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Visão sistêmica no trabalho e em organizações Qual seria um bom lugar para mim nessa organização? Porque será que sempre assumo a responsabilidade de algo que não me pertence? Como poderemos fazer para que esse projeto de mudanças possa funcionar sem problemas? Qual é a descrição de função que mais combina com o novo gerente? Qual é a melhor posição para mim em uma organização como consultor? Qual será a reação do mercado em relação a um novo produto? Essas são umas das mais de mil perguntas sobre trabalho e organizações que foram feitas por pessoas que participaram de constelações organizacionais. Nesse livro você encontrará opiniões, exemplos vindos da prática, experiências pessoais e um quadro teórico de cinco anos de trabalho com o pensamento sistêmico a respeito das perguntas mais frequentes de organizações. O livro é lido como se fosse uma coleção de artigos. Leve, em contato com a realidade e apresenta momentos de reconhecimento para o leitor. Interessante e inspirador para quem trabalha dentro de organizações ou com organizações. Editora Atman Jan Jacob Stam (1954) teve o seu primeiro contato com constelações familiares como consultor organizacional em 1996. Imediatamente começou a desenvolver a ideia de que esse método poderia também ser usado em questões organizacionais. Ele estudou na Alemanha e fundou em 2000, juntamente com sua esposa, Bibi Schreuder, o Instituto Holandês Bert Hellinger e depois de dois anos fundou a Editora Het Noordelicht. Jan Jacob está constan- temente explorando novos caminhos no aprofundamento das inúmeras possibilidades do trabalho sistêmico. "O que eu encontro lá me dá novas visões sobre sistemas, organizações e sobre a sociedade. Mas eu me sinto modesto a respeito disso. As novas visões eu divido com as outras pessoas, em Workshops, em cursos e através desse livro". JAN JACOB STAM A alma do negócio As Constelações Organizacionais na prática Tradução Pollyane Wiesener Décio Fábio de Oliveira Jr Revisão Wilma Costa Gonçalves Oliveira 2006 Título do original holandês: Het Verbindende Veld Organisatieopstellingen in de prasktijk Uitgeverij Het Noorderlicht Groningen - Nederland Copyright 2004 by Uitgeverij Het Noorderlicht - todos os direitos reservados ISBN 90-77290-02-8 Todos os direitos para a língua portuguesa reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio (eletrônico, mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados) sem permissão escrita do detentor do “Copyright”, exceto no caso de textos curtos para fins de citação ou crítica literária. 1a Edição - junho 2006 ISBN 85-98540-08-0 Direitos de tradução para a língua portuguesa adquiridos com exclusividade pela: EDITORA ATMAN Ltda. Caixa Postal 2004 - 38700-973 - Patos de Minas - MG - Brasil Telefax: (34) 3821-9999 - http://www.atmaneditora.com.br editora@atmaneditora.com.br que se reserva a propriedade literária desta tradução. Capa: Alessandra Duarte Diagramação: Virtual Diagramação Revisão ortográfica: Elvira Nícia Viveiros Montenegro Coordenação editorial Wilma Costa Gonçalves Oliveira Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme o decreto no 10.994, de 14 de dezembro de 2004. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S783a Stam, Jan Jacob. A alma do negócio: as constelações organizacionais na prática / Jan Jacob Stam; tradução de Pollyane Wiesener e Décio Fábio de Oliveira Jr. - Patos de Minas: Atman, 2006. p.200. ISBN 85-98540-08-0 1. Sistemas organizacionais. 2. Comportamento organizacional. 3- Dinâmica organizacional. I. Wiesener, Pollyane (trad.). I. Título. CDD: 658.314 5 Pedidos: www.atmaneditora.com.br Este livro foi impresso com: comercial@atmaneditora.com.br Capa: supremo LD 250 g/m2 (34) 3821-9999 Miolo: offset LD 75 g/m2 http://www.atmaneditora.com.br/ mailto:editora@atmaneditora.com.br http://www.atmaneditora.com.br/ mailto:comercial@atmaneditora.com.br SUMÁRIO PREFÁCIO À EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA 9 PREFÁCIO 11 1 BEM-VINDO AO SISTEMA CHAMADO "ORGANIZAÇÃO" 13 Um cartão rápido de referências sistêmicas UMA ORGANIZAÇÃO 15 • O QUE FAZ UMA ORGANIZAÇÃO SER SAUDÁVEL? 16 DINÂMICAS 21 • TRIANGULANDO 22 • AGINDO COMO PAIS: INVERSÃO DA ORDEM 24 IDENTIFICAÇÃO COM O OBJETIVO 27 • OLHAR ALGO QUE O OUTRO NÃO CONSEGUE OLHAR 28 TENTAR RESOLVER ALGO QUE NÃO FOI RESOLVIDO EM UM OUTRO NÍVEL 29 EU SIGO VOCÊ 30 • POSIÇÕES QUE NÃO EXISTEM 32 • O ESCRIVÃO MUNICIPAL 34 LUGARES SOBRECARREGADOS 39 • RECONHECER O QUE ESTÁ ACONTECENDO 41 2 NOVA ECONOMIA 43 Dinheiro e vendas dentro da visão sistêmica NOVOS VALORES 43 • EQUILÍBRIO ENTRE DAR E RECEBER 44 • DÍVIDA E SENTIMENTO DE CULPA 47 VINGAR-SE COM AFEIÇÃO 49 • LIBERDADE, DEPENDÊNCIA E DIGNIDADE 50 INTERESSES PESSOAIS E INTERESSES DA EMPRESA 52 "SE VOCÊ AMA ALGUÉM, LIBERTE-O." (Sting) 52 • CRESCIMENTO E LUCRO 53 SUBSÍDIO 54 • PAGAMENTO DE SUBSÍDIO MENSAL 56 • UMA PANCADA 57 3 ONDE ESTÁ O CHEFE? 59 Sobre liderança O PRIMEIRO LUGAR 59 • TRÊS PRINCÍPIOS DA LIDERANÇA 60 • ORDENAÇÃO 61 • LIDERARA PARTIR DA PRIMEIRA OU DA ÚLTIMA POSIÇÃO 63 • EQUIPES AUTÔNOMAS 64 • ONDE ESTÁ O CHEFE, NA REALIDADE? 65 • QUAL É A DISTÂNCIA E ALTURA EM QUE O CHEFE SE ENCONTRA? 67 O SALVADOR: COMO VOCÊ SE DESFAZ DESSA MEDALHA? 69 • LIDERANÇA E TRABALHO EM "REDES" 70 4 VIVER EM UAAA EMPRESA FAMILIAR 77 PROPRIEDADE PÚBLICA 86 5 MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO 89 "Não mude aquilo que está funcionando." (Gunthard Weber) TRÊS PONTOS DE ATENÇÃO EM UMA MUDANÇA ORGANIZACIONAL 96 MUDANÇAS EM CONTATO COM A REALIDADE 98 • COMO NOS LIVRAREMOS DAQUELE MALDITO OBJETIVO! 100 FORTES IDEAIS, ÀS VEZES, EXCLUEM COISAS IMPORTANTES 1 02 ORGENOGRAMA 103 • CONVERSA SISTÊMICA SOBRE O FUNCIONAMENTO 106 6 O DESEJO DE ALCANÇAR UM OBJETIVO QUE NA REALIDADE NÃO PODE SER ALCANÇADO 109 A influência da história familiar no ambiente de trabalho O IRMÃO GÊMEO QUE FALECEU 111 FILHINHADO PAPAI, FILHINHA DA MAMÃE, FILHINHO DO PAPAI E FILHINHO DA MAMÃE 113 O CHEFE OCULTO 116- CARREGAR O FARDO DE OUTRA PESSOA 1 1 7 IMAGEM DUPLA 119 • ESPECTADOR OCULTO 122 • CRISES DE MEIA-IDADE NO TRABALHO 123 A QUEM VOCÊ HONRA FAZENDO UMA COISA ASSIM? 1 26 7 O QUE SÃO REALMENTE ESSAS TAIS CONSTELAÇÕES? 129 Sobre o método da constelação sistêmica O QUE PODEMOS OBTER DE UMA CONSTELAÇÃO ORGANIZACIONAL? 1 36 UMA CONSTELAÇÃO PODE SER USADA PARA QUALQUER COISA? 139 8 VOCÊ PODE ENVIAR O SEU CURRICULUM VITAE? 141 O que dá força para alguém no seu trabalho? SELEÇÃO ADMISSIONAL 143 • TRABALHO DE INFORMAÇÕES 145 • ORDENAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS DE TRABALHOS ANTIGOS 147 • REALIZAR O SONHO DE OUTRA PESSOA 150 • TOMADO A SERVIÇO 152 9 PRODUTOS SÃO COMO PESSOAS 157 Como fazer com que um novo produto, conceito ou atitude tenha sucesso? AUMENTOS PARA BEBÊS 158 • O QUE ACONTECE DO IADO DE DENTRO SE REPETE DO LADO DE FORA 161 OS PROPRIETÁRIOS OCULTOS 161 • ESCOLHER ENTRE DOIS MERCADOS 162 O TÍTULO 165 • OS EFEITOS DE UMA CONSTELAÇÃO DE MARCAS 168 10 DIAGNÓSTICO SISTÊMICO: QUANDO AS ORGANIZAÇÕES FUNCIONAM BEM? 175 HIERARQUIA: UM LUGAR ADEQUADO PARA TODOS 177 • EQUILÍBRIO ENTRE DAR E RECEBER 1 80 • TODOS TÊM O MESMO DIREITO A UM LUGAR: UM MONUMENTO PARA O FUNDADOR, UM MONUMENTO PARA SI MESMO 1 83 PREFÁCIO à edição em língua portuguesa Alguns meses atrás o diretor e a enfermeira-chefe de uma clínica de repouso me solicitaram uma constelação. A clínica estava com problemas, o número de clientes decrescia e a situação financeira parecia desesperada. Após uma constelação muito tocante o diretor e a enfermeira-chefe se sentiram cheios de força e fé. Apesar disso, a situação ficou ainda pior. O diretor e a enfermeira olharam um para o outro e disseram: "Nós devemos fechar nossa clínica ou manter a fé e a confiança?" Eles mantiveram a fé e a confiança e um mês depois conseguiram um empréstimo inesperado, o número de clientes aumentou e desde entãoa clínica tem estado cheia. O trabalho sistêmico e as constelações não são apenas um método para encontrar soluções para questões pessoais ou organizacionais. E sobre confiança, concordância com a realidade, reconciliação e crescimento. É sobre apoiar a vida e a sociedade e sobre uma vívida troca entre elas, mesmo se "crescer" signifique que uma organização tenha que fechar. Eu estou muito grato à Editora Atman por ter aceito o risco e ter tido a confiança de traduzir esse livro do holandês para o português. Dividir lucros é uma coisa fácil, confrontar o risco e uma possível perda de olhos bem abertos dá força às organizações. Que esse livro possa contribuir para você leitor como uma inspiração para o seu trabalho, seus negócios e suas organizações. Jan Jacob Stam PREFÁCIO Este livro apresenta uma visita sistêmica ao âmbito do trabalho, profissões e organizações. Ligados a um todo maior, cada um de nós vive e trabalha dentro de certas possibilidades e limitações. O conceito de "sistema" está ligado a mecanismos e dinâmicas que se desenvolvem, muitas vezes, inconscientemente dentro desse sistema, podendo, às vezes, tanto nos dar asas quanto nos paralisar. O filósofo e terapeuta alemão Bert Hellinger descobriu um método para tornar visíveis essas dinâmicas ocultas: o método da Constelação Sistêmica. Gunthard Weber, juntamente com muitos colegas, desenvolveu esse método para a área de trabalho, profissões e organizações. Essas constelações mostram algo essencial sobre os sistemas, onde o filtro da opinião e do julgamento não se aplica. Essa abordagem sistêmica está diretamente ligada à realidade observada e nos deu novas visões sobre como organizações e pessoas, dentro das organizações, podem encontrar soluções. O interesse pelas constelações organizacionais e pelas ideias sistêmicas cresce rapidamente, pois essas fornecem inúmeras novas informações sobre o que acontece em uma organização. Como consultor organizacional, tenho agora cinco anos de experiência com a abordagem sistêmica e com as constelações organizacionais. Este livro possui ideias, muitos exemplos práticos e algumas experiências próprias. Foi escrito como uma coleção de artigos e assim, também, deverá ser lido. A ordem da leitura não importa muito. Caso você não conheça o método das constelações organizacionais ou constelações sistêmicas pode começar pelo capítulo 7. Dê uma olhada. Talvez este livro prenda sua atenção em alguns lugares importantes e interessantes na paisagem da nossa vida profissional. Eu lhe desejo um bom passeio através dele. Abries, outubro de 2003. Jan Jacob Stam 1 BEM-VINDO AO SISTEMA CHAMADO “ORGANIZAÇÃO” Um cartão rápido de referências sistêmicas Quem sabe, daqui a alguns anos, no seu primeiro dia de trabalho em uma nova organização, ao lado do seu cartão de entrada você receberá também um mapa, um "orgenograma", uma lista de abreviações e também um cartão rápido de referências sistêmicas da empresa!! Então, você poderá, num piscar de olhos, ver quais são as dinâmicas mais importantes na empresa. Essas dinâmicas são os ventos invisíveis que sopram pela empresa afora, podendo causar tanto bem-estar aos funcionários como também desprazer, e isso sem que eles saibam ou desejem. O "orgenograma" seria um tipo de organograma da história da empresa. Se você estudasse esse "orgenograma" com o cartão rápido de referências, imediatamente tudo ficaria claro a respeito do lugar onde você espera trabalhar prazerosamente, nos próximos anos. O cartão mencionaria, por exemplo, as seguintes dinâmicas: • O fundador era um homem de ideais que queria fazer algo bom para muitas pessoas e fundou, para isso, uma sociedade. Depois de muitos anos ele deixou a empresa e começou outra. Todavia, ainda há muitos funcionários que são mais fiéis a ele do que à nova direção da empresa. • Muitos anos atrás a sociedade já havia mudado seus rumos. Ela se transformou em uma empresa dirigida por um grupo fechado, atingindo também outros mercados, mas um só membro da diretoria parece se identificar com o público originário de onde a organização, com o passar do tempo, afastou-se. • Mais adiante, o cartão rápido de referência sistêmico menciona que, na empresa, muitas pessoas são voltadas para o assistencialismo e se distanciaram das atividades contratuais, as quais são pagas justamente pela empresa. • Na gerência da seção técnica existem lugares que estão sobrecarregados e que são mencionados com uma cruzinha preta no cartão. • Depois da reorganização, ocorrida há seis anos, muitas pessoas não acharam um lugar no sistema (e, nesse momento, um deles está procurando emprego). • O diretor geral se sente mais ligado à equipe de cúpula da organização do que à própria empresa. • Os departamentos de construção possuem uma força extraordinária. O seu intercâmbio sistêmico cresce permanentemente tanto entre os departamentos como dentro do mercado. Nós lhe desejamos um tempo de muito prazer, com um ótimo desenvolvimento do equilíbrio entre o dar e o receber. Faça um bom uso desse equilíbrio. Bem-vindo ao mundo do pensamento sistêmico! UMA ORGANIZAÇÃO O que é na verdade uma organização, a partir da perspectiva sistêmica como foi originalmente observado por Bert Hellinger em sistemas familiares? Uma organização pode existir há centenas de anos. Pode não existir mais ninguém do tempo de sua fundação, mas mesmo assim a organização de um modo geral permaneceu a mesma. Por um determinado tempo, um trabalhador está ligado a uma organização, completa suas tarefas que estão em andamento, aprimora-se e depois de um tempo se des- pede. O lugar desse trabalhador na organização estará disponível para que outra pessoa possa ocupá-lo por um mais um tempo. Em uma organização as pessoas funcionam como representantes na constelação de um sistema. Elas tomam suas posições e nessa posição reina um sistema dinâmico que, acima de tudo, traz também junto de si a dinâmica pes- soal. Depois vão embora, e o lugar no sistema permanece. Esse lugar no sistema dá àquele que o ocupa um tipo de liberdade de movimento. Oferece possibilidades e limitações pertencentes a um todo maior. A partir desse ponto de vista, uma organização é mais complicada de se criar do que pensamos ou queremos. O QUE FAZ UMA ORGANIZAÇÃO SER SAUDÁVEL? Quais são as condições nas quais uma organização é saudável? Saudável aqui quer dizer que os trabalhadores se sentem bem no seu trabalho e podem fazê-lo bem, que a orga- nização preenche o seu objetivo na sociedade e que há também uma troca dinâmica dentro da organização e com o mundo lá fora. Resumindo, um lugar onde você gostaria de trabalhar. Como sistema, uma organização existe a partir de várias partes: das pessoas que lá trabalham, dos clientes, dos produtos e serviços, do objetivo e de muitos outros elementos. O sistema como um todo tem mais outras características que ultrapassam aquelas que resultam da simples soma das suas partes e parece, por isso, com um tipo de organismo vivo. Uma pessoa como um todo possui, por exemplo, outras características além daquelas de todos os seus órgãos juntos. O sistema de uma organização tem suas próprias dinâmicas, e essas não têm nada a ver com as pessoas que atualmente pertencem a ele. Nas dinâmicas, o mais importante é o que está acontecendo entre os elementos desse sistema e como é a relação deles entre si. Elas influenciam o comportamento e sentimento das pessoas no sistema e, infelizmente, não são diretamente perceptíveis, já que atuam inconscientemente. Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Entretanto, os efeitos das dinâmicas sistêmicas são visíveis. Os efeitos positivos são experimentados pelas pessoas da organização como: "Eu estou bem aqui no meu lugar. Nós somos uma organização viva e vigorosa. Podemos reagir bem às mudanças, somos determinados e estamos em contato com o mundo ao nosso redor." Os efeitos negativos das dinâmicas sistêmicas são experimentadoscomo problemas dentro da organização: "Não estamos progredindo, temos problemas internos de comunicação, até parece que não podemos dar certo! Sabemos que somos capazes, mas agimos aquém de nosso potencial etc." Na realidade, esses problemas não são realmente o problema, e sim a reação do sistema a determinadas dinâmicas. Com esse enfoque em mente, olhamos então de uma maneira diferente para isso: o que atua por detrás, no contexto desse sistema, que causa aquilo que as pessoas experimentam como sendo "o problema"? Um sistema pode funcionar saudavelmente se os princípios básicos relacionados abaixo forem seguidos: - Cada pessoa tem igual direito a um lugar. - Há uma ordem correta de posições. - Há um equilíbrio entre dar e receber nas relações de troca. Numa organização saudável, todas as pessoas que lá trabalham são consideradas. Isso não é válido somente para as pessoas que estão trabalhando, mas também para aqueles que foram importantes na história da organização. Por exemplo, são levados em conta os fundadores e outras pessoas que contribuíram para o crescimento e sobrevivência de todo o sistema. Na consciência do sistema eles têm um lugar próprio, sem que a organização fique apegada a eles. Na medida em que a organização estiver direcionada para o futuro, os fundadores estarão presentes por detrás como uma força de apoio. Numa empresa saudável, para cada trabalhador é válida a seguinte afirmação: "Ele tem independência para cumprir sua função no sistema, seja ele diretor ou um funcionário que trabalha no depósito. Cada posição, cada pessoa tem seu próprio lugar, é considerada e tem valor. De diferentes maneiras, mas sempre valorizada." Há uma ordem nas posições. Ela tem a ver com o objetivo da organização. Quem cria a estrutura onde todos podem atuar vem em primeiro lugar. Aquele que cria a estrutura onde os seguintes vão trabalhar vem em segundo lugar e assim sucessivamente. Dessa maneira, cada um tem sua própria posição de confiança, onde pode trabalhar bem. Por último, há um equilíbrio entre dar e receber. Cada pessoa oferece algo para a empresa e recebe algo de volta, numa troca constante que pode crescer permanentemente. Isso não é válido somente para as pessoas que lá trabalham, mas também para a organização como um todo. Há uma troca constante com os clientes, fornecedores e outros. Em uma empresa saudável, essa troca pode crescer continuamente e mudar ao longo do desenvolvimento da empresa. O crescimento pode ser um aumento na quantidade, mas também um aumento de Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce intensidade ou qualidade. Organizações que já existem há muito tempo, possuem, assim, um "peso". Não se trata de importância, mas valor, peso. Elas estão ligadas a muitas pessoas e suas famílias que deram o seu melhor para que a organização crescesse. O líder de tal organização possui também "peso". Uma organização assim atrai continuamente coisas novas, e a direção decide o que pode ser feito ou não e qual é o tempo certo para cada coisa. Pode ser também que o tempo para algo dentro de uma organização tenha acabado. Assim é bom que ela pare, resolva e crie um espaço para algo novo. Bert Hellinger observou que em sistemas trabalha uma força que vigia a existência contínua do sistema em seu todo. Ele chama isso de consciência coletiva. Aqui também é válido que o todo é mais do que o funcionamento da soma das partes desse todo. A consciência coletiva tenta restaurar as "batidas" e "amassados" que o sistema está sofrendo. Para que o todo possa continuar existindo, é preciso que algumas partes sejam sacrificadas, assim como um lagarto, quando é atacado, sacrifica sua calda para salvar a vida. A consciência coletiva não funciona através de decisões conscientes, a maior parte do trabalho funciona inconscientemente. Na tentativa de restauração, a organização, às vezes, cresce "torta" ou adquire todo tipo de cicatrizes. Essa força de restauração, essa dinâmica, começa o seu trabalho quando, por um motivo ou outro, as bases das condições de funcionamento do sistema, anteriormente menciona- das, não são respeitadas. A consciência coletiva parece não estar interessada nas razões pelas quais isso ocorre, ela somente reage a acontecimentos e fatos. O sistema não permite que algo ou alguém, que é essencial para a organização, seja excluído. Se, por exemplo, um diretor for despedido injustamente e sua participação na empresa for negada pelos seus sucessores ou se falarem dele como se fosse inferior, então é como se fosse recusado a esse diretor o direito ao seu lugar no sistema, e isso funciona como uma exclusão. Seu sucessor então, mais tarde, talvez, apresentará sentimentos que na ver- dade deveriam pertencer ao diretor e, assim como esse diretor, sentir que deve deixar a organização. Se um produto que faz uma organização ser grande for colocado de lado, então os outros produtos com certeza irão cair. Nisso não há nada moralista, o fato de que isso acontece frequentemente é apenas uma observação. Para o sistema, aquele que está em primeiro lugar tem prioridade sobre o que vem depois. Se aqueles que vêm depois podem levar isso em consideração, terão então um bom lugar. Dessa forma, haverá também espaço para algo novo. Isso significa que aqueles que vêm depois não precisam se envolver em determinadas situações que existiam antes. Em organizações isso funciona como uma hierarquia. Assim sendo, não pode funcionar bem uma equipe de subordinados que se sente melhor que seus superiores. Com a ajuda da constelação sistêmica, podemos ver que a consciência coletiva tenta restaurar o que está estragado. Isso acontece à custa de uma desvantagem para aqueles que Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce vêm depois. Por isso, existem tantos problemas nessa "segunda geração". Inconscientemente ela foi colocada a serviço para corrigir as injustiças ou para representar aqueles que foram anteriormente excluídos. Aqui, também, o julgamento de valores não se aplica. Alguém que se sente melhor que a diretoria faz sempre isso na tentativa de querer fazer algo bom que, na visão dele ou dela, é muito importante; na verdade, uma rebelião causada por amor. Entretanto, tais tentativas acabam falhando devido ao fato de terem como consequência que a pessoa para num lugar do sistema que lhe é inapropriado. O sistema não permite que a ordem seja perturbada. Finalmente, o sistema toma atitude caso haja alguma dívida a ser paga. Se a empresa, por exemplo, tornou-se rica à custa da saúde de outros, então se torna devedora desses. Depois haverá pessoas nesse sistema que sofrerão por causa da dívida antiga ou tentarão assumir essa dívida para que o equilíbrio entre o dar e o receber seja restaurado. Eles fazem isso sem que eles próprios saibam algo sobre a dívida e sem que estejam conscientes disso. Inconscientemente pagam até mesmo com a sua própria saúde e, dessa forma, são solidários com as vítimas de antes, que para eles são, na maioria das vezes, desconhecidas. DINÂMICAS Este capítulo fala a respeito de dinâmicas nos sistemas organizacionais. Veremos algumas dessas dinâmicas de tentativas de restaurar o equilíbrio e usaremos vários exemplos oriun- dos da prática. No próximo capítulo falaremos sobre aquilo que levamos para uma organização, a partir do nosso sistema familiar de origem. TRIANGULANDO Ana, no momento, trabalhava fazendo coaching com um funcionário de uma empresa. Depois de uma sessão de treinamento, que aconteceu dentro da empresa, encontrou o chefe do funcionário nos corredores, que perguntou se ela gostaria de entrar e conversar um pouco. Embora não achasse isso muito correto, decidiu mesmo assim aceitar o convite. O chefe perguntou se ela estava tendo algum progresso com o funcionário e se ele tinha potencial, porque afinal de contas preocupava-se com ele. Ana respondeu suas perguntas, mas, no caminho de volta para casa, nãose sentiu muito bem. Por que ela se deixou levar e respondeu tais perguntas? Havia um código do escritório de coaching onde trabalhava que dizia que, durante o período do treinamento, o treinador não deveria dar informações ao contratante a respeito do conteúdo de seu treinamento. Isso também era, desde o início, combinado claramente entre as partes. Novamente ela se encontrava em um campo de tensão entre duas pessoas. Não tinha e não queria ter nada a ver com o campo de tensão entre essas duas pessoas, mas isso acontecia frequentemente com ela: ser colocada entre dois partidos opostos. Essa dinâmica é chamada de triangulação. Triangulação é uma perturbação da ordem hierárquica. Uma pessoa é colocada em uma alta posição no sistema onde, na realidade, não deveria estar. Isso acontece frequentemente em situações de conflito onde essa pessoa é colocada no meio de duas Meu Notebook Realce outras ou grupos e acaba se fazendo de intermediária. Essa posição é tentadora, pois oferece status. Porém, com isso, torna-se rapidamente arrogante, e os outros dentro da organização olham para esse "intermediário" com desconfiança. Muitas vezes, em um treinamento, eu disse para alguém: "Acho que você está no lugar errado. Você deveria estar na equipe da gerência." Tais observações frequentemente têm uma função muito esclarecedora. Em princípio, funcionários não têm nada a ver com o que acontece com a diretoria. Conflitos têm que permanecer no mesmo nível onde se iniciam. Ser envolvido nisso como funcionário é um convite para entrar no problema. Triangulação é como uma sedução. Uma pessoa da gerência pergunta sua opinião sobre um problema que está acontecendo por lá e assim começa, inocentemente. Você já se sente um pouco lisonjeado, principalmente se perceber que a sua opinião tem valor. Mas chega um momento onde não se sente mais confortável com a situação: "Onde eu vim parar? Não sei se quero saber mais sobre esse assunto." Você tem um sentimento de que não deveria estar fazendo aquilo. Porém, não é mais tão fácil voltar atrás. Lentamente você é envolvido numa situação da qual, na realidade, não faz parte. Na triangulação, é embaraçoso para um gerente quando ele sabe muito a respeito do que está acontecendo no alto nível da organização, isso o enfraquece, ao invés de fortalecê-lo. A primeira vista, parece que saber das intimidades da equipe de superiores os torna mais humanos mas, na realidade, enfraquece a posição do gerente se ele não recusar o convite para se aprofundar ainda mais no caso. Pessoas que passaram por dinâmicas de triangulação dentro do seu sistema familiar são muito propensas a essa dinâmica. É possível acabar com a triangulação quando um funcionário diz: "Eu sou somente um funcionário" e o supervisor diz: "Você é um funcionário, eu sou o chefe e do meu lado estão os meus colegas de trabalho. O que está acontecendo entre nós pode ser resolvido por nós mesmos. Fique fora disso." Claro que essa frase não precisa ser dita em voz alta. Uma pessoa pode, internamente, voltar para a sua própria posição, e a outra pessoa inconscientemente percebe. Isso pode ser desfeito de diversas maneiras. Devolvemos assim a cada um sua dignidade, sua posição e sua força. AGINDO COMO PAIS: INVERSÃO DA ORDEM “Do chefe ninguém pode ganhar.” (Bert Hellinger) "Na verdade, sinto-me melhor que meu chefe. Estou acima dele. Sinto-me realmente melhor do que toda a diretoria. No fundo do meu coração, eu os desprezo um pouco pela maneira como dirigem essa empresa. Eu iria fazer diferente. Você quer ouvir como?" "Agir como pais", quer dizer que uma pessoa se sente superior a outra que está acima dela na ordem hierárquica. Com isso a ordem hierárquica é totalmente invertida. Agir como pais, dentro de uma organização, gera inquietude e perda de energia. A atenção do funcionário é mais direcionada para tentar manter sua posição do que para o seu trabalho. Se uma pessoa que Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce é observadora entra nessa organização pode perceber rapidamente quando essa dinâmica está fortemente presente ou não. Um profissional especializado pode se sentir melhor que o seu chefe, principalmente quando se trata do conteúdo técnico de sua profissão. O perigo é que ele venha a se sentir melhor que o seu chefe em tudo e também melhor que a gerência: claro que isso vai gerar problemas. Na procura por uma solução, a ordem terá que ser novamente restaurada. O chefe dirá para o funcionário: "Você é bom na sua profissão e eu o valorizo por isso." Se isso acontece de maneira sincera, então o funcionário pode dizer: "Você é o meu chefe e pode me ter na posição de seu funcionário." Em uma grande firma de energia havia um conflito constante entre os conselheiros internos da empresa e o gerente. Eles achavam que ele não gerenciava bem o departamento, que como gerente não executava as tarefas simples de organização, tais como uma agenda de compromissos gerenciais, e que ele não agia de boa vontade quanto ao resto da organização. O gerente me convidou para fazer um workshop de um dia com todos do departamento, para novamente tentar encontrar uma maneira de trabalhar em harmonia. Ficou muito claro para mim que a maioria dos funcionários desse departamento se sentia melhor que o seu gerente. Ele era um homem muito amável e possuía também qualidades comprovadamente suficientes como gerente. Escolhi a seguinte estratégia de trabalho: nós nos reuníamos para uma série de rodadas de conversas e cada um dos funcionários podia dizer aquilo que precisava para poder trabalhar bem. A formulação foi mantida de maneira muito estrita e tão logo alguém começava a falar que o gerente teria que fazer diferente e a reclamar sobre algo que não era bom na organização, eu o trazia novamente à pergunta inicial: "O que você precisa para fazer bem o seu trabalho?" E, assim, cada funcionário desse departamento pôde dizer aquilo de que precisava. Nem o gerente e nem ninguém podia dar a sua opinião sobre o que o outro estava falando, somente ouvir. Depois dessa rodada, iniciamos outra com a pergunta: "Depois de tudo que você ouviu na primeira rodada, em sua opinião o que lhe parece que seria bom para esse departamento?" Todos que desejaram tiveram a oportunidade de falar alguma coisa. O gerente só escutava e não havia nenhuma discussão. Depois foi a vez de o gerente falar. Ele poderia falar naquele momento, mas poderia também deixar para falar na semana seguinte. Ele falou quais sugestões iria aceitar e quais não. Foi notável, que a cada momento, essa conferência se tornava mais tranquila e foi assim a tarde toda. Devido à tranquilidade, a palavra de cada um teve mais força de expressão. Se cada um diz aquilo de que necessita para poder fazer bem o seu trabalho, isso está ligado a uma emoção primária e tem conexão direta com a realidade. Nesse momento a pessoa se responsabiliza completamente e com seriedade, por seu trabalho. Quando alguém reclama do chefe ou da organização, geralmente é combinado com muita agitação, mas possui pouca força. Reclamação está ligada a um sentimento secundário, que esconde as verdadeiras necessidades primárias. Essa rodada de conversas contribuiu para que vá- rias sugestões, que foram dadas por muitas pessoas, pudessem ser usadas. Mas acima de tudo foi primeiramente uma intervenção sistêmica. Os colaboradores foram abordados com a pergunta: "De que você precisa para poder fazer bem o seu trabalho e novamente tomar sua própria posição e não a posição do gerente." Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce IDENTIFICAÇÃO COM O OBJETIVO "Por um lado tenho muita vontade de fazer as coisas e o trabalho é desafiador. Por outro, percebo também que estou perdendo a mim mesmo. Às vezes, tenho tantas coisas para fazer que nem consigo maisver o que deve ser feito. Não sei mais quando tenho que parar e gostaria muito de trocar meu perfeccionismo por um pouco de tranquilidade em fazer as coisas." Um diretor de projetos tinha dificuldades em terminar o seu projeto. Depois de ter olhado mais de perto, ele percebeu que seu projeto, tão necessário para muitos de seus funcionários, não havia sido colocado em prática. Em uma constelação, os funcionários sentiram a arrogância desse diretor. Isso foi estranho, pois ele não era assim dentro da empresa. Na sequência do trabalho, parecia que, quando os funcionários olhavam para o diretor de projetos, viam nele algo mais. Esse algo mais era o objetivo do projeto. Depois que o diretor e o objetivo do projeto foram representados separadamente um do outro, por dois representantes diferentes, o diretor de projetos foi então aceito pelos seus funcionários como pessoa e como colega de trabalho. Puderam novamente se dar bem uns com os outros. O diretor percebeu então que, sem que ele notasse, o objetivo do projeto se tornara uma carga pesada demais de se carregar custando a ele, como pessoa, um alto preço. Acontece muito que uma pessoa se identifica com um objetivo ou com uma tarefa. Então não é você que possui um objetivo, mas o objetivo que possui você. Se os seus colegas de trabalho fizerem brincadeiras dizendo: "Ihiiii! Lá vem a senhora perfeccionista!", então já é tempo de se perguntar o que está acontecendo e se você quer mesmo isso ou não. Muitas vezes pode até ser que o objetivo pertença a uma outra parte da organização, a outra gerência ou departamento. Se uma pessoa à qual o objetivo pertence não toma logo uma atitude, uma decisão, o objetivo procura então outra pessoa para não ser esquecido e não ficar inativo. Mas, se esse objetivo não for o seu, pouco a pouco irá carregar um fardo que pertence a uma outra pessoa e isso se tornará muito desgastante. Carregar o objetivo de outra pessoa, por mais bonito que seja, é uma tarefa sem fim. O objetivo é enfraquecido, enfraquece-o e enfraquece também aquele a quem ele pertencia originalmente. OLHAR ALGO QUE O OUTRO NÃO CONSEGUE OLHAR Erling fundou, há 20 anos a trás, juntamente com sua esposa, uma escola em Estocolmo para jovens problemáticos. Na realidade alguns jovens pediram que eles fizessem isso. Erling lutava agora com sua posição de diretor. Em uma constelação os funcionários demonstraram sentir medo. Perguntei a Erling se eles tinham medo de perder o seu emprego, mas ele não soube me responder, porém, era um outro tipo de medo. Os representantes dos funcionários agiam como se tivessem medo de serem punidos, como se tivessem sido julgados, mas não por Erling e nem por sua esposa. Eles nada tinham a reclamar de Erling, cujo representante estava muito enfraquecido na constelação. Então colocamos um representante para o "julgamento" sem saber quem ou o que ele representava. Isso mudou tudo. A representante da esposa de Erling ficou de repente muito forte. O representante de Erling ganhou vida de novo e os funcionários conseguiram relaxar um pouco. Então Erling, que estava sentado ao meu lado, olhando relaxadamente para a constelação, disse: "Esse é o poder judiciário que tira algumas crianças de suas casas e as entrega aos nossos cuidados." Quando sua escola começou, Erling era jovem, idealista, crítico em relação à sociedade e desdenhava do poder judiciário. O que não conseguia olhar, seus funcionários olhavam em seu lugar. Sentiam um medo que não pertencia a eles, mas a Erling. TENTAR RESOLVER ALGO QUE NÃO FOI RESOLVIDO EM UM OUTRO NÍVEL Muitas vezes vemos que toda uma equipe é colocada a serviço, na tentativa de resolver algo que não foi resolvido em outro nível. Assim, existe um conflito nessa equipe que sempre retorna. Eles procuram soluções, expressam-se, fazem compromissos, mas depois de um tempo a tensão volta. Se isso acontece é hora de se perguntar se a equipe, inconscientemente, está tentando resolver algo que está em um nível mais elevado e que ainda não foi resolvido. Em uma universidade se iniciou um grande projeto de mudanças que significavam trabalhar mais comercialmente e mais orientado para o mercado. A questão levantada pelo conselho executivo foi: se seria melhor implantar essas mudanças de forma padronizada em toda a organização ou se cada uma das três unidades deveria seguir sua própria trajetória. Entre a equipe de gerência e os funcionários havia muita desordem e desejava-se, num golpe rápido, resolver essa questão. Isso já durava muito tempo! Uma nova proposta foi aventada e estabeleceu-se um prazo a cumprir. Tivemos uma reunião com o conselho executivo que era constituído pelo diretor geral e os três diretores de cada uma das unidades. O diretor da unidade técnica quis constelar a sua equipe de gerentes, pois aí havia muita tensão. Não somente a equipe de gerência foi representada na constelação como também o conselho executivo e para surpresa de todos, as duas equipes mostraram possuir o mesmo padrão e os seus representantes se sentiam da mesma forma. A equipe de gerência da unidade técnica estava tentando resolver um problema que pertencia ao conselho executivo. A tensão deles foi "tomada" desse conselho. O padrão das relações foi praticamente copiado pela gerência daquela unidade. Nesse caso a solução não estava na equipe de gerência da unidade técnica. Eles ainda podiam conversar sobre muitas coisas e encontrar uma forma de concordar em muitos pontos, mas se a fonte de tensão não estava presente naquele nível, então a solução também não poderia ser encontrada lá. EU SIGO VOCÊ Quando em uma organização existem problemas na segunda geração, o exemplo a seguir quase sempre se destaca. Um escritório de consultoria de muito sucesso queria organizar um workshop sobre as constelações organizacionais para todos os funcionários. Eles também queriam levantar questões sobre o próprio negócio e fizemos isso no final do dia. Os funcionários mais jovens demonstravam uma maior necessidade de resolver algo. Eles conversaram antes a esse respeito e o tema da conversa tinha a ver com a estrutura da organização. Sentiam-se, ao mesmo tempo, responsáveis e inquietos. Na constelação as três gerações foram colocadas em suas devidas posições. Primeiro os fundadores, que há muito tempo atrás haviam deixado a empresa para fazerem outras coisas. Em segundo lugar os seus seguidores: os gerentes e diretores atuais, e em terceiro lugar os funcionários novos que trabalhavam há poucos anos na empresa. Na constelação alguns representantes desses funcionários estavam inclinados a deixar o sistema. Os funcionários reais contaram, com muita dor no coração, que estavam realmente pensando nisso. Os seus representantes estavam sempre olhando para os fundadores. Apenas quando os fundadores garantiram aos funcionários novatos que eles estavam bem em suas novas atividades, e que eles haviam transferido o controle da empresa aos atuais gerentes de bom grado foi que eles se sentiram mais tranquilos. Quando os fundadores disseram: "Se vocês puderem guardar as nossas boas ideias e usá-las para fazer algo bom, ficaremos muito felizes", os funcionários ficaram emocionados, especialmente emocionados com a maneira como os representantes dos funcionários novatos e dos fundadores se entreolharam. Na verdade é um trabalho de compensação, que uma segunda geração de funcionários esteja assim tão ligada a fundadores que nem conheceram e o quanto eles se preocupam com o futuro e patrimônio daqueles. Esse não era o caso da primeira geração de seguidores que deram sequência aos fundadores da empresa. Isso acontece frequentemente em uma constelação. Se você percebe que há uma inquietude no ar, do tipo "será que fico ou será que eu saio?" ou que há uma grande decadência ou uma equipe de direção que não é capaz de mudar isso, você deve então se perguntar quem também deixou a organização antes. POSIÇÕES QUE NÃO EXISTEM Eu acabara de conhecer a abordagem sistêmico-fenomenológicaquando, em 1998, uma associação de construtoras me pediu para analisar um problema dentro da organização como consultor organizacional. Ainda não podia presumir o que ela poderia trazer nos próximos anos que viriam. "O problema" dessa associação mostrou ser um gerente, que era um dos três diretores. Um homem simpático, altamente capacitado, vigoroso e com excelentes qualidades de gerenciamento. Segundo seus funcionários e três chefes de departamento, ele causava "sofrimento" na organização. Um dos funcionários já estava há um tempo em casa sem trabalhar. Foram realizadas muitas reuniões e tensões foram dissipadas, mas na realidade não ajudou muito. O estranho era que ninguém conseguia colocar o dedo na ferida. Um chefe de departamento disse: "a presença dele causa certa paralisia. Tentamos encontrar formas de resolver os problemas, mas não conseguimos." Hoje eu sei que sintomas como esse podem ser a indicação para um "atoleiro" em um sistema. Nessa época eu, como consultor, também não podia fazer nada, pois não conseguia descobrir o que estava acontecendo. Finalmente decidimos fazer uma constelação. Estávamos inseguros pelo fato da "técnica" ser ainda tão nova. Surgiu na constelação algo surpreendente: o lugar do terceiro diretor não estava disponível no sistema. A noite, o diretor geral me ligou e disse: "Está certo. Eram somente dois diretores: o diretor técnico e eu. Havíamos colocado o homem que agora está causando problemas como gerente de projetos. Ele era tão bom no trabalho que fazia que quisemos mantê-lo na empresa e o colocamos como diretor de negócios internos. Na época, a votação foi unânime mas, na verdade, nós nunca criamos, realmente, um terceiro lugar na equipe da diretoria Para o gerente foi doloroso, pois ele já sentia, há três anos, que alguma coisa estava errada. Trabalhara duro para fazer bem o seu trabalho e agora percebia que na realidade nunca havia tido uma chance. Mas foi também um alívio. Sua autoconfiança, já desgastada, tinha a ver com o lugar no sistema onde ele se sentia preso, lugar esse que limitava suas oportunidades. Na verdade é uma ideia nova que um lugar ou posição em uma organização não esteja disponível ou não exista. Afinal, você não foi nomeado para aquela função? Mas muitas constelações organizacionais tornaram esse doloroso fenômeno bem visível. É de grande importância que principalmente novas funções no sistema sejam primeiramente criadas, antes que alguém seja nomeado para essa função. Daremos a seguir um exemplo ocorrido em organizações governamentais. O ESCRIVÃO MUNICIPAL No âmbito da separação dos poderes, onde é feita uma separação entre o conselho de governo municipal (executivo) e os representantes da população (legislativo), surgiu uma nova função no município: o escrivão do conselho municipal. Um escrivão municipal é um secretário administrativo oficial que assessora o conselho municipal. Anteriormente, as tarefas desse trabalho pertenciam ao pacote de tarefas do secretário municipal. Esse último é o diretor da organização administrativa do município e secretário da câmara dos vereadores e do prefeito. Antigamente, portanto, o secretário municipal era também secretário do conselho de governo municipal. Em um curto workshop com sete escrivães municipais foi trazido por Peter, um dos participantes, o seguinte caso: PETER Sou escrivão municipal há 10 meses e minha posição ainda não é clara para mim. Isso não me preocupa todos os dias, mas é uma questão importante para mim. Sem dar maiores informações, Peter posicionou na constelação o prefeito, dois parlamentares A e B, o secretário e alguém para representar ele mesmo. O prefeito e os dois parlamentares estavam juntos em um triângulo. A certa distância estava o secretário e, atrás dele, o escrivão. Figura 1 EM Escrivão Municipal (cliente) SM Secretário Municipal P Prefeito Parl A Parlamentar A Parl B Parlamentar B Imediatamente Peter percebeu que pareciam ser dois subsistemas: os parlamentares e o prefeito formavam um sistema e o secretário, juntamente com o escrivão municipal, outro. O parlamentar B também queria ver o secretário e o escrivão, então se virou na direção deles. O prefeito se sentiu bem na sua posição. O parlamentar A se sentiu forte e através de sua posição e reações percebeu-se que ele tinha a direção sobre todo o sistema. Peter confirmou isso. A constelação mostrou o quanto é difícil preencher a função de um escrivão municipal. Meu Notebook Realce Quando o representante do secretário foi colocado frente a frente com o escrivão, pôde-se perceber que estava acontecendo algo entre eles. STAM Quem nomeou o escrivão? Hesitação entre todos os participantes. PARTICIPANTES O conselho talvez? STAM Quem conversa com o escrivão? PARTICIPANTES Ninguém, na realidade. depois de um tempo, um outro participante disse Eu deixo isso para os parlamentares fazerem. No sistema, o prefeito não se mostrava forte como líder. O parlamentar A, sim. PREFEITO para Stam Eu me sinto ligado ao secretário, mas com o escrivão, ainda não. PREFEITO para o secretário Eu trabalhei um longo tempo com você. Obrigado por isso. O secretário se sentiu lisonjeado e se virou mais para a direção do parlamentar A. PARLAMENTAR A para o secretário Foi tirada de você uma parte de sua tarefa, mas isso não tem nada de pessoal contra você. ESCRIVÃO para o secretário Você trabalhou muito tempo aqui como secretário do conselho municipal. Isso eu percebo e respeito. Encarrego-me, a partir de agora, dessa tarefa na minha nova atuação. Ter dito essa frase foi bom tanto para o secretário como para o escrivão. Então procuramos uma imagem final onde todos os representantes se sentissem bem em suas posições. Figura 2 Para o escrivão e para os parlamentares, era melhor que o escrivão ficasse à esquerda dos parlamentares. Nos sistemas isso significava que o escrivão dava apoio e assessoria aos parlamentares e ao conselho. Na conversa que aconteceu com os sete escrivães municipais do conselho, chegamos a algumas conclusões provisórias: Nessa constelação, o secretário e o escrivão municipal demarcaram seus territórios e funções mais claramente. O secretário era valorizado pelo trabalho que fez como secretário do conselho. Era reconhecido pelo parlamentar A que essa tarefa chegara ao fim. Na maioria das organizações, onde os participantes desse workshop trabalhavam, esse processo não fora realizado. Para que essa nova função tivesse um bom começo ela parecia pedir que no sistema fosse criada uma instância ou agência ou pessoa que estivesse acima, tanto do secretário como do escrivão municipal. Isso seria necessário para o bom funcionamento da antiga função de secretário municipal, como também para que pudesse ser criado um novo espaço para o escrivão municipal. Peter comentou, dizendo que para ele a situação não poderia mais continuar como estava, pois se continuasse dessa forma teria de largar a função. Todos os sete escrivães que estavam presentes vinham da parte administrativa das organizações municipais. Cinco deles diziam ser mais ligados a suas funções administrativas originais. Dois diziam que se sentiam mais pertencentes ao conselho municipal do que a suas funções administrativas anteriores, no poder executivo. Alguns dos cinco se sentiam mais ligados a organizações governamentais por uma questão de segurança. Se não desse certo nessa função, eles poderiam voltar ao posto anterior. Muitos deles diziam, cuidadosamente, que se sentiam como traidores em relação a seus colegas de trabalho que permaneceram na função administrativa, enquanto eles estavam trabalhando para o conselho. Dois deles ainda tinham dois anos, antes de se aposentarem. Ambos estavam visivelmente entusiasmados com a nova função. Um deles disse: "Estou livre, ninguém pode fazer nada contra mim, ao assumir essa nova função." Uma nova função não pode simplesmente existir pelo fato de alguém dizer para uma pessoa:"Eu te nomeio para essa nova função." A função e a pessoa que a assume são grandemente diferentes uma da outra dentro do sistema. Se uma função está bem instalada, alguém pode então assumi-la depois. Se essa pessoa for embora, a função fica livre para que outra pessoa possa novamente assumi-la. A experiência mostra, até o momento, que a criação de uma nova função exige muito de uma pessoa que esteja a um ou dois níveis gerenciais acima dessa. Uma nova função tem que ser encaixada dentro de um sistema, e alguém tem que criar a estrutura de referência onde ela possa ser bem executada. Por sua vez, essa nova função cria, mais uma vez, a estrutura referencial, a partir da qual outros poderão fazer bem o seu trabalho. Dessa forma, uma nova posição pode tornar-se funcional dentro da organização. Por exemplo, às vezes alguém é nomeado diretor adjunto, porque o diretor está ocupado demais para fazer tudo que tem que fazer. Se a função de diretor adjunto não for suficientemente clara, ela pode-se tornar inativa. Na realidade, o diretor adjunto não existe no sistema, ele é nada mais, nada menos que um apêndice do diretor. Muitos diretores adjuntos sentem isso na pele, infelizmente. LUGARES SOBRECARREGADOS Às vezes existem lugares sobrecarregados em uma organização, podendo ser desde uma Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce simples função a um departamento inteiro. Qualquer pessoa que assume a função parece não dar certo ou não consegue ficar por muito tempo. Por exemplo, um cargo de supervisor, que durante um período de três anos quatro pessoas passaram por essa mesma função. No início eles estão cheios de energia, mas depois de um tempo, para sua própria proteção, eles deixam a posição, ou, por exemplo, em um restaurante onde um cozinheiro atrás do outro, deixa o emprego sem apontar uma razão clara para isso. Um lugar pode tornar-se sobrecarregado quando, por exemplo, uma pessoa deixa o emprego de uma maneira desagradável. Isso pode acontecer através de um infortúnio, um conflito não resolvido, um acontecimento como um acidente ou pelo falecimento do dono anterior daquela função ou ainda quando alguém simplesmente é excluído ou demitido injustamente. Daremos um exemplo de um departamento inteiro que estava sobrecarregado. Uma jovem psicóloga que trabalhava há um ano em um instituto de psicogeriatria desejava constelar. Havia um trauma na organização que estava exaltando os ânimos e dificultando o trabalho em conjunto. Os funcionários sentiam-se observados de uma forma incriminadora pelos outros departamentos da clínica. Ela disse que, antes de chegar ao instituto, os pacientes haviam sido maltratados e os culpados foram demitidos. Colocou-se então um representante para as vítimas e um para os culpados. O representante dos culpados não conseguia olhar para o representante das vítimas. O culpado só olhava para baixo e estava inquieto. Ele não se sentia à vontade e suas mãos estavam suando. VÍTIMA para o representante dos culpados Por favor, olhe para mim. Depois de muito tempo, o culpado olhou para a vítima e eles se olharam por um longo período. Então a direção e o chefe de departamento foram colocados na constelação, cada um no seu lugar. Ambos não podiam olhar para as vítimas nem para os culpados. Um representante da enfermaria foi acrescentado à constelação. Esse tomou o representante dos culpados pela mão e juntos olharam para o representante das vítimas. O representante da enfermaria começou a tremer intensamente. Somente depois de olhar um longo tempo para o representante das vítimas, ele se acalmou novamente. Nesse ponto, interrompemos a constelação. Os participantes e o público ficaram muito emocionados. Para as vítimas, o pior não foi o mau trato e sim o fato de depois, como seres humanos, não serem vistas com dignidade. Elas não se sentiram mais vistas como pessoas e sim como vítimas. Os culpados também não foram vistos como pessoas, e isso os excluiu do sistema. Quando ambos, vítimas e culpados, foram aceitos no sistema como pessoas, um clima de tranquilidade sobreveio sobre todos os envolvidos. RECONHECER O QUE ESTÁ ACONTECENDO Todas essas dinâmicas e exemplos testemunham a elasticidade do sistema de uma organização, mesmo que essas dinâmicas, às vezes, sejam dolorosas para as pessoas. Esse mecanismo deixa de lado o valor da opinião, da ideologia e das crenças, atuando a partir de um contexto inconsciente. É isso que significa a expressão "estar a serviço de algo." Existem muito mais conexões dentro de uma organização do que se pode ver e se Meu Notebook Realce reconhecermos que elas existem e se vermos como elas funcionam, isso poderá nos ajudar a compreender quais são as condições em que a organização e as pessoas podem ter sucesso. 2 NOVA ECONOMIA Dinheiro e vendas dentro da visão sistêmica NOVOS VALORES No tempo da explosão da internet observei, surpreso, meu filho de 18 anos. Ele era — e ainda é — a favor do Linux e contra a Microsoft. Um dia ele me perguntou onde se inscreve, quando se vai abrir uma nova empresa. Seguindo minhas instruções foi à Câmara Regional do Comércio. Queria construir um programa de busca juntamente com dois amigos para o sistema operacional Linux. Segundo ele, para a realização desse projeto, precisava de um computador melhor e de abrir uma empresa. Claro que pensei que ele queria abrir uma empresa para ganhar mais dinheiro, mas parecia que realmente não eram essas suas intenções. Fiquei ultrapassado, em se tratando de computadores, por isso sempre peço aos outros para me darem explicações. O que sei é que o Linux é mais que um sistema operacional — é na realidade uma filosofia. O sistema operacional é aberto e todo mundo pode fazer download via internet, e se alguém desenvolve algo novo isso é também colocado à disposição dos outros. Assim, todos acrescentam algo ao sistema, fazendo-o crescer e se desenvolver cada vez mais. Meu filho e seus amigos perceberam que não havia um sistema de busca a respeito do Linux, e lhes pareceu uma grande contribuição criar algo assim. A princípio eles manti- veram esse plano somente entre eles, pois não queriam que outros colegas usassem a ideia deles antes que tivessem terminado o projeto. Perguntei se pensavam em receber de volta algo do investimento feito, então meu filho respondeu: "Um dia a gente recebe." E pela forma como disse me chamou atenção para uma coisa: ele não disse isso por uma insegu- rança infantil e muito menos com a ingenuidade de alguém que não conhece as regras do jogo deste mundo. Tampouco soava como uma crença ideológica, soava ser uma nova verdade, um novo mecanismo, uma nova economia, talvez a verdadeira "nova economia". Um novo mecanismo de troca. Uma economia onde um novo equilíbrio entre o dar e o receber pode agir, no qual possamos confiar tanto quanto confiamos no sistema de preços e tarifas do mercado atual. EQUILÍBRIO ENTRE DAR E RECEBER Se existe um mecanismo ao qual as pessoas são verdadeiramente sensíveis é o equilíbrio entre dar e receber. Isso funciona com mais força em situações de trabalho do que no con- texto da família. Talvez por isso as pessoas que começam a trabalhar têm que aprender a lidar com esse equilíbrio. Muitas pessoas ainda estão dando seus primeiros passos nesse assunto. O equilíbrio em dar e receber funciona assim: nós temos um "sentido sistêmico"1 que é sensível ao dar e receber. É um tipo de sentido de equilíbrio que nos diz se devemos ou se temos crédito com alguém. Imagine que alguém lhe deu algo. Então você sente a necessidade ou a pressão de ter que dar algo de volta. Se você der um pouco mais do que recebeu, o outro vai se sentir em dívida e terá a necessidade ou pressão de também dar algo de volta. Se esse algo que foi dado for novamente mais do que o anteriormente recebido, então existe aí uma troca entre dar e receber que cresce continuamente. Isso forma a base de uma longa, fértil e enriquecedora troca. Uma organização, muitasvezes, mantém-se unida através desse mecanismo de troca. Dentro da organização é formada uma base para uma fértil relação entre os trabalhadores. Existem várias formas desse intercâmbio se manifestar. Uma pessoa oferece o seu trabalho e recebe muitas coisas de volta: continuidade do trabalho, segurança financeira, certeza de que a família tem o que comer, de que pode sair de férias, momentos agradáveis no trabalho, salário, entre outros. Esse equilíbrio parece funcionar muito precisamente e nem sempre combina com as decisões negociadas pelo sindicato dos trabalhadores. Em uma determinada transação, geralmente é o equilíbrio entre dar e receber que determina o montante de energia que vai ser empregada e quão satisfatória ela será. Ambos os fatores determinam com grande precisão o sucesso e a força da transação. Pense agora em um trabalho ou transação que você realizou e no qual ganhou dinheiro. Pergunte-se o que teria acontecido com essa transação se o seu ganho tivesse sido duas vezes maior. Isso faria com que a transação — para ambos os lados — fosse mais forte ou mais fraca? E o que teria acontecido se esse ganho tivesse sido um terço a mais ou dois terços a menos daquilo que você realmente ganhou? Geralmente com a ajuda desse barômetro de preços as pessoas podem apontar o ponto de otimização onde a transa- ção tem mais força. Para minha grande surpresa, ganhei a altíssima quantia de 1.500 euros por uma hora de trabalho enquanto que, independente de qualquer coisa, aceitaria fazer aquele workshop até de graça! Geralmente, se dou um workshop sobre trabalho sistêmico em um terreno novo, como por exemplo, para advogados de divórcio, eu só peço para pagarem as despesas de transporte. O equilíbrio entre dar e receber funciona da seguinte forma para mim: eu aprendo algo deles e eles aprendem algo de mim. É mais uma troca de conhecimentos do que somente um lado dando algo que ainda por cima precisa ser remunerado. Em casos 1 Aqui “sentido” tem o significado de sentido físico como visão, tato, olfato, etc. (N.T.) Meu Notebook Realce como esse é apropriado, para mim, pedir que paguem apenas os meus gastos para a realização do workshop. Assim, fico livre e os meus participantes também. Não preciso somente dar, mas posso também receber deles a mesma quantidade. Além disso, eu me preparo precisamente para o workshop o quanto for necessário. Se em uma reunião dois colegas de trabalho trocam uma moeda de um euro, cada um vai embora com uma moeda de um euro. Se dois colegas trocam uma ideia, cada um vai embora com duas ideias. Isso é o que acontece nesses tipos de workshops, cada um volta enriquecido para casa. No final, o alto montante pago a mim naquele workshop foi equilibrado de forma bem apropriada. A tarefa foi realmente um desafio para mim. Parecia-me impossível dar um workshop de uma hora com demonstração de uma constelação em relação ao tema do congresso que era "Rituais de despedidas no trabalho". Eu tinha negado no início, mas de- pois voltei atrás e fiquei duas semanas com um frio na barriga. Como eu deveria me preparar para o primeiro minuto crucial? No final, esse workshop foi tão intenso, tinha tanta energia, atenção e intercâmbio que nessa única hora o meu honorário, minha participação nessa troca foram completamente refletidos e equilibrados pelo montante pago. Surpreendente! "Não é importante o quanto de dinheiro você ganha com uma tarefa e sim o que você vai fazer depois com esse dinheiro". (Bert Hellinger) DÍVIDA E SENTIMENTO DE CULPA Se em uma transação o dar e o receber estão em equilíbrio, então ambos os lados são livres, livres para lidar um com o outro, com outros e com a próxima transação. Talvez isso seja uma simpática aproximação de uma profissão livre: depois de cada transação ambos estão livres novamente. Mas se há uma dívida, então você fica preso. Dívida, é aqui: uma necessidade de pagar algo para que as coisas estejam novamente em equilíbrio. Dívidas antigas sempre podem voltar. Elas podem nos prender ao passado. Pode transformar-se em um sentimento de culpa: "Eu me sinto culpado." Sentimentos de culpa são geralmente chamados sentimentos "secundários", pois nos prendem a uma imagem interna de algo que aconteceu no passado. Através disso perdemos o contato com a realidade atual. Esses sentimentos de culpa fazem com que as negociações se tornem impossíveis, nos paralisam. Sentimo-nos desamparados, como vítimas. Outras pessoas até querem nos ajudar, mas elas se sentem usadas ao fazê-lo. No geral, não há muita energia e força no sentimento de culpa e no sentimento secundário. A solução é ver a realidade com os próprios olhos: um ganhou mais e ao outro custou mais: ponto final. Isso é a verdade, com todas as suas consequências. Somente quando você começa a ver a realidade com os seus próprios olhos se torna novamente possível negociar. Você tem que suportar sua dívida em relação ao outro, e isso às vezes é doloroso, ainda mais se o outro teve que pagar um alto preço. Sentimentos secundários Meu Notebook Realce desaparecem a partir do momento em que você entra em contato com o sentimento primário. O sentimento de culpa desaparece, se você olhar para a sua dívida