CONTABILIDADE RURAL

IFES

Fabiana Paquiel

em 19/10/2023

Conteúdos escolhidos para você

248 pág.

MFP - Férias_ Unidade 3 _ CEUMA

UNICEUMA

60 pág.

Contabilidade gerencial_ fundamentos e custos pdf 1

ESTÁCIO

Perguntas dessa disciplina

O custo padrão é fundamental para as empresas porque estabelece um valor ideal para os custos de produção, permitindo o controle eficiente e a iden...

UNIFATECIE

+) Ler em voz alta A Aurora Móveis Planejados Ltda., atuante no mercado de alto padrão, está se preparando para o planejamento do próximo exercício. N

No contexto da gestão de custos, é fundamental abordar alguns termos (custos, desperdícios, perdas, despesas, investimentos) que são utilizados por...

Conhecer os custos, no entanto, é fundamental para se ter a capacidade mínima e necessária para conduzir os negócios no atual cenário de competitiv...

baseado nos textos abaixo, me forneça um novo texto com o seguinte tema A INTEGRAÇÃO ENTRE ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E FINANÇAS PARA A EFICIÊNCIA O

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O custo padrão é fundamental para as empresas porque estabelece um valor ideal para os custos de produção, permitindo o controle eficiente e a iden...

UNIFATECIE

+) Ler em voz alta A Aurora Móveis Planejados Ltda., atuante no mercado de alto padrão, está se preparando para o planejamento do próximo exercício. N

No contexto da gestão de custos, é fundamental abordar alguns termos (custos, desperdícios, perdas, despesas, investimentos) que são utilizados por...

Conhecer os custos, no entanto, é fundamental para se ter a capacidade mínima e necessária para conduzir os negócios no atual cenário de competitiv...

baseado nos textos abaixo, me forneça um novo texto com o seguinte tema A INTEGRAÇÃO ENTRE ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E FINANÇAS PARA A EFICIÊNCIA O

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fórmula 14
– Intervalo médio de recebimento.
– Prazo máximo para receber.
– Prazo mínimo para receber.
Neste caso temos 10 (meses) + 0 (meses ou à vista) / 2 = 5 meses. Cinco meses, em média, para que ocorra o ingresso de valores originários das vendas da empresa. Portanto, nesse caso hipotético, a empresa leva uma média de cinco meses para receber os valores das vendas, pois estamos tratando de vendas a prazo.
Outro detalhe importante que pode ser ressaltado é o fato de que as vendas mais volumosas geralmente passam por negociações que buscam maior número de parcelas. O que é condizente com a realidade. O cliente que procura encomendas maiores tende a buscar negociações em seu favor, como qualquer agente econômico o faz. E um maior número de parcelas a pagar pode ser uma estratégia de um cliente que pretende adquirir um volume maior do que o usualmente é vendido em uma empresa. E este cenário pode ocorrer em qualquer organização, seja ela pertencente a qualquer setor e em qualquer tamanho ou escala. Encomendas maiores geram negociações mais específicas. E normalmente esse tipo de venda gera um maior impacto no fluxo de caixa na medida em que se avolumam. E o raciocínio serve tanto para jusante como para montante (clientes e fornecedores), nas relações contratuais de uma empresa.
Poderíamos ter utilizado uma média ponderada, fazendo com que o maior volume de vendas em determinados períodos tivesse maior peso no cálculo do intervalo médio. Ou ainda, as vendas com maior frequência teriam maior peso no cálculo da média. Deixemos de lado a média ponderada e vamos utilizar a nossa média aritmética para simplificar o raciocínio fundamental.
Para saber mais sobre a Média Aritmética Simples, acesse o link: <www.somatematica.com.br>.
O intervalo médio entre a compra e o efetivo pagamento de matéria-prima ocorreu de acordo com o exercício registrado no quadro anterior. Aplicando o mesmo método das receitas, temos:

