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Orçamento Público e Créditos Adicionais Contabilidade Pública Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ELAINE CHRISTINE PESSOA DELGADO DAYANNA DOS SANTOS COSTA MACIEL AUTORIA Elaine Christine Pessoa Delgado Possui graduação em Administração pela Universidade Federal de Campina Grande (2007) e pós-graduação em Direito Administrativo pela Faculdade Campos Elíseos (2020). Com experiência técnico-profissional na área de gerência de empresas por mais de dez anos, Elaine também é professora conteudista na empresa Modular Criativo. Dayanna dos Santos Costa Maciel Mestre em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da UFPB (2019), área de concentração Administração e sociedade e Mestre em Recursos Naturais, pelo Programa de Pós- Graduação em Recursos Naturais da UFCG (2014), com ênfase na linha de pesquisa Sustentabilidade e Competitividade. Dayanna possui graduação em Administração pela Universidade Federal de Campina Grande (2010) e Atua como pesquisadora no Grupo de Estudos em Gestão da Inovação Tecnológica (GEGIT) – UFCG, cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq – na linha de pesquisa Inovação e Desenvolvimento Regional l, com foco nos seguintes temas: administração geral, gestão da inovação, desenvolvimento regional. Atuou como pesquisadora do Grupo de Estratégia Empresarial e Meio Ambiente (GEEMA) – cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq – na linha de pesquisa Estratégia Ambiental e Competitividade com ênfase em Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental com foco nos seguintes temas: administração geral e gestão ambiental. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de apresentar um novo conceito; NOTA: quando necessárias observações ou complementações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido; ACESSE: se for preciso acessar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando uma competência for concluída e questões forem explicadas; SUMÁRIO O orçamento público e a sua história no Brasil .............................. 12 Orçamento público ........................................................................................................................ 12 História do orçamento público .............................................................................................. 17 Classificações do orçamento público e ciclo orçamentário ....23 Classificações do orçamento público ..............................................................................23 Orçamento tradicional ou clássico ................................................................23 Orçamento de desempenho ...............................................................................25 Orçamento programa ................................................................................................25 Orçamento base zero ................................................................................................27 Orçamento participativo ..........................................................................................28 Orçamento incremental ...........................................................................................29 Ciclo orçamentário .........................................................................................................................29 Elaboração ....................................................................................................................... 30 Aprovação .......................................................................................................................... 31 Execução ............................................................................................................................32 Controle e avaliação ..................................................................................................32 As leis orçamentárias ...............................................................................34 Leis orçamentárias no Brasil ...................................................................................................34 Plano Plurianual .............................................................................................................35 Lei de Diretrizes Orçamentárias ........................................................................37 Lei Orçamentária Anual .......................................................................................... 40 Princípios orçamentários e os créditos adicionais........................45 Princípios orçamentários ...........................................................................................................45 Legalidade ........................................................................................................................45 Unidade ou totalidade ............................................................................................. 46 Universalidade .............................................................................................................. 46 Exclusividade ................................................................................................................. 46 Anualidade ou periodicidade ..............................................................................47 Orçamento bruto ..........................................................................................................47 Discriminação ou especialização .................................................................... 48 Não afetação .................................................................................................................. 48 Publicidade ...................................................................................................................... 49 Equilíbrio ............................................................................................................................ 49 Não estorno ..................................................................................................................... 49 Créditos adicionais ........................................................................................................................ 50 Créditos especiais ....................................................................................................... 51 Créditos suplementares ..........................................................................................52 Créditos extraordinários ..........................................................................................53 9 UNIDADE 02 Contabilidade Pública 10 INTRODUÇÃO Você sabia que o orçamento público é um importante instrumento de planejamento utilizado para implementação das políticas públicas e que ele passou por algumas classificações até chegar ao que hoje encontramos como mais moderno? E que ele deve obedecer às leis que trazem diretrizes, metas, prioridades? Por meio do orçamento público, o Estado consegue viabilizar a realização das políticas públicas, com a arrecadação de receitas e a previsão de despesas realizadaspor meio de programas que visam a alocar adequadamente os recursos públicos. Além disso, o orçamento público possui funções relevantes e sua história é marcada por modificações consideráveis nas constituições ao longo dos anos. O orçamento público também passou por modificações nos seus tipos, no qual, inicialmente, existia apenas a preocupação sobre os gastos e, com o passar do tempo, passou a enfatizar o planejamento, demonstrando compromisso com a sociedade. Com essa nova ênfase, alguns dispositivos passaram a ser fundamentais para o orçamento público, como os instrumentos de planejamento e gestão do orçamento, incluídos aí o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual. O orçamento também precisa seguir as diretrizes trazidas pelos princípios orçamentários, atentando-se para as exceções constantes em alguns deles. Além do mais, existem alguns meios de solicitar a aprovação de recursos quando não estão incluídos na lei orçamentária, que é por meio dos créditos adicionais, mas que só devem ser utilizados em situações específicas. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você vai mergulhar neste universo! Contabilidade Pública 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Definir conceitos fundamentais sobre o orçamento público, entendendo sua história. 2. Identificar as classificações do orçamento público e o seu ciclo orçamentário. 