com os seus próprios olhos. O sentimento primário está ligado a acontecimentos reais. Através desse sentimento você pode observar o mundo ao seu redor e direcionar suas energias para o futuro e para uma possível solução. O mesmo vale para aqueles que estão do outro lado do equilíbrio e que ganharam pouco. Se esse sentimento de injustiça se fixar e se transformar em um sentimento secundário, então eles ficarão presos para sempre a esse acontecimento. Vão reclamar e continuarão se sentindo como vítimas e então, acontecerá a verdadeira pobreza. Não é possível mais estabelecer um equilíbrio entre dar e receber. A troca diminui e isso traz solidão. Depois, com o passar do tempo, uma pessoa não vai mais pertencer a lugar algum. Assim, o que ajuda é voltar ao momento onde a troca perdeu seu equilíbrio e encará-la com os próprios olhos. Sem repreensão e sem querer mudar algo. O outro recebeu mais e eu paguei um preço. Ponto final. Assim foi como aconteceu. Que Pena! Ao estar em contato com a realidade, há possibilidades de novamente ter senti- mentos primários, assim como a dor da injustiça. Essa dor desaparece com o tempo. Você acha uma nova força e permanece em contato com a corrente da vida. Uma nova troca pode vir a acontecer, apesar das desigualdades que ela pode trazer consigo. VINGAR-SE COM AFEIÇÃO O equilíbrio em dar e receber acontece também quando uma pessoa é injustiçada. Então, existe o direito ou a necessidade de também cometer uma injustiça a alguém. Em certos casos as exigências do injustiçado restauram o equilíbrio, fazendo com que ambas as partes consigam olhar um para o outro novamente. Quando uma pessoa, respondendo às injustiças sofridas, deseja causar injustiça e dor àquele que a magoou, porém mais do recebeu, o equilíbrio não é restaurado. Esse é o modelo para uma escalada do conflito. Quando uma pessoa, respondendo às injustiças sofridas, claramente dá o troco, porém mais brandamente do que recebeu, o equilíbrio pode voltar a existir novamente. Somente assim ambos podem olhar diretamente um nos olhos do outro sem que entre eles haja culpa ou casos mal resolvidos. Isso é uma forma de vingar-se com afeição. Esse é um modelo para a reconciliação. LIBERDADE, DEPENDÊNCIA E DIGNIDADE É notável como funciona de forma tão precisa o equilíbrio entre dar e receber. Algumas pessoas cuidam em estar constantemente dando mais do que recebem, por isso seus clien- tes sempre estão em débito. O efeito disso é que os clientes não se esforçam para se comportarem como adultos. Existe uma exceção em relação ao funcionamento do equilíbrio entre dar e receber anteriormente citado. Nas famílias existem dois tipos diferentes de relação. Entre Meu Notebook Realce Meu Notebook Realceparceiros, o equilíbrio funciona como uma troca entre iguais, mas entre pais e filhos existe uma relação muito diferente. Os pais dão mais e os filhos recebem mais. Os filhos não podem e nem precisam trazer equilíbrio a esse intercâmbio. Eles recebem muito e podem aceitar isso. Assim haverá um "excesso" no intercâmbio entre os filhos e seus pais. Depois, quando os filhos forem adultos, poderão usar esse "excesso", dando também mais para seus próprios filhos. Também podem, como adultos, dar a sua energia ou talento a um objetivo da sociedade, sem exigir muito de volta. A mesma coisa é, às vezes, válida para professores e alunos. Os estudantes não podem compensar totalmente aquilo que eles receberam. Por isso, sentem a necessidade de fazer algo bom às outras pessoas. Professores ou institutos a quem você tem muito que agradecer sentem-se honrados se você, como ex-aluno, publicar ou passar à frente as novas ideias que recebeu. Dessa forma, os novos conceitos crescem cada vez mais e com isso a sociedade se torna mais rica. O equilíbrio entre o dar e o receber, além de liberdade, tem a ver com dignidade. Isso eu percebo fortemente quando trabalho em países onde as pessoas têm pouco dinheiro. Quanto os diretores de Kolchozen2 da Rússia têm que pagar por um curso de gerência que acontece na Holanda? Aqui também funciona o barômetro de preços. A nossa primeira tendência era de não os deixar pagar nada, mas, assim, eles iriam perder sua dignidade. Nós iríamos nos sentir como "pais" e os diretores iriam receber a posição de "filhos" e, com isso, o treinamento perderia o valor. Não haveria força nessa transação. INTERESSES PESSOAIS E INTERESSES DA EMPRESA Quando uma pessoa trabalha em algum lugar, sempre acontecem trocas: com os clientes, com os colegas de trabalho, com o chefe, com os supervisores. Muitas pessoas têm um grande movimento de intercâmbio no seu trabalho, não em termos de dinheiro, mas em termos de realizar muitas transações que oferecem um permanente crescimento na troca entre o dar e o receber. Uma grande troca, um grande intercâmbio nos proporcionam um sentimento de riqueza. Quando alguém não está em posição de ter um bom movimento de trocas, de intercâmbio, na empresa em que trabalha, essa pessoa procura, então, uma maneira de au- mentar seu intercâmbio pessoal. Assim ela pode ir trabalhar para a associação dos empregados ou buscar servir de apoio para seus colegas. Essas atividades também são boas para o empreendimento e são enriquecedoras para todos. Se, através disso, crescer somente o seu lucro pessoal, então isso não vai durar muito tempo. Em constelações vemos que, se o objetivo de um empreendimento vai a favor de um objetivo pessoal, então o lucro pessoal aumenta à custa do empreendimento e, ao final, não traz nada de bom. Mais cedo ou mais tarde alguém tem que sair ou ser mandado embora para que esse processo possa parar. 2 Cooperativas rurais da Rússia. (N.T.) Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce “SE VOCÊ AMA ALGUÉM, LIBERTE-O.” (Sting) Se alguém tiver mais talento do que a organização precisa ou pode pagar, isso irá gerar um rendimento que estará abaixo do seu potencial. Aqui também existe um equilíbrio entre o dar e o receber, porém terá uma duração limitada, pelo fato desse alguém trabalhar abaixo do nível do seu talento. Se isso durar muito tempo, o seu valor próprio diminuirá e a sua autoestima também. É importante que a firma empregadora, os demais colaboradores e o próprio empregado reconheçam esse talento especial. Às vezes, uma empresa cria uma posição para uma pessoa talentosa que na realidade não existe para, dessa forma, mantê-la dentro da empresa. Assim a organização desvaloriza a si mesma, o que também não é uma solução. Talvez fosse melhor se essa organização dissesse para esse funcionário: "Nós vemos que você tem mais talento e potencial do que a função que podemos lhe oferecer e pagar. Da nossa parte, você está livre para partir, mas, enquanto você ficar, nós valo- rizaremos ao máximo seu trabalho." Então esse alguém pode ainda ficar um tempo e fazer coisas boas para o empreendimento, até chegar o seu tempo de partir. CRESCIMENTO E LUCRO O lucro e o crescimento de um empreendimento podem ser vistos de uma forma diferente da que habitualmente se entende por "crescimento econômico". O crescimento pode acontecer na troca com o ambiente, no lucro sistêmico ou em fortes transações que aumentem a dignidade de funcionários e clientes. Esse crescimento dá liberdade a clientes e funcionários, ao invés de dependência. Traz mais experiência ao empreendedor que adquire, então, um respeitado lugar na sociedade. No artigo "O homem de negócios do ano", sobre um israelita que atualmente mora nos Estados Unidos, perguntou-se diretamente a seus funcionários qual era o segredo do seu sucesso. A resposta deles foi: "Ele é generoso. Generoso com todos: funcionários, fornecedores, parceiros de negócios e clientes". Ele era com certeza alguém que tinha muito lucro. Acima de tudo parecia ser alguém que, com o dinheiro que ganhava, tentava preencher sua responsabilidade na sociedade e que fazia algo parecido com isso para resolver o problema em Israel. SUBSÍDIO Uma colega me contou, muito contente, que havia recebido subsídio da embaixada Holandesa para dar cursos no Suriname. No final do curso, ela me disse: "Nunca mais farei desse jeito. O subsídio parece não ter funcionado bem. Os surinameses se sentem maltratados, e eu me sinto a cada dia mais infeliz". Em se tratando de subsídio deve-se procurar saber se não há uma terceira parte envolvida de forma oculta e que mais tarde virá exigir algo, mesmo que esteja por trás da cena, que enfraquecerá a transação. Nesse contexto específico, podemos imaginar que o estado holandês ainda se sente em dívida em relação ao Suriname. Isso "contagia" o sub- sídio, pois seria então uma tentativa disfarçada para tentar saldar a dívida antiga. Para todas as partes isso é inconscientemente perceptível. Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Vejam essa reportagem, por exemplo: "Na França, artistas irritados perturbaram o Tour de France." Na França existe uma regra que diz que artistas que trabalham dois meses por ano podem receber subsídio o resto do ano. Assim, eles podem se dedicar totalmente a sua profissão e paixão. Existe também um teatro muito desenvolvido, repleto de talentos, testemunhado em muitos festivais de alta qualidade. Agora o atual governo quer mudar essa regra. Fora as interpretações políticas você pode se perguntar qual seria a transação mais forte: - O que aconteceria se os artistas vissem a regra como um direito ao invés de um presente? Isso faria do todo mais forte ou mais fraco? Se você recebe um subsídio como um presente, então é como se ele fosse uma maravilhosa pressão em querer fazer algo de bom para as outras pessoas, em troca. - Como é que os artistas manterão sua criatividade livre? O que tem para eles o maior impulso criativo, e como pode o público e a sociedade receberem essa criatividade? Os direitos aqui exigidos dão mais dignidade ou enfraquecem o sistema inteiro? Os direitos aqui exigidos se tornam então uma vitória de Pirro3? Em se tratando de subsídios adquiridos ou exigidos, o ganhador se sente melhor que o doador do subsídio, assim como um filho exige direitos dos seus pais. Isso não durará muito tempo. O que vejo nas constelações é que essa situação varia de caso para caso. Um bom ponto de partida é que, no equilíbrio entre dar e receber, mesmo não sendo subsidiado por uma terceira parte, não somente exista prazer no trabalho mas também em toda a transação. PAGAMENTO DE SUBSÍDIO MENSAL Em uma constelação, a história de uma mulher que estava vivendo da previdência social emocionou a muitos. Ela queria encontrar algumas possibilidades para reiniciar e desenvolver o seu trabalho. Era diretora de uma escola e gostaria dedescobrir qual rumo profissional daria a ela mais força. Escolhemos um representante para a previdência social, e isso teve um bom efeito. A mulher disse que já havia recebido muito da previdência social e que era importante que isso fosse reconhecido. Ela tinha aceitado isso como presente e feito algo de bom com o que ganhou, o que deu a ela liberdade, apoio e força de que tanto precisava para dar uma nova forma a sua vida profissional. Todos que estavam presentes na constelação se sentiram tocados e receberam, de repente, uma outra imagem das possibilidades da previdência social. A pergunta se um subsídio dá força aos envolvidos ou tira a força do sistema tem que ser olhada em cada situação, de forma diferente. 3 No ano de 279-AC, o rei Pirro, de Épiro (atual Albânia), reuniu seus oficiais no campo de batalha de Asculum, perto de Roma, para saudar a vitória parcial das suas tropas contra o poderoso exército romano. Diante das enormes perdas de oficiais e soldados, porém, ele constatou que “com mais uma vitória como esta” o seu reino estaria perdido. Daí o termo “vitória de Pirro”, que expressa uma conquista em que as perdas do vencedor são tão grandes quanto as do perdedor. (N.R.) Vejamos outro exemplo: UMA PANCADA Uma mulher estava fazendo um curso de consultoria organizacional e depois iria trabalhar na Marinha. Logo depois, ela sofreu um acidente de trabalho, onde levou uma pancada na nuca, sofrendo um dano funcional. Pelo fato de eu ser o docente do curso e ela me conhecer, escreveu-me uma carta perguntando se eu estava preparado para fazer uma análise sincera do seu potencial. Ela queria exigir da organização empregadora uma indenização, antes de deixar a mesma e estava sofrendo muito com isso. Muito cuidadosamente escrevi de volta, dizendo que a via como uma potencial chefe de departamento de uma média ou grande organização. Sem muita hesitação acrescentei duas frases: "Qual vida é mais valiosa, aquela com ou sem a pancada?" E: "Se você receber agora uma indenização, você estará mais ligada ou menos ligada a sua antiga empregadora? Isto a fará mais fraca ou mais forte?" Depois de um tempo, recebi dela uma carta de agradecimento com um presente. Escreveu dizendo que estava feliz com minha análise do seu potencial, mas as duas últimas frases foram as que mais a sensibilizaram e a ajudaram. Uma gerente capacitada e dinâmica era líder de um grupo de funcionários na cidade de Amsterdã. Ela se perguntava por que os funcionários se apresentavam mais inexperientes e menos capacitados do que eles na verdade deveriam ser, de acordo com seu grau de estudo. Muitos dos funcionários eram de descendência judaica e, por isso, recebiam subsídio de uma fundação para descendentes das vítimas do Holocausto. Então ficou claro para a gerente que aquele subsídio colaborou para que os seus funcioná- rios continuassem se sentindo como vítimas e, com isso, suas oportunidades se tornaram limitadas. Ela olha agora com outros olhos para esse problema. "Presentes pequenos ajuntam, grandes presentes separam. O que seria um presente apropriado de despedida?” (Bert Hellinger). 3 ONDE ESTÁ O CHEFE? Sobre liderança "Uma pessoa se torna autoritária quando usa mais poder no seu trabalho e nos seus interesses pessoais do que lhe é incumbido. Assim, estará desperdiçando sua autoridade.” (Bert Hellinger). Quando a liderança foi bem estabelecida, então, talvez, a condição mais importante para uma organização se desenvolver bem foi alcançada. Liderança é principalmente uma questão de ordem, ou seja, construir uma ordenação que funcione. O PRIMEIRO LUGAR "A pessoa mais importante em uma organização é o proprietário. E ele ou ela que cria a estrutura referencial dentro da qual os outros poderão exercer suas funções. Essa importan- te função também pode ser exercida por um diretor geral ou um conselho administrador. A gerência só pode usar sua autoridade com o apoio do proprietário ou do conselho admi- nistrativo. Por isso a gerência tem que respeitá-los. Se o proprietário e a gerência se respeitam mutuamente, então eles se sentem livres em fazer, em determinadas situações, o que lhes parecer melhor. Na realidade, o diretor presta um serviço. Em uma organização é sempre importante se perguntar se o diretor coloca sua autoridade a serviço dos outros." (Bert Hellinger). A autoridade é aceita quando os outros percebem que essa autoridade é usada em prol deles. A autoridade é rejeitada quando alguém usa o seu poder não colocando essa autori- dade em prol dos outros. TRÊS PRINCÍPIOS DA LIDERANÇA O primeiro princípio da liderança é colocar, em primeiro lugar, aquele que constrói a estrutura referencial onde os demais vão atuar. Depois desse, o outro que cria a estrutura para a função daqueles que estão abaixo e assim, um após o outro sucessivamente, formando, então, uma hierarquia sistêmica. O segundo princípio da liderança é colocar o grupo ou as funções que mais contribuem para o funcionamento da organização em primeiro lugar, tendo mais prioridade. Em um hospital, os médicos (clínicos gerais) vêm em primeiro lugar em relação aos fisioterapeutas, nutricionistas e outros paramédicos que exercem as demais funções. O terceiro princípio da liderança é a precedência. Aquele que está há mais tempo na organização tem mais prioridade do que outro que chegou depois. Esses princípios geram tensão, um em relação ao outro, você pode perceber isso em Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce hospitais, por exemplo. Aquele que cuida dos meios financeiros para que o hospital possa existir vem em primeiro lugar, e geralmente não é um médico especialista. Seguradoras e Ministério da Saúde são também elementos muito importantes no sistema de um hospital e no sistema de saúde. Aliás, isso também é válido para aqueles que dão dinheiro e para financiadores de uma organização. Uma vez, em um workshop para professores, minha mulher, de maneira muito simples, posicionou representantes para o Ministério da Educação e para a Secretaria de Educação da prefeitura. Ficou claro o quanto essas duas últimas posições são essenciais para a escola. Em organizações que não visam ao lucro, financiadores e aqueles que patrocinam são, muitas vezes, esquecidos. Outras vezes, são excluídos pelo fato de serem vistos como inferiores ou como se o que ocorresse na instituição não fosse da conta deles. ORDENAÇÃO Em uma companhia teatral, uma mulher que cuidava da elaboração dos planos e também de conseguir dinheiro para novas produções foi colocada em primeiro lugar no sistema. Isso aconteceu lentamente e ela ficou muito emocionada, quando isso ficou claro na constelação. Não era a fundadora da companhia. Curiosamente, a gerente de negócios deles, na constelação, não fazia parte do sistema da companhia, tinha mais a função de consultora ou conselheira. O reconhecimento dessa realidade pelas pessoas do grupo teatral foi o começo de um novo rumo e de um grande desenvolvimento para eles. Nesse sentido, a realidade que é reconhecida é sempre benevolente. O reconhecimento da situação tal como ela é nos coloca em contato com a realidade e torna o novo possível, mas não podemos dizer o mesmo a respeito de sonhos, ilusões, imagens internas, reclamações e acusações. Essas coisas nos paralisam, nos tiram do essencial e nos impedem de agir. Que a ordenação jurídica e a ordenação sistêmica não são sempre coincidentes, já pude experimentar. Eu trabalhava em uma organização, onde depois de um tempo de serviço você poderia ser convidado para fazer parte da sociedade. Claro que eu tinha essa ambição e gostaria muito de pertencer ao grupo de sócios! No papel éramos todos iguais nessa sociedade e tínhamos os mesmos direitos. Os colegas de trabalho que vieram depois receberam também todas as possibilidades de alcançar suas ambições. Para isso os relatórios de desempenho eram avaliados com frequência. Mesmoassim, durante todo aquele ano em que pertenci à sociedade eu me sentia como se fosse um empregado. Apesar das minhas ambições e envolvimento, nunca havia me sentido um empreendedor. Os dois sócios que assumiram a empresa, depois que os fundadores saíram, sempre foram o número um e o número dois, não pelo fato de sempre terem agido como se fossem os melhores, mas pelos serviços que prestaram à empresa. Então, quando começou a crescer a vontade de trabalhar para mim mesmo, de ser meu próprio chefe, ficou claro que eu tinha que partir. Somente a partir daquele momento comecei a me sentir um verdadeiro empreendedor. Acredito que a princípio isso está relacionado com o fato de o empreendedor tomar decisões que são arriscadas. Essa perseverança dá uma força substancial. Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Esses tipos de decisões, que são arriscadas para a continuidade da organização e também para as pessoas e famílias que estão ligadas a ela, fazem com que o proprietário seja colocado em primeiro lugar. Fica claro aqui que o proprietário carrega esses riscos estando, assim, a serviço de muitos. LIDERAR A PARTIR DA PRIMEIRA OU DA ÚLTIMA POSIÇÃO Se for nomeado um novo diretor geral vindo de fora da organização, devido a sua competência, então ele pode dirigir a equipe de gerência a partir da primeira ou da última posição. Se ele liderar a equipe a partir da primeira posição, então assumirá o primeiro lugar e decidirá qual será a estrutura onde atuarão os demais diretores. Isso é comparável a um adulto que cria um modo de vida seguro para seus filhos. O diretor diria: "Eu estou em primeiro lugar, eu corro os riscos, eu explico com detalhes as minhas decisões e faço isso para o bem de toda a organização. Conto com vocês para juntos colocarmos isso em prática." Se o novo diretor liderar a equipe baseado na última posição, então ele dirá internamente para os outros diretores: "Vocês estavam aqui primeiro e há mais tempo, vocês contribuíram muito para essa organização." Em seguida ele escutará o que cada um tem a dizer e depois tomará suas decisões. EQUIPES AUTÔNOMAS Talvez você trabalhe em uma equipe autônoma. Um dia desses deparei-me com uma equipe dessas em uma escola francesa de paraquedismo4. Eu fui a essa escola para discutir as possibilidades de fazer um curso lá, mas que fosse especialmente elaborado para mim. Perguntei onde estava o chefe ao primeiro instrutor que eu encontrei. "Errado!" Respondeu ele: "Nós aqui somos todos iguais, você pode falar comigo mesmo." Então, conversei com ele. Finalmente voei com o "chefe sistêmico" da escola. Ele era aquele que tinha mais visão e, de maneira quase que imperceptível, coordenava toda a equipe. Pareceu-me que, embora essa fosse uma equipe autônoma do ponto de vista dos instrutores, do ponto de vista sistêmico ela, efetivamente possuía um líder. Até agora, eu vi que em muitas equipes autogerenciadas surge, mais cedo ou mais tarde, a necessidade de liderança. Isso acontece na medida em que muita energia é consumida na tomada de decisões. Assim, essa energia não estará mais disponível para o trabalho em si. Se de fora da equipe estiver presente uma forte liderança, então o trabalho será bom. Tem 4 Pular de paraquedas é tão audacioso quanto fazer uma constelação. É voar em um grande pedaço de tecido com muitas linhas. A força existente no ar é mais forte do que um indivíduo pode suportar. Você não pode ver essa força, mas sente fortemente o efeito dela. Se você lutar contra a dinâmica do ar estará perdido. Depois de muitos anos de experiência você sente o que realmente está acontecendo no ar. Se você se deixar levar junto com essa força, então voar é uma sensação especial, ao mesmo tempo impressionante e humilde. Mas, em nenhum momento você pode se esquecer de que atrás disso tudo existem forças que têm relação com a vida e com a morte. (N.A.) Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce Meu Notebook Realce de ser liderança e não gerência. Quando uma liderança mostra-se sempre vigilante, em relação à equipe, estando sempre presente sem forçar a barra, essa liderança cria, de fato e de verdade, a estrutura onde a equipe poderá trabalhar. Então os funcionários poderão solucionar bem as tarefas divididas entre si. ONDE ESTÁ O CHEFE, NA REALIDADE? Ah! Onde está o chefe, na realidade, do ponto de vista sistêmico? Mesmo estando ele (ou você, se estiver na direção) sentado atrás da mesa do seu escritório, com a porta aberta, ele poderá direcionar sua atenção para diferentes lugares. Houve um tempo em que eu era gerente de um departamento de uma multinacional. Eles me pediram para gerenciar também um segundo departamento, até que encontrassem um novo chefe e isso poderia levar algum tempo. Como para gerenciar meu departamento não era necessária uma longa jornada de trabalho, pude aceitar, com facilidade, gerenciar o segundo departamento. Depois de uns meses, começaram as reclamações no segundo departamento. Delicadamente, disseram-me que sérias decisões deveriam ser tomadas. Se- gundo eles, eu não estava muito presente no seu departamento. Onde eu estava, então? No meu coração, sentia-me mais ligado ao primeiro departamento e, mesmo participando de uma interessante equipe de projetos que estava desenvolvendo um projeto rural, eu também não estava sempre presente lá. Com o passar do tempo, também saí dessa multinacional. Depois, pensando bem, foi um milagre que as duas equipes tivessem permanecido leais a mim, naquela época. Quando você diz essa peculiar frase para os funcionários de uma organização: "Para que ou para quem o chefe está direcionando sua atenção?" Então todo mundo já sabe a res- peito do que está sendo falado. O gerente está direcionando sua atenção para os seus funcionários? Está direcionando sua atenção para o seu chefe? Ou será que está direcionando sua atenção para algo fora da organização, talvez um novo emprego? Em uma organização é infalível a percepção dos funcionários em notarem para onde a atenção do chefe está direcionada. Uma mulher, que era uma das diretoras de uma equipe de gerência, carregava um grande fardo que não pertencia a ela e, sim, à sua chefia, a secretária pública municipal. Ela ainda tinha outro problema, um colega diretor. Para ser mais preciso: os funcionários dela brigavam constantemente com os funcionários do diretor. Esse colega era um "cara legal", mas apesar de muitas conversas não foi alcançado muito progresso em relação ao problema que os dois departamentos tinham um com o outro. O problema era a demarcação das tarefas. O trabalho que deveria ser realizado por um departamento, era realizado pelo outro e vice-versa. A situação pedia uma decisão firme e imediata, mas a gerente não conseguia aquilo que desejava sua chefia. Ela descreveu a secretária como uma mulher adequada, eficiente e ambiciosa. Apesar do trabalho de consultoria que havia sido feito, pouco resultado fora alcançado na solução dessa questão. Então eu disse: "Ok, seguiremos em frente, faremos uma constelação para descobrir o que está acontecendo." Em uma simples constelação, vimos que todos os representantes estavam olhando para o mesmo lado, como se fossem uma tropa de guerrilheiros, tendo a secretária pública à frente deles. Ela não podia ver os diretores e muito menos os seus funcionários. Acima de tudo ela estava direcionada, fascinada e muito ativa em algo que era somente dela. Os direto- res que haviam escolhido os representantes ficaram um pouco decepcionados quando eles viram claramente aquilo que estava acontecendo lá. Então, a diretora da equipe de gerentes bateu na boca e disse: "Sim, é isso! Nós estamos envolvidos em um projeto muito ambicioso que é tocado por todos nós. Mas dessa forma não há mais ninguém que tenha visão da organização como um todo e que possa ver de que a organização necessita." QUAL É A DISTÂNCIA E ALTURA EM QUE O CHEFE SE ENCONTRA? Se você mesmo é o chefe, então é claro que você tambémé humano, que está sempre presente junto aos funcionários e pronto para atendê-los. Mas, qual é a verdadeira distância entre você e os seus funcionários? Você acredita ser esse um assunto interessante para ser tratado e analisado em uma reunião de trabalho? Pegue então pedaços de papel para os representantes do grupo de funcionários e para o chefe. Escreva em cada pedaço de papel a função de cada pessoa. Não escreva nada a respeito da pessoa em si, mas da função exercida por ela. Só diga o nome da função. Por exemplo: o dono da companhia, o chefe do setor de automação, o assistente de automação, o pessoal da contabilidade etc. As pessoas estão a serviço numa função. Isso quer dizer que uma parte de sua inteira personalidade e do seu potencial estão à disposição da organização e presentes na mesma. Se você se referir a elas pessoalmente, algumas se sentirão expostas demais. Isso também não corresponde à realidade. A partir da perspectiva sistêmica, a única coisa que importa é que função essa pessoa ocupa no sistema e como essa função se mantém em relação às outras. Caso contrário, afastamos do trabalho sistêmico e desembocamos em um sócio-drama ou ainda mais longe: no treinamento sensitivo dos anos setenta. Escreva então essas funções em cada pedaço de papel. Nem todo funcionário precisa receber um papel só para si, você pode também escolher representar um grupo de funcionários com apenas um pedaço de papel. Coloque em cada papel uma seta que irá indicar para onde o representante está dirigindo seu olhar. Peça a um dos funcionários para colocar os papéis sobre a mesa (e se for folha, formato A4, no chão) na posição que, para ele, exprime a realidade das relações, conforme ele sente que é. Olhe para a distância entre funcionários e direção. A imagem desses papéis dá a primeira impressão de sua posição como diretor do departamento, chefe da empresa ou do setor onde você está. Talvez você ainda deixe outros funcionários fazerem o mesmo que o primeiro funcionário fez, mas pode ser útil tentar fazer isso você mesmo. Pense em que tipo de efeito é causado ao colocar esse papel sobre a mesa de diferentes maneiras. Como podem os diferentes funcionários trabalharem bem dentro dessa configuração? Como pode o departamento como um todo trabalhar melhor? Parece até um jogo, mas jogue somente quando a atmosfera for de seriedade. O SALVADOR: COMO VOCÊ SE DESFAZ DESSA MEDALHA? Um diretor de um escritório de engenharia enfrentou dificuldades e, após vários anos, acabou sendo incorporado por uma grande firma de engenharia. Ele cuidou para que a nova "filial" pudesse preservar o seu próprio nome e grande parte de sua independência em relação à matriz. Alguns anos depois surgiram problemas na equipe da gerência. Os chefes de departamento, que formavam junto com o diretor a equipe da gerência, sentiam-se numa posição de excessiva subordinação em relação ao diretor. Eles se sentiam constantemente controlados e vigiados. O chefe tinha um controle excessivo de todos os detalhes, e isso causava uma espécie de paralisia no funcionamento do trabalho da equipe de gerência. Por outro lado, o diretor reclamava que a equipe de gerência não tinha muito arrojo e apresentava pouquíssimos projetos que, de fato, fossem factíveis, apesar de ele sempre incentivá-los a apresentar projetos regularmente. Um diretor adjunto foi então colocado em ação, mas ele também sabia que o buraco não podia ser tapado: ele gerenciava, porém, não liderava. Uma parte dessa dinâmica surgiu devido ao fato de que o diretor havia salvado a organização. Isso foi um serviço muito especial que, sem querer, colaborou para que o diretor fosse colocado em uma alta posição, isolado. Ele não percebeu isso e muito menos desejava que isso acontecesse. Por causa disso, era muito grande a distância