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Fundamentos da psicoterapia breve Prof. José Carlos Tavares da Silva Descrição Reconhecimento da origem, fundamentos e aplicação da psicoterapia breve e focal. Propósito O estudo sobre as bases e as aplicações da psicoterapia breve é importante para identificar os casos em que é válida esta aplicação, bem como para desenvolver a habilidade do terapeuta em estabelecer um vínculo entre o problema e a solução (metodologia aplicável). Objetivos Módulo 1 Fundamentos teóricos e tipos de psicoterapia breve Reconhecer as origens históricas e os motivos do surgimento das terapias breves. Módulo 2 Indicações e contraindicações para a psicoterapia breve Reconhecer as técnicas das diversas abordagens da psicoterapia breve. Módulo 3 Contextos de atuação Analisar as intervenções breves no contexto fenomenológico-existencial. Introdução A psicoterapia breve surge, originalmente, com o objetivo de encurtar a duração dos processos terapêuticos psicanalíticos. Um dos seus focos é na emoção e na avaliação da emoção ajustada à experiência real ou evento traumático. Para tal, pode-se fazer uso da técnica conhecida como experiência emocional corretiva. Imagine uma pessoa jogando com bolas de gude: claramente, o objetivo de cada ação é provocar a mudança de uma bola de gude ou várias, a partir do contato de uma bola lançada em direção ao ponto de encontro com as outras. Quando uma bola de gude bate em outra e numa terceira, estamos diante do efeito carambola. Assim era pensada a técnica da experiência emocional corretiva, na qual a experiência com as repetidas exposições do paciente ao trauma por que passou permite observar alterações da experiência original pelos sucessivos reaprendizados e ressignificações. A terapia focal (e breve) pode se beneficiar nos conceitos da experiência emocional corretiva e no “efeito carambola” para reorganizar a representação da situação traumática de modo que se alcance bem-estar e bom entendimento da situação passada, não no passado, mas no presente, fortalecendo, doravante, a capacidade de enfrentamento das situações análogas ao trauma que eventualmente vier a experimentar. No material a seguir, pretendemos detalhar como o surgimento dessa forma de terapia se fundamenta, destacando as suas principais aplicações e intervenções. 1 - Fundamentos teóricos e tipos de psicoterapia breve Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as origens históricas e os motivos do surgimento das terapias breves. Psicoterapia breve de base psicanalítica Os primórdios da psicoterapia breve coincidem com o surgimento da psicanálise de Sigmund Freud. Os psicanalistas Sandor Ferenczi, Otto Rank e Alexander foram os primeiros a desenvolver técnicas breves para atendimento terapêutico psicanalítico. Também de caráter breve, Skinner, Thorndike e Aaron Temkim Beck deram origem às psicoterapias comportamentais e cognitivo-comportamentais. Comecemos com a psicoterapia breve de base psicanalítica. A duração do processo psicoterapêutico varia de pessoa para pessoa, segundo suas capacidades cognitivas e suas habilidades de vida. A construção do caráter, via história de vida, ou seja, o resultado do processo de acumulação de experiências, tanto as boas quanto as neutras ou até mesmo as ruins, cria um conjunto de valores, conceitos e regras que constituem uma base para a tomada de decisão e resolução dos conflitos. A psicoterapia breve de base psicanalítica, ancorada na associação livre e na habilidade do terapeuta em promover questionamentos para que o paciente encontre outros significados para suas interpretações de mundo, principalmente os traumas, ou seja, aquelas experiências que resultam em sofrimento psíquico e que, quando recalcadas, retornam a cada oportunidade induzida por experiências atuais. No período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, houve uma grave crise econômica que atingiu a Alemanha na década de 1920, assim como o surgimento de movimentos de segregação e perseguição, com o crescimento do nazismo. Antes desses eventos, houve crises sociais e econômicas, além das consequências políticas e geográficas do conflito bélico em nível mundial. Neste contexto, os traumas levaram ao ápice a exigência humana quanto a ser resiliente e suportar perdas. Além disso, as dificuldades da época implicaram em mudanças significativas na prática da psicanálise, que, naquele momento, contava com grande adesão no meio social (FREUD; FERENCZI, 1995) A brevidade das terapias se torna, então, o fator principal de escolha para os pacientes. Surge daí uma importante característica: para ser breve, é necessário ser focal. Esse fato não entra em conflito com o princípio da associação livre, ao contrário, restringe-se a abrangência da temática. Entretanto, a escuta continua sendo a base terapêutica, e o setting terapêutico mantém-se como lugar de fala. Estima-se que um processo terapêutico, para ser considerado breve, deve ter um número de sessões entre 12 e 24. A frequência comum é de uma sessão semanal, e esse intervalo de tempo entre duas sessões consecutivas serve para o paciente aproveitar e sedimentar os achados das sessões e encontrar meios de ressignificar sua experiência traumática. Para Lustosa (2010, p. 263) “Ao falar-se de psicoterapia breve, fala-se de uma psicoterapia do ego, dado que este se estabelece como seu local de trabalho, e de investimento terapêutico. [Assim] certamente, o id acaba sendo alcançado”. Contudo, alerta que, ainda que seja uma psicoterapia do ego, nem por isso ela é superficial, pois induz transformações profundas, uma vez que impacta sobre os mecanismos de defesa disfuncionais. O ego, fortalecido, torna-se um regulador e promotor da ressignificação. Isso ocorre por meio da fala, da transformação e da nomeação do sintoma. Agora, vamos falar sobre a corrente cognitivo- comportamental. Psicanálise versus psicoterapia breve de base psicanalítica Neste vídeo, propomos uma reflexão sobre a psicoterapia breve de base psicanalítica em contraponto ao processo psicanalítico, que é conhecido por respeitar o tempo do paciente com duração relativamente dilatada. Psicoterapia breve de base cognitiva A terapia cognitivo comportamental, criada na década de 1960 por Aaron Beck e seus pares, já nasceu com um caráter breve e focal, com evoluções mensuráveis por processos de avaliação longitudinal dos avanços terapêuticos. Para Beck (2013), o inconsciente cognitivo tem lócus na memória implícita, a memória de longo prazo que armazena as representações das experiências acumuladas pela pessoa nas vivências em sua cultura, representando uma diferença sistêmica em relação ao conceito de inconsciente freudiano. Aaron Beck