Buscar

TCC-ROBERTO-Matheus

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 39 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 39 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 39 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE FONOAUDIOLOGIA
MATHEUS FERREIRA ROBERTO
Descrição da terapia fonoaudiológica em um caso de transtorno
dos sons da fala: estudo de caso
NATAL
2022
1
MATHEUS FERREIRA ROBERTO
Descrição da terapia fonoaudiológica em um caso de transtorno
dos sons da fala: estudo de caso
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Curso de Graduação em Fonoaudiologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
como requisito para obtenção do grau de
bacharel em Fonoaudiologia.
Orientadora: Profa. Dra. Vanessa Giacchini
NATAL
2022
2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS
Roberto, Matheus Ferreira.
Descrição da terapia fonoaudiológica em um caso de transtorno
dos sons da fala: estudo de caso / Matheus Ferreira Roberto. -
2022.
37f.: il.
Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (graduação) - Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde,
Departamento de Fonoaudiologia. Natal, RN, 2022.
Orientador: Vanessa Giacchini.
1. Transtorno Fonológico - TCC. 2. Desenvolvimento da Linguagem
- TCC. 3. Transtornos do Desenvolvimento da Linguagem - TCC. 4.
Linguagem Infantil - TCC. 5. Terapia da Linguagem - TCC. I.
Giacchini, Vanessa. II. Título.
RN/UF/BSCCS CDU 612.78
Elaborado por Adriana Alves da Silva Alves Dias - CRB-15/474
3
MATHEUS FERREIRA ROBERTO
DESCRIÇÃO DA TERAPIA FONOAUDIOLÓGICA EM UM CASO DE TRANSTORNO DOS
SONS DA FALA: ESTUDO DE CASO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Fonoaudiologia
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito final para obtenção do
grau de bacharel em Fonoaudiologia.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profa. Dra. Vanessa Giacchini
Orientadora
________________________________________
Prof. Dr. Ivonaldo Leidson Barbosa Lima
Membro da banca
________________________________________
Profa. Dra. Maria de Jesus Gonçalves
Membro da banca
Natal, 25 de novembro de 2022.
4
AGRADECIMENTOS
À minha família, que sempre me apoiou durante todos esses anos, especialmente os
meus pais Aíza e André.
Ao corpo docente e demais profissionais do departamento de fonoaudiologia da
UFRN pelo acolhimento e ensinamentos.
À minha orientadora, Vanessa Giacchini, por toda a paciência, orientação,
ensinamentos e conselhos.
Aos meus colegas de turma por todas as experiências compartilhadas durante esses
quatro anos de graduação.
Agradeço às amizades que fiz durante o curso, pela companhia, risadas, conselhos e
principalmente pelo apoio em momentos de insegurança.
5
ROBERTO, Matheus Ferreira. Descrição da terapia fonoaudiológica em um caso
de transtorno dos sons da fala: estudo de caso. 2022. 37 p. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Fonoaudiologia) - Curso de Fonoaudiologia,
Departamento de Fonoaudiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, 2022.
RESUMO
Esta pesquisa é um estudo de caso retrospectivo que tem como objetivo descrever o
processo terapêutico de uma criança com transtorno dos sons da fala de origem
fonológica e o modelo terapêutico empregado na intervenção. O participante do
estudo é do gênero masculino e foi atendido em uma clínica escola de
fonoaudiologia entre os anos de 2019 e 2022, com pausa no primeiro semestre de
2020 em decorrência da pandemia de COVID-19. A idade da criança no início dos
atendimentos era de 3 anos e 8 meses e no momento da alta fonoaudiológica 6
anos e 9 meses. O modelo terapêutico empregado foi o ABAB-Retirada e a terapia
obteve bons resultados. Ao longo dos atendimentos, foram utilizados cinco sons alvo
de terapia e foi alcançada generalização para outros sete fonemas ausentes no
inventário fonológico da criança.
Palavras-chave: Transtorno Fonológico. Desenvolvimento da Linguagem.
Transtornos do Desenvolvimento da Linguagem. Linguagem Infantil. Terapia da
Linguagem.
