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1 CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CURSO: GEOGRAFIA DISCIPLINA: GEOGRAFIA URBANA DO BRASIL CONTEUDISTA: Marcelo Werner da Silva AULA 6 – INVOLUÇÃO METROPOLITANA, DESMETROPOLIZAÇÃO E A DINÂMICA DAS CIDADES MÉDIAS NO BRASIL Meta Espera-se demonstrar a discussão sobre uma possível tendência à desmetropolização da realidade urbana brasileira, bem como discutir o fortalecimento, no pais, das cidades intermediárias, ou médias, sua classificação e significados na urbanização brasileira. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 1. Entender a possível tendência a uma desmetropolização do fenômeno urbano no Brasil; 2. Entender os critérios para a delimitação das cidades médias. 2 Introdução Sabe-se do grande crescimento da população urbana no Brasil e da expansão do processo de urbanização. Tal expansão, associada aos mecanismos da globalização da economia e o desenvolvimento de tecnologias da informação, levam à diminuição dos níveis hierárquicos da rede urbana e ao aumento da importância das cidades médias. A isso alguns autores associam termos como desmetropolização ou involução urbana, que estão associados ao aumento de importância das cidades médias. 1. UM PROCESSO DE DESMETROPOLIZAÇÃO? No livro “A urbanização brasileira”, Milton Santos se pergunta de uma possível tendência à desmetropolização no Brasil. Em suas palavras: ...os números revelam que, paralelamente ao crescimento das aglomerações grandes e muito grandes, há lugar, também, para o aumento do número de cidades intermediárias e das respectivas populações. Pode-se, aqui, desde logo, falar em desmetropolização? O que, em todo caso, está se verificando é a expansão da metropolização e, paralelamente, a chegada de novas aglomerações à categoria de cidade grande e de cidade intermediária. Um porcentual cada vez mais expressivo da população que vive em núcleos com mais de 20 mil habitantes vai, agora, para as grandes cidades médias (SANTOS, 2005, p. 93). Portanto a desmetropolização seria a tendência de surgimento de novas cidades grandes e de cidades intermediárias. Outro termo utilizado pelo mesmo autor e que se relaciona à desmetropolização, seria o de "involução metropolitana": Nos dias atuais, as cidades tocadas pelo processo de modernização agrícola ou industrial típico do período técnico-científico conhecem um crescimento econômico considerável, ao passo que é nas grandes cidades que se acumulam a pobreza e atividades econômicas pobres, uma reversão em relação ao período anterior. O interior modernizado se desenvolve e as metrópoles conhecem taxas de crescimento 3 relativamente menores. Daí a nossa designação de "involução metropolitana"... (SANTOS, 2009, p. 73, grifo nosso). Para o autor, a involução metropolitana pode ser constatada por, ao menos, três indicadores: 1. O PIB cresce menos nas metrópoles que no país como um todo e em certas áreas de sua região de influência. 2. Nas áreas onde o capitalismo amadurece há tendências à reversão do leque salarial, com certas ocupações menos bem remuneradas envolvendo um maior percentual de trabalhadores na metrópole que no campo. 3. Certos índices de qualidade de vida tendem a ser melhores no interior do que nas regiões Metropolitanas (SANTOS, 2009). Como diz Milton Santos (2009, p. 73, grifo nosso), "...tais tendências se afirmam paralelamente à extensão da pobreza nas áreas metropolitanas, onde aumenta o chamado emprego informal. A metrópole não para de crescer. Mas outras áreas crescem mais depressa". No já citado livro "A urbanização brasileira", Milton Santos fala em "dissolução da metrópole", querendo dizer que esta, no presente momento técnico, acaba estando em todos os lugares, pela difusão de seu tempo a todos os lugares: "...o tempo que estão em todos os lugares é