estudou psicanálise e seu principal ponto de divergência com outros psicanalistas deu-se ao observar a ausência da psicometrização dos construtos básicos. Beck (2013) afirma que a evolução do tratamento deve seguir um caminho de progresso projetado a partir das primeiras sessões. Ele acreditava que a pessoa deve ser alvo de psicoeducação, para que possa caminhar a partir desse ponto por si só ao final do processo terapêutico, já que passa a conhecer métodos e processos capazes de auxiliá-la na resolução de problemas, na tomada de decisões e na aquisição de novas habilidades sociais. Por não ser aceito na Sociedade Americana de Psicanálise, Aaron Beck funda seu próprio instituto na Pensilvânia e passa a construir sua própria linha teórica, hoje muito difundida e tida como a opção preferencial de muitos psiquiatras quando se trata de cuidar de pacientes com transtornos de personalidade ou transtornos de humor. Beck (2013) apresenta um modelo cognitivo-comportamental que responde adequadamente à dinâmica de ajustamento da pessoa com sua realidade. Psicometrização Busca de instrumentos de mensuração dos fenômenos estudados. Tipicamente, um processo terapêutico cognitivo-comportamental prevê uma estrutura que começa com a elaboração de uma lista de problemas e metas (LPM). A construçãodessa lista é realizada em conjunto com o paciente. Uma vez acordado o conteúdo da lista, faz-se um plano de intervenção no qual se organizam as metas em uma sequência no tempo, segundo urgência e prioridades. Para maior clareza, pode-se estabelecer que a meta é o contrário do problema. Por exemplo, se o problema é não ser organizado financeiramente, a meta é se tornar financeiramente organizado. Na terapia cognitivo-comportamental, há a hipótese de que um paciente aderente ao modelo breve tem um horizonte de até seis meses de atendimento psicoterapêutico com frequência semanal, com reavaliações obrigatórias a cada 12 sessões. Se tudo correr bem, o semestre seguinte já prevê uma redução na frequência para duas sessões por mês, ou seja, frequência quinzenal. No terceiro semestre, essa frequência, dados os ganhos terapêuticos validados nas avaliações periódicas, passa a ser mensal. A partir daí, reduz-se para uma sessão a cada trimestre no quarto semestre e, após esse prazo, realiza-se uma sessão de revisão para manutenção dos ganhos e prevenção de recaídas a cada seis meses. Essa é uma base que pode evoluir de modo distinto, de acordo com os avanços e recaídas e também em função da quantidade de problemas listados na LPM. A relevância da lista de problemas e metas está na possibilidade de prever em quais áreas a pessoa tem problemas pontuais, tratando cada um de forma breve e focal e, ainda, podendo observar a interação entre os problemas das diversas áreas. Na terapia cognitivo comportamental, observa-se o princípio da primazia do pensamento (cognição) sobre a emoção e sobre o comportamento. No nível do inconsciente cognitivo, encontram-se: As crenças Os pressupostos As atitudes Os conceitos Os valores adquiridos Entende-se, segundo Fiske e Taylor (1991), que uma atitude tem componentes cognitivos, afetivos e comportamentais. Atitudes causam intencionalidades. Portanto, desafiar os pensamentos significa operar sobre o esquema de crenças que, uma vez flexibilizado, permite mudança comportamental, viabilizando a chegada de pensamentos funcionais à consciência. Uma questão importante é observar que a atitude preconiza o comportamento e o comportamento corrobora a atitude. Assim, não se pode esperar esquiva de quem está num processo direcionado por uma atitude agressiva, por exemplo. Caráter breve e focal Neste vídeo, falaremos sobre o caráter breve e focal presente na origem da TCC. Bases psicodinâmicas No que tange à psicanálise, Garcia-Rosa (2001) afirma que a terapia opera sobre um modelo de energia psíquica onde a libido desempenha o papel psicodinâmico das atividades pulsionais da estrutura da segunda tópica onde o ego regula as forças do id e do superego e, na primeira tópica, a libido ampliada em intensidade em algum momento atravessa a barreira entre o inconsciente e o pré-consciente e, ainda em intensidade, embora menor, tem força para ultrapassar a barreira do pré-consciente e alcançar a consciência. Nesse sentido, a psicoterapia psicanalítica breve não difere da psicanálise clássica. A diferença é promovida pela delimitação da abrangência da temática, do domínio onde a associação livre opera. Essa delimitação pode ser entendida como o foco do terapeuta. Imagine que por um momento você esteja passando por uma situação traumática do tipo que tenha lhe causado uma frustração. Esta situação invoca experiências anteriores similares e te prepara para lidar com essa nova frustração. Se a experiência anterior ficou mal resolvida e houve recalque, ela é somativa à vivência atual e lhe parece agora que o sofrimento é maior. Falar sobre essa frustração, nomear o sintoma e identificar causas fortalece sua resiliência e te dá suporte e alívio. Saber distinguir o que é ou não responsabilidade pessoal ajuda na ressignificação daquela experiência antiga e na compreensão do que levou a uma nova frustração semelhante àquela. A fala transforma o sintoma, e a essência do si mesmo é tocada. Sintomas não desaparecem, eles ficam adormecidos. Caso outras experiências levem a pessoa a outra situação análoga, os sintomas voltam como um recado inconsciente sobre o que vai mal e precisa de solução. Na psicanálise clássica, o processo de sonhar é considerado uma importante fonte de acesso ao inconsciente. Freud chamou o processo de sonhar de via régia para o inconsciente (GARCIA-ROSA, 2001). A condensação e o deslocamento são características típicas dos elementos do sonho. Mas o que acontece enquanto sonhamos? O sonho é um modo inconsciente de ajudar a resolver conflitos, representando-os por meio de imagens oníricas relacionadas à situação real representada. Não se trata do real em si, posto que, segundo Lacan (1985), o real é inalcançável e o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Por esses aspectos, pode-se compreender a importância da fala no setting terapêutico. Assim, só conseguimos dar conta do real no campo do simbólico. O real, o simbólico e o imaginário são atados por um anel borromeano, uma estrutura que consiste em três anéis interligados de modo que, se abrirmos um anel, os dois outros se soltam, não importando qual anel seja aberto. Logo, numa terapia breve de base psicanalítica, é importante considerar a oportunidade de remover um sintoma. É o próprio Freud (apud Carmo e Chaves, 2019, p.101) quem afirma que "a noção de que o sintoma possui um sentido inconsciente que deve ser escutado demonstra