fórmula 15
– Intervalo médio de pagamentos.
– Prazo máximo para desembolso.
– Prazo mínimo para desembolso.
No caso das saídas de caixa para pagamento de matéria-prima do exemplo do quadro anterior, temos; 3 (meses) + 2 (meses) / 2 = 2,5 meses. Dois meses e meio representam a média para os pagamentos de matéria-prima.
Note, leitor, que temos um desencontro indesejável entre os intervalos de recebimento e de pagamento. Isso ocorre quando o prazo para receber uma venda excede muito o prazo para pagar matéria-prima ou compromissos de pagamento e desembolsos em geral. E isso é especialmente marcante quando o custo de matérias-primas para determinadas empresas representa um alto valor relativo aos desembolsos totais. Fato que ocorre usualmente, seja em empresas situadas na zona urbana, quanto na zona rural, afastada de grandes centros de consumo.
Observem no quadro anterior que temos um período crítico durante sete meses do ano. E esses períodos conseguirão comprometer uma expressiva parte do exercício, pois simplesmente acumulam-se saldos negativos nos quatro primeiros meses, que são solucionados ao longo do ano. Neste caso, levam a empresa a trabalhar com saldo final acumulado negativo na maior parte do exercício demonstrado. Muitos elementos desfavoráveis podem ser levantados diante do quadro, por exemplo: os custos do financiamento desses valores negativos durante o período. Pois o restante das despesas ocorre normalmente durante o mês. E se houver um drástico corte de produção, os custos fixos ocorrerão e devem ser saldados. Fato que deixa a situação ainda mais complicada.
A figura a seguir ilustra melhor os acontecimentos do quadro anterior, de maneira que possamos observar todos os resultados. Este gráfico possui dados retirados do quadro anterior.
Gráfico 3 – Comparativo entre movimentos de caixa e seus resultados para um fluxo desordenado de entradas e saídas
Gráfico 3 – Comparativo entre movimentos de caixa e seus resultados para um fluxo desordenado de entradas e saídas
O autor.
Lembro que estamos trabalhando a título de exemplo, com um formato simplificado, para que tenhamos a noção exata do significado da gestão do fluxo de caixa. De maneira nenhuma, o fluxo de caixa real de uma empresa qualquer apresenta essa simplificação didática.
Agora vejamos como uma administração mais cuidadosa procederia neste caso. Para ilustrar melhor, vamos repetir os mesmos valores totais do quadro anterior, em uma distribuição mais conectada com as possibilidades de ingressos e de saídas de valores, conforme consta no quadro a seguir. Portanto, mudamos apenas a distribuição dos ingressos e das saídas de caixa, mantendo os valores totais de desembolsos e de receitas da tabela anterior.
Quadro 18 – Fluxode caixa mensal e acumulado mensal revisado
Quadro 18 – Fluxo de caixa mensal e acumulado mensal revisado
O autor.
Neste caso, os fluxos de recebimentos reais foram equacionados para um máximo de oito vezes ou à vista. E os fluxos de pagamento ficaram entre um intervalo entre cinco meses ou 10 meses para pagar.
Vemos que os períodos de recebimento ou entradas de caixa ficaram com uma média de quatro meses e a média do período para desembolsos de pagamento de insumos (matéria-prima) ficou em 7,5 meses. Ou seja, a média para o período de pagamento ficou superior à média do recebimento. E isso permitiu um fluxo de caixa suficiente para uma sobra de valores (saldo positivo mensal) a todo mês e, posteriormente, facilitou o acúmulo de caixa no decorrer do ano.
O exemplo serve para ilustrar a importância de uma análise detalhada dos movimentos de valores. Administrar um fluxo de caixa passa por este tipo de análise, que converte uma situação totalmente desconfortável em uma relativa calma quanto aos resultados de compromissos e funcionamento de uma empresa qualquer.
Se fizermos uma análise de lucratividade dos resultados dos quadros 17 e 18, veremos que serão parecidos, excetuando no pagamento de juros e encargos, que podem variar e devem encolher os ganhos frente a esse fator, no caso do quadro 17.
Vejamos, no gráfico a seguir, a ilustração do quadro 18. Como ficou a nova configuração ilustrativa, sob uma distribuição mais adequada da forma de recebimentos e pagamentos, adotada pela empresa.
Gráfico 4 – Comparativo revisado entre movimentos de caixa e seus resultados para um fluxo ordenado de entradas e saídas
Gráfico 4 – Comparativo revisado entre movimentos de caixa e seus resultados para um fluxo ordenado de entradas e saídas
O autor.
O exemplo que acabamos de discutir deve servir somente como uma forma de entendimento mais claro por parte do leitor. Não é a intenção estabelecer nenhuma relação padronizada ou ideal, entre prazos de pagamento e de recebimento. O objetivo é passar a ideia de que deve existir uma sincronia entre receitas e desembolsos, suficiente para alavancar o negócio e manter os compromissos adquiridos, assim como uma reputação adequada no mercado. Portanto, administrar um fluxo de caixa envolve elementos práticos de coleta de dados e elementos tático-estratégicos de análise desses dados.
O segundo objetivo da nossa discussão se refere aos mapas ou planilhas auxiliares, que podem compor um sistema de controles. Essas planilhas têm grande importância para o devido registro das contas, como pudemos verificar anteriormente. Ainda podemos utilizar inúmeros padrões mais detalhados, como planilhas de projeção de valores a receber por vendas realizadas a prazo e de projeções de desembolsos com compras de matéria-prima. Planilhas como essas servem de apoio na administração do fluxo de caixa, uma vez que podemos usá-las para projetar valores a receber e a pagar.
Quadro 19 – Planilha de recebíveis
Quadro 19 – Planilha de recebíveis
O autor.
Quadro 20 – Planilha de projeção de desembolsos com matéria-prima
Quadro 20 – Planilha de projeção de desembolsos com matéria-prima
O autor.
Apresentaremos alguns modelos de demonstrativos de caixa. Como já citamos neste texto, não existem modelos padronizados para estes demonstrativos. Portanto, encontraremos inúmeras formas de agregar os elementos das entradas e das saídas de recursos. O mais importante é:
Em primeiro lugar, obter os dados que realmente interessam à empresa gerenciar, em termos de grupos de contas para registro de movimentos monetários.
Em segundo lugar, não menos importante, é obter todos os dados sem perdas ou desvios. Portanto, obter os dados em um fluxo de caixa organizado depende de eficiência e precisão de coleta e organização.
Quadro 21 – Modelo de demonstrativo de caixa com identificação da nota e cheque, em caso de empresas que realizam transações por esses meios
Quadro 21 – Modelo de demonstrativo de caixa com identificação da nota e cheque, em caso de empresas que realizam transações por esses meios
O autor.
Este modelo demonstra a característica da identificação de documentos. Esse atributo pode ser especialmente utilizado quando se recorre aos arquivos para conferência ou auditoria de relatórios. Quando o lançamento é feito, ele possui também o número do documento de origem, seja um cheque ou uma nota fiscal. Esse elemento pode ser uma salvaguarda em casos de necessidade de auditorias externas.
Neste caso, também chama a atenção a indicação do código do plano de contas na segunda coluna. Entende-se aí que a pessoa que registra os dados deve ter um bom conhecimento do plano de contas, realizando os registros dos valores nas contas corretas.
O modelo anterior também não oferece uma divisão no layout de registro, referente à classificação da conta como fixa e variável ou direta e indireta. Contudo, essa codificação poderá ser feita ao construir o plano de contas, e assim, automaticamente as contas se agruparão pelo código de referência, de acordo com a necessidade do administrador. Esse agrupamento em relatórios pode ocorrer da mesma forma, através de softwares especializados ou através de planilhas eletrônicas bem elaboradas.
A seguir, mostraremos outro modelo de demonstrativo de caixa que aborda o plano de contas de maneira explícita e também a classificação de contas, divididas em custos fixos e variáveis. O segundo exemplo encontra-se abaixo, no quadro a seguir.
Esse tipo de demonstrativo ou planilha de controle demonstra uma propriedade com duas atividades-fim. Notamos facilmente que ao utilizarmos um simples exemplo, construímos um demonstrativo com quase 40 contas. É importante observar o número de contas em um plano de contas e se as contas refletem bem a realidade. Um número excessivo de contas pode ser prejudicial para um entendimento mais global das situações, e um número muito reduzido de contas pode mascarar, pelo fato de haver muitas rubricas em um mesmo grupo. Identificar quais os grupos que representam maiores desembolsos e colocá-los em patamares de fácil identificação e classificação pode ser um passo importante. E para isso, o gestor pode separar minimamente as contas e depois calcular o valor percentual que cada conta representa sobre o total de desembolsos ou receitas em um exercício ou ciclo produtivo. Assim, pode-se ter uma boa noção dos possíveis grupos de contas a estruturarem o plano de contas, através de sua representação percentual sobre o total de desembolsos ou receitas e posterior aglutinação dos elementos com menor grau de representatividade frente ao total desembolsado no período estudado. Preferencialmente, o período estudado para tal construção deve ser maior que um ciclo produtivo. Por exemplo, como poderemos conhecer os desembolsos mais representativos de uma atividade de produção com base em uma coleta de dados de um período de seis meses, se o produto levar 12 meses para ficar pronto para o mercado?
Como o registro e controle do fluxo de caixa é uma atividade diária, ele deve ser estruturado de maneira clara e prática, para depois começar a executar. Já comentamos acima alguns requisitos no sentido da adoção da prática de controle do fluxo de caixa, mas podemos citar mais alguns elementos:
a) O prazo para realização e análise deve ser o menor possível, para evitar erros, se antecipar a problemas e permitir rápidas ações corretivas.
b) O encarregado pelo controle deve prioritariamente ser diferente da pessoa que realizou as estimativas, para aumentar a eficácia.
A construção do quadro 22 mostra com maiores detalhes as classificações e os códigos das contas, assim como os centros de custos. Como o leitor pode verificar, são formatos diferentes para chegar ao mesmo fim, um controle dos desembolsos e das entradas de valores, de maneira sistemática que permita ao administrador ter um controle bem elaborado do funcionamento das movimentações monetárias da empresa rural. Neste caso, apresentamos duasatividades (agricultura e pecuária) com as respectivas classificações em custos fixos e custos variáveis e alguns exemplos de contas que normalmente fazem parte das atividades citadas. Os valores somados no trimestre (janeiro, fevereiro e março) se acumulam na última coluna da planilha.
Quadro 22 – Modelo de demonstrativo de caixa com identificação e classificação das contas
Quadro 22 – Modelo de demonstrativo de caixa com identificação e classificação das contas
O autor.
Quando nos referimos a uma análise de caixa de curto prazo, provavelmente falaremos de um ou dois ciclos produtivos. Quando se refere às análises de longo prazo, operaremos um estudo de vários ciclos de produção, que normalmente envolvem estratégias de negócio, investimentos, posicionamentos de mercado frente às possíveis mudanças futuras etc. O nosso modelo do quadro 16 é um exemplo de um demonstrativo de curto prazo, pois analisa apenas um semestre do ano físico (janeiro a dezembro). Normalmente, uma empresa produtora de commodities aumenta suas margens de lucro melhorando sua eficiência na forma de otimização do custo em troca do benefício de produção. Ou podemos dizer também que os lucros aumentam através de maior eficiência produtiva. Produzir maior quantidade de bens com menor quantidade de recursos. Lembro que esta afirmação trata de uma relação, o que é diferente de simplesmente reduzir custos. Cortar custos fundamentais à produção pode levar a uma queda produtiva capaz de comprometer uma empresa. Por exemplo: cortes de custos de adubação, cortes de custos em minerais essenciais aos animais etc.