o tempo da metrópole, que transmite a todo o território o tempo do Estado e o tempo das multinacionais e das grandes empresas" (SANTOS, 2005, p. 101). Quando Milton Santos analisa a tendência a desmetropolização, está se referindo ao cenário até os anos 1980. Um dado citado para reforçar essa possível tendência seria o crescimento da população das áreas metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo, que entre 1950 e 1980 cresceram quatro vezes. Já as outras regiões metropolitanas cresceram 4,96 vezes e as áreas não metropolitanas cresceram 4,26 vezes no mesmo período. Para efeito de comparação a população brasileira como um todo cresceu 4,28 vezes no período (SANTOS, 2005, p. 95). 4 A partir desses dados levantados por Milton Santos, vamos analisar o fenômeno até datas mais próximas, para averiguar se este continua ocorrendo. Na tabela abaixo temos a distribuição populacional por classes de tamanho de cidades, de 1940 a 2010. TABELA 6.1 - Percentual da população urbana segundo o tamanho das cidades, 1940-2010 Tamanho das cidades 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 Até 20.000 46,82 38,78 33,77 26,92 21,36 19,34 18,81 17,13 20 a 50.000 9,41 13,01 11,61 12,04 11,40 12,44 11,49 11,83 50 a 100.000 7,65 8,86 9,57 7,80 10,50 10,23 10,57 9,93 100 a 500.000 14,55 13,43 16,06 19,59 21,92 24,43 26,11 27,34 > 500.000 21,57 25,92 29,00 33,65 34,83 33,55 33,01 33,78 > 100.000 36,12 39,36 45,05 53,24 56,75 57,98 59,12 61,12 Total População urbana 12.878.647 18.775.779 31.867.324 52.097.260 80.437.327 110.990.990 137.953.959 160.925.792 Fonte: BRITO e PINHO, 2012, p. 10, com dados FIBGE, Censos Demográficos 1940-2010. Nessa tabela podemos observar a concentração da população urbana nas cidades com mais de 100.000 habitantes, sobretudo a partir dos anos 1970, quando se acelera o processo de urbanização brasileiro. Para 1970 vemos que 53,24% da população urbana se encontra em municípios com mais de 100.000 habitantes, sendo que quase 34% estão em municípios maiores do que 500.000 habitantes. Vemos também que nas cidades entre 100 e 500.000 habitantes temos um aumento contínuo, passando de 19,59% em 1970 para 27,34% em 2010. Já na tabela 6.2 vemos a contribuição de cada grupo de cidades (considerando os grupos de tamanho) para o acréscimo populacional que ocorreu no período de 5 1940 a 2010. Por essa tabela vemos então, a quantidade de acréscimo populacional de cada grupo de cidades, podendo mensurar-se qual grupo contribuiu com qual percentagem Tabela 6.2 - Contribuição dos residentes por tamanho de cidade para o incremento da população urbana total, 1940- 2010 1940/1950 1950/1960 1960/1970 1970/1980 1980/1991 1991/2000 2000/2010 Até 20.000 21,23 26,58 16,13 11,13 14,05 16,63 6,98 20 a 50.000 20,85 9,61 12,72 10,21 15,19 7,59 13,89 50 a 100.000 11,48 10,59 5,01 15,46 9,53 11,98 6,03 100 a 500.000 10,99 19,82 25,16 26,19 31,04 33,05 34,69 > 500.000 35,44 33,40 40,97 37,02 30,19 30,75 38,41 TOTAL 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 >100.000 46,44 53,22 66,14 63,21 61,23 63,80 73,10 Fonte: BRITO e PINHO, 2012, p. 10, com dados FIBGE, Censos Demográficos 1940-2010. Para entender essa tabela consideremos, por exemplo, o acréscimo populacional urbano entre 1940 e 1950. Se consultarmos a tabela 6.1, vemos que a população urbana em 1940 era de 12.878.647 habitantes, passando para 18.775.779 em 1950. Portanto houve um acréscimo urbano de 5.897.132 habitantes urbanos. O que a tabela expressa, é a percentagem que cada categoria de tamanho de cidade contribuiu para esse acréscimo. No caso que estamos analisando, a população das cidades de mais de 500.000 habitantes contribuíram com 35,44%, ou seja, com 2.089.943 habitantes e assim sucessivamente. Já a linha das cidades com mais de 100.000 habitantes (>100.000) é o resultado do somatório das