve ser sempre acompanhada por um profissional habilita- Figura 13 – Artérias ósseas Vasos sanguíneos e nervos responsáveis pela irrigação, drenagem e inervação óssea ANATOMIA 28 do que acompanhe todas as etapas descritas porque se elas não forem respeitadas, pode haver formação de um osso defeituoso. ACIDENTES ANATÔMICOS Os acidentes anatômicos constituem os elementos descritivos para o estudo dos ossos. Eles surgem onde há inserção de tendões, fixação de fáscias, liga- mentos, onde artérias penetram os ossos etc. Podemser de vários tipos, por exemplo, saliências, depres- sões e aberturas. As saliências (como os processos, tubérculos, eminências, cristas, espinhas etc.) geralmente estão relacionadas a pontos de inserção de músculos e fás- cias. As depressões (como as fossas, sulcos, incisuras etc.) geralmente servem para adaptação a estruturas vizinhas. Já as aberturas (como os forames, canais etc.) geralmente servem para a passagem de estrutu- ras como vasos e nervos (WATANABE, 2000). PRINCIPAIS OSSOS DO CORPO HUMANO Ossos da Cabeça Os ossos da cabeça são chamados em conjunto de crânio. Esta estrutura que se parece com um capace- te ou com um estojo ósseo, tem por principal função proteger o encéfalo (parte do sistema nervoso central popularmente conhecida como “cérebro”) que fica alojado em seu interior. No entanto, o crânio apresen- ta outras importantes funções, por exemplo, abrigar e proteger os órgãos dos sentidos (olhos, mucosa olfa- tória, órgão auditivo, órgão gustativo e do equilíbrio) por meio de cavidades especiais (como a orbital, na- sal, meato acústico interno e cavidade oral). Por fim, o crânio também possibilita a mastigação e a fonação por meio dos movimentos da Articulação Temporo- -Mandibular (ATM). (DANGELO; FATTINI, 2011). O crânio tem um teto em forma de cúpula (cha- mado de calvária) e um assoalho (chamado de base) e é formado por 22 ossos que se articulam sendo apenas um deles amplamente móvel, a mandíbula. Vale lembrar que no interior de dois destes ossos (os ossos temporais) estão presentes os ossículos da audição chamados de martelo, bigorna e estribo, os quais não entram nesta contagem (DI DIO, 2002). Dos 22 ossos, 8 formam o crânio neural (osso frontal, occipital, esfenoide, etmoide, parietais e temporais) e 14 formam o crânio facial ou visceral (mandíbula, vômer, nasais, palatinos, maxilas, zigo- máticos, lacrimais e conchas nasais inferiores). Lem- bre-se de que a maxila e a mandíbula têm estruturas destinadas à sustentação dos dentes (processos alve- olares) e por todo o crânio há muitos forames para a passagem de vasos e nervos. Figura 14 - Crânio EDUCAÇÃO FÍSICA 29 Exceto a articulação da mandíbula com o osso temporal (que é chamada de Articulação Tempo- ro-Mandibular ou ATM), as outras articulações do crânio ocorrem por meio de suturas (como a sagital, a coronal, a lambdoidea, a escamosa, a internasal e a intermaxilar). Estas suturas não estão presentes desde o nasci- mento, pois, inicialmente, entre os ossos do crânio existem espaços preenchidos com mesênquima não ossificado chamados de fontículos (popularmente chamados de “moleiras”). Os fontículos permitem relativa flexibilidade e possibilidade de crescimento ao crânio fetal. Os principais são o fontículo ante- rior (entre o osso frontal e os parietais), o posterior (entre os parietais e o occipital), os ântero-laterais (entre frontal, parietal, esfenoide e temporal) e os póstero-laterais (entre parietal, occipital e tempo- ral). Esses sofrem ossificação e desaparecem durante o crescimento do crânio. minuir o peso da cabeça sobre as vértebras cervicais e a amplificar o som da voz como uma caixa acústi- ca. A inflamação de tal mucosa é chamada de sinusi- te (TORTORA et al., 2010). Ossos do pescoço Fazem parte dos ossos do pescoço o hioide, as vérte- bras cervicais, o manúbrio do esterno (que será des- crito junto com o esqueleto do tórax) e as clavículas (que serão descritas junto ao esqueleto do membro superior) (MOORE et al., 2014). Figura 15 – Fontículos Alguns ossos do crânio (frontal, esfenoide, etmoide e maxilas) apresentam cavidades ocas contendo ar, as quais são revestidas por mucosa e chamadas de seios paranasais (em decorrência de drenarem seu conteúdo mucoso para a cavidade nasal). Tais ossos são classificados como pneumáticos e ajudam a di- O osso hioide é móvel e fica situado na parte ante- rior do pescoço. Ele é suspenso por músculos e liga- mentos e não se articula com nenhum outro osso do corpo. Assim, além de fixar os músculos da região anterior do pescoço, ele ajuda a manter as vias aére- as abertas. As vértebras cervicais são sete pequenos ossos irregulares chamados, respectivamente, de C1 (ou atlas), C2 (ou áxis), C3, C4, C5 e C6 e C7 (ou vérte- bra proeminente). Figura 16 - Ossos do pescoço Osso hioide ANATOMIA 30 Ossos do tronco Os ossos do tronco incluem o osso esterno, as costelas, as vértebras torácicas, as vértebras lombares, as vérte- bras sacrais e as vértebras coccígeas (DI DIO, 2002). Figura 17 – Ossos do tronco O osso esterno é um osso ímpar, plano, localizado na região central e anterior do tórax. Ele é dividido em três partes até a meia idade quando ocorre sua ossificação. A parte mais larga e superior é chamada de manúbrio e nela se identificam as incisuras clavi- culares e a incisura jugular. Ele se une ao corpo que é mais longo e estreito, e onde se identificam as in- cisuras costais. O processo xifoide é a menor e mais variável parte do esterno. Ele se ossifica por volta dos 40 anos e nos idosos pode-se fundir ao corpo (antes é cartilagíneo). As costelas são 12 pares de ossos planos, curvos, com alta resiliência e que contém medula óssea. Po- dem ser verdadeiras, falsas ou flutuantes. As verda- deiras (do 1° ao 7° par) fixam-se diretamente ao osso esterno por meio de suas próprias cartilagens cos- tais. As falsas (do 8° ao 10° par) têm conexão indi- reta com o osso esterno, pois suas cartilagens costais são unidas (formando a margem costal). As flutuan- tes ou anesternais (11° e 12° par de costelas) não se conectam ao osso esterno. As 12 vértebras torácicas são chamadas de T1, T2, T3, T4, T5, T6, T7, T8, T9,T10, T11 e T12, as 5 lombares são chamadas de L1, L2, L3, L4 e L5, as 5 sacrais são chama- das de S1, S2, S3, S4 e S5 e as 3 ou 4 coccígeas são cha- madas de Co1, Co2, Co3 e Co4 (variação anatômica). No entanto, as vértebras sacrais e as coccígeas, por ossificação de seus discos intervertebrais, originan- do o sacro e o cóccix, respectivamente. As lombares são as maiores e mais resistentes vértebras da coluna. Seus processos espinhosos são quadriláteros, largos, espessos e servem para fixação dos grandes músculos do dorso. O sacro é um osso triangular que se posiciona na parte posterior da ca- vidade pélvica, medialmente aos ossos do quadril, servindo como forte fundação para o cíngulo do membro inferior. Na mulher ele é mais curto, largo e curvo a fim de favorecer a expulsão do bebê du- rante o trabalho de parto normal. O sacro apresenta forames sacrais anteriores e posteriores pelos quais passam nervos e vasos sanguíneos. Esqueleto axial Esqueleto apendicular Clavícula EscápulaOssos dos membros superiores Ossos do quadril Ossos dos membros inferiores Osso esterno Cartilagens costais Costelas Vértebras torácicas EDUCAÇÃO FÍSICA 31 Para finalizarmos a apresentação do esqueleto do tronco, é importante apresentarmos as curvaturas da coluna vertebral (CV). Em vista anterior e pos- terior a CV deve ser retilínea, mas em vista lateral ela apresenta curvaturas fisiológicas que permitem a adequada distribuição do peso corpóreo e, conse- quentemente, o equilíbrio. Tais curvaturas começam a se formar ainda na vida embrionária quando a CV do feto apresenta-se convexa (em vista posterior) devido à curvatura do próprio útero e é chamada de curvatura primária. Quando o bebê começa a sustentar a cabeça, uma curvatura cervical côncava surge e é chamada de lor- dose cervical. Ao ficar em pé e sustentar o peso cor- póreo (em torno de um ano de idade), aparece uma curvatura côncava nas vértebras lombares (lordose lombar). As regiões torácica e sacral são convexas, posteriormente, e, por isso, são chamadas de cifoses. Assim, no adulto normal existem quatro curva- turas fisiológicas na CV: Lordose cervical, cifose to- rácica, lordose lombar e cifose sacral. No entanto, o aumento destas curvaturas pode se tornar patológico passando a caracterizar umquadro de hipercifose ou hiperlordose. Além disso, o desvio látero-lateral da CV também é patológico e é chamado de escoliose (que pode ser “C” à direita ou à esquerda, e em “S”).Entre os corpos das vértebras ficam inter- postos os discos intervertebrais. Esses discos são constituídos pelo anel fibroso de fibro- cartilagem (externamente) e núcleo pulposo (internamente). Ele é altamente hidratado e por isso é capaz de absorver impactos impos- tos à coluna vertebral e permitir movimentos. Fonte: Kahle et al. (2006). SAIBA MAIS Figura 18 – Curvaturas normais da CV Ossos do membro superior O membro superior é composto por vários ossos (32 no total) que se articulam entre si para permitir ampla mobilidade e realização dos movimentos das mãos, inclusive os de pinça fina. O cíngulo do mem- bro superior é composto pela clavícula e pela escápu- la e tem a função de unir a parte livre do membro ao esqueleto axial. A parte livre do membro apresenta um osso no braço (o úmero), dois ossos no antebra- ço (o rádio e a ulna), treze ossos nas mãos (oito ossos ANATOMIA 32 carpais e cinco ossos metacarpais) e quatorze ossos nos dedos (cinco falanges proximais, cinco falanges distais e quatro falanges médias). Apenas os ossos carpais são classificados (quanto à forma) como cur- tos sendo os demais classificados como longos (MI- RANDA NETO; CHOPARD, 2014). músculos que agem sobre o braço, antebraço e mão. Enquanto a ulna (o maior osso do antebraço) tem localização medial, o rádio é o osso lateral do antebraço cuja extremidade distal se articula com três ossos do carpo (semilunar, escafoide e pirami- dal) para formar a articulação radiocarpal. Rádio e a ulna se articulam entre si pela membrana interóssea do antebraço que serve como ponto de fixação de alguns músculos profundos do antebraço. Os ossos da mão compreendem os ossos carpais e metacarpais. Os carpais são oito ossos curtos inter- ligados por ligamentos nas articulações intercarpais. São dispostos em duas fileiras com quatro ossos cada. Na fileira proximal estão os ossos escafoide, semilu- nar, piramidal e pisiforme; na fileira distal estão os ossos trapézio, trapezoide, capitato (maior) e hamato. Os ossos metacarpais são cinco ossos longos nu- merados de I a V, a partir da posição lateral. Consis- tem de uma base (proximal), um corpo (intermédio) e uma cabeça (distal). Articulam-se proximalmente com os ossos do carpo e distalmente com as falan- ges. Os ossos dos dedos são as falanges. São 14 ossos longos que apresentam base, corpo e cabeça e são chamadas de proximal, média e distal. O polegar tem apenas as falanges proximal e distal. Ossos do membro inferior O membro inferior é composto por vários os- sos que se articulam entre si para permitir ampla mobilidade e o suporte de peso corporal durante a marcha, assim como o equilíbrio do corpo na postura estática. O cíngulo do membro inferior é composto pelos ossos do quadril e pelo osso sacro e tem por função unir a parte livre do membro ao es- queleto axial. Já a parte livre do membro apresenta um osso longo na coxa (o fêmur), dois ossos longos na perna (a tíbia e a fíbula), um osso sesamoide na Figura 19 - Ossos do membro superior A clavícula é um osso fino, em forma de “S”, que fica sobre a primeira costela. Sua posição lhe permite se articular com o esterno e com a escápula, além de servir como ponto de fixação para alguns ligamen- tos. Em contrapartida, a escápula é um osso grande, plano, triangular e posterior que se articula com a clavícula e com o úmero. Além disso, ela permite a fixação de muitos mús- culos. Já o úmero é o osso mais longo do membro su- perior. Sua extremidade proximal se articula com a es- cápula e sua extremidade distal se articula com o rádio e com a ulna. Ele também permite a fixação de vários Clavícula Úmero Escápula Rádio Ulna Ossos carpais Ossos metacarpais Fa la ng es EDUCAÇÃO FÍSICA 33 região do joelho (patela), doze ossos no pé (sendo sete ossos tarsais e cinco ossos metatarsais) e qua- torze ossos nos dedos (cinco falanges proximais, cinco falanges distais e quatro falanges médias). Os ossos do quadril e o sacro são irregulares, os tarsais são curtos, os metatarsais e as falanges são longos (DANGELO; FATTINI, 2011). quanto, o cíngulo do membro superior não se articu- la diretamente à coluna vertebral, o do membro in- ferior o faz pela articulação sacroilíaca. Além disso, o encaixe na escápula para o úmero é raso e o fêmur no osso do quadril é profundo. Assim, enquanto o membro superior é adaptado a amplos movimentos, o membro inferior é adaptado ao suporte de peso e à estabilidade articular (GRABINER, et al., 1991). O fêmur é o maior, mais pesado e mais resisten- te osso do corpo. Sua extremidade proximal articu- la-se com o acetábulo do osso do quadril e a distal articula-se com a tíbia e patela. Já a patela é um osso triangular e sesamoide que se desenvolve no tendão do músculo quadríceps femoral aumentan- do a força de alavanca deste músculo, mantendo a posição de seu tendão na flexão do joelho e prote- gendo a articulação. Enquanto, a tíbia é o osso medial e sustentador de peso do membro inferior, a fíbula é paralela e la- teral à tíbia. Superiormente, a tíbia se articula com o fêmur e com a fíbula e inferiormente se articula com o osso tálus e com a fíbula (pela membrana interós- sea da perna; sindesmose tibiofibular). Os ossos do pé incluem os ossos tarsais e me- tatarsais. Os tarsais (tálus, calcâneo, navicular, cuboide, cuneiforme lateral, cuneiforme medial e cuneiforme intermédio) unem-se pelas articulações intertarsais. Os metatarsais apresentam uma base (proximal), um corpo (intermédio) e uma cabeça (distal), e são numerados de I a V a partir da posição medial. Articulam-se proximalmente com os ossos tarsais e distalmente com as falanges. As falanges (proximal, média e distal) apresen- tam base, corpo e cabeça, e as articulações que for- mam entre si são chamadas de interfalângicas. Vale lembrar que o hálux (popularmente chamado de “dedão”) apresenta apenas falanges proximal e distal. Figura 20 - Ossos do membro inferior O osso do quadril do recém-nascido é formado por três ossos separados por cartilagem: ílio, ísquio e pú- bis. Eles se unem completamente por volta dos 23 anos de idade e se articulam anteriormente na sínfi- se púbica e, posteriormente, unem-se ao sacro. As- sim, o anel ósseo completo formado pelos dois ossos do quadril e sacro fazem uma estrutura em forma de bacia, chamada pelve óssea, que dá suporte à coluna vertebral e aos órgãos pélvicos. Como visto, existem importantes diferenças entre o cíngulo do membro superior e inferior. En- Ossos do quadril Fêmur Patela Tíbia Fíbula Ossos tarsais Ossos metatarsais Falanges ANATOMIA 34 DEFINIÇÃO DE ARTICULAÇÃO Quem nunca ouviu a vó ou o vô reclamando que está com dor nas “juntas”? Quem nunca ouviu di- zer que se estalar o dedo engrossa as “juntas” ou se ficar muito tempo sem movimentar uma articulação a “junta” seca? Será que essas suposições são fato ou boato? A fim de respondermos estas e tantas outras questões sobre este tema tão complexo, vamos fazer um estudo completo sobre as articulações. Em primeiro lugar, você só pode chamar de articulações ou junturas. Junta não! Em segun- do lugar, elas são definidas como o conjunto de estruturas anatômicas que promovem a conexão entre duas ou mais peças do esqueleto. Se a ar- ticulação ocorrer entre apenas dois ossos ela é classificada como simples, mas se acontecer entre mais de dois ossos, ela é chamada de composta (WATANABE, 2000). O restante, abordaremos nos tópicos que seguem. FUNÇÕES DAS ARTICULAÇÕES A maioria das articulações relaciona-se à produção de movimentos uma vez que as peças ósseas são tracionadas pelos músculos (durante a contração) e se movem ao redor dos pontos de junturas entre os ossos. Todavia, algumas articulações não são muito móveis, mas dão estabilidade às zonas de união en-tre os vários segmentos do esqueleto, ou seja, estão mais relacionadas à postura e ao equilíbrio (MOO- RE et al., 2014). Quando as articulações perdem suas funções em decorrência de doenças articulares graves (por exem- plo, artrite), um procedimento cirúrgico chamado de artroplastia pode ser feito. Nele a articulação lesada é substituída por uma articulação artificial. CLASSIFICAÇÃO DAS ARTICULAÇÕES As articulações podem ser classificadas segundo vá- rios critérios, sendo os dois mais utilizados o critério funcional (com base nos tipos de movimentos que permitem) e o critério estrutural (baseado em carac- terísticas anatômicas) (GRABINER, et al., 1991). A classificação funcional está relacionada ao grau de movimento que a articulação permite. As- sim, pode ser chamada de sinartrose (quando a arti- culação é fixa, sem movimento), anfiartrose (quan- do a articulação permite pouco movimento) ou diartrose (quando a articulação é muito móvel). Já a classificação estrutural é baseada na presença ou ausência de um espaço (a cavidade articular) entre os ossos da articulação, e no tipo de tecido que une os ossos. Assim, a articulação pode ser fibrosa, carti- lagínea ou sinovial. Sistema Articular EDUCAÇÃO FÍSICA 35 A articulação fibrosa tem ossos unidos por tecido conjuntivo fibroso rico em fibras coláge- nas não tem cavidade articular entre os ossos e permitem apenas pequenos deslocamentos e mo- vimentos vibratórios. A articulação cartilagínea tem ossos unidos por cartilagem hialina ou fibro- cartilagem, não tem cavidade articular entre os ossos e também permite apenas pequenos deslo- camentos e movimentos vibratórios. Em contra- partida, a articulação sinovial tem ossos unidos por tecido conjuntivo denso não modelado em forma de cápsula articular, tem cavidade articular e apresenta alguns elementos articulares caracte- rísticos e outros especiais. As articulações fibrosas podem ser do tipo sutu- ra, sindesmose ou gonfose. As suturas são funcional- mente classificadas como sinartroses, são encontra- das nos ossos do crânio e podem ser planas (quando os ossos se encaixam de forma retilínea, como no caso da sutura internasal), serrilhada (quando os os- sos se interdigitalizam um no outro, como na sutura sagital) ou escamosa (quando os ossos se sobrepõem um ao outro como ocorre entre o parietal e tempo- ral). A ossificação das suturas geralmente inicia na segunda década de vida e termina após 80 anos, re- cebendo o nome de sinostose. Na sindesmose há uma distância maior entre os ossos e, por isso, existe mais tecido conjuntivo fibroso entre eles o qual pode estar disposto como um feixe (ligamento) ou como lâmina (membra- na interóssea). Exemplo: membrana interóssea da perna (sindesmose tibiofibular) e do antebraço (sindesmose radioulnar). É funcionalmente classi- ficada como anfiartrose. A gonfose ocorre quando uma estrutura cunei- forme se ajusta a uma concavidade. É o que ocorre, por exemplo, na união das raízes dos dentes com os processos alveolares da maxila e mandíbula. Vale ressaltar que, embora discretos, os movimentos dos dentes existem e podem ser percebidos durante pe- quenos rebaixamentos ao serem submetidos a for- tes compreensões (servem para suavizar impactos e evitar que os dentes se partam). São funcionalmente classificadas como sinartroses. As articulações cartilagíneas podem ser do tipo sincondrose ou sínfise. A sincondrose apresenta cartilagem hialina entre os ossos e é funcionalmen- te classificada como sinartrose. Algumas podem ser temporárias sofrendo ossificação no decorrer da vida (como a sincondrose esfenocciptal e a lâmina epifisial) e outras podem ser permanentes (como as articulações entre o osso esterno e as dez primeiras cartilagens costais). A sínfise é uma articulação onde os ossos são uni- dos por um disco de fibrocartilagem (por exemplo, sínfise púbica, manubrioesternal e intervertebral). São classificadas como anfiartroses. As articulações sinoviais têm elementos característicos e especiais que podemos citar: a superfície articular, cartilagem articular, cápsula articular e líquido sinovial. A superfície articular é a porção de cada osso da articulação. Não tem periósteo, mas é coberta por cartilagem articular que é avascular (é nutrida pelo líquido sinovial), é fina, lisa e escorregadia (a fim de reduzir o atrito entre os ossos e absorver impactos). A cápsula articular é uma membrana de tecido conjuntivo que envolve a articulação vedando-a e unindo os ossos (fazendo coaptação articular). É amplamente vascularizada e inervada (tanto com inervação dolorosa quanto proprioceptiva). É composta pela camada fibrosa (externa) e sinovial (interna). Enquanto a fibrosa é resistente, permite coaptação, mobilidade e resistência à tração, a si- novial sintetiza o líquido. ANATOMIA 36 O líquido sinovial é viscoso, amarelo-claro, cons- tituído principalmente por ácido hialurônico, prote- oglinas e glicosaminoglicanas. Ele reduz atrito (pois lubrifica a articulação), absorve impactos (pois man- tém os ossos levemente afastados) e elimina calor produzido nas articulações durante os movimentos. Além disso, remove microrganismos e fragmen- tos resultantes do desgaste articular (pois contém células fagocíticas), nutre e oxigena a cartilagem ar- ticular, assim como dela remove o CO2 e os resíduos metabólicos. Como é produzido proporcionalmente ao movimento articular, quando uma articulação fica imobilizada por muito tempo (para consolidar uma fratura, por exemplo), o líquido torna-se me- nos abundante e viscoso. Por isso, as pessoas dizem que a “junta secou”. Todavia, produzido em excesso (por um processo inflamatório, por exemplo, sino- vite), deve ser aspirado a fim de diminuir a pressão intra-articular e a dor (FREITAS, 2004). Os elementos especiais das articulações sinoviais incluem os lábios, os discos articulares, os meniscos, os ligamentos acessórios, as bolsas e as bainhas ten- díneas. Os lábios são estruturas de fibrocartilagem localizadas em extremidades articulares, geralmen- te côncavas, a fim de ampliar a cavidade e conferir maior estabilidade à articulação. Os discos articulares e os meniscos são estru- turas de fibrocartilagem presentes em articulações muito usadas, como a temporomandibular e o jo- elho. Eles melhoram a coaptação articular, aumen- tam a estabilidade, reduzem o atrito e os danos causados por impactos, além de distribuírem me- lhor o líquido sinovial. Os ligamentos acessórios aumentam a coaptação articular e podem estar localizados por fora da cavi- dade articular (extracapsulares - como os ligamentos colaterais do joelho) ou por dentro da cápsula, mas fora da cavidade articular (intracapsulares - como o ligamento cruzado anterior do joelho). As bolsas são sacos de tecido conjuntivo revesti- dos por membrana sinovial e preenchidos por uma pequena quantidade de líquido semelhante ao líqui- do sinovial. Localizam-se entre pele/osso, tendões/ osso, músculo/osso ou ligamento/osso. Reduzem o atrito de articulações muito exigidas e sua inflama- ção é chamada de bursite. Por fim, bainhas tendíneas são bolsas que envolvem tendões que sofrem atrito. TIPOS DE ARTICULAÇÕES SINOVIAIS As articulações sinoviais são nomeadas de acordo com os movimentos que permitem, os quais são in- fluenciados pela forma dos ossos. Assim, conforme a configuração das faces articulares, as articulações si- noviais podem ser do tipo plana, gínglimo, trocoide, elipsoide, selar ou esferoide (TORTORA et al., 2010). As articulações planas apresentam faces planas e permitem movimentos de deslizamento de uma super- fície sobre a outra. Isso ocorre entre os ossos carpais e tarsais, na articulação sacroilíaca, acromioclavicular, esternoclavicular, esternocostais e vertebrocostais. As articulações do tipo gínglimo têm superfícies ósseas cilíndricas apresentando depressão em carre- tel em um osso e saliência correspondente no outro. As articulações interfalângicas, do cotoveloe do jo- elho são alguns exemplos. As articulações trocoides têm faces ósseas semi- cilíndricas completadas por ligamentos que possibili- tam movimento de rotação. As articulações rádio-ul- nar proximal e distal, e a articulação atlantoaxial são exemplos. Já nas elipsoides, uma das superfícies ósseas é oval e convexa, e a outra é oval e côncava. As arti- culações radiocarpal e metatarsofalângica são assim. EDUCAÇÃO FÍSICA 37 As selares têm superfície côncava em uma direção e convexa em outra, com encaixe recíproco em outra su- perfície óssea. Ocorre, por exemplo, na articulação car- pometacarpal do polegar. Por fim, as articulações esfe- roides têm superfície esférica articulando-se em uma cavidade correspondente (como no quadril e ombro). MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES SI- NOVIAIS As articulações sinoviais podem apresentar movi- mento do tipo deslizamento, angular, de rotação ou ainda movimentos especiais. No deslizamento, as faces planas dos ossos se movimentam sem alterar significativamente o ângulo entre eles. Assim, a am- plitude de movimento é limitada. Diferentemente, nos movimentos angulares o ângulo entre os ossos da articulação é alterado. Incluem flexão, exten- são, flexão lateral, abdução, adução e circundução (GRABINER, et al., 1991). Flexão e extensão são movimentos opostos. Na flexão ocorre redução do ângulo entre os os- sos e na extensão ocorre aumento desse ângulo (normalmente para voltar à posição anatômica). Ocorrem no plano sagital, por meio do eixo co- ronal (exceto a do polegar). Alguns autores con- sideram a continuação da extensão para além da posição anatômica como hiperextensão. Na flexão lateral, o segmento corpóreo é deslocado em dire- ção ao plano lateral. Ocorre no plano coronal por meio do eixo sagital. Este movimento ocorre, por exemplo, no tronco. Abdução e adução são movimentos opostos. Na abdução ocorre movimento do segmento corpóreo para longe da linha mediana do corpo. Na adução, o segmento corpóreo é deslocado em direção à li- nha mediana do corpo (normalmente para voltar à posição anatômica). Ocorrem no plano coronal por meio do eixo sagital (exceto a do polegar). Para os dedos, considera-se como ponto de referência uma linha mediana que passa sobre o dedo médio da mão e sobre o 2° dedo do pé. Na articulação radio- carpal, a abdução pode ser chamada de desvio radial e a adução pode ser chamada de desvio ulnar.Figura 21 - Tipos de articulações Sinoviais ANATOMIA 38 Na circundução a extremidade distal do seg- mento corpóreo descreve um círculo. Ocorre como resultado de uma sequência de movimento que en- volve flexão, extensão, abdução e adução. Na rota- ção o osso gira em torno do seu próprio eixo lon- gitudinal. Nos membros, se a face anterior é girada em direção à linha mediana do corpo, a rotação é chamada de medial e se é girada para longe da linha mediana do corpo, é chamada de lateral. Em algumas articulações podem ocorrer movi- mentos especiais. É o caso, por exemplo, da elevação e abaixamento. Enquanto na elevação há movimento de uma parte do corpo para cima, no abaixamento esta mesma parte corpórea move-se para baixo. São pos- síveis na mandíbula, costelas, ombros, osso hioide etc. Outros movimentos especiais incluem a protração (ou protrusão), retração (ou retrusão), inversão, ever- são, flexão dorsal (ou dorsiflexão), flexão plantar (ou plantiflexão), supinação, pronação, oposição e reposi- ção. Na protração há movimento anterior de uma par- te do corpo no plano transversal e na retração ocorre o movimento da parte protraída de volta à posição ana- tômica (possível na mandíbula, clavícula etc.). A inversão e a eversão ocorrem nas articulações intertarsais. Enquanto na inversão as plantas movi- mentam-se medialmente, na eversão elas se movimen- tam lateralmente. Na flexão dorsal, o dorso é movido em direção à face anterior da perna e na flexão plantar, a planta é movida em direção à face posterior da perna. A supinação e a pronação ocorrem nas articula- ções radioulnar proximal e distal. Enquanto na supi- nação a palma é girada anteriormente, na pronação a palma é girada posteriormente. Por fim, oposição é o movimento do polegar para tocar as falanges distais dos demais dedos dando-lhe a capacidade de fazer movimentos de pinça (possível na articulação carpo- metacarpal). Reposição é o movimento oposto. VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO ARTICULAR As articulações são extremamente inervadas e vas- cularizadas (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Elas recebem sangue de ramos articulares das arté- rias que passam ao redor da cápsula articular e são drenadas por veias que acompanham as artérias. A maioria dos nervos articulares é derivada de nervos que suprem músculos ao redor das articula- ções. Vale destacar que a inervação articular é mui- to importante, pois está relacionada à sua proteção. Assim, principalmente, a cápsula e os ligamentos articulares apresentam vários tipos de sensibilidade, como a dolorosa e a proprioceptiva. FATORES QUE AFETAM O CONTATO E A AMPLITUDE DE MOVIMENTO DAS ARTI- CULAÇÕES SINOVIAIS Alguns fatores afetam o contato entre as superfí- cies ósseas de uma articulação e, consequentemen- te, limitam a amplitude de movimento articular. Os principais são a forma dos ossos que se articulam, a resistência das estruturas articulares, a tensão mus- cular, o contato de partes moles próximas, ação de alguns hormônios e o desuso (GRABINER, 1991). A forma dos ossos afeta, por exemplo, a exten- são completa do cotovelo, pois, tal movimento de- pende do encaixe da ulna no úmero. Extrapolar esta limitação óssea pode causar lesão. A resistência das estruturas articulares também afeta a amplitude de movimento articular. Isto pode ser visto, por exem- plo, quando se faz a flexão e a extensão do punho em amplitude máxima. Tais movimentos são limitados pela tensão dos ligamentos e da cápsula articular os quais são bastante resistentes. EDUCAÇÃO FÍSICA 39 De igual modo, a tensão muscular pode influen- ciar na realização do movimento. A flexão do qua- dril associada à extensão do joelho, por exemplo, pode ser limitada por encurtamento dos músculos posteriores da coxa. Quando a flexão do cotovelo é realizada por um indivíduo com hipertrofia do músculo bíceps bra- quial, pode haver limitação da amplitude de movi- mento devido o contato das partes moles próximas (músculos do braço e do antebraço). Além disso, alguns hormônios podem inter- ferir na mobilidade articular. É o caso da relaxina (produzida pelos ovários e placenta) que aumenta a mobilidade da sínfise púbica em gestantes a fim de facilitar o trabalho de parto. Em contrapartida, o desuso ou a imobilização articular podem reduzir a flexibilidade dos ligamentos e tendões. ENVELHECIMENTO ARTICULAR Os efeitos do envelhecimento sobre as articulações variam individualmente segundo fatores hereditá- rios e de uso. Incluem a diminuição na produção do líquido sinovial, a fragilidade da cartilagem arti- cular, a perda da flexibilidade dos ligamentos, o au- mento do peso corporal e a tendência a deformida- des corpóreas (principalmente na coluna vertebral e nos joelhos). (GRABINER, et al., 2001). Todavia, todos esses efeitos do envelhecimento podem ser minimizados pela prática de exercícios físicos frequentes e por cuidados alimentares (inges- tão proteica e hídrica adequada, por exemplo). PARTICULARIDADES DAS PRINCIPAIS ARTICULAÇÕES DO CORPO As diferentes articulações do corpo têm característi- cas anatômicas próprias às quais variam, principal- mente com as demandas funcionais. Assim, a pre- sença de discos e meniscos na articulação do joelho e na articulação temporomandibular, por exemplo, deve-se ao fato destas articulações receberam des- carga de peso e serem utilizadas abundantemente em toda a vida. Por outro lado, as articulações dos tórax estão adaptadas não à descarga de peso, mas aos movimentos respiratórios. Outro aspecto importante é que as articulações se movem ao redor de eixosde movimento. Assim, quanto mais móvel é a articulação, mais eixos pas- sam por ela. Por exemplo, as articulações do quadril e do ombro são muito móveis, pois são triaxiais, ou seja, por elas passam três eixos de movimento. Já a articulação do joelho e do cotovelo são monoaxiais e, por isso, desenvolvem menos tipos de movimen- tos. O punho e o tornozelo são biaxiais e podem realizar mais movimentos do que as monoaxiais e menos do que as triaxiais. Normalmente, os movimentos de flexão e ex- tensão ocorrem por meio do eixo coronal e são realizados no plano sagital. Já os movimentos de abdução e adução ocorrem por meio do eixo sagi- tal e são realizados no plano coronal. As rotações ocorrem pelo eixo longitudinal e no plano trans- versal (GRABINER, 2001). ANATOMIA 40 FUNÇÕES MUSCULARES A função do músculo é realizar contração e a partir desta, vários outros eventos podem ser desencade- ados, como manutenção da postura (sustentação estática), respiração, movimento cardíaco, movi- mento peristáltico e manutenção do tônus muscu- lar. Além disso, os músculos dão forma ao corpo, são fonte de calor e possibilitam movimentos vo- luntários sendo considerados os órgãos ativos da locomoção (MOORE et al., 2014). Quanto ao controle voluntário, o músculo pode ser voluntário (se sua contração ocorrer de acordo com a vontade do indivíduo) ou involuntário (se sua contração não depender do controle do indiví- duo). Quanto à aparência estriada ou não de suas fibras ao microscópio, o músculo pode ser do tipo estriado (aquele que apresenta estrias transversais) ou liso (sem estrias transversais). Por fim, quanto à localização, o músculo pode ser somático (aquele localizado na parede do corpo ou nos membros) ou visceral (aquele localizado nos órgãos ocos ou nos vasos sanguíneos). Assim, considerando estes três critérios, os músculos podem ser de três tipos: músculo estria- do esquelético (movem ou estabilizam ossos e ou- tras estruturas como os olhos; é somático e volun- tário), músculo estriado cardíaco (forma a maior parte das paredes do coração e dos grandes vasos; é visceral e involuntário) ou músculo liso (forma a parede da maioria dos vasos sanguíneos e órgãos ocos; é visceral e involuntário). Um caso especial ocorre com o músculo diafrag- ma, pois embora seja involuntário, ele pode sofrer breve influência voluntária permitindo períodos de apneia (interrupção da respiração) ou hiperpneia (aumento da frequência da respiração) de acordo com a vontade do indivíduo. SISTEMA MUSCULAR Você acha que todas as pessoas têm o mesmo número de músculos? Será que indivíduos hipertrofiados têm o mes- mo número de músculos do que aqueles que sofreram atrofia muscular, após terem apre- sentado uma lesão medular? Até que ponto o sistema nervoso influencia no poder de contração muscular? REFLITA TIPOS DE MÚSCULOS Os músculos podem ser classificados consideran- do diferenças relacionadas ao controle voluntário, à presença de estrias em suas fibras ao microscópio e à localização (FREITAS, 2004). EDUCAÇÃO FÍSICA 41 MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO A maioria dos músculos estriados esqueléticos está fixada aos ossos, cartilagens, ligamentos ou fáscias. Todavia, alguns deles podem se fixar a ór- gãos (como os olhos), pele (como os músculos da face) ou à mucosa (como os músculos intrínsecos da língua). Tais músculos têm porções carnosas, avermelhadas e contráteis (chamadas de cabeça ou ventre), e extremidades brancas não contráteis (chamadas de tendões). Os tendões são compos- tos principalmente por feixes de colágenos e ser- vem para fixação dos músculos. Em alguns mús- culos aparecem como lâminas planas e passam a ser chamados de aponeurose (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Figura 22 - Tipos de músculos Figura 23 - Ventre muscular, tendão e aponeurose Tipos de músculos Músculo estriado cardíaco Músculo estriado esquelético Músculo liso m. Peitoral maior m. Trapézio m. Deltoide m. Bíceps femoral m. Latíssimo do dorso m. Glúteo máximo m. Gastrocnêmio m. Serrátil anterior m. Bíceps braquial m. Reto do abdome m. Oblíquo externo do abdome m. Reto femoral ANATOMIA 42 Uma membrana de tecido conjuntivo denso, cha- mada epimísio, envolve todo o músculo. Dela par- tem septos (o perimísio) para o interior do músculo os quais envolvem pequenos grupos de células ou fibras musculares (fascículos). Cada fibra muscular, por sua vez, é envolvida por uma membrana delica- da de tecido conjuntivo, o endomísio. Externamente, os músculos são revestidos por mais uma camada de tecido conjuntivo - a fáscia muscular. Epimísio, perimísio e endomísio se prolongam além das fibras musculares para formar os tendões musculares. A fáscia muscular garante a sustentação do mús- culo bem como a preservação de sua anatomia funcio- nal sustentando vasos e nervos, e permitindo o desli- zamento entre músculos próximos. Além disso, forma septos intermusculares que compartimentalizam os músculos do corpo. Quando ocorre aderência entra as fáscias (devido a processos inflamatórios ou traumas), os músculos diminuem seu poder de contração. As fixações dos músculos (seja por tendão ou apo- neurose) costumam ser descritas como origem e in- serção. De uma forma geral, origem é a extremidade proximal que permanece fixa durante a contração muscular e a inserção é a extremidade distal que se move durante a contração muscular. No entanto, em alguns movimentos específicos, os conceitos de ori- gem e inserção podem ser modificados. TIPOS DE CONTRAÇÃO DO MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO Existem dois principais tipos de contração muscular fásica ou ativa: a isométrica e a isotônica (GRABI- NER, 1991). Na contração isométrica, o compri- mento do músculo permanece igual (ou seja, não há movimento), mas a força aumenta para resistir à gravidade ou à outra força antagônica. Este tipo de contração é importante para a manutenção da pos- tura quando os músculos atuam como fixadores. Em contrapartida, na contração isotônica o músculo altera seu comprimento enquanto o movi- mento ocorre. Ela pode ser do tipo concêntrica (o movimento se dá junto ao encurtamento do múscu- lo) ou excêntrica (quando o músculo é alongado ao se contrair, ou seja, sofre um relaxamento gradual e controlado enquanto exerce uma força contínua). É importante destacar que a gravidade influencia no tipo de contração que o músculo exercerá. Assim, a flexão resistida do cotovelo com o indivíduo em pé é realizada por contração concêntrica dos músculos flexores do cotovelo, mas o lento retorno à extensão do cotovelo é feita pela contração excêntrica dos mes- mos músculos. Muitas pessoas imaginam que o re- torno seja feito pela contração concêntrica do tríceps braquial que é o agonista da extensão do cotovelo.Figura 24 - Peri, epi e endomísio + fáscia muscular Cartilagem articular Tendão Fáscia muscular Músculo estriado esquelético Perimísio Epimísio Fibras musculares Endomísio Fascículo Osso Vasos sanguíneos EDUCAÇÃO FÍSICA 43 Todavia, não é. Isto porque o fato do movimento ocorrer contra a ação da gravidade muda a partici- pação do músculo no movimento. Assim, quando o profissional de educação física precisar analisar biomecanicamente os músculos envolvidos na reali- zação de um determinado movimento, é necessário que ele faça antes uma avaliação da ação da gravida- de sobre as fibras musculares. VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO MUS- CULAR A vascularização sanguínea é abundante nos mús- culos, pois dela depende a adequada oxigenação e nutrição muscular, bem como a drenagem de gás carbônico e produtos residuais produzidos no próprio músculo. Sem vascularização eficiente, a contração muscular é inviável e, por isso, ela geral- mente é múltipla, ou seja, o músculo é irrigado por varias artérias adjacentes. De igual modo, a inervação do músculo é res- ponsável pela contração e pelos estímulos sensiti- vos dos mesmos (dolorosos e proprioceptivos). As- sim, a coordenação motora dependeda interação entre sistema muscular e sistema nervoso (MOO- RE et al., 2014). CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DO MÚS- CULO ESTRIADO ESQUELÉTICO De acordo com o papel que o músculo desempenha durante o movimento, ele pode ser clasificado como agonista, antagonista, sinergista e fixador ou postu- ral (GRABINER, et al., 1991). O agonista (ou motor primário) é o principal músculo que produz o movimento (como o músculo braquial na flexão do cotovelo). Já o antagonista, é o músculo que se opõe à ação de outro músculo (como o músculo tríceps braquial na flexão do cotovelo). O músculo sinergista complementa a ação do agonista (como o músculo braquiorradial na flexão do coto- velo) ou fixa uma articulação intermediária quando o agonista passa por mais de uma articulação (como o músculo extensor dos dedos que é sinergista do flexor profundo dos dedos ao fixar em extensão to- das as outras articulações pelas quais ele passa). Por fim, o músculo fixador ou postural estabiliza partes proximais de um membro mediante contrações iso- métricas, enquanto ocorrem movimentos nas partes distais. O músculo deltoide, por exemplo, mantém o ombro em abdução enquanto um movimento de pin- ça fina é executado nas articulações interfalângicas. ÓRGÃO ANEXOS DO SISTEMA MUSCULAR São estruturas que facilitam a ação dos músculos ou os mantêm íntegros. Os principais órgãos anexos são as bolsas sinoviais, as bainhas fibrosas e sinoviais, e os retináculos (FREITAS, 2004). As bolsas sinoviais são sacos fibrosos revestidos de membrana sinovial, contendo líquido sinovial em seu interior. Normalmente, ficam em regiões de maior atrito entre um músculo e um osso, entre dois músculos, entre o músculo e a pele suprajacente etc. Quando inflamadas ou lesadas por esforço repetiti- vo ocorre edema e dor (bursite). As bainhas fibrosas revestem tendões e fáscias de revestimento. São constituídas por tecido conjuntivo e se inserem nos ossos formando canais para manterem ANATOMIA 44 em posição os tendões de músculos longos que passam em seu interior. Já as bainhas sinoviais são encontradas no interior nas bainhas fibrosas. São constituídas por uma camada interna (intimamente aderida ao tendão) e uma camada externa (voltada à