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Modelos de orçamento, interpretação e parâmetros Aparecido Lisboa Pires Introdução Toda empresa tem uma estratégia, escrita ou não. A função de um orçamento é formalizar o plano de ação selecionado pela organização para alcançar os seus objetivos da forma mais racional possível, ou seja, evitando desperdícios e confu- sões. O controle orçamentário permite verificar se a empresa está na direção desejada e atuar para a correção dos desvios. Nesta aula, serão apresentados os orçamentos operacional, de caixa e de capital. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender o processo de planejamento financeiro, incluindo planos estratégicos e operacionais; • relacionar as projeções com as demonstrações financeiras para estabelecer metas financeiras e orçamentárias. 1 Conceitos e parâmetros de orçamento Suponha uma empresa que deseje aumentar sua participação no mercado em 20 por cento nos próximos cinco anos. Neste caso, trata-se da estratégia da empresa. Para alcançá-la, a empresa tem várias alternativas, mas deverá selecionar apenas uma. Esta alternativa deverá ser detalhada em termos de atividades e de valores. A este detalhamento denominamos orçamento, que, portanto, é uma ferramenta que faz uma ponte entre o curto e o longo prazo. SAIBA MAIS! Ferreira e Diehl (2012) evidenciam que existe um alinhamento entre o orçamento e o planejamento estratégico e dão mais informações sobre a relação entre ambos na empresa. Disponível em: <http://www.spell.org.br/documentos/ver/8619/orca- mento-empresarial-e-suas-relacoes-com-o-pla--->. O orçamento é formado pelas partes operacional, de caixa e de capital, as quais têm total relação entre si. Padovese e Taranto (2009, p. 3) definem orçamento como O ato de colocar à frente aquilo que está acontecendo hoje. Mais especificamente, é a expressão quantitativa de um plano de ação, que se caracteriza como um modelo de pro- gramação de atividades. A expressão quantitativa se dá pela expressão máxima possível de todos os elementos que farão parte dos programas constantes do plano de ação e pela mensuração econômica desses elementos quantificados. Assim, o orçamento é a formalização do plano de ação da empresa. FIQUE ATENTO! O orçamento é formado pelas partes operacional, de caixa e de capital. 1.1 Orçamento operacional – conceitos, características O orçamento operacional envolve todas as áreas da empresa, devendo ser classificado por centro de responsabilidade e estimar: as receitas com vendas, os custos de produção e dos produ- tos ou serviços vendidos ou prestados, as despesas comerciais, as despesas administrativas, as despesas com pesquisa e desenvolvimento, as despesas tributárias e o lucro da empresa. Em função do orçamento de vendas para o período seguinte, todas as demais áreas da empresa também devem elaborar as suas previsões para esse mesmo período. A figura a seguir apresenta um modelo das etapas de elaboração do orçamento operacional. Figura 1 – Etapas do orçamento operacional Processo orçamentário Todos têm de alguma forma necessidade de orçar orçamento operacional orçamento financeiro orçamento de vendas fluxo de caixa projetado dre projetada balanço patrimonial projetada orçamento de produção orçamento de material direto orçamento de mão-de-obra orçamento de custos indiretos de fabricação orçamento de compras orçamento de despesas administrativas orçamento de P & D orçamento de despesas com marketing orçamento de investimento Fonte: VIEIRA NETO, 2013, p. 2. Agora, conheceremos as especificidades do orçamento de caixa. 