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1 PROJETO DE SISTEMAS DIGITAIS 1. FASE Os sistemas digitais consistem basicamente em conjuntos organizados de componentes eletrônicos que usam sinais discretos, geralmente representados como valores binários (0 e 1), com o intuito de armazenar e transmitir informações. De forma geral, esses sistemas trabalham baseados em circuitos lógicos e microprocessadores que executam instruções programadas. Os sistemas digitais estão presentes em uma ampla gama de dispositivos e aplicações, desde simples aplicações, até avançados sistemas de comunicação, equipamentos médicos, sistemas de controle industrial, entre outras aplicações. Sistemas digitais têm a capacidade de processar informações com alta precisão, confiabilidade e velocidade, tornando-os essenciais na nossa sociedade tecnológica. As portas lógicas são reconhecidas como blocos fundamentais na eletrônica digital, possuem por função base realizar operações lógicas básicas com sinais binários (0 e 1). Constituem se como componentes eletrônicos que recebem um ou mais sinais de entrada e geram um sinal de saída com base em uma regra ou tabela de verdade pré-estabelecida. As portas lógicas operam de acordo com princípios da álgebra booleana, a qual descreve a manipulação de valores, considerando as regras da matemática estabelecida. Aplicações das portas lógicas incluem: Circuitos Digitais: usadas para criar circuitos digitais que realizam cálculos, tomam decisões e executam tarefas específicas. Computadores: desempenham um papel vital na execução de operações de processamento, memória e controle. Comunicações Digitais: usadas para codificar e decodificar informações em sistemas de comunicação digital, como redes de computadores e sistemas de telecomunicações. 2 Controle Industrial: sistemas de automação e controle industrial usam portas lógicas para tomar decisões e controlar processos industriais, como linhas de produção. Sistemas Embarcados: Dispositivos embarcados, como microcontroladores, utilizam portas lógicas para controlar dispositivos e executar funções específicas. Eletrônica Automotiva: as portas lógicas são usadas em sistemas de controle e monitoramento, como sistemas de segurança, entretenimento e eficiência. - Tipos de Portas Lógicas existentes: Porta NOT (NÃO): Também chamada de inversor, esta porta lógica possui uma única entrada e inverte o valor de entrada. Se a entrada for 0, a saída será 1, e vice- versa. Figura 1 – Porta Lógica NOT Fonte: Adaptado de Taub (1984) Operação: Inversão do valor da entrada. Saída: 0 se a entrada for 1, e 1 se a entrada for 0. Porta AND (E): Esta porta lógica possui duas ou mais entradas e produz uma saída 1 somente quando todas as entradas forem 1. Caso contrário, a saída é 0. Figura 2 – Porta Lógica AND 3 Fonte: Adaptado de Taub (1984) Operação: (Multiplicação) Verificação de todas as entradas para determinar se todas são 1. Saída: 1 se todas as entradas forem 1; caso contrário, a saída é 0. Porta OR (OU): Assim como a porta AND, a porta OR tem duas ou mais entradas. A saída é 1 se pelo menos uma das entradas for 1; caso contrário, a saída é 0. Figura 3 – Porta Lógica OR Fonte: Adaptado de Taub (1984) Operação: (Adição) Verificação de todas as entradas para determinar se pelo menos uma é 1. Saída: 1 se pelo menos uma das entradas for 1; caso contrário, a saída é 0. 4 Porta XOR (OU-Exclusivo): Com duas entradas, esta porta lógica produz uma saída 1 quando as entradas são diferentes (uma é 0 e a outra é 1). Figura 4 – Porta Lógica XOR Fonte: Adaptado de Taub (1984) Operação: Verificação de duas entradas para determinar se são diferentes. Saída: 1 se as entradas forem diferentes (uma é 0 e a outra é 1); caso contrário, a saída é 0. Porta NAND (NÃO-E): A porta NAND é uma combinação da porta AND com a porta NOT. Ela produz uma saída 0 somente quando todas as entradas são 1; caso contrário, a saída é 1. Figura 5 – Porta Lógica NAND Fonte: Adaptado de Taub (1984) Operação: Verificação de todas as entradas para determinar se todas são 1. Saída: 0 se todas as entradas forem 1; caso contrário, a saída é 1. Porta NOR (NÃO-OU): A porta NOR é uma combinação da porta OR com a porta NOT. A saída é 0 se pelo menos uma das entradas for 1; caso contrário, a saída é 1. Figura 6 – Porta Lógica NOR 5 Fonte: Adaptado de Taub (1984) Operação: Verificação de todas as entradas para determinar se pelo menos uma é 1. Saída: 0 se pelo menos uma das entradas for 1; caso contrário, a saída é 1. Porta XNOR (NÃO-OU-Exclusivo): A porta XNOR produz uma saída 1 quando as entradas são iguais (ambas 0 ou ambas 1), e uma saída 0 quando as entradas são diferentes. Figura 7 – Porta Lógica XNOR Fonte: Adaptado de Taub (1984) Operação: Verificação de duas entradas para determinar se são iguais. Saída: 1 se as entradas forem iguais (ambas 0 ou ambas 1); caso contrário, a saída é 0. 