bainha fibrosa). Sua função é produzir um líquido semelhante ao líquido sinovial para facilitar o deslizamento dos ten- dões durante a realização dos movimentos. São co- muns na região dos ossos carpais e tarsais. Por fim, os retináculos são espessamentos das fáscias. São cons- tituídos por tecido conjuntivo e servem para manter em posição os tendões que cruzam as articulações. eretor da espinha e músculo extensor dos dedos), ação e forma (músculo pronador quadrado e mús- culo adutor longo), ação e localização (músculo fle- xor superior dos dedos e músculo flexor radial do carpo), origem e inserção (músculo esternocleido- mastoideo), dentre outros. Além disso, os músculos também podem ser classificados de acordo com outros critérios, por exemplo, direção das fibras musculares, sua aparên- cia, localização, número de pontos de origem, nú- mero de pontos inserção, número de ventres mus- culares e função. Quanto à direção das fibras musculares, eles po- dem ser de fibras paralelas (como o sartório) ou de fibras oblíquas (como o glúteo máximo). Normal- mente, músculos de fibras paralelas desenvolvem bastante amplitude de movimento articular, mas normalmente têm pouca força. Em contrapartida, músculos de fibras oblíquas têm bastante força mus- cular, mas pouca amplitude de movimento. Com- plementarmente, os músculos de fibras oblíquas podem ser do tipo unipenados (como o extensor longo dos dedos), bipenados (como o reto da coxa) ou multipenados (como o deltoide). Vale ressaltar que em alguns músculos, as fibras convergem de uma larga origem para um estrei- to e único tendão dando ao músculo uma arranjo em forma de leque ou um aspecto triangular (é o que ocorre, por exemplo, com o músculo peitoral maior). Quanto à aparência, os músculos podem ser curtos (como os da mão), longos (em forma de fita; como o sartório), plano ou chato (presentes no ab- dome e no dorso; como o trapézio), fusiforme (com uma região central de maior diâmetro em relação às extremidades; como o bíceps braquial) ou circulares ou esfincterianos (que circudam aberturas ou orifí- cios do corpo; como o orbicular do olho). Figura 25 - Órgãos anexos do sistema muscular GENERALIDADES DO SISTEMA MUSCULAR Segundo Moore et al. (2014), existem 656 músculos estriados esqueléticos nominados no corpo huma- no. A nomenclatura é baseada em vários critérios, como forma (músculo deltóide e músculo trapézio), localização (músculos intercostais e músculo subes- capular), forma e localização (músculo quadrado da coxa e músculo orbicular da boca), ação (músculo Retináculo Retináculo Tendões musculares EDUCAÇÃO FÍSICA 45 Quanto à localização, eles podem ser superficiais (aqueles que ficam logo abaixo da pele têm pelo menos uma de suas inserções na derme, sendo chamados de dérmicos; como os músculos da ex- pressão facial) ou profundos (sem inserções na derme; como músculos profundos do antebraço). Figura 26 - Músculos de fibras paralelas e oblíquas, músculos longos, curtos, planos e fusiformes A nomenclatura também pode considerar o núme- ro de pontos de origem (bíceps, tríceps e quadrí- ceps), o número de pontos de inserção (bicaudado e policaudado), de ventres musculares (digástrico e poligástrico) ou a função exercida pelo músculo (flexor, extensor, abdutor etc.) Músculo fusiforme Músculo de fibras oblíquas Músculo plano Músculo curto Músculo de fibras paralelas Músculo longo Músculo de fibras paralelas Músculo de fibras oblíquas ANATOMIA 46 Figura 27 - Da esquerda para a direita: Músculos bíceps, tríceps, quadríceps, digástrico, poligástrico, bi e policaudado Músculo bíceps Músculo tríceps Músculo quadríceps Músculo digástrico ou biventre Músculo poligástrico ou poliventre Músculo policaudado EDUCAÇÃO FÍSICA 47 PRINCIPAIS MÚSCULOS DO CORPO HUMANO • Levantador do lábio superior e da asa do na- riz: levanta o lábio superior e a asa do nariz. • Levantador do lábio superior: levanta o lá- bio superior fazendo eversão ou “bico” do lábio superior. • Levantador do ângulo da boca: traciona o ân- gulo da boca obliquamente para cima na risada. • Zigomático maior e zigomático menor: tra- cionam o ângulo da boca obliquamente para cima na risada. • Risório: traciona o ângulo da boca horizon- talmente no sorriso. • Orbicular da boca: fecha a rima bucal. • Abaixador do ângulo da boca: abaixa o ân- gulo da boca fazendo a expressão de tristeza. • Abaixador do lábio inferior: abaixa o lábio inferior fazendo a eversão ou “bico” do lá- bio inferior. • Mentual: protrai o lábio inferior e enruga a pele do mento. • Bucinador: contrai a bochecha no assopro, assovio, bocejo, e puxa o ângulo da boca la- teralmente. • Platisma: o mais superficial; abaixa a mandí- bula, traciona o ângulo da boca para baixo e enruga a pele do pescoço. Principais músculos da cabeça e do pescoço Os músculos da cabeça e do pescoço incluem os da expressão facial, os mastigatórios, os relacionados ao osso hioide, os superficiais do pescoço (como o esternocleidomastoideo), aqueles relacionados à coluna vertebral (pré, para e pós-vertebrais), além daqueles que constituem a língua, o palato mole e a faringe (FREITAS, 2004). Esses últimos não serão estudados aqui, pois, neste momento, serão aborda- dos apenas os músculos mais relevantes ao profissio- nal de educação física. Os músculos da expressão facial nos permitem expressar emoções por meio de suas contrações. Seus nomes estão diretamente relacionados às suas funções, são eles: • Occipitofrontal: com os ventres frontal e occipital unidos pela aponeurose epicrâ- nica; ele eleva os supercílios enrugando a pele da fronte dando a expressão de aten- ção. • Prócero: enruga a pele entre os supercílios. • Corrugadordo supercílio: junta os supercí- lios fazendo a expressão de bravo. • Orbicular do olho: fecha a rima palpebral. • Nasal: abre a asa do nariz para ampliar a cap- tação do ar em esforço respiratório. ANATOMIA 48 Os músculos da mastigação incluem o temporal, o masseter, o pterigoide lateral e o pterigoide me- dial. Todos eles movimentam a mandíbula durante a mastigação e a fala. Os músculos relacionados ao osso hioide dividem- -se em supra e infra-hioideos. Os supra-hioideos elevam o osso hioide durante a primeira fase da de- glutição e abaixam a mandíbula contra resistência. São eles o digástrico, o estilo-hioideo, o milo-hioi- deo e o gênio-hioideo. Os músculos infra-hioideos abaixam o osso hioide durante a segunda fase da de- glutição. São eles: o omo-hioideo, esterno-hioideo, esternotireoideo e o tíreo-hioideo. Figura 28 - Músculos da expressão facial Figura 29 - Músculos da mastigação Figura 30 - Músculos supra e infra-hioideos m. Occipitofrontal m. Orbicular do olhom. Prócero m. Temporal m. Masseter Músculos infra-hioideos Músculos supra-hioideos m. Nasal m. Zigomático menor m. Zigomático maior m. Risório m. Abaixador do lábio inferior m. Mentual m. Abaixador do ângulo da boca EDUCAÇÃO FÍSICA 49 Principais músculos do dorso Os músculos do dorso são fortes, fixam-se às vérte- bras e são essenciais para sustentar e mover a colu- na vertebral. De uma forma geral, podem produzir movimentos nos membros superiores (como o tra- pézio, o latíssimo do dorso, o levantador da escápu- la e os romboides), relacionam-se aos movimentos respiratórios (como o serrátil posterior superior e o serrátil posterior inferior) ou agem sobre a colu- na vertebral permitindo movimento e sustentando a postura (como o esplênio da cabeça, esplênio do pescoço, eretor da espinha, seminespinal, multífidos e rotadores) (DI DIO, 2002). Figura 31 – Músculo Esternocleidomastoideo O esternocleidomastoideo é um músculo superficial do pescoço. Ele flexiona a cabeça (em contração bi- lateral) e, em contração unilateral, faz a flexão late- ral da cabeça para o mesmo lado do músculo que se contraiu associada à rotação da face para o lado contrário do músculo que se contraiu. Os músculos pré-vertebrais estão relacionados à fle- xão da cabeça e do pescoço. Inclui o músculo longo da cabeça, o longo do pescoço, reto anterior da ca- beça e reto lateral da cabeça. Os músculos para-ver- tebrais realizam a flexão lateral da cabeça e do pes- coço (este movimento também pode ser chamado de inclinação lateral). Inclui os músculos escalenos anterior, médio e posterior. Os músculos pós-vertebrais estão relacionados à extensão da cabeça e do pescoço. São eles o esplê- nio da cabeça, esplênio do pescoço, semiespinal da cabeça, semiespinal do pescoço, multífidos e suboc- cipitais (incluindo o reto posterior maior da cabeça, reto posterior menor da cabeça, oblíquo superior da cabeça e oblíquo inferior da cabeça). Os multífidos são também rotadores da coluna vertebral. Figura 32 - Músculos para (esquerda) e pós-vertebrais (direita) Figura 33 - Músculos do dorso m. Esternocleidomastoideo Músculos paravertebrais Músculos pós-vertebrais ANATOMIA 50 Principais músculos do tórax Os músculos do tórax incluem músculos que unem o esqueleto axial ao apendicular, músculos da parede anterolateral do abdome, do pescoço, do dorso e alguns que agem como acessórios da respiração. No entanto, os verdadeiros músculos da parede torácica são os levantadores das costelas (agem na inspiração), o transverso do tórax (fun- ção expiratória), os intercostais externos (atuam na inspiração), os intercostais internos (na expi- ração), os intercostais íntimos (têm a mesma ação dos intercostais internos) e subcostais (com ação igual a dos intercostais internos). O diafragma é um comum ao tórax e ao abdo- me e atua como o principal músculo da inspiração. Apresenta uma parte central aponeurótica chama- da de centro tendíneo, e uma parte muscular divi- dida em parte esternal, costal e lombar (de acordo com suas fixações). Ele é perfurado pelo forame da veia cava, pelo hiato esofágico e pelo hiato aórtico os quais servem para permitir a passagem, respec- tivamente, da veia cava inferior, esôfago e da artéria aorta (WATANABE, 2000). Principais músculos do abdome Os músculos do abdome podem estar localizados na parede anterolateral ou posterior do abdome. Na parede anterolateral existem cinco pares de músculos: reto do abdome, piramidal, oblíquo ex- terno do abdome, oblíquo interno do abdome e transverso do abdome. Estes músculos têm dife- rentes direções de fibras e formam uma sustenta- ção forte para esta região. Juntos, eles sustentam e protegem as vísceras abdominais, comprimem o conteúdo abdominal para manter ou aumentar a pressão intra-abdominal, opõem-se ao diafrag- ma, movem o tronco, ajudam a manter a postura, formam um cinturão muscular e atuam ao tossir, espirrar, vomitar, no parto normal, ao assoar o na- riz, na defecação e outras atividades (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Os músculos da parede abdominal posterior incluem o psoas maior, o psoas menor, o ilíaco e o quadrado do lombo. O psoas maior fica posi- cionado lateralmente à coluna vertebral e parte de suas fibras unem-se ao tendão do músculo ilíaco formando o músculo iliopsoas, que é o principal flexor do quadril. Além disso, ele faz a flexão la- teral do tronco e ajuda a manter a lordose lom- bar. O psoas menor é considerado uma variação anatômica podendo não existir. Enquanto o ilíaco estabiliza a articulação do quadril, o quadrado do lombo é flexor lateral e extensor do tronco. Figura 34: Músculos do tórax Músculos intercostais externos m. Peitoral maior m. Peitoral menor m. Serrátil anterior EDUCAÇÃO FÍSICA 51 Principais músculos do membro superior Os músculos do membro superior são muito nu- merosos, principalmente, porque possibilitam os precisos movimentos da mão. O trapézio e o latíssi- mo do dorso atuam sobre o membro superior, mas não serão abordados novamente, pois, já foram descritos no dorso. Além deles, também estão in- clusos o peitoral maior, peitoral menor, subclávio, serrátil anterior, levantador da escápula, romboide maior, romboide menor, deltoide, redondo maior, redondo menor, supraespinal, infraespinal, subes- capular, os vários músculos do braço, do antebraço e da mão (DI DIO, 2002). O peitoral maior tem forma de leque. Age para aduzir, rodar medialmente, flexionar ou estender o braço a partir da flexão. O peitoral menor é quase totalmente coberto pelo peitoral maior. Ele estabili- za a escápula e ajuda a elevar as costelas na inspira- ção profunda. Já o subclávio fica abaixo da clavícula e tem a função de estabilizar a clavícula durante os movimentos do membro superior. O serrátil anterior faz a protrusão da escápula. O levantador da escápula eleva a escápula. Os romboi- des (maior e menor), nem sempre separados um do outro, situam-se profundamente ao trapézio e fazem a retração e rotação inferior da escápula. O deltoide é um músculo espesso e forte que re- cobre o ombro dando-lhe um contorno arredonda- do. Ele estabiliza a articulação do ombro e faz sua abdução, flexão e extensão quando suas partes clavi- cular, acromial e espinal agem, respectivamente. O redondo maior também é um importante es- tabilizador do ombro e faz sua adução e rotação me- dial. Já o redondo menor é completamente coberto pelo deltoide e faz rotação lateral do ombro. Acima e abaixo da espinha da escápula ficam os músculos supraespinal e infraespinal, e abaixo dela o subescapular. O supraespinal inicia os primeiros 15° de abdução do ombro (é considerado o abdutor “starter”, sendo auxiliado pelo deltoide). O infraes- pinal, além de ser um poderoso rotador lateral do ombro, ajuda a estabilizar a articulação do ombro. O subescapular é o principal rotador medial do braço e também ajuda a estabilizar a articulação do ombro. Vale ressaltar que os músculos supraespinal,in- fraespinal, redondo menor e subescapular formam o chamado “manguito rotador”. Seus tendões fun- dem-se e reforçam a capsula articular do ombro protegendo e estabilizando a articulação. O nome é dado porque, todos eles (menos o supraespinal) são rotadores do úmero. Figura 35 - Músculos do abdome m. Oblíquo externo do abdome m. Reto do abdomem. Oblíquo externo do abdome ANATOMIA 52 Os músculos do braço são divididos em grupo anterior e posterior, os quais são separados pelo úmero. O grupo anterior é flexor do cotovelo (bí- ceps braquial, braquial e coracobraquial) e o gru- po posterior é extensores (tríceps braquial e ancô- neo). Os flexores são quase duas vezes mais fortes do que os extensores, o que justifica o fato de ser- mos melhores para puxar do que para empurrar (MOORE et al., 2014). O bíceps braquial geralmente tem duas cabeças (longa e curta), mas 10% das pessoas podem ter uma terceira cabeça. É triarticular, pois passa pela articu- lação do ombro, do cotovelo e pela articulação ra- dioulnar proximal. Assim, o bíceps braquial permite flexão do ombro, supinação da articulação radioul- nar e flexão do antebraço em supinação. O braquial é profundo ao bíceps braquial e é o principal flexor do antebraço. Já o coracobraquial ajuda a flexionar, aduzir e estabilizar a articulação do ombro. O tríceps braquial tem três cabeças (longa, cur- ta e medial). A cabeça longa cruza a articulação do ombro e a medial é o carro chefe da extensão do cotovelo. A cabeça medial é a mais forte, porém é recrutada principalmente em atividades contra re- sistidas. Assim, este músculo é o principal extensor do antebraço, mas ajuda a estabilizar a articulação do ombro. O ancôneo, por sua vez, situa-se na face posterolateral do cotovelo e ajuda o tríceps braquial a estender o antebraço. Figura 36 - Músculos relacionados à escápula Figura 37 - Músculos do braço Os músculos do antebraço compreendem 17 músculos que cruzam a articulação do cotovelo. Alguns atuam exclusivamente nessa articulação, enquanto outros atuam articulação do punho e/ ou dedos. Geralmente, os flexores ficam no com- partimento anterior e têm cerca de o dobro do volume e da força dos extensores que ficam no compartimento posterior. Todavia, o músculo braquiorradial embora seja flexor do antebraço está no compartimento postero- lateral; o músculo pronador redondo faz a pronação m. Levantador da escápula m. Romboide menor m. Romboide maior m. Deltoide m. Trapézio m. Bíceps braquial m. Latíssimo do dorso m. Tríceps braquial EDUCAÇÃO FÍSICA 53 do antebraço; o fl exor radial do carpo faz a fl exão e abdução do punho; o palmar longo faz a fl exão do punho; o fl exor ulnar do carpo faz fl exão e adução do punho; o fl exor superfi cial dos dedos fl exiona as articulações interfalângicas proximais dos quatro dedos mediais; o fl exor profundo dos dedos é o úni- co que pode fl exionar as articulações interfalângica distais dos dedos mediais; o fl exor longo do polegar faz a fl exão das articulações do polegar; o pronador quadrado é o agonista da pronação do antebraço (é auxiliado pelo pronador redondo) e ajuda a mem- brana interóssea a unir o rádio e a ulna. Os músculos extensores do antebraço podem estender e abduzir ou aduzir a articulação do pu- nho (como o extensor radial longo do carpo, o ex- tensor radial curto do carpo e o extensor ulnar do carpo) podem estender os quatro dedos mediais (como o extensor dos dedos, o extensor do indica- dor e o extensor do dedo mínimo) e podem esten- der ou abduzir o polegar (como o extensor longo do polegar, o extensor curto do polegar e o abdutor longo do polegar). Principais músculos do membro inferior Os músculos do membro inferior, além de movi- mentar as diversas articulações deste segmento cor- póreo, permitem a sustentação do peso do corpo e a manutenção da postura bípede em equilíbrio, pos- sibilitando a marcha. Seu estudo pode ser realizado agrupando-os em grupo anterior da coxa, posterior da coxa, medial da coxa, músculos da região glútea, da região anterior da perna, da região posterior da perna, da região lateral da perna e músculos do pé (FREITAS, 2004). Na região anterior da coxa estão os fl exores do quadril e/ou extensores do joelho e incluem o mús- culo pectíneo, sartório, iliopsoas, quadríceps femo- ral e articular do joelho. O pectíneo faz adução, fl exão e ajuda na ro- tação medial do quadril. O sartório é o músculo mais longo do corpo, é superfi cial e parece uma fi ta. Age sobre a articulação do quadril e do joe- lho fazendo a fl exão de ambas. O iliopsoas é um músculo fi xo à coluna vertebral, à pelve e ao fê- mur. É o principal fl exor da coxa e, em contração bilateral, faz fl exão do tronco sobre o quadril e aumenta a lordose lombar sendo ativo também na caminhada em declive. O quadríceps femoral dá o maior volume para a região anterior da coxa e é um dos músculos mais fortes do corpo. É constituído pelos músculos reto femoral, vasto lateral, vasto intermédio e vasto late- ral. Tais músculos se unem na parte distal da coxa para formar um tendão único, o tendão do músculo quadríceps femoral, cuja continuação é o ligamento da patela que se fi xa à tuberosidade da tíbia. O mús- culo vasto medial e vasto lateral também ajudam a manter o alinhamento da patela. O reto femoral é biarticular e é mais efi ciente em movimentos que associam a fl exão do quadril e a ex- Figura 38 - Músculos do antebraço Os músculos da mão têm nomes que identifi cam suas funções. Incluem o músculo abdutor curto do polegar, fl exor curto do polegar, oponente do pole- gar, abdutor do dedo mínimo, fl exor curto do dedo mínimo, oponente do dedo mínimo, lumbricais, in- terósseos e o adutor do polegar. Músculos extensores do carpo e dos dedos ANATOMIA 54 tensão do joelho a partir de uma posição de hiperex- tensão do quadril e flexão do joelho (como na posi- ção preparatória para chutar uma bola de futebol). Todos eles agem em conjunto fazendo a extensão do joelho. Por fim, o músculo articular do joelho é de- rivado do músculo vasto intermédio. Ele é pequeno, plano e age tracionando a membrana sinovial na ex- tensão da perna. joelho e se une a outros dois músculos biarticula- res (o sartório e o semitendíneo) para formar uma inserção tendínea chamada “pata de ganso”. Ele é si- nergista na flexão do joelho e na rotação medial da perna quando o joelho está flexionado, e aumenta a estabilidade do joelho estendido. O obturador ex- terno é pequeno e profundo e atua também como rotador lateral da coxa (DI DIO, 2002). Os músculos da região glútea incluem o mús- culo glúteo máximo, glúteo médio, glúteo mínimo, tensor da fáscia lata, piriforme, obturador interno, gêmeo superior, gêmeo inferior e quadrado femo- ral. O glúteo máximo faz extensão e rotação lateral do quadril e sua paralisia, embora não afete a mar- cha em superfície plana, afeta a marcha em aclive (principalmente ao subir escadas). Já o glúteo mé- dio e o glúteo mínimo têm forma de leque e atuam estabilizando a pelve, aduzindo e fazendo rotação medial da coxa. O tensor da fáscia lata tensiona a fáscia lata e é flexor do quadril. O piriforme, obturador interno, gêmeo superior, gêmeo inferior e quadrado femoral estabilizam a articulação do quadril e são rotadores laterais da coxa. Figura 39 - Músculos anteriores e mediais da coxa Na região medial da coxa estão os músculos adu- tores (adutor longo, adutor curto, adutor magno, grácil e obturador externo). O adutor magno tem uma parte adutora (que também faz flexão da coxa) e uma parte do jarrete (que também faz extensão da coxa). O grácil cruza as articulações do quadril e do Figura 40 - Músculos da região glútea m. Tensor da fáscia lata m. Sartório Músculos adutores do quadril m. Reto femoral m. Vasto medial m. Glúteo máximo EDUCAÇÃO FÍSICA 55 Os músculos da região posterior da coxa são o semitendíneo, semimembranáceo e o bíceps femo- ral. Todos, menos a cabeça curtado bíceps femoral, são extensores do quadril e flexores do joelho. A ca- beça curta do bíceps femoral age apenas na flexão do joelho, pois é monoarticular (ou seja, só atravessa a articulação do joelho). Já os músculos da região lateral da perna são ever- sores do pé e podem contribuir para a flexão plantar do tornozelo. São eles o fibular longo e o fibular curto. Os músculos da região posterior da perna são o gas- trocnêmio, sóleo, plantar, poplíteo, flexor longo dos dedos, flexor longo do hálux e tibial posterior. O gas- trocnêmio forma a parte mais proeminente da pan- turrilha. Tem duas cabeças (lateral e medial) as quais se unem por um tendão comum, o tendão do calcâ- neo, que se fixa ao calcâneo (é o mais forte e espesso tendão do corpo humano). É biarticular (faz flexão do joelho e plantiflexão do tornozelo). Todavia, o músculo não pode exercer toda a sua força nas duas articulações ao mesmo tempo. Assim, é mais eficaz com o joelho estendido e é ativado ao máximo quan- do a extensão do joelho é associada à dorsiflexão. O sóleo é profundo ao gastrocnêmio e é conside- rado o “burro de carga da flexão plantar”. Isso por- que é monoarticular (não age sobre o joelho e por isso atua sozinho na flexão plantar quando o joelho está flexionado). Além disso, é antigravitacional atu- ando na posição ortostática, na marcha e para man- ter o equilíbrio. É forte, capaz de manter contração por bastante tempo, mas é lento. Une-se às cabeças do gastrocnêmio para formar o tríceps sural. Devido às diferenças entre o gastrocnêmio e o sóleo, pode-se afirmar que: “Se passeia com o sóleo, mas se ganha o salto à distância com o gastrocnêmio” (MOORE et al., 2014, p. 592). O plantar é pequeno, de ventre curto, tendão longo e está ausente em torno de 10% das pessoas. Atua com o gastrocnêmio. Todavia, é considerado um órgão de propriocepção, pois tem muitos fusos neuromusculares. Além disso, seu tendão pode ser usado em enxertos (por exemplo, na reconstrução dos tendões da mão), sendo que sua retirada não causa incapacidade. Figura 41 - Músculos da região posterior da coxa Os músculos da região anterior da perna incluem o músculo tibial anterior, o extensor longo dos dedos, extensor longo do hálux e fibular terceiro. O tibial anterior é dorsiflexor da articulação talocrural e in- versor do pé. O extensor longo dos dedos estende os quatro dedos laterais e faz dorsiflexão do torno- zelo. O extensor longo do hálux estende o hálux e faz dorsiflexão do tornozelo. O fibular terceiro faz dorsiflexão do tornozelo e auxilia na eversão do pé. m. Semitendíneo m. Bíceps femoral m. Semimembranáceo ANATOMIA 56 O poplíteo é insignificante como flexor do jo- elho, mas durante a flexão, ele ajuda a tracionar o menisco lateral posteriormente; quando em pé com o joelho parcialmente flexionado, ele se contrai para ajudar o ligamento cruzado posterior na prevenção do deslocamento anterior do fêmur; em pé com os joelhos estendidos, faz rotação lateral do fêmur libe- rando o joelho para fazer flexão. O flexor longo do hálux e o flexor longo dos de- dos são potentes flexores das articulações do hálux e dos dedos. Já o tibial posterior é inversor do pé e plantiflexor do tornozelo. Os músculos do pé localizam-se na face plantar (14 deles), no dorso (2 deles) ou são intermediários (4 deles). Os músculos da planta estão organizados em camadas e atuam na fase de suporte da mar- cha mantendo os arcos do pé e produzindo supina- ção e pronação para permitir que o pé se ajuste ao solo irregular. São eles o abdutor do hálux, adutor do hálux, flexor curto do hálux, abdutor do dedo mínimo, flexor do dedo mínimo, flexor curto dos dedos, quadrado plantar, lumbricais, interósseos dorsais e plantares. No dorso estão os músculos ex- tensor curto dos dedos e extensor curto do hálux. Figura 42 - Músculos da perna (região anterior A, posterior B, lateral C) Figura 43 - Músculos do pé (planta e dorso) A C B m. Gastrocnêmio (cabeça medial) m . T ib ia l a nt er io r m . E xt en so r l on go do s d ed os Músculos fibulares (longo e curto) Músculos dorsais do pé m. Gastrocnêmio (cabeça lateral) 57 considerações finais O corpo humano é capaz de realizar movimentos graças ao sistema lo- comotor formado por ossos, articulações e músculos. A atuação con- junta destes sistemas, e em concordância com o comando do sistema nervoso, garante o movimento voluntário harmônico e coordenado. O sistema muscular é importante, pois representa o elemento ativo do mo- vimento tracionando ossos que, como alavancas, movem passivamente articula- ções às quais se conectam. Se qualquer um destes sistemas ou o controle nervoso falhar, distúrbios motores podem surgir como hiper ou hipotonia muscular, pa- ralisia, paresia, discinesia e outros. Além disso, as funções destes sistemas também podem ser prejudicadas por fraturas, osteoporose, inflamação, alteração imunológica, trauma e outros. Como estas anormalidades podem comprometer uma atividade primordial do ser hu- mano que é a deambulação, a saúde e integridade das estruturas anatômicas que o formam é essencial. Para garantir que as funções destes sistemas permaneçam adequadas, cuida- dos simples podem ser assumidos. Uma dieta adequada, por exemplo, com inges- tão de alimentos ricos em colágeno e cálcio (leite e derivados, brócolis, repolho, camarão, salmão e ostras). Além disso, exercício físico regular e supervisionado, alternado com repouso articular e muscular, faz toda a diferença. De igual modo, reposição hormonal em mulheres pós-climatério, também é indicada. Por fim, é essencial o pleno conhecimento anatômico e fisiológico das estru- turas que compõem tais sistemas, pois por meio do conhecimento adequado, procedimentos preventivos e curativos (como o fortalecimento e o alongamento muscular, e até mesmo as intervenções cirúrgicas) poderão aperfeiçoar a atuação destes sistemas tão importantes. Vale ressaltar que o profissional de educação física, como parte da área da saúde, deve conhecer profundamente estes sistemas, pois age diretamente mo- dificando-os, seja ao predispor hipertrofia óssea ou muscular, ou ao manter a integridade articular. Assim, boa capacitação a você. 58 LEITURA COMPLEMENTAR Leia o artigo indicado, a seguir, que trata sobre os planos que tangenciam e seccionam o corpo humano, os eixos que permitem seus movimento e a segmentação do corpo humano. Em seguida, faça a atividade prática proposta. PRÁTICA DE LABORATÓRIO: MODELO DIDÁTICO APLI- CADO AO ESTUDO DE CONCEITOS INTRODUTÓRIOS À ANATOMIA HUMANA [...] A partir da posição anatômica, as várias regiões do corpo são denominadas como cabeça, pescoço, tronco, mem- bros superiores e membros inferiores. A cabeça é subdi- vida em crânio facial ou viscerocrânio (anterior, menor, constituído por 14 ossos, cujas funções se relacionam a abrigar e proteger os órgãos dos sentidos e possibilitar a fonação e a mastigação) e crânio neural ou neurocrâ- nio (posterior, maior, constituído por oito ossos os quais estão diretamente relacionados à proteção do sistema nervoso localizado em seu interior). A parte mais alta do neurocrânio é denominada calvária, abóbada ou calo- ta craniana. O pescoço é dividido em pescoço anterior (visceral) e pescoço posterior (muscular), também deno- minado nuca. Segundo Spence (1991) e Freitas (2004), o tronco também é subdividido em tórax (limitado supe- riormente pela clavícula e inferiormente pelo músculo diafragma), abdome (limitado superiormente pelo mús- culo diafragma e inferiormente pela abertura superior da pelve) e pelve (localizada entre os ossos do quadril). Os membros superiores e inferiores também são subdi- vididos em uma região conectada ao tronco, denomina- da cíngulo (ou cintura), e uma parte livre. Para o membro superior tem-se a raiz ou cíngulo do membro superior (ou cintura escapular) e a parte livre que inclui o braço, antebraço e mão (sendo sua parte anterior denomina-da palma e a posterior, dorso); para o membro inferior tem-se a raiz ou cíngulo do membro inferior (ou cintu- ra pélvica) e a parte livre que inclui a coxa, perna e pé (sendo sua parte superior denominada dorso e a infe- rior, planta). Articulações conectam as várias partes dos membros, como por exemplo, as articulações do ombro, cotovelo, quadril e joelhos (SPENCE, 1991). A partir da posição anatômica de descrição, supõe-se a existência de planos imaginários que tangenciam a super- fície externa do corpo a fi m de facilitar a localização das estruturas corpóreas. Tais planos são denominados como superior ou cranial, inferior ou podálico, lateral direito, la- teral esquerdo, anterior ou ventral e posterior ou dorsal (MIRANDA NETO, 2006). Assim, pode-se afi rmar que os olhos são estruturas superiores à cicatriz umbilical já que se localizam mais próximos ao plano superior ou cra- nial do que a cicatriz umbilical. De igual modo, pode-se afi rmar que as escápulas são estruturas posteriores em relação ao osso esterno uma vez que este está mais próximo do plano anterior do que aquela. Dessa forma, os planos convencionais tangentes à su- perfície do corpo humano facilitam a compreensão dos termos relacionados com a posição e a direção das partes constituintes do corpo, porém no estudo da Anatomia é necessário a visualização do corpo cortado ou seccionado em vários planos de secção de referên- cia como o plano sagital, transversal (ou horizontal) e coronal (ou frontal). O plano sagital é uma secção longitudinal que divide o corpo ou qualquer uma de suas partes em porções direita e esquerda. [...]. Fonte: Gomes, Perles e Lopes (2014, p. 5-6, on-line)1. 59 atividades de estudo 1. Leia, atentamente, o texto que segue sobre o sistema esquelético e avalie as proposições a seguir e responda. “Além de dar sustentação ao corpo, o sistema esquelético protege os órgãos internos e fornece pontos de apoio para a fixação dos músculos. Ele é constituído de peças ósseas e cartilagíneas articuladas, que for- mam um sistema de alavancas movimentadas pelos músculos” ( VILELA, 2015, on-line)2. I. O esqueleto do tórax é composto pelas cartilagens costais, osso esterno, costelas e vértebras cervicais e torácicas. Sua mobilidade, apesar de não tão expressiva, é essencial à respiração. II. Pode-se afirmar que, exceto os ossos carpais e tarsais que são alongados, os outros ossos que formam o esqueleto dos membros superiores e infe- riores são classificados como longos. III. A escápula e a clavícula, embora estejam posicionados no tronco, perten- cem ao esqueleto apendicular. IV. A coluna vertebral, em vista lateral, apresenta curvaturas características tais como a lordose cervical, a cifose torácica, a lordose lombar e a cifose sacral. Entretanto, embora tais curvaturas sejam consideradas fisiológicas (normais), o seu aumento é considerado patológico, pois pode ocasionar hiperlordoses e hipercifoses as quais são responsáveis por fortes dores na coluna vertebral. V. O crânio é constituído por 24 ossos os quais apresentam pouca mobilida- de. A maior parte deles constitui o crânio neural. Estão corretas as alternativas: a. I e II. b. II e III. c. III e IV. d. VI e V. e. III e V. 2. O estudo dos planos de secção e tangenciamento do corpo humano é essencial à Anatomia Humana uma vez que auxilia no corte anatômico e na nomenclatura das estruturas estudadas. Analise as proposições a seguir e responda. I. Uma estrutura é dita mediana quando ela está próxima do plano sagital mediano, mas não sobre dele. 60 atividades de estudo II. Ao contrário do proposto, uma estrutura é dita mediana quando ela está próxima ao plano anterior. III. Uma estrutura é classificada como média quando se posiciona entre uma estrutura lateral e outra estrutura medial. IV. Uma estrutura é classificada como intermédia quando ela se posiciona en- tre uma estrutura lateral e outra estrutura medial. V. Ao contrário do proposto na afirmativa, uma estrutura é intermédia quan- do ela se posiciona embaixo do plano sagital mediano. Está correta a alternativa: a. I. b. II. c. III. d. VI. e. V. 3. A Anatomia Humana estuda a constituição do corpo considerando que cada indivíduo pode apresentar diferenças devido a fatores que causam variações. Analise as proposições a seguir e responda. I. A idade é um fator causador de variação anatômica. Bom exemplo disso é o fato de ocorrer sinostose nos ossos do crânio de indivíduos idosos. II. O biótipo é outro fator causador de variação anatômica. Indivíduos do bi- ótipo longilíneo apresentam tórax arredondado, membros curtos em re- lação ao tronco e baixa estatura corpórea. Em contrapartida, indivíduos brevilíneos têm tórax alongado, membros longos em relação ao tronco e maior estatura corpórea. III. Outro diferente fator causador de variação anatômica é a etnia. No en- tanto, diferentes grupos raciais apresentam diferenças anatômicas apenas externamente (cor de pele, cor de olhos, aspecto do cabelo, do nariz etc.). Não há diferenças anatômicas internas entre grupos raciais. IV. O sexo também causa variação anatômica e, inclusive, pode ser usado na anatomia legal para identificação de cadáveres. O crânio masculino, por exemplo, apresenta a fronte mais inclinada (na mulher ela é verticalizada; apresenta ortometopismo). Além disso, o crânio masculino tem acidentes anatômicos mais salientes devido à maior força muscular que os homens apresentam tracionando os ossos ao ponto de marcá-los. 61 atividades de estudo V. De fato, o sexo é um fator causador de variação anatômica que pode ser usado na anatomia legal para identificação de cadáveres. Todavia, ao con- trário do que foi proposto anteriormente, o crânio feminino apresenta a fronte mais inclinada (no homem ela é verticalizada, apresentando orto- metopismo). Além disso, no crânio feminino os acidentes anatômicos são mais salientes devido à ação dos hormônios femininos (como o estrógeno e a progesterona). Está correta a alternativa: a. I e II. b. I e III. c. II e III. d. I e IV. e. III e V. 4. Relembre seus conhecimentos sobre miologia, analise as afirmações, a se- guir, e identifique-as como verdadeiras ou falsas. ( ) Os músculos classificados como digástricos apresentam dois ventres musculares separados por um tendão intermediário. Um exemplo de tal mús- culo é o estilo-hioideo (um dos músculos supra-hioídeos que atuam na primei- ra fase da deglutição elevando o osso hioide). ( ) Os músculos classificados como bíceps, tríceps ou quadríceps apre- sentam, respectivamente, dois, três ou quatro ventres musculares. Exemplos de tais músculos são, respectivamente, o bíceps braquial, o tríceps braquial e o quadríceps femoral. ( ) Os músculos mímicos são classificados como estriados esqueléticos, voluntários e dérmicos. A proximidade deles à pele faz com que suas contra- ções repetitivas e contínuas sulquem a pele fazendo com que as rugas de ex- pressão apareçam. a. F - F - V b. V - F - V c. F - V - F d. V - F - F e. F - V - V 62 atividades de estudo 5. A miologia estuda os músculos e seus órgãos anexos. Analise as proposi- ções a seguir e responda: I. O músculo estriado cardíaco apresenta estrias transversais e contração involuntária. Assim, ele é classificado como somático. II. Ao contrário do músculo estriado cardíaco, o músculo estriado esquelético tem contração voluntária e não apresenta estrias transversais. Assim, ele é classificado como liso. III. Um músculo classificado como tríceps (por exemplo, o tríceps braquial e o tríceps sural) apresenta três ventres musculares e apenas um ten- dão de inserção. IV. Um músculo classificado como policaudado (como alguns das mãos e dos pés) apresenta um ventre muscular e vários tendões de inserção. V. É considerado o tendão de origem de um músculo seu ponto que perma- nece mais fixo durante um determinadomovimento. Em contrapartida, é considerado o tendão de inserção de um músculo seu ponto que mais se move durante um determinado movimento. Está correta a alternativa: a. I e III. b. II e III. c. III e IV. d. IV e V. e. II e V. 63 Material Complementar A Teoria de Tudo Ano: 2014 Sinopse:a história de Stephen Hawking é contada pela luz da genialidade e do amor que não vê obstáculos. Quando Jane conhece Stephen, percebe que está entrando para uma família diferente. Com grande sede de conhecimento, os Hawking possuíam o hábito de levar material de leitura para o jantar, ir a óperas e concertos e estimular o brilhantismo em seus fi lhos – entre eles aquele que seria conhecido como um dos maiores gênios da humanidade, Stephen. Diag- nosticado com Esclerose Lateral Amiotrófi ca (ELA) aos 21 anos, Hawking supe- rou todas as expectativas dos médicos sobre suas chances de sobrevivência a partir da perseverança de sua mulher. Mesmo ao descobrir que a condição de Stephen apenas pioraria, Jane seguiu fi rme na decisão de compartilhar a vida com aquele que havia lhe encantado. Indicação para Assistir 1 Em: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ArqMudi/article/view/24739/pdf_49>. Acesso em: 09 jun. 2016. 2 Em: <http://www.a� .bio.br/sustenta/sustenta1.asp>. Acesso em: 09 jun. 2016. Referências On-Line 64 referências CFTA - COMISSÃO FEDERATIVA DA TERMINOLOGIA ANATÔMI- CA. Terminologia Anatômica: terminologia anatômica internacional. São Paulo: Manole, 2001. DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e seg- mentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. DI DIO, L. J. A. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada: princípios bá- sicos e sistêmicos, esquelético, articular e muscular. 2. ed. Atheneu: São Paulo, 2002. FREITAS, V. Anatomia conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004. GRABINER, M. D.; GREGOR, R. J.; VASCONCELOS, M. M. Cinesiolo- gia e anatomia aplicada. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. KAHLE, W.; LEONHARDT. H.; Atlas de Anatomia Humana: com texto comentado e aplicações em Medicina, Reabilitação e Educaçã Física: Apa- relo de Movimento. São Paulo: Editora Athene, 2006. MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendi- zagem dinâmica. Maringá: Gráfica Editora Clichetec, 2014. MOORE, K .L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anato- mia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. NARCISO, M. S. Sobotta: atlas de anatomia humana: anatomia geral e sis- tema muscular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. ROHEN, J. W.; YOKOCHI, C.; LÜTJEN-DRECOLL, E. Anatomia humana: atlas fotográfico de anatomia sistêmica e regional. São Paulo: Manole, 2002. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo: Atheneu, 2000. 65 gabarito 1. C 2. C 3. D 4. A Falso. Embora a definição de músculo digástrico esteja correta, o músculo estilo-hioideo não é um exemplo. Exemplo correto seria o próprio múscu- lo digástrico ou mesmo o músculo omo-hioideo. Falso. Embora os exemplos dados estejam corretos, a classificação dos músculos como bíceps, tríceps ou quadríceps não considera o número de ventres musculares, mas sim o número de pontos de origem. Verdadeira. 