entre ele e os chefes de departamento e quase que impossível de ser reduzida. Sem que eles quisessem ou mesmo percebessem, os chefes de departamento se comportavam como crianças em relação a ele. Poderíamos dizer que o diretor foi identificado como o salvador da empresa, e um salvador fica num pedestal. Um ritual aqui contribuiria para uma solução. Assim, a pessoa do diretor poderia então ser separada da função de "salvador". Também ainda se poderia reconhecer o excepcional desempenho dos serviços que o diretor prestou originalmente mas, agora, toda essa luta acabou. O herói de antigamente segue em frente como um simples diretor, com todos os seus caprichos humanos e qualidades. Junto com os chefes de departamento, ele dirige sua visão para o futuro. LIDERANÇA E TRABALHO EM “REDES” Às vezes as constelações falham, não apresentam clareza. As dinâmicas que se tornam visíveis não podem ser explicadas de uma maneira satisfatória e não é possível encontrar a direção para a resolução do problema. Apesar disso, algumas dessas constelações são capazes de dar uma dica na direção certa. Apresentaremos um caso assim, abaixo. Um consultor perguntou se ele poderia receber uma consulta privada após o workshop. Ele estava tendo dificuldades com uma colega de trabalho e desejava, na verdade, despedi-la. Essa colega também estava presente no workshop. Prometi a ele, com sentimentos ambivalentes, que após o término do workshop eu o atenderia. Para essa consulta adicional ele trouxe seu sócio, que era também um consultor. Eles começaram a empresa juntos. Esse sócio aparentava liderar mais que o outro. Ele me fez a seguinte pergunta: "E melhor para a empresa que essa colega de trabalho seja despedida?" Após ter perguntado se eles já haviam decidido se iriam despedi-la ou não, recebi uma hesitante resposta negativa. Naquele momento eu deveria ter interrompido, deveria ter sentido que o que eles queriam era não ter que tomar a decisão de despedi-la ou não e, sim, deixar essa decisão ser tomada por mim ou pela constelação. Uma constelação não serve de ajuda se uma pessoa, internamente, já tomou uma decisão. Não tem o poder de diminuir as consequências de uma decisão. Todas as consequências deverão ser assumidas pela pessoa que tomou as decisões que acarretaram essas consequências, mas eu me deixei seduzir e segui em frente. O que me motivou a prosseguir foi o fato de que eu tinha em vista não somente os dois diretores e sim, o sistema inteiro. Pois bem, nós prosseguimos. De mútuo acordo, os dois sócios decidiram que o primeiro seria quem escolheria os representes para si mesmo, para o segundo sócio, para a mulher e também para a empresa. Figura 1 P 1 Primeiro sócio, consultor P2 Segundo sócio, consultor Co Colega de trabalho que eles desejavam despedir E Empresa Nós percebemos que todos os representantes entregaram os pontos. Eles se sentiam infelizes e desejavam cair fora. Parecia até que explodira ou ainda estava para explodir uma bomba bem no meio deles. A empresa já existia há três anos e não existia nenhuma informação na história da empresa que pudesse explicar essa constelação. Eu parei por aqui, diante de um enigma. Então, de repente, me ocorreu ver o que iria acontecer se colocasse as pessoas reais no lugar dos representantes. Coloquei os dois sócios, um ao lado do outro, atrás deles o representante da empresa e na frente a colega de trabalho, com o rosto virado para eles. Esperava assim ter uma impressão da dinâmica que estava acontecendo ali. Figura 2 A empresa se sentia bem agora. Curioso era perceber que os sócios, de maneira nenhuma, pareciam assumir a responsabilidade de dizer à colega de trabalho o que eles esperavam dela ou qual era a posição dela no sistema. Eles se comportavam como adolescentes, e ela sentia que podia brincar com eles. Então eu interrompi. Naquele momento o segundo sócio disse: "Nós não podemos despedi-la, pois somos uma rede de trabalho, nós só podemos pedir que deixe a empresa." Nesse momento tudo ficou claro para todos ali presentes. O primeiro sócio contou que na realidade eles, juntamente com mais sete colegas, eram comose fossem sete empresas. "A empresa é uma rede formada por essas sete empresas." A estrutura tinha, portanto, a tendência de que cada uma se afastasse das demais como se viu na primeira constelação. Os dois sócios ainda representavam a empresa, a rede central. Eles ainda se perguntavam o que seria melhor para a empresa. Através da constelação percebeu-se que a empresa, a rede como um todo, tinha pouquíssima força e que cada um dos dois sócios se escondia atrás da empresa. Com isso eles perdiam a sua força de líderes. Nem a empresa e nem alguns dos bons consultores assumiam suas respectivas responsabilidades, nessa estrutura. O que mais chamou atenção foi que tanto os dois sócios como os colegas de trabalho, pelo menos até onde os conheci, pareciam pos- suir personalidade forte e aparentavam ser competentes, mas se enfraqueceram dentro dessa rede. Durante nossa troca de ideias surgiu a sugestão para olhar para duas possibilidades: uma era uma construção jurídica de onde efetivamente poderia surgir uma empresa. A segunda possibilidade era romper a rede e cada um, como consultor individual, seria responsável por uma tarefa, começando assim cada trabalho em conjunto de maneira bem clara para todos. Nesse último caso surgiriam sete empresas novas que seriam individualmente livres. Constelações que aparentemente não trazem muitos resultados apresentam muitas das vezes mensagens escondidas. Aqui ficou claro, do ponto de vista sistêmico, quais são as diferenças entre uma rede e uma organização. Uma rede de trabalho é o trabalho em conjunto de profissionais, ela pode dar suporte na área de secretariado ou dividir espaço de escritório oferecendo, assim, mais continui- dade de trabalho e segurança. Existem várias outras especialidades disponíveis e, caso seja preciso, uma pessoa pode fazer o serviço para outra. Mas, no fim, cada um é o seu próprio chefe. As exigências estabelecidas em uma rede são mais altas do que em uma organização. Do ponto de vista sistêmico, a maioria das redes não são organizações e sim pessoas que trabalham em conjunto, mas de forma independente. Se alguma pessoa vai embora, então isso muda a estrutura. Em uma organização isso é diferente: se uma pessoa vai embora, a estrutura continua a mesma, apenas a função dessa pessoa estará novamente disponível a outra. O que nós percebemos até agora é que demora de três a cinco anos para que surja numa rede a necessidade de liderança. Talvez esse seja o momento em que uma rede sente a necessidade de se tornar uma organização. Para resumir, uma citação de Hellinger: “Se o fundador não for respeitado então isso terá influência sobre a moral trabalhista e também sobre a identificação com a empresa: ambos diminuirão.” 4 VIVER EM UMA EMPRESA FAMILIAR Se você trabalha em uma empresa familiar, isso significa para você trabalhar ou parece mais viver em uma empresa familiar? Quais são os mistérios de uma empresa familiar? Como você pode encontrar lá um bom lugar para trabalhar? Em que pode se envolver e de onde tem que manter distância? Como é que pode perceber o que está acontecendo? A seguir daremos uma "olhada por trás das câmeras" de uma empresa familiar. Um gerente de marketing, que veio de outra empresa, recebeu a posição que até aquele momento havia sido exercida pelo irmão mais velho, dentro de uma empresa familiar. Esse irmão mais velho havia sido colocado para fora da empresa pelos três mais novos. O gerente de marketing estava indo muito bem, já há um ano. Depois de um tempo, ele se ausentou da empresa por uns dias para participar de um congresso em Londres. Quando voltou, o seu escritório havia sido tomado por um dos irmãos. O gerente de marketing fora despedido. Isso aconteceu apesar de ele não estar devidamente consciente de que corria sérios riscos, ao tomar lugar em um sistema familiar onde, na realidade, não pertencia. Embora o irmão mais velho tivesse saído da empresa após ter brigado com os irmãos e o gerente de marketing ter sido recebido de braços abertos, o sistema familiar demonstrou ser mais forte do que o sistema organizacional. Permanecer fiel à dinâmica familiar, mesmo com todas as suas negatividades, mostrou ser um forte mecanismo dentro dessa empresa, mais do que o atraente lucro conseguido por esse competente profissional, responsável pelo marketing. Para quem trabalha em uma empresa familiar, a pergunta número um é: o que predomina nessa empresa, a dinâmica familiar ou a dinâmica empresarial? Na Holanda, 80% das empresas são familiares. Dessas empresas familiares, 100 mil serão confrontadas nos próximos dez anos com a pergunta: quem será o próximo sucessor? Essas empresas onde as dinâmicas familiares predominam possuem outras características ao serem comparadas com as empresas normais. Isso vale também para empresas familiares que se transformaram em empresas "comuns". Empresas familiares são mais direcionadas para uma continuidade de longa duração. É mais importante que a empresa continue existindo, e não como ela vai existir. Existe, por exemplo, menos ênfase na ambição de muito lucro do que na continuidade. Uma empresa familiar está preparada para suportar prejuízo por mais tempo e, por isso, pode apertar mais o cinto do que outras empresas. Conheço empresas onde o funcionário é aceito como parte da família, empresas essas onde trabalham famílias inteiras: pais, filhos e filhas. O lema deles é life long employment ("emprego para toda a vida"). Um funcionário aí geralmente se apresenta assim: "Eu sou..." e, em seguida, o nome da empresa. Certa vez, um diretor de uma empresa me contou que teve muita dificuldade em formular uma carta de demissão para um gerente de qualidade. "Ele simplesmente não combinava com a empresa" — foi a explicação dele. A dinâmica da família e o que lá é feito (ou não) determina as regras de pertencer e não pertencer numa empresa assim. Quem reconhece e respeita o fato de que irá trabalhar em uma organização onde a dinâmica da família tem prioridade, acima da lógica da organização, poderá encontrar um bom e prazeroso trabalho dentro dessa empresa familiar. A gerente de marketing de uma empresa que produz bebidas destiladas participou de um workshop nosso, feito com o objetivo de pesquisar cientificamente as possibilidades de uma constelação e seus efeitos dentro de uma empresa. Ela fez uma constelação cujo tema era saber qual seria o impacto mercadológico em seu grupo habitual de consumidores, caso eles introduzissem um novo tipo de bebida forte. Seis meses depois ela informou qual foi o efeito dessa constelação. Uma das coisas que ela disse foi: "Como gerente de marketing eu sou direcionada para o aqui e agora e para o futuro próximo. Trabalho aqui somente há dois anos e sempre quero tudo muito rápido. Através dessa constelação minha orientação mudou. Esse ano completamos 115 anos de existência. Estou agora muito mais consciente dos 113 anos de história que formam essa empresa, antes mesmo que eu viesse a existir. Meu chefe, atual diretor, faz parte da quarta geração dessa família de diretores. Através dessa constelação eu não o vejo mais como meu chefe e sim, como meu campo de trabalho." O que está escrito no papel sobre a hierarquia do empreendimento em uma empresa familiar nem sempre é a hierarquia real, aquela que efetivamente funciona. O bisavô vai uma vez por semana à empresa. Somente um sinal silencioso da cabeça desse bisavô, lá do fundo da sala do conselho diretor, já é suficiente para aprovar ou não os planos dos seus sucessores. Mesmo quando o bisavô falece, ainda assim é mencionado o seu nome e, muitas vezes, em pensamento, solicitam-se seus conselhos. Se isso fortalece a empresa, então é um bom sinal. Talvez existam pessoas na direção da empresa que não pertencem à família, que vieram de fora. Muitas delas conseguem sentir muito bem como a dinâmica da família e a dinâmica da empresa se interpenetram e se estendem também para fora da direção executiva do sistema.Geralmente irmãos e irmãs que não trabalham na empresa sentem-se responsáveis por tudo que acontece lá dentro. Assim eles se tornam uma parte oculta da direção da empresa. Desse modo, de forma justificada, muitas vezes esses familiares que não trabalham oficialmente dentro da empresa vêm participar de workshops de constelações organizacionais. Eles se sentem realmente responsáveis pelo negócio, dividem a prosperidade e as preocupações dessa empresa. Martin é uma pessoa assim. MARTIN Eu participei da empresa que eu e o meu pai fundamos. Agora não faço mais parte dela, mas muitos membros da minha família ainda fazem. A empresa não vai bem. Quero saber o que está acontecendo. STAM Você acha que seu pai lhe daria permissão para olhar isso aqui? MARTIN Sim. STAM Qual é sua posição entre os irmãos? MARTIN Eu sou o segundo filho. Meu irmão mais velho era o diretor, mas quando tinha 33 anos morreu de um tumor no cérebro. O irmão do meu pai também morreu da mesma forma, quando tinha mais ou menos a mesma idade. STAM Bem, para começar escolheremos um representante para você e outro para o seu pai. Martin escolhe e os posiciona. Figura 1 P Pai, fundador da empresa M Martin (cliente) O pai olhava constantemente para o chão, provavelmente para alguém que já morreu. STAM para Martin Coloque também o seu irmão. Martin fez o que lhe foi pedido. Figura 2 I Irmão, que morreu aos 33 anos de idade, ex-diretor O representante do irmão de Martin sentia-se maior do que o próprio pai. Stam colocou então o irmão sentado no chão, no lugar para onde o pai estava olhando. Figura 3 O representante de Martin estava alerta e vigilante. STAM para Martin Escolha um representante para a empresa e o posicione. Martin disse que a empresa era feminina. Escolheu uma mulher para representá-la e colocou-a ao lado do pai, no lugar onde antes estava o seu irmão mais velho. Figura 4 E Empresa onde o pai foi o fundador Da maneira como o pai e a empresa se olharam, tornou-se claro que a empresa tomava o lugar de sua esposa, dentro do sistema. Os representantes de Martin e seu irmão sentiram ambos uma tensão no ar. Então Stam pediu a Martin que acrescentasse sua mãe, esposa de seu pai. Figura 5 Ma Mãe do cliente, mulher do fundador da empresa A representante da empresa se sentia maior do que a mãe. Essa se sentia machucada. Então o que se seguiu foi um ritual onde a empresa disse, entre outras coisas, para a mãe: "Eu vejo você" e "eu sinto muito" e se curvou diante da mãe. Isso fez bem para a mãe e, a partir desse momento, o pai se sentiu revigorado, vivo! Somente agora ele podia olhar ao redor. MARTIN que observava atentamente, disse, emocionado Era assim, desse jeito. Nesse exemplo podemos ver o quanto a mãe foi excluída. O pai, que era o fundador da empresa, colocava a empresa em primeiro lugar e a esposa em segundo. Isso colocou os filhos, aqueles que iriam suceder o pai na empresa, em uma dupla ligação: se a empresa tivesse sucesso eles seriam infiéis à mãe. Se a empresa falisse, eles seriam infiéis ao pai. Eles nunca poderiam agir bem. A arte agora era fazer com que tanto a mãe como a empresa fossem reconhecidas e recebessem os seus respectivos lugares. A emoção de Martin, quando a empresa se curvou diante da mãe, deu um sentido de pertencer a ambos: a empresa e a mãe receberam um lugar para si. STAM Talvez seja bom colocar um monumento da mãe de vocês em algum lugar da empresa... Familiares que são excluídos exercem uma influência "oculta". Nesse caso você não pode separar a hierarquia familiar da hierarquia organizacional. Se existe tensão no ar, então é porque o sistema familiar ainda precisa de algo. Caso o sistema organizacional necessite de algo, geralmente será então necessário primeiro conseguir uma permissão do sistema familiar. É compreensível que esse tipo de mecanismo faça com que os funcionários se sintam desesperados. Lutar contra isso não tem muito sentido. É de grande ajuda em uma empresa como essa que os funcionários possam ver a empresa de uma forma geral, dentro do contexto familiar, mas não com o objetivo de querer en- tender tudo ou estar a par dos segredos familiares que são intimamente restritos aos membros da família. Essa visão do contexto familiar ajuda funcionários e pessoas que não pertencem à família e que vieram trabalhar na empresa. É um tipo de conhecimento que não deseja mudar coisa alguma, apenas nos permite estar conscientes de que nós também temos nossa própria família, que sempre está presente como uma força que atua no fundo e por trás de tudo. Uma empresa familiar desse tipo se torna uma empresa calorosa para com todos os que lá estão, sejam funcionários ou membros de suas famílias e não somente as pessoas da família dos donos da empresa. PROPRIEDADE PÚBLICA Muitas vezes crianças que são criadas dentro de uma empresa familiar se defrontam mais tarde com um problema muito sério: onde está situada a fronteira entre a família e a empresa? Eu e minha esposa, depois de 25 anos, em que cada um tinha o seu próprio trabalho, estamos agora, já há algum tempo, trabalhando integralmente juntos. Há cinco anos atrás eu não aconselharia ninguém a fazer uma coisa dessas, agora acho simplesmente maravilhoso, mas também tem seu preço. O trabalho muitas vezes prossegue 24 horas por dia. Para mim é necessário me desprender às vezes para descansar fisicamente e sair de férias. Já para a minha esposa, desfrutar do nosso jardim é suficiente. Se nós não tomamos cuidado, nossa casa se transforma em lar e escritório. As coisas não são sempre claras: é um almoço de negócios ou uma reunião familiar? Nós temos dois filhos: nosso filho estu- da fora e temos uma filha que disse, um dia desses, que não se sentia à vontade em nossa própria casa, quando a nossa secretária estava presente. Isso me abriu os olhos. O que vem em primeiro lugar, o sistema familiar ou o sistema empresarial? Qual está a serviço de qual? Uma jovem mulher nos disse como ela nasceu e cresceu dentro de uma empresa fundada pelos seus pais. Era uma instituição para doentes mentais. Para ela, como criança, não havia uma linha de separação clara entre família e empresa. Nessa época ela foi abusada pelos pacientes da instituição e ela nos disse o seguinte acerca disso: "Eu confiava em todo mundo, como se fossem membros da minha própria família." Mais tarde, quando ela estava trabalhando em outra empresa, teve que aprender a estar cons- tantemente consciente da separação que deve haver entre trabalho e vida privada. Mesmo assim, ainda tinha a tendência de, inconscientemente, agir com muita intimidade com os colegas de trabalho e clientes, comportamento este que não pertencia ao contexto de trabalho. O primeiro passo nessa constelação foi atribuir fronteiras entre ela mesma, sua família e os outros. Esse caso pede cuidado em seu manuseio, tanto para respeitar como para separar ambos os sistemas, sem causar novos conflitos de fidelidade. Algo similar pôde-se observar em um homem que era dono de um parque infantil que havia surgido da pequena loja de seus pais. Crianças que crescem em empresas dirigidas pelos pais, crescem de certo modo como se tossem uma propriedade pública. Isso pode tanto causar impedimento como apoiar as ati- vidades dessa criança, quando adulta. Aquela antiga história de que um genro arruína a empresa da família da sua esposa é conhecida. Se já foi investigado o motivo disso ser tão frequente eu não sei, mas observações do ponto de vista de uma constelação indicam que o genro sistemicamente não pertence à família de origem da esposa. Se ele toma posse da empresa, então é bom que a esposa continue tomando as decisões como ela deseja. Dentro da empresa, a esposa continua a número um, e o marido se torna o número dois. Se a relação de esposa e marido irá suportar isso é outra questão. Se uma empresa familiar é colocada em outras mãos, porque, por exemplo,não existe um sucessor na família, é muito bom para a empresa que o novo dono tenha a "bênção" do fundador. Eu me lembro muito bem de um senhor muito educado que estava em um workshop. Ele era o fundador de uma construtora que havia se expandido e transformado em uma grande empresa coroada de êxito. Agora ele queria parar de trabalhar e fazer uma volta ao mundo com sua esposa. Na realidade, já organizara tudo, mas ainda faltava algo para que tudo saísse conforme o planejado. Nós fizemos então uma constelação para saber o que ainda faltava. A única coisa que ele ainda desejava era apresentar sua esposa à empresa. Ele se sentia orgulhoso ao lado do representante da esposa e à frente dos representantes dos seus sucessores e funcionários. Apresentou sua esposa a eles e agradeceu aos seus funcionários por tudo o que fizeram para a empresa. Para o seu sucessor, disse: "Você pode tomar a frente a partir de agora, eu confio essa empresa em suas mãos e você pode dirigi-la da sua própria maneira. Estou contente que você deseje assumi-la e por isso tem a minha bênção." Todos ficaram radiantes, e o sucessor, comovido, não conseguiu dizer nenhuma palavra. Aliás, todos aqueles que testemunharam essa constelação se comoveram. 5 MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO "Não mude aquilo que está funcionando." (Gunthard Weber) Agora que entendemos mais a respeito da dinâmica dos sistemas dentro das organizações, é importante nos perguntar se temos que contar com essas dinâmicas dentro desses siste- mas, se pensarmos em efetuar mudanças dentro dessas organizações. No caso a seguir ficou claro o quanto é valioso analisar, primeiramente, se existem dinâmicas acontecendo dentro de uma organização que sofrerá mudanças. Uma consultora organizacional havia recebido a tarefa de dirigir o processo de mudança de um departamento de uma organização governamental. O departamento possuía três equipes, e uma dessas equipes teria que se mudar para outro departamento. As duas equipes que permaneceriam iriam trabalhar mais em contato direto com o público. O chefe do departamento estava doente e não iria mais voltar. O chefe dele havia assumido por um longo tempo a direção do departamento, mas não fez isso muito bem. A consultora já havia quase cumprido sua tarefa, só lhe faltava escrever um relatório descrevendo as funções e tarefas para um novo chefe de departamento. Primeiro a consultora queria saber o que estava acontecendo. Para isso fizemos uma constelação organizacional. Atribuímos um representante para cada uma das três equipes existentes, um para o chefe que estava doente e um para o chefe que assumira a função. Atribuímos também um para o diretor (chefe desse último) e um para um vereador (nas tarefas do departamento havia funções a serem cumpridas por um vereador). As equipes iam bem. Eles se concentravam no seu trabalho e nos clientes e, apesar da falta de gerência, resolviam tudo por si. A terceira equipe era rebelde e um pouco arrogante. A consultora disse para eles que teriam que ir para outro departamento. O que chamou atenção foi o comportamento do chefe do departamento: ele não conseguia se mexer, via tudo que estava acontecendo, mas se sentia totalmente preso. Não estava disponível nem para as equipes e nem sequer para seu subordinado que estava doen- te, o chefe do departamento. Ficou claro que aquilo estava ligado ao diretor (seu chefe imediato) e ao vereador. Pelo fato de termos alcançado o limite da tarefa dada à consultora, achamos que seria inconveniente prosseguir e que também seria melhor não aprofundar na dinâmica do que estava acontecendo, no nível da diretoria. Depois de um pequeno ritual de reconhecimento, o sobrecarregado chefe de departamento (que estava doente) se sentiu bem melhor. Para a consultora significou muito presenciar isso tudo. Quando isso acontece, a constelação fornece aos presentes muitas informações novas. No próximo dia do workshop a consultora quis ver uma questão relativa à descrição de funções e tarefas para o novo chefe do departamento. Para isso nós fizemos uma constelação-esboço. Começamos com o que foi apresentado por último, no dia anterior. Os representantes foram colocados como neutros. Neutro quer dizer aqui que as dinâmicas existentes não estão excessivamente sobrecarregadas e que cada um está em condição de fazer o seu trabalho, na posição em que se encontra dentro da constelação. Atribuímos então um representante para a função de chefe do departamento, não a função do atual chefe e nem uma outra pessoa como chefe e sim, uma função totalmente nova como chefe de departamento. Para esta função nós testamos três posições diferentes, para ver que significado cada uma dessas posições teria para o sistema. Com a função de chefe de departamento situado na posição 1, as duas equipes não ficaram satisfeitas. Elas conseguiriam tolerar o chefe, mas com certeza cada uma continuaria fazendo o que bem entendesse. O chefe era visto pelas duas equipes como um tipo de conselheiro. Eles não precisavam de um chefe como esse. Ambas as equipes viam isso como uma ameaça para a independência que possuíam. Com o passar dos anos, eles haviam se desenvolvido e se transformado em um tipo de equipe autônoma. Para os outros participantes dessa constelação essa não era uma posição muito forte para o novo chefe. O chefe de departamento situado na posição 2 causou desconfiança nas duas equipes. Elas temiam que o novo chefe atuasse da mesma forma como o chefe anterior havia atuado. Passou também a existir imediatamente uma tensão entre a nova função e seu chefe, como se houvesse uma duplicação de funções. Acima de tudo, a posição 2 se encontrava muito perto do lugar sobrecarregado onde estava antes o chefe dos chefes de departamento. Essa foi considerada como uma posição de gerência que vigiava ambas as equipes, dava as ordens do que deveria ser feito e também controlava os resultados das suas atividades. A representante do vereador fez sinais de desaprovação com as mãos, quando as posições 1 e 2 foram testadas: ela desejava algo diferente. Na posição 3, o chefe de departamento foi perfeitamente aceito por ambas as equipes. Ele as protegia do vereador. Com um gerente situado naquela posição, sentiam-se apoiados, principalmente no que dizia respeito a suas tarefas. A representante do vereador também ficou satisfeita com o chefe de departamento situado na posição 3. Ela tinha a impressão de que agora poderia discutir com ele suas ideias sobre as tarefas a serem realizadas pelo departamento. O chefe do chefe de departamento também se sentiu bem e disse que, dessa forma, poderiam trabalhar em conjunto. A posição 3 pareceu ser, então, a melhor. Figura 1 CCD Chefe do chefe de departamento CCD1 Chefe de departamento situado na posição 1 CCD2 Chefe de departamento situado na posição 2 CCD3 Chefe de departamento situado na posição 3 V Vereador D Diretor Eql Equipe 1 Eq2 Equipe 2 Cid Cidadãos O que significa isso? Eu e a consultora conversamos a respeito das consequências de cada uma das três posições. A posição 1 seria o chefe como se fosse o líder. Permanecendo no primeiro degrau, ele lidera ambas as equipes, fazendo com que a equipe permaneça sempre subordinada e cria também um quadro de referência onde eles possam tra- balhar. Dirige também a maneira como se trabalha dentro das equipes e ajuda a melhorar a convivência entre elas, caso seja necessário. Já se pode ir imaginando como será a descrição de funcionamento para essa posição. Visualiza qual o tipo de pessoa que combinaria com essa posição, podendo assim começar a procurar a pessoa certa. Poderia ser alguém que tivesse feito o mesmo trabalho que os funcionários das duas equipes fizeram. Seria um tipo de forte "primus inter pares" que serviria para liderar ambas as equipes. A Posição 2 seria o gerente a distância: ambas as equipes estariam sobre sua custódia, mas o chefe do chefe de departamento já exercia um pouco essa função. Seriaum gerente que focasse mais nos resultados desse departamento do que na maneira de trabalho. Uma função livre e despojada e, com certeza, não uma função de tempo integral. Seria mais ou menos igual à função que o chefe do chefe de departamento tinha agora, mas que, nesse momento, não sabia como preenchê-la. A Posição 3 seria a função-ponte entre os desejos da diretoria, as possibilidades que a gerência cria e o trabalho de ambas as equipes. Essa direção tem também contato com o público, que nesse caso, eram os cidadãos. Ao lado dessa função-ponte existe também uma função servidora, destinada a futuros desenvolvimentos. Uma grande vantagem é que dentro dessa função, que era direcionada principalmente para desenvolvimentos, a função poderia ser exercida sem que houvesse choque com o superior hierárquico (o chefe do chefe de departamento). O interessante é que agora a consultora disse que na realidade os seus contratantes gostariam de obter uma descrição de funcionamento, conforme a posição 2. Então aquilo que o chefe que estava doente e o chefe do chefe de departamento não puderam fazer, devido às dinâmicas existentes dentro do sistema, poderia ser feito futuramente pelo novo chefe de departamento. A organização desejava então preencher algo que não era possível, devido à atual dinâmica vigente. A consultora entendeu que, se a organização atribuísse um chefe para a posição 2, isso implicaria a desaprovação do chefe do chefe de departamento e também do atual chefe de departamento (doente). Isso significaria o fim do chefe do chefe de departamento e complicaria o trabalho do novo chefe na posição 2. Acima de tudo existia ainda a chance de o novo chefe, na posição 2, deparar-se com a mesma dinâmica que o seu antecessor se deparou, repetindo a cena. Se extrapolarmos esse exemplo às mudanças dentro das organizações, isso terá consequências de longo alcance. Se uma organização não pode fazer nada contra uma dinâmica existente, então é importante que essa dinâmica seja primeiramente examinada e talvez solucionada antes de mudar qualquer coisa dentro da organização. Isso faz com que a perspectiva sistêmica tenha muito a colaborar no processo de mudança, tanto do ponto de vista do perito em organizações como também da perspectiva de peritos em questões financeiras ou jurídicas. TRÊS PONTOS DE ATENÇÃO EM UMA MUDANÇA