6
ABSTRACT
This research is a retrospective case study that aims to describe the therapeutic
process of a child with phonological speech sounds disorder and the therapeutic
model used in the intervention. The study participant is male and was treated at a
speech therapy school clinic between 2019 and 2022, with a break in the first half of
2020 due to the COVID-19 pandemic. The child's age at the beginning of the
consultations was 3 years and 8 months and at the time of speech-language
pathology discharge, 6 years and 9 months. The therapeutic model used was
ABAB-Withdrawal and the therapy obtained good results. During the consultations,
five target sounds of therapy were used and generalization was achieved for another
seven phonemes absent in the child's phonological inventory.
Key words: Speech Sound Disorder. Language Development. Language
Development Disorders. Child Language. Language Therapy.
7
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Sistema Fonológico Geral do AFC …......................................................... 18
Quadro 2 - Produção dos fonemas nas diferentes posições da palavra – onset inicial e
onset medial ............................................................................................... 18
Quadro 3 - Sons alvos trabalhados em cada semestre …………………………………. 20
8
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
ADL Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem
AFC Avaliação Fonológica da Criança
ASHA American Speech-Language-Hearing Association
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
APRESENTAÇÃO DO CASO 14
DISCUSSÃO 21
COMENTÁRIOS FINAIS 23
REFERÊNCIAS 24
APÊNDICE 26
ANEXOS 31
10
Este Trabalho de Conclusão de Curso está apresentado em formato de relato de caso
original e foi formatado de acordo com as normas do periódico ACR disponíveis em ACR -
Instruções aos autores.
https://audiolcommres.org.br/pdf/normas_1_1.pdf
https://audiolcommres.org.br/pdf/normas_1_1.pdf
11
INTRODUÇÃO
Durante o processo de aquisição do sistema fonológico, é esperado que as
crianças substituam e/ou omitam fonemas tanto na aquisição típica quanto na
atípica(1). À medida que a idade da criança aumenta, os processos fonológicos vão
sendo superados e o padrão do sistema fonológico vai se aproximando ao do
adulto(2), até que todo o inventário fonológico seja adquirido. Quando os processos
fonológicos não são superados na idade esperada essa aquisição é considerada
atípica. Os motivos para a criança não superar esses processos fonológicos são
diversos, desde dificuldades em realizar sequências articulatórias, distorções na
produção articulatória até dificuldades perceptivo-auditivas e na organização mental
dos fonemas da língua(1,3).
Para a American Speech-Language-Hearing Association (ASHA), o
Transtorno do Som da Fala (Speech Sound Disorder) pode ser de natureza
orgânica, quando existe alteração estrutural, motora, neurológica ou sensorial; ou de
natureza funcional, quando não existe uma causa conhecida, envolvendo aspectos
linguísticos (fonologia) e motores (articulação)(4). Neste estudo, será utilizado o termo
transtorno dos sons da fala (TSF) de origem fonológica para se referir ao transtorno
de causa desconhecida, por ser a nomenclatura mais empregada atualmente.
A terapia fonoaudiológica nos casos de TSF tem como objetivo ajudar a
criança a perceber os contrastes dos sons da língua e suas funções comunicativas,
e realizar os ajustes fonoarticulatórios para sua produção, até que seja desenvolvido
o padrão correto de uso dos fonemas da língua. Existem duas principais abordagens
terapêuticas para esses casos, a articulatória, que é considerada como uma terapia
tradicional, e a intervenção com base fonológica. Os dois tipos objetivam tornar a
12
criança consciente das características perceptuais dos sons alvos e que ela alcance
a generalização deles. A principal diferença entre essasduas abordagens é o foco
da intervenção, enquanto a abordagem articulatória foca na produção fonética do
som alvo, individualmente, por meio de treinamento, a com base fonológica foca no
desenvolvimento e organização mental do sistema fonológico(5).