5. D Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Sistema circulatório • Sistema linfático • Sistema respiratório Objetivos de Aprendizagem • Estudar, em relação aos aspectos morfológicos e funcionais, os principais componentes deste sistema: sangue (defi nição, constituição e importância), coração (características gerais, localização, constituição, câmaras cardíacas, mecanismo valvular, tipos de circulação, ciclo cardíaco, bulhas e sopro cardíaco e inervação do coração), vasos sanguíneos (caracterização, diferenças entre eles e principais vasos do corpo humano). • Estudar, em relação aos aspectos morfológicos e funcionais, os principais componentes deste sistema: linfa, capilares, vasos e ductos linfáticos, linfonodos, baço, timo, tonsilas, sistema linfático e disseminação do câncer, linfangite, linfadenite e linfedema, sistema linfático e envelhecimento. • Estudar: função principal do sistema respiratório; divisões do sistema respiratório; órgãos do sistema respiratório e cavidade torácica e mediastino. SISTEMAS CARDIOVASCULAR E RESPIRATÓRIO II unidade INTRODUÇÃO P rezado(a) aluno(a), a vida depende de todos os sistemas do corpo humano. No entanto, os sistemas cardiovascular, respi- ratório e nervoso têm papel de destaque uma vez que deles dependem a adequada oxigenação e nutrição das células, bem como sua manutenção em homeostasia a partir da retirada dos materiais residuais que elas produzem (como CO2 e resíduos metabólicos que po- dem alterar o meio intracelular causando sua morte). Assim, cérebro, coração e pulmões trabalham juntos. O sistema cardiovascular pode ser chamado de sistema circulatório e é composto pelo sistema cardiovascular sanguíneo (destinado à circulação do sangue) e pelo sistema vascular linfático (destinado à circulação da linfa). O sistema respiratório supre as células com O2 e retira do corpo o CO2 produzido pelo metabolismo celular. Por meio de órgãos condutores e do pulmão enquanto órgão respiratório por excelência, tais gases são cam- biados entre as células e o meio externo. Assim, a respiração consiste na absorção de O2 do meio externo para utilização pelas células e na elimi- nação do CO2 resultante de oxidações celulares para o meio externo. Esse mecanismo é uma das características básicas dos seres vivos e depende da eficácia do coração como bomba, do adequado retorno venoso e da quali- dade do ar e do sangue como meio de transporte desses gases. O texto a seguir será fundamentado em importantes autores como Dan- gelo e Fattini (2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e outros autores. A nomenclatura utilizada está de acordo com a nômica atua- lizada (CFTA, 2001), mas é necessário que você utilize um atlas de anatomia como Narciso (2012), Rohen, Yokochi e Lütjen-Drecoll (2002) ou outros. Nosso objetivo é descrever aspectos relevantes destes sistemas. Não esqueça que o profissional de educação física deve ter conhecimento so- bre eles, pois se falharem, não há ação neuronal nem contração muscu- lar. Aproveite para conhecer estes sistemas, pois servirão de base para seu estudo posterior em fisiologia. ANATOMIA 70 FUNÇÕES DO SISTEMA CIRCULATÓRIO O sistema circulatório apresenta várias funções vi- tais. Ele permite, por exemplo, a adequada nutrição e oxigenação das células, assim como a drenagem de suas substâncias tóxicas (como as excretas me- tabólicas e o CO2). Isso é possível devido à atua- ção das hemácias transportando gases aos pulmões (onde ocorre a hematose), e aos órgãos de filtragem (como fígado e rim). Tal função é de fato vital, pois se as células não forem nutridas, oxigenadas e pu- rificadas haveria morte celular (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Além disso, o sangue também contribui para o controle da temperatura corpórea, pois sua pre- sença gera aquecimento (por isso, sentimos nossas bochechas “quentes” quando passamos por alguma situação embaraçosa ou constrangedora que gera vasodilatação nos vasos da bochecha). Além dis- so, o sangue é imprescindível à defesa imunológica (por meio de suas células brancas), à coagulação sanguínea (por meio das plaquetas), à distribuição de hormônios pelo corpo e à administração de me- dicamentos por via endovenosa (por isso, quando alguém chega em um pronto socorro necessitando de medicamentos de ação imediata, a via de esco- lha para administração desse medicamento é quase sempre a endovenosa). COMPONENTES DO SISTEMA CIRCULA- TÓRIO SangueSistema Circulatório O sangue sempre foi considerado um po- deroso símbolo da vida em qualquer civi- lização. Por isso foi chamado de “fluido da vida” e a ele foram atribuídas as funções de dar e sustentar a vida sendo, inclusive, capaz de salvá-la. Entretanto, muitos sécu- los de estudo e pesquisa foram necessá- rios para que a ciência descobrisse sua real importância e fizesse adequado uso dele. Neste ínterim, muitos erros e atrocidades foram cometidos. Por exemplo, conta-se que na Grécia antiga os nobres bebiam o sangue dos gladiadores mortos na arena a fim de se curarem de diversos males (como a epilepsia). Outro fato interessante ocor- reu em 1492 quando o papa Inocêncio VIII foi convencido a ingerir o sangue de três jovens para se curar de uma grave doença. O interessante é que tais jovens morreram anêmicos sem conseguir restabelecer a saú- de do pontífice. Fonte: Pró-sangue (on-line)1. SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 71 O sangue, seus elementos constituintes e suas funções só começaram ser desvendados pela ci- ência a partir do século 17, sendo que atualmente a hematologia se encarrega de desvendar todos os seus “mistérios”. Sabemos hoje que o sangue apre- senta uma parte líquida, chamada plasma sanguí- neo, e uma parte celular, cujas principais células incluem as hemácias (eritrócitos ou, popular- mente conhecidas como glóbulos vermelhos), os leucócitos (ou glóbulos brancos) e as plaquetas (ou trombócitos). As hemácias, de coloração avermelhada, apre- sentam como principal componente a hemoglobina em cuja região central existem átomos de ferro (gru- po heme) habilitados ao transporte de gases (como O2 e CO2). Os leucócitos são células que possibilitam a defesa imunológica do indivíduo, pois permitem a fagocitose ou a produção de substâncias (como as ci- tocinas) capazes de destruir células invasoras (como vírus, bactérias, células anômalas). Por sua vez, os trombócitos são células responsáveis pela coagula- ção do sangue. Doenças que atrapalhem a adequada produção ao funcionamento de tais células podem levar o indivíduo a óbito. É o caso, por exemplo, da anemia, da leucemia, da hemofilia, dentre outras (FREITAS, 2004). Coração Generalidades Ah, o coração! Como as pessoas lhe atribuem fun- ções que não são dele! O amor, o ódio, a amargu- ra, o bem querer, e tantas outras. Na verdade isso sempre aconteceu, desde a antiguidade. Até mesmo os primeiros estudiosos em anatomia achavam que o coração era o responsável pelo controle geral do corpo e que os sentimentos de fato advinham dele (acreditavam na teoria cardiocêntrica). Aos poucos, esse equívoco foi sendo corrigi- do e a função de controle geral do funcionamento do corpo foi atribuída ao cérebro. Mesmo assim, ainda hoje poetas, músicos e, principalmente, os apaixonados associam funções emocionais ao co- ração. Não é à toa que dizemos que amamos “do fundo do coração” ou que não podemos ter o “co- ração peludo”, ou seja lá o que mais. Acho tudo isso muito engraçado. Às vezes, até me pergunto se as pessoas realmente conhecem a verdadeira es- trutura e função do coração. Na verdade, esse órgão tão simbólico ainda é considerado central em relação ao Sistema Cardio- vascular Sanguíneo (SCVS) é objeto de estudo da cardiologia. Ele é ímpar, muscular, oco, com aproxi- madamente 12 cm de comprimento, 9 de largura e 6 de espessura. Pesa cerca de 250 gramas nas mulheres e 300 gramas nos homens e ocupa o volume aproxi- mado de uma mão com os dedos fechados. Ele tem forma de pirâmide com o ápice (uma extremidade pontiaguda) apontando para baixo, e a base (uma parte larga oposta ao ápice) direcionada para cima e à direita. A base não tem uma localiza- ção muito nítida, pois os principais vasos sanguíne- os do coração, os vasos da base, entram e saem por ela. Ao contrário, o ápice fica voltado à esquerda de forma que cerca de 2/3 da massa do coração está à esquerda da linha mediana do corpo. Por isso e pelo fato de que no ápice as bulhas cardíacas são muito audíveis, a maioria das pessoas acha que o coração fica do lado “esquerdo do peito”, mas não fica. Ele fica no centro da cavidade torácica, mas com o ápi- ce apontando para a esquerda. Assim, o coração fica inclinado, com a base voltada medialmente e o ápi- ce voltado lateralmente. Além disso, seu maior eixo (que vai da base ao ápice) forma 40º com o plano horizontal (DI DIO, 2002). ANATOMIA 72 Assim, o coração está localizado entre os dois pul- mões (em uma região chamada mediastino), pos- teriormente ao osso esterno e às cartilagens cos- tais, anteriormente às vértebras torácica (da quinta à oitava vértebra) e, superiormente ao músculo diafragma (sobre o qual repousa). Portanto, apre- senta face pulmonar (voltada ao pulmão esquer- do), face esternocostal (em contato com o esterno e costelas) e face diafragmática (em contato com o músculo diafragma). Constituição O coração é constituído por três camadas chama- das paredes ou túnicas: a interna (ou endocárdio), a média (ou miocárdio) e a externa (ou pericárdio). A interna é impermeável ao sangue e forra a superfície interna das cavidades do coração e as válvulas cardí- acas (TORTORA et al., 2010). A túnica média é a camada mais espessa, pois é formada de tecido muscular estriado cardíaco (por isso, muitas pessoas comem coração de boi ou de galinha – ele é altamente proteico, pois é muscu- lar). A espessura da túnica média varia conforme a câmara cardíaca avaliada, por exemplo, nos átrios as paredes são mais fi nas, pois estes bombeiam san- gue apenas para os ventrículos; já dentre os ven- trículos, o esquerdo é o mais espesso devido sua força contrátil capaz de bombear sangue para todo o corpo. Essa túnica forma, no interior das cavi- dades cardíacas, saliências irregulares denomina- das trabéculas cárneas as quais dão um aspecto de “rede” à superfície interna do coração. Na parede anterior do átrio direito e da aurícula esquerda, tais trabéculas são chamadas músculos pectíneos; nos ventrículos, algumas têm formato de pequenos pi- lares chamados músculos papilares (os quais fi cam presos às cordas tendíneas). A túnica externa é constituída por lâminas ou folhetos chamados de pericárdio fi broso e peri- cárdio seroso. O pericárdio fi broso é mais exter- no, formado por tecido conjuntivo fi broso ineslá- tico e rico em fi bras colágenas muito resistentes. Ele fi ca parcialmente fi xo ao músculo diafragma, ao osso esterno, à traqueia, aos brônquios prin- cipais e aos grandes vasos do coração. Assim, ele auxilia na fi xação do coração à cavidade torácica ancorando-o no mediastino, evita seu estiramen- to excessivo e o protege. Já o pericárdio seroso é constituído por duas lâminas de tecido seroso, a lâmina parietal e a lâ- mina visceral. A lâmina parietal é delgada e adere à superfície interna do pericárdio fi broso. A lâmina visceral (também chamada de epicárdio) reveste o coração externamente fi cando em contato com ele. Entre essas lâminas há um espaço estreito chamado Figura 1 - Posição e forma do coração Grandes vasos da base do coração Ápice do coração EDUCAÇÃO FÍSICA 73 cavidade do pericárdio, o qual é preenchido por lí- quido pericárdico que facilita o deslizamento entre elas durante os movimentos do coração. Pode ter grande quantidade de gordura. Câmaras cardíacas A cavidade do coração é subdividida em quatro câ- maras cardíacas: dois átrios e dois ventrículos. Os átrios são superiores, menores e chamados de câ- maras de recepção. Em contrapartida, os ventrícu- los são inferiores, maiores e chamados de câmaras de ejeção. Na face anterior de cada átrio existe uma estrutura enrugada, a aurícula, a qual aumenta ligei- ramente a capacidade de armazenamento de sangue do átrio (DANGELO; FATTINI, 2011). A divisão das câmaras cardíacas é feita por meio de projeções musculomembranosas do próprio mio- cárdio, chamadas septos cardíacos. O septo atrioven- tricular tem direção horizontal e divide o coração em parte superiore inferior. O septo interatrial é vertical e divide a porção superior do coração em átrio direi- to e átrio esquerdo. O septo interventricular também é vertical, mas divide a porção inferior do coração em ventrículo direito e ventrículo esquerdo (ele tem uma parte muscular e outra membranácea). A face externa do coração apresenta, além de uma quantidade variável de gordura, sulcos que marcam o limite externo entre essas câmaras car- díacas. O sulco coronário marca os limites entre os átrios e ventrículos e é ocupado pelas artérias coronárias e seus ramos, e pelas veias do coração. O sulco interventricular anterior e interventricu- lar posterior marcam a separação entre ventrículos direito e esquerdo e são ocupados pelos ramos in- terventriculares das artérias coronárias e das veias cardíacas. Por outro lado, o limite externo intera- trial é pouco nítido. É importante destacar que no septo interatrial existe uma depressão chamada fossa oval. Ela é do tamanho de uma impressão digital e é contornada por um relevo chamado limbo da fossa oval. Nela, a parede interatrial é muito delgada e transparente, pois, representa o resquício do forame oval o qual permitia, no feto quando os pulmões ainda não eram funcionantes, ampla comunicação entre o átrio direito e o esquerdo. Normalmente esse forame se fecha logo após o nascimento. Também é interessante salientar que o treina- mento físico modifica a espessura do miocárdio enquanto doenças podem modificar sua estrutura exigindo, inclusive, transplante cardíaco. Figura 2 - Câmaras e septos cardíacos Mecanismo Valvular do coração Entre os átrios e os ventrículos existem orifícios cha- mados óstios atrioventriculares, os quais apresentam dispositivos orientadores da corrente sanguínea, as ANATOMIA 74 valvas cardíacas. As principais são as valvas atrio- ventricular direita, atrioventricular esquerda, valva do tronco pulmonar e valva da aorta. Tais estruturas, por sua vez, são constituídas por lâminas de tecido conjuntivo chamadas válvulas, folhetos ou cúspides (WATANABE, 2000). Na valva atrioventricular esquerda existem duas válvulas (a anterior e a posterior) e na atrioventricu- lar direita existem três (a válvula anterior, a poste- rior e a septal). Por isso, elas eram antigamente cha- madas de bicúspide e tricúspide, respectivamente. Já no tronco pulmonar e na artéria aorta as três vál- vulas são do tipo semilunares (no tronco pulmonar: direita, esquerda e anterior; na artéria aorta: direita, esquerda e posterior). Você pode estar se perguntando como as val- vas e as válvulas funcionam. Pois bem, vamos entender. As valvas atrioventriculares se abrem quando a pressão dos átrios é maior do que a dos ventrículos. Nesse momento, os músculos papila- res estão relaxados e as cordas tendíneas frouxas. Quando os ventrículos se contraem, a pressão do sangue empurra as válvulas para cima até o óstio fechar. Ao mesmo tempo, os músculos papilares se contraem e as cordas tendíneas são puxadas para impedir que as válvulas se invertam em di- reção aos átrios. Além disso, neste momento, as válvulas do tronco pulmonar e da artéria aorta se abrem, pois o aumento da pressão nos ventrícu- los e nas artérias faz com que o sangue empur- re as válvulas contra à parede destes vasos. Em contrapartida, à medida que os ventrículos vão relaxando, o sangue reflui de volta ao coração preenchendo tais válvulas fazendo-as se fecharem fortemente. Esse mecanismo é muito importante, pois assegura que o fluxo do sangue seja unidire- cional (sem refluxo). Todas as valvas do coração ficam inseridas no esqueleto fibroso ou esqueleto cardíaco o qual é for- mado por quatro anéis de tecido conjuntivo, fun- didos uns aos outros (anel fibroso atrioventricular direito, anel fibroso atrioventricular esquerdo, anel pulmonar e anel aórtico). Figura 3 - Valvas e válvulas cardíacas, músculos papilares e cordas tendíneas Durante uma cirurgia para substituir uma ou mais válvulas cardíacas não funcionantes ocorre a remoção da válvula cardíaca doente e a colo- cação de uma ou mais válvulas prostéticas ou artificiais as quais funcionam de maneira seme- lhante à válvula normal. Tais válvulas podem ser mecânicas ou de tecido. As mecânicas são feitas de material resistente (como titânio ou carbono) e as de tecido são obtidas de doadores huma- nos ou de tecido animal. Normalmente, após a cirurgia o indivíduo apresenta boa recuperação podendo retomar seu estilo de vida normal. Fonte: Perin et al. (2009, on-line)2. SAIBA MAIS Valva átrioventricular esquerda Valva átrioventricular direita Cordas tendíneas Septo interventricular Músculos papilares EDUCAÇÃO FÍSICA 75 Tipos de circulação A passagem do sangue por meio do coração e dos vasos é chamada de circulação. Esta se faz por meio de duas correntes que partem ao mesmo tempo do coração. A primeira sai do ventrículo direito (por meio do tronco pulmonar) e se dirige aos capila- res pulmonares onde ocorre a hematose. O sangue oxigenado é levado ao átrio esquerdo (pelas veias pulmonares direitas e esquerdas) e é lançado no ventrículo esquerdo. Ela é chamada de pequena circulação ou circulação pulmonar e tem por obje- tivo oxigenar o sangue. A segunda corrente sai do ventrículo esquerdo (por meio da artéria aorta) e se dirige a todos os te- cidos do corpo permitindo a troca entre sangue e células. Após tais trocas, o sangue cheio de CO2 e re- síduos retorna ao coração por meio das veias cavas superior e inferior. Estas desembocam no átrio di- reito do coração de onde o sangue é dirigido ao ven- trículo direito. Esta é chamada de grande circulação ou circulação sistêmica e tem por objetivo distribuir o sangue oxigenado e rico em nutrientes ao corpo e dele remover o CO2 e os produtos residuais (TOR- TORA et al., 2010). Além da circulação pulmonar e da sistêmica, também existe a circulação colateral e a circulação portal. A colateral ocorre por meio de anastomo- ses (comunicações) entre artérias ou veias quando há uma obstrução em um vaso mais calibroso que participa desta anastomose. Esse tipo de circulação representa um mecanismo de defesa para tentar ir- rigar ou drenar um território específico. Já a circulação portal é uma subdivisão da circu- lação sistêmica que ocorre quando uma veia se in- terpõe entre duas redes de capilares sem passar por um órgão intermediário. A Circulação Portal He- pática é um importante exemplo, pois permite que o sangue rico em substâncias absorvidas pelo trato gastrintestinal, após as refeições passe pelo fígado que armazena parte delas e modifica outra parte antes de mandar o sangue para a circulação geral. Também há um sistema portal na hipófise. Figura 4 - Tipos de circulação Ciclo cardíaco Ciclo cardíaco são todos os eventos associados a um batimento cardíaco. Em um ciclo normal, os dois átrios se contraem enquanto os dois ventrículos re- laxam e, em seguida, os dois ventrículos se contraem enquanto os dois átrios relaxam. No final dele, ocor- re um período de relaxamento caracterizado pelo momento em que os ventrículos começam a relaxar e todas as câmaras estão em diástole (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Vale lembrar que sístole é um termo que se refe- re à fase de contração do coração enquanto diástole é um termo que se refere à sua fase de relaxamento. Em azul notar a circulação de sangue venoso na pequena circulação ou circulação pulmonar Em rosa notar a circulação de sangue arterial na grande circulação ou circulação sistêmica ANATOMIA 76 Bulhas cardíacas e sopro O famoso “tum-tá, tum-tá, tum-tá” que o coração faz, fascina-nos desde o período embrionário quan- do a mãe ansiosa deseja ouvir os batimentos cardía- cos de seu bebê. E de onde vem esse barulho? Como ele é produzido? Por que será que fatores como o exercício físico, o susto ou o estresse podem modifi- cá-lo? Vamos entender como tudo funciona. Durante a sístole, os ventrículos se contraem comprimindo o sangue que, devido àpressão no ventrículo, tende a refluir do ventrículo para o átrio. Assim, o sangue turbilhona-se contra as val- vas atrioventriculares as quais se fecham fortemen- te para impedir tal refluxo. O fechamento destas valvas gera uma vibração que é convertida em som pela caixa torácica. Este som, o famoso “tum” é chamado de primeira bulha cardíaca (DANGELO; FATTINI, 2011). No entanto, os ventrículos continuam a se con- trair até que a pressão em seu interior seja maior do que a pressão dentro do tronco pulmonar e da artéria aorta. Isto faz com que as valvas semiluna- res pulmonares e aórticas se abram. À medida que o sangue vai saindo dos ventrículos para as artérias, elas se distendem para acomodar o sangue, mas isso aumenta a pressão dentro delas ao mesmo tempo em que diminui a pressão no ventrículo. Então, para impedir que o sangue reflui das artérias para o ven- trículo, ocorre o forte fechamento das valvas semilu- nares. Esse fechamento gera outro som, a segunda bulha cardíaca ou o famoso “tá”. Viu que interessan- te! De forma bem simplificada pode-se dizer que o “tum-tá” que o coração faz nada mais é do que os fechamentos consecutivos de suas valvas. Todavia, quando elas não se abrem comple- tamente tem-se uma estenose (estreitamento) e quando não se fecham por completo tem-se uma insuficiência. Tais distúrbios podem permitir fluxo retrógrado de sangue o que causa um som anormal percebido com o auxílio de um estetoscópio. Este som é conhecido como sopro cardíaco. O sopro também pode ser causado por altera- ções congênitas ou pode surgir após febre reumática, faringite, amigdalite ou contato com estreptococo. Essa bactéria, além de desenvolver infecção, produz uma toxina chamada estreptolisina que é lançada na corrente sanguínea e exerce reações inflamatórias locais nas articulações, pele e coração. Então, o siste- ma imune produz anticorpos antiestreptolisina que age sobre o próprio tecido cardíaco causando lesões irreversíveis. O tratamento é antibioticoterapia e, por vezes, até cirurgia. É importante mencionar que em crianças de até quatro anos, o sopro é chamado de inocente ou fun- cional, pois, frequentemente diminui ou desapare- ce. Se for sistólico e de baixa intensidade, não afeta o desempenho cardíaco e muitas vezes só aparece após exercício físico intenso ou hipertermia. Tam- bém existe o sopro diastólico que ocorre por insu- ficiência de fechamento das valvas semilunares. No entanto, as valvas podem ser substituídas cirurgica- mente por valvas de doadores humanos, suínos ou próteses mecânicas. Inervação do coração Talvez você já tenha participado de uma aula prá- tica de ciências onde o professor tenha removido o coração de um animal (como rato ou rã) e tenha ficado intrigado com o fato de que o coração, mes- mo fora da cavidade torácica, é capaz de se contrair por um determinado período de tempo (eu mesma, sempre que posso, mostro isso em aula prática e os alunos gostam muito de ver como isso é possível). No entanto, se você nunca participou deste tipo de EDUCAÇÃO FÍSICA 77 aula ou nunca tinha ouvido falar nisso, pode acre- ditar porque é verdade. Agora é possível que você esteja se perguntando: como isso é possível se aprendemos que o sistema nervoso é quem controla todo o funcionamento do corpo e quando retiramos o coração do tórax, cor- tamos sua comunicação com esse sistema? Para en- tendermos como isso é possível, em primeiro lugar você precisa saber que a inervação do coração é dife- rente de outras regiões do corpo. Isto porque a iner- vação do músculo cardíaco ocorre de duas formas, a extrínseca e a intrínseca. A inervação extrínseca é feita pelo Sistema Ner- voso Autônomo (SNA) por meio de seus compo- nentes simpáticos (nervos cardíacos simpáticos) e parassimpáticos (nervo vago). Enquanto as fibras simpáticas causam taquicardia, as parassimpáticas causam bradicardia. Ambas formam o plexo nervo- so cardíaco, o qual é útil para as demandas do dia a dia, pois as constantes modificações do ambiente são prontamente percebidas pelo SNA fazendo com que o coração se adapte e capacite o corpo a reagir (WATANABE, 2000). Já a inervação intrínseca, chamada de sistema de condução do coração ou complexo estimulante do coração, não é feita por elementos nervosos e sim por fibras musculares estriadas cardíacas especiais, com poucas estrias transversais, poucas miofibrilas, de menor diâmetro e que formam o tecido nodal. Esse tecido por si só é capaz de gerar impulsos ele- troquímicos que se propagam pelo coração causan- do a contração do miocárdio de forma rítmica e repetitiva. Ele só é encontrado no coração no qual cerca de 1% das fibras musculares são células autor- rítmicas capazes de gerar potencial de ação. O sistema de condução do coração compreende o nodo sinoatrial, o nodo atrioventricular, o fascí- culo atrioventricular e os ramos direito e esquerdo. O nodo sinoatrial localiza-se no átrio direito. Ele envia finas ramificações aos átrios sendo conside- rado o “marca-passo” do coração, pois, a excitação cardíaca começa nele e é ele que determina o ritmo e o automatismo cardíaco. Seu mau funcionamento causa arritmia cardíaca. Várias substâncias (como a noradrenalina) e algumas condições (como hipóxia, drogas, cafeína e nicotina) atuam neste nodo e inter- ferem no ritmo do coração. Assim, pode ser neces- sário que outra área cardíaca possa funcionar como o marca-passo. O nodo atrioventricular fica acima da valva atrioventricular direita. Ele pode vir a ser o “marca- -passo” do coração se o nodo sinoatrial for lesado, mas a frequência cardíaca passa a ser de 40 a 60 ba- timentos por minuto (bpm). Sua continuação até o septo interventricular é o fascículo atrioventricular (feixe de His). Ele pode vir a ser o “marca-passo” do coração se os nodos sinoatrial e atrioventricular fo- rem lesados. Todavia, a frequência cardíaca cai para 20 a 35 bpm, o que pode causar lesão neurológica necessitando implantar um marca-passo artificial (um dispositivo que emite pequenas correntes elé- tricas que estimulam as contrações ventriculares). O fascículo atrioventricular se bifurca em ramo direito e ramo esquerdo, um para cada ventrícu- lo. Tais ramos penetram as paredes ventriculares, ramificam-se ainda mais e constituem os ramos subendocárdios (que ficam abaixo do endocárdio). Suas fibras são conhecidas como Fibras de Purkinje e permitem a propagação das contrações dos átrios para os ventrículos. Entendeu agora como é possível que o coração continue batendo mesmo fora do corpo? De forma bem simplificada, pode-se afirmar que, quando o co- ração é retirado da caixa torácica, de fato ele perde a ANATOMIA 78 inervação extrínseca (aquela que vem do sistema ner- voso), mas a inervação intrínseca (aquela que existe no próprio tecido cardíaco) ainda continua a funcionar. Na placenta, o sangue fetal capta O2 e nutrientes e elimina CO2 e resíduos. O sangue oxigenado retorna da placenta pela veia umbilical que vai até o fígado do feto. A placenta comunica-se com o sistema cir- culatório materno por pequenos vasos sanguíneos que emergem da parede do útero. Após o nascimen- to, muitas mudanças vasculares fazem o sistema cir- culatório fetal ficar como no adulto. Vale lembrar que o envelhecimento causa alte- rações no sistema circulatório tais como diminuição da complacência arterial, redução no tamanho das fibras musculares cardíacas, perda progressiva da força muscular cardíaca, diminuição da frequência cardíaca máxima e aumento da pressão sistólica. Tais alterações podem ocasionar maior incidência de doenças neste sistema. Todavia, o exercício físico é capaz de minimizar todas elas. Por isso, a sua prá- tica é aceita mundialmente como uma das melhoras formas de prevenir as doenças cardiocirculatórias. Vasos sanguíneos Como já vimos, os vasos sanguíneos são habili- tados ao transporte do sangue, seja ele arterial ou venoso. Os principais são as artérias e veias, mas também incluemas arteríolas, os capilares e as vênulas (FREITAS, 2004). Tanto as artérias quanto as veias possuem paredes formadas por três camadas sobrepostas: a túnica adventícia ou externa (que dá resistência à parede do vaso), a túnica média (mais espessa devido o músculo liso que permite vasoconstrição e vasodilatação sob o controle do SNA), e a túnica íntima ou endotélio (formada por uma camada de células de revesti- mento que permitem o deslizamento do sangue). As paredes das artérias e das veias recebem nutri- ção e inervação por meio dos vasos e nervos dos vasos (vasa vasorum e nervi vasorum). Figura 5 - Inervação intrínseca do coração Um detalhe interessante é que a atividade elétrica do coração gera uma corrente elétrica que pode ser detectada na superfície do corpo e registrada por um exame chamado Eletrocardiograma (ECG). Alterações no ECG são úteis para diagnosticar e tratar doenças do coração que também podem ser identificadas ao avaliar a resposta do coração ao es- tresse causado pelo exercício físico por meio de um teste de esforço. Circulação fetal e envelhecimento Os pulmões, rins e órgãos gastrintestinais só come- çam a funcionar após o nascimento. O feto obtém O2 e nutrientes do sangue materno, onde também eli- mina CO2 e resíduos. Normalmente não há mistura direta entre o sangue materno e o fetal, pois as trocas ocorrem de maneira indireta por difusão por meio dos capilares da mãe e do feto (MOORE et al., 2014). O sangue passa do feto para a placenta pelas duas artérias umbilicais que ficam dentro do cordão umbilical (são ramos das artérias ilíacas internas). EDUCAÇÃO FÍSICA 79 Todavia, artérias e veias não são iguais. Você acha que os vasos “esverdeados” que percebemos em nosso antebraço ou mesmo nos membros infe- riores são artérias ou veias? Quando vamos retirar sangue para fazermos um exame ou mesmo para doá-lo, a coleta é feita em artérias ou veias? Estas e outras perguntas poderão ser respondidas assim que concluirmos o estudo. Em primeiro lugar é importante que você sai- ba que as particularidades estruturais das artérias e das veias estão correlacionadas às funções que estes vasos desempenham na dinâmica circulató- ria. Por exemplo, de um modo geral, as veias têm paredes menos espessas, mas luz vascular mais ampla do que as artérias (luz vascular é o espaço que existe para o sangue circular dentro do vaso). Isto porque o mesmo volume de sangue que saiu do coração pelas artérias, deve retomar ao coração pelas veias, quase sem pressão e passivamente (ou seja, sem um órgão como o coração para mandá- -lo de volta). Além do que, o sangue do sistema arterial circula com maior pressão do que o san- gue que circula no sistema venoso. Abordaremos as principais diferenças entre os diversos vasos sanguíneos a seguir. Artérias Todas as artérias originam-se direita ou indire- tamente da artéria aorta ou do tronco pulmonar (ambas são vasos de grande calibre que se rami- ficam extensivamente). Elas são tubos cilíndricos, elásticos, de direção centrífuga (porque saem do coração), responsáveis pela irrigação sanguínea, pois transportam sangue rico em O2 e nutrientes para as células, tecidos ou órgãos (exceto as artérias pulmonares que conduzem sangue venoso aos pul- mões) (DI DIO, 2002). Na maioria das vezes, as artérias são menos nu- merosas, têm paredes mais espessas e com menor luz do que as veias. Como já visto, tais diferenças se devem à pressão com que o sangue circula por elas (assim, artérias têm que ter maior espessura de parede para que resistam à pressão do sangue e não colabem). Outro ponto importante é que as artérias têm pulsação, pois, a força de contração do ventrículo gera uma onda de grande pressão, conhecida como pulso, que se propaga ao longo delas. Normalmente, a frequência do pulso é a mesma da frequência car- díaca (de 70 a 80 vezes por minuto; no sono cai para 60; no exercício, febre, distúrbios emocionais, hi- pertireoidismo e outras condições específicas, pode ultrapassar 100; no recém-nascido gira em torno de 120 a 140 pulsações por minuto). Normalmente, elas são mais profundas do que as veias para ficarem protegidas e evitarem que uma ruptura cause um fluxo ininterrupto de sangue ou uma hemorragia. Também podem ser acompanhadas por uma ou duas veias satélites, as quais chegam a fazer sulcos nos ossos. No entanto, mesmo artérias profundas podem desenvolver par- te do trajeto superficialmente. É o caso da artéria radial, por exemplo. Em geral, artérias comunicam-se entre si por intermédio de anastomoses, fornecendo rotas al- ternativas para que o sangue chegue a um deter- minado tecido. Todavia, também podem se rami- ficar emitindo ramos terminais (quando a artéria deixa de existir; a artéria braquial emite a artéria radial e a ulnar como ramos terminais) ou ramos colaterais (quando a artéria continua a existir, mas emite um ramo com direção oblíqua ou a 90º; quando o ramo forma um ângulo obtuso, é cha- mado de ramo recorrente). ANATOMIA 80 As artérias geralmente começam de grande cali- bre e vão diminuindo de diâmetro à medida que se ramificam. Artérias de grande calibre têm diâmetro interno de cerca de 7 mm e são chamadas de elásti- cas ou condutoras. Suas paredes acomodam o volu- me de sangue e ajudam a impulsioná-lo enquanto os ventrículos relaxam. A aorta, o tronco pulmonar, a carótida comum, a subclávia, a vertebral, a pulmonar e a ilíaca comum são exemplos desse tipo de artéria. Elas se ramificam em artérias de médio cali- bre as quais têm diâmetro interno de 2,5 a 7 mm e são chamadas de distribuidoras ou musculares. Estas têm paredes espessas e adaptadas à vaso- constrição e vasodilatação. A artéria braquial e a radial são exemplos deste tipo de artéria. Delas se originam as artérias superficiais que se destinam à pele. Posteriormente, artérias de médio calibre se ramificam em artérias de pequeno calibre cujo di- âmetro interno é de 0,5 a 2,5 mm das quais surgem as arteríolas, com diâmetro interno menor do que 0,5 mm e cuja função é levar sangue aos capilares arteriais. Assim, as arteríolas têm papel chave na regulação do fluxo sanguíneo e, por isso, são co- nhecidas como vasos de resistência. Alterações em seu diâmetro podem causar mudanças na pressão arterial (por nicotina, por exemplo). Capilares sanguíneos Os capilares sanguíneos têm paredes muito delga- das, constituídas na maioria das vezes, por uma úni- ca camada de células endoteliais e uma membrana basal de tecido conjuntivo (não têm camada média e adventícia). Por isso, permitem a passagem de subs- tâncias através de suas paredes, ou seja, as trocas en- tre sangue e tecidos por meio do líquido intersticial, e vice-versa. Assim, são conhecidos como vasos de troca (TORTORA et al., 2010). Os capilares têm diâmetro microscópico e ligam as arteríolas às vênulas permitindo a microcircula- ção. Na maioria das vezes, surgem das ramificações das arteríolas, mas em alguns casos (como no fígado e na glândula hipófise), originam-se da ramificação de vênulas. Apresentam vasomotricidade (ou seja, fazem vasodilatação e vasoconstrição) a qual é in- fluenciada por substâncias químicas liberadas pelas células endoteliais (por exemplo, o óxido nítrico). São considerados os vasos mais numerosos do corpo e formam redes ramificadas que aumentam a área de superfície para a troca de materiais. Todavia, embora sejam encontrados próximos a quase todas as células, seu número varia com a atividade me- tabólica do tecido. Por exemplo, músculos, fígado, rins e SNC que têm alto metabolismo, têm muitos capilares; tendões e ligamentos têm menos. Além disso, podem apresentar poros em sua parede (como os capilares fenestrados do rim, in- testino delgado e glândulas endócrinas), podem ter interrupções na parede (como os capilares sinusoi- des do fígado, baço, adenohipófise e glândulas para- tireoides) ou podem ter parede sem poros ou inter- rupções (como os capilares contínuos dos músculos, encéfalo,pulmões e tecido conjuntivo). Veias As veias são tubos nos quais o sangue circula com direção centrípeta (ou seja, chegam ao coração). São responsáveis pela drenagem sanguínea ou re- torno venoso, pois, coletam o sangue rico em CO2 e metabólitos dos tecidos para o coração (exceto as veias pulmonares que conduzem sangue arterial para o coração). Elas se formam pelas sucessivas confluências de vênulas e capilares venosos e vão aumentando gradativamente de calibre (ao con- trário das artérias, lembra?). Assim, podem ser de EDUCAÇÃO FÍSICA 81 pequeno, médio ou grande calibre (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Elas não têm pulsação e normalmente são menos espessas do que as artérias e, por isso, podem cola- bar (suas paredes podem ficar aderidas). Embora, à semelhança das artérias, possam se dilatar no sen- tido transversal (para conter maior volume de san- gue) e longitudinal (para atender aos deslocamentos dos segmentos corporais), não resistem a pressões muito altas. Em contrapartida, têm maior luz e são mais numerosas do que as artérias (o leito venoso é praticamente o dobro do leito arterial; entretanto, o pênis e o cordão umbilical são exceções, pois neles há duas artérias acompanhando uma única veia). As veias geralmente começam de pequeno ca- libre e vão aumentando de diâmetro à medida que se dirigem ao coração. Além disso, podem ser su- perficiais ou profundas. As superficiais não acom- panham as artérias e são chamadas de solitárias. As profundas podem ou não acompanhar as artérias. As que acompanham são chamadas de satélites e as que não acompanham, são chamadas de solitárias. A comunicação entre veias superficiais e profundas é feita por veias comunicantes ou perfurantes. Vale lembrar que veias, artérias e nervos se unem for- mando um feixe vásculo-nervoso. Além disso, veias podem apresentar válvulas para impedir o refluxo do sangue. Todavia, se es- tas não funcionam, adequadamente, podem apa- recer varizes (principalmente nos membros). Tais válvulas podem não existir em algumas veias da cabeça e do pescoço. Agora chegou a hora de você responder, com certeza, as perguntas do início do texto. Então, os vasos “esverdeados” que percebemos em nosso an- tebraço ou mesmo nos membros inferiores são artérias ou veias? Certamente são veias, pois estas apresentam trajeto mais superficial do que as arté- rias. E qual vaso é puncionado na coleta de sangue? Novamente a resposta é a veia, pois o sangue circula com maior pressão nas artérias e perfurá-las rotinei- ramente não seria o melhor a fazer. Além do que, artérias têm trajeto mais profundo, lembra? Como é bom adquirir conhecimento, não acha? Figura 6 - Diferenças entre artérias e veias Distribuição do sangue A distribuição do sangue pelo corpo não é simétrica entre os órgãos, e depende da demanda funcional a qual o indivíduo está submetido. Assim, a maior parte do volume de sangue em repouso (64%) está nas veias e vênulas sistêmicas. As artérias sistêmi- cas têm cerda de 13%, os capilares sanguíneos 7%, os vasos pulmonares 9% e o coração 7%. Todavia este estado pode ser totalmente alterado em con- dições específicas como exercício físico e estresse (MOORE et al., 2014). Assim, pode-se dizer que as veias e vênulas sis- têmicas atuam como reservatório de sangue a partir do qual o sangue pode ser rapidamente removido se houver necessidade. Esse é o caso, por exemplo, de um quadro de hemorragia ou atividade muscular intensa onde a venoconstrição poderá ajuda a con- ANATOMIA 82 trabalancear a queda na pressão arterial. As veias e vênulas do fígado, baço e da pele representam os principais reservatórios de sangue do corpo. Vascularização sistêmica Vascularização do coração O pericárdio e o miocárdio são irrigados pelas arté- rias coronárias, que são ramos da parte ascendente da artéria aorta. Elas correm no sulco coronário e recebem o nome de coronárias porque circundam o coração como uma coroa. O endocárdio é nutrido por microvascularização diretamente das câmaras do coração (WATANABE, 2000). Geralmente, a artéria coronária esquerda é mais calibrosa e tem maior área de distribuição. Ela passa inferiormente à aurícula esquerda, fornece o ramo interventricular anterior e o ramo circunflexo. O ramo interventricular anterior percorre o sulco in- terventricular anterior, desce até o ápice do coração, irriga os ventrículos e emite ramos interventricu- lares septais para o septo interventricular. O ramo circunflexo fica no sulco coronário, irriga o átrio e o ventrículo esquerdos, dirige-se, posteriormente, e se anastomosa com a artéria coronária direita. A artéria coronária direita dirige-se para à di- reita do sulco coronário, emite ramos atriais e se divide em ramo marginal (que irriga o ventrículo direito) e ramo interventricular posterior que per- corre o sulco interventricular posterior e irriga os dois ventrículos. Também emite ramos interventri- culares septais. O coração é drenado, principalmente, por peque- nas veias cardíacas mínimas e por veias que se abrem no seio coronário (seio coronário é a principal veia do coração). Esse seio situa-se no sulco coronário e desemboca no átrio direito. Antes, todavia, ele rece- be como principais tributárias a veia cardíaca magna (que drena áreas supridas pela artéria coronária es- querda e fica localizada no sulco interventricular an- terior), a veia cardíaca média (que drena os ventrícu- los e fica no sulco interventricular posterior) e a veia cardíaca parva (que drena átrio e ventrículo direitos e se posiciona no sulco coronário). Se as artérias coronárias estiverem compro- metidas ao ponto de não conseguirem suprir as necessidades de oxigenação e nutrição do miocárdio, pode ser necessária a realização de um procedimento cirúrgico para revasculari- zação do miocárdio, popularmente conhecida como “ponte de safena”. Essa cirurgia consiste na retirada de uma parte da veia safena lo- calizada no membro inferior, para criar uma ponte por cima das artérias coronárias com- prometidas para tornar possível a passagem sanguínea novamente. Tais artérias podem ser afetadas, principalmente, por acúmulo de gordura (aterosclerose) ou cálcio em suas paredes. Leia mais sobre o tema, pois grande parte das causas de obstrução das artérias coronárias pode ser prevenida por meio da prática regular do exercício físico. Fonte: Tua Saúde (2013, on-line)3. SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 83 Vascularização da cabeça e pescoço A vascularização da cabeça e pescoço depende das artérias carótidas comuns e subclávias as quais se originam a partir do arco da aorta. À direita desse arco surge o tronco braquiocefálico o qual emite a artéria carótida comum direita e a artéria subclá- via direita. As artérias carótida comum esquerda e subclávia esquerda surgem do próprio arco da aorta (DANGELO; FATTINI, 2011). As artérias carótidas comuns (direita e esquer- da) têm pulsação lateralmente à laringe e, na altura da cartilagem tireoide, ramificam-se em artéria ca- rótida interna (direita e esquerda) e externa (direi- ta e esquerda). A interna passa o canal carótico na base do crânio, emite a artéria oftálmica (que irriga a retina), a artéria cerebral anterior (que irriga a face medial do encéfalo), a artéria cerebral média (que irriga a face superolateral do hemisfério cerebral) e a artéria comunicante posterior. A região posterior do encéfalo é irrigada pelas artérias vertebrais (que são ramos das artérias sub- clávias). As vertebrais sobem pelos forames trans- versos das vértebras cervicais, entram no crânio pelo forame magno, unem-se e formam a artéria basilar. A basilar emite as artérias cerebelares e a artéria ce- rebral posterior. Assim, na face inferior do encéfalo se forma o círculo arterial do encéfalo por meio do qual o sistema carotídeo interno se une ao sistema vértebro-basilar como uma anastomose arterial que pode, em situações específicas (como obstruções e aneurismas), prevenir quadros de isquemiacerebral. A artéria carótida externa irriga, através de mui- tos ramos, todas as estruturas externas da face e couro cabeludo. Seus principais ramos incluem as artérias tireoidea superior, lingual, facial, occipital, auricular posterior, faríngea ascendente, maxilar e temporal superficial. A drenagem venosa da cabeça e do pescoço é feita pelos seios venosos da dura-máter e por veias super- ficiais que, após várias confluências, desembocam na veia