ORGANIZACIONAL Quando formos trabalhar com mudanças organizacionais, devemos ter três pontos em vista: Primeiro: dentro da organização existe sempre uma dinâmica que é muito importante para as futuras mudanças, e ela deve ser verificada em primeiro lugar. Frequentemente observamos que certos problemas dentro de uma organização não são os problemas em si, mas sim a solução para um problema ou dinâmica sistêmica já existente. Departamentos que não funcionam bem no trabalho em conjunto passam às vezes por essa dificuldade devido à falta de solução de algo em outro nível da organização. Se o chassi do carro está desalinhado, não adianta continuar trocando os pneus por estarem desgastados, pois os novos pneus têm que compensar o desalinhamento do chassi e se desgastam mais rapidamente. Isso seria uma solução cara e imediatista para o problema dos pneus. O desgaste não é "o problema" e sim a solução para outro problema em um outro lugar, dentro do sistema. Executar uma averiguação sistêmica durante o planejamento de uma mudança organizacional fornece importantes informações para que se possa prevenir para não estar somente ocupado em combater sintomas desse tipo. Na realidade esse primeiro aspecto tem relação com as seguintes perguntas: a organização está sistemicamente pronta para mudar? Existem dinâmicas internas nessa organização que poderiam anular o efeito de uma mudança organizacional? Segundo: a mudança causa efeitos sistêmicos em outras partes da organização e qual é a importância desses efeitos? A mudança significa que tanto pessoas como departamentos e objetivos receberão outra posição dentro do sistema, diferente da que eles têm agora? Muda algo, realmente, na ordem? Será colocada alguma coisa de lado através da mudança que antes era importante para a organização? É sensato verificar quais são os efeitos causados pelas partes de uma organização que sofrerão mudanças sobre as partes de uma organização que não passarão por mudanças. Em constelações sobre marcas, geralmente percebemos que colocar um novo produto no mercado acarreta grandes consequências na relação entre importantes departamentos e gerentes. Mesmo que superficialmente pareça que as pessoas não sofrerão dano devido ao novo desenvolvimento, ele certamente causará uma mudança em uma parte do sistema que provocará oscilação em outras. A respeito desses aspectos faz-se então a pergunta: qual é o efeito da mudança em outras partes do sistema? Essa mudança faz com que o sistema se torne, como um todo, mais forte? Terceiro: a decisão que a organização tomou é em direção à mudança? Ela tem as habilidades necessárias para efetuar a mudança? As pessoas-chaves conseguem ver, a partir da sua posição dentro do sistema, todo o processo da mudança? Eles estão em condições de decidir? Essas pessoas-chaves têm condições de suportar as consequências dessas decisões? Elas têm força suficiente para acompanhar essa mudança? Um bom projeto organizacional, desenvolvido por uma empresa de consultoria, causa pouco efeito quando as pessoas mais importantes dentro da organização não podem tomar decisões ativamente, e, por isso, não conseguem conduzir essa mudança até um bom resultado final. Então a empresa de consultoria toma o lugar do dirigente, causando assim outros efeitos. MUDANÇAS EM CONTATO COM A REALIDADE Pouco tempo atrás eu estava treinando (fazendo "coaching" com) um diretor de uma empresa de reciclagem de lixo. Não era exatamente um treinamento (coaching), era mais uma conversa a respeito de coisas da vida e do trabalho. Ele me contou que havia começado como diretor de uma empresa de serviços públicos que prestava serviços como o de recolhimento de lixo. O serviço prestado se transformou, naquele tempo, em um empreendimento independente. Esse processo foi muito bem executado por esse ambicioso diretor. Depois disso ele focalizou sua visão em outras possibilidades de mercado e rapidamente havia transformado aquele antigo serviço público em uma moderna e inovadora empresa de reciclagem. Então chegou o dia em que os lixeiros não eram mais necessários, e o diretor arranjou outro lugar para que eles pudessem trabalhar. Ele olhou para eles e lhes agradeceu. Disse-lhes que sem eles não teria sido possível transformar a empresa no que ela era hoje e que infelizmente, apesar disso, não havia mais lugar para que eles pudessem continuar trabalhando na empresa. Na despedida, um dos lixeiros disse para ele: "Se tivesse nos mantido na empresa você seria um idiota, além disso, também teria nos desvalorizado." Isso foi uma mudança em contato com a realidade. É doloroso quando uma pessoa não é mais necessária, mas é a realidade. Se isso não for olhado e enfrentado como tal, então os envolvidos irão viver em um mundo de ilusão. Isso enfraquece a todos. Uma regra sistêmica, durante uma mudança organizacional, é que o sistema só existe através das funções que combinam com o objetivo e tarefas da organização. Manter uma função que é inútil dentro da organização é uma boa receita para excluir alguém. Quantas vezes já não aconteceu de, por exemplo, numa fusão de dois pequenos municípios em uma cidade maior, quatro pequenos órgãos públicos serem transformados em um só grande órgão que é, então, dividido em quatro setores, onde os antigos secretári- os desses órgãos públicos podem se transformar em diretores. Dividem em quatro setores, onde na realidade só havia espaço para três! Todo mundo sabe que o quarto setor foi acrescentado sem necessidade. Mais cedo ou mais tarde surgirão problemas pelo fato das coisas não terem sido elaboradas com clareza, desdeo início. Mais tarde, o preço a ser pago será bem mais alto com os custos de uma aposentadoria prematura, fundo de garantia e também falta de motivação e energia nos setores envolvidos. Tudo deverá ser pago mais tarde. Nesse sentido uma mudança organizacional é como se fosse uma intervenção cirúrgica: não se faz o possível e nem aquilo que seria agradável. Faz-se o que é neces- sário. Mudança organizacional pede coragem, preparo, luta e o abandono da inocência. Ao mesmo tempo é algo humilde, é algo que se faz a serviço da organização como um todo. “Um princípio muito importante é que a organização deve ser estruturada de tal forma que ninguém seja capaz de impedir ou bloquear o outro em seu trabalho.” (Bert Hellinger) COMO NOS LIVRAREMOS DAQUELE MALDITO OBJETIVO! Quanto mais você deseja se livrar de algo, mais ligado a esse algo você fica. Organizações possuem tarefas, objetivos, ideais, um nome. Para o sistema isso é muito importante. Com exceção das organizações familiares, que não possuem objetivos ou pelo menos objetivos explícitos, as organizações de um modo geral possuem um objetivo. Isso dá a elas direção e as mantém coesas. Se os tempos mudam, os objetivos também podem mudar e, com isso, muda um fator muito importante no desenvolvimento de uma organização. Frequentemente temos observado que em um processo de mudança, quando o objetivo é colocado sobre pressão, isso causa, com certeza, futuros problemas. Um exemplo: Uma diretora de um centro de acolhimento passava constantemente por muitos conflitos entre os colaboradores e a gerência. Isso já acontecia desde que ela fora trabalhar lá há alguns anos. Em uma constelação, os conflitos e a tensão se tornaram imediatamente visíveis. Ficou também claro que estava faltando alguma coisa, e que era essa falta que vinha causando a tensão. Quando se perguntou então se o nome da empresa era importante para a organização, a diretora contou que a organização fora fundada por uma ordem de freiras e depois fora perdendo o cunho religioso, até se tornar uma organização secular. A escolha de representantes para as freiras e seu posicionamento exerceu grande influência sobre os demais representantes que, entretanto, pareciam não respeitar as freiras e sua contribuição para a organização, o que ficou claro pela declaração de um deles: "Existe algo a ser respeitado aqui?" Para todos ficou imediatamente claro onde residia a fonte de tensão da atual organização. De certa forma isso foi um alívio. Com certeza, encontrar o ponto de origem dessa tensão era um alívio. Foi então deixado a cargo da diretora examinar se seria apropriado dar aos fundadores um lugar na organização ou dar a eles uma posição simbólica de honra e como fazer isso. Pode-se constatar esse tipo de problemas em organizações sem fins lucrativos e que foram fundadas devido a necessidades sociais e graças ao ideal de um fundador. Se o objetivo inicial muda, com o passar do tempo, sem que sejam prestadas as devidas homenagens ao fundador e seus objetivos iniciais, esse novo objetivo será então um elemento de exclusão. Outra pessoa contratada posteriormente passará a representar o objetivo original que foi negligenciado. Muitas vezes, esse campo de tensão entre os dois objetivos ou ideais que não foram expressos claramente se transformam em dois grupos de trabalhadores que entram em conflito. Eles se identificam, inconscientemente, cada qual com um dos ideais. O assunto ou "substância" do conflito entre esses grupos pode mudar muito em relação ao conflito original. Entretanto a estrutura ou padrão do conflito apenas se transfere para ou- tras pessoas que não têm nenhuma relação com a questão original e pouco ou nada podem fazer para resolvê-la. Geralmente para os fundadores não é algo assim tão terrível quando o objetivo da organização que eles fundaram é mudado no futuro e adaptado às necessidades do novo tempo. Em constelações você vê inclusive que os representantes dos fundadores não gostam muito se os funcionários sempre continuam dependendo deles para tudo, pois, assim a organização continua sempre direcionada para o passado e não dá, dessa forma, descanso a seu fundador. O que é importante para o fundador é que ele não venha a ser descortesmente acusado de algo, ignorado ou excluído pelos seus funcionários e sucessores. Uma boa maneira de excluir um fundador de uma organização é colocá-lo em um pedestal e adorá-lo como um semideus. Essa é uma boa receita para permanecer eternamente preso ao objetivo inicial e também ao fundador, de uma forma que causa efeitos ruins para todos. FORTES IDEAIS, ÀS VEZES, EXCLUEM COISAS IMPORTANTES Ideais que surgem a partir da crítica social pedem atenção especial. Frequentemente, por exemplo, surgem iniciativas de fundar um novo modelo de educação escolar. Parece-me um processo muito delicado. Por mais que o atual sistema educacional seja deficiente, esse sistema nos ensinou muitas coisas boas. Se negarmos isso, rejeitando assim no nosso coração o antigo sistema educacional e se, por isso, desejarmos fundar uma nova escola, eu não sei se a contribuição dessa escola será frutífera. Como se sentiria Maria Montessori5 se soubesse que suas escolas muitas vezes se tornaram quase que um movimento político? Nós homenageamos sua contribuição especial agindo dessa forma? Existe uma diferença muito grande entre uma pessoa que começa algo novo, porque acha que pode fazer muito melhor do que os outros, e uma pessoa que percebe a necessidade de se fazer algo no qual ela gostaria muito de estar a serviço. “Quando o passado é respeitado como é e como foi, sem com que ele venha a ser engrandecido ou diminuído, então o passado servirá ao futuro de bom grado." (Bert Hellinger) 5 Maria Montessori desenvolveu um modelo escolar diferente do modelo clássico. ORGENOGRAMA Sim, você está lendo corretamente, orgenograma. Todos nós sabemos o que é um organograma: é o esquema estrutural das relações da organização, que é constituído pela liderança, diretoria, gerência e por todos os departamentos. Esse esquema mostra como a organização está funcionando nesse momento. Às vezes, podem-se ver linhas de pontos traçados, que podem indicar que um departamento poderá se transformar em uma seção de outro departamento ou podem também indicar que a relação entre dois departamentos ainda não está totalmente clara. Se desenharmos uma árvore genealógica ou um genograma de uma família, podemos observar que será clara- mente exibida, através dele, a origem dessa família, o que é muito interessante para a observação sistêmica. Muitas dinâmicas que estão agora ativas nessa organização têm origem em acontecimentos ocorridos no passado. De lá, portanto, vem a origem do termo: orgenograma. Uma funcionária de uma grande empresa foi fazer uma pesquisa. Ela ligou para o fundador, que ainda era o cabeça da empresa, e perguntou se podia marcar uma hora com ela para falar a respeito de quais haviam sido, de fato, as suas reais intenções em relação à empresa, e de como tudo havia começado e se desenvolvido. Para surpresa dela, ele achou uma excelente ideia. Saber de tudo isso teve grande significado para essa funcionária. Após a conversa, sua visão e compreensão em relação ao que estava acontecendo na empresa mudaram completamente, e ela ficou mais tranquila. Como você poderia fazer um orgenograma assim? Pegue, por exemplo, um bloco de notas com folhas transparentes igual ao que é usado por arquitetos. Você iniciará de trás para frente no bloco. Desenhe lá o primeiro organograma da empresa e nele o fundador, suas ideias e objetivos, os clientes daquela época, os financiadores ou a fonte de dinheiro para a fundação da organização e também os outros participantes importantes. Desenhe nas folhas transparentes como cada mudança fundamental aconteceu. Talvez cada página represente um determinado ano. Por último desenhe na primeira página como a organização é agora. Você irá perceberpor transparência uma imagem tênue das estruturas anteriores por trás da atual estrutura desenhada na folha de cima. Antigamente desenhávamos, no cantinho de baixo de cada folha de nossos livros escolares, figuras que se transformavam em um filminho quando as páginas eram rapida- mente folheadas de trás para frente, deslizando-as com a ponta do polegar. Um orgenograma assim nos dá uma ideia das pessoas que contribuíram para a existência dessa organização e que fizeram parte de sua história. Aí também se vê em todas as pessoas e famílias que tiraram proveito dessa empresa e também aquelas que sofreram danos, pagando, às vezes, com sua própria saúde para conferir algo à mesma. O peso social de uma empresa, ao longo do tempo de sua existência, pode ser também notado dessa maneira. Nosso filho visitou o prédio de uma antiga fábrica com um "explorador de áreas urbanas". Anteriormente, em uma entrevista, esse homem havia dito: "Eu gosto muito de castelos antigos e também desses 'castelos' modernos. Ao andar por aqui você às vezes encontra esquemas de trabalho, e pode sentir o quanto a empresa foi ativa e o quanto foi produzido aqui." Alguns dos acontecimentos ou pessoas do filminho do orgenograma talvez ainda sejam fundamentais para a organização e o seu futuro. Vale a pena desenhar o orgenograma no início de um projeto para mudanças em uma organização, principalmente a participação do primeiro proprietário e seus sucessores. São eles que semeiam os futuros padrões da empresa. É com essas particularidades que a empresa começou. É, quanto mais conhecemos nossa própria natureza, mais força temos. CONVERSA SISTÊMICA SOBRE O FUNCIONAMENTO Pequenas mudanças em uma organização são também dignas da nossa atenção. Brevemente falarei sobre uma conversa que temos anualmente com a nossa secretária sobre o funcionamento da nossa empresa. Analisando isso de maneira clássica, significa que conversamos sobre o funcionamento da empresa, de como as coisas estavam indo e se talvez algo devesse ser mudado ou melhorado em nossas relações mútuas. Geralmente eu me proponho a ser mais claro em relação a minha comunicação com ela, porque ao mesmo tempo essa conversa é uma avaliação — sim, eu sei que na realidade a conversa sobre o funcionamento e a avaliação deveriam ser separadas! Por isso, propus a ela um aumento de salário e combinamos assim a quantidade de horas de trabalho que ela deveria cumprir. Esse ano cresceu em mim a vontade de olhar as coisas do ponto de vista sistêmico. A nossa empresa é formada por três pessoas: minha esposa, do ponto de vista sistêmico, é com certeza o diretor, eu sou o proprietário e a nossa secretária possuía, até então, o papel de apoio, de suporte. Tive, há um tempo atrás, uma ideia sobre a qual tenho pensado a respeito, frequentemente. Será que não haveria outro lugar para a secretária, dentro do sistema, onde ela pudesse exercer uma função mais técnica, exercer o cargo de diretora organizacional e formasse uma estrutura onde eu e minha esposa pudéssemos fazer nosso trabalho? Como essa imagem não estava bem nítida na minha cabeça, resolvi tudo de uma só vez, e o resultado foi inspirador: de acordo com a constelação, se a secretária exercesse a função de diretora organizacional, obteríamos um excepcional funcionamento do nosso trabalho em conjun- to. Acima de tudo, o potencial da secretária, não muito utilizado até agora, passaria a ser usado, principalmente a sua capacidade de organização. Assim, você pode imaginar que temas sistêmicos podem acontecer dentro de organizações. Os fatores-chave são: qual posição você assume agora no sistema? Será que uma outra posição — não outra função! —, fortaleceria os departamentos da organização como um todo? Cresceria assim o volume de intercâmbio desse funcionário? Isso quer dizer que quanto mais o seu talento for usado maior será o intercâmbio entre ele, seus colegas de trabalho e seus clientes. Para que ou para quem ele se direcionaria? Qual seria sua avaliação sobre a nova medida do equilíbrio entre o dar e receber, nessa nova posição? Assim você poderá imaginar um completo e detalhado ajuste sistêmico de um departamento. O diretor possui uma boa imagem sistêmica das qualidades dos seus funcionários e os admite de acordo com a necessidade para a realização de tarefas e outras atividades no trabalho (veja também capítulo 8). 6 O DESEJO DE ALCANÇAR UM OBJETIVO QUE NA REALIDADE NÃO PODE SER ALCANÇADO A influência da história familiar no ambiente de trabalho "Você tem que separar trabalho da vida privada e vice-versa." Geralmente isso funciona perfeitamente, pelo menos no que diz respeito a assuntos cotidianos. Depois do seu traba- lho você pode virar o disco: agora o tempo é para a família, para os amigos e para relaxar. Resumindo, no seu trabalho, o trabalho é o número um e, na sua casa, a casa é o número um. Não estamos falando, por enquanto, dos viciados em trabalho e dos que estão envolvidos em tarefas e atividades familiares enquanto estão trabalhando. Não é tão simples separar a vida pessoal do trabalho e vice- versa. De maneira oculta nosso "contexto" familiar influencia de várias formas no nosso trabalho. Isso ocorre independentemente de gostarmos ou não. Já a influência oculta do trabalho no contexto familiar acontece de forma menos acentuada, pelo fato de ser a família o sistema primário onde nos formamos e o trabalho em uma empresa, algo que vem depois. Nossa história familiar e, principalmente, as dinâmicas do sistema familiar agem inconscientemente com muito mais frequência do que se presume. Ela contribui com grande parte da nossa formação pessoal, nossos talentos e também com a posição em que nos sentimos bem integrados dentro da organização Porém, muitas vezes essas dinâmicas familiares nos mantêm presos durante toda nossa vida e nos paralisam em nosso trabalho. Não estamos falando aqui das normas e valores da família que determinam o nosso julgamento, em relação às situações ocorridas no trabalho e também nossa postura no tra- balho. Tais valores têm muita influência; por exemplo: "Trabalhar duro é importante"; "Quem nasceu para ser lagartixa nunca chega a jacaré", "Nós enfrentaremos isso ombro a ombro!" "Não caia", entre outros. Esses tipos de conceitos são relativamente fáceis de encontrar e têm relação direta com o sistema familiar de crenças. Eles têm origem no meio em que somos criados desde a infância e, geralmente, temos consciência deles, mas não é a esses valores que estamos nos referindo. Estamos falando aqui a respeito de dinâmicas ocultas no sistema familiar, sobre posições que assumimos, inconscientemente, no sistema familiar e que às vezes continuamos repe- tindo igualmente nas situações do trabalho. Tudo isso sem que saibamos e sem que queiramos. Isso faz com que essas dinâmicas sejam fortes. O IRMÃO GÊMEO QUE FALECEU Uma mulher jovem, ativa e inteligente, que trabalhava para uma prefeitura veio para uma conversa de treinamento (coaching). Mesmo ela sendo tão jovem, já fazia parte da equipe de segundo escalão da gerência municipal. Contou que todas as vezes em que estava perto de ter sucesso, deparava-se com situações que a impediam de alcançá-lo. Ficou claro que isso não tinha nenhuma relação com as suas qualidades e ambições. Perguntei cautelosamente se eu poderia fazer perguntas sobre sua situação familiar, e ela relatou, então, alguns fatos importantes que aconteceram na sua família de origem, mas podia-se sentir que os mesmos não tinham peso em relação ao que estava acontecendo agora. De repente ela ficou corada e disse que tinha acabado de se lembrar de algo: "Ah! Há alguns meses atrás minha mãe me contou que eu tinha um irmão gêmeo, e que ele morreu ao nascer." Imediatamente os olhos dela se encheram de lágrimas e podia-se sentir que algo dentro dela fora tocado. Logo depois de mais umas poucas palavras, tudo ficou claro para ela, que disse: "Quando era pequena, construía jangadas,subia em árvores e já cheguei a quebrar meu braço." Se você olhasse bem para a Reneé, podia ver que era uma mulher muito bonita mas, além de sua beleza, irradiava algo de masculino. Ela disse: "Tem outra coisa muito maluca que só agora eu estou percebendo: a vida inteira eu pensava que o que eu fazia era o que vocês chamam de 'falar consigo mesmo', no entanto, eu conversava bem baixinho com alguém. Será que era com o meu irmão?" Fizemos ainda um pequeno ritual: pedi a ela que se apresentasse ao seu irmão, como se ele estivesse diante dela e tivesse a mesma idade dela agora. Isso a emocionou muito. Pedi então que se imaginasse olhando nos olhos dele até o ponto dos dois conseguirem ver um ao outro e dissesse algo como: "Querido irmão, eu senti sua falta. Talvez eu tenha tentado de certa forma viver a sua vida, e isso pode até ter me trazido grandes coisas, mas foi também muito pesado. Talvez eu tenha pensado que não deveria me acontecer nada melhor do que aconteceu com você..." Essa última frase a tocou mais que as outras. Eu perguntei para ela: "Como seu irmão a está olhando e como ele se sente quando tudo vai bem com você? Ela não disse nada, porém o seu rosto iluminou- se como o de uma criança. Eu apresentei a ela mais um exercício." Durante um tempo, reserve alguns momentos, pegue o seu irmão pela mão e mostre as coisas bonitas da vida para ele. Depois de um tempo você não terá mais vontade de fazer isso e, quando acontecer, você terá dado a ele um lugar no seu coração. Esse é um bom lugar para se dar a um irmão querido. Dois dias depois eu liguei para ela, mas para falar de outro assunto, pelo fato de estar trabalhando como consultor na prefeitura onde ela trabalhava. Ela disse: "Não me pergunte como ou o que aconteceu comigo, mas estou andando o dia todo com um sorriso no meu rosto. Eu não estou entendendo nada, mas ah, eu deixo ficar assim mesmo." Esse exemplo me marcou tanto porque ela disse depois: "A vida inteira eu procurei o motivo do fracasso em mim mesma. Deparava com situações no meu trabalho que eu não tinha pedido por elas. Sentia-me muito culpada. Somente o fato de ser possível que a causa do fracasso não estivesse em mim e sim, em outra coisa, já me causou um inacreditável alívio." Se as pessoas sofrem com situações que se repetem, deparam-se com buracos onde sempre estão caindo, se sempre estão carregando o fardo de outra pessoa sem saber por que isso sempre acontece, então pode ser que o "filme familiar" esteja se repetindo no trabalho. Se você não reconhecer isso irá buscar a solução no lugar errado, pois a solução, nesse caso, não será encontrada no trabalho e sim, na família. Mas não esqueça de que existem muitas dinâmicas familiares que servem de apoio no nosso trabalho. Isso também acontece inconscientemente e algumas vezes merece também nossa atenção. As vezes carregar uma dolorosa e pesada consequência de uma dinâmica familiar pode nos fazer, depois, preparados para certos tipos de funções ou profissões. Uma pessoa que foi colocada em sua família numa posição de mediar os conflitos entre os pais pode se tornar mais tarde um excelente mediador. Às vezes uma maldição se transfor- ma em uma bênção. FILHINHA DO PAPAI, FILHINHA DA MAMÃE, FILHINHO DO PAPAI E FILHINHO DA MAMÃE O lugar que você ocupa no sistema familiar dá, às vezes, a possibilidade de desenvolver habilidades que propiciarão a capacidade de assumir certas posições. Essas qualidades são de grande utilidade no trabalho. Filhinhos da mamãe são internamente mais ligados à mãe ou àquilo que vem da família da mãe. Com um pouco de treino você os reconhece rapidinho. Melhor ainda é se você puder sentar e treinar sua percepção, observando pessoas que passam à sua frente ou entre seus colegas, porém, com a condição de que você possa perguntar depois se sua observação está correta. Filhinhos da mamãe tem uma importante missão na vida, que é salvar as mulheres e isso começa com a mãe. Ao fazerem isso, colocam-se facilmente de lado, colo- cando a mulher ou a mãe em primeiro lugar. Convivem facilmente com as mulheres. Não se sentem, às vezes, muito bem na presença de outros homens que possuem uma função mais alta que a deles. Isso vale principalmente para aquele filho que se coloca na posição de "marido" de sua mãe e quase que por completo assume a posição do seu pai. Esse filho faz isso inconscientemente por amor a todo o sistema, mas sente que algo não está no seu devido lugar. Em seu coração, diz: "Se meu pai não estiver disponível, então cuidarei de vocês." É surpreendente ver como esse filho muda quando tem uma fila de ancestrais homens atrás dele, ao final de uma constelação. Ele sente a energia masculina dentro de si, apoi- ado pelos outros homens. Assim, irradiará uma outra imagem, mais masculina e mais forte. Às vezes é bom saber disso no trabalho, onde algumas situações pedem uma energia mais feminina, e outras pedem uma energia mais masculina. Isso pode também ser testado em uma constelação. Filhinhas do papai são interiormente mais ligadas ao pai ou àquilo que vem da família de seu pai. Às vezes parece que elas permanecem por mais tempo jovens e transmitem uma forte imagem proveniente da sua feminilidade. Geralmente são boas diretoras, mas têm a tendência de estar a serviço de outra pessoa, mesmo não sendo do conhecimento dos que estão de fora. Às vezes as filhas, para o pai, tentam realizar o trabalho que o pai ou alguém da família do pai não pôde realizar. Mulheres que possuem um irmão mais velho geralmente têm mais facilidade em lidar no seu trabalho com mais autoridade. Sabem como elas podem, de uma maneira brincalhona, influenciar alguém que é visto como uma autoridade pelos demais. Um filho(a) que se encontra envolvido(a) nos problemas entre o pai e a mãe, dentro de um sistema, se transformará, mais tarde, em um(a) excelente negociador(a). Uma pessoa assim sempre é envolvida em situações onde existe algo a ser negociado. Com isso, é inconscientemente fiel ao sistema familiar. Este é um exemplo de um contexto confuso. No trabalho parece que você, sem que perceba, reencena o filme familiar. Se deseja solucionar essa situação, o primeiro passo é estar consciente desse contexto. Não basta aqui simplesmente separar trabalho e família. Caso você pare de se colocar como intermediário entre dois partidos com os quais não tem relação surgirá um conflito interior, pois você se tornará infiel ao sistema familiar, se agir dessa forma. Pode até ser útil se conscientizar de que está pulando de um enredo familiar para outro, mas uma solução decisiva só é encontrada a partir do momento em que se olha para a dinâmica familiar. O que ou quem faltava na relação dos pais que fez com que o filho(a) se colocasse entre os dois? Constelações familiares podem ser de grande ajuda aqui. Quanto mais você chega perto de uma dinâmica, mais duradoura será a mudança resultante. O CHEFE OCULTO Uma mulher trabalhava em uma grande organização comercial. A gerência pediu que ela conduzisse um processo de mudanças em que duas equipes teriam que trabalhar melhor em conjunto. Ela teria, então, que se tornar a líder de uma dessas equipes. Ainda não estava claro para ela se seria a líder das duas equipes, e iria iniciar a tarefa no dia seguinte. Fazendo uma constelação, ela queria saber o que estava acontecendo lá e qual seria a sua posição em ambas as equipes. Na constelação foi escolhido um representante para a equipe número um, outro para a equipe número dois, um para a mulher e um representante para o seu chefe. Ficou claro que havia um problema com a liderança. Essa não estava claramente ocupada e por isso parecia não haver "o lugar" de líder para essa mulher. Quando ela finalmente se colocou dentro da constelação disse, com uma voz forte e decidida, para os outros representantes: "Eu vou fazer esse trabalho." A determinação e decisão em aceitar o trabalho, mesmo indo contra a pressão exercida pelos demais, causou surpresa em todosos presentes. Essa mulher contou então que na sua família comportava-se como se fosse "os pais" de seus pais. Quando um filho(a) assume o lugar de pai dos pais, ele(a) se comporta como um responsável não- oficial, oculto. É uma dinâmica que frequentemente acontece nos sistemas familiares, podendo se repetir geração após geração. Famílias podem ser extremamente fiéis a esse contexto. Crianças que vivem em semelhantes situações, podem se sentir muito responsáveis desde jovens e, quanto maior é a dificuldade de uma posição assim, mais força isso exigirá. Pessoas que tiveram um passado semelhante ao dessa mulher têm sempre a tendência em aceitar trabalhos dentro das organizações que incluem uma série de atividades "ocultas", como, por exemplo, ser um chefe oculto: ter de exercer funções de chefe e não poder assumir as decisões oficialmente. Isso