Por outro lado, aumentar custos totais de um fator fundamental e limitante ao extremo pode elevar a produção de maneira que o custo unitário de produção seja reduzido e aumente o lucro por unidade produzida. Vejamos o quadro a seguir, no qual foi utilizada uma área de 100 hectares para produção de grãos como um exemplo das relações entre custo e margem de lucro bruto:
Quadro 23 – Relações entre custo, produção e lucro bruto
Quadro 23 – Relações entre custo, produção e lucro bruto
O autor.
Podemos notar no quadro anterior que o maior valor de margem está contido em um patamar médio de custos. Este é um exemplo hipotético, mas normalmente as curvas de respostas naturais dos elementos biológicos responsáveis pela produção rural apresentam este desenho. Por isso o menor custo total nem sempre representa o melhor resultado em margem bruta de lucro.
ATIVIDADE DE ESTUDOS:
1) Como medida importante de controle no fluxo de caixa, visando reduzir desajustes entre entradas e saídas de valores, podemos citar:
A) Equilíbrio entre prazos de pagamentos e recebimentos.
B) Queda na inflação do país.
C) Aumento dos juros bancários.
D) Redução da concorrência.
E) Aumento de oferta de produtos importados.
F) Nenhuma das alternativas.
NÍVEIS ÓTIMOS DE RECURSOS FINANCEIROS
Ao nível de fluxo de caixa podemos mencionar que o gestor deve manter uma quantidade de valores ao nível suficiente para executar todos os desembolsos com os custos produtivos sem manter valores excessivos à disposição e que podem ser empregados em outras aplicações ou até mesmo reinvestidos na empresa. Esta afirmação remete a duas possibilidades de problemas: o excesso de caixa ou a falta de caixa em determinado período.
Em casos de excedentes de caixa, é importante verificar se as sobras (superávits) são permanentes ou temporárias. E esta resposta somente pode ser encontrada junto a um controle de recursos eficiente e que mostre um histórico de base bem estruturado.
Outro item relevante para manter um fluxo adequado de recursos é a forma com que os administradores controlam os valores a receber.
O crédito está relacionado a quase todas as relações de negócios modernos. Um sistema de crédito pode estar presente na compra e na venda de produtos. Falaremos nesse momento das contas a receber, representadas por créditos parcelados a vencer. Normalmente a venda a prazo ocorre pelo ganho do reconhecimento do cliente e pela venda que não seria realizada de outra forma, pois o cliente não teria recursos disponíveis para pagar à vista. Lembro o leitor que uma venda a prazo sempre guarda consigo um custo financeiro. Pois os recursos a receber sem a devida correção ficarão sofrendo desgastes pela inflação (perda do poder de compra com o tempo).
Na medida em que aumentamos o número de parcelas dos recebimentos, as entradas de valores no caixa se tornam menores. Esses dois pontos seriam os maiores condicionantes negativos das vendas a prazo, a perda por inflação e as menores entradas no caixa quanto maior o número de parcelas. Podemos ainda considerar um terceiro ponto negativo importante nas vendas a prazo, que é o aumento das possibilidades de inadimplência, na medida em que aumentamos as vendas a prazo. Contudo, podemos determinar alguns condicionantes para executar políticas de venda a prazo que estão relacionadas nos itens abaixo expostos:
a) o volume de vendas a crédito;
b) a flutuação das vendas;
c) os prazos de faturamento;
d) as diretrizes para concessão de crédito;
e) as normas de cobrança;
f) a política de descontos utilizada pela empresa.
Quanto aos prazos médios de recebimento, elaboramos um exercício que pode esclarecer o assunto quando discutimos os quadros 17 e 18.
Quanto à política de crédito, não se trata mais de um elemento puramente da alçada do setor financeiro. A partir do momento em que o crédito também se tornou elemento de marketing, as discussões passaram a ponderar a concessão de crédito como uma forma de atrair mais clientes. Contudo, deve-se ter o cuidado de não exceder a capacidade da empresa operar, ao manter-se constantemente com valores altos a receber, o que provavelmente exija maior capital de giro para manter as operações, na medida em que se concede maiores volumes de crédito (vendas a prazo). A política de crédito deve considerar também os custos de manutenção dos valores a receber e os lucros nas vendas a prazo, além de uma análise dos concorrentes frente às vendas a prazo (créditos).
Abordaremos alguns aspectos a respeito de previsões de movimentos que representam outra ferramenta importante nos controles financeiros de empresas rurais, o orçamento, ou planejamento de movimentos monetários.
ORÇAMENTAÇÃO, BASES E FUNDAMENTOS
Vejamos o grande número de empresas que fracassam no Brasil. Especialmente as micro e pequenas empresas ou empreendimentos. Aproximadamente 85% das micro e pequenas empresas, abertas de maneira legal no país, não permanecem em operação, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), por mais de cinco anos de vida. Ou seja, a maioria das empresas desse porte vai à bancarrota em cinco anos. Algumas empresas do agronegócio estão incluídas nesse rol, com toda certeza. Logo, a primeira pergunta que fazemos é: por que isso acontece? A resposta, que não significa uma panaceia (gera resposta para tudo), mas que de pronto está em 99% dos manuais de planos de negócios e que servem para qualquer tipo de empresa, é: planejamento. Caminhamos agora para um terreno ligado ao fluxo de caixa voltado para uma visão do que ainda não aconteceu, ou seja, um orçamento. Significa projetar as despesas naquele movimento financeiro que ainda não se efetivou.
É completamente errada a visão de que um planejamento ou a implementação de um planejamento financeiro onera a empresa e gera custos desnecessários. Por incrível que pareça, esta visão ainda é compartilhada por muitos. E no agronegócio, os controles operacionais das pequenas e médias empresas normalmente são muito precários, esta realidade se apresenta comumente. Isto se deve aos inúmeros elementos culturais que levam a um comportamento racional muito falho dos nossos empresários e que não está em nosso escopo de estudos neste momento, mas deve ser combatido fortemente para elevar o nível de profissionalismo e reduzir os riscos e com isso aumentar as chances de sucesso. Talvez o argumento seja de que opapel aceita qualquer coisa ou de que o plano nunca se realiza tal qual foi pensado. Mas asseguro ao leitor que uma aproximação dos acontecimentos futuros tende a ocorrer cada vez mais perfeitamente, na medida em que o exercício dos controles e do planejamento se torna uma rotina. E uma vez incorporado na cultura da empresa, o planejamento é de grande valia nas decisões, portanto o aperfeiçoamento dos planejamentos virá com o tempo e com a dedicação dos administradores financeiros. Para que isso aconteça, precisamos dar o devido valor ao planejamento e aportar algum recurso nesta ferramenta. Segundo Tracy (2000), um orçamento pode ser entendido como:
a) uma previsão dos resultados financeiros da empresa;
b) um plano do trabalho a ser realizado durante o ano;
c) uma comunicação dos objetivos e prioridades reais da alta gerência;
d) uma ferramenta essencial de controle e mensuração.
Sob a perspectiva de um gerente de unidade, um orçamento pode ser elaborado partindo de uma situação ideal, ou seja, como seria a produção se não houvesse nenhuma restrição de recursos. O resultado é a produção ideal.
A maioria dos formulários utilizados na construção do orçamento é o mesmo utilizado no fluxo de caixa. Isso possibilita um comparativo ao longo do exercício, na verificação da compatibilidade do que foi orçado com o que foi realizado.
A atividade orçamentária não é, ou não se trata, de um problema contábil. Mas os termos de um orçamento são termos contábeis. Por isso iremos trabalhar técnicas de orçamentação.
Os orçamentos podem conter informações complementares e elas variam imensamente conforme a atividade. Contudo, as informações complementares possibilitam fornecer informações que permitem elucidar ou detalhar informações importantes.
Os orçamentos nunca são perfeitos ou fáceis de construir. A incerteza do futuro acompanha de perto uma previsão orçamentária, pois o mundo exterior permite não acompanhar as conjecturas levantadas. Ou a gerência pode mudar as prioridades ao longo do ano e colocar por terra todos os orçamentos.
Diante destas afirmações, surge imediatamente a pergunta: mas por que, então, deve-se planejar algo tão incerto?
A incerteza, simplesmente, aumenta a importância do orçamento ou planejamento do ano. Um orçamento diante da incerteza deve ser encarado pelos orçamentistas como uma forma de marcar um ponto em determinado território desconhecido. Aquele ponto serve de balizador para o reconhecimento do terreno. Essa mesma incerteza deve fazer com que um plano orçamentário possua alguma amplitude e algumas hipóteses para salvaguardar os “pontos de referência”.
A incerteza é inerente a todo processo orçamentário e, independentemente da experiência que possua o profissional da área, alguns elementos sempre ficarão dentro de um segmento incerto. Por exemplo, a taxa de juros, os acontecimentos político-econômicos inesperados, as mudanças nas decisões de clientes, os preços das mercadorias etc.
Outra característica importante nos orçamentos são as suposições, elas realmente acontecem em orçamentos, pois, diante de incertezas, nossa tendência natural é supor algumas alternativas das quais não temos absolutamente certeza nenhuma. Devemos ter o cuidado de não supor acontecimentos vagos ou genéricos. O ideal, segundo Finney (2000), é iniciar por suposições mais definidas, como o trabalho da unidade e os fatores mais importantes na construção dos custos da unidade. Outro elemento que pode ser suposto com mais assertividade são os fatores determinantes desses custos na unidade.
É importante que as suposições sejam corretas? Não, é importante que as suposições sejam razoáveis. As suposições devem estar ancoradas em um conjunto de informações que corroborem para que o cenário projetado se concretize. Pois as incertezas não irão sumir, de forma alguma. Apenas serão analisadas de forma metódica. Vamos citar mais algumas incertezas de grande impacto nos orçamentos e que, por isso, devem ter atenção redobrada dos administradores:
a) preço da matéria-prima;
b) normas ambientais;
c) mudanças de políticas de fabricação;
d) falência de clientes ou fornecedores importantes;
e) mudanças nas condições de logística de insumos;
f) taxas de juros do mercado;
g) presença de novos concorrentes.
Para que possamos iniciar um processo orçamentário, se faz necessário um conhecimento do trabalho de uma unidade de fabricação ou de produção. O conhecimento e a compreensão dos trabalhos são a principal fonte de conhecimento capaz de fornecer um arcabouço para um orçamento.
Partindo do requisito da melhor compreensão do funcionamento de uma empresa, para depois iniciar uma atividade orçamentária, vamos supor que o encarregado de fazer um orçamento não tenha todas as noções básicas necessárias sobre o negócio. Vamos sugerir alguns pontos que podem esclarecer melhor as dimensões de impacto em um orçamento e que devem ser dominadas pelos administradores e executores de orçamentos. Conforme Finney (2000), os itens que mais importa conhecer em uma empresa para que possamos elaborar orçamentos com boa base informacional são:
a) atividades;
b) produção;
c) recursos;
d) determinantes da produção;
e) norteadores de custo.
Para que possamos iniciar um reconhecimento de unidade, devemos observá-la de acordo com o diagrama da figura a seguir:
Figura 3 – Forma de visualização de uma unidade produtiva com vistas à elaboração de orçamentos
Figura 3 – Forma de visualização de uma unidade produtiva com vistas à elaboração de orçamentos
O autor.
As atividades de uma unidade são as operações realizadas para transformar os recursos em produção. Concentrar-se nas atividade é a melhor maneira de entender o trabalho desenvolvido por uma empresa. Pois a quantidade de informações contidas nas atividades gerenciais e orçamentarias está mais concentrada na descrição das atividades. Por exemplo, no recebimento, inspeção, deslocamento, estocagem, pagamento e fornecimento de material etc.