jugular interna. Essa veia se une à veia subclávia formando a veia braquiocefálica. As veias braquio- cefálicas direita e esquerda se unem e formam a veia cava superior a qual desemboca no átrio direito do coração levando o sangue venoso da cabeça e do pes- coço, além do sangue do membro superior e do tórax. ANATOMIA 84 Diagrama das principais artérias da cabeça Vascularização do tórax É feita pela parte torácica da artéria aorta a qual, antes de atravessar o músculo diafragma pelo hiato aórtico, emite uma série de ramos visce- rais e parietais, como as artérias esofágicas (que irrigam o esôfago), as pericárdicas (que irrigam o pericárdio), as mediastinais (que irrigam as estruturas do mediastino), as brônquiais (que irrigam os brônquios), as EDUCAÇÃO FÍSICA 85 frênicas superiores (que irrigam o músculo diafragma), as subcostais e as intercostais posteriores (que irrigam os músculos intercostais e torá- cicos). Além da artéria aorta, também participam da irrigação da parede torácica a artéria subclávia e a artéria axilar (MOORE et al., 2014). O tórax é drenado por várias veias que drenam para a veia ázigo. Por sua vez, a veia ázigo conduz o sangue venoso até a veia cava superior. Diagrama das principais veias da cabeça Figura 7 - Vascularização da cabeça e do pescoço e drenagem da cabeça e do pescoço Fonte: Colicigno et al. (2009, p. 166, on-line)4. ANATOMIA 86 Vascularização do abdome É feita pela parte abdominal da artéria aorta, em seu trajeto após o hiato aórtico. Ela emite ramos visce- rais e parietais. Os principais ramos parietais são a artéria epigástrica superficial, a epigástrica inferior, a musculofrênica, a 10ª e a 11ª artérias intercostais, posteriores, a subcostal, a circunflexa ilíaca profun- da e a circunflexa ilíaca superficial (DI DIO, 2002). Os principais ramos viscerais incluem as artérias frênicas inferiores (irrigam o músculo diafragma), o tronco celíaco (irriga esôfago, estômago, baço, pâncreas, fígado e duodeno), a mesentérica supe- rior (irriga intestino delgado, ceco, colo ascendente e transverso, e pâncreas), a mesentérica inferior (ir- riga colo transverso, descendente e sigmoide), as su- prarrenais médias (irrigam glândulas suprarrenais), as renais (irrigam rins), as gonadais (as testiculares irrigam testículos e as ováricas irrigam os ovários) e as ilíacas comuns. Essas últimas se ramificam em artérias ilíacas externas (irrigam os membros infe- riores) e ilíacas internas (irrigam bexiga urinária, útero e próstata). A drenagem venosa das vísceras abdominais é feita, principalmente, pela veia porta e pela veia cava inferior. Vascularização da pelve Como vimos, a artéria ilíaca comum se bifurca ori- ginando a artéria ilíaca interna e a externa. A inter- na envia ramos para a parede e vísceras da pelve; a externa envia ramos para a parede abdominal e continua no membro inferior como artéria femoral (FREITAS, 2004). Dentre as principais artérias da pelve estão a umbilical, obturatória, sacral mediana, retal supe- rior, gonadal (ovárica e testicular), artéria do ducto deferente, ramos prostáticos, vesical superior e infe- rior (na mulher, é artéria vaginal) e artéria uterina. Os plexos venosos pélvicos são formados por veias que circundam as vísceras pélvicas (plexo re- tal, vesical, prostático, uterino e vaginal). Também são importantes as veias iliolombares, sacral media- na e sacrais laterais. Na pelve, a veia ilíaca interna se une à veia ilíaca externa para formar a veia ilíaca comum. As veias ilíacas comuns (direita e esquerda) se unem para formar a veia cava inferior a qual se- gue na cavidade abdominal, paralelamente à aorta, recebendo várias tributárias. Ela passa pelo forame da veia cava (no músculo diafragma) e desemboca no átrio direito do coração. Vascularização do membro superior Os membros superiores são irrigados pelas artérias subclávias que passam inferiormente à clavícula. Na região axilar, passam a ser chamadas de artérias axi- lares e no braço passam a ser artérias braquiais. Na altura da fossa cubital, elas se ramificam em artéria ulnar e artéria radial as quais irrigam a mão e os de- dos (TORTORA et al., 2010). EDUCAÇÃO FÍSICA 87 A artéria radial é a continuação direta da arté- ria braquial. Ela é superficial na parte distal do an- tebraço onde pode ser palpada para verificar suas pulsações. As veias profundas do membro superior têm os mesmos nomes das artérias e seguem, em última instância, até a veia subclávia. As duas prin- cipais veias superficiais do membro superior são a veia cefálica e a basílica as quais desembocam na veia braquial. Vascularização do membro inferior Recapitulando, a parte abdominal da artéria aorta bifurca-se em artérias ilíacas comuns (direita e es- querda) que se bifurcam em artéria ilíaca interna (que se dirige à pelve) e artéria ilíaca externa. A ex- terna atravessa o ligamento inguinal e passa a ser chamada de artéria femoral. Esta passa, posterior- mente, à região do joelho e recebe o nome de arté- ria poplítea. A poplítea se bifurca em artéria tibial anterior, tibial posterior e fibular (DI DIO, 2002). As veias profundas do membro inferior acom- panham as artérias, têm os mesmos nomes delas e seguem, em última instância, até a veia femoral. As duas principais veias superficiais do membro infe- rior são a safena magna e a safena parva. A veia safena parva drena para a veia poplítea e a safena magna drena para a veia femoral. Outras veias im- portantes do membro inferior são a safena acessó- ria, a veia cutânea lateral, a veia cutânea anterior e as veias perfurantes. É importante ressaltar que as veias dos mem- bros inferiores drenam o sangue desfavoravelmen- te em relação à gravidade e, por isso, suas paredes são ricas em fibras musculares lisas e em fibras colágenas. Além disso, possuem numerosas valvas que ajudam no direcionamento do sangue (as pro- fundas têm mais). Outros fatores que ajudam no retorno venoso são a ação de “esponja venosa” das plantas dos pés, a ação massageadora dos múscu- los do membro inferior sobre os vasos, a pulsação das artérias adjacentes transmitindo o pulso para a parede da veia acompanhante (veia satélite) e o gradiente de pressão entre a cavidade torácica e a abdominal durante a respiração. Todavia, em pessoas que permanecem em pé por períodos prolongados, o sangue pode se acumular no interior das veias dos membros inferiores, resul- tando em elevação da pressão, dilatação, insuficiên- cia valvular e varizes. Isto gera um fluxo retrógrado do sangue, estase sanguínea e migração de líquido para o espaço intersticial causando edema. ANATOMIA 88 Ilustração esquemática das principais veias Curiosidades Como o coração se situa entre duas estruturas rígidas (a coluna vertebral e o osso esterno), sua compressão pode ser útil para bombear o sangue dele para a circulação sistêmica. Assim, se ele parar subitamente de ba- EDUCAÇÃO FÍSICA 89 Ilustração esquemática das principais artérias Figura 8 - Vascularização do corpo humano Fonte: Colicigno et al. ( 2009, p. 164-165, on-line)5. ter, a ressuscitação cardiopulmonar (compressão cardíaca associada à ventilação artificial dos pulmões) é útil para manter o sangue oxigenado até que o coração volte a bater (FREITAS, 2004). ANATOMIA 90 DEFINIÇÃO DO SISTEMA LINFÁTICO O sistema linfático é considerado um sistema de dre- nagem que auxilia o sistema venoso a drenar a linfa dos tecidos para a circulação sanguínea. Para tanto, é constituído por uma vasta redede vasos semelhantes às veias (os vasos linfáticos), que se distribuem por todo o corpo captando líquido tecidual que não re- tornou aos capilares sanguíneos. Neste contexto, ele dispõe de estruturas que filtram e reconduzem a linfa à circulação sanguínea (MOORE et al., 2014). Ele é constituído pela linfa, vasos que a drenam (capilares linfáticos, vasos linfáticos, ductos linfáti- cos), tecidos e órgãos linfoides (baço, timo, linfono- dos e tonsilas). FUNÇÕES DO SISTEMA LINFÁTICO A mais notável função do sistema linfático é sua ha- bilidade de drenar o excesso de líquido intersticial para os vasos linfáticos mantendo o equilíbrio dos fluidos do corpo. Se ele não atuasse desta forma, o volume sanguíneo poderia ser afetado, já que o san- gue é a fonte principal deste líquido. Além disso, ele também drena para os vasos linfáticos parte das proteínas que saem dos vasos sanguíneos. Tal fato é de extrema importância, pois evita que ocorra os- mose reversa e, consequentemente, edema tecidual (DANGELO; FATTINI, 2011). Sistema Linfático Figura 9 - Visão geral do sistema linfático EDUCAÇÃO FÍSICA 91 No entanto, o sistema linfático desempenha outras funções como participar ativamente da imunidade corpórea. Por sua ação, bactérias, partículas estra- nhas e células anômalas podem ser destruídas uma vez que ele está diretamente relacionado à produção e à maturação de células imunológicas como macró- fagos e linfócitos (tais células participam ativamente da resposta imunológica específica produzindo anti- corpos para destruir substâncias invasoras). Além disso, o sistema linfático está relacionado à absorção e ao transporte das gorduras dos alimentos por meio dos capilares lácteos, os quais recebem to- dos os lipídios e vitaminas lipossolúveis absorvidos pelo intestino. Após esta absorção, o quilo (linfa dre- nada do intestino delgado com aparência leitosa) é conduzido pelos vasos linfáticos viscerais para o duc- to torácico e daí para o sistema venoso. Em outros te- cidos, a linfa é um líquido amarelo-claro translúcido. COMPONENTES DO SISTEMA LINFÁTICO A linfa, os vasos linfáticos, os tecidos e os órgãos linfoides estão distribuídos por praticamente todo o corpo (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Os órgãos linfoides são classificados como primários ou secundários. Os primários são locais nos quais célu- las tronco se dividem e se tornam aptas a executar a resposta imune (por exemplo, a medula óssea ver- melha e o timo). Já os órgãos linfoides secundários são locais nos quais a resposta imune ocorre (por exemplo, os lin- fonodos, o baço e os folículos linfáticos). Enquanto, o baço, o timo e os linfonodos são considerados ór- gãos, pois são revestidos por uma cápsula de tecido conjuntivo, os nódulos linfáticos não são, pois não apresentam tal cápsula. Linfa A linfa é um líquido incolor presente no espaço intersticial, resultante das trocas entre o sangue dos capilares e o tecido. Pode-se dizer que repre- senta o excesso de líquido que saiu do capilar, mas não retornou à circulação sanguínea (TORTORA et al., 2010). Sua composição é parecida com a do plasma sanguíneo uma vez que apresenta água, eletrólitos e proteínas. Todavia, a linfa é mais rica em água, tem menos proteínas do que o plasma, e não tem hemá- cias ou plaquetas. Diferentemente do que ocorre no sistema cardiovascular sanguíneo onde o coração bombeia o sangue, no sistema linfático não existe um órgão central bombeador de linfa. Assim, a circulação da linfa é possibilitada pe- los mesmos mecanismos que auxiliam o retorno venoso (vistos anteriormente, lembra?). Por isso, o fluxo da linfa é lento nos períodos de inativi- dade física, mas aumenta com o exercício, peris- taltismo e com os movimentos respiratórios. Isso explica o fato de que algumas pessoas precisam, inclusive, realizar artificialmente manobras de drenagem linfática. Capilares, vasos e ductos linfáticos A linfa intersticial é recolhida pelas capilares lin- fáticos os quais são os de menor calibre do sistema linfático. Tais vasos são importantes porque reco- lhem, além da linfa, moléculas diversas do líquido intersticial que não retornam aos capilares sanguí- neos (como moléculas grandes ou proteínas). Tal habilidade é possível porque os capilares linfáticos apresentam diferenças em relação aos capilares sanguíneos, por exemplo, são mais calibrosos e têm maior permeabilidade. ANATOMIA 92 A maior permeabilidade deve-se ao maior espa- ço que existe entre suas células (são fenestrados), à ausência de membrana basal e à posição das bordas de suas células endoteliais. Estas estão frouxamente unidas e podem ser empurradas pela pressão do lí- quido intersticial de fora para dentro fazendo com que o líquido penetre nos capilares linfáticos e uma vez dentro, não retorne ao meio intersticial devido à pressão que força as bordas das células endoteliais a se juntarem (como uma porta vaivém unidirecio- nal). Além disso, existem filamentos de ancoragem nos capilares linfáticos que fixam suas células endo- teliais aos tecidos adjacentes. Quando ocorre ede- ma, estes filamentos são tracionados aumentando as aberturas entre as células para que mais líquido flua para o capilar linfático (FREITAS, 2004). Adicionalmente, esses pequenos vasos terminam em fundo cego para permitir fluxo unidirecional da linfa em direção ao capilar sanguíneo, e apresentam válvulas que ajudam a conduzir a linfa em direção ao coração. Todavia, as mesmas os estreita dando-lhes aspecto irregular de “rosário” ou “colar de conta”. Os capilares linfáticos estão presentes em quase todos os locais do corpo sendo abundantes na pele e nas mucosas, mas ausentes nos dentes, ossos, me- dula óssea vermelha, sistema nervoso central, nos tecidos avasculares (como cartilagem, epiderme e córnea do bulbo) e nos músculos estriados esquelé- ticos (embora estejam presentes no tecido conjun- tivo que os envolve). Os capilares se unem para formar os vasos linfá- ticos os quais podem ser superficiais ou profundos. Os superficiais anastomosam-se livremente e são mais numerosos do que as veias no tecido subcutâ- neo. Eles drenam para os vasos linfáticos profun- dos que também recebem a drenagem dos órgãos internos. Assim, os vasos linfáticos tornam-se pro- gressivamente maiores (sendo chamados de vasos coletores) e atravessam vários linfonodos antes de desembocarem nos troncos linfáticos e permitirem que a linfa retorne à corrente sanguínea. Os cinco principais troncos linfáticos são o intestinal (que recebe a linfa dos órgãos abdomi- nais), o lombar (que drena o membro inferior e alguns órgãos pélvicos), o subclávio (que drena o membro superior, parte do tórax e do dorso), o jugular (que drena cabeça e pescoço) e o bron- comediastinal (que drenam o tórax). Os troncos linfáticos drenam para o ducto linfático direito ou para o ducto torácico. Posteriormente, a linfa é direcionada às veias e passam a circular junto com o plasma sanguíneo. O ducto linfático direito é um pequeno vaso (cerca de 1,0 cm de comprimento) formado pela união dos troncos subclávio, jugular e broncome- diastinal direito. Ele desemboca na junção da veias subclávia direita e jugular interna direita. Já o ducto torácico mede aproximadamente 45 cm de comprimento. Ele recebe linfa dos troncos lombares e intestinal, atravessa o músculo diafrag- ma junto com a artéria aorta e recebe vasos linfáticos que drenam a metade esquerda do tórax. Posterior- mente, recebe o tronco subclávio esquerdo e jugular esquerdo e desemboca na veia subclávia esquerda. Assim, recolhe a linfa de todo o corpo menos do membro superior direito e da metade direita da ca- beça, pescoço e tórax (esta é recolhida pelo ducto linfático direito). EDUCAÇÃO FÍSICA 93 Linfonodos Os linfonodos são pequenas massas de tecido linfoide dispostas ao longo do trajeto dos vasos linfáticos. Os cerca de 600 linfonodos dispersos pelo corpo reúnem-se em grupo superficial e pro- fundo e atuam como órgãosfiltrantes da linfa an- tes que ela adentre o sistema venoso. Para tanto, eles destroem microrganismos, toxinas, células anômalas e partículas estranhas, por meio dos macrófagos e linfócitos existentes em seu interior (WATANABE, 2000). A linfa penetra a face convexa do linfonodo por meio de vasos linfáticos aferentes, os quais têm vál- vulas que se abrem para o centro do linfonodo e não permitem que a linfa reflua. Então, ela é lentamen- te filtrada por meio de canais irregulares, denomi- nados seios, onde existem macrófagos, linfócitos e plasmócitos. Dos seios, a linfa sai pelos vasos linfá- ticos eferentes que deixam o linfonodo pela região do hilo. Ah...é válido mencionar que existem menos vasos linfáticos eferentes do que aferentes a fim de reduzir a velocidade do fluxo da linfa. Cada linfonodo é envolto por uma cápsula fibro- sa da qual partem projeções de tecido conjuntivo (as trabéculas) para o interior do linfonodo dividindo-o em vários compartimentos os quais são posterior- mente subdivididos por fibras reticulares. Cápsula, trabéculas, fibras reticulares e fibroblastos formam o estroma ou o arcabouço do linfonodo. O parênqui- ma do linfonodo é dividido em uma região externa chamada córtex, e uma região interna chamada me- dula. No córtex os linfócitos são sintetizados e na medula as células estão arranjadas em forma de cor- dões denominados cordões medulares. Baço O baço é um órgão que, provavelmente, já te inco- modou um dia na vida, principalmente se você re- solveu fazer um exercício físico um pouco mais ex- tenuante sem preparo físico adequado (falo sempre que isso acontece com quem quer “virar atleta” de um dia para o outro). Você deve estar se perguntan- do por que o baço já o incomodou. É simples. Sabe aquela dorzinha na região lateral do abdome, à es- querda? Pois é ele. Mas por que será que ele dói ao se exercitar com um pouco mais de intensidade? Será que é possível que esta dor pare de incomodar com o treinamento sistematizado? Como deve proceder? Vamos primeiro entender quem é o baço e quais funções desempenha para depois respondermos tais perguntas (DI DIO, 2002). Figura 10 - Capilares, ductos linfáticos e linfonodos Ductos linfáticos Linfonodos Válvulas dos capilares linfáticos Capilares linfáticos ANATOMIA 94 O baço é o maior órgão linfoide (com cerca de 10 cm), localizado à esquerda da cavidade abdomi- nal, logo, abaixo do músculo diafragma, sendo qua- se completamente recoberto pelo estômago. Com forma elíptica e cor vermelho-escura, ele apresenta a face diafragmática (superior, em contato com o músculo diafragma) e a face visceral (inferior, em contato com as vísceras abdominais). Enquanto, a face diafragmática é convexa e lisa, a visceral apre- senta o hilo por onde passam vasos e nervos. O baço é envolto pelo peritônio visceral e por uma cápsula resistente de tecido conjuntivo fibro- so que contém fibras musculares e envia septos (as trabéculas) para seu interior dividindo-o e dando- -lhe sustentação. Cápsula, trabéculas, fibras reticu- lares e fibroblastos constituem o estroma do baço. Seu parênquima é constituído por polpa vermelha e branca. A vermelha é mais abundante e consiste de seios venosos ramificados que armazenam sangue; a branca fica dentro da vermelha e apresenta grande quantidade de linfócitos e macrófagos. Inúmeras funções são desempenhadas pelo baço. Ele produz linfócitos e plasmócitos, atua na matu- ração dos linfócitos B, armazena plaquetas, destrói células sanguíneas velhas (hemocaterese) e produz células sanguíneas (hemopoiese). Além disso, atua como reservatório de sangue sendo capaz de liberar cerca de 200 ml para a corrente sanguínea em situ- ações de emergência (como uma hemorragia). Nor- malmente este sangue fica contido nos seios venosos da polpa vermelha e é liberado pela contração das células musculares lisas de sua cápsula. Algumas doenças infecciosas podem aumentar seu tamanho causando esplenomegalia. Além disso, trauma abdominal pode rompê-lo e causar san- gramento intraperitoneal obrigando sua remoção cirúrgica (esplenectomia) para evitar morte por he- morragia. Neste caso, outras estruturas (como fíga- do, medula óssea vermelha, linfonodos e tonsilas) podem assumir suas funções, embora as funções imunes possam permanecer debilitadas. Agora, você certamente entende porque ele dói quando se faz exercícios mais intensos sem um bom preparo físico. Isso ocorre porque no exercício ele faz várias funções ao mesmo tempo. Assim, realiza a hemocatérese, a hemopoiese e a liberação de san- Figura 11 - Baço EDUCAÇÃO FÍSICA 95 gue extra para a circulação periférica a fim de suprir as necessidades dos músculos. Para liberar o sangue contido nos seios venosos da polpa vermelha, os músculos lisos de sua cápsula se contraem gerando um incômodo percebido no local onde ele se localiza. Para ele parar de incomodar, o ideal é prosseguir com o treinamento, pois, a continuidade do exercício gera mudanças na constituição do próprio sangue (aumentando, por exemplo, a quantidade de eritró- citos e otimizando o transporte de O2 para os mús- culos). Ou seja, o jeito é continuar a treinar. Todavia, enquanto seu corpo ainda está sendo condicionado, a melhor opção é respirar mais intensamente e, se a dor for muito intensa, diminuir a intensidade do exercício. Sabendo de tudo isso, bom treino. Timo A maioria das pessoas não sabe onde se localiza o timo, o que ele faz, e para piorar, algumas inclusive não sabem nem se têm de fato um timo em seus cor- pos. Falo sempre que o timo é um órgão injustiçado porque ninguém se lembra dele. Mas por que será que isso ocorre? Será que suas funções não são de fato importantes? O timo é formado por uma massa linfoide bi- lobulada mantida justaposta por uma lâmina de te- cido conjuntivo. Uma cápsula de tecido conjuntivo envolve cada lobo separadamente e as extensões desta cápsula (as trabéculas) penetram os lobos di- vidindo-os em lóbulos. Cada lóbulo tem uma ca- mada externa e outra interna. A externa é chamada de córtex e é constituída por linfócitos T, células dendríticas, células epiteliais e macrófagos. A in- terna é chamada de medula e apresenta linfócitos T maduros, células dendríticas, macrófagos e célu- las organizadas chamadas de corpúsculos tímicos (FREITAS, 2004). Linfócitos T necessitam do timo para amadure- cer e, quando maduros, deixam o timo por meio do sangue e são transportados até os linfonodos, baço e outros tecidos linfáticos. O timo também atua como glândula endócrina produzindo o hormônio timosi- na que estimula o crescimento de linfócitos em to- dos os tecidos linfáticos do corpo. Ele está situado em parte na região inferior do pescoço (anterior e lateralmente à traqueia) e em parte na cavidade torácica (posteriormente, ao osso esterno, no mediastino). Esse órgão é maior na infân- cia, pois é gradativamente substituído por tecido con- juntivo e gordura. Contudo, algumas de suas células continuam a se proliferarem durante toda a vida. Esse fato justifica o pouco conhecimento que a maioria das pessoas tem a respeito do timo. Como ele vai sendo gradativamente substituído por tecido conjuntivo e gordura, suas funções vão sendo assu- midas por outros órgãos, por isso, você, provavel- mente, nunca ouviu falar de alguém que morreu de problema no timo. Todavia, não podemos desprezar suas funções porque elas são importantes e essen- ciais às diversas fases do desenvolvimento humano. Figura 12 - Timo Laringe Glândula tireóide Traqueia Timo Pulmão Coração Pericárdio ANATOMIA 96 Nódulos linfáticos Nódulos linfáticos são massas ovais de tecido linfá- tico não envoltas por uma cápsula de tecido conjun- tivo. Eles estão espalhados por toda a mucosa que reveste os sistemas genital masculino e feminino, digestório, urinário e respiratório e, por isso, são chamados de tecido linfático associado à mucosa (MALT) (TORTORA et al., 2010). Enquanto alguns nódulos linfáticos são peque-nos e solitários, outros formam grandes agregações (como as tonsilas, os nódulos linfáticos do íleo e do apêndice vermiforme). Nos segmentos gastrointesti- nais são conhecidos como placas de Peyer. Tonsilas Tonsilas são pequenas massas de tecido linfoide relacionadas à imunidade, representando a pri- meira defesa do organismo. Elas ficam localizadas em várias regiões do corpo, por exemplo, na parte nasal da faringe (tonsila faríngea), próximo ao ós- tio faríngeo da tuba auditiva (tonsila tubária), na raiz da língua (tonsila lingual), na fossa tonsilar (tonsila palatina) e na laringe (tonsila laríngea). O conjunto delas é conhecido como anel linfático (WATANABE, 2000). Na infância, é normal que as tonsilas fiquem mais volumosas uma vez que a criança tende a pôr na boca quase tudo o que manipula. Como normal- mente os objetos são contaminados, as tonsilas são ativadas a fim de produzir anticorpos e ficam hiper- trofiadas e dolorosas. Outro detalhe interessante que merece ser desta- cado, é que a hipertrofia da tonsila tubária e faríngea recebe o nome de adenoide e pode dificultar o fun- cionamento da tuba auditiva, da qualidade da voz e a respiração nasal. Assim, o indivíduo desenvolve respiração bucal e, por isso, os roncos são comuns. De igual modo, a hipertrofia da tonsila palatina (po- pularmente chamada de amidalite) também dificul- ta a deglutição. Figura 13 - Tonsilas PRINCIPAIS LINFONODOS DO CORPO Cabeça Incluem os linfonodos occipital (drena a parte oc- cipital do escalpo e a parte superior do pescoço), os mastoideos (drena a pele da orelha), os pré-auricu- lares (drena a orelha externa e a região temporal do escalpo), os parotídeos (drena o nariz, a parte pos- terior da cavidade nasal e a parte nasal da faringe) e os da face que incluem os infraorbitais (drena as pálpebras), os mandibulares (drenas as bochechas), os bucinatórios (drena o ângulo da boca e as boche- chas) (MOORE et al., 2014). Tonsila faríngea Tonsila palatina Tonsila lingual EDUCAÇÃO FÍSICA 97 Pescoço Incluem os linfonodos submandibulares (drena o mento, ápice da língua e parte do palato), os submen- tuais (drena mento, ápice da língua, lábio inferior, assoalho da boca e bochechas), os cervicais superfi- ciais (drena orelha e região parotídea), os cervicais profundos superiores (que ficam abaixo do músculo esternocleidomastoideo), os cervicais inferiores (que ficam próximos à veia subclávia; drenam parte poste- rior do escalpo e pescoço, região peitoral e parte do braço) e os cervicais superiores (drenam parte poste- rior da cabeça e do pescoço, orelha, faringe, esôfago, glândula tireoide, palato e tonsilas) (FREITAS, 2004). Tórax Os linfonodos do tórax podem ser parietais ou vis- cerais. Os parietais incluem os linfonodos paraester- nais (que drenam parte da parede torácica, glândula mamária e face diafragmática do fígado), entercos- tais (que drenam parte da parede torácica) e frênicos (que drenam fígado, diafragma e parede abdominal anterior) (MOORE et al., 2014). Os linfonodos viscerais incluem os mediasti- nais anteriores (que drenam timo e pericárdio), os mediastinais posteriores (que drenam esôfago, pe- ricárdio, diafragma e face convexa do fígado) e os traqueobronquiais (que drenam traqueia, esôfago, brônquios e pulmões). Abdome e pelve Os linfonodos do abdome e da pelve também po- dem ser parietais ou viscerais. Os parietais incluem os linfonodos: a) ilíacos externos que drenam vasos linfáticos profundos da parede abdominal inferior até o umbigo, região adutora da coxa, bexiga uriná- ria, próstata, ducto deferente, vesícula seminal, parte prostática e membranácea da uretra, tubas uterinas, útero e vagina; b) os ilíacos comuns que drenam vís- ceras pélvicas; c) os ilíacos internos que drenam vís- ceras pélvicas, períneo, região glútea e face posterior da coxa; d) os sacrais que drenam reto, próstata e parede posterior da pelve; e) os lombares que dre- nam testículos, ovários, glândula suprarrenal e pare- de abdominal lateral (FREITAS, 2004). Os linfonodos viscerais incluem: a) os celíacos que drenam estômago, esôfago, duodeno, fígado, vesícula biliar, pâncreas e baço; b) os mesentéricos superiores que drenam jejuno, íleo, apêndice, ceco, colo ascendente, descendente e sigmoide; c) os me- sentéricos inferiores que drenam colo descendente, sigmoide, reto e canal anal. Membros superiores Os principais linfonodos dos membros superiores são: a) os supratrocleares que drenam antebraço, pal- ma e dedos mediais; b) os deltopeitorais que drenam o lado radial do membro superior; c) os axilares que drenam a maior parte do membro superior, glândulas mamárias, parede torácica e pescoço (DI DIO, 2002). Membros inferiores Os principais linfonodos dos membros inferiores são: a) os poplíteos que drenam a região calcanear e o joelho; b) os inguinais superficiais que drenam a parede abdominal, a região glútea, os órgãos genitais externos e todos os vasos superficiais do membro inferior; c) os inguinais profundos que drenam os vasos profundos do membro inferior, pênis e clitóris (DANGELO; FATTINI, 2011). ANATOMIA 98 DISSEMINAÇÃO DO CÂNCER Células cancerígenas podem se disseminar pelo cor- po por contiguidade (por proximidade) ou por me- tástase. A propagação por meio de metástase ocorre por disseminação hematogênica (por meio do san- gue) ou linfática (por meio da circulação linfática) (MOORE et al., 2014). A disseminação hematogênica do câncer é a via mais comum de propagação de sarcomas (tumores menos comuns, porém mais malignos). Um fato in- teressante é que as veias disseminam mais do que as artérias (pois têm paredes mais finas, oferecem menos resistência e são mais abundantes) e os locais mais comuns de sarcomas secundários são o fígado e os pulmões. A disseminação linfática do câncer é a via mais comum de disseminação de carcinomas (tipo mais comum de câncer, porém, menos maligno). Quando a metástase ocorre por via linfática, pode-se prever o novo local de instalação do câncer analisando a drenagem linfática do tumor primário. Essa via faz com que linfonodos cancerosos fiquem aumenta- dos, mais firmes, insensíveis e fixos às estruturas subjacentes. Essa caracterização é importante e deve ser avaliada de maneira comparativa em relação às alterações causadas nos linfonodos em decorrência de quadros infecciosos. Nesse caso, a infecção faz com que os linfonodos ficam aumentados, no en- tanto, moles, móveis e muito dolorosos. Como algumas células cancerígenas podem so- breviver e se multiplicar no interior dos linfonodos e a partir dele se disseminar pelo corpo, linfonodos intumescidos próximos a regiões cancerosas devem ser removidos cirurgicamente. Além disso, a técnica de terapia manual denominada drenagem linfática não é aconselhável a portadores de tumores, pois, fa- cilita a disseminação de células cancerígenas de um tumor primário para outras regiões do corpo. Figura 14 - Principais linfonodos do corpo Notar os linfonodos dispersos em todo o corpo Timo Medula ósseo vermelha Baço EDUCAÇÃO FÍSICA 99 LINFANGITE, LINFADENITE E LINFEDEMA Algumas estruturas do sistema linfático podem sofrer alterações e modificar o funcionamento deste sistema. São exemplos: a linfangite, a linfa- denite e o linfedema (MIRANDA NETO; CHO- PARD, 2014). A linfangite é a inflamação secundária dos vasos linfáticos. Já a linfadenite é a inflamação secundária dos linfonodos. É popularmente conhecido como íngua e ocorre em casos de infecção ou inflamação. Seu aparecimento pode fazer com que grupos de linfonodos fiquem sobrecarregados e aumentem de tamanho, tornando-se dolorosos e facilmente palpá- veis na superfície do corpo. Por fim, linfedema é um tipo localizado de ede- ma que ocorre quando a linfa não está sendo ade- quadamente drenada. Pode ser causada por um lin- fonodo infectado ou um vaso linfático bloqueado. Se não for minimizado, pode aumentar a pressão sanguínea capilar local e agravar ainda mais oqua- dro clínico. ENVELHECIMENTO E O SISTEMA LINFÁTICO O envelhecimento muda a fisiologia do sistema linfático fazendo com que algumas alterações apareçam. É comum, por exemplo, que com o aumento da idade haja diminuição da produção de células imunológicas e maior produção de anticorpos contra o próprio organismo. Tal fato está diretamente relacionado à maior debilidade imunológica que os idosos apresentam e ao au- mento da incidência de doenças autoimunes nas fases mais tardias da vida (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Sabia que pessoas com o sistema imunológi- co comprometido têm maior probabilidade de terem a Doença de Hodgkin? O melhor é prevenir evitando fatores de risco evitáveis (como fumo e debilidade imunológica). REFLITA Por fim, é importante caracterizar o linfoma. Esse é considerado o câncer dos órgãos linfoides, espe- cialmente dos linfonodos. A maioria não tem causa conhecida. Seu tratamento inclui radioterapia, qui- mioterapia e transplante de medula óssea. Os dois principais tipos de linfomas são a doença de Hodgkin que acomete pessoas entre 15 e 35 anos ou acima de 60 anos de idade. Ocorre o aumento dos linfonodos que é comum no pescoço, tórax e axila. É mais comum em homens e curam em 90 a 95% dos casos e o não Ho- dgkin tipo mais comum ocorre em qualquer idade e pode estar associado à esplenomegalia, anemia e mal estar geral. Curam em cerca de 50% dos casos. ANATOMIA 100 DEFINIÇÃO E FUNÇÃO DO SISTEMA RES- PIRATÓRIO O sistema respiratório é constituído por um conjun- to de estruturas anatômicas as quais, em conjunto, são responsáveis pela captação do ar do meio am- biente e transporte do mesmo até o órgão respirató- rio para que a hematose seja possível (DANGELO; FATTINI, 2011). A hematose é um processo que implica em tro- cas gasosas entre o ar atmosférico e o meio interno. Nesse processo, o CO2 resultante do metabolismo celular é trazido pelo sangue aos pulmões e se di- funde dos capilares teciduais para os alvéolos para ser eliminado juntamente com o ar expirado. Ao mesmo tempo, o O2 do ar inspirado difunde-se dos alvéolos para os capilares alveolares onde se combi- na com a hemoglobina originando o sangue arterial. Posteriormente, o O2 difunde-se dos capilares teciduais para o líquido intersticial e deste para o in- terior das células. Dessa forma, o O2 vindo dos pul- mões é distribuído a todas as células do corpo e o CO2 por elas produzido é eliminado evitando morte celular. Lindo, não é? DIVISÃO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO Como você pôde perceber, o sistema respiratório é essencial à vida e executa funções complexas que de- pendem das estruturas anatômicas que o compõem. Assim, tais estruturas podem ser divididas, conforme a função que desempenham, em porção de condução e porção de respiração. A porção de condução é for- mada por órgãos tubulares cuja função é levar o ar inspirado até a porção respiratória e destes conduzi-lo de volta para ser expirado a fim de eliminar o CO2. Ela é composta pelo nariz, faringe, laringe, tra- queia, brônquios e todas as suas ramificações. Já a porção de respiração é representada exclusivamente pelos pulmões, pois, representam o local onde efe- tivamente as trocas gasosas ocorrem (hematose que descrevemos anteriormente, lembra?). Além disso, as estruturas anatômicas do siste- ma respiratório também podem ser agrupadas em via aérea superior e via aérea inferior. Enquanto a via aérea superior compreende o nariz, a faringe e a laringe, a via aérea inferior compreende a traqueia, os brônquios e suas ramificações, e os pulmões (FREITAS, 2004). Sistema RespiratórioEducação Física EDUCAÇÃO FÍSICA 101 ÓRGÃO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO Nariz É a primeira estrutura do sistema respiratório cuja principal função é captar o ar do meio ambiente. Todavia, ele também filtra, aquece e umidifica o ar inspirado, recebe e elimina as secreções dos seios paranasais e do ducto lacrimonasal e permite o olfato (pois, contém o órgão periférico do olfato) (DI DIO, 2002). O nariz se localiza acima do palato duro e é com- posto por uma parte externa e pela cavidade nasal. No entanto, devido à proximidade e as relações fun- cionais, os seios paranasais são estudados junto ao estudo do nariz. Externamente, o nariz está localizado no plano mediano da face, como uma pirâmide de base infe- rior e ápice superior. Sua estrutura é ósteo-cartilagí- nea apresentando também o músculo epitelial. Sua parte óssea externa é composta pelos ossos nasais e pelas maxilas. A parte óssea interna é composta pelos ossos etmoide (superiormente) e vômer (infe- riormente). Em sua composição cartilagínea partici- pam as cartilagens laterais, a cartilagem do septo e as cartilagens alares maiores e menores. O nariz é subdividido em raiz (superiormente onde ele inicia, como se fosse o vértice da “pirâmi- de”), base (parte inferior da “pirâmide”), ápice (pon- to projetado mais anteriormente), dorso (entre a raiz e o ápice), asa (a parte “gordinha” onde as pessoas colocam piercing) e narinas (aberturas em forma de fenda que fazem a comunicação da cavidade nasal com o meio externo, são separadas por um septo). Vale enfatizar que conforme a morfologia do dorso, o nariz pode ser classificado em retilíneo, côncavo ou convexo. De igual modo, conforme a morfologia das narinas e de acordo com os grupos raciais, o nariz pode ser do tipo leptorrino (quando as narinas são estreitas e anteriorizadas), camerrino (com narinas largas e late- ralizadas) ou mesorrino (com narinas medianas). A cavidade nasal fica superior à cavidade oral e se comunica com o meio externo e com a parte nasal da faringe. Dessa forma, seu limite superior é o seio frontal e a fossa anterior do crânio, o posterior é o seio esfenoidal, o lateral é o seio etmoidal e o seio maxilar, e o limite inferior é representado pelo pala- to. Assim, pode-se dizer que o palato é o assoalho da cavidade nasal e o teto da cavidade oral. ANATOMIA 102 A cavidade nasal pode ser dividida em vestíbu- lo, região respiratória e região olfatória. O vestíbulo é anterior e apresenta pelos chamados de vibrissas. As regiões respiratória e olfatória são posteriores e ficam recobertas, respectivamente, por mucosa res- piratória e olfatória. Enquanto a região respiratória é maior e inferior, a região olfatória fica restrita à con- cha nasal superior e ao terço superior do septo nasal. O septo nasal divide a cavidade nasal em por- ções direita e esquerda. Esse septo é constituído por uma parte cartilagínea (a cartilagem do septo nasal) e uma parte óssea (lâmina perpendicular do osso et- moide e osso vômer). Assim, o termo cavidade nasal pode ser usado para toda a cavidade ou para cada parte (direita e esquerda). O osso etmoide, além da lâmina perpendicular, apresenta duas massas laterais constituídas de célu- las pneumáticas denominadas seios etmoidais, dos quais se projetam duas conchas nasais, a superior e a média (a concha nasal inferior é um osso separa- do). Além disso, o etmoide também apresenta a lâ- mina crivosa que apresenta uma projeção chamada crista etmoidal e que é perfurada pelos neurônios bipolares que saem da porção olfatória da cavida- de nasal, formam o nervo olfatório e se dirigem ao giro reto do encéfalo. As conchas nasais delimitam espaços denominados meatos os quais aumentam a superfície mucosa da ca- vidade nasal umedecendo e aquecendo o ar inspirado. Essa região é muito vascularizada e a ruptura de vasos nessa região pode causar sangramento nasal (epistaxe). Os seios paranasais desembocam nesses meatos. Os seios paranasais ou da face são cavidades existentes em alguns ossos do crânio (frontal, ma- xila, esfenoide e etmoide) contendo ar e recobertas por mucosa respiratória. Tais ossos são chamados de pneumáticos e cada um deles apresenta seu pró- prio seio (seio frontal, seio maxilar, seio esfenoidal e seio ou células etmoidais). Eles tornam a cabeça mais leve, ajudam a aquecer e umidificar o ar, e estão relacionadosà ampliação da voz. Toda esta constituição interna do nariz é mui- to importante porque permite que o ar inspirado seja adequadamente purificado, aquecido e umi- dificado. Assim, quando o ar percorre a cavidade nasal, ele é turbilhonado contra as saliências e re- entrâncias de suas paredes (devido às conchas na- sais e meatos) o que aumenta o contato do ar com a mucosa respiratória a qual contém glândulas nasais (produtoras de secreção serosa) e células calicifor- mes (produtoras de muco). Essas secreções permitem que partículas de im- purezas e microrganismos fiquem presos e, na mu- cosa olfatória, permitem a limpeza dos receptores olfativos habilitando-os a captar estímulos químicos que causam sensações olfativas. Além disso, a muco- sa respiratória possui células ciliadas que, por meio dos batimentos dos cílios, conduzem as impurezas e os microrganismos aprisionados até o meio externo. Vale lembrar que em caso de gripe ou resfriado, o excesso de muco prejudica a limpeza dos recep- tores olfativos e, juntamente, com a inflamação da mucosa nasal, dificulta a chegada do ar até a área olfativa reduzindo o olfato. EDUCAÇÃO FÍSICA 103 Figura 15 - Cavidade nasal Fonte: Colicigno et al. (2009, p. 172,on-line)6 Vista da parede lateral da cavidade do nariz e da faringe ANATOMIA 104 Na porção nasal da faringe existe um importante acidente anatômico chamado óstio faríngeo da tuba auditiva, o qual é protegido pelo toro tubário. Esse óstio é uma abertura em forma de fenda que marca a desembocadura da tuba auditiva, ou seja, a tuba auditiva comunica a parte nasal da faringe com a cavidade timpânica da orelha média. Essa comuni- cação serve para igualar a pressão do ar externo à pressão daquele contido na própria cavidade timpâ- nica (percebemos claramente isso quando descemos a serra do mar e sentimos a pressão externa como um incômodo). Todavia, devido essa comunicação, uma infecção da faringe pode se propagar à orelha média (isso é muito comum em criança onde um quadro de tonsilite acaba evoluindo para um quadro de otite). Além disso, o óstio também drena muco e perilinfa que existem nos canais semicirculares. Nas bordas do óstio faríngeo da tuba auditiva existem aglomerações linfáticas chamadas, em con- junto, de tonsila tubária. Além da tonsila tubária, nesta parte da faringe existe ainda a tonsila faríngea a qual se aumentada passa a ser chamada de adenoi- de (como já visto no capítulo anterior). Faringe É uma estrutura músculo-membranácea localizada posteriormente à cavidade nasal, à cavidade oral e à laringe de forma que apresenta três porções sem limites precisos entre elas: a porção nasal (superior, em comunicação com a cavidade nasal e com função respiratória), a oral (em comunicação com a cavida- de oral e com função digestória) e a laríngea (inferior, em comunicação com a laringe e com função respi- ratória). Assim, a faringe está associada ao sistema respiratório e digestório, pois é um canal comum à passagem do ar e alimento (TORTORA et al., 2010). Em relação aos limites e correlações anatômicas da faringe, é importante salientar que ela tem início na base do crânio e término ao nível da 6ª vértebra cervical onde continua como o esôfago e mantém contato com a coluna vertebral. Ela é constituída por três camadas sobrepostas. A