1.2 Orçamento de caixa – conceito e elaboração O que você acha que aconteceria com uma empresa que não fizesse qualquer planejamento com relação aos seus inúmeros pagamentos e recebimentos? Como estes não são homogêneos no tempo e em termos de valores, com certeza, sem um planejamento, a empresa não teria recur- sos suficientes em determinada data para honrar os seus compromissos, podendo também ficar com recursos em excesso indevidamente parados em seu caixa. É imprescindível que a empresa elabore um orçamento de caixa, o qual tem a finalidade de manter o seu equilíbrio financeiro. FIQUE ATENTO! A função do orçamento de caixa é preservar o equilíbrio financeiro da empresa, permitindo também a realização de suas atividades, sejam operacionais, de inves- timentos ou de financiamento. Conforme Guindani et al. (2012, p. 83), Com base nas informações do orçamento de vendas, do orçamento de gastos e da política de recebimentos e pagamentos da empresa, o orçamento financeiro de caixa estabelece a previsão e o controle das efetivas entradas e saídas de caixa, possibilitando a identificação preventiva de períodos de falta ou excesso de valores em caixa, potencializando o investi- mento em aplicações financeiras (em caso de excesso de caixa), ou alertando para futuras necessidades de empréstimos (em caso de falta de caixa). O orçamento de caixa pode ser feito para quaisquer períodos de tempo, seja diário, semanal, mensal, bimestral, anual, entre outros. EXEMPLO Caso o orçamento de caixa de uma empresa aponte que haverá excesso de caixa no valor de R$ 100.000,00 durante oito dias, a empresa poderá pôr esse recurso em uma aplicação financeira com resgate imediato, auferindo, assim, receitas finan- ceiras nesse período. Essa aplicação deve obter um valor presente líquido positivo (VPL positivo), isto é, retorno superior ao que foi inicialmente investido, e uma taxa interna de retorno superior à taxa do custo de oportunidade. Suponha que a taxa de remuneração dessa aplicação seja de 1% para esses oito dias, e que a taxa do custo de oportunidade (equivalente ao que se ganharia em um outro tipo de investimento) seja de 0,8% para o mesmo período. Assim, haveria um ganho no oitavo dia de R$ 200,00, calculado pela diferença entre R$ 1.000,00 (1% de R$ 100.000,00) e R$ 800,00 (0,8% de R$ 100.000,00). Como nesse exemplo a taxa interna de retorno (taxa que produz VPL zerado) é igual a 1% para oito dias e é superior à taxa do custo de oportunidade (0,8%), a aplicação financeira é vantajosa para a empresa. Com base no orçamento de caixa, a empresa também poderá verificar se precisará realizar empréstimos para honrar os seus compromissos. Contudo, por meio de uma análise do fluxo de pagamentos ou recebimentos, a empresa poderá também encontrar formas de não precisar reali- zar empréstimos. Isso pode ser feito com base em negociações de prazos junto aos credores ou mesmo, dentro do que for possível, com a prorrogação de algumas decisões de investimentos. Uma estrutura básica de orçamento de caixa é apresentada na tabela a seguir: Tabela 1 – Estrutura básica de orçamento de caixa Itens Janeiro Fevereiro Março Recebimentos Menos Pagamentos Igual a Fluxo líquido de caixa Mais Saldo inicial de caixa Igual a Saldo final de caixa Menos Saldo mínimo de caixa Igual a Financiamento necessário Ou Saldo de caixa excedente Fonte: adaptada de CHIAVENATO, 2014, p. 68. A figura a seguir apresenta outro modelo simplificado de orçamento de caixa. Tabela 2 – Modelo de orçamento de caixa Previsão Mês 1 Realizado Mês 1 ENTRADAS Previsão de recebimentos de vendas Contas a receber – vendas realizadas Outros recebimentos TOTAL DAS ENTRADAS 0,00 0,00 SAÍDAS Fornecedores Folha de pagamento Previsão Mês 1 Realizado Mês 1 Energia elétrica Combustíveis Despesas diversas Empréstimos bancários Financiamentos de equipamentos Impostos Outros pagamentos TOTAL DAS SAÍDAS 0,00 0,00 1 (ENTRADAS – SAÍDAS) 0,00 0,00 2 (SALDO ANTERIOR) 3 SALDO ACUMULADO (1 + 2) 0,00 0,00 4 NECESSIDADE DE EMPRÉSTIMOS 5 SALDO FINAL (3 + 4) 0,00 0,00 Fonte: adaptada de SEBRAE, 2017. A seguir, conheceremos o orçamento de capital. 