categorias de 100 a 500.000 habitantese aquelas com mais de 500.000 habitantes (>500.000). Com ela percebemos o grande crescimento das cidades com mais de 100.000 habitantes, contribuindo com mais de 60% desde a década de 1970 e chegando entre 2000 e 2010 a 73,10%. "Uma conclusão preliminar é que o acelerado 6 processo de urbanização no Brasil, fortemente alimentado pela maciça migração ruralurbana, tem sido, desde o seu início, não só acelerado, mas concentrador da população em cidades maiores do que 500.000 habitantes, com uma relativa tendência recente favorável às cidades médias, ou seja, aquelas entre 100 e 500.000" (BRITO e PINHO, 2012, p. 11). Gráfico 6.1 - Contribuição dos residentes por tamanho de cidade para o incremento da população urbana total, 1940-2010 0 10 20 30 40 50 1940/50 1950/60 1960/70 1970/80 1980/91 1991/00 2000/10 Períodos P er ce n tu al Até 20.000 hab. 20 a 50.000 hab. 50 a 100.000 hab. 100 a 500.000 hab. > 500.000 hab. Fonte: Realizado com dados da tabela 6.2. Pelo gráfico 6.1 podemos perceber a participação crescente das cidades de 100 a 500.000 habitantes, indicando o crescimento das chamadas "cidades médias". Vemos também uma certa estabilização da participação das cidades com mais de 500.000 habitantes, ou seja, das cidades maiores e das metrópoles. Isto reforça a tendência que estamos analisando, de um fortalecimento das cidades médias, que analisaremos a seguir. Questão 1 (atende ao objetivo 1) Destacar os dados demográficos que corroborem o processo de desmetropolização, conforme definido por Milton Santos. 7 __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ Resposta Comentada Os dados apresentados do período de 1940 a 2010 mostram um crescimento continuado do crescimento das grandes cidades, sobretudo a partir dos anos 1970. Nos períodos mais recentes há uma tendência à estabilização no crescimento das metrópoles e uma tendência constante do crescimento das cidades intermediárias (ou médias) na faixa entre 100.000 e 500.000 habitantes. Fim da resposta comentada 2. O ESTUDO DAS CIDADES MÉDIAS Iniciamos a discussão sobre as cidades médias partindo de uma definição ampla. Para alguns autores considerando a perda da centralidade da indústria, tem-se uma tendência a urbanização com concentração da população em um número reduzido de cidades. Nesse contexto as metrópoles seguem tendo importância, "...mas aumenta a relevância de um grupo de cidades de médio porte na rede urbana, algumas das quais se tornaram centros regionais e articuladores do território. Estamos chamando esse grupo de “cidades médias não- metropolitanas”, as cidades com população superior a 100 mil habitantes que não sejam capitais estaduais ou localizadas em regiões metropolitanas (SANTOS, 2013, p. 138, grifo nosso). 8 Essa é uma definição que engloba todas as cidades médias existentes, bem como algumas metrópoles, tendo em vista a determinação de regiões metropolitanas vista na aula 4 (A dinâmica das regiões metropolitanas no Brasil). Porém. como já visto também na aula 5 (A rede urbana brasileira) há que considerar também as funções desempenhadas pelas cidades dentro da rede urbana brasileira. Historicamente essa preocupação com as cidades médias vem da década de 1970. Como visto na aula 3, foi nesse período que foram criadas as primeiras regiões metropolitanas. Já nesse período surge um "Programa de Cidades de Porte Médio", determinando a partir do governo federal uma planificação que, além do tamanho populacional também considerava a centralidade, a hierarquia urbana, a extensão física, as características funcionais e econômicas (BRANCO, 2006, p. 246). A discussão das cidades médias, abandonada em anos posteriores com a substituição de um planejamento territorial por um planejamento setorial, é retomada com o processo de globalização, pois as novas dinâmicas