interna tem cons- tituição mucosa, a externa ou adventícia é rica em fibras conjuntivas, e a média é constituída por mús- culo estriado esquelético. Esses músculos realizam os movimentos peristálticos da faringe e podem ser externos ou internos. Os externos são chamados de constritor superior, médio e inferior da faringe. Os internos incluem o músculo palatofaríngeo, o estilo- faríngeo e o salpingofaríngeo. EDUCAÇÃO FÍSICA 105 Laringe A laringe é um órgão tubular que se localiza no pla- no mediano e anterior do pescoço, entre a terceira e a sexta vértebras cervicais. Ela se posiciona anterior- mente à faringe e dá continuidade à traqueia. Assim, serve como via aerífera (pois, permite a passagem do ar da faringe para a traqueia) e como órgão da fonação (pois, dentro dela estão as pregas vocais) (WATANABE, 2000). Ela é constituída por um esqueleto cartilagíneo, ligamentos, membranas e músculos estriados es- queléticos que atuam sobre as pregas vocais ou na movimentação da laringe durante a deglutição. Seu esqueleto cartilagíneo é formado por nove cartila- gens, sendo três ímpares e três pares, como descritas a seguir: 1. As impares são: a cartilagem tireoidea é a maior delas. Ela é constituída por duas lâmi- nas que se unem anteriormente formando a proeminência laríngea (popularmente co- nhecida como “gogó” ou “pomo-de-Adão”). Ela se fixa ao osso hioide (superiormente) e à Figura 16 - Faringe ANATOMIA 106 cartilagem cricoide (inferiormente). A carti- lagem cricoidea é espessa e forte, e tem forma de anel. Fica abaixo da cartilagem tireoidea e acima do primeiro anel de cartilagem da tra- queia. A cartilagem epiglótica é fina, lembra uma folha e fica em posição mediana. • As pares são: cartilagem corniculada, a cunei- forme e a aritenoidea ficam na parte poste- rior da laringe. A corniculada e a cuneiforme são pequenos nódulos e a aritenoidea é seme- lhante a uma pirâmide. Dentro da laringe existe uma fenda que forma uma pequena invaginação, o ventrículo da laringe, em cuja mucosa se localiza a tonsila da laringe. Essa fenda está delimitada por duas pregas, a prega ves- tibular (superior) e prega vocal (inferior). A prega vocal é constituída pelo ligamento e pelo músculo vocal os quais são revestidos por mucosa. Para que o som seja produzido, os músculos da laringe movi- mentam as pregas vocais cuja tensão ou relaxamento interfere na tonalidade do som. Em condições nor- mais, as pregas vestibulares não participam da fona- ção, mas protegem as pregas vocais. A laringe apresenta muitos outros acidentes ana- tômicos, mas estes não são relevantes ao profissional de educação física. De igual modo, os músculos da laringe não serão abordados aqui, pois interessam mais aos profissionais da voz (os fonoaudiólogos) e aos profissionais da medicina que poderão vir a ser otorrinolaringologistas. Traqueia A traqueia é a continuação direta da laringe. Sua função é servir como via aerífera conduzindo ar da laringe até os brônquios principais. Ela tem início na região cervical e passa anteriormente ao esôfago em direção ao tórax. Por isso, apresenta porção cervical e torácica. Em adultos, ela tem aproximadamente 2,5 cm de diâmetro (DANGELO; FATTINI, 2011). Tem estrutura cilíndrica fibrocartilagínea cons- tituída por 16 a 20 anéis incompletos de cartilagem em forma de “C” sobrepostos e ligados entre si pe- los ligamentos anulares. Sua parede posterior cons- titui a parede membranácea da traqueia a qual é formada por tecido conjuntivo e músculo liso cha- Figura 17 - Laringe EDUCAÇÃO FÍSICA 107 mado músculo traqueal que completa sua estrutu- ra. Suas cartilagens dão rigidez para impedir o co- labamento de suas paredes, mas ao mesmo tempo, por estarem unidas por tecido elástico, a traqueia apresenta mobilidade e flexibilidade durante a res- piração e a deglutição. Apesar de ser uma estrutura mediana, antes de dividir-se nos dois brônquios principais (direito e esquerdo), a traqueia sofre um leve desvio à direi- ta. Assim, o brônquio principal esquerdo tem maior comprimento do que o direito. Tal divisão é marca- da internamente por uma crista chamada carina, a qual é um importante ponto de referência durante o exame chamado broncoscopia. Internamente, a traqueia é revestida por muco- sa e tem células ciliadas que auxiliam na limpeza das vias aéreas. É importante ressaltar que o hábito do tabagismo faz com que as glândulas traqueais se tornem hipessecretivas ao mesmo tempo em que paralisam seus cílios. Isso faz com que o fumante crônico tenha sempre secreção em abundância, mas não consiga fazer uma boa higiene traqueo- brônquica. Assim, pareceque ele está sempre car- regado de secreção. Lateralmente à traqueia estão as artérias carótidas comuns e a glândula tireoide. Brônquios Tem estrutura semelhante à da traqueia, porém, os anéis cartilagíneos são substituídos por placas irre- gulares de cartilagem (não em forma de anel como é na traqueia). Sua função é atuar como via aerífera transportando ar (MOORE et al., 2014). Logo, após sua origem, os brônquios são cha- mados de principais (de primeira ordem ou pri- mários). Estes iniciam um processo de ramifica- ção, de forma que os brônquios dão origem aos brônquios lobares (de segunda ordem ou secun- dários) os quais ventilam os lobos pulmonares. Por sua vez, os brônquios lobares se dividem em brônquios segmentares (de terceira ordem ou ter- ciários) os quais vão até os segmentos broncopul- monares, sofrem sucessivas divisões e terminam nos alvéolos pulmonares em ramificações conhe- cidas como árvore brônquica. Como já visto, o brônquio direito é quase a continuação da traqueia. Ele é mais vertical, mais calibroso e mais curto do que o esquerdo. Por isso, corpos estranhos que passam pela traqueia em ge- ral obstruem esse brônquio. Ele se divide em três brônquios lobares e dez brônquios segmentares. Já o brônquio principal esquerdo se divide em dois brônquios lobares e oito brônquios segmentares. Os brônquios segmentares continuam como bron- quíolos terminais, bronquíolos respiratórios e sa- cos alveolares (onde aparecem pequenas expansões chamadas alvéolos). É importante ressaltar que os alvéolos se desenvolvem, principalmente, até os oito anos de idade onde existem aproximadamente 300 milhões deles. Figura 18 - Traqueia e brônquios Pulmão esquerdo (notar a subdivisão em 2 lobos) Laringe Traqueia Ramificação dos brônquios principais direito e esquerdo Pulmão direito (notar a subdivisão em 3 lobos) ANATOMIA 108 Pulmão In vivo, os pulmões são leves, esponjosos, macios e elásticos. São considerados os principais órgãos da respiração uma vez que é em seu interior que a he- matose ocorre. Por isso, ao nascimento ele é rosa, mas vai se tornado acinzentado e com manchas du- rante a vida devido à inalação de várias partículas (DI DIO, 2002). Os pulmões estão contidos na cavidade torá- cica ocupando-a quase totalmente. Entre eles há uma região mediana, chamada mediastino, a qual vai desde a abertura superior do tórax até o mús- culo diafragma. No mediastino estão importantes estruturas anatômicas como o coração e seus gran- des vasos, a traqueia, o esôfago, o timo, os brôn- quios principais etc. O pulmão tem forma cônica, apresentando uma região superior chamada ápice e uma região infe- rior chamada base. A base é côncava e fica sobre o músculo diafragma podendo, por isso, também ser chamada de face diafragmática. Além desta face, o pulmão apresenta outras duas, a costal e a medial ou mediastinal. A costal é lisa, convexa e fica em contato com as costelas; a medial é côncava, volta- da ao mediastino e tem uma abertura chamada hilo pulmonar por onde entram e saem estruturas como brônquios, artérias, veias e vasos linfáticos. Existem diferenças entre os pulmões direito e es- querdo. O direito é maior, mais pesado, mais curto e mais largo devido à posição do coração (o volume do pulmão esquerdo chega a ser 10% menor do que o do pulmão direito). Além disso, o pulmão direito subdivide-se em três lobos, enquanto, o esquerdo apresenta apenas dois (no entanto, pode ter variação individual). Os lobos do pulmão direito são chama- dos de superior, médio e inferior, e são separados en- tre si por fendas profundas chamadas de fissuras. No direito existe a fissura oblíqua e a fissura horizontal. Já o pulmão esquerdo apresenta o lobo superior e o inferior os quais são separados apenas pela fissura oblíqua. Vale destacar que no pulmão esquerdo exis- te uma projeção inferior do lobo superior chamada língula do pulmão. Figura 19 - Pulmão direito e esquerdo Pleuras e cavidade pleural Cada pulmão é envolto por um saco seroso com- pletamente fechado, chamado pleura, que apre- senta dois folhetos: a pleura pulmonar ou visceral, e a pleura parietal. A pleura pulmonar reveste a superfície do pulmão penetrando suas fissuras en- quanto a pleura parietal, mais espessa, recobre a face interna do tórax e o músculo diafragma (MO- ORE et al., 2014). Lobo inferior Pulmão direito Pulmão esquerdo Lobo superior Lobo superior Lobo médio EDUCAÇÃO FÍSICA 109 Ambas as pleuras são contínuas entre si por meio de um espaço, chamado cavidade pleural, onde existe um líquido que permite o deslizamen- to entre elas durante os movimentos respiratórios. Todavia, em alguns lugares, a pleura pulmonar se afasta da pleura parietal formando os recessos pleurais (como o recesso costodiafragmático e o costomediastinal). Vale salientar que na cavidade pleural a pressão é subatmosférica a fim de favore- cer a mecânica respiratória. Figura 20 - Pleuras e cavidade pleural MECÂNICA RESPIRATÓRIA O músculo diafragma é o principal músculo da respiração. Isso pode ser dito porque, em condi- ções de repouso, ele é o único músculo a se con- trair para gerar a respiração. Quando se contrai, ele desce em direção ao abdome comprimindo as vísceras abdominais e aumentando a pressão nesta cavidade. Em contrapartida, a pressão no tórax é diminuída fazendo com que o ar flua, a favor do gradiente de pressão, de onde está em maior pres- são (o meio externo) para onde a pressão é menor (a cavidade torácica). Isso caracteriza a inspiração (TORTORA et al., 2010). Para que a expiração ocorra não é necessário que nenhum músculo respiratório se contraia, pois, a própria elasticidade do tecido pulmonar faz com que o ar saia dele assim que a pressão interna e a externa se igualarem. Todavia se a inspiração ou a expiração forem forçadas outros músculos respira- tórios passam a agir (é o que ocorre, por exemplo, durante o exercício físico ou em caso doença respi- ratória). Assim, os músculos intercostais externos e alguns músculos do pescoço (como o esternocleido- mastoideo e os escalenos) passam a atuar na inspi- ração forçada, assim como os músculos intercostais internos e os músculos abdominais passam a atuar na expiração forçada. ANATOMIA 110 Toda a mecânica respiratória é cuidadosamente controlada pelo sistema nervoso (controle nervoso) e por estímulos químicos (controle químico). En- quanto o controle nervoso depende da medula espi- nal e do tronco encefálico, o controle químico se dá pela concentração dos gases O2 e CO2 os quais agem sobre receptores periféricos e, consequentemente, sobre o centro respiratório. Assim, tanto por meio do controle nervoso quanto do controle químico é possível modificar importantes fatores da respira- ção, por exemplo, a frequência e o volume respirató- rio. Vale salientar que todo este controle da mecâni- ca respiratória está sempre relacionado às condições as quais o indivíduo está sujeito (como temperatura ambiental, esforço físico, doenças etc.). CAVIDADE TORÁCICA E MEDIASTINO Em corte transversal, a cavidade torácica tem forma de rim (é reniforme) e é dividida em três compar- timentos: cavidade pulmonar direita, cavidade pul- monar esquerda e mediastino. Nas cavidades pul- monares ficam os pulmões revestidos pelas pleuras. Figura 21 - Principais músculos da respiração Você sabia que pessoas com problemas respi- ratórios podem melhorar com exercício físico? Já ouviu falar que as capacidades pulmonares de atletas são bem diferentes daquelas de in- divíduos sedentários? REFLITA Figura 22 - Cavidade torácica e mediastino No mediastino (região central localizada entre as duas cavidades pulmonares) fica o coração, a parte torácica dos grandes vasos, a traqueia, o esôfago, o timo, alguns linfonodos etc. (MOORE et al., 2014). In vivo, o mediastino é uma região com alta mo- bilidade devido suas estruturas viscerais ocas unidas por tecido conjuntivo frouxo e gordura. Isso permite acomodar os diferentesvolumes e pressões durante a respiração, batimentos cardíacos ou mesmo du- rante a deglutição. No entanto, esta mobilidade ten- te diminuir com a idade porque o tecido conjuntivo frouxo que o constitui tente a se tornar mais rígido. 111 considerações finais E imprescindível para vida o adequado funcionamento do sistema circu- latório sanguíneo e linfático em atuação conjunta com o sistema respi- ratório e o nervoso. Isso porque deles depende a adequada oxigenação e nutrição tecidual, bem como a drenagem das células a fim de manter a homeostasia celular e corpórea. Doenças podem acometê-los como as doenças cardíacas, vasculares, linfáti- cas, respiratórias, traumas, tumores ou acidentes vasculares no sistema nervoso. Por isso, pesquisas científicas têm sido desenvolvidas, principalmente por profis- sionais da saúde, a fim de encontrar soluções que previnam doenças ou garantam a sobrevida dos portadores. Para que tais pesquisas tenham sucesso e possam mudar prognósticos, o pré- -requisito básico é o pleno conhecimento histológico, fisiológico e anatômico desses sistemas. Assim, este estudo é imprescindível aos estudantes da área da saúde, uma vez que sua adequada compreensão pode representar a real possibili- dade de prevenção e tratamento adequado. Além disso, o sistema cardiorrespiratório é imensamente modificado pelo exercício físico. O coração, por exemplo, torna-se mais forte em bombear o san- gue aumentando a quantidade de sangue ejetado por batimento cardíaco. Assim, pode bater menos vezes por minuto e bombear a mesma quantidade de sangue. As câmaras cardíacas de um atleta são modificadas (tornam-se mais espessas e com maior capacidade contrátil). Ao contrário, sedentários têm maior frequên- cia cardíaca para manter o volume de ejeção e têm miocárdio menos forte. O exercício modifica o funcionamento do sistema vascular linfático (fluxo da linfa é estimulado pelo movimento). O sistema respiratório é melhorado pelo exercício. Isso pode ser percebido ao analisar volumes e capacidades pulmonares (pela espirometria) do atleta em comparação ao sedentário. Além disso, é sabido que o exercício fortalece os mús- culos respiratórios em geral. Espero que tenha se convencido de que o bom pro- fissional de educação física deve conhecer estes sistemas. 112 LEITURA COMPLEMENTAR Leia o artigo indicado, a seguir, que trata sobre a infl uên- cia do exercício físico sobre os parâmetros respiratórios e os principais fatores que infl uenciam o desenvolvimen- to deste sistema a partir da realização do exercício. PADRÃO RESPIRATÓRIO DURANTE O EXERCÍCIO - REVISÃO LITERÁRIA O padrão respiratório, com todas as suas variáveis, tem sido investigado, ao longo dos anos, no repouso e du- rante as diferentes fases do exercício, principalmente em sujeitos saudáveis. Este tema é de grande relevância clínica na área de fi siologia do exercício, principalmente porque, se for bem compreendido em sujeitos normais, podemos considerar suas variáveis em sujeitos portado- res de pneumopatias crônicas, atentando para suas limi- tações ventilatórias. Este estudo teve o objetivo de apresentar uma revisão da literatura sobre o padrão respiratório durante o exer- cício, focando primariamente o controle respiratório, as alterações das variáveis componentes do padrão e do fator sexo durante as diferentes fases do exercício, em sujeitos saudáveis Controle do padrão respiratório no início do exercício [...]. Nos últimos anos, avanços consideráveis têm sido feitos para elucidar os mecanismos envolvidos no controle do padrão respiratório. A análise de variáveis como volume corrente (VC), tempo inspiratório (Ti), tempo expiratório (Te), tempo total do ciclo respiratório (Ttot), permitem dizer quem infl uencia o volume minuto (VM) ou ven- tilação minuto e a frequência respiratória (FR) do padrão respiratório. Milic-Emili e col27 introduziram o conceito de que o VM é o produto do fl uxo inspiratório médio (VC/ Ti) pelo Ti de todo o ciclo respiratório (Ti /Ttot): VM = 60 (VC / Ti) x (Ti/ Ttot), VM = 60 (VC / Ti) x (Ti/ Ttot), VM = 60 (VC / Ti) x (Ti/ Ttot), VM = 60 (VC / Ti) x (Ti/ Ttot): VM = 60 (VC / Ti) x (Ti/ Ttot). Em que VC/ Ti e Ti / Ttot refl etem o drive e o timing res- piratórios, respectivamente. Drive respiratório pode ser defi nido como o estímulo neuromuscular inspiratório ca- paz de produzir movimentos respiratórios, ou seja, o co- mando respiratório. Timing respiratório é expresso pelo Ti, Te e Ttot, representando os tempos respiratórios. VC / Ti é a transformação mecânica do drive inspiratório neu- romuscular, que não é afetado pelo refl exo vagal, mas é alterado pelas alterações das propriedades mecânicas dos pulmões e da parede torácica, independente de mu- danças na atividade respiratória. [...]. Fonte: Lopes, Britto e Parreira (2005). 113 atividades de estudo 1. Em relação ao sistema circulatório, leia as afir- mações a seguir, e assinale apenas a alternati- va que contém proposições corretas: I. A irrigação do membro superior depende das artérias subclávias (direita e esquerda). Embo- ra, tais artérias se originem da artéria aorta, à direita sua origem é indireta porque ocorre a partir do tronco braquiocefálico. Já à esquer- da sua origem é direta, pois ocorre a partir do arco da aorta. II. A irrigação do membro inferior depende da artéria aorta (parte descendente abdominal) a qual se bifurca na altura dos ossos do qua- dril originando a artéria ilíaca comum (direita e esquerda). A artéria ilíaca comum se ramifica originando a artéria ilíaca externa e a artéria ilíaca interna. A ilíaca interna passa o ligamen- to inguinal e, na coxa, passa a ser chamada de femoral. Na altura da fossa poplítea, recebe o nome de artéria poplítea a qual se bifurca em tibial anterior, tibial posterior e fibular. Tais artérias irrigam todo o membro inferior (inclu- sive os pés). III. Na grande circulação, o sangue sai do ven- trículo esquerdo pela artéria aorta, transita pelo corpo oxigenando todas as células (uma vez que esta artéria se ramifica intensamente atingindo todas as partes do corpo). Ao nível celular, capilares teciduais captam o CO2 pro- duzido pelo metabolismo das células. Esses capilares se anastomosam e originam vênulas e veias de calibre cada vez maior que retor- nam ao átrio esquerdo do coração pelas veias pulmonares. IV. Os vasos que mantêm relação com o átrio di- reito do coração são a veia cava superior e a veia inferior. Já os vasos que mantêm relação com o átrio esquerdo do coração são as veias pulmonares (superiores e inferiores). V. Ao contrário do proposto anteriormente, os vasos que mantêm relação com o átrio direito do coração são veias pulmonares (superiores e inferiores). Já os vasos que mantêm relação com o átrio esquerdo do coração são as a veia cava superior e a veia cava inferior. Está correta a alternativa: 1. I e II. 2. I e IV. 3. II e III. 4. II e V. 5. III e IV. 2. Leia as afirmações a seguir, e assinale a alter- nativa que contém proposições corretas: I. O trajeto que o ar percorre desde sua cap- tação até os alvéolos pulmonares inclui, em ordem, as seguintes estruturas anatômicas: vestíbulo do nariz, cavidade nasal, laringe, faringe, traqueia, brônquios principais, brôn- quios segmentares, brônquios lobares, bron- quíolos e alvéolos. II. Se um indivíduo apresentar choque anafiláti- co devido à administração de um anestésico, por exemplo, poderá ocorrer edema de glo- te impedindo a passagem de ar da laringe à traqueia. Tal edema pode ser fatal se aten- dimento adequado não for prestado. Assim, pode ser necessário manter uma ventilação assistida ou, em nível hospitalar, pode ser necessário realizar uma traqueostomia. Esse procedimento cirúrgico secciona os primeiros anéis de cartilagem da traqueia a fim de que a respiração passe a ocorrer da traqueia em direção aos brônquios. Sua realização implica em impossibilidade de fonação umavez que 114 atividades de estudo fala depende da vibração das pregas vocais e das pregas vestibulares as quais participam ativamente da fonação. III. Uma das causas de respiração bucal é a hi- pertrofia das tonsilas linguais. Tais tonsilas podem aumentar de tamanho e, então, pas- sam a ser chamadas de adenoide. Tal fato impede que o ar passe da parte oral da fa- ringe para a parte laríngea da faringe. Assim, uma cirurgia corretiva é indicada, pois tal obstrução obriga o indivíduo a desenvolver a respiração bucal. IV. Devido à possibilidade do ar inspirado ter al- gum nível de contaminação, algumas regiões do sistema respiratório dispõem de estruturas linfáticas produtoras de anticorpos. Dentre elas podem-se citar as tonsilas palatinas, a tonsila faríngea e as tonsilas linguais as quais, em con- junto, podem ser chamadas de anel linfático. V. Os pulmões são revestidos por uma dupla membrana de tecido conjuntivo chamada pleura. Essa membrana é análoga, em ter- mos funcionais, à fáscia muscular e ao peri- cárdio, uma vez que uma de suas funções é proteger os pulmões assim como as estru- turas citadas acima protegem os músculos e o coração. No entanto, as pleuras desem- penham um papel importante na mecânica respiratória devido à pressão negativa que existe no espaço pleural. Essa pressão é im- portante, pois serve para atrair a pleura pul- monar em direção à parietal de forma que esta força de sucção permita a expansão pulmonar. Está correta a alternativa: a. I e II. b. I e IV. c. II e III. d. II e V. e. IV e V. 3. Leia as afirmações a seguir, e assinale a alter- nativa que contém proposições corretas: I. A grande circulação tem por objetivo oxigenar o sangue nos pulmões. II. As principais artérias que irrigam o coração são as coronárias (direita e esquerda). III. A principal veia que drena a cabeça e o pesco- ço é a veia jugular interna. IV. A pequena circulação tem por objetivo oxige- nar e nutrir as células do corpo e delas remo- ver todo o gás carbônico e as impurezas. V. Os átrios são as câmaras cardíacas inferiores e maiores das quais o sangue é ejetado do coração. Por isso, os átrios são chamados de câmaras de ejeção. Está correta a alternativa: a. I e II. b. I e IV. c. II e III. d. II e V. e. III e IV. 115 atividades de estudo 4. Leia as afirmações a seguir, e assinale a alter- nativa que contém proposições corretas: I. O pulmão direito é maior do que o esquerdo e apresenta mais lobos e fissuras. II. Ao contrário do proposto acima, o pulmão es- querdo é maior do que o direito. O esquerdo apresenta três lobos (superior, médio e infe- rior) e duas fissuras (oblíqua e horizontal). III. As principais estruturas de filtragem da linfa são os linfonodos, pois apresentam muitas células imunológicas (como os linfócitos) as quais são capazes de destruir microrganis- mos, células anômalas ou mesmo moléculas grandes e inúteis. IV. A drenagem linfática depende, em última ins- tância, do ducto linfático direito e do ducto torácico. Tais estruturas lançam a linfa nas ar- térias e, por isso, pode-se dizer que o sistema linfático é auxiliar do sistema arterial. V. A linfa localizada no meio intercelular é cha- mada de linfa intersticial enquanto a linfa lo- calizada nos capilares linfáticos é chamada de linfa circulante. Está correta a alternativa: a. I e II. b. I e IV. c. II e III. d. II e V. e. III e V. 5. Observe a imagem, leia as afirmações a seguir, e assinale a alternativa que contém proposi- ções corretas: a. O número 1 representa a laringe. b. O número 3 representa a laringe. c. O número 6 representa o pulmão. d. O número 3 representa a faringe. e. O número 4 representa o brônquio. 116 Material Complementar Referências On-line 1 Em: <http://www.prosangue.sp.gov.br/artigos/estudantes>. Acesso em: 09 jun. 2016. 2 EM: <HTTP://WWW.ARQUIVOSONLINE.COM.BR/2009/9303/PDF/9303015.PDF>. ACESSO EM: 10 JUN. 2016. 3 Em: <http://www.tuasaude.com/ponte-de-safena/>. Acesso em: 10 jun. 2016. 4 Em: < http://cesumar.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576050940/pages/167>. Acesso em: 13 jun. 2016. 5 Em: <http://cesumar.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576050940/pages/165>. Acesso em: 13 jun. 2016. 6 Em: <http://cesumar.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576050940/pages/173>. Acesso em: 13 jun. 2016. Um ato de coragem Denzel Washington, Robert Duvall, James Woods Ano: 2002 Sinopse: John Q. Archibald (Denzel Washington) é um homem comum, que trabalha em uma fábrica e vive feliz com sua esposa Denise (Kimberly Elise) e seu fi lho Michael (Daniel E. Smith). Até que Michael fi ca gravemente doente, ne- cessitando com urgência de um transplante de coração para sobreviver. Sem ter condições de pagar pela operação e com o plano de saúde de sua família não cobrindo tais gastos, John se vê então numa luta contra o tempo pela so- brevivência de seu fi lho. Em uma atitude desesperada, ele então decide tomar como refém todo o setor de emergência de um hospital, passando a discutir uma solução para o caso com um negociador da polícia (Robert Duvall) e com um impaciente chefe de polícia (Ray Liotta), que deseja encerrar o caso o mais rapidamente possível. Comentário: É um fi lme emocionante que mostra como a sobrevivência do ser humano depende totalmente do adequado funcionamento do sistema circula- tório. Muito bom! Indicação para Assistir 117 referências CFTA - COMISSÃO FEDERATIVA DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA. Ter- minologia Anatômica: terminologia anatômica internacional. São Paulo: Mano- le, 2001. DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. DI DIO, L. J. A. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada: princípios básicos e sistêmicos, esquelético, articular e muscular. 2. ed. Atheneu: São Paulo, 2002. FREITAS, V. Anatomia conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004. LOPES, R. B.; BRITTO, R. R.; PARREIRA, V. F. Padrão Respiratório durante exer- cício: revisão literária. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 2005. Disponível em: <http://www.luzimar- teixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/07/padrao-respiratorio-no-exercicio. pdf>. Acesso em: 13 jun. 2016. MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem dinâmica. Maringá: Gráfica Editora Clichetec, 2014. MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R,; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. NARCISO, M. S. Sobotta: atlas de anatomia humana: anatomia geral e sistema muscular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. ROHEN, J. W.; YOKOCHI, C.; LÜTJEN-DRECOLL, E. Anatomia humana: atlas fotográfico de anatomia sistêmica e regional. São Paulo: Manole, 2002. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo: Athe- neu, 2000. 118 gabarito 1. B 2. D 3. C 4. E 5. B UNIDADEUNIDADEIII Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Função geral e divisão do sistema digestório • Órgãos do sistema digestório • Órgãos anexos Objetivos de Aprendizagem • Apresentar os principais aspectos funcionais do sistema digestório bem como suas subdivisões. • Estudar, do ponto de vista morfológico e funcional, as estruturas anatômicas que formam o tubo digestório e os órgãos anexos. SISTEMA DIGESTÓRIO III unidade INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), você há de concordar comigo que comer é muito bom! Quem não aprecia aquele sanduíche com batatas fritas? Ou quem sabe, você pre- fere aquela salada ou mesmo aquele churrasco? De qualquer forma e indepen- dente de suas preferências, comer é essencial à vida. O que acontece com os alimentos que ingerimos? Por que a saciedade que sentimos quando comemos macarrão é diferentedaquela quando comemos fei- joada? Por que alguns alimentos engordam e outros são tão adequados à saúde? Além disso, qual o trajeto dos alimentos ao adentrar nosso sistema digestório e como cada estrutura que o forma age? A fim de responder essas e outras perguntas, estudaremos esse sistema. Isto é importante, pois, enquanto, profissional de educação física, você res- ponderá questionamentos sobre o corpo e seu funcionamento. Além disso, no contexto escolar, você precisa estar atento porque muitos distúrbios alimen- tares (anorexia e bulimia) podem aparecer na infância e adolescência enfren- tarão as crises desta idade. Todavia, a informação adequada dependerá de seu conhecimento acerca do tema. Para o alimento ser útil, deve percorrer o sistema digestório, permanecer tempo suficiente em cada estrutura e ser submetido a secreções. Assim, os ór- gãos deste sistema são adaptados à preensão do alimento, mastigação, degluti- ção, digestão, absorção dos nutrientes e expulsão de resíduos. O texto, a seguir, será fundamentado em autores como Dangelo e Fattini (2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e outros. A no- menclatura está atualizada (CFTA, 2001), mas é necessário que você utilize um atlas de anatomia como Narciso (2012), Rohen, Yokochi e Lütjen-Dre- coll (2002) e outros. Nosso objetivo é descrever aspectos relevantes deste sistema e suas re- lações com os outros. Não se esqueça de que o profissional de educação física precisa conhecê-lo, pois, ele garante o fornecimento de energia para os músculos. Bom estudo! ANATOMIA 124 FUNÇÃO DO SISTEMA DIGESTÓRIO Como o próprio nome já diz, o sistema digestório tem como principal função realizar a digestão suprindo os seres vivos de nutrientes e realizando a eliminação de substâncias não úteis ao organismo (como os restos do metabolismo celular) (DANGELO; FATTINI, 2011). Não se esqueça de que, para isso, suas estruturas devem ser capazes de realizar apreensão do alimento (ou seja, colocar o alimento em contato com a primei- ra porção desse sistema - a boca), a mastigação (total- mente dependente dos dentes superiores e inferiores), a deglutição (da qual participam várias estruturas como a língua que impulsiona o alimento e a faringe que inicia os movimentos peristálticos), a digestão pro- priamente dita (que ocorre principalmente na boca, no estômago e duodeno), a absorção dos nutrientes e da água dos alimentos (da qual participa o intestino del- gado e grosso), e a expulsão dos resíduos eliminados sob a forma de fezes (função do intestino grosso). DIVISÃO DO SISTEMA DIGESTÓRIO O sistema digestório divide-se em duas porções principais: o canal alimentar e os órgãos anexos. O canal alimentar é constituído por órgãos situados na cabeça, no pescoço, no tórax, no abdome e na pel- ve. Por ele o alimento transita e sofre o processo de digestão propriamente dito. Inicia na cavidade oral, inclui a faringe, o esôfago, o estômago, o intestino delgado e o intestino grosso (o qual se abre para o meio externo por meio do ânus). Por isso, alguns au- tores como Dangelo e Fattini (2011) salientam que o canal alimentar é aberto em suas duas extremidades (boca e ânus) de forma que a luz pela qual o alimento transita pode ser considerada parte do meio externo. Já os órgãos anexos são estruturas nas quais o ali- mento não transita, mas que são essenciais ao proces- so de digestão uma vez que produzem secreções com caráter digestivo. Eles incluem as glândulas salivares (que produzem saliva rica em amilase salivar, uma enzima que degrada amido), o fígado (que produz bile para degradação da gordura) e o pâncreas (que produz o suco pancreático para degradar gordura). Função Geral e Divisão do Sistema Digestório Figura 1 - Órgãos do sistema digestório EDUCAÇÃO FÍSICA 125 BOCA A boca é a primeira porção do canal alimentar. Suas funções incluem apreensão do alimento, a mastiga- ção, a deglutição, a percepção dos sabores dos ali- mentos, a digestão e a fonação. Apreensão é de fato responsabilidade da boca por meio dos lábios supe- riores e inferiores. Já as outras funções, são exercidas indiretamente por ela. Por exemplo, a mastigação, embora ocorra na boca, depende da atuação dos dentes os quais, a partir de ação mecânica, modi- ficam fisicamente os alimentos para diminuir seu tamanho e aumentar sua superfície para que os alimentos fiquem expostos aos agentes da digestão química (as enzimas). De igual modo, embora a deglutição ocorra a partir da boca, ela depende da ação da língua; a percepção dos sabores dos alimentos também de- pende das papilas da língua e a digestão só ocorre a partir da atuação da amilase salivar. Além disso, a boca é essencial à emissão da voz uma vez que faz parte do aparelho fonador (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). A boca comunica-se com o meio externo por meio da rima da boca (uma fenda anterior formada pela junção dos lábios superior e inferior). Posterior- mente, ela se comunica com a parte oral da faringe por meio de istmo da garganta. Assim, enquanto, os lábios representam seu limite anterior, o istmo da garganta representa seu limite posterior. Além disso, as bochechas representam seu limite lateral, o palato duro e mole seu limite superior e os músculos do assoalho da boca seu limite inferior. Ela é dividida em duas porções, o vestíbulo da boca e a cavidade própria da boca ou cavidade oral. O vestíbulo da boca é o espaço anterior da boca no qual você pode passar sua língua. Ele fica en- tre lábios e bochechas (anteriormente), e gengiva e dentes (posteriormente). Nessa região é possível visualizar a face externa da gengiva e dos dentes e, se você puxar os lábios, também dá para ver o freio do lábio superior, o freio do lábio inferior e os freios laterais (estes freios servem para restringir a mobilidade dos lábios; algumas pessoas colocam piercing neles). Já a cavidade oral é constituída pelo restante da cavidade da boca, ou seja, é o espaço interno ocupa- do pela língua. Nesta região, além da língua, é possí- vel visualizar a face interna da gengiva e dos dentes. Nela as glândulas salivares lançam a saliva. Órgãos do Sistema Digestório ANATOMIA 126 Lábios Os lábios são duas pregas musculofi brosas compos- tas pelo músculo orbicular da boca e cobertas por uma pele fi na e sensível. Embora, apresentem os freios (como vimos a pouco), eles têm mobilidade. Apresentam glândulas salivares labiais e são muito irrigados (por isso, qualquer corte, por menor que seja, pode sangrar) (WATANABE, 2000). Como visto anteriormente, os lábios superior e inferior se unem formando uma fenda anterior cha- mada rima da boca e nos lados direito e esquerdo (nos “cantinhos” da boca) estão as comissuras labiais ou ângulos da boca. Bochechas As bochechas têm estrutura quase igual à dos lá- bios. Na verdade, são contínuas a eles e represen- tam a parede móvel da cavidade oral (FREITAS, 2004). Sua composição é cutâneo-músculo-mu- cosa, ou seja, de fora para dentro apresenta pele, músculo e mucosa. Seu principal músculo é o bu- cinador e entre este músculo e a mucosa, existem várias pequenas glândulas bucais. Acima do músculo bucinador existe um tecido gorduroso chamado corpo adiposo da bochecha. Esse corpo é maior em crianças (isso explica o fato da maioria das crianças serem “bochechudas” e, por isso, sentimos uma vontade quase incontrolá- vel de apertá-las). Figura 2 - Boca Figura 3 - Bochecha Palato O palato é uma região composta, principalmente de osso, músculo e mucosa que fi ca interposta entre a cavidade nasal e a cavidade oral. Assim, pode-se afi rmar que o palato representa o assoalho da cavi- dade nasal e o teto da cavidade oral. Por isso, sua face superior (voltada ao nariz) é recoberta por mu- cosa respiratória e sua face inferior (voltada à boca) é recoberta por mucosa oral repleta de glândulas pa- latinas (MADEIRA, 2001). Sua região anterior é predominantemente óssea e imóvel sendo por isso chamada depalato duro. Ao Lábio superior Palato mole Lábio inferior O m. Bucinador é o principal músculo na constituição da bochecha EDUCAÇÃO FÍSICA 127 contrário, sua região posterior é predominantemen- te muscular e com relativo movimento sendo assim chamada de palato mole. O palato duro é formado pela junção das maxilas (direita e esquerda) com os ossos palatinos (direito e esquerdo). Esses quatro os- sos se unem por meio de suturas (a sutura palatina mediana une as maxilas e a sutura palatina transver- sa une as maxilas aos ossos palatinos). Essa região tem coloração rósea devido à vascu- larização menos intensa do que a do palato mole (o qual é mais avermelhado). Além disso, a mucosa que reveste o palato duro fica intimamente em contato com o periósteo que reveste seus ossos, podendo in- clusive ser chamada de mucoperiósteo. No palato duro, além dos processos alveolares que alojam os dentes da maxila, localizam-se im- portantes forames pelos quais artérias, veias e ner- vos passam. O forame incisivo, por exemplo, fica atrás dos incisivos centrais e permite a passagem do nervo nasopalatino que inerva a região anterior do palato. Esse forame ímpar é recoberto pela papi- la incisiva (uma saliência bem perceptível ao passar a língua sobre ele). Outros forames do palato duro incluem o fora- me palatino maior (por onde passa o nervo pala- tino maior que inerva a região posterior do palato duro) e os forames palatinos menores (por onde passam os nervos palatinos menores que inervam o palato mole). Além disso, a região anterior do pa- lato duro apresenta as pregas palatinas transversas que servem como ponto de apoio à língua e para a fixação do alimento durante a mastigação em indi- víduos desdentados. Já o palato mole é constituído por cinco múscu- los principais (músculo da úvula, músculo palato- glosso, músculo palatofaríngeo, músculo tensor do véu palatino e músculo levantador do véu palatino). Não se preocupe em memorizar esses músculos por- que eles atuam na deglutição (elevando o palato para que o alimento não reflua em direção à cavidade na- sal) e, por isso, são estudados, principalmente, pelos fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas. Vale ressaltar que na região mediana do palato mole projeta-se uma saliência chamada úvula pala- tina (popularmente conhecida como “campainha” ou “sininho”) lateralmente à qual saem duas pregas (o arco palatoglosso e o arco palatofaríngeo). Entre esses arcos há um espaço chamado fossa tonsilar o qual é ocupado pela tonsila palatina (popularmente conhecida como “amídala” ou “amígdala”). Figura 4 - Palato duro e mole Istmo das fauces Representa o limite posterior da boca, ou seja, onde acaba a boca e começa a faringe (MADEIRA, 2001). O istmo das fauces é um espaço compreendido entre a úvula palatina (superiormente), os arcos palato- glossos (lateralmente) e o dorso da língua e a cartila- gem epiglótica da laringe (inferiormente). Palato duro Palato mole ANATOMIA 128 Língua A língua é um órgão muscular, móvel, revestido por mucosa, com importante função na mastigação, na deglutição, como órgão gustativo e fonador. Sua ex- tremidade mais afilada e anterior é chamada de ápi- ce, suas regiões laterais são as margens laterais e sua região inferior é a face inferior (MADEIRA, 2001). Ela se situa parcialmente na cavidade oral e par- cialmente na faringe (na porção oral da faringe). Assim, a língua estende-se até a epiglote e com ela apresenta três pregas mucosas: prega glossoepigló- tica mediana, prega glossoepiglótica lateral direita e prega glossoepiglótica esquerda. Tais pregas formam entre si espaços chamados de valéculas epiglóticas. Sua face superior é chamada de dorso da lín- gua, o qual é sulcado em sua região mediana pelo sulco mediano da língua. Esse sulco divide a língua em metade direita e esquerda, mas embora seja bem identificável no vivo, não é facilmente visível no cadáver. Além do sulco mediano, a língua também apresenta o sulco terminal, o qual se posiciona na junção dos dois terços anteriores com o terço poste- rior da língua. Este sulco a divide em duas porções, o corpo (anterior ao sulco) e a raiz (posterior ao sul- co). Na raiz da língua existem importantes estrutu- ras do sistema linfático chamadas tonsilas linguais. A mucosa que reveste o dorso apresenta recep- tores gustativos, as papilas linguais as quais dão um aspecto rugoso à língua. As papilas circunvaladas são maiores, facilmente identificáveis em forma de “V” ou “Y” adiante do sulco terminal e estão rela- cionadas à percepção do azedo (motivo pela qual alimentos ou líquidos que não parecem amargos inicialmente, tornam-se durante a deglutição). As papilas folhadas, localizadas no terço médio da mar- gem lateral da língua, relacionam-se à percepção do sabor ácido (azedo). Em contrapartida, as filiformes permitem a percepção do doce e do salgado e são sensíveis ao toque. Elas estão em grande número no dorso da língua e são alongadas. Já as papilas fun- giformes, mais numerosas no ápice e nas margens, tem formato arredondo e são sensíveis á percepção de doce e salgado. Figura 5 - Istmo das fauces Figura 6 - Língua EDUCAÇÃO FÍSICA 129 Em corte transversal é possível identificar o septo da língua (que divide sua estrutura em parte direita e esquerda, e onde normalmente as pessoas furam piercing ou cortam a língua para que ela fi- que septada). Os músculos que a formam podem ser intrínsecos ou extrínsecos. Os intrínsecos dão sua forma e os extrínsecos seus movimentos. São eles o longitudinal superior, o longitudinal inferior, o transverso e o vertical (como intrínsecos), e o hioglosso, o estiloglosso, o palatoglosso e o genio- glosso (como extrínsecos). Abaixo da língua estão importantes aciden- tes anatômicos como o freio da língua (que limi- ta sua mobilidade), a carúncula sublingual (onde a glândula submandibular desemboca), a prega sublingual (que protege o ducto da glândula sub- mandibular), a prega franjada (que recobre a veia profunda da língua) e vasos sublinguais os quais possibilitam a rápida absorção de medicamentos (isso ocorre porque o sangue que é drenado pela veia sublingual é transportado para a veia jugular interna e não passa pelo fígado, ou seja, não é me- tabolizado neste órgão; se o medicamento for ad- ministrado por via oral, ele é absorvido pelo intes- tino, é metabolizado pelo fígado e isto poderá fazer com que os efeitos demorem a se manifestar). Por fim, é importante mencionar que a língua é bastante inervada (tanto