é um "beco sem saída": não é bom se tomar decisões, assim como também não é bom se não tomar decisões. Mas, no caso dessa mulher, a dinâmica presente na família dela contribuiu para que tivesse força para poder exercer bem a sua função, dentro dessa organização. Uma maldição se torna, às vezes, uma bênção. CARREGAR O FARDO DE OUTRA PESSOA Talvez você tenha tomado para si as tarefas ou responsabilidades que pertencem a outra pessoa, mesmo que isso lhe seja pesado demais, pois não foi escolhido para exercer essa função e muito menos é qualificado para agir adequadamente. Isso não é muito eficiente mas, afinal de contas, as coisas precisam ser feitas! Simplesmente isso acontece todas as vezes. Existe um buraco dentro da organização ou o chefe deixa algo para trás ou tem um cliente que precisa urgentemente de algo, e você é aquele que novamente fará o trabalho. Sem pensar, acaba agindo assim, cada vez que algo parecido acontece. Você só conseguirá perceber o limite quando o fardo se tornar pesado demais. É como se fosse uma relação de amor e ódio com a situação, uma receita perfeita para uma estafa. Geralmente as raízes desse comportamento se encontram no sistema familiar. Acontece com frequência que uma pessoa carrega o fardo de outra pessoa dentro do sistema familiar. O mais doloroso é que isso acontece por amor. A criança sente que uma pessoa da família está passando por dificuldades e diz interiormente: "Eu carregarei esse fardo para que se torne mais leve para você." Às vezes, quando a criança cresce, irá criticar aquele por quem está carregando o fardo ou aquele que não está cumprindo com as suas obrigações, mas devolver o fardo fazendo críticas é inútil. Isso não muda a dinâmica, porque você ainda se sente superior em relação à pessoa a quem pertence o fardo. E, se se sente superior, ainda se sente internamente mais apto a carregar o fardo e, portanto, preso a ele. Quando uma mãe está ligada interiormente a sua mãe que morreu, quando ainda era jovem, ela não se coloca disponível para o seu marido e nem para os seus filhos. Então a filha mais velha se encarrega de cuidar da família e talvez até da própria mãe. Isso é uma grande tarefa para a criança, mas ela faz isso por amor, mesmo que o preço a ser pago seja alto demais. Essa criança não poderá colocar o sistema familiar em ordem, mesmo que queira muito fazer isso. Suas tentativas falharão, e isso será uma carga adicional. Essa filha só conseguirá devolver esse fardo se, por exemplo, em uma constelação, perceber que sua atitude na verdade não ajuda a avó e nem mesmo a mãe. Colocando-se em sua condição de pequena, pode permitir que a mãe a veja como tal e, dessa forma, carregar ela mesma seu fardo. As vezes a filha carregou tanto tempo que precisa de um tempo até se acostumar com sua nova posição de filha. "Posso mesmo? Eu posso parar de carregar esse fardo?" A filha se sente amparada quando percebe que sua mãe se torna mais forte quando ela própria, a mãe, carrega o seu próprio fardo. Uma pessoa que recebe do destino um fardo pesado para carregar, como a perda de alguém ou uma culpa pessoal, torna-se, ao carregar tal fardo, mais digna e maior. Se você tem a tendência de carregar o fardo por outra pessoa pode ter certeza de que isso poderá causar uma estafa. Você nunca sabe quando é suficiente. Pelo fato de não ser o seu fardo ou a sua tarefa, nunca sabe quando terá que finalizar o que está fazendo, não tem nenhum ponto de referência para isso. E, assim, segue em frente até que o seu corpo venha a interferir nesse processo. IMAGEM DUPLA Às vezes, quando se fala a respeito do deslocamento de contextos do trabalho para a família, pode acontecer que esse deslocamento aconteça apenas em relação a uma pessoa. Nós chamamos isso de imagem dupla. Você tem, por exemplo, um conflito com alguém do seu trabalho ou se sente muito criticado ou julgado por alguém, mesmo que não haja nenhuma razão clara para que se sinta assim. Os outros colegas de trabalho não têm nenhum problema com "aquela" pessoa. Você fica paralisado ou se sente menos capacitado ou inadequado quando "aquela" pessoa está por perto. E não se trata de você estar apaixonado! Então, de repente, algo na situação familiar se desloca inconscientemente para a situação do trabalho. A pessoa com quem você tem problemas se torna o pivô onde o "filme fa- miliar" volta à tona, e a sua história familiar parece um "slide" transparente que se projeta nas cenas do trabalho, como um "pano de fundo" do cenário. A partir desse momento, aquilo que guia você não é a situação no trabalho, passa a ser a situação familiar anteriormente vivida. Pode acontecer que, quando uma pessoa olha para o seu chefe, inconscientemente vê o seu pai, ao invés de ver o seu chefe. Ela não está consciente de que isso se passa assim. De repente, essa pessoa se sente, por exemplo, confusa, paralisada e fraca. Essa impotência a deixa irritada, Se ela se cobre de autoacusações por causa desses episódicos. Quando mais ela se concentra naquilo que sempre está acontecendo de errado, quando está na presença do chefe, mais difícil se torna para ela perceber o que realmente atua nesse contexto. Você pode perceber uma imagem dupla como essa. Vejamos o exemplo do funcionário acima. Ele está frente a frente com o seu chefe. Se você olhar bem, irá perceber que o funcionário fica diferente quando ocupa essa posição. Ele não se parece com um funcionário que está diante do chefe, como duas pessoas adultas, uma de frente para a outra. Ele parece uma criança diante de uma pessoa mais velha. O olhar muda, a aparência se torna infantil e, às vezes, a voz também muda. Um espectador que conhecesse bem essa pessoa poderia até pensar: "Ei, parece que ele é outra pessoa, uma pessoa diferente daquela que estava ali pouco tempo atrás." Em uma constelação, por exemplo, numa situação de coaching, uma imagem dupla é fácil de se encontrar e de se resolver. Para isso você não precisa olhar para as dinâmicas familiares que contribuíram para essa imagem dupla. O constelador escolhe representantes para o cliente e para o chefe. Ele pede ao representante do cliente para olhar para o representante do chefe. Figura 1 C1 Cliente D Desconhecido, provavelmente um membro da família do cliente Atrás do chefe é colocado alguém do mesmo sexo. Depois de alguns segundos o constelador faz uma flexível e decisiva manobra: o chefe é colocado um metro e meio para o lado da posição em que estava, e o cliente olha então para aquele representante que estava atrás do chefe. O constelador olha atentamente para o comportamento do cliente, se sua expressão facial mudou e também a postura do seu corpo e pergunta: "Quem é esse?" Se essa manobra causar uma forte reação emocional no cliente, e ele responder, por exem- plo: "Meu avô", então fica claro aqui que estamos lidando com uma imagem dupla. Em seguida o constelador deixa o cliente olhar tanto para o avô como para o chefe. Eles estão posicionados de tal maneira que o cliente não consegue ver os dois ao mesmo tempo. O avô diz: "Eu sou o seu avô, e ele é o seu chefe. Nóssomos duas pessoas diferentes, não temos nenhuma relação um com o outro." O chefe também pode dizer algo parecido. Resumindo, o constelador pode pedir ao cliente que diga para o seu chefe: "Eu misturei vocês dois. Agora estou começando a vê-lo apenas como o meu chefe". É claro que as palavras usadas aqui serão adaptadas ao que é apropriado para cada cliente. ESPECTADOR OCULTO Um facilitador de coaching contou em um workshop que ele sempre se perdia em determinadas situações de treinamento em grupo. Isso acontecia, principalmente, quando sentia: "Isso eu tenho que saber." Pelo fato de trabalharmos em grupo não foi muito difícil para ele se encontrar em uma situação onde sempre se perdia. No momento em que ele estava imerso naquele mesmo sentimento surgiu para mim a seguinte pergunta: "Ele age assim quando é observado por quem?". A resposta imediata dele foi: "Minha mãe", depois seguido de: "Eu perdi o meu pai..." Com a ajuda da técnica de como resolver os casos de imagem dupla, descrita acima, ficou claro para o facilitador de coaching que o treinamento e a mãe dele são duas entidades distintas. Internamente eles também poderiam ser vistos de forma diferente. Quando o pai foi colocado atrás dele, isso lhe deu muita força, e ele permaneceu olhando tranquilamente para o campo de treinamento, "sem que percebesse." Acontece com frequência que as pessoas se sentem, em relação a um novo grupo, da mesma forma como eles se sentem em relação à própria mãe. Se alguém se sente, por exemplo, muito exigido por sua mãe, então é fácil passar a se sentir também exigido pelo grupo. CRISES DE MEIA-IDADE NO TRABALHO Existem pessoas que aos 40 anos de idade desejam fazer outra coisa completamente diferente. O extremo desejo de mudança assusta até mesmo o envolvido. Em um workshop tivemos um exemplo assim. Uma mulher disse: "Eu tenho meu próprio consultório de emergências médicas. Gostaria de trabalhar em uma organização, como treinadora. As qualidades para a realização do trabalho eu tenho, mas algo me impede, pois isso seria para mim um giro de 180 graus." Quando a mulher escolheu representantes para ela e para o seu consultório, colocou-os muito perto um do outro. A tensão era claramente perceptível. A impressão que tive foi: "Isso é um problema familiar. Quem protege quem?" Figura 1 M Mulher que deseja trabalhar em uma organização. C Consultório O representante da mulher se virou, deu alguns passos para frente e sentiu-se muito aliviada. CONSULTÓRIO Isso está parecendo uma despedida. Figura 2 C/P Consultório e ao mesmo tempo o Pai da mulher Da maneira como o consultório e o representante se olhavam, ficava claro que o consultório representava também o pai dela, embora não tivesse sido citado. MULHER para o consultório Eu deixo isso para trás com você. Tenho muito a lhe agradecer. E pouco tempo depois Me olhe com carinho, mesmo se eu começar um novo empreendimento. Então, coloquei a mãe da mulher atrás dela. Pareceu que dela não veio muita força. Quando coloquei a avó atrás das duas, as três quase caíram para trás. Somente quando coloquei lá, atrás delas, três mulheres, tornou-se então possível que elas, juntas, conseguissem irradiar energia feminina em direção à cliente. Apresentei um "novo trabalho" que estivesse muito interessado na cliente. MULHER Tenha um pouco de paciência pois logo estarei disponível para você. Figura 3 NT Novo Trabalho MM Mãe da mulher AM Avó da mulher BM Bisavó da mulher etc. Durante todo o tempo a própria mulher apresentava um semblante radiante de emoção. Não havia necessidade de dizer mais nada. STAM à mulher Nós não precisamos saber o que aconteceu na sua família. Suas palavras no início foram muito especiais: Você falou a respeito de uma mudança de 180 graus. Pelo que observamos aqui, parece que algo assim significa que você volta de um dos seus pais para o outro. Assim como em uma crise de meia-idade, onde o(a) filho(a) dá a um dos pais, com quem teve uma relação não tão boa, um lugar especial em seu coração, parece que esse processo interno pode exercer uma grande influência sobre o trabalho de alguém. A QUEM VOCÊ HONRA FAZENDO UMA COISA ASSIM? Quando você suspeita que algo vindo do sistema familiar está se repetindo no trabalho, essa frase mágica pode ser de grande ajuda: "A quem você honra, fazendo uma coisa as- sim?" Se a pergunta for feita sinceramente, sem julgamentos e sem desejar mudar algo, então ela pode causar uma reação espontânea: "Minha avó". Geralmente essa é uma reação que surpreende até mesmo a pessoa que respondeu a pergunta. Isso acontece porque o sistema ou a alma dá respostas através dessa pessoa, sem que essa pessoa esteja consciente disso. Por isso não é fácil fazer essa pergunta a si mesmo. Quando você faz essa pergunta para si mesmo, geral mente se encontra num estado mais racional do que quando escuta, estando em contato com a alma do sistema familiar. Às vezes uma pergunta semelhante a essa, feita por um colega ou namorada, já pode desencadear uma mudança. O sistema ou a alma (ou qualquer outro nome que você desejar chamar) leva adiante esse movimento de mudança. Você pode afirmar, com certeza, que não levará nada do seu contexto familiar para o seu trabalho? Se você percebe que isso é válido para todos os seus colegas de trabalho, que todos carregam algo do sistema familiar para o trabalho, você poderá entendê-los melhor e olhará para eles com outros olhos. 7 O QUE SÃO REALMENTE ESSAS TAIS CONSTELAÇÕES? Sobre o método da constelação sistêmica O que significam todos aqueles acontecimentos nas constelações? Iniciaremos usando a palavra do próprio Bert Hellinger. Através da sua experiência terapêutica e filosófica, ele criou esse método que está sendo apresentado neste livro. Como funciona o seu modelo nas organizações? HELLINGER Primeiro eu terei que explicar como é o meu modelo. Ele é derivado da constelação familiar. Em uma constelação familiar, uma pessoa busca indivíduos que se encontram em um grupo e que representarão membros de sua família e atribui lugares para eles, de acordo com a relação que existe entre eles e a pessoa. Assim que os representantes ocupam os lugares, sentem-se exatamente como as pessoas que eles estão representando, embora eles não as conheçam. Dessa forma, obteremos uma clara imagem sobre aquilo que está acontecendo no sistema familiar. Quando nós adaptamos esse método para ser usado em uma organização, ele nos apresenta um ótimo esboço da organização e a localização dos diferentes membros, departamentos, clientes e outros elementos importantes, uns em relação aos outros. O que significa obter uma clara imagem do que está acontecendo? HELLINGER Digamos que um diretor de uma organização escolhe representantes para seus gerentes e para si mesmo, e que ele faça isso sem pensar muito a respeito. Imediatamente ele já obtém uma clara imagem da relação dos gerentes entre si e com relação a ele. O diretor então se surpreende ao perceber que alguns dos gerentes se viram de costas para ele e se direcionaram para algo que está fora da organização. Ele não havia percebido isso antes. O que significa quando o senhor diz que eles estão olhando para outra coisa que está fora da organização e não para ele? HELLINGER Significa que eles não estão satisfeitos com o que está acontecendo dentro da organização. Pode ser que o diretor exerça sua autoridade de uma determinada maneira que não dá suporte aos seus gerentes. Por isso eles se sentem inseguros e sentem também que a organização não pode dar o seu melhor para eles. Se essas pessoas forem pessoas capacitadas, então olharão para outro lugar onde poderão exercer bem o seu trabalho. E aí? HELLINGER Se nos depararmos com uma situação assim nos perguntamos então quais seriam as medidas necessárias a serem tomadas para melhorar essa situação. O facilitador que ajuda o diretor na constelação de sua empresa irá sugerir alguns passosa serem tomados. Assim eles buscam, juntos, uma boa solução de como todos os envolvidos podem sair dessa situação. Como? HELLINGER O facilitador pode, por exemplo, fazer com que o diretor se vire para os gerentes e colocá- los de uma maneira que eles possam olhar para o diretor. Pode ser também que alguns deles não se encontrem em um lugar correto. Por exemplo, um dos gerentes que entrou há pouco tempo na organização tenta assumir o primeiro lugar. Isso irrita os outros. O facilitador pode, então, colocar todos os diferentes gerentes de todos os departamentos em uma ordem que fará com que todos se sintam bem no lugar onde foram colocados e também sintam que estão no lugar certo. As pessoas que estão assistindo à constelação, podem ver também a solução ou somente aqueles que estão dentro dela? HELLINGER Todos os espectadores, inclusive aquele que fez a pergunta, podem sentir aquilo que os representantes sentem. Isso acontece pelo fato de se usarem representantes que não sabem nada dos gerentes nem da situação em que eles se encontram, por isso nenhum representante pode influenciar o outro, no decorrer da constelação. As pessoas da constelação refletem aquilo que está acontecendo na realidade. As pessoas que fazem parte, de verdade, dessa situação conseguem ver, se estiverem de coração aberto, o que está acontecendo na constelação. Isso possui um efeito profundo. Eles não podem se defender disso. A razão não os ajuda, pois a verdadeira realidade da situação é revelada na constelação. Uma constelação é um meio poderoso que revela o que está acontecendo em uma organização e apresenta a solução para o problema. Nesse momento, nós nos despedimos de Hellinger. Difícil de acreditar! Como funciona isso, então? E se os representantes tivessem sido outros? Até onde o facilitador pode exercer sua influência? Qual é a teoria por trás disso tudo? Essa pergunta sempre é feita, inclusive durante um workshop para um grande número de consultores especializados. Para ser mais exato, dentre as mais de 200 pessoas presentes, essa pergunta foi feita apenas por duas pessoas, dois peritos de qualidade. Eles estavam relutando com essa pergunta desde as primeiras constelações a que assistiram. Muito honestamente e quase que se desculpando, disse um deles: "Eu estudei engenharia no passado, para mim um conhecimento só é válido se ele for do tipo 'que se pode medir'. O senhor entende que para mim é muito difícil aceitar isso." Sim, pois para mim, como cientista em início de carreira, também foi muito difícil. Eu uso os modelos como se fossem "um campo dotado de consciência", assim como a força gravitacional, a morfogenética do biólogo Rupert Sheldrake ou simplesmente coloco-os ao lado de modelos da minha própria área de formação original, a biologia. É de conhecimento de todos que uma célula contém as informações de todo o sistema do corpo, um tipo de informação holográfica armazenada. Ainda não sabemos exatamente como as células jovens sabem o que elas terão que se tornar. Mas é de nosso conhecimento o fato de que se elas estão no lugar do fígado recebem lá suficiente informação que as impulsionam a se transformarem em células do fígado. Reconheço que isso é simplesmente um modelo e não uma explicação. Estou é justamente surpreendido pelo fato de que em uma constelação, possa haver tão poucas pessoas que fazem esses questionamentos e a grande quantidade de pessoas que adotaram prontamente esse fenômeno como verdadeiro. Isso é surpreendente! Será que todo mundo já sabe disso intuitivamente? O mais estranho disso tudo é que quase todo mundo pode ser um representante. Muitos representantes, assim como eu, da primeira vez, surpreendem-se a respeito dos sentimentos envolvidos quando se está em uma constelação. Esse sentimento de surpresa sempre se repete. Agora daremos a palavra a um representante. "Eu participei pela primeira vez de uma constelação organizacional onde representei um jovem líder de projetos. No geral, eu não tinha a mínima ideia do que era exatamente ser um líder de projetos. Também não fazia ideia do que se esperava de mim. Ao meu lado estavam também outras pessoas que representavam o diretor, o assistente de projetos, uma pessoa que representava as crianças que seriam beneficiadas com o projeto, na África do Sul. Existiam ainda outros papéis, mas eu não consegui guardar os nomes. De qualquer forma, na posição em que me encontrava não conseguia ver bem essas pessoas de quem não sabia o nome. Então o facilitador da constelação me pediu para fazer algo: deveria olhar bem dentro dos olhos do diretor. Eu não conhecia esse homem e nunca o tinha visto antes. A verdade é que não gosto de olhar as pessoas nos olhos por longo tempo mas, tudo bem, fiz aquilo que ele me pedia. Então aconteceu algo estranho. A partir do momento em que comecei a olhar para o diretor me senti melhor que ele. É como se um sentimento de desprezo por ele se apoderasse de mim. Foi muito constrangedor. Há poucos minutos atrás ele estava sentado no círculo a duas cadeiras de mim e me pareceu ser um homem simpático e agora acontecia isso. O facilitador me perguntou se estava tudo bem comigo. Eu não me senti à vontade junto a todas essas pessoas e ainda tinha de dizer que sentia desprezo pela pessoa que estava representando o diretor. Mas algo disse dentro de mim que essa era a realidade da situação entre o líder de projetos e esse diretor. O verdadeiro líder de projeto, que estava presente na constelação e observava tudo atenciosamente, olhou para mim e disse que a situação era realmente essa. Depois disso comece/ a me sentir um pouco mais livre como representante. Pouco tempo depois foi escolhido outro representante, o ministro das relações exteriores (eu entendi que era o financiador do projeto). Para a minha grande surpresa, logo após isso acontecer, senti meu corpo se desviar para outra direção e fiquei muito fraco, senti um arrepio e fiquei gelado. Situações como essa me aconteceram muitas vezes em diferentes tipos de papéis que representei. Minha reação é sempre nova para mim. Muitas vezes experimento estranhos sentimentos como representante em constelações. Aconteceu uma vez algo totalmente inesperado: senti os meus olhos se encherem de lágrimas. Quem sou eu, na realidade? Será que, de repente, assumo características estranhas e deixo as minhas de lado? Isso tudo é a respeito de mim ou a respeito da pessoa que eu estou representando? De uma maneira ou de outra, percebo no decorrer do dia que me faz muito bem exercer esse papel..." Talvez nunca haja uma explicação que possa esclarecer como que as pessoas que participam de uma constelação como representantes se comportam e se sentem, como as da vida real. Em uma constelação usam-se poucas palavras. Em constelações ocultas as pessoas nem sabem quem elas representam nem mesmo o facilitador. Também não é do conhecimento de ninguém a que organização a constelação se refere. Somente a pessoa que traz o problema sabe, claramente, qual é a organização e quais são as pessoas que estão sendo representadas. Trabalhando desse modo, o facilitador ou os espectadores podem formar uma ideia ou tirar suas próprias conclusões a respeito do que está acontecendo dentro da organização, pois eles não têm informação de nada. As constelações ocultas têm o mesmo efeito para a pessoa que decidiu fazer a constelação quanto para as constelações "abertas". No geral, no trabalho feito nas constelações e no trabalho sistêmico são usadas informações de alguém que faz parte do sistema ou que colabora ou compartilha de uma parte do sistema e não particularmente da informação "notificada" pelo sistema. Felizmente, cada vez mais estudos científicos estão tendo lugar no campo das constelações sistêmicas. Bert Hellinger chama o trabalho com as constelações não somente de método, mas principalmente de uma atitude perceptiva fenomenológica. Fenomenológica porque, para ele, a percepção vem em primeiro lugar. Elase preocupa principalmente com aquilo que é visível em um sistema, em uma pessoa ou em uma constelação. Essa observação acontece sem que seja dada uma opinião ou emitido um julgamento, sem se colocar acima ou abaixo de alguém, mas sim estando sensivelmente conectado com o sistema em seu todo. É indiscutível que essa postura interior é o que faz com que o fenômeno das constelações seja tão valioso. A postura do facilitador da constelação faz com que seja possível trazer à luz algo de verdadeiro a respeito do sistema. Por mais simples que o método pareça, não é fácil conduzi-lo. Precisa-se ter anos de treino intensivo de observação, a postura e a sensibilidade necessária e muita experiência em dirigir uma constelação. Felizmente os participantes de uma constelação sentem se eles estão em boas mãos ou não. O facilitador aqui não toma o partido de ninguém. Ele ou ela é um tipo de anfitrião: cria as condições onde o cliente, por meio de uma pergunta, pode encontrar luz e talvez iniciar um processo de mudança. O QUE PODEMOS OBTER DE UMA CONSTELAÇÃO ORGANIZACIONAL? Abaixo, um esboço das possibilidades: - Constelações organizacionais podem ser úteis no esclarecimento da pergunta: "O que está acontecendo aqui nessa organização, nesse sistema?" Ou seja, é um instrumento de diagnóstico. - Constelações organizacionais podem também ajudar como um instrumento de prognóstico. Nesse sentido, diferentes possibilidades ou desenvolvimentos alternativos são testados na organização. Por exemplo: o que acontece se a clínica se tornar independente? Os pacientes se sentirão melhor ou pior? Como reagem os clientes ao logotipo A e como reagem ao lo- gotipo B? - Constelações organizacionais também funcionam como instrumento de mudança. A constelação provoca mudanças dentro da organização quando, por exemplo, é encontrada uma outra forma de fazer com que os gerentes se sintam bem no lugar em que se encontram e possam trabalhar bem em conjunto. Se a pessoa que desejou fazer a constelação assumir o lugar dela dentro da constelação e guardar essa imagem em sua memória, isso pode causar grandes consequências em seu próprio trabalho individual e também no trabalho em conjunto com seus colegas. A seguir, algumas questões em que as constelações organizacionais podem servir de ajuda: - Descobrir e analisar o que está "preso" dentro da estrutura. Exemplos: há sobrecarga em um departamento pelo fato de que lá trabalha um número insuficiente de pessoas para a demanda de trabalho existente; estrutura organizacional confusa; delimitação pouco clara das funções e tarefas, estruturas de comunicação ruins, má coordenação etc. - Questões de liderança. - Conflitos latentes e recidivantes. - Comportamentos que sobrecarregam a organização como: falta de estima, formação de coalizão e triangulação, mistura da vida particular com os negócios, comportamento arrogante e rebelde, funções mal exercidas, falta de responsabilidade, ovelha-negra, bodes expiatórios, tendência em deixar a empresa etc. - (Re)direcionamento da organização para objetivos e estratégias realizáveis. - Fusão ou edificação de uma organização. - Problemas de sucessão em empresas familiares. - Examinar o próprio lugar dentro da organização. - Consultoria para consultores: o que está acontecendo na organização que eu assessoro? Qual é o lugar adequado para mim? O que sou capaz de fazer nessa situação? - Ao tomar decisões: eu fico ou eu vou? Aceitaremos esse tipo de desafio? Qual é o candidato que combina melhor com essa função? Será que temos que realmente preencher esse lugar? - Na procura de uma força boa: onde está faltando apoio, suporte? - Onde e como a minha saúde fica em risco? - Questões de marketing, de produção, problemas na relação com grupos de clientes. - Questões relativas à carreira profissional. UMA CONSTELAÇÃO PODE SER USADA PARA QUALQUER COISA? Não, não pode. Existem limites e condições. Uma constelação pode funcionar bem quando uma pessoa tem uma pergunta que sempre a mantém ocupada. Tão logo alguém deseja fazer uma constelação, por pura curiosidade, observamos que esta rapidamente se fragmenta, conduzindo a resultados pífios. Uma constelação também não ajuda ninguém a se livrar de uma tarefa ou de uma responsabilidade e, muito menos, a abrandar as consequências da dura realidade. Se uma pessoa já decidiu, internamente, despedir alguém ou fazer a fusão de dois departamentos, então com certeza fazer uma constelação para essa situação não vai ser fácil. Uma pessoa precisa ser totalmente responsável pelas consequências de suas atitudes. A cada passo do processo do desenvolvimento de alguém, significa que essa pessoa terá que tomar atitudes e deixar algo para trás. Desenvolver e crescer significa ultrapassar as fronteiras da consciência. Isso possui força. Muitas vezes é mais fácil não tomar nenhuma atitude e deixar a miséria prosseguir do que desenvolver-se e dar o próximo pas- so. Se é esse o caso, uma constelação não pode trazer nenhuma mudança. Melhor não fazer nenhuma constelação em casos como esse. Se um facilitador de constelações prossegue com a questão trazida pelo cliente mesmo numa situação assim, então estará tomando sobre si toda a responsabilidade, e o cliente passará a ser de sua inteira responsabilidade. Isso enfraquece o cliente e remove sua dignidade. Não é proveitoso para um funcionário fazer uma constelação porque deseja mudar a gerência ou ter razão em algo. Dar asas a esse tipo de sentimento fará com que o funcionário se sinta melhor do que o seu chefe. Acima de tudo esse funcionário não está na posição de mudar algo dentro da organização, ele não está na posição de chefia. Só é possível fazer uma constelação para um funcionário, dependendo da situação em que ele se encontra, caso ele queira examinar, de onde está, o que está acontecendo e o que ele pode fazer lá. Uma frase mágica que dá visão a um facilitador ou a um cliente se é bom ou não realizar em determinada situação uma constelação é: "a constelação fará com que o sistema seja, neste momento, mais forte ou mais fraco?" Por mais rápido que as constelações tenham aumentado sua popularidade, elas não são nenhuma "panaceia" e muito menos um manual de instruções ou uma legitimação para determinadas ações. Uma constelação pode trazer à luz o que realmente está acontecendo em uma organização e pode também apresentar possibilidades alternativas. O que o cliente irá fazer com essas informações é responsabilidade dele. A vida real está lá fora, nas ruas e no trabalho. 