produtivas determinadas pela abertura de economia e a inserção em uma sociedade em rede, ressaltaram a importância do território e da urbanização e portanto, das cidades médias (BRANCO, 2006, p. 246). Com o processo de globalização, três novas funções são exercidas pelas cidades médias: a de articuladoras privilegiadas nos eixos ou corredores de desenvolvimento, a de participarem nos sistemas de redes regionais ou nacionais e de serem um fator de localização para tecnopólos (BRANCO, 2006, p. 247). Isto tudo porque a partir do desenvolvimento de novas tecnologias da informação, não há mais necessidade das atividades econômicas se localizarem apenas nas grandes metrópoles, aumentando a importância das cidades médias. 9 Sanfeliu e Torné (2004) mostram como no período atual se simplificam os níveis da hierarquia urbana. De uma estrutura vigente nos anos 1950 e 1960, em que haviam metrópoles mundiais, metrópoles nacionais, metrópoles regionais, cidades grandes, cidades médias, cidades pequenas e centro rurais, passou a uma tendência simplificada, em que há apenas metrópoles mundiais, metrópoles nacionais, uma rede urbana (regional e nacional) e o território urbanizado inter- reticular, ou seja, em uma estrutura de rede. 2.1 As Cidades Médias Brasileiras Para demonstrar uma possível organização das cidades médias brasileiras utilizaremos o estudo de Branco (2006), pesquisadora do IBGE. Para a autora, as seguintes características são definidoras de cidades médias: • o tamanho populacional - deve ser considerado, porém sem ser o elemento definidor da cidade média; o tamanho econômico - indica a dinâmica econômica da cidade que é responsável pela existência de infra-estrutura que gere o poder de atração locacional e o papel de intermediação das cidades médias; • o grau de urbanização - é importante pois as funções de articulador do sistema urbano e de centro de atividades produtivas e de serviços são características tipicamente urbanas; • a centralidade - é fundamental, pois nela se apoia seu poder de articulação entre centros de diferentes níveis, para o fornecimento de bens e serviços para sua área de influência e como nó de diferentes tipos de redes ; • a qualidade de vida - aspecto relevante por considerar a oferta de infra- estrutura urbana, segurança, facilidade de deslocamento, constituindo, portanto, um fator de atração locacional. 10 Em relação ao tamanho populacional tem-se várias classificações de diversos autores e trabalhos que variam entre 50 e 500.000 habitantes na caracterização das cidades médias. No trabalho que estamos considerando, Branco (2006) considerou como cidades médias aquelas cidades entre um mínimo de 100.000 e um máximo de 350.000 habitantes. É claro que somente o tamanho não pode ser (e não foi) o único critério adotado, pois em caso contrário muitas cidades pertencentes a regiões metropolitanas seriam assim indicadas. Como se sabe, nesse caso a dinâmica metropolitana se sobrepõe, portanto essas cidades "...não constituem cidades médias no sentido funcional" (BRANCO, 2006, p. 251). Portanto foram excluídas as cidades pertencentes a Regiões Metropolitanas, a Regiões Integradas de Desenvolvimento e às Áreas de Concentração de População. Boxe Multimídia As Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDEs) já foram abordadas na aula 3. Tem como principal diferença em relação às Regiões Metropolitanas o fato de conterem municípios de Estados da Federação distintos. Para maiores detalhes acesse a página do Ministérioda Integração Nacional sobre o assunto: http://www.mi.gov.br/regioes_integradas_rides Fim do Boxe 11 Boxe explicativo As áreas de Concentração de População são aquelas definidas como as principais áreas urbanas do pais: Manaus, Belém, São Luis, Teresina, Fortaleza, Juazeiro do Norte, Natal, João Pessoa, Campina