em relação ao tato, dor, temperatura, pressão, propriocepção e gustação, quanto em relação à sua capacidade contrátil). As- sim, de forma geral, o nervo hipoglosso (XII par de nervos cranianos) possibilita sua inervação motora, e os nervos vago (X par), glossofaríngeo (IX par), trigêmeo (V par) e facial (VII par) permitem sua inervação sensitiva. GENGIVA A gengiva é formada por tecido fibroso coberto por mucosa. Enquanto a gengiva alveolar (ou gengiva livre) é vermelha, a gengiva propriamente dita (ou gengiva aderida) é fixa aos processos alveolares da mandíbula e da maxila e tem coloração rósea. Pode ser chamada de gengiva lingual superior, gengiva lingual inferior, gengiva labial maxilar e labial man- dibular (MADEIRA, 2001). Figura 7 - Gengiva Dentes Os dentes são estruturas rígidas, esbranquiçadas, implantadas em cavidades da maxila e da man- díbula (denominadas alvéolos dentais). Em cada dente distinguem-se três partes: Raiz (implanta- da no alvéolo), coroa (parte mais evidente) e colo (região entre a raiz e a coroa circundada pela gen- giva). Eles são abundantemente vascularizados e inervados (por isso, as anestesias são necessárias para os procedimentos odontológicos) (MADEI- RA et. al., 2014). No homem há duas dentições, a primária (ou decídua) e a permanente. A primária (que o povo chama de “dentes de leite”) apresenta 20 dentes (sendo 8 incisivos, 4 caninos e 8 molares). A per- ANATOMIA 130 manentetem 32 dentes (sendo 8 incisivos, 4 cani- nos, 8 pré-molares e 12 molares). A substituição da primária pela permanente começa a partir dos 6 ou 7 anos e pode durar até os 25 anos de ida- de. Esse fato é interessante, pois faz com que os mamíferos sejam os únicos com heterodontia (ou seja, apresentam dentes morfologicamente dife- rentes entre si). Em relação às funções, enquanto, os incisivos cortam o alimento e os caninos o rasgam, os pré- -molares e os molares fazem sua trituração. Tal fato é importante, pois a ação mecânica dos dentes é res- ponsável pela exposição do alimento à ação enzimá- tica facilitando a digestão. Assoalho da boca O assoalho da boca representa o limite inferior da boca. Ele é constituído, principalmente, pelo mús- culo platisma e pelos músculos supra-hióideos (como o ventre anterior do digástrico, o músculo milo-hióideo, o gênio-hióideo e o estilo-hióideo) (MADEIRA, 2001). Anel linfático Embora já tenhamos mencionado o anel linfático na unidade 2 quando estudamos o sistema vascular lin- fático, é importante lembrar que na parte posterior da cavidade oral e na porção oral da faringe existem as tonsilas palatinas, as tonsilas linguais, as tonsilas faríngeas e as tonsilas tubárias as quais, enquanto, estruturas linfáticas, minimizam a contaminação dos alimentos ingeridos a partir da produção de cé- lulas imunológicas (MADEIRA, 2001). FARINGE A faringe já foi estudada na unidade 2 quando apren- demos sobre o sistema respiratório. No entanto, va- mos rever seus principais aspectos. Ela é uma estrutu- ra músculo-membranosa localizada posteriormente à cavidade nasal, à cavidade oral e à laringe. Por isso, apresenta três porções sem limites precisos entre elas, chamadas de porção nasal da faringe, porção oral da faringe e porção laríngea da faringe. A porção nasal é superior e tem função respiratória. A porção oral é média e tem função digestória. A porção laríngea é inferior, tem função respiratória e dá continuidade ao esôfago. Assim, a faringe é uma estrutura associa- da tanto ao sistema respiratório quanto ao digestório, atuando como um canal comum à passagem do ar e do alimento (DI DIO, 2002). Ela inicia na base do crânio e termina ao nível da sexta vértebra cervical relacionando-se poste- riormente à coluna vertebral. É constituída por três camadas sendo a mais externa chamada adventícia, Figura 8 - Anel linfático EDUCAÇÃO FÍSICA 131 a média formada por músculos estriados esqueléti- cos e a interna mucosa. Seus músculos estriados po- dem ser externos ou internos e estão relacionados aos movimentos peristálticos da faringe. Os exter- nos são os constritores (superior, médio e inferior) e os internos são o palatofaríngeo, estilofaríngeo e salpingofaríngeo. é muito comum em criança onde um quadro de tonsilite acaba evoluindo para um quadro de otite). Além disso, o óstio também drena muco e perilinfa que existem nos canais semicirculares. Nas bordas do óstio faríngeo da tuba auditiva existem aglomerações linfáticas chamadas, em con- junto, de tonsila tubária. Além da tonsila tubária, nesta parte da faringe existe ainda a tonsila faríngea a qual se aumentada passa a ser chamada de adenoi- de (como já visto no capítulo anterior). ESÔFAGO É um tubo fibromuscular de aproximadamente 25 cm de comprimento e 2 cm de diâmetro. Superior- mente, ele é constituído por músculo estriado es- quelético (com controle voluntário), inferiormente por músculo liso (com controle involuntário) e em sua região média há os dois tipos de músculos (MO- ORE et al., 2014). Esse tubo é a continuação da faringe e dá conti- nuidade ao estômago. Assim, no tórax está situado anteriormente à coluna vertebral e passa posterior- mente à traqueia. Para atingir o abdome, ele atra- vessa o músculo diafragma (pelo hiato esofágico) e desemboca no estômago. Portanto, apresenta três porções: cervical, torácica (maior) e abdominal. É formado por lâminas musculares circulares (internamente) e lâminas musculares longitudinais (externamente). As contrações destes músculos alte- ra sua luz vascular a fim de permitir a passagem do bolo alimentar, impulsionando-o durante o peristal- tismo (também chamado de movimento peristáltico ou peristalse; esse movimento é próprio de todo o canal alimentar e não depende da gravidade, pois ocorre inclusive de cabeça para baixo). Figura 9 - Faringe Na porção nasal da faringe existe um importante acidente anatômico chamado óstio faríngeo da tuba auditiva, o qual é protegido pelo toro tubário. Este óstio é uma abertura em forma de fenda que marca a desembocadura da tuba auditiva, ou seja, a tuba auditiva comunica a parte nasal da faringe com a cavidade timpânica da orelha média. Esta comuni- cação serve para igualar a pressão do ar externo à pressão daquele contido na própria cavidade timpâ- nica (percebemos claramente isso quando descemos a serra do mar e sentimos a pressão externa como um incômodo). Todavia, devido esta comunicação, uma infec- ção da faringe pode se propagar à orelha média (isso Parte nasal da faringe Parte oral da faringe Parte laríngea da faringe ANATOMIA 132 PERITÔNIO E CAVIDADE PERITONEAL Você já ouviu falar em peritônio ou cavidade perito- neal? Talvez nunca. Todavia, você já pode ter ouvido falar em pessoas que tiveram “barriga d’água” e acu- mularam líquido na cavidade peritoneal. Então, o que é peritônio, o que é cavidade peritoneal e como é possível ter “água na barriga”? Vamos entender como tudo funciona. Figura 10 - Esôfago Você sabia que o esôfago apresenta estreita- mentos em sua parede que são essenciais ao funcionamento? Se o estreitamento cardíaco não funcionar, pode ter refluxo gastroesofá- gico, irritação do esôfago e azia. REFLITA O peritônio é uma membrana serosa transpa- rente e brilhante que reveste a cavidade abdominal, a cavidade pélvica e as vísceras destas cavidades. Ele é formado por duas lâminas contínuas, o peritô- nio visceral (que envolve as vísceras) e o peritônio parietal (que reveste as paredes destas cavidades). Enquanto, o peritônio parietal é sensível à pressão, calor, frio, laceração e dor, o peritônio visceral é in- sensível ao toque, calor, frio e laceração, mas é es- timulado por distensão e irritação química. Existe uma cavidade entre estas duas lâminas (a cavidade peritoneal) a qual contém uma fina película de líqui- do peritoneal (TORTORA et al., 2010). Alguns órgãos abdominais ficam aderidos à parede posterior do abdome e o peritônio passa a frente deles. Por isso, são chamados de órgãos retro- peritoneais. Tais órgãos (como os rins e o pâncreas) são fixos. Outros se destacam da parede abdominal sendo acompanhados pelo peritônio que os reveste e se salientam na cavidade abdominal de modo que entre eles e a parede do abdome forma-se uma lâmi- na peritoneal dupla chamada de mesentério, meso ou ligamento (por meio dela, vasos e nervos chegam aos órgãos peritonizados). Às vezes, estas pregas se estendem entre dois órgãos por uma lâmina do pe- ritônio chamada omento (o omento maior sai como um avental do estômago, recobre os intestinos e se fixa ao colo transverso do intestino grosso; o omento menor vai do estômago ao fígado). Por fim, alguns órgãos são intraperitoneais. Voltando à “barriga d’água”, o peritônio pode ser acometido por um processo inflamatório chamado peritonite o qual pode ser localizado ou generalizado. Nesse caso é comum ocorrer ascite, ou seja, pode ha- ver acúmulo de enormes quantidades de líquido se- roso na cavidade peritoneal fazendo com que o indi- víduo sinta dor e, muitas vezes, precise até drená-lo. EDUCAÇÃO FÍSICA 133 ESTÔMAGO Enquanto, a faringe e o esôfago apresentam estru- tura tubular, o estômago é considerado uma dila- tação do canal alimentar. Ele segue o esôfago, dá continuidade ao intestino e está situado, logo, abai- xo do músculo diafragma com sua maior porção à esquerda do plano mediano. Assim, o estômago está unido ao músculo diafragma, ao baço eao colo transverso e é quase totalmente coberto pelo peri- tônio (DI DIO, 2002). Sua principal função é realizar a digestão quími- ca (por meio das enzimas do suco gástrico secretado por suas glândulas) e mecânica dos alimentos (já que apresenta movimentos circulares e peristálticos). No entanto, ele pode conter até três litros de alimento (funcionando como um reservatório) e é capaz de absorver algumas substâncias (como álcool e alguns medicamentos). Suas funções dependem, principal- mente, dos neurônios do plexo entérico e de neurô- nios extrínsecos do sistema nervoso autônomo. Na superfície mucosa interna do estômago exis- tem muitas pregas gástricas as quais se distendem ao receber o alimento e desaparecem com a distensão do órgão. Além disso, embora sua forma e posição possam variar com a idade, o tipo constitucional do indivíduo, a alimentação, a posição do indivíduo e o estado fisiológico do órgão, seu estudo é feito consi- derando quatro partes principais: parte cárdica, fun- do, corpo e parte pilórica. A parte cárdica é sua porção proximal que se co- munica com o esôfago. O fundo é uma região supe- rior, acima da sua junção com o esôfago. O corpo, a maior parte do órgão, apresenta face anterior e pos- terior unidas por duas margens, a curvatura gástrica maior (à esquerda) e a curvatura gástrica menor (à direita). A parte pilórica é sua porção terminal que se comunica com o duodeno. Ela apresenta uma re- gião mais alargada chamada de antro pilórico o qual se estreita originando o canal pilórico que termina no piloro (região esfincteriana distal). Tanto na parte cárdica quanto no piloro locali- zam-se orifícios chamados óstio cárdico e óstio piló- rico onde há uma condensação de feixes musculares que constituem um mecanismo de abertura e fecha- mento para regular o trânsito do bolo alimentar. Normalmente, o piloro fica em contração tônica e só se abre para dar passagem ao quimo (bolo alimentar misturado às secreções gástricas) quando o duode- no está vazio e pronto para digerir mais conteúdo gástrico. Assim, estômago e duodeno agem coorde- nadamente de forma que, quando o duodeno está cheio, o músculo esfíncter do piloro se contrai para impedir que mais quimo seja lançado no duodeno. Figura 11 - Peritônio e cavidade peritoneal ANATOMIA 134 INTESTINOS Os intestinos seguem o estômago e se dividem pelo calibre em intestino delgado e intestino grosso. Figura 12 – Estômago O estômago pode apresentar algumas dis- funções, por exemplo, gastrite e úlcera pép- tica. Na úlcera, surgem lesões na camada mais superficial da mucosa que reveste o estômago. Todavia, ela pode se manifestar também no duodeno (a porção do intestino delgado). Quando a úlcera surge no estô- mago, ela é denominada úlcera gástrica; quando surge no duodeno, ela é chamada úlcera duodenal. Fonte: Pinheiro (2016, on-line)1. SAIBA MAIS Figura 13 - Intestino delgado e grosso Intestino delgado O intestino delgado tem de 4 a 6 metros de com- primento uma vez que se estende do piloro até o ceco (primeira porção do intestino grosso). É sub- dividido em 3 segmentos: duodeno, jejuno, e íleo. Embora, represente o principal local de absorção dos alimentos, ele também participa da digestão (DANGELO; FATTINI, 2011). Reto Colo transverso Intestino delgado Colo ascendente. Observe como o intestino grosso “emoldura” o intestino delgado Ceco Colo descendente Colo sigmoide EDUCAÇÃO FÍSICA 135 Desta forma, à semelhança do estômago, o intestino delgado exerce dois tipos de atividades sobre o alimento: mecânica (pois mistura e pro- pulsiona o quimo por meio de movimentos esti- mulados pelos plexos nervosos do sistema ner- voso entérico) e química (por meio das enzimas entéricas, pancreáticas e da bile). Assim, vale res- saltar que a ação das secreções do próprio intesti- no (suco entérico), do pâncreas (suco pancreáti- co) e do fígado (bile) sobre o quimo forma o quilo na fase final da digestão quando já existem subs- tâncias prontas para serem absorvidas. O ducto do fígado (ducto colédoco) e o ducto pancreático desembocam na mucosa do duodeno pela papila maior do duodeno; o ducto pancreático acessório desemboca na mucosa do duodeno pela papila menor do duodeno. O duodeno é a primeira porção do intestino delgado com aproximadamente 25 cm de com- primento sendo por isso considerado sua menor parte. É um órgão em forma de “U” aberto para a esquerda que começa no óstio pilórico e termina na flexura duodeno-jejunal. Ele “abraça” a cabeça do pâncreas e é aderido à parede posterior do ab- dome sendo quase todo retroperitoneal (portanto, bastante fixo). A segunda porção do intestino delgado é o jeju- no (com aproximadamente 2,5 metros) e a terceira é o íleo (com aproximadamente 3,5 metros). Tais por- ções são contínuas entre si, pois não há uma divisão anatômica nítida entre elas. Assim, o termo jejuno- -íleo é comum. Ao contrário do duodeno que é fixo, o jejuno-íleo representa a parte móvel do intestino delgado (pois apesar de estarem presos à parte pos- terior do abdome pelo mesentério, esta prega perito- neal é longa e permite ampla movimentação). O íleo termina no ceco (como já foi mencionado). Intestino grosso O intestino grosso representa a porção terminal do canal alimentar que “emoldura” o intestino delgado. Ele absorve água e eletrólitos do quilo, determinan- do a consistência do bolo fecal. Além disso, atua na formação, transporte e expulsão das fezes (as quais são resíduos sólidos da alimentação cuja eliminação ocorre por meio da defecação) (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Ele é mais calibroso e curto do que o intestino delgado (mede aproximadamente 1,5 metros de comprimento) e se difere do delgado por apresen- tar faixas espessas de músculo liso longitudinal (as tênias do colo), gordura na serosa (os apêndices omentais do colo), e dilatações limitadas por sulcos transversais (as saculações do colo). É subdividido em ceco, colo ascendente, colo transverso, colo descendente, colo sigmoide e reto. O ceco é o segmento inicial, em fundo cego, que se continua como colo ascendente. Tem aproximada- mente 7,5 cm de comprimento e largura, e se localiza na fossa ilíaca esquerda. Dele destaca-se o apêndice vermiforme - um prolongamento cilindroide alon- gado (de 6 a 10 cm de comprimento) que se forma no ponto de encontro das tênias. O apêndice é rico em folículos linfáticos. ANATOMIA 136 O colo ascendente segue em direção cranial, à direita da cavidade abdominal. Ele alcança o fígado e se curva para continuar como colo transverso. É retroperitoneal. O colo transverso é a parte mais longa e móvel do intestino grosso, pois atravessa da direita para a es- querda toda a parte superior da cavidade abdominal. O colo descendente inicia à esquerda da cavi- dade abdominal e termina na altura da crista ilíaca esquerda onde dá continuidade ao colo sigmoide. Está fixo à parede posterior do abdome (é retrope- ritoneal, portanto, fixo). O colo sigmoide tem trajeto sinuoso (em forma de “S”), dirige-se para o plano mediano da pelve e termina na altura da terceira vértebra sacral onde dá continuação ao reto. O reto e o canal anal representam a parte ter- minal e fixa do intestino grosso. O reto tem aproxi- madamente 15 cm de comprimento e possui uma parte dilatada (a ampola do reto) que armazena temporariamente as fezes. O canal anal é uma par- te estreita, com cerca de três cm de comprimento, que atravessa o períneo e se abre no exterior por meio do ânus. No canal anal se notam as colunas anais em cuja base há uma densa rede venosa que forma a zona hemorroidária. É drenado por três conjuntos principais de veias (veia retal superior, média e inferior). Você sabia que a inflamação do apêndice vermiforme é conhecida como apendicite? Embora as causas da apendicite não sejam totalmente conhecidas, existe relação com a obstrução por gordura ou por fezes e infecção por vírus. É comum o aparecimento de fortes dores abdominais e atéfebre. Se a apendicite não for prontamente tratada, pode ocorrer o rompimento do apêndice ver- miforme levando o indivíduo à morte. Fonte: Minha Vida (on-line)2. SAIBA MAIS Você sabia que a defecação depende de re- ceptores nervosos da parede do reto, que a constipação intestinal pode ser desencadeada pela falta de peristaltismo e a diarreia é um mecanismo de defesa? REFLITA EDUCAÇÃO FÍSICA 137 FÍGADO Fígado está localizado imediatamente abaixo do diafragma e apresenta certa mobilidade durante os movimentos diafragmáticos e, em posição ereta fica mais baixo devido à gravidade (WATANABE, 2000). É considerado a maior glândula do corpo e, de- pois da pele, o maior órgão (pesando aproximada- mente 1,5 kg). Ele está unido à parede abdominal anterior, ao estômago e ao duodeno. É considerado plástico, pois se adapta aos órgãos vizinhos os quais lhe causam impressões. Esse órgão desempenha importante papel nas atividades vitais uma vez que interfere no meta- bolismo de carboidrato, gordura e proteína, ar- mazena glicogênio, sintetiza vários compostos orgânicos, metaboliza e excreta substâncias tóxi- cas endógenas ou exógenas (como medicamentos e alimentos), participa dos mecanismos de defesa do corpo e secreta a bile (atuando como glân- dula exócrina). A bile é um líquido esverdeado, de gos- to amargo, que vomitamos quando não temos nada no estômago (ela é popular- mente conhecida como fel). É produzida de forma contínua pelo fígado e arma- zenada na vesícula biliar (um órgão em forma de saco que fica embaixo do fíga- do). Tem ação detergente (emulsificante) sobre gorduras e favorece a absorção de áci- dos e vitaminas lipossolúveis (sem bile, cerca de 40% da gordura seriam excretadas pelas fezes assim como as vitaminas A, D, E e K). A bile é drenada pelos ductos hepáticos (direito e esquerdo) os quais se unem para formar o ducto hepático comum. Esse ducto se une ao ducto císti- co (que vem da vesícula biliar) formando o ducto colédoco o qual se abre no duodeno. O fígado apresenta duas faces, a diafragmática e a visceral. A diafragmática é convexa, lisa e fica em contato com o músculo diagrama. A visceral fica em contato com as vísceras abdominais (es- tômago, duodeno, omento menor, vesícula biliar, flexura direita do colo, colo transverso, rim direi- to e glândula suprarrenal direita). Nessa face está a vesícula biliar, o sulco da veia cava inferior e a porta do fígado. Além disso, nessa face estão dois lobos anatômicos (o direito e o esquerdo) e dois lobos acessórios (o quadrado e o caudado). Órgãos Anexos Figura 14 - Fígado ANATOMIA 138 PÂNCREAS O pâncreas está situado profundamente na cavidade abdominal, atrás do estômago e é fixo à parede poste- rior do abdome (ou seja, é retroperitoneal e com peque- na mobilidade). É considerado a segunda maior glân- dula anexa do sistema digestório (depois do fígado) e é classificado como glândula mista uma vez que secreta insulina e glucagon (de maneira endócrina) e suco pan- creático (de maneira exócrina) (FREITAS, 2004). É dividido em cabeça (extremidade dilatada à direita emoldurada pelo duodeno), colo (entre a ca- beça e o corpo, com cerca de 2 cm), corpo (em po- sição transversal sobre as duas primeiras vértebras lombares) e cauda (extremidade afilada à esquerda situada perto do baço). O suco pancreático é recolhido por dúctulos que formam o ducto pancreático principal e o ducto pan- creático acessório (inconstante). O ducto pancreático principal começa na cauda e termina na cabeça do pâncreas, Na maioria das vezes, esse ducto se une ao ducto colédoco e se abre no duodeno (como já visto). GLÂNDULAS SALIVARES Como o próprio nome sugere, as glândulas saliva- res são responsáveis por produzir a saliva. Esta, por sua vez, é um líquido viscoso, transparente, insípi- do e inodoro que previne contra as cáries, lubrifica o bolo alimentar, facilita seu transporte sem irritar as paredes do tubo digestório e inicia a digestão do amido. Além disso, a saliva mantém a cavidade oral limpa, permite que se possa sentir o sabor da maior parte dos alimentos, excreta algumas substâncias como metais pesados e medicamentos, mantém o pH da cavidade própria da boca, dentre outras (MADEIRA, 2001). Não sei se você já usou a expressão “dá água na boca só de ouvir falar” quando se pensa em um alimento que você aprecia? Pois é! Este termo é correto, pois considera que a salivação é antecipa- da à ingestão do alimento e começa a ser produzida antes da digestão (chamamos de fase cefálica da sa- livação, o mesmo se aplica quando se sente o cheiro ou vê o tal alimento). Existem dois subgrupos de glândulas salivares, as maiores e as menores. As glândulas salivares me- nores estão localizadas nas bochechas, lábios, palato e mucosa da língua. As glândulas salivares maiores são três pares: as glândulas parótidas, submandibu- lares e sublinguais. • A glândula parótida fica lateralmente na face, anterior à orelha externa. Ela apresenta um canal excretor, chamado ducto parotídeo, o qual perfura o músculo bucinador e se abre na cavidade oral, ao nível do segundo molar superior. Ela pode ser infectada por vírus causando parotidite (popularmente conheci- da como caxumba). Figura 15 - Pâncreas Fígado Vesícula biliar PâncreasDuodeno EDUCAÇÃO FÍSICA 139 • A glândula submandibular localiza-se abaixo da mandíbula. Seu ducto (o ducto submandibular) se abre na cavidade oral abaixo da língua, na carúncula sublingual (umas “bolinhas” que temos embaixo da língua). • A glândula sublingual é a menor e a mais profunda delas. Situa-se lateral e inferiormente à língua. Apresenta muitos pequenos ductos sublinguais que se abrem no assoalho da boca. Figura 16 - Glândulas salivares 140 considerações finais A obtenção de energia para o metabolismo celular depende do funcionamento do sistema digestório. De igual modo, a contração muscular, o pensamento, o aprendizado e tantas outras funções, não ocorreriam sem o suprimento energéti- co essencial. Por isso, o sistema digestório é vital. Certamente, você consegue, agora, responder algumas perguntas feitas ante- riormente. Assim, creio que você já conhece os princípios fundamentais da diges- tão e a atuação de cada estrutura anatômica que forma o sistema digestório. To- davia, é importante destacar que muitas doenças são comuns a este sistema, por exemplo, gastrite, esofagite, acalasia, doença de Crohn, colite ulcerativa e muitas outras. Tais doenças comprometem seu funcionamento debilitando o indivíduo e causando diversas deficiências físicas e mentais. No entanto, algumas delas podem ser evitadas por meio do desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis (como a ingestão adequada diária de líquidos, bem como de alimentos prebióticos e probióticos). Tais condutas garantem o fun- cionamento ideal das estruturas anatômicas que compõe o sistema em questão. Além disso, vale ressaltar que o pleno conhecimento anatômico e fisiológico de tais estruturas é relevante ao aspecto preventivo de tais doenças. Por isso, o estudo pormenorizado desse sistema é essencial a profissionais da saúde, como você. Lembre-se de que o profissional de educação física comumente responde a questionamentos referentes ao corpo humano e seu funcionamento. Além disso, lembre-se de que, no contexto escolar e enquanto educador, você poderá contri- buir para minimizar muitos distúrbios alimentares (como anorexia ou bulimia). Assim, boa capacitação para você! 141 LEITURA COMPLEMENTAR Leia o artigo indicado, a seguir, que trata sobre uma doença relativamente comum do sistema digestório: o refl uxo gastroesofágico. Elevado número de consultas é originado a partir de sintomas de DRGE. Na Inglaterra, em 1994, 8% das con- sultas médicas em atenção primária à saúde e 11% da demanda espontânea foram ocasionadas por sintomas do sistema digestório (3). Em Autumn, na Alemanha, em estudo realizado no ano de 2000, 81,7% dos indiví- duos com sintomas de DRGEjá haviam realizado pelo menos uma gastroscopia para investigação de seus sintomas (14). Estudo realizado entre trabalhadores na Itália, em 1999, mostrou que pelo menos 2,6% dos in- divíduos sintomáticos têm seu trabalho afetado pelos sintomas (13). Estudos de base populacional com baixos índices de per- das ou recusas ainda são minoria entre as publicações sobre este tema. Os estudos para investigar fatores de- terminantes de DRGE são, em sua maioria, realizados em serviços de saúde, podendo indicar fatores agravantes e não necessariamente fatores de risco para os indivíduos da população que não procura ajuda médica para seus sintomas. Fonte: Oliveira et al. (2005). PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO A doença do refl uxo gastroesofágico (DRGE), bem como os demais sintomas oriundos do sistema digestório su- perior são de alta frequência na prática clínica diária. Ain- da que suas complicações não sejam frequentes, cons- tituem-se, pela elevada prevalência, tema de relevância nas questões de saúde pública. As taxas de prevalência de DRGE, caracterizada por presença de sintomas de pirose e regurgitação ácida, são bastante variáveis mas, princi- palmente em países ocidentais, quase sempre elevadas. Na Espanha, estudo transversal publicado em 2004, iden- tifi cou prevalência de 31,6% de DRGE ao ano (2). Na Bélgica também é elevada, tendo sido de 28% em 2002 (7). Em estudo realizado na Austrália em 1996, 56% dos indivíduos relataram ter tido sintomas de DRGE pelo menos alguma vez em suas vidas, sendo que 37% os têm pelo menos uma vez a cada 4 meses (1). Na Dinamar- ca, em 1994, a prevalência foi de 38% entre os homens e 30% entre as mulheres (5). No Brasil, em 2001 foi de 48,2% (10). Em estudo de revisão publicado em 1997, a variação da prevalência fi ca na faixa de 10% a 48% para pirose, 9% a 45% para regurgitação ácida e 21% a 59% para ambos os sintomas (4). 142 atividades de estudo 1. Em relação ao sistema digestório, é correto afirmar: a. O fígado produz a bile e a vesícula biliar a armazena. b. A bile é produzida pela vesícula biliar e armazenada no fígado. c. O duodeno produz a bile e a vesícula biliar a armazena. d. A bile é produzida pela vesícula biliar e armazenada no duodeno. e. Quem produz e armazena a bile são, respectivamente, o fígado e o duo- deno. 2. Os órgãos do sistema digestório considerados supradiafragmáticos são: a. Boca, faringe, laringe, esôfago e glândulas salivares. b. Boca, faringe, esôfago (porção cervical e torácica) e glândulas salivares. c. Boca, faringe, esôfago (porção cervical, torácica e abdominal) e glândulas salivares. d. Boca, faringe, laringe, esôfago (porção cervical, torácica e abdominal) e glândulas salivares. e. Boca, faringe, estômago e glândulas salivares. 3. Os órgãos do sistema digestório considerados infradiafragmáticos são: a. Esôfago (porção cervical, torácica e abdominal), estômago, intestino delga- do, intestino grosso, fígado e pâncreas. b. Esôfago (porção torácica e abdominal), estômago, intestino delgado, intes- tino grosso, fígado e pâncreas. c. Esôfago (porção abdominal), estômago, intestino delgado, intestino gros- so, fígado e pâncreas. d. Esôfago (porção abdominal), estômago, intestino delgado, intestino gros- so, fígado, pâncreas e glândulas salivares. e. Nenhuma das alternativas acima estão corretas. 143 atividades de estudo 4. Considere que um aluno ingeriu, na hora do lanche, um sanduíche de pão, carne e bacon. Assinale dentre as alternativas abaixo aquela que contém o local correto onde tais alimentos serão digeridos: a. O pão no duodeno (pois é composto principalmente por proteína), a carne no estômago (pois é composta principalmente por carboidrato) e o bacon no duodeno (pois é composto principalmente de gordura). b. O pão na faringe e no esôfago (pois é composto principalmente por carboi- drato), a carne no estômago (pois é composta principalmente por proteí- na) e o bacon no duodeno (pois é composto principalmente de gordura). c. O pão na boca e no esôfago (pois é composto principalmente por carboi- drato), a carne no duodeno e no colo transverso (pois é composta princi- palmente por proteína) e o bacon no colo ascendente e transverso (pois é composto principalmente de gordura). d. O pão na boca e no duodeno (pois é composto principalmente por carboi- drato), a carne no estômago e no duodeno (pois é composta principalmen- te por proteína) e o bacon no duodeno (pois é composto principalmente de gordura). e. O pão na boca e no estômago (pois é composto principalmente por carboi- drato), a carne no estômago e no fígado (pois é composta principalmente por gordura) e o bacon no duodeno e no pâncreas (pois é composto prin- cipalmente de gordura). 5. O sistema digestório apresenta como principais órgãos anexos: a. Baço, fígado e glândulas salivares b. Pâncreas, timo e glândulas salivares. c. Pâncreas, fígado e reto. d. Ceco, fígado e glândulas salivares. e. Pâncreas, fígado e glândulas salivares. 144 Material Complementar Referências On-Line 1 Em: <http://www.mdsaude.com/category/gastroenterologia-2/doencas-do-estomag>. Acesso em: 14 jun. 2016. 2 Em: <http://www.minhavida.com.br/saude/temas/apendicite>. Acesso em: 14 jun. 2016. Apresentação: Este filme da “Super Interessante Coleções” apresenta os princi- pais eventos associados à digestão e ao sistema digestório. Ele retrata, por meio de exemplos práticos, todo o trajeto que o alimento percorre desde sua ingestão até sua eliminação, bem como as estruturas anatômicas pelas quais ele passa. Demonstra a ação das secreções digestivas e correlaciona à vida diária. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6JfDX94htbU>. Apresentação: Conheça um pouco mais sobre a doença do refluxo gastroeso- fágico em: Disponível em: <https://www.abcdasaude.com.br/gastroenterologia/doenca- -do-refluxo-gastro-esofagico>. Descubra o que é, quais os principais sintomas e o que causa esta doença. Apresentação: Aprenda um pouco mais sobre a fisiologia da defecação e evite problemas relacionados à defecação. Disponível em: <http://www.medicinageriatrica.com.br/2008/08/11/incontinen- cia-anal-parte-2-anatomia-e-fisiologia-do-assoalho-pelvico>. Indicação para Assistir 145 referências CFTA - COMISSÃO FEDERATIVA DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA. Terminologia Anatômica: terminologia anatômica internacional. São Paulo: Manole, 2001. DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. DI DIO, L. J. A. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada: princípios básicos e sistêmicos, esquelético, articular e muscular. 2. ed. Atheneu: São Paulo, 2002. FREITAS, V. Anatomia conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004. GRABINER, M. D.; GREGOR, R. J.; VASCONCELOS, M. M. Cinesiologia e anatomia aplicada. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janei- ro: Elsevier, 2011. MADEIRA, M. C. Anatomia da face: bases anátomo-funcionais para a prática odontológica. 3. ed. São Paulo: Sarvier, 2001. MADEIRA, M. C.; RIZZOLO, R. J. C.; CARIA, P. H. F.; CRUZ, R. S. M.; LEITE, H. F.; OLIVEIRA, J. A. Anatomia do dente. 7. ed. São Paulo: Sarvier, 2014. MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem dinâmica. Maringá: Gráfica Editora Clichetec, 2014. MOORE, K .L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. NARCISO, M. S. Sobotta: atlas de anatomia humana: anatomia geral e sistema muscular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. OLIVEIRA, S. S. de; SANTOS, I. da S. dos; SILVA, J. F. P. da; MACHADO, E. C. Prevalência e fatores associados à doença do refluxo gastroesofágico. Scielo. Arq. Gastroenterol. vol.42 no.2 São Paulo Apr./June, 2005. ROHEN, J. W.; YOKOCHI, C.; LÜTJEN-DRECOLL, E. Anatomia humana: atlas fotográfico de anatomia sistêmicae regional. São Paulo: Manole, 2002. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo: Atheneu, 2000. 146 gabarito 1. A 2. B 3. C 4. D 5. E UNIDADEUNIDADEIV Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Sistema urinário • Sistema genital masculino • Sistema genital feminino Objetivos de Aprendizagem • Estudar a função geral do sistema urinário, bem como as funções do rim; Apresentar a morfologia externa e interna, localização, função, irrigação, drenagem venosa, drenagem linfática, inervação e principais acidentes anatômicos dos órgãos do sistema urinário: Rim, ureter, bexiga urinária e uretra masculina e feminina. • Estudar a função geral do sistema genital masculino; Subdividir os órgãos do sistema genital masculino em órgãos internos e externos; Apresentar a morfologia externa e interna, localização, função, irrigação, drenagem venosa, drenagem linfática, inervação e principais acidentes anatômicos dos órgãos do sistema genital masculino: Testículo, epidídimo, ducto deferente, próstata, ducto ejaculatório, glândulas bulbouretrais, glândulas seminais, uretra, pênis e bolsa escrotal; Diferenciar os mecanismos que possibilitam a ereção e a ejaculação. • Estudar a função geral do sistema genital feminino; Subdividir os órgãos do sistema genital feminino em órgãos internos e externos; Apresentar a morfologia externa e interna, localização, função, irrigação, drenagem venosa, drenagem linfática, inervação e principais acidentes anatômicos dos órgãos do sistema genital feminino: Ovário, tuba uterina, útero, vagina e estruturas do pudendo feminino (monte do púbis, lábio maior do pudendo, lábio menor do pudendo, vestíbulo da vagina, bulbo do vestíbulo, óstio da vagina, glândula vestibular maior e glândulas vestibulares menores). Elucidar os principais aspectos anatômicos do peritônio na cavidade pélvica, do períneo e das mamas. SISTEMA UROGENITAL IV unidade INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), o sistema urogenital é constituído pelo sistema urinário, genital masculino e genital feminino. Embora, desempenhem funções diferen- tes, têm inter-relações e proximidades anatômicas. As atividades orgânicas de- pendem da decomposição de carboidratos, lipídios e proteínas para liberação de energia. Tais decomposições formam produtos que devem ser eliminados para não ter danos celulares. A digestão de proteínas, por exemplo, origina aminoácidos que liberam gru- po amina (NH2) o qual reage com o hidrogênio dos líquidos corporais formando amônia (NH3). Essa é tóxica deve ser eliminada ou convertida em algo menos tóxico como ureia ou acido úrico por meio da urina. O sistema urinário é forma- do por estruturas anatômicas que produzem (órgãos uropoiéticos) e condução a urina (órgãos urocondutores). A bexiga urinária a armazena. Os sistemas genitais masculino e o feminino atuam em conjunto para permi- tir a continuidade da vida. Eles têm os órgãos gametógenos ou gônadas, os game- tóforos ou vias espermáticas, os de cópula, as estruturas eréteis, glândulas anexas e órgãos externos. No feminino há o útero para abrigar o embrião. Órgãos gametógenos produzem gametas e hormônios (testículos e ovários). Órgãos gametóforos permitem a passagem dos gametas. Órgãos de cópula rela- cionam-se ao ato sexual (pênis e vagina). Estruturas eréteis permitem o acopla- mento durante a cópula. Glândulas anexas produzem secreções que facilitam o coito ou a progressão dos gametas. Os genitais externos são visíveis à super- fície do corpo. O texto, a seguir, será fundamentado em autores como Dangelo e Fattini (2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e outros. A nomenclatura é atualizada (CFTA, 2001), mas é necessário que você use um atlas de anatomia como Sobotta (2012), Rohen, Yokochi e Lütjen-Drecoll (2002) e outros. Não se esqueça que o profissional de educação física pre- cisa ter conhecer estes sistemas, pois no contexto educacional, você é um solicitado a responder sobre o corpo humano. ANATOMIA 152 FUNÇÕES DO SISTEMA UROGENITAL Creio que se não todas, pelo menos a maioria das pessoas sabe a principal função do sistema genital masculino e feminino. Todavia, às vezes fico triste e preocupada com a visão que a maioria das pessoas tem a respeito do sistema urinário. Para muitos esse sistema tem apenas a função de “fabricar” urina. No entanto, a verdade é bem diferente. O sistema uri- nário é essencial à homeostasia corpórea e, portan- to, vital. Tal fato justifica o número de pessoas que fazem hemodiálise no Brasil e no mundo, além do número expressivo de doentes renais que aguardam nas filas de transplante de rim. Vamos entender me- lhor este tão importante sistema. O sistema urinário é considerado um sistema osmorregulador que livra o organismo do excesso de água, sais minerais, toxinas, excretas nitrogena- das (como ureia e acido úrico), produtos finais da degradação da hemoglobina, ácido carbônico, me- tabólitos de vários hormônios e outros. Assim, ele atua na homeostase corpórea controlando o volume e a composição do líquido intracelular, extracelu- lar e do sangue por meio da excreção de algumas substâncias e reabsorção de outras por meio de um intenso processo de filtragem. Assim, se você con- siderar o fato de que ele atua indiretamente sobre o volume de sangue, é fácil entender que ele também responde pelo controle indireto da pressão arterial (TORTORA et al., 2010). Já os sistemas genitais têm funções muito seme- lhantes entre si. Ambos formam gametas, possibili- tam a passagem dos mesmos pelos genitais, permi- Sistema Urinário tem o encontro desses gametas (por meio da cópula) e produzem hormônios que garantem as caracterís- ticas sexuais secundárias (testosterona no masculi- no; estrógeno e progesterona no feminino). Adicio- nalmente, o genital feminino permite que o período gestacional seja cumprido, possibilita o trabalho de parto e, se a fecundação não ocorrer, permite a dre- nagem dos produtos menstruais. DIVISÕES DOS SISTEMAS GENITAIS Às vezes, quando vou iniciar uma aula sobre o siste- ma urogenital, peço que alunos façam uma lista das estruturas anatômicas que formam cada um destes sistemas, e percebo muitas pessoas não conhecem seu próprio corpo. Por exemplo, quase sempre afir- mam que pênis e vagina fazem parte do sistema uri- nário (o que não é verdade, pois estes órgãos perten- cem aos sistemas genitais). Para muitos, estruturas anatômicas como glân- dula bulbouretral e o bulbo do vestíbulo são com- pletamente desconhecidas. Além disso, há aqueles que ao visualizar a vulva pensam estar vendo a vagi- na, a qual é um órgão interno. Tanto o sistema genital masculino quanto o femi- nino podem ser divididos em órgãos genitais internos e externos. Os internos ficam alojados na cavidade pélvica e incluem o testículo, epidídimo, ducto defe- rente, glândula seminal, ducto ejaculatório, próstata, uretra e glândula bulbouretral (no sistema genital masculino) e ovário, tuba uterina, útero e vagina (no EDUCAÇÃO FÍSICA 153 sistema genital feminino). Os externos são visíveis à superfície do corpo e incluem pênis e escroto (no sistema genital masculino) e as estruturas da vulva ou pudendo feminino (no sistema genital feminino) (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Só para reforçar, nunca mais se esqueça de que vagina é um órgão interno e não é visível na face externa do corpo em condições normais ou em po- sição anatômica. O que se vê externamente é a vulva. ÓRGÃOS DO SISTEMA URINÁRIO Rim O rim é o órgão central do sistema urinário. Ele é par, de cor avermelhada, em forma de feijão, situado na cavidade abdominal (à direita e à esquerda da coluna vertebral), um pouco acima da linha da cintura. No homem adulto pesa de 125 a 170 gramas e tem cer- ca de 10 cm de comprimento,2 de espessura e 5 de largura. O esquerdo tende a ser um pouco mais com- prido e estreito do que o rim direito, mas em contra- partida, o direito fica levemente mais baixo devido à posição do fígado (DANGELO; FATTINI, 2011). Externamente, o rim é revestido por uma fina bainha de tecido conjuntivo fibroso (a cápsula fi- brosa), sobre a qual existe uma grande quantidade de tecido adiposo formando a cápsula adiposa ou gordura perirrenal. Tanto a cápsula fibrosa quanto a cápsula adiposa auxiliam na proteção e na fixação do rim à cavidade abdominal. Sobre eles está a glândula suprarrenal que per- tence ao sistema endócrino atuando como importan- te produtora de hormônios. Assim, rins, glândulas suprarrenais e ureteres são retroperitoneais (portan- to, pouco móveis). Todavia, tais estruturas podem se movimentar cerca de 3 cm verticalmente durante os movimentos respiratórios e ao ficar em pé ou deitar. Suas principais funções são filtrar o plasma san- guíneo e formar a urina (uropoiese), sintetizar a forma ativa da vitamina D, glicose em casos de je- jum prolongado e eritropoetina (uma glicoproteína que atua na medula óssea estimulando a produção de hemácias). Além disso, o rim também sintetiza renina que é uma enzima produzida por fibras mus- culares lisas das paredes das artérias aferentes, cuja liberação para a corrente sanguínea ocorre quando a pressão arterial cai. Externamente, os rins apresentam duas faces (an- terior e posterior), duas bordas ou margens (medial e lateral) e duas extremidades ou polos (superior e inferior). O polo superior é espesso, arredondado e mais próximo da linha mediana. A margem lateral é convexa e voltada à esquerda, a margem medial é côncava no centro e convexa nas extremidades. Em sua parte central existe um fissura chamada hilo renal