Atividades são as maneiras pelas quais uma empresa emprega seus recursos a fim de gerar determinado(s) produto(s).
As atividades que uma unidade desempenha são determinadas pela produção que é exigida, pelas decisões relativas aos equipamentos, pessoal, processos e procedimentos. E pelo uso de recursos.
O mais importante, nesse ponto, é obter um conhecimento das atividades mais significativas no que tange aos custos de produção e a variabilidade apresentada por esses custos. Ao identificar as atividades mais importantes, o projetista de orçamento pode agrupá-las e relacioná-las. Ao mesmo tempo, pode deixar para um plano menos importante aquelas atividades que não representam grandes incidências de emprego de recursos.
Quanto à produção: a produção mais básica geralmente provém da função mais direta da empresa. Lembro que a receita não é a produção de uma empresa e sim o resultado derivado da produção entregue aos usuários ou clientes.
Neste nível (produção), o avaliador deve ponderar as especificações exigidas ao nível de qualidade exigido. As áreas geográficas de venda levam alguma importância em muitos casos e precisam ser conhecidas para elaborar um orçamento bem estruturado. Além da produção básica, todas as empresas também produzem informações. Registros de projetos (tempo, custos, estoques etc.) podem ser obtidos para observar esse quesito. Os registros dos setores de vendas, como relatórios de visitas e reclamações, podem ser acessados para obter informações orçamentárias. Neste sentido, a maioria das empresas também apresenta uma produção de serviços que normalmente atende a consultas, reclamações e auxílio na resolução de problemas de clientes. Os recursos existem essencialmente de três formas nas empresas:
Recursos materiais, que consideram os recursos para desenvolver uma atividade qualquer em um sentido restrito do termo. Como material para montar um equipamento ou material para produzir uma ração, por exemplo.
Os recursos de apoio, como softwares, ou outras ferramentas de facilitação para a empresa.
Os recursos utilizados para nortearo funcionamento no sentido de dar parâmetros de trabalho e formas de produzir da melhor maneira. Seria o “manual de instruções” de uma empresa.
Quanto aos determinantes da produção, o gerente deve ter uma base sólida dos elementos que compõem ou norteiam os custos. Nesse caso, muitas firmas têm sua produção determinada diretamente pelos pedidos. Dentro do agronegócio produtor de commodities não existem pedidos, pois toda a produção será comercializada, independentemente da quantidade produzida. Então a produção pode ter base no exercício anterior ou nos projetos de expansão dos diretores ou proprietários. Alguns fatores estruturais podem moldar a quantidade produzida em uma empresa agropecuária, pois o aumento de área, por exemplo, não pode ocorrer de maneira imediata e requer todo um arcabouço de recursos de várias naturezas, para um aumento expressivo de área plantada.
Os norteadores dos custos de produção são os elementos ligados aos processos e aos níveis gerais de preços dos principais materiais. Isso pode ser feito, inicialmente, através de elementos norteadores individuais, como mão de obra, aluguel, taxas etc.
Finalizando o tema dos orçamentos, façamos uma breve revisão:
Os orçamentos são uma expressão financeira dos planos da empresa para o próximo exercício. Orçamentos não são elaborados ou aprovados isoladamente entre as unidades de uma empresa. Eles devem refletir as estratégias de atuação e as prioridades das organizações. Um plano de trabalho para elaborar um orçamento deve conter:
definição das produções, dos custos e das necessidades;
a validade de todos os levantamentos deve ser incluída em um orçamento;
como todos os elementos não são conhecidos no futuro, o orçamento deve refletir essa incerteza sempre presente. Para isso, deve apresentar uma base confiável nas melhores informações disponíveis e suposições explícitas para itens incontroláveis ou de alto nível de incerteza e risco;
orçamentos preveem custos, mas também podem prever receitas e produção.
Saiba mais sobre o orçamento como ferramenta de planejamento e controle lendo o artigo disponível em: <www.lume.ufrgs.br>.
ATIVIDADES DE ESTUDOS:
1) Um orçamento pode ser entendido como:
A) Uma previsão dos resultados financeiros da empresa.
B) Um plano do trabalho a ser realizado durante o ano.
C) Uma comunicação dos objetivos e prioridades reais da alta gerência.
D) Uma ferramenta essencial de controle e mensuração.
E) Todas as alternativas.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Liquidez pode ser resumida pela capacidade de transformar produtos em dinheiro. Na medida em que vendemos um produto a um preço mais baixo em relação ao restante do mercado, estaremos dispostos a aumentar a liquidez e vender mais.
Rentabilidade significa o rendimento obtido em valores monetários por cada unidade de um produto vendido. Portanto, quanto maior a diferença entre o custo total e o valor de venda, maior será a rentabilidade.
O dilema do administrador (liquidez x rentabilidade) sempre estará presente nas decisões dos gestores. E segundo Zdanowicz (1991), esses elementos (liquidez e rentabilidade) estarão presentes simultaneamente como fortes determinantes do sucesso empresarial. Para produtores de commodities esse argumento pode levar ressalvas, no entanto, estamos tratando de contabilidade rural, que pode ser a contabilidade de uma indústria, ao mesmo tempo (agroindústria). Portanto podemos guardar esse princípio como válido em nosso estudo.
As decisões estarão, na maioria das vezes, sujeitas a forças relacionadas ao lucro e à obtenção de valores monetários. Os controles dos movimentos financeiros podem auxiliar sobremaneira nas decisões para que um equilíbrio entre essas forças emerja e a “saúde” das empresas seja mantida.
Capítulo 3
BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÕES DE RELATÓRIOS EM ORGANIZAÇÕES RURAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:
Classificar os fatores de produção dentro de uma organização rural e/ou agroindustrial.
Interpretar um balanço patrimonial.
Calcular índices de análises de balanço.
Realizar um inventário e gerar um balanço patrimonial.
Fazer um balanço patrimonial e um levantamento patrimonial sistematizado.
Fazer relatórios patrimoniais utilizando índices retirados do balanço.
Revisar as etapas da construção de um balanço patrimonial.
CONTEXTUALIZAÇÃO
O Balanço Patrimonial (BP), como uma ferramenta de controle gerencial para empresas rurais, argumenta com as demais ferramentas demonstradas nos capítulos anteriores. Por isso, a construção do conhecimento a respeito deste capítulo depende do entendimento das fases anteriores do curso de Contabilidade Rural.
Os padrões utilizados para determinar as partes do patrimônio total de uma empresa são os mesmos em todos os países. Se for observado o balanço patrimonial da Coca-Cola®, serão verificados os mesmos elementos estruturais do balanço de uma empresa qualquer no Brasil ou em outro local. No entanto, o patrimônio de uma empresa ou organização rural ou agroindustrial pode demonstrar algumas características especiais no que tange aos patrimônios biológicos, por exemplo, apesar de utilizar as mesmas técnicas contábeis de qualquer outra empresa. Dentro das características especiais, do modelo contábil de Balanço Patrimonial (BP) de organizações rurais e agroindustriais, podem-se destacar os rebanhos (patrimônio biológico) e algumas benfeitorias com características diferenciadas, como cercas, mangueiras, açudes e barragens; elementos que deveremos trabalhar ao longo do texto. A demonstração do patrimônio de uma empresa rural passará pelos desafios de valorizar adequadamente estes ativos ou bens, assim como outros elementos componentes do BP. E a proposta desta fase do curso é oferecer os princípios para que se possa entender um balanço e construí-lo adequadamente para utilizá-lo gerencialmente.
Este relatório contábil chamado de BP é um retrato do patrimônio (bens, direitos e deveres) de uma empresa, no momento em que foi realizado. O BP não é um demonstrativo de resultados de uma empresa e, como medida de eficiência econômica ou gerencial, analisado isoladamente o BP pode ser considerado, no entanto, a força do BP como ferramenta gerencial parece estar mais associada a uma análise conjunta, em que o BP está contido em um conjunto de relatórios.
O BP, associado aos demonstrativos de despesas, receitas e aos custos de produção, auxilia nas análises de tomada de decisão da organização. Além disso, avaliar acontecimentos do passado de uma organização implica em uma importante forma de corrigir rumos e adotar controles na administração diária.
O BP permite conhecer o valor total dos investimentos realizados pela empresa, conhecer as frações dos compromissos para com terceiros de acordo com os prazos de vencimento em uma empresa rural, e a capacidade de pagamento da empresa a curto e a longo prazo (SANTOS et al., 2009).
Um conjunto de relatórios de BP pode dar um retrato do crescimento ou decrescimento do conjunto de bens, direitos e deveres de uma organização ao longo do tempo, assim como retratar as dinâmicas ao longo do tempo, para os elementos que compõem o relatório (bens, direitos e deveres). Estudando estas dinâmicas dos componentes do BP (bens, direitos e deveres), pode-se obter avaliações importantes, como as análises do tamanho dos estoques e da capacidade de pagamento das empresas; tanto no balanço anual como em avaliações ao longo dos anos. Por isso, o estudo dos componentes utilizados para visualizar os valores do patrimônio não pode ser desconhecido do administrador ou gestor de empresas rurais ou agroindustriais de qualquer natureza.
CONCEITUANDO BALANÇO PATRIMONIAL
Balanço Patrimonial é uma das demonstrações financeiras pelas quais se pode conhecer a situação patrimonial de uma empresa em determinado momento (MATTOS, 1999).
Desmembrando o nome Balanço Patrimonial, pode-se verificar que é composto por duas palavras: A palavra“Patrimonial” se refere a dois tipos de levantamento do patrimônio ou inventário patrimonial. O levantamento de bens e o levantamento dos direitos e o levantamento das obrigações (dívidas ou compromissos) da empresa em questão, no momento da construção do Balanço Patrimonial (BUARQUE, 1991).
Os bens são os elementos que podem ser representados por um valor, sobre os quais a empresa tem posse e/ou direitos de uso. Os bens também podem ser chamados em algumas literaturas de ativos (BUARQUE, 1991). E os direitos de uso podem ser imediatos ou futuros, conforme se pode verificar a seguir. De outro lado, tem-se os compromissos de uma empresa. Valores que representam as obrigações para com terceiros, que são também chamados de passivos ou exigíveis. Assim, conforme ilustrado na Figura 1, pode-se descrever o patrimônio como o conjunto de bens, direitos e obrigações de uma empresa ou instituição.
Os bens de uma empresa rural podem se chamar de organização rural ou agroindustrial, são os elementos que podem ser convertidos em valores monetários e podem gerar benefícios, por exemplo: máquinas, insumos em estoque, produtos não acabados, como animais em terminação, rebanhos em geral, safras estocadas, imóveis (BUARQUE, 1991).
O termo "Balanço" origina-se do equilíbrio Ativo = Passivo + PL (Patrimônio Líquido). Parte da ideia de uma balança de dois pratos, em que sempre há a igualdade de um lado com o outro (se não estiver em igualdade, significa que há erros na contabilidade da entidade).