6 2. FASE Os circuitos digitais podem ser basicamente divididos em dois tipos principais: circuitos combinacionais e circuitos sequenciais, cada tipo de circuito trabalha em função de uma base lógica diferente. A lógica combinacional é uma parte fundamental dos sistemas e circuitos digitais, que envolve o projeto e a análise de circuitos onde a saída depende apenas das entradas atuais. Em outras palavras, não há elementos de memória ou realimentação envolvidos na geração das saídas. Os circuitos combinacionais executam operações lógicas e aritméticas diretas em sinais digitais, como portas lógicas, multiplexadores, decodificadores, somadores, etc. O resultado de um circuito combinacional é determinado exclusivamente pelas entradas presentes. Desta forma, sistemas baseados em lógica combinacional produzem saídas apenas com base nas entradas atuais, sem levar em consideração estados anteriores. Como exemplo de aplicação da lógica combinacional temos o desenvolvimento de circuitos de controle, a partir do desenvolvimento de uma tabela da verdade na qual são representadas todas as combinações possíveis para a saída do sistema com relação a suas entradas, assim é possível simplificar o sistema algebricamente ou graficamente, uma das formas mais utilizadas para simplificar graficamente é a aplicação do Mapa de Karnaugh, que permite encontrar a equação lógica simplificada do sistema. Algebricamente existem diversos teoremas booleanos que podem ser utilizados na simplificação de circuitos, um dos mais conhecidos são os teoremas DeMorgan. Como exemplo da aplicação da lógica combinacional em um desenvolvimento prático, temos um conversor analógico-digital monitorando a tensão de uma bateria de 12V em um elemento móvel. A saída do conversor consiste em um número binário de quatro bits, ABCD, que corresponde à tensão da bateria em degraus de 1V, sendo a variável A o MSB. As saídas binárias do conversor são as entradas de um circuito que vai gerar uma saída em nível lógico alto, sempre que o valor binário for maior que 0110, ou seja, quando a tensão da bateria for maior do que 6V. Desta forma o sistema é representado a partir da Figura 8. 7 Figura 8 – Esquemático do sistema de monitoramento Fonte: Adaptado de Idoeta e Capuano (1984) A partir desses dados é possível desenvolver a tabela da verdade, referente ao sistema, conforme apresentado na Figura 9. Figura 9 – Tabela da verdade Fonte: Adaptado de Idoeta e Capuano (1984) A partir da tabela da verdade, utilizando os métodos de simplificação, temos a equação simplificada e o circuito digital final para o exemplo tratado, conforme apresentado na Figura 10. Figura 10 – Circuito digital final simplificado Fonte: Adaptado de Idoeta e Capuano (1984) 8 A lógica sequencial envolve circuitos onde a saída depende das entradasatuais e das entradas passadas, ou seja, há um elemento de memória ou armazenamento envolvido. Essa lógica é essencial para sistemas que precisam lembrar estados anteriores e responder a padrões temporais. Os elementos chave da lógica sequencial são os flip-flops, que são unidades de armazenamento de um bit, utilizados para criar registros e memórias. Esses elementos permitem que os sistemas retenham informações e respondam a padrões temporais. Alguns exemplos de circuitos sequenciais são contadores, registradores de deslocamento e máquinas de estados. Um contador assíncrono é um exemplo de sistema que utiliza lógica sequencial. Este basicamente representa um circuito que conta de 0 a 9 e depois volta para 0, repetindo esse ciclo. Para implementar isso, é necessário utilizar flip- flops e circuitos lógicos para atualizar o valor do contador a cada pulso de clock. A saída do contador não é apenas baseada nas entradas atuais, mas também no estado anterior do contador, representando assim a natureza sequencial do sistema. O contador