o caráter singular do tratamento analítico". Assim, se removemos o sintoma do paciente, sabendo que ele é um apoio, o que o paciente colocaria no lugar dele? Se não houver algo para substituir o sintoma, estaríamos piorando o quadro do paciente. Em outras abordagens, na terapia cognitivo-comportamental, há o entendimento de que os pensamentos fluem com uma energia que lhe é peculiar e automática, sem controle consciente, e são filtrados pelo esquema de crenças, de modo que um pensamento por vez chega à consciência. Segundo Rokeach, citado por Kruger (2017, p.59), "crença é toda afirmativa feita por uma pessoa, originada de sua experiência, que pode ser da percepção ou da cognição". Um esquema de crenças é um modo de interação e integração das crenças. Vamos atentar para o seguinte exemplo: Exemplo Uma pessoa se encontra numa situação em que sua atitude é de cautela, mas, ao observar os fatos e eventos do mundo real, numa situação-problema, o pensamento que vem à consciência é: “Acredito que estou em perigo”. Logo em seguida, a pessoa experimenta as emoções de medo e ansiedade. Entende que se encontra vulnerável e que deve decidir entre evitar, fugindo, ou enfrentar, lutando. Observando que está ativa a atitude de cautela, o comportamento que corrobora a cautela é o de fuga. O sistema límbico já foi ativado, a adrenalina enviada à musculatura estriada e a fisiologia da pessoa está pronta para executar a fuga. Psiquismo em seus processos dinâmicos Neste vídeo, tratamos sobre as forças psicológicas que atuam sobre o comportamento humano, enfatizando a interação entre as motivações consciente e inconsciente. Funções dos componentes básicos Vamos refletir sobre a aplicação de componentes centrais da psicoterapia breve, como a escuta ativa, experiência emocional corretiva e efeito. Imagine uma situação em que um amigo seu experimenta grande sofrimento quando se encontra diante de um cão perdido na rua. Suponha que esse encontro tenha produzido o afloramento de lembranças desagradáveis. Ele não sabe ao certo o porquê de seu sofrimento, apenas repete a agonia recalcada no inconsciente. Na interação com o terapeuta, esta lembrança foi capaz de ser interpretada à luz das condições atuais do paciente. Ao compreender a situação como um gatilho de sofrimento do passado, em que ele percebe que perdeu seu cão e não mais o achou, aquela situação de ver um cão sozinho e sem dono lhe fez pensar no sofrimento de, por um tempo, lidar com a ideia de que seu animal de estimação estava só e em sofrimento por causade sua imperícia em cuidar dele. Com algum talento, o terapeuta lhe pede que compare como seria o fato se ele ocorresse agora. Isto é, o cão perdido não retornará, mas, se perder outra vez um cão, como fará para tê-lo de volta? Veja, o foco é na perda e na incapacidade não agora, mas na infância, de compreender a perda. Mesmo que o pensamento atual não traga de volta o cão, alivia perceber que não poderia ter feito melhor do que fez à época da perda. O arrasto da perda é aliviado pelo descarte da culpa, que já não faz mais o mesmo sentido para o paciente. Para a psicoterapia breve de base psicanalítica, a técnica ativa, a experiência emocional corretiva e o efeito carambola, juntos, promovem uma base para a mudança do paciente. Vamos aprofundar um pouco mais nossa compreensão sobre o efeito carambola. Imagine que se conseguiu uma pequena mudança numa sessão terapêutica. Na sessão seguinte, essa conquista já tocou outros pontos dolorosos, alguns já compreendidos, outros ainda não. Nesta sessão atual, procura-se tocar nos pensamentos e pormenores ou detalhes da interrelação com os pensamentos traumáticos do passado. Esse processo é crescente em energia, tal qual o modelo de propagação da energia radioativa. Compare um elétron de um átomo radioativo com uma bola de pingue-pongue. Imagine que há uma quantidade grande de ratoeiras no chão de uma sala. Cada ratoeira tem sobre seu gatilho uma bola de pingue-pongue. Se uma pessoa joga apenas uma bola de pingue-pongue sobre o conjunto de ratoeiras, ela desloca mais uma. Agora, são duas que saltam, e tocam em mais duas, fazendo quatro bolinhas saltarem. A cada etapa, a energia dobra, até atingir a massa crítica e extinguir as fontes, dispersando a energia liberada pelos impactos anteriores. Comentário Considere agora vários pensamentos sendo reorganizados promovendo mudanças nos estados mentais. Esse “ataque ou desafio” aos pensamentos disfuncionais tem como objetivo causar homeostase das dissonâncias pela exaustão da energia. É preciso confiar que o processo terapêutico encontra um fim. Agora, o paciente está empoderado diante daquela adversidade tratada. É hora de buscar outro alvo ou aguardar que o paciente venha com novas demandas não tratadas. Se há poucas demandas, a pessoa por si concorda com a alta. Se ainda há demandas, deve-se considerar uma nova forma de terapia. Mas aquela demanda breve foi resolvida. Esse é o objetivo da terapia breve. Não resolve tudo, resolve o que mais dói. O que Lemgruber (apud CORDIOLLI, 2008) denomina efeito carambola se refere ao efeito cumulativo das sessões terapêuticas que tocam um sintoma aqui e ali, outro um pouco acolá, e então cercamos o sintoma para descobrir suas causas e ajudar no processo de mudança. Sessões terapêuticas e processo de mudança Neste vídeo, apresentamos um estudo de caso com função dos componentes importantes: escuta ativa, experiência emocional corretiva e efeito carambola. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O processo de intervenção proposto por Alexander (experiência emocional corretiva) é uma das formas de terapia breve de base psicanalítica. Sobre ele, é correto afirmar: Parabéns! A alternativa C está correta. A experiência emocional corretiva proporciona a possibilidade de o paciente experimentar traumas penosamente recalcados no passado, revivendo-os por meio da fala no setting terapêutico guiado e suportado pelo terapeuta. Questão 2 Como a terapia cognitivo comportamental requer estrutura e dinâmica focalizada em situações definidas, é preciso um modelo sobre o qual se pode apoiar a práxis buscando eficácia no menor tempo possível. Tendo em mente essa característica, avalie as afirmativas abaixo e marque a única correta. A A experiência emocional corretiva refere-se apenas ao conteúdo da experiência passada, não importando o momento atual. B A experiência emocional corretiva é como um treinamento para o paciente assumir uma postura otimista, procurando sempre os aspectos positivos em situações desconfortáveis. C A experiência emocional corretiva proporciona a possibilidade de o paciente experimentar traumas penosamente recalcados no passado, revivendo-os, por meio