que dá passagem às artérias e veias renais, nervos, va- sos linfáticos e pelve renal formando o pedículo renal. Um corte coronal no interior do rim permite identificar, macroscopicamente, uma porção central mais escura denominada medula renal e outra peri- férica mais pálida chamada córtex renal que se pro- jeta em direção à medula formando colunas renais, as quais separam porções cônicas da medula deno- minadas pirâmides renais. A pirâmide e o córtex que a circunda são chamados de lobo renal. As pirâmides têm aspecto estriado (raios medu- lares) e têm as bases voltadas para a superfície do órgão e os ápices voltados para a pelve renal (uma porção dilatada que origina o ureter). Assim, elas se estreitam originando em seu ápice as papilas renais as quais apresentam os forames papilares que rece- bem a urina para lançá-la nos cálices renais meno- res (estes se encaixam nas papilas renais como uma taça, por isso, o nome de cálices). Os cálices renais ANATOMIA 154 menores se unem e formam o cálice renal maior e estes se abrem na pelve renal. Dessa forma, cálices renais menores e maiores, pelve renal, vasos e ner- vos renais ficam alojados em um espaço chamado seio renal onde existe o tecido adiposo do seio renal. (sem proteínas) o qual cai no interior da cápsula glo- merular. A cápsula é um tecido conjuntivo que reco- bre o glomérulo renal e que se prolonga originando o túbulo contorcido proximal, reto e contorcido distal por onde este filtrado circula. Por fim, o ducto coletor recebe a urina formada nos túbulos e a encaminha ao interior dos cálices renais menores, de onde segue aos cálices renais maiores, à pelve e ao ureter. Assim, os cerca de 1500 ml de urina produzidos por dia por uma pessoa saudável chegam até a bexiga urinária. Figura 1 - Rim Como mencionamos a pouco, uma das principais funções do rim é filtrar o sangue e formar urina (esse sangue é trazido aos rins pela porção abdominal da artéria aorta que origina as artérias renais). Para de- sempenhar tal função, o rim é constituído por uni- dades anatomo-funcionais chamadas néfrons que atuam como filtros separando o que deve ser eli- minado e o que deve ser reaproveitado pelo corpo. Existe aproximadamente um milhão de néfron em cada rim, mas, infelizmente, eles vão sendo grada- tivamente destruídos e não se regeneram (a perda dos néfrons está relacionada, dentre outros fatores, à alimentação rica em conservantes, corantes, agro- tóxicos, condimentos, à ingestão de fármacos etc.). O néfron tem a estrutura de um tubo sinuoso, fechado em sua extremidade inicial e aberto em sua extremidade final. Ele é formado pelo glomérulo renal, cápsula glomerular, túbulo contorcido pro- ximal, túbulo reto, túbulo contorcido distal e ducto coletor (TORTORA et al., 2010). O glomérulo renal é um conjunto de capilares fe- nestrados que deixam passar um filtrado de plasma No entanto, esse processo não é tão simples como parece, pois, os rins realizam várias filtragens para que apenas o essencial seja eliminado sem prejuízos ao corpo. Para tanto, esse processo ocorre em três etapas principais: filtragem, reabsorção e secreção. A filtragem de todos os componentes do sangue (exce- to células e proteínas) ocorre no glomérulo renal e, posteriormente, na cápsula glomerular. Figura 2 - Néfron Túbulos renais (néfrons) Artéria renal Veia renal Artéria interlobar Veia interlobar Veia arqueada Artéria arqueada Rim Medula Córtex Néfron Glomérulo Túbulo distal Artéria arqueada Veia arqueada Túbulo proximal Duto coletor Direção do �uxo sanguíneo Arteríola eferente Arteríola aferente Cápsula glomerular Capilares peritubulares Vista externa do rim Ureter Vista interna do rim Pirâmides renais Córtex renal EDUCAÇÃO FÍSICA 155 Assim, são produzidos cerca de 180 litros de ultrafiltrado por dia. Na sequência, ocorre a reab- sorção de substâncias essenciais que não estão em excesso (como aminoácidos, vitaminas e glicose) e 99% da água filtrada. Por último, durante a secreção, substâncias em excesso do líquido intersticial são removidas (como drogas, catabólitos ou excretas e toxinas) formando a urina. Como curiosidade, vale esclarecer sobre os cál- culos renais (popularmente conhecidos como “pe- dras nos rins”). Eles podem ser encontrados nos cálices renais menores e maiores, na pelve renal, no ureter e na bexiga urinária obstruindo o fluxo da urina e provocando a contração da musculatura do ureter (o que desencadeia uma forte dor aguda). Além disso, sua presença pode causar lesões geran- do hematúria (sangue na urina). Os principais fato- res que predispõem sua formação incluem baixa in- gestão de água, excesso de ingestão de carnes, leites, queijos, vitamina C e D, alterações na reabsorção de cálcio, hiperparatireoidismo, repouso prolongado, utilização excessiva de antiácidos que contenham cálcio e predisposição genética. Ureter O ureter é um tubo músculo-membranoso estreito e longo (no adulto tem de 25 a 30 cm de comprimen- to). Ele inicia no hilo renal e desemboca na bexiga urinária. Assim, sua função é conduzir a urina pro- duzida no rim até à bexiga urinária onde a mesma fica armazenada até a micção. Devido sua consti- tuição muscular, ele é capaz de se contrair e realizar movimentos peristálticos (WATANABE, 2000). Em seu trajeto do rim até a bexiga, o ureter desce justaposto à parede abdominal e à parede pélvica, passando posteriormente ao peritônio (ou seja, é re- troperitoneal e imóvel). Dessa forma, ele apresenta três porções: a abdominal, a pélvica e a intramural (quando atravessa a parede da bexiga). Quando os ureteres atravessam a parede muscu- lar da bexiga urinária, eles o fazem de maneira oblíqua formando uma válvula unidirecional que, junto com a pressão interna da bexiga ocasionada pelo seu enchi- mento, impede o refluxo da urina em direção ao ureter. Além disso, as contrações musculares da bexiga tam- bém atuam como um esfíncter impedindo tal refluxo. Figura 3 - Órgãos do sistema urinário Figura 4 - Ureter Rim esquerdoRim direito Ureter direito Ureter esquerdo Bexiga urinária ANATOMIA 156 Bexiga Urinária A bexiga urinária é um órgão ímpar que ficalocali- zado, após a puberdade, na cavidade pélvica (no feto e no recém-nascido ela se localiza na cavidade abdo- minal). Embora seja oca, ela é constituída por fortes paredes musculares que se distendem para permi- tir que sua função de armazenamento de urina seja possível (normalmente, ela pode armazenar de 350 ml a 1,5 litros de urina). Sua forma, tamanho, relação com órgãos vizi- nhos e situação variam de acordo com suas fases de vacuidade, com a idade e o sexo do indivíduo. No adulto, por exemplo, quando ela está vazia, fica achatada contra a sínfise púbica, mas quando está cheia, ela assume uma forma ovoide que se salienta na cavidade abdominal. De igual modo, sua posi- ção anatômica é diferente no homem e na mulher. Enquanto, no homem ela fica localizada à frente do reto, na mulher o útero fica interposto entre ela e o reto (FREITAS, 2004). A bexiga apresenta uma face superior, duas faces ínfero-laterais e uma face posterior (também cha- mada de fundo ou base da bexiga). Seu ápice aponta para a sínfise púbica; seu fundo é convexo e oposto ao ápice; seu corpo é considerado sua parte principal localizada entre o ápice e o fundo; seu colo é inferior (MOORE et al, 2001). Além disso, a superfície inter- na da bexiga apresenta vários acidentes anatômicos (como o óstio do ureter, o óstio interno da uretra, o trígono vesical e a úvula da bexiga). Todavia, estes acidentes não serão detalhados nesta unidade, pois não fazem parte da vida diária do profissional de educação física. Como vimos anteriormente, a bexiga urinária é constituída por músculos fortes que apresentam fi- bras lisas dispostas em espiral, cuja contração pro- voca o esvaziamento da bexiga. Vale destacar que a micção é um mecanismo reflexo desencadeado pela distensão da bexiga. Esse mecanismo depende da atividade do sistema nervoso autônomo, mas pode ser influenciado voluntariamente por meio da ação de músculos do abdome e do períneo (que veremos ao fim desta unidade). Uretra A uretra é considerada o segmento terminal do sistema urinário. Ela é um tubo mediano cuja fun- ção é conduzir a urina até o meio externo. Parti- cipam de sua constituição tecido conjuntivo, mús- culo liso e mucosa (elástica e rica em glândulas) (DI DIO, 2002). Figura 5 - Bexiga urinária Cérvix Ovário Reto ÂnusVagina Uretra Bexiga urinária Útero Tuba uterina EDUCAÇÃO FÍSICA 157 Há diferenças entre a uretra masculina e femini- na. A feminina é muito curta (aproximadamente 4 cm) e se destina apenas à passagem de urina. Ela se abre para o meio externo por meio do óstio externo da uretra, um pequeno orifício localizado entre os lábios menores do pudendo, próximo ao clitóris e ao óstio da vagina. Em contrapartida, a uretra masculina é longa (aproximadamente 20 cm), sinuosa e se destina à passagem de urina e de sêmen durante a ejacula- ção (assim, ela pertence tanto ao sistema urinário quanto ao sistema genital masculino). Por isso, ela é dividida em quatro partes: uretra pré-prostática ou intramural, uretra prostática, uretra membranácea e uretra esponjosa. Enquanto a uretra intramural tem diâmetro e comprimento variáveis de acordo com o enchimen- to da bexiga, a uretra prostática é completamente circundada pela próstata e dela recebe secreção (pe- los dúctulos prostáticos), além de receber o sêmen (pelos ductos ejaculatórios). A uretra membranácea penetra a membrana do períneo e termina ao en- trar no pênis. Próximo a esta parte da uretra estão as glândulas bulbouretrais (que serão estudadas em breve ainda nesta unidade). Por fim, a uretra esponjosa começa na extremi- dade distal da uretra membranácea e termina no óstio externo da uretra (um pequeno orifício loca- lizado na região central da glande do pênis). Essa porção da uretra é longa e está envolvida pelo cor- po esponjoso do pênis (por isso, recebe este nome). Nela se abrem as glândulas bulbouretrais. Figura 6 - Comparação entre a uretra masculina e feminina A uretra pode ser acometida por processo inflamatório caracterizando o quadro clínico de uretrite. Se a inflamação progredir em di- reção à bexiga urinária, ocorrerá cistite (que é mais comum em mulheres devido à pequena dimensão da uretra). Se o ureter for acometi- do ocorrerá ureterite e se a inflamação atingir os rins ocorrerá nefrite. Além disso, nos ho- mens pode ter propagação para a próstata causando prostatite. Fonte: Copacabana Runners (on-line)1. SAIBA MAIS ANATOMIA 158 ÓRGÃOS DO SISTEMA GENITAL MASCULINO Testículo Os testículos são duas glândulas ovais, achatadas no sentido látero-lateral, que produzem continuamen- te, a partir da maturidade sexual, os gametas mascu- linos (os espermatozoides) e o hormônio testostero- na (MOORE et al., 2014). Na vida intrauterina, ele se desenvolve no inte- rior do abdome (próximo aos rins), mas à medida que a gestação avança, o testículo desce e se posi- ciona no interior do escroto onde é palpável ao nascimento. É fundamental que esse processo de migração se complete antes da puberdade para que os testículos fiquem alojados externamente à parede da pelve, pois, a temperatura intra-abdominal (36 a 37°C) poderia comprometer a produção dos esper- matozoides tornando o indivíduo estéril (pois para a espermatogênese o ideal é 35°C). Por isso, a não descida do testículo (chamada criptorquidia) pode ser corrigida cirurgicamente. Em geral, o testículo esquerdo é inferior ao di- reito e eles são separados por um septo de tecido conjuntivo (chamado septo do escroto) que é per- cebido externamente como a rafe do escroto (uma espécie de “costura” mais escura visível na superfície externa do escroto). Adicionalmente, a superfície do testículo é re- vestida por tecido conjuntivo muito resistente cha- mado túnica albugínea, e por um saco seroso duplo chamado túnica vaginal que emite septos para o in- terior do testículo dividindo-o em lóbulos onde se encontra o parênquima do testículo. Os ápices dos lóbulos convergem e formam o mediastino do testí- culo que é uma massa de tecido fibroso. Nos lóbulos existem muitos ductos finos, longos, sinuosos e de calibre quase capilar que são chama- dos de túbulos seminíferos contorcidos que formam os espermatozoides. Esses túbulos convergem para o mediastino do testículo e se anastomosam para for- mar os túbulos seminíferos retos, os quais se entre- cruzam formando uma rede que desemboca em 15 a 20 dúctulos eferentes que se destinam à cabeça do epidídimo. Assim, o espermatozoide produzido no testículo é encaminhado ao epidídimo. Sistema Genital Masculino EDUCAÇÃO FÍSICA 159 Como o testículo se posiciona externamente à pa- rede da pelve e os outros órgãos do sistema genital masculino estão no interior dela, várias estruturas entram e saem do testículo formando o funículo espermático que é envolto pela fáscia espermática interna, fáscia espermática externa e pela fáscia cre- mastérica. O funículo espermático percorre uma es- pécie de túnel através da parede do abdome, o canal inguinal, o qual pode apresentar hérnias inguinais. Dentre as estruturas que o percorrem destacam-se as veias testiculares cujo aparecimento de varizes caracteriza uma condição patológica chamada va- ricocele que leva ao acúmulo de sangue venoso no testículo reduzindo a espermatogênese e podendo causar infertilidade. Assim, é importante salientar que na bolsa es- crotal não fica apenas o testículo, mas também o epidídimo, parte do ducto deferente e do funículo espermático. É uma região extremamente inervada e, portanto, muito sensível porque representa o local onde a espermatogênese ocorre. Dessa forma, a sen- sibilidade faz com que os homens protejam todo o conteúdo da bolsa escrotal a fim de que os esperma- tozoides sejam bem formados e hábeis à fecundação e geração de novos indivíduos saudáveis. Epidídimo O epidídimo (que muitas pessoas desconhecem onde fica e para que serve) é um órgão par, em for- ma de tubo enovelado com aspecto de meia lua, cuja funçãoé o armazenamento temporário e a ma- turação dos espermatozoides (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Ele se entende da borda posterior do testículo até o ducto deferente e apresenta cabeça, corpo e cauda. A cabeça é uma região mais dilatada que fica na extremidade superior do testículo; o corpo é afilado e formado pelo ducto contorcido do epi- dídimo; a cauda é sua parte inferior, contínua com o ducto deferente. Figura 7 - Testículo Figura 8 - Epidídimo Anatomia do testículo Plexo pampiniforme Ducto deferente Testículo Epidídimo Artéria testícular ANATOMIA 160 Ducto deferente O ducto deferente é órgão par, com cerca de 30 cm de comprimento, cuja função é permitir a passagem dos espermatozoides da cauda do epidídimo até a próstata, à medida que eles amadurecem. Por isso, é considerado o canal excretor do testículo (DANGE- LO; FATTINI, 2011). Para tanto, o ducto deferente deixa o escroto, sobe pelo funículo espermático, comunica-se com as glândulas seminais (por meio dos ductos das glândulas seminais) e penetra a próstata onde ori- ginam o ducto ejaculatório. Por isso, ele apresenta uma parte escrotal, funicular, inguinal, pélvica e a ampola do ducto deferente (parte alargada que se une ao ducto da glândula seminal para formar o ducto ejaculatório). Como apresenta músculo liso em sua parede, no momento que precede a ejaculação, o ducto defe- rente se encurta e ao mesmo tempo amplia sua luz, funcionando como uma câmera de pressão negativa que atrai os espermatozoides para o seu interior. A seguir, ele se contrai expulsando-os em direção ao ducto ejaculatório. Glândula seminal A glândula seminal também é um órgão par, forma- do por estruturas tubulares enoveladas em fundo cego, com cerca de 5 cm de comprimento. Situa-se posteriormente à bexiga urinária e acima da prósta- ta e é constituída de músculo liso e tecido conjuntivo fibroso (WATANABE, 2000). Figura 9 - Ducto deferente Quando um homem deseja ser esterilizado, a vasectomia é uma excelente opção. Nesse pro- cedimento cirúrgico, o ducto deferente é sec- cionado de forma que, durante a ejaculação ocorre apenas a eliminação de líquido seminal sendo os espermatozoides reabsorvidos. REFLITA Figura 10 - Glândula seminal Sua função é secretar um líquido seminal alcalino, espesso, rico em frutose, que ativa o movimento dos espermatozoides e contribui para a nutrição dos mesmos. Esse líquido representa cerca de 60% do conteúdo eliminado durante a ejaculação. Inferior- Ducto deferente direito Ducto deferente esquerdo Glândula seminal EDUCAÇÃO FÍSICA 161 mente, a extremidade da glândula seminal torna-se estreita e ereta formando o ducto da glândula semi- nal, que como mencionado anteriormente, une-se ao ducto deferente formando o ducto ejaculatório dentro da próstata. Lembra? Próstata A próstata é considerada a maior glândula acessória do sistema genital masculino, pois tem cerca de 3 cm de comprimento, 4 de largura e 2 de profundidade ântero-posterior. Embora seja pouco desenvolvida ao nascimento, ela cresce da puberdade até em tor- no dos 30 anos de idade, e depois diminui após os 40 anos (DI DIO, 2002). Ela tem dois lobos laterais (direito e esquerdo) e um lobo mediano (o istmo da próstata). Localiza- -se na pelve, em posição mediana, logo, abaixo da bexiga urinária. Assim, apresenta uma base (voltada à bexiga urinária), um ápice (voltada aos músculos do períneo), uma face anterior muscular (separada da sínfise púbica por gordura), duas faces ínferolate- rais (voltadas ao músculo levantador do ânus) e uma face posterior (voltada ao reto). Sua proximidade com o reto explica o fato dela poder ser palpada por meio do toque retal para auxiliar no diagnóstico de hiperplasia de próstata. Externamente, a próstata é envolta por uma cáp- sula fibrosa densa neurovascular e pela fáscia visceral da pelve. Em sua constituição estão presentes múscu- lo liso, tecido conjuntivo fibroso e glândulas (um ter- ço de sua composição é fibromuscular e dois terços é glandular, pois, ela apresenta de 30 a 50 glândulas). Tais glândulas secretam o líquido prostático que, além de ativar a movimentação dos esper- matozoides, é alcalino e neutraliza a acidez do lí- quido proveniente do ducto deferente e da vagina. Esse líquido representa cerca de 30% do volume ejaculado e é fundamental para dar o odor carac- terístico do sêmen. Como a próstata é atravessada em toda a sua extensão pela uretra, a secreção de suas glândulas é lançada diretamente na porção prostática da uretra por meio de vários dúctulos prostáticos. Sua cápsula e fibras musculares se contraem forçando o líquido prostático em direção à parte prostática da uretra. Não confunda espermatozoide (gameta mascu- lino), líquido seminal ( produzido pelas glându- las seminais e próstata, não tem gameta) e es- perma ou sêmen (gameta mais líquido seminal). REFLITA Figura 11 - Próstata Ducto ejaculatório O ducto ejaculatório é o último e menor segmento das vias espermáticas (tem cerca de 2 cm de com- primento). Ele é ímpar e, como já vimos, resulta da união do ducto da glândula seminal com o ducto de- ferente. Assim, atravessa a próstata e desemboca na parte prostática da uretra (FREITAS, 2004). ANATOMIA 162 Glândula bulbouretral A glândula bulbouretral é uma pequena estrutura anatômica (do tamanho de uma ervilha), localizada à direita e à esquerda da parte inicial da uretra mem- branosa, junto ao bulbo do pênis (TORTORA et al., 2010). Sua função é produzir, durante o período de excitação sexual que antecede a ejaculação, uma se- creção mucosa e alcalina que, além da função lubri- fi cante, contribui para neutralizar o pH da uretra e eliminar resíduos de urina. Essa secreção é lançada na parte esponjosa da uretra pelos ductos das glân- dulas bulbouretrais (como já vimos). Figura 12 - Ducto ejaculatório e glândula bulbouretral Uretra A uretra já foi estudada por ocasião do sistema uri- nário, mas você deve lembrar que, para o homem, ela é comum tanto ao sistema urinário (pois se destina à passagem da urina) quanto ao sistema genital mas- culino (pois se destina à passagem do sêmen durante a ejaculação). Além disso, também vale lembrar que há inúmeras diferenças entre a uretra masculina e a feminina. Assim, neste tópico, revisaremos apenas a uretra masculina, enquanto, pertencente ao sistema genital masculino. A uretra é um tubo mediano sinuoso e longo (com aproximadamente 20 cm de comprimento), constituído por tecido conjuntivo, músculo liso e mucosa (elástica e rica em glândulas). Além disso, é dividida em uretra pré-prostática ou intramural, uretra prostática, uretra membranácea e uretra es- ponjosa (MOORE et al., 2014). Enquanto, a uretra intramural tem diâmetro e comprimento variáveis de acordo com o enchi- mento da bexiga (pois a atravessa), a uretra pros- tática é completamente circundada pela próstata e dela recebe secreção prostática (pelos dúctulos prostáticos), além de receber o sêmen (pelos duc- tos ejaculatórios). A uretra membranácea penetra a membrana do períneo e termina ao entrar no pênis. Próximo a esta parte da uretra estão as glândulas bulbouretrais. Por fi m, a uretra esponjosa começa na extremidade dis- tal da uretra membranácea e termina no óstio ex- terno da uretra (um pequeno orifício localizado na região central da glande do pênis). Esta porção da uretra é longa e está envolvida pelo corpo esponjoso do pênis (por isso, recebe este nome). Nela se abrem as glândulas bulbouretrais. O ducto ejaculatório se forma dentro da próstata As glândulas bulbouretrais se localizam na raiz do pênis EDUCAÇÃO FÍSICA 163 Pênis O pênis é um órgão ímpar localizado na região pu- denda. Sua principal função é possibilitar o coito por meio da penetração na estrutura de cópula do sistema genital feminino (a vagina) a fi m de nela lançar os espermatozoides (WATANABE, 2000). Em sua constituição existem três longas massas cilíndricas de tecido lacunar erétil quesão os dois corpos cavernosos e o corpo esponjoso. Os corpos cavernosos são constituídos por muitas trabéculas de tecido conjuntivo fi broso, fi bras elásticas e mús- culo liso revestido por células endoteliais que dei- xam entre si espaços por onde passam as artérias profunda e dorsal do pênis. No plano mediano eles são fundidos um ao ou- tro, mas, posteriormente, separam-se para formar os ramos do pênis os quais fazem a fi xação do pênis aos ossos do quadril (ísquio e púbis). Esses corpos formam o maior volume do pênis e abrigam o cor- po esponjoso. Por sua vez, o corpo esponjoso con- tém a parte esponjosa da uretra e apresenta uma dilatação anterior chamada glande, e outra poste- rior, chamada bulbo, que se prende às estruturas do assoalho da pelve. Todavia, é importante ressaltar que além dos corpos cavernosos e do corpo esponjoso, o pênis também é formado por vasos sanguíneos, vasos linfáticos e é revestido por uma pele fi na, sensível, elástica, lisa, de cor escura e frouxamente presa à tela subcutânea. Além disso, tanto os corpos caver- nosos quanto o corpo esponjoso são revestidos por fáscias e túnicas fi brosas (como a túnica albugínea, e a fáscia superfi cial e profunda do pênis) as quais favorecem o ingurgitamento de sangue e predis- põem a ereção. No pênis distinguem-se três regiões: raiz, corpo e glande. A raiz é onde ele se origina, ou seja, sua porção fi xa formada pelos ramos e bulbo do pênis, e pelos músculos isquiocavernoso e bulboesponjo- so. O corpo é sua parte pendular livre e móvel onde estão os corpos cavernosos e o corpo esponjoso. Já a glande é sua extremidade distal dilatada onde o ós- tio externo da uretra se abre. A glande fi ca superfi cialmente separada do res- to do corpo do pênis por uma constrição, o colo da glande e apresenta uma borda proeminente chama- da coroa da glande onde existem glândulas prepu- ciais produtoras de uma secreção de odor caracte- rístico (o esmegma). Além disso, a glande é coberta por uma pele fi na que forma uma prega retrátil cha- mada prepúcio, o qual apresenta inferiormente um freio que limita sua mobilidade. Figura 13 - Pênis Corpo do pênis. Observe como a uretra esponjosa percorre todo o corpo esponjoso do pênis ANATOMIA 164 Se a abertura do prepúcio for estreitada impe- dindo a exposição da glande, ocorre uma condição patológica chamada fimose. Tal condição, além de dificultar o coito, atrapalha a higienização do pênis o que é extremamente preocupante haja vista a glan- de apresentar inúmeras glândulas sebáceas e prepu- ciais produtoras de sebo e esmegma. Além disso, o acúmulo de esmegma pode fazer com que micro-or- ganismos de proliferarem e invadam a uretra cau- sando infecção. Muitas vezes, podem não aparecer sintomas graves, mas surge odor desagradável e pru- rido (coceira). Assim, quando a fimose é diagnostica uma correção cirúrgica pode ser indicada. Por fim, vale destacar que dois ligamentos prendem-se ao pênis (o ligamento fundiforme e o ligamento suspensor do pênis) e que, interna- mente, os corpos cavernosos são separados pelo septo do pênis. Escroto ou bolsa escrotal O escroto é uma bolsa fibromuscular cutânea que fica situada inferiormente à sínfise púbica e, pos- teriormente, ao pênis, permanecendo pendente na região urogenital. Sua principal função é conter o testículo fora da cavidade pélvica cuja temperatu- ra (37ºC) é superior à temperatura ideal para a es- permatogênese (35ºC) (MIRANDA NETO; CHO- PARD, 2014). Ele é dividido pelo septo do escroto em dois compartimentos, os quais contêm um testículo, um epidídimo, a parte inferior do funículo espermáti- co e seus envoltórios. Vale destacar que, embora o testículo fique contido em seu interior, ele apresenta relativa mobilidade dentro do escroto. A bolsa escrotal possui várias camadas, sendo as prin- cipais a pele, a túnica dartos e a túnica vaginal. A pele é relativamente fina, muito pigmentada, com poucos pelos e muitas glândulas sebáceas e sudoríferas cuja sudorese ajuda a eliminar o calor. Ela é marcada ex- ternamente por uma crista mediana chamada rafe do escroto a qual continua anteriormente com a rafe do pênis e posteriormente com a rafe do períneo. A túnica dartos é aderida à pele e formada por fibras musculares lisas fundamentais para a termor- regulacão. Por exemplo, a contração das fibras deter- mina o aspecto enrugado da pele por influência do frio, exercício ou estímulo do músculo oblíquo inter- no do abdome. Além disso, sua contração ajuda os músculos cremasteres a manterem os testículos mais próximos do corpo para reduzir a perda de calor. Figura 14 - Bolsa escrotal Bolsa escrotal. Observe como a bolsa escrotal abriga e protege não só o testículo, mas também o epidídimo e o ducto deferente EDUCAÇÃO FÍSICA 165 Por fim, a túnica vaginal é uma serosa deri- vada do peritônio que acompanha os testículos durante sua migração do abdome para o escroto. Embora o escroto também possa ser chamado de bolsa escrotal, ele não deve ser chamado de saco escrotal, está bem? EREÇÃO Estímulos físicos (como o toque) e psíquicos (como um pensamento relacionado à sexualida- de) desencadeiam uma resposta do sistema nervo- so autônomo parassimpático a partir do segmento sacral da medula espinal de onde partem fibras nervosas até o pênis. Essas fibras, em contraste com a maioria das fibras parassimpáticas, secre- tam óxido nítrico (NO) que causa relaxamento dos músculos lisos das artérias do pênis (vasodila- tação) e da rede de trabéculas do tecido erétil dos corpos cavernosos e esponjoso fazendo o sangue fluir rapidamente para enchê-lo. Concomitantemente, a túnica albugínea do pê- nis entra em tensão, comprime os espaços caverno- sos e bloqueia a saída do sangue pelas vênulas e veias causando o completo enchimento dos lagos venosos e o enrijecimento peniano. Além disso, a contração reflexa do músculo isquiocavernoso ajuda a aumen- tar a pressão nos espaços cavernosos. Posteriormente, o sistema nervoso autônomo simpático age desencadeando a ejaculação e causan- do vasoconstrição arterial a fim de reduzir o fluxo de sangue para os corpos cavernosos. Assim, a saída de sangue pelas veias faz com que o pênis volte a seu estado de flacidez (MOORE et al., 2014). Vale destacar que problemas psicológicos, ten- sões emocionais e insuficiências vasculares (co- muns em idosos, diabéticos, hipertensos, sedentá- rios e fumantes) podem causar impotência sexual. Além disso, o fumo afeta diretamente a função erétil devido seu efeito vasoconstritor e à predis- posição que causa às doenças degenerativas da pa- rede arterial. EJACULAÇÃO A ejaculação é caracterizada como a eliminação do sêmen pelo óstio externo da uretra. Normalmente, ela ocorre no momento do orgasmo ou durante o sono (sendo chamada de polução noturna) e é de- sencadeada por impulsos do sistema nervoso autô- nomo simpático provenientes dos segmentos lom- bares da medula espinal. Assim, estímulos são enviados pelo nervo pu- dendo até à medula espinal a qual, em resposta, esti- mula os músculos estriados esqueléticos localizados em torno do tecido erétil da raiz do pênis causando sua contração, compressão da uretra e possibilitan- do a ejaculação. Por isso, em casos de secção da me- dula espinal o indivíduo perde o controle da ejacu- lação (MOORE et al., 2014). ANATOMIA 166 ÓRGÃOS INTERNOS DO SISTEMA GENI- TAL FEMININO Ovário De acordo com Dangelo e Fattini (2011), o ovário é um órgão par, de forma oval, que repousa na fossa ovárica. Ele tem cerca de 3 a 4 cm (embora, diminua de tamanho com o envelhecimento) e apresenta con- sistência firme (que aumenta com a idade). Sua função é produzir, ao final da puberdade, gametas femininos (os ovócitos) e hormônios (estrógeno e progesterona). É interessante ressaltar que, embora o ovário fi- que suspenso na cavidade peritoneal pélvica, sua su- perfície não é coberta pelo peritônio. Tal fato faz com que o ovócito expelido durante a ovulação passe para a cavidadeperitoneal até ser aprisionado pelas fím- brias do infundíbulo da tuba uterina e conduzido até a ampola da tuba uterina onde poderá ser fertilizado. Nas mulheres pré-púberes, a cápsula de tecido conjuntivo (túnica albugínea do ovário) que forma sua superfície é coberta por uma lâmina lisa de me- sotélio ovariano. Depois da puberdade, ocorrem fi- brose e distorção progressiva do epitélio superficial ovariano em razão das cicatrizes deixadas pelas su- cessivas ovulações. Assim, o ovário se torna branco/ acinzentado e rugoso (antes da primeira ovulação ele é liso e rosado). O ovário passa por trás do ligamento largo do útero que se prende. Na realidade, cada ovário é suspenso por uma curta prega peritoneal, chamada mesovário que é uma subdivisão do ligamento lar- go do útero. Todavia, outros ligamentos o mantém em posição prendendo-o a formações vizinhas, com o ligamento útero-ovárico, ligamento suspensor do ovário e ligamento próprio do ovário. Sistema Genital Feminino Figura 15 - Ovário Vista externa do ovário Vista interna do ovário EDUCAÇÃO FÍSICA 167 Tuba Uterina A tuba uterina é uma estrutura anatômica tubular cuja principal função é transportar os ovócitos e os espermatozoides. Esse processo é facilitado pelo fato de sua superfície interna apresentar pregas longitu- dinais (as pregas tubárias), que lhe conferem um as- pecto labiríntico útil para a captação e transporte do ovócito e do espermatozoide por meio de seu com- primento (FREITAS, 2004). A tuba uterina é dividida em infundíbulo, am- pola, istmo e parte uterina. O infundíbulo é sua extremidade distal. É alongado em forma de funil, justaposto ao ovário, móvel e com franjas (fím- brias). Como já mencionado, ele se abre na cavi- dade peritoneal por meio do óstio abdominal da tuba. A ampola é sua parte mais longa e larga, é móvel e representa o local onde a fecundação nor- malmente ocorre. Enquanto o istmo é uma porção estreitada com parede espessa que adentra o útero, a parte uterina ou intramural atravessa a parede do útero abrindo-se na cavidade uterina através do óstio uterino da tuba. Figura 16 - Tuba uterina À semelhança do ovário, a tuba uterina também está situada em uma prega peritoneal, a mesos- salpinge, incluída na borda superior do ligamento largo do útero. Por isso, durante a gestação, ela e o ovário são deslocados junto com o útero. Embora a tuba tenha cerca de 10 cm de comprimento, sua luz é estreita. Ela apresenta uma extremidade me- dial (que se comunica com útero pelo óstio uterino da tuba) e uma extremidade lateral (que se comu- nica com a cavidade peritoneal por meio do óstio abdominal da tuba). Assim, na mulher o peritônio se comunica com o meio externo por meio do ós- tio da vagina. Tal comunicação não ocorre no sexo masculino uma vez que a cavidade peritoneal é completamente fechada no homem. Gravidez ectópica é a gestação que ocorre fora da cavidade uterina. Ela pode se dar, por exemplo, na tuba uterina (conhecida como gravidez tubária). As causas incluem diversos fatores que retardam ou impedem a passa- gem do ovo ou zigoto para a cavidade uterina os quais podem ser mecânicos, funcionais, decorrentes do próprio processo de envelhe- cimento ou de drogas hormonais. Fonte: Minha Vida (on-line)2. SAIBA MAIS Útero O útero é um órgão cavitário, eminentemente mus- cular, situado na pequena pelve entre a bexiga uri- nária e o reto. Ele é envolto pelo ligamento largo do útero, tem cerca de 7 cm de comprimento, 5 de lar- gura e pesa aproximadamente 90 gramas, mas pode se dilatar ao ponto de abrigar gêmeos, trigêmeos, quadrigêmeos em seu interior. Tem a forma de uma pera invertida, mas não é totalmente mediano, pois Tuba uterina direita Tuba uterina esquerda ANATOMIA 168 quase sempre está deslocado à direita. Todavia, sua forma, tamanho, posição e estrutura podem variar dependendo da idade, do estado gestacional e da va- cuidade da bexiga e do reto (DI DIO, 2002). Sua função principal é alojar o embrião para que se desenvolva durante todo o período em- brionário. Todavia, ele também atua por meio de contrações musculares facilitando o parto por via vaginal (parto normal). O útero apresenta duas partes essenciais, o cor- po e o colo. O corpo é sua porção principal situa- da entre as lâminas do ligamento largo através de suas bordas direita e esquerda. Apresenta uma face anterior ou vesical (separada da bexiga pela escava- ção vésico-uterina) e uma face posterior ou intesti- nal (separada do reto pela escavação retouterina). É móvel e se comunica lateralmente com as tubas uterinas. A porção arredondada do corpo que fica acima do ponto onde esta comunicação ocorre é chamada de fundo do útero. No interior do corpo do útero existe a cavidade uterina a qual é estreita no período não grávido. O colo do útero é dividido em porção vaginal (que se projeta para a vagina e circunda o óstio do útero) e porção supravaginal (acima da vagina). No colo, a cavidade uterina é estreita e passa a ser cha- mada de canal do colo do útero. Corpo e colo se separam por meio do istmo do útero (uma região inferior, curta e estreitada). A parede do corpo do útero apresenta três ca- madas: o perimétrio, o miométrio e o endométrio. O perimétrio é externo e representado pelo peri- tônio. O miométrio fica interposto entre as outras duas camadas e forma a maior parte da parede do útero. Ele é constituído por músculo liso o qual permite o aumento do volume do útero durante a gravidez e a contração que inicia o trabalho de parto forçando o concepto em direção ao canal do colo do útero. Após o parto, ele continua a se con- trair para rearranjar seus componentes e voltar ao tamanho aproximado do que tinha antes da gravi- dez. Tais contrações são importantes também para promover um pinçamento dos vasos sanguíneos que se rompem durante o deslocamento da placen- ta impedindo quadros hemorrágicos. O endométrio é a camada mucosa interna que participa do ciclo menstrual. Mensalmente, ele se prepara para receber o zigoto tornando-se espesso e rico em capilares. Todavia, não ocorrendo a fecun- dação, este espessamento do endométrio se descama eliminando sangue por meio do óstio da vagina (fe- nômeno conhecido como menstruação). Além dis- so, sob a influência do estrógeno e da progesterona, o endométrio sofre modificações com as fases do período menstrual, uterino ou gravídico. Normalmente, o útero forma um ângulo de 90º com a vagina (é antevertido) e se flete anteriormen- te em relação ao colo (é antefletido). Seu posicio- namento é mantido por importantes ligamentos os quais, com o envelhecimento e em decorrência da menopausa, podem se tornar menos resistentes e flácidos. Tal fato é explicado em função da menor produção de estrógeno e, consequentemente, redu- ção na síntese de colágeno que os compõe. Com isso, o útero pode migrar em direção a vagina (prolapso uterino) e alterar a posição da bexiga e a angulação da uretra podendo causar, dentre outros sinais, in- continência urinaria. Vagina O nome vagina significa bainha e lhe foi atribuído em decorrência do fato dela envolver o pênis duran- te a penetração. Assim, sua principal função está re- lacionada à cópula, mas também participa como um EDUCAÇÃO FÍSICA 169 canal para passagem da menstruação e representa a parte inferior do canal de parto (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). A vagina é um tubo musculomembranáceo ím- par, mediano, com cerca de 8 cm de comprimento, cujas paredes normalmente estão colabadas forman- do uma fenda ântero-posterior. Ela se situa poste- riormente à bexiga urinária e à uretra e, anterior- mente, ao reto. Tem direção oblíqua para baixo e para frente de forma que sua parede anterior é mais curta do que a posterior. Além disso, sua extremi- dade superior circunda o colo do útero permitindo sua comunicação com a cavidade uterina (através do óstio do útero). Inferiormente, ela se comunica com o meio externo por meio do óstio da vagina. O óstio davagina é parcialmente fechado nas virgens. Esse fechamento é realizado pelo hímen - uma membrana delgada de tecido conjuntivo pouco vascularizada. A forma e o tamanho do hímen são variáveis podendo apresentar uma única abertura ou ser cribriforme (todo perfurado). Todavia, im- perfurações ou agenesia no hímen são raras. Após sua ruptura (que não é dolorosa e nem provoca he- morragia), permanecem pequenos fragmentos cha- mados de carúnculas himenais. A vagina é constituída por três túnicas, a exter- na ou adventícia (formada por tecido conjuntivo), a média (formada por músculo liso) e a mucosa (re- sistente e elástica, com rugas vaginais que tendem a desaparecer). Na mucosa, além de glândulas pro- dutoras de muco, existem células que, sob a ação do estrógeno, sintetizam glicogênio e partículas de gorduras que são utilizados por lactobacilos da flora vaginal resultando na produção de ácido lático. Esse ácido abaixa o pH da vagina protegendo-a contra microrganismos patogênicos (que poderiam causar vaginite) e paralisa os espermatozoides. ÓRGÃOS EXTERNOS O conjunto das estruturas anatômicas externas do sistema genital feminino é chamado de vulva ou pudendo feminino. Incluem o monte do púbis, os lábios maiores e menores do pudendo, o clitóris, o bulbo do vestíbulo e as glândulas vestibulares maio- res e menores. De maneira geral, tais estruturas ser- vem para orientar o fluxo da urina, evitar a entra- da de material estranho no trato urogenital e como tecido sensitivo e erétil para a excitação e a relação sexual (TORTORA et al., 2010). Figura 17 - Útero e vagina Figura 18 - Vulva Cérvix Ovário Reto ÂnusVagina Uretra Bexiga urinária Útero Tuba uterina Anatomia da Vulva Monte do púbis Clitóris Lábio menor do pudendo Óstio da uretra Lábio maior do pudendo Vagina Ânus Anatomia da vulva ANATOMIA 170 Monte do púbis O monte do púbis é uma elevação mediana, anterior à sínfise púbica e contínua com a parede abdominal anterior. Ele é limitado lateralmente pelas pregas inguinais. Sua constituição inclui, principalmente, tecido adiposo (cuja quantidade é maior na puber- dade e menor após a menopausa) e pelos espessos (após a puberdade). Lábio maior do pudendo O lábio maior do pudendo é um prega cutânea alongada, constituída de tecido conjuntivo frouxo e músculo liso. Sua principal função é dar proteção indireta ao clitóris, ao óstio da uretra e ao óstio da vagina. Após a puberdade, apresenta-se hiperpig- mentado, com muitas glândulas sebáceas e pelos, embora sua face interna permaneça sempre lisa e rosada. O lábio direito e o esquerdo delimitam en- tre si uma fenda chamada rima do pudendo e suas extremidades anteriores e posteriores se unem for- mado, respectivamente, a comissura labial anterior e a comissura labial posterior (esta última segue em direção ao ânus). Lábio menor do pudendo O lábio menor do pudendo é uma prega cutânea lo- calizada medialmente ao lábio maior. Na criança e na idosa, ele é mais volumoso do que o lábio maior devido à maior quantidade de tecido adiposo que apresenta. No vivente, a pele que o recobre é lisa, úmida e vermelha. Ele apresenta tecido conjuntivo esponjoso contendo tecido erétil, muitos pequenos vasos sanguíneos, glândulas sebáceas e terminações nervosas sensitivas. O espaço entre o lábio menor direito e esquerdo é chamado de vestíbulo da vagina. Nele se apresen- tam o óstio externo da uretra, o óstio da vagina e os orifícios dos ductos das glândulas vestibulares. O vestíbulo da vagina é determinado por uma fenda chamada rima do vestíbulo. Anteriormente, cada lábio menor divide-se em uma lâmina medial e uma lâmina lateral. A lâmina medial direita se une à lâmina medial esquerda for- mando o frênulo do clitóris. A lâmina lateral direita e a lâmina lateral esquerda circundam superiormen- te o clitóris formando o prepúcio do clitóris. As ex- tremidades posteriores dos lábios menores se unem e formam o freio dos lábios do pudendo (o qual é mais evidente nas virgens). Clitóris e Bulbo do vestíbulo O clitóris e o bulbo do vestíbulo são estruturas eréteis, formadas por tecido especial capaz de se dilatar como resultado do ingurgitamento de san- gue (este aporte sanguíneo confere à mulher uma sensação de edema e peso na região pudenda). Por isso, tais estruturas são consideradas análogas aos corpos cavernosos do pênis. O clitóris possui duas extremidades chamadas de ramos do clitóris (uma fixada ao ísquio e outra fixada ao púbis). Ambas se unem e formam o corpo do clitóris o qual termina em uma dilatação, a glan- de do clitóris, que é visível anteriormente aos lábios menores. O clitóris é uma estrutura extremamente sensível e ligada à excitabilidade sexual. O bulbo do vestíbulo é formado por duas mas- sas de tecido erétil, alongadas