Quando a natureza do TSF é fonológica, o modelo tradicional de terapia não
se configura como uma boa estratégia, uma vez que seu foco é na produção
(articulação) dos fonemas da língua e não na organização mental do sistema
fonológico. Essa abordagem trata inicialmente a produção de um fonema alvo de
maneira isolada, depois avança para sua ocorrência dentro de sílabas, palavras,
frases e, por fim, fala espontânea. A mudança para um novo alvo só se dá após a
automatização do alvo anterior, o que torna o processo terapêutico muito mais
demorado e cansativo para a criança. Ambas as abordagens terapêuticas oferecem
resultados no tratamento do TSF de origem fonológica, porém a intervenção de base
fonológica promove um processo terapêutico mais rápido e com menos ocorrências
de erros residuais de fala quando comparada com a abordagem articulatória(6). A
intervenção de base fonológica busca o maior número de generalizações
trabalhando o menor número de fonemas(5).
A abordagem fonológica é menos difundida na prática clínica fonoaudiológica
do que a abordagem articulatória. É comum que estudantes de fonoaudiologia não
tenham a oportunidade de utilizar a abordagem fonológica em terapia durante a
graduação. Sabendo disso e que estudos de caso são uma ótima fonte para estudar
casos clínicos e métodos de intervenção, o presente estudo tem como objetivo
13
descrever o processo terapêutico de uma criança com TSF de origem fonológica e o
modelo terapêutico de ordem fonológica empregado na terapia.
14
APRESENTAÇÃO DO CASO
O projeto que regula a coleta e a descrição dos dados do paciente que é
relatado no presente estudo seguiu as diretrizes e normas da resolução 466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde, que trata dos critérios de ética em pesquisas e testes
envolvendo seres humanos, e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Hospital Universitário Onofre Lopes, parecer de nº 5.498.439. O responsável pelo
participante da pesquisa assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
permitindo a realização e divulgação da pesquisa e seus resultados.
Trata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, com amostra por
conveniência, em que foi selecionado um paciente atendido na Clínica Escola de
Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por queixa de
dificuldades na fala pelo período de 2019 a 2022, com pausa no primeiro semestre
de 2020 em decorrência da pandemia de COVID-19, finalizando com alta
terapêutica. O participante do estudo é do gênero masculino e foi encaminhado pela
escola por não ser compreendido pela professora, e pela pediatra por apresentar
atraso na fala. Ele iniciou os atendimentos na Clínica Escola de Fonoaudiologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte no final de 2018 com a idade de 3
anos e 8 meses para a realização de triagem fonoaudiológica, onde foi detectada a
alteração de fala.
A Clínica Escola de Fonoaudiologia da UFRN funciona em consonância com
o período de aulas. Os pacientes são atendidos por discentes de fonoaudiologia e
supervisionados por docentes da instituição. Os pacientes que necessitam de
atendimento em linguagem passam por triagem fonoaudiológica para então
permanecer ou não na lista de espera e dar continuidade aos atendimentos. A cada
15
início de semestre, os pacientes em terapia são reavaliados para definir se
continuarão em atendimento ou receberão alta. Até o início de 2020, as sessões
eram realizadas duas vezes por semana, porém com a adoção das medidas de
segurança para a contenção da propagação do coronavírus, as sessões passaram a
ser realizadas uma vez por semana, a fim de diminuir as chances de exposição dos
pacientes e terapeutas ao vírus. Ao longo do processo terapêutico foram realizadas
cerca de 10 a 15 sessões terapêuticas por semestre, com duração de 45 minutos
cada. As sessões eram planejadas pelos alunos estagiários e supervisionadas pela
docente responsável.
Quanto ao histórico do paciente, ele nasceu a termo com 38 semanas, de
parto cesáreo por perda de líquido amniótico; precisou de oxigênio por apresentar
hipóxia devido a alterações brônquicas; realizou fototerapia por quatro dias para
tratar hiperbilirrubinemia; apresentou anemia aos 4 meses e até os 2 anos teve
acompanhamento médico devido a dificuldades respiratórias causadas por
bronquite.
Realizou Triagem Auditiva Neonatal dentro dos 3 primeiros meses de vida,
tendo resultado passa. A mãe realizou pré-natal a partir do primeiro mês de
gestação; foi exposta a fumo; e na concepção tinha 22 anos, assim como o pai, com
quem não tem laços de consanguinidade.