da fala no setting terapêutico guiado e suportado pelo terapeuta. D O efeito carambola é observado quando a experiência emocional corretiva não alcança o resultado esperado. E A ideia de que uma nova experiência emocional possa surgir numa relação terapêutica é descartada pela experiência emocional corretiva que visa a mudança cognitiva, isto é, apenas a ressignificação do trauma. Parabéns! A alternativa A está correta. Um modelo cognitivo-comportamental deve considerar o princípio da primazia do cognitivo sobre o emocional e deste sobre o comportamental. Contudo, deve envolver os elementos descritivos da personalidade do sujeito. Assim, o temperamento, porque inato, se ancora nas bases biológicas e o caráter é construído na relação do sujeito com o mundo em que vive, o que dá o matiz social a ser agregado ao modelo. A promoção de saúde mental e, portanto, de bem-estar é o objetivo de todo processo terapêutico, inclusive daqueles de natureza breve. A Um bom modelo deve agregar aspectos cognitivos, emocionais, comportamentais, biológicos, psicológicos e sociais do funcionamento humano em prol da mudança comportamental causadora de bem-estar. B Um bom modelo considera a vida sob uma perspectiva unicultural, social e econômica, prevalecendo, entretanto, a fisiologia cerebral. C Um bom modelo deve contemplar os sintomas, sem a finalidade de explicar, predizer ou aliviar transtornos, deficiências e angústias. D Um bom modelo deve promover adaptação, ajustamento e desenvolvimento pessoal estritamente relacionado aos aspectos individuais, desconsiderando as relações inter- indivíduos. E Embora um bom modelo preconize uma abordagem multifatorial, não precisa levar em consideração as peculiaridades do comportamento do sujeito. 2 - Indicações e contraindicações para a psicoterapia breve Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as técnicas das diversas abordagens da psicoterapia breve. Psicoterapia breve de Ferenczi, Otto Rank e Alexander Ferenczi (1993) afirma que os pacientes que alcançam alívio de seus sintomas mais dolorosos tendem, também por motivos financeiros, a interromper o processo terapêutico. Os sintomas ainda não resolvidos tornam-se, segundo o que percebem tais indivíduos, menos penosos. Saiba mais No período de 1924 a 1939, houve ciclos de violência e grandes catástrofes econômicas, cujo ápice foi a quebra da bolsa de Nova York em 1929, que trouxeram alto grau de angústia. Foram tempos difíceis, de grandes perdas, e contínuo sofrimento psíquico. A Segunda Grande Guerra arrastou para mais fundo o “fosso“ depressivo das sociedades da época. Os países da Europa sofreram grande revés, e isto acarretou um movimento em direção à psicoterapia como recurso terapêutico para aliviar a pressão da angústia existencial, dos traumas das perdas e da falta de expectativas positivas quanto ao porvir. Nesse contexto, Ferenczi (1993) propõe, com apoio de Freud, a técnica ativa, que visava a redução do tempo de análise, considerado custoso naquele período, tanto do ponto de vista do sofrimento psíquico quanto do ponto de vista financeiro. A técnica implicava em considerar, segundo Lemgruber citada por Cordioli (2008): A importância dos fatos da vida atual, contrastando com os fatos da infância do sujeito. A importância de marcar data para o término do processo terapêutico. A importância do nível de motivação do paciente para alcançar mudança. Portanto, podemos definir que: Para se considerar uma terapia como breve, fazia-se necessário definir um horizonte de tempo (prazo) para o fim do processo terapêutico. Nesse período, priorizavam-se os eventos e fatos mais relevantes em relação ao objeto da terapia (foco) e se trabalhavam as correlações entre fatos passadose presentes de modo a produzir a remissão dos sintomas. Para tal, considerava-se de grande importância a autodeterminação do paciente e o grau de adesão que possuía em relação ao processo terapêutico e sua eficácia. Pessoas com baixa motivação tendem a desistir, interromper ou mudar de terapeuta. Em tese, a técnica ativa envolve a escuta ativa no lugar da escuta livre, ou melhor, em lugar da promoção e valorização da associação livre. A diferença em relação ao trabalho psicanalítico convencional está no fato de que, enquanto na psicanálise, tem-se que prestigiar a associação livre, na forma breve, o terapeuta tem a prerrogativa de orientar a fala a um foco limitado, mas garantindo a livre associação considerado o foco, para que o tempo de terapia possa ser abreviado. Alexander, ao propor a experiência emocional corretiva, abriu um caminho mais curto para a remissão dos sintomas. Lemgruber (apud Cordioli, 2008) afirma que, para Alexander, a experiência emocional corretiva pode ocorrer sem consciência plena das causas determinantes da situação atual do paciente. Isto nos leva a pensar sobre o que é essa experiência. Pensemos juntos: se ela tem como objetivo promover correção, deve existir um modo de perceber as não conformidades do comportamento da pessoa em relação ao mundo em que vive. Contudo, não é de todo consciente que isso ocorre. Daí importa considerar a mediação emocional como promotora dessa ponte de mudança que permite a remissão do sintoma. Psicoterapia: recurso para aliviar a angústia existencial Neste vídeo, refletiremos sobre psicoterapia breve e seus recursos terapêuticos. Psicoterapia cognitivo comportamental de Aaron Beck Esta sessão é dedicada aos conceitos básicos da terapia cognitivo comportamental (TCC). Admitamos, primeiramente, o conceito de crença como pedra fundamental do processo da TCC. Como afirmado por Rokeach (apud KRUGER, 2017), crença é tudo aquilo em que acreditamos, seja vindo da experiência ou do pensamento. Isto se torna mais compreensível observando que, durante nossa vivência, desde a infância, vamos acumulando experiências e aprendendo a lidar com o mundo real conforme nossas figuras de referência: pais, professores, amigos etc. Algumas de nossas respostas automáticas são baseadas em componentes herdados. Por exemplo, nascemos com a capacidade de experimentar emoções, mas aprendemos as emoções com as pessoas com as quais vivemos. Essas crenças permitem estabelecer uma interpretação de mundo que se modifica a cada vez que experiências semelhantes causam sua recuperação do inconsciente cognitivo por um processo automático. Ainda segundo Kruger (2017), as crenças se conformam em esquemas, às vezes mal adaptativos, para operar sobre os pensamentos inconscientes e automáticos que foram registrados na memória implícita. A dinâmica dos pensamentos é peculiar. Para Beck, os esquemas de crenças formam um modelo de filtragem, ou ainda, de construção de pistas do inconsciente para o consciente, que