3. Compreender os dispositivos das leis orçamentárias no Brasil. 4. Entender os princípios orçamentários e examinar os créditos adicionais. Contabilidade Pública 12 O orçamento público e a sua história no Brasil OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender o que vem a ser o orçamento público, conhecendo as suas principais características, bem como irá conhecer a história do orçamento público e as Constituições Federais que marcaram essa história ao longo dos anos. Então vamos lá. Avante! Orçamento público Para compreender o que é o orçamento público, vamos relembrar que o Estado possui a função de promover o desenvolvimento econômico e social por meio de ações voltadas para a bem-estar da população, e, para isso, ele precisa de recursos, ou seja, receitas. Mas ele também possui a função de gerir adequadamente esses recursos e saber utilizá-los corretamente, fazendo com que as despesas sejam voltadas para o funcionamento dos serviços públicos e para a execução de programas de governo. É aí que entra o orçamento público como um importante instrumento a ser utilizado pelo Estado para que as políticas públicas possam ser implementadas conforme as necessidades do povo e para que haja uma boa gestão dos recursos públicos. O orçamento público envolve a compreensão da atividade financeira dos órgãos e das entidades públicas e como os recursos são obtidos, criados, gerenciados e utilizados. De acordo com Paludo (2017), o orçamento público é empregado para concretizar o planejamento público e, consequentemente, efetivar suas políticas de governo por meio da destinação de recursos para ações, como projetos, programas e operações especiais. 13 É por meio do orçamento público que o Estado estima as receitas e realiza o controle dos gastos que espera efetuar durante o exercício financeiro, como também auxilia no planejamento da análise das políticas públicas setoriais, agrupando-as de acordo com a prioridade, escolhidas para fazer parte do plano de ação do governo, conforme os limites da quantia de recursos que podem ser empregados para financiar esses gastos (CREPALDI; CREPALDI, 2013). Dessa forma, temos que o orçamento público de todos os entes da federação abrange a previsão de todas as receitas a serem arrecadas e das despesas que os governos estão autorizados a realizar, sendo a sua elaboração obrigatória e tendo como período o exercício financeiro. Figura 1 – Orçamento público Arrecadação de receitas Orçamento público Autorização de despesas Fonte: Elaborado pelas autoras (2022). Assim, ele é necessário para que as funções do Estado sejam executadas adequadamente, proporcionando um aprimoramento nas atividades administrativas e possibilitando tomadas de decisão mais assertivas. Mas como ocorre essa arrecadação de receitas para que se possa estimar as despesas? 14 IMPORTANTE: O governo faz uma estimativa das receitas, por isso elas podem apresentar um resultado maior ou menor do que realmente foi previsto. Portanto, se a economia crescer mais do que o esperado no ano, a arrecadação será maior, implicando um aumento nas receitas estimadas. No entanto também poderá ocorrer o inverso, explica Silva (2015). Dessa forma, as despesas definidas no orçamento são realizadas com o produto de arrecadação de impostos e contribuições estabelecidas em lei, como o Imposto de Renda. Além disso, também podem ser feitas operações de crédito para cobrir as despesas de responsabilidade pública, só que essas operações fazem com que a dívida pública aumente, complementa o autor. Para Paludo (2017), o orçamento também pode ser encarado por meio de uma visão mais moderna, possuindo como características: • Ser um programa governamental apresentado pelo Poder Executivo e autorizado pelo Poder Legislativo. • É um plano político de ação de governo para o exercício posterior. • É um campo de discussão e decisão em que os envolvidos demonstram seu poder, suas preferências, estabelecem o que pretendem executar e disponibilizam recursos para a implementação. IMPORTANTE: No Brasil, temos um tipo de orçamento considerado como misto, no qual a elaboração e execução do orçamento público são competências do Poder Executivo, cabendo ao Poder Legislativo a aprovação do orçamento como também o controle, com o auxílio do Tribunal de Contas. O orçamento é estudado por diversos autores (como Silva, Crepaldi, Paludo) segundo alguns aspectos, também chamados de dimensões. 15 Segundo Crepaldi e Crepaldi (2013), esses aspectos são administrativos, econômico, político, jurídico e técnico. Vejamos o que vem a ser cada um deles na visão dos autores. No aspecto administrativo, o orçamento é considerado como um relevante elemento de planejamento, visto que a Administração Pública precisa saber o quanto terá disponível de recursos financeiros para que se possa suprir as necessidades da população. No aspecto econômico, ele passa a ser visto como um mecanismo em que o governo retira recursos da sociedade para distribuir em determinadas áreas, baseando em uma decisão de gasto. No aspecto jurídico, ele possui caráter e força de lei, estabelecendo limites que devem ser respeitados pelos administradores e agentes públicos no que se refere à arrecadação de receitas e autorização de despesas, devendo estar compatível com a Lei nº 4.320/64. IMPORTANTE: O aspecto técnico envolve a definição de regras metodológicas para a execução dos fins estabelecidos pelos demais aspectos. Para isso, devem ser utilizados os preceitos voltados para uniformizar e disciplinar a estrutura do orçamento, como a apresentação de demonstrativos, contabilização da execução orçamentária etc. No aspecto político, tem-se as decisões políticas de governo que devem ser estruturadas com processos de participação da sociedade. 16 Figura 2 – Aspectos orçamentários Aspecto jurídico - caráter e força de lei Aspecto econômico - decisão de gasto Aspecto político - decisões políticas Aspecto técnico - regras metodológicas Aspecto administrativo - planejamento Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações de Crepaldi e Crepaldi (2013). Assim, podemos enxergar o orçamento como possuidor de diversos aspectos quando observamos a destinação de verbas públicas por meio de ações sociais e regionais, quando demonstra a realidade daeconomia, quando faz uso das estimativas das receitas e despesas, ou até mesmo quando segue as determinações normativas e constitucionais, compreendendo, assim, os aspectos administrativos, políticos, econômicos, técnicos e jurídicos. Também é preciso entender que o orçamento possui algumas funções que, conforme Paludo (2017), são: • Função alocativa – que compreende a destinação dos recursos públicos na disponibilização de bens e serviços para a sociedade. • Função distributiva – buscando uma melhor igualdade em relação a bens e riqueza, por meio de ações voltadas para distribuição de renda, como o programa Fome Zero. • Função estabilizadora – por meio da adoção de várias políticas voltadas para estabilizar a economia e as finanças a partir de medidas de intervenção econômica. 17 História do orçamento público A história do orçamento público é marcada por diversos fatos importantes, principalmente pelas determinações existentes nas Constituições Federais. Na Constituição de 1824, foram introduzidas as exigências para que fossem elaborados orçamentos de maneira formal, sendo o Poder Executivo competente para elaborar a proposta e o Poder Legislativo para aprovar. VOCÊ SABIA? No ano de 1891, a Constituição passou a determinar que o orçamento fosse elaborado privativamente pelo Congresso Nacional, sendo esta a primeira Constituição Republicana (MENDES, 2015). Em 1922, a aprovação do Código de Contabilidade também influenciou na história do orçamento público: Em 1922, por ato do Congresso Nacional, foi aprovado o Código de Contabilidade da União (Decreto 4.536/1922), possibilitando o ordenamento dos procedimentos orçamentários, financeiros, contábeis e patrimoniais da gestão federal. O Código formalizou a prática de o Poder Executivo fornecer ao Poder Legislativo todos os elementos para que este exercitasse sua atribuição de iniciar a elaboração da lei orçamentária. (ENAP, 2017, p. 8) Em 1934, no governo Getúlio Vargas, a Constituição devolveu a competência para o Poder Executivo na elaboração do orçamento. Além disso, a ênfase dada ao orçamento no texto constitucional passou a ser bem mais ampla, passando a ter um capítulo próprio sobre o orçamento. O Poder Legislativo era responsável por votar a proposta orçamentária, no entanto acabava por participar junto ao Poder Executivo, visto que não existia limitações em relação à inclusão de emendas pelo Poder Legislativo. Essa Constituição também trouxe importantes princípios orçamentários, como o princípio da universalidade, da exclusividade, da especificação etc. (WILGES, 1995). 