Conforme ilustrado na Figura 4 adiante, pode-se afirmar que os bens e os direitos são iguais às obrigações somadas ao patrimônio líquido. É importante que se tenha ciência de que tudo que uma empresa possui vem de alguma fonte de recursos, por isso, na contabilidade, ao finalizar o Balanço Patrimonial, os valores do ativo e do passivo se ajustam igualmente ao finalizar o relatório (Balanço Patrimonial); e desta forma, o Balanço Patrimonial deverá mostrar igualdade dos dois conjuntos de valores, ou seja, os ativos e passivos serão exatamente iguais. Esse fenômeno contábil ocorre porque o BP é o resultado da soma dos valores de tudo o que uma empresa possui, incluindo os valores em dinheiro, os valores a receber e os demais bens. Transformando tudo que a empresa possui em dinheiro, tem-se o total de ativos. Fazendo a subtração; ativos, menos valores a pagar (dívidas), tem-se o valor do patrimônio líquido pertencente aos sócios. Portanto, o patrimônio líquido também pode ser considerado uma obrigação. A diferença da obrigação do patrimônio líquido para outras obrigações é que não há um prazo de vencimento, como para outras obrigações. Desta maneira, quando se efetuar a soma do patrimônio líquido às outras obrigações, tem-se o mesmo valor do ativo patrimonial, representando assim a balança de igualdade entre ativos e passivos.
Assim, o Balanço Patrimonial em organizações rurais e agroindustriais é formado basicamente pelos ativos, que são os bens de uma organização rural, e pelos passivos, que são os compromissos, também chamados de exigíveis, formados pelas obrigações (dívidas) da empresa para com agentes internos e externos.
O BP demonstra, de maneira organizada, quais são (aspecto qualitativo) e quanto valem (aspecto quantitativo) os bens, direitos e obrigações.
Em resumo, o Balanço Patrimonial é a demonstração contábil destinada a evidenciar, quantitativa e qualitativamente, numa determinada data, a posição patrimonial e financeira da empresa.
Figura 4 – Representação do equilíbrio no BP
Figura 4 – Representação do equilíbrio no BP
O autor.
Material complementar pode ser consultado nos endereços a seguir:
<http://revista.ajes.edu.br>
<http://www.socontabilidade.com.br>
Animais em terminação: podem ser considerados produtos que estão em elaboração; no caso, fase final ou fase de engorda para serem vendidos ao frigorífico ou a terceiros. Podem ser chamados no Balanço Patrimonial de produtos não acabados. Afinal, os produtos que geram renda em uma empresa rural voltada para a pecuária, normalmente, são os animais vendidos. Por exemplo: animais em confinamento sendo alimentados para atingir o peso e a gordura suficientes para serem abatidos na indústria frigorífica. Uma lavoura pronta para ser colhida pode ser considerada como um produto não acabado, pois ainda não está totalmente pronta para ser vendida e gerar renda para a empresa e seus sócios ou acionistas.
Existem alguns requisitos básicos para que um bem venha a compor o BP. A seguir, uma breve descrição dos três requisitos para que um bem componha um balanço patrimonial (MATTOS, 1999):
a) o “bem” deve gerar benefício imediato ou futuro à empresa, portanto, apresentar o potencial de beneficiá-la;
b) o “bem” deve ser de direito, uma propriedade da empresa;
c) o valor do bem deve ser tangível ou poder ser valorizado monetariamente
Os bens de uma empresa rural podem ter classificações, como bens tangíveis e intangíveis, conforme descrito no conceito técnico a seguir:
Bens tangíveis: encontram-se sob a posse e domínio da empresa e podem ser móveis (dinheiro, máquinas, veículos, equipamentos etc.) ou imóveis (terra, construções, plantações, cercas etc.).
Bens intangíveis: são todos os bens que pertencem à empresa (são de domínio), mas encontram-se sob a posse de terceiros. Normalmente existem prazos para entrega da posse destes bens intangíveis e eles são chamados de direitos, na linguagem contábil.
Tanto os bens tangíveis como os bens intangíveis irão fazer parte do Balanço Patrimonial. A seguir, alguns exemplos de classificações que podem elucidar melhor os conceitos descritos anteriormente:
Exemplo 1: uma propriedade que foi alugada para um terceiro, faz parte do balanço como um bem intangível, pois é de domínio ou de direito, uma propriedade da empresa, mas encontra-se sob a posse de outro agente.
Exemplo 2: um caminhão que está sendo utilizado pela empresa, mas que não é de sua propriedade, portanto, um veículo alugado; esse bem (caminhão) não pertence à empresa e está sob sua posse, portanto, não faz parte do Balanço Patrimonial, pois não se enquadra no requisito de direito uma propriedade da empresa. Então se pode deduzir que posse não significa propriedade.
Outro elemento importante a considerar na inclusão de bens ao Balanço Patrimonial é a capacidade do bem em gerar algum benefício. Por exemplo: uma plantação cuja produção está comprometida permanentemente e que, portanto, não gerará benefício algum, não deve entrar no Balanço Patrimonial do período.
Os direitos: outro elemento fundamental na composição de qualquer Balanço Patrimonial. São os itens que representam valores a receber. Os direitos podem ser ilustrados pelas vendas a prazo que a empresa realizou, mas que ainda não foram recebidas. Pode-se demonstrar que terceiros possuem algum compromisso de pagamento futuro para com a empresa rural em questão, mas que ainda não foi realizado, de diversas formas. Por exemplo: promissórias, cheques pré-datados etc. Vendas de produtos de empresas rurais podem ser negociados e entregues em negócios a prazo, portanto, irão fazer parte dos direitos na composição do Balanço Patrimonial.
Os direitos podem levar o nome de ativo realizável, pois são recursos que ainda não entraram efetivamente no caixa, mas que foram acordados em negócios que já ocorreram.
As obrigações representam os compromissos. Como já comentado ao iniciar o texto, o termo compromisso, neste caso, refere-se às obrigações da empresa em entregar bens ou valores, conforme acordado previamente com algum agente de sua relação comercial.
No Balanço Patrimonial os bens e direitos são elementos positivos e as obrigações são elementos que podem ser sinalizados como negativos. Desta forma, pode-se expressar o resultado do patrimônio líquido como sendo a soma de todos os bens e direitos, subtraindo-se as obrigações, conforme mostrado a seguir.
Por exemplo: em determinado momento (data exata com dia, mês e ano), uma empresa rural possui uma porção de terras (bem) no valor de R$ 250.000,00, um trator(bem) no valor de R$ 50.000,00 e obrigações (dívidas) no valor de R$ 25.000,00. Portanto, o patrimônio líquido desta empresa é de R$ 275.000,00 (250.000,00 + 50.000,00 – 25.000,00 = 275.000,00). Resumindo, o patrimônio líquido de uma empresa é o resultado da soma dos valores de todos os seus ativos, subtraídos os passivos (obrigações):
Trocando o item obrigações para o outro lado da igualdade, obtém-se a Equação Fundamental da Contabilidade demonstrada a seguir:
A equação fundamental da contabilidade deve funcionar como uma balança, assim como o nome explicita, balanço do patrimônio ou Balanço Patrimonial.
Quando houver a representação da igualdade entre Ativo e Passivo, pois, a soma dos bens e direitos, leva o nome de ativo, e a soma das obrigações e patrimônio líquido nomeia-se nesta altura da construção do Balanço Patrimonial como passivo. Portanto, no Balanço Patrimonial, o ativo é igual ao passivo, pois todos os recursos têm sua origem na própria empresa. Desta forma, pode-se representar o Balanço Patrimonial conforme a seguir.
Quadro 24 – Distribuição do Balanço Patrimonial
Quadro 24 – Distribuição do Balanço Patrimonial
O autor.
a) Ativo Patrimonial
Dentro dos grupos de contas que fazem parte do ativo (bens e direitos), pode-se destacar uma estrutura de nomenclaturas para expressar o conjunto de bens e direitos do Balanço Patrimonial.
O primeiro item se chama Ativo Circulante, o qual está contido dentro do grande grupo Ativo. Para facilitar o entendimento, pode-se eleger uma característica comum nestes itens: tratam-se daqueles itens de alta liquidez (podem ser transformados em moeda corrente em um curtíssimo espaço de tempo). Alguns exemplos de itens de alta liquidez nas empresas rurais:
dinheiro em caixa (100% de liquidez);
produtos prontos para venda imediata (estoque);
contas a receber em curto prazo. Estes recebíveis podem também ser chamados de realizáveis a curto prazo;
aplicações em dinheiro a vencer em curto prazo (até seis meses ou até um ano).
culturas anuais em crescimento;
produção esperada de culturas perenes caso em ciclo produtivo pleno.
estoques de grãos armazenados;
estoques de insumos e materiais de consumo.
Culturas anuais são aquelas que concluem seu ciclo produtivo em um ano ou em até menos tempo. Por esse motivo, essas culturas também são chamadas de culturas de ciclo curto. Após a colheita, há a necessidade de se realizar novo plantio. São exemplos: milho, soja, trigo, arroz, feijão, canola, algodão, sorgo etc.
Existe uma segunda subdivisão dentro do ativo, chamado de Realizáveis a Longo Prazo, que são as contas a receber com prazo de mais de um ano para vencimento.
A terceira subdivisão que compõe o grande grupo do ativo do Balanço Patrimonial é o Ativo Fixo ou também chamado de Ativo Permanente. Este subgrupo do ativo tem uma especial importância nas empresas do ramo rural, porque além de pertencer à base para estruturar um sistema produtivo, também corresponde, em muitos casos, na maior fração proporcional do patrimônio. Pode-se destacar que da mesma maneira que se elege uma característica comum ao Ativo Circulante, pode-se fazê-lo no Ativo Fixo. Portanto, o ativo fixo pertence ao grupo com baixa liquidez, ou seja, são bens que para serem trocados ou transacionados por moeda corrente carregam maior grau de incerteza na negociação no que se refere ao tempo transcorrido entre a oferta por parte do vendedor e a venda propriamente. Essas incertezas são referentes ao tempo transcorrido até uma possível negociação de um ativo fixo, ou mesmo da avidez do mercado pelo bem a ser vendido e se transformar em Ativo circulante ao preço pedido pelo ofertante. Assim, quando um bem do ativo fixo é vendido, passa a compor o ativo circulante da empresa ou organização, portanto, a diferença entre o ativo fixo ou permanente e o ativo circulante está no fato de que há maior dificuldade do ativo fixo em ser transformado em dinheiro prontamente, por isso se diz que estes elementos possuem baixa liquidez. Alguns exemplos de ativo permanente aplicados a empresas rurais.
cercas, mangueiras e currais;
estoque de animais permanentes;
máquinas, tratores e equipamentos;
casas rurais e galpões;
construções e instalações;
outras benfeitorias, como barragens e reflorestamentos, também são ativos permanentes.
Animais permanentes são uma referência aos animais destinados à reprodução e que permanecem em certo número permanentemente no rebanho. Por exemplo, em um sistema de produção de bovinos de corte, a classificação das vacas de cria; somente uma fração destes animais é descartada para venda por não servir de maneira eficiente a seu principal propósito, que é gerar novos indivíduos para manter o rebanho com a dinâmica desejada. Portanto, o restante das vacas permanece no rebanho de maneira constante e assim é classificado como ativo permanente (HIRAKURI et al., 2012).
Ainda na bovinocultura de corte, os animais de categorias intermediárias também podem ser classificados como permanentes pelo mesmo raciocínio das vacas de cria, pois estes alimentam o subsistema de terminação de animais. No caso de sistemas de criação de animais com ciclo produtivo mais curto, esta classificação deve obedecer a duração do ciclo operacional total. Se o ciclo dos jovens até a terminação for menor que um ano, todas as categorias intermediárias podem ser valorizadas no ativo circulante da empresa.
ATIVIDADE DE ESTUDOS:
1) Como se pode definir o curto prazo em sistemas produtivos de empresas rurais?
A seguir, estará representado o grupo Ativo do Balanço Patrimonial, com suas subdivisões internas por grupos de ativos, conforme discutido nos parágrafos anteriores.
Quadro 25 – Grupo dos ativos no balanço patrimonial
Quadro 25 – Grupo dos ativos no balanço patrimonial
O autor.
b) Passivo Patrimonial
Dentro dos grupos de contas que fazem parte do Passivo (Obrigações) destacam-se três subgrupos. O primeiro é o Passivo Circulante: obrigações da empresa, a pagar em curto período de tempo. O passivo circulante é a representação monetária das dívidas de curto prazo. Dentro do passivo de curto prazo se pode enquadrar algumas contas que normalmente estruturam esse item do Balanço Patrimonial. Por exemplo: salários a pagar, encargos, impostos, empréstimos a pagar etc.