se tornam caminhos preferenciais para os pensamentos. Em situações de mesma atitude ou em evento similar, o processamento cognitivo favorece os pensamentos automáticos. Nosso inconsciente cognitivo é um repositório de crenças funcionais e disfuncionais, entre outros conteúdos. Os pensamentos inconscientes possuem energia e encontram-se em um ambiente de pressão. Nesse patamar, considera-se que existem múltiplas trilhas pelas quais os pensamentos podem evoluir. Enquanto conteúdo da memória implícita, aquilo que registramos ao longo de nossas vivências causa automatismos em resposta a eventos. No nível pré-consciente, as crenças se conformam em esquemas que funcionam como filtros ou lentes pelas quais passa um único pensamento automático, fruto de um processo cognitivo que elabora e seleciona a pista mais adequada. Então, um pensamento por vez alcança o nível da consciência, também chamado de cognição, tornando-se um processo em monotrilha. Seguindo o princípio da primazia de Beck, a partir da cognição, surge uma emoção que ativa o sistema límbico, promovendo efeitos biológicos com a descarga de neurotransmissores. Simultaneamente, uma ou mais ações corroboram a atitude, conformando o comportamento preconizado por ela. Esse processo é a práxis diante das evidências, que por meio da sensopercepção, invoca uma representação mental que descreve o problema a ser resolvido. Há um caminho para ser trilhado pelos pensamentos até que um chegue à consciência. Tal como no modelo de psicanálise, há uma energia que dá autonomia aos pensamentos inconscientes, os quais se movem em muitas trilhas com o objetivo de competirem por um caminho de chegada à consciência. O esquema de crenças contém pistas pelas quais os pensamentos podem acessar a consciência. Há, ainda, no inconsciente cognitivo, regras e pressupostos que apoiam o processamento cognitivo e selecionam aquele resultante dessa operação que se torna uma cognição. Cumpre observar que a palavra cognição se refere tanto ao processo de selecionar e comparar pensamentos quanto se refere ao pensamento em si. Inconsciente cognitivo Neste vídeo, abordaremos o inconsciente cognitivo, destacando a trilha percorrida das crenças funcionais e disfuncionais até chegarem à consciência. Psicodinâmica no modelo da TCC Considerando o princípio da primazia da cognição (pensamento) sobre a emoção, e desta sobre o comportamento, e considerando as atitudes como crenças mais arraigadas, rígidas no inconsciente cognitivo, a imagem a seguir mostra um esquema explicativo da psicodinâmica no modelo TCC. A região azul é uma representação dos conteúdos da memória implícita. Dinâmica do processamento cognitivo. Explicando melhor: um evento ocorre, e a pessoa precisa compreender o que se passa. Uma interpretação das sensações é construída pela sensopercepção. Daí, uma avaliação cognitiva das circunstâncias, ameaças, implicam uma resposta comportamental. Desse processamento a que se optou por denominar de avaliação cognitiva, uma atitude (ou mais) são ativadas. As atitudes não são as ações em si, mas causam intencionalidades. Uma vez ativada a atitude, decorre uma cognição (pensamento consciente), daí segue a ativação da emoção, que pode afetar a cognição (dissonância), que pode reativar a avaliação cognitiva. Siga os circuitos das setas de orientação demonstrados na imagem. Como se pode observar, partem setas da atitude para a cognição, para a emoção e para o comportamento. Uma vez ativado o comportamento, o evento inicial não é mais o mesmo, e todo o processo começa e se mantêm até que se alcance a resolução. Os processos automáticos não estão sob nosso controle consciente; antes, esses processos controlam o comportamento. Observe que há uma conexão entre atitude e comportamento. Como a atitude é preditora do comportamento, o comportamento corrobora a atitude em reciprocidade. Vamos a um exemplo. Uma pessoa está diante de um evento no qual avalia estar em perigo. Se ela ativa a atitude de cautela, seu comportamento será evitar o perigo. Se ela ativa a atitude de enfrentamento, seu comportamento será agressivo e enfrentará a ameaça. Os comportamentos também seguem determinadas estratégias compensatórias. Estas tipicamente são a evitação, o controle, o perfeccionismo e a hipervigilância. Podemos utilizar uma ou mais para elaborar a resposta comportamental. Contudo, nada acontece fora da inspeção do intelecto quanto às evidências e quanto aos pensamentos automáticos. Notemos que Beck tinha uma formação psicanalítica, mas também tinha interesses em reestruturar os construtos da psicanálise, de modo que: 1. O inconsciente precisava de um lócus. 2. A raiva retroflexa foi usada como objeto de estudo para compreender que, em estado de vigília e em estado alterado de consciência (sonhando, por exemplo), as respostas comportamentais, diante da experiência emocional, não seguiam o padrão preconizado pela psicanálise. 3. Os limites da psicanálise esbarravam nas propostasde tratamento das psicoses, porque os esquizofrênicos, por exemplo, eram um grande desafio ao processo de associação livre e coerência com a realidade objetiva. Esquizofrênicos fazem fuga da realidade; neuróticos sofrem com a realidade; e os perversos manipulam a realidade à sua conveniência (Garcia-Rosa, 2001). Note que nesse modelo de psicodinâmica, o caráter breve e focal é mandatório. O objetivo é obter flexibilidade cognitiva, desafiando primeiro os pensamentos automáticos negativos, depois as crenças subjacentes. Em cada área da LPM (lista de problemas e metas), definem-se submetas que sigam os seguintes padrões: Devem ser tais que as soluções de cada uma componham a solução da meta. Devem ser traçadas mediante expectativas alcançáveis. Cada submeta deve ser metrificável, isto é, há uma quantidade finita de esforço para realizá-la e há um tempo limite para alcançá-la. Na etapa de planejamento em psicoterapia breve, explicaremos como se dá a práxis. Por exemplo, uma pessoa quer parar de fumar e está cogitando que deve parar. Então procura um terapeuta cognitivo comportamental que, junto com ela, estabelece um tempo e um método. Podem ser usadas várias estratégias, mas é imperativo que sejam divididas em fases. Na primeira submeta, por exemplo, pode ser definido que o primeiro cigarro do dia será somente após as dez da manhã. É solicitado à pessoa que ela preste atenção nos intervalos em que a fissura é mais presente. Junto com a pessoa é definido um tempo mínimo entre um cigarro em outro. Essa técnica é de retardamento do impulso e de exposição controlada ao risco. É possível combinar outras técnicas. Mas a pessoa deve estimar um tempo máximo em que chegará a seu objetivo que é não fumar e não se importar