18 IMPORTANTE: Para Crepaldi e Crepaldi (2013), foi no ano de 1936, com a criação do Conselho Federal do Serviço Público, por meio da Lei nº 284/36, que houve de fato a evolução e o desenvolvimento da técnica orçamentária. Essa lei passou a organizar Departamento Administrativo do Setor Público (DASP), que era subordinado ao Presidente da República. Figura 3 – Presidente da República Fonte: Freepik. Com isso, a Constituição de 1937 passou a competência para a elaboração do orçamento público para esse departamento (DASP). Entretanto a aprovação do orçamento era feita pela Câmara e pelo Conselho Federal, formado por membros nomeados pelo Presidente, o que fazia com que, na prática, ocorresse a elaboração e aprovação do orçamento pelo próprio Presidente (MENDES, 2015). 19 Com isso, Crepaldi e Crepaldi (2013) entendem que as atividades administrativas foram desempenhadas de maneira empírica, mesmo diante de tantas leis e de regulamentos, pois não existia um meio baseado nos modernos princípios da administração, nem tampouco existia um sistema racionalmente estruturado e organicamente atuante. IMPORTANTE: Em 1964, foi sancionada a Lei 4.320/64, estabelecendo normas de direito financeiro para a elaboração e o controle dos orçamentos dos entes federados, trazendo diversos dispositivos, regulando a lei do orçamento, bem como as receitas e despesas. Outra alteração importante foi na Constituição de 1967 que, mesmo com a elaboração pelo Poder Executivo e a aprovação pelo Poder Legislativo, o Legislativo não poderia fazer alterações significativas nas propostas orçamentárias por meio de emendas, existindo a única atribuição de aprovar ou rejeitar a proposta original. Mendes (2015) relata que esse fato era notável devido à impossibilidade de o Legislativo realizar alterações que provocassem aumento de despesa ou que viessem a modificar o seu montante, a natureza ou objeto. Nesse período, também se passou a introduzir a ideia de orçamentoprograma, por meio Decreto-Lei nº 200/1967, no qual sua elaboração irá detalhar o PPA para que seja definido o orçamento anual. IMPORTANTE: Veremos mais adiante com detalhes o que é orçamento- programa, mas, para que você entenda a importância dele neste momento, é no orçamentoprograma que são demonstrados os programas de trabalho do governo, proporcionando uma integração entre o planejamento e o orçamento, além de outras funções importantes. 20 A Constituição Federal de 1988 trouxe várias outras inovações e muito importantes para o âmbito orçamentário, sendo uma seção, dos artigos 165 a 169, toda dedicada a ele. Outra lei também muito importante é a de nº 10.180 de 2001, voltada para organizar e disciplinar os Sistemas de Planejamento e de Orçamento Federal, que no seu art. 2º traz as finalidades desse sistema, que é voltado para o estabelecimento do planejamento estratégico nacional de planos, como o PPA, LDO e LOA (BRASIL, 2001). Figura 4 – Lei 10.180/2001 L e i 1 0 .1 8 0 / 20 0 1 Formular o PPA, a LDO, e a LOA Formular os planos nacionais, setoriais e regionais de desenvolvimento econômico e social. Formular o planejamento estratégico nacional. Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações da Lei nº 10.180/2001. 21 Crepaldi e Crepaldi (2013) explicam que, desde a elaboração do primeiro orçamento no Brasil até a Constituição de 1988, a concepção do orçamento passou de um simples instrumento político de controle das finanças públicas para a compreensão de que ele deve ser um verdadeiro instrumento de administração. Para Paludo (2017), ele passou a ser um poderoso mecanismo de intervenção na economia e na sociedade e possui diversas funções, como: • É um instrumento de controle econômico. • É um instrumento de planejamento governamental. • É empregado para controlar gastos etc. Dessa forma, temos que o orçamento público percorreu grandes fases até chegar ao que hoje encontramos, mesmo diante de algumas lacunas ainda existentes, mas chamado por alguns autores, como Paludo (2017), atualmente, como orçamento moderno, voltado não apenas para o controle de receitas e despesas. O orçamento moderno trata-se de uma proposta que demonstra monetariamente, para um determinado período, programas, operações governamentais e como eles serão financiados (PALUDO, 2017). Ele inclui, além de tudo, o planejamento e a forma como os programas serão implementados, bem como o controle exercido sobre os recursos a serem utilizados na sua implementação. SAIBA MAIS: Aprofunde-se sobre a história do orçamento compreendendo como ele surgiu em outros países, como os Estados Unidos, a França e Inglaterra, lendo o artigo do Senado Federal, “Origens do Orçamento”, disponível aqui. 22 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o orçamento público é um importante instrumento na implementação das políticas públicas, que deve ser utilizado para estimar as receitas e definir as despesas, mas também deve ser utilizado como um instrumento de planejamento. Ele é elaborado pelo Poder Executivo e aprovado pelo Poder Legislativo e possui alguns aspectos que são o administrativo,o econômico, o jurídico e o técnico. Você também deve ter compreendido que, ao longo do tempo, as Constituições Federais marcaram a história do orçamento público no Brasil, principalmente no que se refere a sua elaboração e aprovação, sendo modificado definitivamente por meio da Constituição de 1988, que trouxe inovações significativas para esse campo. Também deve ter visto que, além da Constituição, algumas leis também se destacaram, como a Lei nº 4.320/64 e a Lei 10.180/2001, mas que ainda falta ser editada uma lei complementar sobre finanças públicas que organize os Planos Plurianuais, as Leis Orçamentárias e as Leis de Diretrizes Orçamentárias. No entanto passamos a ter atualmente um orçamento moderno, considerado como um poderoso instrumento de intervenção na economia. 23 Classificações do orçamento público e ciclo orçamentário OBJETIVO: Neste capítulo, iremos identificar as classificações do orçamento público, conhecendo os principais pontos relacionados com cada uma dessas classificações, e compreender como é o ciclo orçamentário desde o seu início, identificando todas as suas etapas e o período de realização de cada uma delas. Classificações do orçamento público O orçamento público é classificado em alguns tipos, também chamados de técnicas orçamentárias, que fazem parte da evolução do processo de elaboração de orçamentos. Dessa forma, por meio dessas técnicas, o orçamento passou por um processo de aprimoramento, passando a ser um instrumento da moderna gestão pública. Não há unanimidade em relação a quantos são os tipos de orçamentos entre os autores renomados da área de orçamento e contabilidade pública. Por isso vamos ver os principais: Orçamento tradicional ou clássico No orçamento tradicional, existia a preocupação meramente sobre os gastos a serem efetuados. Assim, não era levado em consideração o planejamento das ações públicas, visto que, quando era elaborado, não se pensava em atender às necessidades da população, tampouco se favorecia um programa de trabalho ou uma categoria de objetivos a alcançar (SILVA, 2017). Ele era visto apenas como um simples mecanismo contábil em que eram apresentadas as despesas e receitas, e não existia destaque para o controle da gestão dos recursos. 24 Para Paludo (2017), a única ênfase que o Poder Legislativo dava nesse tipo de orçamento era a de se compreender a previsão de receitas a serem arrecadas pelo Poder Executivo e o quanto seria utilizado como despesa, não havendo nenhum tipo de contestação sobre os objetivos e as metas governamentais; como também eram empregados critérios para classificação dos gastos, em que se levava em conta a Unidade Administrativa para a classificação institucional e o elemento e despesa como objeto do gasto. Figura 5 – Orçamento tradicional Critério para classificação do gasto Unidade Administrativa Elemento de despesa Classificação Institucional Objeto do gasto Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações de Paludo (2017). Além disso, todo o orçamento era baseado nos anos anteriores, fazendo com que as mesmas falhas ocorridas se perpetuassem ao longo dos anos. Silva (2017) cita que, nas principais características do orçamento tradicional: • Eram consideradas as necessidades das unidades administrativas na tomada de decisão orçamentária. • Evidenciava-se o aumento dos gastos em relação ao orçamento do ano anterior. • Existia uma revisão em termos percentuais dos montantes financeiros dos anos passados para despesa e receita. • Destaque para os elementos contábeis e legais da gestão. • Ausência de sistemas de acompanhamento e controle do trabalho, bem como dos resultados. 