e dispostas como uma ferradura ao redor do óstio da vagina. Não é visível, pois se situa profundamente e é recoberto pelo músculo bulboesponjoso. Quando cheio de sangue, dilata-se e proporciona maior contado en- tre pênis e vagina. EDUCAÇÃO FÍSICA 171 Glândulas vestibulares maiores e menores As glândulas vestibulares menores existem em número variável e têm seus minúsculos ductos se abrindo no vestíbulo da vagina, entre o óstio da uretra e o óstio da vagina. Já as glândulas vestibula- res maiores são duas glândulas profundas situadas nas proximidades do vestíbulo da vagina onde seus ductos se abrem. Elas produzem uma secreção mu- cosa que serve para lubrificar o próprio vestíbulo e a porção inferior da vagina sob a influência do sistema nervoso autônomo nos momentos prepa- ratórios que antecedem a relação sexual (durante o período de excitação) e durante o coito (por com- pressão) visando tornar as estruturas úmidas e pro- pícias à penetração. PERITÔNIO NA CAVIDADE PÉLVICA O peritônio parietal que reveste a cavidade abdo- minal continua inferiormente até a cavidade pélvi- ca, mas não chega ao assoalho pélvico. Ao contrá- rio, ele se curva sobre as vísceras pélvicas ficando separado do assoalho da pelve pelas próprias vísce- ras e pela fáscia da pelve. Assim, as vísceras pélvi- cas não são completamente revestidas pelo peritô- nio, estando na maior parte situadas inferiormente a ele (exceto ovário e tuba uterina). Além disso, o peritônio se comporta de maneira diferenciada no homem e na mulher devido à diferença de organi- zação dos órgãos pélvicos. Na mulher, após o peritônio recobrir a bexi- ga urinária, ele se invagina sobre o útero forman- do uma prega chamada escavação vésico-uterina, e posteriormente se direciona ao reto formando outra prega chamada escavação reto-uterina. So- bre o útero, a escavação vésico-uterina origina o ligamento largo do útero o qual divide a cavida- de pélvica em compartimento anterior e posterior. Esse ligamento envolve o útero, a tuba uterina e o ovário e se prende à borda posterior dele por uma prega denominada mesovário. Como já mencionado, esse ligamento é muito distensível e acompanha o útero quando este au- menta de tamanho na gestação (a tuba uterina e o ovário também o acompanham). Assim, no liga- mento largo do útero existem três partes importan- tes: o mesovário, a mesosalpinge e o mesométrio. No homem, o peritônio recobre a bexiga urinária, se invagina entre ela e o reto formando uma única pre- ga chamada escavação reto-vesical e posteriormente recobre o reto (DANGELO; FATTINI, 2011). Figura 19 - Peritônio na cavidade pélvica PERÍNEO É muito comum ouvir falar que tem que contrair o períneo ao caminhar ou fazer exercícios físicos, que alguém terá que fazer cirurgia de períneo para le- vantá-lo, ou coisas desse tipo. No entanto, será que as pessoas realmente sabem o que é o períneo? Cérvix Ovário Reto ÂnusVagina Uretra Bexiga urinária Útero Tuba uterina ANATOMIA 172 Na verdade, o períneo é caracterizado como um conjunto de partes moles que fecham inferiormente a pelve óssea. É uma região losângica delimitada pela margem anterior da arcada púbica,tuberosidade es- quiática e ápice do cóccix. No sexo feminino, ele dá passagem à uretra, à vagina e ao reto, e no sexo mas- culino ele dá passagem à uretra e ao reto (DI DIO, 2002). Pelo fato do períneo permitir parte da sus- tentação das vísceras pélvicas, é de grande relevân- cia que ele seja fortalecido a fi m de que tais vísceras permaneçam sempre adequadamente posicionadas. Em ambos os sexos, ele é dividido em períneo posterior ou região anal (ocupado por um grupo de músculos perineais denominados diafragma pélvico) e períneo anterior ou região urogenital (ocupado por um grupo de músculos denominados diafragma uro- genital). Entre ambos, em uma posição central, há uma área fi brosa chamada centro tendíneo do períneo onde se fi xam músculos e fáscias importantes na sustentação das vísceras pélvicas os quais agem na defecação, mic- ção, ereção, ejaculação, no trabalho de parto e outros. MAMAS Muitas pessoas acham que as mamas pertencem ao sistema genital feminino, mas isso não é verdade. As mamas pertencem ao sistema tegumentar (ou tegu- mento comum) o qual também estuda estruturas como pele e unha. Para não se esquecer disso, você deve considerar que uma mulher mastectomizada bilateralmente (sem as duas mamas) pode perfeita- mente gestar e dar à luz um fi lho. Na verdade, a confusão está parcialmente asso- ciada ao fato de que as mamas têm relação com os hormônios produzidos pelo sistema genital femini- no e ao fato de que elas se desenvolvem concomitan- temente aos órgãos da reprodução, ou seja, iniciam seu desenvolvimento durante a puberdade. Outro erro comum ao se referir às mamas é cha- má-las de seios. Em anatomia, seio normalmente se refere a uma depressão ou cavidade e não a uma sali- ência como é o caso das mamas. Assim, o nome que deve ser usado é mama por mais estranho que este termo possa parecer. Assim, após tais esclarecimentos, vamos defi nir mamas como anexos de pele situados anteriormente aos músculos da região peitoral, entre as camadas superfi cial e profunda da tela subcutânea desta re- gião. Elas são constituídas por parênquima de tecido glandular, estroma de tecido conjuntivo e pele. O parênquima de tecido glandular apresenta glândulas cutâneas modifi cadas especializadas na produção de leite após a gestação, o corpo da mama. O estroma de tecido conjuntivo envolve o corpo da mama e nele predomina tecido adiposo o qual é sus- tentado por tecido conjuntivo denso (a quantidade de tecido adiposo do estroma está diretamente rela- cionada ao tamanho e a forma da mama). Sua pele apresenta muitas glândulas sebáceas e sudoríparas, e Figura 20 - Períneo Observe a constituição predominantemente muscular do períneo EDUCAÇÃO FÍSICA 173 é consideravelmente fi na de forma que, em pessoas de pele clara, é possível inclusive notar algumas de suas veias superfi ciais (TORTORA et al., 2010). Anatomicamente, as mamas apresentam dois aci- dentes anatômicos principais que merecem ser men- cionados, a papila mamária e a aréola da mama. A papila mamária é uma projeção composta principal- mente de fi bras musculares lisas onde desembocam de 15 a 20 ductos lactíferos. Ela é muito inerva e, devido a seus músculos, ela pode se tornar rija. A aréola da mama fi ca ao redor da papila e nela existem pequenos tubérculos (umas saliências visíveis e palpáveis) que marcam o ponto de desembocadura dos ductos lac- tíferos. Ela é bastante pigmentada e apresenta grande número de glândulas sudoríparas e sebáceas. Várias alterações ocorrem com as mamas du- rante a gravidez. Por exemplo, a aréola da mama se torna mais escura e esta cor tente a permanecer posteriormente à gestação e à amamentação. Além disso, o volume da mama pode até triplicar em ra- zão dos hormônios femininos liberados durante este período (principalmente prolactina e ocitocina). No entanto, sucessivas gestações e o avançar da idade (associado à diminuição do colágeno), podem fazer com que elas se tornem progressivamente peduncu- ladas devido à perda da elasticidade das estruturas de sustentação do estroma causando ptose mamária (MOORE et al., 2014). No homem, a mama é pouco desenvolvida em condições normais. Todavia, existe uma condição patológica chamada ginecomastia onde as mamas se desenvolvem e muitas vezes precisam ser remo- vidas cirurgicamente, pois causam constrangimento e desconforto. Figura 21 - Mama Músculo peitoral Tecido adiposo Lóbulos Ductos Aréola Mamilo Caixa torácica 174 considerações finais O controle da composição dos fluidos corporais é um processo comple- xo, pois seres humanos enfrentam problemas com a perda de subs- tâncias para o meio que os cercam e com o acúmulo de substâncias em seus corpos. Se eletrólitos se acumulam no sangue, a osmolarida- de do sangue é aumentada causando difusão da água do líquido intersticial para o sangue (o que pode aumentar a pressão sanguínea). Por outro lado, a intensa eliminação de eletrólitos diminui a osmolaridade do sangue e, por difusão, a água flui para o espaço intersticial acumulando-se nos tecidos e causando edema. Assim, é fundamental que seja mantido o equilíbrio entre ingestão ou pro- dução de sustâncias e eliminação da mesma a fim de que a homeostase seja preservada. Este equilíbrio é possibilitado pelo sistema urinário e anormali- dade ou disfunção dele podem causar morte. O sistema genital masculino e o feminino agem em conjunto a fim de manter o número de indivíduos da espécie. Todavia, apresentam considerável diferença entre si. O feminino, por exemplo, é mais complexo do que o masculino, pois apresenta o órgão que abriga o novo ser vivo em gestação. Em contrapartida, a função gametogênica na mulher cessa precocemente. Outro detalhe que não se pode esquecer é que a viabilidade da reprodução depende da integridade das estruturas anatômicas que compõem tais sistemas. Por isso, a má formação dos testículos, alterações hormonais, doenças vasculares e outras disfunções podem prejudicar ou impedi-la. Além disso, micro-organis- mos se desenvolvem nos genitais e podem ser disseminados por contato sexual. A prevenção depende do conhecimento anatômico e fisiológico das estruturas anatômicas destes sistemas. Assim, o profissional de saúde deve aprofundar seu conhecimento a fim de ga- rantir informação necessária para a prevenção de tais males. O profissional de edu- cação física se destaca uma vez que no contexto escolar ele pode esclarecer sobre doenças, gravidez indesejada e dar orientação quanto à viabilidade da reprodução. 175 LEITURA COMPLEMENTAR Leia o artigo indicado, a seguir, que trata de um assunto muito conhecido: Litíase renal (popularmente conhecida como pedras no rim). Este artigo narra a defi nição e a fre- quente incidência desta doença. DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DA LITÍASE RENAL, EM HOSPITAL DE REFERÊNCIA, EM BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS A litíase renal é uma afecção muito comum na prática clínica e múltiplos fatores estão relacionados com sua etiopatogenia, embora não tenhamos encontrado estudo algum sobre a epidemiologia da litíase no Brasil. O objetivo deste estudo foi avaliar a infl uên- cia da idade, do sexo, da cor da pele e da lateralidade como fatores de risco para cálculo renal. Para tanto, foram estudados 400 prontuários de pacientes com diagnóstico de litíase urinária, nos Serviços de Nefrologia e Urologia do Hospital das Clínicas da Uni- versidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Todos os diagnósticos foram confi rmados pela história clínica associada a métodos de imagem. Houve predomínio de pacientes do sexo feminino (54,5 %) sobre o masculino com litíase renal. Os doentes brancos constituíram a maioria (75%), seguidos pelos mulatos (23,3%) e, em uma muito pequena proporção, pelos negros (1,8%). A idade média foi de 39,81, +- 15,61 anos. Não houve diferenças quanto à lateralidade dos cálculos, mas os homens tiveram mais cálculos bilaterais do que as mulheres. Na população estudada no presente trabalho,o cálculo renal foi mais freqüente em adultos jovens, brancos e do sexo feminino, sem diferenças quanto à lateralidade. Os resultados sugerem uma possível relação entre nefrolitíase e cor da pele. A análise de nossos dados mostra não existir diferença quanto à lateralidade no geral, apesar de se constar um número pouco maior de cálculos à esquerda, nos homens, e à direita, nas mulheres, porém sem signifi cância estatística. Destaca-se, no entanto, que os homens tiveram uma frequência de cálculos bilaterais signifi cativamente maior do que as mulheres. Apesar de não encontrarmos subsídios na literatura, consideramos ser essa constatação importante sob aspecto de propedêutica. Talvez seja prudente 176 LEITURA COMPLEMENTAR uma investigação mais cuidadosa da possibilidade de litíase bilateral, quando essa afecção estiver presente no sexo masculino. A distribuição de casos por cor da pele mostrou o predomínio dos indivíduos brancos (75%) e uma frequência muito baixa de negros, apenas 1,8%. Não se registrou qualquer caso em paciente de origem oriental, porém a sua frequência em nossa população é muito reduzida. Ao se compararem esses dados com os da população de Minas Gerais (brancos 57%, mulatos 34%, e negros 8%), verifi ca-se a possibilidade de existirem fatores relacionados à cor da pele que são responsáveis pela maior presença de nefrolitíase em brancos. As diferenças entre as cores não podem ser atribuídas à amostragem do hospital em estudo, já que se trata de uma instituição de referência para todas as classes sociais e seu atendimento se faz na mesma proporção de cor da encontrada na população do Estado de Minas Gerais, conforme resultado de pesquisa anterior. Esses dados estão de acordo com a literatura, que, de fato, refere menor frequência de nefrolitíase em ne- gros e orientais(6,7).O presente trabalho mostra que a distribuição da nefrolitíase com relação à idade é muito ampla. Futuras investigações serão realizadas com o intuito de compreender melhor nossos achados, principalmente os referentes à cor da pele. O cálculo renal, como demonstrado no presente trabalho, foi mais frequente em brancos e sem diferença quanto à lateralidade. Boa leitura! Fonte: Petroianu et al. (2001). 177 atividades de estudo 1. Assinale a alternativa correta quanto ao sistema urinário: a. A uretra é considerada um órgão gametogênico. b. A próstata é considerada um órgão gametóforo. c. A uretra é considerada uma estrutura urocondutora. d. O pênis e a vagina pertencem ao sistema genital masculino e feminino, respectivamente. 2. Assinale a alternativa correta quanto ao sistema genital masculino: a. O pênis é constituído por dois corpos esponjosos e um corpo cavernoso. Tais corpos estão diretamente relacionados à ereção uma vez que se in- gurgitam de sangue fazendo com que o pênis fique túrgido (ereto). b. A uretra masculina é mais longa e sinuosa do que a feminina e pertence tanto ao sistema urinário quanto ao sistema genital masculino, pois con- duz urina e sêmen ao meio externo. c. As glândulas bulbouretrais são consideradas as principais glândulas do sistema genital masculino, pois produzem a maior quantidade de líquido seminal eliminado durante a ejaculação. d. A vasectomía secciona cirurgicamente o ducto deferente a fim de que o homem se torne infértil. Nesse caso, o indivíduo perde a capacidade de ejaculação, embora a sensação de orgasmo seja mantida. e. Nenhuma das anteriores está correta. 3. Assinale a alternativa correta quanto ao sistema genital feminino: a. A uretra feminina, embora seja mais curta do que a masculina, pertence tanto ao sistema urinário quanto ao sistema genital feminino, pois permite a passagem da urina e das secreções das glándulas vestibulares maiores e menores ao meio externo. b. Na vulva, o clitóris, o óstio externo da uretra e o óstio da vagina se posicio- nam sequenciamente no sentido ântero-posterior. c. Ao contrário da afirmação acima, o posicionamento do clitóris, do óstio externo da uretra e do óstio da vagina é sequencial, mas no sentido pos- terior-anterior. d. A tuba uterina é responsável pela produção dos hormônios sexuais e dos gametas femininos. e. O útero é responsável pela produção dos hormônios sexuais e dos game- tas femininos. 178 atividades de estudo 4. Observe a imagem, a seguir, e assinale a alternativa correta: a. A estrutura 1 é a uretra (porção prostática). b. A estrutura 2 é o ducto deferente. c. A estrutura 3 é a uretra (porção esponjosa). d. A estrutura 4 é glândula seminal. e. A estrutura 5 é a glândula bulbouretral. 5. Identifique a alternativa incorreta: a. As glândulas prepuciais produzem esmegma. b. O monte do púbis é constituído, principalmente, por tecido adiposo. c. O pH da vagina deve ser mantido alcalino. d. O colo da glande se posiciona abaixo da coroa da glande. e. O freio do prepúcio é análogo ao freio do clitóris, pois ambos restringem a mobilidade de tais estruturas (respectivamente, do prepúcio e do clitóris). 1 5 4 3 2 179 Material Complementar 1 Em: <http://www.copacabanarunners.net/uretrite.html>. Acesso em: 14 jun. 2016. 2 Em: <http://www.minhavida.com.br/saude/temas/gravidez-ectopica>. Acesso em: 15 jun. 2016. Referências On-Line Apresentação: Com certeza, você já ouviu sobre métodos de esterilização para homens e mulheres. A vasectomia e a laqueadura são bastante parecidas Dispo- nível em: <http://vasectomia-e-reversao.com.br/duvidas>. Indicação para Assistir 180 referências CFTA - COMISSÃO FEDERATIVA DA TERMINOLOGIA ANATÔMICA. Ter- minologia Anatômica: terminologia anatômica internacional. São Paulo: Mano- le, 2001. DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. DI DIO, L. J. A. Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada: princípios básicos e sistêmicos, esquelético, articular e muscular. 2. ed. Atheneu: São Paulo, 2002. FREITAS, V. Anatomia conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004. MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem dinâmica. Maringá: Gráfica Editora Clichetec, 2014. MOORE, K .L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. NARCISO, M. S. Sobotta: atlas de anatomia humana: anatomia geral e sistema muscular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. OLIVEIRA, S. S. de; SANTOS, I. da S. dos; SILVA, J. F. P. da; MACHADO, E. C. Prevalência e fatores associados à doença do refluxo gastroesofágico. Scielo. Arq. Gastroenterol. vol.42 no.2 São Paulo Apr./June, 2005. PETROIANU, A.; OLIVEIRA NETO, J. E. de; ALBERTI, L. R. Dados epidemio- lógicos da litíase renal, em hospital de referência, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Medicina, Ribeirão Preto, 34: 85-88, jan./mar. 2001.[DFdS1] ROHEN, J. W.; YOKOCHI, C.; LÜTJEN-DRECOLL, E. Anatomia humana: atlas fotográfico de anatomia sistêmica e regional. São Paulo: Manole, 2002. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo: Athe- neu, 2000. 181 gabarito 1. C 2. B 3. B 4. C 5. C Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Sistema Nervoso Central (SNC) • Sistema Nervoso Periférico (SNP) • Sistema Nervoso Autônomo (SNA) • Sistema Endócrino Objetivos de Aprendizagem • Apresentar a função geral do SNC; Estudar, do ponto de vista morfológico e funcional, as estruturas anatômicas que formam a medula espinal, tronco encefálico (bulbo, ponte e mesencéfalo), cerebelo, diencéfalo, telencéfalo, meninges, ventrículos encefálicos, líquido cerebrospinal e vascularização. • Apresentar a função geral do SNP. Estudar, do ponto de vista morfológico e funcional, as estruturas anatômicas que o formam os nervos espinais, nervos cranianos, plexos nervosos, terminaçõesnervosas, gânglios nervosos e lesões nervosas. • Apresentar a função geral do SNA. Estudar, do ponto de vista morfológico e funcional, o SNA simpático e o SNA parassimpático. • Apresentar a função geral do sistema endócrino. Estudar, do ponto de vista morfológico e funcional, as principais glãndulas (hipófi se, tireoide, paratireoide, pineal, suprarrenal, pâncreas, testículo e ovário). SISTEMA NEUROENDÓCRINO V unidade INTRODUÇÃO P rezado(a) aluno(a), o controle das funções orgânicas e a integração do organismo ao ambiente depende da atuação do Sistema Nervoso (SN) e do sistema endócrino que controlam todas as funções dos demais sis- temas permitindo modificações a fim de manter a homeostasia. O sistema endócrino age sob influência do SN cujas funções são voluntárias ou involuntárias. A complexidade desses sistemas é maior com a complexidade do organismo e atinge seu desenvolvimento máximo no homem uma vez que respondem por fenômenos psíquicos altamente complexos (raciocínio, aprendi- zado, memória e sono). O endócrino age por meio de glândulas cuja secreção (hormônios) é lançada no sangue. A hipófise é a “glândula-mestre”, pois produz hormônios que estimu- lam o funcionamento de outras como tireoide, suprarrenais, ovários e testículos. As funções do SN estão diretamente relacionadas às células que constituem o próprio tecido nervoso: neurônios (células nervosas) e neuroglia (células gliais, neurogliais ou neurogliócitos). Neurônios são unidades estruturais e funcionais do SN, pois são especializados na rápida comunicação intercelular (sinapse). A neuróglia, embora, cinco vezes mais abundante do que os neurônios, não é exci- tável, mas sustenta, isola e nutre os neurônios. Didaticamente, o SN pode ser dividido segundo critério anatômico, em- briológico, segmentar e funcional. O critério embriológico considera seu de- senvolvimento intrauterino, o segmentar considera a presença ou não de ner- vos, o anatômico considera o local onde o sistema nervoso está localizado e o funcional considera sua forma de atuação. O texto será fundamentado em autores como Machado e Haertel (2014), Afifi e Bergman (2008), Miranda Neto e Chopard (2014). A nomenclatura está atualizada (CFTA, 2001) e é necessário que utilize atlas como Narciso (2012), Rohen, Yokochi e Lütjen-Drecoll (2002) e outros. O objetivo é descrever aspectos relevantes do SN e do endócrino, suas inter-relações e a influência que exercem sobre os outros sistemas do corpo. ANATOMIA 186 FUNÇÃO DO SNC De maneira geral, o sistema nervoso é responsável por receber, analisar e integrar informações prove- nientes do meio interno e externo. Representa o lo- cal onde ocorrem as tomadas de decisão e de onde são enviadas as ordens para o funcionamento de todo o corpo. Ele age em conjunto, e de maneira de- pendente, ao sistema nervoso periférico (MOORE et al., 2014). ESTRUTURAS DO SNC O sistema nervoso central é organizado em encéfalo e medula espinal. Enquanto, o encéfalo é protegido pela cavidade craniana, a medula espinal é protegi- da pela coluna vertebral. Tanto o encéfalo quanto a medula apresentam em sua constituição corpos celulares e fibras nervosas. A substância cinzenta é formada predominantemente por corpos neuronais e a branca por fibras nervosas que se aglomeram for- mando tratos. Todavia, segundo Miranda Neto e Chopard (2014), enquanto, o encéfalo tem substância cinzen- ta por fora da branca constituindo o córtex cerebral, a substância cinzenta da medula espinal (que tem a forma de uma borboleta ou da letra “H”) localiza-se internamente à branca (que é formada por fibras que sobem e descem na medula). Medula Espinal (ME) Com certeza você já ouviu falar de alguém que teve uma lesão na medula e ficou paraplégico ou tetra- plégico. Nesses casos, muitas perguntas surgem, por exemplo, será que estas pessoas conseguirão sentir seu corpo normalmente? Será que a paralisia pode- rá ser revertida? Como ficam as funções sexuais? E tantas outras dúvidas que para serem respondidas é preciso entender melhor como a medula funciona. Então, lá vamos nós. Conforme Machado e Haertel (2014), a medu- la espinal é uma massa cilíndrica de tecido nervoso, ligeiramente achatada no sentido anteroposterior, que fica dentro do canal vertebral. Seu nome (me- dula) significa miolo justamente pelo fato de sua lo- calização protegida no interior deste canal. Sistema Nervoso Central (SNC) Figura 1 - Sistema nervoso central e Sistema nervoso periférico EDUCAÇÃO FÍSICA 187 Seu calibre não é uniforme, pois apresenta duas dilatações (chamadas in- tumescência cervical e intumescência lombossacral) onde as raízes nervosas que formam o plexo braquial e o plexo lombossacral fazem conexão. Esses plexos inervam os membros superiores e inferiores. Assim, nas intumescências há maior quantidade de neurônios que en- tram ou saem da medula espinal. Esse fato tem apoio na anatomia comparada uma vez que dinossauros com membros superiores pequenos não têm in- tumescência cervical, mas a intumescência lombar tem o ta- manho aproximado do encéfalo. Em contrapartida, a baleia que não apresenta membros expressivos, tem a medula larga, mas sem dilatações. Superiormente, a medula espinal limita-se com o bulbo (ao nível do forame magno do osso occipital) e, inferiormente, termina afilando-se para formar o cone medular que continua com um delgado filamento meníngeo, o filamento terminal, ao nível da segunda vértebra lombar. Assim, no adulto a me- dula não ocupa todo o canal vertebral tendo aproximadamen- te 45 cm no homem e 42 cm na mulher. Tal fato tem importância clínica, pois, abaixo da segun- da vértebra lombar o canal vertebral não tem medula, mas contém apenas as meninges e as raízes nervosas dos últimos nervos espinais que constituem a cauda equina. Isto decorre de ritmos diferentes de crescimento entre medula e coluna vertebral. Por exemplo, até o quarto mês de vida intrauterina ambas crescem no mesmo ritmo, mas a partir de então, a coluna cresce mais do que a medula causando como consequência o afastamento dos segmentos medulares das vérte- bras correspondentes. Além disso, caro aluno, a superfície da medula apresenta sulcos lon- gitudinais (como o sulco lateral anterior e o sulco lateral posterior) onde se conectam os pequenos filamentos radiculares que se unirão para for- mar as raízes ventral e dorsal dos nervos espinais. Considerando que estes nervos trazem à medula informações sensitivas da periferia do corpo que deverão ser conduzidas ao encéfalo, e que levam as ordens do encéfalo à periferia do corpo, é possível entender porque uma lesão medular causa perda sensitiva e motora as quais não serão revertidas se a lesão medu- lar for completa.Figura 2 - Medula espinal e limites ANATOMIA 188 Por isso, para maior proteção da medula, mem- branas fibrosas chamadas meninges fazem seu re- vestimento externo. A dura-máter é a mais externa, espessa e resistente. Superiormente, a dura-máter es- pinal continua com a dura-máter craniana e caudal- mente termina ao nível da segunda vértebra sacral. Por sua vez, a pia-máter é a mais delicada e interna, e adere intimamente ao tecido nervoso. Já a aracnoi- de-máter se dispõe entre as outras duas formando um emaranhado de trabéculas aracnóideas. a pressão do líquido, para introdução de substân- cias que aumentam o contraste nas radiografias (mielografia) ou para introdução de anestésicos nas anestesias raquidianas. Por isso, para cirurgia das extremidades in- feriores, períneo, cavidade pélvica e em algumas cirurgias abdominais podem ser feitas anestesias raquidianas ou epidurais (também chamadas de peridurais). Na raquidiana, o anestésico é intro- duzido no espaço subaracnóideo entre as vértebras L2-L3, L3-L4 ou L4-L5 certificando-se de que a agu- lha atingiu o espaço subaracnoideo pela presença do líquido que goteja na extremidade da agulha. Na peridural, o anestésico é introduzido no espa- ço epidural onde se difundee atinge as raízes dos nervos espinais. Certifica-se de que a agulha atingiu o espaço epidural após a perfuração do ligamento amarelo. Embora, exija uma habilidade técnica muito maior, não causa cefaleia em decorrência de vazamento do líquido cerebrospinal. Encéfalo Tronco Encefálico (TE) O tronco encefálico interpõe-se entre a medula espi- nal e o diencéfalo, ventralmente ao cerebelo. É cons- tituído por corpos de neurônios que se agrupam em núcleos e fibras que se agrupam em tratos, fascículos ou lemniscos os quais formam relevos ou depressões em sua superfície. Divide-se em bulbo (inferiormente), mesen- céfalo (superiormente) e ponte (entre ambos), e apresenta 10 dos 12 pares de nervos cranianos, sen- do por isso uma região extremamente importante. Todo o texto que segue será escrito a partir das con- siderações de Afifi e Bergman (2007) e Machado e Haertel (2014). Figura 3 - Sulcos da medula Espinal e meninges Assim, entre a medula e as meninges se formam três espaços. O epidural ou extradural fica entre o pe- riósteo das vértebras e a dura-máter, contém tecido adiposo e um grande número de veias. O espaço subdural fica entre a dura-máter e a aracnóide-má- ter e contém pequena quantidade de líquido para evitar a aderência das paredes. Já o espaço subaracnóideo é o mais importan- te, pois contém maior quantidade de líquido ce- rebrospinal. Vale ressaltar que abaixo da segunda vértebra lombar não há perigo de lesão medular sendo esta área ideal para a introdução de agulhas com a finalidade de coletar o líquido cerebrospinal para fins terapêuticos ou diagnósticos, para medir Medula espinal Substância cinzenta Substância branca Pia-máter Aracnoide-máter Dura-máter Meninges espinais Canal central da medula espinal Medula Espinal EDUCAÇÃO FÍSICA 189 Bulbo O bulbo relaciona-se superiormente com a pon- te (por meio do sulco bulbo-pontino) e, inferior- mente, com a medula espinal. Embora não haja uma demarcação nítida entre bulbo e medula, considera-se que o limite entre eles é um plano horizontal que passa acima do filamento radicular mais cranial do primeiro nervo cervical ao nível do forame magno. Sua superfície é percorrida por sulcos contínuos aos sulcos da medula. Assim, de cada lado da fissura mediana anterior existe uma eminência alongada, a pirâmide, que é formada por um feixe de fibras ner- vosas descendentes que ligam as áreas motoras do cérebro aos neurônios motores da medula espinal. Fibras desse trato cruzam obliquamente o plano me- diano e formam a decussação das pirâmides. Lesões neste trato causam déficit motor contralateral à le- são. Em contrapartida, na área posterior do bulbo estão os fascículos grácil e cuneiforme os quais são constituídos por fibras nervosas ascendentes. Em relação às funções, o bulbo é um importante centro nervoso, pois se relaciona à função respira- tória, cardiovascular, à tosse, ao vômito, ao espir- ro, à deglutição e ao bocejo. Complementarmente, dele emergem os filamentos dos nervos hipoglosso, glossofaríngeo, vago e a raiz craniana do nervo aces- sório, além de ajudar a formar o IV ventrículo. Por isso, várias síndromes podem acometê-lo desenca- deando vasta sintomatologia. Ponte A ponte se localiza anteriormente ao cerebelo, en- tre o mesencéfalo e o bulbo. Lembra que a ponte e o bulbo são separados pelo sulco bulbo-pontino? Pois é! Desse sulco emergem, de cada lado a par- tir da linha mediana, os nervos abducente, facial e vestíbulococlear (por isso, tumores nesta área cau- sam a síndrome do ângulo ponto-cerebelar com muitos sintomas). Além disso, a ponte ajuda a for- mar o IV ventrículo. Sua base (na região ventral) apresenta estrias transversais em virtude de feixes de fibras transver- sais que a percorrem as quais convergem, de cada lado, para formar o pedúnculo cerebelar médio ou braço da ponte. Esse pedúnculo penetra o cerebelo e é limitado em relação à ponte pela emergência do nervo trigêmeo. Mesencéfalo O mesencéfalo fica entre a ponte e o cérebro e é atravessado em toda a sua extensão por um canal estreito chamado aqueduto do mesencéfalo que une o III ao IV ventrículo. Nele existe uma área escura (chamada substância negra) que é formada por neurônios que contém melanina e se relacio- nam ao movimento. Além disso, dele emerge os nervos oculomotor e troclear, e está relacionado às vias auditivas e visuais. Figura 4 - Visão Geral do Troco Encefálico Mesencéfalo Mesencéfalo Ponte ANATOMIA 190 Cerebelo O cerebelo situa-se posteriormente ao bulbo e à ponte, repousa sobre a fossa cerebelar do osso oc- cipital e está separado do lobo occipital por uma prega da dura-máter chamada tentório do cerebelo. Ele se relaciona à medula espinal e ao bulbo pelo pedúnculo cerebelar inferior, à ponte pelo pedún- culo cerebelar médio e ao mesencéfalo pelo pedún- culo cerebelar superior. Sua porção mediana e ímpar é chamada de ver- me, e suas massas laterais são os hemisférios cerebe- lares. Tanto o verme quanto os hemisférios apresen- tam sulcos transversais que delimitam lâminas finas chamadas de folhas. Os sulcos mais profundos são as fissuras e estas delimitam os lóbulos do cerebelo. Em corte, é possível identificar que o cerebelo é constituído por um centro de substância branca, o corpo medular do cerebelo, e é revestido por uma fina camada de substância cinzenta, o córtex cere- belar. No interior do corpo medular existem quatro pares de núcleos de substância cinzenta, os núcleos centrais do cerebelo: denteado, emboliforme, glo- boso e fastigial. Figura 5 - Bulbo, Ponte e Mesencéfalo Figura 6 - Cerebelo Inteiro Todo profissional de educação física deve conhecer bem o cerebelo devido seus aspectos funcionais. Isso porque o cerebelo está bastante relacionado ao equi- líbrio, à coordenação dos movimentos e à aprendiza- gem motora. No entanto, estudos têm sugerido que o cerebelo também apresenta funções não motoras, por exemplo, função autônoma, de comportamento e de cognição, além de ajudar a formar o IV ventrí- culo. Além disso, é descrito que autistas apresentam hipoplasia cerebelar e que lesões cerebelares podem causar síndromes com diferentes sintomas (GAR- CIA; MOSQUERA, 2011). Diencéfalo O diencéfalo e o telencéfalo juntos formam o cére- bro, que é a porção mais desenvolvida e importan- te do encéfalo ocupando cerca de 80% da cavidade Mesencéfalo Ponte Bulbo EDUCAÇÃO FÍSICA 191 craniana. Todavia, o telencéfalo se desenvolveu em sentido lateral e posterior formando os hemis- férios cerebrais e encobrindo quase completamen- te o diencéfalo que permaneceu em situação im- par e mediana, podendo ser visto apenas na face inferior do cérebro. O hipotálamo é uma área relativamente pe- quena situada abaixo do tálamo, mas com im- portantes funções relacionadas principalmente ao controle da atividade visceral. Assim, é consi- derado um grande centro autônomo e endócrino atuando em processos como alimentação, inges- tão de líquidos, comportamento sexual, compor- tamento emocional, regulação da temperatura, memória e crescimento. Suas disfunções podem causar diabetes insípido, distúrbios da termorre- gulação (hipo, hiper ou pecilotermia – alterações da temperatura corporal em decorrência de va- riação na temperatura ambiental), distúrbios do equilíbrio calórico, do comportamento emocio- nal (raiva, medo e apatia) e da memória. O epitálamo se localiza acima do sulco hipotalâ- mico limitando, posteriormente, o III ventrículo. Seu elemento mais evidente é a glândula pineal que atua no controle do ritmo circadiano e na função gonadal. Por isso, lesão pode retardar a puberdade ou fazê-la surgir precocemente ou alterar o ritmo circadiano. O subtálamo localiza-se abaixo do tálamo e seu elemento mais evidente é o núcleo subtalâmico que atua no controle e modulação do movimento vo- luntário. Sua lesão pode provocar o hemibalismo (doença na qual ocorrem movimentos violentos e involuntários da metade do corpo contralateral ao subtálamolesado). Telencéfalo O telencéfalo ocupa toda a cavidade supratentorial do crânio e compreende os dois hemisférios cere- brais e uma pequena parte mediana situada na por- ção anterior do III ventrículo. Tais hemisférios são parcialmente separados pela fissura longitudinal do cérebro, cujo assoalho é formado pelo corpo caloso (o principal meio de união entre eles). Figura 7 - Diencéfalo e Cérebro O diencéfalo, embora seja um região pequena em termos de tamanho, é extremamente importante em termos funcionais. Ele compreende quatro regiões principais: tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtála- mo, os quais se relacionam ao III ventrículo. O tálamo é uma massa volumosa e ovoide de sustância cinzenta, disposta uma de cada lado do diencéfalo (essas massas são unidas pela aderên- cia intertalâmica). Ele recebe e reencaminha ao córtex motor e sensitivo os impulsos motores e sensitivos vindos da periferia do corpo (exceto o olfato). Devido sua íntima relação com a dor, uma lesão talâmica pode causar a síndrome talâmica dolorosa, além de déficit de memória, de lingua- gem e vários outros sintomas. ANATOMIA 192 Ele possui cavidades chamadas de ventrículos late- rais, tem três pontos mais projetados (polo frontal, polo occipital e polo temporal), cinco lobos (gran- des regiões dentro de um polo) e três faces (súpe- rolateral, medial e inferior ou base do cérebro). Es- tudaremos cada uma dessas regiões. A superfície do cérebro humano apresenta de- pressões denominadas sulcos que delimitam os gi- ros. Esses giros permitem aumentar a superfície do cérebro sem aumentar o volume cerebral (dois terços da área ocupada pelo córtex cerebral estão “escondi- dos” nos sulcos) fazendo com que seja chamado de girencéfalo (ao contrário de encéfalos sem giros que são chamados de lisencéfalos). Muitos sulcos são inconstantes e não recebem qualquer denominação, mas outros são constantes e recebem denominações especiais ajudando a de- limitar os lobos e as áreas cerebrais. Além disso, é importante salientar que o padrão dos sulcos e dos giros pode ser diferente nos dois hemisférios de um mesmo indivíduo, e não existe nenhum sulco ou giro que seja característico de uma determinada raça humana, sendo assim impossível a identificação da raça pelo estudo de um único cérebro. Os dois sulcos mais importantes são o lateral e o central. O lateral é uma fenda profunda que se- para os lobos frontal e parietal do lobo temporal. Ele dirige-se para a face súperolateral do cérebro onde termina dividindo-se. Já o sulco central é profundo e percorre obliquamente a face súpero- -lateral do hemisfério separando os lobos frontal e parietal. Inicia na face medial do hemisfério e se- gue em direção ao sulco lateral. É ladeado por dois giros paralelos, o pré-central (anterior ao sulco) e o pós-central (posterior a ele). Esses giros relacio- nam-se, respectivamente, à motricidade e à sensi- bilidade do corpo. Figura 8 - Telencéfalo. Note os Hemisférios e a Fissura Longitudinal do Cérebro Figura 9 - Polos, Lobos e Faces Lobo parietal Lobo frontal Lobo temporal Ponte Bulbo Medula espinal Cerebelo Lobo occipital Hemisfério cerebral esquerdo Hemisfério cerebral direito Fissura longitudinal do encéfalo EDUCAÇÃO FÍSICA 193 Dos cinco lobos cerebrais, quatro recebem sua de- nominação de acordo com os ossos do crânio com os quais se relacionam. Assim, são chamados de lobo frontal, temporal, parietal e occipital. Todavia, o quinto lobo situa-se profundamente e não se re- laciona diretamente com os ossos do crânio sendo chamado de lobo da ínsula. Esse lobo, que se rela- ciona a funções autônomas, é o que menos cresce e, por isso, é recoberto pelos lobos vizinhos. Tem for- ma cônica e também apresenta sulcos e giros (como o sulco circular da ínsula, o sulco central da ínsula, os giros curtos e o giro longo da ínsula). Você também precisa saber que o peso do en- céfalo depende do peso corporal do indivíduo e da complexidade do encéfalo que é expressa pelo co- eficiente de encefalização (K). O K aumenta à me- dida que se sobe na escala zoológica, sendo qua- tro vezes maior no homem do que no chimpanzé. No homem adulto brasileiro normal, ele pesa em torno de 1300 gramas (1200 gramas na mulher). Além disso, saiba que o peso do encéfalo não tem relação com o estado cultural ou com a inteligência do indivíduo (o encéfalo do Einstein, por exemplo, pesava 1230 gramas). Por fim, o maior encéfalo humano registrado pesava 2850 gramas e o seu dono tinha um nível normal de inteligência (tem bebês que não nascem com este peso, já pensou?) e se admite que o menor encéfalo compatível com a inteligência normal deve pesar cerca de 900 gramas. Figura 10 - Telencéfalo (vista lateral). Note os sulco lateral e central, e os giros pré-central e pós-central Giro pré-central Giro pós-central Sulco central Sulco lateral ANATOMIA 194 Especificidades das diversas regiões do encéfalo De agora em diante, estudaremos algumas das par- ticularidades mais interessantes do encéfalo. Vamos começar com aquilo que pode ser estudado na face súpero-lateral dele. O lobo frontal apresenta o sulco pré-central, o sulco frontal superior e sulco frontal inferior. En- tre o sulco central e o sulco pré-central está o giro pré-central onde se localiza a área motora primá- ria do cérebro. Acima do sulco frontal superior e continuando na face medial do cérebro localiza-se o giro frontal superior. Entre o sulco frontal supe- rior e o inferior está o giro frontal médio e, abaixo, do sulco frontal inferior está o giro frontal inferior (este, do lado esquerdo do cérebro, é chamado de giro de Broca e é onde se localiza o centro cortical da palavra falada, na maioria dos indivíduos). Já o giro frontal superior e o médio estão relacionados à cognição, ao raciocínio lógico e matemático, e à memória recente. O lobo temporal apresenta dois sulcos princi- pais: o temporal superior e o sulco temporal infe- rior. Entre o sulco lateral e o temporal superior está o giro temporal superior onde está a área de Werni- cke envolvida na compreensão da linguagem falada. Entre o sulco temporal superior e o inferior está o giro temporal médio. Abaixo do sulco temporal in- ferior localiza-se o giro temporal inferior (este está envolvido na percepção visual de cor e forma). Além disso, afastando-se os lábios do sulco lateral, apare- cem pequenos giros transversais dos quais o mais evidente e importante é o giro temporal transverso anterior, pois nele se localiza o centro cortical da au- dição ou área acústica primária. O lobo parietal apresenta dois sulcos principais, o sulco pós-central e o sulco intraparietal (este sepa- ra o lóbulo parietal superior do inferior). O lóbulo parietal superior está envolvido na interação do in- divíduo ao meio ambiente e, por isso, lesões, prin- cipalmente, no hemisfério não dominante, causam negligência de partes do corpo. Nele existem dois gi- ros, o supramarginal e o angular (ambos envolvidos na integração de diversas informações sensoriais quanto à fala e percepção e, por isso, lesões, princi- palmente, no hemisfério dominante, causa distúrbio de compreensão da linguagem e reconhecimento de objetos). Já o lobo occipital apresenta pequenos sul- cos e giros inconstantes e irregulares. Agora, estudaremos os principais aspectos ana- tômicos e funcionais da face medial do encéfalo. Essa face é visível a partir de secção pelo plano sagi- tal mediano e expõe o diencéfalo, o corpo caloso, o fórnice e o septo pelúcido. O corpo caloso é a maior comissura inter-hemisférica e aparece como uma lâ- mina branca arqueada. Ele é formado por um gran- de número de fibras mielínicas que cruzam o plano mediano e penetram de cada lado no centro branco medular do cérebro unindo áreas simétricas do cór- tex cerebral de cada hemisfério. O fórnice emerge abaixo do corpo caloso e entre ele e o corpo caloso estende-se o septo pelúcido que separa os dois ven- trículos laterais. Esse