8 VOCÊ PODE ENVIAR O SEU CURRICULUM VITAE? O que dá força para alguém no seu trabalho? Qual Curriculum Vitae você quer dizer, o comum ou o sistêmico? O que você deseja saber de mim? Recém-formado em Biologia cum laude, formado em Ciência da Educação; gerente de uma multinacional técnica em prestação de serviços, consultor de empresas, coach e facilitador de constelações. É isso que você queria saber de mim? A respeito de ser "facilitador de constelações", tenho com você o mesmo problema que tenho com meus filhos. Frequentemente me perguntam: "Como que eu posso explicar para alguém que tipo de trabalho tem o meu pai?" Ou você quer saber de mim que, desde quando eu me entendo por gente, desde quando engatinhava, os sistemas vivos me inspiravam profundo respeito? Você quer saber que eu, até os meus 40 anos, era filhinho da mamãe (eu poderia ser até um possível presidente da associação dos filhinhos da mamãe, nós temos muitas quali- dades interessantes em comum) e que nos últimos anos eu disponho de muita força que vem do meu pai e da família do meu pai? Você deseja saber se eu realmente me separei do meu último emprego ou se eu ainda carrego aquelas experiências como se fossem uma fonte a ser usada por mim, como um grande benefício para o que estou pretendendo fazer agora? Será que você também deseja saber que, do ponto de vista sistêmico, fui uma criançaque sempre teve muita sorte e por isso tenho a tendência em dar mais do que recebo? Você quer saber que o meu bisavô, deu um tiro na cabeça quando estava no Yang- Tsé-Quiang porque tinha falhado como comandante de um navio de guerra e, por isso, eu tenho a tendência de, inconscientemente, pagar uma dívida fazendo algo de bom para o mundo? Interessa saber que a minha família está em primeiro lugar para mim e o meu trabalho em segundo? Você se pergunta então se isso me dá mais força ou me faz estar menos disponível? Se você está treinado na observação sistêmica, então, senhoras e senhores, eu não preciso lhes dizer muita coisa a respeito do meu futuro(a) chefe, pois talvez você, ao juntar algumas das minhas respostas com algumas das suas perguntas, consiga ver tudo isso de uma vez só. Talvez seja essa a sua tarefa como chefe, porque sabe quais são — do ponto de vista sistêmico — as necessidades desse posto de trabalho, sabe qual é o tipo de pessoa de que você precisa para aquela função e quem será o melhor, lá. SELEÇÃO ADMISSIONAL Assim aconteceu com uma grande empresa multinacional de correio que se atreveu a fazer uso de uma constelação na escolha de alguém para uma função. Primeiro a função foi apresentada para a equipe, para ver se na realidade, estava livre. Depois o chefe escolheu três representantes no sistema para as pessoas dos três CURRICULUM VITAE's que ele havia separado. Usou a constelação como fonte de informação para saber qual era a influência de cada representante sobre a equipe. Uma das pessoas pareceu combinar mais com a equipe. Teoricamente eles nunca o teriam empregado: muito velho, faltavam só cinco anos para se aposentar e ainda tinha tido uma carreira militar. Na próxima conversa eles olharam para ele com outros olhos e o empregaram. Tudo acabou bem. Esse homem não pareceu ter somente uma boa energia, trouxe também tranquilidade à equipe que era formada por ambiciosos jovens. Ele não precisava mais mostrar nada para ninguém, era interiormente livre e autônomo. Gostava de trabalhar e ainda estava disposto a dar alguns anos de sua energia para a empresa. Muitas pessoas vão a workshops com perguntas a respeito do seu próximo passo na carreira profissional. Se você escuta cada um deles, percebe se eles são atrativos para as empresas e clientes ou se está faltando algo neles. Você pode assim perceber a quantidade de força que eles possuem. Será que uma pessoa está realmente disponível para um novo trabalho se ainda estiver conectado com o antigo trabalho ou com outra coisa? Forte é a energia que tem uma pessoa que possui todos os seus antigos trabalhos, cursos e todas as experiências do passado atrás de si, mesmo que tenham tomado um atalho para chegar aonde chegou. Existem pessoas que de repente se direcionam para algo totalmente diferente do que já fizeram até então. Um diretor de uma empresa de segurança deseja começar um consultório de terapia. Um médico inicia um trabalho para meios de cura alternativos. Um enfermeiro deseja se tornar um terapeuta. Um astrólogo deseja, por exemplo, trabalhar em uma empresa e assim por diante. Ao tomar um passo como esse, faz uma grande diferença se você olha para o seu antigo trabalho com consideração e amor como se fosse parte de você ou se olha para ele como uma parte perdida da sua vida. Imagine só que você está olhando para um vendedor de livros, sabendo que ele trabalhou por muito tempo como engenheiro. Se perceber que o passado dele como engenheiro é o seu pano de fundo: isso dá a ele mais ou menos força? Assim você pode também pensar para si mesmo qual é o lugar que deu interiormente para as suas antigas atividades. Se for preciso, teste facilmente você mesmo com a ajuda de alguns conhecidos seus que desejam ajudá-lo com um experimento. Escolha representantes para seu último trabalho, sem contar para eles quem é quem. Depois se posicione diante deles de acordo com a sua relação com eles. Então vai perceber como se sente, em relação a cada um deles. Olhe para cada um. Talvez exista alguma coisa que ainda precise ser dada, recebida ou dita. Será que um outro lugar seria melhor? Talvez cada um dos representantes queira dizer, sem que eles saibam o que ou quem eles representam, como é que se sentem na posição em que se encontram. A seguir, no próximo exemplo, você acompanhará o andamento de uma miniconstelação como esta. TRABALHO DE INFORMAÇÕES Um homem que desejava ser o sócio de uma organização queria verificar qual era a participação do seu antigo trabalho e seus cursos no seu trabalho atual como treinador e formador em PNL (Programação Neurolinguística). Ele escolheu um representante para ele mesmo e para a antiga função, serviço de informação policial; também escolheu um representante para seu curso de PNL e um representante para o trabalho sistêmico. Figura 1 Cl Cliente SIP Serviço de Informação Policial PNL PNL TS Trabalho sistêmico O representante do cliente olhou para o representante do serviço de informação policial e sentiu imediatamente que uma profunda tristeza se apoderava do mesmo. Então convidei o próprio cliente a assumir seu lugar na constelação e permanecer lá até o fim. Suspeitei que estivesse acontecendo algo que desejava ser finalizado. O cliente olhou longamente o serviço de informação, deu uns passos para frente e se abraçaram com sinceridade. O trabalho sistêmico, que se sentia inquieto e fora do seu lugar, recebeu um lugar ao lado do curso de PNL, o qual até então sentia que ninguém o via, mas se acalmou depois dessas mudanças. Depois de um tempo, o serviço de informação assumiu uma posição atrás do treinador. Os representantes do curso de PNL e do trabalho sistêmico estavam de mãos dadas e se aproximaram do cliente. O cliente estava calmo e os outros representantes sentiam uma força silenciosa. Figura 2 Depois ele contou que atrás do "serviço de informação" sempre via o seu pai que, juntamente com a sua mãe, fizera parte da resistência durante a 2a Guerra Mundial e lá fizeram a mesma coisa que ele: trabalharam no serviço de informação. Toda a tristeza e sentimento de culpa desse cliente em deixar esse trabalho desapareceram durante a constelação. Todos os seus sentimentos se tornaram uma força positiva. Ele disse: "Esse serviço de informação me faz lembrar duas palavras 'certeza' e 'risco'." E nesse trabalho eu corri realmente muitos riscos iguais aos que meu pai correu, quando fazia parte da resistência. Assim podemos observar como os filhos estão ligadas ao destino e ao trabalho dos seus pais, ao escolherem sua profissão. Às vezes os filhos tentam terminar algo que os pais não conseguiram, o que novamente será uma grande tarefa. Como deve ser doloroso deixar uma profissão assim para trás e se sentir de alguma forma culpado! Quando o pai olhou para o seu filho através do serviço de informação, e o filho pôde ver como o pai o olhou, houve reconciliação, paz interior e força. O filho pôde então receber a força de seu pai, sem precisar realizar as tarefas que a ele pertenciam. ORDENAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS DE TRABALHOS ANTIGOS O que nós também podemos observar nessa constelação é que a ordenação das experiências de trabalho e cursos pode trazer paz interior. O trabalho sistêmico, que era o mais recente curso em que o cliente estava depositando toda a sua atenção, sentia-se inquieto e deslocado quando estava posicionado ao lado direito e perto dele. Somente quando se posicionou na ordem de sucessão depois do curso de PNL, do lado esquerdo, o representante do curso de PNL demonstrou que ele novamente foi visto e valorizado pelos outros. Espontaneamente o curso de PNL e o trabalho sistêmico deram um aperto de mão. Nós percebemos que frequentemente as pessoas que desejam começar algo novo desejam colocar isso em primeiro lugar. Ao representar numa constelação as experiências pro- fissionais e os cursos que conduziram uma pessoa ao lugar onde se encontra agora, estes se mostramquase sempre inquietos e desrespeitados. Podemos observar também em constelações que cursos que são feitos mais tarde não sentem a necessidade de serem colocados em primeiro lugar e se sentem bem justamente no seu lugar certo, "atrás na fila". Parece até que cursos feitos mais recentemente formam uma aliança com os cursos antigos, até que os antigos sejam respeitados. Através de uma aliança assim não se podem colher plenamente os frutos de um curso feito mais recentemente. Ao contrário, podem-se colher esses frutos quando os cursos antigos são respeitados. É claro que um novo começo, um novo trabalho ou um novo departamento de uma empresa pede atenção, cuidado e abrigo para se desenvolver. Mas assim que esse algo novo "sai das fraldas e começa a andar com as próprias pernas", é bom que o lugar onde esse novo broto se encontra dentro do sistema seja bem observado. Se esse novo broto se posicionar acima daqueles que já estavam no sistema e que nunca foram valorizados, então assume uma posição problemática, podendo assim causar conflitos dentro do siste- ma. Quando uma empresa é direcionada para o crescimento, jovens funcionários se tornam inseguros quando percebem que há dentro da empresa, funcionários que não são mais importantes ou valorizados: "Será que é possível crescer aqui de maneira progressiva?" Terapeutas que são entusiasmados com o trabalho sistêmico têm, às vezes, a tendência de não aprovar outras tendências terapêuticas, mas no campo terapêutico o século passado foi o século de Freud e não o século de Bert Hellinger. Freud vem em primeiro lugar, estando na frente de muito outros, e Hellinger está talvez na 87a posição. Imagine como ele ficaria se fosse colocado na frente de Freud. Toda profissão possui seus grandes mestres que a desenvolveram, depois haverá outros que darão continuidade ao seu trabalho, mesmo estando a nova ramificação enquadrada no que deu origem a ela. A nova direção não teria sido possível sem a velha. Uma profissão pode se desenvolver exatamente através de novas observações, antíteses e contradições. A crítica também, principalmente a crítica, leva a profissão para frente. Quando o anterior é respeitado como uma parte do desenvolvimento e talvez até considerado um caminho necessário do desenvolvimento, isso gera apoio e força. Se a crítica faz com que você venha a discordar dos seus pensamentos de antes, em relação ao seu trabalho, fazendo até que você venha a negar ter tido tais pensamentos ou faz você se sentir envergonhado, em relação a isso, então você se sente desconectado das suas raízes profissionais. Além disso, os clientes são muito sensíveis (e ficam ressentidos) em relação a pessoas que não estão ligadas a suas raízes profissionais. Tudo certo, mas como você coloca isso em um Curriculum vitae? REALIZAR O SONHO DE OUTRA PESSOA O que escrevo no meu curriculum vitae sobre as minhas qualidades? Provavelmente somente que as possuo! Se for colocar as minhas qualidades somente para honrar alguém, prefiro guardá-las para mim, em silêncio e com orgulho. Ao final de um dia de constelações, quando estávamos quase terminando, uma mulher confessou que nunca conseguia se dar bem no trabalho e que seu irmão, a irmã e o pai tinham o mesmo problema. FACILITADOR para a mulher A quem você está honrando não indo bem no trabalho? Os olhos dela se encheram de lágrimas e disse: "Meu avô. Ele era genial, mas se afastou da família e perdeu o contato. Na realidade nunca se falava muito sobre ele." Então ela escolheu um representante para o seu avô e colocou-se imediatamente diante dele e se olharam por um longo tempo. FACILITADOR diga para ele "Querido avô, nunca serei melhor que você." MULHER Querido avô, nunca serei melhor que você. FACILITADOR diga para ele "Querido avô, vejo que você está muito ligado a algo, que está conectado com outras coisas." MULHER Querido avô, vejo que você está conectado com outras coisas." O representante do avô começa a ficar radiante de alegria. FACILITADOR para o grupo Antes foi dito que ele se afastou da família e rompeu o contato, mas nesse caso podemos ver que ele está em contato com outra coisa, para a mulher Isso seria um bom motivo para você querer se tornar uma treinadora (coach) de comunicação, assim estaria honrando o seu avô. para o grupo Ao mesmo tempo essa honra não serve de nada, enquanto a neta pensar que está honrando o seu avô não sendo melhor que ele. Quando o avô se iluminou de alegria, a neta compreendeu que não poderia ajudá-lo e que o avô se sentiria bem se tudo fosse bem com ela, no trabalho. Neste exemplo, observamos o aparecimento de uma dinâmica que acontece frequentemente. Existe uma dupla lealdade a uma pessoa que foi excluída. De um lado o filho(a) ou o neto(a) tenta realizar os sonhos que outra pessoa não pôde realizar, mas por outro lado sabe que essa tentativa está condenada ao fracasso. Esse(a) filho(a) ou neto(a) se coloca, por exemplo, acima do pai ou do avô se tentar salvá-lo ou honrá-lo dessa forma. Ele fica "duplamente errado" já que, se fizer algo para que possa ir bem no trabalho ou não, estará sempre acompanhado de um sentimento de culpa, que é válido para as duas situações. Se você, na condição de facilitador, disser, por exemplo, a uma neta que não é bom que aja como o avô dela, essa terá então cada vez mais problemas de lealdade. Se seguir seu conselho, será para ela um grande alívio e poderá agir novamente. Mas depois de um tempo, a lealdade ao avô toma as rédeas de novo, ela falha mais uma vez e sente-se mais culpada ainda. A solução para esse problema é fazer com que a neta perceba que o avô possui o seu próprio destino e que deseja que ela siga o seu próprio caminho. Então aquele amor infan- til, a cegueira que o acompanha e a sua lealdade se transformam em um amor adulto. Obtendo sucesso na vida profissional, a neta permanece ligada ao seu avô e livre para realizar o seu trabalho da forma que bem entender. Internamente ela se volta para o futuro. O avô está atrás dela e se torna um tipo de protetor. Ao final de tudo, a mulher disse: "Treinadora de comunicação é exatamente o que eu quero ser." TOMADO A SERVIÇO As vezes as pessoas são "tomadas a serviço" em algo grande, em um grande sistema como um país ou um povo. Pode acontecer de esse serviço colocar essa pessoa em uma posição muito baixa ou em uma posição muito elevada. Tudo isso ocorre sem que a pessoa conscientemente queira que aconteça ou tenha algum conhecimento a respeito. Parece até que o sistema, de maneira arbitrária, escolhe as pessoas para endireitar aquilo que no passado cresceu "torto". Assim fica difícil julgar essas pessoas. É claro que isso na realidade são pensamentos e observações extremos. Como isso funciona de verdade não sabemos, e talvez seja até melhor deixar como está. A seguir, alguns exemplos dos últimos dias. Uma surinamesa que vivia e trabalhava na Holanda sentia constantemente que o objetivo da vida dela era fazer algo no Suriname, mas não sabia exatamente o quê. Cada vez que se tocava no assunto, ela ficava comovida. Os cursos e o trabalho dela na Holanda não eram fáceis, eram trabalhos provisórios, preparações. Não era ela quem tinha um objetivo de vida, mas era o objetivo que a tinha. Ela falou modestamente a respeito. Uma jovem holandesa cheia de energia, que trabalhava em um ministério, estava à procura de uma posição. Não se sentia muito bem pelo fato de olhar para os seus colegas de trabalho de uma maneira superior. Parecia estar ligada ao "destino do mundo", e isso fazia com que ela fosse colocada em uma posição elevada e que não fosse muito querida pelos seus colegas de trabalho. Um holandês estava presente em um grande congresso internacional a respeito de guerra e paz. Um israelita, juntamente com um palestino, ministrou lá uma palestra. O palestino contou como ele foi criado às margens do Ocidente e que não sabia fazer outra coisa a não ser jogar pedras nos soldados israelitase nos tanques de guerra que por lá passavam. Contou que quando foi preso e levado para a prisão, no deserto de Negev, olhava para os guardas israelitas como se eles fossem iguais entre si e representantes do povo que ele tanto odiava. Depois de alguns meses, o prisioneiro palestino havia pedido um pouco de água para beber, então dois guardas que lá estavam tiveram uma desavença porque não concordavam um com outro. O palestino percebeu então que nem todos os guardas eram iguais, aqueles eram diferentes. A partir desse momento tudo mudou para ele, os guardas que antes eram "inimigos" se transformaram em pessoas. O israelita contou que era um descendente das vítimas do holocausto e que nos anos 70 começou a se perguntar em que os descendentes dos assassinos nazistas haviam se transformado. Depois de alguns anos, surgiu uma oportunidade de um encontro entre um grupo de 17 descendentes das vítimas do holocausto e 18 descendentes dos assassinos nazistas. Eles iniciaram a conversa, cada um contava algo sobre si mesmo. Eles haviam combinado que a reunião duraria dois dias, no entanto, durou três e meio, até que cada um deles tivesse tido a oportunidade de falar. Eles sentiram um profundo vínculo um pelo outro e tiveram a certeza de que iriam se encontrar novamente. Combinaram, então, de se encontrarem um ano depois daquela data. Um ano depois, quando isto aconteceu, muitos deles estavam tristes e abatidos. O que aconteceu foi que, depois do primeiro encontro, quando voltaram para o seu país e contaram lá o que havia acontecido, não foram bem aceitos pelas pessoas do seu próprio grupo. Para o grupo deles haviam se tornado culpados. Ao final da palestra, foi revelado que o palestrante Martin Bohrmann era filho de Martin Bohrmann, que foi o secretário de Hitler. O holandês teve um sentimento inexplicável de que teria que estar presente quando ele fosse falar. Como não havia planejado assisti-lo, mudou rapidamente todo o seu programa e minutos depois estava no salão onde a palestra já se havia iniciado. Martin Bohrmann estava sentado atrás de uma mesa, contando sua história. Contava que, quando ainda era um garoto, foi enviado para uma escola especial de oficiais nazistas de alto nível em Munique e depois transferido para Berchtesgaden. Quando ficou sabendo que os nazistas provavelmente perderiam a guerra, foi enviado para o sul do Tirol e lá usado como soldado. Ele contou sua história de maneira neutra, sem fazê-la parecer mais bonita ou mais feia do que realmente era. Todos escutavam silenciosamente. O holandês ficou impressionadíssimo ao ver o desespero exposto no rosto de Martin, enquanto ele contava a respeito de sua reação, quando realmente compreendeu o que seu querido pai e ótimo esposo de sua mãe havia cometido. A expressão de seu rosto ficou profundamente gravada na memória do holandês. Bohrmann se transformou depois em um padre católico e, desde então, ministra ensinamentos de paz em escolas de toda a Alemanha. O holandês estava sentado no chão pelo fato do salão estar lotado e, sem que ele entendesse o porquê percebeu que seu rosto estava molhado de lágrimas. Sentiu como se uma mão invisível o empurrasse para ir ao encontro de Bohrmann. Durante a pausa, levantou-se e foi até ele. Bohrmann também se levantou, ao ver que o holandês que se encontrava diante dele tinha o rosto cheio de lágrimas e perguntou: "Ah! O que aconteceu?" Depois de ouvir isso, o holandês não pôde mais conter as lágrimas, deitou a cabeça no ombro de Bohrmann e disse: "Eu venho da Holanda e hoje é 4 de maio, o dia em que lembramos os nossos mortos na guerra..." Depois da pausa, Bohrmann continuou sua história e, no momento em que outras pessoas podiam fazer perguntas, o holandês sentiu uma enorme e profunda paz e tranquilidade interior. Depois que tudo isso aconteceu ele ainda se perguntou o que aconteceu naquele congresso. Na história da vida dele não havia nenhuma vítima da guerra e muito menos vinha de uma família judaica. Isso é o que acontece com o papel de um representante em uma constelação, como se ele tivesse sido contratado para estar a serviço de algo muito grande. Sucesso com o seu próximo curriculum vitae!!! 9 PRODUTOS SÃO COMO PESSOAS Como fazer com que um novo produto, conceito ou atitude tenha sucesso? Quando alguém me contou que queria fazer a constelação de uma marca fiquei muito interessado ou, melhor dizendo, fascinado. Será que a opinião sistêmica e o método das constelações, que foi desenvolvido a partir da visão profunda dos problemas de um indivíduo, poderiam ser usados para fins tão superficiais como atividades econômicas e marketing? Ao usar tal método para produtos e logomarcas aconteceu, muitas vezes, de surgirem novas e valiosas ideias. Como seria pesquisar isso do ponto de vista sistêmico e científico? O que mais me chamou a atenção foi a ousadia do pesquisador em desejar pesquisar algo incompreensível e intocável como uma constelação, a partir do científico. Por ele desejar passar quatro anos de sua vida pesquisando isso, arriscando perder sua credibilidade no mundo científico e colocando assim sua carreira em risco, sou obrigado a respeitá-lo. Para minha surpresa esse método não é somente interessante para os administradores de marcas — só o nome dessa profissão já indica que uma marca é um elemento essencial no sistema de uma organização — como também para os cientistas de marketing e os peritos em marcas. Não somente o método é interessante para eles, mas principalmente a abordagem é que torna as constelações interessantes. É que em caso de problemas, em relação a uma marca, as preocupações se voltam para as relações entre a marca, o produto, os fabricantes e os compradores do produto. Uma constelação é um excelente meio de mostrar e esclarecer relações. Quando você faz uma pesquisa com várias pessoas para perguntar o que eles acham de uma marca ou se eles comprariam um novo produto, as respostas deles quase sempre não condizem com o que realmente fazem na prática. Portanto os administradores de marcas estão justamente à procura de métodos que possam ajudá-los a melhorar sua compreensão dessas relações. Como funciona uma constelação a respeito de questões de marca? Eu darei alguns exemplos. ALIMENTOS PARA BEBÊS Um gerente de marcas desejava levar um produto já existente até um novo grupo-alvo de consumidores no mercado. Buscava descobrir qual seria a medida eficaz para a realização de uma campanha que pudesse alcançar esse novo grupo de consumidores. "A atual campanha enfatiza o lado bonito da maternidade como se, durante a gravidez, a gestante estivesse envolta por uma nuvem cor-de-rosa", contou o administrador de marcas. "Mas quando o filho nasce essa nuvem cor-de-rosa desaparece e então as mães passam por situações inesperadas, que não são todas tão bonitas ou esplêndidas como pareciam ser. Por isso nós queremos agora fazer uma campanha que combine mais com a realidade das experiências das mulheres que se tornaram mães recentemente. Será que a nova campanha conseguirá fortalecer os laços entre o novo grupo-alvo de consumidores e a marca?" Primeiro representamos a situação atual para depois podermos olhar os efeitos da campanha sobre o novo grupo de consumidores. Para a situação atual foram escolhidos representantes para a direção da empresa e para o produto — o alimento para bebê — entre outros. O produto sentiu-se imediatamente fraco e trêmulo. O facilitador da constelação perguntou se no passado havia acontecido algo de especial com o produto ou se porventura os usuários tinham sofrido algum prejuízo ou desvantagem com o uso do mesmo. O gerente de marcas respondeu que não sabia e que trabalhava há apenas dois anos para essa organização. Devido à falta de informação atribuímos um representante para possíveis "prejudicados pelo produto". Uma mulher foi escolhida como representante para isso. Com os representantes do produto e a representante dos que teriam sido possivelmenteprejudicados, tudo ficou claro. A pessoa prejudicada foi uma mãe que teve todos os seus filhos doentes por causa de um produto defeituoso. No entanto, ela reagiu com ponderação. Disse simplesmente que agora tudo estava bem, com ela e com as crianças. Pediu apenas sinceridade e boa-fé e ainda confiava plenamente no produto. Se os gerentes daquela época não negassem a deficiência do produto e admitissem a falta, o produto ganharia de volta a sua força. O produto sentiu que o incidente "tornou-se maior do que de fato era" e agora estava "pronto para prosseguir". Continuando com a constelação, a representante do novo grupo de consumidores sentiu uma desagradável sensação de estar se inclinando para o antigo grupo de consumidores. Ao lado deles ela se sentia melhor e, acima de tudo, lá era vista pela gerência. A nova campanha se sentiu conectada com a antiga e com o novo grupo de consumidores, mas não se sentia ligada ao produto. Por sua vez o novo grupo de consumidores desejava obter um produto forte. "Aqui você poderia até pensar em uma dife- renciação ou subdivisão do produto", disse o facilitador da constelação. Mais tarde o gerente de marcas assistiu ao vídeo dessa constelação, juntamente com dois de seus diretores que não estiveram lá presentes. Esses diretores disseram, então, após terem visto o vídeo da constelação, que reconheciam as dinâmicas e as reações vistas lá. Ao mesmo tempo eles afirmaram que a constelação lhes deu novas informações que poderiam ser usadas, no que diz respeito à relação entre a nova marca e a nova campanha. Além disso, confirmaram a ocorrência de uma situação onde a marca prejudicou um grupo de consumidores no passado. Por causa de uma falha no produto, os responsáveis pela marca tiveram até que retirar os produtos das prateleiras. O QUE ACONTECE DO LADO DE DENTRO SE REPETE DO LADO DE FORA O que nós percebemos até agora é que a relação entre produto e marca ou entre marca e grupo de consumidores frequentemente refletem as dinâmicas que acontecem dentro da organização. Se dentro da organização existe uma determinada tensão, que se reflete na relação entre produto e cliente, essa relação só pode ser melhorada a partir do momento em que o problema for resolvido internamente. Quem nunca ouviu falar do fenômeno que acontece quando uma pessoa está em um período muito difícil de sua vida e que, por causa disso, direciona toda a sua força para dentro de si? Quando isso acontece os clientes dessa pessoa também vão recuar. Quando ela se sente novamente bem, disponível e direcionada para fora, os clientes começam a voltar. Você pode se perguntar se o mundo externo e os clientes potenciais determinam parte do seu sistema profissional e, ainda se há algum limite entre eles. Do contrário, se você usa os seus clientes para resolver algo na sua vida particular, corre o risco de perdê- los. OS PROPRIETÁRIOS OCULTOS Uma grande organização ligada ao governo, direcionada à preservação da natureza, desejava apresentar uma imagem mais moderna ao público. Desejavam atrair para suas áreas de preservação, não somente amantes da natureza, mas também famílias contemporâneas. Foi criado um logotipo novo, novas cores e novas letras. Então, escolhemos representantes para a atual marca, para a nova marca, para o atual público, para o novo público e para aqueles que iriam decidir qual marca usar. Foi constatado na constelação que extinguir a velha marca não era possível. O público atual não estava de acordo. Nesse caso só poderia acontecer algo quando o atual público, que há anos sustenta e apoia essa organização, fosse tratado com cortesia e reconhecesse a necessidade de mudanças. Nesse sistema, o atual público se comportava como se fossem acionistas ou proprietários ocultos. Isso acontece com frequência. Quando uma marca se torna conhecida, confiável e, de certa forma, propriedade pública, não permitirá que se brinque com ela. Isso funciona com um eixo nas relações entre os muitos sistemas que pertencem à empresa, assim como entre produto e empresa, produto e público, público e empresa e entre as diferentes partes de uma empresa, assim como acontece nas franquias entre compradores e fornecedores. Geralmente tem-se a impressão de que uma marca funciona como se fosse um reflexo do que está acontecendo dentro da empresa e pode também indicar se uma nova ideia de desenvolvimento funciona ou não. Nesse sentido, marcas são elementos sérios, e eu tenho que admitir que comecei a olhar para isso com outros olhos e os considerei mais cheios de força do que originalmente pensava. ESCOLHER ENTRE DOIS MERCADOS Um homem tinha um consultório de terapia Jungiana e a cada dia vinham menos clientes. Agora o terapeuta estava ligado a uma ideia de fazer algo a respeito de sua assistência. Tinha dúvidas e desejava saber o que seria melhor fazer. Acima de tudo, precisava ganhar mais dinheiro para sustentar sua família. Disse que os clientes que atendia eram enviados por médicos e dois psiquiatras. Depois de termos chegado a um acordo, escolhemos representantes para o homem, o consultório, Jung e para os três profissionais que lhe encaminhavam clientes (psiquiatras, médicos) e depois para um cliente. H Homem que desejava saber qual a melhor forma de trabalho C Consultório para terapia Jungiana. J Jung (fundador da terapia Jungiana) P1 Profissional 1 P2 Profissional 2 P3 Profissional 3 C1 Cliente que ele atendia Em nenhum momento o homem pareceu estar em contato. Tudo parecia pesado, insensível. Os profissionais que encaminhavam clientes se sentiam instáveis. O profissional 3 olhava para chão e quase caiu. O profissional 2 olhava para Jung e queria ir para trás. O profissional 3 queria ir embora e trombava em tudo que estava ao seu redor. O cliente se tornou um pouco brincalhão. Então, como facilitador dessa constelação, girei o representante do homem, colocando-o separado. Todos