25 •• O controle era voltado para analisar a honestidade dos agentes públicos, como também a legalidade na execução do orçamento. Ele foi muito conhecido como a “Lei dos meios”, pois o Estado não se preocupava com os resultados, mas apenas com os meios para conseguir realizar suas atividades. Orçamento de desempenho Como o próprio nome diz, ele considera o desempenho organizacional. Por isso pode ser entendido como uma evolução em relação ao orçamento tradicional. IMPORTANTE: Aqui existia a preocupação com as ações orçamentárias e com os custos dos programas, e não apenas com a realização dos gastos. O desempenho era auferido por meio do resultado alcançado, fazendo com que o orçamento passasse a ser um instrumento de gestão pública (PALUDO, 2017). Eram apresentados dois aspectos do orçamento: o objeto de gasto e um programa de trabalho, que possuía as atividades a serem desempenhadas. E os critérios passaram a compreender o programa de trabalho e a classificação por funções, por isso ele também era chamado de orçamento funcional, complementa o autor. Orçamento programa O orçamento programa foi determinado tanto pela Lei nº 4.320/64 como também pelo DL nº 200/67 e é considerado como o orçamento mais moderno, pois passa a enfatizar o planejamento, demonstrando compromisso com a sociedade como também define com clareza os objetivos (PALUDO, 2017). 26 De acordo com Silva (2015), o orçamento-programa é o: Orçamento que expressa, financeira e fisicamente, os programas de trabalho de governo, possibilitando a integração do planejamento com o orçamento; a quantificação de objetivos e a fixação de metas; as relações insumo-produto; as alternativas programáticas; o acompanhamento físico-financeiro; a avaliação de resultados e a gerência por objetivos. (SILVA, 2015, p. 47) Figura 6 – Orçamento–programa Orçamento Planejamento Fonte: Elaborado pelas autoras (2022). Por meio desse orçamento, é possível ter um controle maior da realização dos programas de trabalho, além de conseguir identificar com clareza as despesas, as metas e os objetivos. IMPORTANTE: O orçamento-programa é o tipo atualmente empregado no Brasil. Possui como características principais, segundo Silva (2015): • Análise detalhada das atividades realizadas pelo governo. • Incorporação do planejamento ao orçamento. • O orçamento passa a ser o ponto de união entre o planejamento e as funções executivas da entidade. • Avaliação de resultados. • As avaliações e análises técnicas das possibilidades são levadas em consideração para as tomadas de decisões orçamentárias. 27 • Abrange todos os custos do programa na sua elaboração, até mesmo aqueles que ultrapassam o exercício. • Existe um acompanhamento físico-financeiro. • O controle é voltado para avaliar a eficiência, eficácia e efetividade das atividades do governo. Orçamento base zero Ele é chamado dessa forma porque toda despesa é considerada como nova, por isso o orçamento começa todo ano do zero. Assim, todas as despesas, sejam elas decorrentes de exercícios passados ou não, são consideradas como novas. Por isso todos os anos é preciso provar a necessidade de orçamento e justificar as dotações existentes no orçamento, não levando em conta o ano anterior como parâmetro (PALUDO, 2017). VOCÊ SABIA? A realização do orçamento é efetuada por meio de dados físicos, sem incluir despesas desnecessárias. Por isso ele é encarado como um orçamento voltado para impedir a elevação de gastos públicos e a ineficiência no emprego dos recursos, ou seja, ele se preocupa com a eficiência. 28 Orçamento participativo O orçamento participativo é realizado com o auxílio da participação direta da sociedade ou por meio da participação de associações, como a de moradores de uma determinada região. Os participantes irão ajudar a decidir como serão alocados os recursos públicos, indicando as necessidades de execução de obras e serviços (PALUDO, 2017). Figura 7 – Orçamento participativo Fonte: Freepik. IMPORTANTE: Essa técnica é normalmente utilizada por alguns municípios e estados brasileiros. Esse tipo de orçamento desenvolve o exercício da cidadania, fazendo com que a população participe das ações governamentais,conhecendo os problemas existentes nas localidades, bem como as limitações de recursos para resolver esses problemas. Por meio dele, a população poderá entender a prioridade de construir uma praça pública ou um posto de atendimento de saúde. 29 Orçamento incremental Nesse tipo de orçamento, existe um incremento, ou seja, um aumento percentual dos gastos em relação ao ano anterior. Por isso é levado em conta somente a elevação ou redução das despesas, desconsiderando as alternativas possíveis (PALUDO, 2017). Alguns autores, como Silva (2015), não chegam a considerar esse orçamento como uma técnica, principalmente porque, devido a sua facilidade de previsão, qualquer pessoa sem experiência poderia elaborar. Preferi trazê-lo para que tomasse conhecimento sobre ele. Ciclo orçamentário O processo orçamentário é formado por algumas etapas que são desenvolvidas sequencialmente, formando o ciclo orçamentário. Desse modo, o ciclo orçamentário é conceituado como Um processo contínuo, dinâmico e flexível, através do qual se elabora, aprova, executa, controla e avalia os programas do setor público nos aspectos físico e financeiro, corresponde, portanto, ao período de tempo em que se processam as atividades típicas do orçamento público. (SILVA, 2015, p. 48) Portanto o ciclo orçamentário compreende as etapas de elaboração, aprovação, execução, controle e avaliação. Essas fases não coincidem com o período do exercício financeiro, pois algumas delas têm início antes do exercício como também depois do exercício (PALUDO, 2017). 30 Figura 8 – Ciclo orçamentário Elaboração Aprovação Controle e avaliação Execução Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações de Paludo (2017). Vejamos cada uma dessas etapas. Elaboração Na etapa de elaboração, são analisadas todas as ações preliminares referentes à alocação de recursos, ou seja, são realizados os estudos para identificar as prioridades, determinar quais são os objetivos para o período e estimar os recursos financeiros que serão essenciais para a execução das políticas públicas, além da previsão de recursos para investimentos e para o exercício da Administração Pública. Todos esses elementos irão formar a proposta orçamentária. IMPORTANTE: A elaboração é coordenada pela Secretaria de Orçamento Federal (SOF), que conta ainda com o auxílio dos Órgãos Setoriais, das Unidades Administrativas, e das Unidades Orçamentárias. Assim, o Poder Executivo faz a sua proposta, como também os outros poderes, além do Tribunal de Contas, o Ministério Público e a Defensoria Pública. Todas essas propostas passam por um processo de consolidação para que se tornem apenas um orçamento (PALUDO, 2017). 