Grande, Recife, Maceió, Aracaju, Salvador, Feira de Santana, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Ipatinga, Uberlândia, Vitória, Rio de Janeiro, Campos dos Goytacazes, Volta Redonda, São Paulo, Campinas, São José dos Campos, Sorocaba, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Curitiba, Londrina, Maringá, Florianópolis, Joinville, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Goiânia e Brasília (BRANCO, 2006, p. 252). Fim do Boxe Para a identificação das cidades médias brasileiras através dos critérios apresentados, Branco (2006, p. 252) utilizou as seguintes etapas: 1. Seleção do universo de centros urbanos que atendiam aos critérios de tamanho populacional e centralidade definidos. Foram identificadas 66 cidades, "cuja distribuição espacial reflete a configuração territorial da distribuição da população e da rede urbana brasileira: esparsos nas Regiões Norte e Centro-Oeste, pouco mais densos no Nordeste e densos no Sudeste e no Sul" (ver quadro 6.1). 2. Em uma segunda etapa foi mensurada a presença de linhas aéreas regulares, utilizando o princípio de que esse parâmetro é necessário para a articulação da cidade média com os níveis superiores da hierarquia urbana (BRANCO, 2006, p. 252-255). Com isso da contagem inicial sobraram 39 centros urbanos: três na região Norte, três na região Centro-Oeste, sete na região Nordeste, dez na região Sul e dezesseis na região Sudeste (ver figura 6.1). 12 Quadro 6.1 - Municípios selecionados pelo tamanho populacional Fonte: BRANCO (2006, p. 253). 13 Figura 6.1 - Cidades médias brasileiras selecionadas após a 2. etapa Fonte: BRANCO, 2006, p. 255. 6.3 Tipologia das cidades médias brasileiras Após essa classificação foi realizada uma terceira etapa, com o objetivo de classificar esses 39 centros urbanos, realizando então uma tipologia em duas etapas. Na primeira foram definidos os indicadores para cada uma das dimensões estabelecidas: A primeira contemplou a definição dos indicadores para cada uma das dimensões estabelecidas: o tamanho populacional e econômico está representado pela população total e urbana, unidades locais de empresas, população economicamente ativa, agências bancárias e pessoal ocupado total e assalariado; o nível de urbanização foi definido pela taxa de urbanização e número de domicílios total e urbanos; a centralidade interurbana está contemplada em dois aspectos: as ligações por fluxos de bens e serviços e por fluxos aéreos; a qualidade de vida urbana está dimensionada pelo total de domicílios ligados à rede geral de água e à rede geral de esgotos. Na segunda fase, como critério para a 14 tipologia, foi utilizado o valor da mediana dos 66 centros selecionados inicialmente, para cada um dos indicadores, (...), considerando que esta medida tem a vantagem de não ser afetada por valores extremos. Assim, com base na mediana, estabeleceu-se uma tipologia, identificando-se quatro tipos: o primeiro referente às cidades que apresentaram valores iguais ou superiores à mediana em todos os indicadores; o segundo, onde os centros apresentaram valores superiores à mediana em pelo menos sete dos indicadores selecionados; o terceiro, onde os centros apresentaram valores superiores a mediana em pelo menos um dos indicadores selecionados; e o quarto, onde todos os valores ficaram abaixo da mediana (BRANCO, 2006, p. 256). Boxe explicativo O termo “mediana” refere-se a “meio”. Dado um conjunto de informações numéricas, o valor central corresponde à mediana desse conjunto. Dessa forma, é importante que esses valores sejam colocados em ordem, seja crescente ou decrescente. Se houver uma quantidade ímpar de valores numéricos, a mediana será o valor central do conjunto numérico. Se a quantidade de valores for um número par, devemos fazer uma média aritmética dos dois números centrais, e esse resultado será o