com outros que fumam. Dinâmica do processamento cognitivo Neste vídeo, apresentaremos e refletiremos sobre a dinâmica do processo cognitivo e o uso de técnicas na busca da flexibilidade cognitiva. Recomendações para psicoterapia breve As indicações da psicoterapia breve são várias. Vejamos, a pessoa tem uma fobia de avião. Podemos trabalhar esta fobia no modelo TCC breve. A pessoa é conscientizada de que o que ela perde ao entrar no avião é o controle temporário sobre suas alternativas de movimentação. Outras fobias seguem o mesmo padrão. Fobia de elevador, de lugar alto, de lugar movimentado, de locais frequentados por muitas pessoas, de adoecer etc. Pode-se também considerar os momentos que antecedem a uma intervenção cirúrgica e no qual a ansiedade saia do controle. Ou tratar os aspectos cognitivos de tomar uma decisão que afeta a vida da pessoa em definitivo ou que seja de difícil reversão como, por exemplo, decidir por fazer uma laqueadura ou uma vasectomia. Algumas pessoas buscam terapia para lidar com o burnout e precisam de ajuda para encontrar mudanças que promovam o bem-estar. Outras têm questões não resolvidas que, em algum momento, surgem e causam sofrimento psicológico, como problemas com os pais, no relacionamento conjugal ou no ambiente de trabalho. Programas de demissão voluntária devem considerar o suporte psicológico para ajudar a resolver o processo de desligamento de forma saudável. Uma diferença fundamental para o sucesso ou fracasso da terapia está na capacidade de simbolizar as experiências traumáticas. As pessoas que procuram terapia geralmente buscam alívio dos sintomas e melhoria na qualidade de vida. As psicoterapias breves têm aplicação no campo da psicologia hospitalar, na psicologia do adolescente, na psicologia do idoso, na resolução de conflitos entre pessoas etc. Para Lustosa (2010, p. 263), é preciso bem avaliar a propriedade e a eficácia da técnica da psicoterapia breve ao caso de estudo. Para a autora, as PBs são muito bem empregadas em: Quadros agudos (situações de emergência, crises) Distúrbios reativos, (incluindo depressões reativas) Reações ansiosas ou fóbicas Perturbações psicossomáticas de início recente Quando se trata da população mais carente de recursos financeiros, resta que a abordagem breve, normalmente utilizada nos Centros de Atenção Psicossocial, é a única possibilidade. Mesmo em se tratando de sistemas de baixo custo, como a gratuidade nos Serviços de Psicologia Aplicada, ligados a universidades e faculdades, a pessoa carece do dinheiro para se deslocar até o local da terapia. Resta considerar os momentos de traumas coletivos, como em emergências e desastres. O transtorno de estresse pós-traumático e a ansiedade de separação são possíveis áreas em que a psicoterapia breve é recomendável. Psicoterapia breve aplicada Neste vídeo, trataremos sobre a aplicação da psicoterapia breve em diferentes contextos. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Avalie as afirmativas sobre a terapia breve e, na sequência, assinale a alternativa correta: I – As psicoterapias breves têm aplicação no campo da psicologia hospitalar, dado que, tipicamente, a razão de uma pessoa estar internada torna relevante a preparação psicológica para os procedimentos hospitalares compatíveis com sua demanda médico-cirúrgica. II – As psicoterapias breves de base fenomenológica-existencial é sempre a primeira alternativa, quando se trata de plano terapêutico de longo prazo. III – Quando se trata da população mais carente de recursos financeiros, resta que a abordagem breve, normalmente utilizada nos centros de atenção psicossocial, e os atendimentos sociais voluntários são as melhores possibilidades. Parabéns! A alternativa C está correta. A afirmativa II é falsa, pois a psicoterapia breve, de base fenomenológica-existencial, é sempre a primeira alternativa quando se trata de plano terapêutico de curto prazo. A afirmativa I é verdadeira, já que, no campo da Psicologia hospitalar, há aplicações antes e após atos cirúrgicos ou tratamentos que requeiram cuidados especiais. O ambiente hospitalar, já traz certo aspecto de temeridade. Assim, a atuação breve acarreta equilíbrio dos níveis de ansiedade e medo, pela tomada de consciência do que passará a pessoa e o que ela ganhará após o ato cirúrgico. Sua resistência, seus temores, são elementos a serem trabalhados na terapia breve. A afirmativa III é verdadeira, pois quando se trata da população mais carente de recursos financeiros, resta que a abordagem breve, normalmente utilizada nos centros de atenção psicossocial e os atendimentos sociais voluntários são as melhores possibilidades para eles, por implicarem um baixo custo financeiro e pouca interrupção das atividades laborais. Questão 2 Assinale, entre as alternativas a seguir, aquela que descreve corretamente como a TCC atua na dinâmica do processamento cognitivo. A Apenas a afirmativa I é verdadeira. B Apenas a afirmativa III é verdadeira. C Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras. D Apenas a afirmativa II é verdadeira. E Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras. Parabéns! A alternativa B está correta. A A psicodinâmica da terapia cognitivo-comportamental opera sobre a compreensão do pensamento automático e ativa uma avaliação cognitiva na qual uma ou mais crenças são escolhidas. Daí, uma ação chega à consciência, e uma ou mais emoções são ativadas. Segue que uma estratégia é selecionada em conformidade com a atitude ativada. B A psicodinâmica da terapia cognitivo-comportamental opera sobre a compreensão do evento e ativa uma avaliação cognitiva na qual uma ou mais atitudes são escolhidas. Daí, uma cognição chega à consciência e uma ou mais emoções são ativadas. Segue que um comportamento é selecionado em conformidade com a atitude ativada. C A psicodinâmica da terapia cognitivo-comportamental opera sobre a compreensão do pensamento automático e ativa uma representação consciente na qual uma ou mais atitudes são escolhidas. Daí, uma regra condicional chega à consciência, e uma ou mais emoções são ativadas. Segue que um comportamento é selecionado em conformidade com a estratégia compensatóriaativada. D A psicodinâmica da terapia cognitivo-comportamental opera sobre a compreensão do evento e ativa uma atitude na qual uma ou mais estratégias compensatórias são escolhidas. Daí, uma pressuposição chega à consciência, e uma ou mais emoções são ativadas. Segue que um comportamento é selecionado em conformidade com a crença condicional ativada. E A psicodinâmica da terapia cognitivo-comportamental opera sobre a compreensão do fato e ativa uma crença condicional na qual um ou mais pensamentos automáticos são escolhidos. Daí, uma pressuposição chega à consciência e uma ou mais regras de resolução são ativadas. Segue que um comportamento é selecionado em conformidade com a atitude ativada. A dinâmica do processamento cognitivo se inicia com a necessidade de a pessoa compreender o evento. Segundo Beck, a TCC atua sobre essa compreensão, ativando uma avaliação cognitiva das circunstâncias, que escolhe uma atitude (ou mais). Uma vez ativada a atitude, decorre um pensamento consciente e, então, a ativação da emoção. Daí, tem-se um comportamento correspondente à atitude ativada. 