Sobre o desenvolvimento neuropsicomotor, a criança atingiu os marcos do
desenvolvimento dentro da idade esperada; balbuciou aos 5 meses e falou as
primeiras palavras aos 8 meses. Começou a frequentar a escola com 2 anos de
idade, tendo boa relação com as outras crianças e adultos.
16
Na triagem fonoaudiológica foi realizada avaliação por meio de atividade
lúdica com brinquedos que a criança poderia explorar livremente. Foi observado que
a criança iniciou diálogo; expressou necessidades e desejos; manteve tópico; trocou
turnos de conversação; reformulou a mensagem; fez e manteve contato visual; e
produziu frases com três palavras de forma telegráfica. Para a avaliação da
linguagem foi utilizado o protocolo Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem -
ADL(7), onde a criança apresentou linguagem receptiva compatível com a sua faixa
etária. A linguagem expressiva não pôde ser pontuada devido às alterações
fonológicas apresentadas pela criança que tornavam sua fala ininteligível. Para a
avaliação da fonologia, foi utilizado o protocolo ABFW – Fonologia(8), sendo a maior
parte da avaliação realizada por meio de imitação devido à dificuldade apresentada
pela criança em reconhecer as figuras e manter a atenção. Foram observadas
substituições assistemáticas de diversos fonemas; e substituições sistemáticas dos
fonemas /s/ e /ʃ/ por /t/; redução dos onsets complexos /tr/, /bl/, /br/, /pr/, /pl/ e /kr/; e
omissão de codas /S/ e /R/. Para a avaliação de praxia orofacial foi utilizado o Teste
de Praxias Articulatórias e Bucofaciais(9), que não detectou dificuldades práxicas
considerando a idade da criança. Diante dos achados da triagem, a criança foi
encaminhada para avaliação audiológica e entrou na lista de espera para dar
continuidade aos atendimentos em linguagem.
A avaliação audiológica revelou audição normal bilateralmente. A criança
iniciou os atendimentos fonoaudiológicos no primeiro semestre de 2019, quando
estava com 3 anos e 11 meses. Foi aplicado o protocolo Avaliação Fonológica da
Criança – AFC(10) para avaliar de forma espontânea a fonologia, linguagem
expressiva e receptiva. Devido a ininteligibilidade nas produções de fala da criança,
17
não foi possível avaliar todo o inventário fonológico da criança (Quadro 1). O
paciente possuía mais fonemas adquiridos na posição de onset inicial do que medial
(Quadro 2). Na posição de onset complexo, ocorreram simplificações de /br/, /tl/, /kl/,
/gr/, /fr/ por /b/, /t/, /k/, /g/, /f/ respectivamente; e substituições de /pr/ e /r/ por /l/;
demais produções não foram avaliadas pela ininteligibilidade na fala da criança. Na
posição de coda, houve simplificação de /S/ e /R/.
A partir desses achados e do resultado da avaliação audiológica foi levantada
a hipótese diagnóstica de TSF de origem fonológica.
A terapia fonoaudiológica empregou desde o princípio o modelo
ABAB-Retirada(11), que consiste em uma intervenção cíclica onde um único fonema
alvo é selecionado a partir de avaliação para ser estimulado por um número de
sessões. Logo após esse primeiro período de tratamento, é feito o chamado período
de retirada, ondeo fonema alvo não será diretamente estimulado. Então, um novo
período de tratamento é iniciado, seguido de um novo período de retirada e assim
sucessivamente até atingir o domínio de todos os fonemas alterados da língua. Nos
períodos de retirada são realizadas reavaliações fonoaudiológicas, a fim de ver as
mudanças ocorridas no inventário fonológico do paciente.
Inicialmente, o fonema alvo de terapia foi o fonema /ʒ/. Porém,
posteriormente, devido a dificuldades apresentadas pela criança na realização do
fonema, o foco das terapias passou a ser o fonema /s/. No segundo semestre de
2019, quando a criança estava com 4 anos e 7 meses, foi realizada reavaliação
fonológica com a aplicação do protocolo AFC(10), que revelou um sistema fonológico
ainda incompatível com o esperado para a idade (Quadro 1).