valor da mediana (Fonte: BRASILESCOLA, 2015). Exemplo: Digamos seis cidades tenham as seguintes populações: 1) 130.000 habitantes; 2) 150.000 habitantes; 3) 200.000 habitantes; 4) 350.000 habitantes; 5) 100.000 habitantes e 6) 200.000 habitantes. Colocando esses valores em ordem temos: 100.000; 130.000; 150.000; 200.000; 200.000 e 350.000. Os valores do "meio", são 150.000 e 200.000. Calculando a média aritmética temos que a mediana será 150.000+200.000/2= 175.000 habitantes, que será então a mediana. Fim do boxe As medianas utilizadas estão na tabela 6.3 abaixo. Com base nos critérios enunciados, a pesquisa chegou em uma tipologia separando as cidades em incipientes, baixas, médias e completas, de acordo com os critérios já detalhados na citação acima. Os indicadores aparecem tabulados na tabela 6.5 e representados na figura 6.2. 15 Tabela 6.3 - Valor da mediana dos centros selecionados Informação selecionada Mediana População urbana 151.141 População total 166.484 Taxa de Urbanização 94,20 Domicílios urbanos 38.720 Total de Domicílios 43.440 Domicílios ligados à rede geral de água 37.289 Domicílios ligados à rede geral de esgoto 25.813 População Economicamente Ativa 77.485 Número de Unidades Locais de Empresa 6.146 Pessoal Ocupado Total 33.385 Pessoal Ocupado Assalariado 25.928 Número de Agências Bancárias 9 Fonte: BRANCO, 2006, p. 256. 16 Figura 6.2 - Tipologia de Cidades Médias no Brasil Fonte: BRANCO, 2006, p. 257. Com base na classificação apresentada as cidades podem ser apresentadas de acordo com seu tamanho populacional e a área de influência, conforme figura 6.2. A análise apresentada visa demonstrar como se deve fazer uma classificação, no caso de cidades médias e como esta depende dos critérios (indicadores) adotados. As cidades na categoria analisada têm aumentado de censo a censo, seja em população total, seja em população urbana. Também devemos destacar que qualquer classificação vai variar de acordo com os critérios que forem utilizados em sua realização. No caso dessa classificação, mudando os critérios, mudaria a classificação encontrada. 17 Pelo critério de classificação adotado, alguns estados não possuíram nenhuma cidade média, caso dos Estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo e Mato Grosso. Isso pode ter como causa uma estrutura primaz, de prevalência apenas da capital do estado como referencial dentro da hierarquia urbana. A distribuição das cidades médias ficou da seguinte maneira: Tabela 6.4 - Distribuição das cidades médias por Região e Estado Região Sudeste São Paulo 6 Rio de Janeiro 3 Minas Gerais 7 Região Sul Paraná 3 Santa Catarina 1 Rio Grande do Sul 6 Região Nordeste Bahia 2 Maranhão 1 Pernambuco 1 Rio Grande do Norte 1 Ceará 1 Piauí 1 Região Centro-Oeste Goiás 2 Mato Grosso do Sul 1 Tocantins 1 Região Norte Pará 2 TOTAL 39 Fonte: elaboração própria com dados da pesquisa de Branco (2006). Em relação ao Estado do Rio de Janeiro, três cidades médias foram identificadas como cidades médias: Angra dos Reis, Cabo Frio e Macaé. As duas primeiras no terceiro tipo e Macaé no quarto tipo: Macaé, centro urbano com 126.007 habitantes e PIB municipal de R$ 9 bilhões, o mais elevado do conjunto de cidades selecionadas, graças à extração de petróleo, compreende apenas um total de seis centros em sua área de influência imediata, com 107.327 habitantes, enquanto que o alcance máximo de suas funções centrais chega a 10 municípios fluminenses. (...) Angra dos Reis, compreendendo um totalde 114.300 habitantes urbanos e PIB municipal de R$ 2 bilhões, atende apenas três centros em sua área de influência imediata, num total de 45.542 habitantes, e área de mercado constituída por quatro cidades fluminenses. 