os outros se sentiram, imediatamente, um pouco melhor e o homem, também. M Morte FC Possível futuro cliente Escolhi um representante para a morte e um para outro possível futuro cliente, que também se sentiram imediatamente à vontade nessa constelação. O futuro cliente se sentia melhor ainda quando estava ao lado do homem e olhavam juntos para a morte. ANTIGO CLIENTE aliviado Finalmente está claro que é da morte que se trata aqui. Pensei em voz alta: "curioso, ele tinha um consultório onde se tratava sobre a vida e aqui nós estamos a serviço da morte!" HOMEM Sim, quando a morte foi escolhida, pensei que era meu pai que morreu há alguns anos atrás. Nessa constelação ficou claro, então, como as diferentes fases da vida exercem influência no trabalho. Vimos aqui também como clientes exigentes podem reagir a esses tipos de dinâmicas que acontecem dentro do sistema do terapeuta. O TÍTULO Como editor, lutei muito para encontrar um bom título para a versão holandesa de um livro do Bert Hellinger. O título em alemão é Die Quelle braucht nicht nach dem Weg zu fragen6. A equipe de tradutores escolheu o título "A Fonte". Fiquei tentado a escolher o mesmo título. Existiam algumas discussões a esse respeito: "Bert Hellinger não quer ser visto como fonte, o livro não fala a respeito de uma fonte e sim a respeito daquele que, através de uma fonte, flui e encontra assim o seu caminho." Além disso, um perito no assunto achou que "fonte" possuía várias associações com as paisagens montanhosas da Alemanha e que seria melhor encontrar algo que fosse associado às paisagens da Holanda. Resumindo, o que geralmente acontece na procura de um título, quando sucessivas 6 Traduzido para a língua portuguesa pela editora Atman — A fonte não precisa perguntar pelo caminho - 1ª edição fevereiro 2005. (N.R.) discussões seguem uma única direção, até que surge um título forte, dessa vez não aconteceu. Então, levei essa questão para uma constelação. Em uma constelação de marcas é usual que se apresenteuma questão referente à marca, e diferentes alternativas são testadas e diferentes públicos- alvo são também representados de forma que se possa perceber a reação deles em relação às diferentes alternativas. Nesse caso poderia testar três títulos alternativos com o público atual (as pessoas que já conheciam o trabalho sistêmico de Bert Hellinger) e com o futuro público (as pessoas que, através deste livro, teriam o seu primeiro contato com o trabalho sistêmico). Mas aqui me fiz outra pergunta: "Como que eu posso decidir com firmeza quando se trata de um título de um livro?" Existiam alguns títulos que poderia escolher, mas o que me mantinha intrigado era saber por que eu ainda não me tinha decidido. Foram escolhidos representantes para o livro, para Bert Hellinger e para o editor (eu próprio). Visto que para responder à minha pergunta não era, no primeiro instante, necessário para a escolha que se colocasse um representante para o público, como ponto de referência, o próprio editor ficou sendo assim o ponto de referência. O livro, Bert Hellinger e o editor se encontravam em um triângulo. O livro e o editor viraram-se bem devagar um para o outro. O representante de Hellinger ria muito e disse que não queria ter nada a ver com o nome, mas desejava somente observar. O livro e o editor se olharam por um longo tempo e ficaram mais fortes. Então eu mesmo me coloquei no lugar do meu representante na constelação. Nessa posição, sentia-me cheio de energia e o livro se tornava bem atrativo para mim. Senti-me corar e senti vontade de terminar o livro o mais rápido possível. Era meio estranho mas, estando naquela posição, não me preocupei muito em não ter um título em mente. Então, gravei tudo isso na minha memória e encerrei essa curta constelação. Na manhã seguinte eu me ocupei fazendo as últimas correções do livro e li concentradamente a tradução inteira mais uma vez. De repente meus olhos pararam em uma frase que escrevi rapidamente em uma folha que estava ao meu lado. Meia hora depois, para minha surpresa, eu percebi: "Acabei de escrever o título deste livro." Imediatamente ficou claro para mim que esse era o título. Não precisava mais discutir sobre isso com outras pessoas. Além disso, as cores a serem usadas na capa ficaram claras, pareciam ser as mesmas cores da camisa que o representante do livro estava usando no dia anterior. Também decidi de repente que poderia usar a figura de um rio numa paisagem de fundo holandesa. As cores eram totalmente diferentes da edição alemã, e o projeto da capa também foi totalmente diferente daquilo que eu tinha em mente antes. Foi legal ouvir das pessoas que elas acharam bonita a capa do livro que publicamos. Quando alguém ou uma empresa tem que fazer uma escolha a respeito de produtos que serão lançados, pode ser de grande ajuda perguntar aos outros o que acham do produto. Você pode talvez, dessa maneira, obter informações que serão úteis. Da mesma forma uma constelação também pode fornecer uma informação útil, mas existe um risco: se uma pesquisa de opinião, perguntas ou uma constelação tomar o lugar da própria escolha e tirar algo da responsabilidade de alguém, isso pode gerar um enfraquecimento. Então é melhor para a pessoa ou para a empresa se colocar primeiro em um estado de disposição a assumir uma decisão com responsabilidade. A partir daí, a decisão flui quase automaticamente. OS EFEITOS DE UMA CONSTELAÇÃO DE MARCAS Dentro do contexto daquela pesquisa sobre constelações de marcas, anteriormente citada, cinco clientes, entre eles gerentes e consultores de marketing, fizeram um relatório de como seguiram as coisas após as constelações. Também mencionaram qual era a impressão deles a respeito das possibilidades de aplicação desse método. Todos os cinco tinham constelado uma questão entre seis meses a um ano. Para a maioria deles o método das constelações era novo, naquele momento. Pelo fato da reação e maneira de como eles se expressaram ter sido surpreendente, gostaria de citá-los abaixo. O primeiro gerente de marketing era o responsável por uma grande marca nacional que todos conheciam. A pergunta era saber se era possível criar uma nova submarca ao lado da marca existente. O responsável geral pela empresa tinha várias ideias, e o gerente de marketing o aconselhava. "O aspecto emocional foi para mim o mais surpreendente. Nós pensávamos que estivéssemos sendo racionais, mas ficou claro que havia fatores emocionais presentes. Isso tinha a ver com fatores relacionados ao 'poder' dentro da empresa, que antes estavam ocultos e que se tornaram visíveis na constelação. Essa constelação contribuiu para que eu fizesse a mim mesmo perguntas em que antes jamais havia pensado. Fez-me pensar de uma maneira diferente, como se estivesse em outra dimensão: pudesse observar, do lado de fora, uma situação da qual faço parte, onde me sinto responsável, onde no pano de fundo se desenrolam as grandes prioridades da uma empresa. Na minha profissão vejo duas possibilidades aplicáveis para esse tipo de constelação: - a primeira na fase que antecede a decisão sobre algo ou, por exemplo, antes de autorizar um trabalho de marketing a uma agência de propaganda. A partir dessa pesquisa qualitativa, decorrente da constelação, obtenho claramente a visão de quais são os elementos que estão ativos, quais são os fatores contextuais que estão envolvidos e também quais desses fatores têm peso. Percebemos com frequência que fatores internos exercem grande influência na tomada de decisões; - em segundo lugar vejo uma constelação como um método útil no processo de simulação de diferentes cenários. Minha pergunta crítica é até que ponto a escolha dos representantes e suas reações na constelação são influenciadas por fatores subjetivos pessoais. Além do mais a constelação não contribuiu para a decisão de introduzir a submarca." O segundo gerente de marketing trabalhava em uma empresa familiar que produzia bebidas alcoólicas. A pergunta aqui era saber qual seria o efeito da implantação de um novo produto na imagem da marca e no atual grupo de consumidores. "A constelação me deu várias opiniões a respeito do processo a seguir e também de como uma marca, produto ou consumidores estão uns em relação aos outros. Isso me deu consciência de qual era a minha posição na empresa. Meu chefe é membro da quarta geração dessa empresa familiar, que existe já há 115 anos. Eu trabalho lá há dois anos e, através da constelação, fiquei ciente do que a empresa passou durante os 113 anos de existência, antes de eu ter ido trabalhar lá. Desde a constelação não o vejo mais somente como meu chefe, mas como meu campo de ação. Sou atualmente seu gerente. Acredito que a grande vantagem de uma constelação é que se pode observar como está agora, como era e como será. Em uma pesquisa de mercado normal se analisa somente o aqui e agora, enquanto na constelação se podem examinar também as mudanças. Uma segunda vantagem é que é possível sentir todos os elementos reais em atuação, não somente o mercado, a concorrência ou os consumidores, mas também os elementos internos de uma empresa." O terceiro a relatar foi o diretor de uma empresa de Tecnologia da Informação (TI). Ele fez uma constelação com um colega de trabalho que também era um dos diretores e a pergunta deles foi estratégica: "Qual será o efeito se nós, além de estarmos dentre as 200 melhores empresas, nos direcionarmos para o mercado de topo das médias e grandes empresas?" "A constelação nos deu suporte para continuarmos seguindo em frente no caminho que havíamos escolhido, e isso nós fizemos até rápido demais, um pouco antes de o mercado ter apresentado uma queda nas vendas. Mas ainda houve dois fatores que fizeram os nossos olhos se abrirem. Ela trouxe à luz que poderia ser melhor se o fundador fosse ao mesmo tempo um dos diretores e pudesse exercer uma função mais estratégica do que operacional, ou seja, agindo mais no pano de fundo. Essa ideia foi colocadaem prática há seis meses atrás. Tal mudança aconteceu com harmonia e percebemos que para nós ela foi muito boa e agora estamos colhendo os frutos. O segundo ponto onde a constelação abriu nossos olhos foi o fato de que os clientes de diferentes grupos não conseguiam ver uns aos outros. O que fizemos foi colocar esses clientes em contato uns com os outros, para que pudéssemos aprender reciprocamente. Isso funcionou bem. Não comentamos muito a respeito da constelação com a equipe de diretores, simplesmente decidimos colocar as ideias em prática. Acreditamos que as constelações são muito úteis no processo de mudança. As tensões se tornam visíveis para que possamos, então, fazer algo de construtivo com elas. O que isso me trouxe particularmente foi confiar mais nos meus sentimentos e intuição. Notável foi perceber que toda a equipe da direção começou a aceitar mais o fato de usar a intuição no ato de tomar decisões." O quarto foi um perito em marcas que trabalhava como consultor para uma grande organização que administrava grande parte da conservação ambiental na Holanda. "O cliente (representado na constelação) se sentia muito emocionado. Esse aspecto nos forneceu muita informação. Nossa pergunta era saber qual seria a melhor forma de atingir não somente o atual grupo de visitantes, mas também os jovens e as famílias modernas, para que pudessem estar mais em contato com a natureza. A consciência de que o atual grupo de visitantes não podia ser deixado de fora, ajudou-me enormemente em todos os tipos de decisões, inclusive na negociação com empresas de pro- paganda. Como estavam envolvidas novas instituições e novos produtos, essa nova visão (das constelações sistêmicas) encaixou como uma luva." O quinto relator era um consultor de marcas. "Esse é um método que é útil no andamento do processo de tomada de uma decisão final. Contudo, é aconselhável que se esteja preparado para poder expandir a visão e não somente ficar preso à tarefa de que foi incumbida. Esse método me parece também aplicável quando você se sente preso em algum lugar ou alguma coisa, e deseja saber o que está acontecendo, mas não consegue. Por fim, ele também me parece poder ser utilizado como um tipo de levantamento inicial quando se tem um problema para resolver, por exemplo: o que está acontecendo e quem ou o que temos que levar em consideração? Esse método é rápido e inspira uma abertura, porém para isso é muito importante para o público que a constelação ocorra em um ambiente onde essa abertura possa acontecer. Durante uma constelação é colocado em ação um tipo de inteligência coletiva capaz de resolver problemas que são geralmente muito complicados para serem resolvidos simplesmente pelos métodos analíticos." Mesmo não tendo colocado aqui todos os relatórios, sinceramente estava e ainda estou impressionado com as consequências de longo alcance e com os resultados dessas conste- lações nas decisões de uma empresa. O que me chama mais atenção é que três dos cinco relatores dizem que a constelação exerceu influência sobre a maneira de pensar deles ou sobre a organização. Isso é um impacto muito promissor de que eu ainda não tinha ouvido falar com tanta clareza, até então. 10 DIAGNÓSTICO SISTÊMICO: QUANDO AS ORGANIZAÇÕES FUNCIONAM BEM? Uma diretora de três instituições na área de saúde queria fazer um diagnóstico das mesmas. Ela disse: "Quero saber se as minhas instituições são saudáveis ou se existem pontos a que tenho que dar mais atenção." Essas e outras perguntas parecidas não são formuladas a partir de um problema que se desenvolve no trabalho ou na organização. As perguntas por trás dessa são: - Como posso dirigir bem a minha empresa? - O que posso fazer como gerente a partir da perspectiva sistêmica? - O que pede atenção no processo de desenvolvimento nesse momento? - Como um projeto pode ter sucesso? - Como podem pessoas e organização funcionar bem a partir da perspectiva sistêmica? Apontaremos agora alguns dos principais pontos deste livro, como se fosse uma breve conclusão do mesmo. Citaremos os pontos de acordo com a importância de cada princípio sistêmico. Primeiro é importante que exista um quadro ordenado de hierarquia onde, dentro dele, cada departamento e cada pessoa possa funcionar bem dentro da organização. Em seguida o equilíbrio entre o dar e o receber possui extrema importância. Sem um bom equilíbrio na troca entre dar e receber não é possível obter lucro. Finalmente, é importante que as pessoas, os ideais e outros elementos que no passado marcaram a empresa recebam o seu devido lugar dentro da organização. Eles formam as raízes da organização. Para todos os funcionários importa saber que cada um deles tem o mesmo direito a um lugar, dentro da organização. Quando damos atenção a esses princípios, forma-se então um tipo de metaestrutura dentro da organização, onde o trabalho em si e as pessoas que fazem esse trabalho podem se desenvolver. Notável é perceber que a ordem de importância desses fatores sistêmicos é diferente dentro de um sistema familiar. Lá é importante que, em primeiro lugar, cada pessoa receba um lugar, em segundo a ordem hierárquica e, depois, vem o equilíbrio entre o dar e receber. Sabemos também que uma organização tem uma função diferente da família e necessita de outro tipo de força, para poder obter sucesso. Havendo um lugar seguro e confiável para todos e uma hierarquia clara, as pessoas não precisam se preocupar em saber qual é o lugar delas, qual é a posição dos colegas de trabalho e muito menos qual é a posição do chefe. Em uma organização "clara" não existem essas coisas. Isso significa que todos podem se concentrar no seu trabalho e que não há impedimento na realização desse trabalho por parte de outros funcionários. Gerentes que não contribuem zelando para que seja criada uma estrutura de funções e hierarquia, onde cada um possa realizar o seu trabalho, impedem a continuidade da organização e removem força da organização, enfraquecendo-a. Somente funções que são necessárias devem permanecer. A mesma condição é válida também para um departamento e para uma organização como um todo. A sociedade oferece à organização uma estrutura social onde a mesma possa obter um bom lugar? Na Croácia, em uma constelação com grandes organizações sociais dedicadas ao desenvolvimento, hospitais e também com empresas técnicas, ficou claro para mim como a situação de insegurança política e social pode influenciar uma organização. Isso não está somente ligado com o fato de essas organizações serem frequentemente dependentes das decisões executivas do governo, pois se você analisasse dessa forma poderia até imaginar que os diretores dessas organizações ou tinham medo ou "puxavam saco do chefe", mas esse não era o caso. A instabilidade social oferece, nesse momento, pouca estrutura de apoio para empresas e organizações na Croácia. Uma coisa que chamou atenção foi o fato de haver muitos jovens querendo sair desse país. Anteriormente eu achava que isso tinha a ver com uma melhor perspectiva no equilíbrio entre o dar e o receber mas, conversando com eles, percebi que isso estava ligado a uma necessidade de estrutura social e descanso. Uma das jovens me deu um cartão de visitas com o nome dela, endereço, país e, em seguida, escrito em letras maiúsculas: EUROPA. No avião, voltando de Zagreb, percebi o quanto se tornou comum para mim o fato da estrutura social na Holanda ser estável. Apesar de todas as dificuldades na margem de lucro e também de todos os problemas enfrentados por muitas pessoas, por causa da recessão, a estabilidade econômica do meu país é uma bênção, e estar consciente disso me faz sentir agradecido e também a todos aqueles que contribuíram para que essa estabilidade pudesse existir. Se as pessoas que trabalham em uma organização não encontram uma estrutura onde possam trabalhar ou um ponto de referência, então vão buscá-lo em si mesmas. Esse pontode referência pode ser, por exemplo, a profissão ou uma habilidade, com que buscarão trabalho no mercado externo ou interno. Se existem, numa organização, pessoas que pos- suem tal quadro de referências, então começará a perceber, a partir de um determinado momento, que a conexão dentro da empresa começará a se desfazer. E essa organização se tornará um conglomerado de empreendedores autônomos. Um renomado escritório de consultores estava lidando com esse tipo de problema. Eles descreveram suas perguntas a respeito da questão assim: "Como podemos obter força novamente dentro da organização? Estamos perdendo nossa dignidade e também nossos clientes mais antigos e especiais; os clientes atuais são muito 'comuns'." Pela grande quantidade de funcionários dentro da estrutura gerencial, da função pouco clara daqueles que deveriam manter a visão de negócio da empresa e também pelo tipo de organização legal da qual se tratava (nesse caso, como se fosse uma cooperativa), a organização precisava urgentemente de uma estrutura mais organizada e específica. O que mais me chamou atenção foi o fato de que, na constelação, os clientes tomaram a posição de liderança dentro do sistema. Pouco a pouco eles começaram a determinar qual direção a organização teria que tomar. Para quem está do lado de fora pode parecer que isso seja uma estratégia orientada pelo mercado, mas na verdade o que aconteceu foi o seguinte: a empresa seguiu o cliente que a ela se apresentou, não pelo fato de ter visão ou força, mas pelo fato de a estrutura hierárquica dentro do escritório estar enfraquecida. Finalmente, a ordem hierárquica é um princípio sistêmico de grande importância, pois através dela a organização se torna capaz de tomar decisões, torna-se resoluta. Ser resoluto não é apenas uma habilidade (seja ela pessoal ou coletiva de uma equipe), mas é também uma situação onde a pessoa ou a organização está. Quando você perceber que não con- segue tomar decisões no seu trabalho com facilidade ou que não consegue tomar decisões facilmente, então é conveniente analisar se não existem divisões internas de poder ou diri- gentes "ocultos" entremeados dentro da organização. A boa resolutividade une o grupo, faz com que a visão possa ser direcionada para fora, está em contato com a realidade, po- dendo decidir o que deve ou não acontecer. Em uma organização em crescimento é sempre um desafio apoiar os novos funcionários e respeitar os antigos. Antigos funcionários têm primazia sobre aqueles que vêm depois. Uma organização perde sua capacidade de crescimento se, por exemplo, um antigo funcionário for frequentemente desprezado pelo fato de que um novo funcionário recebeu uma tarefa importante. Novos funcionários se tornam para essa organização, então, uma ameaça. Por um outro lado, é de grande importância que uma nova equipe, departamento ou filial seja apoiada e nutrida por um longo tempo e receba prioridade. Seria muito bom se uma equipe que já conhecesse um pouco o passado da organização recebesse liberdade e, ao mesmo tempo, pudesse usar sua criatividade para desenvolver algo totalmente novo. EQUILÍBRIO ENTRE DAR E RECEBER Este é um ponto muito importante para qualquer pessoa dentro de uma organização. Cuide para que todos possam usar sua força, criatividade, especialidade e outros talentos. Pes- soas em geral podem usar o seu talento quando percebem que serão recompensadas pela organização, de preferência recebendo um pouco mais do que deram. Quando isso acon- tece, a troca cresce dentro da organização. É muito importante que todos os envolvidos, funcionários, clientes e fornecedores possam se sentir vistos por todos. O movimento de intercâmbio de um funcionário pode secar, se ele perceber que não foi suficientemente visto ou reconhecido. Esse princípio, esse equilíbrio entre dar e receber também é válido para a organização como um todo. Para empresas que visam ao lucro é claro como esse equilíbrio funciona, pois uma empresa assim está ligada diretamente com o cliente e tem um contato constante que monitora, a todo instante, seu intercâmbio com a sociedade. Um exemplo: O dono de uma empresa que causava muito incômodo olhou para as pessoas das redondezas e disse: "Nós sabemos que incomodamos, sabemos que isso é difícil para vocês e que talvez seja até ruim para a saúde de cada um. Muitos de vocês trabalham para a nossa empresa e valorizamos muito isso. Apesar de estarmos trabalhando constantemente para melhorar essa situação, chegamos à conclusão de que não poderemos compensar o incômodo de todos. Por isso, decidimos oferecer a vocês um centro esportivo com uma piscina." Nesse caso as pessoas permanecem em foco e podem oferecer a mesma contribuição para o lucro da sociedade, para a fábrica e para o lugar em que vivem. Porém, se os proprietários estiverem visando somente ao lucro, direcionados apenas para o movimento de vendas e para o crescimento da empresa e ainda tentarem comprar as pessoas com um centro esportivo, os vizinhos e os funcionários irão perceber isso imediatamente. Eles não são vistos e se sentirão usados para amenizar a consciência do dono da empresa. Os vizinhos não irão ajudar muito no crescimento da empresa, e os funcionários não poderão mais desenvolver bem o seu trabalho. No equilíbrio entre dar e receber existem dois fatores de grande importância: o reconhecimento do fato de que ainda há uma dívida a ser paga e o saldo dessa dívida. Um aumento de salário, sem o reconhecimento de que esse aumento é uma boa compensação pelo serviço prestado ou então o pagamento de um estrago sem o reconhecimento de que houve um estrago não faz com que o equilíbrio seja restabelecido. Reconhecimento somente não é suficiente, mas em combinação com uma verdadeira compensação, o equilíbrio entre dar e receber é restaurado novamente, fazendo com que haja espaço e possibilidade para algo novo no futuro. Em se tratando de prefeituras, escolas, hospitais e muitas outras instituições que recebem ajuda governamental, uma parte do equilíbrio entre dar e receber desaparece de vista, pois não se olha para o lugar de onde essas instituições recebem ajuda financeira. Existe até atenção e orientação do trabalho para quem esse está sendo feito: pacientes, alunos, moradores e assim por diante, mas existe pouca orientação e atenção sobre o lugar de onde vem o dinheiro. Como consultor, antigamente achava divertido ver quantos funcionários das companhias de água sabiam qual seria o valor da conta a ser paga todo mês. Essa conta era uma quantia que todo cidadão tinha que pagar à companhia, dependente da área do terreno que ele possuía O custo total da companhia de água era assim dividido pelo número total de cidadãos. Todos os anos era divulgada uma lista onde se podia ver precisamente qual era o valor da conta de cada companhia de água naquele ano. Para os funcionários era uma honra muito grande quando essa conta tinha um valor baixo. O que importava era somente investir em coisas que realmente eram necessárias, e tudo aquilo que era supérfluo nas companhias de água era descartado. Para o time de gerência isso era jogar dinheiro fora. Agora entendo melhor a prioridade deles, que era a conta ser o mais baixa possível, e valorizo isso muito mais. Esses funcionários estavam em contato com os dois lados do equilíbrio entre dar e receber. Isso indica que trabalhavam duramente e tinham consciência do porquê trabalhavam e para quem. Em constelações de instituições que recebem subsídio do governo, você pode se perguntar o que os funcionários pensam a respeito do dinheiro que recebem. Uma organização pode se enfraquecer se o dinheiro vem facilmente, e os funcionários não prestam um bom serviço. Administração de fundos públicos me parece ser uma profissão muito especial, diferente das outras profissões. TODOS TÊM O MESMO DIREITO A UM LUGAR: UM MONUMENTO PARA O FUNDADOR, UM MONUMENTO PARA SI MESMO A sociedade sofre mudanças. Geralmente os fundadores de umaorganização só podem se sentir felizes quando percebem que a organização, que agora está nas mãos dos seus sucessores, vai bem e muda de acordo com as mudanças ocorridas na sociedade. Quando os fundadores são respeitados como tal, permanecem então presentes no pano de fundo como fonte de energia, enquanto a organização focaliza-se no trabalho que está sendo feito agora e também no futuro. Dessa forma eles não se incomodam quando algo novo está sendo desenvolvido, pelo contrário, apoiam essa nova iniciativa. Os princípios gerais de reconhecer e respeitar se aplicam a cada pessoa ou elemento que foi importante na história da organização. Esses princípios valem também para pes- soas que fizeram algo importante na estrutura da organização como, por exemplo, a razão da empresa, elementos de extrema importância como a visão da organização, o ideal da mesma ou o nome. Isso conta também para "aqueles que caíram", pessoas que pagaram um alto preço para que hoje a organização pudesse funcionar bem. Quando essas pessoas ou elementos são excluídos, eles irão se infiltrar por baixo da pele da organização e se espalharão, causando assim uma infecção. Quando os elementos e as pessoas mais importantes recebem o seu lugar na história da organização, eles cuidam para que os atuais funcionários possam se conectar com as raízes da organização. Isso faz com que cada um possa encontrar o seu lugar na história da organização na atual estrutura, podendo desse modo oferecer um lugar a cada um de acordo com seus talentos e também de acordo com as necessidades e objetivos da organização. Cada funcionário de uma organização tem o direito de pertencer a essa organização. Nesse sentido não há diferença entre um diretor e um funcionário da limpeza. Uma empresa pode perder muita energia, quando esse direito de pertencer se torna difícil para um funcionário pelo fato de ele não ser reconhecido, ser desvalorizado ou talvez pelo fato de ser muito plagiado no trabalho ou por qualquer outra razão que o faz se sentir deixado de fora. Ter o seu próprio lugar dentro da organização, estar em contato com o objetivo dessa organização, estar em constante intercâmbio entre o dar e o receber e ser reconhecido for- ma uma importante medida para que os funcionários e todos os outros elementos se sintam bem. Juntos, esses princípios sistêmicos formam uma rede que tanto carrega as pessoas como também é carregada por elas. Este livro apresenta uma visita sistêmica ao trabalho, profissões e organizações. Ligados a um todo maior, cada um de nós vive e trabalha com possibilidades e limitações. "Acredito que a grande vantagem de uma constelação é que se pode observar como está agora, como era e como será. Em uma pesquisa de mercado normal se analisa somente o aqui e agora, enquanto na constelação se podem examinar também as mudanças. Uma segunda vantagem é que é possível sentir todos os elementos reais em atuação, não somente o mercado, a concorrência ou os consumidores, mas também os elementos internos de uma empresa." (Gerente de Marketing - empresa de bebidas alcoólicas da Alemanha) "A constelação nos deu suporte para continuarmos seguindo em frente no caminho que havíamos escolhido, e isso nós fizemos até rápido demais, um pouco antes do mercado ter apresentado uma queda nas vendas. Tal mudança aconteceu em harmonia e percebemos que para nós ela foi muito boa e agora estamos colhendo os frutos". (Diretor de uma empresa de Tecnologia da Informação) Editora Atman - editora@atmaneditora.com.br - www.atmaneditora.com.br A alma do negócio Pedidos: SUMÁRIO PREFÁCIO à edição em língua portuguesa PREFÁCIO BEM-VINDO AO SISTEMA CHAMADO “ORGANIZAÇÃO” Um cartão rápido de referências sistêmicas 2 NOVA ECONOMIA Dinheiro e vendas dentro da visão sistêmica NOVOS VALORES 3 ONDE ESTÁ O CHEFE? Sobre liderança 4 VIVER EM UMA EMPRESA FAMILIAR 5 MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO "Não mude aquilo que está funcionando." (Gunthard Weber) 7 O QUE SÃO REALMENTE ESSAS TAIS CONSTELAÇÕES? Sobre o método da constelação sistêmica 8 VOCÊ PODE ENVIAR O SEU CURRICULUM VITAE? O que dá força para alguém no seu trabalho? PRODUTOS SÃO COMO PESSOAS Como fazer com que um novo produto, conceito ou atitude tenha sucesso? 10 DIAGNÓSTICO SISTÊMICO: QUANDO AS ORGANIZAÇÕES FUNCIONAM BEM? (Gerente de Marketing - empresa de bebidas alcoólicas da Alemanha) (Diretor de uma empresa de Tecnologia da Informação)