31 Após a consolidação, a SOF encaminha a proposta para o Poder Executivo para que este envie ao Congresso Nacional na data prevista, que é 31 de agosto do exercício. Aprovação Na etapa de aprovação, acontece a discussão e o estudo sobre a proposta encaminhada. Ela acontece no Poder Legislativo que, no âmbito federal, forma uma comissão mista permanente para que seja realizado o debate, chamada de Comissão Mista de Planos (MENDES, 2015). No âmbito municipal e estadual, essa comissão é simples, formada nesta pelos deputados e naquela pelos vereadores. IMPORTANTE: As etapas de elaboração e aprovação ocorrem no ano anterior ao da efetiva execução do orçamento. Várias ações são realizadas na etapa de elaboração, como audiências públicas, possibilidade de apresentação de emendas (que estejam de acordo com a Lei nº 4.320/64), debates, votações etc. Sua aprovação concretiza-se de fato em sessão conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, no caso do âmbito federal. Depois da aprovação, o projeto é encaminhado para o chefe do Poder Executivo para que ocorra a sanção e publicação (PALUDO, 2017). O projeto também poderá ser vetado por completo ou apenas algumas partes. No entanto, neste caso, é preciso que ocorra a comunicação do ocorrido ao presidente do Senado Federal no prazo de até 48 horas, com as devidas exposições dos motivos que levaram ao veto. 32 Execução Na etapa de execução, ocorre a materialização dos objetivos constantes no projeto, ou seja, tudo o que foi planejado em relação ao orçamento passa a ser transformado em realidade, as receitas serão arrecadadas e as despesas efetuadas. IMPORTANTE: Ela inclui a execução orçamentária e financeira, e, segundo Mendes (2015, p. 94), a execução orçamentária pode ser compreendida como o emprego das dotações de créditos constantes no orçamento, e a execução financeira corresponde ao emprego dos recursos financeiros voltados para executar os projetos ou as ações de competências das Unidades Orçamentárias. Figura 9 – Execução Execução orçamentária Uso dos créditos orçamentários Execução financeira Uso dos recursos financeiros para execução de projetos e atividades Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações de Mendes (2015). A etapa de execução ocorre dentro do exercício financeiro (Lei 4.320/64). Controle e avaliação Na etapa de controle e avaliação, são verificadas a eficácia e eficiência dos projetos e atividades cumpridos, como também é observada a conformidade e se são necessárias ações corretivas. De acordo com a Lei nº 4.320/64, essa fase abrange a legalidade dos atos em relação às receitas e despesas, o fiel cumprimento das 33 atividades dos agentes públicos na sua função e a realização dos programas de trabalho. Esse controle pode ser de duas formas: pode ser controle interno, realizado por um órgão da Administração Pública responsável, como no âmbito federal pela Controladoria-Geral da União; e, ainda, pode ser controle externo, exercido pelo Legislativo com auxílio do Tribunal de Contas (CF/88). RESUMINDO: Neste capítulo, você deve ter compreendido que o orçamento pode ter várias classificações, sendo o orçamento tradicional preocupado apenas com os gastos, ou seja, um simples mecanismo contábil. Viu que o orçamento de desempenho se preocupava com as ações orçamentárias e com os custos dos programas, e que o orçamento-programa é considerado o mais moderno, pois enfatiza o planejamento e define com clareza os objetivos. Além disso, entendeu que o orçamento base zero se inicia todos os anos do zero, ignorando os orçamentos passados, por isso é chamado dessa forma. Viu também que o orçamento participativo conta com a participação da população ou de associações para que os recursos sejam distribuídos conforme a necessidade deles, e ainda que o orçamento incremental é realizado apenas com incrementações sobre o orçamento do exercício anterior. Por fim, você conheceu o ciclo orçamentário formado pelas etapas de elaboração, realizada pelo Executivo no ano anterior, de aprovação, realizada pelo Legislativo e enviada ao Executivo para a sanção ou veto, de execução, em que são concretizados as ações e os programas, e de controle e avaliação, em que são verificadas a conformidade, eficiência e eficácia dos programas e das ações. 34 As leis orçamentárias OBJETIVO: Neste capítulo, iremos compreender os dispositivos das leis orçamentárias no Brasil, conhecendo quais são os instrumentos de planejamento e orçamento de acordo com a Constituição Federal, bem como a sua importância e as principais características de cada um deles. Leis orçamentárias no Brasil A atividade financeira do Estado é regida por leis que direcionam todas as ações a serem seguidas pelos órgãos e pelas entidades públicas. Assim, a criação, obtenção, gestão e utilização dos recursos públicos devem seguir as determinações da lei. Dessa forma, existem leis que orientam o planejamento e o orçamento da Administração Pública tanto no âmbito federal, quanto no estadual e municipal. Na esfera de cada um desses entes, essas leis compõem fases diferentes, mas integradas, possibilitando um planejamento estrutural das ações governamentais (MENDES,2015). IMPORTANTE: A Constituição Federal de 1988, em seu art. 165, determina que: “Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual; II - as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais”. (BRASIL, 1988, on-line) Esses instrumentos são muitas vezes chamados de instrumentos de planejamento e orçamento. 35 Vejamos as características deles. Plano Plurianual O Plano Plurianual (PPA) é o instrumento em que as ações do governo são estruturadas para que possam ser alcançados objetivos e metas definidos em um período de quatro anos. Ele possui um maior alcance no que se refere à definição de prioridades e em relação à orientação das ações governamentais, demonstrando ao mesmo tempo responsabilidade com os objetivos e a visão de futuro e com a previsão de destinação dos recursos orçamentários nas políticas e nos programas públicos (PALUDO, 2017). Segundo a Constituição Federal: § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. (BRASIL, 1988, on-line) Figura 10 – Plano Plurianual PPA para as despesas de capital e delas decorrentes. Diretrizes Metas Objetivos Administração Pública Federal. para as relativas aos programas de duração continuada. Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações da Constituição Federal de 1988. Dessa forma, temos que o PPA deve ser elaborado de forma regionalizada, levando em consideração as macrorregiões do país, para que, assim, possam ser propostas ações integradas estabelecidas a partir das realidades regionais e locais. 36 Mesmo não sendo uma tarefa tão fácil, visto que as desigualdades regionais no Brasil são notórias, o PPA busca implementar o vínculo entre o planejamento de longo prazo e os orçamentos anuais. As diretrizes estão relacionadas com as normas gerais que irão indicar o rumo a ser seguido, trazendo orientações e instruções a serem utilizadas na gestão dos recursos públicos durante a validade do plano. Os objetivos referem-se aos resultados que se espera atingir com a execução das ações de governo, demonstrando o que deve ser feito em busca do bem-estar da população. As metas são medidas que devem fazer parte dos objetivos para que seja possível mensurar e avaliar o nível em que os objetivos foram atingidos, e elas podem ser de natureza qualitativa ou quantitativa (MENDES, 2015). As despesas de capital são aquelas que auxiliam na constituição ou obtenção de um bem de capital, como as obras, os investimentos etc. E quando se cita as despesas delas decorrentes, são as despesas necessárias para o funcionamento ou a manutenção que passam a existir apenas após a entrega daquele bem de despesa de capital (PALUDO, 2017). EXEMPLO Quando a Administração decide construir um hospital, ela está realizando uma despesa de capital. No entanto, depois de pronto, o hospital irá precisar contratar pessoal, pagar despesas, como energia, luz etc. Essas outras despesas são decorrentes das despesas de capital. Já os programas de duração continuada compreendem aqueles que extrapolam o exercício financeiro, ou seja, programas que se estendem para exercícios financeiros seguintes. Importante também compreender que o PPA é considerado um planejamento de médio e longo prazo e o seu período de vigência não compreende o mesmo período de mandato do chefe do Poder Executivo. Isso porque a sua elaboração é realizada no primeiro ano de mandato e só passa a vigorar a partir do segundo ano, permanecendo até o primeiro ano do mandato posterior, demonstrando, assim, uma ideia de continuidade dos programas (MENDES, 2015). Contabilidade Pública 37 Figura 11 - Duração do PPA 1º ano de mandato e elaboração do PPA 2º ano de mandato e início de vigência do PPA 4º ano de mandato Novo mandato e último ano de vigência do PPA Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações de Mendes (2015). EXEMPLO Para ficar mais fácil de compreender a vigência do PPA, pense o seguinte: Paulo foi eleito Presidente da República para os anos de 2014 a 2018. Em 2014, ele elaborou o PPA, que só entrou em vigor em 2015, durando até 2019, pois sua vigência é de quatro anos, extrapolando, assim, o mandato de Paulo. A elaboração dos demais planos, como a LOA e a LDO, estão condicionadas ao PPA, por isso esses outros planos devem estar em conformidade e serem compatíveis com o plano plurianual (CF/88). Lei de Diretrizes Orçamentárias A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) surgiu como forma de realizar a conexão entre o PPA e a LOA, trazendo os programas constantes no PPA que serão favorecidos com dotações na LOA. Conforme a Constituição Federal: § 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas e prioridades da administração pública federal, estabelecerá as diretrizes de política fiscal e respectivas metas, em consonância com trajetória sustentável da dívida pública, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. (BRASIL, 1988, on-line) Contabilidade Pública 38 Assim, a LOA será elaborada de acordo com as orientações da LDO, retirando do PPA as prioridades para cada ano. Além disso, quando houver a criação de novos tributos, ampliação ou redução de alíquotas, ou qualquer outra alteração na legislação tributária que venha a impactar a arrecadação de recursos para o ano posterior, elas devem fazer parte da LDO (PALUDO, 2017). IMPORTANTE: A LDO também deve se preocupar com a dívida pública e com a política fiscal, para que, assim, possa existir uma gestão orçamentária e financeira dos recursos públicos com mais equilíbrio e possa ser garantido o crescimento econômico. Esse instrumento também estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento, que são realizadas por meio de empréstimos e financiamentos à população, em grande parte por bancos públicos, como o BNDES, com o intuito de desenvolver determinadas atividades do setor privado (PALUDO, 2017). Figura 12 – Lei de Diretrizes Orçamentárias LDO Metas e prioridades. Orientação da elaboração da LOA. Alterações na legislação tributária. Política de aplicação das agências financeiras de formento. Diretrizes da política fiscal de acordo com a trajetória susten- tável da dívida pública. Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações da Constituição Federal de 1988. Contabilidade Pública 39 A LDO é muito importante, pois várias ações governamentais dependem de que estejam autorizadas nela para poderem ser efetuadas, como admissão e contratação de pessoal da Administração Direta, e algumas entidades da Administração que são instituídas e mantidas pelo poder Público, bem como em relação a aumento de remuneração dos servidores, entre outros (MENDES, 2015). A Lei de Responsabilidade Fiscal, art. 4º, determina que também farão parte da LDO: • Anexo de Metas Fiscais – com a definição de metas anuais do ano em questão e para os próximos dois anos referentes a receitas, despesas, ao resultado nominal e primário e da dívida pública. • Anexo de Riscos Fiscais – em que acontecerão as avaliações dos riscos que possam atingir as contas públicas, indicando as providências a serem adotadas, no caso de ocorrerem. • Anexo de Políticas Específicas – referente às políticas monetárias, creditícia e fiscal. Essa lei não pode entrar em vigor sem ser submetida à apreciação do Congresso Nacional, como também sua aprovação deve anteceder à elaboração da LOA, visto que irá fornecer as metas e prioridades que constarão nela (CREPALDI e CREPALDI, 2013). VOCÊ SABIA? A LDO possui um prazo determinado paraser aprovada pelo Poder Legislativo, não podendo ser concluída a sessão legislativa caso não ocorra. Por isso o Poder Executivo deve conduzir a proposta até oito meses e meio antes do término do exercício financeiro (15/4) para que o Poder Legislativo aprove e devolva até o fim do primeiro período da sessão legislativa (17/7) (CF/1988). Contabilidade Pública 40 Lei Orçamentária Anual A Lei Orçamentária Anual (LOA) refere-se ao orçamento em si, ou seja, é instrumento que abrange a previsão de receitas e autorização de despesas que serão executadas no período. Por meio da LOA, são materializados objetivos e metas definidos no PPA, assim são realizadas todos os anos as etapas previstas no PPA, de acordo com o que foi determinado na LDO. Logo temos que a LOA é orientada pelas diretrizes, metas e pelos objetivos do plano plurianual, como também envolve as ações a serem realizadas conforme as metas e prioridades definidas na LDO (MENDES, 2015). Segundo a Constituição Federal: § 5º A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. (BRASIL, 1988) Contabilidade Pública 41 Figura 13 – Lei Orçamentária Anual LOA Poderes da União, fundos, órgãos, administração direta e indireta Estatais independentes Órgãos e entidades vinculados à seguridade social Orçamento fiscal Orçamento de investimento das empresas Orçamento da seguridade social Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações da Constituição Federal de 1988. Dessa forma, temos que a LOA é formada por orçamentos dos órgãos e das entidades da Administração Pública e engloba o orçamento fiscal, da seguridade social e de investimento das estatais (CF/88). IMPORTANTE: A seguridade social compreende a garantia dos direitos referentes à saúde, previdência e assistência social. Na LOA, é estabelecida a gestão anual dos recursos públicos, portanto a Administração Pública não poderá efetuar nenhuma despesa que não esteja autorizada nela, sendo exceção apenas os casos de créditos adicionais. Além disso, logo após a sua aprovação, o poder público poderá realizar as despesas ao longo do exercício financeiro. Além da Constituição Federal, as Leis de Responsabilidade Fiscal e a nº 4.320/64 trazem diversos dispositivos, regulando como deve ser realizada a elaboração da Lei Orçamentária Anual, especificando aspectos, como: • O que deve fazer parte de forma obrigatória da LOA (art. 2º da Lei nº 4.320/64). Contabilidade Pública 42 • Os quadros demonstrativos que deverão acompanhar a LOA (art. 2º da Lei nº 4.320/64). • Despesas que não poderão constar na LOA (arts. 5º e 33 da Lei nº 4.320/64). • Os demonstrativos e a reserva de contingência que deverão integrar a LOA (art. 5º LRF). • A execução orçamentária e o cumprimento de metas (seção IV, LRF). A elaboração da LOA é uma etapa muito importante, visto que será levado em consideração quais as ações governamentais que serão realizadas naquele exercício. Na LOA, conterão despesas obrigatórias as quais o chefe do Poder Executivo não poderá deixar de executar, no entanto, aquelas que não são obrigatórias, ele poderá reavaliar a sua real necessidade, ou seja, se executa ou não. Também é preciso lembrar que a LOA deve obedecer a LDO, que obedece ao PPA, que deve estar em conformidade com a Lei nº 4.320/64 e com a LRF, que, por conseguinte, deve respeitar as disposições da Carta Magna, a Constituição Federal de 1988. Figura 14 – Leis orçamentárias Constituição Federal Lei nº 4.320/64 LRF (Lei nº 101/2000) PPA LDO LOA Fonte: Elaborado pelas autoras (2022). Contabilidade Pública 43 O Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal é quem desenvolve a elaboração da LOA na esfera federal e compreende um conjunto estruturado de atividades complexas, constituído de um cronograma com fases claramente especificadas, no qual participam os órgãos setoriais, central e das unidades orçamentárias do sistema. Além disso, envolve uma contínua necessidade de tomada de decisões, nos seus mais variáveis níveis (PALUDO, 2017). IMPORTANTE: Durante o processo de elaboração, é verificada a compatibilidade das propostas encaminhadas com os limites orçamentários definidos, como também a verificação do atendimento às leis e à Constituição. Após o processo de consolidação, ela é enviada para apreciação e aprovação do Congresso Nacional por meio da Mensagem Presidencial, complementa o autor. A LOA trata-se de um instrumento de curto prazo, que compreende apenas um exercício, e esse também possui um prazo específico para ser enviado para a devida aprovação. Dessa forma, a Constituição Federal determina que a LOA deve ser encaminhada para o Poder Legislativo até quatro meses antes do término do exercício financeiro anterior a sua vigência, e que ele seja devolvido ao Poder Executivo até o fim da sessão legislativa do exercício do seu envio. Ou seja, se a LOA pertence ao ano de 2023, ela deve ser enviada até 31/8/2022 e ser devolvida até 22/12/2022. SAIBA MAIS: Aprofunde-se nesse tema, observando como é a Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual, analisando os instrumentos referentes ao exercício de 2022 no âmbito federal, publicados em 2021. Dessa forma, você poderá conhecer na prática como ele é formado e todos os dispositivos que constam nesses instrumentos de planejamento, acessando a LOA aqui, e a LDO aqui Contabilidade Pública http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14194.htm https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/ldo/LDO2022/red_final/texto_cn.pdf 44 RESUMINDO: Neste capítulo, você deve ter conhecido as principais leis relacionadas com o orçamento público, que também são chamadas de instrumentos de planejamento orçamentário. Viu