O segundo subgrupo dentro da classificação do passivo, no Balanço Patrimonial, é o Exigível a longo prazo. Esse item do balanço, dentro do passivo, ocupa-se de agrupar os somatórios das contas que a empresa terá que desembolsar para pagar, mas que serão exigidas no prazo de um ano ou mais, conforme Matos (1999).
Pode-se citar o grupo dos financiamentos como um dos principais elementos dos exigíveis de longo prazo dentro das empresas rurais. Normalmente, as empresas rurais contraem dívidas por conta de financiamento para compor o item dos ativos permanentes, como máquinas e outros investimentos. Importante lembrar que, neste caso (investimentos), tanto o valor do ativo deverá constar no ativo, como o passivo (dívida) deverá constar no passivo circulante ou exigível de longo prazo, dependendo do prazo de vencimento.
O último item do subgrupo passivo são as obrigações que não serão pagas ou que não são exigíveis. São as obrigações das empresas para com seus proprietários, representado pelo Patrimônio Líquido . O patrimônio líquido de uma empresa normalmente é composto pelo capital social (investimento inicial) e lucros ou prejuízos acumulados no período e ou em períodos anteriores. Desta maneira, o patrimônio líquido pode ter sinal negativo, pois nesse quadro (PL negativo) a empresa terá um passivo (obrigações) maior do que seu ativo (bens e direitos).
Assim, o Quadro 26 demonstra resumidamente o desdobramento do item Passivo, do Balanço Patrimonial Rural. Nas representações gráficas deste texto, o Ativo e Passivo estão dispostos em um formato horizontal, mas alguns demonstrativos de Balanço Patrimonial colocam os itens em uma disposição vertical, ambos são padrões de apresentação aceitos.Todos os compromissos que a empresa possui para com os colaboradores, terceiros, fornecedores de insumos e de serviços, assim como os compromissos de curto prazo, como impostos e taxas governamentais, devem estar dispostos no Balanço Patrimonial por inteiro, na divisão do passivo.
Quadro 26 – Descrição do passivo
Quadro 26 – Descrição do passivo
O autor.
O próximo quadro demonstrará, resumidamente, todas as aplicações e definições vistas até o momento, na busca pelo entendimento da estrutura primária do Balanço Patrimonial Rural. Ao aplicar estas definições com clareza, qualquer estudante poderá interpretar este tipo de relatório, pois, como já foi dito, os modelos são padronizados em todas as partes do mundo, para qualquer empresa.
Quadro 27 – Resumo conceitual do balanço
Quadro 27 – Resumo conceitual do balanço
O autor.
Utilizando um exemplo de uma empresa rural, pode-se demonstrar como ocorre a construção de um Balanço Patrimonial conforme descrito no exercício hipotético que segue. Nesta “altura” do processo de entendimento do Balanço Patrimonial, pode-se discorrer sobre a execução e alocação do patrimônio nos devidos “compartimentos”, delineados para agrupar os tipos de patrimônio, de acordo com as considerações feitas até o momento. Assim, segue um exemplo de balanço de uma propriedade rural que produz carne e grãos; uma propriedade hipotética, que utiliza um sistema de produção chamado de Integração Lavoura-pecuária, por utilizar os espaços de terra com duas atividades distintas, sendo uma voltada para pecuária e outra voltada para a agricultura.
A integração lavoura-pecuária consiste de diferentes sistemas produtivos de grãos, fibras, madeira, carne, leite e agroenergia, implantados na mesma área, em consórcio, em rotação ou em sucessão. Normalmente, essa integração envolve, principalmente, o plantio de grãos e a recuperação ou implantação de pastagens. O plantio de lavouras em áreas de pastagens degradadas é uma fórmula usada há muitas décadas pelos produtores rurais para recuperar a capacidade produtiva dos pastos e dos solos. Com o avanço da tecnologia no campo, essa prática se modernizou e vem sendo executada com a adoção de técnicas combinadas que geram altas produtividades. Uma dessas técnicas é o plantio direto, que promove a redução do impacto da agricultura sobre o meio ambiente.
O exemplo a seguir respeita uma ordem de apresentação, iniciando com um exemplo da Figura 5, voltado para descrever somente a parte do ativo, outro para desenvolver os dados que descrevem o passivo dentro do Balanço Patrimonial e, por fim, o exemplo unifica as duas partes para melhor entendimento, construindo assim o Balanço Patrimonial.
Exemplos complementares podem ser acessados nos endereços a seguir:
<https://goo.gl/o84kiG>; <https://goo.gl/3e5mY4>; <https://goo.gl/Ua5Wb2>.
Figura 5 – Descrição dos ativos. Ex. Fazenda x – Data 18 de agosto de 2017
Figura 5 – Descrição dos ativos. Ex. Fazenda x – Data 18 de agosto de 2017
O autor.
Pode-se observar neste quadro das descrições do ativo do balanço Patrimonial que os estoques foram distribuídos em estoques de madeira*, estoque de adubos* e estoques de medicamentos veterinários*, dentro do ativo circulante. Observa-se que muitas vezes os estoques podem ser adquiridos em momentos diferentes, com preços diferentes ao longo dos exercícios. E assim deve-se escolher entre alguns métodos utilizados pela contabilidade gerencial para avaliar estoques de maneira padronizada, dentro do Balanço Patrimonial.
Dentre os métodos empregados para valorizar os estoques, citam-se quatro, que de acordo com Santos et al. (2009), são as principais formas de tratar os estoques de produtos para alocá-los ao Balanço Patrimonial Rural. Os métodos são descritos a seguir:
método do Preço de Reposição;
método PEPS (FIFO);
método UEPS (LIFO);
método Média Ponderada;
método Média Mensal.
1) Método do Preço de Reposição
Para usar o preço de reposição para calcular o valor de um estoque, deve-se encontrar o preço de mercado ou preço corrente que a empresa pagaria ao repor o estoque no momento do balanço e multiplicar pela quantidade em estoque.
2) Método PEPS (FIFO)
A abreviação PEPS representa a frase “o primeiro que entra é o primeiro que sai”. Neste tipo de método, os estoques de insumos são custeados pelos preços mais antigos, assim como a preferência ao uso, permanecendo os materiais ou estoques de insumos comprados mais recentes em estoque, que posteriormente serão valorizados, sempre com uma defasagem de tempo. Assim, os preços de estoques de insumos ficam sempre balizados pelas compras mais antigas.
Como se percebe, se os valores de determinado estoque de insumos sofrem reajustes muito grandes em curto período de tempo, estar-se-á sempre subestimando os valores estocados (insumos).
A seguir (Tabela 1), um exemplo para exercitar a metodologia. Destaca-se que se trata de um exemplo didático. Na prática, o número de lançamentos pode ser bem maior e mais variado que o exemplo que está posto, mas os princípios servem de base de raciocínio para qualquer banco de dados.
Normalmente, não é desejável ou aconselhável manter grandes estoques, exceto em casos excepcionais de dificuldades logísticas ou de fluxos de caixa que modelam uma compra de insumos mais sazonal, caso seja a estratégia adotada. Os estoques podem gerar custos de armazenamento e podem se deteriorar em caso de armazenamento inadequado, gerando prejuízos.
Tabela 1 – Ficha de distribuição das compras de adubo
Tabela 1 – Ficha de distribuição das compras de adubo
O autor.
Se calcular os estoques de insumos para compor o balanço, utilizando o exemplo da Tabela 1, observa-se que existem dois tipos de produtos fertilizantes: adubo formulado e ureia. Pelo método PEPS, no momento de fechamento do Balanço Patrimonial deve-se avaliar o estoque pelo valor da compra mais antiga.
No exemplo anterior, tomando a data do fechamento do balanço, tem-se saldo de 417 toneladas de adubo em estoque, e 70 toneladas de ureia.
Assim, calcula-se o estoque pelo valor da primeira compra: Adubo (417) x Preço (mais antigo) = Valor do estoque.
No caso do adubo, será usado o valor de compra de janeiro de 2017 (R$ 850,00) por tonelada. Gerando um estoque de: R$ 850,00 x 417 toneladas = R$ 354.450,00
Para a ureia será usado o valor de compra de setembro de 2017. No caso da ureia, foi a última compra que ainda possui estoque na propriedade: R$ 1.400,00 x 70 toneladas = R$ 98.000,00.
3) Método UEPS (LIFO)
Neste método, inverte-se o significado com relação à sigla, então se lê “último que entra é o primeiro que sai”. Portanto, a valorização dos estoques fica tutelada pelo valor da última data de compra do insumo. Assim, o adubo será valorizado pelo valor pago pelo insumo na última compra. Em nosso exemplo (Tabela 1), para este método tem-se 417 toneladas compradas por R$ 750,00. E o adubo será valorizado no balanço patrimonial, por R$ 312.750,00.
No caso da ureia, o estoque de 70 toneladas será avaliado por R$ 1.350,00 por tonelada. E o valor do estoque do insumo ureia será de R$ 94.500,00.
4) Método Média Ponderada
A média ponderada leva em consideração os pesos entre quantidade e preços de insumos comprados. No caso do exemplo, tem-se quatro compras de adubo e três compras de ureia. Procede-se, então, a média ponderada das compras de ureia de acordo com o exemplo da Tabela 1 utilizando a seguinte fórmula:
Em que:
– Média ponderada.
– Quantidade 1.
– Preço 1.
– Quantidade n.
– Preço n.
– Quantidade total.
Pode-se verificar que o procedimento da aplicação da fórmula anterior é simples. Um exemplo de compras de um insumo, em vários lotes e em diferentes momentos: basta multiplicar o valor unitário 1, pela quantidade comprada 1, e assim proceder por quantas compras houver. Somando o resultado destas multiplicações e dividindo-os pela soma das quantidades compradas, tem-se a média ponderada do valor da unidade comprada.
Agora, vamos efetuar o cálculo da média ponderada para o valor daureia utilizando a Tabela 1.
Neste caso, o valor médio da tonelada de ureia foi comprado por R$ 1.285,44, e assim, o estoque do insumo para efeito de balanço patrimonial terá um valor de R$ 1.285,44 x Quantidade existente em estoque.
5) Método Média Aritmética
Se somar os três valores unitários dos preços pagos pela mesma ureia do exemplo anterior, e dividir por três, está-se calculando a média ponderada dos valores de acordo com a fórmula matemática da média aritmética.
O preço médio de compra de ureia para o cálculo do estoque será de R$ 1.316,67. A diferença entre as médias (aritmética e ponderada) se dá pelo fato de que a média ponderada relaciona as quantidades compradas e os preços. Portanto, no caso em que haja uma grande quantidade a um preço baixo em relação às outras compras, ocorrerá uma ponderação em favor da compra maior.
O estoque da propriedade, de acordo com a Tabela 1, será calculado multiplicando a quantidade de insumo existente, referente ao saldo, pelo valor da unidade encontrada no cálculo do preço médio pelo método escolhido pelo administrador, gerente ou responsável.
Figura 6 – Descrição dos passivos. Ex. Fazenda x – Data 18 de agosto de 2017.
Figura 6 – Descrição dos passivos. Ex. Fazenda x – Data 18 de agosto de 2017.
O autor.
A figura 6 descreve um exemplo simplificado dos elementos que podem compor os passivos de uma empresa rural. É uma descrição de todas as obrigações da empresa, seja para com os sócios, funcionários, fornecedores etc.
Lembro que o Balanço Patrimonial se trata apenas de uma avaliação do momento em que ele foi elaborado.
Os próximos parágrafos discutem os elementos marcados no Quadro 6 (passivo), com o símbolo * (asterisco). Os elementos marcados podem suscitar algumas dúvidas, por isso, serão esclarecidos alguns pontos para que haja um melhor entendimento dos detalhes.
A rubrica de nome Custeio parcelado* - foi escolhido esse nome para lembrar que a empresa pode possuir dívidas que foram parceladas em longo prazo, no entanto existem parcelas a vencer dentro do ano. Esta fração de vencimentos, mesmo compondo dívidas maiores, deve estar no passivo circulante, pois pode-se ter parcela(s) a vencer, dentro do prazo de um ano (curto prazo).
O nome Custeio do ano** se refere a dívidas assumidas para custeio do exercício.