18
A ininteligibilidade de fala da criança não permitiu a análise de todos os
fonemas nas diferentes posições na palavra (Quadro 2). Na posição de onset
complexo, a criança simplificou /br/ por /b/ e /tr/ por /t/. Os outros onsets complexos
não foram produzidos. Houve simplificações das codas /S/ e /R/.
Quadro 1. Sistema Fonológico Geral do AFC
inventário fonológico geral da criança
Semestre de avaliação adquirido parcialmente
adquirido
não adquirido fonema não
produzido
2019.1 /p/; /t/; /d/; /v/; /m/; /n/ /b/; /l/ /s/; /z/; /ʃ/; /ʒ/; /k/; /g/ /f/; /R/; /ɳ/; /ʎ/; /ɾ/
2019.2 /p/; /t/; /f/; /ʃ/; /m/ /b/; /d/; /v/; /n/; /l/ /s/; /z/; /ʒ/; /k/; /g/; /ʎ/; /ɾ/ /R/; /ɳ/
Quadro 2. Produção dos fonemas nas diferentes posições da palavra – onset inicial e onset medial
2019.1 2019.2
Fonemas onset inicial onset medial onset inicial onset medial
adquirido /p/; /t/; /d/; /m/; /n/ /p/; /t/; /m/; /n/; /v/; /f/ /p/; /t/; /ʃ/
parcialmente
adquirido
/b/; /l/ /b/; /l/ /d/ /d/; /v/; /n/; /l/
não adquirido /s/; /z/; /ʒ/; /k/; /R/ /k/; /g/; /ʒ/; /s/ /s/; /R/ /s/; /ɾ/; /R/; /k/; /ʎ/
fonema não
produzido
/f/; /v/; /ʃ/; /g/ /p/; /f/; /z/; /ɾ/; /R/ /b/; /k/; /g/; /z/; /ʒ/; /ɾ/ /b/; /g/; /f/; /z/; /ʒ/; /m/
Em decorrência da pandemia de COVID-19, os atendimentos
fonoaudiológicos foram suspensos, retornando apenas no segundo semestre de
19
2020, quando o paciente estava com 5 anos e 6 meses. A fonologia foi reavaliada
com o protocolo ABFW – Fonologia(8). Os resultados mostraram que o paciente
possuía adquiridos os fonemas: /p/, /b/, /l/, /t/, /d/, /ɳ/, /v/, /m/, /n/, /f/; não adquiridos
os fonemas: /s/, /z/, /k/, /g/, /ʎ/, /ɾ/, /ʒ/, /ʃ/; e parcialmente adquirido: /R/. Observa-se
que apenas a classe das nasais possuía todos os fonemas adquiridos. A classe das
plosivas e fricativas, observou-se uma dificuldade com os segmentos coronais e
dorsal. E a classe das líquidas é a mais alterada, tendo apenas a líquida lateral
coronal anterior adquirida.
O modelo terapêutico permaneceu sendo o ABAB-Retirada(11) e o fonema alvo
das terapias voltou a ser o /ʒ/ (Quadro 3). As sessões eram realizadas envolvendo a
produção do fonema /ʒ/ em diferentes posições da palavra por meio de atividades
lúdicas. O paciente recebeu orientação sobre a articulação e produção do fonema
alvo com o auxílio de imagens do trato articulatório em corte sagital e formato da
boca durante a produção do fonema. Ao final do semestre o paciente conseguia
reproduzir o fonema alvo de forma distorcida em alguns momentos durante as
atividades realizadas nas sessões.