18 (...) Cabo Frio, cidade com população de 106.237 habitantes e PIB municipal de R$ 3 bilhões e meio, abrange apenas quatro centros em sua área de influência imediata, perfazendo 201.528 habitantes, e uma área de mercado formada por cinco municípios fluminenses (BRANCO, 2006, p. 266-267). No caso de Campos dos Goytacazes, a maior cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro, ela não aparece como cidade média por se constituir em uma das 40 Áreas de Concentração de População (ACP) brasileiras (conforme visto na aula 5). Por outro critério, o da população, ela também não apareceria, por contar com população total de 463.731 pessoas (censo de 2010). Figura 6.3 - Cidades Médias Brasileiras - Tamanho populacional e Área de Influência Fonte: BRANCO, 2006, p. 262. 19 Tabela 6.5 - Cidades médias brasileiras - indicadores analisados e tipologia Fonte: BRANCO, 2006, p. 275-276 20 Esta tipologia apresentada representa um grande esforço de sistematização utilizando critérios definidos para a classificação de toda a rede urbana brasileira. Com isso foi conseguido uma tipologia representativa, que pode ser alterada, se os indicadores mudarem e a dinâmica da rede urbana também. Conclusão A expansão continuada da urbanização tem levado a situações em que a grande concentração urbana nas grandes metrópoles tem diminuído. Isso se deve a um possível processo de desmetropolização ou involução metropolitana. Na verdade as grandes cidades continuam responsáveis por grande parte da população brasileira, porém há uma expansão das cidades intermediárias, ou médias. Isso devido ao processo de globalização, que elimina níveis hierárquicos, realizando uma integração do território em rede. Atividade Final (atende aos objetivos 1 e 2) O que são cidades médias? Que relações podemos estabelecer entre elas e a involução metropolitana? E com o processo de globalização? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 21 __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ Resposta comentada Cidades médias são também chamadas de intermediárias, estabelecendo a ligação entre as metrópoles e as cidades menores. Devido ao processo de globalização e à criação de meios de comunicação mais eficientes, muitas atividades econômicas se deslocaram para as cidades médias. De outro modo esse processo também diminuiu o número de níveis hierárquicos, favorecendo a desmetropolização e o aumento de importância das cidades médias. Fim da resposta comentada Referências Bibliográficas BRANCO, Maria Luisa Castello. Cidades Médias no Brasil. In: SPÓSITO, Eliseu Savério. Cidades Médias: Produção do Espaço Urbano e Regional. São Paulo: Expressão Popular, 2006. p. 245-277. BRASILESCOLA. Mediana. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/matematica/mediana.htm>. Acesso em: 27 jul. 2015. BRITO, Fausto; PINHO, Breno Aloísio T. Duarte de. A Dinâmica do Processo de Urbanização no Brasil, 1940-2010. Belo Horizonte : UFMG/CEDEPLAR, 2012. (Texto para discussão, 464). Disponível em: <http://cedeplar.ufmg.br/pesquisas/td/TD%20464.pdf>. Acesso em 24 jul. 2015. 22 SANFELIU, Carmen Bellet; TORNÉ, Josep Maria Llop. Miradas a Otros Espacios Urbanos: Las Ciudades Intermedias. Scripta Nova: Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Barcelona, Vol. VIII, núm. 165, 2004, Disponível em: <http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-165.htm>. Acesso em 26 jul. 2015. SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Edusp, 2005. 5. ed. (original de 1993). ________. Por uma economia política da cidade: o caso de São Paulo. São Paulo: EDUSP, 2009. 2. ed. (original de 1994). SANTOS, Angela Moulin S. Penalva. Política Urbana: a importância de focalizar as cidades médias. Revista de Direito da Cidade. vol.05, n. 02, 2013, p. 137-152. Disponível em: <http://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/rdc/article/view/9741/7639>. Acesso em 26 jul. 2015.
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