que o plano plurianual contém as diretrizes, os objetivos e metas para o período de quatro anos que servirão de parâmetro para a elaboração dos demais instrumentos. Compreendeu que a Lei de Diretrizes Orçamentárias orienta a elaboração da LOA, indicando as metas e prioridades do setor público, além de possuir outras funções muito importantes para o orçamento público. Por fim, entendeu que a Lei Orçamentária Anual se trata do orçamento em si, devendo estar compatível com a LDO e o PPA, além de seguir as determinações das leis e da Constituição, bem como deve conter o orçamento fiscal, o orçamento da seguridade social e o orçamento de investimento das estatais. Além disso, viu que todos esses instrumentos possuem prazos para serem elaborados, enviados e aprovados pelos órgãos responsáveis. Contabilidade Pública 45 Princípios orçamentários e os créditos adicionais OBJETIVO: Neste capítulo, iremos entender os princípios orçamentários, conhecendo os principais pontos relacionados com cada um deles, e examinar os créditos adicionais, compreendendo para que servem e as características mais relevantes de cada um dos tipos de créditos adicionais. Vamos juntos? Princípios orçamentários Os princípios orçamentários servem como um direcionador para o processo orçamentário em todas as suas etapas e, além de serem adotados à lei orçamentária, também devem ser seguidos pelos créditos adicionais. Segundo o MPCASP (2021): Os Princípios Orçamentários visam estabelecer diretrizes norteadoras básicas, a fim de conferir racionalidade, eficiência e transparência para os processos de elaboração, execução e controle do orçamentopúblico. Válidos para os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de todos os entes federativos – União, estados, Distrito Federal e municípios – são estabelecidos e disciplinados por normas constitucionais, infraconstitucionais e pela doutrina. (MPCASP, 2021, p. 35) Vamos conhecer quais são os principais princípios orçamentários? Legalidade Determina que a Administração Pública só deve fazer o que a lei autoriza de forma expressa, por isso o orçamento público deve seguir as orientações da lei, visto que o orçamento é objeto da lei. Como no caso da aprovação do orçamento, que deve seguir todo o processo legislativo para que seja considerada legal (MENDES, 2015). Contabilidade Pública 46 Unidade ou totalidade Só deve existir um orçamento público para cada ente federado, assim existe somente um orçamento para a União, apenas um para o município, e assim por diante. E é formado pelos orçamentos fiscal, da seguridade social e de investimento da mesma forma que reúne os orçamentos dos órgãos de todos os poderes, possibilitando que cada governo consiga enxergar o conjunto das finanças públicas (PALUDO, 2017). Universalidade Segundo esse princípio, deve ser levado em conta pelo orçamento todas as despesas e todas as receitas, bem como nenhum dos poderes de todos os entes da Administração Pública deve se afastar do orçamento (PALUDO, 2017). Exclusividade Não pode existir na lei orçamentária nenhuma matéria diversa do que a definida em lei. Dessa forma, a Constituição Federal, art. 165, estabelece que: § 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. Contabilidade Pública 47 Figura 15 – Princípio da exclusividade Autorização para abertura de créditos suplementares Contratação de operações de crédito A LOA não conterá nenhum dispositivo que não seja previsão de receitas e fixação de despesa Princípio da Exclusividade Exceção Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações da Constituição Federal de 1988. Portanto o orçamento deve compreender somente matérias de ordem financeira, não devendo existir nenhum dispositivo estranho, afora na situação citada em que é considerada como uma exceção ao princípio da exclusividade. Anualidade ou periodicidade Vimos que o exercício financeiro adotado no Brasil coincide com o ano civil, desse modo o orçamento deverá ter sua vigência limitada ao exercício financeiro ao qual faça parte, não podendo exceder esse período (PALUDO, 2017). No entanto a essa regra existe uma exceção, que são os casos da vigência dos créditos adicionais e extraordinários que podem ter sua validade ampliada a depender do mês da sua aprovação. Orçamento bruto Refere-se à inclusão dos valores brutos das parcelas de receitas e despesas no orçamento, não devendo existir nenhum tipo de dedução. Assim, as receitas e despesas devem ser incluídas pelos seus totais (Lei nº 4.320/1964). Contabilidade Pública 48 Discriminação ou especialização No orçamento, não devem ser incluídos valores genéricos e que não possuam discriminação. Por isso as receitas e despesas devem ser obrigatoriamente discriminadas, indicando a origem e aplicação de recursos (PALUDO, 2017). São configurados como exceções a esse princípio: os programas especiais de trabalho ou em regime de execução e a reserva de contingência (Lei nº 4.320/1964; Lei nº 101/2000). Não afetação De acordo com esse princípio, a receita de impostos não deve ser vinculada a órgãos, fundos e despesas. Essa vedação é importante para que seja possível ter recursos livres e que sejam utilizados de forma racional, conforme as prioridades públicas (PALUDO, 2017). Figura 16 – Princípio da não afetação Receitas de impostos Não vinculação a órgãos, fundos e despesas Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações de Paludo (2017). Contabilidade Pública 49 Existem algumas exceções a esse princípio, como: transferências constitucionais/repartição de receitas tributárias, garantia e contragarantia de operações de crédito por antecipação de receita junto à União, ações e serviços públicos de saúde, desenvolvimento e manutenção de ensino, realização de atividade de administração fazendária (CF/88). Publicidade Faz com que documentos sejam obrigatoriamente publicados para conhecimento da sociedade, como o relatório resumido de execução orçamentária, auxiliando, dessa forma, na transparência da gestão pública, demonstrando como estão sendo empregados os créditos orçamentários (PALUDO, 2017). Equilíbrio Tem como objetivo garantir que a autorização de despesas não será superior à arrecadação de receitas, proibindo, assim, que os gastos públicos tenham um crescimento desordenado e que ocorra um défice orçamentário. Não estorno Esse princípio está relacionado com a proibição de transposição, remanejamento ou transferência de recursos sem a devida autorização. Assim, quando um ente estiver precisando de recursos, ele deverá solicitar a abertura de créditos adicionais, ou solicitar a autorização para realizar a transposição, o remanejamento ou transferência desses recursos (MENDES, 2015). Essa regra cabe exceção, determinada pela Constituição Federal: § 5º A transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra poderão ser admitidos, no âmbito das atividades de ciência, tecnologia e inovação, com o objetivo de viabilizar os resultados de projetos restritos a essas funções, mediante ato do Poder Executivo, sem necessidade da prévia autorização legislativa prevista no inciso VI deste artigo. (BRASIL, 1988) Contabilidade Pública 50 Créditos adicionais Sabemos que as dotações orçamentárias para cobrir as despesas devem estar contidas na Lei Orçamentária Anual, e que a Constituição Federal determina que nenhuma despesa poderá ser efetuada sem que se faça parte dessa lei. No entanto a essa regra é trazida uma exceção que se refere aos créditos adicionais. Isso porque, mesmo que a Administração Pública conte com um setor de planejamento e programação que realize o seu trabalho adequadamente, não é possível precisar de maneira absoluta tudo o que acontecerá no exercício seguinte. Muitos fatos podem vir a acontecer, como um desastre natural que obrigue a adoção de medidas voltadas para auxiliar a população. Daí, surge a necessidade de fazer uso de créditos adicionais. Mas o que são esses créditos adicionais, você sabe? De acordo com a Lei 4.320/64, art. 40: “São créditos adicionais, as autorizações de despesa não computadas ou insuficientemente dotadas na Lei de Orçamento”. Desse modo, os créditos adicionais são modificações realizadas no orçamento, no qual são autorizadas despesas que não possuíam dotações orçamentárias ou estas não eram suficientes para arcar com uma determinada despesa já prevista. Os créditos adicionais possibilitam uma certa flexibilidade à programação orçamentária, pois fazem com que o orçamento já aprovado possa ser ajustado de acordo com a realidade encontrada no momento