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Análise horizontal

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Análise horizontal
Thais Souza Alves
Introdução
A carência nas interpretações de relatórios contábeis financeiros é tão antiga quanto o pró-
prio surgimento deles. No passado remoto, os relatórios de contabilidade eram basicamente o 
resumo das contagens de estoques, chamados de inventário, nos quais se faziam verificações de 
forma qualitativa e quantitativa. Nessa época e de forma mais amadora, já eram realizadas supos-
tas análises vertical e horizontal.
Você verá, nesta aula, que a análise horizontal busca avaliar comparativamente um ano após 
o outro, identificando em cada conta o que deverá ser corrigido.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
 • conhecer a ferramenta de análise horizontal para transformar dados financeiros em 
uma forma segura que possa ser usada para orientar a tomada de decisões;
 • identificar a posição financeira da empresa, avaliando a necessidade de aumento de 
capacidade produtiva ou identificando a necessidade de financiamento.
1 Conceito
Você sabia que Alexander Wall é considerado o pai da análise de balanço?
Em 1919, ele apresentou um formato diferente de relatório, que avaliava o crescimento ou não 
das contas de ativo e passivo, receitas e despesas e era feito com base em índices que demons-
travam a necessidade de amarrar outras análises à análise de balanço. Dez anos depois, Stephem 
Gilman sugeriu, então, a inclusão de índices extraídos das análises horizontais e verticais na aná-
lise de balanço, assim como suas variações.
Assim, surgiu a análise horizontal, que é assim denominada porque se estabelece na altera-
ção dos saldos das contas com o passar do tempo. Essa confrontação ocorre entre os mesmos 
itens do balanço, contudo, em períodos diferentes de análise.
FIQUE ATENTO!
A análise horizontal se debruça sobre um conjunto de demonstrações e diversos 
períodos, sejam eles meses ou até anos comparativamente. Diante dessa análise, 
pode-se avaliar o comportamento financeiro da empresa.
Como você vê, desde a segunda metade do século passado é percebida a relevância da aná-
lise de balanço moderna na administração financeira.
2 Objetivos e usuários
O principal objetivo da análise horizontal é retirar as informações necessárias das demonstra-
ções financeiras e respaldar a tomada de decisões. A análise das demonstrações financeiras exige 
conhecimento sobre o que representa cada conta que nelas figura. Há uma infinidade de contas 
decorrentes de inumeráveis operações realizadas por empresas das mais diferentes atividades, “[...] 
A análise horizontal visa extrair informações para a tomada de decisão. O perfeito conhecimento 
do significado de cada conta facilita a busca de informações precisas” (MATARAZZO, 2008, p. 39). 
Figura 1 – Modelo de análise horizontal
Fonte: Aleksandr Bryliaev/Shutterstock.com
SAIBA MAIS!
De todos os métodos da análise de balanço, um dos mais relevantes é a análise 
horizontal. Imensamente importante e útil, ela apresenta informações de represen-
tatividade na conjuntura em que está inserido o negócio, contendo um dos pontos 
mais importantes, a evolução da empresa no ponto de análise em comparação aos 
seus demais períodos.
Perceba que, para a tomada de decisões de uma empresa, o elemento mais relevante é a 
análise de demonstrações contábeis, que poderá ser mais especificamente demonstrada pela 
análise horizontal.
3 Técnicas e processos de análise
A análise horizontal apresenta o crescimento de determinados itens em períodos diferentes. 
Desta forma, esta ferramenta é capaz de observar a evolução do comportamento de diferentes itens.
Apesar de útil, este dado comparativo da evolução da conta, extraído da análise horizontal 
de um período a outro, pode parecer limitante. Ainda assim, Matarazzo (1998, p. 251) confirma a 
importância da ferramenta ao explicar que “a evolução de cada conta mostra os caminhos trilha-
dos pela empresa e as possíveis tendências”.
SAIBA MAIS!
Toda análise horizontal é realizada com base nos ativos e passivos contidos no 
balanço patrimonial e no relatório de demonstração dos resultados do exercício 
(DRE), sendo que este último utiliza como base a demonstração mais antiga.
Leia mais sobre isso no artigo do Alberto Lima Leite, “Demonstrações financeiras – 
elaboração e interpretação de análise horizontal e vertical”, disponível em: <https://www.
linkedin.com/pulse/20140719215110-77112920-demonstra%C3%A7%C3%B5es-
financeiras-elabora%C3%A7%C3%A3o-e-interpreta%C3%A7%C3%A3o-de-
an%C3%A1lise-horizontal-e-vertical>.