A opção do Quadro 6 em separar Investimentos gerais*** e Investimentos em pastagens**** serve para mostrar que os compromissos de pagamento de investimentos em diferentes setores da empresa rural podem ocorrer ao mesmo tempo e se pode expor no Balanço Patrimonial os diferentes “setores” para os quais serão destinados pagamentos de investimentos. Outro detalhe importante se refere ao pagamento em curto prazo e ao pagamento em longo prazo, para investimentos. Esta afirmação justifica o registro de Investimentos gerais*** e de Investimentos em pastagens****, tanto no passivo circulante, referindo-se ao que será pago em curto prazo, quanto no passivo exigível a longo prazo, referindo-se a pagamentos a longo prazo para compromissos assumidos pela empresa rural. E neste caso, dividido em investimentos gerais e investimentos em pastagens.
CONSTRUÇÃO DO BALANÇO PATRIMONIAL
Ao examinar cuidadosamente os itens que compõem o Ativo e o Passivo, observados os valores e os itens destes compartimentos do balanço, pode-se então encerrar a construção do Balanço Patrimonial, agregando os dois itens (Passivo e Ativo) conforme as formulações que estão descritas nas seções anteriores deste documento.
Desta forma, estará demonstrada, a seguir, a integração dos elementos do Balanço Patrimonial.
Figura 7 – Integração do ativo e passivo no Balanço Patrimonial
Figura 7 – Integração do ativo e passivo no Balanço Patrimonial
O autor.
RELATÓRIOS PATRIMONIAIS E ÍNDICES DE AVALIAÇÃO
A seguir, as ferramentas para tratar do Balanço Patrimonial. Portanto, não basta um procedimento correto na construção do balanço, há de se proceder uma análise deste balanço, a fim de retirar algumas informações úteis a tomadas de decisão dos administradores. E assim, tornar a ferramenta uma prática de auxílio na gestão de empresas rurais.
O uso de relatórios de balanço e inventários patrimoniais detalhados também pode ser requisitado em caso de auditorias dentro de propriedades rurais. Em alguns casos, empresas rurais requisitam auditorias externas para complementar seus controles de patrimônio e de negócios, por meio do auxílio de auditorias externas ao âmbito normal de trabalho. Portanto, dá-se prosseguimento à fase final, nas análises de Balanço através de cálculos de índices dentro do Balanço Patrimonial de empresas rurais. E para isso, usa-se o exemplo desenvolvido até aqui, nos Quadros 5, 6 e 7.
Inventário é um documento contabilístico que consiste em uma relação de bens que pertencem a uma pessoa, entidade ou comunidade. Dentro de uma empresa, a realização de um inventário é feita para que seja possível obter um balanço real. No contexto empresarial, muitas vezes, o inventário é feito com o objetivo de determinar a liquidez da empresa, em caso de separação dos seus sócios. O inventário é um método de registro que permite saber em qualquer momento o estoque existente, ou seja, os materiais existentes em armazém ou almoxarifado. Este método possibilita determinar os lucros e perdas de um determinado negócio.
Fonte: Disponível em: <www.significados.com.br>. Acesso em: 20 nov. 2017.
Os indicadores financeiros criados através dos balanços patrimoniais permitem comparar relatórios de Balanço Patrimonial de diferentes empresas ou da mesma empresa ao longo dos exercícios. Dentre os índices a serem analisados:
• Índice de Liquidez Corrente
• ;
• Índice de Liquidez Seca para Insumos Agropecuários ;
• Índice Composição do Endividamento .
O ILC e o ILS servem para realizar uma avaliação da capacidade da empresa em saldar suas obrigações.
O ILC, em que: significa que a empresa possui, em seu Ativo Circulante relacionado ao seu ao Passivo Circulante, uma razão igual ou maior que um. Supondo-se que o ILC de determinada empresa seja igual a um, o que isso significa? Isso significa que, para cada real que uma empresa possui no ativo em circulação (rapidamente pode ser transformado em moeda), ela possui também um real em dívidas de curto prazo para pagar, ou seja, compromissos financeiros a cumprir. Um índice igual a um pode ser lido como uma probabilidade boa de que a empresa com este índice consiga saldar suas dívidas de curto prazo caso não aconteça nenhum imprevisto durante o período. O ILC é encontrado pela razão entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante.
Pelo exemplo anterior (Figura 7), qual seria o Índice de Liquidez Corrente (ILC):
O valor do índice mostra que para cada unidade monetária de dívida a curto prazo, esta empresa hipotética do exercício teria R$ 2,1 em seu Ativo Circulante (bens), para cada R$ 1,0 de seu Passivo Circulante (Obrigações), garantindo uma boa probabilidade de saldar as suas obrigações de curto prazo.
O Índice de Liquidez Seca para Insumos na Agropecuária é encontrado através da fórmula:
Esta fórmula foi adaptada pelo autor. Originalmente o Índice de Liquidez Seca subtrai do Ativo Circulante os estoques. Na Agropecuária, os estoques de grão e de animais em terminação, por exemplo, são facilmente transformados em moeda, enquanto os estoques de insumos normalmente são usados na produção e não estão destinados a serem transformados diretamente em moeda. Portanto, a adaptação é coerente com a atividade e com os princípios da racionalidade do conceito contábil de Ativo Circulante. O aponta para um índice mais próximo da realidade, por lidar com o valor do ativo retirando os valores de estoques de insumos, caso eles existam. A importância está no fato de que o insumo não representa um ativo que será vendido no caso de empresas rurais produtoras. Assim, o do exemplo dos Quadros 5, 6 e 7 pode ser calculado de acordo com o exposto:
Significa dizer que para cada unidade monetária que a empresa possui sob a análisedo ela possui em seu ativo circulante (alta liquidez) R$ 1,47 para dispor no pagamento de suas obrigações de curto prazo ou passivo circulante. No caso do exemplo anterior, foram somados os valores dos estoques de adubos, madeira e medicamentos veterinários do exemplo (Quadro 6), para depois serem subtraídos do valor total do ativo circulante (numerador da fórmula . ).
O Índice Composição do Endividamento denota uma situação das dívidas de uma empresa. Neste caso, trata-se de uma relação entre as dívidas de curto prazo e as dívidas longo prazo. Ao resolver a razão entre as dívidas de curto prazo e de longo prazo, estabelece-se quanto a empresa possui de valor para cada unidade de dívida de longo prazo. A fórmula se escreve da seguinte maneira:
Para o exemplo da Figura 6 tem-se:
É desejável que a empresa possua maiores dívidas de longo prazo em relação às de curto prazo, pois denota um prazo maior para adaptações e ajustes para cumprir compromissos. Portanto é desejável que .
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Ao realizar as etapas de levantamento dos bens, dos direitos e somá-los, tem-se o total dos ativos de uma empresa. De outro lado, realizando o levantamento de todas as obrigações de uma empresa e subtraindo o valor das obrigações, do ativo total, está-se obtendo o patrimônio líquido da empresa. Esta construção deve ficar muito clara para o estudante, pois consiste no cerne da evolução do relatório de BP.
Quanto ao conteúdo interno do BP, os ativos fixos e circulantes, assim como os prazos dos direitos e dos exigíveis, devem ser registrados de acordo com os preços vigentes e com dados de fontes confiáveis. Portanto, a qualidade do relatório de BP, refletida pela confiabilidade do mesmo, se deve tanto às técnicas corretas de construção, como a alocação correta de valores, que devem traduzir de maneira mais próxima possível os valores reais.
Após uma boa montagem do BP, podem ser utilizados os índices de relações entre os itens do BP. Os índices estudados, neste material, são importantes fontes de dados para medir as capacidades específicas da organização em adquirir ou contratar recursos, em poder de quitação de dívidas ou em relativizar os elementos do BP. Ainda em relação aos índices de balanço, existem outros índices que podem ser utilizados e que não foram contemplados neste material. Caso o estudante tenha interesse em conhecer outros índices referentes ao relatório do BP, basta acessar o material das referências indicadas ao final do capítulo.
Pode-se destacar também que o conhecimento do material aqui discutido pode ser aprofundado. No entanto, os princípios fundamentais do Balanço Patrimonial foram abordados.
Capítulo 4
NATUREZA LEGAL E TRIBUTÁRIA DAS ORGANIZAÇÕES RURAIS E AGROINDUSTRIAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:
Conhecer o funcionamento básico do enquadramento fiscal rural.
Entender a classificação de imóveis rurais na busca de possíveis fontes de recursos financeiros junto a órgãos oficiais.
Quais as incidências de impostos sobre produtos rurais e agroindustriais.
Avaliações de crédito junto a entidades financeiras e profissionais da área.
Calcular os principais impostos cobrados do setor agropecuário.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Os aspectos voltados à caracterização de empresas rurais e suas formas de enquadramento legal serão discutidos brevemente neste capítulo. A justificativa da análise em questão é o melhor entendimento dos agentes administrativos no sentido de acessar crédito em instituições financeiras e melhorar a compreensão de alguns aspectos voltados aos impostos cobrados das empresas rurais de acordo com esse enquadramento legal. O entendimento das políticas voltadas ao setor agropecuário pode melhorar as possibilidades de captação de recursos e investimentos que podem alavancar qualquer atividade rural e auxiliar nos relatórios gerenciais que representam uma parte importante da gestão de uma organização rural ou agroindustrial.
O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), implantado em 1965 no Brasil, rege as políticas de crédito em todo território nacional, no que se refere a crédito para a agricultura e pecuária (LEITE et al., 2009).
Sem dúvida, o crédito agrícola teve e tem papel preponderante no desenvolvimento tecnológico e de escala de produção no Brasil, pois recursos, tanto para custeios e investimentos em grandes culturas, como para pequenas culturas, exercem fundamental apoio financeiro aos produtores.
Os formatos que regem os parâmetros para as entidades financeiras abordarem as propriedades rurais no que tange ao fornecimento de crédito serão discutidos com a intenção de fornecer uma introdução ao assunto para o leitor.
Dentro da contabilidade gerencial é importante entender as necessidades de aporte de recursos para investimentos e custeios, assim como os formatos de acesso a recursos. Pois, muitas vezes, a saúde financeira de uma organização rural ou agroindustrial depende fortemente de recursos externos. O segundo elemento trazido neste capítulo faz uma breve explanação sobre o regime fiscal da produção rural. Ou seja, de que forma incidem os impostos sobre a produção agrícola e pecuária e quais os principais impostos cobrados.
Diante do quadro em que se encontra o país em termos de liderança na produção de commodities, é pertinente que se faça uma breve leitura a respeito das intervenções na forma de financiamento do setor agropecuário. Portanto, esse capítulo trata de um apanhado de elementos que podem nortear estudos mais aprofundados sobre o crédito agrícola.
ENQUADRAMENTO LEGAL DE EMPRESAS RURAIS
O primeiro requisito considerado em diversos programas de crédito e de subsídio em forma de juros, no Brasil, está relacionado ao tamanho das propriedades rurais. É corrente a discussão entre a divisão de propriedades rurais pelo seu tamanho, devido à suposta natureza diferenciada entre a grande propriedade e a pequena propriedade rural. A literatura aborda os diferenciais da pequena propriedade por diversos ângulos, mas um dos principais é a ótica de uma racionalidade diferenciada entre pequenos produtores ou agricultura familiar, e o agronegócio ou médias e grandes propriedades rurais. Esta racionalidade de comportamento, no caso da agricultura familiar, mostra-se sob o condicionamento de alguns princípios de não lucro na literatura. Já a agricultura e pecuária empresariais denotam uma visão de lucro e uma racionalidade voltada para a eficiência produtiva.