em que ele é executado (PALUDO, 2017). Contabilidade Pública 51 IMPORTANTE: Esses créditos adicionais se dividem em créditos especiais, créditos suplementares e créditos extraordinários. Cada um deles possui características específicas que os diferenciam, exigem uma lei específica para a sua aprovação e são analisados pela Comissão Mista de Planos. Vejamos cada um desses créditos adicionais. Créditos especiais Os créditos especiais são voltados para despesas que não possuam dotação orçamentária própria (Lei nº 4.230/64). Figura 17 – Créditos especiais Créditos especiais Despesas sem dotação orçamentária específica Fonte: Elaborado pelasautoras, com informações da Lei nº 4.320/64. EXEMPLO Não existia previsão na LOA para a compra de aparelhos de ar condicionado para o setor de armazenamento de medicamentos do hospital recéminaugurado. No decorrer do ano, foi verificado que a falta desses aparelhos estava prejudicando o condicionamento adequado desses medicamentos, vindo a comprometer a sua eficácia e fazendo com que alguns medicamentos não fossem apropriados para consumo. Por isso se optou pela aquisição desses aparelhos. A seguir, constam algumas características desse tipo de crédito, segundo a Lei nº 4.320/64: • São autorizados por lei específica. • A autorização deve ser realizada antes da abertura do respectivo crédito. Contabilidade Pública 52 • São abertos por meio de decreto do Poder Executivo. • Sua abertura é condicionada à existência de recursos disponíveis. • Precisam que a fonte de recursos seja apontada. • Obrigatória a exposição de motivos que justifique a necessidade. • O tempo de vigor é limitado ao exercício da sua autorização. No entanto existe uma exceção em relação à vigência dos créditos adicionais, visto que, na hipótese de ele ter sido autorizado nos últimos quatro meses do exercício, poderá ter sua vigência ampliada até o fim do exercício posterior (Lei nº 4.320/64). Créditos suplementares Os créditos suplementares, como o próprio nome sugere, atuam como uma suplementação, um reforço, para um crédito orçamentário já existente. Desse modo, já existe uma autorização para uma despesa na LOA, só que essa não foi suficiente para suprir a necessidade. Figura 18 – Créditos suplementares Créditos suplementares Reforço para um crédito orçamentário já existente Fonte: Elaborado pelas autoras (2022). EXEMPLO Existe na LOA a autorização para a compra de vacinas para gripe no montante de dois milhões de reais, no entanto os insumos passaram por um ajuste no preço, o que fez com que o valor dessas vacinas aumentasse em 10%. Dessa forma, para que seja cumprido o Contabilidade Pública 53 calendário vacinal, a Administração Pública solicita a abertura de crédito suplementar para a compra das vacinas. A autorização para os créditos suplementares já faz parte da LOA, porém está associada aos limites determinados em percentuais, que mudam de acordo com a natureza do gasto. Quando esses limites não são suficientes, devem ser autorizados novos créditos suplementares por meio de lei específica aprovada pelo Poder Legislativo (PALUDO, 2017). De acordo com a Lei nº 4.320/64, são características dos créditos suplementares: • São autorizados por lei, podendo ser uma específica ou na própria LOA. • A autorização deve ser realizada antes da abertura do respectivo crédito. • São abertos por meio de decreto do Poder Executivo. • Precisam que a fonte de recursos seja apontada. • Obrigatória a exposição de motivos que justifique a necessidade. • Sua abertura é condicionada à existência de recursos disponíveis. • O tempo de vigor é limitado ao exercício da sua autorização. Assim, mesmo que sua abertura tenha ocorrido no último mês do exercício, eles não poderão mais ser reabertos nos exercícios posteriores. Créditos extraordinários Os créditos extraordinários possuem particularidades que os diferenciam notavelmente dos demais créditos adicionais, isso porque eles são voltados para despesas urgentes e imprevisíveis, ou seja, incluem situações que realmente não se podia prever. São situações que compreendem despesas resultantes de guerra, comoção interna ou calamidade pública (CF/88). Contabilidade Pública 54 Figura 19 – Créditos extraordinários Despesas urgentes e imprevisíveis Guerra, comoção interna, calamidade pública Créditos extraordinários Fonte: Elaborado pelas autoras, com informações da Lei nº 4.320/64. EXEMPLO No ano de 2019, o país foi acometido por uma pandemia a qual não se previa, sendo necessários recursos para a abertura de hospitais de campanha e contratação de pessoal para trabalhar nesses hospitais. Como estamos diante de uma situação de calamidade pública, devem ser abertos créditos extraordinários. De acordo com Mendes (2015), são características dos créditos extraordinários: • Abertos por medida provisória no âmbito federal e por decreto para os demais âmbitos que não possuem MP. • Não dependem de autorização prévia. • Depois de abertos, deve ser dado pleno conhecimento ao Poder Legislativo. • As fontes de recursos são apontadas de forma facultativa. • O tempo de vigor é limitado ao exercício da sua autorização. Contabilidade Pública 55 No entanto, da mesma forma como ocorre nos créditos especiais, existe uma exceção em relação à vigência dos créditos extraordinários, visto que, na hipótese de ele ter sido autorizado nos últimos quatro meses do exercício, poderão ter sua vigência ampliada até o fim do exercício posterior (Lei nº 4.320/64). RESUMINDO: Neste capítulo, você deve ter conhecido os principais princípios orçamentários, que são o da legalidade, unidade ou totalidade, universalidade, exclusividade, anualidade ou periodicidade, orçamento bruto, discriminação ou especialização, não afetação, publicidade, equilíbrio, não estorno. Compreendeu, ainda, que esses princípios possuem regras, mas que alguns possuem exceções, como no caso da possibilidade de vinculação de uma receita de impostos para garantia e contragarantia de operações de crédito por antecipação de receita junto à União. Além disso, conheceu os créditos adicionais, que podem ser solicitados quando houver a necessidade de recursos que não estejam incluídos na LOA. Viu que os créditos especiais compreendem despesas sem dotação orçamentária própria, que os créditos suplementares atuam como um reforço para um crédito orçamentário já existente, e que os créditos extraordinários são utilizados em situações que envolvam despesas urgentes e imprevisíveis. Dessa forma, muitas foram as informações repassadas nessa unidade e que ajudarão muito na compreensão da Contabilidade Aplicada ao Setor Público. Contabilidade Pública 56 REFERÊNCIAS BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm Acesso em: 28 mar. 2022. BRASIL. Lei nº 10.180, de 6 de fevereiro de 2001. Organiza e disciplina os Sistemas de Planejamento e de Orçamento Federal, de Administração Financeira Federal, de Contabilidade Federal e de Controle Interno do Poder Executivo Federal, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [2001]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/ l10180.htm. Acesso em: 28 mar. 2022. BRASIL. Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [1967]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0200.htm. Acesso em: 28 mar. 2022. BRASIL. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [1964]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm. Acesso em: 13 mar. 2022. BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [2000]. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm. 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Contabilidade Pública O orçamento público e a sua história no Brasil Orçamento público História do orçamento público Classificações do orçamento público e ciclo orçamentário Classificações do orçamento público Orçamento tradicional ou clássico Orçamento de desempenho Orçamento programa Orçamento base zero Orçamento participativo Orçamento incremental Ciclo orçamentário Elaboração Aprovação Execução Controle e avaliação As leis orçamentárias Leis orçamentárias no Brasil Plano Plurianual Lei de Diretrizes Orçamentárias Lei Orçamentária Anual Princípios orçamentários e os créditos adicionais Princípios orçamentários Legalidade Unidade ou totalidade Universalidade Exclusividade Anualidade ou periodicidade Orçamento bruto Discriminação ou especialização Não afetação Publicidade Equilíbrio Não estorno Créditos adicionais Créditos especiais Créditos suplementares Créditos extraordinários
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