Outra forma de realizar a análise horizontal é utilizar como base o período imediatamente 
anterior ao que está sendo verificado, tornando a análise bem mais dinâmica e permitindo verificar 
a evolução em espaços menores de tempo.
Fator que merece destaque é o número-índice, que demonstra a relação existente entre o 
valor de uma conta em uma data determinada e o valor utilizado como data-base, conforme você 
observa na fórmula a seguir:
Número-índice = Valor do ano seguinte / Valor do ano – Base x 100
Figura 2 – Análise de balanço e resultado
Fonte: jannoon028/Shutterstock.com
Para compreender melhor a utilização da fórmula, confira um balanço patrimonial de três 
anos de uma empresa na tabela a seguir.
Tabela 1 – Balanço patrimonial
Balanço Patrimonial
Ativo Passivo
31/12/2010 31/12/2011 31/12/2012 31/12/2010 31/12/2011 31/12/2012
Caixa 0,00 5.687,97 8.090,65 Fornecedores A 43.542,48 3.071,00 39.457,53
Cheques 0,00 12.166,84 3.843,50 Fornecedores B 23.999,04 25.069,76 -450,30
Cheques devolvidos 0,00 1.050,50 1.810,50 Fornecedores C 0,00 0,00 -63,20
Estoques de produtos 94.301,99 81.834,31 68.975,08 Fornecedores D 0,00 0,00 11.669,50
Vendas a receber 39.450,00 65.899,76 66.404,19 Financiamentos de curto prazo 16.890,00 25.465,12 0,00
Duplicatas a receber 0,00 14.740,00 19.540,00 Provisões 0,00 6.740,00 7.507,00
Financiamentos de longo prazo 0,00 64.389,00 53.615,49
Terrenos 0,00 0,00 26.338,06
Ativo Circulante 133.751,99 181.379,38 195.001,95 Passivo Circulante 84.431,52 124.734,88 111.736,02
Equipamentos 0,00 80.000,00 80.000,00 Patrimônio Líquido
Ativo Imobilizado 0,00 80.000,00 80.000,00 Capital Social 31/12/2010 49.320,47 49.320,47 49.320,47
Lucros / Prejuízos acumulados 0,00 101.574,83 129.037,32
Lucros Distribuídos 0,00 -14.250,80 -15,091,84
49.320,47 136.644,50 163.265,95
Total 133.751,99 261.379,38 275.001,97 Total 133.751,99 261.379,38 275.001,97
Fonte: elaborada pela autora, 2017.
Na tabela, observe no item “Estoque de Produtos” a conta do ativo nos anos de 2010, 2011 
e 2012 e perceba que há uma diferença de valores para menos. Vale ainda destacar que, quando 
comparamos os dados entre os anos, estamos olhando para a tabela de forma horizontal.
Agora, analisando a mesma tabela e considerando 2010 como referência, se você diminuir 
o total da conta “Estoques de Produtos” (2010) do total da conta Estoques de produtos em 2011 
encontrará a variação de R$12.467,68. Observe:
R$ 94.301,99 (2010) – R$ 81.834,31 (2011) = R$ 12.467,68 (total do estoque de produtos)
Ou seja, a diferença entre os anos de 2010 e 2011 foi de R$ 12.467,68. Considerando que 
a análise se baseia em percentuais, você precisará dividir o resultado encontrado (R$ 12.467,68) 
pelo índice-base 2010 (R$ 94.301,99). Confira a seguir.
Número-índice = R$ 94.301,99 – 81.834,31= R$ 12.467,68
12.467,68 / 94.301,99 = 0,1322
0,1322 x 100% = 13,22%
Ou seja, com este cálculo, você pode perceber que, na análise da tabela “Balanço patrimo-
nial”, houve redução do estoque entre os anos de 2010 e 2011.
FIQUE ATENTO!
Existe uma maneira para confirmar o resultado, em caso de dúvida. Basta dividir os 
dois valores-base principais, conforme exemplo anterior (R$ 81.834,31 pelo valor 
R$ 94.301,99), e o resultado deverá ser diminuído de 1. Assim, você confirmará o 
cálculo do número-índice.
Lembre-se de que você poderá utilizar a mesma fórmula para analisar os demais períodos e 
as demais contas.
4 Elaboração e interpretação da análise horizontal
Aanálise de demonstrações financeiras é, hoje, um dos conhecimentos mais relevantes no 
campo das finanças corporativas e que desperta interesse não somente nos gestores das empre-
sas, mas também dos analistas externos em diferentes segmentos de atuação.