1.3 Orçamento de capital – conceito, elaboração e decisões de investimento O orçamento de capital é uma grande evidência da importância do processo orçamentário para a estratégia de uma empresa. Então, se a empresa desejaaumentar a sua participação no mercado em vinte por cento nos próximos cinco anos, é necessário estudar se precisará investir em novos equipamentos ou construir novas unidades e divisões. Figura 2 – Orçamento de capital – construção de uma fábrica Fonte: Rashad Ashurov/Shutterstock.com Segundo Marion e Ribeiro (2011, p. 203), Os orçamentos de capital, portanto, abrangem planos estratégicos de longo prazo para compra de máquinas, equipamentos industriais, veículos, computadores, imóveis de uso; ampliação da planta industrial; construção de novas unidades produtivas em outras locali- dades etc. liquidez. Um cheque, por exemplo, tem maior liquidez do que um veículo. FIQUE ATENTO! Decidir sobre a aquisição de novos equipamentos ou pela construção de novas instalações são soluções de investimentos que compõem o orçamento de capital. O orçamento de capital compreende as decisões de investimentos da empresa e, como envolve valores expressivos e risco de perdas elevadas, deve ser elaborado por gestores especiali- zados, os quais devem obter a aprovação da alta gestão. SAIBA MAIS! O orçamento de capital requer conhecimentos adequados com relação à análise de investimentos, envolvendo conceitos importantes, como payback, taxa mínima de atratividade (TMA), entre outros. Saiba um pouco mais em: <http://blog.saintpaul. com.br/an%C3%A1lise-de-investimentos-como-tomar-a-decisao-certa-para-o-ne- gocio>. O conceito do valor presente líquido (VPL) é muito útil no processo de análise de investimen- tos. O VPL é calculado pela diferença, a valores presentes, entre a soma dos retornos produzidos pelo investimento e o valor desembolsado pela empresa. Em síntese, espera-se que os gestores de uma empresa realizem decisões de investimentos que apresentem retornos superiores aos desembolsos, ou seja, com VPL positivo. EXEMPLO Uma empresa investiu R$ 100.000,00 em um equipamento. Contudo, o retorno alcançado foi de apenas R$ 90.000,00. Logo, essa não foi uma boa decisão de in- vestimento, pois o seu VPL foi negativo. Também é preciso retornos superiores ao que seria ganho se a empresa aplicasse o dinheiro em outras formas de investimentos, sendo este o conceito do custo de oportunidade. Fechamento Você viu que a elaboração e o controle dos orçamentos operacional, de capital e de caixa são indispensáveis para que uma empresa alcance seus objetivos de longo prazo. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • entender os conceitos e a elaboração dos orçamentos operacional, financeiro e de capital; • compreender a importância do orçamento de caixa para o equilíbrio de caixa da empresa; • conhecer os modelos dos orçamentos operacional e de caixa. Referências CHIAVENATO, Idalberto. Gestão financeira: uma abordagem introdutória. 3. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. FERREIRA, Fernanda Baldasso; DIEHL, Carlos Alberto. Orçamento empresarial e suas relações com o planejamento estratégico. Pensar contábil, v. 14, n. 54, p. 48-57, 2012. Disponível em: <http:// www.spell.org.br/documentos/ver/8619/orcamento-empresarial-e-suas-relacoes-com-o-pla--->. Acesso em: 1 abr. 2017. GUINDANI, Ari Antonio et al. Planejamento estratégico orçamentário. Curitiba: Intersaberes, 2012. LUZ, Érico Eleutério da. Gestão financeira e orçamentária. São Paulo: Pearson Education Brasil, 2015. MARION, José Carlos; RIBEIRO, Osni Moura. Introdução à contabilidade gerencial. São Paulo: Saraiva, 2011. VIEIRA NETO, Leopoldino. Orçamento empresarial – tipos de orçamentos. Disponível em: <http:// docslide.com.br/documents/orcamento-empresarial-tipos-de-orcamentos-prof-dr-leopoldino-viei- ra-neto-2013.html>. Acesso em: 1 abr. 2017. PADOVESI, Clóvis Luís; TARANTO, Fernando Cesar. Orçamento empresarial: novos conceitos e téc- nicas. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Planilha ajuda a fazer fluxo de caixa de sua empresa. Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSe- brae/artigos/planilha-ajuda-a-fazer-fluxo-de-caixa-da-sua-empresa,adf8d53342603410VgnVCM- 100000b272010aRCRD>. Acesso em: 1 abr. 2017. SECURATO JUNIOR, José Roberto. Análise de investimentos: como tomar a decisão certa para o negócio. Saint Paul. Disponível em: <http://blog.saintpaul.com.br/an%C3%A1lise-de-investimen- tos-como-tomar-a-decisao-certa-para-o-negocio>. Acesso em: 1 abr. 2017.
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