No primeiro semestre de 2021 foi mantido o mesmo modelo de terapia
fonológica, o ABAB-Retirada(11), mas com a mudança no fonema alvo de
estimulação. No ano de 2021, o fonema estimulado foi o /z/ (Quadro 3), o qual o
paciente demonstrou mais interesse. No segundo semestre de 2021, quando o
paciente estava com 6 anos e 4 meses, foi realizada nova avaliação da fonologia
utilizando o ABFW - Fonologia(8). Os resultados mostraram que o paciente ainda não
havia adquirido totalmente os fonemas: /s/, /k/, /g/, /ʎ/, /ɾ/, /ʃ/, /ʒ/. A partir da
reavaliação feita, foi selecionado o fonema /g/ como alvo das terapias. Para
20
avaliação das estruturas e funções orofaciais foi aplicado o Protocolo para Exame
Miofuncional Orofacial – MBGR(12), que não constatou alterações estruturais ou
miofuncionais.
No início de 2022, quando o paciente estava com 6 anos e 9 meses, foi
realizada reavaliação da fonologia por meio do protocolo ABFW – Fonologia(8). Os
resultados mostraram que o paciente havia adquirido os fonemas /s/, /ʎ/, /ʃ/ e /ʒ/
ainda precisando adquirir os fonemas /k/, /g/ e /ɾ/. Neste semestre, o modelo
terapêutico continuou sendo o ABAB-Retirada(11), onde nas primeiras sessões foi
trabalhado o fonema alvo /ɾ/ e posteriormente, após o período de retirada, a terapia
enfocou o fonema /g/ (Quadro 3).
Quadro 3. Sons alvos trabalhados em cada semestre
Semestre 2019.1 2019.2 2020.2 2021.1 2021.2 2022.1
Som alvo /s/ /s/ /ʒ/ /z/ /g/ /ɾ/; /g/
Ao final do semestre foi feita reavaliação, sendo observado que o paciente
estava em processo de automatização dos fonemas /k/, /g/ e /ɾ/. O restante do
sistema fonológico estava adequado, e por isso, após orientações aos pais sobre o
processo de automatização desses fonemas, o paciente recebeu alta
fonoaudiológica.
21
DISCUSSÃO
O sistema fonológico da criança estava bastante inadequado para a idade.
Aos 3 anos e 11 meses, o paciente ainda não havia adquirido as plosivas /k/ e /g/, e
as fricativas /s/ e /z/; aquisições esperadas para antes dos 3 anos de idade(13). Além
disso, os fonemas /ʃ/ e /ʒ/ deveriam estar adquiridos desde os 3 anos e 6 meses(13),
mas estavam ausentes no sistema fonológico da criança. Na mesma idade, o /l/
deveria estar completamente adquirido(13).
Esses achados indicam aquisição atípica. Os resultados das avaliações
realizadas durante o período em que o paciente foi atendido não revelaram qualquer
alteração de ordem estrutural, neurológica, motora ou sensorial que definissem o
diagnóstico como de natureza orgânica. Com base nas avaliações realizadas, os
achados fonoaudiológicos indicaram um TSF de origem fonológica. Dessa forma, um
modelo de intervenção fonológica, com enfoque na organização dos sons foi
empregado, neste caso, o ABAB-Retirada(11).
As terapias fonoaudiológicas que se utilizam de modelos terapêuticos de
ordem fonológica apresentam evoluções mais rápidas e com menos erros residuais
de fala quando comparadas com o modelo articulatório tradicional(6).
Desde o início do tratamento, o objetivo das terapias foi estimular o mínimo de
fonemas a fim de alcançar o máximo de generalizações possíveis para o maior
número de fonemas não estimulados.
Ao longo do tratamento, foram observados diferentes tipos de generalização,
como generalizações para palavras não utilizadas em terapia e generalizações de
um fonema para outro, como quando foi trabalhado o fonema /s/ e ocorreu
generalização para outros fonemas não trabalhados em terapia como o /R/(5).
22
Foram trabalhados diretamente cinco fonemas ausentes no inventário
fonológico da criança: /s/, /z/, /ʒ/, /g/ e /ɾ/. Com esse trabalho, foram alcançadas
generalizações para os outros sete fonemas, também ausentes, que não foram
trabalhados em terapia: /b/, /l/, /ʃ/, /k/, /R/, /ɲ/ e /ʎ/.