Segundo Matarazzo (2008, p. 24), pesquisas efetuadas recentemente com insolvência de peque-
nas e médias empresas têm ressaltado a utilidade da análise horizontal como instrumento de análise.
FIQUE ATENTO!
As informações prestadas pela análise horizontal proporcionarão os elementos ne-
cessários para que os gestores possuam a capacidade de planejar e controlar o 
patrimônio da empresa de forma eficiente com resultados eficazes.
Nesse contexto, é preciso entender que, para obter êxito com a avaliação da análise horizon-
tal, é preciso discernimento e bom senso, pois não basta somente compreender os números, é 
necessário ainda comparar os dados em todas as suas nuances perante a necessidade e o obje-
tivo de quem está analisando.
5 Interpretação em conjunto na 
análise das demonstrações financeiras
Analisar horizontalmente um demonstrativo é muito mais que calcular percentuais. Na prá-
tica, busca-se obter o percentual de crescimento de cada conta ou de cada grupo de contas em 
relação ao ano considerado base. Mas, atenção! É a capacidade do analista em discernir o ritmo 
de crescimento ou da redução dessas contas que apoiará a tomada de decisões.
EXEMPLO
Em uma fábrica de chocolates, foi verificado que a conta de estoques equivale a 
50% do total da conta de ativos. Foi realizada a análise horizontal e, com base nela, 
percebeu-se que a empresa corria risco. Caso não vendesse o necessário, não teria 
recursos suficientes para arcar com seus compromissos.
Por isso, grave bem: o estudo dos ativos e passivos, assim como da evolução do patrimônio 
e de resultados em determinado período de tempo, é bem relevante para o processo de análise 
financeira de uma empresa.
6 Principais cuidados na interpretação 
dos percentuais apurados
Normalmente, a análise de um negócio é desenvolvida por meio de comparações, seja de 
índices passados, mediante indicadores de ramos ou até mesmo de empresas concorrentes. Con-
tudo, é necessário muito cuidado quando tratamos sobre a análise percentual, pois a análise de 
comparação tende a produzir resultados melhores quando é gerada a partir de valores de relação 
ou semelhantes, como os valores levantados de forma a relacionar investimentos, lucros, vendas e 
custos, ou ainda valores patrimoniais ou comparativos entre financiamentos próprios e de terceiros.
Figura 3 – Interpretação da análise horizontal
Fonte: Ekaterina_Minaeva/Shutterstock.com
EXEMPLO
Uma empresa de doces e bolos obteve, no último ano, um lucro 40% menor do que 
no ano anterior. Seu gestor, após receber os relatórios, muito estressado, reuniu a 
equipe tentando buscar culpados. O analista de controladoria sinalizou que diver-
sos relatórios foram emitidos mensal e trimestralmente para análise do gestor, que 
não o fez. Analisando somente agora os relatórios, ele percebeu que mais de 40% 
de seus ativos estão retidos em contas a receber de inadimplentes, o que compro-
meteu o pagamento de seus compromissos perante fornecedores durante todo o 
ano e levou à tomada de empréstimos, prejudicando ainda mais o resultado.
Perceba o quão relevante teria sido o gestor analisar os relatórios corriqueiramente!
Lembre-se de que é necessário muito cuidado com as comparações de valores absolutos ao 
longo do tempo, seja entre si ou em relação a outros relativamente elaborados por análise horizon-
tal ou vertical.
Fechamento
Nesta aula, você teve oportunidade de:
 • compreender o conceito e objetivos da análise horizontal;
 • entender as técnicas e processos de análise;
 • conhecer os principais cuidados na interpretação das demonstrações.
Referências
ASSAF NETTO, Alexandre. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
______. Mercado Financeiro. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. Tradução de Jean Jacques Salim e 
João Carlos Douat. 7. ed. São Paulo: Harbra, 2002.
LEITE, Alberto Lima. Demonstrações financeiras – elaboração e interpretação de análise hori-
zontal e vertical. LinkedIn. 19 jul. 2014. Disponível em: <https://www.linkedin.com/pulse/
20140719215110-77112920-demonstra%C3%A7%C3%B5es-financeiras-elabora%C3%A7%C3%A3o-
-e-interpreta%C3%A7%C3%A3o-de-an%C3%A1lise-horizontal-e-vertical>. Acesso em: 21 fev. 2017.
MARTINS, Eliseu; ROCHA, Welington. Métodos de custeio comparados. São Paulo: Atlas, 2010. 
MATARAZZO, Dante Carmine. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 6. 
ed. São Paulo: Atlas, 2008.

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