assíncrono é um exemplo comum da aplicação da lógica sequencial, este possibilita a contagem de tempos, ciclos ou variações de uma entrada. A base do desenvolvimento dos contadores assíncronos está na aplicação de um sinal de clock, como referência, neste o sinal de clock é aplicado apenas ao primeiro Flip-Flop, onde sua saída será o clock do próximo Flip-Flop e assim sucessivamente, conforme apresentado na Figura 11. Figura 11 – Contador Assíncrono Crescente com limite de contagem Fonte: Do autor (2023) 9 Para realizar a limitação da contagem de um contador assíncrono é necessário utilizar um circuito lógico extra com uma porta NAND onde as entradas da porta serão ligadas as saídas dos Flip-Flops que formam o número que irá reiniciar a contagem. Em cada Flip-Flop de um contador assíncro, a frequência é a metade da frequência do seu clock, de forma que com 4 bits, se a frequência do clock de entrada for 16 KHz, na saída do último Flip-Flop será de 1 KHz. 3. FASE A tecnologia CMOS (Complementary Metal Oxide Semiconductor) é uma das tecnologias mais amplamente usadas na fabricação de circuitos integrados, incluindo microprocessadores, memórias e outros dispositivos eletrônicos. Ela oferece várias vantagens importantes, que são fundamentais para o funcionamento eficiente e de baixo consumo de energia dos dispositivos digitais modernos. Na tecnologia CMOS são utilizados exclusivamente transistores MOSFET do tipo enriquecimento, os quais são basicamente dimensionados como chaves do tipo on/off, o que simplifica a formação de sistemas lógicos. Dentre as principais características da tecnologia CMOS, temos: a) Baixo Consumo de Energia: Na tecnologia CMOS os transistores consomem energia apenas quando estão alternando de um estado para outro, minimizando o consumo estático. Como um exemplo de aplicação podemos citar os smartphones, onde os componentes CMOS garantem que a bateria dure por um período significativo, mesmo com uso intenso. b) Alta Integração: Na tecnologia CMOS é possível realizar a integração de um grande número de transistores em um único chip de silício. Isso possibilita a criação de circuitos complexos em um espaço físico relativamente pequeno. Desta forma um processador moderno, que contém bilhões de transistores CMOS pode ser desenvolvido a partir de uma única peça de silício. c) Imunidade a Ruídos: Os transistores CMOS operam em níveis de tensão bem definidos, o que os torna menos suscetíveis a variações de ruído do que outras tecnologias. Este fato proporciona uma maior imunidade a interferências eletromagnéticas. 10 d) Baixa Tensão de Alimentação: Os transistores CMOS podem operar em baixas tensões de alimentação, o que contribui para o baixo consumo de energia. Isso é particularmente importante em dispositivos alimentados por baterias ou fontes de energia limitadas. e) Compatibilidade com Lógica Bipolar: A tecnologia CMOS é complementar à tecnologia bipolar, o que significa que pode ser facilmente integrada com outros tipos de tecnologias semicondutoras. Isso permite a criação de circuitos mais eficientes, onde os transistores CMOS controlam circuitos de alta potência, como em amplificadores de potência. Uma aplicação possível são os sistemas de áudio e componentes de sistemas de comunicação. f) Compatibilidade com Fabricação em Massa: A fabricação de circuitos CMOS é altamente automatizada e bem estabelecida, o que torna a produção em massa eficiente e econômica. Isso contribui para a disponibilidade generalizada de dispositivos eletrônicos acessíveis. Um exemplo é a ampla gama de produtos eletrônicos disponíveis no mercado, desde dispositivos móveis até eletrônicos de consumo e sistemas de controle industrial. Essas características fazem da tecnologia CMOS uma escolha popular para uma ampla variedade de aplicações digitais, graças combinação de características relacionadas ao baixo consumo de energia, alta integração e desempenho confiável. Existem outras tecnologias de desenvolvimento de sistemas digitais, uma das mais reconhecidas é a tecnologia TTL (Transistor Transistor Logic), esta tecnologia é caracterizada por circuitos compostos por transistores Bipolar de junção (TBJ) dos tipos NPN e PNP e Resistores. A Figura 12 apresenta uma relação comparativa entre as diferenças entre as tecnologias CMOS e TTL. Figura 12 – Comparação entre as tecnologias TTL e CMOS