Ao observar as generalizações obtidas pela criança estimulando o menor
número de sons alvos, conclui-se que a terapia utilizando o modelo
ABAB-Retirada(11) teve bons resultados, visto que as generalizações são o critério
mais importante para medir a eficiência obtida com o tratamento utilizando um
modelo de intervenção fonológica(14).
23
COMENTÁRIOS FINAIS
A terapia fonoaudiológica neste caso possibilitou a readequação do sistema
fonológico da criança utilizando um modelo de intervenção fonológica eficaz.
Durante o tratamento, foram utilizados apenas cinco sons alvos: /s/, /z/, /ʒ/, /g/ e /ɾ/.
A partir desses sons alvo, o paciente alcançou generalização para outros sete
fonemas: /b/, /l/, /ʃ/, /k/, /R/, /ɲ/ e /ʎ/; com isso, todo o sistema fonológico da criança
foi reorganizado.
24
REFERÊNCIAS
1. Ceron MI, GubianiMB, de Oliveira CR, Gubiani MB, Keske-Soares M.
Prevalence of phonological disorders and phonological processes in typical
and atypical phonological development. Codas. 2017; v. 29(3), p. 1–9.
2. Silva MK da, Ferrante C, Borsel J Van, Pereira MM de B. Aquisição fonológica
do Português Brasileiro em crianças do Rio de Janeiro. J Soc Bras
Fonoaudiol. 2012; v. 24(3), p. 248–54.
3. Wertzner HF, Santos PI dos, Pagan-Neves L de O. Tipos de erros de fala em
crianças com transtorno fonológico em função do histórico de otite média. Rev
da Soc Bras Fonoaudiol. 2012; v. 17(4), p. 422–9.
4. American Speech-Language-Hearing Association. Speech Sound Disorders:
Articulation and Phonology [Internet]. [place unknown]; 2020 [cited 2022 Oct
22]. Available from:
https://www.asha.org/practice-portal/clinical-topics/articulation-and-phonology
5. Mota Helena Bolli. Terapia Fonoaudiológica para os desvios fonológicos. Rio
de Janeiro: RevinteR; 2001. ISBN: 85-7309-462-1.
6. Klein ES. Phonological/traditional approaches to articulation therapy: A
retrospective group comparison. Lang Speech Hear Serv Sch. 1996; v. 27(4),
p. 314–22.
7. Menezes ML. Avaliação do desenvolvimento da linguagem. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2004.
8. Andrade CRF, Befi-Lopes DM, Fernandes FDM, Wertzner HF. ABFW: teste de
linguagem infantil, nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e pragmática.
Carapicuíba: Pró-Fono; 2004.
https://www.asha.org/practice-portal/clinical-topics/articulation-and-phonology
25
9. Hage SRV. Teste de Praxias Articulatórias e Bucofaciais. 2000.
10.Yavas M, Hernandorena CLM, Lamprecht, RR. Avaliação fonológica da
criança: reeducação e terapia. 1992.
11. Tyler AA, Figurski GR. Phonetic inventory changes after treating distinctions
along an implicational hierarchy. Clinical Linguistics & Phonetics. 1994; v. 8(2),
p. 91-107.
12.Genaro KF, Berretin-Felix G, Rehder MIBC, Marchesan IQ. Avaliação
miofuncional orofacial: protocolo MBGR. Revista Cefac. 2009; v. 11, p.
237-255.
13.Ceron MI, Simoni SND, Keske‐Soares M. Phonological acquisition of Brazilian
Portuguese: Ages of customary production, acquisition and mastery.
International Journal of Language & Communication Disorders. 2022; v. 57(2),
p. 274-287.
14.Barberena LC, Mota HB, Keske-Soares M. As mudanças fonológicas obtidas
pelo tratamento com o modelo ABAB-Retirada e Provas Múltiplas em
diferentes gravidades do desvio fonológico. Revista CEFAC. 2015; v. 17, p.
44-51.
26
APÊNDICE
APÊNDICE I - NORMAS DA REVISTA
27
28
29
30
31
ANEXOS
ANEXO I - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
32
33
34
ANEXO II - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
35
36
37
38

Continue navegando