3 - Contextos de atuação Ao final deste módulo, você será capaz de analisar as intervenções breves no contexto fenomenológico-existencial. Abordagem fenomenológico-existencial da psicoterapia breve Caminhemos um pouco no domínio da terceira força da psicologia: o contexto das terapias humanística e fenomenológica-existencial. A Gestalt terapia é uma das abordagens dentro desse contexto. Cardinalli (2020) afirma que a psicoterapia fenomenológico-existencial baseia-se no método preconizado por Heidegger em sua obra Ser e Tempo: “deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que se mostra tal como se mostra a partir de si mesmo” (HEIDEGGER, 1927/2007, apud CARDINALI, 2020, p. 74). O conceito fundamental desta abordagem terapêutica é o Dasein,cujo significado é “ser no mundo”. Decorre dessa definição que o ser humano é uma maneira de dizer que somos mutáveis com o tempo e com as experiências. Nossa existência é uma manifestação da nossa essência, invocada pelos desafios do mundo, isto é, pelos fenômenos aqui entendidos como eventos que ocorrem ao longo de um intervalo de tempo. Fica então em relevo a questão sobre o que é ser breve, em uma abordagem que, em vez de ser, como essência, “vamos sendo”; isto é, a cada experiência, nossa existência é um conteúdo manifesto das nossas potências, ou melhor, nossas capacidades de compreender, modificar e retificar nossa relação com o mundo externo a nós, mas que nos afeta. Heidegger nos exorta a considerar um modelo onde a experiência vivida é uma forma de manifestação de nossas virtudes e dos nossos defeitos ou imprecisões, de modo que é necessário revisar nossa relação com o social, o biológico e o eu interior, a nossa essência. Conforme se encontra no site druidnetwork.org, da cultura do povo celta, nos tempos pré-cristianismo, a tríade de número 5, que nos diz muito sobre o que Heidegger afirma acerca do Dasein. Essa tríade, traduzida, nos fala de que “Três coisas um homem é: Aquilo que pensa ser Sua autoconsciência Aquilo que os outros pensam que ele seja Sua reputação O que ele verdadeiramente é Sua essência Segundo essa tríade, se nossa autoconsciência não corrobora nossa reputação e vice-versa, nossa essência não pode se manifestar. O caráter breve da psicologia fenomenológico-existencial (FE) está na promoção do encontro entre o que é a essência com a existência, dado que o ex-ist tem o sentido de externar aquilo que você é, tanto para os outros quanto para si mesmo, uma vez que vamos nos conhecendo e nos transformando durante nossa experiência no mundo e com o mundo. Para melhor compreender, imagine-se criança e como você via o mundo nesta fase e compare com quem você é e como você vê o mundo agora. Assim, o dasein é o momento “sendo o que é” esculpido pelas adversidades que a pessoa atravessa. O processo terapêutico FE breve implica em dar-se um tempo curto, no qual se possa experimentar e aprender com o contato com aquilo ainda desconhecido e com a aceitação de que só se pode ser melhor, “sendo no mundo”. Neste sentido, a dinâmica poderá ser uma sucessão de terapias breves. Note que, segundo esse modelo, há uma psicodinâmica exigindo um caminho de progresso de autoconhecimento, de aceitação e de compromisso com o porvir. O que deu errado ontem é base para refletir para não se repetir o comportamento, única parte em que nós nos damos a conhecer aos outros. Nosso comportamento reflete nossa essência ou a protege. O tempo requerido seguirá orientado pelo objetivo de revelar e desvelar-se modificando conceitos e valores que levaram a uma manifestação não compatível com a experiencia do fenômeno que deu origem ao trauma. Terapias humanística e fenomenológica-existencial Neste vídeo, abordaremos as terapias humanística e fenomenológica-existencial, o caráter breve e a promoção do encontro. Intervenções breves no contexto fenomenológico- existencial Consiste basicamente no trabalho de autoinvestigação auxiliado pelo terapeuta, que é responsável por guiar com segurança a pessoa na revisão dos conceitos que a fizeram sofrer e entender pontos ainda não conhecidos dos meandros de nossa memória implícita. Nesse processo, é necessário compreender que o homem é separado do objeto, referindo-se ao autoconceito como algo relativo à subjetividade, ao mundo interior, que se distingue da experiência com os objetos, eventos, fenômenos e interações sociais que se referem ao mundo externo a nós, ou seja, ao mundo da realidade objetiva. Cabe ao terapeuta encontrar meios de separar a experiência, o fenômeno, da representação mental do fenômeno, a fim de promover o Dasein. Se a vivência atual do paciente lhe traz sofrimento, algo há a corrigir na representação do mundo e na resposta comportamental que se manifestou. Quando há incongruência entre a essência e sua manifestação, há sofrimento psíquico. Uma pessoa precisa ser capaz de compreender que parte do sofrimento é imposto, parte é aceita. No existencialismo, é necessário considerar, refletir e modificar as representações, as memórias registradas durante a ocorrência do fenômeno mediante uma nova ótica, um novo ponto de vista. Como a existência é ser no tempo. O passado está eternizado e representa o que a pessoa foi. Não muda mais. Então, o que muda é o entendimento sobre o ocorrido, e uma correção das falhas que levaram ao sofrimento. A principal delas é corrigir a frustração sobre o que é sabido não poder ser controlado. Há elementos que podemos controlar e há elementos que não controlamos. Temos que cumprir prazos. Se não deu, de pouco adianta lamentar. O correto é cumprir a tarefa e aceitar eventuais penalizações. Não foi possível alcançar o sonho, retifique a compreensão e não o sonho, posto que o porvir é a mola que movimenta o caminho existencial. Lembrando que a existência saudável corrobora a essência. Ser breve, em termos existenciais, é manter-se no presente, levando o passado como referência, base de mudança para ajustamento ao porvir. As intervenções breves no contexto existencialista Neste vídeo, refletiremos sobre as intervenções breves no contexto fenomenológico-existencial. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre a abordagem fenomenológico-existencial, avalie as afirmações abaixo e, na sequência, assinale a alternativa correta: I – O dasein é um termo que Heidegger usa para indicar existência atemporal. II – A fenomenologia preconiza uma dinâmica na qual a pessoa, em suas vivências no mundo, pode alterar a consciência que tem de sua essência III – Podemos considerar essência todas as potencialidades da pessoa, tanto as realizadas quanto as que estão por se manifestar. Parabéns! A alternativa B está correta. A afirmativa I é falsa, pois Heidegger denomina o dasein ao “modo de Ser no Tempo” que, enquanto fenômeno, é necessariamente temporal. A afirmativa II é verdadeira,pois a fenomenologia preconiza uma dinâmica na qual a pessoa, em suas A Apenas a afirmativa I é verdadeira. B Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras. C Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras D Apenas a afirmativa II é verdadeira. E Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras. vivências no mundo, pode alterar a consciência que tem de sua essência, isto é, o modo de ver a si e reinterpretar segundo suas potencialidades manifestadas e suas competências adquiridas segue retificável a cada nova vivência. A afirmativa II é verdadeira, pois as potencialidades ainda não manifestadas e as que se manifestaram e foram percebidas no comportamento da pessoa fazem parte da essência. Questão 2 Sobre a psicodinâmica da psicoterapia breve focal de base fenomenológica existencial, é correto afirmar: Parabéns! A alternativa E está correta. A psicodinâmica da psicoterapia breve focal de base fenomenológica existencial se caracteriza como A Utiliza técnicas que facilitam encontrar pontos de divergência entre aquilo que é o real e aquilo que é fruto da imaginação para modificar a emoção. B Utiliza técnicas que facilitam encontrar pontos de divergência entre aquilo que é o essencial e aquilo que é fruto da existência para modificar o temperamento. C Utiliza técnicas que facilitam encontrar pontos de convergência entre aquilo que é a essência e aquilo que é desejado para modificar a existência. D Utiliza técnicas que facilitam encontrar pontos de convergência entre o comportamento e a emoção para modificar a existência. E Utiliza técnicas que facilitam encontrar pontos de divergência entre aquilo que é o essencial e aquilo que é fruto da existência para modificar o comportamento. tendo por base a contínua modificação do comportamento por meio de técnicas que facilitam encontrar pontos de divergência entre aquilo que é o essencial e aquilo que é fruto da existência. Ser no tempo implica compreender que o real nos afeta e uma mudança se faz necessária no nosso modo de ser. Considerações finais As duas linhas escolhidas de psicoterapia breve e focal apresentam convergências e divergências quanto à metodologia e à conceituação estrutural. Pode-se afirmar que Beck, psicanalista de formação, associa desde conteúdo da psicanálise a conteúdos mensuráveis da psicologia comportamental. Daí, seu método ser denominado terapia cognitivo-comportamental. Vimos também que, embora a técnica psicanalítica tenha sido preservada coerente com a corrente freudiana, os autores inovaram restringindo a técnica da livre associação na escuta terapêutica à escuta guiada pelo contexto do problema e promovendo condições favoráveis a que uma maior parcela da população se beneficiasse da psicoterapia. Aspectos distintos da psicodinâmica são apresentados caracterizando as práticas da psicoterapia breve de base psicanalítica e a práxis da TCC. Notando que não há sequer um único par de sapatos que se ajusta a todos os pés, também algumas técnicas psicoterapêuticas podem ser bem-sucedidas para uns e outras para outros. Por que é importante conhecer e aplicar as técnicas das psicoterapias breves? São várias as respostas possíveis. Destaca-se a promoção de saúde mental, a custo e disponibilidade de tempo compatível com os recursos da população. Ainda, ser breve é sinônimo de eficiência. Saber decidir pela forma correta de terapia requer especialização em uma corrente sem deixar de lado o conhecimento das outras vertentes. O código de ética norteia que o psicólogo faça aquilo em que é bom. É uma solução no caso de o paciente precisar de outro tipo de psicoterapia, encaminhar para outro ou outra colega que esteja em melhor condição de ajustamento às necessidades da pessoa. Podcast Ouça agora uma série de reflexões sobre os fundamentos da psicoterapia breve, com destaque para os precursores e os conceitos fundamentais da psicoterapia breve. Explore + Leituras sugeridas: CLARK, A. D.; BECK, A. T. Terapia Cognitiva para os Transtornos de Ansiedade: Tratamentos que Funcionam ‒ Guia do Terapeuta. Porto Alegre: ArtMed, VitalBook file, 2015. E-book. RANGÈ, B. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais. 2. ed. Porto Alegre: Grupo A-ArtMed, 2011. E-book. SANTAELLA, l. Percepção – Fenomenologia, Ecologia e Semiótica. 1. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012. Busque no canal Christian Dunker, no YouTube, conteúdo relativo ao Ferenczi. Referências BECK, J. S. Terapia Cognitivo Comportamental – Teoria e Prática. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2013. CARDINALLI, I. E. Psicoterapia focal: psicoterapia breve de base fenomenológico-existencial. Psic. Rev. São Paulo, volume 29, n. 1, 157-175, 2020. Consultado na internet em: 14 mar. 2023. CARMO, L. D. S.; CHAVES, W. C. Freud e o sintoma nas conferências introdutórias: algumas considerações. Revista Natureza Humana , São Paulo, v. 21. p. 100-119, janeiro-junho, 2019. CORDIOLI, A. V. Psicoterapias Abordagens Atuais. 3. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2008. CORIN, D. A Treasury of Druidic Triads. UK, Blackburn with Drawen: The Druid Network, 2010. Consultado na internet em: 14 mar. 2023. FISKE, S. T.; TAYLOR, S. E. Social Cognition – From Brains to Culture. 3rd ed. Los Angeles, USA: SAGE, 1991. FREUD, S.; FERENCZI, S. Correspondência. Vol. I/Tomo 2. Rio de Janeiro: Imago, 1995. FERENCZI, S. Psicanálise II. São Paulo: Martins Fontes, 1993. GARCIA-ROSA, L. A. Introdução à Metapsicologia Freudiana. Vol. I, II e III. 5. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. KRUGER, H. R. (Org.). Crenças e Sentido de Vida. Série Universitária. Mestrado em Psicologia. 1. ed. Curitiba: CRV, 2017. LACAN, J. Seminário 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. LUSTOSA, M. A. A psicoterapia breve no hospital geral. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 259-269, dez. 2010. Consultado na internet em: 14 mar. 2023. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material
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