Fonte: Adaptado de Agner (2008) 11 A partir dos dados apresentados na Figura 12, é possível analisar que a tecnologia CMOS possui circuitos integrados com maior range para tensão de alimentação do que a tecnologia TTL, a utilização de transistores com tecnologia FET torna os circuitos integrados da tecnologia CMOS mais robustos em comparação a tecnologia TTL. Quanto as características de consumo e velocidade, a tecnologia CMOS possui a vantagem de consumir uma menor corrente, e consequentemente uma menor potência elétrica, além de possuir um tempo de resposta mais alto mantendo sem alternância na estabilidade do sistema. O Fan-Out ou Fator de Carga corresponde basicamente ao parâmetro correspondente ao número máximo de entradas ou terminais de um dispositivo lógico que uma saída pode alimentar de maneira confiável. Neste aspecto a tecnologia CMOS possui a vantagem em relação a TTL, visto que possui em geral circuitos digitais com Fan-Out mais elevado, o que auxilia na integração no desenvolvimento de circuitos lógicos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do desenvolvimento da pesquisa bibliográfica e exploratória proposta, foi possível verificar as principais bases de aplicações dos sistemas digitais. Os sistemas digitais possuem sua base de funcionamento a partir de sinais discretos, representados a partir da lógica booleana. Esses sistemas possuem a capacidade de processar informações com alta precisão, confiabilidade e velocidade, o que os torna essenciais em diversas aplicações e equipamentos comerciais e industriais. No desenvolvimento dos sistemas digitais, como elementos base de aplicação temos as portas lógicas, que basicamente permitem o desenvolvimento de operações lógicas por circuitos digitais, estas operam a partir dos princípios da álgebra booleana. Desta forma os circuitos digitais formados a partir das portas lógicas podem ser classificados como combinacionais ou sequenciais. Os circuitos digitais combinacionais produzem sinais de saídas apenas com base nas entradas atuais, sem levar em consideração estados anteriores, a partir de operações lógicas e aritméticas definidas pelas portas lógicas utilizadas. Os circuitos digitais sequenciais produzem saídas dependentes das entradas atuais e das entradas passadas, ou 12 seja, há um elemento de memória ou armazenamento envolvido, esses circuitos são baseados em célulaschamadas Flip-Flops, as quais internamente são formadas por uma combinação de portas lógicas. Os circuitos combinacionais são muito aplicados em decodificadores e circuitos de controle específicos, os circuitos sequenciais digitais são muito aplicados no desenvolvimento de sistemas de contagem de tempo e circuitos de memórias. No desenvolvimento de projetos para sistemas digitais, se faz necessário a utilização de circuitos integrados comerciais, estes são encontrados classificados de acordo a tecnologia de fabricação utilizada. A tecnologia CMOS é amplamente utilizada no desenvolvimento de sistemas digitais, visto que possui uma combinação positiva de características referentes ao baixo consumo de energia, alta integração e desempenho confiável, o que favorece o desenvolvimento de projetos em sistemas digitais. 5. FONTES CONSULTADAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2011. Disponível em: http://site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/files/2011/09/NBR_14724_atualizada_a br_2011.pdf. Acesso em: 16 de Julho de 2020. AGNER, Flávio Rech; REIS, André Inácio; RIBAS, Renato Perez. Fundamentos de circuitos digitais. Porto Alegre, RS: Bookman: Instituto de Informática da UFRGS, 2008. 166 p. (Livros Didáticos; v. 17). CARRO, Luigi. Projeto e Prototipação de Sistemas Digitais, 1ª ed. Editora UFRGS, 2001. GARCIA, Paulo Alves; MARTINI, José Sidnei Colombo. Eletrônica digital: teoria e laboratório. 2.ed. São Paulo (SP): Érica, 2010. 182 p. IDOETA, Ivan Valeije; CAPUANO, Francisco G. Elementos de eletrônica digital. 41 ed. São Paulo, SP: Érica, 2014. POLONSKI, Mikhail M., Introdução à Robótica e Mecatrônica. 2. ed. Caxias do Sul: EDUCS, 1997. TAUB, Herbert. Circuitos digitais e microprocessadores. São Paulo (SP): McGraw- Hill, 1984. 510 p TOCCI, Ronald J.; WIDMER, Neal S.; MOSS, Gregory L. Sistemas digitais: princípios e aplicações. 11 ed. Rio de Janeiro (RJ): LTC, 2011.
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