As pequenas propriedades possuem uma condição mais limitada em termos de volume de rendimentos e de capacidade de investimentos, que leva o empresário a tomar mais cuidado quanto a investimentos e risco. No entanto, parece que existem algumas características que unem os dois tipos de propriedades rurais e que não são abordadas devidamente, pois pode ser que sejam encontradas mais evidências em comum entre diferentes tamanhos de empresas rurais do que diferenças propriamente ditas. A literatura tende a diferenciar as propriedades e não se preocupa em colocar os pontos fundamentais que tornam a produção agrícola e pecuária uma construção de mesma base. Como exemplo, o uso da terra, de recursos naturais; a responsabilidade pela manutenção de bens comuns como ar, água limpa, biodiversidade, paisagem etc. E, ao mesmo tempo, a responsabilidade em produzir alimentos, que é de todos os tipos de empresas rurais, sejam elas pequenas ou grandes.
Pode-se tecer algumas críticas aos critérios estabelecidos, sem dúvida, mas o fato é que nos atuais moldes colocados diante do mercado que usa os recursos bancários em créditos rurais, usam-se critérios de tamanho de propriedade. E os critérios de tamanho são preponderantes para exercer pedidos em diferentes linhas de crédito oferecidas nos bancos brasileiros, com relação à produção agrícola. Assim, para efeito de crédito e mensuração fundiária, apresenta-se a classificação a seguir, de acordo com o INCRA (2017), classificação esta que também servepara os bancos financiadores como direcionamento de linhas de crédito para pequenos, médios e grandes produtores, quando se refere especificamente ao tamanho de área explorada.
Primeiramente pode-se destacar os pequenos produtores, também chamados de agricultores familiares. Este grupo de produtores dispõe de linhas de crédito específicas, entre elas o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que determina condições de financiamento a juros mais baixos para estes agricultores. Para efeitos de pagamento de impostos e de subsídios em caso de tomar financiamento, estes agricultores são assim classificados de acordo com as características discutidas a seguir. Assim, justifica-se, dentro de um curso de contabilidade, discutir elementos importantes na composição da gestão contábil de empresas de diferentes categorias oficiais.
Para os efeitos de lei, considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos:
I – Não detenha qualquer título maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;
II – Utilize predominantemente mão de obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;
III – Tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder Executivo; (Redação dada pela Lei nº 12.512, de 2011).
IV – Dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.
Com relação ao tamanho da área, os imóveis rurais são classificados em (INCRA, 2017):
Minifúndio: é o imóvel rural com área inferior a um módulo fiscal;
Pequena Propriedade: o imóvel de área compreendida entre um e quatro módulos fiscais;
Média Propriedade: o imóvel rural de área superior a quatro e até 15 módulos fiscais;
Grande Propriedade: o imóvel rural de área superior 15 módulos fiscais.
A classificação é definida pela Lei n. 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, e leva em conta o módulo fiscal (e não apenas a metragem), que varia de acordo com cada município (INCRA, 2017).
O módulo fiscal denota um tamanho limite de propriedades rurais para que sejam posteriormente enquadradas na classificação do INCRA. O tamanho dos módulos fiscais possui grande variabilidade entre os municípios de um estado e entre estados, devido à grande variação de clima e ambiente que o país possui. E a prerrogativa do tamanho dos módulos fiscais é de cada município.
Como se pode notar no quadro a seguir, as variações de tamanho de módulo podem ser bem marcantes e representam o tamanho mínimo necessário para caracterizar as propriedades de acordo com cada município.
Gráfico 5 – Módulos fiscais por município no Rio Grande do Sul
Gráfico 5 – Módulos fiscais por município no Rio Grande do Sul
O autor.
Módulo fiscal é um conceito introduzido pela Lei n. 6.746/79, que altera o Estatuto da Terra (Lei 4.504/64), a norma que regula os direitos e obrigações relativos a imóveis rurais, para os fins de execução da reforma agrária e promoção da política agrícola nacional. Trata-se de uma unidade de medida de área (expressa em hectares) fixada diferentemente para cada município, uma vez que leva em conta as particularidades locais, como (art. 50, Lei 4.504/64):
O tipo de exploração predominante no município (hortifrutigranjeira, cultura permanente, cultura temporária, pecuária ou florestal);
A renda obtida com esta exploração predominante;
Outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam expressivas em função da renda ou da área utilizada;
Conceito de propriedade familiar (art. 4º, II, Lei n. 4.504/64).
POLÍTICAS DE RECURSOS PARA EMPRESAS RURAIS
Este tópico deve descrever algumas das principais linhas de crédito e de fomento ao setor rural, operadas pelas entidades financeiras oficiais (bancos) e que partem do Poder Executivo na forma de ministérios e do Banco Central, para serem implementadas na prática.
Quando estas políticas são implementadas, podem oferecer recursos importantes ao setor agropecuário e agroindustrial; atividades marcadas por dificuldades inerentes às condições de produção, transporte, industrialização e consumo de produtos, por conta de clima, sazonalidade produtiva e de consumo, tamanho do ciclo produtivo etc. Podem-se citar alguns possíveis cenários de acordo com os princípios contábeis até aqui discutidos e que podem revelar a importância de recursos externos em alguns momentos.
Os cenários descritos a seguir (Quadro 28) procuram demonstrar claramente a importância de discutir crédito em nosso curso, pois os itens dos cenários podem repercutir diretamente no resultado econômico e financeiro da empresa rural ou organização.
Quadro 28 – Possíveis relações entre características contábeis de organizações rurais e a necessidade de recursos externos
Quadro 28 – Possíveis relações entre características contábeis de organizações rurais e a necessidade de recursos externos
O autor.
Percebe-se agora onde se pode acessar as informações oficiais a respeito dos valores totais por ano, que são destinados aos produtores e ao setor rural como um todo.
O documento oficial que registra a intenção de fornecimento de crédito rural no Brasil é o chamado Plano Safra, no qual os valores dos créditos dimensionados pelo Governo Federal e o Banco Central são somados às categorias de empresas rurais pelo tamanho e pelo tipo de linha de crédito. A grande maioria dos créditos agrícolas brasileiros é repassada por intermédio dos bancos estatais (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal e bancos estaduais, assim como agências de fomento como BRDE e BADESUL), portanto, o Plano Safra consta de todos os recursos e linhas de crédito que serão repassados pelos bancos públicos em seguida.
Obs: Os enquadramentos segundo os tamanhos das empresas rurais foram discutidos alguns parágrafos acima. Já a discriminação das linhas de crédito se refere a investimentos e custeio. Dentro da linha investimentos, normalmente ocorrem subdivisões que comportam investimentos em máquinas e equipamentos, conservação de solo, estradas, redes de eletricidade, barragens, etc. Dentro das linhas de custeio e aquisição de animais, podemos citar os custeios de lavouras, e compras de uma ou mais categorias para um rebanho qualquer.
O Plano Safra é lançado anualmente e representa um registro de intenções de fornecimento de crédito, que os governos publicam anualmente, com relação aos possíveis valores disponibilizados pelos bancos no ano corrente. O Plano Safra descreve, em linhas gerais, os possíveis valores de crédito em cada modalidade de produtor rural e em cada modalidade de financiamento.
As modalidades de financiamento podem adquirir contornos diferentes de acordo com a finalidade do financiamento pedido, além do enquadramento pelo tipo de propriedade rural. Os contornos se referem ao tempo de carência, número de parcelas, taxas de contratação diferentes, volume máximo de recursos que podem ser requisitados em cada modalidade, taxas de juros diferenciadas e tipo de cálculo de desconto do capital em questão.
O Plano Safra 2017-2020, assim como as linhas de crédito, encontram-se disponíveis no seguinte site: <www.mda.gov.br>.
IMPOSTOS NA AGROPECUÁRIA
Os brasileiros pagam mais de 80 tipos de taxas, impostos e contribuições diferentes, agindo direta ou indiretamente sobre os produtos consumidos. Por exemplo: o ICMS, PIS e COFINS que estão presentes em todos os produtos, porém, possuem alíquotas diferentes de acordo com cada estado da federação. Para o empresário rural, seja na pessoa física ou jurídica, os principais impostos pagos são (KRÜGER; BLAAS; SILVA, 2010):
Contribuição ao INSS conhecida como Fundo de Amparo ao Trabalhador Rural (FUNRURAL). Incide sobre as vendas e tem tratamento diferenciado para pessoa física e para pessoa jurídica.
Fundo de pagamento obrigatório, administrado por entidades empresariais FUNDESA.
Cooperação e Defesa da Orizicultura (CDO);taxa estadual recebida pelo Instituto Rio Grandense do Arroz.
Imposto Territorial Rural (ITR); imposto sobre o domínio útil ou a posse da propriedade rural (localizada fora da zona urbana).
Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF). Trata-se de um tributo federal, de alíquota variável proporcional à renda do contribuinte. A alíquota varia de acordo com a tabela progressiva fornecida pela Receita Federal do Brasil.
Imposto de Transmissão de Bens e Imóveis (ITBI): é um tributo municipal, cobrado para transmitir sessão e direitos sob imóveis, tanto rurais como urbanos.
Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCD): é um imposto estadual devido a transmissões de imóveis por meio de heranças, partilhas e doações.
Pessoa física: É todo e qualquer indivíduo, homem ou mulher, capaz de perceber o mundo através de seus sentidos e razão. Todo indivíduo é um ser humano, e está sujeito às leis físicas da natureza. Também é chamado de “pessoa natural”, pois é a denominação do ser que possui personalidade, desde o seu nascimento até sua morte. Para exercer uma atividade econômica, a pessoa física pode atuar como autônoma ou como sócia de uma empresa ou sociedade simples.
Pessoa jurídica: A pessoa jurídica não se relaciona ao indivíduo em si, mas em entidades. Essas entidades possuem responsabilidades jurídicas perante a lei, conforme o artigo 40 do Código Civil, e estão divididas em três categorias: pessoas jurídicas de direito público (interno e externo) e pessoas jurídicas de direito privado. Pessoa jurídica de direito privado: É constituída por associações, sociedades, fundações particulares, sociedades de economia mista (paraestatais), empresas privadas e públicas, partidos políticos e organizações não governamentais.
Fonte: Disponível em: <https://tudodireito.wordpress.com>. Acesso em: 25 nov. 2017.
Leitura complementar ao tema dos impostos pagos por produtores rurais pode ser obtida nas referências do capítulo e pelo artigo indicado a seguir: <https://docgo.net>.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Este último capítulo do curso de Contabilidade Rural pretendeu resgatar alguns dos principais elementos ligados ao crédito e aos impostos pagos pelos produtores e pelas organizações rurais. Ao destacar as classificações por tamanho e as fontes de financiamentos, juntamente com a forma de acessar os mecanismos diversos para inúmeras finalidades de crédito no meio rural (Plano Safra), o leitor tem uma introdução ao panorama de créditos oferecidos e poderá analisar as diferentes possibilidades de escolha dos tipos de financiamentos que melhor se enquadram em diferentes situações.
Ao propor novos investimentos com capital externo, o gestor deve ter o cuidado de analisar detalhadamente a situação do sistema produtivo como um todo, os resultados positivos e as repercussões negativas de decisões de investimento. As análises contábeis podem favorecer estas tomadas de decisão e criar potenciais formas seguras de analisar investimentos e tomar decisões, tanto práticas (do dia a dia) como estratégicas e táticas, em uma organização rural e/ou agroindustrial.

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